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Arquivo : Paul Pierce

Paul Pierce venceu os playoffs. Agora não sabe se continua
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Giancarlo Giampietro

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Já temos as duas finais de conferência definidas com Golden State Warriors x Houston Rockets e Atlanta Hawks x Cleveland Cavaliers, com os dois primeiros cabeças-de-chave de ambos os lados ainda no páreo, algo que não acontece desde… Desde… O ano passado. Ufa, nem precisou pesquisar tanto assim. De todo modo, ainda vamos falar sobre o Paul Pierce, tá? O cara que venceu estes playoffs da NBA. E que agora vai passar por alguns dias, ou talvez algumas semanas de indecisão, sobre aquele tema que atormenta qualquer jogador: é a hora de parar?

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“Eu nem sei se vou conseguir jogar mais basquete”, afirmou, nos vestiários do Verizon Center em Washington, após a dolorida e derradeira derrota para o Atlanta Hawks, na sexta-feira. Aquele jogo em que ele até acertou um arremesso (supostamente) decisivo, que levaria a partida para a prorrogação. DeMarre Carroll inicialmente mal poderia acreditar, até respirar aliviado. “O John Wall entregou na mão dele, e eu o perseguia. Quando girei e vi Paul Pierce arremessando a bola, estava prestes a chorar. Pensei: ‘De novo não’. Ela caiu, mas os deus do basquete estavam ao nosso lado. Eles nos permitiram passar por essa”. O ala do Hawks, claro, tinha em mente a cesta matadora do Jogo 3, dessa vez sem dúvida alguma sobre sua validade. Aquela que levou Pierce a dar uma declaração já célebre. Dias depois, porém, não haveria bravata, ao ser informado que a bola havia saído atrasada de sua mão direita por qualquer coisa de um ou dois décimos de segundo. Não valeu, e o recurso tecnológico está aí para isso.

Não foi a única cesta do veterano que parecia encaminhar o Wizards à final do Leste, para depois ser revertida. No Jogo 5, ele matou uma bola de três pontos, da mesma zona morta, a 8s3 do fim, para colocar seu time acima no placar, 81 a 80. Na posse de bola seguida, no entanto, o Hawks conseguiu a virada com uma jogada excepcional de Al Horford na coleta do rebote e a cravada. (Aqui, teve de engolir um tremendo de um sapo. No momento em que acertou seu chute, estava ao lado do banco adversário. Gritou para todos ouvirem: “Acabou a série”. Não foi bem assim.)


Mesmo um jogador com a personalidade e rodagem de Pierce sente o baque após duas frustrações seguidas dessa. Ele achou que havia feito sua parte, mas não foi o suficiente. Saiu de quadra emocionado na eliminação, o que durou até a hora das entrevistas. Uma cena bastante incomum de se presenciar quando o assunto é Paul Pierce. E aí, quando começou a falar, tudo fez sentido. Saiu este baita depoimento:

“Honestamente, o que passava por minha cabeça é que eu não tenho muitos jogos desses mais sobrando. Talvez não tenha mais nenhum, mesmo. Essas caminhadas durante uma temporada regular de NBA, durante os playoffs são muito emotivas. Ela exige muito não só de seu corpo, mas de sua mente, de seu espírito. Afeta não só você, mas as pessoas ao seu redor. Em dias como esse, você vai para casa, está com sua família, mas não sente vontade de falar com eles, nem de fazer nada devido ao que o jogo causa. Derruba você. Você vai para casa, e foi um dia ruim. É duro. As pessoas acham que você apenas joga basquete e vai para casa, e está com corpo dolorido. Não é isso. Mentalmente e as pessoas ao seu redor: é isso que afeta. Sei que vou para casa e não vou ter o que falar com minha mulher ou minha mãe. Provavelmente só posso ficar com minhas crianças agora. Elas me trazem alegria. Na hora de parar, provavelmente vai ser a coisa mais difícil que terei de fazer. De abandonar o jogo. Mas sei que vai acontecer um dia. Só nunca vou me arrepender de nada, e tanto faz se eu pendurar o tênis agora ou mais tarde. Sei que as pessoas que estiveram comigo durante todos esses anos sabem que o Paul Pierce compareceu todos os dias e deu tudo o que tinha todos os dias. Sei que fiz tudo o que podia na quadra.”

Depois de falar tanto a respeito de um tema tão doloroso, não haveria muito o que se conversar em casa, mesmo. Não se trata de um tom negativista decorrente das três derrotas seguidas para Atlanta e da anulação de algumas cestas que julgava salvadoras. É simplesmente o processamento de uma ideia que seria natural para um atleta de 37 anos: a de que o fim está próximo. Natural, mas que não significa que seja fácil. E aí vem a melancolia nas palavras do craque. Ele produziu ainda, ele teve seus grandes momentos, como quando desestabilizou o Toronto Raptors primeiro com os comentários no jornal, para depois esmagar corações de uma torcida fanática no ginásio. Muito legal. Realizador. Mas será que foi a última vez? Para alguém de sua grandeza – estamos falando de um dos maiores nomes da história do Boston Celtics, o que não é pouco –, vale a pena iniciar mais uma caminhada se não for para ser relevante esportivamente?

Há casos como o de Robert Parish, outro pilar do Celtics, que conseguiu, topou ir bem mais longe em sua carreira, e nem dá para ignorar o aspecto econômico de algumas decisões como essa, considerando a discrepância salarial entre a NBA da década de 80 e a de 90. Aos 43 anos, todavia, Parish ganhou seu quarto título, então pelo Chicago Bulls. A diferença é que o pivô, a essa altura, era muito mais um assistente técnico do que jogador, tendo participado de apenas duas partidas em todo o campeonato. Pergunte a Randy Wittman, e ele vai atestar na hora a importância do veterano ala nesse sentido. “Caras que são de Hall da Fama como ele nunca param de te maravilhar. Ele foi uma grande influência para nós este ano. Não apenas pelo que ele fez em quadra, mas por sua liderança e direção que nos deu no vestiário. Isso é algo que você não ensina. É algo que ou você tem, ou não tem. Ele fez tudo por nós nessas duas séries. Seguimos ele”, disse o técnico do Wizards.

Do seu lado, o treinador confia que terá Pierce ao lado de John Wall por mais uma temporada, a segunda de seu contrato. “Eu adoraria. Ficaria surpreso se ele não voltasse. Claro, não quero colocar palavras na boca dele, mas acho que ele pôde ver os caras de nosso time e o coração que essa equipe tem. Por que você não gostaria de encerrar sua carreira com um grupo desses?”, questionou.

Querer, obviamente PP quer. O difícil é saber simplesmente se dá para jogar. Ao anular sua cesta no estouro do cronômetro, a arbitragem decretou que estes seriam os seus números na última partida contra o Hawks: 4 pontos, 4 faltas e 1-7 nos arremessos. Do outro lado, DeMarre Carroll e Paul Millsap, os oponentes que ele teoricamente deveria vigiar, somaram 45 pontos. Pierce é daquele tipo orgulhoso, que está atento ao que os outros pensam, mas que provavelmente liga muito mais para a sua própria percepção das coisas.

No momento, está nessa fase autoavaliação. Ao lado de Kobe, Manu, Duncan, Dirk, Gasol… Um grupo de lendas vivas, devotas ao basquete, perto do fim – ou distante do auge atlético. Uns estão muito mais para lá do que para cá, outros ainda rendem em alto nível. Uns falando bastante a respeito, outros em reclusão. E nós aqui, aguardando uma decisão. Pedindo mais, mas igualmente aflitos por eles.

Paul Pierce: uma verdade difícil de se contrariar na hora da decisão

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Mais uma na conta de Pierce. Na vitória do Wizards, essa e outras verdades
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Giancarlo Giampietro

Começaram os playoffs, né?

Desde aquele jogo histórico há uma semana, um clássico instantâneo de Chris Paul, as coisas começaram a pegar fogo. Depois da cesta milagrosa de Derrick Rose em Chicago, para deixar os sonhos do torcedor do Bulls mais intensos, foi a vez de Paul Pierce aprontar mais uma neste sábado, para dar a vitória ao Washington Wizards contra o Atlanta Hawks. A equipe da capital venceu por 103 a 101 e reassume a liderança da série, por 2 a 1. Mais um final emocionante.

O que aprendemos com esse jogo?

Bem, primeiro que é muito difícil você contrariar A Verdade. Paul Pierce, no caso.

Paul Pierce: uma verdade difícil de se contrariar na hora da decisão

The Truth: difícil de se contrariar na hora da decisão

Não importa se tem John Wall, se tem Bradley Beal, se tem Marcin Gortat. Na caminhada firme do Wizards nestes playoffs, o técnico Randy Wittman já sacou que, para definir um jogo na última bola, não há caminho melhor que colocar a bola no veterano astro, que ainda está em forma e nunca permitiu que sua confiança caísse para o nível dos meros mortais.

Tudo bem: essa mensagem já é meio batida, mas Pierce fez questão de reforçá-la para evitar uma derrota catastrófica no quintal de Obama.

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Fora isso, no entanto, há uma outra mensagem que o jogo passou, uma que deveria ter impacto maior para qualquer um envolvido com (ou apaixonado por) um jogo de basquete: a história da liga americana diz que são os supercraques que resolvem a parada em quadra, mas isso não quer dizer que você não consiga sobreviver sem eles.

Já havia acontecido com o Los Angeles Clippers vencendo o Houston Rockets sem Chris Paul – mas aí estaríamos falando de uma meia verdade, uma vez que Blake Griffin está jogando como um autêntico MVP durante toda essa fase decisiva. Neste sábado, porém, o repeteco se mostrou valioso: sem John Wall, afastado por tempo indeterminado, enquanto o inchaço em sua mão esquerda não diminui, o Wizards fez uma grande partida com base no coletivo e construiu larga vantagem. No quarto período, a vantagem de até 20 pontos se evaporou, claro. Mas aí que as coisas ficam mais legais: pois foi a segunda unidade de Mike Budenholzer que tirou toda essa diferença.

John Wall foi forçado a atuar como torcedor e assistente neste sábado

John Wall foi forçado a atuar como torcedor e assistente neste sábado

Ok, vamos evitar ser simplistas: obviamente que  ajuda ter um Derrick Rose, mesmo que a 80% de sua capacidade. Ele pode fazer a diferença aqui e ali, mas LeBron, um Wade ou Bosh no time. Os três juntos, então? Afe: isso pode resultar em até quatro finais consecutivas. Mas o Miami só conseguiu seu título quando os três foram fundidos num só time. Um time de verdade. Sem o devido contexto, conjunto, todos eles ficam pelo caminho.

E foi com uma abordagem exemplar que o Washington conseguiu vencer três quartos por 85 a 66, com pontuação distribuída por diversos atletas, boas trocas de passe, num bom e velho jogo solidário. Agora essa é a parte em que você pode falar: ué, mas não é que o John Wall arremesse 30 bolas por jogo feito Westbrook ou Kobe. Sim, não, mesmo. Mas Wall dominava o jogo para o Wizards de outra forma, com sua habilidade para quebrar a primeira linha defensiva, ganhar terreno e criar para os companheiros. Nas cinco partidas que realizou, o armador gerou 30,8 pontos em assistências – 11 a mais que James Harden, o segundo da lista. Some aí os 17,4 pontos que lee fazia por conta, e temos um número absurdo para quantificar sua influência no time.

Nenê: 17 pontos, 7 rebotes, 4 assistências, 7-9 nos arremessos, em 30 minutos

Nenê: 17 pontos, 7 rebotes, 4 assistências, 7-9 nos arremessos, em 30 minutos

Seria facilmente compreensível se o time perdesse controle. Mas, não. Sentado no banco, a jovem estrela ficou toda orgulhosa ao ver seus companheiros distribuírem 27 assistências para 37 cestas de quadra. Ramon Sessions, titular provisório, deu seis assistências, duas a menos que Bradley Beal. Nenê e Otto Porter Jr. contribuíram com quatro cada. Marcin Gortat, com três. Cada um assumindo um quinhão de responsabilidade. Sete jogadores terminaram com pontuação entre 8 e 17, com Beal e Nenê sendo os cestinhas.

O brasileiro, aliás, fez o que podemos considerar sua estreia no confronto. Depois de passar batido nas primeiras duas partidas, sem nenhuma cesta de quadra, o pivô converteu sete de nove arremessos. Emblemático que, num esforço coletivo, ele tenha brilhado: vários de seus técnicos já pediram para que grandalhão fosse um pouco, pelo menos um pouco mais egoísta e usasse sua habilidade com a bola para chamar mais jogadas.

O que aconteceu no quarto período? Simples complacência por parte do time da casa, um clima de “já ganhou”, ainda mais quando Budenholzer sacou todos seus titulares e limpou o banco de reservas, pondo em quadra até mesmo Shelvin Mack, ex-Washington. É um momento sempre perigoso, não só pelo risco de se menosprezar o adversário do outro lado, mas principalmente por tirar sua própria equipe do trilho.

A bola parou de rodar da forma apropriada. Vimos Will Bynum queimar um ou outro chute de média distância sem passe, por exemplo. Duas ou três posses de trapalhada, e a vantagem já estava em dez pontos, restando cinco minutos. Aí a pressão aumenta, e, quando o time vai ver, já não consegue retomar o ritmo de dez minutos atrás. Enquanto o oponente está sedento, acreditando numa virada salvadora. Foi quase, porém. Os reservas do Hawks podem ter saído decepcionados, mas não deveriam ficar cabisbaixos de modo algum.

Dennis Schröder deu mais indícios de que logo mais vai poder ter o seu próprio time para conduzir. Uma das melhores defesas da liga simplesmente não conseguia conter o alemão, que anotou 16 de seus 18 pontos no quarto final. Aceleração máxima rumo ao aro, bandejas, assistências e faltas recebidas. Ao redor dele, durante quase toda a parcial, estavam Mike Scott, Kent Bazemore, Mack e Mike Muscala. Sim, Muscala, o pivô draftado pela franquia em 2013 na segunda rodada, 28 posições atrás de Lucas Bebê e que jogou na temporada passada ao lado de Rafael Luz na Espanha. O mesmo que converteu uma bola de três a 14 segundos do fim, para empatar o placar.

Budenholzer até utilizou Jeff Teague nos primeiros cinco minutos do quarto, colocou Korver na vaga de Bazemore a 3min42s do fim e chamou DeMarre Carroll para uma defesa a 23 segundos. No geral, porém, abraçou os suplentes da mesma forma que seu mentor, Gregg Popovich, fez em diversas ocasiões pelo Spurs. Mesmo com o jogo parelho no final, deixou a cavalaria fora, premiando o esforço dos coadjuvantes, ao mesmo tempo que dava um recado aos principais atletas, que fizeram um jogo apático demais. A segunda unidade que se comportou como um time verdadeiramente empenhado em lidar com os problemas apresentados em quadra sem esperar pela aparição de alguma figura messiânica.

Até que…

Sim, um personagem com essa aura brilhou no último ataque. Pierce já não é mais o cara do Boston Celtics, obviamente. Não aguenta carregar um time durante toda a temporada. Se o que temos é a oportunidade de matar uma partida com a última bola, no entanto, aí muda a história. Aí é como se ele fosse aquele supercraque. Pronto para finalizar o serviço preparado por todo um time.


Os playoffs começaram! Panorama da Conferência Leste
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Giancarlo Giampietro

Por algumas semanas ou meses, a Conferência Leste prometia mais. Toronto e Washington estavam lá em cima na classificação geral, enquanto o Cleveland enfrentava dificuldades. A ideia era a de que o Cavs se recuperaria, o que eventualmente aconteceu. Mas os dois clubes que despontavam caíram: desde o All-Star Game, estão com aproveitamento abaixo de 50%, inferior ao do Boston Celtics e a do Brooklyn Nets. Seus técnicos procuraram mexer nas rotações, sem conseguir arrumar a casa. Curiosamente, se enfrentam agora para ver quem tem a fase menos pior. E aí que ficamos com os LeBrons em franca ascensão, preparados para derrubar o Atlanta Hawks, soberano no topo da conferência desde janeiro. O Chicago Bulls, irregular, sem conseguir desenvolver a melhor química devido a lesões, corre por fora.

Não deixa de ser irônico que LeBron volte aos playoffs pelo Cleveland justamente contra o Boston Celtics, o time que os eliminou em 2010: um revés de impacto, que levou o astro a repensar os rumos da carreira, "levando seus talentos para South Beach". Agora volta mais maduro e consagrado. Mas a pressão na cidade é a mesma

Não deixa de ser irônico que LeBron volte aos playoffs pelo Cleveland justamente contra o Boston Celtics, o time que os eliminou em 2010: um revés de impacto, que levou o astro a repensar os rumos da carreira, “levando seus talentos para South Beach”. Agora volta mais maduro e consagrado. Mas a pressão na cidade é a mesma

Palpites, que é o que vocês mais gostam
Atlanta em 4 – especialmente se Jarret Jack estiver jogando mais que Deron Williams. Jeff Teague e Dennis Schröder podem dar volta nos veteranos.
Cleveland em 5 – Stevens promete dar trabalho a Blatt num playoff, mas o desnível de talento é muito acentuado.
Chicago em 6 – Milwaukee defende bem e vai tentar cortar a linha de passe para Gasol. Mirotic pode ser importante aqui para espaçar a quadra.
Washington em 7 (juro, antes do 1º jogo) – Pierce jura estar em ótima forma, e John Wall precisa de sua ajuda. Toronto precisa de Lowry a 80%, no mínimo.

Números
77, 3% –
O aproveitamento do Cleveland Cavaliers desde o dia 13 de janeiro, quando LeBron James retornou de suas duas semanas de férias. Foram 34 vitórias e 10 derrotas, a melhor campanha do Leste, com saldo de pontos de 8,5 – também o melhor da conferência. O rendimento de três pontos também foi elevado, o melhor, com 38,2%. Nesse mesmo período, tiveram o ataque mais eficiente e a décima melhor defesa. Sim, você pode dividir a temporada do Cavs em antes e depois das férias (e das trocas também, claro, realizadas nesta mesma época).

Horford foi para o All-Star com mais três companheiros. Quando voltaram, o time não funcionou da mesma forma

Horford foi para o All-Star com mais três companheiros. Quando voltaram, o time não funcionou da mesma forma

60,7% – O aproveitamento do Atlanta Hawks depois do All-Star, abaixo até do Boston Celtics (64,5%). Na temporada, o rendimento foi de 73,2%, o segundo melhor no geral. Mero relaxamento, ou produção de fato mais baixa?

46 – Juntos, Bruno Caboclo e Lucas Bebê somaram apenas 46 minutos em sua primeira campanha de NBA. Foram 23 minutos para cada.

22 – O total de jogadores escalados por Brad Stevens durante a temporada do Boston Celtics. Dá mais de quatro times completos. Fruto das constantes negociações do irrequieto Danny Ainge. De outubro a fevereiro, o dirigente fechou oito trocas diferentes. Houve gente que chegou no meio do campeonato e já foi repassada, como Brandan Wright, Austin Rivers e Jameer Nelson.

12 – Jason Kidd quebrou os padrões de rotação da NBA. Oito, nove homens recebendo tempo de quadra regular? Nada: em Milwaukee,  12 jogadores ativos no elenco do Bucks chegaram ao fim da temporada com mais de 10 minutos em média. Se formos arredondar, pode aumentar esse número para 13, já que Miles Plumlee teve 9,9 minutos desde que foi trocado pelo Phoenix Suns. Giannis Antetokounmpo é quem mais joga, com 31,4, seguido por Michael Carter-Williams (30,3) e Khris Middleton (30,1).

1,6 – É o saldo de Derrick Rose se  pegarmos o número de arremessos de três pontos que ele tentou em média na temporada (5,3) e subtrairmos os lances livres (3,7). Pela primeira vez em sua carreira, o armador do Bulls tentou mais chutes de longa distância do que na linha – excluindo, claro, as dez partidas que disputou na campanha 2013-14. Um claro sinal de como seu jogo se alterou devido ao excesso de cirurgias. O problema é que seu aproveitamento nesses arremessos vem sendo apenas de 28%. O armador obviamente pode ajudar Chicago em seu retorno aos playoffs pela primeira vez em três anos, mas Thibs obviamente enfrenta um dilema aqui: até que ponto precisa envolver o astro no ataque, sem atrapalhar o que Pau Gasol e Jimmy Butler vêm fazendo?

A lesão contra Philly em 2012, que suscitou uma série de cirurgias para Rose; armador volta aos mata-matas, ainda como a grande esperança da torcida de Chicago. Mas o time tem talento o suficiente para não depender exclusivamente de atuações milagrosas do seu xodó

A lesão contra Philly em 2012, que suscitou uma série de cirurgias para Rose; armador volta aos mata-matas, ainda como a grande esperança da torcida de Chicago. Mas o time tem talento o suficiente para não depender exclusivamente de atuações milagrosas do seu xodó

Panorama brasileiro
Nenê é fundamental no plano de jogo do Washingon, especialmente por sua capacidade para marcar. A questão é saber como ele estará fisicamente, depois de ter perdido cinco dos últimos sete jogos do Wizards pela temporada regular, sendo os dois últimos por uma contusão no tornozelo. (PS: a julgar pelo primeiro jogo está muito bem, obrigado). Para os talentosos garotos de Toronto, a expectativa é que ver de perto a atmosfera de um jogo de playoff os motive a treinar duro, duro e duuuuro nas férias para entrar na rotação na próxima temporada. Por ora, o mata-mata serve apenas para tirar os ternos estilosos do armário. Em Cleveland, Anderson Varejão pode quebrar um galho como assistente. Em Murcia, na Espanha, Faverani vai tocando sua reabilitação após uma cirurgia no joelho. Um retorno ao Celtics ainda é possível, em julho.

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Alguns duelos promissores
Kyrie Irving x Isaiah Thomas: Thomas é, de certa forma, uma versão em miniatura de Irving, sendo muito veloz, sempre um perigo com a bola, ainda que um tanto fominha. Mesmo que Kyrie tenha se mostrado mais atento durante essa campanha, por vezes sendo realmente agressivo na pressão, ainda não pode ser considerado um defensor capaz. Vai ter de se esforçar muito para frear o rival. Então é de se imaginar um tiroteio aqui, já que, do outro lado, não há como o tampinha contestar o belíssimo chute da jovem estrela.

O Cleveland tem de tirar o baixinho Thomas do garrafão

O Cleveland tem de tirar o baixinho Thomas do garrafão

John Wall x Kyle Lowry: Wall é pura velocidade, um dos integrantes da impressionante geração de armadores superatléticos a conquistar a liga. Com o tempo, aprendeu a usar suas habilidades fenomenais do modo correto, sendo dominante em transição, mas sabendo ditar o ritmo de jogo e explodir na hora certa em situações de meia quadra. Enxerga seus companheiros como poucos. Já Lowry é um tratorzinho com a bola, usando sua força e uma ou outra artimanha com a bola para ganhar espaço, olhando mais para a cesta. O problema é que ele sofreu bastante nas últimas semanas com dores fortes nas costas. Estilos bem diferentes.

Al Horford x Brook Lopez: por falar em contrastes… Horford é dos pivôs mais ágeis e versáteis que se tem por aí, pontuando com eficiência por todo o perímetro interno, desde a faixa de média distância ao semicírculo. Excelente passador e driblador também, ágil, faz um pouco de tudo em quadra, dando ao Hawks flexibilidade tanto na defesa como no ataque. Um cara especial e subestimado demais. Do outro lado, Lopez recuperou sua boa forma na reta final da temporada. Também estamos falando um cara que pode flutuar por todo o ataque, ainda que seja bem mais eficiente próximo ao garrafão. A diferença: é lento toda a vida e pouco passa a bola, mesmo que não se complique diante de marcação dupla. Na defesa, é muito vulnerável quando  deslocado para longe da zona pintada.

Jimmy Butler x Khris Middleton: Jimmy Butler deu um salto impressionante nessa temporada. Poucos imaginavam que ele poderia funcionar como arma primária no ataque, e em vários jogos do Bulls isso aconteceu, com sucesso. O maior volume de jogo no ataque resultou em queda na defesa – algo que o adversário do Bucks já faz muito bem. Ambos têm uma trajetória parecida como profissionais. Eram destaques universitários que entraram na liga com projeções modestas, mas, quietinhos, foram construindo uma reputação sólida. Mais jovem, Middleton pode usar uma boa atuação nos playoffs para inflar ainda mais sua cotação, sendo já considerado uma opção interessante no mercado de agentes livres que se aproxima.

Ranking de torcidas
1 – Toronto. A torcida mais radical da NBA, que perturba cada jornalista que coloque um mero senão na hora de falar sobre o clube. Lotam a praça Maple Leaf, do lado de fora do ginásio, com hordas e hordas de “nortistas” para assistirem ao jogo num telão. Não existia isso no mundo da liga americana. Os caras já estavam exaltados, e aí veio o gerente geral Masai Ujiri novamente com um clamor incendiário. Um ano depois de mandar Brooklyn se f*#@, subiu ao tablado neste sábado para dizer que não dá a mínima para Paul Pierce, de uma forma menos amorosa, claro. (Mais abaixo.)

2 A – Chicago. Na semana passada, gravamos eu e o chapa Marcelo do Ó, no Sports+, uma série de transmissões com jogos clássicos da liga. E como fazia barulho a galera dessa metrópole blue collar. Há que se entender uma coisa: por maior que seja a cidade, sempre se colocaram numa situação de inferioridade em relação a Nova York, por exemplo. O clima do povo de lá, em geral, ainda é de cidade pequena, tentando mostrar seu valor. Nesse contexto, adotam as franquias locais de um modo especial. Se Rose aprontar, o ginásio explode. Afinal, é o garoto da casa. Teve a maior média de público na temporada.

#OsLoucosDoNorte

#OsLoucosDoNorte

2 B – Boston. Se é para falar em tradição… Bem, esses caras aqui já comemoraram 17 vezes. Imagino a festa que farão neste retorno aos mata-matas após um ano sabático. Só ficam um degrau abaixo, ou meio degrau abaixo pelo  fato de que a equipe não ter lá muita chance. O estilo de jogo é divertido, há jovens valores para se adotar, mas ainda estamos muito distantes dos tempos de Pierce, Garnett e Rondo, caras venerados.

4 – Cleveland. Um público agraciado pelo retorno de LeBron, ainda vivendo uma segunda lua de mel, com a segunda maior média do campeonato. Fora dos playoffs desde 2010, vão muito provavelmente botar para quebrar. Só não vão ter as trombadas de Anderson Varejão para aplaudir. Outros pontos a favor: a belíssima apresentação de seus atletas com projeção 3D na quadra e um DJ dos mais antenados.

5 – Washington. Um grupo um tanto traumatizado por seguidos fracassos na construção de times promissores que acabam não chegando a lugar algum. Agora, têm um legítimo jovem astro por quem torcer, John Wall, e outra aposta em Bradley Beal, além de uma série de veteranos.

6 – Milwaukee. É a segunda pior média do campeonato, mesmo com um time jovem, cheio de potencial, e já fazendo boa campanha. Mas há um fator importante para se ponderar aqui: a ameaça de que a equipe deixe a cidade, devido ao lenga-lenga na aprovação/construção de uma nova arena. Os proprietários pressionam, divulgando na semana passada como seria o projeto. Só não há muito entusiasmo na população local para o investimento de dinheiro público na empreitada. Tendo isso em vista, talvez queiram ao menos conferir os garotos nos playoffs, com a sensação de que “foi bom enquanto durou”. De qualquer forma, a Squad 6 sozinha para superar as duas abaixo.

A possível nova arena de Milwaukee ficaria assim

A possível nova arena de Milwaukee ficaria assim

7 – Atlanta. A despeito da temporada maravilhosa que a equipe fez, sua torcida foi apenas a 17ª torcida no ranking de público.  O tipo de ginásio que precisa da intervenção do DJ para emular o barulho de torcida, na hora de se pedir coisa básica: como “defesa”. Por essas e outras, também a despeito da tradição da franquia, se fosse para escolher arbitrariamente um time para ser realocado para Seattle, apontaria na direção do Hawks. A pasmaceira já vem de longa data.

(…)

15 – Brooklyn. Mas não tem público mais desanimado e desconectado que esse. O que é um contrasenso, se a gente for pensar da relevância do bairro nova-iorquino para a história do jogo. A marca ainda não colou por lá, e esse tipo de coisa demora, mesmo. Não havia Jay-Z que pudesse acelerar o processo.

Meu malvado favorito: Paul Pierce. O ala do Wizards não está mais nem aí. A cada entrevista, solta um comentário cada vez mais raro de se escutar num mundo excessivamente controlado pelas relações públicas. Em bate-papo recente e imperdível com a veterana repórter Jackie MacMullan, falou algumas verdades sobre Deron Williams e Joe Johnson, questionou a paparicação em torno das jovens estrelas da liga. Também disse que não botava fé no Raptors, seu adversário. Depois, disse que não era bem assim. Como se realmente se importasse com a repercussão – deve estar se divertindo com o papel de antagonista a seita #WeTheNorth. Amir Johnson mordeu a isca e retrucou: “É um cara velho, sabe? Ele precisa de algo para se motivar, e acho que é para isso que esses comentários servem. É como quando você usa viagra, para dar uma animada”. A torcida também prestou suas homenagens.

Para não deixar passar batido
Gerente geral do Nets, Billy King vai ter de se concentrar muito no que se passa em quadra agora. Se for pensar no futuro, vai doer a cabeça. Afinal, ao mesmo tempo em que seu time deve se esforçar para não tomar quatro surras do Hawks, sabe que a escolha de Draft deste ano vai ser endereçada ao adversário, mesmo que o time de Mike Budenholzer tenha sido o melhor da conferência. Ainda é um reflexo da famigerada troca por Joe Johnson, na qual o mais correto fosse que Atlanta pagasse a Brooklyn algumas considerações de Draft, já que o time nova-iorquino estaria fazendo um favor ao assimilar o salário mastodôntico do ala, que ainda mata uma ou outra bola decisiva, mas está longe de justificar o salário de mais de US$ 20 milhões. Ao menos, com a classificação aos playoffs, o Nets evitou a cessão de uma escolha de loteria. Imagine o Hawks saltando para as três primeiras posições nesse cenário? Desastre.


Washington Wizards: mudança de hábito
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015 (acabou!)

Nenê e os dois garotos: alto astral na capital

Nenê e os dois garotos: depois de muito tempo, alto astral na capital

Foram cinco anos inacreditáveis. Desde o episódio das armas de Gilbert Arenas, em meio a sua rixa com Javaris Crittenton, até as trapalhadas de JaVale McGee, os incessantes arremessos forçados de Nick Young e Jordan Crawford, a postura pouco elogiosa de Andray Blatche, as negociações fracassadas… Afe. A folha corrida seria interminável se fosse para esmiuçar cada um dos tópicos aqui citados.

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O gerente geral Ernie Grunfeld, porém, pode respirar aliviado. Ao que parece, toda a turbulência vivida entre 2008 e 2013, ficou realmente distante no retrovisor. O cartola ao menos conseguiu limpar a bagunça que ele mesmo fez, se desfazendo de uma tranqueira depois da outra, antes que John Wall fosse contaminado.

Muitos podem pensar que o Wizards hoje é um time jovem, em ascensão. A segunda parte se sustenta: depois de cinco anos fora dos playoffs, eles voltaram na campanha passada e ainda venceram o Chicago Bulls numa série. Mas a pecha de um elenco jovial a gente pode esquecer. Está certo que Wall e Bradley Beal são os grandes chamarizes, com 24 e 21 anos cada. Otto Porter Jr. também tem 21. No restante da rotação do técnico Randy Wittman, porém, são seis atletas acima dos 30 anos, com destaque para os 37 de Paul Pierce e os 38 de Andre Miller.

O impagável Gilbert Arenas ainda tirou sarro após levar armas ao vestiário

O impagável Gilbert Arenas ainda tirou sarro após levar armas ao vestiário

O plano de Grunfeld está claro: rodear suas jovens estrelas com veteranos profissionais, para reforçar uma cultura séria no vestiário e jogar para vencer agora, para já. Talvez o mais prudente fosse dosar mais as coisas e detectar mais algumas promessas para desenvolver um sólido núcleo ao redor de sua dupla do perímetro. Todavia, levando em conta o circo que foi a franquia no início da década, o caminho adotado fica mais compreensível.

Nessa mudança de hábitos, o pivô Nenê foi essencial. Não só pelo fato de o clube ter se livrado de McGee e Young no mesmo negócio, mas também devido principalmente à influência do brasileiro dentro e fora de quadra. Ele não esquivou de dar tremendas broncas em Wall e Beal, quando julgou que os dois estavam sendo excessivamente individualistas, sem se importar com o sucesso do time.

O pivô acabou se tornando um aliado importante para Wittman, que também merece crédito depois de fracassar em Cleveland e Minnesota. Promovido a treinador após a demissão de seu camarada Flip Saunders, ele fez a defesa da equipe evoluir consideravelmente, se estabelecendo entre as dez melhores da liga desde a temporada passada. “Esse foi o primeiro passo. Nesta liga, você tem de vencer pela defesa e precisa ter disciplina, e acho que Randy, desde o primeiro dia, começou a pregar isso. Ele tratou todos da mesma forma, mas cobrava bastante. Ele fez um ótimo trabalho ao convencer os jogadores”, afirma Grunfeld.

Wittman orienta, e Gortat intimida na defesa. De moicano e tudo

Wittman orienta, e Gortat intimida na defesa. De moicano e tudo

Numa Conferência Leste ainda desolada, Cleveland Cavaliers e Chicago Bulls apresentaram as contratações de impacto, as estrelas para serem apontados automaticamente como favoritos. Mas o clube de Washington também tem talento, experiência e confiança para ir longe. Depois de tanta palhaçada na capital norte-americana, esse time agora é sério.

O time: Trevor Ariza foi embora, Nenê voltou a ser afastado por conta de sua insistente fascite plantar, e, ainda assim, o Wizards segue com uma retaguarda imponente: é a quinta defesa mais eficiente no início de temporada, atrás de Warriors, Rockets, Spurs e Grizzlies. Nada mal. John Wall coloca muita pressão nos armadores adversários e, por trás dele, está um garrafão muito forte, físico para fechar os espaços. Gortat ajuda muito nesse sentido, assim como a coleção de pivôs que Grunfeld acumulou. Drew Gooden, Kevin Seraphin, Kris Humphries, DeJuan Blair… São diversos brutamontes para se revezar e castigar os adversários.

No ataque, a ideia é acelerar sempre que possível, explorando o arranque de Wall, um dos jogadores mais velozes do mundo. Em situações de meia quadra, contra uma defesa já estabelecida, o time tende a encontrar mais dificuldades, mas a perspectiva é de melhora para quando Beal entrar em forma e sitnonia e quando Nenê retornar. Pierce oferece mais caminhos a serem explorados com seu jogo de mano-a-mano, visão de quadra e chute de longa distância. O conjunto de pivôs também se complementa bem.

A pedida: vocês vão dar licença, mas o Wizards tem o direito, sim, de pensar até mesmo nas finais da NBA.

Porter Jr., produtivo após ano perdido

Porter Jr., produtivo após ano perdido

Olho nele: Otto Porter. No imprevisível Draft de 2013, o segredo mais mal guardado era de que, se pudesse, Washington selecionaria o ala de Georgetown na terceira posição. Não deu outra. O gerente geral Grunfeld via no espichado atleta um complemento ideal para Wall e Beal. Imagine, então, a apreensão do cartola ao observar uma primeira temporada desastrosa do garoto. Porter Jr. foi um fiasco sob qualquer perspectiva, desde a liga de verão, em que se mostrou perdido em quadra. Para piorar, sofreu uma lesão no quadril que o afastou da pré-temporada. Quando se recuperou, Trevor Ariza e Martell Webster ocupavam todos os minutos nas alas, e o time estava ajeitado, de modo que um calouro sem ritmo de jogo não teria espaço. Foi preciso paciência de ambas as partes, jogador e técnico, mas a espera valeu a pena. O jovem atleta de 21 anos ainda está no banco, mas agora tem um papel bem definido na rotação de Wittman e, em 15 jogos, já recebeu mais minutos do que no campeonato passado inteiro. De braços bastante longos e ágil, tem se esforçado para ajudar sua equipe nas pequenas coisas, contribuindo para uma defesa já forte. No ataque, muito mais confiante, elevou seu aproveitamento nos arremessos, com destaque para os 38,9% de três pontos.

Abre o jogo: “Só quero aproveitar o momento, sem me preocupar com o futuro, embora isso seja difícil. Vou para casa, e todo mundo fica me perguntando. Cara, é maluco. Até criancinhas de 4 anos perguntando se eu vou para o Wizards. E eu pergunto como diabos eles sabem dessas coisas. Com 4 anos de idade, eu nem sabia o que eram jogadores de basquete. Como eles sabem agora até sobre o mercado de agentes livres?”, Kevin Durant, ao USA Today, sobre a relativa pressão que sofre nos arredores de Washington, durante as férias, com muita gente esperando por sua assinatura em 2016, quando expira seu contrato com OKC.

Cassell levou Pierce para jogar com Beal. E aí se mandou para L.A.

Cassell levou Pierce para jogar com Beal. E aí se mandou para L.A.

Você não perguntou, mas… Pierce nem cogitava assinar com o Washington como agente livre, até que recebeu uma ligação de seu ex-companheiro de Boston, Sam Cassell. O clube estava preparado para perder Trevor Ariza e escolheu o veterano astro como uma opção. Será que rolaria? Bem, o ex-armador teve de ser persistente. Ambos estavam em Las Vegas e marcaram um almoço. No mesmo dia, também jantaram. Foi aí que o ala começou a assimilar a ideia. Gostou do plano e fechou contrato. A ironia é que, dias depois, Cassell deixou o Wizards e foi para o Clippers, trabalhar com Doc Rivers. Justamente o time para o qual Pierce acreditava que iria, caso não renovasse com o Nets.

2503-690978FrUm card do passado: Chris Webber. Infelizmente, aqui cabe um lembrete desagradável. Das últimas duas vezes que o time da capital conseguiu montar uma base forte e promissora, o sucesso durou pouco. No final dos anos 90, com a reunião de dois dos Fab 5, C-Webb e Juwan Howard, a equipe sonhava alto. Em 1996-97, chegaram a enfrentar o mítico Bulls nos playoffs e, claro, foram eliminados. A expectativa, porém, era de que voltassem ao mata-mata, e mais fortes. Não rolou: na temporada seguinte, até venceram mais do que perderam (42-40), e não foi o suficiente. As frustrações foram se acumulando, e a franquia fez uma das piores trocas possíveis: mandou Webber para Sacramento e recebeu Mitch Richmond e Otis Thorpe, dois veteranos que já estavam capengando. Na década passada, o núcleo formado por Arenas, Jamison e Butler durou mais tempo, deu trabalho para o Cavs do jovem LeBron, mas acabou se dissipando. A ver o que acontece com a formação de Wall e Beal.


Jason Kidd ‘derruba’ refrigerante em quadra e encara pressão
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Giancarlo Giampietro

Jason Kidd x Kevin Garnett

Kidd em quadra com Garnett. Mas de outro jeito, bem diferente

Acontece, claro. Mas é melhor evitar, né?

Num dos treinos de pré-temporada do Brooklyn Nets, o bósnio Mirza Teletovic e o marciano Andray Blatche se estranharam. Trocaram empurrões, mas o nível de tensão não chegou a ir além disso. Veio a turma do deixa-disso, e a equipe voltou a praticar rapidamente. “É normal. Acontece todo ano, dez vezes no ano, ou algo assim. É realmente algo competitivo, com os caras trombando e se batendo lá embaixo. O time fica sujeito a ter algumas dessas (confusões”, afirmou Deron Williams.

Bem, com um elenco abarrotado de jogadores talentosos – e ambiciosos –, competição por pontos, minutos é o que não vai faltar, mesmo, para o time do bilionário Mikhail Prokhorov. Quem tem de administrar tudo isso, envolver tantas peças talentosas  em torno de um só objetivo, numa mesma família e blablabla é Jason Kidd.

Fosse o armador Kidd, com sua visão de jogo em cinco dimensões e o respeito que emanava em quadra, não haveria problema nenhum. Mas agora estamos falando do técnico Kidd. Outra história. Aconteceu que o Nets, tentando cumprir a corajosa meta estabelecida por Prokhorov, de conquistar um título em cinco anos, resolveu apostar numa figura indiscutível do basquete, mas inegavelmente um calouro em sua nova profissão.

Dá para lembrar de algumas trocas de farpa célebres entre boleiros brasileiros. Quem não se recorda da célebre frase de Romário sobre a janelinha? “Mal chegou no busão e já quer sentar”, endereçada ao assistente promovido a treinador do Fluminense, Alexandre Gama? Teve também o bate-boca entre Emerson Leão e o agente de jogadores Wagner Ribeiro, com o meia-atacante Lucas no meio. “O Lucas é uma Ferrari, que está sendo mal conduzida pelo piloto, que não sabe nem sequer trocar a marcha do carro e muito menos dirigi-la”, disse o empresário.

São duas frases que não saem da cabeça na hora de avaliar a contratação do  jogador como técnico de um timaço que precisa vencer agora ou agora, nem mesmo três meses depois de sua aposentadoria. Ninguém vai questionar o cérebro de Kidd para o basquete. Mas comandar um elenco pede muito mais que isso. Uma coisa é pensar em quadra, por instinto, quando as coisas vão acontecendo. Outra é planejar o que vai acontecer nas partidas. É necessário ter um conceito de jogo e saber como aplicá-lo desde o início, sem se descuidar com todos os fatores que resultam em química dentro e fora de quadra.

Por enquanto, com 4 vitórias e 11 derrotas, Kidd já se vê em uma enrascada. A ponto de, nesta quarta-feira, ter forjado um incidente ridículo, para dizer o mínimo. Com pouco mais de 8 segundos no cronômetro, sem poder pedir tempo, ele, digamos, sugere que o jovem armador Tyshawn Taylor o acerte (“HIT ME”) na linha lateral de quadra, antes de Jodie Meeks bater dois lances livres para definir a vitória do Lakers. Sua intenção? Não só fazer Meeks repensar toda a sua vida antes de fazer as cobranças, como para ganhar tempo e desenhar uma eventual última jogada para o empate ou a virada. E aí que vira trapalhada: enquanto John Welch, seu coordenador ofensivo, risca a prancheta, Steve Blake e Xavier Henry estão ali, no meio da rodinha brooklyniana, vendo tudo, prontos para espalhar as novidades para seus companheiros. É uma das cenas mais estapafúrdias da história da liga:

 

Mostra a que ponto o técnico já se sente pressionado.

Claro que, na patética Divisão do Atlântico, dá tempo de sobra para ele e seus atletas se recuperarem. Mas não há dúvida de que, em 28 de novembro de 2013, estão muito aquém da expectativa. A noviça torcida da franquia, na vizinhança nova-iorquina, já começou a vaiá-los. “Acho que todo mundo aqui está cheio de vergonha”, disse Kevin Garnett. “Você definitivamente não quer que isso aconteça em casa.”

Para entender o tamanho da vergonha, números. Em termos de quantidade de pontos por jogo, o Nets tem a sexta pior defesa e o nono pior ataque. Se por fazer essas contas considerando o ritmo de jogo de cada equipe, pensando em pontos por 100 posses de bola, os rankings só caem: a equipe teria a defesa menos eficiente e o oitavo ataque mais anêmico. Resultado disso tudo? Mesmo com a contratação de Garnett e Paul Pierce, a franquia também é a última colocada em número de espectadores por jogo.

Mark Cuban Mutante Russo (via Bill Simmons)

É tudo dele: Prokhorov vai curtindo a vida de dono de clube da NBA

Claro que isso tudo não é cul-pa de Kidd. Seu time vem sendo um daqueles mais atingidos pela maré de azar quanto a lesões, neste início de temporada. Brook Lopez, seu melhor jogador (sim, isso mesmo),  já perdeu seis partidas. O temperamental e quebradiço Deron Williams ficou fora de cinco. Andrei Kirilenko, alguém fundamental para a coesão defensiva, só disputou quatro jogos, ou míseros 53 minutos. Pierce e Garnett perderam um cada e estão com os minutos limitados – uma decisão correta, pensando nos playoffs. Isso, claro, se eles chegarem lá. Algo sobre o qual Prokhorov nem pode pensar. Ainda que ele não tenha se pronunciado oficialmente sobre o assunto, o ESPN.com afirma que, por enquanto, ele dá total cobertura para o aprendizado de Kidd.

Também pudera. Depois da fanfarra que fez ao anunciar a surpreendente contratação de seu novo técnico, o magnata russo assegurou que era tudo ideia sua. E, bem ao seu modo de fazer graças a toda hora, gastando uma série de piadas como qualquer um dos homens mais ricos do mundo pode fazer, disse que seu novo técnico lhe lembrava o personagem de Tom Cruise no filme “Top Gun”, hit de bilheterias – e locadoras – nos anos 80. Uma referência bizarra.

“Quero refrescar sua memória. Tom Cruise interpreta o Maverick, e ele é um piloto top, um verdadeiro líder. No final, ele tomou a decisão de se tornar um instrutor porque ser um líder era o que ele mais valorizava. Então, Jason Kidd é a nossa Top Gun. Ele vai fazer seu melhor, estou certo, para usar todas as suas qualidades para nos elevar como uma equipe”, disse o russo.

E aí? Todo mundo convencido, né?

Esse é um sujeito que conseguiu dar um jeito para acumular mais de duas dezenas de bilhões de dólares de fortuna – até agora sem se abalar por falácias de mercado futuro ou nenhuma companhia que termine com “X”. Como questionar o feeling de uma figura dessas? Chega a ser até opressor.

Mas o problema com Prokhorov, muitas vezes, é a sua vocação para o show, mesmo. Ele pode falar o quanto quer um título de NBA, mas se tornar o dono de uma franquia esportiva nos Estados Unidos tem muito mais a ver com glamour e as luzes. E daí vem uma citação pop demodé e tresloucada dessas. Depois ele garante: “Para mim, internamente, só há um lugar aceitável: o número um.”

Por isso ele não se importa em bancar uma folha salarial de US$ 101,2 milhões. É, disparada, a maior do campeonato, conseguindo uma façanha praticamente impensável há um ou dois anos: faz da quantia gasta pelo vizinho de Manhattan, o Knicks,  algo até razoável (US$ 86,8 milhões). Além do dinheiro gasto com os salários, a franquia ainda vai pagar mais de US$ 80 milhões em taxas por exceder arrebentar o teto da liga. “Acho que eles ainda estão contando o dinheiro no escritório”, brincou o russo. “Mas, falando francamente, espero apenas que o cheque não volte.”

Beira o injusto depositar esse cheque e a esperança de estar no topo na conta de alguém que, antes de o campeonato começar, se assumia como uma “esponja”, em fase de aprendizado. “Estou tentando absorver toda a informação que puder de Doc, Pat Riley, Phil, de todos, para anotar isso e compartilhar com o estafe. Algumas dessas coisas vão pegar, outras vão ser jogadas fora. Algumas podem reaparecer, tudo em busca de uma identidade para o time agora. Mas, no fim, sou eu que vou tomar minhas próprias decisões e encontrar meu próprio caminho”, disse Kidd.

Para chegar lá, Kidd tem muito mais com o que se preocupar do que eventuais conflitos internos em treinos. A briga hoje é muito mais séria.


Jogadores americanos descendentes causam impacto e ajudam a explicar surpresas no continente
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Giancarlo Giampietro

Holland x Feldeine

John Holland e James Feldeine: duas novidades norte-americanas no Caribe

Os Estados Unidos nem jogaram a Copa América de basquete neste ano, mas o talento de seus jogadores ainda deu o jeito de fazer a diferença. Do campeão México à surpreendente Jamaica, passando até mesmo pelo Brasil com Larry Taylor, muitas das seleções que disputaram o torneio continental contaram com uma ajudinha da mão-de-obra dos atuais bicampeões olímpicos. O grau de sucesso variou de time para time, mas a presença deles foi impactante de um modo geral, para atestar, ainda que por vias tortas, a influência do país no esporte.

Aí você pode pensar: “Dãr. Quanta novidade, hein?”

Bem, acreditem. Antes de Jerry Colangelo, Coach K, LeBron & Cia. conseguirem restaurar um certo grau de normalidade para as competições masculinas da Fiba, essa aura, essa influência estava sendo esculhambada em praça pública. Voltemos.

Muito se falou sobre o Pan de 1987 nestes últimos dias de Oscar Schmidt no Hall da Fama, então esta vocês já sabem responder direitinho no vestibular: que, no basquete masculino, o Brasil foi o primeiro time a vencer os Estados Unidos na casa dos caras, em Indianápolis. Que os norte-americanos perderam para a União Soviética nas Olimpíadas de 1988 também vem por esteira, e que esses acontecimentos somados a uma boa dose de interesses econômicos dos dois lados, Fiba e NBA, levaram ao ingresso do Dream Team em Barcelona 1992, e o resto foi história.

Uma história que, se for pensar bem, não durou taaaaaaaaaanto assim, não. Em Sydney 2000, lá estavam os EUA penando contra a Lituânia na semifinal, a um chute de três pontos de Sarunas Jasikevicius de ver o império ruir.

Não tardou muito, mesmo: no Mundial de 2002, de novo no solo sagrado amaldiçoado de Indianápolis, veio o maior vexame da história (para eles): derrotas para Argentina na segunda fase, Iugoslávia nas quartas e, como se não bastasse, Espanha na disputa pelo sexto lugar. Os jogadores utilizados nesta? Andre Miller, Baron Davis, Jay Williams, Reggie Miller, Michael Finley, Paul Pierce, Shawn Marion, Raef LaFrentz, Elton Brand, Jermaine O’Neal, Antonio Davis e Ben Wallace. Um timaço em qualquer circunstância. Todos All-Stars ou futuros All-Stars, ultramilionários, estrelas de seus times, alguns que seriam campeões mais adiante. Mas nem todos eram maduros o suficiente para a empreitada e, além disso, não eram necessariamente os maiorais da liga na época (nada de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal, por exemplo).

Conclusão da época? Nós, ianques, não podemos mais nos dar ao luxo de não levar o que temos de melhor.

Dois anos depois, Atenas 2004, Jogos em que a seleção norte-americana sofreu mais uma humilhação daquelas com a derrota para Porto Rico na primeira fase e a assinatura da caderneta de freguesia para a Argentina, nas semifinais. Ao menos bateram os lituanos novamente e ganharam o bronze. Quem estava lá? Allen Iverson, Stephon Marbury, Dwyane Wade, LeBron James, Carmelo Anthony, Richard Jefferson, Shawn Marion, Lamar Odom, Amar’e Stoudemire, Carlos Boozer, Emeka Okafor e Tim Duncan. Reparem: grandessíssimos nomes, mas uma combinação de talentos que não faz o menor sentido, com nenhum chutador de primeira linha – e lembrem-se que Wade, Melo e LeBron eram apenas novatos na liga e saíram da capital grega odiando Larry Brown. Além do mais, com Iverson e Marbury, era como se eles tivessem a versão deluxe de Arroyo e Ayuso, sobrando tiros pra tudo que é lado.

Conclusão? No, we can’t. Não dava para jogar sem ter os melhores em quadra – e sem passar o mínimo possível de espírito de equipe.

Aí que o resto se fez de história também, com a reformulação completa da confederação. Antes disso, os fiascos seguidos botaram em dúvida o tipo de basquete praticado por lá. E até mesmo a qualidade do “jogador americano X” foi questionada. O orgulho todo foi embrulhado num jornal velho e atirado na lata de lixo. Compreensível a reação e exagerada da mesma forma.

Ainda numa digressão, temos o caso de uma campanha na qual eles não levaram o ouro, mas em que o talento abundante no país ficou em evidência. Antes da “derrocada” em Indianápolis, vale quebrar a linearidade e voltar quatro anos no tempo para edição 1998 do Mundial, também em Atenas. Abalada pela instauração do primeiro lo(u)caute na NBA, USA Basketball teve de se virar com um catadão de universitários, jogadores que na época estariam na D-League, caso ela existisse, ou de alguns veteranos em atividade na Europa. Destaque para o pivô Brad Miller, que remaria bastante e viraria um dos melhores de sua posição na grande liga, e o ala Trajan Langdon, um ídolo para os torcedores do CSKA Moscou. Treinados por Rudy Tomjanovich, com a assistência de Del Harris, esses atletas foram valentes o suficiente para conquistar o bronze, somando 7 vitórias (incluindo um placar de 83 a 59 contra o Brasil…) e 2 derrotas (Lituânia e, na semi, contra a Rússia, por um total de quatro pontos) – leia aqui o relato comovido da federação deles.

Jimmy King, um dos quase-anônimos do bronze

O ala Jimmy King, companheiro de Webber, Rose e Howard no histórico time dos “Fab Five” da univesidade de Michigan, foi um dos que conquistou o bronze no Mundial da Grécia em 1998

Nesse campeonato, os Estados Unidos foram obrigados a se alimentar com a rebarba, jogadores que não teriam a menor chance de entrar num elenco final de 12 atletas caso estivessem todos os de ponta disponíveis, mas ainda assim deram um jeito de brigar por um lugar ao pódio, lutando contra cachorros grandes. Com o tanto de jogadores que o país produz, algo semelhante apenas ao que o Brasil faz no futebol, não é impossível formar uma equipe competitiva.

Ao mesmo tempo, sem muita margem de erro, podem ficar em quarto num torneio continental como na Copa América de 2005, atrás de Brasil, Argentina e Venezuela, algo impensável para sua grife, ou, só com jogadores da D-League, ficar com um bronze no Pan de Guadalajara 2011, com um elenco que contou com três atletas hoje inscritos na NBA (Greg Stiemsma, Donald Sloan e Lance Thomas).

Tudo depende de preparação, seriedade, química e – por que não? – um pouco de sorte. De qualquer forma, passando por essas diferentes equipes citadas, algo fica muito claro: não é qualquer grupo que vai sair triunfante de uma competição oficial, independentemente de quem estiver jogando. Isso Paul Pierce e Tim Duncan poderão confirmar. Mas também não dá para negar o talento disponível.

E é a partir dessa fonte inesgotável de talento que o cenário da Copa América, hoje, se vê drasticamente alterado. Foram diversos os jogadores nascidos nos Estados Unidos inscritos no torneio disputado em Caracas, espalhados por vários elencos, como o ala Donta Smith, que se naturalizou venezuelano a menos de dez dias do torneio. Mas nem todos são descaradamente mercenários como o jogador ex-Atlanta Hawks: muitos entregam já em seus sobrenomes a ascendência latino-americana. A diferença é que, depois de passarem pelo High School, se formarem, ou não, nas universidades de lá, se beneficiando de toda a estrutura de seu país, na hora de jogar por uma seleção, eles simplesmente não teriam espaço se não na de seus familiares – como Scott Machado.

No México, temos, por exemplo, o pivô Lorenzo Mata, nascido na Califórnia, formado na UCLA. Combativo, disposto a trombar e fazer o serviço sujo, também um bom passador, inteligente, ele se apresentou como um sólido companheiro de garrafão para o astro Gustavo Ayón no México. Os inéditos campeões continentais também contaram com mais dois californianos em sua rotação, com papel importante: Jovan Harris, cestinha na final contra Porto Rico, com 23 pontos, e Orlando Méndez, além do baixinho catimbeiro que é o tal do Paul Stoll, esse natural do estado de Michigan.

O marrentinho Stoll

Paul Stoll, o tampinha e marrento armador reserva do México, direto de Michigan

Mais uma equipe a ser surpreendida pelos mexicanos, Porto Rico não teria muito do que reclamar, não, já que Renaldo Balkman, um dos melhores do torneio, veio de Nova York. Assim como John Holland, encontrou um ótimo ala para complementar seus armadores talentosos. Ele é um nova-iorquino de 24 anos, muito atlético, aguerrido na defesa, que vem evoluindo consideravelmente nas últimas duas temporadas. Neste campeonato, eles ganharam a companhia de outro conterrâneo, Ramon Clemente, ala-pivô estreante, da mesma forma que o ala Ricky Chaney, de Los Angeles. (E tenham em mente que Carmelo Anthony também seria uma possibilidade não fosse tão badalado e cobiçado desde a adolescência, de modo que a USA Basketball não o deixaria escapar de modo algum.)

O mesmo aconteceu na República Dominicana, com outro jogador de ponta: o ala-armador James Feldeine, de Nova York e uma ótima opção para pontuação a partir do perímetro, com suas infiltrações que desafogam a pressão pra cima dos, aí, sim, dominicanos naturais como Francisco Garcia e Jack Martínez. Outros nova-iorquinos: Edgar Sosa, Ricardo Greer e até mesmo o Ronald Ramon, de Limeira. Já o promissor Karl Towns Jr., de 17 aninhos, é de Nova Jersey.

E a Jamaica? Bem, Samardo Samuels nasceu realmente na ilha, vindo de Trelawny. De resto, temos cinco americanos e até um canadense, o jovem armador Dylan Howell, que saiu de Toronto. (Outro “gringo” que pode reforçar a seleção é o gigante Roy Hibbert, do Indiana Pacers, que já defendeu a equipe num torneio regional, mas se arrependeu e nutria esperanças de que pudesse ser liberado para defender os Estados Unidos de volta – sendo que já havia jogado pelo Team USA no Pan do Rio de Janeiro… –, até que seu pedido estapafúrdio foi recusado pela Fiba. Tá vendo? Acha que a federação vai dizer “sim” pra tudo?!)

Mas deu para sacar, né?

Os jogadores “importados” não chegam a ser Os Craques de suas seleções, mas se tornaram peças complementares importantes para a formação de sólidas e competitivas bases. Se fosse para subtrair todos esses caras, provavelmente nenhum dos três países teria beliscado a vaga – ou, no mínimo, teriam sofrido muito mais para assegurar a vaga. O “se” não entra em quadra, no entanto.

A única condição que se espera é que esses reforços tenham realmente alguma relação direta com os países que adotaram, algo que vá além de uma eventual valorização econômica pela vitrine que é disputar um torneio internacional de seleções.

Bem diferente do que vem acontecendo na Europa… Mas esta história fica para amanhã.

 


Na tabela 2013-2014 da NBA, os jogos (alternativos) que você talvez queira ver
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Giancarlo Giampietro

Com olançamento sempre adiantadíssimo de tabela, agora da temporada 2013-2014, a NBA já reservou em seu calendário – sem nem consultá-los, vejam só! – algumas noites ou madrugadas de suas vidas. E nem feriado eles respeitam, caramba.

Já é hora, então, de sentar com o noivo, avisar a namorada, checar se não é o dia da apresentação do filho, e que a universidade não tenha marcado nenhuma prova para essas datas: Kobe x Dwight, retorno de Pierce e Garnett com Boston, o Bulls abrindo a temporada contra os amáveis irmãos de Miami, Kobe x Dwight, as tradicionais visitas de LeBron ao povoado de Cleveland, Nets x Knicks, revanche Heat x Spurs, Kobe x Dwight etc. etc. etc. Não precisa nem falar mais nada a respeito.

Mas, moçada, preparem-se. Que não ficaria só com isso, claro. A liga tem muito mais o que oferecer para ocupar seu tempo de outubro a junho. Muito mais. Colocando a caixola para funcionar um pouco – acreditem, de vez em quando isso acontece –, dá para pescar mais alguns jogos alternativos que talvez você esteja interessado em assistir, embora não haja nenhuma garantia de que eles vão ocupar as manchetes ou a conversa de bar – porque basqueteiro também pode falar disso no bar,  sem passar vergonha. Pode, né?

Hora de rabiscar novamente a agenda, pessoal. Mexam-se:

– 1º de novembro de 2013: Miami Heat x Brooklyn Nets
Depois de encarar o Bulls na noite de abertura, de descansar um pouco diante do Sixers, lá vem o Nets para cima dos atuais campeões logo em sequência. Essa turma de David Stern não toma jeito. Querem colocar fogo em tudo. Bem, obviamente esse jogo não é tão alternativo assim, considerando as altíssimas expectativas em torno dos rublos do Nets. Mas há uma historieta aqui para ser acompanhada em meio ao caos: será que Kevin Garnett, agora que não se veste mais de verde e branco, vai aceitar cumprimentar Ray Allen? Quem se lembra aí de quando o maníaco pivô se recusou a falar com o ex-compadre no primeiro jogo entre eles desde que o chutador partiu para Miami? Vai ser bizarro para os dois e Paul Pierce, certamente. Assim como a nova dupla de Brooklyn quando chegar a hora de enfrentar o Los Angeles Clippers de Doc Rivers em 16 de novembro.

No hard feelings? KG x Allen

E o KG nem aí para esse tal de Ray Allen ao chegar a Miami

1º de novembro de 2013:  Houston Rockets x Dallas Mavericks
Sim, uma noite daquelas! Mas sem essa de “clássico texano”. O que vale aqui é o estado psicológico de Dirk Nowitzki e o tamanho de sua barba. Contra o Rockets, o alemão vai poder se perder no tempo, divagando no vestiário sobre como poderiam ser as coisas caso o plano audacioso de Mark Cuban tivesse funcionado: implodir um time campeão para sonhar com jovens astros ao lado de seu craque. Dois astros como Harden e Howard, sabe? Que o Houston Rockets roubou sem nem dar chance para o Mavs, que teve de se virar com um pacote Monta Ellis-Samuel Dalembert-José Calderón e mais cinco chapéus e três botas de vaqueiro para tentar fazer de Nowitzki um jogador feliz.

Hibbert x Gasol

E que tal um Hibbert x M. Gasol?

– 11 de novembro de 2013: Indiana Pacers x Memphis Grizzlies
Vimos nos playoffs: dois times que ainda fazem do jogo interior sua principal força, e daquele modo clássico (pelo menos que valeu entre as décadas de 70 e 90), alimentando seus pivôs, contando com sua habilidade e físico para minar os oponentes*. Então temos aqui David West x Zach Randolph e Roy Hibbert x Marc Gasol. Só faça figas para que eles não esmaguem o Mike Conley Jr. acidentalmente. Candidatos a título, são duas equipes que estão distante dos grandes mercados, mas merecem observação depois do que aprontaram em maio passado.  Não dá tempo de mudar. (*PS: com a troca de Lionel Hollins por Dave Joerger, o Grizzlies deve adotar algumas das diretrizes analíticas de John Hollinger, provavelmente buscando mais arremessos de três pontos, mas não creio que mudem taaaanto o tipo de basquete que construíram com sucesso nas últimas temporadas e, de toda forma, no dia 11 de novembro, talvez ainda esteja muito cedo para que as mudanças previstas sejam totalmente incorporadas pelos atletas.)

– 22 de dezembro de 2013: Indiana Pacers x Boston Celtics
O campos da universidade de Butler está situado no número 4.600 da Sunset avenue, em Indianápolis. De lá para o ginásio Bankers Life Fieldhouse leva 17 minutos de carro. Um pulo. Então pode esperar dezenas e dezenas de seguidores de Brad Stevens invadindo a arena, com o risco de torcerem para os forasteiros de Boston, em vez para o Pacers local, time candidato ao título. Sim, o novo técnico do Celtics é venerado pela “comunidade” de Indianápolis e esse jogo aqui pode ter clima de vigília. (E, sim, mais um jogo do Pacers: a expectativa do VinteUm é alta para os moços.)

– 28 de dezembro de 2013: Portland Trail Blazers x Miami Heat
Se tudo ocorrer conforme o esperado para Greg Oden, três dias depois do confronto com o Lakers no Natal, ele voltará a Portland já como um jogador ativo no elenco do Miami Heat, deixando o terno no vestiário, indo fardado para a quadra. Da última vez em que ele esteve no Rose Garden, foi como espectador, sem vínculo com clube algum, sendo vaiado e aplaudido, tudo moderadamente. E se, num goooolpe do destino, o jogador chega em forma, tinindo, tendo um papel importante nos atuais bicampeões? Imaginem o tanto de corações partidos e a escala de depressão que isso pode – vai? – gerar na chamada Rip City.

– 13 de março de 2014:  Atlanta Hawks x Milwaukee Bucks
O tão aguardado reencontro entre Zaza Pachulia com essa fanática torcida de Atlanta, que faz a Philipps Arena tremer a cada jogo do Hawks. Não dá nem para imaginar como eles vão se comportarem na hora de acolher de volta esse cracaço da Geórgia, ainda mais vestindo a camisa do poderoso Bucks de Larry Drew – justo quem! –, o ex-técnico do Hawks. E, para piorar as coisas, o Milwaukee ainda tentou roubar desses torcedores o armador Jeff Teague. Não vai ficar barato! (Brincadeira, brincadeira.) Na verdade, an 597otem aí o dia 20 de novembro, bem mais cedo no campeonato, que é quando Josh Smith jogará em Atlanta pela primeira vez com o uniforme do Detroit Pistons. Neste caso, os 597 torcedores do Hawks presentes no ginásio e que consigam fazer mais barulho que o sistema de som vão poder aloprar o ala sem remorso algum quando ele optar por aqueles chutes sem-noção de média distância, desequilibrado, com 17 segundos de posse de bola ainda para serem jogados.

Ron-Ron tem um novo amigo agora

Ron-Ron agora vai acompanhar Melo em Los Angeles

– 25 de março de 2014: Los Angeles Lakers x New York Knicks
Já foi final de NBA, Carmelo Anthony seria um possível alvo do Lakers no mercado de agentes livres ao final da temporada, Mike D’Antoni não guarda lembrança boa alguma de seus dias como técnico Knickerbocker. São muitas ocorrências. Mas a cidade de Los Angeles tem de se preparar mesmo é para o retorno de Ron Artest ao Staples Center. Na verdade, o ala já terá jogado na metrópole californiana em 27 de novembro, contra o Clippers, mas a aposta aqui é que apenas quando ele tiver o roxo e o amarelo pela frente que suas emoções vão balançar, mesmo. E um Ron-Ron emocionado pode qualquer coisa. Nesta mesma categoria, fiquem de olho no dia 21 de novembro para o reencontro de Nate Robinson, agora um Denver Nugget, com seus colegas do Bulls, a quem ele jurou amor pleno. Robinson também é uma caixinha de… Fogos de artifício, e não dá para saber o que sai daí. Ele volta a Chicago no dia 21 de fevereiro.

– 12 de abril de 2014: Charlotte Bobcats x Philadelphia 76ers
O Sixers lidera os palpites das casas de apostas a pior time da temporada. O time nem técnico tem hoje – o único nesta condição –, seu elenco tem uma série de refugos do Houston Rockets, eles vão jogar com um armador novato que não sabe arremessar e lá não há sequer um jogador que possa pensar em ser incluído na lista de candidatos ao All-Star Game. Desculpe, Thaddeus Young, nós amamos você, mas tem limite. E, Evan Turner, bem… Estamos falando talvez da última chance. Então, no quarto confronto entre essas duas equipes na temporada, Michael Jordan espera, desesperadamente, que o seu Bobcats esteja beeeeem distante do Sixers na classificação da Conferência Leste. Se não for em termos de posições, que aconteça pelo menos em número de vitórias. Do contrário, é de se pensar mesmo se, antes de o time voltar ao nome Hornets, não era o caso de fechar as portas.

– 16 de abril de 2014: Sacramento Kings x Phoenix Suns
Como!? Deu febre?!? Não, não, tá tudo bem. É que… no crepúsculo da temporada, essa partida tem tudo para ser uma daquelas em que ninguém vai querer ganhar. Embora os torcedores do Kings tenham esperanças renovada com um nova gestão controlando o clube, a concorrência no Oeste ainda é brutal o suficiente para que eles coloquem a barba de molho e não sonhem tanto com playoffs assim. Ou nem mesmo com uma campanha vitoriosa. Fica muito provável que esses dois times da Divisão do Pacífico estejam se enfrentando por uma posição melhor no Draft de Andrew Wiggins (e Julius Randle, Aaron Gordon, Jabari Parker, Dante Exum e outros candidatos a astro). Então a promessa é de muitos minutos e arremessos para os gêmeos Morris em Phoenix, DeMarcus Cousins mandando bala da linha de três pontos, defesas de férias e mais esculhambação.


Após dura eliminação, Boston Celtics encara incertezas em torno da dupla Pierce-Garnett
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Giancarlo Giampietro

Adeus?

Fabrício Melo pode se despedir de Pierce e Garnett

Será que dessa vez o fim chegou, mesmo?

Eliminado pela primeira vez na fase de abertura dos playoffs desde que uniu Paul Pierce e Kevin Garnett em seu plantel, o Boston Celtics vai enfrentar algumas duas semanas de ponderação, ao mesmo tempo em que junta seus pedacinhos fragmentados pela marretada que tomaram do New York Knicks.

Juntos, sob a orientação de Doc Rivers, os dois veteranos foram campeões em 2008, vice em 2010 e uma vez finalistas do Leste em 2012.

Nesta temporada, depois da contratação de reforços que pareciam tão promissores em outubro, o clube penou com muitas lesões – incluindo a crucial e lamentável perda de Rajon Rondo – e a estafa de seus dois principais jogadores e nunca pôde se inserir para valer na lista de candidatos ao título.

Saibam que, em Boston, por mais orgulhosos que os torcedores fiquem de seus atletas, a expectativa é sempre de brigar pela ponta, mesmo, ainda mais depois da sequência incrível que viveram nas últimas temporadas.

E teria um time centrado nos dois astros, que já disputaram 100 (!!!) partidas de playoffs lado a lado, condições de voltar a reinar na NBA? Sem ajuda, muuuuita ajuda, depois do que aconteceu neste campeonato, é bem provável que a resposta seja “não”.

Exigir de Garnett e Pierce que lideram a equipe em uma temporada regular brutal e que cheguem em forma para digladiar nos mata-matas, quando eles estão em suas, respectivamente, 18ª e 15ª temporadas, não parece o melhor caminho.

Pierce x Knicks

Celtic toda a vida, Pierce foi exigido demais na série contra o Knicks

Estatisticamente, eles ainda dão conta do recado. Especialmente KG. Se você pegar seus números em uma projeção por 36 minutos, suas médias de 2012-2013 seriam ainda consistentes com o que apresentou em 2008-2009, por exemplo. Seu impacto na defesa ainda é imenso. Mas, fisicamente, já não é mais possível acompanhar o ritmo – desde 2007 seu tempo de quadra é reduzido ano a ano. Nesta temporada, pela primeira vez ficou abaixo dos 30 minutos por partida desde sua campanha de novato, e mesmo isso não foi suficiente para evitar diversas contusões e lesões, que o limitaram a 68 partidas no ano.

Pierce, por seu lado, a despeito de ter acumulado a menor média de minutos de sua carreira (33,4), teve sua melhor temporada estatística desde 2009. Ele perdeu apenas cinco jogos também. Quer dizer, ainda está inserido entre os melhores de sua posição, ainda mais considerando sua habilidade para criar no mano-a-mano. Nos playoffs, porém, mesmo enfrentando um time que não é conhecido pelo poderio defensivo, sem ter um atleta decentemente equipado para combatê-lo, o experiente ala teve aproveitamento de apenas 36,8% nos chutes de quadra. Além disso, cometeu absurdos 5,3 desperdícios de posse de bola por jogo. Quer dizer: o Celtics pediu muito de seu cestinha.

Pouco o que dizer
Nesta sexta, em Boston, depois do revés por 88 a 80, um balde de água fria para um elenco extremamente orgulhoso e que havia ganhado confiança pelos dois triunfos seguidos, eles preferiram não falar.

A dor ainda era muito grande, as emoções “muito, muito fortes”, como definiu Garnett, para que falassem qualquer coisa prevendo o futuro. Vão passar dias e dias até que a dupla e o técnico Rivers possam se reunir e discutir o que ainda pode ser feito, o que será de suas trajetórias

Esse vínculo emocional representa o maior dilema e desafio do cartola Danny Ainge. Novamente.

Há pelo menos três anos o dirigente precisa lidar com a oposição de dois possíveis planejamentos: manter a base ou implodir tudo, reconstruindo o grupo.

Em 2012, Ainge foi criativo e criou uma terceira via. Renovou com Garnett, que era um agente livre, e Bass, segurou Pierce, substituiu o desertor Ray Allen por Jason Terry e investiu na chegada de peças mais jovens, como os alas Jeff Green e Courtney Lee e o novato Jared Sullinger (sem contar Fabrício Melo). A equipe se apresentou para a pré-temporada com muito otimismo.

Acabou que Sullinger, quando começava a engrenar, foi afastado por problemas nas costas. Depois da dura perda de Rondo, Leandrinho também foi abatido. Terry e Lee foram duas grandes decepções. Green ainda é muito inconstante. Sobrou, então, a carga pesada para Pierce e Garnett levarem, ao mesmo tempo em que gente como Terrence Williams, Jordan Crawford, Shavlik Randolph e DJ White chegava de todos os lugares, no meio do campeonato, sem entrosamento algum ou experiência para contribuir positivamente.

O que, diabos, fazer?
Com essa alternativa esgotada, cá está novamente a questão do que fazer com os astros. “Bem, você não vai encontrar Paul Pierces e Kevin Garnetts no mercado. Esses caras não existem mais – exceto pelos caras que vão provavelmente ficar onde estão”, disse Ainge.

Paul Pierce + Kevin Garnett

100 jogos de playoffs para a dupla

Apenas uma pequena parte do salário de Pierce para 2013-2014, seu último ano de acordo, é garantida. Ele poderia, então, ser facilmente negociado – um movimento com o qual a franquia flertou, e muito, durante os campeonatos mais recentes. “Isso é uma questão para o Ainge e sua equipe. Não tenho ideia do que vai ser. Só sei que espero definitivamente estar jogando no ano que vem”, afirmou o ala.

E a informação predominante que vem de Boston é de que Garnett, sem o seu fiel parceiro, anunciaria a aposentadoria de imediato, abrindo mão de mais duas temporadas de seu contrato – ele já teria informado ao Clippers, por exemplo, que não aceitaria uma troca para Los Angeles, nem para jogar ao lado de Chris Paul e Blake Griffin. O pivô poderia, aliás, pendurar seu par de tênis mesmo que Pierce continuasse.

É duro.

“O que espero é que nós aproveitemos no próximo ano esta experiência que tivemos, jogando com paixão e coração a cada noite”, disse o doidinho-da-silva Jason Terry, num momento, porém, de reflexão. “Ter jogado com KGe Paul foi uma grande experiência. Sei que as pessoas agora estão se perguntando se ambos vão estar de volta. Não posso responder isso, mas o que posso dizer é que eles me ensinaram muito.”


Prévia dos playoffs da Conferência Leste da NBA: Parte 1
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Giancarlo Giampietro

 1-MIAMI HEAT x 8-MILWAUKEE BUCKS

A história: os caras de Miami venceram 37 de suas últimas 39 partidas. Seus adversários? Venceram 38 em todo o campeonato. Precisa dizer mais?

O jogo: o Bucks… Bem, o Bucks tem dois armadores extremamente fominhas em Brandon Jennings e Monta Ellis, que podem ganhar um jogo por conta, mas perder muitos também da mesma maneira – com chutes descabidos restando 15 segundos de posse de bola, em flutuação, na cabeça do garrafão. Enquanto isso, Mike Dunleavy Jr. e JJ Redick, extremamente eficientes, correm o risco de ficarem apenas como espetacores. O duro é que, contra uma defesa tão ágil e atlética como a do Heat, talvez não haja escapatória além das investidas de seus dois pequenos. O que mais? Seu elenco é composto por 340 pivôs interessantes, mas que roubam uns dos outros o tempo de quadra, impedindo qualquer consistência. Um dos melhores defensores do campeonato, Larry Sanders vai ter de se virar no perímetro contra Chris Bosh. Luc Richard Mbah a Moute, caso estivesse bem fisicamente, poderia se meter no caminho de LeBron algumas vezes. Ersan Ilyasova se recuperou de um início de campanha calamitoso para justificar a bolada que recebeu na hora de renovar seu contratos, embora não cause tanto impacto assim no destino da equipe. Enfim, estamos procurando aqui mais e mais motivos que pudessem animar os anti-Heat, mas está complicado. Ao menos, Ellis e Jennings estrelaram o comercial mais legal da NBA em muito tempo, embora seja bizarro falar de união justamente sobre esses dois fominhas:

De dar nos nervos: Shane Battier é tão ingeligente, mas tão inteligente numa quadra de basquete, que pode dar raiva, sim. Estamos falando de um verdadeiro cdf. O ala conhecido como Sr. Presidente na China – isso vem dos tempos em que era companheiro de Yao no Rockets – ganhou ainda mais notoriedade no vestiário do Heat com seus discursos pré-jogo durante a sequência de vitórias histórica da equipe. Mas seus serviços mais importantes acontecem em quadra, cumprindo um posicionamento defensivo impecável, que compensa seu jogo, digamos, terreno. Battier é daqueles que sempre dá o passo à frente, para fora da área restrita ao redor da cesta. Daqueles que quase nunca salta diante da primeira tentativa de finta de seu adversário, mantendo os pés plantados, o braço erguido, forçando o oponente a tomar outra decisão. Forte, com estatura mediana, casou muito bem com LeBron na defesa, numa combinação vital para o aprofundamento do “basquete sem posição” planejado por Spoelstra. Não é à toa que, no ano em que se tornou agente livre, foi recrutado de imediato por LeBron e Dwyane Wade para juntar forças no Miami. Os astros sabiam o que era jogar contra ele.

Olho nele: depois do título, muitos davam a carreira de Mike Miller por encerrada. O ala mal conseguia celebrar direito na saída de quadra, totalmente travado nas costas. Os jogadores do Heat, mesmo, brincavam que ele estava precisando de uma cadeira de rodas ou, no mínimo, um andador para as férias. Aí que Pat Riley encontoru um meio de roubar Ray Allen de Boston, e o papel do ala parecida cada vez mais secundário. Em fevereiro, ele disputou apenas um jogo. Em março, só foi ganhar tempo de quadra significativo a partir do dia 24. Em abril, porém, quando Spo começou a descansar seus titulares, especialmente Wade e LeBron, Miller se apresentou surpreendentemente como um jogador que ainda pode ser relevante para o time: arremessando mais de seis bolas de três pontos em média durante nove partids, ele matou 51,8% delas. Suas médias foram de 12,1 pontos, 5,1 rebotes e, melhor, 3,7 assistências em apenas 27,2 minutos. Nos playoffs, com a tendência de jogos mais amarrados, apertados, ter um atirador de longa distância – e ótimo passador – disponível nunca é demais.

Palpite: Bucks 4-2.

(Brincadeira, é que por um minuto o Brandon Jennings hackeou minha máquina).

Miami 4-0, fora o baile.

 2-NEW YORK KNICKS x 7-BOSTON CELTICS

A história: Spike Lee espera muito mesmo por uma grande campanha dos Bockers nos playoffs. Mas muito mesmo. Dá para imaginar as capas dos tabloides nova-iorquinos todas pintadas de azul e laranja, e o Garden bombando. A expectativa é tanta que qualquer coisa abaixo de uma final de conferência seria considerada um fracasso. Agora, vá você tentar convencer os orgulhosos Paul Pierce, Kevin Garnett e Doc Rivers disso. Eu? Tou fora.

O jogo: resta saber apenas se KG terá condições de batalhar em quadra. O mesmo vale para Tyson Chandler do outro lado. Sem os pivôs, essa pode ser a primeira série na história pós-George Mikan a ter um jogador de 2,06 m de altura – Jeff Green, no caso, em registros oficiais… Vai saber se chega a isso – como o mais alto em quadra. O plano tático de Mike Woodson de small-ball ficou ainda mais aprofundado depois dos problemas físicos de Tyson Chandler (um baque) e Rasheed Wallace, Marcus Camby e Kurt Thomas (nenhuma novidade aqui). E toca tiro de três pontos: seu time foi o que mais arremessou de longa distância na temporada (2371, dois a mais que o Rockets, e 981 a mais que o Celtics!!!). A ideia é espaçar ao máximo a quadra para deixar Carmelo operar, o que quer dizer que Jeff Green terá um trabalhão danado. O ala enfim justificou a panca de superestrela, num grande campeonato. Por mais que Paul Pierce tenha os nova-iorquinos como suas vítimas preferidas, fica difícil de imaginar que ele possa, a essa altura, se equiparar ao potente cestinha do Knicks. Se JR Smith mantiver o ritmo das últimas semanas, o tempo fecha de vez.

De dar nos nervos: Raymond Felton, Pablo Prigioni, Jason Kidd… Respirem fundo, amigos, porque o Avery Bradley é uma peste que só na pressão quadra inteira, 3/4 ou meia quadra. Não importa onde e como o armador adversário drible a bola: contra Bradley, está correndo risco de ser desarmado. Sua movimentação lateral – ou “jogo de cintura” – é inigualável. Veja este clipe aqui:

Ou, se quiser, este:

 Como se diz mesmo? “Monstro”?

Olho nele: era para ser Leandrinho, mas a lesão no joelho tirou o brasileiro da temporada. Então vai de Jordan Crawford, glup. O ala ex-Wizards foi contratado de última hora para assumir as atribuições antes designadas ao brasileiro: carregar a bola vindo do banco e pontuar. Agora, nem sempre é bonito. Ou melhor, raramente é bonito de se ver. Porque Crawford realmente pode conduzir a bola, mas quem disse que ele é obrigado a passá-la? Um jogador muito talentoso, mas extremamente individualista. Observem e esqueçam, depois, por favor.

Palpite: Knicks em seis (4-2).

*PREVIA DO OESTE: Thunder x Rockets e Spurs x Lakers.
* PREVIA DO OESTE:
Nuggets x Warriors e Clippers x Grizzlies.


Lesão de Rondo abre oportunidade, e Leandrinho recebe voto de confiança de Pierce em Boston
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho já é de casa

Um Boston Celtics mais unido sem Rajon Rondo?

A chance veio.

A lesão de Rajon Rondo abriu 37,4 minutos para serem distribuídos na rotação de perímetro de Doc Rivers, e a diretoria dá a entender que quer ver como o time – e os jogadores da posição – respondem nas próximas semanas para avaliar se precisam, ou não, de uma troca. Lembrando que o prazo para os times fecharem transações nesta temporada dura até 21 de fevereiro.

Leandrinho sabe, então, que chegou a hora. Depois de ser acionado nos primeiros meses e, depois, ser enterrado no banco de reservas, pinta uma nova oportunidade para o brasileiro mostrar serviço.

Contra o Heat, Courtney Lee foi promovido ao time titular para fazer dupla com Avery Bradley, enquanto Paul Pierce teve se dedicar mais à orquestração do ataque. Ainda assim, o tempo de quadra do brasileiro subiu para 30 minutos. Teve dupla prorrogação? Ok, teve, então foram 58 minutos disponíveis de partida. Mas já foi um baita avanço, já que, nas quatro rodadas anteriores, ele havia somado apenas 19 minutos no total, sem ter pisado na quadra na derrota para o Cavs. No geral, sua média na temporada é de apenas 11 minutos.

Enfrentando os atuais campeões, superatléticos, Leandrinho não chegou a brilhar, mas teve um jogo sólido: 4 assistências contra apenas um desperdício de bola e nove pontos, convertendo quatro em oito chutes de quadra, matando a única de longa distância que tentou. E solidez talvez seja algo de que o Celtics realmente mais precise neste momento. Jogadores consistentes, regulares, que assimilem seu papel e ajudem a equipe a se reconstruir rapidamente sem a presença do cerebral – e problemático – Rondo. Algo que nem ele, muito menos a dupla Courtney Lee e Jason Terry, nos quais Ainge e Rivers apostaram tanto, vinham conseguindo.

De todo modo, Paul Pierce, um dos capitães do time, não perdeu a fé nessa turma, incluindo o brasileiro. “Os caras vão receber uma oportunidade agora. Sabemos que eles assumiram papéis reduzidos por causa do modo como nosso time é construído. Agora eles vão ter de assumir um papel maior. E sabemos que temos caras mais do que capazes de aproveitar e dar conta do recado, seja Courtney Lee, seja Leandro Barbosa. Sabemos que esses caras podem jogar. O que aconteceu foi que, com o sistema que temos, com Rondo sendo nosso principal criador de jogadas, e jogando 40 minutos, esses caras provavelmente não tiveram uma oportunidade para realmente mostrar o que eles podem fazer. E agora eles vão ter essa oportunidade.”

Doc Rivers é bom de retórica, Kevin Garnett vai direto ao ponto, mas, pensando no futuro de Leandrinho em Boston, dificilmente alguém vai resumir melhor a situação do que fez o veterano ala. “Ainda gosto de nossas chances na Conferência Leste. Digo, sentimos que podemos jogar contra qualquer um com o time que formamos aqui. Mesmo sem Rondo. Contra o Miami foi o exemplo perfeito. Mostramos que somos capazes. Com ou sem Rondo, temos um elenco para competir com qualquer um. Não é segredo nenhum. Só precisamos jogar com a disciplina e o empenho que tivemos agora”, completou.

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Por mais generoso que seja em quadra, liderando a liga em assistências, diversos repórteres que acompanham o Celtics de perto levantaram a tese de que o Celtics poderia se acertar sem Rondo fora de quadra, em termos de clima de vestiário. Depois, poderiam melhorar as coisas jogando, mesmo. Se Ray Allen passou de mentor a inimigo de Rondo em menos de dois anos, não seria de se estranhar que outros atletas da Beantown tenham problemas de relacionamento com o jogador. “Ele não estava  lidando bem com a missão de liderar o time”, resumiu o veterano jornalista Peter May, que colabora com a ESPN.com de Boston e segue a franquia desde os tempos de Bird (ou mais).

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Rondo criou 24,3 pontos por jogo a partir de suas assistências nessa temporada. Se o Boston Celtics já tem um dos piores ataques da liga mesmo com essa produção incrível do armador, é de se imaginar, então, que o barco esteja afundado para o restante da campanha? Nem tanto. Nas últimas quatro temporadas, o time venceu 21 e perdeu 13 partidas quando jogou sem o armador. Talvez um jogo menos centralizado em uma só mente brilhante possa ser produtivo. Além disso, quando Rondo vai para o banco nesta temporada, o Boston Celtics permite cerca de 5 pontos a menos por partida, fazendo de sua defesa ainda mais forte – algo que poderia compensar também uma queda de rendimento no ataque.

Mas qualquer cenário positivo para o Celtics nesta temporada, que não envolva troca, vai depender exclusivamente de dois fatores: que Pierce e Garnett não se lesionem e que os reforços desta temporda rendam conforme o esperado. Incluindo, sim, Leandrinho.