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Arquivo : Copa América

NBA, contratos milionários e as dores do mundo Fiba para o Canadá
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Giancarlo Giampietro

Jay Triano tinha experiência. Os seus atletas nem tanto

Jay Triano tinha experiência. Os seus atletas nem tanto

Tem uma expressão em inglês que, acabo de ser informado, tem equivalente no português, até mesmo ao pé-da-letra: growing pains, que, para os pediatras, é a chamada dor de crescimento, mesmo. Mas é claro que, no cotidiano, os gringos a usam com outra conotação. São as dores de se crescer, de amadurecer. São essas coisas da língua inglesa que mostram que, na sua simplicidade, não tem um vocabulário que impressione Camões ou José de Alencar, mas pode ter uso muito prático e inteligente e, por isso, rico.

Mas vamos deixar o Professor Pasquale cuidar desse assunto com mais propriedade. É que foi simplesmente a primeira coisa que me veio à cabeça durante o jogão do ano até agora pelo mundo Fiba: Venezuela 79, Canadá 78. É um jogo que pode ter repercussão infinita, de tantas lições e consequências que se tira dele. O lado venezuelano e o exemplo que ele representa para o Brasil já pediu o seu artigo. Os vencedores tiveram a prioridade. Agora é a vez dos perdedores.

Foi uma derrota e tanto para os canadenses. Agora, antes de se air avacalhando com os caras, é bom lembrar que, do ponto de vista brasileiro, nada pode ser dito. Os moleques saíram da capital mexicana com apenas duas derrotas. A segunda derrota veio apenas na hora que não podia. Já a CBB só garantiu sua seleção nas Olimpíadas ao vencer a luta contra sua vocação pela pendura, pelo calote e convencer seus patrocinadores a pagar sua dívida com a federação internacional. Ponto. Em quadra, foi mais um vexame.

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E, se for para zoar o país mais ao Norte da América, melhor aproveitar o momento. Pois, em termos de produção de talento, o Canadá não vai parar por aqui, por mais que esse revés machuque muitos de seus eventuais protagonistas. Esse time tinha nove jogadores sob contrato com a NBA, e há muito mais vindo por aí. Gradativamente, ao menos nos grandes centros urbanos, eles estão trocando o bastão e o disco pelo aro e a bola. É a tal da massificação — e taí um vocábulo que os dirigentes brasileiros desconhecem.

Sabe qual a diferença de idade entre Andrew Wiggins e Bruno Caboclo? Ele é sete meses mais velho. Sua seleção como um todo tinha média de idade de 23,8 anos e pouquíssima rodagem em competições internacionais. Esse era desde sempre o maior adversário na briga por uma vaga olímpica. Num paralelo com a nossa geração NBA, é como se fosse 2003 para eles.

Apenas 20 anos para Wiggins. Foi seu primeiro torneio com a seleção

Apenas 20 anos para Wiggins. Foi seu primeiro torneio com a seleção

Para os que já não se lembram mais, há 12 anos a seleção brasileira jogava sua primeira Copa América desde a entrada de Nenê (e Leandrinho) na grande liga, com a esperança de não ficar fora pela segunda vez seguida das Olimpíadas. Varejão era atleta do Barcelona. Alex estava explodindo com o Ribeirão Preto de Lula Ferreira. Marcelinho ainda não tinha um alvo gigante em suas costas. Splitter era um adolescente, apenas, é verdade. Mas em geral havia uma expectativa enorme em torno deles. O desfecho foi de massacrar os nervos: quatro derrotas seguidas, uma facada atrás da outa, e de todos os lados: perderam por dois pontos para os eventuais campeões olímpicos da Argentina, por três pontos para o Canda (de Steve Nash!), por dois pontos para Porto Rico e, para fechar, derrota de dez pontos para o México, de Eduardo Nájera, o ancestral de Ayón.

Os brasileiros amarelaram, então? E os canadenses? (Com a diferença de que a competição de 2003 era muito mais forte que a deste ano.)

Se você prefere esse tipo de termo, tudo bem. Prefiro dizer que sentiram a pressão de um grande jogo, sendo um grupo pouco acostumado a esse tipo de situação. Uma coisa é enfrentar o Milwaukee Bucks ou o Los Angeles Clippers. A qualidade do outro lado será muito superior à de uma Venezuela ou de Porto Rico. Mas o jogo é muito diferente. A pancadaria, a tensão, o clima no ginásio, especialmente para um time tão envolvido com a missão Rio 2016. Tem isso: entre todas as críticas que se pode fazer ao colapso canadense contra os venezuelanos, “salto alto” não pode fazer parte do pacote. Os caras jogaram e respeitaram a competição. Não subestimaram a concorrência.

Ciente disso, a experiente comissão técnica da seleção tentou fazer o que podia para preparar os atletas para o que viria pela frente. O repórter Josh Lewenberg tem um relato muito interessante sobre um coletivo em que os assistentes de Jay Triano faziam as vezes de árbitros e estavam apitando tudo, invertendo marcações, bagunçando geral. “Disse a eles durante o treino que eles precisam encarar isso porque é o que vai acontecer no torneio. O jogo é arbitrado de uma forma diferente da que eles estão acostumados em suas temporadas regulares. É sobre uma das coisas que conversamos. Temos de nos adaptar”, disse Triano, após a sessão.

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez em Toronto. Esmagado por venezuelanos

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez em Toronto. Esmagado por venezuelanos

Santa premonição. A arbitragem na partida contra os venezuelanos foi polêmica. Aquela falta dada na disputa do rebote no último segundo, de Aaron Doornekamp sobre Gregory Vargas, não se marca. Estavam todos se estapeando. É a mesma coisa que a confusão de um escanteio no futebol. Mas o apito soou, e não teve jeito. A maturidade que não conseguiu mostrar na condução do jogo, Cory Joseph, ex-xodó de Popovich em San Antonio, teve na hora de avaliar o que se passou em quadra: “Não deveria nunca ter ido para aquela última bola, primeiro de tudo. Joguei de modo horrível. Se não fosse Kelly (Olynyk), teríamos sido esmagados. Não jogamos bem como equipe. Eles trabalharam e se dedicaram mais que nós em quadra. Estou decepcionado, não consegui liderar meu time. Acontece”.

Olynyk de fato teve uma partida memorável. Em termos individuais, foi a terceira maior atuação deste torneio, ficando atrás apenas da aula que levou de Scola na estreia e do esforço hercúleo que Ayón teve contra a Argentina. Foram 34 pontos e 13 rebotes, convertendo oito de nove arremessos de dois pontos e três em quatro de longa distância, mais nove em dez lances livres. Não há nem o que se falar de seus seis desperdícios de bola. Chegou uma hora em que o jogador de 2,11m era o único que encarava a agressiva defesa venezuelana, ficando sobrecarregado. Wiggins fez bom primeiro tempo e sumiu no segundo. Joseph foi um verdadeiro desastre. Stauskas passou mal durante toda a véspera por conta de uma intoxicação alimentar. Anthony Bennett, que teve uma ótima temporada com a seleção, não foi acionado e não conseguiu se impor fisicamente no garrafão.  Melvin Ejim é quatro anos mais velhe que Wiggins e ainda menos polido. Talvez fosse um jogo que pedisse mais a brutalidade de Dwight Powell, que recebeu apenas quatro minutos, do que a finesse de Andrew Nicholson. Por fim, Robert Sacre não saiu do banco.

Reparem que os nove atletas de NBA da seleção foram citados no parágrafo acima. O que serve também para reforçar a tese que o mero selo da liga norte-americana em seu currículo não conta toda a história, não é garantia de nada. Ainda mais quando o time que os derrotou não possui nem mesmo perto de receber um contrato — se fosse apostar, diria que Windi Graterol eventualmente possa ser testado em uma liga de verão. A maior parte desses moleques canadenses, oras, ainda está em formação, enquanto alguns deles não devem nem mesmo ter uma longa carreira por lá. Não à toa, na hora em que a coisa apertou, foi Olynyk, o mais experiente da turma em jogos Fiba, quem carregou o piano.

Joseph conseguiu reagir na disputa pelo bronze

Joseph conseguiu reagir na disputa pelo bronze

“Pareceu que estávamos um pouco inseguros”, disse o técnico Triano. Pois é. A outra derrota canadense foi na estreia, contra a Argentina. Justamente o outro jogo de uma competição oficial que notoriamente costuma ser dos mais tensos, independentemente do nível do rival. Passado esse revés, os norte-americanos se soltaram e dominaram a competição. Com folga. Chegou o único jogo do mata-mata que não poderiam perder, porém, e tomaram um tombo feio.

“Dou crédito a eles (venezuelanos). Eles tiraram nossa transição e nós cometemos os turnovers que sabíamos que eles tentariam forçar. Foi um jogo complicado de aceitar para nós, obviamente. Jogamos bem pela maior parte do torneio, mas não fomos muito bem nessa partida, o que é uma falta de sorte. Esses torneios costumam ser resumidos pelo jogo que se perde, se você perder. Muitos de nossos caras jogaram duro, como fizeram durante toda a competição. Só não jogamos muito bem nesta semifinal. Nossos sonhos agora ficam na espera”, completou o treinador.

Neste sábado, de volta à quadra, os jovens canadenses se viram novamente diante de uma torcida toda contrária, na disputa pelo terceiro lugar com o México e venceram. Em termos práticos, o bronze não vale nada para eles quando confrontado com as expectativas do time. Mas o modo como saiu a vitória pode ser emblemático: foi mais uma partida decidida na última bola, com um arremesso salvador do próprio Cory Joseph, no estouro do cronômetro. Faz parte, como ele mesmo diz. Não importa se você está na NBA, se está milionário. Se você gosta de basquete, se importa com a sua seleção, tem de passar por esses testes e amadurecer. Nem que seja com dor.


A zebraça venezuelana e as lições de basquete e humildade
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Giancarlo Giampietro

Estavam todos no Pan

Estavam todos no Pan

Sério, quem imaginava? Nem o Greivis Vásquez.

A Venezuela protagonizou nesta sexta-feira uma das maiores zebras da história da Copa América — e do basquete mundial. Guardadas as devidas proporções, a vitória, por 79 a 78, sobre o estrelado Canadá tem um quê de Argentina derrubando pela primeira vez uma seleção dos Estados Unidos formada por jogadores da NBA, em 2002, pelo Mundial de Indianápolis. Um resultado de tremendo impacto, mesmo.

Contrariando todas as previsões, a equipe vinotinto vem, então, ao Rio 2016 de peito erguido e ensinando muitas lições aos integrantes da seleção brasileira que na Cidade do México estiveram. Para a diretoria, que descolou uma verba federal milagrosa em tempos de recessão, vale investigar quanto teria custado a campanha venezuelana. Quantas peças de roupa eles teriam lavado? Num degrau mais abaixo, chegamos aos jogadores, mas também os técnicos, não? Afinal, perderam todos.

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Aqui faço referência a mais uma declaração de Rubén Magnano que, pode cravar, não pegou bem com o seu elenco: “Os jogadores devem avaliar então em que estágio se encontram hoje. Essa derrota não vai modificar a minha maneira de ver o basquete. Os ganhos que tive ao longo da minha carreira me dão a força necessária para apostar no que penso. Eu não acredito em fazer as coisas de maneira automática. Gosto que os jogadores tenham a coragem e a bravura para resolver as coisas. Insisto na solidariedade, e o fato de 80% deste time ter jogado junto nos Jogos Pan-Americanos não se refletiu.”

“Em comparação ao Pan, que é a relação mais próxima que consigo fazer, tivemos um aproveitamento bem inferior nos arremessos. Isso tem a ver com o nível do torneio, que não era o mesmo do Pan, e pelo fato de as partidas terem sido muito físicas, como já falei. As decisões tomadas não foram as corretas. Não tivemos sucesso e não repetimos o jogo coletivo do Pan, graças aos nossos erros e às virtudes dos outros”, disse ainda. “Certamente saio com gosto amargo e espero que os jogadores pensem o mesmo.”

Pela segunda vez consecutiva após um vexame na Copa América, o comandante argentino procura se distanciar do que acontece em quadra. Dá a entender que seus atletas atuaram com soberba, relaxamento — ou que não tenham nível técnico para jogar desta forma. Fala em mentalidade individualista, bem diferente daquela que vimos durante a conquista em Toronto. Algo que não se pode negar, de fato. Mas isso aconteceu por desobediência tática? O descontrole é deles? Se Magnano tinha uma mensagem a ser passada e ela não foi aceita/escutada/compreendida, isso é um problema só dos jogadores?

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez. Esmagado por venezuelanos

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez. Esmagado por venezuelanos

E aqui temos, novamente, a questão do Pan, aquele que, de acordo com a tese geral, não vale nadica de nada. Para Magnano, percebam, valia e valeu, sim. O técnico também imaginava que aquele basquete vitorioso pudesse ser replicado. Por alguma razão, não deu certo. O nível da competição aumentou, como ele diz, mas aqui interfiro: a Copa América foi muito mais dura do que os Jogos de Toronto, sim, mas não do ponto de vista técnico. Pelo menos não para o Brasil, conforme o já exposto aqui.

Do contrário, como explicar a Venezuela alcançando a final? Afinal, a seleção dirigida por outro argentino, Nestor Garcia, teve exatamente o mesmo número de jogadores que atuaram no Pan em comparação com os brasileiros: 10 de 12. Apenas o ala-pivô Windi Graterol e o reservão Ceso García foram adicionados. Por mais que adore Graterol, não dá vou dizer que ele, sozinho, elevou uma equipe que nem mesmo brigou por medalhas no primeiro torneio à condição de superpotência no segundo.

Também não vamos agora olhar em retrospecto e salivar pelo elenco venezuelano. O fato de terem derrubado o Canadá na semifinal, depois de vitórias sobre Porto Rico e República Dominicana na fase classificatória e de jogos duros contra Argentina e México, pode indicar que mereciam mais respeito prévio. Afinal, conhecemos há tempos esses caras de muitas competições internacionais, por clubes ou seleção: há gente de muito talento por lá, como sabemos desde aquela marcante derrota pela semifinal do Pré-Olímpico de 1992. Só não dá para dizer que os atuais jogadores seja tão superiores assim aos que Magnano convocou para o torneio. Nada que chegue perto de justificar tamanha discrepância nos resultados.

Garcia consegue o improvável. Quanto custa o projeto?

Garcia consegue o improvável. Quanto custa o projeto?

O que Nestor Garcia conseguiu foi organizar a equipe e dar a ela um senso de coletivo e combatividade — e nisso podemos todos concordar com Magnano: comparada ao Pan, a Copa América foi mai difícil do ponto de vista de intensidade e desejo, algo que faltou à seleção brasileira. Essa evolução vinotinto veio, naturalmente, num processo gradual. Na Copa América de 2013, em casa, terminaram na quinta colocação e só não foram à semifinal devido a uma derrota dramática para Porto Rico pela segunda fase, por 86 a 85. Um pontinho que os tirou da semifinal. No ano seguinte, foram campeões do Sul-Americano. Antes que você engasgue com a competição, atente que Laprovíttola, Richotti, Safar, Delia, Augusto, Rafael Luz, Meindl, Felício, Hettsheimeir e Raulzinho estiveram em ação por lá. Agora, na Cidade do México, deram a grande rasteira.

A façanha aconteceu mesmo que não contassem com sua principal estrela, Greivis Vásquez. Depois de anos e anos de serviço, tendo inclusive jogado o Sul-Americano, o armador recusou a seleção desta vez. Ironicamente, o ex-jogador do Raptors viu o time fazer seu melhor basquete justamente contra Cory Joseph, aquele que foi contratado para a sua vaga em Toronto, e Andrew Wiggins, com o qual a franquia canadense sonha desesperadamente para o futuro.

Como conseguiram isso? Primeiro que, tal como Magnano fez no Brasil, Garcia colocou os venezuelanos para defender como nunca antes visto na história desse continente, diria o outro. Na semifinal, adiantou sua marcação para contestar de qualquer maneira o arremesso de fora canadense. Com um time extremamente atlético e veloz, o rival ainda se mostrava mortal com sua artilharia exterior, listando sete jogadores com aproveitamento superior a 40%, com dois deles acima de 50%. Valendo vaga olímpica, foram limitados a 5-17 (29%). Isso porque Kelly Olynyk matou 3 em 4, num jogo excepcional.

Do outro lado, a estratégia ofensiva era claramente gastar a posse de bola. Nem que, para isso, tivessem de investir muito em jogadas individuais a partir do perímetro. Fosse com seus armadores malacos (Heissler Guillent, 28, talvez tenha feito a partida de sua vida, com 19 pontos em 22 minutos, matando quatro chutes de fora) ou com o peladeiro John Cox, o primo do Kobe nascido em Caracas (14 pontos em 15 arremessos, com seis cestas de quadra, algo nada eficiente), muito importante por sua habilidade no drible, fazendo o tempo passar. O ataque foi todo controlado. Em 40 minutos de um jogo extremamente nervoso, cometeram apenas dez desperdícios de posse de bola.

E aqui há o outro lado também: o Canadá sentiu a pressão. Na verdade, dois tipos de pressão. Primeiro que era o jogo mais importante, o único que valia em suas ambiciosas projeções, e eles estiveram abalados por este fardo. Quando esteve solta em quadra durante a competição, a molecada atropelou seus eventuais algozes (82 a 62!) e os mexicanos anfitriões. Segundo que houve a própria pressão venezuelana. Foi o time de Garcia que tirou os oponentes de uma zona de conforto, que os desestabilizou. E, aí, mérito para os atletas e para seu treinador. Garcia foi um caso à parte durante o torneio e, em especial, na decisão. Correu todo esbaforido na lateral de quadra, com seu conjunto esportivo geralmente desarranjado. Vejam isto:

Não acho que o técnico precise jogar junto com seus atletas, fazendo esse show todo. Sinceramente, embora o vine acima seja hilário, com direito a censura nada higiênica por parte do árbitro, prefiro uma figura mais discreta, que confie nas instruções que tenha passado ao seu elenco na preparação do jogo e que possa observar simplesmente o que se passa em quadra, anotando os ajustes necessários. Cada um na sua.  Garcia conseguiu, do seu jeito, fazer sua mensagem ser entregue. Por aqui, quando decide jogar para a torcida, Magnano usa outro expediente: queimar o filme de seus em praça pública.

Em diversos sentidos, a Venezuela virou exemplo, de postura, empenho e, principalmente, basquete e humildade. Algo que, admito não esperava escrever tão cedo e que Grevis Vásquez, ao contrário de Manu Ginóbili, flagrado no ginásio, nem pôde ver de perto.


Prepare-se para o jogo do ano pelo mundo Fiba
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Giancarlo Giampietro

Gustavo Ayón, Argentina, México, Fiba Américas

Existem Pré-Olímpicos, e existe o EuroBasket, é verdade.

Mas, no calendário Fiba deste ano, o melhor jogo tende a ser este México e Argentina, que nos aguarda na sexta-feira. Os dois times já fizeram uma grande partida nesta quarta, fechando a segunda fase, com os donos da casa efetuando mais uma virada improvável, vencendo por 95 a 83. O resultado tirou Luís Scola e Andrés Nocioni da primeira colocação geral e agendou uma revanche na semifinal. Do outro lado, o Canadá. Para quem não sabe ainda, apenas os dois finalistas garantirão vaga direta às Olimpíadas do Rio 2016.

Os mexicanos comemoram tanto, mas tanto a vitória sobre os então invictos argentinos, que é preciso cuidado com o que se deseja. Tá certo que foi uma batalha emotiva e que, no plano continental, a Argentina ainda é vista como referência, tendo ainda em sua escalação dois campeões olímpicos que já são lendas vivas. Mas me parece claro que a festa que os anfitriões fizeram não foi só por uma grande vitória. Para os caras, ela se tornou mais especial pelo fato de terem fugido do Canadá na disputa pela vaga olímpica premium. Ao que parece, a surra que tomaram na terça-feira teve efeito traumatizante. A garotada canadense abriu vantagem de 22 pontos já no primeiro tempo, ignorando o ginásio cheio e barulhento.

Isso a gente não percebe  apenas pela festa, mas também pelo empenho dos atletas durante todo o confronto. Gustavo Ayón jogou 40 minutos. Outros três titulares ficaram em quadra por 34 minutos ou mais. Ah, mas do outro lado também teve um empenho considerável e a derrota foi dolorida. Sim, sim. Mas há uma diferença aqui: a Argentina queria muito jogar contra a Venezuela na semifinal. O México fez de tudo para não enfrentar o Canadá. “Era a partida que tínhamos de ganhar. Nos últimos dias, foi dito por aí que o México já estava praticamente fora, devido ao cruzamento com o Canadá, mas demonstramos que não é assim”, disse o próprio Ayón. De qualquer forma, los cabrones fizeram sua parte. Entregar a partida é que não fariam, dãr. Agora, vão lidar com Scola e Nocioni novamente.

Scola x Ayón

*   *   *

Assim como os craques argentinos vão precisar encarar um ginásio infernal. Não vai ser nada fácil, e esse é o fator que, para mim, turbina as expectativas para o jogo de sexta. Veja ao final o ranking de ingredientes que tornam o jogo imperdível.

A torcida mexicana bateu o recorde de público para uma partida de Copa América nesta quarta, com mais de 16 mi espectadores no Palacio de los Deportes. Sabemos bem como esses caras são calorosos. O mexicano, no fim, também é outro que gosta muito mais de esporte do que o brasileiro, que prefere a vitória. Por isso, a mera ideia de se realizar essa partida no mítico estádio Azteca nem soa absurda. Certeza de que os torcedores o lotariam. E eles têm empurrado a equipe. O clima foi fundamental para uma virada impressionante no período final, o qual sua seleção venceu por 36 a 11. Sergio Hernández afirmou na coletiva que não se lembra de um jogo pela equipe nacional em que tenha levado tantos pontos assim num só quarto. (O que ele não disse é que deu uma boa contribuição para tanto, deixando o jogo correr solto quando seus atletas não encontravam rumo em quadra.)

*   *   *

O México obviamente não avança só à base de empolgação. Lembrem-se que jogam como os atuais campeões do torneio, depois de triunfarem na Venezuela, milhas e milhas ao Sul de Nayarit, onde conquistaram o CentroBasket de 2014. A rotação, na hora do vamos ver, foi enxugada pelo espanhol Sergio Valdeolmillos. Contra a Argentina, jogaram basicamente sete atletas, descontando os três minutos dados a Marco Antonio Esquivel e o grandão Rodrigo Zamora. Nesse grupo de sete homens de confiança, porém, há gente talentosa, para além de Ayón.

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Jorge Gutiérrez está sempre atacando, com um dinamismo que incomoda a oposição (12,9 pontos, 4,4 assistências e 4,4 rebotes). É um armador alto, forte e rápido para este nível. Se aprender a arremessar minimamente bem de fora (tem 10-48 em sua carreira pela seleção), fará estragos. O ala Francisco Cruz é outro que merece menção. Tem todo o tipo de um rato de ginásio, daqueles que encontra maneiras para colocar a bola na cesta, mesmo que seja lento (poderia muito bem despejar alguns quilinhos). Sabe aquela coisa de conhecer os atalhos, né? Além disso, seu arremesso de fora é muito bonito e também eficiente a partir do drible (44%). E ele sabe usar essa arma ao seu favor, para poder se aventurar em direção à cesta. Cheio de confiança, anotou 21 pontos nesta quarta, mas também contribuiu com seis rebotes, dois ofensivos até, e cinco assistências. Do ala-pivô Héctor Hernández (11,8 pontos e 5,0 rebotes), você nunca sabe o que esperar. Surpreendentemente ágil para alguém de seu tamanho e bom chutador de longa distância, ainda que, neste torneio em específico, não esteja convertendo os arremessos. O armador Paul Stoll consegue ser ainda mais enjoado que Barea e Campazzo com a bola. O ala Juan Toscano-Anderson, que tem bolsa na Universidade de Marquette, é uma grata adição. Aos 22 anos, tem dificuldade gritante para finalizar, mas causa impacto com seu físico e envergadura. Joga pesado e dá suporte aos mais talentosos cuidando das pequenas coisas e tem dado 3,3 assistências em média, sabendo ler o jogo em meio a suas infiltrações desajeitadas.

*   *   *

Agora, claro que, sem Ayón, não iriam a lugar algum. Contra a Argentina o pivô mostrou novamente o quão especial é como jogador. Se a NBA não o soube aproveitar, azar da NBA, sorte do Real Madrid. Ele fez um esforço hercúleo neste triunfo: 38 pontos, 14 rebotes, 4 tocos e , 4 assistências. Com um bônus: a defesa para cima de Scola no quarto período. Pode parecer uma provocação, ou heresia até, mas vamos lá: hoje o mexicano entrega mais que o craque argentino. Em termos de valor para uma determinada equipe, tudo depende do contexto. Essa renovada seleção argentina precisa desesperadamente dos talentos ofensivos de seu legendário camisa 4, alguém que pode criar situações de cesta por conta própria, com um repertório professoral de movimentos. Ayón não tem a classe ou o arsenal do cabeludo, mas já mostrou que tem um gancho confiável. Também sabe se deslocar muito bem fora da bola, ficando à disposição dos companheiros na hora do aperto. Na defesa, também está quase sempre bem posicionado e usa seu vigor e agilidade para se impor num torneio como a Copa América que não tem tantos grandes atletas. Os armadores latinos, como Laprovíttola, parece que ainda não se deram conta disso. Não adianta Sua presença foi o suficiente, por exemplo, para forçar uma andada e outros arremessos mais precipitados por parte de Scola, preocupado em fugir de seus tocos.

É por isso que ele é o orgulho de Zapotán:


(Aos leitores de outras encarnações que já tenham visto este vídeo umas trocentas vezes, perdón não precisam agradecer, ok? O prazer é todo meu.)

*   *   *

Neste jogaço, de todo modo, o México se resumiu a três nomes: Ayón, Gutiérrez e Cruz, que somaram 82 dos 95 pontos mexicanos. Só sobraram sete arremessos para os demais jogadores. Não é das práticas mais saudáveis e, ainda assim, a defesa argentina quase permite uma quantia centenária. Ai. Dá para imaginar a ansiedade e o frio na barriga de nossos hermanos, que formam uma comunidade basqueteira muito apaixonada.

O duelo com os mexicanos é um pouco traiçoeiro do ponto de vista tático para Hernández. Scola não consegue marcar Ayón e precisa de ajuda nessa. Por mais valente e determinado que seja, Nocioni também sabe, desde os treinos do Real, que não dá conta. Restam, então, Delia e Gallizzi. O espigão Delia talvez seja hoje aquele nome que mais desperta angústia na Argentina. Em vez de se desenvolver, parece que o pivô regrediu nos últimos dois anos. No primeiro jogo, Delia ficou em quadra por 20 minutos e, embora tenha terminado com apenas três pontos e dois rebotes, ao menos conseguiu atrapalhar um pouco o pivô mexicano. Tem hora que o tamanho, sozinho, ajuda. Talvez seja o caso de reduzir os minutos do novato Patricio Garino, xodó nacional, que não tem quem marcar do outro lado. Ou encaixá-lo na rotação de outra forma, pois vale apostar mais na dupla armação com Laprovíttola e Campazzo. Mesmo que o ex-flamenguista fique em posição de inferioridade (física) contra Gutiérrez, ainda é a melhor pedida.

*   *   *

Vendo Campazzo, fica claro como a cobrança e as expectativas em torno de um jovem armador precisam ser moderadas. Ainda mais um cara tão elétrico assim. Ele funciona na correria, mesmo — e esta seleção argentina em específico corre como nunca. Com o tempo, Campazzo vai entender, porém, que há momentos em que o uso do freio também é uma boa solução, se não a melhor. No quarto período, o futuro companheiro de Benite e Augusto perdeu a mão. Energia por energia, o adversário jogava amparado por 16 mil pessoas.

*    *    *

O Canadá é favorito absoluto contra a Venezuela. No hotel, cada um em seu quarto — ou todos juntos no bar? –, devem ter comemorado o desfecho do último jogo do dia, depois de terem atropelado a combalida República Dominicana.  Quando os dois times se enfrentaram pela primeira fase, os norte-americanos também resolveram a parada já no primeiro tempo, encaminhando um triunfo por 20 pontos, mesmo tendo cometido 22 turnovers. A equipe vinotinto não tem um jogo interior que inspire muito medo, e s proteção de cesta seria aquilo que mais chega perto de um ponto fraco de seus adversários. No perímetro, eles estão equipados para conter a movimentação de caras como Cox, Colmenares e Cubillan, que precisaria estar muito inspirados para se pensar em aprontar algo. A turminha de Andrew Wiggins só não pode entrar com o um tênis de solado muito alto, digamos, já que são apenas 40 minutos para se definir todo um trabalho. Os venezuelanos fizeram partidas muito mais competitivas em relação ao que se esperava e têm um técnico argentino ardiloso. Derrubar os canadenses, com seus nove atletas de NBA e que evoluíram gradativamente durante a competição, seria para Nestor “Che” Garcia uma proeza similar à de Rubén Magnano com a Argentina pelo Mundial de 2002.

*   *   *

Resumindo, então, por que você não pode perder este jogo?

1) O ginásio vai bombar. Vale vaga olímpica.

2) A presença de Scola e Nocioni. Nunca sabemos quando pode ser a despedida de duas lendas dessas, mesmo que eles nem cogitem o assunto.

3) Scola x Ayón.

4) Nocioni x o povo mexicano.

5) Gutiérrez x Laprovíttola.


O Pan não vale? Fadiga? Questão sobre Magnano? Entendendo o vexame
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Giancarlo Giampietro

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Segundo o pai de todos, antes de “vergonha”, vexame significa “aquilo que vexa“. Vexar, seria “afligir, atormentar, molestar, oprimir“. No caso da segunda eliminação seguida do Brasil ainda pela primeira fase de uma Copa América, essa hierarquia faz muito sentido, ainda que no jargão esportivo a segunda acepção seja a usual.

Acredito que os profissionais envolvidos com a pífia campanha na Cidade do México, dentro e fora de quadra, estejam realmente mais atordoados do que envergonhados depois de somarem três derrotas em quatro jogos — “vergonha” é um termo muito forte, mas dá para sentir que, do ponto de vista do público, foi o sentimento que ficou, de todo modo. Com direito a uma assustadora surra panamenha nesta sexta-feira que pôs fim a uma longa temporada da seleção que começou tão bem em Toronto e termina de modo aflitivo, atormentador, molestador e, também, opressor.

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Eram dez times inscritos, divididos em dois grupos, e apenas dois em cada chave ficariam fora da segunda etapa. O cenário se repetiu. Em 2013, a equipe dirigida por Rubén Magnano caiu acompanhada pelo Paraguai. Agora, fez par com Cuba. E aqui precisamos ser justos com os cubanos: eles caíram numa chave mais complicada com a nossa, com três candidatos sérios à vaga olímpica: Canadá, o grande favorito, Argentina, com Scola, Nocioni e uma rapaziada pilhada que faz o time correr como nunca, e Porto Rico, bastante mambembe depois de mais um show de desorganização nos bastidores, vitimando um técnico do porte de Rick Pitino, mas que ainda tem Barea e Balkman, dois dos melhores atletas da competição. Além da Venezuela, que, mesmo sem Greivis Vasquez, vem se mostrando muito competitiva num trabalho louvável de outro técnico argentino, Nestor Garcia.

Num cenário desses, é fácil lançar a caça às bruxas, até por conta da reincidência. Mesmo que já tenha acontecido em Caracas, não deixou de ser uma surpresa lastimável o péssimo desempenho coletivo na capital mexicana, especialmente depois do basquete de primeiro nível praticado em Toronto. Aqui não tem como aliviar: em nenhuma de suas quatro partidas, a equipe conseguiu acertar mais de 40% de seus arremessos de quadra (35% contra o Uruguai, 39% na única vitória sobre a República Dominicana, 35% contra o México e 33% contra o Panamá. Sinceramente, não há como relativizar estes números. O que acabe é tentar entender o que aconteceu. Seja para os que estão aqui, assistindo, como, principalmente, para os que estão do lado de lá, participando.

Brasil x Panamá, Copa América

Na volta da Venezuela, dois anos atrás, dois assuntos predominaram: um mal-estar (físico), provocado por virose, que teria abalado mais de meio time. Ainda é um mistério para mim porque diabos, na ocasião, a confederação, a comissão técnica, ou os jogadores não foram mais incisivos ao bater nessa tecla. Talvez achassem que fosse pegar como mera desculpa, depois da queda. Antes, obviamente que não se podia abrir o jogo, para não avisar o oponente. Mas o simples fato de não terem falado mais a respeito acaba minando um pouco a seriedade do episódio. Além do mais, antes que a virose virasse assunto, a metralhadora giratória de Rubén Magnano acabou roubando e destroçando a cena.

Vamos ver o que o argentino tem a dizer dessa vez. De 2012 para cá, entre campanhas sólidas nos últimos Mundiais e em Londres 2012, mas longe de medalhas, a seleção penou para valer no campo continental, com apenas uma mísera derrota em oito jogos. Em nenhuma dessas campanhas, o time contou com força máxima. Daí a dedução mais óbvia é a de que, sem a cavalaria da NBA, não dá pé. Aqui, do meu canto, não compro essa tese. “É o que temos, é o o nível do basquete brasileiro etc.”. Não acredito que os 12 atletas levados por Magnano ao México não fossem capazes de, juntos, acertar 40% de seus arremessos ou que não pudessem impedir uma média superior a 15 rebotes ofensivos a garrafões que não incluem a elite do basquete mundial, Gustavo Ayón à parte.

Posto isso, segue, então, alguns palpites sobre o que pode ter acontecido, com base no que vimos em quadra e em conversas com pessoas próximas ao grupo, levando em conta o que já ouvi também de carnavais passados:

O que significava a Copa América?
A despeito da semana de pesadelo em quadra, a memória coletiva do basquete brasileiro não pode se esquecer do episódio que antecedeu a participação no torneio. Até um mês atrás, a trinca Rubén Magnano, Vanderlei e Carlos Nunes simplesmente não sabia se a sequer disputaria a Copa América — quanto mais se precisaria lutar pela vaga olímpica. As reuniões em que o pires foi passado e o acordo, costurado davam todos os indícios de que a pendenga havia sido resolvida. Mas, enquanto o conselho da Fiba não votasse o tema em Tóquio, não dava para ter certeza absoluta de nada. A CBB, afinal, a entidade que deve até as cuecas na praça, não havia quitado sua dívida. Só havia sinalizado com um compromisso de que não daria calote, com o respaldo bem mais confiável de seus dois patrocinadores.

O trabalho de Magnano foi horroroso durante a semana, mas, em sua defesa, é inegável que a impossibilidade de se fazer um planejamento já minava o técnico. A não ser que ele já tivesse garantias, nos bastidores, de que o torneio serviria como a chance de testar alguns atletas, mais alternativas dentro de seu sistema de jogo e, sem pressão, de repente, a tentativa de uma segunda conquista, que encheria a seleção de moral rumo ao Rio 2016.

magnano-brasil-tecnico-basquete

Fadiga
O núcleo desta seleção brasileira se apresentou em São Paulo para iniciar os trabalhos em 14 de junho. Foram, então, de dois meses e meio a três meses juntos. Pensando de modo isolado, não é muito tempo. Levando em conta que alguns deles mal puderam descansar ao final da temporada 2014-2015, esse período ganha outro significado.  Com um agravante: o jogo na altitude da Cidade do México, que pede até mesmo o auxílio de balões de oxigênio. E aí, novamente, o drama pela vaga olímpica atrapalha. Se houvesse, em junho, um caminho já definido, talvez o Brasil pudesse ir ao México realmente com um grupo de garotos, formar dois grupos separados, assim como fez a maioria das seleções que estão na segunda fase da Copa América. Perder por perder, apanhar por apanhar, ao menos dava rodagem aos caras que vão carregar o bastão no próximo ciclo olímpico.

E aí, amigos, entro num tema espinhoso, que, em termos jornalísticos, valeria o “lead”. É uma informação que tem circulado há um tempão por trás das cortinas e que, com o microfone ligado, as câmeras acesas, ninguém vai confirmar. Pelo menos não até que seja disputado o torneio olímpico. Mas, se for para falar de cansaço, chega a hora de compartilhá-la: dez, 11 semanas de treino com Magnano podem ser mais desgastantes que o normal, tanto do ponto de vista de condicionamento como do mental. Sim, do mental.

O técnico é daqueles que não tira o pé em nenhum momento, exigindo intensidade máxima o tempo todo. O tem-po to-do, enfatizando. O resultado disso é positivo em diversas maneiras, como se vê obviamente na defesa. Essa abordagem, porém, levanta questões a longo prazo: o quanto ela é efetiva se os jogadores estiverem de saco cheio? Não exatamente pela falta de fôlego, mas pela pressão, pela cobrança constante.

magnano-brasil-uruguai

Já ouvi muitas fontes, de origens e filiações distintas, mas sempre bem próximas aos atletas, corroborar essa história: por mais que respeitem, não é que os principais jogadores da seleção morram de amores pelo técnico. Não existe confiança plena da parte deles com o argentino, e esse pé atrás tem muito a ver com o comportamento do comandante. Estão cansados do discurso de que “nós vencemos”, “eles perderam”. Aí você as declarações de 2013, com um enxame de marimbondos cuspidos, e a situação ser agrava.

Para deixar claro: não sei se aconteceu com o atual grupo, depois do ótimo Pan-Americano (início de trabalho).

E não é que essa indisposição dos medalhões chegue a um nível em que estejam tentando ou já tenham tentado derrubar o treinador. Não foi por conta disso que perderam para a Argentina em 2010 e 2012 e para a Sérvia no ano passado. Mas dá para se dizer que a relação entre ambos poderia ser muito mais saudável, amigável. E, aos amigos comentaristas anônimos, que adoram ler o que não está escrito: essa é a informação que vem de gente próxima dos atletas, e não minha opinião. Não estou dando razão a ninguém ao reportar isso. Não estou defendendo a queda de Magnano, advogando a favor da “classe brasileira”. Por outro lado, seu currículo e o ouro no Pan não podem blindá-los contra tudo e todos, certo? Não dá para usar dois pesos e duas medidas.

A convocação
Não dá para discutir o grupo formado para a Copa América sem levar em conta o tópico acima. Se for para bancar o detetive, no momento em que o treinador convocou Marquinhos e, na sequência, Guilherme Giovannoni, a impressão é de que Magnano não tinha certeza de nada sobre suas obrigações para a competição. Daí a opção por dois veteranos com os quais trabalhou constantemente nos últimos anos. Seriam duas apólices de seguro para ele, para o caso de o bicho pegar na busca por uma vaga olímpica. Isso e mais isto: levou para a Cidade do México uma equipe que, em sua cabeça, iria competir para valer no torneio. Do contrário, faria muito mais sentido escalar Danilo Siqueira e um Lucas Mariano, ou qualquer outro jogador mais jovem do NBB para se ganhar cancha*. De resto, pode-se discutir um ou outro nome, mas o grupo listado era basicamente aquele seria reunido pela maioria dos técnicos, levando em conta a ausência de Splitter, Varejão & Cia. Dez desses caras haviam acabado de ganhar o Pan jogando muita bola. Essa discussão vai longe e pede outro texto, pois este aqui já vai ficar longo o bastante.

(*Sobre a dupla do Raptors: 1) precisaria ver o que o clube sentiria a respeito: por os dois jogadores em quadra neste cenário talvez ajudasse muito em seu desenvolvimento; por outro lado, a diretoria tem se mostrado bastante superprotetora quanto à dupla e talvez preferisse trabalhar com eles em casa. Mas aí você ouve falar que Caboclo andou por São Paulo por esses dias, então fica em dúvida. 2) Planos do Raptors à parte, não sei bem qual recado, exemplo seria dado ao se convocar dois atletas que mal jogaram durante a temporada e que, ainda por cima, deram trabalho nos bastidores.)

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

O Pan
Sim, o nível de competição era inferior ao que estamos assistindo na Copa América, no geral. Agora, no que diz respeito aos jogos da seleção brasileira, a concorrência não foi tão inferior assim. Cuidado com a generalização e a orelhada. Vamos lá:

– Na Cidade do México, o Brasil enfrentou Scola e Nocioni? Barea e Balkman? Wiggins, Olynyk, Joseph? Não. Mas enfrentou, por exemplo, um Francisco Garcia, dominicano totalmente fora de forma, que não esteve nos Jogos de Toronto, aliás, e cujo time foi o que mais deu trabalho aos eventuais campeões, na semifinal. Em termos práticos, no Grupo A, só o México, devido à presença de Ayón e Jorge Gutiérrez, se apresentou com um elenco claramente superior.

Ou o Uruguai, com sua população inferior à de Salvador, agora virou uma superpotência, a ponto de ser temido mesmo quando não escala Esteban Batista, Jayson Granger e Leandro Garcia Morales? E o que dizer do Panamá, que faz uma turnê de despedida para Michael Hicks, Jaime Lloreda, Rubén Garces (41 anos!!!) e, talvez, nosso pequenino e velho amigo Joel Muñoz? No papel, são times mais fortes que os Estados Unidos de Bobby Brown, Keith Langford, Anthony Randolph, Damien Wilkins, Ryan Hollins e uma série de futuros profissionais de ponta? Ou mais fortes que o núcleo composto por Anthony Bennett, Andrew Nicholson, Carl English, Brady Heslip, Jamal Murray, Melvim Ejim e Aaron Doornekamp? Não creio.

Anthony Bennett, Canadá, Pan Am

(Aliás, um parêntese: não quero menosprezar aqui uruguaios e panamenhos. Dizer que eles não estão na elite da modalidade não significa que eles sejam “lixos” de equipes, para empregar o vocábulo que é muito provavelmente mais utilizado pelo irado comentarista online brasileiro. Peguem Hicks como exemplo. Hoje com 39 anos, o ala fez uma bela carreira na Europa, jogando na Itália por dez temporadas. Em competições Fiba, tem média superior a 17 pontos por partida. Lloreda e Garces deram trabalho e causaram hematomas em muita gente nos últimos 10, 15 anos. Esses caras não são galinhas mortas. Mesmo envelhecidos, deram uma surra em todos os sentidos numa fragilizada equipe.)

Sabe em qual aspecto os uruguaios e os panamenhos foram melhores que o Canadá ou os Estados Unidos? Como equipe, como unidades coletivas, vindo de preparação mais extensa voltada exclusivamente à Copa América, enquanto os norte-americanos formaram seus grupos do Pan em cima da hora. A seleção brasileira, por outro lado, regrediu.

Tá, mas e aí? O que diabos aconteceu?
Pelo que ouvi entre sexta-feira e este sábado, não há teoria da conspiração que se encaixe aqui. O clima entre os atletas esteve bom do início ao fim. Não houve motim contra Carlos Nunes, gripe suína, interferência externa, nem nada fora do normal além de questões dentro de quadra.

A seleção em quadra
Do grupo pan-americano, dois jogadores saíram: Rafael Hettsheimeir e Larry. Já escrevi aqui após a derrota para o Uruguai (a segunda consecutiva em Copas Américas). A troca por Giovannoni e Marquinhos gerou desequilíbrio. São atletas  de perfil muito diferentes, tanto do ponto de vista técnico como do físico, sem contar que estavam vindo de férias e foram inseridos num time que estava montado. Não quer dizer que os dois que saíram sejam superiores aos dois que chegaram. Acontece que, entre uma habilidade perdida e outra somada, a rotação se descarrilou.

Sem Larry, Magnano perdeu uma alternativa de dupla armação, levando em conta os recursos defensivos que o norte-americano, mesmo já um ou dois passos mais lento, pode oferecer. Para piorar, o jovem Deryk ficou no grupo final, mas foi retirado da rotação, enquanto Rafael Luz voltou de uma contusão que o tirou de quadra da Copa Tuto Marchand.

Panamá x Brasil, Copa América, basquete

A baixa maior, porém, foi a de Hettsheimeir, que hoje representa um fator tático claramente importante para o ataque de Magnano. Historicamente, Guilherme é um chutador mais temido, mas Rafael vem trabalhando exaustivamente no fundamento e teve aproveitamento superior no último NBB. Em competições internacionais, desconfio também de que hoje chame mais a atenção das defesas adversárias. De qualquer forma, fico me perguntando se, num ataque devagar-quase-parando desses, a presença do pivô no perímetro faria alguma diferença, uma vez que os oponentes mais atentos adiantaram suas defesas e contestaram para valer os arremessos brasileiros. De longa distância, o aproveitamento foi de apenas 22,1% na Copa América, uma calamidade. Haveria espaço para ele chutar?

Mas no que o pivô faz mais falta? Por conta de seu perfil singular. Se hoje se caracteriza como um chutador no ataque, na defesa tem porte físico para aguentar o tranco. Não é nenhum Roy Hibbert, não tem verticalidade e mal protege o aro, mas ocupa espaço no garrafão e é pelo menos mais alto que João Paulo. Contra os massudos panamenhos certamente teria feito diferença, ajudando um sobrecarregado Augusto Lima.

Por outro lado, Marquinhos e Giovannoni não conseguiram atingir seu melhor nível na Cidade do México. Para os veteranos, demora um pouco mais para chegar ao ápice físico, e os dois estavam visivelmente fora de ritmo, vindo de férias. Mas por que os velhacos panamenhos estavam se impondo fisicamente e como é possível que Luis Scola dê uma aula na molecada canadense, sendo da mesma idade de Guilherme? Bem, eles começaram a treinar para o torneio bem antes.

Marquinhos, Copa América, Brasil x República Dominicana

São apenas dois jogadores? Sim, mas dois que teriam papel importante para Magnano, com bons minutos em quadra e cuja presença em quadra não foi bem administrada. Em meio às constantes trocas que levam o Wlamir à loucura, o treinador se perdeu em suas rotações. No jogo derradeiro contra os panamenhos, nem mesmo quando mandou contra os panamenhos para a quadra uma formação mais “ofensiva” o time conseguiu render, enquanto a defesa sofreu. Os problemas que via em quadra não eram contornados. Esse, aliás, parece um ponto no qual o argentino campeão olímpica fica aquém: os ajustes durante as partidas. Qual foi último jogo que a seleção conseguiu virar quando estava atrás do placar por muito? Sinceramente, não lembro. A impressão é de que, quando desandam as coisas, não tem volta.

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Aqui, realmente parece que há uma divergência na hora de assimilar o que aconteceu na Copa América: que os problemas sejam estruturais, de formação dos jogadores, e não há santo de casa que dê um jeito nisso, ou que Magnano, mais uma vez, não conseguiu tirar o melhor que podia de seus atletas? Minha colher: mesmo que se aceite que o time seja limitado, não é função do treinador elevar o seu jogo? O grupo brasileiro não era o mais forte, mas jogou o máximo que podia. Na verdade, não creio que tenha jogado nem perto de seu potencial pleno.

Custo
Se não dá para esquecer toda a novela que foi a confirmação da seleção nas Olimpíadas, expondo a CBB ao ridículo no noticiário internacional, também há outra conta que não pode faltar nunca ao se avaliar os resultados obtidos: os R$ 7 milhões que o ministério do Esporte concordou em pagar para custear apenas para sustentar as operações da equipe brasileira masculina. Ou, pelo menos, é o que dizem, é o que consta no texto de descrição do convênio. Entre viagem para Brasília, Buenos Aires, San Juan, escala em Miami, e o desembarque na Cidade do México, delegação de 24 pessoas e tal, quanto custou esse fiasco na Copa América? Lembrando que, apenas para lavanderia, foram gastos R$ 149.760,00.


Brasil ‘iguala’ Cuba em novo revés. Mais: Marquinhos, Ayón e Gutiérrez
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Giancarlo Giampietro

Ayón, um craque quase, digamos, Scolístico para o México

Ayón, um craque quase, digamos, Scolístico para o México

O Brasil sofreu sua segunda derrota em três jogos pela Copa América, nesta quarta-feira. Perdeu para o México, num ginásio pegando fogo. Vou quebrar um pouco o padrão aqui até para não ser muito repetitivo. O placar meio que já diz tudo: 66 a 58. Pela segunda vez, então, a equipe de Rubén Magnano não conseguiu passar da casa dos 60 pontos.

Isso até quer dizer que podem estar enfrentando defesas fortes, combativas num torneio em que, para o resto do continente, estão valendo duas vagas olímpicas. Natural que ofereçam resistência. Mas… Aí a gente dá uma conferida na tabela completa da competição e faz umas contas. Sabe qual a outra equipe que teve duas partidas com ataque tão anêmico no torneio até aqui?

Cuba.

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Sim, Cuba, que até apresentou alguns talentos interessantes nesta semana (depois de um loooongo inverno), mas é o único time amador em quadra. Literalmente.

Foi uma pesquisa simples de se fazer. Não pediu muito tempo para checar dados de arremesso da zona morta, da cabeça do garrafão, cesta assistidas, média de turnovers por troca de passe etc. Então não é querer me vangloriar, nem nada. Mas acho que, fora o visual, fora o que temos visto nos últimos dias, não vai ter dado mais preocupante que esse. Que, num filtro ofensivo, estejam os brasileiros ao lado dos cubanos. Não rola.

Mineiro, aqui e ali, mostra lampejos de seu talento. É um jogador muito interessante, com diversas qualidades raras para alguém de sua estatura e que podem ser mais exploradas. Mortari sabe

Mineiro, aqui e ali, mostra lampejos de seu talento. É um jogador muito interessante, com diversas qualidades raras para alguém de sua estatura e que podem ser mais exploradas. Mortari sabe

A preocupação maior aqui é que as questões sobre o sistema ofensivo brasileiro vêm de longe (*). Contra a Sérvia, ao ser eliminada nas quartas de final da Copa do Mundo, a seleção, não por acaso, também ficou abaixo dos 60 pontos, terminando em 56. Entender por que isso acontece vai muito além de frases como “a bola não roda”, “o chute não caiu”, “já estão classificados”, “não estão com força máxima”, embora todas elas possam fazer parte da explicação. Como a promessa era de não se estender muito aqui, vamos divagar a respeito desse tópico ao final do torneio. Contra os mexicanos, o Brasil fez mais um jogo amarrado, controlado. Partindo para o trabalho de meia quadra pouquíssimo sucesso: 35% nos arremessos de quadra, mais turnovers (14) do que assistências (12), falha nos tiros de fora 4-13 (o volume reduzido, pelo menos).

(*PS: atualizando, de acordo com a observação pertinente “Hugo X” — só não entendo o anonimato obrigatório dos comentários, mas tudo bem. Vamos lá: vêm de longe os problemas, pensando na Copa América de 2013, a Copa do Mundo do ano passado. O Pan? Vai ser enquadrado na categoria de exceção, se a seleção se classificar para a próxima fase e mantiver o nível de jogo que temos visto aqui. E pode ser que eu simplesmente esteja errado quanto ao nível técnico da competição, que talvez este Brasil fosse muito superior àqueles rivais? Pode muito bem ser isso. Mas também começo a pensar se esse time não está simplesmente cansado. É um elenco mais jovem do que o principal, mas também não é um plantel sub-22. Alguns desses caras vararam a temporada, por assim dizer. Eles se reuniram no dia 14 de junho. Ao final do torneio, serão três meses de seleção. Um período muito mais longo que o normal de anos anteriores. Não há nunca uma só resposta para entender uma equipe de esporte, futebol, vôlei ou bocha. Como disse: vamos voltar a esses tópicos ao final do torneio. É preciso também conversar com os jogadores e treinadores para ver qual a opinião deles, uma vez que a cobertura brasileira na Cidade do México no momento é quase nula.)

Em termos pontuais, sem trocadilho, o que é necessário registrar é que Marquinhos dessa vez teve um volume de jogo bem menor. Partimos de um extremo em que ele estava usando quase 30% das posses de bola da equipe, segundo as contas sempre valiosas do MondoBasket, para outro: o ala flamenguista, que era o segundo cestinha da competição, arriscou apenas três arremessos em 26 minutos, marcou dois pontos e deu uma assistência. Resta saber se isso também foi algo programado, ou se o jogador estava muito preocupado em não parecer um fominha. A abordagem foi totalmente diferente, talvez por reflexo direto do que se passou nas duas primeiras rodadas. O jogo vinha sendo canalizado nele, mas não por uma tentativa de ato heroico da sua parte. Era simplesmente a consequência de um sistema que não funciona e que, por isso, apela ao seu atleta mais talentoso. Um jogador que tem visão de quadra, gosta de envolver seus companheiros e, num ataque mais fluido, pode render horrores.

Vitor Benite, por outro lado, conseguiu produzir, dessa vez conseguindo atacar a cesta, escapando dos bloqueios no perímetro, para marcar 23 pontos, tendo feito mais nos lances livres (10) do que em bolas de três (9). Outro dado chamativo, que quase tira o Everaldo do sério (imagine o Magnano, então…), diz respeito aos rebotes ofensivos. A proteção brasileira inexistiu, permitindo 17 coletas na tábua de ataque para os anfitriões. Comparando: foram 23 defensivos para os caras, enquanto a seleção nacional teve apenas 28 no total.

De resto, não há como não falar sobre o talento de Gustavo Ayón. Para quem acompanha o blog desde a encarnação passada, sabe que é um dos queridinhos desse espaço, ao lado de Andrés Nocioni e Andrei Kirilenko. De todo modo, pelo fato de não ter conseguido encontrar estabilidade na NBA, talvez ainda seja um cara desconhecido pelo público geral. Para os corajosos que se aventuraram na calada da noite para ver esta pelada, o cartão de visitas foi entregue. Pensando no mundo Fiba, o pivô mexicano talvez seja aquele que mais se aproxime de Luis Scola em termos de relevância para a sua seleção. Não estou comparando habilidades, que fique claro, até por serem dois caras que se complementariam muito bem. Foram 27 pontos e 13 rebotes para o cabrón, com impressionantes 12-19 nos arremessos de quadra (63%). Reparem em como ele se desloca dentro do perímetro, criando situações de cesta mesmo quando não está com a bola dominada. Isso é também um talento, e talvez mais difícil ainda de se ensinar, por estar diretamente ligado à visão de jogo. Craque, guiando o time às conquistas da Copa América e do CentroBasket.

Por fim, um destaque também para Jorge Gutiérrez, um jogador para o qual o selo NBA faz justiça. Fosse ele armador do Capitanes, do Peñarol ou do Trotamundos, e talvez não lhe dessem muito valor internacionalmente. Até por ser mexicano, um país que não tem tanta tradição assim na exportação de talentos de ponta. Gutiérrez é um belíssimo armador, grande em muitos sentidos. Alto, bem fundamentado e com explosão que pega as defesas desprevenidas. Há tipos que correm, correm e correm e não chegam a lugar nenhum. Para o apadrinhado de Jason Kidd, funciona de outro modo: com seu ritmo maneiro, deixa para explodir rumo ao garrafão só quando percebe a brecha à sua frente. Terminou com 14 pontos, 7 rebotes e 4 assistências em 28 minutos.


Brasil vence. Foram nove minutos de ótimo basquete, antes da complacência
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Giancarlo Giampietro

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Voltando do trabalho (o outro), cheguei atrasado para o jogo, admito. No caminho, apressado depois de tantas baldeações no lamentável metrô paulistano, restava recorrer ao Twitter e às estatísticas oficiais, já que o sinal de celular não permitia o acesso regular à Fiba TV. Por um bom tempo, achei que, para ajudar, o “tempo real” estava com pau. Afinal, passavam-se as estações, e o Brasil não saía do cinco. Atualizei por conta o link, e nada. Até me dar conta de que estava tudo correndo normalmente. Era só a dificuldade (de sempre?) para se fazer cestas, mesmo. Entre uma bola de três de Marquinhos e um lance livre de Rafael Luz, correram mais de quatro minutos de partida sem nenhum pontinho. Dali até o final sairiam mais dez, diga-se.

Ao menos isso: consegui escapar do período de draga total desta terça-feira, em vitória por 71 a 65. Quando o sofá já se mostrava acolhedor o bastante, a seleção brasileira estava mais solta em quadra, se aproveitando da pouca resistência que a República Dominicana oferecia para construir vantagem no placar. Quando restavam 4min20s para o fim do primeiro tempo, vencia por 31 a 26. A 5min37s do final do terceiro quarto, a parcial já apontava 54-34. Ou seja, em nove minutos, abriu-se 15 pontos.

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E aí há os dois lados, como sempre: os dominicanos parecem desmembrados neste torneio, para alívio geral de argentinos, mexicanos, porto-riquenhos e, opa!, dos canadenses. Tiveram uma postura muito mais frouxa que a dos uruguaios na véspera. Certo. Os brasileiros, de qualquer maneira, souberam se aproveitar desses lapsos de um modo apropriado. Foi uma bela sequência, mesmo. O ataque voltou a ficar, digamos, elástico, no ritmo do Pan, com todos participando. A bola rodou muito mais, indo para o garrafão, voltando para o perímetro, cruzando de um lado para o outro. Fugiram daquele sistema básico de toca-para-o-Marquinhos-que-tudo-bem – o ala flamenguista foi o cestinha novamente, com 17 pontos. Ricardo Fischer marcou todos os seus 10 pontos, João Paulista fez a festa no garrafão (10 pontos e 9 rebotes em 24 minutos), Augusto cravou e até o jovem Leo Meindl, que andava bem travado, esteve agressivo e relativamente produtivo (5 pontos, 3 rebotes, 3 assistências em 18 minutos).

(Parêntese para a revelação francana: o ala apareceu bem, em cortes pelo lado contrário que ele faz tão bem e que deveria usar muito mais, diversificando seu arsenal. E se faz imperativo também que o reforço bauruense trabalhe sua c ondição atlética. Nem todo mundo precisa ser Kobe Bryant nessa vida, mas Leo pode muito bem perder alguns quilos e ganhar em arranque e agilidade, sem perder a força que lhe ajuda em suas ainda raras incursões no garrafão. Ele tem muito talento para ser explorado, e o tempo ainda está o seu favor. Duro é se acomodar em quadras nacionais. Não pode.)

>> E o professor Scola deu uma aula para a molecada canadense da NBA

O jogo meio que se decidiu, então, de modo precoce, e aí voltou a complacência. É meio injusto destacar isso, pois o placar não estava saindo do zero, mas vamos lá: os caribenhos venceram os últimos 15 minutos de jogo por 14 pontos, com direito a um 20-13 no quarto final. Período em que, durante um pedido de tempo, Magnano perguntou aos atletas: “Por que vocês não estão respeitando o que estou falando?”, com ar de perplexidade, depois de tantos arremessos de três pontos forçados. É, pois é. Nada como o áudio liberado no banco de reservas, um reflexo de uma condução mais light do argentino nesta temporada ajuda.

Todo treinador é responsável por sua equipe. Desde a convocação à condução dos treinos, à preparação para os jogos e ao comando na partida. Por mais supercontrolador que seja, porém, todo profissional nesse cargo tem um limite de ação — e, cá entre nós entre marmanjos não me agrada muito o estilo autoritário. Chega uma hora que o desenvolvimento da equipe vai depender da execução dos atletas. Por que os jogadores não estavam cumprindo o recomendado, então, se torna uma boa pergunta. Voltamos aqui ao relaxamento, a um descompromisso com a competição? Os maus hábitos liberados (por quem?) devido ao placar largo? Vai saber.

Por isso, nessa acompanho o Wlamir: não dá para comemorar tanto o resultado, porque não é que o Brasil tenha jogado muito bem, ou melhor: consistentemente bem. E foi contra um adversário que parece destinado à eliminação bem antes da disputa das medalhas. Nesta quarta-feira, é a vez de enfrentar o México, com jogadores  melhores, ginásio bombando e a perspectiva de um embate bem mais complicado.


Brasil faz péssima apresentação e perde para o Uruguai pela estreia
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Giancarlo Giampietro

magnano-brasil-uruguai

É, a seleção brasileira tem sempre a chance de reagir. Restam mais três partidas pela primeira fase da Copa América. Mais três oportunidades para o time apagar a péssima impressão deixada por sua estreia desta segunda-feira contra o Uruguai. Três chances também para tentar resgatar a fagulha que vimos durante o Pan. Numa derrota por 71 a 57, com uma péssima apresentação, muito pouco, ou quase nada deu certo. Foi uma derrota de certa forma acachapante.

Nos amistosos e na Copa Tuto Marchand, você dá um desconto. Pode-se bater o pé e dizer que, quando uma seleção vai para a quadra, não existe essa de teste e de observação. Mas, nas últimas temporadas de Fiba Américas, vimos que os jogos preparatórios não serviram de bom parâmetro para o que aconteceria no torneio para valer. E aí chegamos a um ponto: para os uruguaios, o torneio na Cidade do México vale muito. Para o Brasil já classificado, nem tanto. Mas, agora, com jogos oficiais, não há desculpa para apatia ou para uma apresentação como a que acabamos de ver.

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Não que tudo o que aconteça numa quadra de basquete possa se explicar por esforço, obviamente. Isso não justifica os sete lances livres a mais que os uruguaios bateram (e converteram) e até mesmo o fato raro de que tenham conseguido equilibrar a disputa de rebotes com os brasileiros (perdendo por 39 a 37). Mas ajuda a entender o fato de o Brasil ter cometido 20 desperdícios de posse de bola e acertado apenas 35% dos arremessos de quadra.

uruguai-brasil-copa-americaQuando você se depara com números calamitosos como esses, tem de ponderar o quanto o mérito está do outro lado, ou o problema está no seu próprio colo. O nível de competição é bem superior ao do Pan, individualmente, mas, no caso dessa estreia, por mais estruturado que esteja, não podemos dizer que o Uruguai sem Esteban Batista, Jayson Granger e Leandro Garcia Morales seja uma potência continental. As derrapadas vêm da combinação dos dois fatores, queda no rendimento e oposição mais dura. Fato é que o Brasil jogou de modo emperrado novamente, mantendo o padrão das últimas partidas. No ataque, os atletas até se movimentam de lá para cá em jogadas ensaiadas, mas a bola estaciona.

O retorno de Rafael Luz, que está se recuperando de uma lesão que sofreu em treinamento na Argentina, era uma esperança por maior lucidez no ataque, mas talvez seja injusto pedir muito do novo armador do Flamengo, que vai ter de recuperar o ritmo de jogo em plena competição. Contra os uruguaios, Rafael cometeu cinco turnovers e deu quatro assistências. Marquinhos, o cestinha com 21 pontos, também perdeu a posse de bola em cinco ocasiões. O ala centralizou muito o ataque brasileiro, e aí também fica a questão se isso tem mais a ver com a evidente confiança de Magnano em suas habilidades — isto é, se isso está designado –, ou se é mero produto de um time que saiu dos trilhos e acaba dependendo de iniciativas individuais lutando não só contra uma defesa adversária, mas também contra o cronômetro.

Coletivamente, a seleção se mostra incapaz de buscar cestas fáceis em transição ou próximo ao aro. Por ironia, até mesmo quando os pivôs escaparam e se colocaram em boa para finalização, acabaram falhando em conclusões individuais. O que também podemos notar é um desequilíbrio no modo como dois pivôs tão contrastantes como Augusto e João Paulo foram utilizados em determinados momentos. JP foi acionado diversas vezes em pick-and-rolls, enquanto para Lima a bola foi pingada em post-ups, de costas para a cesta — quando os dois são notoriamente mais produtivos justamente em situações inversas. Trocaram as bolas na hora de jogar com eles, o que é difícil de entender depois de tantas semanas de treino.

>> Canadá: Olynyk, Rick Fox e assistente do Raptors falam sobre a invasão

Magnano também não conseguiu encontrar uma rotação que ganhe coesão ofensiva e defensiva com Marquinhos e Giovannoni, por exemplo. Os dois mais experientes, por exemplo, estavam fechando este primeiro jogo ao lado de João Paulo na linha de frente e de Rafael, voltando de lesão, e Benite no perímetro. Ok, estava difícil fazer cestas. Beeeem difícil, que era uma tristeza. Mas esse quarteto não inspira confiança nenhuma na retaguarda, por outro lado. Não seria o caso de usar Augusto com os dois alas-pivôs abertos? Coisas desse tipo vêm acontecendo em meio às diversas trocas à procura do time ideal.

Como acontece isso? Como o time pode ter rendido tão bem no Pan e agora esteja capengando? O fator motivacional não deveria, mas influencia, embora, queiramos crer, de novo, que não diz tudo. A próxima dedução apontaria para o desequilíbrio troca por Hettsheimeir e Larry por Giovannoni e Marquinhos. São atletas  de perfil muito diferentes, tanto do ponto de vista técnico como do físico, aliás. sem contar que os dois alas-pivôs estavam vindo de férias e sendo encaixados num time que estava pronto. Não quer dizer que os dois que saíram sejam superiores aos dois que chegaram. Acontece que, entre uma habilidade perdida e outra somada, a rotação entrou em desequilíbrio, fato. Sem Larry, a tendência era de que o Brasil diminuiria os minutos com dois armadores em conjunto — daí que o corte de Danilo Siqueira machuca um pouco mais, de uma outra forma que vai além da simples oportunidade desperdiçada de se dar rodagem a um jovem talento.

Para compensar, Magnano estende os minutos de Benite, que ficou em quadra por 33 minutos. Isso implica em naus desgaste para o agora jogador do Murcia, que já está cercado de enorme responsabilidade no ataque, como a segunda opção de desafogo, logo depois de Marquinhos. Benite não cria muitas situações por conta própria e precisa da ajuda dos corta-luzes e de movimentação de bola mais inteligente e precisa para receber em movimento e agredir. Não vem acontecendo, exigindo um tromba-tromba incessante para ele. Pois, depois de sua ótima exibição em Toronto, as defesas simplesmente vão fazer de tudo para tirá-lo de uma zona de conforto. Benite está sendo contestado sem parar (3-15 nos arremessos, 0-6 nos três pontos). Mas não só ele. O perímetro em geral está supercongestionado, como prioridade de qualquer adversário brasileiro. E o time de Magnano não está conseguindo buscar outras alternativas, deixando no ar já uma série de questões que podem ser respondidas durante a semana. A ver.


Brasil ganha na raça sua vaga na Copa de basquete. Comemorem!
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Giancarlo Giampietro

Convites Fiba, Mundial, Brasil, Finlândia

Primeiro o post… Hã… Quase sério. Que jornalismo é isso.

Sobre os convites da Fiba para completar sua Copa do Mundo de basquete. Para quem não sabe, deu Brasil na cabeça! Acompanhados de Grécia, Turquia e Finlândia, estamos todos juntos nessa! A Copa é nossa e com brasileiro não há quem possa. Num só dia, derrotamos Alemanha, Canadá, Itália, Rússia e Venezuela.

Aliás, agora precisamos atualizar a contagem. Quem disse que não ganhamos de ninguém nas Américas? Depois de quatro derrotas seguidas no último torneio continental, batemos canadenses e venezuelanos neste sábado. Então a campanha de 2-4 até que não fica tão vexatória assim. Estamos progredindo, no caminho certo.

E, bem, pelo tom dos parágrafos acima, você já pode imaginar como foi despertar com essa fabulosa notícia aqui na base do conglomerado 21, nos cafundós da Vila Bugrão.

Euforia mil!

Que o Brasil tenha ganhado seu convite, com muita persistência, suor e trabalho sério, não chega a ser uma surpresa. Durante a semana, fortíssimos candidatos foram anunciando, um a um, suas desistências. Devem ter tentado negociar com os poderosos da Fiba até a última hora possível, mas terminaram por refugar.

Vejam só: esses sujeitos simplesmente se recusaram a pagar a quantia de R$ 2.660.745,80 (para quem tem dificuldade com os números como eu, aqui vai a tradução: dois milhões + seiscentos e sessenta mil + setecentos e quarenta e cinco reais + oitenta centavos) para a federação internacional. Podiam pagar a merreca de um milhão de francos suíços (o mínimo necessário, segundo o Fábio Aleixo, do Lance!, nos conta) e passaram a vez.  São todos fracos, entreguistas, de visão míope.

Pois todo mundo já está careca de saber: só se constrói uma forte modalidade participando de uma Copa do Mundo. Sem isso, não há como montar uma estrutura de base decente, como popularizar um esporte já popular etc. Esse é o alicerce de tudo, e, por sorte, temos na gestão Carlos Nunes da CBB gente visionária o bastante para dar conta disso.

O Brasil encaminha, assim, seu projeto pujante. E quero ver quem segura.

É taça na raça, Brasil!

*  *  *

Tá, agora da maneira mais direta possível:

1) a CBB está endividada, devendo até as calças no mercado.

2) a Fiba cobrou mais de R$ 2 milhões por uma vaga no Mundial.

3) a China, aquela de PIB de mais e US$ 1 trilhão, multinacionais de material esportiva voltadas quase que exclusivamente para o basquete, mais de 1,3 bilhão de habitantes, pulou fora.

4) Não a CBB. Para manter viva a sequência histórica de participações no Mundial de basquete, a combalida entidade passou o chapéu por aí e conseguiu se bancar (financeiramente, importante que se ressalte mais uma vez, e, não tecnicamente) na competição. De quebra, conta que a fraca memória nacional, daqui a décadas – ou meses, a gente nunca sabe… –, vá olhar para a lista de inscritos do Mundial 2014 e acreditar que e era nada mais lógico que o Brasil ali estivesse, uma vez que nunca havíamos perdido essa. Só o Brail e os Estados Unidos jogaram todas as edições.

5) Faça as contas… E me diga: você vai realmente co-me-mo-rar essa “classificação”? Pagamos R$ 2 milhões para nos livrarmos a cara. De quem é a conta?

6) Na real, a conta não fecha.

*  *  *

Aos pragmáticos: obviamente é importante que o Brasil jogue uma Copa do Mundo de basquete. Assim como os Jogos Olímpicos. Mas uso aqui uma expressão clássica, já surrada de tanto usada, mas que não perde o charme: “tapar o sol com a peneira”. O Brasil joga o Mundial desde sempre, e o impacto financeiro disso para a modalidade não está nada claro, para mim. É um dos itens para levar as coisas adiante? Sem dúvida. Mas já passou do tempo – se é que esse tempo um dia existiu – de que o desempenho da seleção adulta de qualquer esporte seria a principal força motriz para o progresso.

*  *  *

E, por falar em seleção, adulta, já fica a dúvida desde já sobre quem são aqueles que vão se apresentar. Para quem não se recorda, entre a relação (fictícia?) de itens que a Fiba jurouque seriam analisados para definir os quatro convidados, contava algo como “comprometimento de seus principais jogadores com o projeto”. Leia-se: a turma da NBA topa ou não topa?

Será que, no conclave do basquete, realmente se exigiu um comunicado por escrito, com cópia de RG registrada, em que os nossos principais jogadores garantiram presença no Mundial?

E o Rubén Magnano, como está se preparando? Vai nessa de que “só-com-os-que-estão-nos-EUA-temos-alguma-chance”? Está assistindo para valer o NBB para tentar fazer uma convocação mais competente, no caso de precisar ser criativo para fechar o grupo final? Existe algum tipo de ressentimento por parte de nossos jogadores depois das críticas públicas do treinador argentino?

Percebam que, além do disparate financeiro, há diversos pontos técnicos a serem resolvidos.

E se o Brasil for para o Mundial, pagando R$ 2 milhões, e passar mais um vexame? É provável, possível?

Independentemente da resposta – que vai depender muito da lista de perguntas acima –, qualquer que seja o time convocado, a pressão existe desde já.


Convites para o Mundial: quais os prós e contras dos principais candidatos?
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Giancarlo Giampietro

Times do Mundial 2014

A Fiba abriu o jogo, ou pelo menos um pouco dele, ao divulgar nesta semana quais os critérios que seus dirigentes vão considerar para escolher os últimos quatro times classificados convidados para completar a Copa do Mundo de basquete Espanha 2014. Para que não viu, aqui está no site oficial (ou traduzido aqui pelo Basketeria). É uma forma esdrúxula de se definir os times participantes de um campeonato, claro, mas são estas regras, e não há muito o que fazer.

O que conta mais? Tamanho de mercado ou resultados esportivos? Conexões políticas ou popularidade de suas ligas? É muito complicado encontrar um senso comum aqui, numa lista realmente extensa para se avaliar num esboço do que estará na mesa para as próximas reuniões de cúpula da entidade – nos dias 23 e 24 de novembro em Buenos Aires e nos dias 1º e 2 de fevereiro de 2014 em Barcelona. O encontro na capital argentina pode fazer uma primeira peneirada entre todos os candidatos, mas a escolha final ficará mesmo para o encontro na Catalunha.

Claro que tudo pode se resumir a meramente quem pagar mais. Será que o cheque com mais dígitos vai levar? Pode ser que sim, embora não digam isso abertamente. Veja o que diz a federação em seu comunicado: “As confederações nacionais que decidirem colocar suas seleções como candidatas ao convite podem fazer doações. A quantia arrecadada será usada para a promoção mundial do basquete por meio da Fundação Internacional de Basquete da Fiba (IBF, na siga em inglês)”.

Mas, aqui, neste exercício, vamos supor que essa “doação” não será o fator mais decisivo – até porque um país talvez possa não oferecer muito dinheiro, mas sua mera presença no torneio já elevaria suas economias (oi, China). Então é hora de discutir a realidade dos principais candidatos de acordo com os critérios expostos pela federação e ver quais são as chances do Brasil nessa. Imagino que não teremos nenhum convidado fora do seguinte grupo:

Rubén abatido

Será que vai, Magnano?

Brasil
Prós:
sede das Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016 – seria interessante para a Fiba fazer uma Copa do Mundo sem contar com o anfitrião olímpico? Participou em todas as edições do Mundial. Muitos jogadores de NBA. Quinto lugar nos Jogos de Londres 2012. Sede do Mundial feminino de 2006 (com muitos problemas). Engajamento do governo na fomentação da modalidade. Uma das sete maiores economias do mundo. Décimo no ranking mundial.

– Contras: péssima campanha continental, com nenhuma vitória em cinco jogos. Constantes desfalques em suas seleções, embora em Londres tenha reunido força máxima. Liga nacional se consolidando, mas ainda muito aquém de seu potencial. Ginásios vazios.

Canadá
Prós: um vasto grupo de jogadores na NBA – e, melhor, jogadores engajados no programa. Seria um modo de vender uma nova geração de estrelas em escala global. De modo que seria de bom tom colocá-los no Mundial já para dar exposição, incentivar e acelerar o progresso de um projeto bastante promissor. Fora de quadra, registre-se que esta é uma das 15 maiores economias do mundo.

Contras: resultados muito fracos desde a aposentadoria de Steve Nash (ficaram, por exemplo, na 22ª posição no último Mundial, um horror, e nem disputaram o de 2006). Mesmo historicamente seu retrospecto não chega a comover: na Copa América, para constar, conseguiram duas pratas e três bronzes – estão na 15ª posição do ranking mundial. Em termos de popularidade, o Toronto Raptors tem uma das torcidas mais fiéis e/ou raivosas da NBA. Vancouver estaria interessada em acolher um novo clube. Mas a modalidade ainda está bem distante do hóquei, claro.

China
Prós: precisa mesmo? Então vamos lá: não queira ser você o contador que vá fechar uma planilha de Excel de um torneio sem os chineses. Vai ficar tudo no vermelho, se comparada com a edição de 2010. Especialmente contando a audiência. Porque não só estamos falando de bilhões de chineses no total, mas de que, nesse mundaréu de gente, estão muitos, mas muitos, mesmo, aficionados pelo esporte, ainda que ele não tenha o prestígio de um pujante badminton. Se não bastasse, um dos patrocinadores da Copa é chinês.

Contras: olha… Difícil, hein? Só mesmo o fiasco que foi a campanha da seleção no Campeonato Asiático, no qual ficaram com uma péssima quinta posição, atrás de Taiwan. Maior humilhação que isso não tem. Mas foi apenas um acidente de percurso: de 1975 a 2007, os caras ganharam 14 de 16 competições continentais, tendo só perdido a hegemonia em tempos recentes para o Irã. Estão em 12º no ranking.

Grécia
Prós: uma potência na modalidade durante as últimas décadas. Vice-campeões mundiais em 2006. Campeões europeus em 2005. Bronze continental em 2009. Liga nacional caloteira, mas com clubes de muito prestígio, com o Olympiakos sendo o atual bicampeão da Euroliga. Uma nação doente pelo basquete – ainda que podemos dizer que eles, na verdade, são doentes por tudo e qualquer coisa. Acolheram o Pré-Olímpico mundial de 2008, o Mundial de 1998 e o Mundial Sub-19 de 2003. Quinto melhor no ranking da Fiba.

Contras: resultados recentes que ficam aquém do que vinham produzindo. Ficaram fora dos Jogos de Londres 2012, ficaram em décimo no último Mundial, sexto no EuroBasket de 2009. Neste ano, terminaram o campeonato regional apenas com a 11ª posição, ficando atrás até mesmo da Finlândia e da Bélgica (!?) e empatados com a Letônia na lista de times fora da zona de classificação para a Copa do Mundo. Jogadores gabaritados, mas de pouca expressão internacional além de Vassilis Spanoulis. Economia numa crise profunda que se arrasta há anos. Forte concorrência europeia pelos convites.

Clássico é clássico

Grécia e Turquia estão na briga por uma vaga. Mais rivalidade

Itália
Prós: tem uma liga que é historicamente uma das melhores do mundo. Os azzurrinos fizeram um excelente início de EuroBasket, mostrando enorme potencial, mas acabaram desandando da segunda fase em diante, sofrendo três dolorosas derrotas nos mata-matas. Apesar do desfecho decepcionante, apresentaram uma geração empolgante – que poderia muito bem receber uma forcinha da Fiba, para ver se engrenam de vez. Estrelas da NBA disponíveis que se juntam a jovens talentos para as ligas europeias. Uma das dez maiores economias do mundo e um mercado importante para patrocinadores da Copa do Mundo. Sediaram o EuroBasket feminino em 2007.

Contras: esse própria derrocada na reta final do EuroBasket, mas, antes disso, o significativo fiasco de suas campanhas desde a prata olímpica obtida em Atenas 2004: ficaram fora do último Mundial e das últimas duas Olimpíadas, amargando o 21º lugar na lista da Fiba. Forte concorrência europeia pelos convites.

Nigéria
Prós: poderia ser um convidado estratégico para a Fiba se houver algum interesse de intensificar a popularidade do esporte no continente africano. Muitos jogadores talentosos, alguns de NBA, que se comprometeram com a federação local nos últimos anos, premiados com uma surpreendente classificação para os Jogos de Londres 2012.

Contras: pouca rodagem em torneios de grande porte (jogaram apenas dois Mundiais, em 1998 e 2006) e uma economia pouco atrativa para investidores e patrocinadores. Instabilidade da confederação põe em dúvida a continuidade do projeto desenvolvido. Obviamente o azarão aqui, assim como seria a Tunísia, campeã continental em 2011 que também acabou eliminada neste ano.

Kiriklenko x Yi Jianlian

AK e Yi estarão na Copa do Mundo? Muito provável que sim

Rússia
– Prós: uma seleção de enorme tradição no basquete (se considerado o retrospecto soviético, ainda que os lituanos possam dizer uma coisa ou outra a respeito). Campeões europeus em 2007, bronze em 2011. Assim como levaram o terceiro lugar nas Olimpíadas de Londres 2012, mas oscilando muito. Andrei Kirilenko é uma superestrela europeia e presença obrigatória em qualquer clipe durante as transmissões de TV elaboradas pela Fiba. Uma das dez maiores economias do mundo.

– Contras: a despeito do tamanho do país, de suas pretensões no âmbito de política de esporte, sendo a sede da próxima Copa do Mundo de futebol, nunca sediaram um torneio de ponta da Fiba, nem no feminino. Extremamente dependentes de Andrei Kirilenko. Pífia campanha no EuroBasket (21º lugar).

Turquia
– Prós: alto investimento recente em competições da Fiba, sendo a sede do Mundial de 2010 e a futura sede do Mundial feminino, em 2014. Uma liga com forte poder econômico e grandes clubes. Uma companhia do país é a principal patrocinadora da Euroliga. Grande popularidade local, com clubes gigantes. Atual vice-campeão mundial (em casa, diga-se) e sexto colocado no ranking mundial. Jogadores com selo de NBA. Uma das 20 maiores economias do mundo. Posição  geográfica estratégica com território dividido entre Europa e Ásia. Estão em sexto no ranking mundial.

Contras: um tenebroso 17º lugar no EuroBasket, com um time desconjuntado – algo recorrente nas últimas campanhas, com uma disputa de egos notória, problemas que resultam em campanhas igualmente fracas nas últimas edições, não passando do oitavo lugar desde o vice-campeonato continental de 2001. Força da modalidade no país independe dessas participações nos grandes eventos.

Venezuela
Prós: ambição já elogiada pela Fiba para receber torneios da entidade, como a Copa América deste ano e o Pré-Olímpico mundial do ano passado. Liga nacional é uma das mais fortes do continente.

Contras: poucas estrelas, ou nenhuma estrela além de Greivis Vasquez. Só participou de uma edição das Olimpíadas (1992) e de três Mundiais (1990, 2002 e 2006), sem nunca ter ficado entre os dez primeiros colocados nestes torneios. Só tem duas medalhas em Copas Américas (prata em 1992 e bronze em 2005). Falhou em obter a vaga mesmo jogando em casa. Tem o pior ranking desta lista, em 28º.


Jogadores americanos descendentes causam impacto e ajudam a explicar surpresas no continente
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Giancarlo Giampietro

Holland x Feldeine

John Holland e James Feldeine: duas novidades norte-americanas no Caribe

Os Estados Unidos nem jogaram a Copa América de basquete neste ano, mas o talento de seus jogadores ainda deu o jeito de fazer a diferença. Do campeão México à surpreendente Jamaica, passando até mesmo pelo Brasil com Larry Taylor, muitas das seleções que disputaram o torneio continental contaram com uma ajudinha da mão-de-obra dos atuais bicampeões olímpicos. O grau de sucesso variou de time para time, mas a presença deles foi impactante de um modo geral, para atestar, ainda que por vias tortas, a influência do país no esporte.

Aí você pode pensar: “Dãr. Quanta novidade, hein?”

Bem, acreditem. Antes de Jerry Colangelo, Coach K, LeBron & Cia. conseguirem restaurar um certo grau de normalidade para as competições masculinas da Fiba, essa aura, essa influência estava sendo esculhambada em praça pública. Voltemos.

Muito se falou sobre o Pan de 1987 nestes últimos dias de Oscar Schmidt no Hall da Fama, então esta vocês já sabem responder direitinho no vestibular: que, no basquete masculino, o Brasil foi o primeiro time a vencer os Estados Unidos na casa dos caras, em Indianápolis. Que os norte-americanos perderam para a União Soviética nas Olimpíadas de 1988 também vem por esteira, e que esses acontecimentos somados a uma boa dose de interesses econômicos dos dois lados, Fiba e NBA, levaram ao ingresso do Dream Team em Barcelona 1992, e o resto foi história.

Uma história que, se for pensar bem, não durou taaaaaaaaaanto assim, não. Em Sydney 2000, lá estavam os EUA penando contra a Lituânia na semifinal, a um chute de três pontos de Sarunas Jasikevicius de ver o império ruir.

Não tardou muito, mesmo: no Mundial de 2002, de novo no solo sagrado amaldiçoado de Indianápolis, veio o maior vexame da história (para eles): derrotas para Argentina na segunda fase, Iugoslávia nas quartas e, como se não bastasse, Espanha na disputa pelo sexto lugar. Os jogadores utilizados nesta? Andre Miller, Baron Davis, Jay Williams, Reggie Miller, Michael Finley, Paul Pierce, Shawn Marion, Raef LaFrentz, Elton Brand, Jermaine O’Neal, Antonio Davis e Ben Wallace. Um timaço em qualquer circunstância. Todos All-Stars ou futuros All-Stars, ultramilionários, estrelas de seus times, alguns que seriam campeões mais adiante. Mas nem todos eram maduros o suficiente para a empreitada e, além disso, não eram necessariamente os maiorais da liga na época (nada de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal, por exemplo).

Conclusão da época? Nós, ianques, não podemos mais nos dar ao luxo de não levar o que temos de melhor.

Dois anos depois, Atenas 2004, Jogos em que a seleção norte-americana sofreu mais uma humilhação daquelas com a derrota para Porto Rico na primeira fase e a assinatura da caderneta de freguesia para a Argentina, nas semifinais. Ao menos bateram os lituanos novamente e ganharam o bronze. Quem estava lá? Allen Iverson, Stephon Marbury, Dwyane Wade, LeBron James, Carmelo Anthony, Richard Jefferson, Shawn Marion, Lamar Odom, Amar’e Stoudemire, Carlos Boozer, Emeka Okafor e Tim Duncan. Reparem: grandessíssimos nomes, mas uma combinação de talentos que não faz o menor sentido, com nenhum chutador de primeira linha – e lembrem-se que Wade, Melo e LeBron eram apenas novatos na liga e saíram da capital grega odiando Larry Brown. Além do mais, com Iverson e Marbury, era como se eles tivessem a versão deluxe de Arroyo e Ayuso, sobrando tiros pra tudo que é lado.

Conclusão? No, we can’t. Não dava para jogar sem ter os melhores em quadra – e sem passar o mínimo possível de espírito de equipe.

Aí que o resto se fez de história também, com a reformulação completa da confederação. Antes disso, os fiascos seguidos botaram em dúvida o tipo de basquete praticado por lá. E até mesmo a qualidade do “jogador americano X” foi questionada. O orgulho todo foi embrulhado num jornal velho e atirado na lata de lixo. Compreensível a reação e exagerada da mesma forma.

Ainda numa digressão, temos o caso de uma campanha na qual eles não levaram o ouro, mas em que o talento abundante no país ficou em evidência. Antes da “derrocada” em Indianápolis, vale quebrar a linearidade e voltar quatro anos no tempo para edição 1998 do Mundial, também em Atenas. Abalada pela instauração do primeiro lo(u)caute na NBA, USA Basketball teve de se virar com um catadão de universitários, jogadores que na época estariam na D-League, caso ela existisse, ou de alguns veteranos em atividade na Europa. Destaque para o pivô Brad Miller, que remaria bastante e viraria um dos melhores de sua posição na grande liga, e o ala Trajan Langdon, um ídolo para os torcedores do CSKA Moscou. Treinados por Rudy Tomjanovich, com a assistência de Del Harris, esses atletas foram valentes o suficiente para conquistar o bronze, somando 7 vitórias (incluindo um placar de 83 a 59 contra o Brasil…) e 2 derrotas (Lituânia e, na semi, contra a Rússia, por um total de quatro pontos) – leia aqui o relato comovido da federação deles.

Jimmy King, um dos quase-anônimos do bronze

O ala Jimmy King, companheiro de Webber, Rose e Howard no histórico time dos “Fab Five” da univesidade de Michigan, foi um dos que conquistou o bronze no Mundial da Grécia em 1998

Nesse campeonato, os Estados Unidos foram obrigados a se alimentar com a rebarba, jogadores que não teriam a menor chance de entrar num elenco final de 12 atletas caso estivessem todos os de ponta disponíveis, mas ainda assim deram um jeito de brigar por um lugar ao pódio, lutando contra cachorros grandes. Com o tanto de jogadores que o país produz, algo semelhante apenas ao que o Brasil faz no futebol, não é impossível formar uma equipe competitiva.

Ao mesmo tempo, sem muita margem de erro, podem ficar em quarto num torneio continental como na Copa América de 2005, atrás de Brasil, Argentina e Venezuela, algo impensável para sua grife, ou, só com jogadores da D-League, ficar com um bronze no Pan de Guadalajara 2011, com um elenco que contou com três atletas hoje inscritos na NBA (Greg Stiemsma, Donald Sloan e Lance Thomas).

Tudo depende de preparação, seriedade, química e – por que não? – um pouco de sorte. De qualquer forma, passando por essas diferentes equipes citadas, algo fica muito claro: não é qualquer grupo que vai sair triunfante de uma competição oficial, independentemente de quem estiver jogando. Isso Paul Pierce e Tim Duncan poderão confirmar. Mas também não dá para negar o talento disponível.

E é a partir dessa fonte inesgotável de talento que o cenário da Copa América, hoje, se vê drasticamente alterado. Foram diversos os jogadores nascidos nos Estados Unidos inscritos no torneio disputado em Caracas, espalhados por vários elencos, como o ala Donta Smith, que se naturalizou venezuelano a menos de dez dias do torneio. Mas nem todos são descaradamente mercenários como o jogador ex-Atlanta Hawks: muitos entregam já em seus sobrenomes a ascendência latino-americana. A diferença é que, depois de passarem pelo High School, se formarem, ou não, nas universidades de lá, se beneficiando de toda a estrutura de seu país, na hora de jogar por uma seleção, eles simplesmente não teriam espaço se não na de seus familiares – como Scott Machado.

No México, temos, por exemplo, o pivô Lorenzo Mata, nascido na Califórnia, formado na UCLA. Combativo, disposto a trombar e fazer o serviço sujo, também um bom passador, inteligente, ele se apresentou como um sólido companheiro de garrafão para o astro Gustavo Ayón no México. Os inéditos campeões continentais também contaram com mais dois californianos em sua rotação, com papel importante: Jovan Harris, cestinha na final contra Porto Rico, com 23 pontos, e Orlando Méndez, além do baixinho catimbeiro que é o tal do Paul Stoll, esse natural do estado de Michigan.

O marrentinho Stoll

Paul Stoll, o tampinha e marrento armador reserva do México, direto de Michigan

Mais uma equipe a ser surpreendida pelos mexicanos, Porto Rico não teria muito do que reclamar, não, já que Renaldo Balkman, um dos melhores do torneio, veio de Nova York. Assim como John Holland, encontrou um ótimo ala para complementar seus armadores talentosos. Ele é um nova-iorquino de 24 anos, muito atlético, aguerrido na defesa, que vem evoluindo consideravelmente nas últimas duas temporadas. Neste campeonato, eles ganharam a companhia de outro conterrâneo, Ramon Clemente, ala-pivô estreante, da mesma forma que o ala Ricky Chaney, de Los Angeles. (E tenham em mente que Carmelo Anthony também seria uma possibilidade não fosse tão badalado e cobiçado desde a adolescência, de modo que a USA Basketball não o deixaria escapar de modo algum.)

O mesmo aconteceu na República Dominicana, com outro jogador de ponta: o ala-armador James Feldeine, de Nova York e uma ótima opção para pontuação a partir do perímetro, com suas infiltrações que desafogam a pressão pra cima dos, aí, sim, dominicanos naturais como Francisco Garcia e Jack Martínez. Outros nova-iorquinos: Edgar Sosa, Ricardo Greer e até mesmo o Ronald Ramon, de Limeira. Já o promissor Karl Towns Jr., de 17 aninhos, é de Nova Jersey.

E a Jamaica? Bem, Samardo Samuels nasceu realmente na ilha, vindo de Trelawny. De resto, temos cinco americanos e até um canadense, o jovem armador Dylan Howell, que saiu de Toronto. (Outro “gringo” que pode reforçar a seleção é o gigante Roy Hibbert, do Indiana Pacers, que já defendeu a equipe num torneio regional, mas se arrependeu e nutria esperanças de que pudesse ser liberado para defender os Estados Unidos de volta – sendo que já havia jogado pelo Team USA no Pan do Rio de Janeiro… –, até que seu pedido estapafúrdio foi recusado pela Fiba. Tá vendo? Acha que a federação vai dizer “sim” pra tudo?!)

Mas deu para sacar, né?

Os jogadores “importados” não chegam a ser Os Craques de suas seleções, mas se tornaram peças complementares importantes para a formação de sólidas e competitivas bases. Se fosse para subtrair todos esses caras, provavelmente nenhum dos três países teria beliscado a vaga – ou, no mínimo, teriam sofrido muito mais para assegurar a vaga. O “se” não entra em quadra, no entanto.

A única condição que se espera é que esses reforços tenham realmente alguma relação direta com os países que adotaram, algo que vá além de uma eventual valorização econômica pela vitrine que é disputar um torneio internacional de seleções.

Bem diferente do que vem acontecendo na Europa… Mas esta história fica para amanhã.