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Derrocada do Clippers começou muito antes da virada do Rockets
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Giancarlo Giampietro

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

O Houston Rockets foi o primeiro time desde 2006 a sair vencedor de uma série depois de ficar em desvantagem por 3 a 1, tomando duas surras em Los Angeles e perdendo o primeiro jogo sem um tal de Chris Paul em quadra. O que a gente tira desse resultado?

Que foi um colapso homérico do Clippers, claro.

Mas como entender uma façanha, para os texanos, ou um vexame desses, para os californianos? Resumir a um termo até meio chulo como “amarelão” não cola. Afinal, dá para questionar a seriedade, a determinação ou força mental de um time que venceu agora há pouco o Spurs em San Antonio. Duas vezes. Por mais que tenham relaxado demais no Jogo 6, com a vitória praticamente garantida, fato é que perderam três partidas consecutivas para um rival aparentemente dominado, tendo imposto um saldo de 68 pontos nas primeiras quatro partidas.

O técnico David Thorpe, analista da ESPN e mentor de uma extensa lista de atletas da liga, entre eles o ala Corey Brewer e Kevin Martin (um atual jogador do Houston e outro ex-integrante), mandou a seguinte mensagem no Twitter após a virada improvável: “Pessoal, se vocês algum dia questionaram o quanto os executivos causam impacto em grandes times, agora já sabem. O Rockets venceu esta série na sala da diretoria”. Parece a melhor resposta, mesmo.

Banco? Qual banco?

Banco? Qual banco?

Não vamos perder tempo aqui discutindo quem é melhor em quadra: Harden, Howard, Paul, Griffin, Jordan… São todos talentos de ponta. Ambos os times fizeram campanhas excepcionais, empatados com 56 vitórias e 26 derrotas. Tudo podia acontecer na série. Em termos de técnico, o Clippers tinha uma presumida a vantagem, contando com Doc Rivers, um dos poucos campeões da liga ainda em atividade. Um excelente treinador, que comandou o ataque mais eficiente da temporada. Mas que foi sabotado pelas decisões do presidente o clube. No caso, ele próprio.

O Clippers tem a segunda folha salarial mais cara da liga e um dos quintetos iniciais mais fortes da liga, se não o mais forte. Concorre lá em cima com o time titular de Spurs, Warriors e Cavs em termos de rendimento. Mas essa galera não teve quase nenhuma ajuda durante uma maratona de temporada, que culminou com as duas séries mais desgastantes destes playoffs. O que fica mais claro, mesmo, é a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura dos texanos, mais inquietos, ativos na liga, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra.

estatisticas-banco-clippers-doc-rivers-2015No total, durante 14 jogos da fase decisiva, ou 3.360 minutos disponíveis, os reservas do Clippers receberam apenas 926 (27,5%). E aqui estamos contando toda a carga de Austin Rivers, o jovem ala-armador que começou duas partidas como titular no lugar de um Chris Paul lesionado. Confira nas tabelas ao lado a diferença de produção dos reservas entre os quatro semifinalistas do Oeste. A segunda unidade do Clippers não lidera nenhuma categoria, mesmo com os minutos a mais abertos pela lesão muscular de seu principal armador. Se nos números totais, o time aparece com destaque, isso se deve apenas pelo fato de terem feito duas séries de sete jogos. Em médias absolutas de quatro estatísticas básicas, os substitutos não aparecem não lideram nenhuma coluna. (Os asteriscos aqui: Memphis também perdeu Mike Conley Jr. por três partidas, dando mais minutos a Beno Udrih e, principalmente, Nick Calathes, enquanto, no Rockets, estou contando Terrence Jones como o reserva, por ter encerrado o duelo passado desta maneira).

Tá certo: o Clippers, mesmo com esse plantel limitado, ficou muito perto de eliminar o Houston. Tinha uma vantagem de 19 pontos no terceiro quarto do Jogo 6, em casa. Depois de ter batido o San Antonio Spurs, os atuais campeões, a equipe que é exemplo quando o assunto é explorar todas as peças disponíveis. Justamente, não? Isso só reforça o problema. A série contra os compadres de Tim Duncan já foi muito exigente. Mas era apenas a primeira etapa.

O que levou o mesmo David Thorpe a trocar mensagens de texto com Corey Brewer durante o sétimo jogo no Staples Center, cujo conteúdo agora foi revelado. “Nós dois pensávamos que acabaria o gás do Clippers. O importante era não deixar que abrissem 3 a 0”, escreveu. Quer dizer: está aqui um técnico muito bem conectado, que já trabalhou com dezenas de atletas profissionais de alto nível e recebeu/recusou diversas propostas da liga, falando com um de seus pupilos, e os dois meio que admitindo que, tivesse a equipe californiana um banco melhor, muito provavelmente o Rockets não teria a mínima chance de evitar uma varrida. Mas não era o caso, e o Rockets conseguiu um triunfo apertado no Jogo 2 por 115 a 109 para estender um pouco mais o confronto. Deu no que deu. Na verdade, não foi um colapso, não foi súbito – e, sim, um desmoronamento gradativo.

Uma sucessão de erros
E aí vale dissecar a formação de ambos os elencos. É aqui que se escancara a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura de Houston – tido nos bastidores da liga como “um clube grande” –, com lideranças irrequietas, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra. Algo difícil de entender considerando que a parte mais difícil já havia sido feita: quando Doc herdou o Clippers de Neil Olshey, já tinha um timaço, com as estrelas garantidas, com Paul, Griffin e Jordan sob contrato.

Dos atuais titulares, o único que chegou sob a chancela do novo manda-chuva foi JJ Redick. Um belo reforço, mas cujos desdobramentos já foram um tanto suspeitos. Para ter o ala, foi orquestrada uma troca tripla com Bucks e Suns, que custou ao clube um prodígio como Eric Bledsoe e mais uma escolha de segunda rodada do Draft. Bledsoe já não aguentava mais ser reserva de CP3 e estava prestes a virar agente livre. Precisava sair, mesmo. Mas ainda era uma excelente moeda de troca. Então não é que Redick tenha vindo de graça, numa barganha. Além disso, nessa mesma transação, o clube recebeu Jared Dudley. O ala fez uma péssima campanha inaugural em Los Angeles, é verdade, mas foi dispensado rapidamente por questão de economia, para escapar de multas pesadas em cima da folha salarial. Daí que, neste campeonato, foi um dos líderes do surpreendente Milwaukee Bucks. Para se desfazer dele, Doc pagou mais uma escolha de Draft, dessa vez de primeira rodada. Um desastre, fruto de impaciência e de um conflito de interesses quando você é o técnico e o dirigente. O treinador quer peças para agora. O dirigente precisa cuidar do que vem pela frente.

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É aí que entram as escolhas de Draft. Mercadorias importantíssimas na NBA de hoje devido ao baixo salário que os calouros recebem. É a grande chance de se contratar jogadores bons, para compor a rotação, pagando pouco. Ainda mais no caso de um Clippers que já paga US$ 48 milhões para seus três principais atletas – e espera pagar ainda mais, na hora de renovar com Jordan. Acontece que não só o técnico-presidente saiu gastando picks por aí, como também não soube aproveitar as que tinha. Em 2013, optou pelo ala Reggie Bullock – um cara vindo de North Carolina, com fama de bom chutador e defensor, o tipo de operário que se encaixaria perfeitamente no atual sistema. Depois de 658 minutos em uma temporada e meia, aos 23 anos, Bullock foi repassado para o Phoenix Suns na transação por Austin Rivers. Neste ano, foi a vez do ala CJ Wilcox, de Washington. Um senior, supostamente pronto para contribuir. Pois o cara terminou a temporada regular com 24 anos (é cinco anos mais velho que Bruno Caboclo, para se ter uma ideia) e apenas 101 minutos de tempo de quadra, em 21 jogos. Inexplicável – a não ser que a diretoria já esteja pronta para considerá-lo um fracasso, o que pegaria muito mal.

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que...

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que…

Por estar acima do teto salarial, restava a Rivers outras duas alternativas além do Draft para reforçar seu time: as exceções (midlevel e biannual) que cada franquia recebe para efetuar contratações, desde que tenha flexibilidade econômica para tal – que não tenham extrapolado qualquer limite do bom senso de acordo com as regras da liga, basicamente. Os alvos foram Spencer Hawes e Jordan Farmar. Bons nomes. Hawes foi cobiçado por muita gente no mercado, enquanto Famar tinha experiência de playoff e vinha de excelente jornada pelo vizinho Lakers. Acontece que, aí, quem falhou foi o treinador. Em nenhum momento a dupla de agentes livres se sentiu confortável, com dificuldade para mesclar suas habilidades com as do núcleo já pré-estabelecido. Com o quinto maior salário do elenco (mais de US$ 5 milhões), Hawes participou de apenas oito das 14 partidas nos mata-matas e recebeu 57 minutos. Só entrava em caso de extrema emergência, ou com o placar resolvido. Uma bomba. Farmar? Foi dispensado no meio do campeonato após desavenças com o comandante. O que não vai impedi-lo de embolsar boa parte dos US$ 4,2 milhões de seu contrato, mesmo que já esteja em ação na Turquia.

Sem muito mais dinheiro ou alternativas para investir e sem confiar nos atletas mais jovens, restou a Rivers apelar a veteranos para compor seu elenco de apoio. Caras de salário mínimo, que estivessem sobrando no mercado. Acontece que, neste campeonato especificamente, não pintou nenhum PJ Brown ou Sam Cassell no mercado. Vieram nessa, então, Glen Davis, Hedo Turkoglu, Epke Udoh, Chris Douglas-Roberts, Nate Robinson, Lester Hudson, Jordan Hamilton e Danthay Jones. Só Big Bagy e o truco (pasme! já é um ex-jogador em atividade) foram aproveitados na rotação – o que é surreal da par. CDR saiu junto de Bullock. Robinson estava contundido e deu lugar a Hudson. Jones carregou o Gatorade, enquanto Hamilton, que vinha bem na D-League, teve o azar de sofrer uma lesão. Em suma: nada deu certo.

Do outro lado, o Rockets
Vocês sabiam que o finalista do este custa US$ 13 milhões a menos que o time que acabou de eliminar, mesmo contando com dois superastros e com um elenco capaz de suprir as lesões de seu armador titular e de um pivô lituano em franca evolução? Pois então. Para montar este grande time, o gerente geral Daryl Morey precisou mover mundos e fundos. Não foi uma herança.

Padrinho da comunidade nerd da NBA, Morey manipulou sua folha salarial com visão de longo prazo, sabendo também dosar agressividade e paciência, números e scout. Ao mesmo tempo. Cansado de ver um time medíocre morrer na praia, seja numa primeira rodada de playoff, ou mesmo já na temporada regular devido a uma forte concorrência no Oeste, o dirigente se envolveu em uma série de negociações disposto a acumular jogadores de potencial e relativamente baratos, além de ter acertado a mão na maioria de suas escolhas de Draft. O elenco seguia competitivo – para não desagradar ao departamento financeiro e torcedores –, ao mesmo tempo que se posicionava para uma eventual troca de impacto. Foi quando Sam Presti topou uma oferta hoje risível por James Harden (Kevin Martin, Steven Adams, Jeremy Lamb e Mitch McGary, mais os direitos sobre o ala Alejandro Abrines, do Barcelona).

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Com o Sr. Barba no elenco, ficou mais fácil de convencer Dwight Howard a virar as costas para o Lakers no mercado de agentes livres. Não dá para subestimar um movimento desses – qual foi o último craque a largar Hollywood desta maneira? Kobe pode ter dado uma boa força ao empurrar o pivô para fora de sua franquia, mas o fato é que o clube texano estava muito bem posicionado, técnica e financeiramente, para fechar o negócio.

E o que mais? Trevor Ariza veio praticamente pela metade do preço de Chandler Parsons, num negócio da China, de deixar Yao Ming todo pimpão. O ala campeão pelo Lakers em 2009 não só marca muito mais, como tem um estilo de jogo que casa melhor com Harden e Howard, dois jogadores que controlam a bola no ataque. Jason Terry e Pablo Prigioni chegaram em trocas periféricas, pouco discutidas, mas que hoje se mostram importantíssimas depois da lesão de Patrick Beverley (que veio, lembrem-se, do basquete russo, para vaga que um dia pertenceu a Scott Machado). Corey Brewer custou uns rocados, Troy Daniels e duas escolhas de segunda rodada de Draft, com restrições. Terrence Jones foi draftado, assim como o caçula Clint Capela, de apenas 20 anos e jogando minutos importantes contra o Mavs na primeira rodada. O suíço, o ala-armador Nick Johnson e o ala KJ McDaniels podem render para o futuro, ou serem envolvidos em futuras trocas. De negócios por ora mal-sucedidos, temos Kostas Papanikolau, ala da seleção grega e titular do Barça que não rendeu o esperado, e Joey Dorsey, alguém até decente para ter como o quinto na rotação de grandalhões – mas cujo contrato custou ao time o novato Tarik Black, outro achado no mercado do departamento de scouts. Ah, claro, e o Josh Smith: de graça e compadre de Dwight Howard. Valeu, Stan.

Não quer dizer que Houston também não erre feio. Pagou US$ 9,2 milhões em salários de jogadores que nem foram utilizados durante a temporada: Luis Scola (ainda!), Francisco Garcia, Jeff Adrien e Francisco Garcia. A maior bolada pertence a Scola, superior a US$ 6 milhões, no último ano de um contrato anistiado por Morey em 2012. Agora, se o dono Les Alexander libera sua diretoria para assinar cheques sem pestanejar, esse prejuízo deve ser relativizado. Além disso, o simples fato de o cartola ter se desfeito dessa para montar um elenco que julgava melhor já dispensa o uso de um eletroencefalograma. Se há algo que não se pode reclamar em relação ao gerente geral, é de esmorecimento ou passividade. Morey ouviu um não de Chris Bosh, contratou e trocou Jeremy Lin. Cedeu Kyle Lowry ao Toronto. Não fechou com Goran Dragic quando o preço era mais baixo. Mas fechou tantos, mas tantos negócios bons que chegou uma hora em que o zum-zum-zum nos corredores da liga era o de que seus pares se sentiam intimidados na hora de negociar com ele. Temiam tomar uma rasteira, sem nem perceber o que estava acontecendo.

Em Los Angeles, Doc já não tem nem muito o que discutir com a concorrência.  A não ser que esteja disposto a falar sobre Chris Paul e Blake Griffin. Ou isso, ou está de mãos atadas, num momento em que o que deveria predominar seria a tensão, suplantando a decepção por essa derrota histórica. DeAndre Jordan vai para o mercado de agentes livres em alta, despertando o interesse de muitos clubes. Se perder o pivô, vai fazer o quê? Sua folha salarial já está estourada. Aí teria de resgatar Spencer Hawes. Um jogador com o qual falharam ambos: técnico e dirigente.


Washington Wizards: mudança de hábito
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015 (acabou!)

Nenê e os dois garotos: alto astral na capital

Nenê e os dois garotos: depois de muito tempo, alto astral na capital

Foram cinco anos inacreditáveis. Desde o episódio das armas de Gilbert Arenas, em meio a sua rixa com Javaris Crittenton, até as trapalhadas de JaVale McGee, os incessantes arremessos forçados de Nick Young e Jordan Crawford, a postura pouco elogiosa de Andray Blatche, as negociações fracassadas… Afe. A folha corrida seria interminável se fosse para esmiuçar cada um dos tópicos aqui citados.

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O gerente geral Ernie Grunfeld, porém, pode respirar aliviado. Ao que parece, toda a turbulência vivida entre 2008 e 2013, ficou realmente distante no retrovisor. O cartola ao menos conseguiu limpar a bagunça que ele mesmo fez, se desfazendo de uma tranqueira depois da outra, antes que John Wall fosse contaminado.

Muitos podem pensar que o Wizards hoje é um time jovem, em ascensão. A segunda parte se sustenta: depois de cinco anos fora dos playoffs, eles voltaram na campanha passada e ainda venceram o Chicago Bulls numa série. Mas a pecha de um elenco jovial a gente pode esquecer. Está certo que Wall e Bradley Beal são os grandes chamarizes, com 24 e 21 anos cada. Otto Porter Jr. também tem 21. No restante da rotação do técnico Randy Wittman, porém, são seis atletas acima dos 30 anos, com destaque para os 37 de Paul Pierce e os 38 de Andre Miller.

O impagável Gilbert Arenas ainda tirou sarro após levar armas ao vestiário

O impagável Gilbert Arenas ainda tirou sarro após levar armas ao vestiário

O plano de Grunfeld está claro: rodear suas jovens estrelas com veteranos profissionais, para reforçar uma cultura séria no vestiário e jogar para vencer agora, para já. Talvez o mais prudente fosse dosar mais as coisas e detectar mais algumas promessas para desenvolver um sólido núcleo ao redor de sua dupla do perímetro. Todavia, levando em conta o circo que foi a franquia no início da década, o caminho adotado fica mais compreensível.

Nessa mudança de hábitos, o pivô Nenê foi essencial. Não só pelo fato de o clube ter se livrado de McGee e Young no mesmo negócio, mas também devido principalmente à influência do brasileiro dentro e fora de quadra. Ele não esquivou de dar tremendas broncas em Wall e Beal, quando julgou que os dois estavam sendo excessivamente individualistas, sem se importar com o sucesso do time.

O pivô acabou se tornando um aliado importante para Wittman, que também merece crédito depois de fracassar em Cleveland e Minnesota. Promovido a treinador após a demissão de seu camarada Flip Saunders, ele fez a defesa da equipe evoluir consideravelmente, se estabelecendo entre as dez melhores da liga desde a temporada passada. “Esse foi o primeiro passo. Nesta liga, você tem de vencer pela defesa e precisa ter disciplina, e acho que Randy, desde o primeiro dia, começou a pregar isso. Ele tratou todos da mesma forma, mas cobrava bastante. Ele fez um ótimo trabalho ao convencer os jogadores”, afirma Grunfeld.

Wittman orienta, e Gortat intimida na defesa. De moicano e tudo

Wittman orienta, e Gortat intimida na defesa. De moicano e tudo

Numa Conferência Leste ainda desolada, Cleveland Cavaliers e Chicago Bulls apresentaram as contratações de impacto, as estrelas para serem apontados automaticamente como favoritos. Mas o clube de Washington também tem talento, experiência e confiança para ir longe. Depois de tanta palhaçada na capital norte-americana, esse time agora é sério.

O time: Trevor Ariza foi embora, Nenê voltou a ser afastado por conta de sua insistente fascite plantar, e, ainda assim, o Wizards segue com uma retaguarda imponente: é a quinta defesa mais eficiente no início de temporada, atrás de Warriors, Rockets, Spurs e Grizzlies. Nada mal. John Wall coloca muita pressão nos armadores adversários e, por trás dele, está um garrafão muito forte, físico para fechar os espaços. Gortat ajuda muito nesse sentido, assim como a coleção de pivôs que Grunfeld acumulou. Drew Gooden, Kevin Seraphin, Kris Humphries, DeJuan Blair… São diversos brutamontes para se revezar e castigar os adversários.

No ataque, a ideia é acelerar sempre que possível, explorando o arranque de Wall, um dos jogadores mais velozes do mundo. Em situações de meia quadra, contra uma defesa já estabelecida, o time tende a encontrar mais dificuldades, mas a perspectiva é de melhora para quando Beal entrar em forma e sitnonia e quando Nenê retornar. Pierce oferece mais caminhos a serem explorados com seu jogo de mano-a-mano, visão de quadra e chute de longa distância. O conjunto de pivôs também se complementa bem.

A pedida: vocês vão dar licença, mas o Wizards tem o direito, sim, de pensar até mesmo nas finais da NBA.

Porter Jr., produtivo após ano perdido

Porter Jr., produtivo após ano perdido

Olho nele: Otto Porter. No imprevisível Draft de 2013, o segredo mais mal guardado era de que, se pudesse, Washington selecionaria o ala de Georgetown na terceira posição. Não deu outra. O gerente geral Grunfeld via no espichado atleta um complemento ideal para Wall e Beal. Imagine, então, a apreensão do cartola ao observar uma primeira temporada desastrosa do garoto. Porter Jr. foi um fiasco sob qualquer perspectiva, desde a liga de verão, em que se mostrou perdido em quadra. Para piorar, sofreu uma lesão no quadril que o afastou da pré-temporada. Quando se recuperou, Trevor Ariza e Martell Webster ocupavam todos os minutos nas alas, e o time estava ajeitado, de modo que um calouro sem ritmo de jogo não teria espaço. Foi preciso paciência de ambas as partes, jogador e técnico, mas a espera valeu a pena. O jovem atleta de 21 anos ainda está no banco, mas agora tem um papel bem definido na rotação de Wittman e, em 15 jogos, já recebeu mais minutos do que no campeonato passado inteiro. De braços bastante longos e ágil, tem se esforçado para ajudar sua equipe nas pequenas coisas, contribuindo para uma defesa já forte. No ataque, muito mais confiante, elevou seu aproveitamento nos arremessos, com destaque para os 38,9% de três pontos.

Abre o jogo: “Só quero aproveitar o momento, sem me preocupar com o futuro, embora isso seja difícil. Vou para casa, e todo mundo fica me perguntando. Cara, é maluco. Até criancinhas de 4 anos perguntando se eu vou para o Wizards. E eu pergunto como diabos eles sabem dessas coisas. Com 4 anos de idade, eu nem sabia o que eram jogadores de basquete. Como eles sabem agora até sobre o mercado de agentes livres?”, Kevin Durant, ao USA Today, sobre a relativa pressão que sofre nos arredores de Washington, durante as férias, com muita gente esperando por sua assinatura em 2016, quando expira seu contrato com OKC.

Cassell levou Pierce para jogar com Beal. E aí se mandou para L.A.

Cassell levou Pierce para jogar com Beal. E aí se mandou para L.A.

Você não perguntou, mas… Pierce nem cogitava assinar com o Washington como agente livre, até que recebeu uma ligação de seu ex-companheiro de Boston, Sam Cassell. O clube estava preparado para perder Trevor Ariza e escolheu o veterano astro como uma opção. Será que rolaria? Bem, o ex-armador teve de ser persistente. Ambos estavam em Las Vegas e marcaram um almoço. No mesmo dia, também jantaram. Foi aí que o ala começou a assimilar a ideia. Gostou do plano e fechou contrato. A ironia é que, dias depois, Cassell deixou o Wizards e foi para o Clippers, trabalhar com Doc Rivers. Justamente o time para o qual Pierce acreditava que iria, caso não renovasse com o Nets.

2503-690978FrUm card do passado: Chris Webber. Infelizmente, aqui cabe um lembrete desagradável. Das últimas duas vezes que o time da capital conseguiu montar uma base forte e promissora, o sucesso durou pouco. No final dos anos 90, com a reunião de dois dos Fab 5, C-Webb e Juwan Howard, a equipe sonhava alto. Em 1996-97, chegaram a enfrentar o mítico Bulls nos playoffs e, claro, foram eliminados. A expectativa, porém, era de que voltassem ao mata-mata, e mais fortes. Não rolou: na temporada seguinte, até venceram mais do que perderam (42-40), e não foi o suficiente. As frustrações foram se acumulando, e a franquia fez uma das piores trocas possíveis: mandou Webber para Sacramento e recebeu Mitch Richmond e Otis Thorpe, dois veteranos que já estavam capengando. Na década passada, o núcleo formado por Arenas, Jamison e Butler durou mais tempo, deu trabalho para o Cavs do jovem LeBron, mas acabou se dissipando. A ver o que acontece com a formação de Wall e Beal.


Houston Rockets lidera a vingança dos nerds na NBA
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas da NBA 2014-2015

Os números não explicam tudo, mas fazem sucesso

Os números não explicam tudo, mas fazem sucesso

Já vimos esse enredo de besteirol umas trocentas vezes na Sessão da Tarde: a revanche dos nerds, os nerds contra-atacam, os nerds ficando com a mocinha bonitinha no final. Os nerds merecem, gente. Antes da popularização e da teorização sobre o bullying, era esse tipo de história da ficção que mais valia como uma vitória pessoal da turminha dedicada aos estudos que, supostamente, não teria bom convívio social na infância e adolescência.

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Agora imaginem quando um supernerd surge do nada – ou melhor, do MIT – para brilhar num ambiente antes dominado por figuras atléticas, robustas, exuberantes? No mundo real. Foi o que Daryl Morey, o gerente geral do Rockets, fez em Houston. Bem no meio do Texas. Cheio de  planilhas, fórmulas e equações, abrindo espaço para seus companheiros matemáticos, estatísticos, cientistas da computação e sabe-se-lá-mais-o-quê numa gestão que se tornaria revolucionária.

A onda de estatísticas analíticas se propagou na NBA como epidemia, e Morey foi informalmente reconhecido como o patrono do movimento. Não só por falar abertamente sobre seus planos e ser um dos executivos da liga mais acessíveis nas redes sociais, mas também pela fama de se dar bem na maior parte das negociações em que se envolveu. Nem sempre dá certo, é verdade, como Jermaine Taylor, David Andersen, Gerald Green e Marcus Morris vão confirmar.

Howard largou o Lakers de Kobe pelo Rockets de Harden

Howard largou o Lakers de Kobe pelo Rockets de Harden

Agora, houve trocas em que ele realmente rapelou a concorrência. Teve também sucesso no draft, com muitas escolhas de segunda rodada acertadas (Chase Budinger, Carl Landry, Chandler Parsons). E, depois de anos e anos de manipulação de sua folha salarial e coleta de trunfos, acabou descolando a sorte grande ao convencer OKC a lhe enviar James Harden. No ano seguinte, com um time mais atraente, convenceu Dwight Howard. E lá estava o Rockets com duas superestrelas.

Esse tipo de retrospecto causa inveja da concorrência, sem dúvida. Ainda mais pela carta branca que Morey ganhou do proprietário Les Alexander. Fundamental para promover táticas pouco usuais, arrojadas de negociação. Até que muita gente achou o máximo quando o dirigente se estrepou nestas férias. Ele foi sedento em direção a Chris Bosh, farejando a possibilidade de tirá-lo do Heat, enquanto LeBron James não se decidia. Estava tão certo de que conseguiria mais um astro para seu tripé, que pagou para o Lakers receber o contrato de Jeremy Lin e deixou Parsons na lista de espera, enquanto não fechava o negócio. O coração e, dãr, a grana pesaram, todavia, e o cara ficou em Miami. Para complicar, o Dallas Mavericks arranjou um jeito de entregar uma oferta cheia de malícia para Parsons que tornou impossível sua permanência em Houston. Em sua política all in de negociação, o cartola saiu de mãos abanando. Na verdade, com prejuízo. Agora era o resto da liga que contra-atacava.

Mas não é que ele tenha sabotado o futuro da franquia também. Ao repatriar um Trevor Ariza mais maneirado e consciente, encontrou um meio de cobrir o buraco deixado por Parsons de modo mais barato. O ala campeão pelo Lakers em 2009, aliás, é muito melhor na defesa e vai fazer uma parceria bastante chata com Patrick Beverley. No ataque, num time em que James Harden e Dwight Howard vão reter a bola, pode se encaixar perfeitamente como atirador de três pontos da zona morta, fundamento no qual evoluiu de maneira impressionante. O único cuidado que se precisa ter: o famoso efeito do último ano de contrato. O cara estava jogando demais em Washington, mas prestes a virar agente livre. Morey, aliás, já havia caído nessa em 2009.

Falar da perda de Omer Asik nem vale. O pivô turco se sentiu simplesmente miserável durante todo o campeonato passado, descontente demais com o posto de reserva de Howard. Não queria ficar por lá mais. Para liberá-lo para o Pelicans, na mesma negociação que lhe trouxe Ariza, o Rockets conseguiu uma escolha de Draft via New Orleans muito mais promissora que a que vai ter de pagar para o Lakers como depósito por Jeremy Lin.

Harden vai para cima, mesmo, no ataque agressivo do Rockets

Harden vai para cima, mesmo, no ataque agressivo do Rockets

Está certo que o banco de reservas de Kevin McHale não inspira muita confiança, assim como o próprio treinador. Há questões sérias para a defesa e para o caso de um dos astros sentir alguma coisa – no momento, tanto Howard e Harden afirmam e aparentam estar em plena forma física e psicológica. E não é que Morey tenha se contentado. Com ele, o balcão de negócios está sempre aberto, e o clube tem margem de manobra. Nas comédias envolvendo esses nerds, melhor sempre esperar para ver quem ri por último.

O time: a correria vai ser mantida. É como se o Rockets quase não tivesse jogada desenhada. A ordem é apertar o ritmo, buscar as bandejas ou lances livres – ou enterradas, no caso de Howard – e os tiros de três, com 11 dos 15 atletas do elenco liberados para se arriscarem no perímetro. No mundo aritmético de Morey, o gráfico de arremessos da equipe não mostraria incidência alguma de chutes de média distância.  Na temporada, essa regrinha rendeu o quarto ataque mais eficiente, muito perto do topo. Na defesa, com Howard, subiram de 16º para 12º – e, no que depender do pivô, o ritmo pode ser ainda mais forte neste ano, já totalmente reabilitado da cirurgia que fez nas costas. Porém, se é para falar de conta, falemos de conta. De acordo com os índices históricos, precisariam avançar consideravelmente nesse aspecto para se colocar no patamar de sérios candidatos ao título. Viu, Sr. Barba?

Papanikolau, um grego que ainda vai aprontar nesta temporada. Grande reforço

Papanikolau, um grego que ainda vai aprontar nesta temporada. Grande reforço

A pedida: realmente acertar a defesa e tentar ir mais longe nos playoffs.

Olho nele: Kostas Papanikolau. Ex-companheiro de Beverley no Olympiakos, bicampeão da Euroliga, o ala tem um estilo de jogo um tanto diferente daquele quando se pensa em alas europeus. O grego de 24 anos é bastante forte, alto agressivo, que vai se encaixando perfeitamente no banco do time, como substituto de Ariza. Se o chute de três da zona morta não estiver caindo, Papanikolau vai colocar a bola no chão e partir para a cesta. Mas sem essa de vaca louca: tem boa leitura de jogo e predisposição para encontrar um companheiro bem posicionado.  Inicialmente, ele havia sido selecionado pelo New York Knicks. Seus direitos acabaram envolvidos numa troca por Raymond Felton, passando para o Blazers. Seu ‘passe’ foi novamente trocado no ano passado para o Rockets, com Thomas Robinson indo para Portland. Quer dizer: já parece mais uma negociação em que Morey levou a melhor.

Abre o jogo: “Quando eu o vi entrando, não sabia o que dizer. Você não consegue ver esse tipo de coisa na Europa”, Papanikolau, maravilhado com a chegada de Hakeem Olajuwon a um treino do Rockets na pré-temporada. : )

Tarik Black e sua montanha de músculos numa contratação surpreendente

Tarik Black e sua montanha de músculos numa contratação surpreendente

Você não perguntou, mas… o novato Tarik Black tem uma dessas histórias que serve para todo jogador sonhar grande. O pivô chegou a se graduar mais cedo pela Universidade de Memphis, mas decidiu estender sua carreira como jogador da NCAA por Kansas, pedindo transferência. Ele perdeu uma temporada, mas foi liberado para jogar pelos Jayhawks em 2013-14, um veterano coadjuvante para os calouros Andrew Wiggins e Joel Embiid. Todo scout que fosse aos seus jogos teria as duas sensações como prioridade de avaliação. Ao mesmo tempo, o Black ao menos estava em um time sendo visto por todos. Ele não foi selecionado no draft, mas foi convidado pelo Rockets para seu time de verão da liga de Orlando. O que ele fez foi o suficiente para lhe render mais um convite, dessa vez para o training camp. Até que os amistosos começaram, e ele estava ganhando minutos regulare. Numa prática que já está virando normal para seus padrões, Morey acabou ficando com um número maior de contratos garantidos no clube do que o permitido para a temporada regular. Era esperado, então, que Black apenas cumprisse tabela por lá e fosse dispensado antes de a temporada começar, ainda que estivesse ganhando minutos regulares nos amistosos. Mas que nada. O supernerd optou por despachar Ish Smith e Jeff Andrien, atletas mais experimentados, jogando fora mais de US$ 2,1 milhões em salários para ficar com o  pivô, que vem sendo o principal reserva de Dwight Howard na temporada.

carl-herrera-rockets-cardUm card do passado: Carl Herrera. Este card, pinçado numa página especial toda dedicada ao venezuelano, ainda é de uma época em que os jogadores estrangeiros eram espécies invasoras, mesmo, na liga. Depois de Rolando, Herrera seria o segundo sul-americano a jogar por lá (embora, na verdade, tenha nascido em Trinidad e Tobago!). Coincidentemente, os dois se graduaram pela Universidade de Houston, embora em gerações diferentes. Se Rolando não teve muita sorte em Portland, o ala-pivô conseguiu fazer carreira em Houston, como reserva no elenco bicampeão capitaneado por Olajuwon em 1994 e 95. Aos 29 anos, trocou de clube, mas seguiu no Texas, defendendo o Spurs. Em 199, sua última temporada de NBA foi abalada pelo primeiro lo(u)caute, passando pelo Vancouver Grizzlies e o Denver Nuggets. Herrera ainda jogaria na Venezuela até 2008, com 42 anos. O Rockets ainda teve mais um jogador do país em sua história: o ala Oscar Torres, em 2002-03.


NBA: 10 caras que abrem o ano novo de bem com a vida
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Giancarlo Giampietro

Kevin Johnson e Jeff Hornacek... Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Kevin Johnson e Jeff Hornacek… Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Quem está abrindo 2014 estourando champanhe sem o menor arrependimento? Quem nas quadras da NBA está passando pela virada de ano cheio de confiança, satisfeitos com o papel em suas equipes e se valorizando no mercado?

Os LeBrons, Durants e Loves do mundo vão estar sempre bem, é sabido. Não há que se preocupar com eles. Pode ser outono, primavera, feriado, longas viagens, esses caras vão produzir sem parar. Então, por mais que eles desafiem qualquer bom senso estatístico, seria redundante gastar estas linhas aqui para falar deles.

Então vamos nos concentrar num tipo de atividade que – vocês já devem ter percebido – dá mais prazer neste espaço: fugir dos holofotes e prestar atenção nos caras que muito provavelmente poderiam dar um passeio por Manhattan passando despercebidos. Talvez a altura fosse algum indicador, mas não o suficiente para congelar toda a Times Square.

Dessa vez, não estamos falando necessariamente de gente como Jordan Crawford ou Josh McBobs, dos que buscam a sobrevivência na liga. Mas de um pelotão intermediário que jogou muito nas última semanas do ano que se foi e entram em 2014 de bem com a vida:

Thaddeus Young, ala do Sixers.

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Michael Carter-Williams é a bola da vez em Philly, e não há muito o que se fazer a respeito. Quando entra em quadra, o armador influencia o jogo de diversas maneiras, no ataque ou na defesa. Foi um achado para Sam Hinkie no Draft, ainda mais em 11º. Tudo em seu desempenho até aqui indica que vá se tornar um craque.

Mas, na hora que o Sixers vai surpreender alguém, Thaddeus (de “Youngs” já estamos cheios, não é verdade?) também tem talento para ser uma figura decisiva.

Pegue os últimos quatro jogos da equipe, por exemplo. Depois de uma derrota vexatória contra o Nets por 130 a 94 – e, sim, apanhar desta maneira para o patético time de Jason Kidd já se arquiva aqui no blog como “vexatório” –, Young elevou seus números a um patamar de saltar aos olhos. Marcou 110 pontos, pegou 35 rebotes, , conseguiu dez roubos de bola e acertou42 de seus 76 arremessos. Em médias: 27,5 pontos, 8,75 rebotes, 2,5 roubos e 55,2% de aproveitamento*.

(*PS: assim como em todos os números citados no post, estão computados apenas jogos até 31 de dezembro de 2013, por motivos de… Lentidão de sistema, digamos.)

Está certo que a concorrência não era das mais ferrenhas: Nets de novo (vitória por 121 a 120, no troco), Bucks, Suns e Lakers. O estilo de jogo também ajuda: três desses times gostam de correr, que é o que o ala mais sabe fazer, e o time do Brooklyn ficou automaticamente mais leve com a lesão de Brook Lopez.

Mas não deixa de ser impressionante.

Em meio ao projeto de reformulação do Sixers, Thaddeus pode estar querendo uma troca, ou não, mas com esse tipo de atuação é provável que termine a temporada em outra cidade, mesmo.

(Agora um segredinho: os números se inflaram desta forma também desde o retorno de Carter-Williams de uma infecção cutânea na perna. Não é acaso.)

Kyle Lowry, armador do Raptors.
Outro jogador envolvido em rumores de troca em dezembro. Também não se trata de coincidência, é possível dizer. Desde que o time canadense despachou Rudy Gay para a capital californiana, os boatos se concentraram em Lowry: ele seria o próximo a negociado. Mas o que estava em andamento se emperrou.

O baixinho que já foi um pitbull na defesa, mas hoje se interessa muito mais pelo ataque foi cobiçado pelos trapalhões de Nova York. Mas a reputação (positiva) de rapina de Masai Ujiri acabou atrapalhando. Até James Dolan se opôs a pagar o tanto que o Raptors pedia. Uia. Isso é o mesmo que dizer que o ex-presidente Lula teve arroubos de modéstia num discurso.

Paralelamente a essa disputa entre nova-iorquinos, o Raptors acabou se acertando, para espanto de alguns, mas não de todos. Bill Simmons, o SportsGuy da ESPN, chegou a comparar o ala a um câncer. O time que se livra dele melhora instantaneamente, notou. Ouch.

Com a bola girando mais em quadra, Lowry vem se soltando. Reparem em seus números a partir do confronto de 8 de dezembro com o Lakers, o primeiro sem Gay. A quantidade de turnovers despencou, as assistências decolaram e os pontos e bolas de três vão sendo computados com muito mais frequência.

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Um jogo em específico vale o destaque: a vitória sobre o Knicks, no Madison Square Garden, claro, dia 27. Não só por ele ter marcado15 pontos e 11 assistências, mas também pelo fato de a torcida dos Bockers ter gritado seu nome das arquibancadas. “Foi esse tipo de acontecimento sobre o qual você nem sabe o que dizer direito. Tipo, é muito legal”, disse o armador. “Se algo acontecer, que aconteça. Mas até que chegue esse dia, sou um jogador do Raptors e vou dar duro aqui.”

James Johnson, ala do Memphis Grizzlies.
Antes de falar sobre o que se passa no presente, aqui convém revisitar o passado desse jogador, que, até pelo nome básico, até pode ser um desconhecido do público em geral. James quem?

Bem, vocês sabiam que ele tem algumas semelhanças com Zlatan Ibrahimovic? De alguma forma, explico: se o atacante sueco é faixa preta de taekwondo, Johnson já foi (é?) um belo lutador de kickboxing. E os dois tiram proveito das habilidades desenvolvidas nas artes marciais para fazer algo de diferente em seus respectivos esportes. Jogo de cintura, agilidade nos pés, elasticidade – imagino que se ganhe tudo isso, né, Ibra?

JJ, o Kickboxer

JJ, o Kickboxer

Uma rápida olhadela nos números do ala indicam isso. É um dos que mais acumula roubos de bola e toco na liga há tempos, em médias por minuto. Pegue, por exemplo, o que ele vem somando pelo Grizzlies por aqui. Em sete partidas, com 23,1 minutos, tem 1,3 bloqueio e 1,4 roubada em média. Em 36 minutos, subiria para 2,2 e 2,0, respectivamente. Andrei Kirilenko está orgulhoso.

E por que só sete jogos pelo Grizzlies, se já estamos em janeiro? Bem, ele começou a temporada na D-League. Na verdade, antes disso, o versátil ala participou do training camp com o Atlanta Hawks, mas o gerente geral Danny Ferry não achou por bem mantê-lo no elenco – talvez por considerar que suas características se dupliquem com as de DeMarre Carroll.

Jogando pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Rockets, sua produção foi a seguinte: 18,5 pontos, 9,1 rebotes, 4,7 assistências, 3,4 tocos e 1,9 roubo. É muita coisa, mesmo numa liga em que não se pratica muita defesa e num time que joga em ritmo acelerado demais da conta.

E como um talento desses vai parar na liga de desenvolvimento? Digamos que Johnson nunca foi dos jogadores mais disciplinados. Tanto fora de quadra como em ação, fardado. Ele pode pecar um pouco no posicionamento defensivo, na hora de forçar algumas infiltrações descabidas, confiante de que suas habilidades atléticas dão um jeito para tudo. Por isso não sobreviveu em Chicago (foi draftado pelo Bulls em 16º em 2009), Toronto e Sacramento.

Mas também há o outro lado da moeda: por ser um jogador de características pouco tradicionais, difíceis de ser enquadradas, para um técnico que vá querer escalar seus jogadores de 1 a 5 pode ser difícil encontrar sua pocição. Vai de 3? Ou 4? Uma bobagem, mas que em muitos casos pode influenciar demais os rumos de uma carreira.

Fato é que, para um time moribundo com o do Grizzlies, ele oferece energia muito necessária. Até o dia 5 de janeiro, o clube precisa decidir o que fazer com Johnson. Se ele passar dessa data no elenco principal, seu contrato será garantido até o final da temporada. Acho que não há muita dúvida aqui sobre o que fazer, não?

Goran Dragic, armador do Phoenix Suns.
Ele começou mal pelo Phoenix Suns, depois jogou bem como reserva do Phoenix Suns, foi trocado ainda assim pelo Phoenix Suns, jogou no Texas até que voltou para o Phoenix Suns. A relação do armador esloveno com a franquia do Vale do Sol, como já vimos, não é das mais estáveis.

Daí que, quando o time contratou Eric Bledsoe antes da atual temporada começar, não demorou para que todo o mercado da NBA tenha se preparado para a possibilidade de Dragic voltar a ficar disponível. Jeff Hornaceck, porém, não tinha nada com isso.

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

O novo surpreendente técnico da eqiupe vem justificando qual era o seu plano desde o princípio: que Dragic e Bledsoe poderiam reeditar a sensacional parceria que ele teve com Kevin Johnson na virada dos anos 80 para os anos 90. Pela mesma franquia, diga-se, que, em 1988-89, alcançou a final da Conferência Oeste, perdendo para um Los Angeles Lakers que lutava pelo tricampeonato (e seria superado pelos autênticos Bad Boys de Detroit).

“Quando Ryan (McDonough, o novo e igualmente surpreendente gerente geral do Suns) me ligou, eu disse a ele: ‘Ei, Eric parece com o Kevin Johnson, quando ele estava jogando aqui em Phoenix, e Goran é mais ou menos como eu era’. Passamos de um time com 25 vitórias para 55. Não acho que nenhum de nós pensou realmente que, quando trocamos por Eric, teríamos de nos desfazer de Goran”, afirmou Hornacek, eleito o melhor técnico do Oeste em dezembro e que vem se mostrando uma das melhores entrevistas da liga.

Vai saber se foi isso, mesmo, que passou pela cabeça do treinador, ou se ele apenas está desenvolvendo uma retórica que, ao mesmo tempo que protege o esloveno, também envolve o sucesso do time nesta temporada. O próprio Dragic ficou um pouco desconfiado.”Quando estava na Europa e descobri, pensei: ‘Ok, agora tenho competição’. No fim, falei com Jeff, ele me disse que nós provavelmente iríamos a maior parte dos minutos juntos.”

Eles estão jogando, mesmo, e o fato é que a dupla armação se encaixou muito bem, ainda mais com tantos chutadores ao redor para espaçar o ataque. Por ser mais jovem e a novidade no time, é natural que Bledsoe chame mais repórteres ao seu encalço. Ramona Shelburne, do ESPN.com, contou uma baita história a respeito.

Mas Dragic, do seu lado, vem jogando muito bem, obrigado. Segundo levantamento do estatístico John Schuhmann, do NBA.com, quando o time tem apenas o esloveno em quadra, os números ofensivos são muito melhores do que com Bledsoe sozinho com os dois em parceria, que age pela melhor defesa. (Agora precisaria checar os adversários que estão por trás dessas contas.)

Dragic está jogando sua melhor temporada na liga, com o melhor aproveitamento nos arremessos, a maior média de lances livres cobrados, a menor de desperdícios de bola. Eficiência alto padrão, e a presença de Bledsoe para ajudar a desafogar as coisas ajuda muito para isso, claro. “Está cada vez melhor com Eric, jogo após jogo. Sei o que ele vai fazer com a bola e ele sabe o que eu vou fazer”, afirma.

No Suns, vale também a menção para o ala Gerald Green, que tem aproveitado os espaços abertos por seus dois armadores. Neste período, tem médias de15 pontos e quase quatro chutes de três pontos por jogo (3,7). O jogador que já teve de apelar para Rússia e China para tentar se encontrar como jogador de basquete e regressar aos Estados Unidos,  recuperou o rendimento de sua breve passagem pelo Nets na temporada 2011-12. Mantendo essa produção, vai deixar a troca que enviou Luis Scola ao Pacers cada vez mais desequilibrada a favor do time do Arizona. Quem diria, Larry Bird, quem diria?

Tyreke Evans, ala-armador do New Orleans Pelicans.
Como novato, Evans terminou sua temporada com médias superiores a 20 pontos, 5 rebotes e 5 assistências. Em toda a história da NBA, quais os únicos jogadores que atingiram esse tipo de rendimento? Michael Jordan, LeBron James e Oscar Robertson.

Bom para você?

Evans para a cesta, de 6º homem

Evans para a cesta, de 6º homem

A galera em Sacramento acreditava ter recebido seu próprio Messias, alguém pronto para resgatar os  anos dourados de Webber, Bibby, Divac e Peja. O que aconteceu a partir de 2008-09? O Kings seguiu perdendo de todo mundo, basicamente. Uma equipe horrorosa, na qual Evans se afundou também. De repente, sua temporada de calouro passou de proeza estatística para o devaneio de um fominha.

Daí que, quando o Pelicans investiu US$ 44 milhões por quatro anos de contrato com o ala, poucos entenderam. A sensação era de que ele merecia muito menos – e que não ficava muito claro o que o clube estava pensando, uma vez que já tinha Jrue Holiday e Eric Gordon no elenco, jogadores que gostam de segurar a bola por um bom tempo também.

Se o jovem time ainda busca um melhor acerto, especialmente na defesa, apostando agora na contratação de Alexis Ajinça, no ataque o desenvolvimento é realmente positivo – eles têm a sexta melhor ofensiva. E a contribuição de Evans tem sido importante para isso, mesmo que seu desempenho na linha de três pontos seja desastroso e que sua pontaria de dois pontos também esteja muito abaixo do esperado.

Acontece que o volume de jogo que Evans tem ao sair do banco de reservas tem sido o suficiente para compensar a pontaria desacertada. Com uma projeção por 36 minutos de 18,3 pontos, 6,3 assistências e 6,7 rebotes – que basicamente supera o que fez como novato –, se firmou como um candidato ao prêmio de sexto homem da liga. Curiosamente, quando Dell Demps, ex-Spurs, conversou com o atleta, ele vendeu esse papel como uma interessante possibilidade a ser estudada pela jovem pretensa estrela. Manu Ginóbili seria o exemplo. Evans gostou da ideia – está colhendo frutos, agora, com o maior índice de eficiência de sua carreira. Podendo ser decisivo também:

Com Gordon mais uma vez afastado por contusão por cinco jogos, o ala-armador tem brilhado, com 20,2 pontos, 8,2 assistências e 5,6 rebotes. Uma dessas exibições foi especial para o atleta: no dia 23 de dezembro, ele ajudou o Pelicans a vencer por 113 a 100 o bom e velho Kings, em Sacramento. Foram 25 pontos e 12 assistências.

“Quandoe stava com a bola, ouvia o Isaiah Thomas dizendo o que ia fazer. Eu fazia a mesma coisa e ainda assim fazia a cesta. Mas você sabe: era apenas diversão”, disse Evans.

Brandon Knight, armador do Milwaukee Bucks.
O rapaz não teve dó alguma do arrebentado Los Angeles Lakers. Na última terça-feira, na despedida de 2013, usou o Staples Center como palco para o jogo de sua vida na NBA até aqui, marcando um recorde pessoal de 37 pontos –18 deles apenas num terceiro quarto devastador em que ele parava em qualquer ponto da quadra, arremessava e balançava a redinha.

Ok, considerando que um Jordan Farmar manco e o lento-quase-parando Kendall Marshall eram seus principais marcadores, a quantia pode não parecer muita coisa. Mas Knight estava batendo na pronta já. Nas sete partidas antecedentes, ele já havia estabelecido médias de 20,7 pontos, 6,0 assistências e 5,8 rebotes. O aproveitamento, está bem, foi de apenas 43% de quadra, mas já superior aos 40,1% que tem na temporada ou os 40,9% de sua carreira.

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Sim, Knight ainda está longe de ser um grande arremessador, ou uma ameaça assustadora no ataque. Só tem 22 anos, porém, e pela primeira vez tem carta branca para criar e se virar na NBA. Vale o teste para o Bucks, um time que viu suas metas completamente despedaçadas já no primeiro mês de campanha,

Mais um do Bucks: Khris Middleton. O ala foi repassado de Detroit a Milwaukee como contrapeso na negociação de Brandon por Brandon (Jennings). O ala revelado pela universidade de Texas A&M era tido como um prospecto de potencial considerável por alguns scouts, mas não dos mais badalados. Depois de um ótimo ano como segundanista na NCAA, se recusou a entrar no Draft e viu sua cotação despencar na temporada seguinte, toda detonada por uma lesão no joelho. Dessa vez, não se importou e se inscreveu no recrutamento de 2012. Terminou selecionado pelo Pistons em 39º, já na segunda rodada.

Num elenco cheio de alas jovens, recebeu minutos mais na metade final da temporada e passou, francamente, despercebido. Ele ainda teve flashes na liga de verão de Orlando deste ano, mas Joe Dumars não se importou em cedê-lo para ter um armador que julga de ponta para comandar sua equipe.

Em meio a tantas lesões no Winsconsin – Carlos Delfino, coitado, ainda nem pisou em quadra –, Middleton teve sua chance e a agarrou firme. Agora ao lado de Giannis Antetokoumpo (que já pede há tempos um post só dele), vem formando uma dupla de alas de muito potencial. Somem aí o ala-pivô John Henson, e o senador Herb Kohl queria ver seu time vencendo agora. Mas pode ter ganhado muito mais que isso para o futuro.

Wesley Matthews, ala do Portland Trail Blazers.
Matthes ficou pê da vida quando soube do número 130 durante as férias. Era essa a sua posição no ranking  anual de melhores jogadores da liga que o ESPN.com publica.

“Meus amigos já estavam me provocando e me deixando animado para a temporada. Eu estava me preparando para voltar extremamente faminto, como se não tivesse comido um hambúrguer há várias semanas (nota do editor: : D).  Mas quando saiu o ranking da ESPN? Aquilo foi maluco. Aquilo foi puro desrespeito”, afirmou em entrevista ao The Oregonian.

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Essa á frase de alguém fulo, totalmente fulo com tudo e todos. O ala levou para o pessoal. “Nunca me deram o benefício da dúvida na minha vida, então por que começariam agora?”, completou, numa pergunta retórica. Treinou individualmente com o assistente técnico Nate Tibbetts – que viajou até a cidade do jogador, diga-se –, trabalhou duro e tentou expandir seu jogo para além do rótulo de “bom arremessador de três pontos”.

O resultado a gente está vendo. É mais um que curte a temporada mais eficiente de sua carreira, matando acima da média da liga em praticamente todos os cantos da quadra – ainda que se destaque, mesmo, pela periculosidade nos tiros de longa distância, com 43,1% de suas tentativas.

Damian Lillard e LaMarcus Aldridge são os líderes da passeata ruidosa que faz o Blazers neste campeonato, mas Matthews, cheio de som e fúria, também faz valer o piquete.

Trevor Ariza, ala do Washington Wizards.
Se você for fazer um levantamento estatístico do quão eficiente o atlético Ariza foi durante a sua carreira, vai reparar que, do modo como está jogando hoje, ele só fez quando dirigido por Phil Jackson em Los Angeles, entre 2008 e 2009. Naquela época, ele também buscava um novo contrato, a primeira grande bolada de sua carreira.

Se a gente for descontar que fica difícil para Randy Wittman qualquer comparação com o Mestre Zen, sobra um paralelo para a versão 2013-14 de Ariza: sim, ele está novamente prestes a se tornar um agente livre. Tsc, tsc.

Descontadas as motivações que o ala possa ter, não dá para negar que ele esteja fazendo de tudo para ajudar o Wizards em sua tortuosa e tão aguardada trilha de volta aos playoffs do Leste. Em termos de índice de eficiência, só fica atrás do já imponente John Wall e de Nenê.

Da ocasião em que o Wizards chegou ao Rio de Janeiro, reconheço que o conselho publicado para o espectador presente na Arena HSBC era se concentrar na forma de arremesso de Martell Webster – e que para todos simplesmente ignorassem o que saísse de Ariza. Pois o ala deu um tapa na cara da sociedade crítica. Ele, que nunca havia acertado mais que 33,5% de seus chutes de três em sua carreira, elevou gradativamente seu acerto pelo time da capital aos mais que decentes 43,4% deste ano – sem diminuir a carga (são 5,8 disparos por partida).

E um rendimento desse faz toda a diferença. Pois o ala segue um personagem dinâmico em outras facetas do jogo, com sólidos números de rebote e assistências para sua posição e incomodando bastante nas linhas de passe.

Sobre o alto percentual de três pontos, o campeão da NBA em 2009 deu crédito a John Wall. “Ele sabe que estaremos correndo ao seu lado. Sabe aonde estaremos. Se a defesa se fechar, ele sabe tem a nós para recorrer e passar a bola para fora”, disse.

Por um punhado de dólares a mais, nada mal. Nada mal, mesmo.


Nenê é decisivo contra Howard e interfere na luta do Lakers pelos playoffs
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Giancarlo Giampietro

Nenê x Kobe

Não adianta segurar, Kobe. O Nenê já foi embora

Se, por um acaso, o Los Angeles Lakers ficar fora dos playoffs da Conferência Oeste, procurem se lembrar da noite de 22 de março, e do papel que Nenê pode ter nessa eventual eliminação da badalada – e hoje conturbada – franquia.

A que ponto chegamos, então: comemorar uma possível interferência do pivô numa briga em que sua equipe não está nem envolvida diretamente. Mas é isso, mesmo. Olhando a tabela, com o Washington Wizards numa draga tão lastimável, fica difícil, quase impossível de se imaginar grandes momentos esportivos, competitivos para o brasileiro na temporada.

De todo modo, aconteceu, está registrado: Nenê tratou de dar um jeito de deixar suas impressões digitais na cena do crime quando chegar a hora de avaliar o que deu de errado nesta temporada do Lakers.

Quando o relógio marcava 2min17s para o fim, Kobe Bryant estava na linha de lances livres para deixar a equipe da casa em vantagem por três pontos, 97 a 94.

O que se viu a partir daí foram, então, três posses de bola seguidas em que o paulista de São Carlos pediu a bola, assumiu a responsabilidade e pontuou. Quando restavam apenas 43 segundos no cronômetro, o placar era de 99 a 97 Wizards, com cinco pontos consecutivos de seu caríssimo pivô. E quer saber do que mais? Todos os cinco pontos saíram com ele enfrentando um defensor chamado Dwight Howard. Foram dois pontos em um giro no garrafão, com assistência de John Wall. Depois, um gancho em corrida paralela ao aro. Por fim, em outra arrancada agressiva para a cesta, forçou Howard a fazer falta. Na linha de lances livres, errou o primeiro e converteu o segundo.

No fim, Nenê terminou com 15 pontos, cinco rebotes e dois tocos. Acertou sete de 15 arremessos de quadra. Números que poderiam ser avaliados facilmente como “modestos” ou “bonzinhos” – mas nem sempre as estatísticas vão realmente contar toda a história.

Até porque, na verdade, ainda teve muita história nos 40 segundos finais: John Wall matou quatro lances livres, Kobe Bryant errou arremessos fáceis, fez um bem difícil, mas acabou perdendo o mais importante. Com pouco mais de 1 segundo para o fim, Howard conseguiu fazer um passe sensacional de sua linha de base, encontrando o ala na linha de três pontos do outro lado. Kobe se desmarcou de Trevor Ariza, fez um drible para ajeitar o corpo e teve tempo para subir e chutar. Deu aro.

*  *  *

Por falar em Ariza, o jogador renegado pelo Lakers guardou sua melhor atuação da temporada para sua ex-equipe. Lembrem-se que ele estava na campanha do título em 2010, mas depois não teve seu contrato renovado, e sua vaga ficou com o lunático Ron Artest. Pois bem, a julgar pela expressão facial do ala durante a partida, ele foi para quadra pensando bastante a respeito. Como numa intervenção divina, ele acertou sua pontaria de três pontos e matou cinco de sete bolas de três pontos, fechando sua participação com 25 pontos, quatro assistências e quatro rebotes. Nem Phil Jackson poderia acreditar.

*  *  *

Uma derrota preocupante para o Lakers.

(Como se eles precisassem de mais coisas com que se preocupar, aliás.)

O Wizards até se mostra competitivo desde o retorno de John Wall, vencendo agora seis de seus últimos oito jogos – mas foram dois triunfos contra o Phoenix Suns, um contra o Cleveland Cavaliers, um contra o New Orleans Hornets e um contra o Charlotte Bobcats, saca? Em Los Angeles, depois de tanto tempo de descanso, era uma vitória obrigatória.

O time não jogava desde segunda-feira, podendo descansar as costas de Howard e Nash, dar mais alguns dias para a reabilitação do tornozelo de Kobe (21 pontos, 11 assistências, 8/18 nos arremessos em 28 minutos) e ainda iniciar a reintegração de Pau Gasol ao time. Sim, o espanhol barbudo voltou após algumas semanas de ausência por conta de sua fascite plantar. Jogou por 20 minutos (roubando tempo de quadra de Earl Clark, um dos mais atléticos do elenco), ainda fora de ritmo, e somou quatro pontos e oito rebotes.

Mike D’Antoni ainda consegue respirar fundo pelo fato de que sua equipe ainda ocupa o oitavo lugar no Oeste, com duas vitórias de vantagem para o Utah Jazz. Mas haja coragem para brincar tanto com a sorte assim. Oras, foi a segunda derrota seguida do clube, depois de perderem para o mesmo Suns que o Wizards bateu duas vezes nos últimos dias. Afe.

Então volta a acender a luz de alerta. Do contrário, pode ser que, nas próximas semanas, mais alguns jogadores se juntem a Nenê numa lista de caras que, pelo menos, podem dizer que deram sua contribuição para ferrar com o poderoso Lakers.


Ainda sem vencer, Wizards só pode lamentar troca por veteranos pouco produtivos e caros
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Giancarlo Giampietro

Na página dois – a primeira fica reservada a introduções e amenidades – do manual básico de como se negocia hoje em dia uma troca na NBA, você, caso tenha acesso ao livreto, vai provavelmente se deparar com alguns destes itens:

– “evite contratar um jogador ruim, em decadência na carreira, para não frustrar seus torcedores. O básico, buddy, o básico”;

– “se for para pegar jogador(es) ruin(s), melhor que seja no último ano de contrato, para não ocupar seu teto salarial com tranqueiras”;

– “se for para pegar um jogador com múltiplos anos de contrato pela frente, melhor que ele seja claramente produtivo, que seja titular”;

– “se for para pegar jogador(es) ruin(s) com múltiplos anos de contrato, que seu time seja recompensado, então, com uma boa escolha de Draft (top 5 de preferência) e que você se livre também de pelo menos um de seus contratos indesejados”.

(Acreditem.)

(Tudo certo, né?)

Pois bem.

Emeka Okafor e Trevor Ariza

Okafor e Ariza já tinham feito quase nada pelo Hornets. Mas o Wizards viu aí uma oportunidade

Ao fechar a primeira troca visando a atual temporada, Ernie Grunfeld, gerente geral do Washington Wizards, conseguiu descumprir os quatro tópicos acima e qualquer outro que preze pelo bom senso, quando recebeu Trevor Ariza e Emeka Okafor e mandou Rashard Lewis embora para o New Orleans Hornets.

O Wizards é o único time da liga que ainda não venceu nesta temporada, com 11 derrotas seguidas, e essa transação ajuda a explicar muita coisa nessa situação – além dos problemas físicos de John Wall e Nenê, claro.

Não que a perda de Lewis fosse irrecuperável. O ala mais deu trabalho para o departamento médico do clube desde que foi envolvido em negociação por Gilbert Arenas do que foi útil em quadra. Mas era menos caro: seu contrato era apenas parcialmente garantido e, assim que chegou em Nova Orleans, entrou em acordo com a franquia e foi dispensado, recebendo US$ 13 milhões sem jogar. Ao menos o gerente geral Dell Demps, cria de RC Buford no Spurs, se livrava de um estorvo. E, com liberdade para investir, viu seu time fechar com Ryan Anderson e Robin Lopez, dois jogadores muito mais jovens e efetivos.

Ariza tem US$ 15 milhões por mais dois anos. Okafor com mais dois anos também e US$ 28 milhões garantidos. Impedindo que o clube fique abaixo do teto salarial para tentar contratar um agente livre, ou mais, no próximo ano. Tanto sacrifício para dois atletas que, juntos, têm médias de 15,8 pontos, 11,6 rebotes, 2,8 assistências, 2,55 roubos, 2,37 tocos. Juntos, ok? Nenhum dos dois está chutando acima de 45% nos arremessos, nem mesmo o pivô Okafor, com 40% – Ariza tem horripilante 32%.

Ernie Grunfeld

O invencível Ernie Grunfeld segue no comando

Jogando desta maneira, não são os dois veteranos que levariam o Wizards a uma disputa por vaga no playoff. E nem são os dois que poderiam salvar o time no caso de, tipo, John Wall não poder jogar ou de a fascite plantar de Nenê não se curar.

E aqui fica registrado: não que a presença dos dois craques da equipe pudesse fazer diferença. O forte do armador e do pivô não é o arremesso. Nem o de Ariza e Okafor. Difícil de imaginar como esse quarteto se encaixaria.

Mas mais difícil ainda é entender como Grunfeld conseguiu convencer Ted Leonsis a renovar seu contrato em abril deste ano. Coisa de louco. Ele certamente infringiu diversos códigos  do manual elaborado para os donos de franquias.

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No início da década passada, Grunfeld teve o mérito de limpar a bagunça que Michael Jordan fez na direção do clube e construiu um time empolgante com Gilbert Arenas, Caron Butler e Antawn Jamison e alguns bons operários como DeShawn Stevenson, Brendan Haywood. Essa formação foi para os playoffs por quatro temporadas seguidas, de 2005 a 2008. Perdeu por três vezes na primeira rodada, ok. Mas era alguma coisa pelo menos.  Desde a pirada de Arenas e suas graves lesões, porém, a equipe foi ladeira abaixo, com 88 vitórias e atordoantes 224 derrotas. Sua melhor campanha, para se ter uma ideia, foi em 2009-2010, com 31,7% de aproveitamento.

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Na derrota para o Charlotte Bobcats no sábado, em dupla prorrogação, o técnico Randy Wittman não hesitou ao extrapolar o limite de tempo de quadra rcomendável para Nenê, que está jogando no sacrifício, correndo o risco de sofrer alguma lesão de quadril, joelho, tornozelo e sei lá mais o quê, para compensar as dores no pé esquerdo. O plano era utilizá-lo por apenas 20 minutos. Acabou jogando dez. Lamentável.

Com base em muita determinação e inteligência, o pivô brasileiro causou impacto positivo na equipe. A despeito dos dois reveses que sofreu, as partidas foram decididas apenas no tempo extra. No calor do jogo, é óbvio que o atleta não vai se retirar de quadra, ainda mais com a situação sofrível por que passa sua equipe. Caberia ao técnico um pouco mais de bom senso e responsabilidade, pensando tanto em seu time como no jogador.


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