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Jukebox NBA 2015-16: um fim de temporada melancólico para Nowitzki
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha:Die zeit heilt alle Wunder”, por Wir Sind Helden.

Quando Dirk Nowitzki vai para a quadra aos 37 anos, com 17 de NBA, é um privilégio para a liga. Qual a chance de vermos novamente um jogador desse nível, de características tão peculiares? Um gigante de 2,13m de altura que é um dos maiores arremessadores da história do basquete, que ajudou a revolucionar o esporte.

O mítico alemão obviamente não é mais o mesmo, mas nem cogita a aposentadoria por ora, enquanto Kobe Bryant, de quem é fã declarado, caminha para os últimos dez jogos de sua carreira e Tim Duncan vai arrastando sua perna direita pela quadra, ainda como uma figura influente pelo Spurs. Nenhum desses veteranaços, porém, é tão importante, essencial para seu time em quadra.

Por mais que ele não tenha o arranque de dez anos atrás, quando era capaz de cruzar a quadra toda com a bola em mãos e bater alas mais baixos na corrida e que os movimentos de costa para a cesta que desenvolveu durante a carreira também estejam travados, seu arremesso elevado e mortal ainda fazem de Dirk o ponto central do ataque do Dallas Mavericks, o oitavo mais eficiente da temporada. Segue produtivo, com média de 18,7 pontos e 6,7 rebotes em 31,3 minutos, 46,3% nos arremessos e 38,8% de longa distância, de modo regular, capaz de alguns arroubos para a casa de 30 pontos, ou até mais, como quando guiou o Mavs a um triunfo (que pode ser) crucial sobre Portland, na semana passada, com 40 pontos em 39 minutos e 26 arremessos. É o resultado de uma rotina legendária e exaustiva de treinos, aperfeiçoando seus fundamentos, se adaptando a suas diversas travas.

Tudo muito legal.

Mas que se torna um pouco melancólico demais quando seu time capenga para se colocar na zona de classificação para os playoffs, numa toada trôpega bastante incomum para sua triunfante carreira. Vem daí a música do Wir Sind Helden, que fala algo sobre como o tempo acaba com qualquer capacidade de maravilhamento, mas que também pode curar as feridas de uma eventual decepção. Que fique claro: maravilhamento pelo time, e, não, por Nowitzki. Ainda assim, triste, embora com um flash de esperança.

Força, Dirk

Força, Dirk. Talvez dê certo

(Como sei disso sem entender um pingo do que cantam ‘z germanz’? Bom, foi com a consultoria da senhorita 21, apegada ao idioma germânico e que trouxe o sonzinho honesto desse grupo aqui para a base. E aí que, pelo menos, conseguimos escapar das referências de sempre do universo pop alemão – Scorpions, Rammstein, Nico, Nena, Falco etc.)

Certamente não era algo que vislumbrava durante o training camp, quando estavam todos empolgados com a rápida conexão que o time conseguia, confiantes em deixar a frustração pela novela DeAndre Jordan para trás. Fora dali, é verdade, a desconfiança era grande. Mas aí, na hora que a bola subiu, parecia o Mavs de Rick Carlisle de sempre, com um ataque azeitado e jogadores experientes o bastante para segurar as pontas na defesa, na linha da mediocridade (a 16ª mais eficiente), para manter o time bem posicionado. No ponto mais alto de sua campanha, ao final de janeiro, tinha 28 vitórias e 22 derrotas.

Desde então, porém, o time vem caindo pelas tabelas. Venceu apenas um terço de seus jogos (8 em 24) e caiu pelas tabelas. Pelas últimas dez rodadas, foi ainda pior, com apenas dois triunfos, e a perspectiva agora é de que termine com uma campanha inferior a 50% pela primeira vez desde… 2000. Com uma queda significativa dessas a poucas semanas do fim da temporada regular, o Mavs só não saiu da briga por uma vaga nos playoffs graças aos problemas de concorrentes: Houston Rockets e Utah Jazz, com pernas muito mais vigorosas, mas de resultados inconstantes durante todo o campeonato.

Em fevereiro, Parsons teve médias de 18,8 pontos, 5,0 rebotes, 2,7 assistências, 1,0 roubo de bola, 52,3% nos arremessos e 48,0% nos arremessos de três

Em fevereiro, Parsons teve médias de 18,8 pontos, 5,0 rebotes, 2,7 assistências, 1,0 roubo de bola, com 48,0% nos arremessos de três. Agora está fora, passando por uma 2ª cirurgia grave

O ponto mais baixo certamente foi a derrota deste domingo para o Sacramento Kings, levando inacreditáveis 133 pontos. É o tipo de tropeço que faz o jogador, o treinador e todo mundo repensar a vida. “Temos de decidir se queremos ir para a casa ao final da temporada, ou não. Todos têm de olhar no espelho e decidir que diabos querem fazer. Queremos jogar por algo significante, ou não? Queremos desperdiçar seis, sete meses de nossas vidas sendo jogadores de NBA… Mais uma temporada, blá-blá-blá, ou queremos fazer algo que signifique algo?”, questionou, retoricamente sem parar, o ala Wesley Matthews, jogador mais bem pago do clube.

Para alguém tão aguerrido, tão dedicado como Matthews, faz sentido. Mas a questão que faltou na tirada do ala é se, independentemente da vontade do elenco, se eles são capazes de reverter essa situação. Parece ter acabado o gás. Esse talvez seja o preço também de se investir num elenco envelhecido. O aspecto positivo é que eles dão menos trabalho, minimizam os erros, assimilam com mais facilidade os complicados ajustes sugeridos pelo treinador, se ajudam em quadra. O outro lado da moeda é o que vemos agora: as sequelas que a extensa temporada causa.

Os desfalques se acumulam. Chandler Parsons estava esquentando a munheca, jogando o melhor basquete de sua carreira, mas voltou a lesionar o joelho, deixando o time com poder de fogo reduzido. Deron Williams tem um estiramento no abdômen – e, a despeito de todo o otimismo com o armador nas primeiras semanas, ele vai terminar sua campanha basicamente com números idênticos aos de sua deprimente estadia no Brooklyn. Devin Harris regrediu. Raymond Felton até ressuscitou, mas não tem jogo para fazer a diferença diariamente, assim como José Juan Barea, a formiguinha atômica que rende apenas de modo pontual. Ainda assim, Carlisle bota todos para jogar, usando até mesmo tripla armação sempre movimentando suas peças com criatividade, fazendo dos improvisos um trunfo para manter a produtividade ofensiva. Desde que chegou ao Texas, o brilhante treinador vem consistentemente tirando o máximo de seus atletas, mesmo com o fluxo contínuo no elenco.

Na primeira metade do campeonato, esse combinado de veteranos pegou boa parte da liga de surpresa. Acontece que, em março,as fraquezas de seu time estão expostas, e não dá para fazer milagre.  No garrafão, a energia de Zaza Pachulia se exauriu, que até janeiro era um candidato a prêmio de jogador que mais evoluiu e agora mal consegue levantar do banco de reservas, de tantas trombadas na proteção por rebote e corta-luzes, para alguém que não estava acostumado a tantos minutos. Isso abriu uma lacuna no centro da defesa, já que Salah Mejri e JaVale McGee, muito mais atléticos e descansados, se perdem com panes mentais em quadra.

A coisa tá feia, Carlisle. Como dar um jeito nesta defesa?

A coisa tá feia, Carlisle. Como dar um jeito nesta defesa?

Se o ataque continua rendendo em alto nível desde o intervalo do All-Star, como o quinto melhor da liga, sua defesa ruiu, levando 110,5 pontos por 100 posses de bola, a terceira pior. Se for para reduzir aos últimos 12 jogos, são 113,2 pontos, a pior – para comparar, o mesmo Sacramento leva 109 durante a temporada, com uma retaguarda horrível.

Aí não vai importar quantos arremessos Dirk acertar a cada noite. “É difícil, mas não há desculpas nesta liga. Independentemente de quem estiver em quadra, tem de fazer sua parte, respeitar seu papel, explorar seu potencial e competir dos dois lados da quadra. E então convivemos com os resultados”, afirmou o alemão.

Se esses resultados melhorarem, maiores as chances de Nowitzki jogar os playoffs pela 15ª vez na temporada. Tem de curtir, mesmo, enquanto dura.

A pedida? A essa altura, meine Freunde, é chegar aos playoffs, nem que seja para tomar uma pancada de Warriors ou Spurs na primeira rodada. Até porque sua escolha de primeira rodada no Draft será endereçada ao Boston Celtics, como consequência da terrível troca por Rajon Rondo.

A gestão: o Dallas Mavericks de Mark Cuban foi dos primeiros clubes a investir pesado no scout internacional – até hoje, mantêm um olheiro dedicado ao quadrante latino-americano, o argentino Lisandro Miranda, o único de quem tenho notícias com base por estas bandas. O clube também é dos que mais investe em tecnologia, estatísticas avançadas e tal. Também reformulou cedo suas instalações, com vestiários, quadra de treinos e infra-estrutura em geral luxuosos, oferecendo o tipo de mimo que costumava fazer a diferença na hora de buscar novos jogadores.

Ninguém quer se juntar a Cuban em Dallas?

Ninguém mais quer se juntar a Cuban em Dallas?

Mas o tempo passou, certo?

Cuban já não é mais um peixe tão diferente assim entre os proprietários da liga. Quando comprou o Mavericks, era um vanguardista até. Agora se vê rodeado por diversos homens que construíram seus negócios já na nova economia, e muito do que diferenciava a franquia texana há dez anos já virou recorrente. Esse é um dos motivos por trás dos recorrentes fracassos de sua gestão na hora de buscar reforços no mercado, numa história que já se tornou repetitiva desde a desmontagem do time campeão de 2011.

De lá para cá, o clube segue competitivo, obviamente. É só olhar o último ano de Kobe e ver como as coisas poderiam ser muito piores. Mas o fato é que o Mavs não chega nem perto da luta pelo título, algo que Nowitzki adoraria fazer novamente. Foi por isso que, ao contrário o astro hollywoodiano, deu um belo desconto para Cuban em seu salário,  que vale apenas US$ 8 milhões anuais, a metade do que ganha Wesley Matthews. É uma pechincha mesmo para um atleta de 37 anos. Seja por suas habilidades únicas, pelos esforços que faz em se manter em forma, ou pelo avanço da medicina esportiva, o alemão ainda desequilibra,  diferentemente de alguns craques do passado que vimos estender suas carreiras nos anos 90, como um Moses Malone migrando de time para time no ocaso de sua trajetória como profissional, valendo mais como influência no vestiário do que por aquilo que poderia contribuir em minutos reduzidos. Ainda assim, ele precisa de ajuda.

O clima texano, os impostos reduzidos e a tradição da equipe deveriam ser diferenciais para agentes livres, mas a franquia não tem conseguido contratações de impacto. Não é o caso de Wesley Matthews, com todo o respeito que seu chute de três pontos e seu profissionalismo pedem. O ala vinha de uma lesão no tendão de Aquiles e não tinha tantas propostas assim – o Sacramento Kings, que não serve de exemplo para ninguém, era a principal ameaça. Acabou a magia de Cuban? O estilo falastrão do magnata ainda pode atrair aqueles que procuram promoção, holofotes, como Chandler Parsons, que adora um reality show.

Se o time não consegue grandes jogadores desta maneira, deveria ao menos ter mais parcimônia na hora de encarar o Draft. Em seu elenco, além de Nowitzki, apenas o ala Justin Anderson segue no clube texano desde que foi selecionado. Ah, ele é um calouro, que deve se sentir um tanto isolado no vestiário. O ala-pivô canadense Dwight Powell é o único jogador nascido nos anos 90, sendo dois anos mais velho.

Olho nele: David Lee

Como é possível que um cara que tenha índice de eficiência que o colocaria acima de LeBron James na temporada, de 27,2 pontos em 16 jogos, algo inesperado e assustador, mal conseguia sair do banco de reservas em Boston, a ponto de ser dispensado sem mais, nem menos? Foi um erro crasso de Brad Stevens? Um complô? Nada disso, sem teoria da conspiração. O próprio veterano de 32 anos explica, com honestidade que faz bem: “Cheguei ao time fora de forma. Não joguei o que podia e perdi meu emprego. Tudo isso me levou a questionar o que estava faltando, comparando com o que fazia antes? Bem, eu simplesmente não estava em boa forma”, disse em seu retorno a Oakland, na semana passada, para receber seu anel pelo título de 2015.

Com uma rotação congestionada, precisando encontrar espaço para Jared Sullinger, Kelly Olynyk, Amir Johnson, Tyler Zeller, ainda com o promissor calouro Jordan Mickey na fila, Stevens levou algumas semanas para definir sua rotação e entender quem se encaixaria em qual lugar. A despeito de seu salário de US$ 15 milhões, currículo e talento ofensivo, sobrou para Lee. Num gesto cordial, que ajuda na construção da imagem do clube para tentar contratar alguém de peso (com o perdão do trocadilho) no futuro, os técnicos e preparadores físicos do Celtics passaram ao pivô uma rotina de treinos para que ele melhorasse seu condicionamento, mesmo que já não fizesse mais parte dos planos do time para a temporada. E ainda o dispensou, economizando alguns trocados, mas sem colher os frutos desse trabalho especial. Lee agora está jogando muito em Dallas, causando impacto positivo surpreendente até mesmo na defesa, com projeção de 20,1 pontos, 14,9 rebotes, 2,8 assistências e 1,5 toco por 36 minutos. Sem esse reforço, talvez a equipe estivesse até mesmo fora da briga pelos playoffs.

dennis-rodman-trading-card-dallasUm card do passado: Dennis Rodman. Na hora em que se aposentar e for conversar com os filhos, os sobrinhos e enteados, relembrando histórias de sua carreira, Nowitzki vai poder falar de sua redenção em 2011, derrubando o superestrelado Miami Heat na final. A decepção de 2006 e 2007 também não pode ser ignorada no bate-papo, pois ajudam a valorizar o título que conquistou. A amizade com Steve Nash, as loucuras de Don Nelson, o aviãozinho de Jason Terry,  Wang Zhizhi e Shawn Bradley. Há muito sobre o que falar. Incluindo as breves semanas em que foi companheiro de equipe do craque mais amalucado da história, Rodman. Foi em 1999-2000, justamente a última campanha de aproveitamento negativo do Mavs, com 40 vitórias e 42 derrotas.

Na sua última experiência de NBA, o ala-pivô, aos 38 anos, foi convencido por Mark Cuban a fazer parte de seu projeto de reconstrução de uma combalida franquia. Poderia ser algo especial, um final feliz, com uma rara chance de poder pendurar as botinas na cidade onde cresceu, numa infância complicada no bairro de Oak Cliff, região paupérrima, barra pesada de uma metrópole petrolífera.

Mas, que nada: mesmo vivendo na mansão do empresário, o pentacampeão  Rodman aprontou um alvoroço daqueles, tirando Don Nelson do sério, assustando os mais jovens do time com seu comportamento bizarro e a avacalhação geral. Sob contrato de 3 de fevereiro a 8 de março, disputou apenas 12 jogos, até ser dispensado. “Ele nunca quis ser um Maverick”, resumiu Steve Nash. Ainda assim, como jogador especial que era, teve média de 14,3 rebotes. Seria uma ajuda bastante necessária ao jovem Dirk, de 21 anos, que tinha apenas o varetão Shawn Bradley e o veterano Sean Rooks como companheiros de garrafão.


O ridículo triângulo amoroso (e odioso) entre Jordan, Clippers e Mavs
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Giancarlo Giampietro

O Clippers tripudia ao anunciar renovação de DJ

O Clippers tripudia ao anunciar renovação de DJ

Bem, o texto do final de semana estava mais ou menos certo, né? No fim, Dirk Nowitzki, Mark Cuba, Rick Carlisle, Chandler Parsons e até mesmo DeAndre Jordan acreditam que o pivô já era jogador do Dallas Mavericks. Mas o grandalhão, depois de se comprometer com o clube texano, deu para trás nesta quarta-feira e, no primeiro instante em que os atletas podem assinar seus contratos, decidiu renovar com o Los Angeles Clippers.  A parte que o artigo não falhou: o vaivem de Jordan só reforça a tese do quanto a cabeça de um jogador pode flutuar no momento de tomar uma decisão dessas. Tão relevante do ponto de vista financeiro, esportivo e, enfim, pessoal.

Num universo com tanto dinheiro correndo solto e egos à deriva, parece que o mais prudente, mesmo, é esperar a tinta aparecer no papel. Mesmo que Wojnarowski, Stein e qualquer outro repórter de primeiro escalão tenha, hã, cravado a notícia. Embora, dando um passo para trás, percebe-se que ninguém errou. Jordan realmente disse que iria para Dallas. Apenas se arrependeu, ou foi convencido a se arrepender, se é que isso faz sentido. De qualquer forma, em meio a esse dramalhão todo, os jornalistas foram os que menos passaram ridículo, e não se trata de mero corporativismo.

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O maior carão, ou a maior cara-de-pau, mesmo, fica por conta de DJ, que passou do limite. Complexidades de uma tratativa à parte, o jogador extrapolou em sua infantilidade. Já seria muito feio, uma estrondosa quebra no código de ética da liga, ele mudar de ideia e fechar com o Clippers. Muito pior, no entanto, foi o jogador nem ter se dado ao trabalho de atender o telefone, responder as mensagens de texto, SnapChat, Whatsapp, sinal de fumaça e sabe-se lá qual outra ferramenta de comunicação os caras de Dallas tenham usado. Preferiu ficar jogando cartas e videogame com seus ex-futuros-novos-companheiros de L.A, em casa, em Houston. Interrompeu o diálogo na terça-feira, e pronto. Isso é patético, com o perdão da expressão — e, aqui, ainda caberiam vários adjetivos tão ou mais fortes. Não é que ele tenha sido pressionado a tomar uma decisão em 30 segundos antes de dizer sim ao Mavs. Já havia tido tempo o suficiente para ruminar a ideia desde a eliminação do Clippers na semifinal de conferência

E não. Também não foi a primeira vez que uma prima donna da NBA concordou com um negócio e, depois, seguiu outro rumo. Que me lembre, o caso mais emblemático nessa linha foi o de Carlos Boozer, Cleveland Cavaliers e Utah Jazz, há uns bons dez anos já. O ala-pivô, então uma jovem força produtiva no garrafão, havia combinado com a gestão anterior do Cavs: que eles rescindissem seu contrato paupérrimo de novato para que, como agente livre, assinasse um novo acordo que fizesse jus aos seus números em quadra. Aí veio a punhalada: Boozer topou receber uma fortuna em Salt Lake City. Foi um episódio mais sórdido, nota-se. Mas é aquela história de Brasília: não é que alguém já tenha feito antes, que isso vá justificar a repetição do erro.

Da maneira em que os negócios da NBA estão estruturados, essa é uma falta gravíssima. Bobby Marks, ex-assistente de Billy King na administração do Brooklyn Nets, reforça:  “Assim como no beisebol, há certas regras que não estão escritas, e isso foi uma grande violação dessas regras. Uma vez que um jogador se compromete com um time, você segue em frente”. O cara, aliás, é uma conta obrigatória para se seguir no Twitter.

O Mavs já estava fazendo planos e planos com Jordan. Desde as mais simples jogadas a grandes tacadas de marketing e relações públicas. Em menos de uma semana, uma franquia pode avançar com seus projetos de modo significativo. Mas a grande perda vem no campo esportivo. Com a assinatura também de Wes Matthews (que, já avisou, mantém o que estava acertado), acreditavam que tinham uma boa base para competir no Oeste. Agora eles têm um rombo imenso para cobrir, e poucas opções no mercado. Enes Kanter, Jordan Hill, Kevin Seraphin, o próprio Boozer… Boa sorte nessa.

Por isso, Mark Cuban ficou mudo nesta quarta. Pois é: DeAndre Jordan já pode adicionar em seu currículo a proeza de ter sido o primeiro homem na face da terra a ter deixado o proprietário do Mavericks sem palavras. Nem o chefão David Stern era capaz disso. Outro que deve demorar um bocado para se pronunciar é Chandler Parsons, que estava cantando aos sete ventos sua habilidade na persuasão dos atletas, brincando que seria o gerente geral do clube no futuro. O papel dele no suposto convencimento de Jordan realmente era muito interessante. Só comemorou a vitória um tanto antes.

A maior crueldade: um constante reclamão, habituado a peitar a liga, Cuban nem mesmo tem o que fazer agora. Oficialmente, os clubes não podem fechar nada durante o período de moratória nas transações com agentes livres, embora isso aconteça em toda negociação. Ironicamente, aliás, o magnata já foi multado pela NBA por ter se pronunciado sobre o pré-acordo com Jordan antes do permitido.  Se Cuban está deprimido no momento, imaginem como esteja a cabeça de Dirk Nowitzki.

O alemão já está em evidente declínio, mas ainda pode ser um atleta valioso num esquadrão. Sem um armador de ponta, com dois alas voltando de cirurgias gravíssimas, um garrafão anêmico e poucas alternativas no mercado, é de se perguntar como o Mavs vai fazer para se reforçar. Sua missão é combater diariamente os adversários da Divisão mais letal da NBA. Na conferência, Utah e Phoenix (oi, Tyson Chandler, tudo bem?) querem subir. Faz como? Um possível caminho é a implosão de suas estruturas e um mergulho de cabeça num projeto de reformulação. Matthews e Parsons poderiam tirar o tempo que quisessem para voltar às quadras, por exemplo. Com o craque Nowitzki se encaixaria nessa, não dá para saber. Sua lealdade ao time é louvável, mas, no decorrer dos anos, ele já se mostrou muito mais inquieto do que Tim Duncan. Quem não se recorda de sua mensagem logo que Dwight Howard anunciou que estava indo para o Rockets, em detrimento do Mavs? “Bem-vindo de volta, Devin Harris”, escreveu, não sem sarcasmo.

Da parte do Clippers, eles saem com o grande prêmio e mantêm seu fortíssimo núcleo intacto — e até reforçado pela chegada de Paul Pierce. (Sobre Lance Stephenson, vamos esperar para ver. ) No entanto, não há como ignorar o papelão que nos proporcionaram. Mais um. O simples fato de o clube ter voltado a investir no jogador depois do acerto com o Mavs nos diz que estavam superconfiantes em que renovariam com o jogador, ignorando os melindres que o incomodavam, e que, a partir daí, saíram desesperados para reconquistá-lo.

Daí toca reunir o contingente numa missão de Comandos em Ação: o chefão Steve Ballmer, Doc Rivers, o ‘bro’ Blake Griffin, Paul Pierce, JJ Redick e, mais importante, Chris Paul embarcaram para Houston e tomaram conta da casa do pivô. Segundo relatos, Paul era o mais comovido na situação, dizendo que não tinha ideia de que suas cobranças diárias estavam alienando o camarada. Que achava que eles eram irmãos e que, por isso, certas liberdades poderiam ser tomadas. A maioria deles ficou no QG de DJ até a meia-noite, para garantir que, de última hora, ele não assinasse, talvez, com o Philadelphia 76ers. Vai que…

Enquanto as horas iam passando, os membros da comitiva jogavam mensagens (nem tão) cifradas nas redes sociais, abusando de fotos e emoji. Griffin era o mais abusado. Primeiro cornetou a mobília dos Jordans. Depois, brincou que estava em uma cabana no quintal. Será que Nowitzki o segue? Faz parte do jogo, claro, mas não deixa de ser um desrespeito, considerando a ética que estava sendo esmagada naquele momento.  Carente que só — e foi essa carência que inicialmente o empurrou na direção do Mavs –, Jordan deve ter se extasiado. Contrato assinado.

Quem também merece um texto só seu nessa novela é o agente Dan Fegan. O mesmo de Dwight Howard, aquele que queria, e não queria sair de Orlando. Aquele que estava encantado com Hollywood. O mesmo de DeMarcus Cousins. O mesmo que é falado nos corredores da liga como um dos maiores rapinas da paróquia. Um cara de cartela influente de clientes, assustador nas negociações. Com que clima Mark Cuban vai poder sentar à mesa com ele agora? E os demais clubes? Ou ele também foi alijado das tratativas?

A reação em cadeira desse causo poderia arranhar sua reputação. Talvez a NBA agora decida, enfim, rever esse período de moratória para que os novos vínculos sejam firmados. Já o Clippers talvez se veja em situação desconfortável na hora de se comunicar com a concorrência, que obviamente não aprova o que aconteceu. Jordan vai enfrentar jornalistas sedentos nos próximos meses e pode se tornar uma figura ridicularizada a cada cidade que visitar. Mas não dá para sermos ingênuos, mais uma vez, nessa. O dinheiro do novo contrato de TV vai jorrar nos próximos anos, a competitividade da liga só vai aumentar, e esse triângulo amoroso/odioso vai virar uma anedota. Ao menos isso a gente pode cravar.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Houston Rockets lidera a vingança dos nerds na NBA
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas da NBA 2014-2015

Os números não explicam tudo, mas fazem sucesso

Os números não explicam tudo, mas fazem sucesso

Já vimos esse enredo de besteirol umas trocentas vezes na Sessão da Tarde: a revanche dos nerds, os nerds contra-atacam, os nerds ficando com a mocinha bonitinha no final. Os nerds merecem, gente. Antes da popularização e da teorização sobre o bullying, era esse tipo de história da ficção que mais valia como uma vitória pessoal da turminha dedicada aos estudos que, supostamente, não teria bom convívio social na infância e adolescência.

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Agora imaginem quando um supernerd surge do nada – ou melhor, do MIT – para brilhar num ambiente antes dominado por figuras atléticas, robustas, exuberantes? No mundo real. Foi o que Daryl Morey, o gerente geral do Rockets, fez em Houston. Bem no meio do Texas. Cheio de  planilhas, fórmulas e equações, abrindo espaço para seus companheiros matemáticos, estatísticos, cientistas da computação e sabe-se-lá-mais-o-quê numa gestão que se tornaria revolucionária.

A onda de estatísticas analíticas se propagou na NBA como epidemia, e Morey foi informalmente reconhecido como o patrono do movimento. Não só por falar abertamente sobre seus planos e ser um dos executivos da liga mais acessíveis nas redes sociais, mas também pela fama de se dar bem na maior parte das negociações em que se envolveu. Nem sempre dá certo, é verdade, como Jermaine Taylor, David Andersen, Gerald Green e Marcus Morris vão confirmar.

Howard largou o Lakers de Kobe pelo Rockets de Harden

Howard largou o Lakers de Kobe pelo Rockets de Harden

Agora, houve trocas em que ele realmente rapelou a concorrência. Teve também sucesso no draft, com muitas escolhas de segunda rodada acertadas (Chase Budinger, Carl Landry, Chandler Parsons). E, depois de anos e anos de manipulação de sua folha salarial e coleta de trunfos, acabou descolando a sorte grande ao convencer OKC a lhe enviar James Harden. No ano seguinte, com um time mais atraente, convenceu Dwight Howard. E lá estava o Rockets com duas superestrelas.

Esse tipo de retrospecto causa inveja da concorrência, sem dúvida. Ainda mais pela carta branca que Morey ganhou do proprietário Les Alexander. Fundamental para promover táticas pouco usuais, arrojadas de negociação. Até que muita gente achou o máximo quando o dirigente se estrepou nestas férias. Ele foi sedento em direção a Chris Bosh, farejando a possibilidade de tirá-lo do Heat, enquanto LeBron James não se decidia. Estava tão certo de que conseguiria mais um astro para seu tripé, que pagou para o Lakers receber o contrato de Jeremy Lin e deixou Parsons na lista de espera, enquanto não fechava o negócio. O coração e, dãr, a grana pesaram, todavia, e o cara ficou em Miami. Para complicar, o Dallas Mavericks arranjou um jeito de entregar uma oferta cheia de malícia para Parsons que tornou impossível sua permanência em Houston. Em sua política all in de negociação, o cartola saiu de mãos abanando. Na verdade, com prejuízo. Agora era o resto da liga que contra-atacava.

Mas não é que ele tenha sabotado o futuro da franquia também. Ao repatriar um Trevor Ariza mais maneirado e consciente, encontrou um meio de cobrir o buraco deixado por Parsons de modo mais barato. O ala campeão pelo Lakers em 2009, aliás, é muito melhor na defesa e vai fazer uma parceria bastante chata com Patrick Beverley. No ataque, num time em que James Harden e Dwight Howard vão reter a bola, pode se encaixar perfeitamente como atirador de três pontos da zona morta, fundamento no qual evoluiu de maneira impressionante. O único cuidado que se precisa ter: o famoso efeito do último ano de contrato. O cara estava jogando demais em Washington, mas prestes a virar agente livre. Morey, aliás, já havia caído nessa em 2009.

Falar da perda de Omer Asik nem vale. O pivô turco se sentiu simplesmente miserável durante todo o campeonato passado, descontente demais com o posto de reserva de Howard. Não queria ficar por lá mais. Para liberá-lo para o Pelicans, na mesma negociação que lhe trouxe Ariza, o Rockets conseguiu uma escolha de Draft via New Orleans muito mais promissora que a que vai ter de pagar para o Lakers como depósito por Jeremy Lin.

Harden vai para cima, mesmo, no ataque agressivo do Rockets

Harden vai para cima, mesmo, no ataque agressivo do Rockets

Está certo que o banco de reservas de Kevin McHale não inspira muita confiança, assim como o próprio treinador. Há questões sérias para a defesa e para o caso de um dos astros sentir alguma coisa – no momento, tanto Howard e Harden afirmam e aparentam estar em plena forma física e psicológica. E não é que Morey tenha se contentado. Com ele, o balcão de negócios está sempre aberto, e o clube tem margem de manobra. Nas comédias envolvendo esses nerds, melhor sempre esperar para ver quem ri por último.

O time: a correria vai ser mantida. É como se o Rockets quase não tivesse jogada desenhada. A ordem é apertar o ritmo, buscar as bandejas ou lances livres – ou enterradas, no caso de Howard – e os tiros de três, com 11 dos 15 atletas do elenco liberados para se arriscarem no perímetro. No mundo aritmético de Morey, o gráfico de arremessos da equipe não mostraria incidência alguma de chutes de média distância.  Na temporada, essa regrinha rendeu o quarto ataque mais eficiente, muito perto do topo. Na defesa, com Howard, subiram de 16º para 12º – e, no que depender do pivô, o ritmo pode ser ainda mais forte neste ano, já totalmente reabilitado da cirurgia que fez nas costas. Porém, se é para falar de conta, falemos de conta. De acordo com os índices históricos, precisariam avançar consideravelmente nesse aspecto para se colocar no patamar de sérios candidatos ao título. Viu, Sr. Barba?

Papanikolau, um grego que ainda vai aprontar nesta temporada. Grande reforço

Papanikolau, um grego que ainda vai aprontar nesta temporada. Grande reforço

A pedida: realmente acertar a defesa e tentar ir mais longe nos playoffs.

Olho nele: Kostas Papanikolau. Ex-companheiro de Beverley no Olympiakos, bicampeão da Euroliga, o ala tem um estilo de jogo um tanto diferente daquele quando se pensa em alas europeus. O grego de 24 anos é bastante forte, alto agressivo, que vai se encaixando perfeitamente no banco do time, como substituto de Ariza. Se o chute de três da zona morta não estiver caindo, Papanikolau vai colocar a bola no chão e partir para a cesta. Mas sem essa de vaca louca: tem boa leitura de jogo e predisposição para encontrar um companheiro bem posicionado.  Inicialmente, ele havia sido selecionado pelo New York Knicks. Seus direitos acabaram envolvidos numa troca por Raymond Felton, passando para o Blazers. Seu ‘passe’ foi novamente trocado no ano passado para o Rockets, com Thomas Robinson indo para Portland. Quer dizer: já parece mais uma negociação em que Morey levou a melhor.

Abre o jogo: “Quando eu o vi entrando, não sabia o que dizer. Você não consegue ver esse tipo de coisa na Europa”, Papanikolau, maravilhado com a chegada de Hakeem Olajuwon a um treino do Rockets na pré-temporada. : )

Tarik Black e sua montanha de músculos numa contratação surpreendente

Tarik Black e sua montanha de músculos numa contratação surpreendente

Você não perguntou, mas… o novato Tarik Black tem uma dessas histórias que serve para todo jogador sonhar grande. O pivô chegou a se graduar mais cedo pela Universidade de Memphis, mas decidiu estender sua carreira como jogador da NCAA por Kansas, pedindo transferência. Ele perdeu uma temporada, mas foi liberado para jogar pelos Jayhawks em 2013-14, um veterano coadjuvante para os calouros Andrew Wiggins e Joel Embiid. Todo scout que fosse aos seus jogos teria as duas sensações como prioridade de avaliação. Ao mesmo tempo, o Black ao menos estava em um time sendo visto por todos. Ele não foi selecionado no draft, mas foi convidado pelo Rockets para seu time de verão da liga de Orlando. O que ele fez foi o suficiente para lhe render mais um convite, dessa vez para o training camp. Até que os amistosos começaram, e ele estava ganhando minutos regulare. Numa prática que já está virando normal para seus padrões, Morey acabou ficando com um número maior de contratos garantidos no clube do que o permitido para a temporada regular. Era esperado, então, que Black apenas cumprisse tabela por lá e fosse dispensado antes de a temporada começar, ainda que estivesse ganhando minutos regulares nos amistosos. Mas que nada. O supernerd optou por despachar Ish Smith e Jeff Andrien, atletas mais experimentados, jogando fora mais de US$ 2,1 milhões em salários para ficar com o  pivô, que vem sendo o principal reserva de Dwight Howard na temporada.

carl-herrera-rockets-cardUm card do passado: Carl Herrera. Este card, pinçado numa página especial toda dedicada ao venezuelano, ainda é de uma época em que os jogadores estrangeiros eram espécies invasoras, mesmo, na liga. Depois de Rolando, Herrera seria o segundo sul-americano a jogar por lá (embora, na verdade, tenha nascido em Trinidad e Tobago!). Coincidentemente, os dois se graduaram pela Universidade de Houston, embora em gerações diferentes. Se Rolando não teve muita sorte em Portland, o ala-pivô conseguiu fazer carreira em Houston, como reserva no elenco bicampeão capitaneado por Olajuwon em 1994 e 95. Aos 29 anos, trocou de clube, mas seguiu no Texas, defendendo o Spurs. Em 199, sua última temporada de NBA foi abalada pelo primeiro lo(u)caute, passando pelo Vancouver Grizzlies e o Denver Nuggets. Herrera ainda jogaria na Venezuela até 2008, com 42 anos. O Rockets ainda teve mais um jogador do país em sua história: o ala Oscar Torres, em 2002-03.


Dallas Mavericks: de volta para o futuro
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Nem faz tanto tempo assim, né?

Nem faz tanto tempo assim, né?

Valeu a pena ter desmontado um time campeão pelo direito de contratar Monta Ellis e Chandler Parsons? Na frente da câmeras, um bilionário confiante como Mark Cuban, o dono de franquia mais atirado da NBA, militante das redes sociais, pronto sempre para desafiar os jornalistas e os concorrentes, certamente vai dizer que sim. Vai dar de ombros: tipo, vocês não sabem do que estão falando.

Mas pergunte a Shawn Marion, José Juan Barea, DeShawn Stevenson e até mesmo a Tyson Chandler, que está de volta a Dallas, o que eles pensam a respeito. Você pode esperar respostas que variam da ironia ao rancor, de uma gargalhada a lágrimas deprimidas, num reflexo da decisão corajosa – e duvidosa – que Cuban e Donnie Nelson tomaram no verão de 2011, abrindo mão de vários integrantes do único time da franquia que conseguiu o título, depois de centenas de milhões de dólares gastos e diversas tentativas frustradas.  “Nós não demos a nós mesmos a chance de defender o troféu”, lamenta Marion, ainda hoje, em Cleveland.

As regras trabalhistas e o modelo de negócios da liga americana estava passando por uma drástica fórmula de reformulação, e a diretoria do Mavericks optou por não estender o contrato de diversas figuras importantes da campanha vitoriosa, de imediato, para preservar a tão propalada “flexibilidade” em suas operações. A ideia era não assinar contratos de longo prazo, em busca de teto salarial para conseguir mais uma superestrela para jogar ao lado de Dirk Nowitzki.

Parsons, pressão de US$ 45 milhões

Parsons, pressão de US$ 45 milhões

Na época, Cuban se gabava de enxergar o futuro da liga dois passos à frente dos concorrentes – e que prorrogar o vínculo de seus campeões seria oneroso a médio e longo prazo. Ok, tirando David Kahn, ninguém quer pagar US$ 4,5 milhões em média para Barea, a despeito dos estragos que ele fez contra o Miami Heat na final. Mas e quanto a Tyson Chandler? O Mavs abriu mão de um excelente defensor em seu auge. Com um adendo: um excelente defensor de 2,13 m de altura, inteligência, força física e liderança. Numa confissão de arrependimento, se viram obrigados a resgatá-lo três anos depois. Três anos mais velho, no caso.

Com o espaço na folha salarial, os caras bem que tentaram. Queriam Deron Williams – e deram sorte de não consegui-lo. Dwight Howard nem aceitou a piscadela direito. Chris Paul não foi para o mercado. Carmelo, LeBron… Sonhar não custava nada. No fim, os novos companheiros de impacto para o craque alemão se tornaram Ellis e Parsons, mesmo. Ellis fez seu melhor campeonato sob a orientação do crânio Rick Carlisle, desafogou a vida de Nowitzki e, ganhando US$ 8,6 milhões este ano, tem um salário que parece barganha – seu ex-companheiro de Milwaukee, Brandon Jennins ganha apenas US$ 600 mil menos, e ele só se equivaleria a Monta em seus delírios egocêntricos. O que economizaram nesse negócio, contudo, tiveram de despejar na conta bancária de Parsons. Para tirar o ala de Houston, só mesmo pagando US$ 45 milhões por três anos, num contrato cheio de artimanhas para evitar que o Rockets cobrisse a oferta. Como se precisasse.

Com Nowitzki ainda desafiando a lógica, esses dois reforços, a volta de Chandler, um elenco de apoio experiente e competente e um treinador ainda subestimado, o Mavs está fortíssimo. Só não dá para dizer que esteja mais perto do título do que três anos atrás…

Dirk, novo arremesso, ainda mais difícil de se parar? Apelão

Dirk, novo arremesso, ainda mais difícil de se parar? Apelão

O time: o ataque do Dallas vai seguir de elite, não há dúvida. Na temporada passada, foi o segundo mais eficiente da liga, empatado com o do Miami. Nowitzki ainda é a figura central aqui, com sua incrível capacidade de conversão nos arremessos, que contraria sua mobilidade cada vez mais reduzida. Nesse ponto, mais uma vez se faz necessário o elogio a sua dedicação nos treinamentos. Com o alemão representando ainda uma séria ameaça para qualquer defesa, por sua capacidade de matar de qualquer canto da quadra.

A presença de Ellis, um criador de primeira, ajuda a aliviar a pressão em cima do líder e também gera chutes mais fáceis. Parsons também oferece arremesso de longa distância e versatilidade, se movimentando muito bem sem a bola. Devin Harris chegou ao ponto de sua carreira em que virou subestimado. Jameer Nelson vai conduzir as coisas com segurança e também ameaça no perímetro. A defesa, porém, foi outra história: o Mavs se posicionou entre os dez piores para proteger sua cesta (8º pior, para ser mais exato), e a esperança é que a presença de Chandler, muito mais atento, alto e competitivo que Samuel Dalembert, ajude o time a subir uns dez degraus nessa lista, pelo menos. Se acontecer um milagre desses, a equipe sobe junto na duríssima conferência.

A pedida: para o Mavs seria muito importante o mando de quadra já na primeira rodada. Isso, claro, se eles chegarem aos playoffs. No Oeste, nunca se sabe…

Olho nele: Al-Farouq Aminu. O ala de 24 anos também foi contratado nas férias, mas sem a mesma badalação de Parsons. Porque, claro, é um jogador bastante inferior ao ex-garoto-propaganda do Rockets. Existem algumas coisas que Aminu sabe fazer muito bem, porém. É um excelente reboteiro para alguém de sua estatura, nem sempre jogando perto da cesta, com média de 8,5 na carreira, em projeção de 36 minutos. Oitava escolha do Draft de 2010, o jogador não tem lá uma posição definida, o que dificultou um pouco seu aproveitamento nas casas anteriores (Clippers e Pelicans). Mas é um atleta de primeiro nível, que pode ser muito bem aproveitado por uma cabeça aberta como a de Carlisle, que sabe tirar o máximo de seus comandados. Seu estilo, aliás, se encaixa com o de Dirk, atacando a tábua ofensiva com voracidade, enquanto o alemão tem liberdade para chutar de média para longa distância. Aminu, que defende a Nigéria em competições Fiba, pode ajudar no balanceamento de quadra, assim como ocorreu com Shawn Marion no passado.

Abre o jogo: “Ele me pareceu cansado hoje, e seu arremesso estava saindo curto. Ele está trabalhando para perder um pouco de peso. Ele está um pouco mais pesado. Isso é um trabalho em progresso, e hoje foi uma das noites que esse peso extra o atrapalhou”, disse o técnico Rick Carlisle, sobre Parsons, após uma derrota para o Oklahoma City Thunder em amistoso de pré-temporada. Para o treinador, o ala precisaria perder no mínimo 2,3 kg (cinco libras). A declaração sobre o homem de US$ 15 milhões anuais, claro, não pegou bem.

Abre o jogo 2: Parsons disse que daria conta disso. Depois, o treinador se viu obrigado a divulgar um comunicado pedindo desculpas ao jogador e todo seu elenco. “Foi injusto e inapropriado destacar Parsons. Foi um erro de julgamento”, afirmou. Aí o reforço disse que tudo bem: “Ele veio falar de homem para homem, e temos um ótimo relacionamento. Já ficou no passado, agora vamos seguir em frente. Isso apenas mostra que tipo de cara ele é. Estamos nessa juntos”, disse. Carlisle, então, brincou: “Caso fechado. Já recebi minha punição. Minha esposa e minha filha agora são seguidoras oficiais de Chandler Parsos no Twitter e no Instagram”.

Você não perguntou, mas… saiba que, nas férias, aos 36 anos, com aproveitamento excepcional e mais de US$ 200 milhões ganhos durante toda a carreira, Dirk achou que era prudente desenvolver uma nova mecânica de arremesso, de modo que se tornasse mais rápido em sua elevação, uma vez que a agilidade nas pernas já está bastante reduzida. Trabalhou, para isso, com seu bom e velho amigo/mentor Holger Geschwindner.

Detlet Schrempf, NBA, Alemanha, rookie, card, MavsUm card do passado: Detlef Schrempf. Muito antes de Nowitzki, o Dallas Mavericks teve seu primeiro ala vindo da Alemanha, com mais de 2,05 m e exímio arremessador. Quer dizer: Schrempf era alemão, mas não havia chegado diretamente de seu país, mas, sim, da Universidade de Washington, pela qual se formou. Aos 23 anos, ele estreou em Dallas na temporada 1985-86. Era reserva de uma grande equipe de meados dos anos 80, com Rolando Blackman, Mark Aguire, Derek Harper, Sam Perkins, entre outros. Num tremendo erro de cálculo, acabou trocado em fevereiro de 1989 para Indiana Pacers em negociação pelo pivô Herb Williams (cara que, depois, viraria patrimônio vivo do New York Knicks). Em Indiana, pela primeira vez, depois em Seattle, ele seria eleito para três All-Star Games, numa bela carreira. Schrempf era bastante sólido e versátil, fazendo de tudo um pouco, e bem. Ele se aposentou em 2001, aos 38 anos. A essa altura, seu compatriota já havia concluído sua terceira temporada na liga e era uma estrela em ascensão.


A cesta decisiva – e o migué – de Lillard
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Giancarlo Giampietro

Damian Lillard não quer nada o que ver com isso. O cronômetro a 0s9 do fim, seu time dois pontos atrás do placar? Pffff, tô fora dessa, cara. Não é à toa que ele se coloca lá do outro lado da quadra, com diversos companheiros e adversários posicionados entre ele e a reposição de Nicolas Batum. Podem reparar no vídeo abaixo: o armador do Blazers está vagando pela quadra até que o francês é autorizado a fazer o passe. “La-la-ri-la-lá”, parece estar cantando.

Até que… Partiu!

Quando Chandler Parsons se tocou, já era tarde demais. Um baita migué, daqueles que a gente faz desde que começou a jogar basquete. Lillard fez seu papel direitinho saiu em disparada em sua semiparábola, pronto para fazer o que mais gosta:

Muitos questionaram a decisão de McHale de colocar Parsons em Lillard, em vez de sua peste chamada Patrick Beverley. Bem, o ex-superastro do Boston Celtics fez uma série de bobagens durante todo o confronto, mas não sei bem se essa está conta. Primeiro: Beverley está passando mal há dias, mal treinando direito, provavelmente jogando à base de drogas. As lícitas, no caso. E este era o último instante de um jogo que durou mais de 1h53, depois de algumas duras batalhas já acumuladas nos últimos dias. Além disso, hoje pode soar absurdo, mas Parsons conseguiu se fixar na rotação do Rockets já em seu ano de novato, sendo um cara de segunda rodada de Draft, devido ao seu empenho defensivo. Acreditem, já existiu esse dia. Além do mais, é um cara esguio, ágil e alto. Ideal para atrapalhar a recepção. Né?

Realmente tem o que se discutir aqui. Mas o fato é que, uma vez concluída a jogada, o ala acaba dando razão aos críticos. De modo algum ele poderia ter dado aquela separação inicial para Lillard, com tão pouco tempo no relógio. Nas fotos (mais abaixo), temos a impressão de que ele estava perto para contestar o chute mortal de um craque emergente. Se for pensar no pieque, até que talvez ele tenha se recuperado bem… Só que não. Nada disso: a bola já estava bem distante das mãos de seu adversário quando ele chega para o toco. Pior: nem mesmo um corta-luz foi posicionado no caminho do atleta do Blazers. Não há contato de Mo Williams antes de seu companheiro engatar a quinta.

Com o vídeo congelado em 11 segundos, temos Lillard já praticamente esperneando para mostrar o quão livre ele estava. Já eram no mínimo duas passadas de distância para qualquer marcador mais próximo. E aí que cabe uma outra pergunta para McHale: que diabos James Harden estava fazendo em quadra? Difícil tirar sua superestrela, né? Mesmo quando o figura já é reconhecida como um dos piores defensores de toda a liga. Reparem que Harden fica perdido com Wes Matthews ali na cabeça do garrafão, mesmo que o ala esteja praticamente de costas para a linha de passe.

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Com míseros 0s9 por jogar, obviamente não dá tempo de pensar: “Ferrou”, quando a bola chega às mãos do armador, mesmo que o batalhão de estatísticos do Rockets soubesse que Lillard mata 42% de seus arremessos de três tanto em situações de calmaria ou correria (parado ou em movimento). Mas já era, mesmo.

“Nós falamos especificamente para eles que não era para permitir chutes de três”, disse McHale, culpando seu elenco — muitos acreditam que foi seu último jogo como treinador do time. “Não parece que foi verdade. Um puta arremesso. Um puta arremesso. Ficou livre. Puta arremesso. E lá foi o jogo”, disse Jeremy Lin (em tradução livre demais até, porque obviamente Jeremy Lin não fala coisa feia). “É o pior sentimento que já tive na minha vida”, completou o pobre coitado do Parsons.

Um tiraço para a história, em semanas eletrizantes de basquete. Milhares de pessoas permanecendo no ginásio, dançando, gritando, mesmo com o jogo encerrado há tempos. A primeira vitória numa série de playoffs para o Blazers desde 2000. É claro que Lillard queria a bola.

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Por outro ângulo, praticamente dentro da quadra. Reparem nas palminhas:

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As fotos:

Ângulo para deixar o chute mais épico (e mais difícil do que foi)

Ângulo para deixar o chute mais épico (e mais difícil do que foi)

Oi, Parsons, bom dia? Lá foi a bola

Oi, Parsons, bom dia? Lá foi a bola

A separação entre Lillard e Parsons

A separação entre Lillard e Parsons

Lillard para a TV

Lillard para a TV

Damian Lillard 2014, Brandon Roy novembro de 2008: bombas contra Rockets

Damian Lillard 2014, Brandon Roy novembro de 2008: bombas contra Rockets

Deixa falar, deixa cantar, deixa rimar. Lillard, senhor de Portland

Deixa falar, deixa cantar, deixa rimar. Lillard, senhor MC de Portland

It's Lillard Time!

It’s Lillard Time!


Lakers avança aos playoffs em sétimo; veja como ficaram todos os confrontos
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Giancarlo Giampietro

Foi um jogo em clima de playoffs. E, suando como o Los Angeles Lakers teve de suar nas últimas partidas, semanas, não havia nada de estranho nisso. É como se eles ja estivessem jogando numa condição de mata-mata há tempos. Nesta temporada inclassificável, eles conseguiram superar uma série de lesões e intrigas desnecessárias para, na última rodada, enfim, assegurar que seguiriam adiante na Conferência Oeste da NBA

Gasol, em grande fase novamente, aleluia

Gasol, mais um jogo brilhante de um astro que D’Antoni destratou no início da temporada

Com direito a prorrogação, depois de um chute de três pontos de Chandler Parsons, uma das revelações do campeonato, no último segundo, a equipe de Mike D’Antoni bateu o Houston Rockets por 99 a 95 em mais um jogo dramático – porque, francamente, esta campanha não poderia terminar de outra maneira.

O time californiano foi para quadra já classificado, devido ao revés do Utah Jazz contra o Memphis Grizzlies, mas ninguém entre os tropeiros de Lakers e Rockets queria aliviar em nada. Tudo pela sétima colocação nos playoffs e o sonho de eliminar o San Antonio Spurs.

E não é que é possível?

Resumidamente: o Spurs hoje parece vulnerável. Manu Ginóbili concluiu a temporada afastado das quadras, Tony Parker estava em frangalhos, e eles ainda perderam Boris Diaw e Stephen Jackson, dois veteranos talentosos, para deixar o banco de reservas ainda mais fraco. Ou Tracy McGrady ainda pode produzir algo em uma quadra de NBA?

Sério? O T-Mac?

Stephen Jackson deve estar se matando de rir, ou chorando de raiva a essa altura. Talvez em Porto Rico, vai saber.

Por outro lado, claaaaaaro que ninguém vai duvidar da capacidade de Gregg Popovich e claaaaro que só dá para se impressionar com o ano que Tim Duncan teve.

Mas…

Se Parker não estiver inteiro para acelerar um pouco o jogo e atacar de modo agressivo e efetivo no pick-and-roll, na meia-quadra, de uma hora para a outra, você tem um time texano mais vulnerável diante de Lakers que realmente poderia pensar em alguma coisa nesta série,  um clássico da liga, mesmo sem Kobe.

Ainda mais com a grande fase de um ressurrecto Pau Gasol – foram 17 pontos, 20 rebotes e 11 assistências contra o Rockets! Aleulua, D’Antoni, aleluia! – e a possibilidade de Steve Nash retornar nos playoffs. Ainda que Steve Blake, vivendos seus melhores dias como um Laker, possa dizer uma coisa ou outra a respeito sobre o desfalque de seu xará.

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Por que o Spurs é melhor para o Lakers, fora as lesões de Parker e Ginóbili?

A dificuldade em geral da defesa angelina em parar Harden, Parsons, Beverley (aquele que roubou a vaga de Scott Machado) e qualquer Rocket que pudesse criar a partir do drible só serve para sublinhar todo o empenho do time em tentar subir para o sétimo lugar do Oeste nesta quarta. Contra Durant e Westbrook? Não teriam a menor chance.

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Confira todos os playoffs da NBA 2012-2013 (voltaremos a eles até sábado):

OESTE

– 1-Oklahoma City Thunder x 8-Houston Rockets
Quis o destino que James Harden realmente tivesse de enfrentar os ex-companheiros

– 4-Los Angeles Clippers x 5-Memphis Grizzlies
Blake Griffin e Zach Randolph se odeiam; na verdade, praticamente tudo se odeia aqui

– 3-Denver Nuggets x 6-Golden State Warriors
Os times vão correr tanto que Bogut pode  ter um piripaque em quadra; Ty x Steph?? Uau.

– 2-San Antonio Spurs x 7-Los Angeles Lakers
Ok, Pop, taí o que você queria. Era o que você queria mesmo, né!?

LESTE

– 1-Miami Heat x 8-Milwaukee Bucks
Porque, com Jennings e Ellis no ataque e Sanders na cobertura, o Bucks pode com todo mundo. Claro.

– 4-Brooklyn Nets x 5-Chicago Bulls
Serve para algo o mando de quadra do Nets? Noah vai jogar? E rose? Vamos de Deron x Thibs no fim?

– 3-Indiana Pacers x 6-Atlanta Hawks
Para fugir do Heat, o Hawks fez de tudo. Não sei se, fisicamente, vão ficar tão satisfeitos. Podem vencer, mas com hematomas.

– 2-New York Knicks x 7-Boston Celtics
Clássico é clássico, e vice-versa, já ensinou Jardel. Mas o Knicks é o favorito, a não ser que os médicos tenham alguma surpresa.


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