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Arquivo : Arenas

A bizarra dispensa de Josh Smith e um Houston mais forte
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Giancarlo Giampietro

SVG, o técnico, tentou orientar. SVG, o presidente, não soube ponderar

SVG, o técnico, tentou orientar. SVG, o presidente, não soube ponderar

É normal que um técnico, furioso após um treino frustrante, no qual seus atletas não renderam o esperado, suba as escadas em direção ao escritório dos diretores do clube para pedir a cabeça de um jogador.  Ele simplesmente não aguenta mais um cara: considera que ele não se dedica o bastante, que sua postura esculachada pode servir de má influência para o restante do time e que o melhor, mesmo, é mandá-lo para a Sibéria. O gerente geral vai obviamente escutar tudo, tomar notas, conversar com o treinador e, depois de escutar a batida da porta, pode chamar um ou outro assistente para ponderar a respeito e estudar as alternativas para atacar esse mais novo problema. Vão atender ao pedido? Que tipo de mercado poderiam encontrar para o atleta? É algo que pode ser contornado com muita conversa?

Em Detroit, o reino de Stan Van Gundy, porém, esse processo todo está comprometido. Quando o técnico Van Gundy queria reclamar a respeito de Josh Smith, ele teria de conversar com o presidente Stan Van Gundy. E aí faz como? Bem, aí que os ímpetos imediatistas do SVG das quadras prevaleceram, a ponto de causarem espanto na NBA com a dispensa o ala-pivô sem mais, nem menos, numa decisão que, inicialmente, custará cerca de US$ 40 milhões em salários (o deste campeonato mais US$ 27 milhões que teria nas próximas duas temporadas). Dinheirama gasta em um cara banido do clube. Que tal?

Não tem muito como avaliar a barra do substituto de Joe Dumars aqui: foi uma tremenda trapalhada. Foi algo realmente bizarro, fugindo da rota que 99,9% das demais franquias adotaria. O todo-poderoso do Pistons exaurir as possibilidades de troca até 19 de fevereiro, ou tentar negociar uma rescisão contratual com algum desconto até 1º de março (os jogadores dispensados até essa data se mantêm elegíveis para a disputa dos playoffs por outro time).

Smith não deixa saudades na Motown

Smith não deixa saudades na Motown

Van Gundy não quis saber de nada disso. Chamou Smith para seu escritório e soltou a bomba. Nuclear, no caso. É de se imaginar a reação do veterano. Primeiro, uma combinação de susto e, talvez, humilhação. O dirigente-treinador estaria tão insatisfeito com ele a ponto de assinar um cheque polpudo para não vê-lo mais nos arredores da cidade. Depois, passado o baque, talvez tivesse vindo a sensação de liberdade. Desde que assinou com Dumars em 2013, o encaixe, a combinação com a equipe nunca pareceram certos.

Segundo consta, a trupe de SVG sondou o mercado de trocas, sim. Mas não ouviu nada de interessante. O único clube realmente disposto a fazer um negócio foi o Sacramento Kings. Que teria oferecido dois pacotes: o pivô Jason Thompson acompanhado de Derrick Williams e, depois, de Carl Landry. A primeira proposta ele recusou na expectativa de trabalhar com Smith e tentar arrumar as coisas em quadra – projeto que não durou nem três meses. A oferta com Landry foi a última e, nesse caso, a economia de alguns tostões apenas para Detroit. E eles queria uma redução mais drástica na sua folha de pagamento, pensando numa reformulação de verdade ao final do campeonato.

Ao dispensar Smith e esticar o valor restante de seu contrato por cinco anos (Smith vai receber U$ 5,4 milhões por ano, até 2020), eles vão conseguir isso. A opção representa um ganho de US$ 8 milhões no teto salarial em 2015 para dar mais margem de manobra nos futuros negócios. Além disso, segundo as regras do acordo trabalhista da NBA, caso Smith assine com uma nova equipe por um valor acima do salário mínimo, metade desse vínculo será descontada das despesas do Pistons. Quer dizer: aquela conta de US$ 40 milhões pode ser reduzida. Só não esperem, porém, que esse valor despenque de modo considerável.

Smith estava jogando muito mal em Detroit. Com ele em quadra, a equipe era vencida pelos adversários por mais de 12 pontos em média, a cada 100 posses de bola. Para se ter uma ideia, o Philadelphia 76ers tem perdido por 10,6 pontos a cada 100 posses neste campeonato. É um prejuízo danado, então, que ajudou a diminuir a cotação do atleta. Por outro lado, parece claro que a maior dificuldade encontrada por Van Gundy neste caso foi justamente sua urgência para selar uma proposta. Se os dirigentes percebem o desespero e estão cientes sobre o valor astronômico do contrato, entram na negociação com a vantagem toda do seu lado. Muitos deles já pediram logo de cara uma escolha de primeira rodada de Draft, antes de avançar nas conversas.

Mesmo equilibrado, Smith não estava matando nada em Detroit

Mesmo equilibrado, Smith não estava matando nada em Detroit

Esses são, basicamente, os pontos a favor da decisão dramática. Agora… se até um Gilbert Arenas, alguém que levou armas para o vestiário e, sim, defecava sobre o tênis dos companheiros, pôde ser trocado, imagino que dava para ter encontrado uma solução melhor, sim, para Smith. (Ironicamente, aliás, Arenas saiu do Washington Wizards justamente para o Orlando Magic, para jogar com Van Gundy. Pesou aí a memória de treinador (uma vez que Arenas foi um fiasco na Flórida) e, não, a de dirigente.

Quando acertou com Van Gundy e decidiu lhe dar plenos poderes no controle das operações de basquete, Tom Gores, o dono da franquia, deveria estar ciente dos riscos. São raros os casos de personagens que tenham conseguido dar conta de duas funções com mentalidades tão distintas: o técnico se preocupa com o dia de hoje e amanhã; um dirigente precisa cuidar do que vem muito depois disso, ainda mais numa NBA em que a concorrência é predatória.

Pat Riley deu conta disso em Miami, mas de um modo bem diferente: orientou o time com certo sucesso nos anos 90, mas, depois, viu um elenco envelhecido naufragar. Foi só a partir do momento em que ele se concentrou mais na função de gerente que a franquia decolou, ganhando três títulos desde 2006. O primeiro deles, é verdade, foi com o ultravencedor de volta ao banco, ironicamente depois de demitir SVG. A equipe, porém, já estava montada, com Shaq, Wade, Payton, Posey, Haslem, Williams, Walker e muito mais. Naquele caso, o técnico não tinha do que bufar, uma vez que ele mesmo havia reunido aquele grupo de atletas.

Smith foi um contrato herdado por Van Gundy. Joe Dumars, infelizmente, não estava presente para escutar suas lamúrias de quadra.

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Amigo é coisa pra se guardar...

Amigo é coisa pra se guardar…

Ah, a sorte. Ela pode interferir no destino de uma temporada de NBA de modo muito mais decisivo do que os analíticos e os mais racionais podem admitir. Não só por conta das lesões – como o mais novo infeliz acidente em torno de Anderson Varejão nos conta em Cleveland –, mas muito mais por uma série de fatores, de incidentes que podem acontecer durante a jornada, beneficiando um, ferrando com a vida do outro.

Na Conferência Oeste de competitividade absurda, o Houston Rockets pode estar ganhando um presentão com a dispensa de Smith pelo Pistons. O ala já concordou em assinar com o clube texano, por algo em torno de US$ 2 milhões. O gerente geral Daryl Morey precisa apenas abrir uma vaga em seu elenco para assinar a papelada. Ele vai tentando achar uma nova casa para Joey Dorsey, Tarik Black,  Clint Capela, Nick Johnson ou Alexey Shved (os atletas de menor salário e menor papel na equipe, em suma). Atualização: Tarik Black, que não tinha garantias em seu salário para o futuro, acabou dispensado. Do contrário, teria de dispensar outro contrato, lembrando que esse foi um expediente já adotado pelo cartola antes do início da temporada, torrando US$ 2 milhões em Jeff Adrien e Ish Smith.

Em teoria, parece um negócio da China, por um ala-pivô que, embora não castigue mais o aro como nos bons tempos em Atlanta, ainda tem muito talento para oferecer como defensor (ainda está no top 10 de tocos da liga e tem mobilidade e agilidade acima da média para a posição) e um passador cada vez mais apurado.

Não se trata, porém, de um jogador completo, que não cause alguns problemas em quadra. Do contrário, não teria sido dispensado com US$ 40 milhões por receber. Aliás, fosse o caso, talvez o Atlanta Hawks não tivesse permitido nem que entrasse no mercado de agentes livres no ano passado. Que tipo de problemas, então? Bem, já é de conhecimento público suas dificuldades com o arremesso de três pontos. Mais que isso: não só ele é um péssimo arremessador, como não se esquiva de queimar bolas de longa distância com uma frequência alarmante.

Nesta campanha derradeira pelo Pistons, contudo, a penúria se alastrou. Ainda que ele tenha diminuído consideravelmente o volume nos tiros de fora (1,5 a cada 36 minutos), seu aproveitamento geral nos arremessos de quadra despencou para baixo da casa  de 40%, com 39,1%, vindo de um 41,9% na temporada passada – as piores marcas de sua carreira. Uma tendência preocupante e horrorosa. Isto é: ele distribuiu seus arremessos de forma mais apropriada, conforme suas habilidades, mas simplesmente não conseguiu convertê-los. Vejam que calamidade:

josh-smith-shooting-chartA conversão de apenas 44% perto da cesta é assustadora para alguém de sua posição e talvez seja um sério indício de a) o declínio de sua capacidade atlética; b) simplesmente o produto de se jogar num time ruim, com um armador que não sabe o que faz em quadra e cujo garrafão já esteja congestionado com Andre Drummond; c) total desinteresse pela prática do basquete; d) uma combinação desses três fatores. No final das contas, Smith é apenas o segundo jogador na história da liga a ficar abaixo dos 40% de arremesso de quadra e 50% nos lances livres, com um mínimo de 800 minutos em quadra.

O Rockets acredita que o péssimo desempenho do ala-pivô tenha mais a ver com a falta de motivação e encaixe em Detroit. Que seu nível de produção vai subir e os maus hábitos, diminuírem, ao lado de seu compadre Dwight Howard, jogando num time de ponta, com reais pretensões de título. A conferir.

Mesmo com Howard perdendo 11 jogos devido a dores no joelho, o Rockets tem hoje a segunda defesa mais eficiente do campeonato. Imagine o quão sufocante e sólida pode vir a ser com o pivô e Smith em forma para proteger o garrafão? Por outro lado, também cabe a pergunta: será que a presença de Smith faria tanta diferença assim num sistema que obviamente já funciona bem?

Agora, as maiores dúvidas ficam para o ataque, mesmo. O reforço vai comprometer o espaçamento ofensivo? Donatas Motiejunas já não honra sua fama – e sua condição natural de lituano ; ) –, com 28,3% de acerto de fora. Kostas Papanikolau ainda não se ajustou a distância maior da linha de três da liga. Terrence Jones vinha muito bem, mas está afastado por tempo indeterminado das quadras. Com Smith, seria um não-chutador para fechar as linhas de infiltração de James Harden.  A despeito disso, o Rockets é o time que mais chuta do perímetro na liga. Com o técnico Kevin McHale, de contrato renovadíssimo, vai se comprtar com Smith? Vai incentivá-lo a arremessar, não importando os resultados? Você pode estar empurrando a Chapeuzinho Vermelho em direção ao Lobo Mau numa dessas, gente.

É, de qualquer forma, uma aposta de baixo risco para o Rockets, mas que pode fazer grande diferença.

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O Rockets já havia fortalecido seu sistema defensivo com a troca por Corey Brewer. O ala ex-Wolves pode não ser um marcador implacável no mano-a-mano, mas é um tormento para atacar as linhas de passe, com reflexos acima da média, agilidade e envergadura. Junte ele e Trevor Ariza, e o time de McHale tem duas excelentes opções no perímetro para dar um descanso a Harden. O Sr. Barba vinha muito melhor na conenção, mas já gasta muita energia no ataque e precisa ser realmente preservado. Sem ironias.

 

 

 

 

 


Washington Wizards: mudança de hábito
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015 (acabou!)

Nenê e os dois garotos: alto astral na capital

Nenê e os dois garotos: depois de muito tempo, alto astral na capital

Foram cinco anos inacreditáveis. Desde o episódio das armas de Gilbert Arenas, em meio a sua rixa com Javaris Crittenton, até as trapalhadas de JaVale McGee, os incessantes arremessos forçados de Nick Young e Jordan Crawford, a postura pouco elogiosa de Andray Blatche, as negociações fracassadas… Afe. A folha corrida seria interminável se fosse para esmiuçar cada um dos tópicos aqui citados.

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O gerente geral Ernie Grunfeld, porém, pode respirar aliviado. Ao que parece, toda a turbulência vivida entre 2008 e 2013, ficou realmente distante no retrovisor. O cartola ao menos conseguiu limpar a bagunça que ele mesmo fez, se desfazendo de uma tranqueira depois da outra, antes que John Wall fosse contaminado.

Muitos podem pensar que o Wizards hoje é um time jovem, em ascensão. A segunda parte se sustenta: depois de cinco anos fora dos playoffs, eles voltaram na campanha passada e ainda venceram o Chicago Bulls numa série. Mas a pecha de um elenco jovial a gente pode esquecer. Está certo que Wall e Bradley Beal são os grandes chamarizes, com 24 e 21 anos cada. Otto Porter Jr. também tem 21. No restante da rotação do técnico Randy Wittman, porém, são seis atletas acima dos 30 anos, com destaque para os 37 de Paul Pierce e os 38 de Andre Miller.

O impagável Gilbert Arenas ainda tirou sarro após levar armas ao vestiário

O impagável Gilbert Arenas ainda tirou sarro após levar armas ao vestiário

O plano de Grunfeld está claro: rodear suas jovens estrelas com veteranos profissionais, para reforçar uma cultura séria no vestiário e jogar para vencer agora, para já. Talvez o mais prudente fosse dosar mais as coisas e detectar mais algumas promessas para desenvolver um sólido núcleo ao redor de sua dupla do perímetro. Todavia, levando em conta o circo que foi a franquia no início da década, o caminho adotado fica mais compreensível.

Nessa mudança de hábitos, o pivô Nenê foi essencial. Não só pelo fato de o clube ter se livrado de McGee e Young no mesmo negócio, mas também devido principalmente à influência do brasileiro dentro e fora de quadra. Ele não esquivou de dar tremendas broncas em Wall e Beal, quando julgou que os dois estavam sendo excessivamente individualistas, sem se importar com o sucesso do time.

O pivô acabou se tornando um aliado importante para Wittman, que também merece crédito depois de fracassar em Cleveland e Minnesota. Promovido a treinador após a demissão de seu camarada Flip Saunders, ele fez a defesa da equipe evoluir consideravelmente, se estabelecendo entre as dez melhores da liga desde a temporada passada. “Esse foi o primeiro passo. Nesta liga, você tem de vencer pela defesa e precisa ter disciplina, e acho que Randy, desde o primeiro dia, começou a pregar isso. Ele tratou todos da mesma forma, mas cobrava bastante. Ele fez um ótimo trabalho ao convencer os jogadores”, afirma Grunfeld.

Wittman orienta, e Gortat intimida na defesa. De moicano e tudo

Wittman orienta, e Gortat intimida na defesa. De moicano e tudo

Numa Conferência Leste ainda desolada, Cleveland Cavaliers e Chicago Bulls apresentaram as contratações de impacto, as estrelas para serem apontados automaticamente como favoritos. Mas o clube de Washington também tem talento, experiência e confiança para ir longe. Depois de tanta palhaçada na capital norte-americana, esse time agora é sério.

O time: Trevor Ariza foi embora, Nenê voltou a ser afastado por conta de sua insistente fascite plantar, e, ainda assim, o Wizards segue com uma retaguarda imponente: é a quinta defesa mais eficiente no início de temporada, atrás de Warriors, Rockets, Spurs e Grizzlies. Nada mal. John Wall coloca muita pressão nos armadores adversários e, por trás dele, está um garrafão muito forte, físico para fechar os espaços. Gortat ajuda muito nesse sentido, assim como a coleção de pivôs que Grunfeld acumulou. Drew Gooden, Kevin Seraphin, Kris Humphries, DeJuan Blair… São diversos brutamontes para se revezar e castigar os adversários.

No ataque, a ideia é acelerar sempre que possível, explorando o arranque de Wall, um dos jogadores mais velozes do mundo. Em situações de meia quadra, contra uma defesa já estabelecida, o time tende a encontrar mais dificuldades, mas a perspectiva é de melhora para quando Beal entrar em forma e sitnonia e quando Nenê retornar. Pierce oferece mais caminhos a serem explorados com seu jogo de mano-a-mano, visão de quadra e chute de longa distância. O conjunto de pivôs também se complementa bem.

A pedida: vocês vão dar licença, mas o Wizards tem o direito, sim, de pensar até mesmo nas finais da NBA.

Porter Jr., produtivo após ano perdido

Porter Jr., produtivo após ano perdido

Olho nele: Otto Porter. No imprevisível Draft de 2013, o segredo mais mal guardado era de que, se pudesse, Washington selecionaria o ala de Georgetown na terceira posição. Não deu outra. O gerente geral Grunfeld via no espichado atleta um complemento ideal para Wall e Beal. Imagine, então, a apreensão do cartola ao observar uma primeira temporada desastrosa do garoto. Porter Jr. foi um fiasco sob qualquer perspectiva, desde a liga de verão, em que se mostrou perdido em quadra. Para piorar, sofreu uma lesão no quadril que o afastou da pré-temporada. Quando se recuperou, Trevor Ariza e Martell Webster ocupavam todos os minutos nas alas, e o time estava ajeitado, de modo que um calouro sem ritmo de jogo não teria espaço. Foi preciso paciência de ambas as partes, jogador e técnico, mas a espera valeu a pena. O jovem atleta de 21 anos ainda está no banco, mas agora tem um papel bem definido na rotação de Wittman e, em 15 jogos, já recebeu mais minutos do que no campeonato passado inteiro. De braços bastante longos e ágil, tem se esforçado para ajudar sua equipe nas pequenas coisas, contribuindo para uma defesa já forte. No ataque, muito mais confiante, elevou seu aproveitamento nos arremessos, com destaque para os 38,9% de três pontos.

Abre o jogo: “Só quero aproveitar o momento, sem me preocupar com o futuro, embora isso seja difícil. Vou para casa, e todo mundo fica me perguntando. Cara, é maluco. Até criancinhas de 4 anos perguntando se eu vou para o Wizards. E eu pergunto como diabos eles sabem dessas coisas. Com 4 anos de idade, eu nem sabia o que eram jogadores de basquete. Como eles sabem agora até sobre o mercado de agentes livres?”, Kevin Durant, ao USA Today, sobre a relativa pressão que sofre nos arredores de Washington, durante as férias, com muita gente esperando por sua assinatura em 2016, quando expira seu contrato com OKC.

Cassell levou Pierce para jogar com Beal. E aí se mandou para L.A.

Cassell levou Pierce para jogar com Beal. E aí se mandou para L.A.

Você não perguntou, mas… Pierce nem cogitava assinar com o Washington como agente livre, até que recebeu uma ligação de seu ex-companheiro de Boston, Sam Cassell. O clube estava preparado para perder Trevor Ariza e escolheu o veterano astro como uma opção. Será que rolaria? Bem, o ex-armador teve de ser persistente. Ambos estavam em Las Vegas e marcaram um almoço. No mesmo dia, também jantaram. Foi aí que o ala começou a assimilar a ideia. Gostou do plano e fechou contrato. A ironia é que, dias depois, Cassell deixou o Wizards e foi para o Clippers, trabalhar com Doc Rivers. Justamente o time para o qual Pierce acreditava que iria, caso não renovasse com o Nets.

2503-690978FrUm card do passado: Chris Webber. Infelizmente, aqui cabe um lembrete desagradável. Das últimas duas vezes que o time da capital conseguiu montar uma base forte e promissora, o sucesso durou pouco. No final dos anos 90, com a reunião de dois dos Fab 5, C-Webb e Juwan Howard, a equipe sonhava alto. Em 1996-97, chegaram a enfrentar o mítico Bulls nos playoffs e, claro, foram eliminados. A expectativa, porém, era de que voltassem ao mata-mata, e mais fortes. Não rolou: na temporada seguinte, até venceram mais do que perderam (42-40), e não foi o suficiente. As frustrações foram se acumulando, e a franquia fez uma das piores trocas possíveis: mandou Webber para Sacramento e recebeu Mitch Richmond e Otis Thorpe, dois veteranos que já estavam capengando. Na década passada, o núcleo formado por Arenas, Jamison e Butler durou mais tempo, deu trabalho para o Cavs do jovem LeBron, mas acabou se dissipando. A ver o que acontece com a formação de Wall e Beal.


Arenas deve ser próxima estrela renegada da NBA a jogar na China
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Giancarlo Giampietro

Stephon Marbury abriu o caminho. Tracy McGrady partiu ano. E já, já os dois jogadores devem ter a companhia de mais uma estrela renegada da NBA na China: Gilbert Arenas, que, segundo consta, recebeu… Hã… Zero propostas para estender sua carreira na liga norte-americana.

Marbury eterno

Marbury eterno: ex-armador de Knicks, Suns, Nets e Wolves é ídolo em Pequim

Ao que tudo indica, levando em conta  a cultivação intensa de novos talentos nos Estados Unidos, a crise europeia, o dinheiro das corporações chinesas e a carência de ídolos no campeonato do país, não seria de se estranhar que outros antigos All-Stars também sigam esta rota.

Tal como T-Mac, Arenas sofreu com muitas lesões nos últimos anos, mas sua ficha corrida de problemas fora de quadra pesa ainda mais para forçar seu exílio.

Que tipo de problema? Bem, tirando o episódio de ter sacado uma pistola e ameaçado um bangue-bangue com Javaris Crittenton no vestiário do Washington Wizards, ele acabava incomodando mais suas franquias, no aspecto corporativo, devido ao seu comportamento errático. Em um primeiro momento, seu senso de humor atraía fãs e rendia um bom lucro para a franquia. Desde o episódio das armas, porém, qualquer piada do veterano, descambava para o mau gosto para a opinião pública.

Orlando Magic e Memphis Grizzlies ainda estenderam a mão para o escolta, mas seu basquete já não lembrava em nada o daquele astro da década passada – em 2005-2006, foram 29,3 pontos de média –, nos tempos em que perturbava as defesas com um primeiro passo explosivo, muita criatividade no drible e um arremesso que funcionava de muitos ângulos diferentes. Aos 30, ele deixa a NBA com 20,7 pontos por jogo.

Na China, pode ser que o Agente Zero, caso acerte mesmo com o Guangdong Southern Tigers, chegue a esse tipo de número. No ano passado, devido ao locaute, alguns americanos se precipitaram e fecharam contrato com times chineses. Entre eles estavam JR Smith e Wilson Chandler. Suas estatísticas foram de videogame. Smith chegou a marcar 60 pontos numa partida, com direito a 14 chutes certos em 18 tentativas da linha de três pontos. Sim, pode ler a frase anterior den ovo que é tudo verdade. Em seu jogo de estreia, Wilson Chandler somou 43 pontos e 22 rebotes. Tipo Wilt Chamberlain.

JR Smith, na maior folga

JR Smith sofreu para se adaptar fora de quadra; quando jogava, reinava na China

Tratado como um pária em Nova York, Stephon Marbury, aliás, já virou estátua na capital chinesa depois de ter ajudado o Beijing Ducks os Patos de Pequim a conquistar o título na última  campanha ao marcar 41 pontos no Jogo 5 das finais do campeonato. Ele está no país há três temporadas.

Por isso, na hora de receber uma oferta com um ano de contrato garantido, de poder explorar um mercado gigantesco e ainda mandar em quadra, fica difícil para um veterano dizer não. “Os jogadores que podem ganhar um salário mínimo na NBA podem muito bem decidir ir para a China, em vez de esperar por um contrato da NBA”, afirmou o agente Mark Bartelstein, que trabalha com mais de 30 atletas na liga americana.

A não ser que esse veterano se chame Allen Iverson. Sempre do contra, o genial e genioso baixinho do Sixers já disse não aos chineses.

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Um artigo recente do HoopsHype expõe o quanto a crise europeia está mudando o mapa do mercado de transferências do basquete. Neste ano, um número muito reduzido de jogadores com selo NBA se transferiu para países que antes eram contumazes importadores como Espanha, Itália e Grécia.

“A Liga ACB espanhola costumava ser a melhor liga, mas a base do que eles podem bancar mudaram bastante. Os times de nível médio para baixo sofreram um grande golpe. Atletas que talvez estivessem ganhando US$ 250 mil por ano estão fazendo agora entre US$ 80 e 100 mil”, disse Bartelstein.

Isso quando o dinheiro cai de verdade no banco, claro. “Não há mais lugares seguros na Europa. A Fiba pode até ajudar, mas em muitos, se não na maioria dos lugares na Europa, você agora gasta mais tempo lutando pelo dinheiro de seu jogador do que administrando sua carreira”, afirmou o empresário Bill Neff.

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A temporada 2012-2013 da NBA começa pela primeira vez sem um chinês desde 2001, ano em que o pivô Wang Zhizhi assinou com o Dallas Mavericks para ser o primeiro atleta do país a jogar na grande liga. Depois de tanto vagar pelos EUA, sem confirmar seu talento, Yi Jianlian voltou para casa. Ele agora aguarda a chegada de Arenas ao Guangdong Southern Tigers.


Conheça os 15 jogadores “anistiados” da NBA
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Giancarlo Giampietro

Desculpem o trocadilho, mas é inevitável: boa parte destes aqui nem a Anistia Internacional deve defender. Pá-pum, o Vinte Um recapitula os 15 jogadores que já foram  alvos da chamada “cláusula de anistia” da NBA, à qual os clubes da liga podem recorrer para tirar de sua folha salarial um contrato indesejado, embora ainda sejam obrigados a pagar o prometido ao atleta:

Gilbert Arenas x Baron Davis

Arenas e Davis já foram mais felizes

Armadores: Gilbert Arenas (Orlando Magic), Baron Davis (Cleveland Cavaliers) e Chauncey Billups (New York Knicks)
São três jogadores com passagem pelo All-Star Game, que assinaram contratos gigantescos e supostamente liderariam seus clubes no auge de suas carreiras a campanhas de sucesso nos playoffs. No caso de Billups, deu certo, e fica até injusto listá-lo ao lado dos outros dois figuras. Campeão em 2004 pelo Detroit Pistons, MVP das finais daquele ano, ele só foi dispensado pelo Knicks no ano passado porque o clube vislumbrou a possibilidade de contratar Tyson Chandler – tanto que, prontamente, ele foi contratado pelo Los Angeles Clippers, pelo qual vai jogar a próxima temporada também.

Baron Davis assinou seu contrato com o Los Angeles Clippers para teoricamente formar uma grande dupla com Elton Brand em sua cidade preferida. Acontece que o pivô se mandou para Philadelphia, o primo pobre de LA se afundou novamente e o armador ficou mais interessado em sua carreira de produtor cinematográfico do que entrar em forma para jogar. Foi trocado para o Cleveland Cavaliers, que, na verdade, só estava interessado, mesmo, na escolha de Draft que levaria no negócio, ganhando no futuro um Kyrie Irving de presente. No campeonato passado, acabou ocupando a vaga de Billups em Nova York, mas esteve longe de causar qualquer tipo de impacto em quadra, privado de sua explosão física. Nos mata-matas, acabou sofrendo uma grave lesão no joelho e não joga mais neste ano.

Já Arenas… Bem… Por onde começar? Após defecar no tênis dos companheiros (sim, isso mesmo) e quase começar um bangue-bangue no vestiário, ser indiciado criminalmente e cair bastante de produção devido a uma cirurgia no joelho e o tempo inativo, ele ainda convenceu seu amigo Otis Smith, ex-gerente geral do Magic, a apostar em seu talento. Não deu nada certo, embora tenha ficado amigo de Dwight Howard. Foi cortado antes do campeonato, treinou sozinho por um tempão e descolou uma vaguinha no Memphis Grizzlies. Sua presença como reserva de Mike Conley foi insignificante, no fim.

– Alas: Charlie Bell (Golden State Warriors), Brandon Roy (Portland Trail Blazers), Travis Outlaw (Brooklyn/New Jersey Nets), James Posey (Indiana Pacers), Ryan Gomes (Los Angeles Clippers) e Josh Childress (Phoenix Suns).
Em uma quase-palavra: “Aaaargh”. Quem dá mais?

Bell: já não estava jogando nada mesmo, foi preso dirigindo alcoolizado, armou um barraco e público e acabou demitido para o time se aventurar no mercado de agentes livres , mesmo sem ganhar tanto assim. Roy: um craque, mas cuja estado precário dos joelhos lhe forçou uma aposentadoria precoce – ele agora tenta reviver a carreira. Outlaw: assinou um contrato de US$ 7 milhões por temporada com o Nets que ninguém entendeu, foi cortado um ano depois e já foi recolhido do lixo pelo Kings por US$ 4 milhões anuais, e todos continuaram sem entender. Posey: não era nem sombra do defesor implacável dos tempos de Celtics e Grizzlies. Gomes: dispensado para o Clippers contratar o quarentão Grant Hill. Josh Childress: quando voltou da Grécia, onde defendeu o Olympiakos, esqueceu seu jogo por lá.

Andray Blatche

Torcida da capital já não aturava mais Blatche

Alas-pivôs: Andray Blatche (Washington Wizards) e Luis Scola (Houston Rockets).
Dois jogadores opostos em termos de pacote físico: enquanto Scola faz o máximo com o mínimo (lento correndo, impulsão quase nula, mais baixo do que a média da posição), Blatche poderia ser rápido e explosivo e pular razoavelmente, além de bater os 2,10 m de altura. Poderia, mas não que quisesse. O desgosto da torcida do Washingotn com sua falta de preparo físico e intensidade em quadra chegou a um extremo em que, a cada vez que pegava na bola durante a última temporada, era vaiado. A cada bola. Já Scola é uma aberração aqui. Na ânsia de contratar Dwight Howard ou Andrew Bynum ou Neymar, o clube texano simplesmente decidiu limpar o salário do craque argentino, que havia perdido um pouco de rendimento, mas aind é extremamente produtivo. Voi resgatado na hora pelo Phoenix Suns.

Pivôs: Darko Milicic (Minnesota Timberwolves), Brendan Haywood (Dallas Mavericks), Elton Brand (Philadelphia 76ers) e Chris Andersen (Denver Nuggets).
Os grandalhões bem pagos de sempre. Darko já nem eterna promessa é mais, o que não impedirá de assinar mais um contrato milionário este ano. Haywood é imenso, ainda apanha rebotes e protege o aro, mas nada que justifique seu salário de US$ 21 milhões que tinha de contrato com o Mavs para as próximas três temporadas – por um preço menor, o Bobcats topou. Elton Brand receberia US$ 18 milhões do Sixers este ano, mas o time da Filadélfia optou por seguir outro caminho – agora, US$ 2 milhões desse total ao menos serão bancados pelo mesmo Mavs. Andersen, outro jogador ainda produtivo, o cara mais tatuado da história da liga, 100% carisma e impulsão, já não se encaixava  mais na jovem e pulsante rotação de pivôs do Nuggets.

Algumas notas para entender isso direito:

– cada jogador dispensado fica por 48 horas em estado de “waiver”, período  no qual os clubes abaixo do teto salarial podem tentar sua contratação em uma espécie de leilão, fazendo seus lances para a direção da liga sigilosamente;

– a partir do momento que o clube contrata esse jogador, o valor de seu lance vencedor será deduzido do que a franquia que o dispensou tem a pagar de salários;

– uma vez recolhido o jogador, ele não pode ser trocado por seu treinador pelo menos até o final da temporada. Isto é, Haywood obrigatoriamente fica em Charlotte até o fim da campanha 2012-2013;

– o prazo para “anistiar” os jogadores nesta temporada se enceroru na terça-feira. Isso não impede os clubes de sispensarem mais nomes eventualmente nos próximos meses, mas o saleario deles ainda constará na folha de pagamento.

– se o jogador não for recrutado por ninguém durante a fase de leilão, vira um agente livre total no mercado, podendo negociar com quem quiser. E, não, por enquanto ninguém teve coragem de assumir o risco Blatche.


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