Vinte Um

Arquivo : Yi Jianlian

Guia olímpico 21: Nigéria, Venezuela e China, azarões
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Giancarlo Giampietro

Pergunta: Vamos agrupar cada equipe olímpica em diferentes escalões, de acordo com seu potencial (na opinião de um só blogueiro enxerido)?

Reposta: Sim, vaaaaamos!

Então aqui estão:

1) EUA
2) Espanha e França
3) Sérvia e Lituânia
4) Argentina, Austrália, Brasil e Croácia
5) Nigéria e Venezuela
6) China

Que fique claro: não é que essas castas sejam imóveis e que haja um abismo de uma para outra – excluindo os Estados Unidos como óbvios indicados ao ouro. Entre os segundo, terceiro e quarto andares, a diferença não é muito grande. São todos candidatos ao pódio. Basta lembrar que a seleção brasileira venceu França e Sérvia pela última Copa do Mundo e também bateu a Espanha em Londres 2012, num jogo muito estranho, mas paciência. E talvez até mesmo a Nigéria possa subir um piso, dependendo de sua lista final.

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Vamos com as seleções que estão faltando no terceiro grupo:

NIGÉRIA

A Nigéria chega forte para complicar o Grupo B

A Nigéria de Will Voigt chega forte para complicar o Grupo B

Armadores: Ben Uzoh, Josh Akognon e Michael Umeh.
Alas: Al-Farouq Aminu, Michael Gbinije, Chameberlain Oguchi e Ebi Ere.
Pivôs: Ike Diogu, Shane Lawal, Andy Ogide, Alade Aminu e Ekene Ibekwe.

Desde que os descendentes americanos de alto nível começaram a defender o país – pelo que me lembro, desde o Mundial de 2006, com Akognon, Ere e Ibekwe  já em quadra –, este elenco é o mais talentoso que a Nigéria conseguiu reunir. A verdade é que o Grupo B, com os atuais campeões africanos, se torna muito desafiador para qualquer de seus participantes. Acreditem: as seis seleções têm reais chances de se classificar. A história seria bem diferente se fosse a China.

A linha de frente nigeriana é demais. Aminu vira praticamente um Andre Iguodala pela seleção.  Diogu, guardadas todas as devidas proporções, é como se fosse um Luis Scola para eles, atacando de todos os cantos da quadra com muita munheca e controlando os rebotes com enormes mãos e envergadura. Lawal se firmou no basquete europeu até chegar a um Barcelona devido a seu vigor físico. Um cavalo. O restante oferece uma combinação de rebotes, capacidade atlética e chute. E pensar que poderiam ser mais fortes, caso Festus Ezeli e Epke Udoh tivessem seguro.

Na perímetro, Uzoh bota velocidade no jogo e pressão na defesa. Akognon é um grande pontuador, chutador, e o mesmo vale para Oguchi. Umeh também é uma ameaça com o chute de fora. Gibinije acaba de sair de Syracuse para o Pistons, e tem versatilidade e muitas ferramentas para costurar tudo.

Esses caras são muito experientes, com currículo vasto no basquete europeu. Aminu e Gbinije, justamente os dois com contrato de NBA, são os únicos nascidos nos anos 90.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?
>> Espanha ainda depende de Pau Gasol. O que não é ruim
>> Argentina tem novidades, mas ainda crê nos veteranos
>> França chega forte e lenta, com uma nova referência

VENEZUELA

Em ascensão, Vargas assume a armação venezuelana sem Vásquez

Em ascensão, Vargas assume a armação venezuelana sem Vásquez

Armadores: Gregory Vargas, David Cubillán e Heissler Guillent.
Alas: John Cox, Dwight Lewis, José Vargas e Anthony Pérez.
Pivôs: Gregory Echenique, Néstor Colmenares, Windi Graterol, Miguel Ruiz Miguel Marriaga.

Estamos todos prontos para o show de Néstor “Che” García, não? Entre todos os treinadores de todas as modalidades que os cariocas vão poder ver de perto nas próximas semanas, não é nenhuma ousadia escrever que vai ser praticamente impossível encontrar um ‘professor’ que faça tanto estardalhaço e que jogue tão junto com seus atletas como o argentino que se tornou um ídolo bolivariano nos últimos anos. García desenvolveu com os venezuelanos o tipo de identificação que Ruben Magnano jamais buscou com brasileiros – e não que essa fosse uma exigência do trabalho.

Com o argentino, a seleção vinotinto conseguiu alguns de seus resultados mais expressivos, como o bicampeonato sul-americano em 2014 e 16 e a incrível conquista da Copa América entre esses títulos, em 2015. Já podemos dizer que esta é a equipe mais vitoriosa do país e a mais expressiva desde que Carl Herrera, Gabriel Estaba García, Victor Díaz, Omar Roberts, entre outros, derrotaram a seleção brasileira para decidir a Copa América de 1991 com o Dream Team. Che também vibrou muito com o Guaros de Lara deste ano, com a Liga das Américas, encerrando a hegemonia brasileira na competição de clubes.

A seleção agora tenta levar, hã, esse inesperado período de eldorado para as quadras olímpicas, o que é uma ooooutra história. De todo modo, para uma equipe que derrotou em sequência uma abarrotada equipe do Canadá e a Argentina, no ano passado. Mesmo sem Greivis Vásquez.

Ninguém vai dizer que a Venezuela se torna um time mais forte sem sua principal figura. Vásquez é desses casos de “astro da NBA” que se dá muito bem com os companheiros locais, sem crise de ciúmes ou de histeria. Sua carreira na liga americana já vai para a sétima temporada, com um contrato de US$ 6 milhões pelo Brooklyn Nets. Em decisão em conjunto com o clube (ou não…), ficou decidido que o melhor para ambas as partes era que ele desencanasse do #Rio2016 para se recuperar devidamente de uma cirurgia no pé.

A estrela ajudaria muito na condução do time, mas García ainda conta com três armadores muito talentosos, como Gregory Vargas, que fez ótima campanha pelo Maccabi Haifa na temporada passada e agora se transferiu para o SLUC Nancy, da França. Tanto ele como Cubillán e Guillent podem quebrar a primeira linha defensiva com facilidade e invadir o garrafão. São jogadores muito agressivos que vão gerar boa parte dos pontos da seleção, acompanhados por John Cox, que é famoso por ser o Primo-do-Kobe, mas tem drible e capacidade atlética para ser reconhecido pelos seus próprios feitos em quadra.

García conta com as investidas individuais desses jogadores como opção de desafogo num sistema de jogo bastante controlado. A ênfase do argentino tem sido defesa, defesa e defesa – tal como Magnano fez em seus primeiros anos por aqui. Para tornar essa missão mais fácil, o argentino insiste que seus atletas ataquem em meia quadra, gastando bastante o relógio. É por isso que eles conseguem tomar apenas 80 pontos dos Estados Unidos num amistoso (mesmo que tenham feito apenas 45. Essa abordagem definitivamente não vai mudar agora. A ideia é amarrar o jogo, ir de posse em posse de bola e esperar que a habilidade de seus armadores possa fazer a diferença com placares apertados. Isso pede paciência e muita atenção por parte dos adversários.

CHINA

Zhou Qi, draftado pelo Rockets, é promessa chinesa. Mas para 2020

Zhou Qi, draftado pelo Rockets, é promessa chinesa. Mas para 2020

Armadores: Ailun Guo, Jiwel Zhao e Ran Sui.
Alas: Peng Zhou, Yanyuhang Ding, Li Gen, Zou Yuchen e Zhai Xiaochuan.
Pivôs: Jianlian Yi, Qi Zhou, Zhelin Wang e Muhao Li.

A China sobrou na Copa da Ásia/Campeonato Asiático/Torneio da Ásia/AsiaBasket/seja lá qual for o nome da competição, mas ainda não está pronta para causar impacto nestes Jogos Olímpicos. Se os seus jovens jogadores seguirem progredindo, essa história pode mudar para #Tóquio2020, porém.

O time que ganhou o torneio local tinha média de altura de 2,03m. É difícil encontrar um plantel mais espichado que esses, e, no continente asiático, isso ainda faz mais diferença. Tanta envergadura incomodou demais os oponentes na fase final. Depois de limitar o Irã a apenas 28,6% nos arremessos pela semifinal, seguraram os filipinos em 35,4% e, principalmente, em 25% na linha de três.

O engraçado nesse time chinês é que o papo de “Torres Gêmeas” não cola. Na real, os caras têm todo um verdadeiro condomínio de arranha-céus, escalando rapazes como Qi Zhou, de 20 anos* e 2,17m, Wang Zhelin, 22 anos e 2,14m, Li Muhao, 24 anos e 2,18m, além do nosso velho conhecido Yi Jianlian, de 2,13m, que faz as vezes de veterano aos 28. (*Em tese. Tal como acontece com Thon Maker, do Milwaukee Bucks, há uma grande desconfiança a respeito da idade do magricela, que é o melhor prospecto do time, de qualquer forma.

O problema para as Olimpíadas é que seus adversários terão envergadura e muito mais em seu pacote: experiência, talento e força, contra jogadores cujo intercâmbio se resume aos estrangeiros que frequentam a liga chinesa e estão claramente em fase de desenvolvimento técnico e físico.  ou de outro, são vistos como embaixadores da nação. Os interesses ao redor deles vão muito além do campo esportivo, digamos.

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Campeão asiático, Irã está no Mundial. E o que mais sobre o 1º torneio classificatório?
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Giancarlo Giampietro

Haddadi ali com o bração aberto

Irã: WE ARE THE CHAMPIONS! Via @HamedHaddadi

A profecia se fez como previsto: 2013, e Hamed Haddadi lidera o Irã a mais um título do campeonato asiático da Fiba. Como MVP, claro.

Daria para fazer aquela autopromoção básica, né? Sacar aquele bacaninha, supimpa “conforme antecipamos”, mas isso já está mais batido que a própria rotina de glórias e dominância do pivô no vasto continente. Pensou em basquete de seleções na Ásia, pensou em Haddadi, meus amigos.

Na final, já com a vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014 garantida, o iraniano se aproveitou da ausência do americano Marcus Douthit e trucidou os pivôs das Filipinas, os donos da casa, somando 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos. Escreveria aqui que ele teve sua jornada de Shaquille O’Neal, mas nem isso vale, já que converteu 71,4% de seus lances livres.

Agora, descentralizando um pouco o post, fugindo da sombra de Haddadi, vale destacar que a final em Manila não foi exatamente um passeio para o país do Oriente Médio. O primeiro tempo terminou com uma vantagem de apenas um ponto (35 a 34) para os visitantes. Até que as parciais de 27 a 19 e 23 a 18 nos quartos seguintes resolveram a parada (85 a 71).

Foi um contraste de duas abordagens ofensivas distintas.

Os filipinos, por Deus!, arremessaram 34 vezes da linha de três pontos, contra 35 de dois. Por uma mísera e infeliz bolinha de dois que eles não conseguem a maioria absoluta das tentativas do meio da quadra. Um pecado certamente lamentado por Porto Rico e muitos patrícios. Não importando de onde dispararam, o fato é que a turma deixou os dois aros significativamente avariados, com uma pontaria de apenas 31,9% no geral – se de fora eles fizeram 29,4%, não dá para dizer que havia uma bola de segurança interna (apenas 34,3%).

Já os iranianos ao menos tinham Haddadi para desequilibrar. Com ele, acertaram 61,4% dos chutes de dois pontos, para compensar os desastrosos 17,6% de longa distância (3/17, uma blasfêmia). Eles também se atrapalharam todos com a bola, cometendo 19 turnovers.

De todo modo, mesmo com essa carência evidente no seu jogo de perímetro, é de se admirar o fato de que o Irã tocou sua campanha sem contar com a ajuda de nenhum estrangeiro, algo cada vez mais raro em competições internacionais. Jogaram, mesmo, e de forma competente, com seus Davoudichegani, Afagh e Jamshidijafarabadi, para pesadelo dos locutores nacionais.

Coreia é bronze!

Coreia do Sul de Eric Sandrin está na Copa também

O mesmo vale, aliás, para a Coreia do Sul, que beliscou a terceira vaga ao bater Taiwan na disputa pelo bronze, por 75 a 57. Quer dizer, se formos levar ao pé-da-letra, havia um estrangeiro no time: o veterano ala-pivô Lee Seung-Jun, de 35 anos, também conhecido como Eric Sandrin, norte-americano filho de uma coreana e que andou jogando até mesmo pelo Brasil na década passada – foi parceiro de Sandro Varejão e Ratto no Brasília. Andarilho, passou também por Luxemburgo e Portugal até se estabelecer lá por perto de Seul. Então é como se ele fosse um Scott Machado veterano.

Para os torcedores saudosistas do Portland Jail Blazers, a nota triste fica pela ausência do gigante Ha Seung-Jin. Xuim. Nesta preliminar, o sul-coreanos ensinaram aos filipinos como se faz, convertendo 45,8% de seus arremessos de três pontos (pontaria superior ao que tiveram de dois, 43,9%). Inicialmente, esse número seria um alívio. Tudo o que gostaríamos de escrever aqui era que, a despeito de toda essa mudança climática e da revolução 2.0, ainda poderíamos respirar em paz sabendo que um time coreano ainda chuta bem de fora. Mas, no geral, eles tiveram rendimento de apenas 34% no campeonato (66/194), algo alarmante. Estamos todos fritos, mesmo.

Quer dizer: todos menos Haddadi.

*  *  *

A China, com todo a grana, astros (ou ‘astros’, coff, coff!) da NBA importados para sua liga nacional, protagonizou a grande façanha do Campeonato Asiático, ao ficar sem vaga direta para a Copa do Mundo. A equipe passou por um papelão na fase de quartas de final ao perder Taiwan por 96 a 78. Justo para quem! Nessa partida, os chineses venceram o primeiro tempo por dez pontos de vantagem, mas tomaram uma virada escandalosa no terceiro período (31 a 12). Para registrar, o pivô Yi Jianlian perdeu alguns jogos no torneio devido a uma contusão, mas esteve em quadra nos mata-matas. Em cinco jogos, ele teve médias de 17,4 pontos e 6,6 rebotes em apenas 24,6 minutos por partida. Na hora de distribuição dos quatro convites para o torneio, porém, é bem provável que a Fiba lhes reservem um.

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Interessante a classificação das Filipinas para o Mundial. O país é doente por basquete, a ponto de entender que JaVale McGee é uma espécie de Deus – vejam que coração bom têm os católicos de lá. Kobe Bryant anda por lá neste momento, enfrentando tempestade e tudo, LeBron James fez uma visita-relâmpago há pouco, e a capital Manila conta com uma arena de primeiro nível, que, depois de receber o torneio continental neste mês, vai acolher um amistoso de pré-temporada entre Rockets e Pacers, no dia 10 de outubro.

Mall of Asia Arena

A Mall of Asia Arena, com capacidade para 16 mil espectadores

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Os torneios qualificatórios regionais continuam nesta semana com o clássico entre Austrália e Nova Zelândia, na Oceania. O primeiro jogo será na quarta-feira, em Auckland, e o segundo, domingo, em Canberra. Com Patty Mills, Joe Ingles, David Andersen, Matthew Dellavedova e a revelação Dante Exum no elenco, os Boomers são claramente os favoritos. Pelos Tall Blacks, nada de Steven Adams (jovem pivô selecionado na 12ª posição do Draft da NBA pelo Oklahoma City Thunder) e do veterano Kirk Penney. Destaque para o ala-armador Corey Webster, um cestinha explosivo, e para o ala faz-tudo Tom Abercrombie.


Arenas deve ser próxima estrela renegada da NBA a jogar na China
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Giancarlo Giampietro

Stephon Marbury abriu o caminho. Tracy McGrady partiu ano. E já, já os dois jogadores devem ter a companhia de mais uma estrela renegada da NBA na China: Gilbert Arenas, que, segundo consta, recebeu… Hã… Zero propostas para estender sua carreira na liga norte-americana.

Marbury eterno

Marbury eterno: ex-armador de Knicks, Suns, Nets e Wolves é ídolo em Pequim

Ao que tudo indica, levando em conta  a cultivação intensa de novos talentos nos Estados Unidos, a crise europeia, o dinheiro das corporações chinesas e a carência de ídolos no campeonato do país, não seria de se estranhar que outros antigos All-Stars também sigam esta rota.

Tal como T-Mac, Arenas sofreu com muitas lesões nos últimos anos, mas sua ficha corrida de problemas fora de quadra pesa ainda mais para forçar seu exílio.

Que tipo de problema? Bem, tirando o episódio de ter sacado uma pistola e ameaçado um bangue-bangue com Javaris Crittenton no vestiário do Washington Wizards, ele acabava incomodando mais suas franquias, no aspecto corporativo, devido ao seu comportamento errático. Em um primeiro momento, seu senso de humor atraía fãs e rendia um bom lucro para a franquia. Desde o episódio das armas, porém, qualquer piada do veterano, descambava para o mau gosto para a opinião pública.

Orlando Magic e Memphis Grizzlies ainda estenderam a mão para o escolta, mas seu basquete já não lembrava em nada o daquele astro da década passada – em 2005-2006, foram 29,3 pontos de média –, nos tempos em que perturbava as defesas com um primeiro passo explosivo, muita criatividade no drible e um arremesso que funcionava de muitos ângulos diferentes. Aos 30, ele deixa a NBA com 20,7 pontos por jogo.

Na China, pode ser que o Agente Zero, caso acerte mesmo com o Guangdong Southern Tigers, chegue a esse tipo de número. No ano passado, devido ao locaute, alguns americanos se precipitaram e fecharam contrato com times chineses. Entre eles estavam JR Smith e Wilson Chandler. Suas estatísticas foram de videogame. Smith chegou a marcar 60 pontos numa partida, com direito a 14 chutes certos em 18 tentativas da linha de três pontos. Sim, pode ler a frase anterior den ovo que é tudo verdade. Em seu jogo de estreia, Wilson Chandler somou 43 pontos e 22 rebotes. Tipo Wilt Chamberlain.

JR Smith, na maior folga

JR Smith sofreu para se adaptar fora de quadra; quando jogava, reinava na China

Tratado como um pária em Nova York, Stephon Marbury, aliás, já virou estátua na capital chinesa depois de ter ajudado o Beijing Ducks os Patos de Pequim a conquistar o título na última  campanha ao marcar 41 pontos no Jogo 5 das finais do campeonato. Ele está no país há três temporadas.

Por isso, na hora de receber uma oferta com um ano de contrato garantido, de poder explorar um mercado gigantesco e ainda mandar em quadra, fica difícil para um veterano dizer não. “Os jogadores que podem ganhar um salário mínimo na NBA podem muito bem decidir ir para a China, em vez de esperar por um contrato da NBA”, afirmou o agente Mark Bartelstein, que trabalha com mais de 30 atletas na liga americana.

A não ser que esse veterano se chame Allen Iverson. Sempre do contra, o genial e genioso baixinho do Sixers já disse não aos chineses.

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Um artigo recente do HoopsHype expõe o quanto a crise europeia está mudando o mapa do mercado de transferências do basquete. Neste ano, um número muito reduzido de jogadores com selo NBA se transferiu para países que antes eram contumazes importadores como Espanha, Itália e Grécia.

“A Liga ACB espanhola costumava ser a melhor liga, mas a base do que eles podem bancar mudaram bastante. Os times de nível médio para baixo sofreram um grande golpe. Atletas que talvez estivessem ganhando US$ 250 mil por ano estão fazendo agora entre US$ 80 e 100 mil”, disse Bartelstein.

Isso quando o dinheiro cai de verdade no banco, claro. “Não há mais lugares seguros na Europa. A Fiba pode até ajudar, mas em muitos, se não na maioria dos lugares na Europa, você agora gasta mais tempo lutando pelo dinheiro de seu jogador do que administrando sua carreira”, afirmou o empresário Bill Neff.

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A temporada 2012-2013 da NBA começa pela primeira vez sem um chinês desde 2001, ano em que o pivô Wang Zhizhi assinou com o Dallas Mavericks para ser o primeiro atleta do país a jogar na grande liga. Depois de tanto vagar pelos EUA, sem confirmar seu talento, Yi Jianlian voltou para casa. Ele agora aguarda a chegada de Arenas ao Guangdong Southern Tigers.


Lavada contra a China, classificação garantida e armadilha a ser evitada
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Giancarlo Giampietro

Varejão marca Jianlian

Yi Jianlian foi dominado pelos pivôs brasileiros: apenas cinco pontinhos, três deles em lances livres

Para um time que ainda jogava por sua classificação, impressionou negativamente a pouca intensidade dos chineses neste sábado. Ressaca, ou não, a seleção brasileira não tinha nada com isso: se impôs desde o início e fez seu trabalho muito bem, obrigado, para vencer por 98 a 59.

Para garantir a classificação para as quartas, a equipe começou sua partida buscando o jogo interior, ufa, e viu aquele Tiago Splitter eficiente, ao qual se habituou nas últimas temporadas, executar bons movimentos, abrindo caminho para  uma boa diferença logo de cara. Com pivôs menores e mais leves, a China teve de encolher sua marcação e permitiu uma série de chutes de três pontos para os brasileiros, e dessa vez, livrinhas, as bolas caíram.

Não houve egoísmo também, tendo o time acumulado 27 assistências. Foram pouquíssimos os desperdícios de bola (6). A defesa não afrouxou em nada, continuou desestabilizando os chineses e forçou este desempenho pífio: nos primeiros 20 minutos, seu oponente somou seis erros e apenas uma assistência, por exemplo. Na segunda etapa, foi um treino.

(Agora um parêntese obrigatório, e que se tome cuidado com as armadilhas: foram 25 tiros de longe e 12 cestas, a maioria equilibrada, sem pressão alguma. Mas não achem os brasileiros que vão enfrentar uma defesa esburacada como essa em duelos com Espanha, França e Argentina. Fica o exemplo do comportamento dos Estados Unidos hoje contra a Lituânia, acreditando que a tempestade de três pontos que causaram contra a Nigéria se replicaria naturalmente.)

*  *  *

Só Leandrinho, Giovannoni e Alex ficaram em quadra por mais de 20 minutos, e raspando. Deu, então, até para Caio Torres e Raulzinho jogarem. Pelo andar da carruagem olímpica brasileira, a convocação do pivô do Flamengo parece cada vez mais deslocada: se era para ter um jogador para ser usado tão pouco no torneio, não era melhor investir em alguém mais jovem, mesmo?

*  *  *

Excluindo os jogos dos Estados Unidos, essa foi a maior vitória do torneio olímpico masculino, com 39 pontos de vantagem. A maior diferença até então havia sido da Argentina sobre a Lituânia: surpreendentes 23 pontos (102 x 79). Os argentinos também haviam vencido a Tunísia pelos mesmos 23 pontos (92 a 69).

*  *  *

Agora o assunto que vai dominar as próximas 48 horas: ganhar, ou não, da Espanha, para evitar um eventual confronto com os Estados Unidos nas semifinais. Imagino que haverá muitos a torcer para uma vaga como terceiro colocado. Desta forma, evitaríamos também o clássico diante da Argentina nas oitavas. Bem… Para mim, não tem essa de entregar jogo. A bola está com Magnano.

*  *  *

Duas notas sobre a China:

– Wang Zhizhi foi o primeiro atleta do país a jogar na NBA, contratado em 2001 pelo Dallas Mavericks, um ano antes de Yao Ming ser selecionado pelo Houston Rockets na primeira colocação do Draft que também levou Nenê para a liga norte-americana.

– Quem se lembra do técnico Robert Donewald Jr.? Ele foi contratado pelo ex-agente de Nenê e Leandrinho, Michael Coyne Jr., para trabalhar no Brasil na temporada 2005-2006 com o ala Marquinhos. Ele foi o treinador do time de São Carlos, do qual Nenê também participou na formação. Depois, ele ainda treinou Guarujá, antes de partir para a Ásia. Neste meio-tempo, Donewald trabalhou com Marquinhos e o pivô Morro, do Pinheiros, na preparação dos dois atletas para o Draft da NBA de 2006. O ala foi selecionado na posição 43 pelo Hornets.

 


O corte de Augusto e os pivôs das Olimpíadas
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Giancarlo Giampietro

Tá, vocês já sabem: Augusto Lima foi o último cortado da seleção brasileira masculina para as Olimpíadas de Londres-2012. No fim, o que isso pode significar?

Caio Torres, seleção brasileira

Caio Torres, um dos 12 olímpicos

Vamos tentar entender. Mas deixando bem claro: o que vem aqui abaixo é o produto de especulações internas do QG 21, sem informações que venham diretamente de Foz do Iguaçu, muito menos de Córdoba, na Argentina, ok? E outra: o post está imenso, sim, mas com informações que julgo interessante compartilhar e discutir de modo um pouco mais prolongado do que o normal.

Adelante, então:

– Começando pelo mais simples, algo que muitas vezes pode ser ignorado em favor de teses mais mirabolantes. Magnano pode realmente achar que Caio é o melhor jogador entre os dois pivôs ou pelo menos considerar que era o que estava em melhores condições para ir aos Jogos.

– Além disso, de informação, mesmo, dá para dizer que Magnano conhece Caio há tempos e sempre o admirou. Para justificar essa afirmação, resgatamos uma passagem que o blogueiro testemunhou lá atrás em 2004 (caceta, já são quase dez anos atrás!), na distante ilha de Chiloé, cidade de Ancud, no Chile. A anedota já foi contada em nossa encarnação passada, mas nem todo mundo aqui nessa nova casa tem ligações com o sobrenatural para saber disso, né? Então segue o que já foi publicado no VinteUm do além-vida, na ocasião da divulgação da primeira lista de Magnano: “Sabemos que Magnano adora Caio desde os tempos de base. Em 2004, em Ancud, cidadezinha a mil quilômetros de Santiago, lá embaixo no continente, o treinador já via o pivôzão fazer estragos, mesmo sendo dois anos mais novo que a concorrência num Sul-Americano. Estava lá e via o quanto ele se divertia em falar “The Big Man”, de boca cheia, subindo as escadas, em minha direção depois de ver o brasileiro atropelar os adversários no garrafão. Ao ver seu nome novamente incluído na relação principal, não tem como esquecer a cena.”

Faltou dizer que fazia um frio danado, e Magnano só estava virando as costas para o jogo para buscar um copo de café na tendinha bem tímida armada dentro daquele inesquecível ginásio, que precisava de uma calefação daquelas.

– Sabendo dos problemas físicos de Nenê, a convocação de Caio, também não deixa de ser um movimento de precaução do argentino, não? Mesmo na melhor forma física de sua vida, o pivô do Flamengo ainda é uma fortaleza.

David Andersen x Andrei Kirilenko

Andersen e Kirilenko: força bruta?

– Se ignorarmos as dores no pé de Nenê, talvez o argentino esteja se preparando para batalhas físicas de garrafão em Londres-2012. Esse é um mantra constantemente evocado aqui, ali e em todo lugar. Será, mesmo? Convém aqui, então, um resumo não tão breve sobre o que nos aguarda na primeira fase olímpica, pelo Grupo B, em termos de pivôs:

1) a Austrália tem um garrafão de respeito, com David Andersen, Aleks Maric e Matt Nielsen, todos beeeem rodados em alto nível na Europa. Desses, contudo, apenas Maric é alguém que investe muita energia de costas para a cesta, dando suas pancadas – algo que só fez em treino nas últimas duas temporadas, diga-se, já que estava enterrado no banco do Panathinaikos depois de um a Euroliga imponente pelo Partizan. Andersen também pode fazer isso, mas faz tempo que sua preferência é flutuar com frequência para o perímetro, dada sua habilidade no chute de média distância. Nielsen opera basicamente da cabeça do garrafão, fazendo bons corta-luzes, arremessando e orientando os companheiros;

2) a Rússia tem Timofey Mozgov e Sasha Kaun, um NBA e outro CSKA, dois grandalhões, mas nenhum deles é uma grande arma ofensiva. Varejão não teria problema com nenhum deles, por exemplo. O restante são alas-pivôs versáteis, que chegam na zona pintada com velocidade e, não, força;

Pau Gasol x Yi Jianlian

Há uma boa diferença entre um Pau Gasol e um Yi Jianlian

3) a China joga com Yi Jianlian e o imortal Wang Zhizhi, que são da categoria pena, né? Mais chutadores do que tudo. Tem também um sujeito de 2,21 m inscrito, Zhang Zhaoxu. Se ele fosse minimamente ameaçador, com essa altura e 24 anos, já teríamos ouvido a alguém mencioná-lo, creio;

4) a Grã-Bretanha está mais ou menos no mesmo patamar dos australianos, com gente bem experiente e pesada em Robert Archibald e Joel Freeland. Agora, são dois que Splitter cansou de enfrentar na Espanha, quase sempre com resultados mais que positivos. Já Pops Mensah-Bonsu tem um dos melhores nomes do torneio olímpico e é um ótimo atleta, mas não alguém para Caio marcar. Daniel Clark e Eric Boateng também podem apresentar um currículo razoável, mas ninguém pode temê-los.

(Nota de rodapé? Clark jogou com Caio no Estudiantes espanhol anos atrás e seguiu no clube, enquanto o brasileiro foi dispensado e/ou decidiu se desligar. Dava pra desenvolver mais aqui, mas iríamos nos estender demais, né? Tem a ver com jogador comunitário, imaturidade, muitas apostas no clube etc.)

5) Espanha: aí, sim. Os irmãos Gasol, o atlético Ibaka e o chatíssimo Felipe Reyes, daqueles que parece lento, baixo, mas é forte e técnico pra burro e nunca desiste. Aqui é pedreira para qualquer time do mundo.

6) Se quisermos já prospectar sobre as oitavas, os EUA vão apenas com um pivô tradicional para Londres, mesmo caso da Nigéria; a Argentina tem Juan Pablo Gutiérrez, a Lituânia leva o jovem Jonas Valanciunas e o robótico Javtokas; na França, os três pivôs listados são Ronny Turiaf, Kevin Seraphin e Ali Traoré, gente. São jogadores que podem render bem em determinadas situações, mas esse trio não intimida nem a China ofensivamente.

Façam as contas. A era dos gigantes, a era do “cincão” já acabou faz tempo, galera. Mesmo um Dwight Howard não representa exatamente o mesmo tipo de problema que era lidar com um Patrick Ewing, ou Arvydas Sabonis. O jogo vai mudando.

– Essa conclusão nos inclinaria para a convocação de Augusto? Teoricamente, sim. Seu jogo realmente se encaixa melhor com o que vamos ver pela frente: um pivô ágil, determinado, que corre toda a quadra. Não se iludam com algo: força física nem sempre quer dizer mais intensidade e melhor presença defensiva. E esse não é um ataque contra Caio, de modo algum. Aqui estou mirando, na real, os mantras, dogmas repetidos a esmo e que adotamos como a verdade mais pura e absoluta, sem muitas vezes nem parar para pensar a respeito, mesmo. Agora, não dá, necessariamente, para cravar que Augusto era a melhor escolha. Ele é mais jovem, mais cru e teve de superar uma série de questões físicas e médicas durante a última temporada.

– Questionar se não era o caso de cortar Raulzinho me parece algo bem inadequado. Ainda mais vendo Magnano usar Larry como um ala sem receio algum, nos últimos amistosos sem Leandrinho e/ou Marquinhos. E, quanto ao ligeirinho, não dá mais para considerar Leandrinho alguém que “joga, quebra o galho de 1”. Mesmo, e por favor. Na NBA, ele não executa mais esse tipo de bico há umas quatro temporadas, no mínimo. E a função de armador é muito importante para se falar em “quebra-galho”.

PS: Veja o que o blogueiro já publicou sobre Caio Torres e Augusto Lima em sua encarnação passada.


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