Vinte Um

Arquivo : David Andersen

O 4º dia da Copa do Mundo: E o rúgbi da Austrália?
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram daquelas jornadas triplas da Copa do Mundo da FIFA, né? Um jogão atrás do outro, dominando sua agenda. Pois bem. Pegue esse agito todo e multiplique por quatro. O resultado é a Copa do Mundo da Fiba. É muito basquete num dia só. Com metade do evento de folga, a carga diminuiu um pouco, mas, ainda assim, foram 6 partidas! Uma tabela de estatística vai atropelando a outra, os fatos vão se acumulando, e pode ficar difícil de dar conta de tudo. Vamos dar um passada, então, pela rodada. Para o básico, deixe de ser preguiçoso e acesse o site oficial da competição, né? Veja lá a situação dos grupos e os todos os resultados. O Brasil não jogou.

Não foi a rodada mais empolgante, ainda mais considerando os eventos de tirar o fôlego da segunda-feira. Nesse clima relativo quieto – isso, quando os finlandeses não estavam gritando para apoiar seus rapazes –, a Austrália aproveitou a brecha para mostrar o que é capaz. De ganhar no basquete e no rúgbi, segundo a oposição.

O jogo da rodada: Austrália 82 x 75 Lituânia
Acho curioso isso. Para boa parte da mídai europeia, esse resultado foi encarado como uma tremenda zebra. Um eurocentrismo surpreendente neste sentido, pois a seleção australiana vem juntando diversas peças valiosas para formar um conjunto competitivo. Mesmo sem Patty Mills e Andrew Bogut. O trabalho do Instituto Australiano do Esporte dá o pontapé inicial na maioria dessas carreiras e depois os libera, em geral, para o basquete universitário dos Estados Unidos, pela facilidade do idioma. Quando o prospecto é muito talentoso, acaba indo direto para os profissionais, como no caso de Dante Exum, grande aposta do Utah Jazz, ou do ala Joe Ingles, que está há tempos na Europa. Seus atletas podem ainda não ter o cartaz, ou a grife, mas são muito bem preparados. E estão entrosados já.

Em alta na central de especulações da NBA, Ingles marca Jonas Maciulis

Em alta na central de especulações da NBA, Ingles marca Jonas Maciulis

Com essa base, estariam preparados, ao meu ver, para bater de frente com a Lituânia em qualquer circunstância. Ok, os bálticos têm obviamente mais experiência e melhores resultados recentes. Mas daí a considerar uma vitória dos Boomers uma zebra, já me parece exagero. Imagine, então, o susto que a galera tomou quando viu os australianos vencerem o primeiro tempo por 19 pontos de vantagem! Ingles estava fazendo chover em quadra, acertando chutes de longa distância, chutes em flutuação e botando a canhotinha para funcionar em infiltrações. Se algum scout da NBA estivesse tomando notas a seu respeito pela primeira vez, correria a pedir uma oferta por parte de seu gerente geral. Se bobear, de max contract até. Outro que estava muito bem era o brutamontes Aron Baynes, pivô que foi companheiro de Splitter no Spurs nos últimos dois anos e agora está sem contrato. Ele está fazendo ótimo torneio, aliás, acertando mais de 70% de seus arremessos. Aliás, o repórter Marc Stein, o boa praça do ESPN.com, afirma que o Philadelphia 76ers está interessado, entre outros sete ou oito clubes.

Defensivamente, a Austrália adiantou sua defesa e pressionou bastante a condução de bola dos lituanos. Sem seu principal armador, Mantas Kalnieits, a equipe (que era?) candidata ao pódio penou. Sem brincadeira: por vezes seus Juskevicius e Vasiliauskas eram desarmados antes da linha central (mais sobre isso abaixo, uma vez que o treinador JonasKazlauskas chiou bastante da arbitragem).. No geral, terminaram o confronto com 22 desperdícios de posse de bola – contra 14 dos adversários. É muita coisa.

A Lituânia deu o troco, porém, no terceiro quarto ao anotar, em três minutos, dez pontos em sequência. A partir daí, o panorama se alterou. Os Boomers já não demonstravam mais tanta confiança assim. Baynes (14 pontos e 6 rebotes, 5/12 no FG) e Ingles (18 pontos e 4 assistências, 7/11) foram contidos, e restou ao ala Brad Newley, que já foi considerado uma grande promessa na época de juvenil, mas virou um jogador mediano na Liga ACB, carregar o piano, partindo aos trancos e barrancos para a cesta (10 pontos, 4 rebotes e 2 assistências). A despeito da pressão que pôs no adversário, a seleção europeia, com o ala Renalda Seibutis fazendo as vezes de armador – sem inventividade nenhuma, mas com pulso firme –, não conseguiu aproveitar o momento. Em nenhum momento assumiu a liderança do placar e viu o veterano David Andersen matar dois ou três chutes de média distância nos dois minutos finais para garantir a vitória. Os times agora estão empatados com dois triunfos e um revés na zona de classificação do Grupo D. A Eslovênia lidera.

Um causo
Para ficar na seara de beligerância e um país na Oceania, registramos aqui os protestos inflamados do técnico lituano Jonas Kazlauskas após a derrota para a Austrália. Sem delongas, segue o discurso do veterano, que já dirigiu a China: “Já estive na Austrália algumas vezes. Esse é o estilo de basquete que eles jogam. Eu chamo de basquete-rúgbi. O modo como os árbitros apitaram foi favorável para eles. Especialmente contra nossos jovem armadores, que não embalaram. Talvez esse tipo de basquete, no qual por vezes você não entende o que está acontecendo, seja tolerado nos países de onde os juízes são”.

Um dos integrantes do trio de arbitragem era o brasileiro Marcos Benito, ao lado do porto-riquenho Luis Roberto Vazquez e do dominicano Reynaldo Mercedes, que era o principal. Do que vi no jogo, é fato que os australianos jogaram de modo físico, mas não acho que tenham exagerado na dose. No total, para constar, foram marcadas 44 faltas, 23 para os australianos.

E aí? Quem quer brincar de rúgbi com o Nathan Jawai?

E aí? Quem quer brincar de rúgbi com o Nathan Jawai?

A surpresa: Os 20 minutos sul-coreanos de fama
Depois do que Senegal e Filipinas andaram fazendo no Grupo B…. Após fazerem um primeiro tempo totalmente equilibrado contra a Eslovênia… É de se imaginar que os jogadores da Coreia do Sul tenham se reunido no vestiário, todos eles inspirados, falando bastante, discutindo os acontecimentos e, num ápice de emoção, começaram a se questionar: “Por que não? Por que nós também não podemos?”, num elevado tom de voz. Vibrantes. Aí a sirene do ginásio nas Ilhas Canárias tocou, e era hora de eles voltarem para o jogo e despertaram do sonho. Quando voltaram para a segunda etapa, estavam perdendo apenas por 40 a 39. Ao final da partida, o placar foi de 89 a 72, com os eslovenos abrindo já 14 pontos no terceiro quarto. Goran Dragic, sempre ele, marcou 22 pontos em 25 minutos. Foi a terceira derrota da Coreia, mas pelo menos eles nos deixam esta memória: o armador Chan Hee Park usando o quadradinho para acertar seus lances livres.

Alguns números
73 – arremessos foram desperdiçados por ucranianos e turcos nesta jornada. As duas equipes acertaram apenas 43 de 116 tentativas. No fim, a Ucrânia – só ela para nos proporcionar jogos terríveis desses – venceu por 64 a 58 e ficou em boa posição para se classificar no Grupo C.

40 – Ao superar a Angola por 79 a 55, o México ficou muito perto de assegurar a quarta posição do Grupo D. Antes de pensar nisso, porém, vale comemorar sua primeira vitória no Mundial depois de 40 anos. Gustavo Ayón segue levando sua emergente seleção adiante, com 17 pontos e 12 rebotes. Dessa vez, ele contou com valiosa ajuda do ala Héctor Hernández, que marcou 24 pontos, 18 deles em cestas de três.

#Susijengi

#Susijengi

29 – Foi o índice de eficiência do pivô dominicano Eloy Vargas, o maior do dia ao lado do armador Petteri Koponen, obtido em vitória sobre a Finlândia por 74 a 68, num confronto direto pelo Grupo C. Os caribenhos estão vivos na disputa, muito por conta da força do jogador revelado pela universidade de Kentucky, que somou 18 pontos e 13 rebotes, dominante na zona pintada – nenhum finlandês conseguiu pegar mais que seis rebotes. No total, sua equipe pegou 47, contra 28, diferença brutal e suficiente para silenciar o mais caloroso de toda a competição: sim, a torcida do gélido país escandinavo.

19 – O armador ucraniano Olexandr Mishula, 22 anos, basicamente surtou nesta terça, terminando como o cestinha, com 19 pontos. Ele nunca havia marcado mais que 10 pontos num jogo oficial pela seleção principal. Nas duas rodadas anteriores, havia anotado 16 pontos – em minutos reduzidos, é verdade. Com a lesão de Sergii Gladyr, o técnico Mike Fratello precisava desesperadamente de alguém que pudesse pontuar e criar no perímetro, e parece ter suprido essa carência com o jovem atleta, que não fugiu da responsabilidade no quarto período.

4 – Quatro seleções estão invictas ao final de três rodadas: Estados Unidos, Espanha, Grécia e Eslovênia, líderes dos quatro grupos do Mundial.

Outro causo
A gente imaginava que, no dia 2 de setembro de 2014, a história de a Nova Zelândia fazer o Haka antes de seus jogos já não fosse nem mais nota de rodapé. Acontece que, na primeira rodada, a Turquia virou de costas para os oponentes, indo para o banco de reservas atendendo ao chamado do técnico Ergin Ataman. Os Tall Blacks acharam isso um baita desrespeito. Nesta terça, contra os norte-americanos, alardeados por muita gente do contra como “arrogantes”, ficaram lá, na metade da quadra deles, observando tudo. No clipe abaixo, a expressão de Derrick Rose e James Harden está até engraçada. No final, aplaudiram a dança:

O jogo? Hã… Os neozelandeses até que não fizeram tão feio. Quer dizer, perderam por 98 a 71, e tal. Mas vejam só: chegaram a ganhar o terceiro período por 19 a 18! Na primeira parcial, estavam atrás no marcador apenas por 27 a 20. Então não foi de todo o pior, mesmo, não. Anthony Davis e Kenneth Faried barbarizaram novamente no garrafão, com uma capacidade atlética realmente apelativa, com 36 pontos e 20 rebotes em conjunto. Das enterradas eu já perdi a conta, mas foram cenas fortes. Claro que nada tão impressionante como a apresentação inicial os homens de preto.

Andray Blatche: contagem de arremessos
O pivô mais filipino da Copa e seus assessores não foram para a quadra hoje, tendo a chance de repensar toda a emoção que viveram  contra argentinos e croatas, podendo muito bem terem chocado o mundo do basquete. De qualquer forma, mesmo que não tenha jogado, Blatche mantém a liderança no ranking de quem mais chutou no torneio até agora, com 51 tentativas de cesta em três partidas. Pau Gasol é o segundo, com 43. Se os árbitros não o tivessem boicotado na véspera, certeza de que um dos jogadores mais odiados da história do Washington Wizards teria uma liderança confortável neste ranking. Sacanagem.

O que o Giannis Antetkounmpo fez hoje?
Também seu dia de folga,  gente espera que, no seu dia de folga, a revelação grega tenha descansado um pouco, saído de tapas mais tarde e curtido um pouco as ruas de Sevilla – em vez de ficar sentado o dia inteiro no quarto do hotel jogando videogame!

Tuitando:

Na arquibancada da ucraniana, um senhor flagrado constantemente pelas câmeras da Fiba TV. Todos nós assumimos que seja o paí do armador Eugene “Pooh” Jeter, mais um americano naturalizado. Pooh precisava de todo o apoio possível, mesmo. Marcou dez pontos, deu seis assistências, mas foi muito incomodado pela defesa turca, desperdiçando a bola cinco vezes. Além disso, errou oito de seus dez arremessos. Sua equipe venceu, porém. 


Para termos uma ideia do quanto funcionou como sonífero o embate entre Ucrânia e Turquia. Na reta final da partida, o pivô Omer Asik, um excelente reboteiro e defensor, mas um atacante bastante limitado, liderava a tabela dos cestinhas. Algo difícil de acreditar e aturar.

A maré branca para acompanhar os #susijengi na Espanha.

Esse tweet ainda repercute um jogo do Yugobasket (aliás, vai ser difícil encontrar melhor nome de conta que esse) de ontem, mas a declaração é imperdível: “Se eu pudesse escolher, eu nunca teria nascido nos Bálcãs. Devido à nossa mentalidade, sempre sofremos em jogos como esse contra Senegal”, diz o técnico da seleção croata, depois da inesperada derrota para os africanos.

Relembre o Mundial até aqui: 1º dia, e .


Austrália é o sexto país a se garantir na Copa do Mundo de basquete masculina
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Giancarlo Giampietro

Impressionante. Dá para acreditar numa coisa destas!?

Na Oceania, a Austrália conseguiu duas vitórias sobre a Nova Zelândia, se sagrou campeã continental e garantiu a sexta vaga na Copa do Mundo de basquete masculina de 2014.

A Formiguinha Atômica

Patty Mills, e tudo numa boa na Oceania

Passado o susto, um breve resumo sobre o que aconteceu na série. Na primeira partida, em Auckland, fora de casa, os Boomers venceram por 70 a 59. Na segunda, deu 76 a 63. Bem, vemos, então, que não chegou a ser uma surra para os australianos mas eles também não chegaram a ter grandes problemas.

Os dois jogos apresentaram um padrão: a Austrália saiu na frente, a Nova Zelândia venceu sempre o segundo quarto (saldo de +19 pontos para eles em 20 minutos, vai entender), e aí que os favoritos voltavam do vestiário dispostos a acabar com a brincadeira, colocando forte pressão em cima da bola, com uma marcação adiantada, desestabilizando os Tall Blacks, que não contam com bons armadores.

“Fiquei bastante satisfeito com a defesa da equipe, em termos de aonde temos de ir, nos posicionar, avançando em quadra e  perturbando”, afirmou o técnico Andrej Lemanis, técnico local que assumiu o comando da seleção no lugar de Brett Brown, ex-assistente de Gregg Popovich e recém-nomeado treinador do Philadelphia 76ers. Lemanis dirigiu o New Zealand Breakers por oito temporadas consecutivas e vem de um tricampeonato na liga australiana.

O cestinha dos Boomers nos dois confrontos foi o armador Patty Mills – e aqui não há nenhuma surpresa também. Disparado o jogador mais perigoso com a bola entre os escalados, ele anotou 41 pontos em 59 minutos no confronto, acertando 50% dos arremessos (66,7% de dois e 38,9% na linha de três pontos).

Vestindo a camisa de sua seleção, Mills tem sinal verde para disparar. O time adota uma configuração interessante para liberar seu matador, com múltiplos jogadores de drible talentoso. Lemanis confiou que Matthew Dellavedova, Adam Gibson e Joe Ingles pudessem levar a bola, ajudando a desafogar o jogo a Formiguinha Atômica do Spurs entrar em ação.

Outro ponto interessante dos confrontos foi a possibilidade de dar cancha ao ala-armador Dante Exum e ao ala Ben Simmons, dois garotos nascidos, respectivamente, em 1995 e 1996. Juntos, eles tiveram 25 minutos nas duas partidas. Exum é considerado uma das maiores promessas do basquete mundial, vindo de um torneio dominante no Mundial Sub-19 deste ano, enquanto o caçula Simmons joga no basquete colegial norte-americano.

Esses são todos atletas versáteis, talentosos e ainda em um ponto de evolução nas suas carreiras, de modo que a Austrália vai chegar ao Mundial bem servida no per≥ímetro. Contra os neozelandeses, os pivôs Andrew Bogut e Aaron Baynes foram desfalques, deixando que o decadente David Andersen segurasse as pontas acompanhado de Luke Nevill e do jovem Cameron Bairstow. Com o garrafão completo, temos aí um time capaz de incomodar muita gente.

E sai para lá, Taiti.

 


Campeão asiático, Irã está no Mundial. E o que mais sobre o 1º torneio classificatório?
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Giancarlo Giampietro

Haddadi ali com o bração aberto

Irã: WE ARE THE CHAMPIONS! Via @HamedHaddadi

A profecia se fez como previsto: 2013, e Hamed Haddadi lidera o Irã a mais um título do campeonato asiático da Fiba. Como MVP, claro.

Daria para fazer aquela autopromoção básica, né? Sacar aquele bacaninha, supimpa “conforme antecipamos”, mas isso já está mais batido que a própria rotina de glórias e dominância do pivô no vasto continente. Pensou em basquete de seleções na Ásia, pensou em Haddadi, meus amigos.

Na final, já com a vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014 garantida, o iraniano se aproveitou da ausência do americano Marcus Douthit e trucidou os pivôs das Filipinas, os donos da casa, somando 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos. Escreveria aqui que ele teve sua jornada de Shaquille O’Neal, mas nem isso vale, já que converteu 71,4% de seus lances livres.

Agora, descentralizando um pouco o post, fugindo da sombra de Haddadi, vale destacar que a final em Manila não foi exatamente um passeio para o país do Oriente Médio. O primeiro tempo terminou com uma vantagem de apenas um ponto (35 a 34) para os visitantes. Até que as parciais de 27 a 19 e 23 a 18 nos quartos seguintes resolveram a parada (85 a 71).

Foi um contraste de duas abordagens ofensivas distintas.

Os filipinos, por Deus!, arremessaram 34 vezes da linha de três pontos, contra 35 de dois. Por uma mísera e infeliz bolinha de dois que eles não conseguem a maioria absoluta das tentativas do meio da quadra. Um pecado certamente lamentado por Porto Rico e muitos patrícios. Não importando de onde dispararam, o fato é que a turma deixou os dois aros significativamente avariados, com uma pontaria de apenas 31,9% no geral – se de fora eles fizeram 29,4%, não dá para dizer que havia uma bola de segurança interna (apenas 34,3%).

Já os iranianos ao menos tinham Haddadi para desequilibrar. Com ele, acertaram 61,4% dos chutes de dois pontos, para compensar os desastrosos 17,6% de longa distância (3/17, uma blasfêmia). Eles também se atrapalharam todos com a bola, cometendo 19 turnovers.

De todo modo, mesmo com essa carência evidente no seu jogo de perímetro, é de se admirar o fato de que o Irã tocou sua campanha sem contar com a ajuda de nenhum estrangeiro, algo cada vez mais raro em competições internacionais. Jogaram, mesmo, e de forma competente, com seus Davoudichegani, Afagh e Jamshidijafarabadi, para pesadelo dos locutores nacionais.

Coreia é bronze!

Coreia do Sul de Eric Sandrin está na Copa também

O mesmo vale, aliás, para a Coreia do Sul, que beliscou a terceira vaga ao bater Taiwan na disputa pelo bronze, por 75 a 57. Quer dizer, se formos levar ao pé-da-letra, havia um estrangeiro no time: o veterano ala-pivô Lee Seung-Jun, de 35 anos, também conhecido como Eric Sandrin, norte-americano filho de uma coreana e que andou jogando até mesmo pelo Brasil na década passada – foi parceiro de Sandro Varejão e Ratto no Brasília. Andarilho, passou também por Luxemburgo e Portugal até se estabelecer lá por perto de Seul. Então é como se ele fosse um Scott Machado veterano.

Para os torcedores saudosistas do Portland Jail Blazers, a nota triste fica pela ausência do gigante Ha Seung-Jin. Xuim. Nesta preliminar, o sul-coreanos ensinaram aos filipinos como se faz, convertendo 45,8% de seus arremessos de três pontos (pontaria superior ao que tiveram de dois, 43,9%). Inicialmente, esse número seria um alívio. Tudo o que gostaríamos de escrever aqui era que, a despeito de toda essa mudança climática e da revolução 2.0, ainda poderíamos respirar em paz sabendo que um time coreano ainda chuta bem de fora. Mas, no geral, eles tiveram rendimento de apenas 34% no campeonato (66/194), algo alarmante. Estamos todos fritos, mesmo.

Quer dizer: todos menos Haddadi.

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A China, com todo a grana, astros (ou ‘astros’, coff, coff!) da NBA importados para sua liga nacional, protagonizou a grande façanha do Campeonato Asiático, ao ficar sem vaga direta para a Copa do Mundo. A equipe passou por um papelão na fase de quartas de final ao perder Taiwan por 96 a 78. Justo para quem! Nessa partida, os chineses venceram o primeiro tempo por dez pontos de vantagem, mas tomaram uma virada escandalosa no terceiro período (31 a 12). Para registrar, o pivô Yi Jianlian perdeu alguns jogos no torneio devido a uma contusão, mas esteve em quadra nos mata-matas. Em cinco jogos, ele teve médias de 17,4 pontos e 6,6 rebotes em apenas 24,6 minutos por partida. Na hora de distribuição dos quatro convites para o torneio, porém, é bem provável que a Fiba lhes reservem um.

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Interessante a classificação das Filipinas para o Mundial. O país é doente por basquete, a ponto de entender que JaVale McGee é uma espécie de Deus – vejam que coração bom têm os católicos de lá. Kobe Bryant anda por lá neste momento, enfrentando tempestade e tudo, LeBron James fez uma visita-relâmpago há pouco, e a capital Manila conta com uma arena de primeiro nível, que, depois de receber o torneio continental neste mês, vai acolher um amistoso de pré-temporada entre Rockets e Pacers, no dia 10 de outubro.

Mall of Asia Arena

A Mall of Asia Arena, com capacidade para 16 mil espectadores

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Os torneios qualificatórios regionais continuam nesta semana com o clássico entre Austrália e Nova Zelândia, na Oceania. O primeiro jogo será na quarta-feira, em Auckland, e o segundo, domingo, em Canberra. Com Patty Mills, Joe Ingles, David Andersen, Matthew Dellavedova e a revelação Dante Exum no elenco, os Boomers são claramente os favoritos. Pelos Tall Blacks, nada de Steven Adams (jovem pivô selecionado na 12ª posição do Draft da NBA pelo Oklahoma City Thunder) e do veterano Kirk Penney. Destaque para o ala-armador Corey Webster, um cestinha explosivo, e para o ala faz-tudo Tom Abercrombie.


Há muito basquete além da NBA: a Euroliga começa a pegar fogo
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Giancarlo Giampietro

Sonny Weems, da NBA para o CSKA

O superatlético Sonny Weems substitui Andrei Kirilenko em Moscou

Por Rafael Uehara*

(Nota/Ótima notícia no Vinte Um: convidado do blog durante o mês de dezembro, o Rafael veio para ficar. Semanalmente, ele vai publicar um artigo por aqui. Aproveitem!)

O mundo não acabou, mas 2012 sim, e, com a virada do calendário, as principais ligas do mundo começam a pegar fogo nessa arrancada em direção ao fim da temporada. No caso da Euroliga, principal competição de clubes do continente Europeu, isso é sinalizado pelo TOP 16, que teve sua segunda rodada disputada na semana passada. Com a mudança de formato a partir dessa temporada, a segunda fase da Euroliga terá 14 rodadas para definição dos oito classificados para as quartas de final, ao invés de apenas seis em anos anteriores. Há ainda muito chão pela frente, mas já é possível se ter uma ideia de quais times são concorrentes legítimos ao título e quais precisam de mudanças drásticas para voltar à briga.

O Barcelona de Marcelinho Huertas foi à Rússia na semana que passou e perdeu apenas pela segunda vez na competição, 65-78 para o BC Khimki, mas não há dúvida de que a máquina catalã é a força mais respeitável do basquete europeu no momento. Mesmo com um elenco composto de menos jogadores de pedigree defensivo como no ano passado, liderado pelo técnico Xavi Pascual, o Barcelona está a caminho de igualar marcas históricas registradas em 2011-2012. De acordo com o site gigabasket.org, o Barcelona tem permitido apenas 88,8 pontos a cada 100 posses do adversário, marca muito similar ao 87,3 da temporada passada, o que é fantástico especialmente considerando que o time substituiu Boniface N’Dong, Fran Vázquez e Kosta Perovic por Ante Tomic e Nathan Jawai no pivô.

Juan Carlos Navarro, La Bomba

Um Barça menos dependente de Navarro no ataque para tentar o título

Tomic e Jawai foram incorporados ao time em uma tentativa de adicionar maior criatividade ao ataque, que sofreu demais contra o Olympiacos no Final Four do ano passado. Pascual fez as mudanças necessárias, incluindo maior envolvimento de Huertas, e o resultado tem sido um time muito menos dependente de Juan Carlos Navarro e Erazem Lorbek e que tem marcado em média três pontos por cada 100 posses a mais do que na temporada anterior. Graças à boa química entre Huertas, Jawai e Tomic no pick-and-roll, o Barcelona lidera a Euroliga em pontos no garrafão. Com esse ataque renovado e uma defesa histórica, o time catalão é, em minha opinião, o principal favorito ao titulo.

Talvez os rivais de Madri estejam no mesmo nível. O Real Madrid de Pablo Laso também está tendo um ano fantástico. Entre supercopa da Espanha, campeonato espanhol e Euroliga, os merengues perderam apenas quatro jogos até o momento, sendo um deles para o Barcelona semana passada. Com uma filosofia oposta aos inimigos catalães, o Real tem se estabelecido como o ataque mais feroz do continente. No momento, é apenas o terceiro classificado em pontos por posse (marcando em média 109,7 a cada 100), mas isso é porque o Montepaschi Siena e o Zalgiris Kaunas estão fazendo campanhas históricas em termos de eficiência. Com a adição de Rudy Fernandez (um talento fora de série no continente) e o desenvolvimento de Nikola Mirotic (a caminho de se tornar o melhor ala-pivô na Europa), o Real não tem como ser parado, apenas contido. Mas esse já era mais ou menos o caso na temporada passada. O que faz do time merengue um concorrente legítimo ao titulo este ano é a melhoria em prevenção, setor no qual o time subiu de 13º para terceiro em pontos permitidos por posse.

É o que diferencia o Real Madrid do Montepaschi Siena, por exemplo. O Siena tem o melhor ataque do continente, marcando em média 115 pontos a cada 100 posses de bola. Bobby Brown tem sido fantástico e lidera a competição com 252 pontos em 12 jogos após uma exibição magnífica de 41 pontos em apenas 18 tiros de quadra contra o Fenerbahçe, em Istambul semana passada. O Siena tem superado as expectativas pra esse ano. Devido a problemas financeiros do patrocinador, Banco di Monte Paschi, o time teve que se despedir de medalhões como Simone Pianigiani, Bo McCallebb, Rimantas Kaukenas, David Andersen, Nikos Zisis e Ksystof Lavrinovic e remontar um elenco com soluções mais baratas do que a torcida estava acostumada. O Siena começou o TOP 16 com duas vitórias, sobre Maccabi e Fenerbahçe, mas ainda é difícil vê-lo como concorrente ao título. Com a terceira pior defesa da competição, e a expectativa é que em algum momento sua falha retaguarda pesará.

Kaukenas fazendo das suas

Kaukenas encontra espaço para a bandeja pelo ataque sensacional do Zalgiris

Já o Zalgiris Kaunas de Joan Plaza não pode ser visto da mesma forma. Havia muitas dúvidas com relação à idade avançada do elenco e como esse time defenderia, mas o atual campeão lituano é o sexto colocado em pontos permitidos por posse, mesmo que apenas Tremmell Darden e Ibby Jabber sejam atletas de porte físico invejável. Essa aplicação no setor defensivo, mesmo que não seja de elite, tem sido o suficiente para dar suporte ao segundo melhor ataque do continente. É uma dinâmica curiosa e fenomenal: o Zalgiris marca a segunda maior taxa de pontos por posse e, ao mesmo tempo, tem a menor taxa de posses por jogo. Isto é, faz o máximo com menos. Plaza formatou uma maneira de jogar que minimiza os fatores idade e a falta de porte físico do time. Será interessante ver se o clube lituano conseguirá impor seu ritmo de jogo contra Real Madrid e CSKA Moscow, dois dos times mais atléticos do continente e dos poucos com atletas ao nível de NBA. Mas o que eles já têm feito até agora é suficiente para se estabelecer como força a ser respeitada.

Falando em CSKA Moscou, o time de Ettore Messina (que voltou pra casa após três anos divididos entre o Real Madrid e o Los Angeles Lakers) vem, quietinho em seu canto, fazendo a melhor campanha da liga até o momento. O CSKA tem sido muito menos dominante do que aquele time liderado pelo fantástico Andrei Kirilenko ano passado, mas venceu 11 de seus 12 jogos até o momento e é o quinto colocado em ataque e segundo em defesa. Talvez sejamos nós que tenhamos prestado menos atenção. Sonny Weems também é talento de NBA, mas empolga menos do que o sempre enérgico e impactante Kirilenko. A combinação de Weems e Dionte Christmas nas alas é o que diferencia o CSKA dos demais times do continente. Poucos têm a capacidade atlética da dupla. O sistema ofensivo ao redor de Nenad Krstic mudou, mas o pivô sérvio tem mantido sua excelência. Tem saído do banco apenas porque seu companheiro de posição Sasha Kaun está totalmente recuperado de uma lesão séria no joelho sofrida 18 meses atrás e Messina agora apresenta uma sutil uma queda por atletas de primeiro nível, depois de sua experiência nos Estados Unidos.

Em Israel, o Maccabi Tel Aviv de David Blatt começou o TOP 16 com duas derrotas para o Siena e o Caja Laboral, a última por um ponto em casa na semana passada. Vindo pra temporada, a dúvida era como esse time iria marcar pontos após as saídas de Keith Langford e Richard Hendrix. Mas, com um ataque certeiro em tiros de meia distancia e uma defesa que tem permitido o menor número de pontos no garrafão, a potência israelense está a caminho de fazer o papel que fez ano passado; timinho difícil de bater nas quartas de final. Mais que isso será uma surpresa considerando as limitações do elenco, mesmo que se há alguém capaz de tirar um final four desse time, esse alguém é David Blatt.

E por último, mas não menos importante, o atual campeão Olympiacos. A temporada começou meio estranha para os vermelhos de Piraeus, com duas derrotas nos primeiros três jogos e a saída do pivô Joey Dorsey do time após desavenças com o novo técnico Georgios Bartzokas, que substitui o legendário Dusan Ivkovic, aposentado. Mas as coisas se acertaram a partir dali. O Olympiacos ganhou sete jogos seguidos na Euroliga para terminar a primeira fase com vitórias em 10 jogos. Além disso, bateu o rival Panathinaikos no campeonato grego. A defesa se endireitou e o importantíssimo Kostas Papanikolaou se apresentou melhor depois de um primeiro mês muito tímido. O TOP 16 começou com derrota em Vitória para o Caja Laboral, rejuvenescido depois da demissão Dusko Ivanovic, mas os vermelhos se recuperaram com vitória sobre o Besiktas em casa. É difícil saber, porém, o quanto Dorsey fará falta nas fases finais. Ele foi peça fundamental na corrida ao título ano passado e seu substituto Josh Powell é um jogador de características totalmente diferente.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.


Vitória importantíssima para a seleção na estreia. E por que acharam que seria fácil?
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Giancarlo Giampietro

Seleção vence a Austrália na estreia olímpica

15 pontos e 10 assistências para Huertas na estreia sofrida

Quem falou que ia ser fácil?

Compreensível que se demonstre confiança em torno da seleção e era difícil, mesmo, segurar a euforia. Afinal, o time voltava a uma Olimpíada após 16 anos e vinha bem nos amistosos.

Mas… Daí a menosprezar a Austrália? Não se justifica.

Eles têm gente de NBA, atletas na elite da Europa há tempos – David Andersen é um dos jogadores mais bem remunerados no nível Euroliga por cinco ou seis anos já –, pivôs fortes, um técnico muito competente e um cestinha tão ou mais qualificado do que qualquer jogador brasileiro (Mills hoje tem muito mais facilidade para pontuar em jogadas individuais do que Leandrinho e Splitter, inegável).

O Brasil pode estar muito bem, ser considerado um favorito ao pódio, mas isso não servia para desqualificar nosso adversário de estreia.

Tivemos de ganhar o jogo, por  75 a 71. Não entramos com a partida já liquidada.

*  *  *

E, para quem perdeu a hora, como foi?

Bem, um primeiro quarto tenso. Huertas pressionado, chutes forçados, transição australiana funcionando, mas conseguimos apertar as coisas no final do primeiro quarto, ficando um pontinho atrás apenas. O segundo quarto seguiu travado, com os brasileiros dessa vez terminando com o pontinho na frente.

No terceiro quarto, por cinco, seis minutos, a seleção enfim apresentou um basquete de acordo com o que havia praticando nas últimas duas semanas. Em vez de atuar como presa, foi o time que optou por caçar os adversários, forçando sete desperdícios de posse de bola, enfim conseguindo sair de modo organizado no contra-ataque. Abriu 13 pontos de vantagem.

E aí veio algo inesperado: podemos esperar algumas bobagens aqui e ali de Leandrinho com a bola, uma falta de ataque mal marcada pelo árbitro, 300 chutes forçados de Machado, mas não estávamos preparados, não, para um equívoco sério de… Magnano!

O argentino fez um favorzão aos Aussies ao sacar o quinteto brasileiro em sua íntegra, justamente quando o time estava em alta. Em três minutos, a diferença já estava na casa  de cinco pontos. Não era hora para colocar o Caio, che.

Entendeu, Leandro?!?!?

Magnano dá aquela bronca em Leandrinho, mas dois cometeram erros graves na partida

Uma vez com o núcleo Huertas-Leandrinho-Nenê em quadra para iniciar o quarto final, voltou o respiro no placar. Não que tenha de ser obrigatoriamente desta forma daqui até o final do torneio. Não vai ser necessariamente com esses que o Brasil vai render seu melhor – quer dizer, no caso do armador, sim. Mas cada jogo tem sua história e, contra os australianos, o físico e a disciplina de Nenê foram muito mais eficazes.

Na metade do quarto final, porém, duas bolas de três convertidas por David Andersen voltaram a mexer com a partida. De repente, o placar voltava para a casa de cinco pontos, caminhando para o os minutos decisivos daquele jeito que cardíaco não gosta.

Um jogo parelho, dois minutos no cronômetro, e o que fez a seleção? Colocou a bola nas mãos de Leandrinho. No primeiro ataque, o ala fez tudo direitinho: gastou a posse de bola, encontrou uma brecha na defesa, bateu para dentro e descolou a falta de Andersen e dois lances livres. Tudo de acordo com o script, levando o placar para 73 a 67.

Muito bom para ser verdade?

Parece que sim.

Nas duas posses de bola seguintes, Leandrinho tentou uma descabida e egoísta bola de três pontos (com 52 segundos no relógio e vantagem de quatro pontos…) que a gente já viu acontecer diversas vezes. Inexplicável, mesmo.

Do outro lado, Mills errou seu disparo de longa distância, e o ala brasileiro voltou a se precipitar. Tentou acelerar para um contra-ataque, foi de ombro em direção a Joe Ingles e cometeu a falta de ataque. O lance até pode ser discutível, mas não haveria bate-boca se o brasileiro não tivesse se colocado naquela posição. Faltavam 44 segundos, não era hora de correr com a bola.

Leandrinho acabou excluído, e Machado entrou em seu lugar. O veterano ala, em sua primeira Olimpíada, ficou caçando borboletas na defesa e permitiu que um Ingles livrinho da silva, cortando pela porta dos fundos :), fizesse a bandeja e diminuísse para dois pontos o placar.

Foi aí que a sorte deu uma ajudinha.

Huertas controlava o jogo, gastando tempo até chamar um corta-luz impecável de Splitter, desmarcando o companheiro. O armador entrou no perímetro interno e faria um perigoso passe quicado para a zona morta. No meio do caminho, porém, a bola bateu no pé de um australiano e morreu, com nove segundos no relógio. Resultado: os brasileiro ganharam alguns segundinhos preciosos para atacar, exigindo que os oponentes fizessem a falta.

E, gasp!

Foi por um triz que Mills não roubou a bola, antes de cometer a falta em Huertas. O armador acertou os dois lances livres.

Vitória na estreia? Sim, e ufa. Mas, de novo: com o jogo jogado.


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