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Arquivo : Exum

Lesão de Exum não justifica retenção de Raulzinho em Utah
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Giancarlo Giampietro

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

A foto acima diz muita coisa. A felicidade de alguns dos campeões pan-americanos. Olivinha comandando a selfie, como não poderia deixar de ser. Rafael Hettsheimeir quase tirando seu futuro companheiro de Bauru da foto. Duas pessoas que, como jornalista, admito não reconhecer. Mas o que mais chama a atenção, mesmo, até por destoar no amontado amarelo e verde, é a camisa branca erguida por Augusto Lima, numa menção a Raulzinho (Neto), que se desligou do time no meio do caminho.

Legal que Augusto tenha pensando no jogador que o acompanhou nas últimas duas temporadas em Murcia. Nota-se nesse gesto o coração grande do pivô, que, na preparação para sua primeira decisão com a camisa da seleção, não se esqueceu do chapa. Mas não seria melhor se o próprio armador estivesse ali no meio?

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Acho que vocês já sabem o que aconteceu. Raul abandonou os treinamentos em São Paulo para viajar a Salt Lake City e assinar com o Utah Jazz. É o tipo de decisão que pode mudar o rumo de uma carreira, atlética e financeiramente. Não é menosprezar a seleção, mas você não pode abrir mão de uma oportunidade dessas. Então tudo bem: que pegue o avião rumo às Montanhas Rochosas e assine a papelada. Ponto.

(Da parte da CBB, a cessão do armador talvez seja, voluntariamente ou não, uma boa tacada política, pensando numa Olimpíada que vem por aí e também em eventuais futuras convocações de um jogador jovem, que já faz parte do próximo núcleo da seleção. Por outro lado, assusta a falta de transparência da entidade mesmo no trato da liberação de um atleta. Se a decisão foi de não bater o pé para que Raul ficasse no time, qual o problema de divulgar isso com clareza, uma vez decidido que o atleta não iria para o Pan? Abre-se margem para especulações, e a boataria pode atingir o jogador em cheio se fugir de controle. Ainda mais quando o assunto é a relação de enebianos e a seleção. Basta perguntar para Nenê os efeitos. )

O que rolou na sequência, uma vez assinado o contrato, é que é difícil de entender. O armador já não seria reintegrado à equipe de Ruben Magnano, mas também não fez parte do elenco de verão da franquia de Utah. Então que raios estaria fazendo? Bem, aí chegou a informação da mídia local de que a diretoria havia pedido para que ele ficasse por lá, para treinar com alguns veteranos em Las Vegas, num ambiente totalmente informal. Não sabemos quem e quantos estiveram em quadra, que tipo de orientação estavam recebendo e por quanto tempo duraram as atividades. Se é que elas foram interrompidas.

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Raulzinho fehcou com o Jazz, mas apenas assistiu ao time na liga de verão. De resto, treinos

Boa parte do time esteve por lá, segundo relatos, ok. Os técnicos e os cartolas ficaram satisfeitos com essa reunião, acreditando que o período em conjunto nas férias ajuda a desenvolver a química do elenco e facilita o entrosamento em quadra. Para Raulzinho, vindo de fora, esse período pode, mesmo, ter sido importante, já que o armador teve um contato mínimo com esses atletas desde o dia em que foi selecionado em 2013 — foi a liga de verão em Orlando com Gobert e Burke, e pouco mais que isso. Mas… Basta espiar a foto acima novamente e perguntar se, na construção do armador Raul Neto, para o futuro do Utah Jazz, os rachões e jantares em Las Vegas são realmente mais relevantes que a experiência de jogar em Toronto e ganhar uma medalha pela seleção?

Em termos de relevância internacional, sabemos que o Pan está em segundo ou terceiro plano. De qualquer forma, lá estava um Rick Pitino iniciando seu trabalho com Porto Rico, Anthony Bennett e Andrew Nicholson tentando mostrar algo pelo Canadá, Bobby Brown e Keith Langford, cestinhas de Euroliga com salários de sete dígitos lá fora, realizando um sonho americano etc. O torneio não teve a elite da modalidade, mas apresentou elementos muito interessantes e, nesse contexto, e os caras escalados por Magnano souberam aproveitar ao máximo a oportunidade dada. Não há como negar que todos os que estiveram em quadra voltaram engrandecidos no desembarque em São Paulo. E, de qualquer forma, a ausência de Raul acabou abrindo espaço na rotação para que Rafael Luz provasse que, sim, tem de ser discutido em qualquer convocação futura, independentemente de quem esteja disponível. Ricardo Fischer também ganhou mais espaço, como um complemento fundamental à bela temporada que fez pelo Bauru. Os dois foram muito bem na armação, em que pesem um ou outro tropeço com a bola, inerentes à função. Para Benite estourar a boca do balão, valeu a assessoria dessa dupla de ainda jovens — mas rodados — armadores.

Em termos de trajetória internacional, Raulzinho está (ou estava) à frente. Ele teve mais minutos nas últimas temporadas de Liga ACB e ganhou rodagem bem mais extensa com a seleção, como uma presença constante nas listas de Magnano, com o ponto máximo sendo sua bela atuação contra a Argentina pelas oitavas de final da Copa do Mundo. Ainda assim, o Pan seria o primeiro torneio em que o jogador poderia pegar a chave do carro sem ter de pedir permissão a Marcelinho Huertas. Ainda vem a Copa América pela frente, pela qual a equipe nacional poderá jogar numa posição bastante interessante, sem pressão alguma, já que a vaga olímpica está no papo, para alívio dos competentíssimos gestores da CBB.

Então tem isso.

Foi uma tese convincente?

Talvez.

Para o gerente geral Dennis Lindsey e o técnico Quin Snyder, uma notícia que veio da Eslovênia, dez dias depois, talvez os tenha deixado seguros de que haviam tomado a decisão certa ao encorajar que Raulzinho ficasse fora do Pan. Foi quando souberam que o garoto Dante Exum havia muito provavelmente rompido o ligamento cruzado anterior de seu joelho esquerdo. O armador, de 20 anos recém-completos, estava jogando um amistoso pela Austrália. O clube ainda não informou quando ela será realizada, mas o caçulinha vai passar por uma cirurgia que muito provavelmente vai afastá-lo da próxima temporada.

O Utah Jazz tem um time em ascensão na NBA. Se fosse levado em conta apenas seu aproveitamento na segunda metade da temporada passada, teria entrado nos playoffs. Exum não teve números grandiosos, mas desempenhou um bom papel em quadra, especialmente por seus atributos defensivos. A lesão do australiano deixou angustadios os torcedores do time, aguardando com ansiedade uma nova grande equipe desde os tempos de Stockton e Malone, com todo o respeito ao grupo que teve Deron, Boozer, Okur, Kirilenko (e Baby). Não dá para saber o exato impacto dessa lesão. Quem sabe Raulzinho não dá um salto na pré-temporada e assuma a bronca? (Importante notar que essa não é a expectativa dos treinadores e diretores, com o brasileiro inicialmente cotado para a D-League e agora para disputar o posto de primeiro reserva com Bryce Cotton, que tem a mesma idade). Burke também pode encontrar, enfim, um ritmo consistente de jogo? Ou pode ser que chegue algum reforço que cuide da posição. Está cedo.

O que se lamenta mais é o ano perdido no desenvolvimento do australiano, que, no único jogo que fez neste verão (setentrional) pelo Jazz, foi muito bem, batendo os encardidos Marcus Smart e Terry Rozier para ganhar o garrafão diversas vezes. Até que… torceu o tornozelo e não conseguiu mais defender a equipe em Salt Lake City e Las Vegas. Quer dizer: contusões, lesões acontecem com atletas. Não tem jeito. De modo que qualquer movimento alarmista encampado nos bastidores da liga americana contra as competições internacionais tem de ser relativizado. Se as seleções estiverem comprometida em pagar um seguro pelos atletas, não há o que se fazer. Ainda existem jogadores que têm prazer em disputas internacionais. E muitos: basta ver que dezenas de atletas passaram por Las Vegas nos últimos dias para dizer a Jerry Colangelo e Coach K que têm interesse em fazer parte do grupo olímpico do Rio 2016.

O próprio Dennis Lindsey, gerente geral da franquia, sabe que não há muito o que se fazer a respeito. Ou a NBA causa ruptura total, ou as atividades seguem normalmente, com as devidas precauções tomadas. “Já vimos isso acontecer antes, infelizmente. Mas não há como embrulhar os jogadores em uma bolha. Você tem de deixá-los jogar”, afirmou. Isso, antes, de tomar mais um susto nesta quarta-feira, quando circulou por aí um papo de que Rudy Gobert havia deixado a quadra mancando, em amistoso contra a Sérvia. Aparentemente, porém, não é nada grave.

O próprio Gobert, de qualquer forma, é um grande exemplo de jogador jovem que usou uma passagem pela seleção nacional para se soltar e comprovar sua evolução. “Comprovar” porque ninguém dá um salto considerável de rendimento em apenas algumas semanas de treino com um time. O que Gobert fez pela França no ano passado foi o resultado de um ótimo trabalho com os treinadores do Utah durante seu primeiro campeonato. Foi na Copa do Mundo, porém, que o espigão recebeu bons minutos de jogo em alto nível, numa competição de alta visibilidade (e pressão), para ganhar confiança, sabendo que as coisas caminhavam bem, ainda mais quando veio uma medalha de bronze para uma equipe bastante desfalcada. Guardadas as devidas proporções, há um paralelo aqui com a seleção brasileira no Pan. E Raulzinho acabou perdendo essa.


Raulzinho é a mais nova adição ao núcleo jovem do Utah Jazz. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Raulzinho esperou por dois anos, mas chegou a hora de botar no papel. Nesta quinta-feira, o armador assinou por três anos com o Utah Jazz para ser o sétimo brasileiro na NBA de hoje — e o 14o. na história. Existe uma grande diferença entre ser um jogador draftado pela liga e com um  contrato. “Achei que era um sonho sendo realizado quando fui selecionado, mas agora vejo o que é o sonho de verdade”, disse o armador já diante dos repórteres de Salt Lake City, no último dia da liga de verão local.

Com o acordo oficializado, então é a hora de tentar entender o que cerca a vida de “Raul Neto” (HA-OOL, nos ensinam) em seu novo clube e o quanto esta movimentação pode interferir em seu desenvolvimento.

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De cara, o que temos de informação: parece uma declaração óbvia para um clube que foi seguiu em seu encalço no Draft de 2013, mas a diretoria do Utah Jazz realmente adora seu prospecto de 23 anos. Durante a cobertura do All-Star Game em Nova York, tive a chance de conversar com o repórter Jody Genessy, setorista do clube pelo Desert News. Ele disse que o time não via a hora de trabalhar diretamente com o jovem atleta. A chance chegou, e as atividades já vão começar nesta semana, em Las Vegas. Segundo Genessy, porém, ele não vai jogar a liga de verão local, mas, sim, treinar com um grupo de veteranos do time.

(Um parêntese aqui: fico no aguardo pela reação de Rubén Magnano… O técnico, que apostou lá atrás num ainda adolescente Raulzinho,  esperava um papel de protagonismo para o atleta nos Jogos Pan-Americanos, e seria realmente interessante acompanhá-lo nessa empreitada. Ficou a ver navios nessa. A expectativa da CBB era a de que o armador se reapresentasse até esta sexta-feira para embarcar rumo a Toronto. Não rolou, por motivos óbvios. A dúvida: ele ainda vai jogar o Pan, mesmo perdendo tanto tempo de preparação? O torneio começa dia 20. Suponho que já esteja fora, e aí precisaria ver quem seria chamado para substitui-lo. Provavelmente alguém a serviço na Universíade, ficando a eventual vaga entre Gui Deodato, Deryk, Gegê, ou Henrique Coelho.  Vai rolar alguma mágoa? De todo modo, a seleção já está bem servida com Rafael Luz, Ricardo Fischer, Larry Taylor e Vitor Benite. Os dois mais jovens têm uma bela oportunidade para mostrar serviço agora.)

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Voltando ao Utah Jazz, Raulzinho entra em um clube com elenco jovem e cheio de potencial para fazer barulho na próxima temporada. Se a campanha depois do All-Star Game serve de algum indício, o time vai brigar por uma vaga pelos playoffs em 2016, já que venceu 19 de suas últimas 29 partidas, com um aproveitamento de 65,5%. Sétimo colocado neste ano, o Dallas Mavericks teve 61,0% de rendimento, enquanto o New Orleans Pelicans, oitavo, ficou com 54,9%.

Capitaneada pelos braços infinitos de Rudy Gobert, a equipe passou a ter a defesa mais dura de toda a liga, e de longe. Há quem acredite que esse tipo de progresso em meio a um campeonato não se traduz automaticamente para o seguinte, uma vez que os adversários vão se debruçar em estudos e já desenhar os ajustes necessários. Ação e reação.

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Ainda assim, o núcleo do Utah também naturalmente vai evoluir, como se espera com atletas tão jovens. Gordon Hayward (o principal criador do time, versátil e confiante), Derrick Favors (em progressão gradual e segura, rumo ao All-Star, se é que alguém repara ou liga) e, principalmente, Gobert cresceram uma barbaridade durante a campanha e ainda têm mais o que render. Esses são os principais nomes, hoje, mas o elenco que o gerente geral Dennis Lindsey reuniu oferece diversas alternativas para o técnico Quin Snyder. Os alas Alec Burks e Rodney Hood já tiveram seus lampejos. O canadense Trey Lyles, muito bem cotado desde o colegial, acabou de chegar para reforçar o jogo interior.

E ainda tem o prodígio australiano Dante Exum, aparentemente efetivado como armador titular, tendo apenas 19 anos. Para uma escolha número cinco de Draft, é natural que a cobrança seja em outro patamar. Nesse sentido, a primeira campanha entre os profissionais foi tímida, para dizer o mínimo. Os críticos mais apressados, no entanto, ignoram o contexto. Se Bruno Caboclo teria dificuldades em deixar a LDB e a reserva do Pinheiros para se provar nos Estados Unidos, o que dizer de um carinha que jogava com adolescentes na Austrália? Que Exum tenha começado 41 jogos como titular e segurado as pontas na defesa, com sua agilidade e envergadura, já é um feito e tanto.

Basta observá-lo em quadra por um ou dos minutos para salivar com seu potencial — por mais talentosos que Hayward, Favors e Gobert sejam, esse garoto pode se tornar algo maior, pasme. Não é garantia, mas ainda há muito o que sair dali, e Snyder tem reputação excelente no trabalho de fundamentos com os atletas. Em sua primeira partida nesta temporada de verão, encarando defensores encardidos como Marcus Smart e Terry Rozier, do Boston, Exum já botou para quebrar, até sair de quadra com uma torção no tornozelo. Estamos falando do dono da posição, mesmo.

Para desgosto de Trey Burke, que tinha plena fé de que chegaria à NBA para ser um armador de ponta. O baixinho, que custou duas escolhas de Draft ao Utah também em 2013, ainda não conseguiu encontrar uma zona de conforto em meio aos cachorrões. Seus dribles de hesitação não são o suficiente para conseguir a separação mínima para seus arremessos. Em duas temporadas, ele só acertou 37,4% de seus arremessos de quadra, 32,4% na linha de três, e não é que tenha compensado tantos erros com um bom número de lances livres (só cobra 1,8 por partida) ou controle de jogo apurado (mira muito mais a cesta que seus companheiros). Sair do banco, como pontuador, talvez seja o seu destino, ainda que precise elevar sua eficiência para cumprir bem esse papel.

Ninguém da franquia vai falar abertamente a respeito, até para não avariar ainda mais sua cotação, mas não é segredo que o clube tenha se decepcionado com Burke. Os scouts mais otimistas esperavam que estivesse saindo um líder da Universidade de Michigan, um jogador com personalidade e recursos técnicos para compensar o que fica devendo em físico. Não aconteceu até o momento. Ainda que só tenha 22 anos, ele não evoluiu nada entre a primeira campanha e a segunda. Dá para dizer que tenha regredido, inclusive. Se for para investir tanto em alguém, a bola da vez vem da Austrália.

Como fica Raulzinho nessa, então? Em tese, ele foi contratado para ser o terceiro armador da equipe. Foi o que a diretoria lhe passou, ao sondar a possibilidade de ele deixar o basquete espanhol para cruzar o Atlântico. Na NBA, porém, as coisas avançam com uma velocidade impressionante, e talvez baste uma proposta razoável por Burke para que o brasileiro seja promovido.

Se for para falar em hipóteses, no entanto, talvez o mais simples seja o próprio jogador desbancar a concorrência no dia a dia de treinos. Admiradores dentro do clube ele já tem. Agora resta confirmar essas sensações na prática. O que o atleta entrega desde já é a visão de quadra fora do comum, a predisposição ao passe, característica que cai bem a qualquer grupo, mas principalmente no tipo de ataque que Snyder projeta. É um perfil que já difere. “Só quero aprender a cada dia. Quero melhorar meu jogo. Ainda não falei com o técnico, mas vai ser a escolha dele os minutos que jogarei. Estou aqui para fazer meu trabalho”, afirmou o armador.

Mesmo que, num primeiro momento, encontre dificuldades, acredito que, a longo prazo, a decisão de encarar a nata do esporte nos Estados Unidos é a mais indicada. Por quê? Raul sempre foi um armador muito arrojado. A experiência na Espanha foi muito valiosa para que aprenda a cadenciar as coisas, a maneirar em seu ritmo de jogo, mas por vezes pode ser um tanto amarrada. É com um jogo agressivo que ele pode render mais. A despeito da capacidade atlética bem mais elevada que ele vai encarar daqui para a frente, as dimensões mais espaçadas e a própria velocidade do jogo tendem a favorecê-lo, a deixá-lo mais solto. E fazer coisas do tipo:

Em Utah, o armador vai ter de melhorar de modo significativo seu arremesso de três pontos para ter mais chances (em sua carreira pela Liga ACB, converteu míseros 22,9% em suas tentativas). Na defesa, o trabalho de pernas no deslocamento lateral será exigido como nunca viu antes. Enfim, há muito o que aprimorar, para além de seu talento natural. Vamos esperar para ver. Por enquanto, Raulzinho vai curtindo seu sonho. Para valer.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Utah Jazz: mais uma chance para uma mente brilhante
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Giancarlo Giampietro

 30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Saga de Snyder o leva a Utah. Fim de peregrinação

Saga de Snyder o leva a Utah. Fim de peregrinação

Quando o Portland Trail Blazers foi enfrentar o Utah Jazz lá nos confins das Montanhas Rochosas na abertura da pré-temporada, enquanto o jogo rolava, o técnico Terrt Stotts teve uma sensação estranha, à medida que ele e seus assistentes analisavam mais e mais o adversário. Seria o Utah mesmo? Ele diria aos repórteres locais, depois, que era a primeira vez que via o time sem nenhum vestígio dos tempos de Jerry Sloan.

Não é fácil virar as costas para algo que deu certo por tanto tempo. Sob o comando de Sloan por incríveis 23 anos, numa das gestões mais duradouras que a liga já viu, a equipe chegou a duas finais da NBA e a mais quatro finais de conferência e só ficou fora dos playoffs em três temporadas, de 2004 a 2006, sendo que apenas em 2005 eles tiveram um recorde abaixo de 50% de aproveitamento.

Sabe aquela coisa de desenvolvimento sustentável? O Utah Jazz representou isso no basquete, antes de Gregg Popovich e Tim Duncan levarem o San Antonio Spurs a outro patamar. Mas chega uma hora que isso acaba, gente. A família Miller e o cartola Kevin O’Conner bem que tentaram prorrogar esse período com a promoção de Tyrone Corbin. Não deu muito certo.

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Corbin, é verdade, pegou um time em reformulação depois da saída de Deron Williams e Carlos Boozer – e, depois, de Paul Millsap e Al Jefferson. A diretoria tem um dedo nisso, claro. Mas em nenhum momento ele conseguiu passar uma identidade ao seu jovem time em quadra. A defesa era uma calamidade. Chegara a hora de seguir em outra direção. E Quin Snyder foi o escolhido para conduzir esse processo.

Quando você faz uma breve pesquisa sobre Snyder, a pergunta que fica é a seguinte: por que levou tanto tempo para ele chegar aqui?

Porque vejam só o que o Trevor Booker tem a dizer: “O Coach Q é um gênio do basquete”. E quanto ao Steve Novak? “Ofensivamente, acho que é área em que ele tem uma grande mente para o jogo. Você vê nas sessões de filme e nas rodas, que ele tem um monte de ideias no ataque, e acho que a gente ainda está na ponta do iceberg”, diz. E o Enes Kanter fala também de sua facilidade no relacionamento: “Ele é como se fosse um irmão mais velho. Não tenta se impor como o técnico e que saiba tudo. Ele pergunta para os jogadores o que deveríamos fazer em algumas ocasiões. Ele se comunica com os jogadores, e isso significa muito para mim. Quando você está sob estresse, isso te afeta em quadra. Mas quando falamos com o técnico Quin, ele te dá confiança e ele se comunica tão bem que você apenas vai jogar, quer jogar jogar por ele. Faz muita diferença. Vai ser um ano interessante”.

É o suficiente?

Espere só para ver o depoimento dos rapazes de Atlanta, como os quais ele trabalhou na temporada passada como assistente de Mike Budenholzer. Antes, porém, vamos tentar contar a história, a saga do novo treinador do Utah Jazz  e entender por que demorou tanto – ou não.

Quin Snyder levou Mercer Island a um título estadual em Washington em 1985

Quin Snyder levou Mercer Island a um título estadual em Washington em 1985

Quincy Snyder era uma estrela no estado de Washington nos tempos de colegial. Qualquer pessoa minimamente interessada por basquete o reconhecia pelo nome. O primeiro, no caso. Ele, por exemplo, seria o primeiro jogador da região a ser eleito como McDonald’s All American, inserido na elite do basquete colegial. Optou por jogar com o Coach K em Duke, de 1985 a 89. Nesses quatro anos, jogou o Final Four em três ocasiões, sendo titular a partir da temporada de sophomore, a segunda. Virou também o capitão do time. O curioso é que talvez ele tivesse ainda mais sucesso fora das quadras, como estudante. Quando se formou em 89, tinha diplomas de filosofia e ciência política. E não parou por aí: dez anos mais tarde, completou um doutorado na escola de direito de Duke e também um MBA na escola de negócios.

Nesse meio tempo, enquanto não se cansava de estudar, encerrou sua breve carreira como jogador e entrou no mundo dos técnicos, bastante jovem. Em 1992-93, chegou a fazer bico como assistente do Los Angeles Clippers de Larry Brown. O time chegou aos playoffs e fez dura série com o Houston Rockets, caindo na primeira rodada. Quando enfim largou a sala de aula, foi efetivado como assistente de Krzyzewski em 1995. Em 1997, já era o técnico principal associado. Em 1999, era a hora de montar o seu próprio programa. Aceitou, então, uma oferta da Universidade de Missouri, não importando a responsabilidade de substituir Norm Stewart, um treinador que havia ocupado o cargo por 32 anos. Trinta e dois! Coincidentemente, a mesma idade de Snyder.

Não teve pressão que atrapalhasse sua ascensão impetuosa. Seu time se classificou por quatro anos seguidos aos mata-matas da NCAAA, se posicionando entre os oito melhores (o chamado “Elite Eight”) em 2002, a melhor marca da história. Obviamente, foi incensado pelos locais, ainda mais pelo fato de a equipe conseguir fazer frente a Kansas, seu arquirrival muito mais laureado. Tão rápido ele subiu, contudo, tão vertiginosa foi a queda. Investigações da sempre hipócrita entidade que regular o esporte universitário americano detectaram uma série de irregularidades no trabalho conduzido com os Tigers. A situação se transformou num escândalo em Missouri, embora, quando reveladas, as infrações se tornassem pálidas se comparadas com o que já se viu por lá. Coisas como atender o telefone em uma situação inapropriada e pagar uma refeição além da conta para prospectos. Chocante, né?

Sob a tutela do Coach K. Raro pupilo que prosperou, ainda que tenha passado por dificuldades

Sob a tutela do Coach K. Raro pupilo que prosperou, ainda que tenha passado por dificuldades

O furacão de (falta de) relações públicas, porém, derrubou Snyder em 2006. A turbulência afetou os resultados em quadra, e o time mais perdeu do que venceu em suas últimas duas temporadas. O treinador, com 128 vitórias e 96 derrotas, acabou demitido de forma humilhante: o diretor do departamento atlético, Mike Alden, nem mesmo se prontificou a dar a notícia pessoalmente. Passou o recado por meio de um dos comentaristas de TV da universidade. “Essa experiência o assustou emocionalmente. Ele foi culpado por muitas coisas sobre as quais ele não tinha controle algum, e isso o levou a questionar muitas cosias. Houve tempos em que ele considerou se afastar do jogo”, disse Bob Rathbun, jornalista que acompanhou seu trabalho por lá.

O San Antonio Spurs, porém, não permitiu que isso acontecesse. Ignorando a imagem ‘manchada’, ofereceu a Snyder o cargo de técnico do Austin Toros, sua filial na D-League. Um emprego que, convenhamos, não é dos mais charmosos. Mas propiciou que ele fizesse bons contatos e se afastasse dos holofotes e trabalhasse com o que mais gosta: o desenvolvimento de jovens talentos. E fez: durante os três anos que ficou na capital texana, foi o que mais levou jogadores à NBA e, ao mesmo tempo, mais venceu, tendo sido vice-campeão na primeira temporada.

Em 2010, foi a vez de ele migrar e retornar à liga principal, como assistente de Doug Collins no Philadelphia 76ers. No ano seguinte, foi escolhido por Mike Brown, ex-assistente de Gregg Popovich, para compor sua comissão no Lakers. Lá, conheceu Ettore Messina, com quem foi para a Rússia em 2012, chegando ao CSKA Moscou. Em sua peregrinação, voltou para os Estados Unidos em 2013, com primeira escala em Atlanta. Lá, voltou a causar impacto.

Snyder e o jovem Dennis Schroeder em liga de verão por Atlanta

Snyder e o jovem Dennis Schroeder em liga de verão por Atlanta

“Ele foi o primeiro técnico que realmente trabalhou comigo em meu jogo de pés, meu arremesso, que dedicou tempo comigo”, afirma o ala DeMarre Carroll, que, não por coincidência, evoluiu consideravelmente desde que chegou ao Hawks. “Isso é crédito para ele e mostra o quanto ele se importa com a gente como pessoas e com nossas carreiras. Senti que estava partindo para uma nova direção, me senti como um novato até”.

“Ele realmente tem uma mente interessante para o basquete. Foi muito legal trabalhar com ele”, diz Kyle Korver. “Ele me ensinou muitas coisas. Depois que você passa um certo tempo na liga, se tende a reagir meio que automaticamente. O Quin trouxe um novo modo de pensar o basquete para mim. Acho que melhorei no ano passado, e muito se deve a ele. Muito, mesmo. Ele te faz pensar nas possibilidades em quadra e pensar de modo geral. É uma mente realmente ótima para o basquete.”

“Aprendi muito com o Q durante o campeonato, ele é muito inteligente”, diz Paul Millsap. “Quando nos sentamos e conversamos, ele te faz pensar. Muito das coisas que ele falava eu só iria entender no final do dia, depois de praticar muito. Ele é esperto desse jeito.”

Agora fixo em Utah, tem muito o que fazer com jovem núcleo

Agora fixo em Utah, tem muito o que fazer com jovem núcleo

Foi esse profissional que o Utah Jazz buscou para ver se o seu plano de renovação decolava de vez. Snyder vai ter muito o que conversar e ensinar a Trey Burke, Alec Burks, Gordon Hayward, Enes Kanter, Derrick Favors, Rudy Gobert, Rodney Hood e, principalmente, Dante Exum, o mais promissor de todos.

Para quem já passou por tanta coisa, não assusta muito, não? “Enfrentei alguns desafios na minha vida, e eles me ajudaram. Passei por um pouco de adversidade, e ela me tornou um treinador melhor, e uma pessoa melhor”, disse. Agora em seu sexto emprego em seis anos, ele espera enfim se assentar num trabalho de longo prazo.

Manteve alguns integrantes do estafe técnico anterior, trouxe outros de sua confiança e montou uma comissão bastante jovem, com média de idade de 41 anos. Apesar da pouca idade, o treinador principal indica um ponto em comum: “Eles são professores. Numa situação como a nossa, a capacidade de ensinar foi tão valorizada como a experiência. Quando você está treinando um time que vai passar por alguns percalços de crescimento, ter uma comissão que possa sustentar a paixão e o entusiasmo pelo jogo é realmente importante. Para que os jogadores jovens não desanimarem, seguirem competindo e melhorando. Esse é o principal”, disse.

Agora, nesse processo, pode muito bem acontecer o reverso. Dá para todo mundo aprender alguma coisa. “Há jogadores que são muito mais inteligentes que os treinadores. Você pode aprender com eles só de assisti-los. Estava vendo o Kobe um dia, e ele me ensinava sem saber. Estava apenas vendo e ouvindo”, afirmou Snyder, que não pára de estudar, mesmo.

Hayward, em franca evolução

Hayward, em franca evolução

O time: bem, já adiantamos um pouco as coisas aqui. É uma equipe bastante jovem, que não vai conseguir brigar para chegar aos playoffs. A missão é realmente desenvolver os garotos, e os primeiros sinais dados por Gordon Hayward e Derrick Favors já são muito positivos. E o desenvolvimento realmente precisa ser acelerado: com altos salários para esses dois e Alec Burks, o Utah aceitou que essa é a base deles para o futuro. Na NBA, você nunca sabe quando vai pintar uma troca, mas, por ora, essa é o núcleo, mesmo.

Em quadra, Snyder pede um estilo de jogo muito mais veloz do que o das últimas campanhas com Corbin, acompanhando a tendência da liga. Podem esperar muitos arremessos de longa distância, tal como era pedido em Atlanta. Trevor Booker, por exemplo, já arriscou 21 chutes de longa distância nas primeiras 18 partidas. Em toda a sua carreira, em quatro temporadas, ele havia tentado apenas dez. De qualquer forma, o treinador quer por mais ênfase, mesmo, na orientação defensiva. O que era uma carência, e tanto.

A pedida: curva de crescimento acentuada e, inevitavelmente, mais uma boa escolha de Draft.

Enes Kanter também quer um contrato

Enes Kanter também quer um contrato

Olho nele: Enes Kanter. Gente, o pivô turco ainda não passou uma noção exata sobre que tipo de jogador pode ser na liga. Mas fiquem certos de que ele também vai querer sua parte em dinheiro. Ainda muito jovem, com 22 anos, Kanter confia que vá receber uma boa proposta ao final da temporada, quando vira agente livre restrito. Resta saber se vai ser do Utah, que já tem muita grana investida em três atletas. É um promissor reboteiro e pontuador, e vai expandindo seu raio de ação sem perder eficiência. Muito lento em sua movimentação lateral, a questão que fica é sobre o quanto ele vai progredir como defensor individual ou coletivamente.

Abre o jogo: “O técnico realmente partiu para cima de nós no intervalo. Sinceramente, estávamos todos chocados ao ver o quão agitado ele ficou”, Trey Burke, sobre um momento de ira de Snyder durante duelo com o Oklahoma City Thunder. A equipe chegou a ficar 17 pontos atrás de um adversário totalmente arrebentado. Acabaram vencendo pelos mesmos 17: 98 a 81. Quer dizer: mente brilhante, e tal, mas que também sabe gritar.

Você não perguntou, mas… Quincy Snyder é um caso raro de treinador que tenha trabalhado com o Coach K em Duke e prosperado na sequência de sua carreira. É algo de fato intrigante, principalmente pelo sucesso que os caras do outro lado – os Tar Heels. A irmandade da Universidade de North Carolina se mostra muito mais influente. Da árvore genealógica de Dean Smith, saíram nomes como Larry Brown, George Karl, Doug Moe, Mitch Kupchak, entre outros. Michael Jordan não conta.

piculin-ortiz-utah-jazz-cardUm card do passado: José “Piculín” Ortiz. Quando Jerry Sloan assumiu o Utah Jazz no decorrer da temporada 1988-89, estava lá o par John Stockton e Karl Malone, a montanha humana Mark Eaton e os alas Darrell Griffith e Thurl Bailey como principais figuras. Havia também esse pivô porto-riquenho formado pela Universidade de Oregon State, que se tornaria uma lenda do basquete na ilha caribenha, mas foi pouquíssimo aproveitado em apenas dois anos de NBA. Piculín disputou 51 partidas naquela campanha, sendo titular em 15, com médias de 2,8 pontos, 1,1 rebote em apenas 6,4 minutos. Já tinha 25 anos. Em 1989-90, ele faria apenas 13 partidas, com ainda menos minutos. Foi dispensado em fevereiro de 1990, seguindo carreira na Espanha. Passou por Real Madrid, Barcelona, jogou na Grécia e retornou a Porto Rico em 1997. Ele se aposentou apenas em 2006, aos 43.


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Giancarlo Giampietro

Garotada do MundialA vontade era chamá-los de caçulinhas. É um termo que agrada muito  ao blog. Mas a verdade é que a faixa etária dos dez jogadores listados abaixo varia de 17 para 24 anos. Estão em diferentes estágios de desenvolvimento, então vamos de “nova geração”, mesmo, algo mais abrangente. Independentemente da idade, o papel de cada um deles sem suas seleções também varia bastante. Alguns são protagonistas. Outros só devem receber uma boa quantidade de minutos quando o jogo estiver definido – contra ou a favor. Vamos lá, então:

Anthony Davis (EUA): 21 anos e cinco meses
É até injusto, né? O Monocelha joga tanto, que não deveria estar nem aqui, abrindo a relação. Fatos são fatos, porém. Ele completou apenas sua segunda temporada na NBA. E foi uma campanha daquelas: 20,8 pontos, 10 rebotes e 2,8 tocos, 51,9% nos arremessos e um jogo em expansão contínua, como vemos neste gráfico de arremessos:

Lembrando: amarelo é a média da liga. Verde, acima.

Lembrando: amarelo é a média da liga. Verde, acima.

Davis tem matado os chutes de média distância com mais frequência. Esses percentuais só tendem a subir, ainda mais quando tiver ao seu lado um time consistente (Jrue Holiday, Ryan Anderson e Eric Gordon penaram todos com lesões). Basicamente, na NBA a sensação é a de que o ala-pivô está destinado a ser o próximo soberano da liga, chegando logo mais para a disputa com LeBron e Durant. Por ora, com tantos desfalques na seleção americana, o garoto tem a chance de dar um grande salto agora já, assim como o cestinha de OKC fez em 2010. Suas responsabilidades aumentaram, e todos creem que ele está pronto para assumi-las – não há pivô lá fora que consiga competir com ele atleticamente. Quando você o vê em ação, entende rapidamente o apelo: muito ágil, inteligente e explosivo para alguém de seu tamanho e envergadura. Faz estragos no pick and roll e também se sente bem confortável com a bola em mãos, driblando em direção ao aro. Deve ser daqueles atletas de tirar o sono quando observado ao vivo. Que o público na Espanha desfrute.

Dario Saric (Croácia): 20 anos e quatro meses
O prodígio croata está há tanto tempo nas relações de prospectos europeus, que soa também já como um veterano. Em 2011, ele venceu o Nike International Junior Tournament ao lado de Mario Hezonja e foi eleito o MVP da competição. Aí pronto: virou parada obrigatória para qualquer scout. Estamos falando de um rapaz de 2,08 m de altura que enxerga a quadra como um armador. Um jogador verdadeiramente único, difícil de se comparar. Claro que, vindo da Croácia, todo mundo já foi citando logo “Toni Kukoc”, mas não sei se é por aí, não. Ao mesmo tempo em que chamou a atenção em quadra, nos bastidores Saric se viu envolto por uma série de situações desagradáveis – e um tanto nebulosas. Assinou com o Bilbao, seu time não o liberou, ficou na geladeira, acabou se transferindo para o KK Cibona, também de Zagreb, brigou com o pai, trocou de agentes… Uma epopeia. De qualquer forma, seu talento é tamanho que, independentemente da confusão ao seu redor, na quadra ele acalmava quaisquer dúvidas. Seu progresso está todo documentado pelo obrigatório DraftExpress.

No final da temporada, o croata liderou seu modesto clube a um inédito título na Liga Adriática, com um desempenho espetacular na fase decisiva (veja abaixo na produção formidável de Mike Schmitz, do DX). Foi o MVP do torneio.  Depois, acertou sua transferência para o Anadolu Efes, clube turco que promete bastante na próxima Euroliga, e enfim se decidiu a respeito do Draft da NBA, sendo selecionado pelo Philadelphia 76ers em 12º. Mesmo que não vá fazer a transição para a liga americana agora, atendendo aos anseios do pai, que pede mais tempo na Europa, para ganhar cancha e se desenvolver, ainda mais sob a orientação do legendário Dusan Ivkovic. Chega ao Mundial já como protagonista numa equipe que conta com astros europeus como Bojan Bogdanovic e Ante Tomic. O mesmo ainda não pode ser dito sobre o ala Mario Hezonja, um cestinha muito habilidoso, mas de pouca rodagem na elite.

Bogdan Bogdanovic (Sérvia): 22 anos e dez dias
O ala-armador, que desbancou esse tal de Giancarlo Giampietro como capitão do time da aliteração nominal, é outro que acabou de se transferir para os milionários clubes da Turquia depois de se destacar nos bálcãs e antes de ser escolhido no Draft da NBA (Phoenix Suns, em 27º). Eleito o melhor jogador jovem da última Euroliga pelo Partizan Belgrado, ele vai jogar pelo apelão Fenerbahçe após o Mundial, substituindo seu xará Bojan Bogdanovic (o croata, acima citado, que migrou para o Brooklyn Nets). Antes de sair do Partizan, deixou sua marca nas finais do campeonato sérvio: com 30,8 pontos, 4,8 rebotes e 4,2 assistências, liderou mais uma vitória contra o arquirrival Estrela Vermelha para conquistar seu quarto título nacional, também o 12º seguido do clube. Deve estar pouco idolatrado por lá…

De coadjuvante na base a estrela em ascensão no profissional, Bogdan-Bogdan é um jogador que evoluiu muito nos últimos dois anos, tendo a liberdade para errar e aprender com a camisa do Partizan, clube que compete na Euroliga, mas sem grana para grandes contratações, dependendo muito do desenvolvimento de atletas mais jovens. No ataque, hoje ele faz um pouco de tudo: ameaça nos tiros de três pontos, parte de modo explosivo para as infiltrações e consegue criar para os companheiros, cometendo alguns turnovers no meio do caminho, é verdade. No clube, era o dono da bola. Agora, na seleção, como um dos mais jovens, precisamos ver como será a integração com um casca-grossa como Milos Teodosic e o quanto ele vai deferir para os pivôs mais experimentados.

– Giannis Antetokounmpo (Grécia): 19 anos e oito meses
O “Greek Freak” preferido de Milwaukee e já de toda a NBA, na real. A história do ala é tão rica, tão fascinante, que não merece ser descrita em quatro ou cinco linhas – ainda mais pelos paralelos com Bruno Caboclo, no que se refere a sua chegada aos Estados Unidos. Vamos explorar do modo devido após o Mundial, antes de a temporada 2014-14 começar. O que dá para dizer é que, há um ano e meio, Giannis estava jogando na segunda divisão grega e estreando pela equipe nacional sub-20. Hoje, é impossível deixá-lo de fora do time adulto, mesmo que ele esteja longe de ser um produto acabado. Não esperem que ele domine a competição – em sua seleção, a prioridade, por enquanto, é de veteranos como Calathes, Printezis, Bourousis e Papanikolau. Não deve chegar nem a 10 pontos ou 25 minutos por jogo. Mas fique atento aos seus flashes de exuberância atlética durante as apresentações helênicas e sua fluidez com a bola, que impressiona Jason Kidd. Na NBA, vocês sabem, né? Depois do que fez em sua primeira temporada, considerando quão inexperiente é, há gente de respeito que crava: vai ser uma superestrela.

Dante Exum (Austrália): 19 anos e um mês
Com todos esses jogadores, é preciso calma. Especialmente com Exum. Estamos falando de outro menino bastante badalado desde muito cedo. O pessoal baba ao falar deste menino e sua velocidade e desenvoltura com a bola. Ele foi o quinto selecionado no último Draft da NBA. Se é tão bom assim, então por que cargas d’água ele fica no banco da seleção australiana, ainda mais sem Patty Mills? Porque os Boomers não têm pressa nenhuma com seu jovem armador, por mais que velocidade seja o forte do atleta. Ainda vai chegar o momento dele. Por enquanto, em seu primeiro campeonato adulto oficial, sua missão é entrar no decorrer da partida e tentar dar mais agressividade ao ataque de um time que terá uma formação inicial bastante pesada, centrada nos pivôs Aaron Baynes e David Andersen, com Matthew Dellavedova, sólido calouro do Cavs, organizando as coisas. Não dá para esperar que ele faça isso aqui (Mundial Sub-19 de 2013):

–  Joffrey Lauvergne (França): 22 anos e 11 meses
   Rudy Gobert (França): 22 anos e dois meses
Gobert nem seria convocado não fossem os diversos desfalques da seleção francesa no garrafão, como Joakim Noah e Alexis Ajinça. Lauvergne seria reserva, se tanto. Ian Manhinmi e Florient Pietrus devem ganhar seus minutos ao lado de Boris Diaw, mas é de se esperar que, com o decorrer da competição, os mais jovens ganhem espaço, por um estilo de jogo que se encaixa melhor com seus companheiros – e também porque já são melhores que os veteranos. Cá estão os dois pivôs com a obrigação de proteger a cesta dos Bleus, que entram no Mundial como os atuais campeões europeus. Quer saber? Os adversários que não os menosprezem.

Draftado e tido em alta conta pelo Denver Nuggets, Lauvergne foi companheiro de Bogdan-Bogdan no Partizan e liderou a Euroliga em rebotes (8,6 por jogo), além de ter marcado 11,1 pontos por jogo em sua segunda campanha pelo torneio continental. Sua presença em quadra é realmente entusiasmante, aprontando um alvoroço diante das tábuas ofensiva e defensiva. Tem um ótimo senso de colocação além de energia e mobilidade – bons complementos para Diaw. Neste ano, vai jogar pelo Kimkhi Moscou, fora da Euroliga. Já Gobert jogou bem menos na temporada passada, esquentando o banco em Utah, mas, a julgar pelo que fez na Summer League de Vegas e nos amistosos, parece pronto para se fixar tanto na rotação de sua seleção como na do Jazz. O pirulão não precisa pontuar muito. Na defesa, é um substituto ideal para Ajinça devido a sua envergadura e habilidade nos tocos. Veja o tamanho do cara:

Cedi Osman (Turquia): 19 anos e quatro meses
Existem armadores altos e existe Osman, de 2,03 m de altura e grande aposta de uma nova safra de jogadores turcos que tem tudo para dar um trabalho danado no próximo ciclo olímpico – junto com os canadenses. Vindo de sua primeira temporada de Euroliga, o adolescente acabou de conquistar o ouro e o prêmio de melhor jogador do Eurobasket Sub-20 deste ano, na Grécia. Brilhou quando valia mais, na reta final do torneio, com 63 pontos, 16 rebotes, 9 assistências e 68,9% nas últimas três partidas (é o canhotinho camisa 8 no vídeo abaixo, um compacto da final). Os jogadores mais experientes da Turquia, Arslan, Tunçeri, Ermis e Guler, são tão inconsistentes, erráticos que não será de se assustar se Osman ganhar tempo de quadra. Ainda mais tendo lado do ala Emir Preldzic, um autêntico point forward, nos moldes de Saric, que será seu companheiro no Anadolu Efes. Tendo os Estados Unidos em seu grupo, vai ser avaliado de perto pela NBA.

Sviatoslav Mykhailiuk (Ucrânia): 17 anos e dois meses
Não custava nada: por mais jovem que Mykhailiuk fosse, não é que Mike Fratello tivesse tanto talento assim ao seu dispor para nem menos convocar a sensação do país para treinar com o time principal. É um gesto recorrente, que Magnano já havia feito por aqui com Raulzinho, por exemplo. Não prometia nada. Pelo contrário: dizia que era muito difícil que o ala-armador, magrelo toda vida, conseguisse uma vaga no grupo do Mundial. Semanas depois, como já adiantamos neste apanhado geral aqui, o moleque vai para o torneio como seu atleta mais jovem. Esse, sim, um caçulinha. Um precoce que já compete na primeira divisão em seu país e chamou a atenção no Nike Hoop Summit deste ano, aos 16, mesmo sendo bem mais jovem que a concorrência. Capacidade atlética acima da média, um arsenal já impressionante de movimentos no ataque, boa leitura de jogo e personalidade a ponto de ser fominha por vezes. Um potencial tremendo, mas que não deve jogar muito nas próximas semanas, não. Ainda é muito frágil fisicamente. Detalhe: já está comprometido em defender a universidade de Kansas na próxima temporada. O técnico Bill Self não conseguiu esconder a (desagradável) surpresa que teve ao ver o adolescente ser convocado. “Estou feliz por ele. Mas fico um pouco preocupado que ele vai chegar atrasado, que é o que vai acontecer. E, sem querer colocar muita pressão nele, eu estava esperando que ele realmente estivesse pronto para ser um grande contribuidor para nós no meio de novembro. Agora pode ser que leve um tempo a mais para ele”, disse. Viram só quanto ele está feliz pelo garoto?

Gorgui Dieng (Senegal): 24 anos e sete meses
Eu sei, eu sei: duas dúzias de vida, no basquete de hoje, pode parecer mais as contas de um veterano do que de um noviço. E o curioso é que “Gorgui”, na língua nativa de Dieng, significa “O Velho”. Mas o pivô do Minnesota Timberwolves é mais um daqueles que começou a jogar tarde, ainda mais num nível minimamente competitivo. Ele chegou aos Estados Unidos apenas em 2009, para jogar pela Huntington Prep School, que já trabalhou com Andrew Wiggins e Carlos Arroyo. Ganhou evidência e acertou com Rick Pitino para jogar (e estudar) por Louisville. Progrediu bastante em três anos com os Cardinals e foi campeão universitário em 2013, fazendo a cobertura de uma defesa sufocante com Russ Smith e Peyton Siva. Na NBA, como calouro, levou alguns meses para ele se aclimatar. Quando Nikola Pekovic sofreu mais uma lesão, passou a ser mais utilizado e estourou a boca do balão, com médias de 11,9 pontos e 10,7 rebotes em nove jogos em abril. Em março, já havia tido jogos de 22+21 e 15+15 e 11+17. É uma presença bastante ativa e intimidadora perto da cesta. No ataque, produz bem no high post, como um passador natural e bom chute de média distância, ainda que tenha sido aproveitado muito mais dentro do garrafão – a flutuação ficava por conta daquele tal de Kevin Love. Ele agora vai fazer sua estreia em competições Fiba por Senegal.


Um giro rápido pelas 24 seleções do Mundial
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Giancarlo Giampietro

A Copa do Mundo está chegando, faltam só cinco dias. Então chegou a hora de o blog largar a preguiça (quem dera!) de lado e entrar no clima. Enquanto as seleções ainda se estapeiam nos amistosos, publicamos aqui um giro de observações, notas, comentários ou seja lá o que forem…. sobre cada uma das seleções participantes. Vamos pôr assim: é  um guia de iniciação básico, mas nada objetivo sobre o que vem por aí:

Angola: um time em transição, mas de pura simpatia e empatia depois da breve passagem deles pelo Rio. Estamos todos na torcida por nossos irmãos, que reinam na África e também . merecem glórias e glórias internacionais, não?

Argentina: quantos jogadores Andrés Nocioni vai tirar do sério? Como Llamas vai encaixar tantos atletas similares num mesmo quinteto? Quantas vezes por jogo seremos lembrados que, sim, é uma pena que Ginóbili e Delfino não estejam listados? Há time mais velho e devagar que esse? E a renovação? E a crise política? Incrível como adoramos questionar os hermanos. Falta terminar acima deles na tabela uma vez que seja…

Austrália: quietinhos, quietinhos no paralelo 27º S, os Aussies vão montando um time de muito respeito, para agora e para muitos anos à frente (Dante Exum, este ano, só por alguns minutinhos). Choremos todos, porém, a ausência de um empolgadíssimo Patty Mills após suas jornadas de arromba com o Spurs. Por conta própria, o formiguinha atômica poderia incitar toda uma revolução na Espanha.

Brasil: Vocês sabiam que, para muita – mas muita gente, mesmo –, a seleção tupiniquim entra no Mundial como séria candidata a medalha, né? E, imagino, também sabiam que, para entrar nessa festa, a CBB desembolsou mais de R$ 2 milhões por um convite. Isso quer dizer pressão.

Coreia do Sul: confesso minha ignorância. Esperava um monte de baixinhos de 1,70m, rodeando o poste humano que atende por Ha Seung-Jin, atirando de três pontos sem parar. Pelo menos era o que meu avô me dizia. Mas, putz, nem o Seung-Jin está nessa.

Croácia: eles importaram mais um norte-americano, o que representa um sacrilégio, mas a verdade é que há uma nova geração surgindo cheia de potencial. Dario Saric já vale para agora, enquanto Mario Hezonja não deve jogar por mais que 10 minutos em média. Daqui até a próxima edição, porém, vale monitorar como estará, especialmente, o adolescente Dragan Bender. Guardem os nomes.

Egito: estão no Mundial muito mais para preencher a frase: “O time para o qual o Brasil não pode perder de jeito nenhum é o _______”. Dois rapazes têm NCAA em seus currículos, mas não esperem nem mesmo um Salah Mejri aqui.

Eslovênia: Dragic ou Dragic? Na dúvida, vai de Dragic, mesmo. Os irmãos Goran e Zoran – que não são gêmeos, apesar da foto abaixo –, vão descer a quadra a mil. Pegue todo o estereótipo que o mundo faz de armadores americanos, embrulhe e jogue no lixo. Aqui é adrenalina, e que os malas Sasha Vujacic e Beno Udih, fora da festa, fiquem muito bem de pernas para o ar.

Goran e Zoran. Ou Zoran e Goran: na época de Houston, fotografos por Daryl Morey

Goran e Zoran. Ou Zoran e Goran: na época de Houston, fotografos por Daryl Morey

Espanha: também a despedida de uma geração histórica? Difícil imaginar Pau Gasol, Navarro e Calderón reunidos daqui a dois anos no Rio. O Rudy Fernández, porém, na certa virá. Ele que é desde já o candidato a grande ator do Mundial, jogando seu topete de maneira dramática para um lado e para o outro, a cada perspectiva de pancada.

Estados Unidos: desde a retomada guiada por Jerry Colangelo, encaram seu maior desafio. E mais: em casa, só serão notícia no caso de não voltarem com o ouro para casa.

Filipinas: quais as chances de Andray Blatche abandonar o navio antes do final da fase de grupos, no caso de receber todos os seus cheques com antecedência? Eu chutaria que estão acima de 87%.

Finlândia: Os lobos. Hanno Möttölä. Angry Birds. O basqueteiro conservador mais que angry, irado. Tudo aqui: #Susijengi.

França:  há vida sem Tony Parker, JoJo e, agora, De Colo? Acho que sim. Mais uma chance para Boris Diaw mostrar que é um novo homem, com menos hambúrgueres na cintura, e para Nic Batum botar em prática seu vasto arsenal. No garrafão, Joffrey Lauvergne vai brigar por todos os rebotes, enquanto o espigão Rudy Gobert pede passagem. O pior é que, num excesso de precaução, Ian Mahinmi pode ser o escolhido. Oui, aquele.

Grécia: Vamos lá, gente, todo mundo junto: Giannis A-n-t-e-t-o-k-o-u-n-m-p-o. Giannis Antetokounmpo. Agora rápido: Giannisantetkounmpo! Em grego, “menino de ouro” deve ser uma expressão bonita.

Irã: É o show de Hamed Haddadi, e não se fala mais nisso.

Lituânia: é a terra do basquete, aonde o futebol quase não tem vez. Além do mais, pode não haver nenhum sobrenome do peso de Sabonis, Karnisovas, Siskauskas ou Jasikevicius, mas estamos diante de um timaço aqui, com uma penca de pivôs habilidosos.

México: vamos, cabrones. Campeões da Copa América. Campeões do Centrobasket. Esses muchachos estão na crista da onda, liderados pelo ainda subestimado Gustavo Ayón. Precisa ver apenas se já não chegam ao Mundial consagrados demais.

Nova Zelândia: são esforçados, e tal, mas, sem Steven Adams, não há muito com o que se distrair aqui. Que puxa. Podemos colocar assim: já houve um tempo em que eles eram verdadeiros rivais da Austrália, como o veterano Kirk Penney bem sabe. Se ele já sente saudades do Sean Marks, hoje dirigente do Spurs, imagine do Pero Cameron!?

Porto Rico: são eles que agora  desfrutam da ideia de que alcançaram a maturidade sob o comando de um estrangeiro: Paco Olmos, que já foi técnico do ano na ACB. Ao mesmo tempo, fica a impressão de que estamos a um ou dois estalos de dedo para ver Balkman perdendo as estribeiras em quadra e/ou Barea e Arroyo se pegarem pelo pescoço em disputa pela chave do carro. Se os baixinhos coexistirem em harmonia, pode ir longe o time.

República Dominicana: que faz falta o craque Al Horford, ô se faz. Mas ainda formam um time traiçoeiro, com sua turma doidinha toda vida no perímetro, com destaque para James Feldeine, um bandejeiro de primeira. De resto, fiquem de olho garotão Karl Towns, uma das maiores promessas das Américas, que vai da Espanha para o campus de Kentucky.

Senegal: aqui também não dá para fugir muito do estereótipo que todos vão evocar sobre uma seleção senegalesa. De que será uma equipe hiperatlética, com Gorgui Dieng fazendo das suas no garrafão, mas com alguns problemas no controle de bola. Que nos provem o contrário.

Sérvia: a cada torneio, de um mês para outro, temos a sensação de que eles trocam de geração – e de que estão sempre envolvidos por uma presepada. Mas sempre surge quem tenha toda a pinta, mesmo, de que pode carregar um país dessa tradição nas costas. Bogdan Bogdanovic ainda não precisa fazer isso, mas pode ser que num futuro bem próximo seja esse o seu papel.

Turquia: 98 pivôs de razoáveis para bons, incluindo ao totalmente excelente Omer Asik, mas esbarrando numa armação precária, com jogadores que fazem até mesmo nossos amigos peladeiros venezuelanos parecerem mestres Gedai.

Asik, Kanter, Erden, Ilyasova, Savas, Gonlum... Grandalhões não faltam para a Turquia

Asik, Kanter, Erden, Ilyasova, Savas, Gonlum… Grandalhões não faltam para a Turquia

Ucrânia: tem tudo para estrelar as partidas mais chatas do campeonato. O índice Morfeu é altíssimo, acreditem – parabéns a quem editou o vídeo abaixo, dando alguma emoção. Com exceção de Viacheslav Kravtsov (ex-Suns e Pistons), seus pivôs jogam arrastando maças de ferro de no mínimo 50 kgs no pé de apoio. Dá até dó de Pooh Jeter e Sergii Gladyr, dois caras (que tentam ser) criativos. Tudo sob a orientação minuciosa de Mike Fratello, o mesmo técnico que já dirigiu alguns dos times mais modorrentos da história da NBA nos tempos de Cleveland. Seu apelido é Czar, mas isso vem de muito antes, tá?


Austrália é o sexto país a se garantir na Copa do Mundo de basquete masculina
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Giancarlo Giampietro

Impressionante. Dá para acreditar numa coisa destas!?

Na Oceania, a Austrália conseguiu duas vitórias sobre a Nova Zelândia, se sagrou campeã continental e garantiu a sexta vaga na Copa do Mundo de basquete masculina de 2014.

A Formiguinha Atômica

Patty Mills, e tudo numa boa na Oceania

Passado o susto, um breve resumo sobre o que aconteceu na série. Na primeira partida, em Auckland, fora de casa, os Boomers venceram por 70 a 59. Na segunda, deu 76 a 63. Bem, vemos, então, que não chegou a ser uma surra para os australianos mas eles também não chegaram a ter grandes problemas.

Os dois jogos apresentaram um padrão: a Austrália saiu na frente, a Nova Zelândia venceu sempre o segundo quarto (saldo de +19 pontos para eles em 20 minutos, vai entender), e aí que os favoritos voltavam do vestiário dispostos a acabar com a brincadeira, colocando forte pressão em cima da bola, com uma marcação adiantada, desestabilizando os Tall Blacks, que não contam com bons armadores.

“Fiquei bastante satisfeito com a defesa da equipe, em termos de aonde temos de ir, nos posicionar, avançando em quadra e  perturbando”, afirmou o técnico Andrej Lemanis, técnico local que assumiu o comando da seleção no lugar de Brett Brown, ex-assistente de Gregg Popovich e recém-nomeado treinador do Philadelphia 76ers. Lemanis dirigiu o New Zealand Breakers por oito temporadas consecutivas e vem de um tricampeonato na liga australiana.

O cestinha dos Boomers nos dois confrontos foi o armador Patty Mills – e aqui não há nenhuma surpresa também. Disparado o jogador mais perigoso com a bola entre os escalados, ele anotou 41 pontos em 59 minutos no confronto, acertando 50% dos arremessos (66,7% de dois e 38,9% na linha de três pontos).

Vestindo a camisa de sua seleção, Mills tem sinal verde para disparar. O time adota uma configuração interessante para liberar seu matador, com múltiplos jogadores de drible talentoso. Lemanis confiou que Matthew Dellavedova, Adam Gibson e Joe Ingles pudessem levar a bola, ajudando a desafogar o jogo a Formiguinha Atômica do Spurs entrar em ação.

Outro ponto interessante dos confrontos foi a possibilidade de dar cancha ao ala-armador Dante Exum e ao ala Ben Simmons, dois garotos nascidos, respectivamente, em 1995 e 1996. Juntos, eles tiveram 25 minutos nas duas partidas. Exum é considerado uma das maiores promessas do basquete mundial, vindo de um torneio dominante no Mundial Sub-19 deste ano, enquanto o caçula Simmons joga no basquete colegial norte-americano.

Esses são todos atletas versáteis, talentosos e ainda em um ponto de evolução nas suas carreiras, de modo que a Austrália vai chegar ao Mundial bem servida no per≥ímetro. Contra os neozelandeses, os pivôs Andrew Bogut e Aaron Baynes foram desfalques, deixando que o decadente David Andersen segurasse as pontas acompanhado de Luke Nevill e do jovem Cameron Bairstow. Com o garrafão completo, temos aí um time capaz de incomodar muita gente.

E sai para lá, Taiti.

 


Campeão asiático, Irã está no Mundial. E o que mais sobre o 1º torneio classificatório?
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Giancarlo Giampietro

Haddadi ali com o bração aberto

Irã: WE ARE THE CHAMPIONS! Via @HamedHaddadi

A profecia se fez como previsto: 2013, e Hamed Haddadi lidera o Irã a mais um título do campeonato asiático da Fiba. Como MVP, claro.

Daria para fazer aquela autopromoção básica, né? Sacar aquele bacaninha, supimpa “conforme antecipamos”, mas isso já está mais batido que a própria rotina de glórias e dominância do pivô no vasto continente. Pensou em basquete de seleções na Ásia, pensou em Haddadi, meus amigos.

Na final, já com a vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014 garantida, o iraniano se aproveitou da ausência do americano Marcus Douthit e trucidou os pivôs das Filipinas, os donos da casa, somando 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos. Escreveria aqui que ele teve sua jornada de Shaquille O’Neal, mas nem isso vale, já que converteu 71,4% de seus lances livres.

Agora, descentralizando um pouco o post, fugindo da sombra de Haddadi, vale destacar que a final em Manila não foi exatamente um passeio para o país do Oriente Médio. O primeiro tempo terminou com uma vantagem de apenas um ponto (35 a 34) para os visitantes. Até que as parciais de 27 a 19 e 23 a 18 nos quartos seguintes resolveram a parada (85 a 71).

Foi um contraste de duas abordagens ofensivas distintas.

Os filipinos, por Deus!, arremessaram 34 vezes da linha de três pontos, contra 35 de dois. Por uma mísera e infeliz bolinha de dois que eles não conseguem a maioria absoluta das tentativas do meio da quadra. Um pecado certamente lamentado por Porto Rico e muitos patrícios. Não importando de onde dispararam, o fato é que a turma deixou os dois aros significativamente avariados, com uma pontaria de apenas 31,9% no geral – se de fora eles fizeram 29,4%, não dá para dizer que havia uma bola de segurança interna (apenas 34,3%).

Já os iranianos ao menos tinham Haddadi para desequilibrar. Com ele, acertaram 61,4% dos chutes de dois pontos, para compensar os desastrosos 17,6% de longa distância (3/17, uma blasfêmia). Eles também se atrapalharam todos com a bola, cometendo 19 turnovers.

De todo modo, mesmo com essa carência evidente no seu jogo de perímetro, é de se admirar o fato de que o Irã tocou sua campanha sem contar com a ajuda de nenhum estrangeiro, algo cada vez mais raro em competições internacionais. Jogaram, mesmo, e de forma competente, com seus Davoudichegani, Afagh e Jamshidijafarabadi, para pesadelo dos locutores nacionais.

Coreia é bronze!

Coreia do Sul de Eric Sandrin está na Copa também

O mesmo vale, aliás, para a Coreia do Sul, que beliscou a terceira vaga ao bater Taiwan na disputa pelo bronze, por 75 a 57. Quer dizer, se formos levar ao pé-da-letra, havia um estrangeiro no time: o veterano ala-pivô Lee Seung-Jun, de 35 anos, também conhecido como Eric Sandrin, norte-americano filho de uma coreana e que andou jogando até mesmo pelo Brasil na década passada – foi parceiro de Sandro Varejão e Ratto no Brasília. Andarilho, passou também por Luxemburgo e Portugal até se estabelecer lá por perto de Seul. Então é como se ele fosse um Scott Machado veterano.

Para os torcedores saudosistas do Portland Jail Blazers, a nota triste fica pela ausência do gigante Ha Seung-Jin. Xuim. Nesta preliminar, o sul-coreanos ensinaram aos filipinos como se faz, convertendo 45,8% de seus arremessos de três pontos (pontaria superior ao que tiveram de dois, 43,9%). Inicialmente, esse número seria um alívio. Tudo o que gostaríamos de escrever aqui era que, a despeito de toda essa mudança climática e da revolução 2.0, ainda poderíamos respirar em paz sabendo que um time coreano ainda chuta bem de fora. Mas, no geral, eles tiveram rendimento de apenas 34% no campeonato (66/194), algo alarmante. Estamos todos fritos, mesmo.

Quer dizer: todos menos Haddadi.

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A China, com todo a grana, astros (ou ‘astros’, coff, coff!) da NBA importados para sua liga nacional, protagonizou a grande façanha do Campeonato Asiático, ao ficar sem vaga direta para a Copa do Mundo. A equipe passou por um papelão na fase de quartas de final ao perder Taiwan por 96 a 78. Justo para quem! Nessa partida, os chineses venceram o primeiro tempo por dez pontos de vantagem, mas tomaram uma virada escandalosa no terceiro período (31 a 12). Para registrar, o pivô Yi Jianlian perdeu alguns jogos no torneio devido a uma contusão, mas esteve em quadra nos mata-matas. Em cinco jogos, ele teve médias de 17,4 pontos e 6,6 rebotes em apenas 24,6 minutos por partida. Na hora de distribuição dos quatro convites para o torneio, porém, é bem provável que a Fiba lhes reservem um.

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Interessante a classificação das Filipinas para o Mundial. O país é doente por basquete, a ponto de entender que JaVale McGee é uma espécie de Deus – vejam que coração bom têm os católicos de lá. Kobe Bryant anda por lá neste momento, enfrentando tempestade e tudo, LeBron James fez uma visita-relâmpago há pouco, e a capital Manila conta com uma arena de primeiro nível, que, depois de receber o torneio continental neste mês, vai acolher um amistoso de pré-temporada entre Rockets e Pacers, no dia 10 de outubro.

Mall of Asia Arena

A Mall of Asia Arena, com capacidade para 16 mil espectadores

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Os torneios qualificatórios regionais continuam nesta semana com o clássico entre Austrália e Nova Zelândia, na Oceania. O primeiro jogo será na quarta-feira, em Auckland, e o segundo, domingo, em Canberra. Com Patty Mills, Joe Ingles, David Andersen, Matthew Dellavedova e a revelação Dante Exum no elenco, os Boomers são claramente os favoritos. Pelos Tall Blacks, nada de Steven Adams (jovem pivô selecionado na 12ª posição do Draft da NBA pelo Oklahoma City Thunder) e do veterano Kirk Penney. Destaque para o ala-armador Corey Webster, um cestinha explosivo, e para o ala faz-tudo Tom Abercrombie.


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