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Arquivo : Bogut

O que está por trás da grande campanha da Austrália
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Giancarlo Giampietro

Dellavedova: inteligência não falta aos Boomers

Dellavedova: inteligência não falta aos Boomers

Por Rafael Uehara*

É de se argumentar que a seleção australiana foi a melhor equipe da primeira fase neste #Rio2016. Venceu quatro dos seus cinco jogos, com margem de 21,5 pontos por vitória, e sua única derrota veio para a seleção americana, por meros 10 pontos que não refletem de forma correta o quanto aquele jogo pareceu em aberto até os últimos cinco minutos.

É uma campanha que tem sido considerada um tanto quanto surpreendente, mas provavelmente não deveria ser.

Analisando este elenco, vemos seis jogadores de NBA, três deles parte de times que concorreram ao título na temporada passada, embora todos coadjuvantes. Também não há nenhum protagonista no mais alto escalão do basquete europeu neste grupo. David Andersen já teve seus dias de estrela com o Siena e o Fenerbahçe, mas hoje joga na mediana liga francesa e sua produção lá também não é nada de se encher os olhos.

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Porém, estes sete jogadores, mais o atirador certeiro Ryan Broekhoff e o armador relativamente versátil Kevin Lisch formam uma rotação sem nenhum ponto fraco considerável, e muito bem treinado pelo técnico Andrej Lemanis. Esse time tem mostrado que a força coletiva, quando organizada de forma inteligente, pode compensar à falta de talento individual.

Patrick Mills e Matthew Dellavedova não são criadores de primeiro nível na NBA. Não seria a melhor decisão depender deles para criar contra uma defesa bem armada com freqüência. Mas ambos são extremamente inteligentes e precisam apenas de ligeira vantagem para penetrar o garrafão, forçar rotações e desestabilizar a marcação adversária.

Para proporcioná-los essa vantagem, Lemanis criou um sistema ofensivo com corta-luzes altos, colocando bastante ênfase especialmente no corta-luz em transição. Nem sempre isso resulta em caminho aberto para os armadores partirem pra cima, mas, quando simplesmente forçam trocas, já tiram a defesa fora do seu plano de ação. A seleção americana, em particular, sofreu com esse tipo de ação.

Na meia-quadra, o ataque australiano se movimenta bastante, com os jogadores posicionados na zona morta constantemente fazendo o corta-luz uns para os outros, tentando libertar alguém para um corte pra cesta ou um tiro de três pontos sem marcação. Em cinco jogos, o time tem aproveitamento de 59% em tiros de dois pontos e 36,2% em tiros de três pontos, além de ter registrado média de 26 assistências por jogo.

Lemanis foi submetido a um questionamento público com sua opção de escalar Andrew Bogut e Aron Baynes juntos. Dois pivôs como estes na mesma escalação vai contra os princípios do basquete moderno que prega espaçamento da defesa – não põem medo no adversário quando estão fora do garrafão, sequer com um tiro de meia distância (que Baynes tenta de vez em quando).

Bogut: um terceiro armador de 2,13m de altura

Bogut: um terceiro armador de 2,13m de altura

Mas Bogut tem jogado como quase um terceiro armador, com média de quatro assistências por jogo no torneio, frequentemente facilitando as coisas posicionando-se no topo do arco e somente descendo abaixo da linha de lances livres quando vai ao aro para receber um passe no pick-and-roll ou quando identifica que tem um jogador menor o marcando e pede a bola de costas pra cesta. A constante movimentação tem permitido que o ataque funcione bem mesmo com os dois pivôs juntos, embora há ocasiões em que a presença de Andersen (ala-pivô moderno, que precisa ser marcado no perímetro) é necessária.

Defensivamente, este time é suscetível a sofrer nas mãos de alas potentes, capazes de carregar um time nas costas. Nem Broekhoff, nem Joe Ingles têm porte atlético pra esse tipo de tarefa. É por isso que ainda sim é difícil ver esse time brecando o a seleção americana o suficiente para batê-los.

Mas com Bogut protegendo a cesta, ainda um dos melhores da NBA nesse quesito mesmo que seu corpo continue deteriorando, e Mills e Dellavedova pressionando a bola, com duas verdadeiras pestes que fazem o possível para navegar entre corta-luzes e se manterem vivos no pick-and-roll para limitarem a necessidade de rotações, esse time tem uma base para se impor nesse lado da quadra também contra todos os outros adversários, permitindo apenas média de 67,5 pontos na primeira fase para times que não o americano.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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Guia olímpico 21: Austrália e Croácia ainda acreditam
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Giancarlo Giampietro

Pergunta: Vamos agrupar cada equipe olímpica em diferentes escalões, de acordo com seu potencial (na opinião de um só blogueiro enxerido)?

Reposta: Sim, vaaaaamos!

Então aqui estão:

1) EUA
2) Espanha e França
3) Sérvia e Lituânia
4) Argentina, Austrália, Brasil e Croácia
5) Nigéria e Venezuela
6) China

Que fique claro: não é que essas castas sejam imóveis e que haja um abismo de uma para outra – excluindo os Estados Unidos como óbvios indicados ao ouro. Entre os segundo, terceiro e quarto andares, a diferença não é muito grande. São todos candidatos ao pódio. Basta lembrar que a seleção brasileira venceu França e Sérvia pela última Copa do Mundo e também bateu a Espanha em Londres 2012, num jogo muito estranho, mas paciência. E talvez até mesmo a Nigéria possa subir um piso, dependendo de sua lista final.

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Vamos com as seleções que etão faltando no terceiro grupo:

CROÁCIA

Armadores: Roko Ukic, Rok, Stipcevic.
Alas: Bojan Bogdanovic, Krunoslav Simon, Mario Hezonja, Luka Babic e Filip Kruslin.
Pivôs: Dario Saric, Miro Bilan, Darko Planinic, Zeljko Sakic e Marko Arapovic.

Bogdanovic anotou 24,2 pontos pelo Pré-Olímpicoem Turim

Bogdanovic anotou 24,2 pontos pelo Pré-Olímpicoem Turim

– O grupo: No momento em que os três pré-olímpicos mundiais foram definidos, a reação normal foi de certo alívio quando a Croácia foi designada para o grupo brasileiro, em vez de França e Sérvia. Compreensível: era o cenário menos pior. Mas não que fosse motivo para comemorar: os croatas garantiram uma vaguinha no #Rio2016 depois de baterem duas seleções talentosas como Grécia e Itália, com Giannis Antetokounmpo, Danilo Gallinari, Giannis Bourousis, Marco Belinelli e outros destaques em quadra, pelo torneio de Turim.

A final contra os donos da casa foi especialmente dramática, definida só com uma prorrogação. Isto é, estes balcânicos já passaram por duros testes neste ano para se classificar. Do mesmo tipo que vão enfrentar nos próximos dias para tentar entrar na disputa por medalhas.

É uma trajetória interessante para uma equipe desfalcada, que nem mesmo estava conseguindo contratar um técnico e que, depois de apelar nos últimos anos, agora está sem um estrangeiro, após recusa do pivô Justin Hamilton, que brilhou pela Liga ACB e assinou com o Brooklyn Nets. Para a seleção agora comandada por Aleksander Petrovic, irmão do legendário Drazen, porém, talvez valha aquela história de que “menos é mais” e pode ajudar na química.

Um pivô com o talento de Ante Tomic certamente faz bem a qualquer equipe. Mas o cara não quis jogar dessa vez. Sem poder substituí-lo com Hamilton ou mesmo com os jovens Dragan Bender, Ante Zizic e Ivica Zubac, todos draftados neste ano, o técnico poderia ter chorado pacas e jogado a toalha. Mas, não. Montou um time competitivo e aguerrido, com os limitados Miro Bilan e Darko Planinic quebrando um galho.

Isso forçou, de todo modo, que o cestinha Bogdanovic e o plural Saric jogassem mais de 30 minutos em média em Turim. Não é uma situação bacana para nenhum atleta em um calendário destes. O esforço da dupla ao menos valeu a classificação, com a ajuda do talentoso, mas desmiolado Simon.

– Rodagem: muitos dos operários que Petrovic escolheu para escoltar Bogdanovic e Saric são marinheiros de primeira viagem nesse tipo de competição e não estão nem mesmo habituados a grandes jogos por seus clubes.

– Para acreditar: é um time versátil, explorando bem os talentos múltiplos de Saric, que, por um minuto, ser o armador do time e, no outro, ser o único pivô em quadra. Luka Babic e Hezonja também podem se desdobrar em quadra. Bogdanovic é um cestinha perigosíssimo no mundo Fiba, onde não há tantos defensores atléticos assim para lhe incomodar, podendo usar seu tamanho para arremessar sobre a maioria No Pré-Olímpico, os croatas marcaram bem, usando a envergadura de um elenco bastante espichado.

Questões: Hezonja tem o talento, mas ainda é muito inconsistente para esse tipo de torneio; existe uma razão para o fato de o país ter convocado Dontaye Draper e Oliver Lafayette para as últimas competições: Ukic e Stipcevic não são confiáveis na armação. Se a defesa adversária conseguir contestar Bogdanovic, quem vai pontuar?

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?
>> Espanha ainda depende de Pau Gasol. O que não é ruim
>> Argentina tem novidades, mas ainda crê nos veteranos
>> França chega forte e lenta, com uma nova referência

AUSTRÁLIA

Armadores: Patty Mills, Matthew Dellavedova, Damian Martin e Kevin Lisch.
Alas: Joe Ingles, Ryan Broekhoff e Chris Goulding.
Pivôs: Andrew Bogut, Aron Baynes, David Andersen, Cameron Bairstow e Brock Motum.

Um grandão e os baixinhos no time mais casca grossa das Olmpíadas

Um grandão e os baixinhos no time mais casca grossa das Olmpíadas

O grupo: é só dar uma espiada na linha de frente acima para perceber que nenhum time vai querer arrumar encrenca em quadra contra os Boomers. Tá louco: é o elenco mais peso pesado do cartel olímpico, sem dúvida nenhuma, mesmo que Bogut não consiga se recuperar a tempo daquela lesão no joelho sofrida durante as finais da NBA – ele não jogava pela seleção desde 2008, até retornar no torneio Fiba Oceania do ano passado (também conhecido como clássico x Nova Zelândia). Motum é o menorzinho deles e tem 2,o8m de altura e 111 kg. Vai encarar?

Esse peso todo cobra seu preço na defesa. Por isso, o treinador Andrej Lemanis usa de diversos expedientes para tentar deixar sua equipe menos vulnerável – ou deixar suas fraquezas menos expostas, melhor dizendo. Talvez seja o time mais disposto a por em prática a marcação por zona. É aqui que o número um do Draft, Ben Simmons, vai fazer muita falta.

Lemanis também traz ao Rio algumas surpresas em sua rotação de perímetro, como o americano naturalizado Kevin Lisch, um dos principais cestinhas e atiradores da liga australiana. Ele assume a vaga que costumeiramente ficava com Adam Gibson, para revezar com Mills, Dellavedova e Goulding – um quarteto bastante agressivo e talentoso, que poderia ser ainda mais intrigante se Dante Exum estivesse apto a participar. Mills gosta de sair em transição, mas imagino que, pela seleção, isso só vai acontecer em situações bem esporádicas. Por outro lado, os anos em San Antonio lhe ensinaram a atacar com paciência, em meia quadra.

Nas alas, Ingles e Broekhoff espaçam a quadra para a criação deles. Ingles o mundo todo já conhece e admira por sua inteligência. Para quem não pôde acompanhá-lo pelo Lokomotiv Kuban, vale prestar a atenção em Broekhoff, todavia. Excelente chutador e um grande competidor na defesa que tornou Brad Newley descartável.

– Rodagem: aqueles tempos de jogadores australianos isolados do globo, tal como as aberrações naturais da grande ilha que abriga o país, já ficaram bem para trás. Hoje seus principais atletas não só estão na NBA, como têm passagens por fortes ligas europeias. Oito dos convocados estiveram na Copa do Mundo de 2014.

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Se não bastassem os gigantes, ainda tem o Delly

– Para acreditar: Mills é um cestinha explosivo no mundo Fiba; Dellavedova, como a Conferência Leste da NBA sabe, vai fazer de tudo em quadra para sua equipe sair vencedora; Bogut, se estiver bem fisicamente, vai vedar o garrafão; é um time com jogadores muito inteligentes, daqueles que agradam a qualquer treinador mais chato e detalhista.

 – Questões: todo esse peso na linha de frente deixa o time vulnerável na transição defensiva; qualquer ala-pivô stretch four com o mínimo de agilidade e talento para o chute exterior lhes vai causar problemas. Como será a fusão entre armadores mais explosivos e pivôs tão lentos? Ingles e Broekhoff não são atléticos para compensar isso.

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Kevin Durant é do Warriors, e a NBA fica atônita
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Giancarlo Giampietro

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E aí? Quem se lembra daquele tempo em que o Cleveland Cavaliers comemorava o título da NBA e o fim de um jejum de 50 anos sem título para a cidade? Tipo, há duas semanas, mais ou menos?

Se a sua cabeça está girando com o anúncio de que Kevin Durant vai ser jogador do Golden State Warriors na próxima temporada da liga, bem-vindo ao clube. Imagine como já não está a cuca de 29 coordenadores defensivos da liga, então? Ou a de Harrison Barnes e Andrew Bogut, já entendendo que não vai mais fazer parte de um dos maiores e mais divertidos times da história?

Pois é. Ao anunciar qual o “próximo capítulo” de sua carreira no site chapa branca The Players’ Tribune, o astro provocou um abalo sísmico na estrutura da liga, deixando a conquista do Cavs já como passado distante e tornando toda e qualquer negociação a ser anunciada nos próximos dias como algo insignificante. Pau Gasol vai assinar com o Spurs ou o Raptors? E interessa? É como se fosse um grande vazio existencial, e a reação dos atletas em tempo real está aí para comprovar.

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O Warriors conquistou o título em 2015. Bateu o recorde de vitórias numa temporada regular em 2016. E ficou a um triunfo do bicampeonato, contando com três All-Stars em sua escalação. Agora, não acertou com um jogador qualquer. Mas com o último MVP da liga que não se chama Stephen Curry. O terceiro maior cestinha da história e o maior em atividade, se formos nos concentrar em médias de pontos por jogo. Evoquemos de novo a imagem dos treinadores dedicados ao sistema defensivo: se já era difícil encontrar uma resposta para um pick-and-roll entre Stephen Curry e Draymond Green, imagine agora fazer planejamento com Kevin Durant posicionado do outro lado da quadra? E se for para fazer o jogo em dupla com Durant e Green, mandando Curry e Thompson para o lado oposto? Talvez nem mesmo cinco LeBrons sejam capazes de brecar isso.

Se o Golden State já era encarado como um supertime, qual a definição agora? E a chamada “Escalação da Morte”, que devastou a concorrência basicamente por dois anos? Você vai trocar Barnes por Durant nessa formação. Impressionante.

Lembram aquele papo de LeBron? De encerrar a carreira jogando ao lado dos compadres CP3, Melo e Wade? Seria a única alternativa de competitividade para a liga hoje? Mas é algo que seria possível apenas em 2017, a não ser que 1) Wade já tope jogar por uma mixaria em Cleveland agora; 2) o Knicks trocasse Melo por Kevin Love; 3) o Cavs trocasse Irving por Chris Paul. Difícil, hein?

Lembram aquele papo de LeBron? De encerrar a carreira jogando ao lado dos compadres CP3, Melo e Wade? Seria a única alternativa de competitividade para a liga hoje? Mas é algo que seria possível apenas em 2017, a não ser que 1) Wade já tope jogar por uma mixaria em Cleveland agora; 2) o Knicks trocasse Melo por Kevin Love; 3) o Cavs trocasse Irving por Chris Paul. Difícil, hein?

Quais são os próximos passos agora?

Antes de anunciar o ala oficialmente, a diretoria do Warriors precisa encontrar um novo clube para Andrew Bogut. Tem de limpar salário para poder acomodar um salário de US$ 27 milhões. Como eles têm o australiano em alta conta, não vão simplesmente despachá-lo para o Philadelphia, sem mais nem menos – embora ter o jovem compatriota Ben Simmons por lá pudesse ser uma boa distração ao veterano que, muito antes de o clube ser badalado, foi a primeira contratação de impacto desse ciclo, ajudando a construir essa reputação.

(E aqui fica uma questão engraçada e absurda: e se os 29 concorrentes fizessem um pacto e simplesmente se recusassem a absorver o contrato de Bogut? Fazendo pirraça, mesmo. Aí o Warriors precisaria dispensar seu contrato e parcelar a conta. Além disso, teriam de abrir mão de Shaun Livingston. Mas este cenário não vai acontecer. Nem todos os times entrarão no próximo campeonato com ambição de título. De modo que Bogut, por mais quebradiço que seja, ainda vai despertar o interesse de muita gente com sua capacidade como reboteiro, protetor de aro, passador e muralha em corta-luzes. O Dallas Mavericks já despontaria como favorito, aliás, depois de ser recusado por Hassan Whiteside.)

Ainda no garrafão, Festus Ezeli é mais um que vai precisar encontrar um novo clube. Segundo Marc J. Spears, do Undefeated, o clube não só não vai renovar com o nigeriano como vai abrir mão dos direitos sobre ele. O grandalhão vai virar agente livre pleno, num mercado em que muitos pivôs já se apalavraram. Situação curiosa agora.

Por fim, Harrison Barnes poderá assinar seu contrato de US$ 95 milhões com o Mavs, por quatro anos. Viu como seu desempenho ridículo nas finais contra o Cavs não atrapalhou em nada suas metas financeiras? O mercado de agentes livres não tinha grandes nomes assim para um ano em que o teto salarial subiu 30%.

Esses caras foram valiosos, garantiram um lugar na história do clube, mas a fila anda apressadamente na NBA. Se o Warriors tivesse conquistado o bicampeonato, será que Durant aceitaria jogar no time? Duvido muito. O fato de o time ter sucumbido perante LeBron acabou abrindo caminho, mesmo, para esse acordo bombástico, já que ao ala poderia caber a imagem de “peça que estava faltando”, em vez de um simples “modinha”, caso estivesse sendo incorporado pelos atuais campeões. (Embora, obviamente, isso seja o que Durant mais vá escutar nos próximos meses e jogos. Só não pode ser chamado de “mercenário”, já que vai perder dinheiro, em termos de salário, ao sair de OKC.)

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Outros fatores especiais que proporcionaram essa bomba: b) a própria derrocada do Thunder contra o Warriors nas finais do Oeste; c) o novo acordo televisivo da liga; d) o fato de o sindicato dos jogadores ter recusado uma subida gradativa no teto salarial; e) nesse cenário todo, o contrato de Steph Curry, apenas o quarto mais valioso do elenco, se tornou a maior barganha da paróquia, tendo sido firmado numa época em que falávamos mais sobre seu tornozelo do que sobre seus chutes da saída do túnel, antes de o jogo começar. Elimine qualquer uma dessas alternativas, e o negócio talvez fosse impossível.

Não obstante toda essa conjuntura, também tem o aspecto de relacionamento humano serenamente destacado por Dwyane Wade, em meio ao caos. Durant foi campeão mundial em 2010 pelo Team USA com Curry e Iguodala ao seu lado. Naquela campanha, os três costumavam se reunir constantemente para rezarem juntos, por exemplo. Já Draymond Green recrutou o ala durante a última temporada inteirinha, e até mesmo depois da épica virada pela final de conferência, sendo habilidoso o bastante para não pisar nos calos e ofender o então rival.

Segundo consta, um telefonema de Jerry West – o logo! De novo! – na calada da noite deste domingo teria sido importantíssima na decisão de Durant. Entre tantas mensagens passadas pelo consultor do Warriors, duas teriam se destacado. Uma teve cunho biográfico, com o ex-jogador lembrando o punhado de vezes em que seu Lakers havia morrido na praia, contra a dinastia Russell-Auerbach em Boston. A segunda, mais impactante, foi para reforçar a ideia de que, com Curry, Klay e Draymond, Durant seria apenas mais um. Não teria essa coisa de estrelismo: jogariam todos juntos, de igual para igual. Além disso, teve a fala do gerente Bob Myers: “Sem você, é possível que vençamos um ou dois títulos mais. Sem nós, provavelmente você também ganhe um ou outro. Juntos? Podemos levar vários”. E quem vai discordar?

Acho que nem mesmo um cabeça-dura, orgulhoso e superatlético Russell Westbrook – não consigo deduzir qual teria sido sua reação ao ser informado da mudança. Para OKC, não há muito o que fazer. O proprietário Clay Bennett e o gerente geral Sam Presti estavam na região dos Hamptons ainda nesta segunda-feira – feriado da independência nos EUA –, aguardando a decisão de seu ex-jogador. Desnecessário dizer que cada rojão estourado neste 4 de julho vai explodir dentro dos tímpanos deles. Ao menos a dupla foi mais classuda que Dan Gilbert no momento de perder uma estrela. Pudera: não custa lembrar que Bennett roubou não só Durant de Seattle como um clube inteiro. O carma chegou para acertar, mais ou menos, as contas.

É isso. Seattle talvez seja mesmo, além de Oakland e San Francisco, a única cidade americana a comemorar nesta data, que não pelos motivos patrióticos. De resto, não importando as coordenadas geográficas, os diretores que ainda estiverem reunidos para buscar agentes livres secundários, os técnicos que estejam trabalhando com a molecada das ligas de verão, os atletas que estejam a caminho das ou voltando das Bahamas devem estar todos em estado catatônico, sem nem conseguir pensar o que será da liga na próxima temporada.

*    *    *

lakers-2012-super-team-coverSupertimes são garantia de sucesso?

O torcedor do Lakers, que nem mesmo pôde ver o clube fazer uma propostinha por Durant neste ano, vai nos atentar para o que aconteceu com o elenco de 2012, quando Dwight Howard e Steve Nash chegaram a Hollywood para contracenar com Kobe e Gasol. Uma sucessão de lesões e intrigas levou aquele badalado elenco ao oitavo lugar do Oeste e a uma varrida pelo Spurs. Certo. Mas não há como comparar os casos aqui: Nash estava nas últimas, Howard voltava de uma cirurgia e Kobe deu uma de Kobe no pior sentido, ateando fogo nas relações, enquanto Gasol se lamuriava pelo esquema de Mike D’Antoni. Ah, e Jimmy Buss não vive em Oakland.

Em Miami, a conquista não saiu de cara, mas vale lembrar que o time ganhou duas vezes a liga e alcançou quatro finais seguidas. Poderia ter sido mais, mas Dwyane Wade estava em outro estágio de carreira também, lidando com dores e travas no corpo todo. Do quarteto do Warriors, Stephen Curry é o mais velho. Com apenas 28 anos…

*    *     *

O maior receio do acerto de Durant com Golden State? Um novo lo(u)caute já em 2017. Você pode ter certeza de que mais de 50% dos proprietários dos demais 29 clubes estão espumando neste momento, querendo repaginar o acordo trabalhista. A gastança desenfreada que estamos acompanhando, proporcionada pelo abrupto aumento do teto salarial, já valia como um motivo suspeito para uma nova paralisação das atividades da liga. Agora, o suposto desnível de forças praticamente garante esse racha, na visão dos mais pessimistas. Se fosse apostar grana, iria nessa linha. Vai ser um ba-fa-fá que só.

*    *    *

Um componente interessante dessa transação é a disputa de marcas esportivas. A “Under Armour” conta com Steph Curry como um de seus principais propulsores no mercado global. Agora a “Nike” espera que Durant possa ofuscá-lo.

*   *   *

Vocês já se cansaram dessa coisa de Durant agente livre? Calma, que em 2017 pode ter mais. O contrato do ala com o Warriors será de dois anos, valendo US$ 54 milhões, mas com uma cláusula ao seu dispor para encerrá-lo já ao final da próxima temporada. Financeiramente, faz todo o sentido: KD vai completar dez anos de liga e poderia assinar um novo contrato valendo 35% do teto salarial, em vez dos 30% de hoje. O contrato de Curry também vai expirar junto. Assim como os de Westbrook, Blake Griffin e Chris Paul, entre outros. Vai ser interessante, com ou sem lo(u)caute.

*    *    *

A reação de LeBron, na qual uma imagem vale mais do que mil palavras, foi bastante espirituosa:

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Michael. Corleone. Ponto.

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Warriors faz o jogo sujo com Bogut para sobreviver na final do Oeste
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Giancarlo Giampietro

Stephen Curry foi aquele que finalizou o serviço, não sem o Oklahoma City Thunder incomodar e assustar mais uma vez — ah, se aquele arremesso de Kevin Durant caísse…

Mas não caiu. E aí a imagem que ficou foi a dos gritos do armador do Golden State Warriors para a sua torcida, avisando que eles não estavam prontos para voltar para casa. Depois de sucessivos malabarismos com a bola. Manobras perigosas no drible em meio aos braços enormes de seus oponentes, mas que, ufa, resultaram em bandejas com o aro escancarado, em vez de turnovers.

Curry provou que é muito mais que um mero (?) chutador, e terminou com 31 pontos em 20 arremessos e 37 minutos e comandou a vitória sofrida pela sobrevivência dos atuais campeões. Vamos ao Jogo 6, sábado. A bola agora está com OKC.

Antes das estripolias do bi-MVP, o que teve de fundamental para o Warriors foi a briga ali embaixo do aro, a de quem faria melhor o serviço sujo e prepararia o terreno para os astros brilharem e ganharem suas manchetes. Dessa vez, Andrew Bogut conseguiu, enfim, fazer se notar seu corpanzil. “Ele foi fenomenal”, disse Steve Kerr. “Pegou os rebotes, pontuou, foi agressivo. Foi fantástico. Pegou 14 rebotes, e obviamente a questão do rebote tem sido um problema para todos que enfrentam Oklahoma City.”

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Sim, o gigante australiano apanhou 14 rebotes, tão relevantes quanto os 15 pontos que anotou, um recorde pessoal em jogos de playoffs, acreditem. Além disso, deu dois tocos e conseguiu três roubadas. Ainda assim, talvez o número mais relevante de sua linha estatística tenha sido o de faltas: apenas três, atendendo a uma cobrança prévia de seu técnico. Se continuasse cometendo faltas sem parar, o pivô não pararia em quadra. Dessa vez, conseguiu se aproximar dos 30 minutos. Antes sua média estava em 13 minutos por rodada.

Bogut deu as caras

Bogut deu as caras

“Quando ele está jogando, melhoramos no rebote e ganhamos um passador a partir do garrafão. Queremos jogar mais com Bogut, mas ele precisa ficar em quadra”, clamou Kerr. O pivô atendeu. “Tive quatro jogos de lixo, então tentei ao menos fazer uma boa quinta partida.  Não queria que a temporada terminasse nesta noite”, afirmou Bogut, que adora a autodepreciação. Coisa rara nesses dias.

Sozinho, o australiano não daria conta de trombar com Steven Adams, Serge Ibaka ou Enes Kanter. Draymond Green, ainda desequilibrado no ataque e flertando com uma suspensão (basta mais uma falta flagrante 2 ou mais duas técnicas) se juntou ao combate. Com 13 rebotes e quatro tocos, cuidou daquelas coisas que primeiro lhe garantiram um emprego na NBA e minutos nesse timaço de Oakland, muito antes dos constantes triple-doubles e arremessos de três pontos. Terminou com 11 pontos em 10 arremessos.

No geral, o placar de rebotes terminou com 45 a 45. Adams e Ibaka somaram 18, mas a força atlética de OKC deu um jeito de compensar: Durant, Westbrook e Roberson somaram 20. Para o Warriors, de qualquer forma, esse empate já vale como uma vitória. Até então, a vantagem do Thunder nesse fundamento era impressionante: 196 a 167. Dividido por quatro partidas, era uma média de mais de 7,0.

Quem também contribuiu nessa batalha interna foi Marreese Speights, mas do outro lado da quadra, com 14 pontos. Se o seu repertório tem se limitado cada vez mais a chutes de média para longa distância, neste Jogo 5 ele atacou a zona pintada e pôs pressão na defesa de OKC, pouco incomodada ali dentro até então. Juntos, Bogut, Draymond e Speights somaram 40 pontos e 29 rebotes. Em pontos no garrafão, a vantagem foi enorme também: 48 a 30.

E claro que na NBA de 2016 essa coisa de pontuar perto da tabela não se restringe aos grandalhões, por mais que os nove rebotes ofensivos de Bogut e Draymond tenham ajudado. O maior volume de cestas do Warriors ali veio com Steph Curry, desfilando para bandejinhas. De seus 31 pontos, dessa vez só nove vieram em chutes de fora. Acreditem. Mesmo Klay Thompson foi machucar a defesa de OKC um pouco mais perto da cesta. Para o ala, apenas 6 de 27 pontos saíram em bolas de longa distância. Interessante.

Curry fez splash mais de pertinho pelo Jogo 5

Curry fez splash mais de pertinho pelo Jogo 5

Agora, estamos aqui enumerando alguns fatores positivos e surpreendentes a favor do Warriors, e, para quem não viu o jogo e nem foi ao Google para checar o placar, pode passar a impressão de que foi uma surra. Não foi (120 a 111). Só acabou quando terminou, mesmo, com o Thunder lutando até mesmo quando o time da casa tinha vantagem de 11 pontos (114 a 103) a 55 segundos do fim.

A torcida já fazia festa, os jogadores perderam um tico de concentração, e isso não se faz quando dois cestinhas amedrontadores como Durant e Westbrook são seus oponentes.  Harrison Barnes, numa série pavorosa, cometeu uma falta ao contestar um chute exterior de KD. Caíram os três. Aí Curry se atrapalhou e foi desarmado por Wess. Cesta e falta de Klay. E o que o furacão de OKC fez? Atirou a bola com força no bico do aro, confiante para apanhar o rebote ofensivo. Aberração que é, naturalmente conseguiu, e o placar era de 114 a 108.  Aí Durant teve a chance de fazer uma cesta se três, live, e não conseguiu, quando o relógio marcava 35 segundos. Se tivesse sucesso, a diferença se reduziria a uma posse de bola. Imagine o soluço coletivo num ginásio bastante barulhento.

Os dois All-Stars do Thunder combinaram para 71 pontos, 14 rebotes e 12 assistências. Só não tiveram a jornada mais eficiente em meio a tanto volume de jogo, errando 36 de 59 arremessos (38,9%). Westbrook cometeu ainda sete turnovers, numa jornada desastrosa até o quarto final. Dessa vez, porém, Roberson foi Roberson no ataque (6 pontos em 34 minutos) e Dion Waiters evaporou (zerado em 27 minutos e quatro arremessos). Serge Ibaka, por outro lado, teve uma noite inspirada nos chutes de longe, com 13 pontos em 10 tentativas de mecânica idêntica, no piloto automático até.

Então temos isso. Num jogo em que muita coisa aconteceu a favor do Warriors, os caras ainda tiveram muita dificuldade. Não conseguiram devolver na mesma moeda, e OKC ainda mandou seu recado no final. Por outro lado, para quem não queria ir embora para casa de jeito nenhum, até uma vitória por meio ponto valeria. Só precisavam sobreviver.

Desde a virada em 2012 contra o Spurs que não víamos o Thunder com tanta confiança, firmeza em quadra. Eles acreditam que são o melhor time e mentalmente parecem prontos para o Jogo 6. A ver. Se a pressão não arrastar Durant e Westbrook com força, Golden State vai ter de se desdobrar no sábado para forçar a sétima partida em Oakland. Vão precisar dos cotovelos de Bogut, dos tiros de fora de Curry e muito mais.

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Steven Adams emerge para causar alvoroço no Oeste
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Giancarlo Giampietro

Não há nem sangramento que segure Adams contra os melhores do Oeste?

Não há nem sangramento que segure Adams contra os melhores do Oeste?

Quando o San Antonio Spurs contratou LaMarcus Aldridge, renovou com Tim Duncan, manteve Boris Diaw e ainda fez questão de fechar com David West e Boban Marjanovic, ficou claro: Gregg Popovich queria voltar aos tempos de jogo pesado no garrafão, para tentar fazer paçoca dos adversários e, ao mesmo, se preparar para um eventual embate com o Golden State Warriors. Não dava para correr, duelar em tiros de três pontos ou flexibilizar com eles, acreditava.

Bom, acontece que sua linha de frente envelhecida não conseguiu lidar com a do Oklahoma City Thunder pelas semifinais da conferência. E o duelo como os veteranos do time texano serviu como um bom aquecimento para Steven Adams e amigos. Ao lado de Serge Ibaka e Enes Kanter, o neozelandês saiu de quadra nesta terça-feira mais uma vez dominante, para conduzir seu time a uma intrigante vitória por 108 a 102, para roubar o mando pela final do Oeste.

O emergente pivô combinou 16 pontos com 12 rebotes e 2 tocos em raríssimos 37 minutos de ação por Billy Donovan, 12 acima de sua média nas últimas duas temporadas. Se o técnico mal tirou o folclórico gigante de quadra, é porque não dava, mesmo. A produção de Adams não o permite: com ele patrulhando o garrafão e finalizando com propriedade, seu time teve saldo favorável de 19 pontos.

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Foi o quarto double-double seguido pata o bigodudo nestes playoffs. Nestes quatro jogos, ele anotou surpreendentes 59 pontos, ou, podemos arredondar, 15,0 por rodada. Em termos de rebotes, se formos levar em conta as seis últimas partidas, foram 73, ou 12,1. Chegou a hora de treinadores adversários se prepararem melhor para marcar o kiwi em seus mergulhos no garrafão. Como se lidar com Kevin Durant e Russell Westbrook não fosse o suficiente.

Depois de bater Tim Duncan com vigorosa facilidade, pelo Jogo 1 da final de conferência foi a vez de fazer Andrew Bogut parecer bem velho, mesmo (só 3 rebotes, 2 tocos e nenhum arremesso tentado em 17 minutos). Quer dizer: Duncan e Bogut estão travadões, mesmo. Para ajudar, besta batalha de monstrengos da Oceania, o gigante australiano está se recuperando de um estiramento no adutor direito, ficando ainda mais limitado em seus deslocamentos.

Adams tenta segurar Curry no perímetro. Antes de declaração infeliz

Adams tenta segurar Curry no perímetro. Antes de declaração infeliz

Adams está se esbaldando em jogadas de pick-and-roll e nos rebotes ofensivos, prevalecendo atleticamente, mas também mostrando mais agressividade e habilidade para pontuar ao redor da cesta. Está claramente mais confiante, desenvolto, ganhando o respeito de seus companheiros. Isso aumenta muito sua cotação, para ir além da imagem de grandalhão atlético, enérgico, bom no rebote, mas marreteiro. De repente, a dupla Durant-Wess ganhou a companhia de um terceiro cestinha, e melhor: alguém cujo estilo se molda adequadamente ao que costumam fazer no ataque. Ao contrário de James Harden, que precisa criar com a bola em mãos.

Sempre o Harden, né? Até porque é difícil apagar uma transação dessas dos registros. Mas a menção aqui não é tão gratuita. O pivô neozelandês é justamente a única peça que veio naquela troca que ainda jogando para valer por OKC — Mitch McGary ficou para depois. Obviamente que Adams não é mais valioso, um jogador superior ao Sr. Barba. E também resta saber como o Warriors vai fazer para marcá-lo daqui para a frente. A série só começou. Mas o gerente geral Sam Presti deve estar se sentindo bem ao ver o desempenho recente do atleta.

Que Adams e Kanter tenham conseguido jogar juntos até contra a “escalação da morte”  dos atuais campeões, sem sofrer na defesa, então, é para fazer o chefinho de OKC pedir aumento. Isso muda tudo no tabuleiro.

No final do primeiro,.Donovan tentou usar Durant e Ibaka em sua linha de frente, numa formação mais leve. De imediato, Steve Kerr também rebaixou seu time, lançando a temível formação com Draymond Green como pivô solitário. Restando 4min04s, os anfitriões ampliaram sua vantagem de seis para 13 pontos.

No segundo tempo, não teve dupla light na zona pintada para Donovan, que voltou a apostar na parceria que deu tão certo pelos períodos finais contra o Spurs: Adams e Kanter. Juntos, os dois jogos pivôs deram saldo de 14 pontos para OKC em 7min45s. No geral, nos 24 minutos após o intervalo, a defesa do time forçou muitos turnovers, soube marcar os arremessos de fora e, completando o serviço, ainda contestou ou amedrontou os perigosos cestinhas do Golden State, que acertaram 8 de 19 arremessos de curta distância, aquela que vão se tornando uma especialidade de Adams. Dominando os rebotes a partir dos erros, tiraram velocidade da partida. No quarto período, o quinteto mortal da casa apanhou, sendo superado por -19,5 pontos por 100 posses, marca que ficaria bem abaixo até mesmo do Philadelphia 76rs no decorrer do campeonato.

Esse tipo de desempenho defensivo, consistente, não deixa de ser surpreendente. Durante a temporada regular, o Thunder intimidava poucos quando tinha de proteger sua cesta. Era o time que nunca tinha uma vantagem absolutamente segura. Como quando perdeu para o Los Angeles Clippers com folga aparentemente inapelável de 17 pontos no Staples Center. À época, Durant reclamou: “Eles tiveram disciplina, nós, não. Se quisermos virar um grande time, do modo como estamos jogando, estamos nos enganando”.

Contra o Warriors, na hora decisiva, foram muito mais sólidos marcando. Foi dessa forma que OKC venceu um jogo em que Durant e Westbrook converteram apenas 17 de 51 arremessos e no qual o time como um todo fez apenas uma cesta em oito tentativas durante o “crunch time”, fora de casa, contra um adversário que teve mais descanso (mas com Steph Curry também à procura de seu melhor ritmo, a despeito do show que havia dado em Portland — 26 pontos em 22 arremessos e sete assistências para sete turnovers).

A defesa fica mais forte com Adams em quadra. Se ele não representasse uma ameaça no ataque, seria muito difícil mantê-lo em um jogo de playoff, por comprometer o espaçamento. Como este terror, que tudo crava, pode, na verdade, contribuir para seus companheiros, puxando a marcação para dentro, como Tyson Chandler fazia por Dallas. Quando questionado durante a série contra o Spurs sobre esse paralelo, o neozelandês se surpreendeu.

À distância, parece natural o desenvolvimento de um pivô de 22 anos que passou a jogar em um grande centro apenas aos 19, quando recrutado pela Universidade de Pittsburgh. “Tudo isso (de progresso) acontece muito devagar. Vai levar um bom tempo ainda para eu chegar ao nível que quero. Estou bem distante, mas estou me esforçando. Estou acostumado com longas jornadas”, afirmou ao jornalista Brian Windhorst, do ESPN.com. “Eu me tornei um viciado em melhorar.”

Vigor de Adams foi importantíssimo para OKC eliminar San Antonio

Vigor de Adams foi importantíssimo para OKC eliminar San Antonio

Foi mais um desses perfis em somos lembrados sobre como Adams tem 17 irmãos e uma deles é bicampeã olímpica como lançadora de peso e sobre como ele vem de uma cidade ao Norte da Nova Zelândia, Rotorua, de 60 mil habitantes que atrai turistas devido a suas atrações termais, com direito a geysers que liberam enxofre. O que, nas palavras do rapaz, faz o local cheirar a… Precisa completar? Sim, infelizmente, para entendemos outra declaração mais polêmica desta terça. “Parece que alguém peida em sua cara o tempo todo”, diz

Quem acompanha o noticiário de OKC sabe que Adams é deste jeito. Não é dos mais recatados, digamos. Então é preciso cuidado antes de julgá-lo racista quando se referiu aos cestinhas do Warriors como “rápidos macaquinhos”. Obviamente que gerou polêmica, e, mais tarde, em entrevista ao USA Today, teve de pedir desculpas. Disse que a frase vinha de um dialeto de sua cidade natal. “Foi uma escolha infeliz de palavras. Não estava pensando direito. Estava tentando apenas expressar o quão difícil é perseguir estes caras. No dialeto, é diferente. Palavras diferentes, expressões diferentes, coisas do tipo. Estou assimilando, cara, ainda tentando descobrir quais os limites, mas eu definitivamente os ultrapassei hoje.”

Então. É o mesmo Adams que, na entrevista a Windhorst, comenta sobre uma refeição que experimentou em Taiwan. “Teve um prato que comi lá cuja tradução do nome é ‘O Monge Pula a Cerca’. É um prato de peixe com todos esses temperos. Era lindo, cara, era poesia. Tinha toda uma história”, disse.

Nem todo mundo está acostumado a pensar ou mesmo ouvir coisas dessas. Mas fique preparado. Quanto mais exibições de alto nível Adams tiver por OKC, maiores as chances de sair frases do tipo. Bem diferente de um Duncan ou de Aldridge. Mas esses caras não passaram. O problema do Golden State ainda é grande do mesmo jeito.

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A Austrália vem aí. Restam 9 vagas para o basquete masculino do Rio 2016
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Giancarlo Giampietro

Conta outra, vai, Bogut...

Conta outra, vai, Bogut…

Primeiro foram os Estados Unidos, campeões mundiais com facilidade. Depois, o Brasil, país-sede com muito orgulho, amor e, principalmente, custo. Agora… a Austrália, que, nesta terça-feira, terminou a série contra a Nova Zelândia e se tornou a terceira seleção a se classificar para o torneio olímpico masculino do Rio 2016.

Qualquer resultado diferente no playoff da Oceania seria uma baita zebra, mas é preciso dizer que os Tall Blacks deram um certo trabalho aos Boomers (nada como a tradição da região em apelidar tudo com muito bom gosto). No jogo de volta, em Wellington, após vitória em Melbourne por 71 a 59, os australianos abriram até 19 pontos de vantagem a sete minutos do fim, mas, seis minutos depois, viram os neozelandeses diminuírem o placar para  apenas cinco (82 a 77). Aí Matthew Dellavedova, o xodó de Cleveland e inimigo público número um da Conferência Leste, acertou uma bola de três da linha da NBA para esfriar as coisas.

Com a confiança lá no alto, aliás, Delly foi o cestinha de sua seleção, com 14 pontos em 25 minutos, depois de ter marcado 15 no primeiro duelo. Andrew Bogut, de volta ao batente pelo basquete Fiba pela primeira vez desde Pequim 2008 (!?), teve um segundo jogo muito mais produtivo que o primeiro, com 10 pontos e 10 rebotes em 20 minutos, além de 3 tocos para se estabelecer como presença intimidadora perto da cesta. Chamado de última hora, por conta da da lesão de infeliz lesão de Dante Exum, Patty Mills teve média de 13,5 pontos, 4,5 rebotes e 4,0 assistências nos dois jogos. O veterano David Andersen teve 14,0 pontos, enquanto o jovem Cameron Bairstow, ala-pivô do Chicago Bulls que agora tem um Cristiano Felício fungando no cangote, somou 9,0 pontos e 6,0 rebotes.

Dellavedova mantém alto rendimento em série contra a Nova Zelândia

Dellavedova mantém alto rendimento em série contra a Nova Zelândia

Em termos de desfalques, além de Exum, os Aussies jogaram sem Aron Baynes, que foi muito bem na última Copa do Mundo, mas teve um comportamento um tanto nojento, por assim dizer, e sem seu outro atleta do Utah Jazz, o ala Joe Ingles, que pediu dispensa para descansar um pouco. Ingles seria o equivalente ao Tiago Splitter deles, tendo batido cartão ano após ano em competições pela seleção, e não deve faltar aos Jogos Olímpicos.

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Vale ficar de olho nessa equipe. Em Londres e na Copa do Mundo, foram um time bastante chato de se enfrentar. Para o Rio, mesmo com uma ou outra ausência, precisam ser respeitados, e não apenas por sua safra recente de NBA. No geral, os caras têm um elenco muito forte fisicamente, versátil e experiente. A maioria de seus homens de rotação atuando também por fortes clubes europeus há um bom tempo. Na verdade, do time listado para enfrentar os Tall Blacks, apenas três jogam pela liga australiana.

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As demais vagas para as Olimpíadas serão distribuídas desta forma: apenas duas diretas para a Europa, duas para as Américas, uma para a Ásia e outra para a África, que inicia seu AfroBasket nesta quarta-feira. O torneio será disputado até 30 de agosto, um dia antes do início da Copa América, que vai até 12 de setembro. O EuroBasket sanguinário vai de 5 a 20 de setembro. Para fechar, o Copa Ásia será realizada apenas de 23 de setembro a 3 de outubro.

Restariam ainda três postos a serem distribuídos no famigerado Pré-Olímpico mundial, que terá outro formato neste ano. Em vez de um só torneio, a Fiba decidiu realizar três, com o campeão de cada um completando a chave do Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 11 de julho. Se, por um lado, serão três disputas eletrizantes, por outro lado não dá para ignorar que a federação internacional encontrou mais uma forma de arrancar dinheiro de seus filiados, já que três países precisam se candidatar a sedes do evento – valendo vaga olímpica, imagino que não faltará interessados, especialmente com tantos bons times europeus no páreo. Além disso, com o calendário da modalidade já apertado, é óbvio que os clubes não gostaram nada dessa novidade. Por fim, como será a distribuição de países em cada torneio? A entidade ainda não divulgou e, dependendo dos critérios, algumas injustiças podem ser cometidas em nome da “pluralidade”. A ver.

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Com Valdeomillos e Ayón, México ganhou a Copa América de 2013

Com Valdeomillos e Ayón, México ganhou a Copa América de 2013

Ei, vocês aí, falando mal da CBB sem parar… Experimente curtir basquete no México para ver o que é bom para tosse. Prestes a receber o Pré-Olímpico das Américas, a federação mexicana vai ter de se explicar depois de uma, no mínimo, explosiva entrevista do técnico espanhol Sergio Valdeomillos, que comanda uma emergente seleção nacional, que, sob seu comando, ganhou a Copa América de 2013 e o CentroBasket de 2014. Em uma conversa com a rádio Reloj de 24, o treinador disse o seguinte sobre os dirigentes locais: “O problema é que dentro da federação mexicana existem gângsteres. Não é gente que ama o basquete, mas uns autênticos gângsteres sem vergonha. Algum dia vão ter de dar um jeito nisso, pois estão acabando com o segundo esporte do país. É uma pena. É incompreensível porque, depois de toda essa história, organizam um Pré-Olímpico. Algo inconcebível. É evidente que, diante de tudo isso, alguém está ganhando”.

Bem, do que o treinador está falando? Segundo deixa entender, de uma série de problemas estruturais que abalam a preparação de sua equipe, depois de um bom papel que cumpriram pela Copa do Mundo do ano passado. O último problema foi a falta de uniformes. “Existe uma anarquia de tal modo que todos querem mandar, e isso leva algumas pessoas a fazer coisas que não lhes corresponde. Então está sempre acontecendo uma coisinha aqui e ali. Toda hora tem uma notícia nova”, desabafa. “Nos anos anteriores, houve muitas anedotas e outros problemas desse tipo. Mas temos de superar essas coisas e pensar só no basquete.”

As questões, segundo o treinador, também ultrapassam as fronteiras da federação. Segundo o espanhol, sete dos seus jogadores não receberam sequer um tostão furado durante toda a temporada passada. Para constar: o próprio Valdeomillos chegou a romper com a entidade nacional devido ao atraso do pagamento de seu salário, mas foi convencido a retornar. Sem o treinador, que chegou a tirar dinheiro do próprio bolso na temporada passada, o astro Gustavo Ayón afirmou que não aceitaria a convocação. Novamente aos trancos e barrancos, com Ayón e o armador Jorge Gutiérrez no time, o México vai enfrentar Brasil, República Dominicana, Panamá e Uruguai na primeira fase da Copa América.

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Pitino fechou com Barea em Porto Rico

Pitino fechou com Barea em Porto Rico

Outra seleção que tem passado por alguns percalços nos últimos dias, tanto dentro como fora de quadra, é Porto Rico. Os pivôs Ricky Sánchez e Peter John Ramos se recusaram a jogar pelo time este ano, sem dar muitas explicações. Os dois não estavam lesionados. Carlos Arroyo também está fora, mas por opção do supertécnico Rick Pitino, que, em sua coletiva de apresentação, falou por cima sobre os conhecidos problemas de ego da seleção (é sabido que o veterano e Barea não se bicam…) e que, em sua gestão, não haveria espaço para isso. Além disso, Pitino questionou qual seria a motivação do astro porto-riquenho aos 36 anos de idade.

“Não creio que ele se encaixe nos nossos planos. Não estou seguro se, aos 36, lhe interessa fazer o sacrifício necessário para fazer o que se precisa para estar aqui. Ele já disse também que sua prioridade era voltar a jogar na Europa. E, no meu caso, também prefiro trabalhar com armadores de 32 anos ou menos, para efeitos de se fazer uma boa defesa”, afirmou. Quer dizer, foi um espancamento em praça pública, né? O curioso é que o técnico, depois, admitiu que não havia conversado pessoalmente com o armador. “Certamente não está descartado, mas depende dele.”

Arroyo, claro, não gostou nada das declarações. “Não foi prudente da parte dele”, disse. Por outro lado, em junho, ainda dizia ao jornal Primera Hora que ainda estava indeciso sobre defender, ou não, a seleção.  Agora já está fora, mas o problema é que José Juan Barea tem sido poupado de treinos e amistosos devido a uma lesão não divulgada. Outro jogador que preocupa, do ponto de vista clínico, é o ala John Holland, atleta de primeiro nível, excelente defensor e que ganhou relevância em suas últimas participações. A boa notícia é que o ala Maurice Harkless, agora do Portland Trail Blazers, se apresentou pela primeira vez e está pronto para a Copa, assim como o intempestivo Renaldo Balkman. Ainda assim,  dá para dizer que Pitino talvez tivesse oooutra coisa em mente quando topou abrir mão de suas férias para comandar a equipe, sonhando em treinar uma equipe olímpica pela primeira vez.

*   *   *

O torneio olímpico feminino já conta com cinco times garantidos. A Brasil, Estados Unidos e Sérvia se juntaram, nos últimos dias, o Canadá, campeão com folga da Copa América em que o Brasil deu mais um vexame, e a Austrália, que também não teve dificuldade para superar a Nova Zelândia no torneio da Oceania.

 


Campeão, Golden State é hoje o queridinho da NBA. Nem sempre foi assim
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Giancarlo Giampietro

CLEVELAND, OH - JUNE 16: The Golden State Warriors celebrates with the Larry O'Brien NBA Championship Trophy after winning Game Six of the 2015 NBA Finals against the Cleveland Cavaliers at Quicken Loans Arena on June 16, 2015 in Cleveland, Ohio. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and or using this photograph, user is consenting to the terms and conditions of Getty Images License Agreement. (Photo by Ezra Shaw/Getty Images)

Eles estrelaram contra LeBron James as #NBAFinals de maior audiência nas transmissões da ABC. Stephen Curry foi alçado ao rol dos jogadores mais populares da liga. O estilo de jogo é vistoso, frenético, empolgante. Eles se tornaram os queridinhos da América, antes mesmo da conquista do título nesta terça-feira, com uma vitória por 105 a 97 sobre o Cleveland Cavaliers para fechar a série.

Não tem muito o que ser dito sobre este Jogo 6, em relação ao que se passou nos últimos duelos (comentários linkados logo abaixo). O Cavs fez o que podia com o que havia de disponível. David Blatt não conseguiu criar um fato novo na série – e sabe-se lá qual fato poderia ser esse, com um banco de reservas muito limitado devido aos desfalques de Kyrie, Love e Varejão e a surtada básica de JR Smith, dos profissionais milionários mais imaturos que a gente vai ver por aí. Não dava para esperar nada de Mike Miller, Shawn Marion ou Kendrick Perkins.

E não dava para pedir mais nada de seu grande craque, o ídolo local que ficou a uma assistência de mais um triple-double, com 32 pontos e 18 rebotes em 47 minutos. O camisa 23 terminou a série decisiva com 35,8 pontos, 13,3 rebotes, 8,8 assistências – é a primeira vez que um atleta lidera as finais nestes três quesitos –, em 45,8 minutos, mas com 39,8% nos arremessos de quadra. Amarga o quarto vice-campeonato em seis finais, mas não há absolutamente nada o que falar a respeito de seu desempenho desta vez. Está entre os maiores já.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs
>> Jogo 5: Curry merecia uma dessas, e o Warriors fica perto

A partir do quarto período da terceira partida, com uma arrancada que ameaçou aquela que seria a segunda vitória do Cleveland, os campeões do Oeste sobraram – mesmo que não tenham conseguido impor seu estilo seu ritmo. De modo que, agora, eles são também os campeões da liga como um todo, após 40 anos. Aclamados. Entre eles está Leandrinho, o segundo brasileiro campeão da liga, 12 anos depois de sua estreia. Com um papel limitado, mas jogando muito bem, importante na engrenagem de um grande time, que somou 83 vitórias e 20 derrotas em todo o campeonato.

Esse é o terceiro maior total de triunfos na história, atrás apenas do Bulls de 1996 e 97, e uma quantia que se explica pela combinação de ataque (o mais eficiente da temporada, num empate técnico com o Clippers) e também a melhor defesa, mesmo jogando no ritmo mais acelerado do campeonato. Uma combinação inédita, aliás, mas aplicada por um vencedor como Steve Kerr, em seu primeiro ano no cargo, para dominar uma Conferência Oeste inóspita.

>> Geração Nenê: reconhecimento com o 2º título
>>
40 anos de sofrimento: as trapalhadas do #GSW

A grande surpresa foi, confesso, a eleição de Andre Iguodala a MVP das finais. Não que não merecesse: teve o meu voto virtual. Acreditava, porém, que Stephen Curry levaria, pelo maior cartaz (e não seria um absurdo, digamos) – já que seria muito difícil entregar o troféu para o melhor em quadra, mesmo, uma vez que ele saiu de quadra derrotado. A candidatura do ala teve como plataforma principal a defesa que fez para cima de LeBron. Incrível sua resistência diante de uma força da natureza. O astro adversário acumulou números espetaculares, mas o fato é que, quando marcado diretamente pelo antigo sexto homem do Warriors, seu rendimento foi ínfimo.

Mas não fica só nisso: Iguodala foi o atleta mais consistente para Steve Kerr durante as seis partidas e também contribuiu no ataque, com 16,3 pontos, 4,0 assistências, 40% nos arremessos de longa distância e 52,1% no aproveitamento geral de quadra. Para não falar dos 5,8 rebotes, importantíssimos para facilitar a decisão do técnico de promovê-lo ao time titular no Jogo 4, no lugar de Bogut. Com ele em quadra, o Golden State teve saldo de 62 pontos em 222 minutos de ação. Nos 76 em que descansou, sua equipe saiu com placar negativo (-19).

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Ao contrário do que se passou com o Cavs, contudo, com sua total dependência de LeBron, o Golden State realmente venceu como conjunto. É nessa hora que vale a pena recuperar o histórico de alguns dos personagens. Quem são esses caras, afinal? E aí que se dá conta de que nem sempre foi assim. Nem sempre foram as figuras mais aplaudidas do pedaço. Muitos daqueles que hoje são celebrados já ouviram muitos “nãos” na carreira, a começar pelo MVP da temporada regular:

Stephen Curry: filho de um jogador de sólida carreira na NBA, mas o sobrenome não foi o bastante para que conseguisse bolsa em uma universidade mais prestigiosa. Fechou então com a modesta instituição de Davidson, que mandou, no total, apenas seis jogadores para a grande liga. Quatro deles se aposentaram antes dos anos 80. Era considerado muito frágil, baixo, lento para que se tornasse um profissional, quanto menos seu jogador mais valioso.

Klay Thompson: mais um caso de prospecto que tinha tudo para se profissionalizar com tranquilidade. Afinal, também tinha um pai com currículo significativo, sendo inclusive campeão pelo Lakers e número um em seu Draft. Quando colegial, nas partidas mais relevantes, ficava mais tempo no banco, vendo um tal de James Harden, antes da barba, brilhar em quadra. Foi ignorado pelas principais universidades da Califórnia e teve de buscar uma vaguinha em Washington State, que, ao menos, revelou 16 jogadores de elite. Também teve um incidente com a polícia em sua época de universitário, detido com posse de maconha. Não curto muito a patrulha contra atletas fora de quadra, mas obviamente que se trata de uma notícia que poderia ter atrapalhado o lançamento de sua carreira. Hoje, um All-Star e campeão mundial.

Leandrinho e Steve Kerr: o título não saiu pelo Phoenix Suns. Mas veio após 12 anos na liga

Leandrinho e Steve Kerr: o título não saiu pelo Phoenix Suns. Mas veio após 12 anos na liga

Leandrinho: sair do basquete brasileiro para brilhar na NBA parece, hoje, algo fácil, devido ao constante influxo de talento daqui para lá. Balela. É uma transição ainda muito difícil. Mais complicado ainda é se fixar por lá e vencer (muitos jogos) e ganhar (uma bolada e prêmios). Foi o caso do ligeirinho, estreante em 2003. O tempo passa, porém, e, já veterano, o ala-armador passou por provações talvez ainda mais desafiadoras que o Draft. Com uma cirurgia por lesão do ligamento cruzado anterior, teve de retomar sua carreira no Brasil, com ajuda do Pinheiros, até retornar aos Estados Unidos pela porta dos fundos. Nem o Golden State Warriors confiava plenamente em sua recuperação, diga-se, tendo lhe oferecido um contrato sem garantias. Daqueles em que o clube pode cortar o atleta até janeiro, sem obrigação de pagar todo o salário acordado. Pouco provável que tenha de esperar tanto por um emprego na temporada que vem.

Ao sair de quadra, Draymond Green fez questão de relembrar como muitos lhe disseram que ele não teria a menor chance na NBA

Ao sair de quadra, Draymond Green fez questão de relembrar como muitos lhe disseram que ele não teria a menor chance na NBA

Draymond Green: um ala-pivô de 2,01 m? E lento? Sem impulsão? Na NBA? Ah, conta outra. A revelação de Michigan State construiu um grande currículo na NCAA, tinha os números ao seu favor, mas seu perfil não agradava tanto assim a grande parte dos scouts. Foi selecionado, como um senior, aos 22 anos, apenas na 35ª colocação, atrás, pela ordem, de Jae Crowder, Bernard James, Tomas Satoransky, Jeffery Taylor, seu companheiro Festus Ezeli, Marquis Teague, Perry Jones… Enfim, entenderam, né? Até Fabrício Melo, o 22º, saiu antes. Está preparado para receber um contrato na casa de US$ 15 milhões anuais.

Andre Iguodala: ok, um jogador elogiado basicamente durante toda a sua carreira. Como ele mesmo disse ao receber o prêmio em quadra: já foi comparado a um jovem Scottie Pippen, um jovem Grant Hill, Penny Hardaway… Para tê-lo no elenco, o Golden State pagou duas escolhas de Draft. Acontece que, neste ano, ao se apresentar para o training camp, foi puxado de canto por Steve Kerr para ser informado de que viraria reserva. O técnico o enxergava como o sexto homem do time. Pode parecer bobagem, mas há muitos atletas que não tolerariam um comunicado desses e pediriam troca. (Oi, Dion Waiters). Iguodala admite que estranhou a ideia a princípio. Mas topou a causa e não abriu o bico em nenhum momento durante o campeonato. Acabou, por isso, fazendo história, ao ser o primeiro MVP das finais sem ter começado sequer uma partida da temporada regular como titular.

– Andrew Bogut e Shaun Livingston: mais dois casos de atletas prestigiados desde cedo. A dificuldade que a dupla teve de enfrentar teve a ver com questões física. Gravíssimas lesões, daquelas que ameaçam uma carreira. Especialmente no caso de Livingston, quando ainda era um promissor armador pelo Los Angeles Clippers, aos 21, em 2007, e arrebentou o joelho num dos lances mais assustadores que você vai achar no YouTube. Ficou um ano parado, em recuperação. Desde que voltou, defendeu sete times diferentes (incluindo o Cleveland) até chegar nesta temporada ao Golden State. A lesão mais séria de Bogut aconteceu em 2010, quando, após uma enterrada em Milwaukee, caiu em quadra com tudo, sofrendo deslocamento no cotovelo, fratura no braço e torção do pulso.


Cavs vence o Jogo 3 e vira, dominando Golden State. Ou quase
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Giancarlo Giampietro

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

O Cleveland Cavaliers vai batendo recordes e recordes com sua defesa para cima do Golden State Warriors. Depois de se tornar o primeiro time a segurar o adversário com menos de 90 pontos em 48 minutos nesta temporada, o Cavs agora o limitou a 37 pontos no primeiro tempo, sua pior marca durante os playoffs – e uma quantia que a equipe havia marcado em um só quarto 18 vezes em sua campanha, para termos uma ideia.

Há muito mais números para acrescentar aqui, como, por exemplo, o rendimento do Warriors nos arremessos de três pontos, tão caros ao seu sistema ofensivo. Na temporada regular, o time converteu 39,8% de seus chutes de longa distância. Nos playoffs da Conferência Oeste, a marca foi de 38%. Nas finais, estamos falando de apenas 31,3%, número baixo para qualquer medida, especialmente para os Splash Brothers.

Sinceramente, nem precisa apelar a qualquer número para afirmar que o Cavs tem sido o time superior nestes primeiros três jogos, vencendo o terceiro por 96 a 91 para assumir o comando da série. O que não quer dizer que as coisas já estejam resolvidas. Nem mesmo com mais este dado: até o momento, a única parcial que teve o Warriors acima no placar foi a prorrogação do primeiro duelo. De lá para cá, ou deu Cleveland, ou deu empate.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
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Os LeBrons se tornam os favoritos ao título pelo fato de terem assumido o controle tático da decisão –  por precisarem, agora, de uma vitória a menos que seus oponentes para levar o título. De qualquer forma, ainda que dominando estrategicamente, o time permitiu que os campeões do Oeste reagissem mais uma vez no quarto período, numa demonstração do grau de periculosidade de seu oponente.

O Warriors tirou 14 pontos de vantagem em menos de seis minutos e meio na parcial, chegando a perder por três 79 a 76 a 5mi49s do fim. Depois, ainda encostou em 81 a 80 a 2min45s, até que Matthew Dellavedova se superasse novamente numa jogada de cesta-e-falta inacreditável para dar uma boa folga no marcador. Nesta reação, ressurgiu também Stephen Curry, que anotou 17 de seus 27 pontos no quarto período, ou 9 pontos em 1min23s.

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Esse foi o melhor sinal que o técnico Steve Kerr poderia tirar do Jogo 3, ainda que, com sua experiência, tenha visto muito o que corrigir, esteja falando apenas de sua estrela, ou não. “Não gostei de nossa linguagem corporal em alguns momentos. Temos de ter energia, ter mais vida em quadra, tanto no momento em que os arremessos estão caindo, como também quando o chute não cai”, disse o treinador.

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

De fato a postura cabisbaixa de Steph Curry durante boa parte do jogo era algo que intrigava bastante. O armador parecia chutar pedrinhas em casa a cada ataque desperdiçado, até despertar no quarto final, escoltado por Leandrinho (4 pontos em 11 minutos, mas com muita intensidade na defesa e abrindo a quadra no ataque, com saldo +11) e David Lee (11 pontos, 4 rebotes, 2 assistências, 100% nos arremessos e saldo de +17 em 13 minutos). A próxima lição é parar de enfeitar com a bola em momentos de pressão – se ajudou o Golden State a se aproximar no jogo, também deu um jeito de complicar a tentativa de virada cometendo três turnovers nos últimos dois minutos, com direito a passe por trás das costas no perímetro, sem direção.

Não é jogando “bonitinho” que ele e seus companheiros vão superar uma defesa duríssima como a do Cleveland, que tem contestado sem parar os Splash Brothers e limitando as linhas de passe – um trabalho de Blatt que merece mais detalhes em um outro texto antes do Jogo 4. “Se conseguirmos recuperar nosso ataque, o que vai acontecer, vamos vencer esta série”, afirmou Klay Thompson, cheio de confiança. Cestinha do Warriors no Jogo 2, o ala dessa vez marcou apenas 14 pontos em 16 arremessos e 39 minutos.

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

É bom que Thompson manifeste confiança, ainda mais depois da arrancada de Curry no quarto final, parcial na qual sua equipe conseguiu marcar 36 pontos – apenas um a menos que em todo o primeiro tempo. Depois de três jogos, seria um primeiro sinal de que a defesa do Cleveland possa arrefecer, com uma rotação enxuta e desgastante carga de minutos, depois das lesões de Kevin Love e Tristan Thompson? Talvez. Mas talvez não dê mais para o Golden State, atrás no placar geral da série,  apenas esperar que uma hora a bola caia. No geral, em três partidas, eles acertaram apenas 41,4% dos chutes de quadra. Mas a chave é essa, mesmo: arrumar o ataque.

Do outro lado, estão fazendo o que dá contra LeBron James. O craque 23 tem médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8,3 assistências em 47,3 minutos, um patamar de produção que, desconfio, você não vai encontrar jamais. Só Wilt Chamberlain, talvez. Por outro lado, o ala tem sido obrigado a tentar mais de 35 arremessos por partida, com aproveitamento baixo de 40,2%, compensados de certo modo pelos mais de 10 lances livres por confronto, com 75% de acerto. Está claro, a essa altura, que Andre Iguodala consegue incomodar muito mais o astro do que Harrison Barnes, e o mais prudente talvez seja aumentar os minutos do sexto homem.

De resto, Kerr viu seus atletas enfim reduzirem as oportunidades de rebote ofensivo do Cavs (foram apenas seis dessa vez), bloqueando Timofey Mozgov com mais minutos para Festus Ezeli do que para um exaurido Andrew Bogut. Com as costas aparentemente travadas, Draymond Green não conseguiu lidar com Tristan Thompson, porém (10 pontos e 13 rebotes). A produção ofensiva do canadense, no entanto, foi atípica. Assim como a do Oscar-de-Melhor-Ator-Coadjuvante Dellavedova, que não cansa de aprontar, saindo de quadra dessa vez com 20 pontos, muitos tapinhas no ombro. Mas que cansa no sentido literal do esporte, mesmo, sofrendo com câimbras uma hora depois do final da partida, ficando impossibilitado de conversar com os jornalistas. Segundo o clube, teve até mesmo de tomar medicação intravenosa para amenizar as dores, num hospital da cidade.

O Warriors já se viu contra a parede uma vez nestes playoffs, na semifinal contra o Memphis Grizzlies, contra quem também perderam em casa e a primeira partida fora. Agora, no entanto, eles precisam passar por uma muralha beeeem mais larga, que até agora tem impedido que os darlings da liga americana se sentissem verdadeiramente confortáveis em quadra por mais de quatro ou cinco minuto. Com a diferença de que seu atual oponente pode explorar ao máximo os talentos de um outro grande camisa 23 no ataque, seguindo uma receita bem simples e, ao mesmo tempo, difícil de derrubar. Mas o fato é que a margem de manobra do Cavs ainda tem sido bastante apertada. David Blatt está vencendo o jogo de xadrez, mas com poucas peças no tabuleiro – dependendo, se já não bastasse, de uma ressonância magnética no ombro esquerdo de Iman Shumpert. Resta saber se Steve Kerr vai conseguir reagir nessa situação e dar um xeque na próxima quinta-feira.


Warriors levou 44 pontos de LeBron. Mas com estratégia correta
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Giancarlo Giampietro

Iguodala, tentando de tudo para manter LeBron no perímetro

Iguodala, tentando de tudo para manter LeBron no perímetro

“Sabe, quando um cara marca 44 pontos, é engraçado dizer que o defensor fez realmente um bom trabalho, mas acho que Andre foi extremamente bem contra LeBron”, afirmou Steve Kerr, em sua entrevista pós-Jogo 1 das #NBAFinals, aliviado pela vitória suada, na prorrogação, do Golden State Warriors. Não dá para saber se o técnico já havia dado uma espiada em estatísticas mais detalhadas da partida, que apontam que Iguodala foi de fato um defensor incômodo para o astro do Cleveland. Os números estão na crônica do primeiro confronto, mas não custa repeti-los: quando confrontado pelo sexto homem do time da casa, James acertou apenas 9 de 22 arremessos (40,9%). Em situações de meia quadra, foi ainda melhor: apenas 4 cestas em 14 arremessos (28,5%).

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Agora, o que o treinador não precisava nem dizer era que o Warriors vai conviver muito bem com a ideia de ver LeBron arriscar 38 arremessos por jogo, tal como aconteceu nesta quinta-feira, correspondendo a 40% das tentativas de cesta do Cavs. Foi essa a estratégia adotada pelo clube californiano, sem sofrer nenhuma alteração, mesmo que o astro tivesse, no terceiro quarto, média de um ponto por minuto. A tática tinha, claro, o objetivo da vitória no primeiro jogo, mas também trabalha com a ideia de desgastar a principal arma do oponente, pensando na continuidade da série.

“Vamos continuar tentando cansá-lo”, afirma Draymond Green. “Por isso, você tem de dar o crédito ao Andre e ao Harrison (Barnes). Eles continuaram lutando, colocando o corpo contra o dele, fazendo com o que ele trabalhasse para conquistar qualquer coisa. Ele jogou 47 minutos e começou a se cansar um pouco. Acho que isso nos ajudou um pouco na prorrogação.”

Green e seus companheiros estavam orientados a impedir de qualquer maneira que ele ganhe o garrafão. Forçar que ele vá para o chute de média para longa distância. E vários arremessos nessa condição, contestados. Por muitos e muitos minutos. Porém, se o craque começa a acertar tudo em quadra, como aconteceu no primeiro quarto, fazendo o Cavs abrir até 14 pontos, como fazer? Você tem um plano de jogo, estudado, preparado com cuidado. Até que ponto você o mantém, consciente de que é a melhor decisão? Não seria um quarto de jogo que faria Steve Kerr mudar de ideia. O LeBron vai ter de jogar muito a cada noite. Se ele nos derrotar assim, paciência, aceitamos isso. Mas a chance maior é que dê tudo certo para nós”, disse Harrison Barnes.

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Se formos pensar que LeBron acertou 18 de 38 arremessos para marcar 44 pontos, a princípio a propensão é acreditar que a equipe da casa tenha fracassado nesta missão. Nos últimos sete minutos de jogo, no entanto, ele marcou apenas dois pontos, com uma bandeja a nove segundos do fim da prorrogação, quando o jogo já havia acabado. Além do mais, não é que ele tenha passeado em quadra nos três primeiros períodos. Fato é que o jogador teve de usar de toda a sua categoria, com uma variedade de movimentos impressionante. “O LeBron vai dominar e a bola e fazer suas jogadas. Só temos de nos esforçar para dificultar sua vida a cada posse de bola”, disse Steph Curry.

Rick Carlisle e Gregg Popovich já provaram isso em 2011 e no ano passado: a melhor maneira de (tentar) atrapalhar o astro é impedir que ele infiltre, é forçar que ele vá para o chute de média para longa distância. Ainda mais com a boa fase que Iman Shumpert vive no chute de longa distância – 33,8% na temporada regular, subindo para 37,5% nos playoffs – dando mais uma arma ao lado de Kyrie Irving e do pirado JR Smith. O que os clubes texanos prepararam e deu certo foi uma espécie de barricada para congestionar a zona pintada. O Warriors foi mais disciplinado em não vai dobrar em cima de LBJ no perímetro, preocupado em diminuir o espaço dos chutadores. Ainda mais agora que o armador está fora do restante da série, devido a uma fratura na rótula esquerda. Matthew Dellavedova é valente, mas não consegue criar jogadas por conta própria e pode ser vigiado por Steph Curry sem problema. Sem Irving, Klay Thompson poderá ser deslocado para a marcação de JR Smith, deixando a vida do ala ainda mais complicada.

Só no caso de o craque conseguir bater o primeiro defensor rumo ao garrafão, que o Warriors deslocava alguém para a ajuda, com Andrew Bogut de preferência, para proteger o aro. É aí que entra Andre Iguodala, tentando repetir o que Shawn Marion e Kawhi Leonard fizeram no ano passado. A missão do camisa 9 é, antes de tudo, ficar à frente de LeBron e encaminhá-lo para arremessos de menor probabilidade de acerto – tendo elasticidade e envergadura para ainda incomodar seu movimento. No geral, o Warriors permitiu ao craque apenas quatro tentativas de cesta foram na zona do semicírculo,. Nos playoffs, até então, sua média era de 9 chutes na preciosa área restrita. Fora do garrafão, ele converteu apenas 7 de 22 chutes – sendo que este foi o máximo de arremessos que ele já tentou em sua carreira nos playoffs.

Na média, historicamente, independentemente do marcador, o aproveitamento de James é sensivelmente inferior as bolas de média distância, e os percentuais só caíram neste ano. Veja na tabela abaixo, uma cortesia do Basketball Reference, primeiro o percentual das tentativas dele pela quadra e, depois, os índices de conversão do craque nestas respectivas áreas:

lebron-playoffs-shooting-2015-cavs

No limiar entre as bolas de dois e três pontos, LeBron vem acertando apenas 32,9% enquanto, em longa distância, o número despenca para horroroso 17,6%. Também na zona de média distância, com 37,5%, seu aproveitamento caiu bastante em relação ao que fez pelo Miami nas últimas temporadas. Ron Adams, o coordenador defensivo do Warriors, olha para esta tabela e se sente ainda mais confiante na estratégia adotada

Outro fator que deu muito certo e também fazia parte do pacote defensivo orientado pelo assistente Ron Adams: alienar os demais atacantes do Cavs. Se LeBron estava exausto ou não no final da partida, também não vai dizer. Mas, quando seus arremessos pararam de cair, estava muito tarde para o adversário buscar outras alternativas. Pois só mesmo Irving e Timofey Mozgov haviam feito ao menos uma cesta durante todo o segundo tempo. JR Smith, Iman Shumpert e Tristan Thompson estavam fora de sintonia. A equipe não rodava mais a bola, ao contrário do que aconteceu na etapa inicial. “Ele fez um monte de arremessos complicados, que estavam contestados, e podemos viver com isso: ele tentando vários arremessos e chegando a 40 pontos, porque sentimos que muitos dos caras que são fundamentais para eles acabam pouco acionados e não entram no ritmo”, afirmou Andrew Bogut. Vejam nesta foto:

LeBron x Klay, e a muralha no lado contrário

LeBron x Klay, e a muralha no lado contrário

Percebam, então, que não se trata de um capricho de LeBron quando arrisca 38 arremessos. Existe um do outro lado da quadra, tentando influenciar nessas contas. Na final do Leste contra o Atlanta Hawks, o astro do Cavs teve média de 9,3 assistências em 38,5 minutos. Nos playoffs como um tudo, são 8,1 assistências em 41,1 minutos. No Jogo 1 das finais, apenas 6 assistências em 47 minutos. Os dois pontos que sua equipe somou na prorrogação equivalem à pior marca da história das finais. Mais: nos minutos decisivos, o Cleveland tinha o segundo melhor aproveitamento de quadra nestes playoffs, com 45% de acerto. Na abertura decisão, foram apenas duas cestas em 15 chutes (13,3%).

São diversos os números para além dos 44 pontos de LeBron, então, que apontam uma estratégia acertada. Mas, sim, dá para dizer que, se cai o último arremesso de LeBron no quarto período, toda essa narrativa, esse discurso poderia mudar. Eles ficaram claramente a perigo. De qualquer forma, neste loooongo jogo de xadrez com David Blatt, Steve Kerr já tem uma convicção, mesmo que ser torturado pelo camisa 23 não seja lá assim tão, segundo suas palavras, “engraçado”.


Golden State supera décadas de trapalhadas para voltar à final
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Giancarlo Giampietro

Seu time está no centro das chacotas por anos e anos? Você não tem coragem de assumir para quem torce e, no final, tenta escapar dizendo ser um “admirador profundo do estilo de basquetebol do San Antonio Spurs”? Você nem, mesmo, veste a camisa para bater, casualmente, uma bola na praça? Calma, gente. Isso não te obriga a jogar fora o uniforme. Pode ser que ainda dê tempo de reutilizá-lo – desde que não perca de vista a balança, claro. Os finalistas da NBA 2014-2015 nos ensinam que, das profundezas, após muitas trapalhadas no Draft, desmandos da diretoria, conflitos entre jogador e técnico, pode emergir um candidato ao título. Mesmo que demore um pouco. Aqui, vamos listar dez episódios marcantes da história do Golden State Warriors, que nos ajudam como demorou tanto – precisamente 40 anos – para que a franquia retornasse a uma decisão:

Para chegar a Curry e os playoffs de 2025, teve muita história

Para chegar a Curry e os playoffs de 2015, teve muita história

Se transparência é um termo que anda em voga no noticiário esportivo, então não dá para esconder que este artigo não existiria sem este aqui de Bill Simmons, o ex-editor-chefe do Grantland: “Como perturbar uma base de torcedores em 60 passos fáceis”. Sim, com seus conhecimentos verdadeiramente bíblicos sobre a NBA, o cara teve a manha de listar seis dezenas de bobagens que o clube californiano cometeu desde que Ricky Barry os liderou para o título em 1975. Em vez de meramente traduzir o antigo Sports Guy (e quem sai perdendo nessa é só você, meu amigo, já que estamos falando de um dos textos mais divertidos da Internet), filtramos os tropeços em apenas uma dezena, tentando interligá-los ou dar mais contexto para cada um deles.

1) Vai que é sua, Boston
E se o esquadrão de All Attles de 40 anos atrás pudesse ter sido sucedido por uma linha de frente composta por Larry Bird, Kevin McHale e Robert Parish? Sim, acreditem. Não se trata de revisionismo barato. O Golden State Warriors teve todas as chances de formar esta trinca que resgataria os tempos de glória do Boston nos anos 80. O que pegou, então?

Bem, comecemos pelo fato de o time ter selecionado Parish no Draft de 1976. Foi apenas em oitavo, um golaço. Entre os sete primeiros da lista, só um atleta seria eleito para o Hall da Fama ou mesmo para um All-Star Game: o ala Adrian Dantley, cestinha ex-Detroit, Utah e Dallas. O pivô jogaria apenas quatro anos pela equipe, porém, até ser enviado para o Boston em 1980, acoplado a uma escolha de Draft, que seria a terceira geral. Em troca vieram outras duas escolhas daquele mesmo ano: a 1ª e a 13ª. Quem saiu em terceiro? McHale, um dos melhores alas-pivôs da história. E nas outras? Joe Barry Carroll e Rickey Brown.

Bird, Parish e McHale

Bird, Parish e McHale, do Boston

Quem!? Cumé!?

Bem, não precisa se sentir mal se não os conhece. Carroll era um pivô de 2,13 m de altura, vindo da Universidade de Perdue, considerado uma grande promessa. Só assim para o Warriors abrir mão de um pivô já estabelecido como o Chief Parish. No final das contas, ganharia um dos melhores (ou piores) apelidos da liga: “Joe Barely Cares” – trocadilho que dizia que ele pouco se importava com o que acontecia em quadra. A média de 20,1 pontos em seus primeiros quatro anos não parece tão ruim, mas não conta tudo: nos rebotes, foram apenas 8,5 por jogo. Cometia um elevado número de turnovers e não amedrontava defesas a ponto de chamar a marcação dupla no garrafão. O fato é que ele não se encontrou por lá, sendo perseguido por torcedores e jornalistas. Em 1984, para espanto geral, virou as costas para o time assinou um contrato com o Olimpia Milano. Em Boston, o Celtics já havia conquistado dois troféus.

Depois de conhecer a Itália, Carroll retornou em 1985, e, sob o comando de George Karl, viveu seu melhor momento. Em 1987, foi eleito para o All-Star Game e ainda estreou nos playoffs. Um ano depois, porém, viu sua produção despencar, a ponto de ser trocado para o Houston Rockets. Rodaria ainda por New Jersey, Denver e Phoenix até se aposentar em 1991, aos 32 anos, considerado um grande fiasco.

Quanto a Rickey Brown… Hã… O ala-pivô de 2,08 m, de Mississippi State, jogou apenas cinco anos na NBA. Em 1983, foi negociado com o Atlanta Hawks, em troca de uma escolha futura de segunda rodada, que resultaria em alguém de nome mais interessante, pelo menos: Othell Wilson. Pois é.

E onde é que Larry Bird entra nessa história? O Golden State tinha a quinta escolha do Draft de 1978. Optou pelo ala Purvis Short, que teria médias de 17,3 pontos, 4,3 rebotes e 2,5 assistências em sua carreira. O legendário camisa 33 do Celtics saiu em sexto. Oooops. (E aqui não importa que Bird fosse ficar mais um ano em Indiana State. Né?!)

2) Cestas e drogas
A NBA teve de lidar nos anos 70 e 80 com um séria questão: o preocupante uso de drogas por um elevado número de seus atletas, nem sempre flagrados. O ala Bernard King foi um dos atletas que chegou a ser detido por posse de maconha e cocaína em duas ocasiões, entre 1977 e 78, enquanto tinha contrato com o New Jersey Nets. Cansado dos problemas, mandou King para Utah em 1979. Pouco utilizado em Salt Lake City – aliás, não dá saber o que King faria na cidade naquela época. Um ano depois, seria despachado para o Golden State, em troca do pivô Wayne Cooper (um bom defensor, que viveria bons momentos no futuro pelo Blazers e pelo Nuggets). Na Califórnia, o ala reencontraria o rumo e seria eleito para o All-Star Game em 1982, com 23,2 pontos, 5,9 rebotes e 3,6 assistências.

Bernard King, cestinha que durou pouco em Oakland

Bernard King, cestinha que durou pouco em Oakland

Mas seria mais um craque que a franquia deixaria escapar: ao final do campeonato, King assinou um pré-acordo com o New York Knicks. Foi liberado, em troca do armador Michael Ray Richardson. Nos próximos quatro anos, o ala se tornaria o grande ídolo do Madison Square Garden, com algumas atuações eletrizantes (coisa de 50 pontos em jogos consecutivos e também 60 pontos em outra ocasião). No auge, porém, sofreu uma gravíssima lesão no joelho, que impediu que fizesse uma dupla potencialmente devastadora com Patrick Ewing, até ser dispensado. Acabado? Nada disso. Batalhou e concluiu uma recuperação até então inédita na liga. Em Washington, jogaria muito pelo Bullets ainda, com médias de 22 pontos, 4,7 rebotes, 3,9 assistências por quatro temporadas, sendo eleito pela quarta vez um All-Star em 1991.

Vai saber: talvez, em Oakland, as coisas pudessem ter desandado. Talvez King ainda estivesse dando trabalho fora de quadra, quando negociado. O que pega é que Richardson também tinha um histórico problemático e público. Não duraria nem quatro meses com o Warriors, sendo repassado para o Nets. Um caso triste de desperdício de talento – era um jogador tão veloz com a bola quanto John Wall no auge, segundo consta –, o armador passou pelo programa de reabilitação da liga e ainda assim foi pego, depois, em três testes pelo exame de cocaína. Foi banido e acabou conduzindo sua carreira na Europa.

3) Run TMC, e poderia ser melhor
Se, na NBA, há um consolo para times que fracassam em negociações e, por consequência, não se cansam de perder em quadra é que eles têm oportunidades melhores de se reforçar via Draft. E, na virada dos anos 80 para os 90, a franquia até caprichou em seu recrutamento, escolhendo Tim Hardaway, Mitch Richmond e Tyronne Hill por três temporadas seguidas. Em 1992, ainda conseguiriam Latrell Sprewell. Os dois primeiros se juntariam a Chris Mullin para formar o cébre trio Run TMC, sob o comando de Don Nelson, com um basquete vistoso, empolgante e competitivo. Até por isso foi difícil de entender duas trocas que o clube fechou com o Seattle Supersonics em 1989.

Alô? É do Warriors?

Alô? É do Warriors?

No recrutamento daquele ano, o Warriors cedeu os direitos sobre Dana Barros, o 16º calouro, em troca de uma escolha de primeira rodada, em 199 . Tudo bem. Já tinham Hardaway garantido. Um mês e meio depois, no entanto, eles devolveram o pick a Seattle para contratar o pivô Alton Lister. Era um grandalhão de 2,13 m que vinha de médias de 8,0 pontos, 6,6 rebotes, 2,2 tocos em 22 minutos. Tinha boa presença defensiva, algo de que a equipe carecia no garrafão, mas era muito limitado. Pior: faria apenas três jogos naquela temporada, devido a uma lesão. Em quatro temporadas em Oakland, devido aos problemas físicos, disputaria apenas 126 de 328 partidas possíveis. E que fim levou a escolha de Draft? Foi a segunda geral em 1990, rendendo Gary Payton ao Sonics. (OK, jogar com dois armadores naquela época não era algo tão usual, por mais que Payton pudesse marcar ala-armadores tranquilamente. No mínimo, viraria uma bela moeda de troca. Em 1992, ao lado de Shawn Kemp, Payton eliminaria o Warriors nos playoffs da Conferência Oeste, por ironia.

Em 1991, Nelson inexplicavelmente mandou Mitch Richmond para Sacramento, em troca do ala novato Billy Owens, o quinto do Draft. Owens era versátil, mas não gostava de treinar muito. Em 1995, já estaria defendendo o Miami Heat, numa negociação pelo pivô Rony Seikaly – o time da Flórida ainda receberia os direitos sobre o sérvio Sasha Danilovic (que seria um excepcional substituto para Richmond…). O libanês estava alguns degraus abaixo dos superpivôs da época, mas era competente. Sofreu com lesões, porém, em dois anos e foi repassado ao Orlando Magic.

4) A novela Chris Webber
Em 1993, Orlando Magic e Golden State Warriors fecharam uma troca  para lá de intrigante e que fazia muito sentido: uma inversão entre as primeira e terceira escolhas do Draft. O melhor novato disponível era o ala-pivô Chris Webber – muito badalado vindo da Universida de Michigan. Ele poderia jogar ao lado de Shaquille O’Neal? Certamente. Mas o Orlando estava de olho no armador Anfernee Hardaway. Quando o Philadelphia 76ers optou pelo espigão Shawn Bradley em segundo, “Penny” sobrou para o Golden State, que já tinha um Hardaway talentoso do seu lado. Para compensar, o Warriors ainda mandou três escolhas futuras de primeira rodada. C-Webb fez uma primeira campanha estrondosa em Oakland ao lado de um time tão ou mais divertido que o Run TMC. Caíram na primeira rodada contra o Phoenix Suns, atual campeão do Oeste, mas tinham uma base promissora para se desenvolver, tendo Gregg Popovich como assistente técnico.

Acontece que Webber arrumou confusão. Disse que não queria mais jogar como pivô (o nominal “5”, mesmo que o sistema de Nelson ignorasse essas convenções) e exigiu uma troca. O detalhe é que o jovem astro tinha como pressionar o clube, pois havia conseguido incluir uma cláusula de rescisão contratual para o final da temporada de calouro. Inacreditável. Foi aí que Nelson fechou a troca por Seikaly, para tentar acalmar as coisas – mas não sem antes entrar num bate-boca público. O ala-pivô manteve sua decisão até forçar uma negociação com o Washington Bullets, por Tom Gugliotta e três escolhas futuras, nenhuma das quais seria devidamente aproveitada. “Googs” jogou apenas um ano e meio pelo Golden State, até ser mandado para o Minnesota Timberwolves em troca de Donyell Marshall. O ala defendeu o Warriors até 2000, com médias de 11,1 pontos e 6,8 rebotes, quando foi trocado por Danny Fortson e Adam Keefe. Que tal?

5) O estrangulamento
Sprewell entrou em um timaço. Mullin, Hardaway, Webber, Nelson como técnico. Após o fiasco nas negociações com Webber, no entanto, o técnico e gerente geral pediu demissão. Ele fracassaria em Nova York, mas ainda teria muito sucesso como comandante do Dallas Mavericks, que seria reerguido como potência do Oeste ao final da década. Se ao menos Gregg Popovich estivesse por ali…. Mas o assistente se mandou em 1994 para San Antonio. Rick Adelman, que havia sido duas vezes vice-campeão pelo Portland Trail Blazers, assumiu o time, mas a depressão nos bastidores do clube era grande. Em dois anos, com um elenco em frangalhos (Hardaway foi trocado para Miami, Mullin já estava quebrado), ainda conseguiu um aproveitamento de 40%, até se mandar e reinventar o Sacramento Kings, ao lado de Webber. Em 1997, foi a vez de PJ Carlesimo ser contratado como treinador, mais um vindo de Portland.

Carlesimo e Sprewell: um dos incidentes mais absurdos da história da NBA

Carlesimo e Sprewell: um dos incidentes mais absurdos da história da NBA

A essa altura, Sprewell, um sujeito introspectivo e intempestivo, já estava para lá de frustrado e não aceitou bem o estilo exigente, mandão do novo técnico. Na primeira pré-temporada em que trabalharam juntos, em um dia em que alegou estar sem paciência, o ala simplesmente estrangulou o treinador por volta de 10 a 15 segundos. Segundo relata a Sports Illustrated, “alguns jogadores não tiveram pressa alguma” para interferir. O jogador foi, então, levado para o vestiário, para, 20 minutos depois, tentar atacar novamente o técnico. O Golden State suspendeu o ala por 10 dias e, depois, optou por romper o contrato. Na Justiça, Sprewell validou seu contrato. Obviamente, não havia como segurá-lo no time, e aí em 1999, ao retornar de suspensão, foi trocado para o New York Knicks, por John Starks, Chris Mills e Terry Cummings. No Madison Square Garden, também virou ídolo e seria campeão do Leste de imediato.

Obviamente não há negociação errada, comportamento de um técnico que justifique o ato de Sprewell. Mas a agressão simbolizava o caos por que passava a franquia.

6) Gangorra
Vocês se lembram a troca de Penny Hardaway por Chris Webber, certo? No Draft de 1999, o Golden State Warriors tentou repetir o movimento, numa transação envolvendo Antawn Jamison e Vince Carter. Seguido o exemplo de seis anos atrás, era de se imaginar a diretoria liderada por Gary St. Jean estivesse adquirindo Carter em troca de seu ex-companheiro da Universidade da Carolina do Norte, certo? Errado. O acrobático e explosivo Carter caiu no colo da franquia na quinta colocação, mas eles estavam interessados em Jamison, fechando então um negócio com o Toronto Raptors. O impacto que o ala causou no clube canadense é hoje considerado um fator primordial na explosão de talento de primeiro nível no país de Andrew Wiggins.

Jamison era um cestinha de jogo vistoso, classudo, mas de eficiência questionável e que não justificava sua deficiência nos rebotes e defesa. Ainda assim, teve seu contrato renovado em 2001 por US$ 85 milhões e seis temporadas. Não chegou ao final do vínculo, claro, sendo enviado ao Dallas Mavericks em 2003, rendendo em contrapartida o acabado Nick Van Exel e outros veteranos que só foram incluídos para validar o negócio financeiramente (Avery Johnson, Evan Eschmeyer, Popeye Jones e o francês Antoine Rigaudeu, que nem nos Estados Unidos estava mais). Um desastre.

7) Arenas, mais um a partir
A história se repete. Quando Gilbert Arenas saiu da Universidade do Arizona em 2001, não era um jogador bem cotado pelos scouts e dirigentes. Eles questionavam seu comportamento excessivamente infantil e acreditavam que ele não tinha uma posição definida, perdido entre um armador e um ala. A maioria dos observadores se equivocou profundamente. A habilidade do futuro Agente Zero com a bola se impôs rapidamente na liga. O sucesso foi tamanho que… complicou a vida do clube.

O melhor (e pior) do Agente Zero ficou para o Washington Wizards, mesmo

O melhor (e pior) do Agente Zero ficou para o Washington Wizards, mesmo

Sem apostar tanto assim no calouro, o Warriors firmou com ele um contrato de apenas dois anos. O jovem astro se tornou um agente livre restrito rapidamente, então. Seu potencial era evidente, de modo que recebeu uma proposta fabulosa do Washington Wizards. O Warriors não tinha condições de cobrir a oferta, mesmo que quisesse, devido ao estado precário de sua folha salarial (caríssima, congestionada, cheia de jogadores pouco atrativos que pudessem ser trocados para abrir espaço). Apesar das loucuras que cometeria anos mais tarde, Arenas foi superprodutivo em seus primeiros anos na capital americana e ajudou a revitalizar o clube na Conferência Leste, ao lado de Larry Hughes, outro talento do Golden State que havia sido surrupiado.

8) Custo x benefício
Para um time que só teve duas temporadas com aproveitamento acima de 50% nos anos 2000 (42-40 em 2007 e 48-34 em 2008), chegando aos playoffs uma única vez, o Golden State Warriors arcou com alguns dos contratos mais absurdos do período. Se você juntar os salários de gente como Jamison, Erick Dampier, Adonal Foyle, Derek Fisher, Corey Magette, Andris Biedrins, dava mais de US$ 310 milhões no total. Só em seis jogadores que eles procuraram no mercado na década passada. Os gastos gerais, obviamente, são muito maiores.

9) Atirando para todos os lados
Mullin, Hardaway, Richmond, Sprewell… Grandes acertos no Draft, na certa. Em 2001, conseguiram de uma vez só Jason Richardson, Troy Murphy e Gilbert Arenas. Monta Ellis 40º em 2005. Para aplaudir, novamente. Stephen Curry foi um presente do Minnesota Timberwolves em 2007. Agora, a lista de fiascos do Golden State Warriors no Draft é clamorosa, como diria o Carsughi, principalmente para um time que esteve tantas vezes presente na loteria. Não vamos nem contar aqui as escolhas trocadas, como a de Payton em 1990, mas apenas as efetuadas pelo clube, levando em conta os outros nomes que estavam disponíveis. Confira:

O'Bryant fez apenas 40 jogos e 60 pontos pelo Warriors

Sensação do torneio da NCAA, O’Bryant fez apenas 40 jogos e 60 pontos pelo Warriors

1995 – 1º –  Joe Smith – Kevin Garnett, Rasheed Wallace, Antonio McDyess, Jerry Stackhouse e Michael Finley foram escolhidos depois
1996 – 11º – Todd Fuller – Kobe Bryant, Steve Nash, Jermaine O’Neal, Peja Stojakovic, Zydrunas Ilgauskas e Derek Fisher vieram depois
1997 – 8º – Adonal Foyle – Tracy McGrady saiu em nono
2003 – 11º – Mickael Pietrus – Boris Diaw, David West, Josh Howard, Leandrinho, Nick Collison disponíveis
2005 – 9º – Ike Diogu – Andrew Bynum saiu em décimo; Danny Granger disponível
2006 – 9º – Patrick O’Bryant – Rajon Rondo, Kyle Lowry, JJ Redick,
2007 – 8º – Brandan Wright – Joakim Noah saiu em nono…
2008 – 14º – Anthony Randolph – Serge Ibaka, Ryan Anderson, Roy Hibbert, Robin Lopez, Nicolas Batum, Kosta Koufos na pinta
2010 – 6º – Epke Udoh – Greg Monroe saiu em sétimo… Gordon Hayward, em nono e Paul George, em décimo.

10) Vaias, vaias e mais vaias
Joe Lacob, se você for pensar, não tinha nada com isso. Ele comprou a equipe de Chris Cohan em julho de 2010. Sua gestão não tomou parte dos nove tópicos acima. Mas, em 2012, quando ele foi para o centro da quadra na Oracle Arena para fazer uma homenagem a Chris Mullin, foi vaiado pelos torcedores de modo inclemente. A galera simplesmente não deixava o discurso ir adiante. A coisa só parou quando o próprio Mullin, com a ajuda de Rick Barry, pediu para que se acalmassem. Era muita mágoa represada, é verdade, mas também havia uma frustração clara com o novo proprietário, que, antes de aquela temporada começar, havia prometido (ao vivo e a cores e por e-mail) que o clube voltaria aos playoffs. Mesmo que sua base fosse jovem e ainda estivesse no início de sua evolução defensiva sob o comando de Mark Jackson. Em março, estava claro que era mera bravata de Lacob, e que o Warriors não tinha como sonhar com uma vaga nos playoffs, e que, para piorar, era obrigado a entregar jogos na reta final com o intuito de preservar sua escolha de Draft: caso ficasse fora do top 7, ela seria destinada ao Utah Jazz – reflexo de mais uma transação atrapalhada do passado, dessa vez pelo armador Marcus Williams, que disputou apenas seis partidas pelo time e hoje está na Europa.

O interessante é isto: o artigo de Simmons foi publicada em 21 de março de 2012, repercutindo justamente essas vaias. Três anos depois, cá estamos diante do time mais badalado da liga americana, com uma das campanhas mais impressionantes da história. Lacob pode ter cometido uma gafe daquelas ao anunciar um time competitivo naquele ano, mas, logo no campeonato seguinte, veria seu projeto bem encaminhado. Como conseguiram isso?

Com um pouco de sorte, algo que não dá para se relevar nunca. se David Kahn tivesse preferido Steph Curry a Jonny Flynn, qual seria o curso da história? Mas também com decisões práticas e inteligentes, como na montagem de uma diretoria plural, com diversas personalidades fortes, mas de formações diferentes, gerenciada por Bob Myers, um dos tantos agentes que viraram a casaca nos últimos anos. Entre as cabeças pensantes, destaque também para um vencedor como Jerry West, a quem convenceu que deixasse a aposentadoria de lado para ser con$ultor. Tudo o que ele toca vira ouro, gente.

O aproveitamento no Draft tem sido excelente. De 2011 para cá, o Warriors apostou em Klay Thompson (11º em 2011, numa cotação acima do que os especialistas previam) e fez a rapa em 2012, com Harrison Barnes (a sétima escolha, que quase foi do Utah), Draymond Green (um hoje inacreditável 35º lugar) e mesmo Festus Ezeli (bastante útil para quem foi selecionado em 30º). Apenas o sérvio Nemanja Nedovic, 30º em 2013, não vingou – o clube abriu mão do jovem armador muito cedo, mas foi mais uma decisão financeira, para evitar multas e permitir a contratação de atletas prontos para completar a rotação agora. No ano passado, não tinha escolhas.

Isso pelo fato de ela ter sido enviada para o Utah Jazz, mas não pela transação de Barnes – e, sim, em outro rolo mais ambicioso, numa troca tripla que resultou na chegada de Andre Iguodala. Foi um movimento surpreendente do Warriors, que se desfez dos salários de Richard Jefferson, Andris Biedrins e Brandon Rush para criar o espaço necessário para a absorção do volumoso contrato do talentoso ala. Outro jogador caro que foram buscar, mais desacreditado no mercado, é verdade, foi Andrew Bogut, o pivô ‘xerifão’ que buscavam desde, hã, 1994, assumindo um risco, devido ao seu histórico hospitalar preocupante. De qualquer forma, não dá para ignorar o fato de que também se desfizeram nessa de Monta Ellis, figura que limitaria o progresso de Thompson e, principalmente, Curry, com quem também assinaram um acordo  questionável em 2012: uma extensão contratual de quatro anos por US$ 44 milhões. Hoje, esse vínculo talvez seja a maior pechincha da NBA.

Os movimentos mais importantes da gestão, contudo, parecem ser aqueles que eles não fizeram. Para começar, deixaram que valiosos reservas como Jarret Jack e Carl Landry partissem, depois de eles terem se valorizado excessivamente em Oakland. Até que, no ano passado, resistiram bravamente à tentação de enviar Thompson para Minnesota, em troca de Kevin Love. Aqui não tem nada de sorte. Houve intensos debates a respeito, com Lacob pressionando para que levassem o negócio adiante, enquanto Jerry West era veemente contra, assim como Steve Kerr.

Kerr, aliás, é outra história. O estreante treinador estava apalavrado com Phil Jackson e o New York Knicks, mas o Warriors se movimentou apressadamente, com um certo desespero, para demitir Mark Jackson, apenas quatro dias após a derrota para o Los Angeles Clippers, pela primeira rodada dos playoffs. Jackson havia acumulado 121 vitórias e 109 derrotas no cargo. Era o treinador mais bem-sucedido do clube desde a primeira era Don Nelson. Uma decisão complicada, mas motivada pela quebra de confiança na relação entre a comissão técnica e a direção, mas também pelo feeling de que Kerr seria o homem certo para dar o próximo passo. Adiantando a fita um ano, não há muito o que contestar. A maré virou para o Golden State, e o torcedor mais fanático pode dizer que este é um karma dos bons, mais que merecido. Espiem novamente a lista acima e ousem discordar.

PS: Nesta quinta, a trajetória do Cleveland Cavaliers em torno de LeBron James.