Vinte Um

Arquivo : Klay Thompson

O Jogo 7 está aí, para testar quem tem cabeça
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Giancarlo Giampietro

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“Sentimos que era para ter fechado esta série há um tempão, mas aqui estamos. Está empatada em 3 a 3, e vamos voltar para casa para jogar. Vamos jogar com raiva porque sabemos que, com esta emoção – e nós sabemos canalizá-la do jeito certo –, somo um time muito, muito bom”, afirmou Klay Thompson, ainda em Cleveland, logo após a exasperante derrota para o Cavs, levando as #NBAFinals a um incômodo Jogo 7 em Oakland.

“Temos de mostrar alguma fagulha para esta partida. É uma grande oportunidade para nós, em casa, diante de nossos torcedores, para tentar, novamente, vencer um campeonato. Então vamos precisar de um pouco de garra e personalidade. Eu tinha algumas coisas que queria tirar do meu coração, para desabafar, e pelo modo como o jogo desenrolou, aconteceu isso”, disse, por sua vez, Stephen Curry, que teve um ataque de nervos em quadra e agora chega ao confronto deste domingo pressionado.

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Não só Curry, claro, mas o Golden State Warriors, como Thompson sugere. Na cabeça deles, já era para terem entrado em férias, como atuais bicampeões. Mas os LeBrons tinham planos bem diferentes, vencendo dois jogos seguidos

Em meio a uma campanha histórica, de 73 vitórias, foi fácil de detectar como essa equipe tendeu a jogar muito melhor quando se sentem incomodados, irritados: se distanciavam da complacência e arrebentavam com os adversários. Agora estão incomodados com os dois “match points” desperdiçados. Incomodado é pouco, aliás. Estão nervosos, mesmo. Se vão usar esse sentimento para se recompor em quadra, ou se vão se perder nesta ira.

Até porque esse sentimento de nada valeu na quinta-feira, certo? Era o jogo em que supostamente eles iriam vingar a suspensão de Draymond Green, né? Ao perder o primeiro quarto por 31 a 11, claramente não estavam preparados ou empolgados assim. Até reagiram ainda em Cleveland, o tal do James não os deixou concluir mais uma virada histórica. Aí deu Jogo 7. Para o qual eles vão todos irados – mas também feridos:

– Andrew Bogut não joga mais, e nem no #Rio 2016. Até dá para viver sem o australiano, ainda que Festus Ezeli não seja mais o mesmo do início do campeonato, desde que retornou de uma lesão no joelho.

– Andre Iguodala preocupa muito mais. O departamento médico e atlético do Warriors é um dos mais badalados da liga. São 72 horas, ou um pouco menos, para que tenham dado um jeito nas suas costas. Do contrário, a vida para um surtado LeBron James fica ainda mais fácil.

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– Harrison Barnes, Deus o tenha. O ala está inteirinho fisicamente. Mas a cabeça… Depois de errar 20 de 22 arremessos nas últimas duas partidas, como fica? Se o futuro agente livre não se mostrar reabilitado logo de cara, Kerr vai insistir com ele? Ou vai dar mais minutos para Leandrinho, que vive o melhor momento de sua carreira em muito tempo?

Aí são três peças integrais da rotação com problemas. Isso compromete qualquer time. Se Iguodala e Barnes não chegarem nem perto de seu potencial, vai ficar complicado demais para os Splash Brothers, e o Golden State muito provavelmente se tornará o primeiro time na história da liga a perder uma final depois de abrir 3 a 1 e o primeiro a cair num Jogo 7 em casa desde o Seattle em 1978.  Curry e Thompson chutam muito, podem demolir qualquer oponente, mas precisam de ajuda, mesmo naquelas jornadas mais brilhantes. O Warriors não venceu 171 partidas nas últimas duas temporadas só com seus arremessos de três. E vão precisar de mais do que isso para derrotar um majestoso LeBron.

O craque do Cavs chega ao último jogo como o líder em pontos, assistências, rebotes, tocos, roubos de bola e índice de eficiência. Está bom? Sob qualquer argumento, deve ser eleito o MVP das finais, salvo alguma catástrofe neste domingo, independentemente de quem ganhar o título.A essa altura, não caberia a Curry a ambição de superá-lo. Por mais que tenha ‘jurado’ o veterano em quadra, o armador do Warriors não deve transformar uma partida dessa grandeza em algo pessoal. Tem de se concentrar em seu jogo e evitar faltas desnecessárias (não importando os critérios de arbitragem) e os turnovers por displicência.

Curry será atacado desde o início. De preferência, LeBron vai forçar uma troca de defesa que o coloque de frente para o armador. Nessas situações, seu defensor deve tentar evitar ao máximo que a troca seja feita depois do corta-luz. Se ela acontecer, talvez seja o caso de fazer uma dobra imediata no veterano, para tentar tirar a bola de suas mãos o mais rápido possível, assim como têm feito com Kyrie Irving. O perigo é que LeBron é muito mais alto e um passador muito mais capaz também, podendo antever jogadas e encontrar arremessadores  num estalo. O que vai exigir deslocamento e recuperação rápidas dos demais defensores.

Como um todo, o Warriors tem de se reconectar defensivamente, depois de tomar 227 pontos nas últimas duas partidas. Não sei o quanto a “raiva” pode contribuir para isso. Se Curry, Green e Iguodala maneirarem nos passes mais arriscados de um lado, já será uma baita ajuda, para conter o contra-ataque devastador de seu adversário. O Cavs anotou 47 pontos em transição pelos Jogos 5 e 6 – e só tomou 19. Você não quer deixar um time com o trator LBJ correr. A única chance de pará-lo será em meia quadra, mesmo. Embora, se o seu arremesso de longa distância continuar caindo 50% das vezes, talvez não haja muito o que fazer, mesmo.

Essa é uma das questões cruciais para Cleveland, inclusive. A principal delas, na real, acompanhadas de: 2) se Kyrie Irving vai estar em forma, depois de mancar um pouco durante o segundo tempo do Jogo 6, por conta de alguma contusão/dor no pé, limitando sua produção a apenas uma cesta de quadra em seis tentativas; 3) se Kevin Love vai oferecer algo para Tyronn Lue no ataque e se isso seria o suficiente para compensar sua vulnerabilidade defensiva; 4) se a arbitragem vai procurar remediar qualquer desconforto com o time da casa, em resposta aos ‘apelos’ de Kerr, Curry e amigos; 5) por fim, se Dahntay Jones vai marcar mais pontos que Harrison Barnes e Shaun Livingston?! (Risos.)

De resto, poderíamos questionar se Tristan Thompson vai seguir perseguindo Stephen Curry pelo perímetro como se fosse um Scottie Pippen, mas acho que não há mais dúvida de que o canadense pode executar esse tipo de marcação, mesmo. Quando o pivô está na contenção no perímetro, o armador soma apenas 0,78 ponto por posse de bola. Contra Irving, o número sobe para 1,37. Impressionante.

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Esse tem sido um dos elementos para o excelente desempenho defensivo do Cavs nas últimas partidas. Assim como, vejam só, a concussão de Kevin Love, que abriu mais espaço para Richard Jefferson na rotação, dando maior flexibilidade. O trabalho de Tyronn Lue ficou menos complicado, sem perder muito tempo com as politicagens do cargo – a redução do tempo de quadra de um ala-pivô de US$ 20 milhões anuais. Não é que Jefferson seja melhor que Love. Claro que não. É só que, particularmente contra o Warriors, o astro será explorado em cada instante que estiver na defesa. Contra OKC, provavelmente a situação seria outra. Além do mais, LeBron James foi deslocado para a marcação de Draymond Green, praticamente anulando o All-Star e seus temíveis pick-and-rolls com Curry.

São diversos os detalhes e ajustes que uma série melhor-de-sete com placares tão díspares pede – embora, tenhamos um curioso empate na soma dos pontos dos dois times, com 610 para cada. Coração e determinação têm o seu peso, claro, e o fato de jogar em casa vai empurrar o Warriors nessa direção. Mas é preciso cabeça também, e o jogo mental pendeu para o lado de Cleveland desde que LeBron forçou a suspensão de Green. Depois de induzir o ala-pivô ao erro e dominar os oponentes, o craque chega ao Jogo 7 sem tanto peso nos ombros. Deve ser a primeira vez que se escreve essa frase sem que ela pareça maluca.

Não que não exista pressão. James ainda tenta dar o primeiro título a uma cidade cujos times profissionais não nenhum título desde 1964, mesmo tendo franquias em todas as grandes ligas do país. Também seria o seu terceiro título, com uma virada inédita, o que realmente valeria como um nocaute contra aqueles que o perseguem. Já o Warriors tem mais 48 minutos para confirmar seu lugar entre os maiores times da história.

Se Draymond Green tivesse jogado a quinta partida, talvez a série já pudesse ter acabado, mesmo, como palpitou Klay Thompson. Nunca vamos saber, e não há como o ala-pivô retornar no tempo para corrigir sua bobagem. Ela faz parte da história, e vamos para o sétimo jogo. O que a gente pode pedir, ao menos, é que tenhamos uma partida que chegue competitiva aos seus minutos finais. Com LeBron jogando o que sabe e Steph Curry também. Sem ataques de fúria.

(Que sejam 48 minutos, mesmo, né? Se houver prorrogação, acho que teremos um colapso de 20 mil pessoas no ginásio. Melhor evitar.)

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LeBron volta a reinar, e Cavs vai ao Jogo 7 crendo em virada inédita
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Giancarlo Giampietro

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O Golden State Warriors fez uma vez. Por que o Cleveland Cavaliers também não pode?

Parece que já passou um século já, mas foi há questão de semanas apenas que os atuais campeões completaram uma virada incrível para cima do Oklahoma City Thunder pela decisão do Oeste, quando estava perdendo por 3 a 1. Pois é. Era a mesma desvantagem que o Cavs enfrentava pelas #NBAFinals, e cá estamos: após mais um massacre jogando em casa, triunfando por 115 a 101 nesta quinta-feira, o a série está empatada, caminhando para um sétimo jogo realmente proibido para cardíacos, como diria o outro, no domingo.

Primeiro foi um quarto arrasador para abrir os trabalhos, vencido por 31 a 11. Depois, teve a cabeça fria para lidar com duas reações dos perigosos visitantes. E aí veio um LeBron James soberano no segundo tempo, para marcar 41 pontos pelo segundo jogo seguido e fazendo de tudo em quadra. Após uma grande partida, sem dúvida, seu time chega a Oakland acreditando ser plenamente plausível sua missão de ser o primeiro time a sair do 3 a 1 contrário para levar o título.

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Além dos 41 pontos, foram 11 assistências, 8 rebotes, 4 roubos de bola e 3 tocos para LBJ, em 43 minutos, com um saldo de 26 pontos. Ele acertou 16 de 27 arremessos, com 3-6 no perímetro. Sozinho, ele conseguiu o mesmo número de passes para cesta, recuperações e bloqueios que os cinco titulares do Warriors somaram. Impressionante. Acho que, a não ser no caso de um dos Splash Brothers marcar 60 pontos na sétima partida, com vitória, não dá para imaginar um cenário em que o troféu de MVP da decisão não vá para o camisa 23. Nos últimos dois jogos, ele tem 82 pontos, 24 rebotes, 18 assistências, 7 roubos e 6 tocos, com 7-14 de longa distância, algo que faz toda a diferença.

A gente pode falar de “cabeça fria” para o Cavs, sem problema. Porque não é fácil manter a compostura quando um time como o Warriors vem para cima. Kevin Durant e Russell Westbrook que o digam. Mas o coração dos caras estava a mil, desde o tapinha inicial, com mil batimentos por segundo, mesmo, de tanta energia que levaram para quadra, como num repeteco do Jogo 3. Foram oito pontos seguidos, e não pararam por aí. Cesta após cesta, enquanto, do outro lado, fechavam a porta na cara de todos, permitindo apenas o moribundo Harrison Barnes arremessar.

Steve Kerr parou o jogo e, o pior: não havia nem mesmo um Andrew Bogut para substituir e uma “Escalação da Morte” para ativar. Na verdade, sem o pivô australiano, que não volta mais nesta temporada, o técnico já havia começado o duelo com seu melhor quinteto, que havia terminado as finais do ano passado com 42 pontos de saldo. Em seus primeiros minutos, essa escalação saiu perdendo por oito. Em nenhum momento, conseguiram assumir o controle da partida como a unidade que se tornou a mais temida da liga desde a decisão de 2015.

A primeira parcial terminou com placar de 31 a 11. Os 11 pontos do Warriors não eram só a pior marca da equipe nesta temporada em um quarto inicial como foi a pior de toda a história das finais na era de posse de bola cronometrada. Isso aconteceu com a receita básica de defesa + transição. Nos três jogos mais acelerados destas finais, o Cavs saiu vencedor, numa reviravolta muito interessante. O Cavs realmente marcou demais, especialmente na hora de contestar Klay Thompson, que não encontrava espaço nenhum para chutar e, frustrado, passou a se precipitar, e Draymond Green. Sim, ele estava de volta e, por um período que fosse, não fez diferença nenhuma no plano geral.

Green saiu com um saldo negativo de 12 pontos. Curry, com -11. Thompson, com -22. Foi feia a coisa. Eles foram dominados, por mais que tenham em duas ocasiões, nos segundo e terceiro períodos, encurtado seu déficit, para um só dígito, tendo posses de bola extra para encostar de vez. Mas não conseguiram. E não só pelos méritos de LeBron, que anotou 17 pontos no quarto final.

Curry se perdeu em faltas e perdeu a cabeça em sequência. Rara expulsão

Curry se perdeu em faltas e perdeu a cabeça em sequência. Rara expulsão

O Warriors, por conta, também cometeu erros tolos, para além dos chutes bizarros de Thompson. Os mais custosos foram as faltas, novamente, desnecessárias de Stephen Curry. O acúmulo o tirou de quadra cedo e depois o deixou em posição precária para marcar um cara como Kyrie Irving. E que, a 4min22s do fim, o levaram a uma rara exclusão, quando seu time perdia apenas por 12 pontos, algo que não acontecia desde dezembro de 2013. E, sim, 12 pontos entra na conta do “apenas” quando é o Warriors que está em quadra. Se a sexta falta foi bastante duvidosa, as outras cinco, não achei – para Kerr, foram três. O problema é maior por ser recorrente e por ter atrapalhado uma noite em que havia chegado a 30 pontos em 20 arremessos e 35 minutos. (Steph, aliás, converteu seis bolas de longa distância e quebrou o recorde de Danny Green numa série final. Como se estivesse valendo algo agora…)

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Ao seu lado, Thompson demorou quase 30 minutos para esquentar a mão. Fez estragos no terceiro período em mais uma investida preocupante do Warriors, que tornou a baixar seu déficit para um dígito, mas aí LeBron estancou tudo. O ala terminou com 25 pontos em 21 arremessos, e apenas 30% de acerto em 10 tentativas. Ao menos reencontrou o rumo da cesta para não voltar para casa tão perturbado assim.

O mesmo não pode ser dito sobre Harrison Barnes, que teve mais um jogo de doer, saindo zerado de quadra em oito arremessos. Ainda no quinteto inicial, Draymond Green ficou em oito pontos. Já Andre Iguodala sentiu um desconforto lombar logo no início da partida e se arrastou pela quadra. Recebeu tratamento especial quando era substituído, bateu o pé com a comissão técnica para seguir atuando e simplesmente não conseguiu ser efetivo. Marcou cinco pontos e deu três assistências. Produção muito baixa.

As mazelas dos atuais campeões não se limitaram ao seu poderoso, mas agora irregular ataque. Sua defesa permitiu novamente que o Cavs conseguisse ótimos índices de acerto, com 51,9% nos arremessos. Sofreram tanto nos tiros de longa distância (37%, com 10-27) como no garrafão, levando 42 pontos na zona pintada. Ao menos impediram que Thompson engolisse a tabela ofensiva, com muito suor de Draymond  – ainda assim, foram 15 pontos e 15 rebotes para o pivô canadense. No geral, o Cavs conseguiu oito rebotes na tábua do aversário.

A coisa seria ainda mais feia não fosse mais uma bela apresentação de Leandrinho. Um dos destaques pelo Jogo 1, o ala brasileiro entrou muito bem no segundo período, com firmeza, decidido, e anotou 14 pontos em 18 minutos, com 50% de acerto. O ligeirinho merece mais minutos na sétima partida, ainda mais se Barnes não retornar do Ártico. Anderson Varejão também teve boa participação e, na partilha dos minutos de Bogut,  deveria ter prioridade em relação a Ezeli. Não por serem convocados de Magnano. Mas pela produção recente, mesmo.

Ah, o Jogo 7… Vai demorar um tanto para chegar o domingo. Em sua entrevista, tentando manter a cabeça erguida, Kerr lembrou que foi para isso que eles detonaram na temporada regular: para ter o mando de quadra. Isso é fato. Ninguém vai tirar isso do Warriors, e o retrospecto é todo favorável aos anfitriões. Das 18 séries que acabaram na sétima partida, o time da casa saiu vencedor em 15 delas. Agora, o mesmo Warriors sabia que jogava contra os números ao aprontar para cima de OKC. Naquela ocasião, o Cavs estava descansando, tomando nota. Pelo fato de terem estendido o confronto, já foi uma proeza. Essa é apenas a terceira vez na história em que um time se recupera de uma derrota parcial por 3 a 1. O último havia sido o Lakers de 1966, para termos uma ideia. E nunca esse time chegou a completar a virada. Após duas grandes vitórias, podem ter certeza de que, na cabeça dos LeBrons, esse retrospecto não vai dizer nada.

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LeBron aceita papel de vilão e vê Kyrie explodir para estender as finais
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Giancarlo Giampietro

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LeBron James fez sua melhor jogada antes mesmo de o Jogo 5 começar. Quando, ainda em Cleveland, atropelou Draymond Green, tirou o oponente do sério e forçou sua suspensão com uma quarta falta flagrante pelos playoffs. Nesta segunda-feira, porém, ele fez questão de estender sua contribuição com uma das melhores atuações de sua carreira. Foi um ato de sobrevivência, e o Cavaliers bateu o Golden State Warriors por 112 a 97 para forçar o sexto jogo na quinta-feira.

Em 42 minutos, sem mal descansar em quadra ate que o “garbage time” fosse instaurado, LeBron anotou 41 pontos, apanhou 16 rebotes, deu 7 assistências e ainda acumulou 3 tocos e 3 roubadas, com 16-30 nos arremessos. Além disso, matou 50% nos tiros de três, em oito tentativas. Espetacular e, a julgar por seu currículo, não surpreende. Para quem ainda lê e ouve por aí tanto sobre uma suposta fama de amarelão, o craque tinha médias de 31,9 pontos, 10,7 rebotes e 6,6 assistências em partidas pelas quais sua equipe lutava contra a eliminação. Agora tem a melhor média de pontos da história dos mata-matas nesse tipo de situação. A diferença é que, a despeito de suas exibições marcantes, o aproveitamento de seus times era de 7 vitórias em 15 jogos.

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Para devolver a série a Cleveland, o veterano não agiu sozinho, obviamente. Assim como no Jogo 3, contou com nova exibição primorosa de Kyrie Irving no ataque. O armador do Cavs voltou a esfomear em quadra, mas dessa vez guardou seus arremessos com uma precisão assustadora, de causar inveja a Curry. Anotou os mesmos 41 pontos, com 17 cestas em 24 tentativas (70,8%). Nem mesmo um marcador como Klay Thompson o incomodou.

“Foi provavelmente uma das melhores atuações que já vi ao vivo”, disse James, seguindo a mesma linha de Jeff Van Gundy, durante a transmissão. E não é exagero. Na história das finais, apenas só teve um jogador além de Irving que conseguiu marcar 40 pontos e acertar mais de 70% em uma partida: Wilt Chamberlain. Glup. Aconteceu em 1970, pelo Lakers, respectivamente, com 45 e 74,1%. Aí vale a gente lembrar que Wilt era a maior aberração atlética do mundo e que, para a época, era como se tivesse 2,58m de altura e estava sempre pertinho da cesta. Irving é um cara de 1,91m que vaga pelo perímetro.

Foi a primeira vez na história das finais que dois companheiros passaram dos 40 pontos na mesma partida. Entre cestas e assistências, os dois estiveram envolvidos em 97 pontos dos 112 dos visitantes. A mesma quantia que todo o elenco do Warriors. Incrível. Vale o abraço:

Era como se James e Irving, de repente, tivessem se tornado os Splash Brothers. Ninguém duvida da capacidade do armador para converter os chutes que arriscou nesta partida. O problemão para Steve Kerr foi ver o ala alcançar um percentual elevado mesmo quando buscava pontuar longe da cesta. Qualquer defesa bem-sucedida contra uma equipe de LBJ espera, conta que ele vá falhar neste tipo de fundamento. Se, por um acaso, ele conseguiu virar a chavinha para valer nestas finais, será uma tremenda dor-de-cabeça para o Golden State, independentemente da presença de Draymond Green em quadra.

O ala-pivô fez muita falta para os atuais campeões, especialmente na defesa. Não só na ajuda para a contenção de LeBron, como para a coesão da equipe, mesmo. A cobertura, a recuperação de posição, a comunicação nas trocas de marcadores, a proteção de cesta…  Faltou um pouco de tudo, abrindo caminho, corredores para os 53% nos arremessos do Cavs e os 41,7% dos três pontos. No momento, o combo de Bogut-Ezeli-Varejão não vem dando conta do recado, com Irving e LeBron explorando sua lentidão sempre quando podem no pick-and-roll. Para piorar, Bogut ainda sofreu uma contusão no joelho no segundo tempo e vai passar por uma ressonância magnética.

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No ataque, a visão de quadra e versatilidade de Draymond também foi sentida, como um assessor extremamente qualificado para seus chutadores, ajudando a organizar o jogo e se aproveitando das oportunidades proporcionadas pelo terror que eles representam no perímetro. No primeiro tempo, Stephen Curry e, principalmente, Klay Thompson mataram algumas bolas malucas de longe, mas se aproveitaram ao mesmo tempo da conivência defensiva dos caras de Cleveland. Sim, alguns daqueles chutes não existem no plano tático de ninguém, mas a marcação em geral foi uma calamidade, muito frouxa, deixando que um empolgado Thompson se desprendesse com facilidade. Antes do intervalo, o ala tinha mais pontos do que LeBron (26 a 25). Terminou com 37 pontos em 20 arremessos, 41 minutos e seis tiros de fora certeiros.

Porque as coisas mudaram. Na segunda etapa, adefesa do Cavs enfim entrou em quadra, para não desperdiçar, anular a soberba combinação de James e Irving. Em vez de seguir no tiroteio com confiança, os cestinhas do Warriors tiveram de lutar muito mais para enxergar a cesta, sem que os corta-luzes lhes dessem respiro. Valeu pela contestação e, muito mais, pelo desgaste gerado. A equipe da casa, como um todo, converteu apenas 12 de 45 (26,6%) de quadra. Foram 36 pontos, contra 39 de LBJ e Kyrie. Em alguns momentos, Curry apareceu livre, mas falhou na pontaria, para fechar sua participação com 25 pontos em 21 arremessos (38%) e 5-14 de três, em 40 minutos. O atual bi-MVP já não tinha pernas. Antes de baixar a energia, é preciso registrar, o armador voltou a ser displicente com a bola, cometendo alguns turnovers dos mais bestas possíveis.

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De Andre Iguodala, não houve o que se queixar. O veterano fez de tudo para tentar amenizar o impacto da ausência de Green, com 15 pontos, 11 rebotes, 6 assistências em 41 minutos. O que não deu para entender muito bem foi a estratégia de Kerr de colocá-lo para marcar Kevin Love em diversos momentos. Suponho que fosse para preservar o ala, resguardá-lo para os minutos finais, em vez de uma preocupação com o apagado ala-pivô. Acontece que Shaun Livingston e Harrison Barnes não conseguiram fazer nem cócegas contra LeBron James.

Barnes, aliás, foi uma tremenda decepção para o torcedor do Warriors. Quer dizer, nem tanto: durante o ano, fui descobrir que o ala não tem tanto prestígio assim em Oakland. Ainda assim, nem o mais pessimista poderia imaginar uma partida tão inócua assim, com míseros 5 pontos e 5 rebotes em 38 arremessos, acertando apenas 2 de 14 arremessos, muitos deles completamente livres. Considerando o que estava em jogo e o desfalque na linha de frente, esta atuação definitivamente não vai entrar no DVD, na hora de negociar um novo contrato em julho – e vocês desculpem a insistência com essa sub-história, mas é que, logo mais, vai aparecer algum clube para pagar uma bolada para este irregular ala. E aí não vai ter do que reclamar. Do outro lado, a frustração ficou novamente por conta de Kevin Love, que retornou ao time titular, ganhou 33 minutos e não passou de 2 pontos, 3 rebotes, 1 assistência e 3 tocos. Independentemente do desfecho da série, numa análise fria, é provável que a diretoria do clube se sinta inclinada a trocá-lo. Mas isso é papo para depois.

Por ora, o Cavs volta para a casa, com um cenário bem diferente para LeBron, que foi eleito inimigo público número um em Oakland. A julgar por seu rendimento, talvez o torcedor mais esclarecido do Warriors possa se sentir arrependido pelo tanto de vaia que se ouviu no ginásio, desde o aquecimento – historicamente, o ala responde muito em nesse tipo de cenário. Já o torcedor menos fanático e rancoroso do time californiano, a despeito de sua paixão por Draymond, deve ter, secretamente, pelo menos mentalmente, se permitido aplaudir o camisa 23. E Kyrie Irving.

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Pura energia: Cavs responde na série final das lavadas
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Giancarlo Giampietro

(Atualizado às 8h10)

LeBron ainda pode cravar essa bola. Mas ainda precisa de ajuda, que dessa vez veio

LeBron ainda pode cravar essa bola. Mas ainda precisa de ajuda, que dessa vez veio

O Cleveland Cavaliers deu a resposta de que precisava. Depois de sair de Oakland com 48 pontos negativos na conta, o time do Leste venceu o Jogo 3 das finais doa NBA contra o Golden State Warriors por 120 a 90. Agora faltam só 18 pontos para tirar e empatar a série.

Mentira, claro. Basta um triunfo por um pontinho na quarta partida, sexta-feira, que tudo estará zerado no retorno a Oakland. Vocês me desculpem a confusão matemática, mas é que os placares de um jogo para o outro foram tão esdrúxulos até agora, que fica muito complicado de estabelecer uma lógica. Entre os 33 pontos de vantagem do Warriors no domingo e os 30 do Cavs de agora, a liga americana viu a maior reviravolta da história.

Levar de volta a Oakland, na verdade, é a primeira vitória dos caras. Algo que, nesta quarta de manhã, não poderia ser garantido nem mesmo por LeBron James. Não do jeito como o confronto havia iniciado. Mas vejam como todos somos geniais. Depois de um intervalo de 72 horas, ou coisa assim, o Cavs já parecia o melhor time do mundo, enquanto o Warriors fazia as vezes de reles equipe que havia simplesmente passado por uma conferência extremamente frágil. Né? Uma completa inversão de papéis. Aqueles que não marcavam nada limitaram o melhor ataque da liga a 90 pontos, sua menor quantia nestes playoffs.

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Vamos lá: o Cavs fez os primeiros nove pontos do jogo. Nas minhas marcações aleatórias de início da partida, a vantagem chegou a 19 a 4. Depois, 33 a 10. Tudo no primeiro quarto, que terminaria por 33 a 16. No segundo quarto, os visitantes tentaram reagir, conseguiu baixar uma vantagem de mais de 20 pontos para nove, com boa participação novamente de Shaun Livingston, Leandrinho e Andre Iguodala, ao lado de Harrison Barnes e Draymond Green. Foram para o intervalo perdendo por oito pontos. Como se fosse uma reprise do Jogo 2, em que a equipe derrotada parecia ter sorte estar atrás por tão pouco.

Pois é: foi reprise, mesmo. O time da casa atropelou o adversário na volta do intervalo e matou o jogo em 36 minutos. E aí que a parcial final foi mais um extenso “garbage time”, de maneira bizarra para uma decisão de NBA. Bizarro pela quantidade de espancamentos, e, não, pela superioridade dos LeBrons por uma noite. A série decisiva mais parecida que tivemos, historicamente, nesses termos, foi a de 1985, num dos clássicos Lakers x Celtics. Naquela ocasião, o time de Boston venceu o primeiro jogo por 34 pontos e perdeu o terceiro por 25. (Sim, esse tipo de disparidade acontecia mesmo num confronto legendário como esse. Mas nenhuma dessas lavadas vai constar numa transmissão clássica da NBA. A memória é seletiva por diversos motivos.)

Você vai dizer o quê? Foi pura energia.

Nessa bagunça toda, Kyrie Irving, que havia marcado apenas 10 pontos no domingo, converteu 16 apenas no primeiro período – terminou com 30, um a mais que os Splash Brothers combinados. O aproveitamento de 12-25 nos arremessos, que é um tremendo avanço para quem havia acertado apenas 33,3% em Oakland. Ele foi para o ataque mais cedo, usando dos artifícios de sempre, e deu resultado. “Não quero dizer que fui um jogador completamente diferente, mas foi apenas voltar sem ficar pensando em nada a não ser jogar de modo agressivo”, disse.

Ao seu lado, JR Smith havia feito apenas oito pontos nos dois primeiros jogos e agora fez 20, matando cinco bolas de longa distância, como se ainda estivesse jogando na primeira rodada dos playoffs. Tristan Thompson seguiu esse embalo e mandou nas duas tábuas, com 16 pontos (5-6 de quadra, 4-5 nos lances livres) e 13 rebotes, incluindo 7 ofensivos, se aproveitando de quem quer que sobrasse com ele no garrafão. Em 40 minutos, LeBron James teve sustância em seus números. Novamente, cometeu muitos turnovers (cinco), mas conseguiu se impor no momento em que conseguiu ir para a cesta (14-26), para fechar com 32 pontos, 11 rebotes, 6 assistências e 2 tocos.

De normal, mesmo, só a baixa produção ofensiva dos reservas, zerados em três quartos. De Kyrie Irving, é disso que se espera. A questão agora é saber se JR Smith continuará produtivo no restante da série, se Thompson vai ser esse reboteiro voraz. E se Richard Jefferson ainda tem gás para render tão bem assim. O ala assumiu a vaga de Kevin Love no time titular e novamente contribuiu com muita energia, algo chocante para a torcida do Warriors, que se lembra de outra versão do ala, mesmo quando ele era mais jovem.

Love foi realmente afastado da partida por conta dos reflexos de uma concussão, e, ainda assim, os titulares de Cleveland mandaram na partida. Especialmente quando Andrew Bogut estava em quadra. Presença amedrontadora na partida anterior, o australiano dessa vez mal viu a bola. Anotou quatro pontos nas raras ocasiões em que a defesa adversária abriu um corredor, pegou dois rebotes, e só, em 12 minutos, divididos precisamente entre os primeiro e terceiro quartos. Depois de os suplentes remarem bastante no segundo período, foi surpreendente que o técnico Steve Kerr tenha iniciado o segundo tempo novamente com o gigante no garrafão – lembrando, mais uma vez, que do outro lado o Cavs tinha um time muito mais flexível devido ao desfalque de Love. No geral, em 25 minutos na série, a escalação titular do Warriors está com saldo negativo de 22 pontos. Muita coisa.

Em sua coletiva, Kerr defendeu a decisão e disse que se sente confortável com “Bogues” em quadra. Ele foi bastante questionado a respeito. Esse já é um grande dilema para o Jogo 4, de fato, conforme Jeff Van Gundy já disse em transmissão. O quanto você vai se desesperar após um resultado desses e rever rotações e táticas de um time que venceu 73 partidas no ano e ainda está a duas vitórias mais do título. Foi uma aberração? Foi sorte de um, azar do outro? Love vai retornar na próxima partida? Será como titular?

Em casa, o Cavs tem saldo de 22 pontos por jogo nestes playoffs. 100% ainda

Em casa, o Cavs tem saldo de 22 pontos por jogo nestes playoffs. 100% ainda

De qualquer forma, o treinador quase sempre espirituoso resumiu bem o que sua equipe (não) fez nesta quarta-feira: “Sempre digo aos caras. Nós somos bem pagos para isso, para enfrentar as críticas, e não apenas para arremessar algumas bolas. Nós todos merecemos as críticas dessa vez. Todos, eu e os jogadores”.  Acreditem: Harrison Barnes foi o melhor atleta do Warriors dessa vez. Com 18 pontos, igualou sua quantia das duas primeiras partidas. Ainda apanhou 8 rebotes e acertou 7 de 11 chutes. Foi o único do time capaz de competir física e atleticamente. Seu agente deve ter gostado bastante. É o tipo de jogo que cai bem no DVD que será distribuído por aí em julho, em busca de um salário de US$ 20 milhões anuais.

De resto? Não há muito o que se destacar. Pelo menos não com um viés positivo. Muito menos os 19 pontos de Stephen Curry, totalmente inócuos, em 31 minutos e 13 arremessos. Ele só entrou no jogo quando esse já estava decidido, na segunda metade do terceiro período. Em seus primeiros 16 minutos de ação, antes de ser substituído com três faltas – de novo cometendo infrações tolas –, tinha apenas 2 pontos em cinco arremessos. Saiu de quadra ainda com mais turnovers (seis) do que assistências (três), caindo facilmente em armadilhas na quadra, passando sem realmente ver quem vinha pela frente, além de ter viajado na marcação. Foi realmente um jogo horrível por parte do MVP unânime, do melhor jogador da liga dos últimos dois anos. “A culpa foi minha. Eles estavam fazendo uma defesa agressiva e entraram em quadra com muita força. Não fiz nada a respeito, nem joguei meu jogo, e para eu poder ajudar minha equipe, tenho de jogar 100 vezes melhor que isso, especialmente no primeiro quarto, para meio que controlar a partida”, disse.

A paulistinha russa de Mozgov

A paulistinha russa de Mozgov

Klay Thompson também foi mal, com 10 pontos nos mesmos 31 minutos e 13 chutes, mas ganha um desconto por ter tomado uma paulistinha (ou tostão, ou… dependendo da região, ok) de Timofey Mozgov no primeiro tempo.  De novo: uma joelhada de Mozgov na coxa. Deve doer – nas entrevistas, reclamou de deslealdade do russo. Seu irmão de “splash” não tomou nenhuma dessas.

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Fico imaginando quão insuportável seria a gritaria se LeBron ou Kobe Bryant estivessem em seu lugar dessa vez. Curry ainda não estreou de fato nas finais. Não da forma como o torcedor do Warriors esperava. Foi bem marcado no Jogo 1, mas serviu como álibi para seus companheiros brilharem. No Jogo 2, teve problema com faltas e, para ser justo, quando retornou, a parada já estava bem encaminhada. De todo modo, suas faltas foram um fator crítico independente do bom desempenho do restante do time. Agora, teve realmente uma atuação patética para alguém de sua estatura. Kerr simplesmente admitiu que seu craque não jogou da forma como estava acostumado, mas que “acontece”, que foi uma dessas noites em que nada dava certo. Bem, não foi uma noite fraca apenas nestas finais. Longe dos microfones, mas ainda flagrados pelas câmeras da ABC, o treinador perguntava ao armador, no banco, ainda no primeiro tempo, se estava tudo bem. Depois da surra em quadra, o astro mostrava aquele ar de desolação. Uma diferença enorme para a festinha do Jogo 2.

Juntos, Curry e Thompson somam apenas 84 pontos nesses três primeiros confrontos – e aí fica o mérito para a defesa do Cavs. Mesmo que os caras ainda possam explodir no decorrer da série, já foram 144 minutos de contenção. A diferença é que dessa vez seus atletas se deslocaram com rapidez e lucidez, enfrentaram os corta-luzes e fizeram menos trocas para impedir que os demais “warriors” invadissem o garrafão para pontuar, permitindo 32 pontos na zona pintada, contra 54 que fizeram do outro lado.

LeBron, sozinho, tem 74 pontos na série, apenas 10 a menos que os Splash Brothers, mesmo muito bem vigiado por Andre Iguodala, cometendo uma serie de desperdícios de bola e tendo dificuldade com seu arremesso de média para longa distância. Dessa vez, esse tipo de chute caiu. Quer dizer, pelo menos pareceu que caiu, devido a uma boa sequência pelo terceiro período, justamente quando o Cavs demoliu seu adversário. No geral, porém, este foi seu desempenho:

Sim, ainda é uma boa ideia conferir o que LeBron pode fazer de fora

Sim, ainda é uma boa ideia conferir o que LeBron pode fazer de fora

Dessa vez, porém, LeBron não jogou sozinho. Ele e Irving chegaram aos 30 pontos. A última vez que dois parceiros haviam conseguido isso em um jogo válido pelas finais da NBA? Em 2013, pelo Miami Heat. Um jogador era o mesmo. O outro era Dwyane Wade. Claro.  Tal como o “Rei James” vislumbrava ao trocar South Beach por Ohio, certo? Com um companheiro mais jovem que pudesse brilhar ao seu lado, contra uma defesa forte e inteligente, e tal.

O Cavs segue invicto em seus domínios nestes playoffs, com oito triunfos, enquanto interrompe uma sequência de derrotas para os atuais campeões, que parou em sete. Nesses oito triunfos como mandantes, o saldo é de 176 pontos positivos, para uma média de 22 por jogo. Isto quer dizer que o Warriors precisa, então, abrir pelo menos 23 pontos de vantagem na próxima partida para compensar isso, certo?

Mentira também. Basta que os bicampeões do Oeste cheguem a um ponto de vantagem, mesmo, ao final do jogo para ficar a uma só vitória do título. Nessa série do boi que passa para abrir caminho para a boiada, só está difícil de imaginar um confronto decidido desta maneira.

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Oscar aplaude o Warriors. Mas tudo o que o time faz?
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Giancarlo Giampietro

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É para quem pode. Arremessar e também fazer outras coisas tantas em quadra

Quem por aí teria a curiosidade de ouvir o que Oscar Schmidt tem a dizer sobre o Golden State Warriors e seus Splash Brothers, ou caras que estão detonando recordes em arremessos de três pontos pela NBA? Aqui está, numa cortesia da equipe do Esporte Ponto Final, que gravou uma série de entrevistas com os grandes campeões brasileiros rumo ao #Rio2016:

É interessante ouvir o Mão Santa a respeito, já que se trata certamente de um dos cinco maiores arremessadores da história do basquete. E alguém cuja habilidade para “meter bola” se tornou extremamente divisiva com o passar do tempo, por essas questões de simplificação que acometem o esporte.  Sabemos como, em retrospecto, o tema se tornou espinhoso no basquete brasileiro, da predisposição ao arremesso de longa distância. Como muitos acreditam que uma das maiores vitórias da história do país, a do Pan de 1987, seria também uma tragédia em termos de legado.

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A seleção liderada por Oscar e Marcel, recheada também por ótimos e veteranos coadjuvantes, conseguiu a proeza de bater os Estados Unidos de virada em Indianápolis, com uma chuva de arremessos de três pontos. A partir daquele momento, a vocação para o perímetro teria virado uma epidemia, contaminando futuras gerações.

O relato do New York Times foi este: “Marcel de Souza e Oscar Schmidt, que foram responsáveis por 55 dos 65 pontos do Brasil no segundo tempo, lideraram uma reação tempestuosa para capturar a vitória, por 120 a 115. (…) Os Estados Unidos acertaram 2 de 11 em três pontos, enquanto o Brasil teve 10 de 25. No geral, o Brasil acertou 45% dos arremessos, mas converteu 23 de 45 no segundo tempo. Os EUA ficaram em 16-46. Schmidt, 29, disparou de três pontos de praticamente todos os cantos da quadra e marcou 46 pontos — 35 no segundo tempo –, e o Brasil superou uma desvantagem de 16 anos”.

Para quem não viu, segue o jogo na íntegra:

Entre 1987 e 2016, o jogo mudou, claro. Se o assunto é o uso do tiro de três pontos, então, é como se fossem dois esportes diferentes, gente. Em Inianápolis-87, Oscar e Marcel estavam arremessando há apenas três anos do estabelecimento da linha perimetral pela Fiba – sim, para o basquete internacional, aconteceu apenas em 1984, cinco anos depois da NBA.  Hoje, vendo o que se pratica em todos os cantos do mundo, é engraçado até que a marca de 25 tentativas de três pontos tenha causado tanto alvoroço à época.

Neste domingo, em sua segunda vitória pelas finais da liga americana, o Warriors tentou 33 chutes de longa distância. Em 48 minutos, é verdade. Fazendo a média, daria 27 arremessos em 40 minutos. Apenas dois a mais. Mas já vimos, durante os playoffs do Leste, o próprio Cavs quebrar recordes. No Jogo 2 pela semifinal contra o Atlanta Hawks, os LeBrons acertaram 18 cestas de fora só no primeiro tempo. Ao final do jogo, terminaram com 25, em 45 tentativas – praticamente uma por minuto. O chute de três é parte obrigatória do esporte, hoje, contra grandes defesas. A quadra  de basquete ficou  muito mais curta, contra formações mais fechadas, com marcadores muito mais atléticos e longilíneos que no passado.

Oscar deve ter assistido a essas partidas e se sentido vingado. De certa forma, é o que diz na entrevista acima: “Marcar este time do Golden State não é para qualquer um. Eles jogam de uma maneira muito eficiente. A minha geração jogava assim, e a gente era criticado por todo mundo. Quem mete bola não precisa de rebote. Começa daí. No Golden State, ninguém tá nem aí”.

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O camisa 14, está registrado, é um dos craques mais eloquentes e enfáticos que o esporte pode encontrar. Sua verve pode muitas vezes gerar desconforto e descambar para um universo em que o termo “exagero” é um eufemismo, se é que isso faz sentido. Há diversos casos em que ele usou seu microfone e trombone para cometer injustiças, como quando instigou a crucificação de Nenê em praça pública, no Rio de Janeiro, há três anos. Independentemente de sua opinião, amigo e amiga internauta, quanto ao pivô, não dá para discordar que foi na pior hora, já que era um amistoso histórico de pré-temporada no país, festa para a qual havia sido, oras, convidado pela liga americana. Foi imperdoável para alguém que deveria ser um embaixador. Há diversas formas de se criticar alguém. Oscar preferiu julgar o são-carlense.

Mas, aconteceu, já passou (ou assim espero). Voltando ao tópico do Warriors, tiros de três, Splash Brothers e tal. Isolada assim, a frase destacada de Oscar fica mais do que propícia para ser desmontada, se for levada ao pé-da-letra. Por exemplo: neste domingo, mesmo, o Warriors superou o Cavs em rebotes ofensivos, coletando 12 durante o Jogo 2.

Mas, de certa forma, lendo nas entrelinhas, o maior cestinha da história das Olimpíadas tem razão: o time de Steve Kerr não é conhecido por muitas virtudes. Entre elas, não consta a habilidade reboteira. Entre os nove times dos playoffs, está na nona posição em aproveitamento nas duas tabelas, por exemplo. Contra Cleveland, o que está acontecendo é uma exceção: devido a uma questionável tática de troca de marcação depois de corta-luzes, seu adversário se tornou vulnerável na tábua defensiva.

JR Smith: a vida de arremessador não anda tão bem contra a defesa do Warriors. Contra marcação de alto nível, não basta matar bola (a não ser no caso de Splash Brothers ou Oscar, claro). Precisa atacar de outras formas, e o ala do Cavs não tem tanto repertório assim

JR Smith: a vida de arremessador não anda tão bem contra a defesa do Warriors. Contra marcação de alto nível, para os mortais, não basta apenas matar bola.. Precisa atacar de outras formas, e o ala do Cavs não tem tanto repertório assim

Além disso, basta espiar qualquer clipe de melhores momentos desta equipe californiana, para se ver uns 300 arremessos de três em transição sem que não houvesse ninguém no rebote. Eles têm a confiança e licença para isso. Assim como Oscar tinha.”Fiquei livre aqui, vou arremessar. Não importa se tem, ou não, rebote”, afirma o Mão Santa, na sequência. No finalzinho de sua declaração, então, Oscar foi quase profético: “(Curry e Thompson) São imarcáveis. Precisa pelo menos dois caras para marcar cada um, e vai sobrar alguém livre. E esse cara vai meter bola também”. Foi exatamente uma das táticas que Tyronn Lue escolheu para tentar conter os Splash Brothers, com algum sucesso, é verdade, mas cujos efeitos colaterais são devastadores: diversos companheiros livres para castigar sua defesa da mesma forma, seja com os disparos de fora de Draymond Green ou com uma fila de bandejas e enterradas para Iguodala, Bogut, Barnes, Ezeli, Livingston e todo o mundo.

É aqui, de todo modo, que mudamos o tom, para o texto não parecer uma apologia indefectível aos arremessos tresloucados que, sim, podem fazer mal a uma seleção brasileira ou a qualquer equipe. Existem arremessos de três e existem arremessos forçados de três. Assim como existem arremessos de três forçados com Curry e Thompson, e existem arremessos de três forçados com Dion Waiters e JR Smith. O ala do Cavs torturou as defesas do Leste nos mata-matas, mas agora não tem praticamente liberdade nenhuma para agir, de modo que sua capacidade de acerto nos tiros de fora não tem servido para muita coisa. Vale o mesmo para Channing Frye.

Esse é o risco da generalização, de todos os lados. Um Arremesso de Três Pontos, por si só, não é Bom ou Mau. Depende da situação e de quem está chutando. Dá para entender porque exista ainda muita gente torcendo o nariz para o que o Warrios vem praticando. Há os mais teimosos, mesmo, presos ao saudosismo. Mas também há quem se preocupe, razoavelmente, com o impacto que esse time pode causar. Pegue o Philadelphia 76ers, por Deus. A equipe acertou apenas 33,9% de seus arremessos na temporada regular, bem abaixo dos 41,6% do Warriors e, ainda assim, sob a batuta do matemático Sam Hinkie e do técnico Brett Brown, não pararam de chutar. A ponto de ocuparem a nona colocação no ranking da liga. Algo absurdo para um elenco que não tem nenhum chutador que desperte o temor de alguma defesa (Robert Covington ainda não adquiriu esse status, convenhamos). Vai acontecer também com futuras gerações. Vale ficar de olho na trajetória do garoto Lonzo Ball, angelino que vai jogar por UCLA na próxima temporada, por exemplo. Seu pai incentiva a ‘loucura’, digamos, como nos conta Danny Chau, no novíssimo The Ringer.

Os irmãos Ball (sério) tentam seguir a trilha de Curry. Arte: The Ringer (link acima)

Os irmãos Ball (sério) tentam seguir a trilha de Curry. Arte: The Ringer (link acima)

E outra: não é que o Warriors vença apenas por sua habilidade nos disparos de fora. Esse foi um elemento crucial no sofrido triunfo sobre OKC, o diferencial naquela grande virada, mas não a única razão. Sua defesa elevou sua intensidade na hora da salvação também, combatendo cestinhas como Durant e Westbrook. Está acontecendo o mesmo agora com LeBron, Irving e Love. Nesse ponto a história do Golden State e a da seleção dos anos 80 diverge. Aquele time contava com ótimos defensores, com Israel ao centro do garrafão, inclusive, mas dependia realmente de seus gatilhos para avançar, ao passo que os atuais campeões da NBA já mostraram que são capazes de triunfar mesmo em jogos “feios”, de baixo percentual de acerto.

Nem todo time pode ser o Golden State. Em tempo: não é porque Curry e Thompson matam bolas de fora a partir do drible, de muito longe, que eles só façam cesta assim. Calha que essas bolas antes impossíveis são as que ficam na memória – e nos highlights, claro. As velozes trocas de passe, a constante movimentação dos atletas facilita, e muito, a vida dos pontuadores. Ainda assim, relevando sistemas, pouquíssimos jogadores serão como Steph Curry. Ou Oscar. O modus operandi deles faz sentido no vídeo e nas planilhas estatísticas, apenas por causa de habilidades fenomenais. São caras para serem adorados, mas quase impossíveis de se copiar.

No caso do ícone brasileiro, o que também não podemos esquecer é que, no auge, não estava incluído na lista dos jogadores mais interessados em marcar. E que, além disso, se deixava levar por seus recursos técnicos rumo ao individualismo excessivo, de que ele era o cara certo para resolver a parada no ataque, e que os demais se virassem para sustentá-lo desta maneira. Curry, por mais talentoso que seja, não poderia ser mais diferente. Primeiro que vem fazendo um esforço constante em melhorar como defensor, e sua evolução está clara nestes playoffs. Em termos de mentalidade, é uma das figuras mais solidárias que você vai encontrar na liga. Basta ver a interação que tem com seus companheiros no banco, mesmo em jornadas na qual não tenha produzido tão bem. Também seria interessante ouvir o que Oscar diria a respeito.

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Bombardeio continua, e Warriors completa virada contra OKC
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Giancarlo Giampietro

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Você se mata na defesa. Faz uma dobra, vem a ajuda, e um terceiro atleta encontra um jeito de se aproximar e pressionar o adversário após mais um passe. Esse ciclo ia se repetindo a cada posse de bola. Se não houvesse interceptação nesse processo, era provável que saísse um chute de três pontos marcado. Mas esse chute caía. Sem parar. Os Splash Brothers e o ataque do Golden State Warriors voltaram a castigar os marcadores do Oklahoma City Thunder nesta segunda-feira, e os atuais campeões completaram uma inesquecível virada, agora com um triunfo por 96 a 88. Avançam à final da NBA para uma revanche contra o Cleveland Cavaliers.

De todos os 47 arremessos no perímetro interno que o time da casa tentou neste Jogo 7, só 20 foram certeiros (42,5%). Tamanha a intensidade, a coordenação, a capacidade atlética e a envergadura de seus oponentes. Quase não houve bandeja ou enterrada inconteste. OKC fez tudo o que a cartilha mandava e protegeu seu garrafão com ferocidade.

Mas Stephen Curry e Klay Thompson subvertem o jogo com seus disparos de longa distância. Para comandar a virada dentro da virada — a reação num jogão em que os oponentes voltaram a abrir diferença de dígitos duplos no placar –, os atiradores acertaram 13 bolas de três. No geral, lutando contra a eliminação, os dois converteram inacreditáveis 30 arremessos de fora. São 90 pontos neste fundamento. Sabe quantos todo o time do Thunder marcou nestes 96 minutos? Três vezes menos: 10. (No total, seu time acertou 17 de 37 tentativas exteriores, para 45,9%, contando só o jogo desta segunda.)

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E não é que tenham sido disparos completamente livres, gente. Tinha um Serge Ibaka pondo a mão na cara. Tinha um Kevin Durant correndo e saltando para tentar dar o toco. Seguidas vezes, e não importava. Trocando a marcação, fazendo o abafa em dupla, mudando estratégias e defensores. Billy Donovan tentou de tudo e não encontrou uma resposta eficaz. Talvez porque não houvesse, mesmo. Você joga com a matemática, mas os cálculos que funcionam para 99,9% das equipes não batem com aqueles propostos pelos astros do Warriors. Poucas foram fáceis com a última bomba, para demolir de vez as pretensões de um adversário que os levou às cordas:

Curry foi o cara do jogo, num desempenho adequado para uma campanha histórica. Foram 36 pontos e 8 assistências para ele em 40 minutos e 24 arremessos. Klay Thompson dessa vez parou nas seis bolas de três, marcando 21 pontos em 19 arremessos. Seu desempenho despencou em relação ao Jogo 6 (pudera…), mas o ala foi novamente muito importante para frear uma das típicas arrancadas do Thunder no segundo período da série, quando esquentou a mão depois de um primeiro quarto nulo.

Agora, para ao menos acalmar os mais tradicionalistas, naturalistas ou conservadores, não vamos aqui dizer que a quarta e derradeira vitória do Warriors se limitou apenas aos chutes de fora. Não foi um tiroteio. Muito pelo contrário. Foi um jogo duro, físico, enroscado, como o placar abaixo da marca centenária não deixa mentir. E os vencedores também se garantiram do outro lado, cuidando dos rebotes e da proteção de sua cesta mesmo que Andrew Bogut não tenha feito uma boa partida. Foi um esforço coletivo que levou os visitantes a apenas 38,2% de acerto nos arremessos como um todo e a 25,9% de três e que equiparou a disputa nas duas tábuas, concedendo vantagem mínima a OKC (47 a 46). Foram cinco jogadores com pelo menos cinco rebotes, liderados pelos nove de Draymond Green, e sete com pelo menos quatro. Para fechar, se o Warriors só marcou 34 pontos no garrafão de um lado, concedeu ainda menos do outro: 32.

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O terceiro período foi mais um grande exemplo de como Golden State pode ser um time opressor na defesa, uma tecla que tem de ser constantemente batida, até os céticos inveterados assimilarem. O Thunder acertiou apenas 5 de 19 arremessos nesta parcial e zerou em sete disparos de longa distância. A parcial foi vencida por 29 a 12, abrindo caminho para a vitória. Foi nos minutos finais desse período, aliás, que a dupla brasileira enfim conseguiu influenciar o confronto de modo bastante positivo o rumo do confronto. Com 2min34s, Anderson Varejão foi chamado para o lugar de Festus Ezeli. Menos de 20 segundos depois, Leandrinho substituiu Andre Iguodala. Os dois participaram ativamente de uma sequência de sete pontos sem resposta que levaram o placar de 6 para 13 pontos de vantagem.

Bogut estava mal, Draymond, pendurado com faltas e Ezeli, fugindo dos lances livres, enquanto Marreese Speights não era garantia nenhuma de rebote e defesa. Então Kerr chamou Varejão novamente, sem desistir do capixaba. O pivô respondeu com lances de seus bons tempos. Cavou uma falta na defesa. Atirou-se em quadra. E, de bônus, fez uma bela bandeja, partindo com a bola da cabeça do garrafão para finalizar sobre Enes Kanter e deu ainda duas assistências, sendo uma delas para Leandrinho. Os dois jogaram dois minutos apenas, mas roubaram a cena neste limitado tempo. Como fator mais importante, ajudou seu técnico a preservar alguns de seus protagonistas para a batalha que ainda viria no quarto período.

Aqueles que se limitaram a taxar a derrota de OKC pelo Jogo 6 como simples e tosca amarelada talvez possam rever o discurso. Como pode um time com nervos em frangalhos eliminar o Spurs e, depois de uma tremenda decepção, pressionar os atuais campeões até o limite menos de 48 horas depois? Durant e seus companheiros não se renderam e até mesmo tentaram uma reação nos três minutos finais que seria mais espetacular que a do Warriors na partida anterior. A defasagem era de 11 pontos de folga no placar, mas Durant, praticamente sozinho, baixou para quatro, forçando pedido de tempo de Kerr e muito nervosismo da torcida de Oakland. A 1min39s do fim, estava 90 a 86. Mesmo depois de receber instruções de seu treinador, os anfitriões se atrapalharam no ataque, e Draymond teve de mergulhar em quadra para evitar um turnover. Chamou mais um tempo, apenas 17 segundos depois. Aí, na reposição, Ibaka salvou os caras. Com a posse de bola por estourar, o pivô congolês fez uma falta de Curry quando o armador elevava para o arremesso de três. O MVP converteu todos eles.

Falta inegável, da pior maneira possível, mas de certa forma compreensível: não só Ibaka estava completamente fora de seu habitat como havia sido torturado por Curry nas últimas duas partidas, quando Golden State forçava a troca defensiva e deixava o grandalhão no mano a mano com um dos esportistas mais habilidosos do mundo. Essa mesma estratégia fez com que Billy Donovan abrisse mão de Steven Adams nos minutos decisivos, comprando a ideia de um duelo de ‘small ball’ (sendo que o Thunder nunca fica tão baixo assim) com a Ressurrecta Escalação da Morte de Kerr. Houve muitas críticas a respeito, como se a equipe visitante estivesse se adaptando e fugindo de suas principais características. Não dá para esquecer, porém, que o quinteto com Ibaka e Durant na linha de frente havia rendido muito bem até o Jogo 6 e que, oras, colaborou para esta mesma reação nos minutos finais. Não completaram a virada, mas assustaram os campeões uma última vez.

Ao final da partida, Russel Westbrook saiu em disparada para o vestiário sem cumprimentar ninguém, nem mesmo seus chapas. Já Durant se movimentou com calma e classe, abraçando Curry e o saudando, para, depois, abraçar seus companheiros, o gerente geral Sam Presti e até mesmo o proprietário do clube, Clay Bennett. Se foi de despedida, nós e todos os outros 29 clubes da NBA, incluindo o próprio Warriors, vamos ter de esperar para saber. Era a sombra que pairava sobre a equipe nesta temporada. Por ora, jura que não pensou no assunto. A diferença de postura de um astro para a do outro traduz bem seus estilos contrastantes, mas que elevaram o Thunder à condição de superpotência numa conferência absurdamente competitiva.

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Juntos, Durant e Wess aterrorizam qualquer defesa. Teria sido a saideira? Se foi, não de uma forma que os fãs do armador esperavam. O ala ficou em quadra por 46 minutos e ainda teve fôlego para apertar o jogo no final, fechando sua jornada com 27 pontos em 19 arremessos, além de sete pontos e três assistências. No primeiro tempo, o cestinha se esforçou admiravelmente em envolver os demais titulares da equipe no ataque, ciente das críticas que recebeu pelas besteiras que fez pelo Jogo 6. Tentou apenas cinco arremessos e anotou nove pontos antes do intervalo. Funcionou muito bem: cinco atletas tinham cinco ou mais pontos, e fazia todo o sentido: era como se estivesse preparando terreno para uma eventual explosão na segunda etapa. Só que a defesa do Warriors estava preparada e ainda decidida a ignorar os demais se fosse para atrapalhar os astros. KD dessa vez contra-atacou bem. O mesmo não pode ser dito de seu parceiro.

Westbrook jogou por 45 minutos e flertou com novo triple-double, com 19 pontos, 13 assistências e 7 rebotes. Foram poucos turnovers na sua conta (três), mas, no geral, o que dá para dizer é que ele voltou a se perder em quadra, com uma seleção de arremessos terrível e aproveitamento baixíssimo (33,3%, via 7-21). Na real, boa parte de seus chutes equivocados poderia ser considerada até mesmo como desperdício de bola, dada a improbabilidade do acerto. O craque falhou em controlar o tempo de jogo e se descontrolou na pior hora, no terceiro período, quando o Warriors ameaçava deslanchar. Com ele em quadra, sua equipe teve saldo negativo de 14 pontos. Seus números gerais na série foram de 26,7 pontos, 11,3 assistências, 7,0 rebotes e 39,5% nos arremessos, com 31,7% nos tiros de fora em 5,9 tentativas. Você põe aí os 8,7 lances livres, as 3,7 roubadas e os 4,4 turnovers, e tem um resumo absolutamente perfeito do que ele entrega e tira em quadra, negando a evolução que havia demonstrado durante a temporada.

Estamos falando de uma força da natureza, de um dos atletas mais incríveis do mundo, mas que ainda não encontrou a saída, um modo de controlar seus instintos, vá lá, mais selvagens em momentos mais críticos. A gana de vencer a qualquer custo aliada a seus atributos atléticos nos proporcionam um jogador de basquete único e dominante. O cara deve se sentir invencível. E se perde em arroubos. Perde também para Stephen Curry, que jamais vai tirar a respiração de ninguém por piques ou decolagens em quadra. O MVP, na verdade, prefere encantar, com seu drible manhoso que lhe tira de enrascadas e com seu arremesso espetacular. No decorrer do confronto, foi constantemente desrespeitado pelo seu oponente, que inclusive riu em coletiva quando jornalistas perguntavam se o ídolo do Warriors seria subestimado como defensor. Obviamente que isso tudo não passou despercebido. Muito pelo contrário…

Pelas entrevistas e sua postura em quadra, Westbrook parece ter certeza de sua superioridade neste hipotético duelo. Que, se fossem dois pistoleiros do Velho Oeste, não daria a menor chance ao desafiante. Pode até ser, embora, nas últimas três partidas, com três vitórias, Curry tenha dado boa resposta, com 32,6 pontos, 7,6 assistências, 7,3 rebotes e 16 chutes de fora. O que ele precisa entender é que os grandes talentos geralmente predominam em quadra, nos playoffs, mas quase nunca vão ganhar nada sozinhos. E, mesmo tendo um Kevin Durant ao seu lado, agora sem que estivesse atrapalhado por nenhuma lesão inoportuna, seu OKC fica pelo caminho, mesmo tendo três chances para fechar a série, enquanto o Warriors busca o bi.

Essa questão de desrespeito a Curry não é uma novidade, aliás, mesmo que escrever isso não pareça ter nenhum sentido. São vários os veteranos aposentados que dão voz a um grupo ainda aparentemente grande de críticos que não digerem bem o que Curry apronta. “Porque ele parece ter 12 anos”, respondeu Steve Kerr, na coletiva pós-jogo, dando de ombros. O descrédito ao genial armador também se estende ao time como um todo, aliás. Doc Rivers disse que eles tiveram sorte no ano passado rumo ao título, devido a lesões e eliminações inesperadas. As 73 vitórias desta temporada, recorde que vai demorar para ser incomodado, seriam fruto de uma liga esvaziada, sem o talento de 20, 30 ou sabe-se lá quantos anos atrás.

Agora que derrotaram Durant e Westbrook em uma virada marcante, pode ser que tenham um pouco de sossego. Para eles, essa percepção incomoda um pouco, mas não é nada que os atrapalhe em quadra. Eles seguem em frente e buscam o bicampeonato agora novamente contra os LeBrons. Cientes de que, se a coisa ficar feia, entre tantos recursos, têm justamente a arma que mais incomoda essa turma do contra — ou dos descrentes de suas habilidades, talvez seja o melhor termo. Que é essa capacidade de bombardeio que, contra o Thunder, fez toda a diferença.

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Klay Thompson e o Warriors deixam OKC em desespero
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Giancarlo Giampietro

Klay fez mais pontos que Durant e todo o OKC no quarto período

Klay fez mais pontos que Durant e todo o OKC no quarto período

Andrew Bogut saiu exausto de quadra, sem conseguir combater Steven Adams desta vez. Faltam seis minutos, e o Oklahoma City Thunder vencia por seis pontos também. Pouco depois, Draymond Green cometeria sua quinta falta, nesses rompantes dele. Situação delicada para Steve Kerr. Na hora de encerrar ou prolongar sua temporada, o técnico do Golden State Warriors então decidiu ativar sua badalada “Escalação da Morte”, que não vinha sendo efetiva na série. Talvez fizesse todo sentido, mesmo. É a marca registrada do time. Era viver ou morrer com eles, de todo modo.

Eles sobreviveram. O quinteto composto por Steph Curry, Klay Thompson, Andre Iguodala, Harrison Barnes e Draymond Green venceu esta última parcial por 21 a 8 e conseguiu uma virada histórica, por uma vitória por 108 a 101 em OKC, para forçar o Jogo 7 em Oakland, segunda-feira.

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Os Splash Brothers somaram 70 pontos, ou absurdos 64,8% do total da equipe. O show dessa vez ficou por conta de Klay, que teve um desempenho digno de Hall da Fama ao anotar 41 pontos em 30 arremessos e 39 minutos. Nesse processo de fritura, também quebrou o recorde de bolas de três dos playoffs, encaçapando 11 tentativas. Fez mais chutes de fora do que Kevin Durant e Russell Westbrook no geral. Sozinho, o ala também fez mais pontos que o Thunder em todo o quarto período: 19 a 18 (risos). Veja todas as suas cestas de longe:

Ele não fiou satisfeito, claro. “Poderiam ter sido pelo menos 13, já que errei alguns chutes completamente livre”, disse o ala.  Steve Kerr achou tudo isso bobagem: “O que ele fez foi ridículo, uma das melhores atuações arremessando a bola já vistas”, afirmou o técnico, que sabe uma coisa ou outra do fundamento. 

Depois de um primeiro quarto hesitante, nervoso, Curry foi entrando aos poucos no jogo e terminou com 29 pontos – que devem virar 31 pontos, com uma correção dos mesários –, 10 rebotes e 9 assistências, em 41 minutos. Antes da tempestade Thompson, ele manteve o time vivo no duelo com um terceiro período. E o placar de três pontos da noite foi o seguinte: GSW com 47,7% (21-43), OKC com 13% (3-23). Saldo de 54 pontos para os californianos. É viver e vencer com os Splash Brothers.

Mas não foi só de splash que o Warriors viveu. A defesa também apareceu e permitiu ao poderoso sistema ofensivo dos anfitriões apenas quatro pontos nos últimos 4min48s, liderada pelo eternamente subestimado Iguodala. O cara é o atual MVP das finais, mas a gente pode esquecer facilmente o quanto ele joga. O veterano desarmou, sem ajuda nenhuma, Durant e Westbrook em posses de bola nos últimos três minutos. Fez um trabalho fantástico contra KD no geral, ajudando a limitar o cestinha a 29 pontos.

Opa, peraí: o cara fez os mesmos 29 pontos de Curry, e foi pouco? É que o que contou mais aqui foram os 21 arremessos errados por Durant, oito a mais que o armador. Westbrook também teve dificuldade para fazer cestas. Foram 28 pontos em 27 arremessos, com 17 falhas. Ele somou 11 assistências e 9 rebotes, mas também cometeu cinco turnovers em 43 minutos. E quer saber? Quatro desses desperdícios de bola aconteceram nos últimos dois minutos. O pior de Wess voltou a aparecer na pior hora.

Tudo isso configura uma crueldade, na real, já que pode ter sido o último jogo de Durant como atleta do OKC. Por mais que tenha errado na mira e que Barkley e Shaq já o tenham detonado no intervalo, é preciso entender o contexto. O ala talvez nunca tenha se esforçado tanto na defesa também (com muito sucesso, registre-se), e isso vai interferir do outro lado. O mesmo vale para Curry, aliás, que vem fazendo bom papel contra Westbrook na série. Só nesta partida especificamente que não ficou muito tempo como responsável pela contenção do cara.

Um clássico

Um clássico

Não dá para ignorar que esses números todos foram produzidos num jogo tenso demais. Ou eletrizante. Pode escolher seu adjetivo preferido. Os visitantes fizeram um primeiro tempo fraco, no qual a bola parecia estar pegando fogo (no mau sentido, digo). Cometeram nove turnovers, não acertaram 37% se seus arremessos e ainda viam Curry contido, errando até mesmo dois lances livres seguidos (algo que só havia acontecido duas vezes em toda a temporada). Que tenham ido para o intervalo com apenas cinco pontos de desvantagem, foi praticamente uma vitória. Bem diferente do cenário de terra arrasada dos Jogos 3 e 4. A impressão que fica é que OKC deixou sua grande chance escapar aí. Golden State ao menos compensou com defesa e rebote, vencendo essa disputa. Aí, no segundo tempo, os Splash Brothers fizeram mágica.

Foi uma partidaça. Só temos a agradecer a Warriors e Thunder. Quem se lembra daquele jogo de temporada regular, em fevereiro, por acaso?  Com reação de Golden State novamente e bomba do meio da quadra com Curry?  Foi um clássico instantâneo, obviamente. Mas o que dizer deste Jogo 6, então?

Agora que segunda-feira chegue o quanto antes. A dúvida fica toda direcionada para o emocional de OKC. Deve doer demais essa derrota, e eles têm 48 horas para se recompor. O Warriors já deu sua resposta e mostrou do que seu elenco é feito, com uma formação mortal sem pivôs tradicionais, com seus arremessadores incríveis e uma determinação, um senso de urgência impressionantes. Jogaram como campeões. Aquela confiança, aquele status que são tudo o que Durant e Westbrook buscam.

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Campanha sem Curry mostra várias razões que tornam o Warriors especial
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Giancarlo Giampietro

Klay Thompson, estrelando "Prenda-me Se for Capaz"

Klay Thompson, estrelando “Prenda-Me Se for Capaz”

Pode tirar o asterisco, vai, depois do que o Golden State Warriors fez nesta madrugada contra o Portland Trail Blazers. Para quem dormiu mais cedo achando que já era, para quem não checou o Twitter, o HoopsHype, o ESPN.com, ou qualquer outra fonte factual, foi o seguinte: os atuais campeões entraram no quarto final com desvantagem de 11 pontos, a maior que encarou por estes playoffs em três parciais — no primeiro tempo, o déficit chegou a 17; daí que venceu o restante da partida por 22 pontos de diferença (34 a 12) para triunfar por 110 a 99. Foi o melhor saldo no quarto período de um jogo do mata-mata desde 1987. Apenas outros dois times haviam entrado no quarto com um déficit de dígitos duplos e terminaram com uma folga sob as mesmas condições. O segundo desses times? O Houston Rockets, contra o Clippers, pelas semis do Oeste no ano passado. Sim, aquela virada incrível, com -12 ao fim de três períodos e saldo de +13 para colocar seu adversário em choque.

Tá. Sensacional, né?

Tudo isso, sem Stephen Curry.

O que não quer dizer, de modo nenhum, que Curry não faça diferença, como tenho certeza que muitos críticos persistentes ao armador gostarão de apontar como argumento para desvalorizar o que o MVP da liga fez pelos últimos dois campeonatos. Curry é parte integral do sucesso do Warriors. Mas o que a gente aprende, ou deveria aprender, com o passar dos jogos e dos dias, é tentar não simplificar tudo. O Warriors não era um timaço só porque tinha Curry, nem Curry é irrelevante só porque o Warriors segue um timaço durante a sua ausência — até porque, por mais que esteja enfrentando um Blazers que é muito mais forte, hoje, que o Rockets, mas não é um candidato ao título. Para além do desfecho tranquilo da primeira fase, nestes dois primeiros jogos pelas semifinais, em especial nestes 12 minutos demolidores, o que a equipe de Steve Kerr nos mostra são as diversas partes que, somadas, a tornam especial.

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Peguem, por exemplo, Klay Thompson. Depois de acertar sete bolas de longa distância em suas últimas três partidas, decepcionou pelo Jogo 2 em Oakland: matou apenas cinco. Ele foi novamente o cestinha, com 27 pontos no total, em 20 arremessos. Não foi a jornada mais eficiente de sua carreira, mas não ouse falar isso para ele ou levantar a questão como algo importante.  Pois é um pouquinho complicado ficar o tempo todo marcando o melhor jogador do adversário (esse tal de Damian Lillard) e, do outro, ter a obrigação de, se não carregar, produzir muito para fomentar um ataque que está carente de seu melhor armador. Sem Curry, as defesas se concentram mais no ala, claro. Ainda assim, ele está se virando muito bem, obrigado. Sua cotação na NBA só sobe, enquanto Kerr e Jerry West se sentem cada vez mais felizes com o veto a uma possível troca por Kevin Love dois anos atrás.

Não dá mais para falar só de sua mecânica extremamente rápida. É preciso valorizar o quanto ele se desloca no ataque, de um lado para o outro da quadra, para a frente e para trás, buscando os corta-luzes ferozes de seus grandalhões, que abrem linhas de passe que, um segundo antes, não estavam apresentadas, nem sugeridas. Incansável, como neste vídeo abaixo. O Coach Nick, do Basketball Breakdow (conta obrigatória para as jornadas de NBA), dá uma cornetada em Maurice Harkless, mas seu clipe em flash não mostra o tanto que o jovem ala do Blazers teve de se movimentar para acompanhá-lo durante o quarto período. Chega uma hora que você se perde, mesmo, ou que quer abreviar a maratona e tentar um bote infeliz:

(E Harkless havia marcado Thompson muito bem no primeiro tempo, sendo um dos grandes responsáveis para que o ala tenha desperdiçado 13 de seus 20 arremessos. Era um belo ajuste de Terry Stotts, que não poderia mais conviver com a ideia de ver o gatilho abusar de Lillard ou CJ McCollum, e que colocou Portland em situação tão favorável ao final de três períodos.)

E quem faz o passe para Klay matar? Draymond Green, claro, com uma de suas sete assistências. E, sim, ele foi o armador do time durante a virada, por mais que, na escalação oficial, Shaun Livingston recebesse tal denominação. O ala-pivô-armador-faz-tudo soma agora, em duas partidas da série, 40 pontos, 27 rebotes e 18 assistências. Nos últimos dez anos, apenas LeBron James e Blake Griffin, justamente pelo último playoff, conseguiram esse tipo de soma.

Green ficou todos os 12 minutos do quarto final em quadra. O cara talvez se sentisse endividado com os companheiros, depois de um primeiro tempo, hã, tímido — se é que esse termo pode ser associado a uma figuraça, que é a mais abusada da NBA hoje e, ainda assim, só não vem para o #Rio2016 se não quiser. Ou talvez Steve Kerr soubesse que não poderia tirá-lo de jeito nenhum, mesmo. Pois o cara se tornou um monstro de jogador, para surpresa geral. “Assisti a VÁRIOS jogos de Draymond na universidade. Achava que haveria um lugar para ele na liga. Mas não pensava que ele iria CRIAR um lugar só dele”, observou o repórter Vincent Goodwill, repórter nativo de Detroit e cobriu o basquete local por muito tempo, incluindo Michigan State, antes de se mudar para Chicago. Ele é um jogador único, mesmo:

Mas não vamos ficar aqui falando de mais individualidades como a dupla de All-Stars do Warriors quando dizemos que o time não é feito só de Steph Curry. Na verdade, é a combinação desses diversos talentos que funciona. Colocando na conta a presença física e inteligente de Andrew Bogut perto da tabela, os ganchinhos hoje aparentemente imarcáveis de Shaun Livingston, a ameaça que Harrison Barnes representa como chutador do lado contrário, o combate e versatilidade de Andre Iguodala etc. E, ainda assim, a soma de todas essas habilidades dá tão certo assim porque Steve Kerr soube criar um sistema para aproveitá-las ao máximo. Num ataque mais estático, apostando em isolamento, Thompson seria tão efetivo? Green teria espaço para infiltrar vindo de trás da linha de três pontos?

Mais: não fosse o controle de minutos mais rígido que o Warriors pratica durante a temporada regular, Thompson, com 33,3 minutos, teria condições para correr tanto no ataque e ao mesmo tempo pressionar um cara como Lillard do outro lado? O mesmo raciocínio vale para Draymond Green, que jogou um pouquinho mais (34,7 minutos, o líder da equipe nesse quesito). Andre Iguodala, que, aos 32 anos, é o mais velho dos jogadores fixos na rotação, se beneficiou ainda mais, limitado a apenas 26,6 minutos por partida. Estão todos descansados, ou relativamente descansados para assimilar mais responsabilidades enquanto Curry não retorna. Para os machões de plantão que acham que o controle de minutos não influencia nada nos mata-matas, é só perguntar a Popovich, Duncan, Ginóbili e Parker o que eles pensam disso. Acho que o Spurs até que foi bem nos últimos anos ao adotar esse tipo de estratégia, né?

Curry, retorno pode esperar

Curry, retorno pode esperar

Com pernas e confiança bem elevada, o Warriors promoveu uma blitz para cima do Blazers no quarto final do Jogo 2, com uma defesa realmente assustadora. No quarto período, os visitantes tiveram o mesmo número de turnovers e cestas de quadra: cinco. “Pensar em buscar uma virada sem Steph é diferente. Tivemos de contar com nossa marcação”, disse Kerr. Isso só mostra mais uma vez que tem muito mais do que um ataque potente. Para virar o placar, na real, eles contaram com sua defesa, que foi a quarta mais eficiente da temporada, empatada com a do Celtics e a do Clippers. Na temporada passada, eles haviam sustentado a melhor defesa da liga também — não custa repetir essa informação aqui, pois ainda há muita gente que pensa que o sucesso do time se deve apenas a sua artilharia exterior. (Aliás, em noite em que acertou apenas 33,3% de seus arremessos de fora, levando 15 pontos de prejuízo na comparação com o Blazers, a equipe venceu o jogo pontuando no garrafão, área em que fez exatamente o dobro do oponente: 56 a 28).

Quem via o jogo poderia até estranhar o que Mason Plumlee estava fazendo tanto com a bola em mãos, desperdiçando a bola sem parar, seja em desarmes em ataques ao garrafão, ou tomando algumas raquetadas na hora de buscar a cesta: foram seis turnovers para ele em toda a partida e três tocos sofridos. Não é que Mason P tenha ficado maluco. (Mason P?! Sim, uma licença poética, tá? Imaginemos todos os irmãos Plumlee como MCs. Miles P. Mason P. E Marshall P, o caçula.) O Plumlee de Portland até pode dar assistências em movimento contra um time desprevenido — tem 5,5 em oito partidas destes playoffs e é o líder da equipe, acreditem. Acontece que dessa vez o Warriors estava preparado pressioná-lo, forçando o adversário a jogar com seu pivô, tirando a bola das mãos de Lillard com sucesso.

No terceiro período, a estrela do Blazers havia anotado 17 pontos, com quatro bolas de três em cinco tentativas. Para tanto, foi fundamental a substituição de Andrew Bogut por Festus Ezeli, em vez de Anderson Varejão, registre-se — o pivô brasileiro ainda não se encontrou no time. O gigante australiano não tem condições de se manter à frente de um armador no perímetro, quando o oponente força a troca da marcação com um corta-luz (algo que Plumlee faz muito bem, registre-se). Ezeli, também imenso ao seu modo, tem mais agilidade no deslocamento lateral e conseguiu impedir ações rápidas de Lillard, até que Klay Thompson também se aproximasse para fazer o abafa. Deu muito certo. Depois de voltar de um breve descanso, o armador não conseguiu mais pontuar. Saiu zerado naquela parcial, tendo tentado apenas três arremessos.

Mason P penou no segundo tempo contra o Warriors

Mason P penou no segundo tempo contra o Warriors

Ezeli, que topou defender a Nigéria no #Rio2016, só foi substituído a 3min16s do final, quando Warriors já havia assumido a liderança (98 a 95). Harrison Barnes veio para o seu lugar e se juntou a Livingston, Thompson, Iguodala e Green. Esse é o Kerr controlando sua rotação perfeitamente, e estava formada, então, uma versão alternativa da “escalação da morte” dos atuais campeões, e aí virou espanco, como diria o chapa Maurício Bonato, aumentando a intensidade defensiva. Foi estonteante até. O Portland, tão bem dirigido por Terry Stotts e guiado em quadra por dois armadores excepcionais, mal conseguia completar suas jogadas.

Ao completar a virada, o Golden State pode, de certa forma, ficar um pouco mais relaxado. Por ter defendido seu mando de quadra e para impedir um ganho de confiança de um time jovem e perigoso. Pensando mais longe, porém, o mais importante é o reflexo que a vitória tem para tirar pressão de Steph Curry e do departamento médico. Não há porque apressar seu retorno. O Jogo 3 será apenas no sábado, mas sua presença não se faz mais tão urgente assim na série. Segunda-feira, para o Jogo 4? De novo: só ele estiver totalmente liberado. Para lesões de ligamento no joelho, cautela e preparação nunca é demais. O retrospecto histórico dos playoffs mostra que o time que tenha vencido os dois primeiros jogos em casa avançou em 94% das vezes. Dependendo do desempenho em Portland, então, sem menosprezar o Blazers, o Warriors poderia até mesmo se dar ao luxo de guardar seu MVP para as finais da conferência. Eles ganharam, em quadra, esse direito.

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Lesão de Curry: não é o pior dos cenários, mas aflige o Warriors
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Giancarlo Giampietro

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Pegue aí qualquer uma dessas frases prontas, de efeito, que você provavelmente ouviu primeiro de seu avô, do coordenador pedagógico do ginásio ou no balcão da padaria, enquanto o sanduba não sai da chapa: “A vida é injusta”, “nada dura para sempre”, “na vida, você tem de brigar por aquilo que é seu”, e por aí vamos.

Quando um jogador como Stephen Curry se lesiona, talvez seja o caso de se apegar a este tipo de mensagem, mesmo, já que “a vida não pode parar”. Depois de escorregar em quadra em Houston e torcer o joelho, o MVP da temporada 2015-16 da NBA foi submetido a uma ressonância magnética nesta segunda-feira, e o diagnóstico tem efeito, no mínimo, ambíguo. Não foi o pior dos cenários para o Golden State Warriors. Mas foi o suficiente para ameaçar seriamente a campanha rumo ao bicampeonato. O que deu? Uma distensão no ligamento colateral medial do joelho direito, que liga o osso da coxa ao da canela. Como foi de primeiro grau, isso geralmente significa que houve dano mínimo a algumas fibras do ligamento — a de terceiro grau significaria a ruptura total. Você em geral nem sente dor quando se aperta, mas há inchaço e incômodo, uma falta de estabilidade. Haja compressa de gelo, almofada, anti-inflamatório e afins.

De acordo com o anúncio oficial, estima-se que Curry precise de aproximadamente de duas semanas para ser reavaliado. Uma pessoa se recupera em ritmo diferente da outra, mas é preciso cuidado, para que o jogador não volte de modo precoce às quadras, com o risco de sofrer algum dano permanente. Zeloso do jeito que o Golden State Warriors é, difícil que aconteça, mesmo que numa situação de angústia e pressão como essa. Ainda mais quando estamos falando de uma figura transcendental como Steph. A NBA não vai encerrar suas atividades em junho. Por outro lado, existe a vontade do jogador, que não quer virar as costas para seus “irmãos”, que acredita que qualquer lesão é superável e que talvez até mesmo dependa dessa autoconfiança para atingir o nível que atingiu, depois de duas cirurgias de tornozelo. Complicado julgar qualquer coisa, mas a cautela, quando o assunto é saúde, parece sempre o melhor caminho, mesmo que o duelo sorte x azar sempre esteja por aí, não importando o quão competente é o seu departamento de basquete.

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Alheios, de momento, a essas questões, o gerente geral Bob Myers, o técnico Steve Kerr e cada membro do estafe e do elenco obviamente torcem para que sua reabilitação seja rápida. Também há toda uma estrutura e um orgulho dentro da franquia para que isso não vire uma enorme distração ou uma desculpa. Agora, claro, quanto mais demorar a série entre o Los Angeles Clippers e o Portland Trail Blazers, melhor. Embora ninguém vá dizer isso em público, Jogo 7 no confronto é o que há, para Golden State.

Dois All-Stars, pré-convocados para o Team USA, com bom retrospecto como dupla na temporada regular. Mas serão testados

Dois All-Stars, pré-convocados para o Team USA, com bom retrospecto como dupla na temporada regular, quando Curry esteve fora. Mas serão testados para valer nas próximas semanas

De qualquer forma, para muitos dos jogadores do Warriors, esse infeliz deslize de Curry representa mais uma oportunidade para provarem seu valor, de tanto que se sentiram desrespeitados antes de o campeonato começar. Não pensem que Draymond Green não está martelando esse conceito na cabeça de seus companheiros, a cada intervalo de treino ou de análise de análise de vídeo. Eles têm mais dois All-Stars, afinal, para assumir mais responsabilidades, e um elenco de apoio que se alternou em diversos momentos salvadores desde 2014. E muito mais:

– Andre Iguodala não vai poder mais ser um sexto homem de luxo, marcando o principal jogador adversário sabendo que vai respirar no ataque. No domingo, contra Houston, já deu uma espécie de resposta, anotando 22 pontos, 5 rebotes e 4 assistências, convertendo 9 de 11 arremessos. Mas, de novo, era o Rockets do outro lado, com um esforço patético. Em abril, voltando após 13 jogos, anotou, no total,  19 pontos no total, em cinco jogos. Durante a temporada, chegou aos 20 pontos em apenas três rodadas. A questão não é exatamente pontuar, mas também criar para os companheiros. “Play-making” geral.

– Shaun Livingston terá sua eficiência testada, com maior volume de jogo e mais atenção de defensores mais gabaritados que os de segunda unidade que se acostumou a encarar. Nestes playoffs, já vem com média de 9,5 arremessos por confronto, quase o dobro dos 4,9 que teve pela temporada, e segue com aproveitamento altíssimo (52,6% — de novo, contra o Rockets).

– Draymond Green também vai ter de operar muitas vezes com o condutor primário de bola, dessa vez sem a distração que Curry representa. Conseguirá ser um passador tão eficaz assim se as linhas estiverem mais congestionadas, ou se seu drible for atacado mais vezes por marcação dupla? Sem contar a energia que obrigatoriamente gasta do outro lado, algo necessário mesmo diante do Houston, para segurar um cara do porte físico de Dwight Howard.

– Klay Thompson não vai poder se contentar apenas com os chutes de fora. Também vai precisar botar a bola no chão e atacar as defesas. Tentar, no mínimo, sacudi-las, desequilibrá-las, e, para tanto, vai contar com a ajuda de um sistema que flui por conta própria, mesmo, com a bola girando rapidamente e sucessivos corta-luzes.

– Harrison Barnes poderia provar que, no ataque, é mais do que um chutador do lado contrário? Dois anos atrás, sob o comando de Mark Jackson, quando era acionado em diversas situações de isolamento, não deu muito certo. Conseguiu expandir seus movimentos, ou simplesmente curte a vida com a rebarba dos Splash Brothers?

Para os pivôs, não dá para pedir muito mais do que executam hoje. Bogut e Ezeli estão limitados a cestas de rebote ofensivo, mesmo, ou eventuais assistências na cara da cesta. Marreese Speights oferece chute, mas precisa de espaço para encaçapar. Vindo do banco, Leandrinho ainda pode produzir por conta própria em situações específicas, mais do que Ian Clark, mas o americano vem ganhando espaço com Kerr e tem sido ligeiramente mais eficiente.

Há números que apontam que o Warriors se saiu bem — muito bem, na verdade — nos  minutos que teve Draymond e Thompson em quadra, com Curry fora. Mas é muito complicado mergulhar nestes números. É trabalho para um analista muito mais capacitado e experiente no assunto, como Kevin Pelton, do ESPN.com. Foram 6,3 pontos por 100 posses de bola para esse tipo de combinação. Para comparar, isso é mais do que o Cavs conseguiu pela temporada regular e quase se equivale ao rendimento de OKC. O problema: estamos falando de 296 minutos, o que dá coisa de 6 jogos. Antes disso, mais importante é que aconteceu em temporada regular, algo totalmente diferente de um cenário de playoffs, com jogadores, jogadas e sistemas dissecados por cada vasta comissão técnica. Por fim, nem sempre eles estavam enfrentando os melhores quintetos adversários.

Um escorregão

Um escorregão

Também não dá para fazer muito mais drama. Está certo que é difícil encontrar paralelos com o drama que Golden State vive agora, já que estamos tratando do atual bi-MVP, o símbolo da franquia e de uma revolução, que acabou de concluir uma das campanhas mais espetaculares da história da franquia. Sim, Curry é tudo isso, e não há como, racionalmente, ser do contra aqui. Mas esta lesão acaba sendo só mais uma lista muito longa de desfalques na pior hora possível. Aqui está uma relação de dez casos do tipo, passando pela quase trágica ruptura de ligamento que Derrick Rose sofreu em 2012, numa série supostamente fácil, molezinha contra Philly, assim como é a do Warriors contra o Rockets hoje. Não precisa nem recuar tanto no tempo assim. O mesmo Warriors enfrentou um Cavs todo desfalcado no ano passado – ainda que não haja como comparar Curry com Irving e Love… Seria o mesmo que o Cavs ir para a final com estes dois (valendo por Draymond e Klay, em tese), mas sem LeBron.

 Agora, antes de qualquer outra coisa, os atuais campeões precisam eliminar o Rockets nesta quarta-feira. Houve quem sugerisse que o próprio time pudesse prolongar sua série. Praticantes do lunatismo, claro, por diversos motivos, sendo os principais deles a mera possibilidade de se abrir uma porta para James Harden e o desgaste desnecessário de Draymond, Klay e demais titulares. Além do mais, se estiverem na pior, um retorno de Curry, a essa altura, não é garantia de que ele possa salvar a equipe — como bem observou Tim Grover, “trainer” de Jordan, Kobe e Wade –, é possível que o armador volte, mas muito longe de sua forma ideal. “Na recuperação de Curry, o condicionamento físico vai importar porque seu jogo passa muito pela rápida mudança de direção. Uma fraqueza no tornozelo também pode ser um fator”, afirmou.

Não deixa de ser curiosa a espera, para ver como este timaço vai se comportar sem o melhor jogador do campeonato. Por mais cruel que seja escrever isto, também não deixa de ser irônico, depois que o proprietário do clube, Joe Lacob, teve a infeliz ideia de dizer à revista do New York Times que sua gestão estava “anos-luz à frente” da concorrência em termos de estrutura e estilo de jogo. Num perfil bastante elogioso, em que se gaba de muitas coisas, Lacob chegou muito perto de dizer que Curry seria um mero detalhe para o sucesso do time, algo que não pegou bem com o jogador, claro. Arrependido, o magnata se mexeu e, antes mesmo da publicação de grande reportagem, entrou em contato com o superastro para tentar se explicar. Agora, sua tese vai ser testada.

Nessa linha de colocações infelizes e eventualmente irônicas, também lembramos o que Doc Rivers disse no ano passado ao avaliar o título do Warriors. Basicamente, disse que eles haviam tido muita “sorte” não só por terem evitado lesões como por terem visto sua chave de playoff se enfraquecer sensivelmente devido à eliminação precoce dos times que mais os ameaçavam — como se a virada vexatória que o Clippers tomou Rockets fosse um acidente, e, não, incompetência de sua parte. Agora, desde que façam sua parte contra Portland, em uma série que não está nada definida, este núcleo terá uma boa chance para justificar parte da lógica de seu técnico-presidente. Do contrário, com uma hipotética derrota nesse ainda hipotético confronto num hipotético cenário sem Curry, reclamariam, chorariam do quê?

Aqui, a ideia não é censurar a liberdade de expressão e defender aquilo que é de mais extremo e chato dentro do universo politicamente correto. Acontece que, numa liga tão competitiva e exigente como a NBA, há momentos em que você deve medir suas palavras. Quem sabe a melhor saída não é apelar ao ditado popular da vez, do tipo: “A vida é longa. Nunca se sabe o dia de amanhã”?

: )

E vida que segue.

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A NBA inteira aguarda diagnóstico de Stephen Curry
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Giancarlo Giampietro

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O Golden State Warriors espancou o Houston Rockets, por 121 a 94, bateu o recorde de cestas de três pontos pelos playoffs da NBA, abriu 3 a 1 na série, mas não vai comemorar absolutamente nada em seu retorno a Oakland. Pelo menos não enquanto os médicos do clube não comunicarem a Steve Kerr que Steph Curry não sofreu nenhuma lesão mais grave. Que não passe de um susto besta, depois de ele escorregar em uma área molhada da quadra.

Depois de perder dois jogos devido a uma torção de tornozelo, o MVP da temporada (ninguém vai esperar o resultado oficial, certo?) agora caiu de mal jeito ao tentar um arremesso de três pelo segundo período e virou o joelho. O que preocupa demais, especialmente depois de ver sua reação nos corredores e de se saber, via Draymond Green, que ele chorava na lateral da quadra, quando percebeu que não conseguiria jogar mais naquela noite. Curry tentou acelerar sua passada rumo ao vestiário, talvez para provar a si mesmo que a lesão não era tão grave assim, e…

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Para Kerr e seus jogadores, a esperança é que ele não tenha nenhum dano estrutural, de ligamento, e que alguns dias a mais de repouso sejam o suficiente para ele jogar – ajudaria também que Clippers e Blazers prolongassem ao máximo sua série. Vai fazer uma ressonância magnética na segunda-feira, e ninguém merece um desfecho diferente desse. Gregg Popovich certamente detestaria ouvir o contrário. Seria algo devastador e que colocaria um tremendo asterisco na atual temporada.

Por tanto tempo, desde que estes caras abriram sua campanha arrebentando com tudo e todos, virou senso comum que apenas dois ou três fatores poderiam impedir o bicampeonato:

A) o Spurs

B) o Cavs, quiçá

C) uma desgraçada lesão.

Essa terceira alternativa foi tão repetida que até faz o estômago embrulhar. Cadê a madeira mais próxima? Só não vale questionar a decisão de por o armador em quadra. Ele não escorregou porque estava com o tornozelo dolorido. Acidentes acontecem, mesmo com uma equipe que vem controlando sistematicamente o tempo de quadra de seus principais jogadores.

Sem Curry, o Warriors demonstrou seu caráter, bem como a profundidade e versatilidade de seu elenco. Após o intervalo, Andre Iguodala (defesa contra Harden, canivete suíço), Klay Thompson (bangue-bangue!) e Draymond Green (defesa contra Howard, imposição física e canivete suíço) jogaram uma barbaridade.

Os últimos 24 minutos de jogo foram vencidos por 65 a 34, com um bombardeio inclemente de longa distância, mesmo que o melhor arremessador do planeta não estivesse nem mesmo no banco de reservas. Foram 21 cestas de três, ou 63 pontos gerados desta maneira. Recorde. Ao todo, nove atletas mataram ao menos uma de fora, liderados pelas sete de Thompson.

Quer dizer: houve vida sem Curry, com duas vitórias sem que o armador estivesse disponível. Só não dá para se iludir muito com isso. O que o segundo tempo também nos mostrou foi o quanto o nível de esforço deste Houston Rockets pode ser patético. Não há desculpas para esse desempenho.

Fica pior ainda se você for comparar com o que os estropiados Memphis Grizzlies e Dallas Mavericks fizeram para chegar aos playoffs. Mesmo que não representem um desafio tão grande, respectivamente, para San Antonio – que já completou sua varrida – e OKC – depois do susto, a bonança –, não há como questionar sua dedicação geral. Na verdade, não dá para comparar, mesmo, nem imaginar que J.B. Bickerstaff pudesse se comover com seus atletas desta maneira :

(Dave Joerger, com louvor.)

Sem Curry, Steve Kerr pode esperar dedicação semelhante em seu vestiário, claro, com muito mais talento que o Esquadrão Suicida de Memphis ou que os veteranos de Dallas. Pensar em qualquer coisa nessa linha, porém, seria doloroso demais.

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