Draymond está suspenso. E a festa do Warriors também?
Giancarlo Giampietro
Ao vencer uma partida em Cleveland, a melhor da série, o Golden State Warriors imaginava que retornaria à quadra nesta segunda-feira relativamente tranquilo, ou, melhor, confiante em fechar as #NBAFinals em 4 a 1, para ganhar o bicampeonato. Isso tinha a ver com seu excepcional rendimento como time da casa, o domínio que teve pelas primeiras partidas da série, a grande virada pelo Jogo 4 e o retrospecto geral para quem abriu uma vantagem como essas no placar geral. Todos argumentos sólidos para quem acreditava em um desfecho iminente. Acontece que, neste domingo, Draymond Green e Steve Kerr receberam a notícia que tanto temiam: o ala-pivô está suspenso da quinta partida, depois do tolo entrevero com LeBron James pela última partida.
Vocês veem acima o enrosco. LeBron empurrou Draymond e ainda passou por cima do adversário. Poderia ter evitado? Mudado de direção? Ou foi muito rápido? Independentemente de suas intenções, vemos aqui uma sequência de ação e reação na qual a resposta do All-Star do Warriors foi mais gritante e, digamos, fora do comum.
Pelo soco baixo que o ala-pivô deu, a NBA o penalizou com uma falta flagrante um — que não foi vista em tempo real, diga-se. Essa infração isolada não teria problema. O que pega é que, depois de já ter cometido três infrações desse tipo durante estes playoffs, Green estava por uma. Se LeBron estava totalmente ciente disso e o instigou, não dá para saber. E, num contexto maior, talvez não fizesse a menor diferença nas investigações da liga.
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Draymond estava jogando já com um alvo enorme nas costas. O episódio de um chute (?) involuntário em Steven Adams já havia chamado muita atenção. Seu estilo abrasivo também vinha despertando a ira e as críticas se muitos atletas e treinadores no decorrer do campeonato. Ao ser flagrado pelas câmeras mais uma vez aprontando das suas, seria muito difícil que escapasse dessa, pelo conjunto da obra, que cobrou seu preço agora. Ainda mais com LeBron envolvido. De qualquer forma, foi um caso muito espinhoso, que o comissário Adam Silver certamente preferia evitar. Imagine a pressão nos bastidores à qual sua administração não foi submetida no sábado quando conduzia uma investigação a respeito.
Segundo Marcus Thompson II, do San Jose Mercury News, a defesa do Golden State se baseava em três tópicos principais: 1) que o movimento de seu jogador não terminou exatamente com um soco; 2) LBJ havia começado tudo; 3) não foi um incidente tão grave a ponto de causar impacto nas finais. Nessa linha de raciocínio, o segundo tópico já havia sido rebatido pelo Cavs ainda na sexta. Draymond teria xingado LeBron. Uma coisa justifica a outra e a outra também?
Outro ponto levantado foi que Matthew Dellavedova também teria agredido intencionalmente Andre Iguodala pelo Jogo 1 ao tentar um desarme em transição. Vindo por trás, o australiano fechou a mão e acertou Iggy também nas partes baixas. Não recebeu nenhuma punição. A questão é que, naquele, lance, existe a possibilidade de que o armador estivesse apenas tentando o desarme — ao menos é i que os cartolas dkb. Além disso, depois do carnaval do ano passado, Delly se comportou relativamente bem por estes mata-matas.
A punição 'tardia' causou estranhamento em alguns. Reggie Miller acreditou que seu chute em Steven Adams teria sido mais grave. ''Apostaria meu braço direito que, se a série estivesse empatada em 2 a 2, Green não seria suspenso. O que aconteceu em OKC foi muito pior'', disse o ex-ala, atual comentarista. Patrick Patterson, ala-pivô do Raptors, fez eco: ''Estranho que ele tenha sido suspenso nas finais, mas não na decisão da conferência''.
Como estamos falando de NBA, uma final com muita audiência e LeBron na tela, a teoria da conspiração que passou a circular desde o sábado é a de que, para a liga, o prolongamento da série só faria bem, pensando em audiência e faturamento. Eu, sinceramente, não compro essa: Draymond já havia gerado muita controvérsia para escapar dessa de modo impune. Seu estilo abrasivo teve um custo elevado agora.
O ala-pivô sabia disso. Com a virada praticamente consumada em Cleveland, deveria ter deixado que sua inteligência prevalecesse sobre o orgulho e agressividade. Que Charles Barkley seja um de seus defensores neste episódio, significa muito. Antes de se mandar para Cuba, de férias, e de a liga anunciar sua decisão, afirmou: ''Quando alguém pisa sobre você, faz internacionalmente para esfregar na sua cara. Você fica moralmente obrigado a retaliar''.
Draymond é o que é devido a essa personalidade intensa, seu espírito extremamente competitivo. Ao Orange County Register, em entrevista recente, já havia sido questionado se havia algum limite para ele em quadra. ''Absolutamente não'', disse. ''Vou cruzar qualquer linha para vencer''. Quando foi para cima de LeBron, restavam 2min42s ainda, mas o Warriors estava em momento muito favorável, à frente do placar por dez pontos já. A vitória estava encaminhada. Talvez Green estivesse apenas se defendendo. Ou imaginasse que poderia tirar LeBron do jogo? Forçar uma briga? Se fosse esse o caso, foi uma aposta arriscada e besta demais. Pois, em termos disciplinares, sua situação era muito mais delicada que a do astro. De certa forma, poderia ter sido ainda pior: caso fosse marcada uma falta flagrante, o atleta seria suspenso também de um eventual Jogo 6.
* * *
Agora Steve Kerr vai ter de quebrar a cabeça para armar a equipe para o Jogo 5. Sabe de quantos jogos o Warriors seu versátil ala-pivô ficou fora nesta campanha? Um. Apenas um, contra o Denver Nuggets, no dia 13 de janeiro. Foi uma das nove derrotas do time no campeonato, por 112 a 110.
É um péssimo sinal. Quer dizer: muito mais a partida com desfalque isolada do que o revés no Colorado em si. Afinal, isso quer dizer que nem Kerr, nem Luke Walton tiveram muitas chances de entender como o Golden State funciona desde que Draymond Green se tornou uma figura tão essencial para o seu sucesso. Nos tempos de Mark Jackson, era reserva de David Lee. Mas muito aconteceu desde então.
Sem Green, a primeira certeza é que time não terá em nenhum momento sua chamada ''Escalação da Morte'', com Barnes e Iguodala ao seu lado na linha de frente e os Splash Brothers barbarizando no ataque. Essa formação tem saldo positivo de 14,1 pontos em 100 posses de bola pelas finais e, entre aquelas que receberam um mínimo de 15 minutos durante a série, é a que tem o melhor rendimento. Algo que não surpreende ninguém, já que também foi o quinteto mais produtivo da temporada regular, entre aqueles que acumularam pelo menos 100 minutos, e de longe.
Ignorando quem está ao redor, nos 152 minutos que o fogoso ala-pivô jogou contra o Cavs nesta final, o Warriors teve vantagem de 36 pontos. Sem ele, em 40 minutos, déficit de sete pontos (veja qual o impacto específico sobre Curry também). Agora serão mais 48 por jogar. Faz como? O problema não é apenas suprir os 14,8 pontos, 9,3 rebotes, 5,8 assistências, 1,8 roubo, 1,3 toco em 38,0 minutos, que têm feito pelas finais. O que já seria bem complicado, aliás. A importância de Green, no entanto, vai muito além do números mais básicos computados na súmula oficial. Para não falar do aspecto emocional. É o líder, o coração do time.
Estamos falando de um conjunto de habilidades praticamente inigualável na NBA. (E, se você nunca pensou no cara neste modo, fica o convite. Não precisa somar 25 ou 30 pontos por jogo para ser caracterizado como ''craque'', a despeito do que ainda se prega por aí). Draymond pode, ao mesmo tempo, ser o último homem da linha defensiva do Warriors, protegendo o aro, enquanto, no ataque, é capaz de jogar como um armador de fato, criando a partir da cabeça do garrafão, mesmo que Shaun Livingston esteja em quadra – coisa que aconteceu diversas vezes no período em que Curry estava afastado, se recuperando de uma torção no joelho. Draymond também é o principal reboteiro do time, enquanto estica a defesa com a ameaça do chute de três, mesmo que tenha errado seus últimos oito arremessos em Cleveland. Draymond vai fazer de tudo para atrapalhar LeBron na defesa e, se conseguir brecar o astro, já é mais uma opção para o desafogo em transição.
Enfim, o cara faz de tudo em quadra e é a figura essencial para essa ''Escalação da Morte'', para além do poderio ofensivo de Curry e Thompson, e simplesmente não há como substituir tudo o que ele entrega em quadra. Se os Splash Brothers estiverem no melhor ritmo, caminhando para os 30 pontos cada – tal como naquele histórico Jogo 6 contra OKC –, fica mais fácil. Mas não dá para contar o tempo todo com isso, nem mesmo com a estreia extraoficial da dupla na quinta partida. O que resta a Kerr, então? Uma sensibilidade aguçada para atender a qualquer necessidade imediata da equipe, com alterações pontuais, imaginando que o quinteto inicial terá Curry, Thompson, Iguodala, Barnes e Bogut.
O problema é tentar remediar um lado e se atrapalhar do outro. Taí a relevância de Draymond. Pela terceira vitória, ele ficou em quadra por 42 minutos, que terão de ser distribuídos entre reservas, justamente num momento no qual Kerr estava preparado para enxugar a rotação. Curry (40), Thompson (39) e Barnes (40) já haviam recebido pesada carga, assim como Iguodala (37). Supondo que nenhum deles tenha problemas com falta e que, a essa altura do campeonato, o técnico possa dar mais alguns minutinhos aqui e ali, você até poderia descontar mais seis minutos dos 42 que vai ter de repor. Sobram, ainda, 36. Três períodos inteirinhos.
Uma certeza: Harrison Barnes vai ter de jogar muito. Talvez a partida de sua vida, com um foco inicial: rebotes. Dormir pensando em rebote, acordar pensando em rebote. Almoçar pegando em rebote. Dirigir para o ginásio pensando em rebote. Deu para entender, né? Na temporada regular, ele teve média de 4,9 por jogo. Na série final, 5,5. Em apenas três rodadas, o atlético ala de 2,03m, forte toda a vida, saiu de quadra com mais de 10 rebotes: 12 no Jogo 1 contra Portland, e 11 contra Utah e Indiana pela temporada regular. Mas você acha que é só? Não, também seria bom converter seus arremessos de fora (tal como aconteceu no último duelo, com quatro cestas) e, se possível, ainda colocar a bola no chão para atacar a cesta se houver brecha. Uma atuação para quem pensa em ganhar mais de US$ 20 milhões anuais já a partir de julho.
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Será que Bogut vai conseguir se segurar em quadra? Improvável. O australiano jogou apenas por dez minutos em Cleveland, e a verdade é que, nestas finais, sua presença em quadra tem significado basicamente. Dentre os quatro quintetos mais utilizados na série, aquele que tem o gigante no garrafão é o único de saldo negativo. Um saldo pavoroso, na verdade, com -19,7 pontos. Isto é: a ''Escalação da Morte'' ganha outro sentido. É a morte do próprio Golden State.
Quem deve jogar muito mais é Shaun Livingston, que recebeu 19 no último jogo. A dúvida que fica é se um reserva, mesmo de alto nível assim, pode manter sua efetividade em um período mais longo. Leandrinho também deve retornar ao time. Os dois são importantes como criadores e agressores no ataque. Mas o tempo de ambos depende muito da produção do Cavs também. Se Tristan Thompson e, principalmente, Kevin Love estiverem inspirados, assertivos no garrafão, aí o Warriors vai ter problemas. Aí Varejão deve ser chamado, a julgar pelo que o treinador anda fazendo nos playoffs. Festus Ezeli está jogando muito mal. James Michael McAdoo tem mobilidade e impulsão para brigar e sua mobilidade e até foi acionado para jogar na sexta, de modo surpreendente. Mas ainda é muito cru para receber muito mais do que sete minutos. As próximas reuniões de Kerr com seus assistentes vão ser muito interessantes.
De repente, os atletas do Warriors, pês da vida, joguem muito e esculhambem com o Cavs e a liga, para 'vingar' seu All-Star. Foi o tema das entrevistas deste domingo, claro. Vejam esta obra de arte de Marreese Speights, por exemplo: ''É muito zoado suspender um cara por nada. Se alguém põe as bolas em sua cabeça, o que você deveria fazer? As bolas estavam na parte de trás de sua cabeça. É meio que zoado, cara, mas fazer o quê?'', manifestou o pivô que ainda usaria o Twitter para postar um emoji de uma mamadeira. ''Quando alguém faz uma coisa dessas, você meio que perde o respeito por ele. Tinha muito respeito por LeBron por sua carreira, desde que estava no high school. Mas fazer uma coisa dessas só para causar a suspensão de alguém? Isso é meio que desrespeitoso.''
Vai ter de ser uma partidaça, mesmo, para substituir alguém que, para o seu sistema, é insubstituível. Pelo menos não por um atleta só. Ao ser suspenso, Draymond Green está até mesmo proibido de entrar na Oracle Arena. Assim diz a regra liga. Se o Warriors vencer e garantir o bicampeonato, ainda está sendo discutido se ele poderá se juntar aos companheiros, pois o protocolo aparentemente não dava conta de uma situação destas. Depois de tomar uma decisão sobre um episódio controverso como o do entrevero em quadra, isso parece muito mais fácil, de qualquer modo.
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