Vinte Um

Curry desperta, mas não só. Warriors está a um triunfo do bicampeonato

Giancarlo Giampietro

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Acho que vale insistir nesta briga: não é só Stephen Curry quem está a uma vitória do título e LeBron James, a três vitórias da virada. Os dois superastros, claro, se encontram nessa condição. Mas eles não estão jogando uma partida de… VinteUm. Não tem nada mano-a-mano aqui, mas, ante, duas equipes se enfrentando, com o Golden State Warriors vencendo pela terceira vez pelas #NBAFinals. Foi, agora, finalmente, uma partida mais apertada, mesmo que o placar aponte dois dígitos ao final: 108 a 97.

Por mais que o Chef Curry tenha feito sua melhor partida da série neste Jogo 4 e que LBJ tenha patinado em quadra em diversos momentos críticos, a disputa do caneco da liga nunca se tratou de um enfrentamento simplório assim, por mais que se insista em tentar personalizar as coisas. O Cavs não perdeu porque LeBron foi, supostamente, ''omisso''.  O Warriors não venceu porque Curry chutou bem, e só. As duas coisas, de alguma forma, com pesos diferentes, fazem parte da equação. Mas não são os únicos fatores determinantes para que os atuais campeões tenham aberto a vantagem de 3 a 1 no score geral da série.

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O Warriros conseguiu, como um todo, impor ao Cavaliers sua primeira derrota em casa nestes playoffs. Fundamental para isso é o fato de a equipe local não ter passado dos 100 pontos. Essa limitação só foi possível graças a mais um grande esforço defensivo da equipe de Steve Kerr no quarto período, vencido por nove pontos de diferença. (Na real, teria sido uma quantia maior, não fosse o ''crunch time'' bem travado, com trocas de lances livres quando o jogo já estava praticamente decidido.)

Tal como acontecera no Jogo 6 em OKC pela final do Oeste, os forasteiros foram capazes de anular um poderoso ataque, com sua Escalação da Morte (e derivações). O Cavs ficou mais de seis minutos sem fazer sequer uma cesta de quadra, e aí também não dava para culpar Kevin Love, por exemplo. O ala-pivô topou sair do banco e contribuiu com 11 pontos e 5 rebotes em 25 minutos. Foi muito mais ativo do que o normal, voltando de uma concussão, mas não salvou, nem afundou seu time.

Com ou sem Love, LeBron e o empolgado Kyrie Irving (34 pontos em 28 arremessos 43 minutos) se atrapalharam. O camisa 23 preferido de Cleveland terminou com 25 pontos, 13 rebotes, 9 assistências, mas também com 7 turnovers e 1-5 de longa distância e ainda discutiu com Draymond (mais abaixo) e Curry nos minutos finais, um tanto fora de controle. Algo raro de se ver. Quando questionado a respeito, o técnico Tyronn Lue que era o caso de perguntar para LeBron o que havia acontecido. Em sua entrevista, o técnico estava igualmente desbaratinado, com uma postura pouco animadora.

Já Kerr, como de praxe, matou a pau, ao afirmar que seu time não sabe lidar com a ''prosperidade''. Ele falou isso rindo, mesmo. No sentido de que, pelo Jogo 3, estava claro que o Golden State havia entrado em quadra com aquela sensação de ''já-ganhou'', de que haviam solucionado as finais, enquanto o Cavs tinha planos muito diferentes. Dessa vez, mordidos após a surra de 30 pontos que levaram, seus comandados vieram prontos para jogar dos dois lados da quadra.

Os representantes do Leste até fizeram sua parte. Em termos de energia, esforço, engolindo a tábua ofensiva nos rebotes, não há o que a torcida, o técnico Tyronn Lue e os dirigentes contratados pelo fanático Dan Gilbert questionarem. O primeiro tempo, inclusive, terminou com vantagem de 55 a 50 para os caras, mesmo com Curry dando sinais desse despertar e com LeBron razoavelmente contido.nNa segunda etapa, porém, mesmo com Kerr mantendo Andrew Bogut na formação inicial, as coisas viraram.

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O Cavs ainda perseguia bravamente Curry em suas movimentações fora da bola. Tristan Thompson conseguia fazer um excepcional papel quando sobrava com o armador no perímetro. Mas o talento do MVP enfim prevaleceu. Ele saiu de quadra vitorioso com 38 pontos em 40 minutos e 25 arremessos, além de 6 assistências e 3 turnovers – número elevado ainda, mas relativizado positivamente pelo que havia cometido nas três primeiras partidas, conseguindo assumir o controle do duelo, a despeito de forte defesa. O que esses números representam exatamente na série? Muito. Pelos três primeiros jogos, Curry havia acumulado 48 pontos e 10 cestas de longa distância. Nestes 40 minutos, anotou, respectivamente, 38 e 7.

Quando Curry passa dos 30 pontos, o Warriors sai vencedor em quadra. Pelo menos foi o que aconteceu nas últimas 14 ocasiões pelos playoffs. Pegue, então, os 25 pontos em apenas 14 arremessos e 39 minutos para Klay Thompson, e perceba como o ataque voltou ao normal. Você tem aí 63 pontos para os Splash Brothers. O time conseguiu 51 pontos em chutes de fora, contra apenas 18 do oponente, batendo um recorde das finais com 17 conversões.

Harrison Barnes acompanhou os dois astros, com a confiança resgatada por uma ótima atuação pelo Jogo 3. Prestes a entrar no mercado de agentes livres, querendo uma bolada, o ala marcou 14 pontos e pegou 8 rebotes em 40 minutos, matando 4 em 5 tiros de longa distância. Draymond Green foi mais uma vez bastante contido no ataque, mas provou como sua influência em quadra é geral. O ala-pivô teve um desempenho vital por sua defesa para cima de LeBron, e ainda contribuiu com 9 pontos, 12 rebotes, 4 assistências, 3 tocos e 2 roubos de bola, além do maior saldo dos visitantes no jogo (+14 pontos). Sem citar números, podemos atribuir a Andre Iguodala o mesmo tipo de impacto.

Já está na receita, gente: quando quer, quando está envolvido no jogo com pilha e concentração – foram apenas nove turnovers dessa vez –, esse conjunto do Warriors se torna praticamente imbatível. Exagero? Nada: basta lembrar que em apenas uma ocasião essa equipe perdeu duas partidas seguidas em toda a temporada. Foi no duelo com OKC, pelo Oeste, quando foram derrotados pelos Jogos 3 e 4, antes de buscar uma virada já histórica. Esse é o tipo de dado estatístico que, colado aos 73 triunfos da temporada regular, aos diversos recordes de chutes de longa distância, aos dados de Curry, Draymond e Klay, comprova o quão especial é a campanha dos caras.

É preciso levar isso em conta, gente, na hora de falar sobre o outro lado. Talvez Durant, Westbrook e seus comparsas do Thunder não tenham amarelado. Talvez LeBron não tenha sido tão omisso assim, ou Kyrie, desequilibrado. Talvez seja simplesmente o efeito de se enfrentar uma defesa tão ágil e combativa como a do Warriors regularmente. Sim, temos provas de que, quando você movimenta a bola com rapidez e tem dois cestinhas de altíssimo nível em quadra para agredir, essa linha defensiva pode ser superada. Ainda mais quando seus componentes estão um tanto relaxados. Mas, numa série melhor-de-sete, fica mais complicado.

Isso dá segurança para Kerr. O técnico pode não ter forçado alterações mais radicais em seu quinteto titular, mantendo Bogut em quadra por 10 minutos, praticamente nos cinco minutos iniciais de cada tempo. Embora a presença do australiano possa ser vista muito mais como um blefe, considerando seu tempo limitado de quadra – ainda bem, para o treinador, já que, entre os atletas receberam mais de sete 7 minutos nesta sexta-feira, só ele não teve um saldo positivo: saiu 'zerado'.

E, sim, só foram oito atletas com mais de 7 minutos em quadra pelo Warriors. Os titulares habituais, com carga elevada para Curry e Banres (40 cada!), Thompson (39!) e Draymond (42!),  tiveram a companhia de Iguodala (37!), Shaun Livingston (19) e James-Michael McAdoo – estreando na série, e aí, sim, um pequeno surpreendente ajuste do treinador. Totalmente inesperado. Não interessam muito seus 2 pontos, 1 rebote, 1 assistência em 7 minutos, mas, sim, o fato de que, atleticamente, ele conseguiu competir com a formação mais baixa do Cavs, saindo com +3 de saldo. Leandrinho dançou nessa, enquanto Festus Ezeli  recebeu apenas um trepidante minuto e Anderson Varejão jogou por quatro.  Quer dizer, sabemos que Kerr confia em seu elenco, mas, num jogo vital como esse, enxugou enfim sua rotação e manteve por mais tempo seus melhores atletas. Algo mais que esperado, mas que, ainda assim, faz parte dos sacrifícios gerais a que seus atletas são submetidos, sem deixar o coletivo menos forte.

*   *   *

Em termos negativos, o Golden State só vai mais uma vez viver alguns dias de suspense quanto a Draymond Green, que, depois de um entrevero com LeBron pelo quarto período, está sob risco. Pode muito bem ser suspenso por um suposto golpe baixo, ainda mais considerando seus antecedentes nestes playoffs. O lance foi um enrosco que só, com ação e reação – após empurrão do astro do Cavs – e merece ser avaliado com calma pela liga:

 

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