Vinte Um

O Jogo 7 está aí, para testar quem tem cabeça

Giancarlo Giampietro

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''Sentimos que era para ter fechado esta série há um tempão, mas aqui estamos. Está empatada em 3 a 3, e vamos voltar para casa para jogar. Vamos jogar com raiva porque sabemos que, com esta emoção – e nós sabemos canalizá-la do jeito certo –, somo um time muito, muito bom'', afirmou Klay Thompson, ainda em Cleveland, logo após a exasperante derrota para o Cavs, levando as #NBAFinals a um incômodo Jogo 7 em Oakland.

''Temos de mostrar alguma fagulha para esta partida. É uma grande oportunidade para nós, em casa, diante de nossos torcedores, para tentar, novamente, vencer um campeonato. Então vamos precisar de um pouco de garra e personalidade. Eu tinha algumas coisas que queria tirar do meu coração, para desabafar, e pelo modo como o jogo desenrolou, aconteceu isso'', disse, por sua vez, Stephen Curry, que teve um ataque de nervos em quadra e agora chega ao confronto deste domingo pressionado.

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Não só Curry, claro, mas o Golden State Warriors, como Thompson sugere. Na cabeça deles, já era para terem entrado em férias, como atuais bicampeões. Mas os LeBrons tinham planos bem diferentes, vencendo dois jogos seguidos

Em meio a uma campanha histórica, de 73 vitórias, foi fácil de detectar como essa equipe tendeu a jogar muito melhor quando se sentem incomodados, irritados: se distanciavam da complacência e arrebentavam com os adversários. Agora estão incomodados com os dois ''match points'' desperdiçados. Incomodado é pouco, aliás. Estão nervosos, mesmo. Se vão usar esse sentimento para se recompor em quadra, ou se vão se perder nesta ira.

Até porque esse sentimento de nada valeu na quinta-feira, certo? Era o jogo em que supostamente eles iriam vingar a suspensão de Draymond Green, né? Ao perder o primeiro quarto por 31 a 11, claramente não estavam preparados ou empolgados assim. Até reagiram ainda em Cleveland, o tal do James não os deixou concluir mais uma virada histórica. Aí deu Jogo 7. Para o qual eles vão todos irados – mas também feridos:

– Andrew Bogut não joga mais, e nem no #Rio 2016. Até dá para viver sem o australiano, ainda que Festus Ezeli não seja mais o mesmo do início do campeonato, desde que retornou de uma lesão no joelho.

– Andre Iguodala preocupa muito mais. O departamento médico e atlético do Warriors é um dos mais badalados da liga. São 72 horas, ou um pouco menos, para que tenham dado um jeito nas suas costas. Do contrário, a vida para um surtado LeBron James fica ainda mais fácil.

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– Harrison Barnes, Deus o tenha. O ala está inteirinho fisicamente. Mas a cabeça… Depois de errar 20 de 22 arremessos nas últimas duas partidas, como fica? Se o futuro agente livre não se mostrar reabilitado logo de cara, Kerr vai insistir com ele? Ou vai dar mais minutos para Leandrinho, que vive o melhor momento de sua carreira em muito tempo?

Aí são três peças integrais da rotação com problemas. Isso compromete qualquer time. Se Iguodala e Barnes não chegarem nem perto de seu potencial, vai ficar complicado demais para os Splash Brothers, e o Golden State muito provavelmente se tornará o primeiro time na história da liga a perder uma final depois de abrir 3 a 1 e o primeiro a cair num Jogo 7 em casa desde o Seattle em 1978.  Curry e Thompson chutam muito, podem demolir qualquer oponente, mas precisam de ajuda, mesmo naquelas jornadas mais brilhantes. O Warriors não venceu 171 partidas nas últimas duas temporadas só com seus arremessos de três. E vão precisar de mais do que isso para derrotar um majestoso LeBron.

O craque do Cavs chega ao último jogo como o líder em pontos, assistências, rebotes, tocos, roubos de bola e índice de eficiência. Está bom? Sob qualquer argumento, deve ser eleito o MVP das finais, salvo alguma catástrofe neste domingo, independentemente de quem ganhar o título.A essa altura, não caberia a Curry a ambição de superá-lo. Por mais que tenha 'jurado' o veterano em quadra, o armador do Warriors não deve transformar uma partida dessa grandeza em algo pessoal. Tem de se concentrar em seu jogo e evitar faltas desnecessárias (não importando os critérios de arbitragem) e os turnovers por displicência.

Curry será atacado desde o início. De preferência, LeBron vai forçar uma troca de defesa que o coloque de frente para o armador. Nessas situações, seu defensor deve tentar evitar ao máximo que a troca seja feita depois do corta-luz. Se ela acontecer, talvez seja o caso de fazer uma dobra imediata no veterano, para tentar tirar a bola de suas mãos o mais rápido possível, assim como têm feito com Kyrie Irving. O perigo é que LeBron é muito mais alto e um passador muito mais capaz também, podendo antever jogadas e encontrar arremessadores  num estalo. O que vai exigir deslocamento e recuperação rápidas dos demais defensores.

Como um todo, o Warriors tem de se reconectar defensivamente, depois de tomar 227 pontos nas últimas duas partidas. Não sei o quanto a ''raiva'' pode contribuir para isso. Se Curry, Green e Iguodala maneirarem nos passes mais arriscados de um lado, já será uma baita ajuda, para conter o contra-ataque devastador de seu adversário. O Cavs anotou 47 pontos em transição pelos Jogos 5 e 6 – e só tomou 19. Você não quer deixar um time com o trator LBJ correr. A única chance de pará-lo será em meia quadra, mesmo. Embora, se o seu arremesso de longa distância continuar caindo 50% das vezes, talvez não haja muito o que fazer, mesmo.

Essa é uma das questões cruciais para Cleveland, inclusive. A principal delas, na real, acompanhadas de: 2) se Kyrie Irving vai estar em forma, depois de mancar um pouco durante o segundo tempo do Jogo 6, por conta de alguma contusão/dor no pé, limitando sua produção a apenas uma cesta de quadra em seis tentativas; 3) se Kevin Love vai oferecer algo para Tyronn Lue no ataque e se isso seria o suficiente para compensar sua vulnerabilidade defensiva; 4) se a arbitragem vai procurar remediar qualquer desconforto com o time da casa, em resposta aos 'apelos' de Kerr, Curry e amigos; 5) por fim, se Dahntay Jones vai marcar mais pontos que Harrison Barnes e Shaun Livingston?! (Risos.)

De resto, poderíamos questionar se Tristan Thompson vai seguir perseguindo Stephen Curry pelo perímetro como se fosse um Scottie Pippen, mas acho que não há mais dúvida de que o canadense pode executar esse tipo de marcação, mesmo. Quando o pivô está na contenção no perímetro, o armador soma apenas 0,78 ponto por posse de bola. Contra Irving, o número sobe para 1,37. Impressionante.

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Esse tem sido um dos elementos para o excelente desempenho defensivo do Cavs nas últimas partidas. Assim como, vejam só, a concussão de Kevin Love, que abriu mais espaço para Richard Jefferson na rotação, dando maior flexibilidade. O trabalho de Tyronn Lue ficou menos complicado, sem perder muito tempo com as politicagens do cargo – a redução do tempo de quadra de um ala-pivô de US$ 20 milhões anuais. Não é que Jefferson seja melhor que Love. Claro que não. É só que, particularmente contra o Warriors, o astro será explorado em cada instante que estiver na defesa. Contra OKC, provavelmente a situação seria outra. Além do mais, LeBron James foi deslocado para a marcação de Draymond Green, praticamente anulando o All-Star e seus temíveis pick-and-rolls com Curry.

São diversos os detalhes e ajustes que uma série melhor-de-sete com placares tão díspares pede – embora, tenhamos um curioso empate na soma dos pontos dos dois times, com 610 para cada. Coração e determinação têm o seu peso, claro, e o fato de jogar em casa vai empurrar o Warriors nessa direção. Mas é preciso cabeça também, e o jogo mental pendeu para o lado de Cleveland desde que LeBron forçou a suspensão de Green. Depois de induzir o ala-pivô ao erro e dominar os oponentes, o craque chega ao Jogo 7 sem tanto peso nos ombros. Deve ser a primeira vez que se escreve essa frase sem que ela pareça maluca.

Não que não exista pressão. James ainda tenta dar o primeiro título a uma cidade cujos times profissionais não nenhum título desde 1964, mesmo tendo franquias em todas as grandes ligas do país. Também seria o seu terceiro título, com uma virada inédita, o que realmente valeria como um nocaute contra aqueles que o perseguem. Já o Warriors tem mais 48 minutos para confirmar seu lugar entre os maiores times da história.

Se Draymond Green tivesse jogado a quinta partida, talvez a série já pudesse ter acabado, mesmo, como palpitou Klay Thompson. Nunca vamos saber, e não há como o ala-pivô retornar no tempo para corrigir sua bobagem. Ela faz parte da história, e vamos para o sétimo jogo. O que a gente pode pedir, ao menos, é que tenhamos uma partida que chegue competitiva aos seus minutos finais. Com LeBron jogando o que sabe e Steph Curry também. Sem ataques de fúria.

(Que sejam 48 minutos, mesmo, né? Se houver prorrogação, acho que teremos um colapso de 20 mil pessoas no ginásio. Melhor evitar.)

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