Vinte Um

‘Geração Nenê’ consegue reconhecimento tardio com 2º título em 2 anos

Giancarlo Giampietro

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Varejão e Leandrinho: mais um brasileiro sairá campeão de quadra

A partir do momento em que o Golden State Warriors terminou o serviço na Conferência Oeste, despachando o Houston Rockets para se classificar à final, ficou definido que mais um brasileiro se juntaria a Tiago Splitter na lista de campeões da NBA: ou vai dar Leandrinho, ou Anderson Varejão, com seu Cleveland Cavaliers. Demorou um pouco, é verdade, desde que Nenê chegou a Denver em 2002 para reabrir as portas da liga americana aos jogadores nacionais. Mas, com dois títulos em dois anos seguidos, essa geração de 1982 a 85, um tanto contestada pela falta de sucesso com a camisa da seleção, trata de confirmar seu valor.

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Não, nenhum deles alcançou um status transcendental como o da dupla Manu Ginóbili e Luis Scola, ainda que Splitter já tenha sido eleito o melhor pivô da Espanha (e da Europa), que Leandro já tenha ganhado um prêmio de Sexto Homem (tal como Manu), e que, juntos, tenham ganhado, só nos Estados Unidos, mais de US$ 208 milhões em salários – sem contar os US$ 92 milhões que ainda estão por cair na conta. Se as franquias decidiram desembolsar tanta grana assim por quatro atletas, é que com algo de positivo eles podem contribuir. Creio. Mesmo que coadjuvantes.

Bons times não são compostos apenas por grandes estrelas. Se bem que… Qualquer treinador adoraria escalar cinco LeBrons… Ou, imaginem, que pesadelo seria marcar cinco atletas com a habilidade de Steph Curry no arremesso. Mas, hã, isso é impossível. Esses caras são aberrações, que você não encontra facilmente por aí. Os dirigentes têm, então, de se virar para encontrar as melhores peças complementares possíveis, enfrentando concorrência pesada e também tendo de se adequar  regras de controle das folhas salariais. É aí que entram os dois finalistas deste ano, além do campeão Splitter e de Nenê.

Eles têm algumas características em comum – especialmente os pivôs, os três muito inteligentes, com visão de quadra, excelentes no corta-luz e no passe – e outras habilidades bastante específicas que os tornam jogadores cobiçados e valiosos na confecção de um elenco. Lembrando que, numa liga de padrão elevadíssimo, mesmo os 'operários' tendem a ser bastante qualificados e, quando atingem um nível de excelência naquilo que são contratados para entregar, acabam muito bem pagos.

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Esse quarteto ganhou uma nota, é verdade – e acumularam também muitas vitórias, aquilo que, supomos, vale mais. É interessante notar como no currículo de Leandro, Varejão, Nenê e Splitter estão relacionadas equipes que prosperaram na maior parte do tempo. Com uma boa ajuda do Basketball Reference, dá para levantar precisamente o quanto elas venceram com a ajuda dos brasileiros. Então vamos lá: com 4o campanhas acumuladas entre os quatro, apenas em nove delas seus times tiveram aproveitamento inferior a 50% quando estavam em quadra, enquanto em 27 ocasiões foram para os playoffs.

aproveitamento-brasileiros-nbaSão quatro temporadas negativas para Varejão (no intervalo sem LeBron em Cleveland de 2011 a 2014), três para Leandrinho (a primeira em Phoenix em 2003, uma em Toronto em 2011 e outra dividida entre Toronto em Indiana em 2012) e apenas duas para Nenê (a primeira pelo Denver em 2002 e a de 2013 pelo Washington – tomando o bom senso de ignorar sua campanha 2005-06, na qual disputou apenas um jogo, sofrendo grave lesão no joelho logo na primeira partida). Splitter, no bem bom de San Antonio, tem um aproveitamento de 72,3% nas partidas que disputou (veja mais ao lado). No total, eles somam 2.329 partidas, com 1.366 vitórias, com aproveitamento de 58,6%. Para relativizar, esse número valeria a quinta colocação na Conferência Leste na atual temporada, ou o oitavo lugar no duríssimo Oeste.

O Golden State Warriors de Leandrinho, esteve bem acima dessa média, com 81,7% para entrar na decisão com mando de quadra. Nas 66 partidas em que escalou Kerr, o rendimento foi um tiquinho superior (81,8%). Quando vai para quadra, joga 11 minutos por partida durante os playoffs, rendendo Stephen Curry ou Klay Thompson. Varejão está fora de ação em Cleveland, devido a uma cirurgia no tendão de Aquiles que interrompeu sua vitória em dezembro. Quando jogou, em tempos de turbulência pré-folga de LeBron e trocas, foram 16 vitórias e 10 derrotas (61,5%, contra os 64,6% do final). Mas os poucos minutos e jogos não só não condizem com a história que os dois (e seus compatriotas) construíram nos últimos 13 anos de NBA, como também não diminuem a importância de ambos em seus grupos.

''Acho que se fôssemos fazer uma eleição no nosso time sobre quem seria o atleta mais popular, ele ganharia. É um cara divertido e que está sempre dando atenção a todos. Ele proporciona muita energia para o nosso time, energia no dia a dia para o vestiário, o que é sempre muito bom e importante'', afirmou ao VinteUm Alvin Gentry, recém-contratado pelo New Orleans Pelicans, mas ainda assistente do Warriors nas Finais da NBA que começam na próxima quinta-feira. Pergunte a LeBron James sobre o impacto que Anderson Varejão pode causar no dia a dia de um clube, também com muito carisma e empenho inesgotável. ''Ele foi uma parte gigante no sucesso que tivemos no passado aqui, e, quando tomei a decisão para voltar, fiquei muito feliz que ainda fizesse parte do time'', disse durante a pré-temporada no Rio.

spurs-splitter-campeao-2014Não é apenas como ombro amigo que se ganha relevância. Varejão, obviamente, fica limitado a esse papel nas próximas semanas. Quando está em quadra, porém, sabemos que se trata de um dos melhores reboteiros e defensores entre os grandalhões da liga, além de ótimo passador. Leandrinho, por outro lado, tem sido produtivo nos minutos que lhe cabem como reserva de dois All-Stars, com 7,1 pontos em 14,9 minutos, com 47,4% nos arremessos (a melhor marca desde 2009) e 38,4% de três pontos (a melhor desde 2008). Numa projeção por 36 minutos, se mantivesse o ritmo, estaria com 17,1 pontos, 3,6 assistências, 3,3 rebotes e 1,5 roubo de bola. Em termos de eficiência, atingiu aos 32 anos o quarto melhor índice de sua carreira.

Os números caíram de modo significativo nos playoffs, mas o veterano ainda conta com a confiança de seu técnico em duelos importantes, de pressão. Por isso, já deve ficar de prontidão nas próximas 48 horas,  dependendo da avaliação médica de Klay Thompson. O ala ainda está sendo examinado de acordo com o protocolo de concussão da liga e não tem escalação garantida para o Jogo 1 em Oakland. Num cenário ideal, Kerr não vai precisar acionar o ligeirinho. Mas sabe que o ala-armador está jogando com muita velocidade e um nível de intensidade, agressividade fora do comum. Características tão ou mais importantes que as estatísticas. Menos do que uma lenda viva como Ginóbili ofereceu ao Spurs com frequência, desde 2003, quando estrearam juntos nos Estados Unidos. Normal, ué. Manu é outro que está na galeria dos diferentes, daqueles em torno do qual você pode montar um belo time. Sozinhos, contudo, eles não vão a lugar nenhum. Na escolta, pode muito bem caber um dos brasileiros.