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CSKA resiste a pressão sobre establishment e volta a conquistar a Euroliga
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Giancarlo Giampietro

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Foi uma temporada em que os gigantes sofreram, com forte pressão sobre o establishment do continente, mas, no final, a Euroliga 2015-16 ficou com o CSKA Moscou, justamente o clube de maior orçamento do campeonato. Agora, qualquer torcedor do Olympiakos pode muito bem tirar um sarro aqui: e quem disse que o CSKA faz parte da elite? Afinal, estamos falando do clube que não ganhava o título desde 2008, acumulando desde então alguns dos maiores colapsos da história do basquete. E, glup, quase aconteceu de novo.

No Final Four de Berlim, a equipe moscovita passou pelo estreante Lokomotiv Kuban pelas semifinais e bateu o Fenerbahçe pela decisão, de modo dramático: 101 a 96 após prorrogação. Que os dois finalistas tenham ido ao tempo extra parecia algo totalmente improvável ao final do primeiro tempo, quando os russos venciam por 20 pontos de diferença (50 a 30), ou mesmo ao final do terceiro período, quando a vantagem era de 16 (69 a 53). Os turcos venceram a última parcial para inacreditáveis 30 a 14, e aí, meus amigos, parecia a reedição de um novo pesadelo.


No ano passado, o CSKA tinha vantagem de nove pontos sobre o Olympiakos no início do quarto período e arrefeceu. O mesmo havia acontecido contra o mesmo oponente grego em 2012 e 2013, sendo o maior vexame aquele de quatro anos atrás, quando levou a virada depois de abrir 19 pontos no placar. Outro tropeço marcante aconteceu contra o Maccabi em 2014, quando tinha 15 pontos de folga. Que coisa, hein? Então imagine o desespero de Andrey Vatutin, o jovem presidente do clube, aquele que assina um polpudo cheque a cada ano, assistindo a tudo isso novamente à beira da quadra.

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“O fato é que mostramos nossa personalidade. Por exemplo, o que aconteceu em 2012, em Istambul, foi uma catástrofe. Mas agora conseguimos conquistar o título depois de uma reação de nosso adversário. Nós também reagimos. Mas é claro que eu me assustei u m pouco. Mas quer saber? Acho que prefiro assim. É muito melhor do que se tivéssemos vencido com os 20 pontos do primeiro tempo”, afirmou o dirigente, que chegou a ser especulado como candidato a gerente geral do Brooklyn Nets, devido aos óbvios laços com Mikhail Prokhorov, antigo proprietário do CSKA e acionista majoritário da franquia nova-iorquina. Eu, hein? Era melhor evitar uma emoção dessas.

De todo jeito, a reação mais engraçada foi a do técnico Dimitris Itoudis, perto de quem Gregg Popovich parece um monge. O grego, que desbancou seu mestre Zeljko Obradovic pela final, não gostou quando foi questionado se “velhos fantasmas” rondavam seu time durante a virada do Fener. “Isso é só um jogo de basquete, maldição”, disparou. “É apenas um jogo de basquete entre dois grandes clubes e grandes jogadores. Sim, aconteceu um monte de coisas no quarto período. Eles reagiram e assumiram a liderança. Mas estávamos calmos. Mostramos isso aos jogadores. Dissemos para fazer e confiar no que havíamos feito durante toda a temporada, e tivemos sucesso. Muitos de vocês (jornalistas) disseram que éramos os favoritos porque jogamos um basquete atraente, que agradava à maioria das pessoas. Então era para se lembrarem disso. Ficamos sob controle, empatamos o jogo e fomos para a prorrogação.”

Que o CSKA tenha sobrevivido, então, fez-se justiça com alguns dos maiores jogadores de sua geração, como o genial Milos Teodosic e o faz-tudo Victor Khryapa, caras que têm currículos invejáveis, muito talento, mas vinham sendo julgados como perdedores devido aos seguidos fiascos pelo Final Four europeu. Teodosic nunca havia ganhado uma Euroliga, diga-se. Já Khryapa havia chegado à fase decisiva em nove ocasiões e saído vencedor apenas uma vez, em 2008.

O armador sérvio anotou 19 pontos e deu 7 assistências em 34 minutos, matando três bolas de longa distância em seis tentativas, com mais oito lances livres. Foi o jogador mais produtivo da partida. Mais que os números, porém, ele ditou o ritmo de jogo e dessa vez não confundiu a necessidade de liderar sua equipe com heroísmo, como aconteceu em outros momentos da carreira, com alguns arremessos tresloucados.

Veja um de seus passes brilhantes na jogada número 3 abaixo:

Já Khryapa foi detonado pela mídia europeia por alguns lapsos em 2012 e 2014, para um jogador tão versátil e inteligente. Aos 33 anos, mas com o corpo bastante castigado, já não é mais um protagonista do time. Porque não dá mais: participou de apenas dez partidas em toda a campanha. Mas conseguiu encontrar seu melhor jogo na hora mais decisiva, forçando a prorrogação com uma cesta maluca em rebote ofensivo a 1s3 do fim (a jogada número acima). Antes, já havia matado uma bola de três importante. No minuto final do tempo extra, ainda apareceu com um toco providencial, mostrando toda a versatilidade que lhe alçou ao topo na Europa. Tivesse chegado à NBA de hoje com todas as suas habilidades, seria um jogador muito mais relevante do que aquele que acabou desprezado por Blazers e Bulls.

A estrela da campanha, de todo modo, foi o armador Nando de Colo, que cresceu muito nas últimas duas temporadas, desde que se desligou do Toronto Raptors. O francês foi eleito tanto o MVP da temporada como do Final 4. Foram 52 pontos e 11 assistências  em 61 minutos pela fase decisiva, com médias de 19,4 pontos, 5,0 assistências, 3,6 rebotes e 46% nos arremessos de longa distância e 55,6% de dois pontos.

Quase revolução
Ver o CSKA Moscou entre os quatro semifinalistas da Euroliga é o mais distante que temos de uma surpresa. Neste século, os caras só não disputaram duas edições do Final Four (2002 e 2011). Com 22 vitórias e 5 derrotas entre primeira fase, Top 16 e quartas de final, não havia como mudar esse curso.

Mas onde estavam Real Madrid, que defendia o título e havia participado de quatro das últimas cinco edições? O clube espanhol pagou pela exaustão, depois de um ano fantástico. Não teve Maccabi Tel Aviv também, clube que jogou sete vezes desde 2001 e dessa vez nem passou da primeira fase, num tremendo vexame sob o técnico Guy Goodes, demitido. E nada de Barcelona (sete participações, eliminado pelas quartas de final pelo Lokomotiv, por 3 a 2, com graves problemas defensivos e um elenco envelhecido), Panathinaikos (seis, varrido pelo Baskonia pelas quartas, num ano em que investiu mais) e Olympiakos (cinco desde 2009 e que não passou da segunda fase, o Top 16, com Vassilis Spanoulis sofrendo pelo físico).

Enfim, as principais forças dançaram mais cedo.  Assumiram suas vagas o Fenerbahçe, vice-campeão, o Lokomotiv, terceiro colocado, e o Baskonia, que ficou em quarto.

O Fener já havia jogado o F4 do ano passado, tem uma torcida imensa, mas só é reconhecido atualmente como uma superpotência do basquete, tendo investido muita grana nos últimos anos para tentar ser o primeiro clube turco a ganhar a Euroliga, a ponto de convencer um octocampeão Obradovic a abraçar sua causa. O Baskonia tem quatro semifinais neste século, mas todas elas aconteceram entre 2005 e 2008. Desde então, não havia passado das quartas de final. Pior: nas últimas duas temporadas, não passou nem da segunda fase, o Top 16. Já o Lokomotiv é um clube nômade da Rússia que só chegou a Krasnodar em 2009 para assumir a atual formatação. Em anos anteriores, o máximo que poderia apresentar era um vice-campeonato da Copa da Rússia ou da Copa Korac.

Tanto Fener como Loko podem ser considerados novos ricos do basquete. Em tempos de crise (braba, mesmo), era questão de tempo que seus orçamentos fizessem a diferença e que pudessem se intrometer entre os Barças e Panathinaikos da vida. Se você der aquela espiada em seus elencos, vai entender bem.

O clube russo tem três jogadores ex-NBA (Anthony Randolph, Chris Singleton e Victor Claver), além do armador americano mais badalado do continente (Malcom Delaney), de um grande chutador (Matt Janning) e de um australiano olímpico (Ryan Broekhoff), mais três russos que eventualmente possam fazer parte de sua seleção (Evgeny Voronov e Sergey Bykov, dois bons marcadores veteranos, e o ala-pivô Andrey Zubkov, ex-CSKA). Foram orientados por Georgios Bartzokas, campeão europeu pelo Olympiakos em 2013.

Já o clube turco joga com um orçamento que só é superado pelo do CSKA. Importou, então, quatro jogadores da NBA (Jan Vesely, Epke Udoh, Pero Antic e Luigi Datome) e outros quatro de seleções nacionais (os prodígios sérvios Bogdan Bogdanovic, Nikola Kalinic, o americano naturalizado turco Bobby Dixon e o gatilho grego Kostas Sloukas). Algumas promessas nacionais completam a lista, com destaque para o pivô Omer Yurtseven, de apenas 17 anos, cortejado pelas grandes universidades dos EUA e que fechou com North Carolina. É um esquadrão.

Nesta classe de novos ricos, também ouvimos o Khimki Moscou fazer barulho, assim como o Darussafaka Dogus, da Turquia, que agora vai receber Bartzokas. Na primeira fase, O Khimki bateu o Real Madrid duas vezes, contando com uma linha de armadores espetacular (Tyrese Rice, Alexey Shved, Zoran Dragic e Petteri Koponen). Já o Darussafaka, com diversos americanos experientes de Europa, ajudou a eliminar o Maccabi na primeira fase. Ambos caíram no Top 16.

As surpresas não ficaram por conta só de quem tem dinheiro, todavia. Com sete vitórias e sete derrotas, o jovem time do Estrela Vermelha foi longe neste campeonato, deixando Bayern, Anadolu Efes e o  próprio Darussafaka pelo caminho. Com um punhado de revelações sérvias e contratações certeiras de americanos, alcançaram as quartas de final, sem conseguir fazer frente ao CSKA, então. Já o Brose Baskets, da Alemanha, bastante organizado, se meteu em um empate tríplice com Real Madrid e Khimki pela segunda fase, todos com sete vitórias e sete derrotas. O Olympiacos ficou para trás, com seis vitórias e oito derrotas, num grupo duríssimo.

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A lenda de Spanoulis só cresce e agora desafia o Real Madrid
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Giancarlo Giampietro

Ele de novo

Ele de novo

Primeiro foi uma exibição assustadora de um jogador. Depois, entrou em quadra um timaço para definir a final da Euroliga 2014-2015.

Na abertura do Final Four em Madri, Vassilis Spanoulis voltou a torturar o CSKA, com todos os seus craques, torcedores plácidos e dirigentes cheios de careta nos primeiros assentos ao lado da quadra. O Olympiakos alcança sua terceira deicão em quatro temporadas, em busca do terceiro título. Agora, terão pela frente mais um oponente que sonha com a revanche: o time da casa, o Real, que destroçou o Fenerbahçe pela segunda semifinal.

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Lembrando: o clube grego foi bicampeão em 2012 e 2013 com viradas no último jogo para cima de CSKA e Real, respectivamente. Enquanto tiver sob a liderança de Spanoulis, os caras vão chegar.

O que o camisa 7 fez nesta sexta foi algo meio indescritível. Estava comentando a partida no Sports+, ao lado do chapa Rafael Spinelli, e houve uma hora em que fiquei simplesmente sem palavras. Para um analista, ao vivo na TV, parece o fim da picada, né? Mas é que sua exibição foi tão impressionante que por vezes que era de deixar qualquer um perplexo, mesmo. Veja o Luigi Datome, por exemplo:

(Não sei nem o que escrever para descrever Spanoulis. Lenda? História? Ou apenas Spanoulis? Estou totalmente chocado.)

Estamos todos, Gigi. Veja a reação de uma galera, entre atletas de NBA e Euroliga, frente ao que o craque grego fazia.   E foi o quê exatamente? Se você pega a linha estatística final da partida, vitória por 70 a 68, vai ver um atleta com 13 pontos e péssimo aproveitamento de 4-15 (26,6%) nos arremessos de quadra, em 32 minutos. Mais turnovers (quatro) do que assistências, tendo levado três tocos também durante a jornada.Vem cá: o que tem de especial nisso?  

Pois é. Mais uma vez percebe-se como é perigoso espiar uma linha estatística e avaliar que fulano tenha “brilhado”, “dado show” ou “ido mal”. Com esse rendimento numérico ridículo, Spanoulis foi ainda o cara da partida. Depois de errar seus primeiros 11 arremessos de quadra e só converter dois pontos no primeiro tempo na linha de lance livre, de passar em branco no terceiro período, ele voltou para a quadra com seis minutos restando no cronômetro e… Pumba.

   

Por 26 minutos, ele não conseguia fazer nada. De repente, decidiu que era a hora da matança. Fez, então, 11 pontos, seus seus últimos quatro arremessos no jogo, incluindo três arremessos de longa distância, para elevar a contagem do Olympiakos de 54 a 69, com a ajuda de quatro pontinho de Kostas Sloukas. O CSKA vencia por nove pontos a três minutos do fim e novamente entrou em colapso. O que leva um sujeito a ser tão confiante assim? 

O ala-armador francês Nando De Colo, que havia feito um excelente primeiro tempo, acabou descadeirado pelo veterano. É um grande jogador, mas falou um pouco mais do que devia em quadra e tomou a resposta mais dolorida: a de que ainda precisa crescer muito para se colocar num patamar de astro europeu. Foi o mesmo tipo de postura que o tirou de San Antonio, sem aceitar muito bem os minutos limitados com Gregg Popovich e que ainda não se justifica, tendo em base o que faz em quadra. Não há dúvida de que tenha muito talento, mas ainda lhe falta tarimba. Começou a forçar arremessos, cochilou demais na defesa e, ainda assim, foi mantido como referência ofensiva por parte de Dimitris Itoudis. O técnico grego, que fez uma primeira Euroliga formidável,  se atrapalhou em sua rotação nos momentos decisivos, promovendo diversas substituições. Não encontrou resposta para o camisa 7 alvirrubro.

Ele já havia sido eleito pelos dirigentes da Euroliga como o atleta mais temido na hora de partir para uma bola decisiva. Lá foi ele de novo, então. A lenda de Spanoulis só cresce. O Emanuel também está tentando digerir tudo isso:

*   *   *

Ayón guardou o melhor para o fim: exibição completa contra o Fenerbahçe

Ayón guardou o melhor para o fim: exibição completa contra o Fenerbahçe

É essa a figura que vai desafiar o Real Madrid novamente. Os anfitriões venceram o Fenerbahçe, de Zeljko Obradovic, por 96 a 87. O placar conta só um pouco do que foi a partida. O primeiro tempo dos vencedores foi um primor, com 20 pontos de vantagem abertos (55 a 35), 18 assistências, oito bolas de três pontos convertidas e nenhum turnover. Zero. Uma aula ofensiva. Pareceu o Real da temporada passada, com um jogo vistoso, ainda com Nikola Mirotic na formação titular, correndo a quadra com criatividade, velocidade e inteligência – as três podem ser unidas, acreditem. Juntos, os Sergios, Rodríguez e Lllull, tiveram 25 pontos e 16 assistências, contra apenas dois desperdícios de posse de bola.

A surpresa foi ver Gustavo Ayón absolutamente dominar o garrafão. Não por que haja o que duvidar sobre as qualidades do mexicano, mas mais pelo fato de que a expectativa era a de que tivesse uma batalha com os excelentes pivôs  do clube turco. Ayón somou 19 pontos, 7 rebotes, 6 assistências e três roubos de bola. Além disso, converteu 8 de 11 arremessos de quadra, saindo excluído com cinco faltas. Ele contou com a ajuda de 12 pontos, 6 rebotes e muita luta por parte de Andrés Nocioni.

Na busca incessante pela novena, a nona taça continental no basquete, o gigante espanhol só não pode se empolgar tanto. “Não ganhamos nada ainda”, afirma Llull, que sabe que seu time vai ter de apagar um trauma de duas decisões perdidas por virada, a primeira contra o próprio Olympiakos. Revisar esse e outro episódio de seu passado recente pode ajudar o time do técnico Pablo Laso a se preparar da forma apropriada para a decisão. Não custa lembrar que, em 2014, no Final Four de Milão, o Real massacrou o Barcelona por 100 a 62 e acabou derrotado pelo Maccabi na final. Um clube de prestígio incontestável na Europa, mas que era um azarão na ocasião. Agora vão enfrentar um Olympiakos cheio de orgulho também. E com aquele matador. Sérgio Rodríguez sabe o que precisa ser feito: “Temos de tentar limitar Spanoulis”. Mas como lidar com uma lenda?


Dia de Final Four pela Euroliga: perspectivas para as semis
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Giancarlo Giampietro

O centro da quadra no Palácio dos Esportes em Madri

O centro da quadra no Palácio dos Esportes em Madri

O Final Four da Euroliga tem largada nesta sexta-feira. O Real Madrid é o anfitrião, tendo Fenerbahçe, CSKA e Olympiakos como seus concorrentes na fase decisiva do campeonato europeu de clubes. Pelas semifinais, o clube merengue vai encarar o estreante Fener. Do outro lado, os moscovitas tentam se livrar da fama recente de fregueses de Vassilis Spanoulis.  Os vencedores se cruzam na final domingo. O que está em jogo nesses confrontos?

Bem… Fora o título?

(…)

Toin-oin-oin-oiiiiim.

Isso, fora o título. A ideia aqui é apresentar o contexto em torno de cada um desses pretendentes, o que cada um vai levar para a quadra, em termos de trunfos (são muitos, afinal foram os times que sobreviveram a uma dura linha de corte, acima de 28 adversários) e possíveis limitações (mantendo a lógica, poucas). É impossível apontar um favorito. Concordo absolutamente com o CEO da liga, Jordi Bertomeu: é 25% para cada um. Ou talvez 26% para o Real e 23,3% para os demais, nas contas de Andrei Kirilenko, o craque do CSKA que anunciou que vai se despedir das quadras ao final da temporada. “As chances no Final Four são basicamente iguais para os quatro times. Não posso dizer que um time seja completamente melhor que o outro, diferentemente do ano passado, quando o Maccabi parecia correr por fora. Talvez o Real Madrid ganhe 1% a mais de chance que o resto por estarem em casa, mas acho que cada equipe que chegou aqui mereceu isso, e vão ser dois duelos muito interessantes para os torcedores”, diz o russo.

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Simbora:

Real Madrid

Real, pela nona taça. Agora vai?

Real, pela nona taça. Agora vai?

O que joga a favor: joga em casa… tem dois armadores fantásticos que se chamam Sergio, dinâmicos, agressivos, que se complementam muito bem e são um terror em transição – o elenco todo é formidável, mas a chave para o sucesso recente do Real passa por essa dupla, que oferece tanto no ataque (chute, infiltração, passe) e na defesa (pressão em cima da bola o tempo todo)…  O estilo de Rodríguez e Llull se encaixa perfeitamente com o de Rudy Fernández, ala atlético, talentoso e conhecido por sua capacidade de improvisar em momentos mais apertados, desde que 100% bem fisicamente, tendo sofrido uma torção no tornozelo em 30 de abril. “Não vou falar sobre minha lesão, pois me sinto bem”, disse… A liderança de Felipe Reyes, que realizou sua melhor temporada em muito tempo, com muita consistência e produção elevada em minutos controlados… O espírito combativo de Andrés Nocioni… O pacote multiuso de Gustavo Ayón… Muitas opções no banco de reservas.

O que estaria contra? Hã… jogar em casa? Sacumé, né? Jogar em casa coloca sua torcida ao seu lado, mas sempre vai levantar o receio de que não se pode decepcioná-la. No caso dos merengues especificamente, a tensão é muito maior pelo fato de o time ter perdido as últimas duas decisões, e de virada. Para os que acompanham o futebol tão bem como basquete, vão se lembrar de toda a expectativa que cercava a decisão da Champions League passada, contra o Atlético de Madrid. Toda a expectativa pela décima. Pois no basquete temos um cenário parecido, a busca pela novena, com hashtag #APorLaNovena, e tudo – o Real é o clube que mais venceu a Euroliga, mas não levanta a taça desde 1995. “Todo mundo nos está pedindo para ganhar o Final Four. Jogamos em cas, perdemos as últimas duas finais”, afirma o capitão Felipe Reyes. O veterano pivô ainda citou o fato de os rapazes do futebol terem caído frente a Juventus pelas semis da Champions como um fator a mais de pressão.

Fenerbahçe

O Fener de Bogdan-Bogdan silenciou os campeões do Maccabi nas quartas

O Fener de Bogdan-Bogdan silenciou os campeões do Maccabi nas quartas

O que joga a favor: Zeljko Obradovic, sem dúvida nenhuma. O sérvio busca sua própria novena, e por um quinto clube. Um dos times que guiou rumo ao título roi justamente o Real. Sabe quando? Sí, sí: em 1995. Será que seus jogadores e os torcedores do Fener confiam no seu poder de liderança e conhecimentos do riscado? Com a palavra, o ala-armador Bogdan Bogdanovic, seu jovem compatriota: “O técnico deixa tudo mais fácil para que possamos nos concentrar no jogo. Ele deixa tudo mais fácil”… Aliás, ‘Zoc’ estava totalmente à vontade na coletiva de apresentação do F4 nesta quinta, transformando o evento numa apresentação só sua de standup comedy. Quando soube que Nemanja Bjelica foi eleito o MVP da temporada, tirou uma com seu craque. “Nemanja pode jogar em qualquer posição, fazer qualquer coisa em quadra… Então, Nemanja, prove isso para mim na semifinal”, exclamou, dando aquele tapinha no ombro do compatriota. Sobre o Real de Pablo Laso? “O time gosta de correr, jogadas individuais, isoladas, marcação box com um, pressão quadra toda…. Mais alguma coisa, Pablo?”, sorriu para o adversário e ex-pupilo, um dos campeões de 95. Depois, falou mais sério e com toda a confiança da Sérvia: “Vi quase todas as partidas do Real Madrid nesta temporada: estamos preparados para enfrentá-los”…. Obradovic também tem ao seu dispor um elenco caríssimo e ainda mais versátil que o do oponente, com alas-pivôs (muito) altos, (muito) ágeis e (consideravelmente) habilidosos… Entre eles o MVP Bjelica… O Fener enfim conseguiu reunir suas peças estreladas num só time, crescendo muito durante a competição até varrer o Maccabi Tel Aviv pelas quartas de final, algo dificílimo de se fazer.

O que joga contra? Claro que qualquer um dos times que entram em quadra neste final de semana estarão pressionados. Mas, se fosse fazer um ranking, colocaria o Fener em segundo, a despeito dos traumas do CSKA (mais abaixo). Pois nenhum time turco jamais conquistou a Euroliga, e o investimento do país na modalidade tem sido dos maiores, se não o maior da Europa. A competição é patrocinada pela Turkish Airlines, por exemplo. E mais: o quanto Obradovic teria de paciência para seguir com o projeto adiante no caso de uma derrota neste ano? Não é fácil alcançar essa fase… O Fener tenta levantar o caneco, mas só terá dois jogadores em seu elenco com experiência nesse tipo de situaçao: Nikos Zisis e Jan Vesely. O quanto a cancha de um treinador pode compensar a sensação de novidade para seus atletas? Não que seja um elenco jovem. Mas um clima de F4 é outra história… A rotação de armadores ficou enfraquecida depois da lesão de Ricky Hickman, justamente um cara que foi campeão pelo Maccabi no ano passado.

CSKA Moscou

Kirilenko, perto do fim

Kirilenko, perto do fim

O que joga a favor: a melhor campanha de todo o campeonato, com 25 vitórias e apenas três derrotas, tendo engatado inclusive uma sequência de 15 triunfos consecutivos… Dimitris Itoudis pode ser um treinador principal estreante num Final Four, mas conquistou cinco títulos de Euroliga sendo o braço direito de Obradovic no Panathinaikos… Andrei Kirilenko está em ótima forma física, uma notícia excepcional para o basquete como um todo, que já o tinha como um ex-jogador em atividade devido a tantos problemas físicos que teve em sua curta passagem pelo Brooklyn… E é um AK-47 motivado, já decidido a se aposentar ao final do campeonato, buscando um troféu inédito para seu grande currículo. “Ele se uniu ao time pefeitamente. É surpreendente o quão bem está jogando. É a peça que nos faltava para ganhar o Final Four. Ele merece uma Euroliga”, afirma o armador Aaron Jackson… O fato de o americano Jackson ser o terceiro armador na rotação de Itoudis também nos diz muito sobre o poderio deste elenco. Só mesmo um par Milos Teodosic/Nando De Colo para rivalizar com os Sérgios do Real. Ou até mesmo superá-los: nesta temporada, o sérvio foi eleito para o quinteto ideal, enquanto o francês descolou uma vaga na segunda equipe.

O que joga contra? As recentes decepções. Com seu orçamento invejável e um time sempre fortíssimo em quadra, o CSKA convive com um jejum de títulos desde 2008, com um troféu conquistado justamente em Madri. Desde então, só ficou fora do F4 em 2011, tendo sido vice-campeão em 2009 e 2012 e caído nas semis em 2010 e nos últimos dois anos. O revés mais dolorido sem dúvida foi contra o Olympiakos na final de 2012, com cesta de Georgios Printezis a 0s7 do fim… E eles voltam a enfrentar o Olympikaos nesta sexta, tendo de superar esse trauma psicológico agravado pela surra que tomaram do clube grego na semi de 2013… Agora, por que eles não estariam mais pressionados que o Fener, então? Simplesmente pelo fato de o clube moscovita ser gigante demais no mercado europeu, como presença constante na briga pelo título e também pelo fato de ter uma torcida bem… Morna – e, de certa forma, mimada. O Palacio de Deportes de la Comunidad de Madrid (ou Barclay Card Center, desde julho de 2014…) vai bombar, e é provável que não se ouça nenhum pio dos russos nas arquibancadas, esmagados que serão pelos torcedores gregos. A cobrança vem muio mais de uma diretoria cheia de pompa.

Olympiakos

A celebração com Printezis na série dramática contra o Barça: cesta no estouro do cronômetro pelo Jogo 5

A celebração com Printezis na série dramática contra o Barça: cesta no estouro do cronômetro pelo Jogo 5

O que joga a favor: um núcleo formado por Vassilis Spanoulis, Printezis, Vangelis Mantzaris e Kostas Sloukas, que jogam junto há muito tempo e foram bicampeões em 2012-2013. Eles sabem o que é preciso fazer para chegar lá, não há dúvida, mostrando resiliência impressionante em ambas as conquistas, para derrubar times mais caros (CSKA e Real), correndo atrás do placar em ambas as decisões… Para tanto, contaram e contam com o poder de decisão de Spanoulis, já uma lenda viva do basquete europeu… Ser um azarão? É meio estranho se referir assim a um time que já conquistou dois títulos na década, mas, se o time não é uma surpresa nessa fase decisiva – tal como foi o Maccabi no ano passado –, em termos de poderio financeiro está claramente um degrau abaixo dos demais concorrentes. Além disso, as próprias conquistas já dão ao time uma proteção para qualquer eventualidade. “É o terceiro Final Four para nós em quatro anos, e não sei como. Acho que a pressão que sentimos agora é menor do que nos anteriores”, diz Printezis, também um matador na hora H ao seu modo, depois de bater o cronômetro mais uma vez nesta temporada em uma vitória emocionante sobre o Barcelona, no quinto e derradeiro jogo das quartas de final. “Ter menos pressão não significa que não estejamos preparados e com desejo de vencer de novo”, avisa.

O que joga contra: a dependência de Spanoulis para produzir no ataque. O craque sofreu novamente com problemas no joelho durante a campanha, chegando a perder um mês de jogos. Mantzaris assegura que seu companheiro e ídolo de adolescência está tinindo: “Acho que neste ano vi seu jogo ainda mais maduro. Essa é uma das razões pelas quais estamos aqui, e ele realmente está em ótima forma”, diz o armador… A rotação de pivôs é vulnerável. Os americanos Bryant Dunston e Othello Hunter jogam pesado e tendem a acumular faltas (na temporada, tiveram média, respectivamente, de 3,0 e 2,6 por jogo). Depois deles, a terceira opção seria Vasileios Kavvadas, de 24 anos e que disputou apenas 11 jogos durante a temporada – não está preparado para um evento desses.

Os confrontos
CSKA x Olympiakos, 13 h (horário de Brasília): o aspecto psicológico já explanado acima é o componente mais intrigante da partida, não há dúvida. Cinco jogadores do CSKA (Kirilenko, Khryapa, Teodosic, Kaun e Vorontsevich) estavam em quadra durante o colapso de 2012, quando a equipe vencia a decisão por 19 pontos no terceiro período até ser derrotada por 62 a 51. Um episódio desses poderia servir para motivá-los a dar o troco, mas não dá para esquecer que logo no ano seguinte eles se reencontraram, e deu lavada do time de Pireus: 69 a 52.

Se formos reparar em ambos os placares, nota-se um escore baixo. É a receita de jogo que o Olympiakos vai tentar – e precisa – repetir nesta sexta, para poder desbancar os russos. Para tanto, ajuda o fato de terem a melhor defesa da competição. “Qualquer um pode ver por nossas estatísticas que começamos a partir da defesa, mesmo”, diz Mantzaris. No ataque, cronômetro explorado até o fim, e as combinações de pick and roll de sempre com Spanoulis, se aproveitando do corta-luz de figuras atléticas e vigorosas como Dunston e Hunter e rodeado por grandes arremessadores como Lojeski e Sloukas. Se o time grego não conseguir impor esse ritmo lento para a partida, tende a se lascar. “Acho que estamos na melhor forma possível. O Olympiakos é obviamente um dos times mais duros da Euroliga. Eles te forçam a jogar fora da sua zona de conforto, com um jogo amarrado.

O CSKA de Itoudis tem um plano tático muito mais aberto que o de Ettore Messina, para construir o melhor ataque da competição, com um jogo mortal em transição. Em meia quadra, porém, o time é igualmente eficiente, com o melhor aproveitamento de três pontos da competição (41,85%!), diversos atletas de excelente corte para a cesta (De Colo, Jackson, Weems, Hines) e toda a inteligência nos deslocamentos fora da bola de Kirilenko. Dá muito trabalho vigiar o veterano russo e ao mesmo tempo cuidar para que os chutadores não se desmarquem. Como se não fosse o bastante, é preciso cuidado com a tábua defensiva. “Algo importante para nós é o rebote, porque eles têm vários caras grandes que atacam a tabela, especialmente com Kirilenko na posição 3”, admite Hunter.

Real Madrid x Fenerbahçe: um confronto muito, mas muito intrigante. Os dois times têm capacidade de correr pela quadra toda, mas meu palpite é de que Obradovic vai querer desacelerar as coisas. Afinal, é com a transição a mil por hora que o Real pratica seu melhor basquete, e eles estarão jogando energizados pelo apoio da torcida. Então que tal forçá-los a jogar em meia quadra, numa partida de mínimos detalhes, e tentar usar a pressão do público a seu favor? Foi um estilo praticado pelo Fener  na reta final da temporada, com resultados excepcionais: 13 vitórias nos últimos 14 jogos. Detalhe: o time turco já venceu CSKA, Olympiakos e Maccabi Tel Aviv como visitante.

A grande questão para os turcos será a defesa contra Rodríguez e Llull. O garoto Kenan Sipahi, de 19 anos, pode ter grande responsabilidade para tentar parar um deles, ajudando Zisis e Andrew Goudelock. “Temos de afastá-los da linha de três pontos e também pará-los em transição. Precisamos bagunçar com a intensidade deles”, diz o cestinha americano. O melhor mesmo, é traçar uma estratégia coletiva para conter esses armadores inventivos e fogosos, com a ajuda de uma linha de frente bastante flexível, com Bjelica, Vesely, Preldzic e mesmo Erden. O que não quer dizer que os armadores do Real também não tenham preocupações defensivas. Algum deles vai ter de vigiar Goudelock de perto, mas bem de perto, mesmo. O mínimo de espaço é suficiente para o “MiniMamba” castigar do perímetro. Longe da cesta, vai ser bacana de ver o embate entre Rudy Fernández e Bogdan-Bogdanovic tabém. Isso se Obradovic não apelar a formações mais altas com Preldzic.
Esse grupo, inclusive, leva uma vantagem atlética considerável em relação aos pivôs do Real, cuja maioria é de jogo terrestre. Para combatê-los, o americano Marcus Slaughter deve ter um papel relevante. Os fundamentos de bloqueio e movimentação de pés de Reyes e Ayón serão muito exigidos para a coleta dos rebotes. Além disso, fica a questão sobre como os merengues vão reagir no momento em que Bjelica tiver a bola na cabeça do garrafão para a atacar a cesta de frente, com muito mais mobilidade. “Eles têm um jogador 4 que joga como armador. É um aspecto diferente na Europa. Não são muitos os jogadores que conseguem fazer o que o MVP faz”, diz Slaughter.


O Final Four 2015 da Euroliga em números
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Giancarlo Giampietro

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A maior competição de basquete do mundo (Fiba) aguarda um novo campeão. Nesta sexta-feira temos as semis, com o anfitrião Real Madrid, bastante pressionado, enfrentando o estreante Fenerbahçe, do legendário Zeljko Obradovic, enquanto o CSKA Moscou reencontra um pesadelo na forma de Olympiakos, clube pelo qual foi derrotado de maneira inacreditável na decisão de 2012.

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A disputa por medalhas acontece domingo. Antes de falar sobre os jogos em si, seus principais personagens e tal, segue um apanhado estatístico sobre o evento. #F4Glory:

17 – É a soma de títulos entre os quatro candidatos deste ano, com o Real puxando a fila, com oito, seguido por CSKA (seis) e Olympiakos (três). O Fenerbahçe luta pelo caneco pela primeira vez. O detalhe é que o Real não ganha a parada desde 1995, quando era dirigido por Zoc Obradovic, justamente o atual comandante do Fener.

16 – Os jogadores que já tiveram passagem pela NBA e que estão relacionados para os próximos quatro jogos. O clube que tem mais representantes nesse sentido é o CSKA Moscou, com Andrei Kirilenko (ele, mesmo), Nando De Colo (Spurs, Raptors), Demetris Nichols (Cavs, Bulls e Knicks), Sonny Weems (Raptors e Nuggets), e Victor Khryapa (Bulls, Blazers, alguém com quem a liga não teve paciência, infelizmente). Sempre com o asterisco de que nem sempre o selo da liga americana vale para alguma coisa no cenário europeu. Que o diga a dupla do Olympiakos Vassilis Spanoulis e Oliver Lafayette. Enquanto o genial armador grego foi desprezado de modo inacreditável por Jeff Van Gundy durante toda uma temporada em Houston, Lafayette, hoje da seleção croata, fez apenas uma partida em sua vida pelo Boston Celtics. Então o conceito de NBA é relativo: tanto Spanoulis merecia muito mais chances no time de Yao e T-Mac, como Lafayette passou batido por lá e só foi se desenvolver na Europa, mesmo.

AK 47 reencontra o Olympiakos após frustração em 2012

AK 47 reencontra o Olympiakos após frustração em 2012

15 – Levando em conta os atletas utilizados durante a campanha, o elenco dos quatro semifinalistas reúne 15 nacionalidades diferentes. A pátria com mais representantes numa Euroliga? Os Estados Unidos da América, claro, com um contingente de também 15 jogadores: Weems, Nichols, Aaron Jackson, Kyle Hines (CSKA); Andrew Goudelock, Ricky Hickman (Fenerbahçe); KC Rivers, Marcus Slaughter, Jaycee Carroll (Real Madrid); Brent Petway, Othello Hunter, Bryant Dunston, Lafayette e Tremmell Darden (Olympiakos). Os demais: 12 gregos, oito turcos, oito russos, quatro espanhóis, três sérvios, dois argentinos (nossos amigos Nocioni e Campazzo, ambos do Real). O resto aparece com um cada: Croácia, França, Lituânia, México, Bielorrússia, Geórgia, República Tcheca e Tunísia. Com a eliminação do Barça de Huertas, pelas quartas de final, e do Limoges de JP Batista, pela primeira fase), não restou nenhum brasileiro – no evento principal, no caso, pois nas finais do torneio juvenil, o Adidas Next Generation tournament, consta o pirulão Felipe dos Anjos, de 17 anos, pivô de 2,18 m do Real Madrid.

14 – Este é o 14º Final Four da carreira de Obradovic, o técnico do Fenerbahçe, com seis clubes diferentes, sendo o recordista disparado em ambos os quesitos. Em suas 13 tentativas anteriores, ganhou impressionantes oito títulos. Se fosse um clube, estaria empatado com o Real Madrid, o único octocampeão. Foi bem-sucedido com o Partizan Belgrado em 1992, o Joventut Badalona em 1994, o Real Madrid em 1995 e o Panathinaikos em 2000, 2002, 2007, 2009 e 2011. Tá bom? A única equipe que o sérvio falhou em levar ao F4 foi o Benetton Treviso, em 1998. Em termos de equipes, o CSKA Moscou é aquela que mais disputou as semis da Euroliga, chegando perto do título também em 14 ocasiões – no formato moderno, de 1988 para cá, já contando esta edição. Triunfou em 2005, 06 e 08. O Olympiakos tem dez aparições, enquanto o Real Madrid, oito. Entre os atletas, Victor Khryapa, um ícone do clube, chega ao seu décimo.

Zoc de novo, agora pelo Fener

Zoc de novo, agora pelo Fener

10 – Na revanche entre CSKA e Olympiakos, estarão presentes em quadra nove atletas que disputaram a histórica decisão de 2012, decidida com uma bola de Georgios Printezis no estouro do cronômetro. O próprio Printezis segue defendendo o clube grego, ao lado dos compatriotas Spanoulis, Vangelis Mantzaris e Kostas Sloukas. Pelo fronte russo, temos Kirilenko (que saiu e voltou, após passagens por Minnesota e Brooklyn), Khryapa, Teodosic, Sasha Kaun e Andrey Vorontsevich, além do pivô norte-americano Hines, que vive um momento especial, ou estranho, campeão há três anos e que virou a casaca.

7 – A Euroliga já anunciou as seleções da temporada. Dos 10 jogadores apontados, sete vão jogar o Final Four: Milos Teodosic (CKSA), Spanoulis (Olympiakos), Bjelica (Fenerbahçe) e Felipe Reyes (Real Madrid) no primeiro time, enquanto Nando De Colo (CSKA), Andrew Goudelock (Fener) e Rudy Fernández (Real) aparecem na segunda equipe. O gigante sérvio Boban Marjanovic, do Estrela Vermelha, completa o quinteto ideal, enquanto a segunda unidade conta ainda com o ala Devin Smith, do Maccabi Tel Aviv, e com o pivô croata Ante Tomic, do Barcelona.

Spanoulis, Teodosic, Bjelica, Reyes e Marjanovic

Spanoulis, Teodosic, Bjelica, Reyes e Marjanovic

6 – Os clubes da NBA possuem os direitos sobre meia dúzia de atletas dos quatro melhores clubes da temporada europeia. Caras que já foram draftados no passado, mas que ainda não cruzaram o Atlântico. São eles: Sasha Kaun (30 anos, CSKA/56º em 2008, pelo Cavs); Emir Preldzic (27 anos, Fenerbahçe/57º  em 2009, pelo Cavs, mas cujos direitos hoje pertencem ao Mavericks); Nemanja Bjelica (27 anos, Fenerbahçe/35º em 2010, pelo Minnesota Timberwolves); Bogdan Bogdanovic (22 anos, Fenerbahçe/27º pelo Suns, em 2014); Georgios Printezis (30, Olympiakos/ 58º em 2007, pelo Raptors, mas cujos direitos hoje pertencem ao Hawks; Sergio Llull (Real Madrid/34º pelo Rockets, em 2009).

 4 – A superpotência CSKA chega ao seu quarto Final Four consecutivo, tendo terminado em segundo, terceiro e quarto, respectivamente, nas últimas três edições. Após dois vice-campeonatos, o Real joga pela terceira vez seguida, enquanto o Olympiakos retorna após o bi de 2012 e 2013.

PS: O canal Sports+ transmite o Final Four da Euroliga com exclusividade. Estou nessa com a companhia dos chapas Ricardo Bulgarelli, Maurício Bonato e Rafael Spinelli.


Euroligado: que comecem as batalhas
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Giancarlo Giampietro

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A Euroliga abre nesta terça-feira sua fase de playoffs, sem grandes surpresas entre os oito finalistas. Agora o que isso quer dizer? Que a tendência é que tenhamos alguns confrontos bastante equilibrados na fase de quartas de final, com camisas de peso em quadra – são 31 títulos acumulados entre os participantes.

Mas obviamente não é só isso. Não adianta ter a sala cheia de troféus do passado. E os elencos que vão para a quadra nestes playoffs são, em geral, estelares. São 26 jogadores com experiência de NBA (sem contar os diversos atletas que já foram Draftados e eventualmente farão a transição), além de 29 atletas que disputaram a Copa do Mundo do ano passado.

(Embora aqui valha uma observação: há casos como o do armador americano-croata Oliver Lafayette, que disputou apenas uma só partida pelo Boston Celtics. A NBA está em seu currículo, fato. Mas quem vai dizer que isso significa mais do que todos os prêmios e títulos de uma lenda viva como Dimitris Diamantidis, que nunca pensou em jogar nos Estados Unidos? Enfim, a sigla é valiosa, mas não significa tudo na carreira de alguns caras.)

>> A cobertura da Euroliga 2014-2015 no VinteUm
>> A temporada europeia de Marcelinho Huertas

Nesta terça, a brincadeira começa com o CSKA e o Fener jogando em casa. Na quarta, entram os gigantes espanhóis em cena, também com mando de quadra. O Sports+, canal 228 da SKY, vai transmitir tudo com exclusividade. Vou comentar a primeira leva de jogos. Como gosta de dizer o companheiro Decimar Leite, é a melhor competição de basquete do mundo. Já que a NBA não conta.

Sem mais delongas, algumas observações sobre as séries:

CSKA MOSCOU X PANATHINAIKOS

– Títulos: 6 para cada um.
Passagem pela NBA: Nando De Colo, Sonny Weems, Andrei Kirilenko, Viktor Khryapa, Demetris Nichols (CSKA); Esteban Batista, DeMarcus Nelson, Antonis Fotsis, Gani Lawal (Panathinaikos).
Na Copa do Mundo: Milos Teodosic (CSKA). PS: a Rússia ficou fora, né? Em Londres 2012, 5 atletas do CSKA foram medalhistas de bronze; já o legendário Dimitris Diamantidis se aposentou da seleção grega.
Campanha: CSKA 22-2; Panathinaikos 12-12.

Como podemos notar pela discrepância entre as campanhas de ambos, dá para dizer que este deve ser o confronto menos equilibrado. Não duvido que pinte uma varrida para o clube moscovita, que só perdeu um jogo para Fenerbahçe e outro para Olympiakos – isto é, perdeu para quem podia, na fase Top 16. É um CSKA muito mais forte que o do ano passado, quando precisou do quinto jogo para despachar o mesmo Panathinaikos pelas quartas de final. É a única revanche aqui.

O time de Dimitris Itoudis chegou a vencer 15 partidas consecutivas nesta temporada. No geral, termina com o melhor aproveitamento da fase de grupos, com impressionantes 91,6%. Tem sido um trabalho excepcional do treinador grego, que, até o momento, perdeu apenas cinco partidas na temporada – as outras três aconteceram pela Liga VTB, o equivalente ao campeonato russo nesses dias, mas com participação especial de tchecos, letãos, estonianos e outro).

Está certo que o técnico tem um timaço ao seu dispor. Basta reparar com mais atenção nos nomes citados acima. É sempre um desafio pegar tantos jogadores de ponta e cuidar da química em quadra. Pegue um cara como Andrei Vorontsevich, por exemplo. O ala-pivô fez um grande campeonato. Na reta final, porém, teve de aceitar o retorno de Andrei Kirilenko, vindo da NBA, e de Victor Khryapa, recuperado de lesão. Apenas os principais nomes do basquete russo hoje, prontos para receber uma boa carga de minutos.

Desta forma, não deixa de ser curioso que o Panathinaikos, justamente o clube que deixou Itoudis escapar de seus domínios, vá agora testar suas habilidades de estrategista num mata-mata. Em Atenas, o grego foi braço direito de Zeljko Obradovic por 13 anos. Não se sabe se o clube grego permitiu sua saída sem muito esforço, ou se o treinador não tinha a intenção de seguir por lá depois de tanto tempo, mesmo que fosse o assistente.

O comandante da vez do Panathinaikos é o sérvio Dusko Ivanovic, bastante experiente e competente. Mas o treinador vai ter de fazer um dos melhores trabalhos de sua carreira para derrubar o CSKA, um time que tem mais velocidade, mais tamanho e mais elenco. Chumbo grosso. Para ter alguma chance, o time grego vai precisar defender demais e ainda converter seus arremessos de três pontos com um aproveitamento superior aos 37,6% que teve até agora – os russos mataram 41%. Pelo menos um entre os jovens Nikos Pappas e Vlantimir Giankovits também deve jogar em alto nível, para fortalecer a rotação de Ivanovic. Pappas, por exemplo, teve uma exibição incrível na melhor partida dos verdes na temporada, quando trucidaram o Real Madrid em Atenas. Duro é repetir esse padrão por pelo menos três partidas na série melhor-de-cinco.

Dimitris Diamantidis ainda tem um truque ou outro para oferecer como marcador, mesmo um passo mais lento. Isso se deve ao seu tamanho, envergadura e, claro, inteligência. Talvez seja o responsável por marcar Milos Teodosic, que faz a melhor Euroliga de sua vida. O sérvio, porém, não é a única força criativa no elenco dos russos. Nando De Colo também curte ótima fase, enquanto Sonny Weems, refugo do Denver Nuggets e do Toronto Raptors, se fixou com um dos grandes alas do basquete europeu. Para não falar do arranque do armador Aaron Jackson.

FENERBAHÇE X MACCABI TEL AVIV

Títulos: 6 para Maccabi, 0 para Fener.
Passagem pela NBA: Andrew Goudelock, Semih Erden, Jan Vesey (Fener); Jeremy Pargo, Joe Alexander (Maccabi).
Na Copa do Mundo: Bogdan Bogdanovic, Nemanja Bjelica, Emir Preldzic, Oguz Savas, Luka Zoric, Nikos Zisis (Fener).
Campanha: Fener 19-5; Maccabi 16-8.

No papel, também é difícil de imaginar o Maccabi fazendo frente ao Fenerbahçe. Por outro lado, este embate talvez sugira aquele debate de sempre sobre o peso da tradição num mata-mata. É muito simples dizer, por exemplo, que no ano passado o Olimpia Milano fraquejado contra os israelenses, caindo nesta mesma fase e abrindo caminho para o título da equipe então dirigida por David Blatt.

Que Blatt tenha acertado sua rotação externa, encontrando o papel ideal para o tampinha Tyrese Rice, que os veteranos Guy Pnini e David Blu tenham esquentado a mão nos arremessos de três pontos e qualquer outra sacada tática parecida não importar. Porque é sempre mais fácil falar de coragem, coração, garra – ou, claro, de amarelar, porque é sempre mais prazeroso, hoje em dia, detonar alguém.

De qualquer forma, o Fener realmente entra pressionado – apenas o Real Madrid tem responsabilidade maior. O clube investe demais há pelo menos três anos para tentar ser o primeiro clube turco a enfim conquistar a Euroliga. Esse é um fator que não pode ser subestimado. Considere que a maior companhia aérea do país é o principal patrocinador da competição. A primeira barreira, no entanto, já foi rompida: a equipe não disputava os playoffs há sete anos.

Foi para isso que eles contrataram Obradovic, o técnico com o assombroso currículo de oito títulos continentais. O sérvio teve carta branca para contratar quem bem entendesse, incluindo o armador Nikos Zisis já durante a temporada. Com o grego no seu elenco, o time ganhou estabilidade e consistência. Especialmente em jogos mais cadenciados. Sua presença se tornou ainda mais importante depois da lesão de Ricky Hickman – justamente o armador ex-Maccabi, o único atleta do elenco que já ergueu a taça. A despeito de o elenco ser caríssimo, a rotação de armadores ficaria seriamente comprometida sem ele. Ainda assim, o jovem Kenan Sipahi, de apenas 19 anos, ainda terá seus nervos testados aqui e ali. Se não estiver bem, é de se imaginar que o faz-tudo Emir Preldzic, um ala de 2,06 m, e Bogdan Bogdanovic conduzam a bola para dar um descanso ao titular.

O Fener continua tendo muita versatilidade em seu jogo. Tem pivôs altos, fortes e rodados como Savas e Erden para trombar com Sofoklis Schortsanitis e também tem espigões flexíveis como Jan Vesely e Nemanja Bjelica, que deverão fazer duelos interessantíssimos com Alex Tyus, Joe Alexander (aquele, ex-Bucks e Bulls) e Brian Randle, três dos homens de garrafão mais explosivos do campeonato. Bjelica merece uma vaga no quinteto ideal da competição, com um empenho notável nos rebotes, para não falar de toda a sua versatilidade no ataque.

Para o Maccabi, a corrida parece o melhor caminho, mesmo. Espaçar a quadra e procurar definições rápidas antes que a agora poderosa defesa turca se estabeleça. Para isso, depende bastante da criatividade e do temperamento do armador Jeremy Pargo. O torcedor do Flamengo se lembra dele, né?

A questão é que o americano perdeu muito do seu rendimento no decorrer da temporada. Por vezes, tenta o lance mais difícil e se atrapalha. Obviamente, o clube israelense espera contar mais com seus altos (quando está agredindo as defesas, invadindo o garrafão e servindo aos pivôs) do que os baixos (quando força a barra nos arremessos de três pontos e ignora os companheiros de modo inexplicável, uma vez que acerta apenas 28% dos chutes de fora). Num duelo com Andrew Goudelock, um cestinha muito mais qualificado, pode se perder caso queira “ralar” em quadra.

Outro embate interessante deve acontecer entre o jovem Bogdan-Bogdan e o veterano Devin Smith, um dos destaques do campeonato. Aos32 anos, o americano disputa a sua melhor Euroliga e teve seu contrato renovado até 2018. Na atual configuração do clube, é um dos poucos remanescentes da rotação que ganhou o título ano passado, ao lado de Schortsanitis, Tyus e do sempre regular Yogev Ohayon. E chega aos mata-matas com a confiança lá em cima, após ter anotado 50 pontos nas últimas duas rodadas para classificar o Maccabi. O ala-armador sérvio, contudo, tem muita personalidade e talento para lhe fazer frente.

A torcida em Tel Aviv está acostumada com grandes e tensas batalhas. A de Istambul, no basquete, nem tanto. Se o Fener perder um dos dois primeiros jogos, como vai reagir? Se depender de seu retrospecto como visitante, não será problema: o clube venceu 10 de 12 partidas fora, ficando cinco meses invicto nessas condições.

BARCELONA X OLYMPIAKOS

– Títulos: 3 Olympiakos, 2 Barça.
Passagem pela NBA: Juan Carlos Navarro, Maciej Lampe, Bostjan Nachbar (Barça); Othello Hunter, Vassilis Spanoulis, Oliver Lafayette (Olympiakos).
Na Copa do Mundo: Alejandro Abrines, Edwin Jackson, Mario Hezonja, Marcelinho Huertas, Ante Tomic, Navarro (Barça); Kostas Sloukas, Vangelis Mantzaris, Georgios Printezis, Lafayette (Olympiakos).
Campanha: Barça 20-4; Olympiakos 18-6.

Do ponto de vista brasileiro, a prioridade aqui é monitorar o desfecho de temporada de Marcelinho Huertas, que foi para o banco do jovem Tomas Satoransky em fevereiro e viu sua produção despencar desde então. Nas últimas oito rodadas, o brasileiro anotou 33 pontos e distribuiu 26 assistências. Seja por baixa confiança ou devido a problemas físicos, acertou nestes mesmos jogos apenas 8 em 22 arremessos de dois pontos e 4 em 22 de longa distância. Individualmente, talvez seja sua pior fase com a camisa blaugrana. Contraditoriamente, depois de ter jogado muito na virada da primeira fase para o Top 16.

A queda de rendimento do antigo titular, porém, não abalou o sistema ofensivo do clube catalão que venceu todas essas oito partidas e só não atingiu a casa de 80 pontos no triunfo sobre o Estrela Vermelha (77 a 73). Com Satoransky, Xavier Pascual ainda ganha um defensor mais ágil e mais comprido em seu perímetro, resguardando Juan Carlos Navarro. Isto é: fica difícil de imaginar uma alteração aqui. Quer um resumo de como foi a temporada do brasileiro?

A grande atuação de Huertas contra o Fenerbahçe

Huertas vai reagir nos playoffs?

Caberá muito provavelmente ao tcheco e ao americano Brad Oleson, aliás, a grande missão da série: brecar Vassilis Spanoulis. Afinal, a importância do armador grego para sua equipe já se tornou um mantra da Euroliga: o Olympiakos só vai até onde o astro puder carregá-lo. Pelo segundo ano seguido, no entanto, o clube de Pireus vê sua grande referência chegar aos mata-matas longe de sua melhor forma. Está afastado das quadras desde o dia 13 de março, mas treinou por uma semana e vai para o jogo em Barcelona. A questão é saber qual o seu estado físico. Terá estabilidade e explosão para coordenar o jogo de pick-and-roll que faz tão bem? Todo o sistema ofensivo depende de seu talento para isso. A ideia é que ele quebre a primeira linha defensiva e vá lá dentro para atacar a cesta, municiar seus pivôs atléticos ou abrir a bola na zona morta para o tiro de três.

Se não conseguir ganhar o garrafão, Spanoulis acaba virando um mortal – ainda com um arremesso perigoso e boa visão de quadra, mas um mortal. Nesse cenário, cresce a relevância do americano-belga Matt Lojeski, um grande chutador (46,3% de três), que deveria até mesmo ser mais envolvido no plano de jogo da equipe. Oliver Lafayette, mais um armador americano-croata, também teria maior responsabilidade, uma vez que Kostas Sloukas não curte seu melhor momento. Fica aqui, de qualquer forma, pelo bem do basquete, a torcida para que o camisa 7 alvirrubro esteja bem. Afinal, pode ser um dos seus últimos duelos com “La Bomba”. Navarro e ele ocupam, respectivamente, as primeira e terceira posições no ranking de cestinhas da Euroliga.


A chave para o Olympiakos parece estar nessa turma de perímetro, mesmo. Que eles conseguirem um rendimento superior ao de seus concorrentes. No garrafão, a despeito da instigante diferença de perfis a estatura, técnica e leveza de Ante Tomic e Tibor Pleiss e a velocidade, força física e impulsão de Bryant Dunston e Othello Hunter, o Barça deve levar vantagem. A tendência é a de jogos amarrados, decididos em meia quadra. O Olympiakos teve a segunda melhor defesa do campeonato, enquanto o Barça teve a quinta.

REAL MADRID X ANADOLU EFES

– Títulos: 8 para Real Madrid, 0 para Anadolu
– Passagem pela NBA: Rudy Fernández, Andrés Nocioni, Sérgio Rodríguez, Gustavo Ayón (Real); Nenad Krstic, Stephane Lasme (Anadolu).
– Na Copa do Mundo: Fernández, Nocioni, Rodríguez, Ayón, Ioannis Bourousis, Sérgio Lllull, Felipe Reyes, Facundo Campazzo, Jonas Maciulis (Real); Cedi Osman, Krstic, Thomas Heurtel, Dario Saric (Anadolu).
– Campanha: Real 19-5; Anadolu 12-12.

Os dois times já haviam se enfrentado na primeira fase, com uma vitória para cada lado. A diferença é que o Anadolu pastou para vencer em seu ginásio, por 75 a 73, com cesta da vitória em tapinha no último segundo de Matt Janning, enquanto, na volta, os espanhóis arrasaram: 90 a 70.


o clube espanhol, basicamente, é aquele que joga mais pressionado. Não só por ser o maior vencedor do campeonato europeu de basquete, com oito títulos, e não levantar uma taça desde 1995, mas também pelo fato de ter perdido as últimas duas e finais e, principalmente, por saber que Madri é a sede do Final Four deste ano. Imagine o desespero merengue num caso de eliminação? Tão questionado – de modo injusto, ao meu ver –, o técnico Pablo Laso não pode nem pensar nisso.

Algo vital: cuidar para que Rudy Fernández esteja inteiro e saudável para o confronto. O genioso e talentoso ala lesionou as costas em jogo contra o Zaragoza e não vai nem enfrentar o Barça no Superclássico de domingo. Se Sergio Rodríguez foi o MVP da temporada passada, na atual é Rudy quem tem dado as cartas pelo time, atacando com eficiência (12,8 pontos, 38,4% nos arremessos de três, 3,3 assistências x 1,3 turnover) e ajudando ainda mais na defesa, pressionando as linhas de passe com muito perigo. Ao dos Sérgios, promovem um abafa no perímetro, buscando a tomada de bola e a saída em velocidade. O Real perdeu Nikola Mirotic, mas ainda é muito eficiente no contra-ataque.

Controlar os turnovers é algo fundamental para o Anadolu de Dusan Ivkovic. Se o jogo fugir do controle, um abraço. O que pega é que o Real também tende a levar a melhor no jogo interior. Quer dizer: tudo vai girar em torno de Nenad Krstic, o veterano do Anadolu que vive excelente momento. Se o sérvio mantiver o pique e não se complicar com faltas, pode até inverter esse panorama. Do contrário, não haverá como competir com as numerosas opções madridistas – outro time que possui pivôs para todos os gostos (Bourousis é alto, forte e chuta de fora; Ayón é dos jogadores mais inteligentes que você vai encontrar em quadra e faz um pouco de tudo, e o mesmo pode ser dito sobre Reyes; Slaughter e Mejri entregam capacidade atlética e vigor).

Rudy Fernández, o líder do Real 2014-2015: mais basquete, menos teatro

Rudy Fernández, o líder do Real 2014-2015: mais basquete, menos teatro

Stephane Lasme pode ter feito boa partida contra o Fener na última rodada, mas claramente não é o mesmo jogador dos tempos de Panathinaikos, com mobilidade reduzida. O jovem Dario Saric, em seu primeiro campeonato de ponta, será testado por Gustavo Ayón e Andrés Nocioni – bons duelos para o Philadelphia 76ers observar. Milko Bjelica vai bem no ataque, com sua capacidade para colocar a bola no chão e atacar o aro, mas não tem muita disposição para os embates defensivos.

O pivô sérvio, ex-CSKA, Thunder, Celtics e Nets, vem com média de 14,6 pontos nas últimas seis rodadas, se tornando a referência ofensiva. Isso, aliás, representa quebra no padrão apresentado até então pelo clube turco, uma vez que, no geral, o ala grego Stratos Perperoglou ainda é o cestinha, com apenas 10,6 pontos. Essa quantia ínfima reforça a noção de uma equipe equilibrada, com diversas opções. Um time perigoso, mas sem tanto poder de fogo também.

Levou um tempo para o armador Thomas Heurtel se entrosar com seus novos companheiros, o que é natural: ele se transferiu do Laboral para o Anadolu em meio ao campeonato. O reforço vai precisar chegar ao auge, mesmo, contra Rodríguez e Llull, dois dos melhores armadores da Europa, que atazanam a vida de qualquer um no ataque e na defesa. Para tanto, conta com a ajuda de Dontaye Draper, ex-Real, ganha uma motivação a mais para ajudar seu companheiro francês. É um excelente defensor e conhece os rivais como poucos. Também por isso, sabe que tem uma tarefa ingrata pela frente. A dupla orquestra o ataque mais solidário da história da Euroliga, com 22,0 assistências em média por partida.

O Anadolu chega aos playoffs capengando, precisando de uma ajudinha do Unicaja Málaga até. Ninguém vai subestimar as capacidades de Ivkovic numa situação dessas. Mas admito que me espantaria ver o Real fora do Final Four. No retrospecto, o clube espanhol venceu 13 dos últimos 14 confrontos.


Euroligado: status quo nas quartas de final
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Giancarlo Giampietro

Devin Smith: 28 pontos (7/10 de três) e 7 rebotes para garantir o Maccabi em Berlim

Devin Smith: 28 pontos (7/10 de três) e 7 rebotes para garantir o Maccabi em Berlim

No final, depois de uma boa dose de suspense, a Euroliga chega aos seus playoffs com oito equipes tradicionalíssimas. Oito equipes que qualquer apostador talvez pudesse acertar sem problemas caso registrasse seus palpites no início da temporada. Não houve espaço para surpresas, de fato. Pelo Grupo E, passaram, pela ordem: Real Madrid, Barcelona, Maccabi Tel Aviv e Panathinaikos. Pelo Grupo F, tivemos CSKA Moscou, Fenerbahçe, Olympiakos e Anadolu Efes.

O cruzamento é o tradicional, agora: primeiro contra quarto, segundo contra terceiro, tendo mando de quadra os cabeças-de-chave 1 e 2. Dá o seguinte:

Real x Anadolu
Barça x Olympiakos
CSKA x Panathinaikos
Fener x Maccabi

Só jogaços, mesmo. Difícil até escolher qual a série mais intrigante. A princípio, talvez Barça x Olympiakos. Mas qualquer uma dessas séries pode chegar ao quinto e derradeiro jogo tranquilamente. Ou melhor: nem tão tranquilo assim, né? Com muito estresse para ambas as torcidas.

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Juntos, os oito finalistas somam 31 títulos continentais. Os únicos que não venceram a competição são Fenerbahçe e Anadolu Efes, a dupla turca. Isso pode apontar uma “falta de tradição” em suas camisas, é verdade. Mas não se iludam: são dois dos maiores orçamentos da Europa. Orçamento que valeu para tirar do ostracismo as mentes geniais dos sérvios Zeljko Obradovic e Dusan Ivkovic, técnicos que, por conta própria, somam dez troféus. São oito para “Zoc” e dois para o “Duda”, o aprendiz e o mentor, comandantes respectivamente de Fener e Anadolu.

Como chegamos aqui?

Bem, havia três vagas em aberto na última rodada, vocês sabem. No Grupo E, Maccabi e Panathinaikos se garantiram depois de o clube israelense ter vencido o Alba Berlin, fora de casa, por 73 a 64. Os visitantes, atuais campeões, controlaram o placar praticamente o jogo inteiro, mas tiveram de suar para assegurar o triunfo no quarto final. A quatro minutos do fim, a vantagem era apenas de três pontos. Foi aí que o ala Devin Smith desequilibrou as ações, com chutes de longa distância. O americano, que teve seu contrato renovado, será daqueles que, ao se aposentar, vai poder se estabelecer em Tel Aviv, caso queira, e virar dirigente/embaixador do clube.

Estrela está fora, mas se despede fazendo festa com sua torcida fanática

Estrela está fora, mas se despede fazendo festa com sua torcida fanática

Com o resultado, o Panathinaikos foi para a quadra em Belgrado já classificado. Ufa! Pois, no que dependia de seus próprios esforços, as coisas poderiam ter complicado: os gregos perderam para o jovem e eliminado Estrela Vermelha por 69 a 68. Tivesse o Alba vencido, e o revés na capital sérvia teria resultado em sua eliminação. Mas, ok, damos um desconto aos verdes: a sensação de relaxamento é inevitável – mesmo que eles tenham batalhado até o final da partida e saíram derrotados.

Foi mais uma grande exibição de Boban Marjanovic, com 12 pontos, 16 rebotes e 3 assistências. O gigante sérvio deveria receber o prêmio de MVP do campeonato – mas talvez fique para trás na votação devido ao fato de sua equipe ter parado no Top 16. Resta saber se o Estrela Vermelha vai conseguir manter sua base para a próxima temporada. Marjanovic, Nikola Kalinic (14 pontos e 4 rebotes), Luka Mitrovic (11 pontos, 8 rebotes, 6 assistências e 3 roubos de bola) e Jaka Blazic (11 pontos) são todos caras de muito futuro e que vão certamente chamar a atenção dos clubes mais ricos – ou mesmo da NBA.

Pelo Grupo F, somente a quarta vaga esteve em jogo, e o Anadolu precisou de uma tremenda força do Unicaja Málaga para evitar um vexame. Por mais que Ivkovic anunciasse que seu elenco estava sendo moldado para lutar pelo título daqui a um ano, cair na segunda fase seria um fiasco indiscutível.

No clássico turco, seu time foi derrotado pelo Fenerbahçe por 83 a 72. Foi um duelo muito parelho. O Fener, jogando em casa, abriu 11 pontos no primeiro quarto. Mas o Anadolu chegou a assumir a liderança, por 61 a 59, no quarto período. Acontece que os cestinhas Andrew Goudelock (24 pontos em 26 minutos, sensacional, acertando quase tudo que atirou para a cesta) e Bogdan Bogdanovic, nosso estimado Bogdan-Bogdan, (17 pontos) desequilibraram nos minutos finais. Para anotar: este foi o 37º duelo entre times dirigidos por Obradovic e Ivkovic. “Zoc”, que já foi armador de Ivkovic em seleções iugoslavas dos anos 80, agora leva a melhor no retrospecto, num retrospecto equilibradíssimo: 19 x 18.

Com isso, o Laboral Kutxa tinha a chance de completar sua reação minutos mais tarde. Mas o Málaga de Joan Plaza, lanterna da chave, mostrou caráter e competitividade diante de seus torcedores, vencendo por 93 a 84. O líder da Liga ACB controlou o placar do início ao fim. Ryan Toolson, sobrinho de Danny Ainge, marcou 17 pontos e comandou um ataque solidário, que teve todos os seus 12 jogadores relacionados fazendo ao menos uma cesta. Em grande fase, o ala-armador francês Fabien Causuer somou 21 pontos, 7 rebotes, 2 assistências e 2 roubos de bola em vão. Tivesse vencido, o clube basco avançaria.

Veja as 10 melhores jogadas da fase Top 16:


Por onde anda Scott Machado? Desbravando as quadras da Estônia
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Giancarlo Giampietro

Peraí: Estônia?!?!

Sim, a Estônia.

Vamos dar alguns segundinhos para você digerir a informação e, se quiser, checar exatamente no Atlas qual a sua posição geográfica.

(Tic-tac, tic-tac, tic-tac.)

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Pronto: o que achou?

Para mim, de primeira assim, posso dizer que qualquer coisa colada à Lituânia é bom negócio se estamos falando de basquete, não? Pois, então, se for assim, Scott Machado está muito bem. Em sua segunda temporada europeia, após breve passagem pela França, o mais gaúcho dos armadores nova-iorquinos foi parar no BC Kalev/Cramo, na capital Tallinn – e isso, a despeito do clima, não significa necessariamente uma fria. Em termos práticos, obviamente parece um tremendo retrocesso se for para comparar com Houston Rockets e Golden State Warriors, os times com os quais teve contrato na NBA. Mas vamos com calma. O Kalev pode não ter tanta tradição de glórias e conquistas e ídolos mil para além das fronteiras estonianas, mas tem agenda cheia e disputa três campeonatos nesta temporada, sendo que um deles é dos mais interessantes da Europa: a Liga VTB.

Para quem não está familiarizado, é uma competição engloba alguns dos melhores clubes dos países da antiga Cortina de Ferro, no Leste Europeu, com proeminência para os russos – a começar pelo CSKA Moscou, que venceu cinco de seis edições e descarta maiores apresentações, ao passo que o Nizhny Novgorod também se colocou entre os 16 melhores da Euroliga deste ano, em sua estreia, e que UNICS Kazan e Khimki Moscou estão nas semifinais da Eurocup, a segunda principal liga do continente. Quer dizer, se fosse apenas um campeonato russo, já seria difícil. Mas entram outros no páreo, numa simples e ótima ideia, e é nesse grupo que se encaixa a agremiação estoniana do brasileiro. Apenas os lituanos decidiram pular fora nesta temporada, desfalcando o campeonato de Zalgiris Kaunas, Lietuvos Rytas e Neptunas Klaipeda.

É um campeonato forte e mais rico que a média europeia, com direito a 28 jogadores que já atuaram na NBA, como Andrei Kirilenko, Victor Khryapa, Nando De Colo, Derrick Brown, James White e Anthony Randolph. Sem contar, claro, caras como Milos Teodosic, Sasha Kaun, Taylor Rochestie (cestinha da Euroliga), Petteri Koponen e Tyrese Rice, nomes evidentemente de elite, mas que nunca deram as caras na liga americana, por uma ou outra razão.

Scott Machado, BC Kalev, VTB League, armador, EuropaEm meio a tanta gente boa, o que Scott Machado anda aprontando? Em 26 partidas, tem 14,1 pontos, 7,9 assistências (mas com 4,2 turnovers, diga-se), 4,1 rebotes e 1,2 roubo de bola, em 33 minutos. Em termos de ranking geral, ele é o quarto em passes para cesta. Para além dos úmeros básicos, porém, há o que se destrinchar, pensando no que a gente já sabia a respeito do jogo do brasileiro. É o segundo em posses de bola que terminam em assistência, mas o sétimo nas que acabam com desperdício. Isso tem a ver com o fato de o ser 17º da liga em taxa de uso, daqueles que mais se envolvem com o que o time faz no ataque.

Uma deficiência que o atrapalhou bastante em sua tentativa de afirmação na NBA foi básica: nos arremessos. Se o jogo chama bola ao cesto, fica difícil, né? Bem, lá no Leste europeu, não dá para dizer que ele tenha sanado esse problema. No geral, tem convertido apenas 42,1% de suas tentativas de dois pontos e 30% de três. Quando você fatia a quadra, para saber exatamente de onde estão saindo esses chutes, vai perceber que Scott ao menos evita as bolas longas de dois pontos contestadas, uma boa medida (apenas 33 de seus 341 chutes, menos de 10%).

Acontece que, quando ganha o garrafão, buscando situações supostamente de maior probabilidade de acerto, o rendimento tem sido apenas de 38,4% (28/73) diante da cesta e de 47% nos tiros em flutuação dentro da zona pintada (54/115). No perímetro, porém, ele acaba arriscando muito mais em uma posição frontal ao aro (23/78, 29,5%), do que pelas alas, especialmente na zona morta, onde a distância encurta (13/42, 30,9%). Nota-se que o brasileiro fixou bem o padrão de jogo que lhe ensinaram em Houston, buscando arremessos mais eficientes. Resta convertê-los, o que não é mero detalhe.

Agora, não é só fazendo cesta que se influencia um jogo de basquete. Sinto que, mesmo num 1º de abril, isso já pode ser tratado como uma verdade absoluta entre nós, né? Ainda mais para um armador. Nesse ponto, pouco se discute em relação a sua capacidade de comandar uma equipe, devido a sua visão de quadra, altruísmo e disposição positiva em geral. Era o que apresentava em Iona, sua universidade nos Estados Unidos, e foi justamente isso que o levou a bateu à porta da NBA.

(Aliás, aqui um parêntese: pegamos muito no pé do jogador quando insistiu em buscar a liga norte-americana mesmo que poucas boas oportunidades surgissem, causando angústia. Com mais distanciamento, dá para pensar no outro lado: 1) é basicamente o sonho de qualquer jogador; 2) Houston, Oakland ou Salt Lake City, sua última escala, estão muito mais próximas de sua casa, de sua família do que a Tallinn, e dá para perceber que isso tem um baita peso para o jogador, ainda mais depois da trágica morte de seu pai; 3) são poucos os atletas que chegam ao estágio que ele alcançou, de ser bom o suficiente para ser considerado um prospecto para a liga americana, enquanto milhares de universitários não passam nem perto disso. De qualquer forma, mantenho: uma vez fora do Rockets, jogar na Europa seria a melhor via, mesmo.)

E Scott está liderando o Kalev em uma campanha de recuperação nas últimas semanas que pode garantir o time nos mata-matas, algo que seria inédito e uma façanha e tanto. Para se ter uma ideia, na temporada passada, quando os 20 participantes ainda eram separados em dois grupos, o time caiu ainda na primeira fase, com apenas 5 vitórias e 31 derrotas no geral.

O clube estoniano vem numa ascensão, com quatro vitórias seguidas, que coincidem precisamente com a melhor fase de seu armador. Em três dessas vitórias o gaúcho nova-iorquino terminou com double-doubles: 12 pontos e 11 assistências contra os Bisons, da Finlândia, 15 pontos e 12 assistências contra o Nymburk, da República Tcheca, e 13 pontos e 12 assistências contra o Tsmoki, da Bielorrússia, nesta quarta-feira. Só para não deixar passar batido: pode não ter garantido um duplo-duplo contra o Krasny Oktyabr (tradução: Outubro Vermelho, claro!), mas não está nada mal uma linha com 21 pontos e 9 assistências em um triunfo apertado por 82 a 80, no qual jogou todos os 40 minutos.

Scott Machado, Kalev Cramo, VTB League

O fato é que Machado carrega uma grande responsabilidade como principal força criativa do elenco, e aí que se precisa dar um desconto em seu elevado número de turnovers – nessa sequência positiva, foram 3,5, número ainda alto, mas já abaixo de sua média na temporada. Os adversários sabem que precisam pará-lo. Com todo o seu dinamismo em quadra, não dá para dizer que os desperdícios de posse de bola sejam um mal necessário. Sempre é bom evitá-los. Mas eles vêm num pacote geral do qual o Kalev está claramente se beneficiando com 15,2 pontos, 11,0 assistências, 5,5 rebotes e 3,0 roubos de bola, com mais palatáveis 36,8% nos tiros de três pontos e 51,8% nos arremessos de dois. Ainda mais quando registramos que, de 160 minutos de jogo, ele só descansou por pouco mais de 17 no total.

Importante dizer que as quatro vitórias vieram contra times que estão na parte baixa da tabela. De qualquer forma, foi feito o dever de casa. Observando um trecho mais complicado da tabela, entre os dias 5 de janeiro e 1º de fevereiro, no qual enfrentou CSKA, UNICS, Lokomotiv Kuban, Kimkhi e Nizhny, as estatísticas caíram um pouco: 11,8 pontos, 9,6 assistências, 6,0 assistências, 1,2 roubada, além de 3,6 turnovers (com direito a 9 contra o CSKA), com 31,5% de três pontos e alarmantes 37,1% de dois. No geral, todavia, a produção do armador aumentou em 2015, na segunda metade da temporada, e dá para dizer que isso tem a ver com o entrosamento com os companheiros e um entendimento maior sobre os adversários, sem contar a tal da adaptação. Hoje, até dá aula de culinária gratuita:

O legal aqui é que Scott está, ao seu modo, desbravando um território um tanto inóspito redescobrindo um território que andava recebendo poucos brasileiros – do basquete. No futebol, são vários os boleiros por lá, é verdade. Nas quadras, porém, que me lembre, o único que esteve recentemente por estas bandas foi Marcelinho Machado, quando vestiu a camisa do histórico Zalgiris Kaunas – mas isso já leva oito anos. Murilo Becker também deu uma passada pela Bulgária, na mesma época. E só?

(Atualização: reponsável pelo área técnica no escritório da NBA no Brasil, Daniel Soares deu uma contribuição mais que valiosa aqui, demonstrando como a memória do blogueiro anda fraca. É o que dá escrever na correria. Daniel recuperou a bem-sucedida passagem de Rafael “Baby” Araújo pelo Spartak St. Petersburg, além de outros selecionáveis como Guilherme Giovannoni, que também jogou muito bem na Ucrânia, pelo BC Kiev, e JP Batista, que disputou Euroliga pelo Lietuvos Rytas. Outros: Jefferson William e ele próprio na Hungria e o pivô Michel na República Tcheca. No Twitter, o pessoal do Basquete Alviverde citou o pivô Átila dos Santos, o último a vir de lá. “Só”.)

No fim, mesmo que Scott agora a 6600 km de Nova York, é esse o tipo de trilha que o armador deveria seguir, mesmo, para tentar voltar para a casa com um contrato de NBA, algo que ainda trata como obsessão. O próximo passo, porém, seria sair do BC Kalev para um clube europeu maior, usando a campanha de certa forma surpreendente da equipe como chamariz no CV. Mas ainda há uma escalada boa pela frente.

“Sua visão de quadra e habilidade no passe não são o suficiente para compensar a falta de capacidade atlética. Tem os pés lentos, mas uma mente rápida. Dá para notar que ele entende as rotações, consegue lê-las, e passa sempre de modo preciso. Controla o jogo e a bola. Penso que ele é mais um jogador para competições intermediárias. Para a Euroliga, sendo um estrangeiro, você precisa ou infiltrar e passar para fora (o famoso drive and kick, no caso) ou ser um arremessador. No momento, ele não faz nenhuma das duas”, afirmou um scout internacional que assistiu ao brasileiro neste ano.

Outro olheiro, bastante familiarizado com o jogo do brasileiro, segue a mesma linha. “Ele tem limitações para um alto nível na Europa. Provavelmente eu o contrataria como um cara para sair do banco. Acho que ele precisa melhorar a maneira de encarar as coisas e jogar de acordo com suas capacidades. Ele sempre achou que era melhor do que era, e acaba não se concentrando nas coisas que precisa melhorar”, afirmou. “Há ainda há uma chance, mas vai depender de sua mentalidade.”

No fim, Scott precisa do máximo de minutos que puder, refinando seu jogo. A visão de jogo é praticamente inata, mas o restante precisa vir com o tempo e com treino, para aí poder deixar a Estônia – e a estabilidade que aparentemente conseguiu por lá – por algum lugar de maior expressão, visibilidade. Que você encontre no mapa mais fácil.


Euroligado: Fenerbahçe, o time do momento; Huertas reserva
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Giancarlo Giampietro

CSKA, de Milos, ainda está no páreo, mas Fener é o time da vez

CSKA, de Milos, ainda está no páreo, mas Fener é o time da vez

Entre viagens para o All-Star Game da NBA e o Jogo das Estrelas do NBB, a pausa tradicional para as Copas europeias e o atropelo geral de agenda, estava devendo um resumo sobre o que se passa pela Euroliga, o maior campeonato de basquete do mundo, como gosta de dizer o chapa Decimar Leite, narrador do Sports+. “Porque a NBA é outra coisa, outro esporte, não conta”, diz. É isso aí.Então, aqui, correndo atrás do tempo perdido, vamos com um panorama da competição, em vez de apenas se apegar ao que aconteceu durante a semana.

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É favorito, mesmo?
Sim, os favoritos em geral já encaminharam suas vagas para a fase de quartas de final, a duas rodadas do desfecho do Top 16. Mas isso não quer dizer que a segunda fase tenha sido moleza para eles. E quem são esses clubes, para retomar? As duas superpotências espanholas, Real Madrid e Barcelona, além de CSKA Moscou, Fenerbahçe e o Olympiakos. Eles estão todos garantidos nos mata-matas. Restam, então, três lotes para serem adquiridos. Dois estão no Grupo E, disputados basicamente por Panathinaikos, o atual campeão Maccabi Tel Aviv e o Alba Berlin – o Zalgiris Kaunas até tem chances, mas é mais fácil encher a Cantareira até a boca do que eles se classificarem. Pelo Grupo F, o da Morte, sobrou um, que está entre Anadolu Efes, Laboral Kutxa e Olimpia Milano.

(O quê?)

(Palpites?)

Nada como uma aposta conservadora, né? Panathinaikos, Maccabi e Anadolu devem avançar, a despeito de suas irregularidades.  (Vamos tirar a limpo isso depois.)

Alba tenta desbancar camisas pesadas pelo Grupo E

Alba tenta desbancar camisas pesadas pelo Grupo E

Seria até bacana ver o Alba Berlin criar um fato novo derrubar o clube grego ou o israelense – juntos, esses caras somam 12 troféus, seis para cada. O lado bom aqui é dar mais uma força para o basquete alemão que, gradualmente, vem subindo a ladeira. Os alemães dependem apenas deles, aliás, já que vai enfrentar nas próximas duas rodadas justamente seus dois concorrentes diretos. Se vencer ambos, pode gerar uma situação de empate tríplice. Para os gregos, basta uma vitória em casa, na próxima rodada, contra os alemães. Caso isso aconteça e o Maccabi derrotar o vexatório Galatasaray, aí o Alba está eliminado.

Do outro lado, o Anadolu, de certa forma um candidato ao título no início da campanha, tem a chance de encerrar a reação do Olimpia Milano em um confronto na próxima sexta-feira, em casa. Além do mais, se vencer os italianos e o Fenerbahçe bater o Laboral Kutxa, aí já terá a vaga no papo. Agora, se perder em Istambul, pode se meter numa enrascada, já que que tem seu rival Fener pela frente na última rodada.

E o Fener é o time do momento…

Goudelock: média de 16,8 pontos na temporada

Goudelock: média de 16,8 pontos na temporada

Vocês se lembram do oba-oba para o CSKA Moscou, certo? Quando os caras venceram os primeiros 15 jogos da temporada? De lá para cá eles ainda ganharam um Andrei Kirilenko de presente, além do retorno de seu parceiro de seleção russa, Viktor Khryapa – ambos com a mobilidade bastante comprometida, diga-se. Mas o timaço de Dimitris Itoudis, enfim, perdeu. Duas vezes. E acabou destronado pelo clube turco na liderança. Ambos têm a mesma campanha, mas a equipe de Zeljko Obradovic, o padrinho do Itoudis, leva a melhor no saldo de pontos do duelo.

O Fenerbahçe está no meio de uma sequência de nove triunfos – a segunda maior da competição nesta temporada, atrás apenas do CSKA. O detalhe mais interessante é que, desses nove triunfos consecutivos, cinco foram como visitantes. De má notícias para o irado Obradovic nesse meio-tempo, apenas duas. Eles perderam a final da Copa da Turquia para o Anadolu. Além disso, o armador Ricky Hickman sofreu uma ruptura no tendão de Aquiles nesta quintas, em vitória sobre o Unicaja Málaga. Sendo um atual campeão, poderia ajudar o time nos playoffs. De todo modo, para a sua função, Andrew Goudelock está lá para assimilar os minutos. São atletas diferentes – Hickman busca muito mais a infiltração, enquanto Goudelock é um excepcional arremessador –, mas paciência.

A equipe turca tem um elenco poderoso, isso não é novidade. A diferença é que o treinador octacampeão continental conseguiu enfim uma química respeitável em quadra, usando toda a versatilidade do plantel. Eles podem correr a partir de uma defesa forte, com pivôs bem mais ágeis que o que se encontra por aí – seja com as bandejinhas comportadas de Nemanja Bjelica ou com as trovoadas de Jan Vesely. Mas também têm aquele pivô tipo guarda-roupa que desce a lenha num jogo mais truncado, com Semih Erden e Oguz Savas. A movimentação de bola melhorou com a chegada do grego Nikos Zizis.

Mas pode ficar de olho no Real

Relaxa, Sérgio, tem quem brigue pelo rebote para você

Relaxa, Sérgio, tem quem brigue pelo rebote para você

A mudança de Nikola Mirotic para Andrés Nocioni e Gustavo Ayón leva tempo para assimilar, claro. Conforme os torcedores do Chicago Bulls estão vendo e admirando, o montenegrino de passaporte espanhol tem um pacote raro de velocidade, agilidade para alguém de seu tamanho (2,08 m). Com ele em quadra, ao lado de Rudy Fernández, Sérgio Llull e Sérgio Rodríguez, o Real tinha o arranque de um time de NBA. Corria pela Euroliga sem que ninguém lhe pudesse acompanhar.

Nocioni e Ayón são evidentemente grandes jogadores, mas moldados de outra forma. Hoje, são homens voltados para o jogo de meia quadra, que dão ao clube merengue mais presença física no garrafão e na defesa em geral. Literalmente, o time ganhou corpo e vem sendo eficiente dessa maneira também, abrindo um saldo de 181 pontos em 12 partidas do Top 16 (média de 15,01). As duas derrotas sofridas até o momento vieram contra o Maccabi em Tel Aviv, por apenas quatro pontos, e uma surra contra o Panathinaikos, em Atenas (85 a 69), no jogo do ano para o limitado, segundo seus padrões, elenco grego.

Lembrando: o Final Four deste ano será realizado na capital espanhola. Seria um fiasco tremendo que os caras de Pablo Laso não chegassem lá. A julgar pelo que Anadolu, Baskonia e Milano vêm produzindo nesta fase, se o Real confirmar a condição de cabeça-de-chave número um do Grupo E, não deverá ter problemas para passar pelas quartas e encontrar sua torcida na busca por seu primeiro título continental desde… 1995!

Ainda na Espanha, Huertas vira reserva
Enquanto Juan Carlos Navarro, Brad Oleson e Alejandro Abrines frenquentavam a enfermaria, Marcelinho Huertas teve a incumbência de carregar o Barça em quadra. E jogou tudo o que podia. Quando retornou a cavalaria, o que aconteceu? O armador foi premiado com um lugarzinho no banco. O clube catalão vinha numa trilha de altos e baixos, e Xavier Pascual decidiu promover o jovem Tomas Satoransky ao quinteto inicial, provavelmente de olho em ganho no setor defensivo.Com 2,01 m de altura e agilidade, o tcheco supostamente casa melhor ao lado de Juan Carlos Navarro.

O 'gigante' Satoransky. Gigante, para um armador

O ‘gigante’ Satoransky. Gigante, para um armador

A promoção, que aconteceu durante a Copa do Rei, não foi  pura formalidade: Satoranksy vem acumulando mais minutos desde a 17ª semana de competição, com 25 minutos em média – restando algo em torno de 15 para o brasileiro. Contratado nesta temporada, o jogador respondeu, com média de 11,5 pontos e 5,0 assistências. Mais relevante para a equipe é o fato de que foram seis vitórias seguidas.

Ainda assim, em entrevista para a Radio Catalunya, Huertas revelou estar com negociações abertas para renovar seu contrato com o Barça – o vínculo atual expira ao final da temporada. Se realmente assinar, a perspectiva de uma passada pela NBA se reduz drasticamente. Na mesma entrevista, o brasileiro afirmou que deixou o time titular na Copa do Rei devido a dores no pé. Mas que agora estaria se sentindo muito bem. Para constar, o jornal ABC noticiou após a derrota para o Real que o armador e o treinador teriam discutido no vestiário. Pascual ficou pê da vida com a reportagem e a desmentiu de modo veemente.

A jogada da temporada
Essa, sim, aconteceu na semana passada – por sorte em jogo que transmiti ao lado do Decimar no Sports+. O Fener recebia o Málaga. No desfecho de um primeiro tempo surpreendentemente equilibrado, o garoto Bogdan Bogdanovic recebeu a bola na reposição do fundo da quadra, e…


Euroligado: as coisas ficam mais nebulosas
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Giancarlo Giampietro

Andrei Kirilenko está de volta ao CSKA. Enferrujado que só

Andrei Kirilenko está de volta ao CSKA. Enferrujado que só

Dentre tantas possibilidades de “Mal do Século” do jornalismo, no Brasil, na Suécia ou na Cochinchina, a capacidade de reagir de modo exagerado a uma notícia lá na parte de cima do ranking. Então não é porque o CSKA Moscou sofreu a segunda derrota nas últimas três rodadas, que tudo o que o time construiu até este momento precisa ser demolido pela crítica. Mas que as coisas na Euroliga ficaram mais nebulosas e, por isso, mais interessantes? Ah, se ficaram.

De líder e favorito disparado um mês atrás, com 15 vitórias seguidas, o clube russo agora se vê na terceira posição do Grupo F, o Grupo da Morte que, com o perdão da confusão, já não parece mais tão mortal assim – mas, de repente, pode ser, sim. Hoje, nos despedindo de fevereiro rumo a março, temos nas duas chaves do Top 16 um clima de suspense no ar.

(Clima de suspense no ar: taí um clichê que não pode ser descartado, né? A sonoridade da frase supera o desgaste do uso corrente.)

Responsável pela quebra da invencibilidade do CSKA há três semanas, o Olympiakos agora lidera o grupo, com sete vitórias e uma derrota, no início do returno, restando seis partidas pela frente. Protagonista da segunda derrota moscovita, o Fenerbahçe agora pulou para segundo, com as mesmas seis vitórias e duas derrotas de sua vítima, mas levando a melhor no saldo de pontos do duelo. Lembrem-se que os dois primeiros ganham mando de quadra nas quartas de final – e, numa série melhor-de-cinco, isso conta muito. Mas este não é o único drama a ser explorado: na quarta posição, tendo perdido o confronto direto nesta sexta, Anadolu já se vê incomodamente pressionado pelo Laboral Kutxa, algo que parecia impensável há pouco tempo atrás.

Do outro lado, no Grupo F, a história para ser acompanhada é a tentativa de reação do Barcelona de Huertas. Depois de sofrer três derrotas no primeiro turno, estando no quarto lugar, o clube catalão tem a missão de superar o Panathinaikos e o Maccabi Tel Aviv dentro da zona de classificação. Ao menos o dramático triunfo diante do Alba Berlin rende um pouco de conforto em relação a sua vaga nos mata-matas.

O jogo da rodada: CSKA Moscou 75 x 81 Fenerbahçe

Pode comemorar, Fener. Foi uma baita vitória

Pode comemorar, Fener. Foi uma baita vitória

Foi a partida que passamos ao vivo pelo Sports+ nesta sexta, ao lado do Mauricio Bonato. Daquelas que, ao final da transmissão, você se sente um sortudo de ter participado. Apelamos aqui a mais um clichê, então: aquele que evoca o boxe para fazer metáforas em outros esportes. Pois foi como uma luta franca de pesos pesados, mesmo, cada um trocando golpes até que, no minuto final, um ato de descontrole de Milos Teodosic pois tudo a perder para os anfitriões. Foi para estragar a festa de Andrei Kirilenko.

Sim, o Kirilenko! Quem se lembra dele? Relegado ao ostracismo da NBA após sofrer com dores crônicas nas costas e também bater de frente com Lionel Hollins, o astro russo foi mandado para Philadelphia. O que hoje, a liga americana, é o mais próximo que temos da Sibéria. AK47, claro, nem mesmo se apresentou ao clube. Até que, passada a data final para trocas, sem que ninguém demonstrasse interesse significativo em tirá-lo do Sixers, ele assinou sua rescisão contratual enfim e fechou prontamente com o CSKA, clube pelo qual foi o MVP em 2012. Resta saber se o craque vai conseguir entrar em forma para ajudar a equipe na reta final europeia. Outra questão fica por conta da tão sagrada química: o ala-pivô Andrei Vorontsevich, por exemplo, está jogando muito bem e seria uma tremenda injustiça se lhe tirassem muitos minutos. Vamos acompanhar.

Contra o Fener, o veterano jogou por apenas cinco minutinhos, claramente enferrujado. Marcou dois pontos e deu uma bela assistência para cravada de Sasha Kaun, que lhe prestou todas as homenagens e reverências em quadra. Tem moral, claro. De destaque, mesmo, fica seu corte de cabelo bem comportado. Era até difícil de identificá-lo em quadra.

Não foi a melhor partida para se estrear. O clube turco chegou a Moscou disposto a jogar duro, conseguindo a proeza de limitar o ataque adversário a míseros dez pontos no primeiro quarto. Na segunda parcial, porém, tudo mudou, com o CSKA marcando 27 pontos para tirar o atraso. No intervalo, os visitantes venciam por dois pontos (39 a 37).

Apesar de ver o rival deslanchar, Zeljko Obradovic deve ter ficado satisfeito pelo que seus rapazes fizeram em quadra. No duelo com seu pupilo, ex-braço direito e compadre Dimitris Itoudis, o sérvio optou por um jogo truncado, de meia quadra, anulando as possibilidades de jogo em transição para a equipe russa, algo que faz tão bem. Também soube preparar um esquema para limitar os tiros de três pontos, com muito sucesso (levou apenas cinco em 20, 25%). Outro setor que funcionou: a disputa pelos rebotes, com 16 ofensivos e 43 no geral.

Em termos de destaques individuais, também vale mencionar  Jan Vesely, que, com sua sua capacidade atlética invejável, também marcou presença no garrafão, com 14 pontos, 5 rebotes e inacreditáveis 80% nos lances livres (4/5, sendo que sua média na temporada de 39%). Voltando de lesão, Bogdan Bogdanovic se desdobrou na defesa e ainda contribuiu com 13 pontos. Nemanja Bjelica somou um duplo-duplo de 11 pontos e 13 rebotes em apenas 25 minutos e teve muito sangue frio no final para selar o triunfo.

Foi necessário, já que no segundo tempo as equipes se alternaram constantemente no placar. Perdi a conta de quantas vezes trocaram uma liderança de um só pontinho no quarto período. Até que, no minuto final, Teodosic reclamou uma barbaridade de uma falta marcada em disputa de rebote ofensivo e foi expulso de quadra – um raro momento de destempero para o genioso armador nesta temporada, a melhor de sua carreira. Foi um estrago daqueles: seu compatriota Bjelica teve quatro lances livres para cobrar, matando três. Na posse de bola seguinte, Bogdanovic acertou mais um lance livre, e a vantagem do Fenerbahçe chegou a 78 a 72. Aí já era.

Na trilha de Huertas

Satoransky, agora titular

Satoransky, agora titular

Já havia acontecido na decisão da Copa do Rei contra o Real, com o Barça saindo derrotado, mas a notícia aqui é que o armador brasileiro perdeu seu posto de titular para Tomas Satoransky. O jovem tcheco abraçou a chance que ganhou de Xavier Pascual e ajudou o clube espanhol a vencer o Alba Berlin, apenas na prorrogação, com 11 pontos e 8 assistências em 28 minutos. Huertas jogou por apenas 16 minutos e terminou com 5 pontos e 2 assistências. Juan Carlos Navarro retornou, com 14 pontos em 19 minutos, com 6/6 nos lances livres.

Lembra dele? Samardo Samuels (Olimpia Milano)
É, a gente poderia falar que Samuels foi aquele brutamontes que acompanhou Anderson Varejão nos anos de pindaíba do Cleveland Cavaliers pós-e-pré-LeBron. Mas, no fim, depois de uma fatídica Copa América de 2013 para o basquete brasileiro, a referência obrigatória ao atleta se tornou a Jamaica, que terminou de humilhar a seleção de Rubén Magnano na Venezuela com uma vitória/derrota histórica. Dureza. Pois bem. O pivô está hoje em sua segunda temporada Olimpia Milano. Na quinta, teve talvez aquela que seja a partida de sua vida, ao acumular 36 pontos (27 no primeiro tempo!), 9 rebotes e um índice de eficiência de 47 pontos, completamente anormal para os padrões da liga, em vitória sobre o Nizhny Novgorod por 85 a 76. Ele converteu 14 de seus 16 arremessos de dois pontos, um recorde na fase de top 16. Como diria o Bonato, saca só:

Em números
119 – É o saldo de pontos do Real Madrid após oito rodadas do Top 16. O mesmo Real que já suscitou textos e textos na imprensa espanhola sobre uma suposta crise interna no departamento de basquete do clube, sobre a possível demissão de Pablo Laso e tudo mais. O time realmente fez alguns jogos preocupantes na temporada, mas, no geral, vai se acertando desde o retorno de Rudy Fernández de uma cirurgia na mão direita. Para relativizar o saldo, o CSKA é aquele que mais se aproxima dessa marca nessa fase, com 64.

10 – Mais uma rodada de Euroliga, mais uma atuação formidável de Vassilis Spanoulis, que liderou o Olympiakos a uma vitória por 77 a 72 sobre o lanterninha Unicaja Málaga. O armador grego teve aproveitamento de 100% nos lances livres, acertando todas as duas 10 tentativas. Também distribuiu 10 assistências em um duplo-duplo com 18 pontos.

9 – Juntos, os ‘armadores’ Darius Adams e Mike James somaram 9 turnovers pelo Laboral Kutxa, justamente no confronto com Thoma Heurtel, o antigo titular da posição no clube basco, hoje no Anadolu. Ainda assim, com uma excelente partida do pivô Colton Iverson, a equipe espanhola conseguiu uma importantíssima e surpreendente vitória, por 87 a 84. O grandalhão, cujos direitos na NBA pertencem ao Boston Celtics, marcou 17 pontos e pegou 11 rebotes em 24 minutos. Do seu lado, Heurtel saiu de quadra com 17 pontos e 5 assistências em 26 minutos. Juntos, os esfomeados Adams e James ficaram com 8 pontos e 6 assistências. Que coisa.

7 – Talvez o Fenerbahçe nem se importe com isso de mando de quadra nas quartas de final. Em Moscou, o time de Obradovic chegou a sua sétima vitória consecutiva fora de casa.

As jogadas da semana


Euroligado: muito aperto, Real x Barça e a queda do invicto
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Giancarlo Giampietro

Rudy Fernández foi o MVP da rodada. Mais que merecido

Rudy Fernández foi o MVP da rodada. Mais que merecido

É, amigos, haaaaaja coração, expressaria o Galvão.

Foi uma semana de infartar na Euroliga, a 16ª da competição continental, e a sexta em sua segunda fase, o Top 16. A semana mais especial da temporada, sem dúvida. Das oito partidas disputadas, quatro foram decididas por três pontos ou menos no placar, enquanto outras três a vantagem do time vencedor não superou a barreira dos nove pontos, com direito, aqui, a um triunfo do Olypiakos sobre o CSKA Moscou, por 85 a 76, encerrando a invencilidade. A única sacolada? Foi justamente no superclássico espanhol, com o Real Madrid atropelando o Barcelona por 97 a 73, em casa. Alguns pitacos, então:

– Começando pelo duelo Real x Barça, o terceiro desta temporada 2014-2015. Cada um dos arquirrivais havia vencido uma vez, e os merengues levaram esse primeiro tira-teima com autoridade. Rudy Fernández jogou uma barbaridade. O ala primeiro deu o tom de uma defesa pressionada que desestabilizou o jogo exterior de um oponente que já não contava com Juan Carlos Navarro e Brad Oleson. O abafa permitiu que sua equipe jogasse em transição, do modo como adora fazer. Quando o Real encaixa seu contra-ataque, já deu para perceber que a atual configuração do Barcelona simplesmente vai comer poeira. Os catalães simplesmente não conseguem acompanhá-los – em contrapartida, numa partida mais truncada, de meia quadra, tendem a levar a melhor graças ao poderio de Ante Tomic. Rudy marcou demais e brilhou também no ataque, somando 22 pontos, 9 rebotes, 5 assistências e 3 roubos de bola em apenas 28 minutos. Os dois Sergios, Rodríguez e Llull, acompanharam o ritmo e acumularam 34 pontos e 10 assistências, dando um trabalho danado a Marcelinho Huertas, que se despediu de quadra com oito pontos e seis turnovers em 23 minutos. A única nota positiva para o Barça foi o desempenho do jovem Mario Hezonja, com 22 pontos em 28 minutos, matando cinco bolas de três pontos. O garoto de 19 anos, da Croácia, está com a confiança lá em cima. Veja alguns dos melhores momentos da partida que transmiti ao lado de Mauricio Bonato pelo Sports+:

– O desfecho mais polêmico valeu para Galatasaray 94 x 97 Maccabi Tel Aviv, definido na prorrogação. A equipe turca não se conforma com um toco do pivô Alex Tyus, do Maccabi, para cima do armador Erden Arslan, a seis segundos do final do tempo extra. Para eles, se tratou de uma bola claramente na descendente. A arbitragem validou o bloqueio. Em release divulgado na sequência, o Galatasaray escreve com todas as palavras: “A vitória nos foi roubada injustamente”. Confira o lance o vídeo abaixo – é um lance muito difícil, mesmo em slow… Ainda acho que a arbitragem acertou em sua marcação, todavia. Detalhe: com quatro segundos restantes no quarto período, o ala-pivô sérvio Zoran Erceg desperdiçou um lance livre que já poderia ter dado o triunfo ao clube turco, que teve uma grande reação na parcial. Outra: mesmo que a bola de Arslan tivesse caído, o Maccabi ainda teria a posse de bola e Jeremy Pargo poderia ter feito, da mesma forma, sua cesta heróica. Por fim: o técnico Ergin Ataman, que tanto protestou em quadra e durante a coletiva, não recebe salário há sete meses (se-te!!!!!!!) e estuda rescindir seu contrato, cansado de promessas não cumpridas. Já destacamos aqui que o Gala perdeu três jogadores ao final da primeira fase por conta de problemas de pagamento. Antes de atacar a organização da competição por um lance no máximo duvidoso, poderiam cuidar de suas próprias dívidas, né?

– Limitado a apenas dois pontos em derrota para o Anadolu Efes, Vassilis Spanoulis reagiu ao seu melhor estilo ao marcar 19 no importantíssimo triunfo do Olympiakos sobre o CSKA, que encerra sua sequência vitoriosa na Euroliga em 15. Os dois times agora estão empatados na liderança do Grupo F – terminar na liderança pode ser algo essencial, dependendo, claro, da classificação do Barcelona, que hoje está justamente em quarto do outro lado da chave e cruzaria com o líder aqui. Mas a expectativa é que o clube espanhol reencontre o rumo no segundo turno do Top 16 e consiga, pelo menos, ultrapassar o Panathinaikos na tabela e, quiça, o Maccabi, que está empatado com o Real na ponta (5-1). Em casa, os gregos perderam o primeiro quarto por 17 a 11, mas conseguiram assumir o controle do placar já no segundo período (vencido por 32 a 20). A estratégia foi não dar espaço algum para Milos Teodosic nas jogadas de pick-and-roll, cortando o mal pela raiz: os ágeis pivôs como Dunston e Hunter dobravam para cima do armador, sem tirando o arremesso e a linha de passe, num empenho irrepreensível. Do outro lado, também procuraram explorar as deficiências defensivas do sérvio sempre que possível – fez falta, então, para os russos o americano Aaron Jackson. Não há mais invictos agora na Euroliga.

– Na derrota custosa para o Zalgiris Kaunas, por 70 a 68, em casa, o Estrela Vermelha errou todos os 19 arremessos que tentou de três pontos. Todos, mesmo, inclusive o último, com o armador Marcus Williams buscando a consagração na última bola. Os caras já haviam desperdiçado 18 chutes de longa distância e ainda assim foram para a bola matadora. Peserverança: a gente se vê por aqui. O americano, aliás, errou cinco disparos, deixando seu aproveitamento na temporada cair para 30,1%. Tá ok! Seu compatriota Charles Jenkins desperdiçou outras quatro. Ao menos, tantos erros proporcionaram 17 rebotes ofensivos no geral para o time e mais um double-double de Boban Marjanovic, o último dos dinossauros, que marcou 17 e 10 em 27 minutos. O engraçado é que os visitantes lituanos acertaram apenas 3 bolas de três na partida. Mas só em 14 tentativas. James Anderson fez 22 pontos para eles.

– Se não há mais invictos, também temos agora ao menos uma vitória para cada participante do Top 16. O lanterninha Unicaja Málaga foi o que mais demorou para comemorar, batendo o Nizhny Novgorod por 85 a 76. O armador Jayson Granger, um jogador que cresceu demais nos últimos dois anos, fez 29 pontos em 25 minutos, acertando 9 de 13 arremessos de quadra e 9 de 10 lances livres. Pouco eficiente o uruguaio, né?

Devido ao adiantado da hora, a sessão vai ter um texto mais econômico hoje, ok?