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Jukebox NBA 2015-16: o carma chega para abalar o Clippers
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: já estamos nos playoffs e o blog vai tentando fazer uma ficha sobre as 30 franquias da liga, apelando ainda a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Instant Karma (We All Shine On)”, por John Lennon

Então. O último post, sobre as consequências imediatas da lesão de Stephen Curry, terminou com a lembrança de que Doc Rivers, no ano passado, para provocar e mexer no vespeiro, afirmou que o título do Golden State Warriors poderia se explicar muito pelo fator sorte. De não terem sofrido nenhuma baixa mais séria durante a campanha e por ver seus principais oponentes caindo mais cedo. Com a expectativa de reencontrar os atuais campeões pela semifinal do Oeste, esse comentário ganhava um grifo irônico e perigoso, já que poderiam enfrentar um adversário, agora, ferido e também com irritado, querendo provar algo. Ainda assim, no contexto das 21h (do horário de Brasília), o Clippers não teria mais do que reclamar. Era aquela coisa: calar-se e jogar.

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Bom… Esse contexto não durou nem cinco horas. Pelo Jogo 4 da série contra o Portland Trail Blazers, Chris Paul sofreu uma fratura na mão direita, que muito provavelmente vai afastá-lo do restante dos playoffs. Aí a observação impertinente de Rivers sobre o Warriors se tornou, digamos, cármica. Não se deve mexer jamais com essas coisas no esporte. Daí entra nosso amigo John, sempre mordaz, desconfiado e, também, sagaz. “O carma instantâneo, imediato vai vai te pegar. Vai te bater bem na cara. É melhor você ficar alerta, querido. Junte-se à raça humana”, escreve em um verso. Depois, você ainda vai encontrar estas linhas: “O carma instantâneo vai te pegar. Vai te tirar de derrubar. É melhor reconhecer seus irmãos. Todos que você encontrar.”

Ouch.

Por anos e anos, o Clippers cultivou duas imagens em Los Angeles. A primeira, otimista, de time do futuro na metrópole californiana. Uma hora chegaria a vez deles, preparadíssimos para desbancar o Lakers. A segunda, alvo de chacotas, veio como consequência dos constantes tropeços que o fortíssimo núcleo de Chris Paul, Blake Griffin, JJ Redick e DeAndre Jordan, gerido por Doc Rivers, não conseguiu evitar. Perder faz parte do jogo. Mas a choradeira insistente desses caras? Virou folclore. Agora, infelizmente, eles têm todos os motivos para resmungarem demais, ainda que, em seu protesto, só possam somente olhar para o céu, em vez de reclamar contra um trio de arbitragem qualquer, contra a liga etc.

Paul se lesionou em 'dividida' com Gerald Henderson

Paul se lesionou em ‘dividida’ com Gerald Henderson

Nesta campanha para tentar se afirmar como sério candidato ao título, que nunca foi tão mais forte como no ano passado, quando derrubaram o San Antonio Spurs num duelo épico, a equipe angelina até se habituou a jogar esporadicamente sem Chris Paul ou Blake Griffin. Mas nunca sem os dois ao mesmo tempo, por um longo período. É o que vai acontecer desta vez: no mesmo boletim médico que divulgou que o armador passou por uma cirurgia já nesta terça-feira, deixando-o afastado por tempo indeterminado, os assessores também informaram que o ala-pivô não jogará mais nesta temporada, devido à reincidência de sua lesão no quadril.

Isso que mata. Pela temporada 2011-12, Paul ficou fora de 22 partidas, e o time conseguiu segurar as pontas, curtindo as habilidades diversas de Griffin como criador, como uma arma ofensiva praticamente completa – só faltava o tiro exterior, mesmo. Nas últimas temporadas, isso foi raro. O armador poderia até estar com um estiramento de virilha aqui, ou uma outra lesão muscular ali, mas ele ao menos conseguia estar em quadra, pelas campanhas, hã, fracassadas pelos playoffs, de 2012 até agora.  No caso de Griffin, a onda de problemas físicos começou na temporada passada, quando perdeu 15 jogos. Na atual jornada, piorou: só pôde ir à quadra em 35 rodadas, abalado não só por uma distensão no quadril como, depois, pela fratura na mão que sofreu ao esmurrar um dos roupeiros do time. Coisa de TMZ e TV Fama. Para deixar claro, ele ficou muito sentido pelo ocorrido. Ok, ok.

Durante esta prolongada ausência, Doc Rivers viu seu time responder muito bem. Sem Griffin, fortaleceu sua defesa, que foi a quarta mais eficiente da liga desde o dia 26 de dezembro, sem Griffin. Do outro lado, manteve um ataque poderoso que se concentra nos pick-and-rolls entre Chris Paul e DeAndre Jordan e a ameaça do tiro exterior ao seu redor, sendo o oitavo sistema ofensivo mais eficiente no mesmo período. Uma encrenca para qualquer adversário, mesmo para os grandes favoritos. Jogaram tão bem que o retorno de seu ala-pivô estelar apresentava até alguns dilemas, de como integrá-lo, especialmente quando estava claro que ele não estava nem a 60% de seu potencial, números à parte. Faltava ritmo e força. Da pior forma possível, o técnico-presidente nem precisará mais se preocupar com isso. A dor de cabeça ficou muito maior.

Griffin também sofreu uma fratura em sua mão direita. Em janeiro, durante passagem por Toronto, quando, agrediu um amigo -- e roupeiro do time. Estava prestes a retornar de uma lesão no quadril. A mesma lesão que o tira dos playoffs agora. Ele voltou a jogar, mas não estava totalmente curado

Griffin também sofreu uma fratura em sua mão direita. Em janeiro, durante passagem por Toronto, quando, agrediu um amigo — e roupeiro do time. Estava prestes a retornar de uma lesão no quadril. A mesma lesão que o tira dos playoffs agora. Ele voltou a jogar, mas não estava totalmente curado

Sem a dupla, é difícil imaginar que alternativas Doc pode encontrar para montar um conjunto ainda competitivo para o nível que os playoffs exigem. Jeff Green, Paul Pierce e Wesley Johnson, por comitê, vão ter de assimilar o volume ofensivo dedicado a Griffin. Acontece que é difícil encontrar jogadores mais irregulares que Green e Johnson, duas escolhas top 10 de Draft que frustraram vários treinadores. Já Pierce está nas últimas: só participou de 27 minutos da série contra o Blazers, de 192 possíveis. A não ser que Rivers esteja errando feio em sua avaliação, é sinal de que não se pode esperar mais 20,0 pontos por jogo do ídolo do Celtics em um longo mata-mata. Na melhor das hipóteses, o Clippers poderia ao menos contar com o melhor de cada um em noites distintas.

Ainda assim, seria o bastante? A vida de qualquer finalizador fica mais fácil quando a bola está nas mãos de Chris Paul, um dos melhores armadores da história. Agora, a mudança de estilo não poderia ser mais radical: o filhão Austin Rivers assume a condução do ataque, de cabeça baixa, pensando quase sempre na cesta. Figura nada querida em Portland, Jamal Crawford também vai ter de se mexer, ao sair de sexto homem de vida fácil para ponto de referência no ataque. Da parte desse chutador maluco, eleito pela terceira vez o melhor sexto homem da liga, também valeria um esforço para envolver seus companheiros, ainda mais com Austin ao seu lado. Pablo Prigioni viria do banco para tentar dar alguma firmeza ao time.

Para constar: JJ Redick também está lidando com um problema no calcanhar, algo bastante significativo para alguém que não pára de correr pelo ataque, em busca de uma boa oportunidade para subir para o arremesso. Se ele não conseguir se movimentar com rapidez de um lado para o outro de quadra, o espaçamento do ataque fica ainda mais comprometido.

Sobrou para eles. E o banco do Clippers fica ainda mais fraco, algo que era aparentemente impossível

Sobrou para eles. E o banco do Clippers fica ainda mais fraco, algo que era aparentemente impossível

O baque não se limita à tarefa de fazer cestas, claro. A forte defesa do Clippers conta com a presença mastodôntica de DeAndre ao centro do garrafão, mas começa pela pressão que CP3 ainda consegue colocar em cima da bola. Contra o Blazers de Damian Lillard e CJ McCollum, ele vinha sendo figura fundamental para limitá-los. Não que jogasse sozinho: contava com a ajuda de dobras acima da linha de três pontos para forçar que os cestinhas se livrassem da bola. De certa forma, vinha dando certo, com ambos pontuando menos em relação a suas médias pela temporada regular. Rivers vai ter a disciplina para continuar este abafa? Prigioni vai ter fôlego?

Imagine a lista de tarefas que Rivers e seu badalado estafe teriam de cuidar na primeira reunião que tiveram após serem informados de seus desfalques? Um jogo que provavelmente devem ter estudado com carinho foi a derrota apertada para OKC, sofrida no dia 31 de março, por apenas dois pontos, fora de casa. Naquela ocasião, o técnico poupou o trio Paul-Jordan-Redick, enquanto Griffin ainda não estava pronto para jogar. Austin Rivers e Crawford marcaram, cada um, 32 pontos, enquanto Jeff Green contribuiu com mais 19 saindo do banco. Foi um desempenho surpreendente e que só não rendeu uma grande vitória pelo fato de sua defesa ter tomado 119 pontos. Alguns dias depois, novamente preservando seus principais atletas, a equipe venceria o Utah Jazz por três pontos, na prorrogação, também como visitante. Crawford fez 30 pontos e Prigioni somou 13, com mais sete assistências. O quão realista seria esperar a reprodução de um desempenho desses pelos playoffs? Em busca de informações, Terry Stotts muito provavelmente também colocou scouts e assistentes para dissecar essas duas *fitas*.

Aí, galera, que o Trail Blazers, tendo igualado a série em casa, virou favorito para um confronto melhor-de-três a partir desta quarta-feira. Mesmo que tenha um elenco muito jovem. Mesmo que o Clippers ainda tenha o mando de quadra. Mas o momento agora é todo favorável a Portland, e caras como Damian Lillard e CJ McCollum, na real, curtem esse tipo de situação, de encarar qualquer vestígio de pressão. Para um time que não estava tão bem cotado assim no início do campeonato, uau. Uma baita história. Para uma franquia que já sofreu com lesões de Bill Walton, Sam Bowie e Greg Oden no decorrer de sua história, acabando com sonhos ambiciosos, não vão lamentar tanto assim os problemas do oponente. O carma deles já foi pago há tempos e com juros elevadíssimos.

PS: a música inicialmente planejada para o Clippers era “Wouldn’t It Be Nice?”, clássico dos Beach Boys, banda icônica da Califórnia, muito mais apropriada. A pergunta era básica: não seria legal que os antigos primos pobres de Los Angeles ficassem juntos e se dessem bem dessa vez? Até esta segunda-feira, estava mantida. Tivemos de mudar.

A pedida? Só um milagre, mesmo. Que Austin Rivers viva as melhores semanas de sua vida. Que DeAndre Jordan acerte 80% de seus lances livres. Que JJ Redick passe a pontuar não só com precisão nos arremessos e inteligência, mas com explosão física e dribles mortais.  Que Wesley Johnson ou Jeff Green possam fazer 20 pontos por jogo. Que Jamal Crawford tenha aproveitamento superior a 45% nos arremessos. Qualquer coisa nessa linha…

Doc fala como técnico ou presidente?

Doc fala como técnico ou presidente?

A gestão: sim, se o San Antonio perdesse Kawhi e LaMarcus, provavelmente diria adeus precocemente. Se Draymond Green se juntasse a Stephen Curry no banco, Golden State também diria que ficou para a próxima. Cleveland sem LeBron e Kyrie? O mesmo. OKC sem Durant e Wess? Vimos no ano passado: nem playoff dava. Então… Se o Clippers, completando sua quinta temporada de Chris Paul e Blake Griffin, não conseguir o título, dessa vez não haveria o que Doc Rivers pudesse ter feito no mercado para remediar a situação. O que não quer dizer que o trabalho do presidente não deva ser questionado.

Enquanto tiver Chris Paul e Blake Griffin, com DeAndre Jordan e JJ Redick dando suporte, a tendência é a de que os resultados em quadra desviem a atenção do que vem acontecendo no escritório. Vai chegar o momento em que as seguidas decisões (no mínimo)  questionáveis que tomou nos últimos anos cobrarão um preço. Não seria um exagero dizer que se trabalho de longo prazo beira o desastre. Ele já virou o pôster dos críticos que preferem a separação de Estado e Igreja, ou melhor, de dirigente e técnico. Qual o receio aqui?  Que o treinador esteja sempre muito mais preocupado com questões imediatistas. O futuro? Fica para depois, mesmo.

O último exemplo disso foi a troca por Jeff Green, em fevereiro. Você pode ser o maior fã deste ala. Até concedo isso. Mas não dá para justificar um negócio por Lance Stephenson e uma escolha de primeira rodada de Draft. Não só por Stephenson ser muito mais jogador (a despeito da insanidade latente) e ter se reencontrado em Memphis. Mas pelo fato de ter desperdiçado mais uma seleção de calouro, uma ferramenta muito valiosa para a montagem de elencos.

Sabe quem é este? Não? Sem problema: para ver CJ Wilcox com a camisa do Clippers, só em foto montada mesmo

Sabe quem é este? Não? Sem problema: para ver CJ Wilcox com a camisa do Clippers, só em foto montada mesmo

A piada aqui é que talvez o presidente Rivers nem se importe mais em trocar escolhas futuras. Afinal, o técnico Rivers não aprova nunca os jovens jogadores que recebe junho após junho, mesmo. Parece conversa de maluco? Os renegados discordam: o ala Reggie Bullock foi descartado rapidamente e teve bons momentos com Detroit neste ano;  CJ Wilcox é um chutador já de 25 anos que só joga pela D-League; Branden Dawson (cuja única manchete este ano foi um caso de polícia). Para um técnico renomado, que foi um armador condecorado, guiando diversos times rumo aos playoffs com os dois cargos, é surpreendente que, como diretor, tenha um aproveitamento pífio na hora do Draft.

A questão fica mais ampla quando vemos que, nem mesmo quando vai atrás de veteranos, Doc tem acertado — seja por problemas de avaliação do cartola ou do treinador. Spencer Hawes, Josh Smith, Glen Davis, Lance Stephenson, Jordan Formar, Chris Douglas-Roberts, Jared Dudley…  São vários os atletas que chegaram durante sua gestão e foram dispensados de modo apressado. Alguns deles passariam a render mais quase que imediatamente após trocas. É uma confusão que só, que fica mais grave quando notamos o estrangulamento de sua folha salarial.

Muitos de seus movimentos foram realizados com o intuito de livrar o clube de multas pesadas do chamado “hard cap”. Leia-se: livrar o clube das próprias armadilhas que ele mesmo arrumou. Como quando pagou mais uma escolha de primeira rodada de Draft ao Bucks para despachar o salário de US$ 4 milhões de Jared Dudley, um reserva de bom nível que durou apenas uma temporada em LA. Sua atuação foi fraca, é verdade, mas estava lesionado.

Enfim. Não dá nem para listar todas as bobagens feitas. O que deveria preocupar o torcedor do Clippers é que Doc pode muito bem decidir que chegou a hora de reformulação para o time, independentemente da azarada fratura sofrida por Chris Paul. Se for o caso, saberá por que caminho seguir?

Olho nele: Jamal Crawford

Sem CP3, sem Blake, o principal criador de jogadas de Clippers acaba sendo Jamal Crawford, mesmo, aos 36 anos, com seus crossovers indecifráveis no perímetro seguidos por arremessos-relâmpago. O problema: uma coisa é produzir contra as segundas unidades dos oponentes, tendo duas superestrelas ao seu lado. Agora, como referência, como vai ficar a vida do veterano? A gente sabe que coragem não falta. Arremessos também estarão mais do que disponíveis e, convenhamos, Crawford nunca viu um chute que ele achasse impossível de matar. Conforme citado acima, ele ainda pode ser explosivo na noite certa, ultrapassando a marca dos 30 pontos, com bolas heróicas que, sozinhas, lhes renderam o prêmio de melhor reserva do ano. Volume não é problema para ele. Duro é atingir essas marcas com um mínimo de eficiência. Sua média foid e 13,8 pontos e 41,8% nos arremessos em 29 minutos, com apenas 23,1% nos chutes de longa distância.

dominique-wilkins-trading-card-clippersUm card do passado: Dominique Wilkins. A atual versão do Los Angeles Clippers é certamente a mais promissora da franquia desde que ela adotou este nome. Numa história de muitas derrotas e derrapadas, todavia, o clube já teve seus momentos em que tudo parecia estar caminhando bem, que havia chegado a hora da virada. Voltando no tempo, temos o time de Elton Brand e Sam Cassell em meados da década passada. Um pouco antes, em 2002-03, a base formada por Andre Miller, Marko Jaric, Keyon Dooling, Corey Maggette, Quentin Richardson, Lamar Odom, Chris Wilcox e Michael Olowokandi prometia demais. Tá. Mas o time que mais empolgou Billy Cristal deve ser aquele do início dos anos 90, com Mark Jackson, Danny Manning, Ron Harper, Charles Smith, Ken Norman, entre outros. Sob o comando de Larry Brown, eles se classificaram para os playoffs tanto em 1992 como em 1993, o que era um estouro, já que não acontecia desde a época de Buffalo Braves, em 1976. Tá.

Em 1993, o time já contava com Dominique Wilkins como seu cestinha. O veterano de 34 anos havia chegado em troca por Manning. Nome por nome, parecia um tremendo negócio, né? Estavam recebendoum Hall da Fama, que iria anotar 29,1 pontos e 7,0 rebotes por sua nova equipe. Jogava bola o suficiente para ser convocado para a segunda seleção profissional norte-americana, que seria campeã em 1994. Mas aquele era o último ano de contrato de Wilkins. E você acha que ele renovaria com o Clippers?! Claro que não. Na temporada seguinte, assinou com o Boston Celtics. Manning também estava em vias de se tornar agente livre. Era mais jovem, de todo modo, uma estrela em ascensão, que havia sido selecionado pela franquia como a primeira escolha do Draft de 1988. Será que Manning renovaria em Los Angeles? Imagino que a chance era maior. De Atlanta, foi para Phoenix, onde faria parceria com Charles Barkley. Sua carreira nunca seria a mesma, porém, devido a diversas lesões no joelho. Manning era um ala-pivô versátil com muito talento. Mas Blake Griffin causou mais impacto em L.A. Se Doc achar que é a hora de trocá-lo, o retorno será mais duradouro?

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O ridículo triângulo amoroso (e odioso) entre Jordan, Clippers e Mavs
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Giancarlo Giampietro

O Clippers tripudia ao anunciar renovação de DJ

O Clippers tripudia ao anunciar renovação de DJ

Bem, o texto do final de semana estava mais ou menos certo, né? No fim, Dirk Nowitzki, Mark Cuba, Rick Carlisle, Chandler Parsons e até mesmo DeAndre Jordan acreditam que o pivô já era jogador do Dallas Mavericks. Mas o grandalhão, depois de se comprometer com o clube texano, deu para trás nesta quarta-feira e, no primeiro instante em que os atletas podem assinar seus contratos, decidiu renovar com o Los Angeles Clippers.  A parte que o artigo não falhou: o vaivem de Jordan só reforça a tese do quanto a cabeça de um jogador pode flutuar no momento de tomar uma decisão dessas. Tão relevante do ponto de vista financeiro, esportivo e, enfim, pessoal.

Num universo com tanto dinheiro correndo solto e egos à deriva, parece que o mais prudente, mesmo, é esperar a tinta aparecer no papel. Mesmo que Wojnarowski, Stein e qualquer outro repórter de primeiro escalão tenha, hã, cravado a notícia. Embora, dando um passo para trás, percebe-se que ninguém errou. Jordan realmente disse que iria para Dallas. Apenas se arrependeu, ou foi convencido a se arrepender, se é que isso faz sentido. De qualquer forma, em meio a esse dramalhão todo, os jornalistas foram os que menos passaram ridículo, e não se trata de mero corporativismo.

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O maior carão, ou a maior cara-de-pau, mesmo, fica por conta de DJ, que passou do limite. Complexidades de uma tratativa à parte, o jogador extrapolou em sua infantilidade. Já seria muito feio, uma estrondosa quebra no código de ética da liga, ele mudar de ideia e fechar com o Clippers. Muito pior, no entanto, foi o jogador nem ter se dado ao trabalho de atender o telefone, responder as mensagens de texto, SnapChat, Whatsapp, sinal de fumaça e sabe-se lá qual outra ferramenta de comunicação os caras de Dallas tenham usado. Preferiu ficar jogando cartas e videogame com seus ex-futuros-novos-companheiros de L.A, em casa, em Houston. Interrompeu o diálogo na terça-feira, e pronto. Isso é patético, com o perdão da expressão — e, aqui, ainda caberiam vários adjetivos tão ou mais fortes. Não é que ele tenha sido pressionado a tomar uma decisão em 30 segundos antes de dizer sim ao Mavs. Já havia tido tempo o suficiente para ruminar a ideia desde a eliminação do Clippers na semifinal de conferência

E não. Também não foi a primeira vez que uma prima donna da NBA concordou com um negócio e, depois, seguiu outro rumo. Que me lembre, o caso mais emblemático nessa linha foi o de Carlos Boozer, Cleveland Cavaliers e Utah Jazz, há uns bons dez anos já. O ala-pivô, então uma jovem força produtiva no garrafão, havia combinado com a gestão anterior do Cavs: que eles rescindissem seu contrato paupérrimo de novato para que, como agente livre, assinasse um novo acordo que fizesse jus aos seus números em quadra. Aí veio a punhalada: Boozer topou receber uma fortuna em Salt Lake City. Foi um episódio mais sórdido, nota-se. Mas é aquela história de Brasília: não é que alguém já tenha feito antes, que isso vá justificar a repetição do erro.

Da maneira em que os negócios da NBA estão estruturados, essa é uma falta gravíssima. Bobby Marks, ex-assistente de Billy King na administração do Brooklyn Nets, reforça:  “Assim como no beisebol, há certas regras que não estão escritas, e isso foi uma grande violação dessas regras. Uma vez que um jogador se compromete com um time, você segue em frente”. O cara, aliás, é uma conta obrigatória para se seguir no Twitter.

O Mavs já estava fazendo planos e planos com Jordan. Desde as mais simples jogadas a grandes tacadas de marketing e relações públicas. Em menos de uma semana, uma franquia pode avançar com seus projetos de modo significativo. Mas a grande perda vem no campo esportivo. Com a assinatura também de Wes Matthews (que, já avisou, mantém o que estava acertado), acreditavam que tinham uma boa base para competir no Oeste. Agora eles têm um rombo imenso para cobrir, e poucas opções no mercado. Enes Kanter, Jordan Hill, Kevin Seraphin, o próprio Boozer… Boa sorte nessa.

Por isso, Mark Cuban ficou mudo nesta quarta. Pois é: DeAndre Jordan já pode adicionar em seu currículo a proeza de ter sido o primeiro homem na face da terra a ter deixado o proprietário do Mavericks sem palavras. Nem o chefão David Stern era capaz disso. Outro que deve demorar um bocado para se pronunciar é Chandler Parsons, que estava cantando aos sete ventos sua habilidade na persuasão dos atletas, brincando que seria o gerente geral do clube no futuro. O papel dele no suposto convencimento de Jordan realmente era muito interessante. Só comemorou a vitória um tanto antes.

A maior crueldade: um constante reclamão, habituado a peitar a liga, Cuban nem mesmo tem o que fazer agora. Oficialmente, os clubes não podem fechar nada durante o período de moratória nas transações com agentes livres, embora isso aconteça em toda negociação. Ironicamente, aliás, o magnata já foi multado pela NBA por ter se pronunciado sobre o pré-acordo com Jordan antes do permitido.  Se Cuban está deprimido no momento, imaginem como esteja a cabeça de Dirk Nowitzki.

O alemão já está em evidente declínio, mas ainda pode ser um atleta valioso num esquadrão. Sem um armador de ponta, com dois alas voltando de cirurgias gravíssimas, um garrafão anêmico e poucas alternativas no mercado, é de se perguntar como o Mavs vai fazer para se reforçar. Sua missão é combater diariamente os adversários da Divisão mais letal da NBA. Na conferência, Utah e Phoenix (oi, Tyson Chandler, tudo bem?) querem subir. Faz como? Um possível caminho é a implosão de suas estruturas e um mergulho de cabeça num projeto de reformulação. Matthews e Parsons poderiam tirar o tempo que quisessem para voltar às quadras, por exemplo. Com o craque Nowitzki se encaixaria nessa, não dá para saber. Sua lealdade ao time é louvável, mas, no decorrer dos anos, ele já se mostrou muito mais inquieto do que Tim Duncan. Quem não se recorda de sua mensagem logo que Dwight Howard anunciou que estava indo para o Rockets, em detrimento do Mavs? “Bem-vindo de volta, Devin Harris”, escreveu, não sem sarcasmo.

Da parte do Clippers, eles saem com o grande prêmio e mantêm seu fortíssimo núcleo intacto — e até reforçado pela chegada de Paul Pierce. (Sobre Lance Stephenson, vamos esperar para ver. ) No entanto, não há como ignorar o papelão que nos proporcionaram. Mais um. O simples fato de o clube ter voltado a investir no jogador depois do acerto com o Mavs nos diz que estavam superconfiantes em que renovariam com o jogador, ignorando os melindres que o incomodavam, e que, a partir daí, saíram desesperados para reconquistá-lo.

Daí toca reunir o contingente numa missão de Comandos em Ação: o chefão Steve Ballmer, Doc Rivers, o ‘bro’ Blake Griffin, Paul Pierce, JJ Redick e, mais importante, Chris Paul embarcaram para Houston e tomaram conta da casa do pivô. Segundo relatos, Paul era o mais comovido na situação, dizendo que não tinha ideia de que suas cobranças diárias estavam alienando o camarada. Que achava que eles eram irmãos e que, por isso, certas liberdades poderiam ser tomadas. A maioria deles ficou no QG de DJ até a meia-noite, para garantir que, de última hora, ele não assinasse, talvez, com o Philadelphia 76ers. Vai que…

Enquanto as horas iam passando, os membros da comitiva jogavam mensagens (nem tão) cifradas nas redes sociais, abusando de fotos e emoji. Griffin era o mais abusado. Primeiro cornetou a mobília dos Jordans. Depois, brincou que estava em uma cabana no quintal. Será que Nowitzki o segue? Faz parte do jogo, claro, mas não deixa de ser um desrespeito, considerando a ética que estava sendo esmagada naquele momento.  Carente que só — e foi essa carência que inicialmente o empurrou na direção do Mavs –, Jordan deve ter se extasiado. Contrato assinado.

Quem também merece um texto só seu nessa novela é o agente Dan Fegan. O mesmo de Dwight Howard, aquele que queria, e não queria sair de Orlando. Aquele que estava encantado com Hollywood. O mesmo de DeMarcus Cousins. O mesmo que é falado nos corredores da liga como um dos maiores rapinas da paróquia. Um cara de cartela influente de clientes, assustador nas negociações. Com que clima Mark Cuban vai poder sentar à mesa com ele agora? E os demais clubes? Ou ele também foi alijado das tratativas?

A reação em cadeira desse causo poderia arranhar sua reputação. Talvez a NBA agora decida, enfim, rever esse período de moratória para que os novos vínculos sejam firmados. Já o Clippers talvez se veja em situação desconfortável na hora de se comunicar com a concorrência, que obviamente não aprova o que aconteceu. Jordan vai enfrentar jornalistas sedentos nos próximos meses e pode se tornar uma figura ridicularizada a cada cidade que visitar. Mas não dá para sermos ingênuos, mais uma vez, nessa. O dinheiro do novo contrato de TV vai jorrar nos próximos anos, a competitividade da liga só vai aumentar, e esse triângulo amoroso/odioso vai virar uma anedota. Ao menos isso a gente pode cravar.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


LaMarcus é do Spurs; DeAndre, do Dallas. Por que demorou tanto?
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Giancarlo Giampietro

LaMarcus Aldridge é do San Antonio Spurs, e o Golden State Warriors já sabe que a campanha em busca do bicampeonato ficou, desde já, muito mais complicada. É o tipo de acordo que balança novamente as estruturas de poder da liga, embora não possa ser considerado bombástico, pelo fato de ser algo relativamente esperado por boa parte dos concorrentes. Segundo consta, o pivô ainda havia ido para a cama indeciso. Comunicou o Portland que estava, mesmo, de saída, mas ainda pensava no Phoenix Suns. Repetindo: o Phoenix Suns!

Pois é. De um lado, um clube que conquistou cinco títulos de 1999 para cá. Com Tim Duncan e Gregg Popovich garantidos. Com Kawhi Leonard de contrato novíssimo. Do outro, um clube que foi duas vezes vice-campeão na história e que não joga os playoffs desde 2010. Que tem alguns jogadores jovens interessantes, mas nem mesmo conta com a base mais promissora em uma conferência brutal (Utah Jazz acho que leva esse título, enquanto o Minnesota Timberwolves parece o destino ideal para daqui a alguns anos).

LaMarcus, Pop e Ime Idoka dão uma volta em Los Angeles durante namoro cheio de dúvidas para o pivô

LaMarcus, Pop e Ime Idoka dão uma volta em Los Angeles durante namoro cheio de dúvidas para o pivô

Então, pera lá: qual é exatamente a dúvida aqui?! Foi natural questionar o que se passava pela cabeça de LaMarcus nos últimos dias. Aparentemente, não havia o menor sentido titubear entre Spurs e Suns.

Mas aí é que é importante compreender que a decisão de um jogador pode estar cercada pelas mesmas incertezas de qualquer profissional. A diferença é que, na hora de eu ou você trocarmos de emprego, não vai ter uma #WojBomb para anunciar e nem mesmo cinco pessoas interessadas no que você vai fazer no dia seguinte a0 de limpeza da mesa.

Ao que tudo indica, a apresentação da diretoria e técnicos do clube do Arizona foi surpreendente e tentadora, a ponto de balançar o pivô.  Como eles conseguiram se conectar com Aldridge, ao contrário do prestigioso Los Angeles Lakers, descartado imediatamente? Entender a oferta do Suns seria, então, um meio de desvendar o que se passava pela cabeça do atleta durante esse processo.

Aí entrou em cena o jornalista John Gambadoro, da rádio Arizona Sports, um cara bem informado sobre os bastidores da franquia local, para dar algumas pistas: 1) Aldridge tem aversão à posição 5, de patrulheiro de garrafão, e acreditava que, em San Antonio, pode ficar encarregado desse serviço sujo, enquanto o Suns havia acabado de contratar Tyson Chandler, presença inesperada na reunião com o clube; 2) em Phoenix, ele seria a referência indiscutível em quadra, podendo manter sua produção estatística (e a satisfação de ser o cara); 3) estaria também em um time bem competitivo — se não para conquistar o caneco, mas ao menos num patamar semelhante ao do Blazers, com chancds –, o que o livraria da imagem de “mercenário” e “caça-título”; 4) por fim, o fator extraquadra, no qual ele também seria tratado como a grande estrela, recebendo mensagens inclusive do prefeito de Phoenix nesta sexta-feira, um mimo que lhe fez falta nos últimos anos em Portland, depois da ascensão de Damian Lillard.

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Esses quatro pontos podem ser facilmente rebatidos, claro. Mas não podemos dizer se está certo ou errado ponderá-los. Teria LaMarcus exagerado em seu ciúmes quanto a Lillard? Talvez, até porque essa coisa de carisma é um tanto inerente, não? Quem tem, tem. Para atingir a popularidade, nem tudo se projeta e se constrói. Sobre sua questão em ser denominado pivô e ter a atribuição de trombar com os jogadores mais pesados: o talentoso cestinha poderia se questionar se esse conceito de cincão ainda existe, mesmo, ou se vá ser duradouro. Ok, bater de frente com Bogut e Asik deve doer uma barbaridade. Mas esses já são casos raros.

Nessa categoria mastodôntica, todavia, ainda se enquadra DeAndre Jordan, outro agente livre texano que tinha suas questões pessoais para matutar ao decidir se trocaria o Los Angeles Clippers pelo Dallas Mavericks. Sua mágoa com Chris Paul é realmente do tamanho que muita gente especulou durante a temporada. Nas palavras oficiais, claro, todos desmentiam. Até que chegou o momento de negociar um novo contrato, com o pivô virando as costas até mesmo para seu melhor amigo, Blake Griffin, de tanto desgosto que tinha pelas intensas cobranças do armador. Além disso, sonhava com um papel de maior destaque no ataque, em vez de apenas colher as rebarbas de CP3 e Griffin. Estava convicto de que poderia causar estragos no jogo de costas para a cesta e em mais situações de pick and roll.

Simbolismo puro

Simbolismo puro

Será? Doc Rivers, na tentativa de segurar o grandalhão que ele tanto ajudou a evoluir nos últimos dois anos, segundo consta, não prometeu nada nesse sentido. Teria menosprezado as habilidades do jogador, ou apenas constatado suas limitações? O Mavs se aproveitou dessa brecha e, em sua apresentação, usou a prancheta de Rick Carlisle para mostrar de que modo eles planejavam envolvê-lo no sistema ofensivo. Além disso, trouxe Dirk Nowitzki para a reunião. Fez o pivô se sentir mais querido.

No final, Aldridge tomou a decisão aparentemente mais lógica e fechou com o Spurs. Vai ter a chance de dividir a quadra com uma lenda como Tim Duncan pelo menos por um ano e carregar a tocha a partir daí, com a ajuda de uma estrutura incrível nos bastidores, a orientação de Gregg Popovich e uma força emergente como Kawhi. O que o clube texano não lhe proporciona é a visibilidade e o tratamento de estrela — não pelo fato de ser um mercado pequeno (Kevin Durant joga em OKC, e seu rosto está por todos os lados), mas simplesmente porque, em San Antonio, as coisas simplesmente funcionam de um modo diferente. As preocupações são outras. Jordan, por outro lado, foi com o coração e agora vai se testar seus limites sem a assessoria de Paul e Griffin, também de volta ao Texas, mais próximo de casa. Foi uma bobagem deixar um time que seria automaticamente candidato ao título por uma equipe que nem armador titular tem? Esportivamente, dá para dizer que sim. Só não dá para ignorar esse componente emocional.

Durante o flerte desses com outras equipes, Aldridge e Jordan expuseram suas preocupações, aflições e predileções. Você pode entender isso tudo como um capricho de jogadores mimados, e tal. Recomenda-se, todavia, dar sempre um passo para trás e tentar entender o que está acontecendo, em vez de simplificar as coisas com adjetivos chulos. Algo que anda em falta no mundo de hoje, a julgar pelas seções de comentários inflamadas em qualquer www. Independentemente da interpretação aos fatos, o que se constata depois das negociações dos pivôs, o que eles nos ensinam, uma vez mais, é sobre a complexidade do dia a dia da NBA — e de qualquer grande liga esportiva, afinal de contas. Eles jogam, nós cornetamos. Eles vivem, e nós também.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Quem dá mais? O Pelicans! Com um contrato gigantesco para Davis
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Giancarlo Giampietro

O Monocelha janta com a família, o agente, o GM Dell Demps e seu novo técnico Alvin Gentry. Quem será que pagou a conta? Ala-pivô do Pelicans se torna o jogador mais bem pago da NBA, por enquanto

O Monocelha janta com a família, o agente, o GM Dell Demps e seu novo técnico Alvin Gentry. Quem será que pagou a conta? Ala-pivô do Pelicans se torna o jogador mais bem pago da NBA, por enquanto, com R$ 90 mi por ano a partir de 2016

Quando o escritório da NBA ouviu  à meia-noite em  Nova York (23h em Brasília, 19h em Los Angeles), as companhias aéreas e de telefonia vibraram. Assim como os hotéis e aquelas lojinhas de conveniência e presentes de última hora. Sabe aquelas que vendem bugigangas para quem esqueceu de comprar algo para o aniversariante, e tal? OK, no mundo bilionário da liga, esse ramo de negócios não lucra tanto. De resto, os outros três setores da economia americana curtem e muito o 1º de julho. É que os times estão liberados a abrir negociações (oficiais) com os agentes livres da liga. A primeira madrugada de visitas e teleconferências já foi agitada. Vejamos um resumo comentado do que aconteceu até agora:

– A principal notícia foi a extensão que Anthony Davis ganhou do New Orleans Pelicans. O acerto em si já era esperado. A surpresa ficou para quem ainda não havia se dado ao trabalho de calcular o quanto nosso prezado Monocelha poderia ganhar em seu segundo contrato. Saiu por estimados US$ 145 milhões em cinco anos (a partir de 2016), o que fará do ala-pivô o jogador mais bem pago da liga. Por ora, claro, até que LeBron possa assinar seu primeiro vínculo com o Cavs no novo mercado da NBA, a partir do ano que vem, e que Kevin Durant decida o que fazer da vida também em 2016. No câmbio de hoje, dá algo em torno de R$ 450 milhões (sem deduzir os impostos). Algo como R$ 90 milhões por ano. Toda uma dinastia de Monocelinhas já está com a poupança garantida, e o mundo inteiro sorri que é uma beleza. Como se chega a um valor exorbitante desses? É que o Pelicans *concordou* em pagar o máximo de salário possível para o jogador – o que, de acordo com as regras de hoje, se equivale a 30% do teto salarial de um clube, como seu “jogador designado”. Não importando o valor desse teto. Logo, com as projeções de subida da folha de pagamento para o norte de US$ 100 milhões em 2017, Davis vai poder levar uma bolada, e tanto. Em caso de mais uma eleição para o All-Star Game (o que, sabemos, vai acontecer), você chega ao que se tem de maior projeção em dividendos para um atleta. PS: ao final da quarta temporada da extensão, em 2020, o jovem astro poderá virar agente livre.

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– O segundo maior contrato foi firmado entre San Antonio Spurs e Kawhi Leonard. Nenhuma surpresa também. O valor é de US$ 90 milhões por quatro anos, o que atesta a opinião firme de Gregg Popovich de que o ala é o futuro do clube na era pós-Duncan, mesmo que ele não tenha jogado tão bem a série contra o Clippers. Kawhi ainda está no princípio de seu desenvolvimento como estrela. Acontece. Agora o Spurs espera sua vez para cortejar LaMarcus Aldridge. Para contratar o ala-pivô, porém, RC Buford e o Coach Pop terão de fazer algumas manobras complicadas e dolorosas, incluindo pagar ainda menos para Duncan e Ginóbili, talvez renunciar aos direitos sobre Danny Green e realizar uma troca envolvendo Tiago Splitter, Boris Diaw e/ou Patty Mills, sem receber nenhum salário de volta etc. Por falar em Danny Green, o ala já recebeu várias ligações. A primeira foi do Detroit Pistons. O Knicks também já agendou reunião. O Spurs teme perder o ala.

Sobre LaMarcus Aldridge: os dois primeiros times a se reunirem com ele em Los Angles foram Lakers e Rockets. Não significa que eles tenham a prioridade. O Lakers tem espaço em sua folha salarial e pode assinar um contrato na casa de 25% do teto salarial (o que daria US$ 18,8 milhões no próximo campeonato) com o pivô do Blazers. Na sala com Aldridge, estavam Jeannie e Jim Buss, os donos da franquia, Kobe Bryant, Byron Scott, o gerente geral Mitch Kupchak, o ídolo e comentarista dos jogos do clube James Worthy, além dos espíritos de Wilt Chamberlain e George Mikan e bonecos bubblehead de Shaq, Jerry West e Kareem Abdul-Jabbar. A comitiva do Rockets tinha dirigentes e Kevin McHale e James Harden. Para ter o pivô, o clube também precisaria se desfazer de alguns salários. Mavericks, Suns, Raptors e Knicks ainda vão conversar com ele. O Blazers ainda está no páreo, mas não haverá um encontro formal entre as partes. Convenhamos: um já conhece bem o outro. O pivô é hoje a figura mais cobiçada da liga (e seu pacote técnico justifica tamanho frenesi). É uma situação muito confortável: poderá escolher um time entre opções muito diferentes. Difícil de imaginar, no entanto, que não fique entre Lakers, Spurs e Blazers. A saída de Portland parece cada vez mas provável, de todo modo. E aí ficaria um dérbi bastante contrastante entre o glamour de Los Angeles e o ambiente caseiro de San Antonio. Depende do que o jogador quer.

– Quem está à espera de LaMarcus é Greg Monroe, considerado o plano B para muitos. Ele já bateu um papo com Knicks e Bucks em Washington, vai receber metade da delegação do Lakers hoje e ainda tem Blazers e Celtics na fila. A expectativa geral é a de que ele vá fechar um acordo com o New York. Ficar em Detroit está fora de cogitação. O pivô está disposto a assinar um vínculo mais curto, talvez de apenas dois anos, para manter suas opções em aberto, mesmo correndo riscos de que alguma lesão possa atrapalhar os planos de longo prazo. De qualquer forma, ciente de que o mercado vai bombar a partir de 2016, talvez seja uma decisão esperta. Se escolher direito seu próximo clube, Monroe vai seguir acumulando números bonitos para o currículo, ainda que seu jogo não inclua a defesa, e estará pronto para receber um contrato volumoso para a segunda metade de sua carreira. O sistema de triângulos é uma boa para seus recursos técnicos. Assim como faria bem a Patrick Beverley, um agente livre subestimado ao meu ver. Um dos melhores defensores em sua posição, bom chutador e que, em Nova York, não precisaria ser um armaaaaador – daqueles que retém a bola por muito tempo.

– Procurando um homem de garrafão desesperadamente, o Lakers também agendou para esta semana uma reunião com Kevin Love. Nos bastidores, a previsão é de que ele fique em Cleveland, e isso teria sido informado ao time californiano. Mas há quem ainda acredite que o ala-pivô possa deixar o clube. Creio que seja difícil. Pelo menos não para este ano. Em relação ao Cleveland, tudo quieto. Quer dizer, mais ou menos, já que LeBron James, em tese, é agente livre. Foi mais um movimento planejado para estrangular a diretoria do clube, no caso, para se renovar com Tristan Thompson sem sustos e seguir as diretrizes de mercado que o jogador quiser. Entre elas, Tayshaun Prince?! Estava pronto para detonar mais um dos pitacos do GM LeBron, até que… o Spurs apareceu entre os interessados no veterano. (Risos). (E aí não dá para entender mais nada, mesmo.) Enquanto isso, JR Smith se sente desprestigiado pelo Cavs. Alô, JR, terra chamando!

– Outro alvo do Lakers, sabemos, é DeAndre Jordan. Byron Scott e Mitch Kupchak cruzaram o país na madrugada para falar com Greg Monroe na capital americana e voltariam ainda nesta quarta para LA para se reunir com o pivô. Alguém falou em jet lag? Quem primeiro abriu tratativas com Jordan, no entanto, foi o Dallas Mavericks. O ala Chandler Parsons, segundo consta, não desgrudou do grandalhão por nenhum momento nos últimos dias e está tentando todas as artimanhas para que o jogador retorne ao Texas (é natural de Houston, porém). O Knicks também pretende negociar com o gigantesco Jordan, mas Mavs e Clippers são vistos como os favoritos.

– O Dallas também foi atrás do ala Wes Matthews, e as negociações avançaram. Aqui, sim, temos uma surpresa. O Mavs parece operar com a certeza de que o queridinho de Portland vai se recuperar 100% de uma lesão grave como a ruptura do tendão de Aquiles. Não é algo tão simples assim, gente. O clube teria oferecido US$ 12 milhões anuais. Ele quer US$ 15 mi. Não sei bem se é um bom negócio. Com Dirk idoso e as dúvidas sobre a resistência física de Parsons, o time precisava de alguém mais criativo no ataque? Ou estão confiando no trio Felton-Harris-e-eventualmente-Barea ainda?

– Quem se mandou do clube foi o ala Al-Farouq Aminu, que fechou um contrato de US$ 30 milhões por quatro anos com o Blazers. Essa foi um tanto bizarra, a despeito do ganho de investimento que os clubes terão a partir do ano que vem. O jogador que defende a Nigéria no mundo Fiba é um cara de muita vitalidade, versátil, que causa impacto nos rebotes e fez ótima série contra o Rockets.ue Mas q não acerta nem 30% dos arremessos de três em sua carreira e ainda não teve um rendimento consistente para justificar essa grana. Em Portland, vai reencontrar o gerente geral que o Draftou pelo Clippers, Neil Olshey, de todo modo. O lance é que esse valor obrigatoriamente inflaciona o preço de diversos atletas semelhantes, como DeMarre Carroll, Jae Crowder e afins. Imagino que Danny Ainge, que tanto quer Crowder, tenha gelado ao saber da notícia. Carroll, por sua vez, pode muito bem pedir o dobro agora (US$ 15 milhões por ano) ao Hawks. Mesmo Danny Green vai querer uma fortuna depois dessa.

– Mais dois caras ex-Mavs e que estão em negociações curiosas? Rajon Rondo e Monta Ellis. O Sacramento Kings foi para cima de Rondo, liderado pelo recrutamento de Rudy Gay, um dos raros casos de atleta que se dá bem (e muito bem) com o armador. São muito próximos, assim como Josh Smith. Que galera, hein? Rondo estaria disposto a assinar um contrato curto com o Kings na tentativa de regenerar sua reputação na liga depois do papelão que fez em Dallas – e, tão ou mais importante, o baixo nível de produção em quadra. Agora… Ter Rondo, Boogie, Karl e Ranadive sob o mesmo teto? Vira um hospício. Bem distante da Califórnia, o Indiana Pacers vai receber Monta Ellis, outra figura problemática, nesta quarta. Especula-se que vão oferecer um contrato de US$ 32 milhões por três anos. Larry Bird já lidou com Lance Stephenson por alguns anos, então talvez não se preocupe em domar o ego de Ellis, um cestinha obviamente talentoso, mas que marca pouco e acredita ser melhor que Stephen Curry. Ao menos, na retaguarda, Paul George e George Hill poderiam compensar suas deficiências.

– Outros negócios quase certos: o ala Khris Middleton tem um contrato de US$ 70 milhões e cinco anos encaminhado com o Milwaukee Bucks. Pode parecer muito para um jogador pouco badalado. Mas Middleton contribui dos dois lados da quadra, é jovem e se encaixa bem no esquema de Jason Kidd, ao lado de Giannis, Jabari & Cia. Envergadura. O Brooklyn Nets também vai renovar com Brook Lopez (US$ 60 milhões/3 anos) e Thaddeus Young (US$ 50 milhões/4 anos). Valores OK para um clube que está de mãos atadas enquanto não se livrar de Joe Johnson e Deron Williams.


Derrocada do Clippers começou muito antes da virada do Rockets
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Giancarlo Giampietro

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

O Houston Rockets foi o primeiro time desde 2006 a sair vencedor de uma série depois de ficar em desvantagem por 3 a 1, tomando duas surras em Los Angeles e perdendo o primeiro jogo sem um tal de Chris Paul em quadra. O que a gente tira desse resultado?

Que foi um colapso homérico do Clippers, claro.

Mas como entender uma façanha, para os texanos, ou um vexame desses, para os californianos? Resumir a um termo até meio chulo como “amarelão” não cola. Afinal, dá para questionar a seriedade, a determinação ou força mental de um time que venceu agora há pouco o Spurs em San Antonio. Duas vezes. Por mais que tenham relaxado demais no Jogo 6, com a vitória praticamente garantida, fato é que perderam três partidas consecutivas para um rival aparentemente dominado, tendo imposto um saldo de 68 pontos nas primeiras quatro partidas.

O técnico David Thorpe, analista da ESPN e mentor de uma extensa lista de atletas da liga, entre eles o ala Corey Brewer e Kevin Martin (um atual jogador do Houston e outro ex-integrante), mandou a seguinte mensagem no Twitter após a virada improvável: “Pessoal, se vocês algum dia questionaram o quanto os executivos causam impacto em grandes times, agora já sabem. O Rockets venceu esta série na sala da diretoria”. Parece a melhor resposta, mesmo.

Banco? Qual banco?

Banco? Qual banco?

Não vamos perder tempo aqui discutindo quem é melhor em quadra: Harden, Howard, Paul, Griffin, Jordan… São todos talentos de ponta. Ambos os times fizeram campanhas excepcionais, empatados com 56 vitórias e 26 derrotas. Tudo podia acontecer na série. Em termos de técnico, o Clippers tinha uma presumida a vantagem, contando com Doc Rivers, um dos poucos campeões da liga ainda em atividade. Um excelente treinador, que comandou o ataque mais eficiente da temporada. Mas que foi sabotado pelas decisões do presidente o clube. No caso, ele próprio.

O Clippers tem a segunda folha salarial mais cara da liga e um dos quintetos iniciais mais fortes da liga, se não o mais forte. Concorre lá em cima com o time titular de Spurs, Warriors e Cavs em termos de rendimento. Mas essa galera não teve quase nenhuma ajuda durante uma maratona de temporada, que culminou com as duas séries mais desgastantes destes playoffs. O que fica mais claro, mesmo, é a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura dos texanos, mais inquietos, ativos na liga, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra.

estatisticas-banco-clippers-doc-rivers-2015No total, durante 14 jogos da fase decisiva, ou 3.360 minutos disponíveis, os reservas do Clippers receberam apenas 926 (27,5%). E aqui estamos contando toda a carga de Austin Rivers, o jovem ala-armador que começou duas partidas como titular no lugar de um Chris Paul lesionado. Confira nas tabelas ao lado a diferença de produção dos reservas entre os quatro semifinalistas do Oeste. A segunda unidade do Clippers não lidera nenhuma categoria, mesmo com os minutos a mais abertos pela lesão muscular de seu principal armador. Se nos números totais, o time aparece com destaque, isso se deve apenas pelo fato de terem feito duas séries de sete jogos. Em médias absolutas de quatro estatísticas básicas, os substitutos não aparecem não lideram nenhuma coluna. (Os asteriscos aqui: Memphis também perdeu Mike Conley Jr. por três partidas, dando mais minutos a Beno Udrih e, principalmente, Nick Calathes, enquanto, no Rockets, estou contando Terrence Jones como o reserva, por ter encerrado o duelo passado desta maneira).

Tá certo: o Clippers, mesmo com esse plantel limitado, ficou muito perto de eliminar o Houston. Tinha uma vantagem de 19 pontos no terceiro quarto do Jogo 6, em casa. Depois de ter batido o San Antonio Spurs, os atuais campeões, a equipe que é exemplo quando o assunto é explorar todas as peças disponíveis. Justamente, não? Isso só reforça o problema. A série contra os compadres de Tim Duncan já foi muito exigente. Mas era apenas a primeira etapa.

O que levou o mesmo David Thorpe a trocar mensagens de texto com Corey Brewer durante o sétimo jogo no Staples Center, cujo conteúdo agora foi revelado. “Nós dois pensávamos que acabaria o gás do Clippers. O importante era não deixar que abrissem 3 a 0”, escreveu. Quer dizer: está aqui um técnico muito bem conectado, que já trabalhou com dezenas de atletas profissionais de alto nível e recebeu/recusou diversas propostas da liga, falando com um de seus pupilos, e os dois meio que admitindo que, tivesse a equipe californiana um banco melhor, muito provavelmente o Rockets não teria a mínima chance de evitar uma varrida. Mas não era o caso, e o Rockets conseguiu um triunfo apertado no Jogo 2 por 115 a 109 para estender um pouco mais o confronto. Deu no que deu. Na verdade, não foi um colapso, não foi súbito – e, sim, um desmoronamento gradativo.

Uma sucessão de erros
E aí vale dissecar a formação de ambos os elencos. É aqui que se escancara a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura de Houston – tido nos bastidores da liga como “um clube grande” –, com lideranças irrequietas, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra. Algo difícil de entender considerando que a parte mais difícil já havia sido feita: quando Doc herdou o Clippers de Neil Olshey, já tinha um timaço, com as estrelas garantidas, com Paul, Griffin e Jordan sob contrato.

Dos atuais titulares, o único que chegou sob a chancela do novo manda-chuva foi JJ Redick. Um belo reforço, mas cujos desdobramentos já foram um tanto suspeitos. Para ter o ala, foi orquestrada uma troca tripla com Bucks e Suns, que custou ao clube um prodígio como Eric Bledsoe e mais uma escolha de segunda rodada do Draft. Bledsoe já não aguentava mais ser reserva de CP3 e estava prestes a virar agente livre. Precisava sair, mesmo. Mas ainda era uma excelente moeda de troca. Então não é que Redick tenha vindo de graça, numa barganha. Além disso, nessa mesma transação, o clube recebeu Jared Dudley. O ala fez uma péssima campanha inaugural em Los Angeles, é verdade, mas foi dispensado rapidamente por questão de economia, para escapar de multas pesadas em cima da folha salarial. Daí que, neste campeonato, foi um dos líderes do surpreendente Milwaukee Bucks. Para se desfazer dele, Doc pagou mais uma escolha de Draft, dessa vez de primeira rodada. Um desastre, fruto de impaciência e de um conflito de interesses quando você é o técnico e o dirigente. O treinador quer peças para agora. O dirigente precisa cuidar do que vem pela frente.

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É aí que entram as escolhas de Draft. Mercadorias importantíssimas na NBA de hoje devido ao baixo salário que os calouros recebem. É a grande chance de se contratar jogadores bons, para compor a rotação, pagando pouco. Ainda mais no caso de um Clippers que já paga US$ 48 milhões para seus três principais atletas – e espera pagar ainda mais, na hora de renovar com Jordan. Acontece que não só o técnico-presidente saiu gastando picks por aí, como também não soube aproveitar as que tinha. Em 2013, optou pelo ala Reggie Bullock – um cara vindo de North Carolina, com fama de bom chutador e defensor, o tipo de operário que se encaixaria perfeitamente no atual sistema. Depois de 658 minutos em uma temporada e meia, aos 23 anos, Bullock foi repassado para o Phoenix Suns na transação por Austin Rivers. Neste ano, foi a vez do ala CJ Wilcox, de Washington. Um senior, supostamente pronto para contribuir. Pois o cara terminou a temporada regular com 24 anos (é cinco anos mais velho que Bruno Caboclo, para se ter uma ideia) e apenas 101 minutos de tempo de quadra, em 21 jogos. Inexplicável – a não ser que a diretoria já esteja pronta para considerá-lo um fracasso, o que pegaria muito mal.

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que...

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que…

Por estar acima do teto salarial, restava a Rivers outras duas alternativas além do Draft para reforçar seu time: as exceções (midlevel e biannual) que cada franquia recebe para efetuar contratações, desde que tenha flexibilidade econômica para tal – que não tenham extrapolado qualquer limite do bom senso de acordo com as regras da liga, basicamente. Os alvos foram Spencer Hawes e Jordan Farmar. Bons nomes. Hawes foi cobiçado por muita gente no mercado, enquanto Famar tinha experiência de playoff e vinha de excelente jornada pelo vizinho Lakers. Acontece que, aí, quem falhou foi o treinador. Em nenhum momento a dupla de agentes livres se sentiu confortável, com dificuldade para mesclar suas habilidades com as do núcleo já pré-estabelecido. Com o quinto maior salário do elenco (mais de US$ 5 milhões), Hawes participou de apenas oito das 14 partidas nos mata-matas e recebeu 57 minutos. Só entrava em caso de extrema emergência, ou com o placar resolvido. Uma bomba. Farmar? Foi dispensado no meio do campeonato após desavenças com o comandante. O que não vai impedi-lo de embolsar boa parte dos US$ 4,2 milhões de seu contrato, mesmo que já esteja em ação na Turquia.

Sem muito mais dinheiro ou alternativas para investir e sem confiar nos atletas mais jovens, restou a Rivers apelar a veteranos para compor seu elenco de apoio. Caras de salário mínimo, que estivessem sobrando no mercado. Acontece que, neste campeonato especificamente, não pintou nenhum PJ Brown ou Sam Cassell no mercado. Vieram nessa, então, Glen Davis, Hedo Turkoglu, Epke Udoh, Chris Douglas-Roberts, Nate Robinson, Lester Hudson, Jordan Hamilton e Danthay Jones. Só Big Bagy e o truco (pasme! já é um ex-jogador em atividade) foram aproveitados na rotação – o que é surreal da par. CDR saiu junto de Bullock. Robinson estava contundido e deu lugar a Hudson. Jones carregou o Gatorade, enquanto Hamilton, que vinha bem na D-League, teve o azar de sofrer uma lesão. Em suma: nada deu certo.

Do outro lado, o Rockets
Vocês sabiam que o finalista do este custa US$ 13 milhões a menos que o time que acabou de eliminar, mesmo contando com dois superastros e com um elenco capaz de suprir as lesões de seu armador titular e de um pivô lituano em franca evolução? Pois então. Para montar este grande time, o gerente geral Daryl Morey precisou mover mundos e fundos. Não foi uma herança.

Padrinho da comunidade nerd da NBA, Morey manipulou sua folha salarial com visão de longo prazo, sabendo também dosar agressividade e paciência, números e scout. Ao mesmo tempo. Cansado de ver um time medíocre morrer na praia, seja numa primeira rodada de playoff, ou mesmo já na temporada regular devido a uma forte concorrência no Oeste, o dirigente se envolveu em uma série de negociações disposto a acumular jogadores de potencial e relativamente baratos, além de ter acertado a mão na maioria de suas escolhas de Draft. O elenco seguia competitivo – para não desagradar ao departamento financeiro e torcedores –, ao mesmo tempo que se posicionava para uma eventual troca de impacto. Foi quando Sam Presti topou uma oferta hoje risível por James Harden (Kevin Martin, Steven Adams, Jeremy Lamb e Mitch McGary, mais os direitos sobre o ala Alejandro Abrines, do Barcelona).

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Com o Sr. Barba no elenco, ficou mais fácil de convencer Dwight Howard a virar as costas para o Lakers no mercado de agentes livres. Não dá para subestimar um movimento desses – qual foi o último craque a largar Hollywood desta maneira? Kobe pode ter dado uma boa força ao empurrar o pivô para fora de sua franquia, mas o fato é que o clube texano estava muito bem posicionado, técnica e financeiramente, para fechar o negócio.

E o que mais? Trevor Ariza veio praticamente pela metade do preço de Chandler Parsons, num negócio da China, de deixar Yao Ming todo pimpão. O ala campeão pelo Lakers em 2009 não só marca muito mais, como tem um estilo de jogo que casa melhor com Harden e Howard, dois jogadores que controlam a bola no ataque. Jason Terry e Pablo Prigioni chegaram em trocas periféricas, pouco discutidas, mas que hoje se mostram importantíssimas depois da lesão de Patrick Beverley (que veio, lembrem-se, do basquete russo, para vaga que um dia pertenceu a Scott Machado). Corey Brewer custou uns rocados, Troy Daniels e duas escolhas de segunda rodada de Draft, com restrições. Terrence Jones foi draftado, assim como o caçula Clint Capela, de apenas 20 anos e jogando minutos importantes contra o Mavs na primeira rodada. O suíço, o ala-armador Nick Johnson e o ala KJ McDaniels podem render para o futuro, ou serem envolvidos em futuras trocas. De negócios por ora mal-sucedidos, temos Kostas Papanikolau, ala da seleção grega e titular do Barça que não rendeu o esperado, e Joey Dorsey, alguém até decente para ter como o quinto na rotação de grandalhões – mas cujo contrato custou ao time o novato Tarik Black, outro achado no mercado do departamento de scouts. Ah, claro, e o Josh Smith: de graça e compadre de Dwight Howard. Valeu, Stan.

Não quer dizer que Houston também não erre feio. Pagou US$ 9,2 milhões em salários de jogadores que nem foram utilizados durante a temporada: Luis Scola (ainda!), Francisco Garcia, Jeff Adrien e Francisco Garcia. A maior bolada pertence a Scola, superior a US$ 6 milhões, no último ano de um contrato anistiado por Morey em 2012. Agora, se o dono Les Alexander libera sua diretoria para assinar cheques sem pestanejar, esse prejuízo deve ser relativizado. Além disso, o simples fato de o cartola ter se desfeito dessa para montar um elenco que julgava melhor já dispensa o uso de um eletroencefalograma. Se há algo que não se pode reclamar em relação ao gerente geral, é de esmorecimento ou passividade. Morey ouviu um não de Chris Bosh, contratou e trocou Jeremy Lin. Cedeu Kyle Lowry ao Toronto. Não fechou com Goran Dragic quando o preço era mais baixo. Mas fechou tantos, mas tantos negócios bons que chegou uma hora em que o zum-zum-zum nos corredores da liga era o de que seus pares se sentiam intimidados na hora de negociar com ele. Temiam tomar uma rasteira, sem nem perceber o que estava acontecendo.

Em Los Angeles, Doc já não tem nem muito o que discutir com a concorrência.  A não ser que esteja disposto a falar sobre Chris Paul e Blake Griffin. Ou isso, ou está de mãos atadas, num momento em que o que deveria predominar seria a tensão, suplantando a decepção por essa derrota histórica. DeAndre Jordan vai para o mercado de agentes livres em alta, despertando o interesse de muitos clubes. Se perder o pivô, vai fazer o quê? Sua folha salarial já está estourada. Aí teria de resgatar Spencer Hawes. Um jogador com o qual falharam ambos: técnico e dirigente.


Jogo 7 de Chris Paul já é um clássico da NBA
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Giancarlo Giampietro

Tim Duncan diz tudo. Chris Paul falou que o conhece desde os 11 anos de idade

Tim Duncan diz tudo. Chris Paul falou que o conhece desde os 11 anos de idade

Kawhi Leonard decolou no garrafão em busca de uma ponte aérea insana.  Blake Griffin o acompanhava, mas ainda conseguiu saltar, meio desequilibrado. O passe foi muito forte, porém. Por mais atlético que seja, o ala não alcançaria. Ainda assim, Matt Barnes, só para garantir, estava ali para dar uma raquetada na bola, enquanto estourava o cronômetro. Tudo isso em apenas um segundo. É o tipo de lance que vai ser visto e revisto, como dezenas de uma partida que se tornou um clássico instantâneo para a NBA.

Dentre tantas jogadas para serem reprisadas, certeza que a única que não vai sair da memória por anos e anos foi a cesta da vitória de Chris Paul, levando o Los Angeles Clippers a um placar de 111 a 109 contra o San Antonio Spurs, fechando uma série _____ no sétimo e derradeiro confronto. Preencha a frase como quiser: memorável, empolgante, massacrante, fantástica, de tirar o fôlego ou o sono.

Com mobilidade dificultada por conta de um estiramento muscular, o armador, com toda a pressão da liga em suas costas, recebeu a bola no centro da quadra e bateu para a direita enfrentando Danny Green e Tim Duncan. O drible muito controlado, como se pilotasse um io-iô. Num movimento perfeito, usa a perna esquerda, justamente aquela dolorida, e o quadril para se separar dos defensores e subir para o chute. Tabela, num ângulo bastante improvável, e dois pontos. Absolutamente magnífico.

Foi o tipo de lance – e reação, mancando, mal conseguindo comemorar direito – que remeteu a Isiah Thomas para muita gente. Antes da conquista do bicampeonato em 1989 e 90, o legendário líder do Pistons amargou uma das derrotas mais dolorosas da história da liga. Em todos os sentidos. Detroit vencia o Lakers por 3 a 2 na decisão de 1988. No Jogo 6, na mesma L.A. que reverenciou CP3 neste sábado, Thomas sofreu uma forte torção de tornozelo no terceiro período. Não só continuou em ação, mesmo que vez ou outra despencasse na quadra, como marcou 11 dos próximos 15 pontos da equipe. No total, terminou a parcial com 25 pontos, até hoje um recorde nas finais. Saiu de quadra com 43, mas derrotado por 103 a 102, numa virada suada para Magic e Kareem.

chris-paul-hamstring-jogo-7-clippers-spurs-injury-lesaoAvançando 27 anos no tempo, Paul,  curiosamente comparado a Thomas desde os tempos de universitário, saiu do Staples Center com 27 pontos – 22 depois da lesão – e, ufa, a vitória. Não só isso: foram 5 cestas de três pontos em 6 tentativas, além de 9-13 nos arremessos de quadra em geral, tendo jogado 37 minutos, mesmo sem conseguir passar pelos corta-luzes do modo habitual, ou sem poder acelerar em transição.

No momento mais crítico da temporada e talvez de toda essa era do Clippers, o baixinho correspondeu. Soltou lágrimas imediatas em quadra com o triunfo. Talvez nem ele vá saber dizer exatamente o porquê. Tanta coisa: 1) uma bola a um segundo do fim; 2) a simples dor que sentia; 3) a necessidade de levar o time adiante, com muita gente esperando para julgá-lo como um perdedor; 4) a série foi de estressar, mesmo.

Sim, foi uma injustiça que esses times tenham se enfrentado tão cedo. Mas assim quis a NBA, com o Portland Trail Blazers, campeão do Noroeste em quarto com uma campanha inferior, e assim quis o Monocelha, que empurrou o Spurs para essa roubada para garantir sua estreia nos mata-matas. Os jogadores sofreram em sete partidas, o campeonato já perdeu um forte candidato a título, mas nós ganhamos esse clássico.

Fico pensando no infeliz que tivesse um ingresso do Staples Center em mãos e que tenha desistido da partida para assistir ao combate entre Manny Pacquiao e Floyd Mayweather. Que nos desculpem os supercampeões, mas não houve mais espaço para uma luta depois do que os pesos pesados fizeram na gigantesca arena de Los Angeles. Eles trocaram socos, ou melhor, de liderança em 31 ocasiões durante 48 minutos, sendo que 12 delas foram no quarto período. Além disso, estiveram empatados em 15 momentos. Juntos, acertaram 46% dos arremessos de três pontos, com destaque para os 51,9% do time da casa. Num duelo extremamente nervoso como esse, foram apenas 22 turnovers e 52 assistências.

Chris Paul foi o grande herói, mas não, o único. Blake Griffin conseguiu mais um triple-double, com 24 pontos, 13 rebotes e 10 assistências, em 40 minutos. Ah, e converteu 10 de seus 11 lances livres. JJ Redic anotou ‘só’ 14 pontos, mas seis deles serviram para esfriar uma suposta arrancada do Spurs a coisa de cinco minutos para o fim. Matt Barnes (17 pontos, 7-13, 2 tocos, 2 roubos e 5 rebotes) e Jamal Crawford (16 pontos, 7-15 e a penúltima cesta) também escolheram a melhor hora para contribuir.

Do outro lado, o que dizer de Tim Duncan? O pivô de 39 anos somou 27 pontos e 11 rebotes, com 11-16, em 37 minutos. Arrastando uma perna. Tony Parker terminou com 20 pontos, 5 assistências e 5 rebotes em 34 minutos. Não se esqueçam que o astro francês jogou toda a série também enfrentando dores na perna, no tendão de Aquiles, sem apresentar a velocidade dos bons tempos. Esforços admiráveis, mas que viraram notas de rodapé num capítulo dedicado a Chris Paul.

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Agora os velhacos de San Antonio vão ter de responder diversas perguntas, todas elas girando em torno de uma só: é o fim para Duncan e Ginóbili?

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O Clippers já encara o Houston Rockets na próxima segunda-feira, no Texas, com menos de 48 horas para se regenerar e se preparar. Dureza. É o custo de um Jogo 7 e de uma série como essa. Por um lado, o confronto manda o time de Doc Rivers para a segunda rodada num nível de intensidade absurdo. Quando você passa por uma experiência como essa, sai melhorado. Por outro, o quanto a confiança e o padrão de jogos elevados compensam todo o desgaste (físico e mental) acumulado? Outra: o estiramento de Paul foi muito grave? Chegará em quais condições para desafiar James Harden? Trevor Ariza vai atazaná-lo. Em tempo: o armador teve média de 39,3 minutos na série – e de 34,8 na temporada. Agora tenham em mente o tanto de responsabilidade que ele carrega tanto no ataque como na defesa. É a falta que faz um banco minimamente confiável.

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Duelar com um ressurrecto Dwight Howard não é o sonho de ninguém. Mas pode ter certeza que DeAndre Jordan está, sim, aliviado de poder enfrentar o Rockets. Afinal, no jogo do “hack-a-fulano”, Kevin McHale tem muito mais gente para esconder no banco de reservas. Além de Howard, Josh Smith é um péssimo chutador. E o pragmatismo das faltas intencionais fora da bola em péssimos chutadores quase custou ao Clippers o triunfo. Não apenas pelos seis lances livres desperdiçados pelo pivô titular, mas pelo buraco aberto no garrafão quando teve de ser substituído. Foi o momento em o Spurs dominou a tábua ofensiva e construiu uma pequena vantagem.


O que está em jogo para a sétima partida entre Spurs e Clippers?
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Giancarlo Giampietro

Sabe aquela história de que a temporada de playoffs do basquete pode acabar com relacionamentos, acabar com sua vida social e tudo o mais? É NCAA, NBB, Euroliga, NBA, LBF… Um monte de siglas competitivas chegando ao clímax, fazendo o sofá ganhar sua forma de modo definitivo, arrebentando com o controle remoto.

É uma dureza, é uma batalha.

Mas, se for para fazer (mais) um sacrifício, a noite deste sábado, bem no meio do feriadão, se faz obrigatória na frente da tela ou do computador, com o Jogo 7 entre San Antonio Spurs e Los Angeles Clippers para fechar a primeira rodada dos mata-matas da grande liga americana. Haja pilha, haja força. E, claro, haja coração.

Há muito em jogo para esses dois

Há muito em jogo para esses dois

De tantas séries que vimos, ou que tentamos acompanhar decentemente, por aí,  essa é a que teve o mais alto nível de basquete praticado. Dois pesos pesados chegando ao limite. Para quem perdeu: o time californiano abriu 1 a 0, mas perdeu a segunda em casa, teoricamente cedendo mando de quadra aos atuais campeões, que, depois, virariam. Mas o Clippers não arrefeceu e ganhou o Jogo 4. Na volta para Los Angeles, Spurs de novo:  3-2. Os caras tiveram a chance de sacramentar a classificação na quinta, mas perderam – foi apenas a segunda fez em 14 jogos que a equipe do Coach Pop falhou em fechar um duelo nessas condições. E lá vão eles para o Staples Center.

Já teve de tudo: prorrogação, triple-double para Blake Griffin, viradas e reviravoltas, atuações que deveriam ser inacreditáveis para um Tim Duncan de 39 anos, mas que viraram corriqueiros, o jogo da vida de Austin Rivers, mais problemas físicos para Tony Parker, controle e descontrole de Chris Paul, faltas intencionais e tediosas do Spurs, cravadas e airballs de DeAndre Jordan, Kawhi Leonard criando o caos em quadra e, claro, muita reclamação com a arbitragem. “É ridículo que essa seja uma série de primeira rodada. Foi a primeira coisa que o Pop me disse antes do Jogo 1, e eu disse a mesma coisa. Mas nós dois nos conformamos. Diabos, não dá para mudar isso”, afirmou Doc Rivers.

O lance é que o confronto poderia muito bem não ter acontecido.

Primeiro que as regras da NBA empurraram os dois gigantes nessa direção. Se a liga não insistisse que os campeões de cada Divisão tivessem um lugar garantido entre os quatro primeiros rumo aos playoffs, o Spurs teria ficado em quinto e pegaria o Memphis Grizzlies, enquanto o combalido Portland Trail Blazers, com pior campanha, cairia para sexto, para enfrentar o Clippers.

Agora, a despeito da frustração por essa tola convenção na hora de montar a tabela – basicamente ninguém se importa com um título regional –, os rapazes de Gregg Popovich foram aqueles que se colocaram numa situação difícil ao perder o último jogo da temporada regular para o New Orleans Pelicans. (Ok: esse paragráfo também poderia muito bem ser finalizado da seguinte maneira: a despeito da frustração… blablabla, os rapazes de Gregg Popovich acabaram vitimizados pelo Monocelha na rodada de saideira. É bom que os times de ponta no Oeste se acostumem com isso.)

Aí que dois dos melhores times da conferência após o All-Star caíram frente a frente na chave. Só um Jogo 7, mesmo, pare resolver a parada, com o Houston Rockets aguardando. Com muita coisa na mesa:

Spurs

Parar? Só se for o Griffin

Parar? Só se for o Griffin

– Poderia ser a aposentadoria de Duncan? Sim, eu sei: faz uns cinco anos já que essa pergunta se repete. O veterano disse que se sentiu muito bem durante a temporada e, durante o All-Star, deixou claro que só largaria sua carreira se percebesse que não dava mais, que estava sofrido demais para produzir – independentemente de o time conquistar novamente o título, ou não. Bem… Com 39 anos recém-completos, o cara ainda tem médias de 16,3 pontos, 11,2 pontos, 3,7 assistências, 1,7 toco e 1,5 roubo de bola, acertando 56,8% de seus arremessos de quadra. Vai parar por quê? Não teria por quê. Mas, para uma questão tão drástica como essas, a resposta jamais vai ser lógica.

– Poderia ser a aposentadoria de Manu Ginóbili – pelo menos da NBA? É… o argentino está no mesmo barco. Por isso, ambos assinaram contratos de apenas um ano. É uma decisão que vai ser tomada campeonato após campeonato. Aqui de longe, a sensação é a de que o craque argentino vai vincular seu destino ao de Duncan. Se o pivô desencanar, acho que esta lenda do basquete sul-americano também vai seguir seu rumo. Até para que o Spurs possa acelerar sua reformulação ainda com Popovich. De qualquer forma, não duvidaria nem um pouco que Manu ainda jogasse pela Argentina no Pré-Olímpico e, quiçá, no Rio 2016. Atuando na liga de seu país, depois de alguns meses parado. Qualquer coisa do tipo. Só especulações da minha parte.

– As negociações de agentes livres vão depender basicamente do que os veteranos acima decidirem. Os rumores já são muito fortes ligando o clube texano a LaMarcus Aldridge, em concorrência com Dallas e Portland. Se a renovação com Kawhi Leonard parece favas contadas, boa parte do atual elenco vai entrar no mercado: do núcleo mais utilizado, apenas Parker, Splitter, Diaw e Mills têm contrato garantido no próximo campeonato. Olho em Danny Green: um jogador que ofereça chute de três e excelente defesa é muito valorizado na NBA de hoje, mesmo que, nestes playoffs, ele esteja acertando apenas 27,3% dos chutes de fora.

Manu, Tiago e suas bandeiras

Manu, Tiago e suas bandeiras

– Tiago Splitter: o pivô não conseguiu chegar aos mata-matas com a forma física ideal, com dores na panturrilha e o condicionamento físico abalado devido ao tratamento intensivo fora de quadra. Sua presença defensiva faz muita falta ao Spurs no combate com Jordan e Griffin. De qualquer forma, está em quadra dando o que tem hoje, ao seu feitio. Aqui, as coisas não têm mais volta: se o time texano seguir diante, o catarinense vai junto, tentando trabalhar como puder.  Se a equipe for eliminada, o brasileiro vai ter boas semanas de descanso antes da convocação de Rubén Magnano. Mas tem uma coisa: considerando as dificuldades que o atleta enfrentou durante a temporada, já tendo disputado a Copa no ano passado, será que não era mais negócio lhe conceder um descanso prolongado? Isso, claro, caso Fiba não obrigue o CBB a enviar seu time principal ao México para brigar pela vaga olímpica…

Clippers

Um núcleo forte. Vai durar?

Um núcleo forte. Vai durar?

– Vai ou não vai? Chris Paul foi contratado em 2011. Já é a quarta temporada com o armador municiando Griffin e Jordan. Em tese, com esse trio de respeito, o time foi ou deveria ter sido considerado um candidato ao título. Acontece que, se perderem, será o quarto ano, então, em que nem mesmo disputariam as finais de conferência disputaram. E aí que a repercussão pode ser grave, caso o proprietário Steve Ballmer não tenha tanta paciência depois de ter assinado um cheque de US$ 2 bilhões para comprar a franquia. O próprio exemplo do Spurs indica que talvez a melhor trilha seria a de se manter uma base e procurar melhorá-la. Desde que, hã,  os jogadores queiram continuar juntos. Há muito zum-zum-zum em torno da relação de Paul com Griffin e Jordan.

– Além do mais, o início da trajetória de Doc Rivers como todo poderoso do basquete do Clippers não é nada animador. Seu time pode estar digladiando com os atuais campeões, mas isso acontece com uma base que já havia sido formada pela gestão anterior. No que cabia ao técnico-presidente, ele fracassou, chegando aos playoffs com uma rotação extremamente limitada, após várias apostas furadas. Aliás, essa questão independe do desfecho do Jogo 7: Doc tem visão estratégica para melhorar seu elenco a curto prazo, sem sacrificar o futuro da franquia? Para usar o tema da década: Doc é capaz de conduzir um time de ponta de modo sustentável?

Três que se repetem com Del Negro, Butler e Billups já fora

Três que se repetem com Del Negro, Butler e Billups já fora

– Chris Paul: um dos melhores armadores que a NBA já viu. Sem dúvida – e sem culpa de que, por boa parte de sua carreira, seu Hornets não oferecia uma estrutura competitiva, perdido nos bastidores até que o clube fosse vendido. Um furacão da dimensão do Katrina também não ajudou em nada. Agora… em Los Angeles, não lhe faltaram companheiros qualificados. No ano passado, na derrocada diante de OKC, o invocado baixinho se atrapalhou todo com a bola nos momentos decisivos, numa atuação para lá de desastrada. Mais uma falha neste sábado poderia arranhar sua reputação de líder destemido. E o time depende muito dele. Quando o Spurs conteve CP3, saiu de quadra vencedor.

– DeAndre Jordan: vai virar um agente livre ao final do campeonato. Pelos bastidores, já pintou um boato de que estaria interessado no Dallas Mavericks. Mais uma derrota precoce poderia empurrar o pivô para fora da franquia? A despeito de sua amizade com Griffin?

– Seria a aposentadoria de Hedo Turkoglu? Glen Davis vai fazer regime!? Austin Rivers vai receber propostas depois de seu fantástico Jogo 4!?

(Brincadeira, só para aliviar a tensão. A gente se fala ao final da partida.)


Spurs x Clippers: tudo igual na série, mas com opções diferentes
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Giancarlo Giampietro

A formiguinha atômica australiana vem para o resgate dos atuais campeões

A formiguinha atômica australiana vem para o resgate dos atuais campeões

Anthony Davis e seu New Orleans Pelicans podem até ser varridos pelo Golden State Warriors. Não dá para cravar isso ainda, mas pode acontecer. De qualquer forma, mesmo que se despeçam dos playoffs 2015 da NBA sem nenhuma vitória, ainda vão deixar um legado para a fase decisiva. Algo que vai muito além da maior visibilidade para o jovem astro e de um passo importante na sua caminhada para tomar conta da liga. Isso fica para o futuro. Por ora, o que eles nos deram foi a série Clippers x Spurs, a única que troca de cidade com os times empatados.

Em teoria, era para eles terem se resguardado e jogado apenas na segunda rodada. San Antonio basicamente trucidaria o Dallas Mavericks, enquanto o novo primo rico de Los Angeles enfrentaria mais dificuldades contra Memphis, mas ainda são favoritos. O Monocelha não permitiu isso e colocou frente a frente duas das três melhores equipes pós-All-Star Game em termos de equilíbrio ofensivo e defensivo, ou duas das quatro melhores equipes neste período em termos de aproveitamento (vitórias x derrotas).

Depois de uma vitória tranquila para o Clippers na primeira partida, com todas as suas enterradas e a Lob City bombando, o Spurs batalhou sem Tony Parker e, na prorrogação, venceu a segunda por 111 a 107, ao mesmo tempo em que rouba o mando de quadra do adversário. “Será uma série de matar”, afirma Doc Rivers, após a derrota. Sim, Doc, tem tudo para ser.

O time californiano é o time mais atlético em quadra, e isso não vai mudar. Uma dupla como Blake Griffin e DeAndre Jordan põe muita pressão em qualquer defesa, já que qualquer passe num raio de um quilômetro do aro é uma chance de cravada – uma bola sempre bonita, mas também bastante eficiente. Fica ainda mais difícil de parar os pivôs quando eles são municiados por um armador como Chris Paul e rodeados por chutadores como JJ Redick, Jamal Crawford e Matt Barnes. É uma combinação que rende o ataque mais eficiente da NBA nas últimas duas temporadas. Na defesa, os pivôs podem até dar uma viajada no posicionamento, que sua agilidade e impulsão lhes proporcionam uma recuperação pontual para a contestação.

Agora, do outro lado, é o que Doc também diz: “O Spurs ainda é o atual campeão, e eles vão continuar sendo os atuais campeões a cada noite”. Assim como Tim Duncan, prestes a completar 39 anos, seguirá como uma ameaça a ser respeitada até os 74, aproximadamente. É incrível. Se a gente for classificar os astros da liga por longevidade, somente Kareem Abdul-Jabbar se equipara ao orgulho das Ilhas Virgens (quer dizer, imagino que no arquipélago exista ao menos uma estátua para o ex-nadador, nem que seja num complexo aquático). Os dois foram top de linha desde a primeira temporada até a última. Com a diferença que não sabemos se Duncan está de saideira, ou não. Os repórteres que cobrem o time texano de perto juram que não há nenhum indício para isso.

“Ele foi espetacular”, disse o Coach Pop, que teve a sorte de, em sua segunda campanha como treinador da franquia, descolar na primeira rodada do Draft esse pivô formado em Wake Forest. “Ele continua me maravilhando. Ele sabia que precisava ficar em quadra e deu um jeito. Continuou sendo agressivo, o que é realmente impressionante.”

Timmy!!!

Timmy!!!

Para quem não mergulhou madrugada a fundo, Timmy jogou os últimos quatro minutos do tempo regulamentar e toda a prorrogação pendurado com cinco faltas. São as chagas das batalhas com Jordan e Griffin. Terminou o confronto com 28 pontos, 11 rebotes, 4 assistências e 2 roubos de bola. No final, ele estava mais preocupado em pedir desculpas para o seus companheiros, já que acertou apenas uma cesta em cinco tentativas de quadra no quarto final. Que coisa, né? “Fui péssimo. Perdi umas duas ou três bandejas, cometi dois ou três erros defensivos, saindo da minha posição para dar enterradas a DeAndre”, afirmou, todo remoído.

Fora a consistência de Duncan e sua aura de campeão, sabe o que mais que o Spurs vai continuar tendo como larga vantagem em relação ao Clippers? Banco. Opções. Muitas delas. Se o eterno All-Star conseguiu se manter no jogo pendurado, Manu Ginóbili afirmou que perdeu a conta das suas faltas e acabou excluído no quarto final. Poderia ser um baque para qualquer equipe, ainda mais que Tony Parker já havia sido retirado pelo técnico devido a dores no tendão de Aquiles. O francês, visivelmente estourado, depois de sentir a perna esquerda no primeiro embate,  jogou por 30 minutos e só fez um pontinho em lances livres. Para o Spurs, não fez diferença. “Eles perdem Parker, entra o Mills. Manu está fora, Green entra. É o que eles fazem. Você tem de tirar o chapéu para eles”, afirmou Jamal Crawford.

Patty Mills, a formiguinha atômica australiana, marcou 18 pontos em 19 minutos. Boris Diaw foi igualmente importante, fazendo de tudo um pouco para a equipe, com 12 pontos, 9 rebotes, 6 assistências e 2 roubos de bola em 37 minutos. O cerebral ala-pivô francês vai ter de aguentar o tranco, com tempo de quadra elevado, enquanto Tiago Splitter não recupera o ritmo de jogo – o catarinense jogou por 19 minutos e, em determinados momentos, demonstrava pura falta de fôlego. E aqui já vimos um ajuste de Pop: Aron Baynes nem foi acionado, perdendo espaço para Matt Bonner.

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Ao todo, os suplentes do Spurs receberam 103 minutos de rodagem neste segundo duelo. Do outro lado, Rivers segue com sua rotação paupérrima. Não por ser teimoso. Mas, sim, pelo fato de sua versão cartola ter feito um péssimo trabalho na montagem deste elenco. Chega a um embate tão equilibrado como esse, e simplesmente não tem confiança em ninguém que não atenda pelo nome de Jamal Crawford entre os reservas. O perigoso (ainda que por vezes destrambelhado) arremessador ganhou 21 minutos numa noite em que a mão estava fria (4-13 nos arremessos, 1-7 de três pontos, um horror). Depois, contem 11 minutos para o Rivers filho e Glen Davis, velho de guerra. De resto? Hedo Turkoglu teve quatro e Danthay Jones não conseguiu nem arredondar para um minuto o instante em que entrou em quadra para espirrar.  O quarteto somou 17 pontos. Menos que Mills, se você me permite a comparação.

Haja fôlego para o quinteto titular: foram 47 minutos para Griffin e Redick, 44 para Jordan, 43 para Paul e 37 para Barnes. Como de praxe, eles jogaram demais. Griffin saiu com um triple-double (29 pontos, 12 rebotes e 11 assistências, consagrando seu companheiro de garrafão), enquanto Jordan somou 20 pontos, 15 rebotes e 3 tocos. Paul manteve esse ritmo de excelência, com 21 pontos, 7 assistências e 8 rebotes. Redick matou 4 de 9 nas bolas de longa distância. O quinteto titular do Clippers, conforme já ressaltado aqui, foi a unidade mais produtiva da temporada, em números absolutos, vencendo seus oponentes por média de 7,5 pontos.

Agora… Spencer Hawes, a principal contratação para o campeonato, recebeu um gelado “DNP” (não jogou). Assim como Lester Hudson, importado de última hora da China, e Epke Udoh, subutilizado em toda a campanha. Não dá para entender como um time com as pretensões elevadas do Clippers chega ao mata-mata desse jeito, ainda mais depois de seguidas decepções nos playoffs com a mesma base. Simplesmente não dá. Por mais que Rivers seja um técnico de fato brilhante, seu trabalho como dirigente acaba se tornando o maior obstáculo rumo ao título – não se esqueçam que esse núcleo já estava lá quando ele foi contratado.

O Spurs agora vê Parker se juntando a Splitter na fila dos arrebentados. Preocupa, claro. Mas, para qualquer outra equipe, perder o armador e o pivô titulares significaria desespero total, enquanto o adversário celebraria. Na rotação (quase) igualitária de Popovich, todavia, os desfalques são amenizados. Bom para Doc tomar nota a respeito. Pode mai ser mais uma cortesia do Monocelha.


Chegou a tempestade Westbrook junto com a bonança
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Giancarlo Giampietro

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Quando OKC anunciou, antes do início da temporada, que Kevin Durant ficaria afastado por algumas semanas devido a uma fratura no pé, a meteorologia detectou, talvez de maneira preventiva, a iminência de uma Tempestade Westbrook que estaria por vir. Era uma previsão do tempo ambígua, tal como acontece hoje em dia em São Paulo e outros cantos do país: em tempos de seca, uma chuvarada trovejante não se equivale necessariamente a má notícia, embora possa causar sempre os estragos paralelos.

Pensando em Westbrook, com Durant enfrentando uma série de percalços após a cirurgia pela qual passou, era de se esperar muitos, mas muitos arremessos, mesmo, para o bem ou para o mal. O Thunder iria depender demais do explosivo jogador. Só restava saber o resultado disso. Ele se perderia nessa situação, com fome de bola, alienando os companheiros, chutando até antes da linha central da quadra, ou ficaria ainda mais confortável como o dono da bola, carregando o time em pontos e como força criativa.

Ao conseguir seu quarto triple-double consecutivo em suada vitória sobre o Sixers por 123 a 118, com prorrogação, acho que já nem precisa mais cair nessa discussão, né? O armador-ala-craque-não-importa-a-definição vive a melhor fase de sua carreira, na hora que a equipe mais precisa, para proteger a oitava colocação na Conferência Oeste.

Quatro triple-doubles seguidos? Isso não acontece desde 1989, quando Michael Jordan causava geral. Até mesmo Sua Alteza do Ar tem de se impressionar com o que Westbrook produziu nesta quarta-feira: 49 pontos, 10 assistências e 16 rebotes, em 42. Muito provavelmente a melhor atuação da temporada, concorrendo com os 52 pontos em 33 minutos de Klay Thompson. “É, definitivamente, uma bênção. Mas o mais importante é que estamos vencendo”, disse.

O curioso? Na ficha estatística da partida, vemos que, com o camisa #0 em quadra, seu time perdeu por 12 pontos. É o tal do +/-, o saldo de pontos. Um número frio que, isolado, obviamente não diz nem 50% do que foi a partida. Talvez só aponte problemas defensivos, visto que o segundanista Isaiah Canaan, recém-saído de Houston, marcou 31 pontos e deu 6 assistências. Mas problemas defensivos gerais, e, não, só de um jogador. Até porque, numa liga que usa e abusa do jogo com bloqueios, os pivôs e os homens que são obrigados a rodar vindo do lado contrário são tão ou mais importantes que o defensor primário em cima da bola.

Além do mais, para alguém com tamanho volume ofensivo, toda a ajuda possível se faz necessária do outro lado da quadra. Por exemplo: nas campanhas de título do Miami Heat, LeBron assumia responsabilidades para marcar os destaques adversários, sim. Mas só nos minutos mais importantes de jogos parelhos. Até lá, tinha um Shane Battier para quebrar um galho danado. (Obviamente, Westbrook, desatento e arrojado demais, nunca foi um defensor tão qualificado como LeBron.)

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Sam Hinkie, gerente geral do Sixers apegado a diversas contas, certamente teria mais observações para fazer a respeito desse saldo de pontos negativo. Claro que a torcida devota de Oklahoma City não está nem aí para isso. Estão curtindo demais as exibições de um de seus queridinhos. Um momento bacana nesse triunfo foi quando, na linha de lance livre, Wess ouviu gritos de “MVP” estrondosos. Básico. O legal é que, no banco, ainda tentando entender exatamente o que acontece em seu pé direito, lá estava Kevin Durant fazendo gestos com os braços pedindo para que a algazarra fosse maior. Por ele, o prêmio de jogador mais valioso nem precisa sair da cidade.

Aqui do meu canto, ainda fico entre Stephen Curry e James Harden, mais regulares durante a temporada (perderam pouquíssimos jogos tanto em termos de resultado como de lesão) e igualmente exuberantes. Agora, por tudo o que vem fazendo recentemente, o superatleta de OKC ao menos aparece acima de LeBron James, também mais ou menos pelo mesmo critério: jogou seis partidas a menos, mas, quando esteve em quadra, arrebentou, enquanto o astro do Cavs tirou uns bons dois meses de folga antes de entrar em duas semanas sabáticas revigorantes. Quem vota ao seu favor vai alegar que ele tem médias de 27,0 pontos, 8,2 assistências e 7,0 rebotes, números maiores que os dos três concorrentes aqui citados.

Pois é, na coluna de cestinhas da liga, Westbrook superou seu ex-companheiro Harden, assumindo a primeira posição. É coisa de um décimo – 27,0 x 26,9 –, mas superou. Por mais que não fale dessas coisas, ou melhor, por mais que não fale muito sobre quase nada, deve estar feliz da vida. Tendo Durant ao seu lado, dificilmente assumiria o topo dessa lista, mesmo que tivesse potencial absurdo para tanto:

E aí? Você ainda fica embasbacado com esse tipo de lance, ou já está acostumado com as jogadas dessa aberração?

(…)

Sim, ficamos todos boquiabertos. Ainda mais quando lembramos que o fenomenal atleta já passou por três cirurgias no joelho nos últimos dois anos. Não faz o menor sentido que alguém, 100%, possa executar um lance deles com tanta velocidade e força. Quanto mais alguém que passou por uma sala de cirurgia tantas vezes em tempos recentes. Que o diga, infelizmente, Derrick Rose.

westbrook-mask-philly-triple-doubleWestbrook ainda tem um arranque devastador, que lhe propicia, por exemplo, a cobrança de 20 lances livres em 42 minutos – contra 14 de seus companheiros. Dá para ter uma ideia do nível de atividade necessário para, sendo armador, cobrar 20 num jogo? Só um cara feroz desta forma, mesmo. Na temporada, ele bate 9,2 em média, maior marca de sua carreira.Essa produção elevada na linha se mantém numa projeção por minutos. O número alto de lances livres o ajuda a atingir também seu melhor índice de eficiência, e de longe, mesmo que esteja falhando nos arremessos de longa distância. Com 27% de acerto nos tiros de fora, é saudável, então, que tenha dado uma maneirada em suas tentativas, comparando especialmente com o que havia feito nas duas temporadas passadas.

É isso.

A tempestade veio, mesmo. Mas já acompanhada pela bonança.

*    *    *

O triple-double de Westbrook ganhou as manchetes na rodada desta quarta, mas não foi um fato isolado. De vez em quando, o universo parece conspirar por uma noite de anomalias estatísticas que só fazem confundir a cabeça. Vamos lá:

– Na vitória dramática sobre o Utah Jazz, com uma cesta de Tyler Zeller no finalzinho, o Boston Celtics cometeu apenas 3 turnovers. Três! Vale com um recorde da franquia. Antes de matar o jogo, Zeller havia sido um dos vilões da noite. Ele, Avery Bradley e Isaiah Thomas desperdiçaram a bola uma vez cada. Lamentável, não é coisa que se faça.

– Num jogo em que acertou apenas 1 de 13 arremessos de quadra, errando inclusive todos seus chutes de três pontos, Damian Lillard encontrou um jeito diferente para contribuir em vitória do Blazers sobre o Clippers na prorrogação: pegou 18 rebotes (17 defensivos). Ele é o primeiro jogador de 1,90 m, ou menos, a conseguir essa marca desde Fat Lever, um dinâmico ex-armador do Denver Nuggets, em 1990. Em sua carreira, o All-Star de Portland tem média de 3,7 rebotes. Na temporada, vem com 4,6.

– Se o assunto é rebote, não tem como fugir dos 25 que Hassan Whiteside coletou contra o Lakers. Sozinho, a revelação do Miami Heat igualou o desempenho de quatro adversários Carlos Boozer, Robert Sacre, Ed Davis e Jordan Hill nesse fundamento. Foi o terceiro jogo nesta temporada em que o sujeito, que tem Líbano e segunda divisão da China em seu currículo, passou da casa de 20 rebotes no ano. Impressionante. Por outro lado, se for pensar, é algo que vem acontecendo até que bastante vezes neste ano, não? O Data21 foi, então, pesquisar: em 19 jogos a marca de 20 rebotes foi superada, sendo que DeAndre Jordan é o líder aqui, com cinco jogos absurdos desses. Contra o Mavs, no mês passado, ele teve 27 rebotes em 39 minutos.

Agora, não dá para falar de Jordan nesta quinta de manhã sem mencionar seu lapso mental no jogo contra o Blazers. Justamente ao se posicionar bem para aproveitar uma rebarba ofensiva, o pivô teria a chance de efetuar um tapinha para buscar a vitória no tempo regular. Não fez e dominou a bola, causando um surto cômico de Chris Paul:

– O ala Jason Richardson marcou 29 pontos na derrota do Sixers para o Thunder. Nos tempos de cestinha do Golden State Warriors das vacas magras, ou municiado por Steve Nash, pelo Phoenix Suns de 2010, isso até que era normal. Porém, depois de ficar dois anos parados, tendo passado por duas cirurgias graves, tem de comemorar. “Pensei que nem voltaria a jogar basquete mais”, disse Richardson, que não ultrapassava a marca de 25 pontos desde o dia 11 de fevereiro de 2012, pelo Orlando, contra o Milwaukee Bucks.

– O tempo de afastamento de Anthony Davis das quadras foi bem mais curto. Ele perdeu cinco jogos seguidos devido a uma contusão no ombro. Retornou de forma providencial contra o Detroit, da dupla Andre Drummond e Greg Monroe. Caras pesados, né? Que, juntos, acumularam 26 pontos, 33 rebotes e 6 tocos. Bela produção. Acontece que Davis, sozinho, teve 39 pontos, 13 rebotes e 8 tocos. Se ele aguentar fisicamente o tranco, meu amigo, prepare-se: a Era Monocelha só está começando.


Espetáculo não é o bastante para o Clippers em Los Angeles
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Giancarlo Giampietro

Rivers e Paul: eles sabem que o time precisa de mais

Rivers e Paul: eles sabem que o time precisa de mais

Espetáculo por espetáculo, a turma Hollywood ainda prefere ver Kobe Bryant. Então, se for para o Clippers tomar conta de Los Angeles para valer, nessa geração, eles só podem fazer isso com um resultado expressivo. No caso da metrópole californiana, meus amigos, isso só significa uma coisa: título.

Chris Paul bem sabe disso. “Não quero nem dizer por que vamos ser o time. Nós temos de jogar, de fazer. Já tem muito falatório”, afirmou o veterano. Desde que o armador foi trocado para Los Angeles – pela segunda vez, já que não podemos esquecer o primeiro negócio vetado por David Stern, que o mandaria para o Lakers –, o ex-primo pobre da cidade foi elevado a superpotência e candidato natural ao título. Era o resultado de ter um dos melhores armadores da história da liga ao lado de uma estrela em ascensão como Blake Griffin.

Isso aconteceu em 2011. Desde então, o time teve campanhas de 60,6%, 68,3% e 69,5% de seus jogos, dando pequenos e consistentes passos rumo ao topo. As expectativas só aumentaram na temporada passada com a chegada de Doc Rivers, a evolução de DeAndre Jordan e a contratação de JJ Redick. No geral, porém, o time conseguiu apenas uma vitória a mais na temporada regular, subindo de 56 para 57 (ainda que com oito partidas a menos de CP3). Nos mata-matas, o time alcançou as semifinais da Conferência Oeste, como havia feito em 2012, perdendo para o Oklahoma City Thunder por 4 a 2.

DeAndre foi o terceiro melhor reboteiro da temporda passada, mas não conseguiu livrar ou influenciar o Clippers no geral

DeAndre foi o terceiro melhor reboteiro da temporda passada, mas não conseguiu livrar ou influenciar o Clippers no geral

Essa trajetória nos playoffs, porém, é bem mais complexa. Quando enfrentavam um time complicado como o Golden State Warriors na primeira rodada, Rivers e seus jogadores foram torpedeados pelo vazamento dos comentários ignóbeis e racistas, via TMZ, do ex-proprietário do clube, Donald Sterling. Houve um turbilhão de emoções, incluindo a ameaça de boicote por parte dos atletas de ambos os lados, até que o recém-empossado comissário Adam Silver agiu com firmeza. Depois, contra o Thunder, a lembrança obrigatória fica para o Jogo 5, no qual o Clippers teve uma grande chance de assumir a dianteira da série, com a oportunidade de fechá-la em casa.

Além da série de trapalhadas da arbitragem, que despertou a ira de Rivers na entrevista coletiva, aquela partida ficou marcada por uma exibição completamente desastrosa por parte de Paul, justo ele, o capitão, da mão firme com a bola. Depois de o time abrir uma bela vantagem, tomou uma virada que não poderia ser explicada por uma ou outra decisão equivocada dos homens do apito. O próprio Chris Paul fugiu disso, assumindo a culpa. “Perdemos, e está na minha conta. Eles fizeram a cesta, e tivemos a chance de vencer na última jogada, e eu nem consegui arremessar. Foi muito tonto. Era sou supostamente o líder da equipe. Isso não pode acontecer. A liga pode divulgar algum comunicado sobre a marcação, mas quem se importa? Perdemos”, afirmou.

Acontece. Agora, a NBA é uma liga cruel, extremamente competitiva. O Clippers obviamente ainda está no páreo, produz um clipe imenso de melhores momentos a cada rodada – haja ponte aérea! –, mas o cenário pode ser alterado drasticamente e de modo rápido. Por isso o armador sabe: chegou a hora de ir longe nos playoffs. Bem longe.

O time: ataque não é problema. Com o pulso firme e talentoso de Paul, as habilidades ainda em expansão de Blake Griffin – que é muito, mas muito mais que um pôster –, e excelentes arremessadores ao redor deles, Rivers tem elementos de sobra para coordenar um dos três ataques mais eficientes da liga mais uma vez. Em termos de defesa, o impacto do treinador, porém, não foi tão dramático conseguiu elevar o time de nono para sétimo na temporada passada, e com um número maior de pontos por posse de bola. Quando questionado sobre quais pontos mais o preocupavam, o estrategista não hesitou em apontar os rebotes. “Não sei quais seriam além do rebote. Era isso chegando a esta temporada, e permanece. Pessoalmente, achei que foi um milagre que tenhamos feito o que que fizemos no ano passado do modo como reboteamos. Estava preocupado com isso o ano todo, preocupado nos playoffs. É duro vencer jogos quando as outras pessoas continuam conseguindo arremessos extra”, disse. O Clippers foi o 20º nesse fundamento. De seus principais adversários, o Spurs foi quem ficou mais próximo, em 13º.

A pedida: sucesso nos playoffs e, quem sabe, o título. Estamos combinados.

Olho nele: Spencer Hawes. O pivô tem a oportunidade em Los Angeles de mostrar que é muito mais que o atleta da NBA mais apaixonado pelo Partido Republicano. Hawes foi o primeiro alvo de Rivers no mercado de agente livre, contratado para reforçar sua rotação de garrafão atrás de Griffin e Jordan, para oferecer arremesso de média e longa distância, passe e também reforçar justamente o rebote pedido por Rivers. Nos mata-matas do ano passado, o técnico tinha apenas Big Baby para dar um respiro aos titulares. Como ele vai responder a esse desafio? Em sua carreira, o pivô de 26 anos disputou dois playoffs, pelo Sixers. O que, veja bem, não conta para muito. Era um time café-com-leite, num Leste esvaziado. Não havia pressão alguma. Agora a coisa muda de figura.

Spencer Hawes, reforço no garrafão por US$ 6 mi anuais

Spencer Hawes, reforço no garrafão por US$ 6 mi anuais

Abre o jogo: “Baron estava se preparando, e Sterling começou a balançar os braços, gritando para ninguém em particular.”Por que vocês estão deixando ele cobrar o lance livre? Ele é péssimo! Ele é o pior cobrador de lances livres da história!”, berrava. O Baron estava acertando algo como 87% naquela temporada. Eu estava de pé no meio da quadra, bem perto dos assentos do Sterling, olhando isso de canto, tentando não rir. Olhei para os caras do outro time, tipo, pensando que aquilo não poderia estar acontecendo”, Blake Griffin, em depoimento extenso sobre como era ser um jogador do Clippers sob o amalucado, inconsequente, mas… lucrativo controle de Sterling.

Você não perguntou, mas… o novo dono do Clippers, o bilionário Steve Ballmer, ex-CEO e ainda maior acionista da Microsoft, não vai permitir que seus técnicos e jogadores usem – ou, vá lá, que pelo menos não sejam flagrados em público usando – produtos eletrônicos da Apple. O homem pagou US$ 2 bilhões por seu novo brinquedinho. Então fica assim.

doc-rivers-clippers-cardUm card do passado: Glenn “Doc” Rivers. Primeiro uma pergunta séria: quem aí reconhecia o ex-armador e hoje técnico do Clippers como Glenn? Dr. Glenn Rivers? Um baita ganho em estilo, gente. Mas deixemos de bobagem. O legal desse card é mostrar o jovem Rivers, claro. Mas também para falar daquela temporada: 1991-92, a primeira na qual a franquia foi aos playoffs quando baseada em Los Angeles – em sua primeira encarnação, como Buffalo Braves, com Bob McAdoo, já havia acontecido. No princípio dos anos 90, o clube viva um grande momento, com uma base bastante promissora, na qual constavam também Ron Harper (antes de estourar o joelho), Charles Smith (que migraria para o Knicks), e, principalmente, Danny Manning. O ala-pivô era bem diferente de Blake Griffin, um cara muito mais vigoroso e atlético, mas também foi uma grande aposta técnica e comercial da liga,  até que seguidas lesões o derrubaram. Aos 30 anos, Rivers disputava sua primeira campanha fora de Atlanta e a única em L.A., com 10,9 pontos e 3,9 assistências em 28,1 minutos. Em 1992, seria envolvido numa troca tripla que o mandaria para o Knicks de Pat Riley, com Mark Jackson chegando ao time californiano.