Vinte Um

Arquivo : LaMarcus Aldridge

Quando o prêmio da NBA vem na hora certa. Ou não
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Giancarlo Giampietro

Duas vezes Chef Curry

Duas vezes Chef Curry

Stephen Curry foi aclamado nesta terça-feira como o MVP da NBA 2015-16 de modo unânime. Foi a primeira vez na história que isso aconteceu. Ao receber todos os 131 votos dos jornalistas americanos que participaram da eleição, o astro do Golden State Warriors sobrou mais que o dobro de pontos do segundo colocado, Kawhi Leonard. Michael Jordan, em 1995-96, não por coincidência o ano das 72 vitórias, foi quem mais chegou perto dos 100% de votos: 96,5%.

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Curry também foi o MVP que mais aumentou seu índice de eficiência de uma temporada para a outra, subindo em 3,5 pontos, para alcançar a marca de 31,56 — para comparar, Kevin Durant foi o segundo nesse quesito, com 28,25. Até este ano, o legendário Larry Bird foi quem havia mais crescido, entre 1984 e 85, no auge, quando ganhou 2,3 pontos de eficiência. Quer dizer: não teve título ou fama que fizesse o astro do Warriors se acomodar. Não é tudo o que se espera de um jogador profissional e tal? Nem cabe polêmica aqui, gente. Deixemos de chatice, por mais que aquela célebre frase de Nelson Rodrigues seja engraçada e instigadora.

Dito isso, então não houve melhor data para que Steph tivesse seu prêmio confirmado pela liga americana, já que isso aconteceu apenas algumas horas depois de mais uma exibição incrível do armador. Voltando de uma contusão no joelho e de um baita susto, ele retornou em Portland para livrar o Golden State de um aperto desnecessário antes da final do Oeste. Depois de levar uma bronca de Steve Kerr pelo empenho abaixo do nível pelo Jogo 3, o time surpreendentemente não deu a resposta de imediato na partida seguinte, tomando uma surra do Trail Blazers nos primeiros minutos. E aí que o técnico se viu obrigado a lançar seu principal atleta um pouco mais cedo do que esperava.

Inicialmente, o plano era que Curry ficasse em quadra aproximadamente por 25 minutos. Mas aí aconteceram o péssimo início de partida e, pior, a exclusão de Shaun Livingston (quem diria?!) ao final do primeiro tempo, se o Warriors quisesse fazer frente aos anfitriões e retornar a Oakland em condição confortável, não teria como limitar os minutos d’O Cara assim. Jogou por 37 minutos e, vocês sabem, anotou 40 pontos, 17 dos quais na prorrogação. Foi um soco no estômago dos jovens valentes do Blazers e mais uma atuação mágica do armador nesta temporada. Mais uma na lista encabeçada por aquela exibição inacreditável em OKC.

Acontece que, por alguns minutos, a cerimônia de entrega do prêmio poderia ter ficado um pouco estranha. Não que uma derrota em Portland fosse desmerecer o conjunto da obra. Claro que não. Mas é que o armador estava encontrando dificuldade em seu retorno às quadras, em busca de ritmo de jogo. Ele chegou a errar nove arremessos de três pontos consecutivos, algo impensável neste ano em condições normais, mas muito natural para quem havia parado por tanto tempo. Então imagine se ele não tivesse reencontrado o rumo? Imagine se não houvesse aquela prorrogação incrível? Enfim. Curry ainda seria o MVP unânime, merecidamente. Mas seria chato, ainda assim.

Muito pior, sem dúvida, foi a experiência que Dirk Nowitzki viveu em 2007, quando seu Dallas Mavericks fez a melhor campanha da temporada regular, liderado pelo craque alemão em seu auge técnico-atlético, atingindo invejável marca de 67 vitórias. Só para, durante os playoffs, se tornar um dos casos raros de cabeça-de-chave número um a cair logo na primeira rodada, eliminado pelo Golden State Warriors por 4 a 2. O Mavs foi derrotado por um elenco de atletas explosivos (em todos os sentidos) como Baron Davis, Monta Ellis, Stephen Jackson, Jason Richardson, liderados pelas traquinagens de Don Nelson, seu antigo mentor.

Quando a NBA programou a entrega do troféu para Dirk, o time texano já havia sido eliminado, e a repercussão da época foi humilhante. Lembremos que isso foi quatro anos antes de chegarem ao título. Até 2011, a verdade é que o ala-pivô era visto por muitos como um tremendo de um amarelão (argh!!!), leão de temporada regular que morria sempre na praia. Acho que LeBron James e Dwyane Wade não concordariam com essa versão hoje. De qualquer forma, esta lenda viva do basquete estava simplesmente desmoralizada na hora de dar a coletiva. Foi um episódio deprimente.

*   *   *

O prêmio de MVP é aquele que recebe mais atenção em uma temporada. Muito mais que o de Executivo do Ano, que R.C. Buford recebeu este ano, claro. O gerente geral do San Antonio Spurs, que trabalha em parceria com Gregg Popovich (o presidente do clube) ganhou seu troféu na segunda-feira, um dia antes de Curry e um dia depois da derrota de sua equipe para o Oklahoma City Thunder pelo Jogo 4 das semifinais. A série estava empatada naquele momento. Hoje, depois de mais um jogo muito equilibrado e nervoso, Russell Westbrook e Kevin Durant conseguiram a virada e voltam para casa com a chance de fechar o confronto nesta quinta.

A ameaça da derrota perante OKC não tira o brilho das operações que Buford conseguiu realizar em julho do ano passado, arrumando espaço em sua folha salarial para contratar LaMarcus Aldridge, o principal agente livre no mercado. Ao fechar o negócio, Buford não só deu a Tim Duncan a chance de reeditar essa história de Torres Gêmeas em San Antonio, fazendo do time um candidato ainda mais forte ao título, como também já garantiu ao clube a composição de um núcleo para o futuro, emparelhando o pivô e Kawhi Leonard. A visão de futuro, aliás, é algo que diferencia a celebração do Executivo do Ano das demais votações, que avaliam estritamente a relevância mais urgente dos fatos.

Na temporada regular, em termos imediatistas, o novo San Antonio já foi um sucesso, conseguindo 67 vitórias. Dá para dizer que só não atingiram a marca de 70 triunfos porque, na cabeça de Gregg Popovich, há coisas mais importantes que um números simbólico. Em termos de estatísticas, valoriza-se mais o fato de terem combinado a melhor defesa com o terceiro melhor ataque. Em casa, a equipe sofreu apenas uma derrota em 41 partidas. Tudo redondinho, e não seria o combalido Esquadrão Suicida do Memphis Grizzlies que os incomodaria na primeira rodada dos playoffs. Até que chegou a hora de mais um duelo com o Okalhoma City Thunder…

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Não tem o que apagar aqui: admito que não imaginava chegar ao dia 11 de maio com o Spurs a uma derrota da eliminação. Um time foi uma máquina e fez uma campanha memorável. O outro tinha dois dos melhores atletas da liga, mas foi bastante inconsistente na temporada, especialmente na hora de proteger sua cesta. Com atletas de alto nível como Serge Ibaka, Steven Adams, Andre Roberson, Kevin Durant, Russell Westbrook e Dion Waiters, Billy Donovan não conseguiu forjar mais do que o 12o. sistema defensivo mais eficiente da liga. O mesmo sistema que deu ao Dallas algumas chances pela primeira rodada.

Acontece que o Thunder apertou os ponteiros. Pensando assim, a vitória arrasadora do Spurs pode ter sido um divisor para este elenco. Basta recuperar as declarações de Durant e Westbrook para ver o impacto. Foi vergonhoso, ainda mais pensando em todo o histórico recente compartilhado por estes núcleos. Excluindo este primeiro resultado, temos um saldo geral de 15 pontos para o Thunder. Está muito parelho, e que OKC tenha vencido três dessas quatro partidas é algo inesperado, mas que nos diz muito sobre a virada de uma equipe, já que, pela primeira fase, esses caras se notabilizaram pela derrocada nos minutos finais. É verdade que a arbitragem cometeu erros absurdos na segunda partida e também nesta terça-feira, ao deixar dr marcar falta de Kawhi Leonard em Russell Westbrook na última posse do adversário. Mas San Antonio teve chances em ambos os casos para triunfar antes e depois dos deslizes e não as aproveitou.

Dos Jogos 2 ao 5, tivemos partidas com dinâmica bastante parecida. O Spurs abrindo alguma vantagem mas primeiras parciais, e o Thunder zerando consistentemente esse prejuízo, e não só por ter dois cestinhas que aterrorizam qualquer marcador. Até o momento, o elenco de apoio a Durant e Wess tem sido determinante. Steven Adams e Enes Kanter têm trucidado seus oponentes na disputa por rebotes. Dion Waiters também está acabando com Manu Ginóbili, a despeito da barbaridade que cometeu no Jogo 2. Randy Foye também pode incomodar quando aberto na zona morta e compete muito mais que Anthony Morrow.

A novidade aqui é o ganho coletivo de OKC. Demorou, precisou que levassem uma sova, mas o time se encaixou. Quando a química funciona, jogadores tendem a se soltar e crescer. Do lado de San Antonio, porém, Buford e Popovich não podem se declarar inteiramente surpreendidos. À parte de LaMarcus, a dupla formou um elenco bastante velho, e o risco de que pudessem penar física e atleticamente, contra o Thunder — ou Warriors, Clippers, Rockets etc. Até o caçula de San Antonio, o ala Kyle Anderson, de apenas 22 anos, fica devendo, por ironia.

Não está fácil a vida de West contra OKC

Não está fácil a vida de West contra OKC

Para diminuir essa possibilidade, Pop administrou mais uma vez muito bem seus minutos. Beirando os 40 anos, Duncan ficou fora de 21 jogos e não poderia passar dos 25 minutos em média, mesmo. LaMarcus tromba mais, mas ficou em 30,6 minutos. Diaw e West receberam 18 minutos. Tony Parker, 27. Danny Green, 26. Eles chegaram descansados, gente. Mas nem isso foi o bastante para que possam equilibrar a disputa com o Thunder. Uma hora a idade poderia pesar, e infelizmente, para Duncan e West, isso parece ter acontecido na pior hora. O resultado: o time tem simplesmente uma enorme defasagem em termos de capacidade atlética, e isso tem interferido diretamente na técnica também. Por vezes parece que Kawhi está lutando sozinho em quadra — que ele, ainda assim, consiga incomodar os caras, só mostra o quanto é excepcional.

Peguem o Jogo 5 novamente. Juntos, Duncan, Diaw e West somaram míseros nove pontos e sete rebotes. Três jogadores para isso. Steven Adams saiu de quadra com 12 pontos e 11 rebotes. Enes Kanter teve 8 pontos e 13 rebotes. Westbrook pegou mais rebotes que Duncan, West e Kawhi juntos, ou mais que LaMarcus e West. Em 19 minutos, Ginóbili só tentou quatro arremessos e anotou três pontos. Waiters anotou o triplo. Por aí vai, saca? Num estalo, tudo o que San Antonio construiu na temporada vai ruindo.  O torcedor e os treinadores da fantástica franquia texana sabem que seu time não vai rejuvenescer em dois dias. Podem sempre jogar mais animados, concentrados, preparados. Mas está complicado.

Se o que vimos até aqui é tudo o que seus veteranos podem oferecer, mesmo, talvez seja a hora de Popovich tentar uma cartada mais ousada nesta quinta-feira. Mesmo que não tenha tantas opções assim. Daí que não dava para entender bem a contratação de Andre Miller durante o campeonato. O que um armador de 39 anos poderia acrescentar a este time de diferente? Kevin Martin ao menos representava uma apólice de seguro para Ginóbili. Miller não teria condições de fazer nada se Tony Parker se lesionasse. Seria improvável que um jogador de D-League pudesse fazer a diferença neste nível. Mas tivemos vários casos recentes de atletas que conseguiram ajudar os times que os valorizaram, nem que tenha sido de modo pontual. Troy Daniels, ex-Rockets, hoje do Hornets, foi um. Tyler Johnson, do Heat, é outro. Mesmo James Michael McAdoo, pelo Golden State, oferece algo de diferente a Steve Kerr.

Quem sabe Boban Marjanovic? Por mais que o gigante tenha ficado mais famoso em seu primeiro ano de NBA como figura cult, ou até uma mascote, não dá para esquecer que ele que ele foi muito produtivo nos poucos minutos que recebeu. Também é um calouro só por nomenclatura. Obviamente que não seria o caso de por o sérvio de titular e para jogar por 40 minutos. Mas vindo do banco no lugar de um dos veteranos?  Por que não? Com 2,22m de altura, pesado, ficará vulnerável em situações de pick-and-roll, e não é que os pivôs utilizados possam impedir infiltrações de Westbrook e Durant, mesmo. Mas Boban pode ao menos bloquear Enes Kanter nos rebotes. Em caso de problema de faltas para Danny Green, talvez valha tentar Jonathon Simmons na vaga de Anderson?  Você abre mão de chute de média distância e passe, mas ganha muito em vigor e explosão.

Seriam as alterações possíveis em relação ao que Pop vem tentando. O fato de todos os últimos quatro jogos terem sido equilibrados talvez pese na cabeça do técnico. De não é momento para chacoalhar a rotação, nem necessário. Pode muito bem ser isso, mesmo. Decisão difícil.

Pelo fato de ter assegurado contrato de LaMarcus para os próximos três anos, perder agora não seria um desastre para o Spurs. Porém, com a possível aposentadoria de Duncan e Ginóbili, o envelhecimento também de Parker e a campanha que fizeram até aqui seria uma dura derrota, maior que qualquer prêmio individual.

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LaMarcus é do Spurs; DeAndre, do Dallas. Por que demorou tanto?
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Giancarlo Giampietro

LaMarcus Aldridge é do San Antonio Spurs, e o Golden State Warriors já sabe que a campanha em busca do bicampeonato ficou, desde já, muito mais complicada. É o tipo de acordo que balança novamente as estruturas de poder da liga, embora não possa ser considerado bombástico, pelo fato de ser algo relativamente esperado por boa parte dos concorrentes. Segundo consta, o pivô ainda havia ido para a cama indeciso. Comunicou o Portland que estava, mesmo, de saída, mas ainda pensava no Phoenix Suns. Repetindo: o Phoenix Suns!

Pois é. De um lado, um clube que conquistou cinco títulos de 1999 para cá. Com Tim Duncan e Gregg Popovich garantidos. Com Kawhi Leonard de contrato novíssimo. Do outro, um clube que foi duas vezes vice-campeão na história e que não joga os playoffs desde 2010. Que tem alguns jogadores jovens interessantes, mas nem mesmo conta com a base mais promissora em uma conferência brutal (Utah Jazz acho que leva esse título, enquanto o Minnesota Timberwolves parece o destino ideal para daqui a alguns anos).

LaMarcus, Pop e Ime Idoka dão uma volta em Los Angeles durante namoro cheio de dúvidas para o pivô

LaMarcus, Pop e Ime Idoka dão uma volta em Los Angeles durante namoro cheio de dúvidas para o pivô

Então, pera lá: qual é exatamente a dúvida aqui?! Foi natural questionar o que se passava pela cabeça de LaMarcus nos últimos dias. Aparentemente, não havia o menor sentido titubear entre Spurs e Suns.

Mas aí é que é importante compreender que a decisão de um jogador pode estar cercada pelas mesmas incertezas de qualquer profissional. A diferença é que, na hora de eu ou você trocarmos de emprego, não vai ter uma #WojBomb para anunciar e nem mesmo cinco pessoas interessadas no que você vai fazer no dia seguinte a0 de limpeza da mesa.

Ao que tudo indica, a apresentação da diretoria e técnicos do clube do Arizona foi surpreendente e tentadora, a ponto de balançar o pivô.  Como eles conseguiram se conectar com Aldridge, ao contrário do prestigioso Los Angeles Lakers, descartado imediatamente? Entender a oferta do Suns seria, então, um meio de desvendar o que se passava pela cabeça do atleta durante esse processo.

Aí entrou em cena o jornalista John Gambadoro, da rádio Arizona Sports, um cara bem informado sobre os bastidores da franquia local, para dar algumas pistas: 1) Aldridge tem aversão à posição 5, de patrulheiro de garrafão, e acreditava que, em San Antonio, pode ficar encarregado desse serviço sujo, enquanto o Suns havia acabado de contratar Tyson Chandler, presença inesperada na reunião com o clube; 2) em Phoenix, ele seria a referência indiscutível em quadra, podendo manter sua produção estatística (e a satisfação de ser o cara); 3) estaria também em um time bem competitivo — se não para conquistar o caneco, mas ao menos num patamar semelhante ao do Blazers, com chancds –, o que o livraria da imagem de “mercenário” e “caça-título”; 4) por fim, o fator extraquadra, no qual ele também seria tratado como a grande estrela, recebendo mensagens inclusive do prefeito de Phoenix nesta sexta-feira, um mimo que lhe fez falta nos últimos anos em Portland, depois da ascensão de Damian Lillard.

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Esses quatro pontos podem ser facilmente rebatidos, claro. Mas não podemos dizer se está certo ou errado ponderá-los. Teria LaMarcus exagerado em seu ciúmes quanto a Lillard? Talvez, até porque essa coisa de carisma é um tanto inerente, não? Quem tem, tem. Para atingir a popularidade, nem tudo se projeta e se constrói. Sobre sua questão em ser denominado pivô e ter a atribuição de trombar com os jogadores mais pesados: o talentoso cestinha poderia se questionar se esse conceito de cincão ainda existe, mesmo, ou se vá ser duradouro. Ok, bater de frente com Bogut e Asik deve doer uma barbaridade. Mas esses já são casos raros.

Nessa categoria mastodôntica, todavia, ainda se enquadra DeAndre Jordan, outro agente livre texano que tinha suas questões pessoais para matutar ao decidir se trocaria o Los Angeles Clippers pelo Dallas Mavericks. Sua mágoa com Chris Paul é realmente do tamanho que muita gente especulou durante a temporada. Nas palavras oficiais, claro, todos desmentiam. Até que chegou o momento de negociar um novo contrato, com o pivô virando as costas até mesmo para seu melhor amigo, Blake Griffin, de tanto desgosto que tinha pelas intensas cobranças do armador. Além disso, sonhava com um papel de maior destaque no ataque, em vez de apenas colher as rebarbas de CP3 e Griffin. Estava convicto de que poderia causar estragos no jogo de costas para a cesta e em mais situações de pick and roll.

Simbolismo puro

Simbolismo puro

Será? Doc Rivers, na tentativa de segurar o grandalhão que ele tanto ajudou a evoluir nos últimos dois anos, segundo consta, não prometeu nada nesse sentido. Teria menosprezado as habilidades do jogador, ou apenas constatado suas limitações? O Mavs se aproveitou dessa brecha e, em sua apresentação, usou a prancheta de Rick Carlisle para mostrar de que modo eles planejavam envolvê-lo no sistema ofensivo. Além disso, trouxe Dirk Nowitzki para a reunião. Fez o pivô se sentir mais querido.

No final, Aldridge tomou a decisão aparentemente mais lógica e fechou com o Spurs. Vai ter a chance de dividir a quadra com uma lenda como Tim Duncan pelo menos por um ano e carregar a tocha a partir daí, com a ajuda de uma estrutura incrível nos bastidores, a orientação de Gregg Popovich e uma força emergente como Kawhi. O que o clube texano não lhe proporciona é a visibilidade e o tratamento de estrela — não pelo fato de ser um mercado pequeno (Kevin Durant joga em OKC, e seu rosto está por todos os lados), mas simplesmente porque, em San Antonio, as coisas simplesmente funcionam de um modo diferente. As preocupações são outras. Jordan, por outro lado, foi com o coração e agora vai se testar seus limites sem a assessoria de Paul e Griffin, também de volta ao Texas, mais próximo de casa. Foi uma bobagem deixar um time que seria automaticamente candidato ao título por uma equipe que nem armador titular tem? Esportivamente, dá para dizer que sim. Só não dá para ignorar esse componente emocional.

Durante o flerte desses com outras equipes, Aldridge e Jordan expuseram suas preocupações, aflições e predileções. Você pode entender isso tudo como um capricho de jogadores mimados, e tal. Recomenda-se, todavia, dar sempre um passo para trás e tentar entender o que está acontecendo, em vez de simplificar as coisas com adjetivos chulos. Algo que anda em falta no mundo de hoje, a julgar pelas seções de comentários inflamadas em qualquer www. Independentemente da interpretação aos fatos, o que se constata depois das negociações dos pivôs, o que eles nos ensinam, uma vez mais, é sobre a complexidade do dia a dia da NBA — e de qualquer grande liga esportiva, afinal de contas. Eles jogam, nós cornetamos. Eles vivem, e nós também.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Quem dá mais? O Pelicans! Com um contrato gigantesco para Davis
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Giancarlo Giampietro

O Monocelha janta com a família, o agente, o GM Dell Demps e seu novo técnico Alvin Gentry. Quem será que pagou a conta? Ala-pivô do Pelicans se torna o jogador mais bem pago da NBA, por enquanto

O Monocelha janta com a família, o agente, o GM Dell Demps e seu novo técnico Alvin Gentry. Quem será que pagou a conta? Ala-pivô do Pelicans se torna o jogador mais bem pago da NBA, por enquanto, com R$ 90 mi por ano a partir de 2016

Quando o escritório da NBA ouviu  à meia-noite em  Nova York (23h em Brasília, 19h em Los Angeles), as companhias aéreas e de telefonia vibraram. Assim como os hotéis e aquelas lojinhas de conveniência e presentes de última hora. Sabe aquelas que vendem bugigangas para quem esqueceu de comprar algo para o aniversariante, e tal? OK, no mundo bilionário da liga, esse ramo de negócios não lucra tanto. De resto, os outros três setores da economia americana curtem e muito o 1º de julho. É que os times estão liberados a abrir negociações (oficiais) com os agentes livres da liga. A primeira madrugada de visitas e teleconferências já foi agitada. Vejamos um resumo comentado do que aconteceu até agora:

– A principal notícia foi a extensão que Anthony Davis ganhou do New Orleans Pelicans. O acerto em si já era esperado. A surpresa ficou para quem ainda não havia se dado ao trabalho de calcular o quanto nosso prezado Monocelha poderia ganhar em seu segundo contrato. Saiu por estimados US$ 145 milhões em cinco anos (a partir de 2016), o que fará do ala-pivô o jogador mais bem pago da liga. Por ora, claro, até que LeBron possa assinar seu primeiro vínculo com o Cavs no novo mercado da NBA, a partir do ano que vem, e que Kevin Durant decida o que fazer da vida também em 2016. No câmbio de hoje, dá algo em torno de R$ 450 milhões (sem deduzir os impostos). Algo como R$ 90 milhões por ano. Toda uma dinastia de Monocelinhas já está com a poupança garantida, e o mundo inteiro sorri que é uma beleza. Como se chega a um valor exorbitante desses? É que o Pelicans *concordou* em pagar o máximo de salário possível para o jogador – o que, de acordo com as regras de hoje, se equivale a 30% do teto salarial de um clube, como seu “jogador designado”. Não importando o valor desse teto. Logo, com as projeções de subida da folha de pagamento para o norte de US$ 100 milhões em 2017, Davis vai poder levar uma bolada, e tanto. Em caso de mais uma eleição para o All-Star Game (o que, sabemos, vai acontecer), você chega ao que se tem de maior projeção em dividendos para um atleta. PS: ao final da quarta temporada da extensão, em 2020, o jovem astro poderá virar agente livre.

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– O segundo maior contrato foi firmado entre San Antonio Spurs e Kawhi Leonard. Nenhuma surpresa também. O valor é de US$ 90 milhões por quatro anos, o que atesta a opinião firme de Gregg Popovich de que o ala é o futuro do clube na era pós-Duncan, mesmo que ele não tenha jogado tão bem a série contra o Clippers. Kawhi ainda está no princípio de seu desenvolvimento como estrela. Acontece. Agora o Spurs espera sua vez para cortejar LaMarcus Aldridge. Para contratar o ala-pivô, porém, RC Buford e o Coach Pop terão de fazer algumas manobras complicadas e dolorosas, incluindo pagar ainda menos para Duncan e Ginóbili, talvez renunciar aos direitos sobre Danny Green e realizar uma troca envolvendo Tiago Splitter, Boris Diaw e/ou Patty Mills, sem receber nenhum salário de volta etc. Por falar em Danny Green, o ala já recebeu várias ligações. A primeira foi do Detroit Pistons. O Knicks também já agendou reunião. O Spurs teme perder o ala.

Sobre LaMarcus Aldridge: os dois primeiros times a se reunirem com ele em Los Angles foram Lakers e Rockets. Não significa que eles tenham a prioridade. O Lakers tem espaço em sua folha salarial e pode assinar um contrato na casa de 25% do teto salarial (o que daria US$ 18,8 milhões no próximo campeonato) com o pivô do Blazers. Na sala com Aldridge, estavam Jeannie e Jim Buss, os donos da franquia, Kobe Bryant, Byron Scott, o gerente geral Mitch Kupchak, o ídolo e comentarista dos jogos do clube James Worthy, além dos espíritos de Wilt Chamberlain e George Mikan e bonecos bubblehead de Shaq, Jerry West e Kareem Abdul-Jabbar. A comitiva do Rockets tinha dirigentes e Kevin McHale e James Harden. Para ter o pivô, o clube também precisaria se desfazer de alguns salários. Mavericks, Suns, Raptors e Knicks ainda vão conversar com ele. O Blazers ainda está no páreo, mas não haverá um encontro formal entre as partes. Convenhamos: um já conhece bem o outro. O pivô é hoje a figura mais cobiçada da liga (e seu pacote técnico justifica tamanho frenesi). É uma situação muito confortável: poderá escolher um time entre opções muito diferentes. Difícil de imaginar, no entanto, que não fique entre Lakers, Spurs e Blazers. A saída de Portland parece cada vez mas provável, de todo modo. E aí ficaria um dérbi bastante contrastante entre o glamour de Los Angeles e o ambiente caseiro de San Antonio. Depende do que o jogador quer.

– Quem está à espera de LaMarcus é Greg Monroe, considerado o plano B para muitos. Ele já bateu um papo com Knicks e Bucks em Washington, vai receber metade da delegação do Lakers hoje e ainda tem Blazers e Celtics na fila. A expectativa geral é a de que ele vá fechar um acordo com o New York. Ficar em Detroit está fora de cogitação. O pivô está disposto a assinar um vínculo mais curto, talvez de apenas dois anos, para manter suas opções em aberto, mesmo correndo riscos de que alguma lesão possa atrapalhar os planos de longo prazo. De qualquer forma, ciente de que o mercado vai bombar a partir de 2016, talvez seja uma decisão esperta. Se escolher direito seu próximo clube, Monroe vai seguir acumulando números bonitos para o currículo, ainda que seu jogo não inclua a defesa, e estará pronto para receber um contrato volumoso para a segunda metade de sua carreira. O sistema de triângulos é uma boa para seus recursos técnicos. Assim como faria bem a Patrick Beverley, um agente livre subestimado ao meu ver. Um dos melhores defensores em sua posição, bom chutador e que, em Nova York, não precisaria ser um armaaaaador – daqueles que retém a bola por muito tempo.

– Procurando um homem de garrafão desesperadamente, o Lakers também agendou para esta semana uma reunião com Kevin Love. Nos bastidores, a previsão é de que ele fique em Cleveland, e isso teria sido informado ao time californiano. Mas há quem ainda acredite que o ala-pivô possa deixar o clube. Creio que seja difícil. Pelo menos não para este ano. Em relação ao Cleveland, tudo quieto. Quer dizer, mais ou menos, já que LeBron James, em tese, é agente livre. Foi mais um movimento planejado para estrangular a diretoria do clube, no caso, para se renovar com Tristan Thompson sem sustos e seguir as diretrizes de mercado que o jogador quiser. Entre elas, Tayshaun Prince?! Estava pronto para detonar mais um dos pitacos do GM LeBron, até que… o Spurs apareceu entre os interessados no veterano. (Risos). (E aí não dá para entender mais nada, mesmo.) Enquanto isso, JR Smith se sente desprestigiado pelo Cavs. Alô, JR, terra chamando!

– Outro alvo do Lakers, sabemos, é DeAndre Jordan. Byron Scott e Mitch Kupchak cruzaram o país na madrugada para falar com Greg Monroe na capital americana e voltariam ainda nesta quarta para LA para se reunir com o pivô. Alguém falou em jet lag? Quem primeiro abriu tratativas com Jordan, no entanto, foi o Dallas Mavericks. O ala Chandler Parsons, segundo consta, não desgrudou do grandalhão por nenhum momento nos últimos dias e está tentando todas as artimanhas para que o jogador retorne ao Texas (é natural de Houston, porém). O Knicks também pretende negociar com o gigantesco Jordan, mas Mavs e Clippers são vistos como os favoritos.

– O Dallas também foi atrás do ala Wes Matthews, e as negociações avançaram. Aqui, sim, temos uma surpresa. O Mavs parece operar com a certeza de que o queridinho de Portland vai se recuperar 100% de uma lesão grave como a ruptura do tendão de Aquiles. Não é algo tão simples assim, gente. O clube teria oferecido US$ 12 milhões anuais. Ele quer US$ 15 mi. Não sei bem se é um bom negócio. Com Dirk idoso e as dúvidas sobre a resistência física de Parsons, o time precisava de alguém mais criativo no ataque? Ou estão confiando no trio Felton-Harris-e-eventualmente-Barea ainda?

– Quem se mandou do clube foi o ala Al-Farouq Aminu, que fechou um contrato de US$ 30 milhões por quatro anos com o Blazers. Essa foi um tanto bizarra, a despeito do ganho de investimento que os clubes terão a partir do ano que vem. O jogador que defende a Nigéria no mundo Fiba é um cara de muita vitalidade, versátil, que causa impacto nos rebotes e fez ótima série contra o Rockets.ue Mas q não acerta nem 30% dos arremessos de três em sua carreira e ainda não teve um rendimento consistente para justificar essa grana. Em Portland, vai reencontrar o gerente geral que o Draftou pelo Clippers, Neil Olshey, de todo modo. O lance é que esse valor obrigatoriamente inflaciona o preço de diversos atletas semelhantes, como DeMarre Carroll, Jae Crowder e afins. Imagino que Danny Ainge, que tanto quer Crowder, tenha gelado ao saber da notícia. Carroll, por sua vez, pode muito bem pedir o dobro agora (US$ 15 milhões por ano) ao Hawks. Mesmo Danny Green vai querer uma fortuna depois dessa.

– Mais dois caras ex-Mavs e que estão em negociações curiosas? Rajon Rondo e Monta Ellis. O Sacramento Kings foi para cima de Rondo, liderado pelo recrutamento de Rudy Gay, um dos raros casos de atleta que se dá bem (e muito bem) com o armador. São muito próximos, assim como Josh Smith. Que galera, hein? Rondo estaria disposto a assinar um contrato curto com o Kings na tentativa de regenerar sua reputação na liga depois do papelão que fez em Dallas – e, tão ou mais importante, o baixo nível de produção em quadra. Agora… Ter Rondo, Boogie, Karl e Ranadive sob o mesmo teto? Vira um hospício. Bem distante da Califórnia, o Indiana Pacers vai receber Monta Ellis, outra figura problemática, nesta quarta. Especula-se que vão oferecer um contrato de US$ 32 milhões por três anos. Larry Bird já lidou com Lance Stephenson por alguns anos, então talvez não se preocupe em domar o ego de Ellis, um cestinha obviamente talentoso, mas que marca pouco e acredita ser melhor que Stephen Curry. Ao menos, na retaguarda, Paul George e George Hill poderiam compensar suas deficiências.

– Outros negócios quase certos: o ala Khris Middleton tem um contrato de US$ 70 milhões e cinco anos encaminhado com o Milwaukee Bucks. Pode parecer muito para um jogador pouco badalado. Mas Middleton contribui dos dois lados da quadra, é jovem e se encaixa bem no esquema de Jason Kidd, ao lado de Giannis, Jabari & Cia. Envergadura. O Brooklyn Nets também vai renovar com Brook Lopez (US$ 60 milhões/3 anos) e Thaddeus Young (US$ 50 milhões/4 anos). Valores OK para um clube que está de mãos atadas enquanto não se livrar de Joe Johnson e Deron Williams.


Os playoffs começaram! Panorama da Conferência Oeste
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Giancarlo Giampietro

Se for para comparar com a outra metade da liga, a Conferência Oeste ainda é uma dureza que só. A perspectiva é de séries muito mais equilibradas daqui. Acontece que o nível talvez não seja o mais elevado, especialmente se formos comparar com o que muitos desses times estavam fazendo há dois ou três meses. As lesões interferiram bastante. Hoje, o Golden State Warriors desponta mais favorito do que nunca, especialmente pelo fato de o San Antonio Spurs ter perdido o mando de quadra na primeira (e na segunda rodada), sobrando ainda com o lado mais complicado da chave. A equipe de Gregg Popovich fechou a temporada regular em alta, mas vai precisar fazer uma campanha memorável para alcançar a final da liga pelo terceiro ano seguido, em busca de seu primeiro bicampeonato.

NBA: San Antonio Spurs at Los Angeles Clippers

Não poderia ter ficado para mais tarde?

Palpites, que é o que vocês mais querem
Warriors em 4: o time californiano tem o melhor ataque, a melhor defesa e mais experiência. Pode ser que o Monocelha consiga uma vitória em casa, mas…
Rockets em 7: dependendo sempre do joelho e das costas de Dwight Howard. O Dallas está em crise existencial, Dirk envelheceu, mas Carlisle tem truques.
Spurs em 6: é o que o Monocelha aprontou na última rodada. O elenco mais vasto de San Antonio e a defesa de Kawhi em CP3 fazem a diferença.
Grizzlies em 7: a série que mais depende dos médicos do que de qualquer outra coisa; o mando na Grindhouse joga a favor de Marc e Z-Bo

Números
47,7% –
O percentual de acerto de Chris Paul nos arremessos a partir do drible (pull up shooting), liderando toda a liga. Fiz o filtro com uma média de ao menos cinco tentativas por jogo, para deixar claro que esse recurso realmente faz parte de seu repertório. CP3 tenta em média 9,7 por jogo. Tony Parker vem atrás, praticamente num empate técnico com Stephen Curry. Agora, se você for falar de chutes a partir do drible de longa distância, com um mínimo de duas tentativas por jogo, Curry sobe para segundo, com incríveis 42,3%, perdendo somente para Isaiah Canaan, do Philadelphia. Se for para filtrar com um mínimo de quatro tentativas, apenas o craque do Warriors se qualificaria. : )

41,4% – O percentual de arremesso que Andrew Bogut permite ao seus adversários nas imediações do aro. É a terceira menor marca da temporada, atrás de Rudy Gobert e Serge Ibaka, logo acima de Roy Hibbert, Derrick Favors, LaMarcus Aldridge e Nerlens Noel. Mostra o quanto o australiano sabe usar seu tamanho, se posicionando muito bem, para compensar a movimentação lateral bem reduzida e a impulsão quase zero. Claro que há outros fatores que influenciam essa contagem também: há ajuda de marcação dupla? Como os oponentes chegam ao aro? Estão equilibrados? Estão rodeados por bons arremessadores? Mas, enfim, é um dado que comprova a eficiência do antigo número um do Draft na proteção de cesta.

Ao ataque, Harden

Ao ataque, Harden

14,3 O total de pontos por partida que James Harden gera o Houston Rockets em suas infiltrações, seja com suas próprias finalizações, em assistências ou em lances livres. Na temporada regular, apenas Reggie Jackson, contando apenas seu desempenho pelo Detroit Pistons, gerou mais pontos no ato de bater para a cesta. O interessante é notar Stephen Curry logo abaixo do barbudo, com 12,0 pontos em média. Ou seja: um atacante completo, não apenas um chutador.

+7,5 O saldo de pontos do quinteto titular do Clippers na temporada, quando completo em quadra. Essa é a melhor marca da liga, acima de Cavs, Hawks e Warriors – pelo menos entre os quintetos que jogaram um mínimo de 30 partidas. Quando Jamal Crawford entra nas alas, na vaga de Redick ou Barnes, o time ainda rende muito bem, com as 15ª e 16ª melhores marcas. Nos playoffs, com maior tempo de descanso e numa última arrancada, Doc Rivers vai poder  limitar os minutos de seu banco. Mas uma hora Spencer Hawes, Glen Davis e/ou seu filho vão precisar entrar em quadra. Aí que seu péssimo trabalho como dirigente deverá ser exposto.

7,2 – na soma de todos os deslocamentos de um jogador pela quadra, a SportVU consegue calcular sua velocidade média em quadra – o que não quer dizer que eles sejam os mais velozes de uma ponta a ponta de quadra. Patty Mills, armador reserva do Spurs, é o que aparece com a maior média, com 7,2 km/h. Um dado muito curioso: Cory Joseph, justamente como quem o australiano briga por minutos na rotação do Coach Pop, é o segundo. E quer saber do que mais? Tony Parker, o titular da posição, é o quinto no ranking. Se você quer se candidatar a armador em San Antonio, sabe que vai ter de correr muito…

Os brasileiros
Leandrinho vai ganhar seus minutos aqui e ali pelo Warriors, dependendo do andamento das partidas. Se a pedida de Steve Kerr for mais fogo no ataque, o ligeirinho será acionado – e ainda tem a velocidade e, especialmente, a experiência para entrar em quadra nesse tipo de situação. Nos jogos que se pedir mais defesa, Shaun Livingston deve ficar mais tempo em quadra (não sei se confiará em Justin Holiday). Em San Antonio, a grande interrogação rumo aos playoffs gira em torno da panturrilha de Tiago Splitter. O pivô catarinense teve o início e o final de temporada atrapalhados devido a dores na panturrilha direita. Por isso, foi poupado dos últimos cinco jogos, depois de ter perdido 19 dos primeiros 20. Gregg Popovich já afirmou que usar de toda a precaução possível com Splitter, admitindo até mesmo a possibilidade de ele ficar fora de algumas partidas dos playoffs. Isso foi antes de saber que teria o Clippers pela frente. Aron Baynes pode trombar com DeAndre Jordan, assim como Jeff Ayres. Mas nenhum deles tem a inteligência e a capacidade defensiva do brasileiro.

Splitter vai conseguir sair do banco para combater DeAndre?

Splitter vai ser liberado para sair do banco e combater DeAndre?

Alguns duelos interessantes
Anthony Davis x Andrew Bogut: a tendência é que o Pelicans precise limitar os minutos de Omer Asik, para dar conta de correr atrás dos velozes e versáteis atletas do Warriors. É até melhor: se Davis ficasse com Draymond Green, precisaria flutuar muito longe da cesta e ficar de certa forma alienado na defesa. Dante Cunningham pode assumir essa, e aí teríamos toda a vitalidade e explosão física do Monocelha contra um gigante cerebral como Bogut. O que tem mais apelo aqui é o embate no ataque de New Orleans, com as investidas de frente para a cesta do candidato a MVP, que será testado pelas contestações (e, especialmente, as bordoadas) do australiano.

Terrence Jones x Dirk Nowitzki: Rick Carlisle seguiu a cartilha de Gregg Popovich e controlou o tempo de quadra do craque alemão durante a temporada. O alemão de fato chega, na medida do possível, descansado para a fase decisiva. Mas o quanto ele pode render esses dias? Sua mobilidade parece já bem reduzida. No ataque, seu arremesso ainda é uma arma a ser temida, tudo bem. O problema é a defesa, ficando muito vulnerável aos ataques frontais de Jones, um oponente jovem, atlético e de personalidade. Josh Smith também pode se aproveitar disso. O pior: Tyson Chandler já vai estar ocupado com Dwight Howard, sem poder dar tanta cobertura como de praxe. Mesmo que consiga pará-los no garrafão, ambos os alas-pivôs têm boa visão de quadra e podem municiar os arremessadores da equipe.

Terrence Jones tem uma lenda com quem duelar

Terrence Jones tem uma lenda com quem duelar

Tony Parker x Chris Paul: creio que Kawhi Leonard e Danny Green vão alternar na tentativa de contenção do armador do Clippers, deixando Parker com Matt Barnes, que é muito mais alto, mas não tem autonomia e talento para colocar a bola no chão e criar em situações específicas de mano a mano. A importância do francês vai ser para desgastar seu adversário do outro lado da quadra. Precisa atacar, atacar e atacar, movimentando-se com e sem a bola. Paul jogou uma de suas melhores temporadas, é forte e sabe que o tempo já está passando. Mas não tem muita ajuda do banco e pode ser levado ao limite.

LaMarcus Aldridge x Marc Gasol/Zach Randolph: aqui há diversas possibilidades. Z-Bo precisa cuidar de Robin Lopez, que pode ser consideravelmente menos talentoso que seu irmão gêmeo no ataque, mas ainda causa problemas perto da tabela e tem um bom chute de média distância. Digo: Randolph será requisitado na defesa perto da tabela e não apenas na proteção de rebotes. De qualquer forma, é provável que o espanhol fique, mesmo, com Aldridge, mesmo que a estrela do Blazers jogue afastada do garrafão, apostando no seu arremesso. Em geral, Gasol tem feito um bom trabalho contra seu companheiro de All-Star, que tem um aproveitamento de quadra de apenas 43% nas últimas três temporadas contra Memphis. Do outro lado, porém, imagino que Portland também prefira deixar Lopez com Randolph, que tem um jogo muito mais físico e poderia cansar Aldridge. As partidas são longas e um pivô vai se ver com o outro em algum momento.

Ranking de torcidas
1 – Warriors. Além de todo o talento que Steve Kerr tem em seu elenco, há uma outra razão para o fato de o Golden State só ter perdido duas partidas em casa durante a temporada regular. Essa galera sabe fazer barulho e esperou por anos e anos para que o clube voltasse a ser competitivo. O único risco aqui é o fator ‘modinha’. De ter gente muito mais interessada em festa do que no jogo dentro do ginásio num jogo importante.

Curry rege uma torcida fanática, que agora pode soltar a voz

Curry rege uma torcida fanática, que agora pode soltar a voz

2 – San Antonio. Até mesmo ranquear torcidas na Conferência Oeste é complicado. O clima nos jogos do Spurs também é de euforia. Além disso, de tantas batalhas que esses caras viram nos últimos anos, são aqueles que mais cultura e sapiência adquiriram, entendendo os momentos críticos para ajudar seu time, um esquadrão que briga pelo título há mais de 15 anos

3 – Portland. O Blazers é o time da cidade – uma situação rara nas sedes da NBA. Historicamente, Portland estaria acima tanto de Memphis como Oakland com a arenas mais complicada de se jogar. Hoje, porém, creio que os dois times acima vivam momentos mais especiais. No fim, até mesmo ranquear as torcidas é algo complicado de se fazer no Oeste (vide logo abaixo). Então usei como critério de desempate o recorde como anfitrião nesta temporada.

4 – Memphis. A sinergia entre o time e seu público é praticamente incomparável. Jogadores e torcedores querem moer a alma do adversário. (Sim, uma frase que, isolada no vácuo, não faz sentido algum, mas a linguagem esportiva nos permite certas liberdades, né?)

Antes de moer, eles podem tostar também

Antes de moer, eles podem tostar também

5 – Houston. Eles ainda se lembram do bicampeonato de 94 e 95. Querem mais e já abraçaram James Harden e seu jogo metódico.

6 – Dallas. Tudo vai depender de Nowitzki. Se o alemão esquentar a mão, a torcida vai explodir, inevitavelmente. Nesta temporada, porém, tiveram a pior campanha como anfitriões entre todos os oito classificados do Oeste.

7 – Nova Orleans. Eles vão estar empolgados pela primeira participação nos playoffs nessa fase da franquia. Até por isso, tudo é muito novo. Mais: já puderam celebrar bastante na última rodada da temporada regular e dá para imaginar casos e casos de  garotos confusos por lá: mas a gente não era o Hornets?

8 – Clippers. O Staples Center roxo e amarelo é uma coisa. O vermelho, branco e azul, outra – Billy Cristal sabe disso. Tirando Milwaukee, pela proximidade a Chicago, é o único ginásio em todo estes playoffs em que será possível escutar gritos pelo time ou por um jogador adversário. Isso incomoda até mesmo os astros da equipe.

Meu malvado favorito: Draymond Green. O ala-pivô do Warriors batalha perto da cesta, se movimenta bem pelo perímetro, procura o contato e fala bastante. Fala muito como diria o outro. As provocações são automáticas. Some tudo isso, e você tem uma atitude que invariavelmente chama a atenção/desperta a ira das torcidas adversárias. É o tipo de jogador que você adora ter ao seu lado e odeia enfrentar. Por isso, quando virar agente livre ao final do campeonato, Green será bastante cobiçado. Mas é impossível imaginar que o time californiano vá deixá-lo sair.


Temporada especial: relembre grandes momentos da NBA 2014-15
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Giancarlo Giampietro

“Foi uma temporada e tanto.”

A tendência, ao final de uma jornada de 1.230 jogos, é que sempre falemos isso, né? Pois história não falta para contar. Na hora de separar os principais acontecimentos da campanha 2014-2015 da NBA, porém, dá para perceber que realmente testemunhamos um campeonato especial. Claro que muita coisa chata aconteceu, como as lesões de Durant e Kobe, o empurrão de LeBron em David Blatt, goteira em ginásio, as paralisações constantes no final das partidas, o fundo do poço para Lakers e Knicks e mais alguma coisa. Mas vamos nos apegar a boas lembranças, vai? Então, sem mais delongas, seguem alguns momentos que devem – ou deveriam – ficar guardados na memória dos admiradores em geral da liga americana, ou, pelo menos, das torcidas envolvidas.

nba-season-2014-14-highlights

Tem espaço aí no hard drive? ; )

O Retorno
Sim, a temporada já se tornava marcante antes mesmo de seu início, com LeBron James anunciando que o bom filho a casa tornava (sim, surpreendentemente sem crase, mesmo), se desquitando de Dwyane Wade e Pat Riley. Houve romaria em Cleveland, e as lavanderias devem ter lucrado horrores com o tanto de camisa 23 resgatadas do fundo do baú, quiçá até mofadas. Para aqueles que tostaram, rasgaram ou picharam seus antigos uniformes, o jeito era abrir a carteira. Estudos e estudos foram divulgados para mostrar qual seria o impacto para a economia da cidade e de Ohio. A euforia só cresceu quando ficou claro que uma troca por Kevin Love estaria orquestrada. No fim, demorou um pouco para as coisas se acertarem, com o astro fazendo uma primeira metade de campeonato muito aquém do esperado, mas, depois de duas semanas de férias e de duas trocas certeiras, o Cavs decolou. Aqui, vale abrir espaço para dois episódios memoráveis que são consequência direta da mudança de South Beach para Akron. O Rio de Janeiro teve a sorte de sediar um jogo de pré-temporada que colocaria LBJ pela primeira vez contra seus ex-companheiros, enquanto o primeiro jogo oficial acabou reservado, claro, para a tradicional rodada natalina. Orgulhoso que só, Wade jogou demais e conduziu o Miami ao triunfo.

A carta, a volta, o rei

A carta, a volta, o rei

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A estreia de Caboclo e Bebê
A vida é engraçada, né? Dependendo do ponto de vista e do contexto, um jogo aparentemente insignificante entre Toronto Raptors e Milwaukee Bucks, no qual o time canadense trucidou o adversário, pode se tornar especial. Para o público brasileiro, talvez tenha sido a noite de maior algazarra. A história, afinal, era muito legal – desde a seleção do ala do Pinheiros numa surpreendente 20ª posição do Draft. Havia rumores de promessa, mas ninguém imaginava escutar seu nome na primeira rodada. O movimento gerou alta expectativa, tanto dos radicais torcedores do Raptors como no público daqui. E aí que, naquela sexta-feira 21 de novembro, ele foi para a quadra pela primeira vez num jogo oficial (depois de aquecer na Liga de Verão e na pré-temporada). Duas bolas de três pontos, uma ponte aérea maluca para Caboclo, e a loucura instaurada na América-do-Norte-ao-Sul. Lucas Bebê também foi chamado para a festa. A Internet quase quebrou, de tanto frenesi. Um blogueiro varou a madrugada imaginando o diário de um adolescente. Quem viu, viu. No final, porém, essa noite acabou sendo um acontecimento isolado. O gás do Toronto Raptors acabou cedo, as lavadas minguaram, e o ala só teria algum tempo de quadra significativo na D-League, se tanto. Até que a central do zum-zum-zum da liga contou o que estava acontecendo: problemas fora de quadra, com muita imaturidade deixando o caminho para seu desenvolvimento ainda mais intrincado. Bebê ao menos ainda voltaria a jogar também pela D-League, produzindo mais. Mas, ao final da temporada de calouro, o progresso da dupla ainda é um mistério. Mas o YouTube vai ter sempre isto:

Kobe supera Jordan. Literalmente
Foi no dia 14 de dezembro, em Minnesota. Muito melhor teria sido no Staples Center. Mas, enfim. Os deuses do basquete escolheram o ginásio do Timberwolves para esse marco. Com dois lances livres, o já ancião ala-armador do Lakers desbancou Sua Alteza Michael Jordan na lista de cestinhas históricos da NBA,  assumindo o terceiro post, logo abaixo de Kareem Abdul-Jabbar e Karl Malone, com 32.293 pontos. Nada mal, hein? Diga-me com quem andas… Ao menos a torcida e a gerência do Target Center tiveram a grandeza de celebrar o ocorrido, aplaudindo uma lenda viva em quadra. Kobe terminou a partida com 26 pontos, numa vitória por 100 a 94. Foi uma aberração de numa noite em meio a uma temporada deprimente da franquia. (Ah, em mais uma campanha em que as lesões o derrotaram, Kobe também conseguiu um recorde daqueles que já não orgulha tanto: desbancou John Havliceck, o ídolo do Boston dos anos 60 e 70, para se tornar o atleta da NBA que mais desperdiçou arremessos na história. Eram, então, 13.418 chutes errados.)

(Se for para falar de registros históricos, não dá para deixar Dirk Nowitzki de fora, né? De modo bem mais discreto, como de praxe, o alemão também vem subindo a ladeira dos maiores pontuadores que a NBA já viu. Entre 11 de novembro e 5 de janeiro, o genial líder do Mavs deixou passa Hakeem Olajuwon, Elvin Hayes e Moses Malone para trás – curiosamente, três pivôs com passagem pelo Houston Rockets –, para alcançar a sétima posição na lista. Além disso, ao ultrapassar Olajuwon, Dirk se tornou o principal cestinha estrangeiro da liga, em vitória de virada sobre o Sacramento, com um característico chute de média distância. Depois, no dia 24 de março, ao apanhar seu rebote de número 10 mil, o craque inaugurou um clube só seu, tendo também mais de 25 mil ponto. 1.000 tocos e 1.000 cestas de três pontos em sua carreira. Prost!)

Klay Thompson: incendiário
Depois dessa exibição, as mensagens de texto com o seguinte dizer – ALERTA KLAY THOMPSON – ganha um outro sentido. Vai obrigar você a dar pause no Netflix, a abandonar a mesa de jantar, a levantar a coberta, seja o que for, e ligar a TV ou o computador. O que o ala do Warriors fez contra o Sacramento não existe. Ou melhor, não existia até o dia 23 de janeiro. Com as mãos flamejantes e estabelecendo uma série de recordes, deixou toda a liga em estado de choque ao marcar 37 pontos no terceiro período. É difícil de processar isso ainda hoje. Ele finalizou a partida com 52 pontos no geral. Mas um detalhe: apenas 33 minutos. Numa projeção por 48 minutos, teria feito 75. (Para eternizar o apelido de Splash Brothers, Stephen Curry também passou da marca cinquentenária ao fazer 51 contra o Dallas Mavericks menos de duas semanas depois. E os dois se amam, não há rivalidade nenhuma.)

Uncle Drew em quadra
Ou: a noite em que LeBron James teve certeza de que havia tomado a decisão certa. Foi quando Kyrie Irving torturou a defesa do San Antonio Spurs ao marcar 57 pontos naquele que foi um dos melhores jogos do campeonato. Contando o minuto final do tempo regulamentar e a prorrogação, ele marcou 20 pontos – três a mais que toda a equipe texana. O tipo de atuação que também força os jornalistas a fuçar mais uma vez nos livros de recordes e que trouxe o Uncle Drew para uma quadra de verdade. Desta forma, o armador do Cavs terminou com as duas maiores contagens do ano, depois de já ter marcado 55 pontos contra o Portland Trail Blazers, numa partida em que seu companheiro mais famoso estava apenas na plateia.

Aqui, vale gastar mais algumas linhas e segundos para lembrarmos outras atuações magníficas do ano. Entre elas, constam os 50 pontos de James Harden contra o Denver Nuggets no dia 19 de março, dos quais quase a metade vieram em lances livres. O ala-armador do Rockets converteu 22 de 25 lances livres numa partida que é emblemática – não teve fanfarra nenhuma para o Sr. Barba, uma vez que lances livres são, hã, entediantes. Mas muito eficientes, de qualquer maneira. Harden ainda faria 51 pontos em vitória sobre o Kings, com oito bolas de longa distância. Aliás: o Sacramento é uma constante aqui. Também não podemos nos esquecer dos improváveis 52 pontos de Maurice Williams contra o Indiana Pacers.

A tempestade Russell Westbrook
Sem Kevin Durant, o enfezado alienígena de OKC se viu sem amarras nesta temporada, e os críticos tiveram de aturar toda a sua exuberância atlética. Resultado: uma sequência de triple-doubles assustadora. Ao todo, Wess conseguiu 11 jogos dessa natureza, mais que o dobro do segundo colocado na lista, Harden, e mais que o triplo de Michael Carter-Williams, Evan Turner e Rajon Rondo. De 24 de fevereiro a 4 de março, foram quatro em sequência, sendo o primeiro a conseguir essa façanha desde Michael Jordan em 1989. Teve linhas como 49 pontos, 15 rebotes e 10 assistências contra o Sixers e 40 pontos, 13 rebotes e 11 assistências contra o Blazers. Em março, suas médias foram de 30,9 pontos, 10,2 assistências e 8,5 rebotes. Em abril, 32,5 pontos, 8,1 assistências e 8,0 rebotes. Ironicamente, de certo para os mesmos críticos, quando somou 54 pontos (com quase incontáveis 43 arremessos), 9 rebotes e 8 assistências contra o Pacers, o Thunder saiu derrotado, e foi esse o revés que acabou tirando o time dos playoffs.

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Mascarado, com marra e muita explosão em quadra

Atlanta Hawks, o MVP do mês
Depois de tantas performances individuais destacadas, que tal abrir um espacinho, então, para um esforço coletivo admirável? A NBA teve essa grande ao eleger todo o quinteto titular do Atlanta Hawks para o prêmio de MVP do Leste no mês de janeiro. Most Valuable Players, afinal. Sim, como você vai escolher um atleta num time em que as peças se encaixam perfeitamente? Korver atrai marcadores – e, se eles não comparecem, pune essa mesma defesa na linha de três. Jeff Teague quebra a primeira linha defensiva e passa justamente para Korver. Paul Millsap e Al Horford pontuam por todo o perímetro interno, são confiáveis nos rebotes e solidários. DeMarre Carroll tem de marcar os LeBrons da vida. Com esse conjunto, o Hawks terminou janeiro com 17 vitórias em 17 partidas e se tornou primeiro time da história a concluir um mês invicto.

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

Triplas prorrogações
A terceira semana de dezembro foi a prova máxima da brutalidade do Oeste da NBA, como Gregg Popovich pode confirmar. O Spurs teve dois jogos seguidos com três prorrogações, contra Grizzlies e Blazers. Foram mais de duas horas de basquete, e os atuais são campeões saíram derrotados em ambas. O Grizzlies, na véspera da batalha com o Spurs, havia batido o Golden State Warriors, encerrando uma sequência de 16 triunfos do líder da conferência. Um verdadeiro bangue-bangue.

Cirurgia candelada
LaMarcus Aldridge era para ter aumentado a lista de baixas da temporada. No dia 22 janeiro, o Portland Trail Blazers anunciou que o pivô precisava passar por uma cirurgia na mão esquerda, devido uma ruptura de tendão. A operação o tiraria de quadra por seis a oito semanas. Numa conferência tão competitiva, isso poderia significar uma derrocada para a equipe – sem menosprezar o talento de Damian Lillard, claro. Pois, 48 horas depois, Aldridge surpreenderia a torcida e a liga ao anunciar que ignoraria as recomendações médicas e seguiria em quadra. No mesmo dia, marcou 26 pontos e pegou 9 rebotes em vitória sobre o Washington Wizards. Nos dois jogos seguintes, somou 75 pontos e 22 rebotes. Demais. Wes Matthews, porém, não teve a mesma sorte. Não dá para ignorar uma cirurgia por conta de uma ruptura no tendão de Aquiles. Depois da cirurgia, porém, o aguerrido ala também mostrou como a química em Portland é algo especial: já com alta hospitalar, viu o time vencer o Houston Rockets fardado em casa:

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Vida em trânsito
O último dia para a realização de trocas na temporada foi uma verdadeira loucura, com um recorde de 39 jogadores e 17 times envolvidos, num total de 12 negociações.  Foi, na verdade, uma temporada com muitas mudanças.  Muita gente se antecipou e foi às compras mais cedo. Como o Dallas Mavericks, que acertou uma troca inesperada por Rajon Rondo em dezembro. O Boston Celtics, aliás, agitou geral, despachando sete atletas durante toda a campanha – o que só enaltece o papel do técnico Brad Stevens ao levar essa metamorfose ambulante aos playoffs. A negociação precoce de Rondo gerou um momento bacana também. Apenas duas semanas depois do negócio, Rondo retornou a Boston e recebeu bela homenagem no telão do Garden. Daqueles atletas de coração aparentemente pétreo, Rondo quase chorou. Quaaase:

A serventia da casa
Já Stan Van Gundy não teve paciência para esperar a data final de trocas, numa possível tentativa de encontrar um novo lar para Josh Smith. De forma abrupta, o técnico (e presidente) do Detroit Pistons decidiu demitir o talentoso, mas inconstante ala-pivô. Smith simplesmente não conseguiu se encaixar na rotação com Andre Drummond e Greg Monroe. Chegava a enervar o novo comandante e os torcedores com sua predisposição ao chute de três, sem pontaria alguma, e as diversas partidas com a cabeça nas nuvens. Em vez de procurar interessados, SVG usou sua autonomia total no clube e simplesmente comunicou a Smith que ele estava fora. Na rua, mesmo, causando espanto geral. O ala vai receber o seu salário na íntegra, mesmo prestando serviços para outro clube. De qualquer forma, com o movimento, o Pistons abriu espaço em sua folha salarial na próxima temporada, por ter, digamos, parcelado os vencimentos de Smith. A ver se a moda pega… (O Houston Rockets gostou e o contratou rapidamente. No Texas, tem rendido um pouco mais, sem dar trabalho nenhum dentro e fora de quadra.)

A saideira
Um campeonato desses só poderia terminar com uma noite eletrizante, com muita coisa em aberto. E Anthony Davis enfim conseguiu centralizar as manchetes ao liderar o New Orleans Pelicans a uma grande vitória sobre o San Antonio Spurs para assegurar sua estreia nos playoffs, tirando Westbrook do páreo. Com 31 pontos, 13 rebotes, 3 tocos, 2 assistências e 2 roubos de bola, ainda complicou a vida dos atuais campeões. A comemoração em N’awlins foi como a de um título. Mais que merecida: não só a temporada do jovem ala-pivô pedia mais atenção, como sua diretoria acabou premiada, depois de ver tantas transações questionadas surtirem efeito. Além disso, a classificação do Pelicans deixou a Divisão Sudoeste 100% nos mata-matas. Todos os seus cinco integrantes chegaram lá, sendo apenas a terceira vez na história que isso acontece e a primeira em nove anos. Com uma diferença: foi a primeira vez que todo o quinteto teve aproveitamento superior a 50% na temporada.

Faltou algo? Alguma memória particular?


Portland Trail Blazers: aproveitando ao máximo a boa fase
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Giancarlo Giampietro

LaMarcus e Lillard, bela dupla de um belo time

LaMarcus e Lillard, bela dupla de um belo time

Cada um no seu quadrado. A sabedoria popular brasileira ainda nos oferece esse tipo de pérola, né? Que, neste caso, serve muito bem para os fiéis torcedores do Portland Trail Blazers. Esses caras têm novamente um dos times mais legais da NBA em sua cidade, que voltou aos playoffs, venceu uma série e se meteu com gente grande. Damian Lillard é uma das jovens estrelas mais populares, LaMarcus Aldridge encontrou a paz de espírito. O técnico Terry Stotts foi recompensado com uma renovação de contrato depois de uma campanha brilhante. Tudo muito bacana.

Por outro lado, depois do que o San Antonio Spurs fez com eles nos mata-matas passados, é muito difícil imaginar que, na complicadíssima Conferência Oeste, o Blazers tenha o suficiente para subir mais alguns degraus e lutar pelo título, como nos tempos de Clyde Drexler, Terry Porter e Rick Adelman.

Mas… e daí? Ter um time competitivo, com personagens carismáticos e talentosos não é o suficiente? Talvez para o fã americano mais radical, não, caso ele se deixe levar pelo vencer, vencer e vencer. Em Portland, uma cidade que vive em comunhão com sua única franquia nas quatro grandes ligas esportivas dos EUA, porém, cair nessa seria uma bobagem. São tempos para se curtir ao máximo.

Batum, o francês, bastante confiante

Batum, o francês, bastante confiante

Em termos de reforços, Steve Blake e Chris Kaman são as novidades, e basta perguntar aos rivais do Lakers o que pensam a respeito da dupla. A esperança é acreditar numa evolução contínua de Lillard e Nicolas Batum, que encerrou sua campanha na última Copa do Mundo em grande estilo. Somando a semifinal contra a Sérvia e a decisão pelo bronze contra a Lituânia, o ala acertou 10 de 17 arremessos de três pontos e 19 de 29 arremessos no geral, com média de 32 pontos por partida. Em apenas 35,5 minutos, algo muito raro de se ver em competições Fiba.

Blake é um caso especial da liga: os técnicos o adoram. Para quem vê de fora, porém, é difícil se enamorar. O que ele traz para uma equipe é QI, estabilidade e intensidade. Seu jogo deve combinar melhor com o arrojo de seu jovem armador titular – ao passo que, Mo Williams, embora tenha feito um belo campeonato, seria como uma duplicata do titular. Sobre Kaman? Imagino que a ideia seja reduzir para zero os minutos de Aldridge como o principal pivô em quadra, para preservar o físico da estrela. Para que ele esteja sempre escoltado por um grandalhão, mais com Robin Lopez, de preferência.

Por mais que a cotação de Lillard tenha decolado, o sistema ofensivo ainda depende bem mais de LaMarcus. Quando o pivô caiu de rendimento na segunda metade do campeonato passado, lidando com dores na virilha, a eficiência do time, que chegou a ter a principal artilharia da liga nos primeiros meses, foi junto. As equipes diminuíram a frequência da marcação dupla para cima dele, e os chutadores ficaram mais vigiados, por consequência.

Além disso, pela segunda vez seguida, os titulares do Portland perderam um pouco de rendimento no geral, como reflexo do quanto são exigidos. Eles saíram extenuados da emocionante série contra o Rockets e acabaram atropelados pela turma de San Antonio. Era outro nível de basquete, como a própria turma de Aldridge admitiu. Um nível que pediria um grande salto este ano para ser atingido.

O time: a boa notícia para o Blazers é que, se existe uma razão cristalina para Terry Stotts ter sido considerado um dos melhores treinadores da temporada passada, foi justamente a fabulosa melhora da equipe nos dois lados da quadra. De 2013 para 2014, o Blazers simplesmente subiu de 16º ataque mais eficiente para quinto e da 26ª melhor defesa para a 16ª. Como Phil Jackson sempre enfatizou: é muito provável que uma coisa leve à outra. Um sistema ofensivo balanceado facilita a transição de sua retaguarda, por exemplo. No caso de Stotts, sua contribuição também foi simplificar o tipo de cobertura desenhado para proteger sua cesta. Ele autorizava pouca flutuação em ajuda, recomendando expressamente para que seus atletas de perímetro ficassem grudados em seus respectivos oponentes. A troca em situações de pick-and-roll também era para ser evitada ao máximo. Com a base mantida, estaria o técnico mais confortável para experimentar mais nesta campanha?

Blake e Kaman agora querem sorrir em Portland

Blake e Kaman agora querem sorrir em Portland

A pedida: maaaaaais um time que sonha em avançar nos playoffs.

Olho nele: CJ McCollum. Se os veteranos contratados não levam o povo às ruas de Portland, pode ser que o principal reforço venha de dentro do plantel, mesmo. A melhor aposta nessa linha seria no armador segundanista, o décimo do Draft de 2010. McCollum foi comparado por muitos scouts como um jogador do perfil de Stephen Curry quando atuava pela modesta universidade de Lehigh, graças a sua habilidade como arremessador.  Pode ser um exagero, mas já serve para chamar a atenção. Seu ano de novato por atrapalhado por uma fratura no pé – que, aliás, é a mesma que tira Kevin Durant de ação nas próximas seis semanas, no mínimo: a “Fratura Jones”. Em depoimento ao Basketball Insiders, McCollum afirmou sobre a dificuldade de recuperação. Ele sofreu a primeira lesão jogando por Lehigh, passando por uma cirurgia. Durante o training camp, todavia, se tornou reincidente.  Nesse mesmo texto, imperdível – afinal, McCollum é um formando de jornalismo ; ) –, o atleta dá dicas aos novatos deste ano, sobre como controlar suas finanças, e também é bastante cândido ao falar a respeito dos ajustes necessários em quadra para os mais jovens. “Em vez de pensar nas razões por que o técnico deveria te pôr para jogar mais, honestamente pense nos motivos pelos quais o técnico não o está escalando”, disse. “O próximo passo é trabalhar em cima dessas coisas, melhorar nessas áreas específicas, para haver uma mudança em seu jogo.”

McCollum, o basqueteiro jornalista, conta tudo. Leiam

McCollum, o basqueteiro jornalista, conta tudo. Leiam

Abre o jogo: “Vou definitivamente arremessar mais de três. O técnico vem tentando me fazer arremessá-lo pelos últimos dois anos. Acho que sou o último jogador que não queria chutar de três. Mas só queria esperar até que me sentisse confortável com isso. Definitivamente trabalhei neste verão e me sinto mais confortável para isso. O técnico já me colocou em algumas jogadas em que estarei na zona morta, para fazer de lá. Acho que vai ser uma das coisas que trarei para o time neste ano”, LaMarcus Aldridge, sobre a coqueluche tática da liga com as bolas de longa distância, que tem em Stotts um grande entusiasta. Na mesma entrevista, o pivô assegurou que vai renovar com a equipe no ano que vem, ao final de seu contrato. Só descartou uma extensão porque esse tipo de recurso já não faz mais sentido financeiramente.

Você não perguntou, mas… na enquete com os gerentes gerais da liga promovida pelo NBA.com, os cartolas tiveram de responder sobre o melhor atleta do mundo fora da NBA. Dos três mais votados, dois já defenderam o Blazers no passado e saíram do Oregon para lá de infelizes com o técnico Nate McMillan: o ala Rudy Fernández, número um da lista, e o armador Sérgio Rodríguez, MVP da última Euroliga. Os dois jogam pelo Real Madrid.

rolando-ferreira-portland-blazers-cardUm card do passado: Rolando! O gigante de 2,15 m não só foi o primeiro brasileiro a jogar na NBA, como também foi o primeiro sul-americano, em 1988-89, depois de ter sido selecionado pelo Portland Trail Blazers na 26ª colocação do Draft daquele ano – que equivalia ao primeiro lugar da segunda ronda do recrutamento. Saindo da universidade de Houston, o curitibano teve, no entanto, uma passagem muito curta pela franquia. O chapa Fábio Aleixo conta essa história com muito mais detalhes.  O card ao lado tem uma peculiaridade, que é a marca. Os colecionadores devem se perguntar: que raios de “Franz” é essa? Definitivamente não é uma das grandes do ramo. Na real, é a “Franz Bakery”, uma tradicional rede de padarias de Portland que, em 1984, decidiu criar um set dedicado ao único clube. As figuras eram distribuídas em pacotes de pão: um por paquete. Rolando também entrou nessa.


Personagens dos playoffs: Splitter reage
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Giancarlo Giampietro

Tiago Splitter x LaMarcus Aldridge

Tiago Splitter já sabia o que vinha pela frente, mas estava preparado. Depois de lidar com Dirk Nowitzki por sete partidas, era hora de se virar com LaMarcus Aldridge. “Acho que LaMarcus é um Dirk mais jovem, que pode arremessar, infiltrar, jogar no garrafão e fazer muitas coisas. Não será fácil”, afirmou, antes de a semifinal da Conferência Oeste começar.

Difícil, mesmo, foi a vida do líder do Portland Trail Blazers nesta quinta-feira. No geral, também com a contribuição de Tim Duncan, o cestinha viveu uma jornada infernal, matando apenas 6 de seus 23 arremessos de quadra. Dentro desses números, 14 chutes foram contabilizados sob a vigilância do catarinense, dos quais ele acertou apenas dois. Os 14% de acerto valeram como o segundo pior de sua carreira, com um mínimo de dez chutes computados.

Não é questão de patriotada, vocês sabem. Mas, após destacar o que Nenê fez contra o Chicago Bulls, chegou a hora de também dar o devido espaço para o catarinense. Com a cabeça fria e competência, vai dando conta do recado, mostrando que os US$ 36 milhões que o San Antonio Spurs comprometeu em lhe pagar por quatro temporadas fazem sentido. Justamente contra um dos times que tentou convencê-lo a deixar o Texas no ano passado, quando o pivô se tornou agente livre, semanas depois de ter pouco sido utilizado na histórica final contra o Miami Heat.

Splitter poderia estar jogando ao lado de LaMarcus, e não contra

Splitter poderia estar jogando ao lado de LaMarcus, e não contra

“Você se sente bem que alguns times o queiram, e às vezes você até mesmo sente que seria legal tentar algo novo. Você fica com aquela dúvida na cabeça”, disse ao San Antonio Express-News o jogador que teve sondagens firmes do Blazers e do Atlanta Hawks. “Mas eu realmente queria continuar. Essa era a minha primeira opção. Quando tive a chance, abracei. O Spurs fez uma oferta que gostei e é ótima para mim e minha família. Não poderia dizer não.”

Que o Spurs tenha valorizado suas contribuições só poderia contar para recuperar um pouco de sua confiança, especialmente depois de ter jogado apenas 12min30s nos últimos dois jogos contra o Heat na decisão. Praticamente como se ele tivesse jogado apenas um período de oito possíveis.  “Isso sempre vai ficar na cabeça. Não tem como tirar. O que dá para fazer é seguir em frente e pensar apenas na próxima temporada”, disse na ocasião da extensão de seu vínculo com a franquia.

Para quem acompanha à distância, é difícil entender como alguém que tem médias de apenas 19,8 minutos na carreira, com 8,3 pontos e 5,3 rebotes, pode valer essa bolada toda. Ainda mais quando, no ano primeiro ano de seu volumoso contrato, ele regrediu estatisticamente tanto do ponto de vista das métricas avançadas como em produção por minuto. Por causa disso – ou talvez explicando isso, vai saber -, viu seu tempo de quadra se reduzir, depois de ter ganhado  espaço com Gregg Popovich nas suas três primeiras temporadas em sequência. As críticas viriam, naturalmente.

Nos mata-matas, porém, o valor de Splitter fica mais explícito. Numericamente, em nove partidas até esta sexta-feira, ele tem a maior média de minutos de sua carreira, em qualquer fase, com 28,1 por jornada, bem acima dos playoffs de 2013.  Em uma projeção por 36 minutos, sustentaria um double-double de 12,8 pontos e 11,1 rebotes, com presença marcante nas tábuas ofensiva e defensiva. Mas nada no basquete se resume apenas a números.

Contra o Mavs, ele foi o defensor primário de Dirk Nowitzki, que ficou limitado ao seu pior aproveitamento de quadra desde 2007, acertando somente 42,9% de suas tentativas de cesta. Obviamente os méritos não são exclusivos do brasileiro, com um rodízio de defensores e um sistema para atrapalhar o craque. Mas seu papel neste desarranjo do alemão foi inegável, algo que o leitor TristaSP, que tem a insustentável paciência de aturar esse blogueiro, mencionou no ato.

Tal como Duncan, Splitter, menos comprido e mais baixo, diga-se, é um defensor impertinente à base de fundamentos. Não há dúvidas que o pivô é alguém extremamente coordenado e com boa mobilidade para alguém de seu tamanho – basta comparar seus movimentos com os de Robin Lopez, por exemplo. Mas há uma distância considerável em termos atléticos com a elite da classe. Contra um Miami Heat “pequeno” e explosivo, isso pode pesar. Em geral, no entanto, contra as fortes duplas de garrafão do Oeste, suas habilidades fazem a diferença.  Ele dificilmente se deixa iludir com as fintas de seus oponentes, pois quase nunca vai tentar aquele toco espetacular – uma vez que não é o maior saltador da paróquia. Isso não o impede de se colocar entre os melhores defensores diante do aro na temporada regular. Também é difícil ver o catarinense deixar seu posicionamento em busca de uma recuperação de bola, atacando a linha de passes. Dentre todas as suas qualidades, a maior talvez seja a consciência daquilo que é e pode realizar em quadra (já recomendei este link do site Pounding the Rock, inteiramente dedicado ao Spurs, mas não custa sugerir outra vez).

Testemunhar o trabalho do brasileiro no mano a mano com LaMarcus é relativamente fácil. (Quer dizer, que fique claro: fácil para nós observarmos, mas de modo algum uma tarefa de tranquila execução). Terry Stotts desenha jogadas simples para que seu pivô fique isolado num canto da quadra, com mais liberdade para desenvolver seus movimentos, driblando sem se preocupar com a chegada repentina de um marcador extra. No início do quarto período, diante de Boris Diaw, estava funcionando. Popovich convocou Splitter de imediato, e a farra acabou. Nesse ponto, a capacidade de Tiago de minimizar o impacto de seu oponente sem, por enquanto, precisar da marcação dupla, é essencial para o equilíbrio defensivo do Spurs, mantendo os ótimos arremessadores do perímetros mais contidos.

Agora, por outro lado, há muito mais que Tiago possa oferecer em quadra para minar os adversários. Como, por exemplo, os corta-luzes que arma do outro lado da quadra. Algo que não só livra seus companheiros para chutes com mínima liberdade, mas também atormenta e atordoa aqueles que sofrem o impacto. “Os bloqueios deles machucam. Eles fazem bloqueios de verdade, um grande trabalho em preparar e conter nos bloqueios”, afirma o armador Damian Lillard. “Isso te desgasta muito. Perseguir Tony Parker é uma coisa. Ser acertado toda santa vez, tentando fazer isso, é outra. Tira muito de você.”

No ataque, ele também serve como uma excelente válvula de escape para tramas em pick and roll com Tony Parker e Manu Ginóbili, devido a sua inteligência para se posicionar sempre como uma ameaça no corte para a cesta, em ângulos favoráveis para a recepção de passes, atraindo a defesa. “Acho que minha conexão com Tony e Manu nos momentos quando Tim está fora de quadra ajuda muito a equipe a encontrar espaço para nossos chutadores, partindo para a cesta ou fazendo o bloqueio. É uma parte de nosso jogo, e a usamos muito bem na temporada passada.”

Essas intangíveis todas aparecem como itens silenciosos, discretos no contrato oferecido pelo Spurs. São detalhes como esse que justificam o salário de US$ 9 milhões anuais para Splitter. “Tiago é um defensor muito bom no garrafão. Ele também é bom na defesa de pick-and-roll e, se formos falar em ataque, ele joga realmente muito bem com as pessoas que temos e é um ótimo passador para a sua posição”, avaliou RC Buford, gerente geral do clube, o executivo do ano da liga.

Detalhes que obviamente não passaram despercebidos pelo gerente geral do Blazers, Neil Olshey, um caça-talentos de respeito, que ajudou a construir o atual timaço do Clippers e trouxe estabilidade a uma franquia de bastidores um tanto delicados como o Blazers (gerida pelo bilionário Paul Allen, um gênio dos negócios, mas por vezes intempestivo e cheio de cupinchas que podem interferir em decisões de basquete para a qual não estão exatamente preparados).

Antes de ser agraciado com a bizarra concessão de Robin Lopez pelo Pelicans, que tinha a intenção de limpar sua folha de pagamento desperadamente para assinar com Tyreke Evans, o dirigente – e ex-ator (!?!) – estava empenhado em investir no catarinense. Acontece que, assim como havia ocorrido em 2012 com Roy Hibbert e o Indiana Pacers, o Spurs nem permitiu que as conversas fossem adiante. Souberam do quanto o clube do Oregon estava disposto a pagar e já bateram o martelo. Não houve dramalhão nenhum, do jeito que Popovich gosta.

Lopez se encaixou perfeitamente no Blazers, é verdade, trombando com gente mais graúda, dando a LaMarcus o respiro necessário. Nesta série contra o Spurs, porém, na hora de avaliar os jogos nos seus pormenores, talvez seja inevitável para Stotts & Cia. se perder num breve devaneio sobre como seriam as coisas caso tivessem roubado Splitter para o seu lado.


Williams, Turner, Thabeet… E a sina dos nº 2 do Draft
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Giancarlo Giampietro

Derrick Williams, ou bust?

Derrick Williams… Para salvar a honra dos primeiros dos últimos como King?

“É uma sensação boa, um novo começo”, diz Derrick Williams, em sua chegada a Sacramento. “É um novo início para mim e para a equipe. Realmente sinto que posso ajudar este time.”

O discurso pode soar repetitivo – essa coisa de zerar o que aconteceu, buscar novos horizontes e yada yada yada –, mas de modo algum pode se questionar sua sinceridade. Acho.

Pois o ala passou por poucas e boas nas últimas temporadas, desde que foi escolhido como o número dois do Draft de 2011. Ele não se achou em quadra, ficou atrás de Kevin Love na rotação, não conseguiu  ganhar a confiança de Rick Adelman e, nesta semana, acabou despachado para o Kings, em troca de Luc Richard Mbah a Moute.

Olha, o camaronês é um ótimo defensor e reboteiro – e um dos melhores amigos de Kevin Love –, mas tem muitas limitações. No ataque, consegue pontuar só quando livre debaixo da tabela. Por esse pacote, ganha mais de US$ 4,4 milhões em média num contrato de mais dois anos. É muito.

Que Williams tenha sido trocado por um jogador desse nível mostra o quanto sua cotação caiu e que o ex-gerente geral da equipe David Kahn não tinha, mesmo, o melhor tino para selecionar novatos.

Outros dois de seus fiascos:

Jonny Flynn, 6º em 2009: ok, teve lesão muito cedo e foi queimado pelos triângulos de Kurt Rambis na sua primeira campanha, mas hoje ele não consegue jogar nem na China… E Stephen Curry, Brandon Jennings, Jrue Holiday, Ty Lawson e Jeff Teague saíram depois dele no Draft).

Wesley Johnson, 4º em 2010. O ala foi mandado para Phoenix no ano passado em troca de… nada. Ou pior: o time, na real, teve de pagar para se livrar do jogador, limpar seu salário e tentar contratar Nicolas Batum de modo frustrado.

Ele acertou com Ricky Rubio… E só. Basicamente isso.

Agora, Williams não só tenta se livrar dessa pecha, como luta contra uma sina ainda mais impactante: a quantidade de segundas escolhas do Draft recentes que têm se mostrado desastrosas.

Não tem aquela história de que o segundo é o primeiro dos últimos? Bem, no caso do recrutamento de calouros da NBA, a partir dos anos 2000, o segundo tem se mostrado o último, mesmo.

Se você quiser saber quais foram todos os draftados número 2 da história, segue um prato cheio, daqueles com uma montanha de arroz. Seria uma loucura falar sobre cada um deles, mas fique à vontade para fazer o serviço. Aqui, vamos nos concentrar apenas nos de 90 para cá – aqueles que vimos jogar, vai –, para estabelecer uma comparação.

Na década do Nirvana, do tetra, do Plano Real e da Guerra do Kosovo, em ordem cronológica, tivemos: Gary Payton, Kenny Anderson, Alonzo Mourning, Shawn Bradley, Jason Kidd, Antonio McDyess, Marcus Camby, Keith Van Horn, Mike Bibby e Steve Francis. Nada mal, hein? Só três deles não foram All-Stars: o pirulão Shawn Bradley, um dos principais alvos de Shaquille O’Neal e de qualquer gente que soubesse enterrar, Keith Van Horn, que começou bem, mas nunca decolou, sentindo a pressão, de ser o (?) próximo Larry Bird; e Camby, que ao menos garantiu um título de melhor defensor do ano em 2007 e foi bem pago a carreira toda.

Em compensação, de 2000 para cá, a coisa ficou feia. Nos primeiros cinco anos, tivemos Stromile Swift, Tyson Chandler, Jay Williams, Darko Milicic e Emeka Okafor. Chandler se tornou um belo pivô, mas levou tempo para que acontecesse. Emeka Okafor defende bem, mas está um degrau abaixo. Os outros três foram desastre: um caiu por ter uma combinação matadora de ego e inconsistência; o outro sofreu um grave acidente de moto e não conseguiu voltar bem; e Darko… Bem, foi o Darko, né? Free Darko!

Depois, em 2005, Marvin Williams conseguiu ser escolhido pelo Atlanta Hawks na frente de Deron Williams e Chris Paul. Palmas! LaMarcus Aldridge fez do Portland Trail Blazers um time bastante esperto em 2007, ensanduichado por Andrea Bargnani e Adam Morrison. Em 2008, Kevin Durant fez do Portland Trail Blazers um time bastante equivocado.

Agora… Depois de dois grandes e saudáveis certos desses, veio a sangria. Cuidado, o conteúdo é forte:

2008: Michael Beasley para o Miami Heat. Leia tudo sobre o caso aqui. Ao menos o ala vai começando bem sua segunda passagem pela Flórida. Conhecendo a peça, todavia, está muuuuuito cedo para comemorar.

2009: Hasheem Thabeet para o Memphis Grizzlies. O ex-proprietário do clube, Michael Heisley se intrometeu no basquete. Deu nisso: ficou encantado com o treino particular do pivô de quase 2,20m de altura e saiu dali convencido de que era a melhor pedida na frente de James Harden, Ricky Rubio e todos os armadores indicados acima ao lado de Wes Johnson.  Pois o único jogador da história da Tanzânia na liga ficou no Tennessee por apenas um ano e meio, até ser trocado com o Houston Rockets. Hoje está em Oklahoma City, com um contrato parcialmente garantido. Pode ser dispensado a qualquer momento.

Thabeet cool

Thabeet, reserva do Thunder, mas acima de James Harden na certa

2010: Evan Turner para o Philadelphia 76ers. O ala saiu logo atrás de John Wall como a promessa de alguém que estava pronto para entrar em quadra e produzir. Nunca se encaixou com Andre Iguodala ou Jrue Holiday e teve três anos de produção abaixo da média. Não teve nenhuma oferta de renovação contratual por parte do Sixers e meio que já sabe que joga neste exato momento por sua sobrevivência na liga. Vai indo relativamente bem, conseguindo seus números para seu agente vender o peixe em 2014, embora não tenha tanta eficiência, sendo um dos campeões de turnover da temporada. Naquele ano, na mesma posição, em nono saiu Gordon Hayward. Em décimo, Paul George. Glup. Em 12º, Xavier Henry. ; )

2011: Derrick Williams, o nosso amigo. É muito simples colocar tudo na conta de Kevin Love. Supostamente, Williams teria como melhor posição – se enquadrado em uma, diga-se – aquela chamada de 4, como um ala-pivô mais atlético que o normal, que supostamente poderia bater seus adversários de frente para a cesta, atacando em velocidade e explorando seu arremesso de três pontos desenvolvido ano a ano na universidade do Arizona.

Derrick Williams x Patrick Patterson

Não pense Williams que Patterson vai dar a chave do carro tão fácil assim

Foi desse jeito que ele deu um trabalhão danado para a Duke do Coach K nos mata-matas da NCAA daquele ano. Num time que já tinha um astro fazendo mais ou menos isso, o novato ficou perdido.

Não conseguiu se encaixar no time, perdido defensivamente. E não engrenou também mesmo quando o astro perdeu quase toda a temporada passada (64 jogos) por conta de fraturas na mão. Williams não conseguiu ser eficiente ou agressivo no ataque e penou na defesa – lento longe da cesta e despreparado para lidar com jogadores mais altos e igualmente atléticos embaixo.

E toca ser trocado por um príncipe aguerrido camaronês. Em Sacramento, ele busca o alardeado recomeço. Mas, acreditem, não é tão simples assim. Patrick Patterson, Jason Thompson e, quando voltar de lesão, Carl Landry têm algo a falar sobre a disputa do posto de parceiro de garrafão de Boogie Cousins. É de se esperar que, nessa segunda chance, o clube faça uma forcinha e tente ver o quanto antes tem em mãos. Os minutos só não serão entregues de graça, com base no status. O técnico Brendan Malone vai exigir um posicionamento defensivo no mínimo alerta do atleta. Algo que ele não conseguiu cumprir em Minnesota.

“Eu digo ara as pessoas: apenas me coloque em quadra, e farei coisas boas”, implora o mais novo King.

A Williams se junta o hiperativo Michael Kidd-Gilchrist, a segunda escolha do ano passado, que tem apenas 20 anos e uma vida toda pela frente. Não dá para julgá-lo de imediato. No entanto, se ele não der um jeito urgente em seu arremesso, ficará difícil de justificar a confiança que recebeu do Charlotte Bobcats. Ainda mais com Andre Drummond atropelando quem quer que apareça a sua frente.

Com tantos casos mal-sucedidos, só fica uma dúvida. Será que é bom passar esse tipo de informação para Victor Oladipo, ou melhor evitar?


Mercado da NBA: Panorama da Divisão Noroeste
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Giancarlo Giampietro

O post poderia ficar imenso, então vamos direto ao assunto. Desde a quarta-feira, os clubes da NBA começaram a oficializar os acordos que trataram nos últimos dias, em período agitado no mercado de agentes livres. Nesta quinta, resumimos o Oeste. Veja o rolou em que cada franquia da Divisão Noroeste se meteu, ou não, abaixo:

JaVale McGee enterra

JaVale McGee: um dos nomes mais promissores e temerosos ainda sem contrato

Denver Nuggets: o gerente geral Masai Ujiri trabalhou tanto desde que assumiu o cargo, considerando a troca de Carmelo Anthony e a renovação e posterior troca envolvendo Nenê, que merece um descanso por ora, mesmo. Ele tratou de segurar o armador Andre Miller, está negociando com JaVale McGee, mas por enquanto é só nas montanhas do Colorado. Não sabem se o francês Evan Fournier assina agora ou volta para a Europa por um tempo.

Minnesota Timberwolves: já falamos aqui sobre o estranho fetiche de David Kahn pela cidade de Portland, depois da proposta encaminhada para Nicolas Batum e um suposto acordo com Brandon Roy. Mas o Wolves também cruza fronteiras mais longínquas, tendo contratado o ala-armador Alexey Shved, um ótimo jogador que tem tudo para fazer uma bela dupla com Rubio. De resto, voltando a Portland, Kahn agora precisa decidir, mesmo, se vai investir pelo ala francês. De acordo com as contas dos matemáticos (não há ninguém com esse perfil aqui no QG 21), caso todos esses contratos passem, alguns jogadores precisarão ser dispensados ou trocados para limpar salário. Entre a turma dos cortes, podem esperar por Darko Milicic (que choque!) e Martell Webster.

Oklahoma City Thunder: apesar das quatro derrotas seguidas na final, respirando fundo, de cabeça fria, não resta muito o que fazer com esse elenco.  Sam Presti pode trocar algumas pequenas peças, mas a base já é forte o suficiente. O ala novato Perry Jones III tem um potencial incrível e encontrou talvez o melhor clube para se desenvolver, treinando com um Durant todos os dias. O russo Andrey Vorontsevich, ala-pivô versátil do CSKA, também foi sondado. Derek Fisher ainda não sabe se permanece.

Joel Freeland, seleção britânica e Portland

Joel Freeland chega com mais status

Portland Trail Blazers:e o Pacers não permitiu que o novo gerente geral Neil Olshey, homem que levou Chris Paul ao Clippers, contratasse o gigante Roy Hibbert, o time do Oregon se voltou adotar a revolução espanhola! Chegam o ala Victor Claver, do Valencia, e o pivô Joel Freeland, que é inglês, mas se formou como jogador no país ibérico e brilhou pelo Málaga nos últimos anos. Os dois chegam para compor o elenco inicialmente, mas têm potencial para produzirem logo de cara, ao lado do armador Damien Lillard ­– o pivô Meyers Leonard ainda não estaria pronto. O ponto mais importante do cartola, pensando em longo prazo, a ser resolvido é ponderar se considera Batum uma das principais peças do time para o futuro ao lado de LaMarcus Aldridge. Caso o Wolves confirme sua oferta, o salário será de jogador top.

Utah Jazz: com muitos jogadores jovens e promissores no elenco aliados a veteranos ainda bastante produtivos, não é preciso se precipitar. Daí o verão bem tranquilo por que passa a franquia. A única ação até o momento divulgada foi a troca de Devin Harris pelo ala Marvin Williams solidifica sua linha de frente, mas deixa o elenco sem um armador titular. Então alguma outra negociação vem por aí, e essa, sim pode chacoalhar: quem sabe algo envolvendo Al Jefferson ou Paul Millsap? Do contrário, caberia ao Jazz aguardar mais algumas peças caírem no mercado para escolher um armador-tampão para a próxima temporada.

Veja o que aconteceu até agora nas Divisões Sudoeste e Pacífico.

Leste: veja o que aconteceu até agora nas Divisões Atlântico, Central e Sudeste.


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