Vinte Um

NBA vê abismo crescer entre as conferências. Ou: o dia-dia brutal do Oeste

Giancarlo Giampietro

Desfalcado, Spurs perde duas seguidas. Mais uma semana no Oeste

Desfalcado, Spurs perde duas seguidas. Mais uma semana no Oeste

A discrepância de talento entre o lado do Atlântico e do Pacífico na NBA já vem de longa data. A cada temporada, porém, a distância parece mais acentuada, com a Conferência Oeste se tornando mais brutal mês a mês – o oitavo colocado, no momento, pode estar abaixo dos 50%, algo raro, mas os sete primeiros têm um aproveitamento assustador; além disso, é questão de tempo para OKC estar no azul.

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Vamos fazer aqui, então, um apanhado de episódios e dados para ver como é dolorosa a vida dos bandoleiros do Velho Oeste. As últimas rodadas serviram para evidenciar as dificuldades enfrentadas por seus integrantes. Que nos digam Z-Bo, Marc Gasol e o torcedor do Memphis Grizzlies em geral:

– Qualquer sequência de dois jogos em duas noites já castiga. Agora imagine a cabeça do técnico Dave Joerger e dos preparadores físicos da equipe quando se deram conta de que teriam pela frente o Golden State Warriors na terça-feira e o San Antonio Spurs na quarta? E se dissessem a eles que, na segunda partida, precisariam encarar tripla prorrogação? Eles estariam cansados só de pensar. Pois o Memphis batalhou e conseguiu duas vitórias seguidas impressionantes.

Claro que tudo poderia ser menos sofrido se eles não tivessem cedido o empate ao Spurs depois de aberta uma diferença de 23 pontos. Ao final da partida, o armador Mike Conley ria no vestiário em San Antonio dizendo que tinha dificuldade até mesmo para se vestir. ''Estou tão cansado que não consigo nem abotoar minha camisa'', afirmou.

Ao menos ele estava sorrindo, né? Passando por esses testes, o Grizzlies tem hoje a melhor campanha se formos levar em conta apenas os confrontos internos do Oeste, com 14-2, contra 13-3 do Golden State?E o que dizer dos atuais campeões? Na véspera, eles haviam tomado uma surra do Portland Trail Blazers, também numa dobradinha para lá de ingrata – ainda mais considerando a viagem de volta de Portland para casa.

Por essas e outras que, apesar dos reveses nessa ocasião, não há como contestar a estratégia precavida de Gregg Popovich comDuncan, Manu e seja lá mais quem for. Seu time, que preservou os dois veteranos e Splitter em Portland e não contou ainda com Parker e Kawhi na volta, perdeu ambas? Paciência. Ao menos exigiram do Grizzlies – que não tinha Tony Allen, é verdade – ao máximo que puderam, e os adversários já tiveram de disputar seis prorrogações desde sexta-feira..

A corrida é longa demais e desgastante. Ainda mais para quem está no Oeste. Ao conferir a tabela, raríssimos jogos parecem fáceis. Daí a quantidade de cartões de Natal que as diretorias de Wolves e Lakers têm para receber, com carinho, nesse Natal que se aproxima. Só foi mais uma semana no Oeste Selvagem, gente.

– Já não faz mais sentido falar em ''topo da Conferência Oeste''. Com as duas derrotas, o Spurs caiu para sétimo. Mas com 17 vitórias e 9 derrotas. Juntos, os sete primeiros colocados têm um recorde de 128 triunfos e 42 reveses. Isso dá absurdos 75,9% de aproveitamento. É uma outra classe de competidores, e com muita gente nessa briga. Ter mando de quadra será importante. Por outro lado, parece já não haver mais diferença entre ficar em sétimo ou oitavo. Vem pedreira de todo jeito. O importante é apenas se classificar para os playoffs.

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Klay x Gasol e Z-Bo: os melhores no Oeste e contra o Oeste

– Seis equipes do Oeste sustentam aproveitamento superior a 70%. Golden State e Memphis estão na casa de 87,5 e 84%. No Leste, são três acima de 70%. O aproveitamento geral dos oito primeiros do Leste é de 120-79, ou apenas 60,3%. Phoenix (9º), Oklahoma City (10º) e Sacramento (11º) estariam hoje na zona de classificação para os mata-matas no Leste. Os dois primeiros teriam o suficiente para ocupar a sétima posição. O Kings seria o oitavo Líder do Leste, o Raptors seria o quarto no Oeste, empatado com o Portland Trail Blazers. Oitavo colocado, fechando a zona de classificação para os playoffs, o Brooklyn Nets seria o 12º do outro lado.

E nem mesmo essas classificações hipotéticas seriam justas, uma vez que não podemos esquecer a composição da tabela da liga. No geral, numa tabela de 82 partidas, 52 delas são intraconferência. Em ascensão, o New Orleans, por exemplo, enfrenta quatro vezes na temporada os quatro rivais duríssimos da Divisão Sudoeste. O Nets só vai jogar duas vezes contra cada um deles – são oito complicadas partidas a menos em sua contagem, no final.

– Por isso, o mais correto é se concentrar nos números interconferências. E aí o que temos? Por ora, 91 vitórias e 48 derrotas para o Oeste.  Um aproveitamento de 65%). Essa é a maior disparidade da história da NBA, superando os 60% a favor do Leste no longínquo 1960, com o qual não se pode comparar nada, na verdade. Desde a fusão com a ABA, a maior diferença nesse embate foi de 56,7% para o Oeste. Adivinhe quando? No ano passado. Nos últimos três campeonatos, aliás, o hiato só cresceu.

– Apenas dois times do Leste têm mais vitórias do que derrotas contra o Oeste, justamente os primeiros colocados Toronto (7-2) e Washington (6-1). Por outro lado, Philadelphia (em 11 jogos), New York (10 jogos) e Charlotte (12 jogos) venceram apenas uma vez. O Warriors está invicto contra o Leste, com oito triunfos, assim como o Rockets, com seis. Só três times ocidentais mais perderam do que ganharam contra os orientais. Um deles é o Sacramento Kings, com 2-3. Seus três tropeços, no entanto, aconteceram sem a presença de DeMarcus Cousins.

Raptors de Valanciunas precisou de prorrogação para vencer o Denver, em casa

Raptors de Valanciunas precisou de prorrogação para vencer o Denver, em casa

– Aliás, o Kings… Ah, o Kings… Que acabou de demitir mais um treinador, mesmo ainda estando no páreo por uma vaguinha nos playoffs, sem contar com Boogie pelas últimas dez partidas. Claro que a queda de Mike Malone teve muito mais a ver com uma insatisfação interna do magnata Vivek Ranadive e seu gerente geral Pete D'Alessandro com o estilo de jogo da equipe. Mesmo assim: se Sacramento fosse digamos, a capital do Maine, e, não, da Califórnia, provavelmente Malone ainda estaria empregado hoje, com resultados bem melhores, independentemente do basquete praticado.

– Até o Lakers, minha gente, ganhou mais do que perdeu nessa história. Em sete partidas contra rivais do Leste, somou quatro vitórias. Nas demais 18? Perdeu 14. Em rendimento, isso dá uma diferença de 57,1% para 22,2%. Byron Scott vai muito bem se apegar a este número para dizer que faz, sim, um bom trabalho.

– A diferença entre Oeste e Leste se acentuou, mesmo, na década passada. Nesse período, o último ano que a turma oriental venceu mais foi em 2009, e no sufoco : 50,5% x 49,5%. Isso está dentro da margem de erro, não?  Piora: desde 1990, o Leste saiu com mais vitórias em apenas seis temporadas (1993, 96, 97, 98, 99 e 2009), com uma bela forcinha do Chicago Bulls de Jordan, Pippen e Mestre Zen.

– Segundo levantamento do bíblico Zach Lowe, do Grantland, pelo menos um time de loteria do Oeste (fora dos playoffs, isto é) teve sempre uma campanha melhor que a do oitavo do Leste em média. Ou: o nono colocado do Oeste terminou com campanha melhor que 2,5 dos times do Leste desde 2003.

É... perder para um time do Leste, em casa, causa esse tipo de dor. Bucks bate Suns no último chute

É… perder para um time do Leste, em casa, causa esse tipo de dor. Bucks bate Suns no último chute

– Por essas e outras que, quando um Phoenix Suns perde para Detroit e Milwaukee em casa, está praticamente dizendo adeus aos mata-matas, ainda que se tenha um extenso caminho pela frente. Para complicar, o time do Arizona também venceu apenas um de seus seis jogos decididos por três ou menos pontos. Hoje, parece que só mesmo uma nova grave lesão vá impedir que o Oeste repita os oito melhores da campanha passada. Desta forma, há um crescente clamor nos Estados Unidos para que a NBA revise seu sistema de emparelhamento nos playoffs. Que saia de cena o sistema de oito-para-cada-lado e entrem os 16 melhores times, independentemente da localização geográfica.

''Isso precisa ser estudado. Estou chegando a um ponto bem próximo de achar que simplesmente precisamos de uma mudança. Já está na tela do radar da liga agora'', afirmou Robert Sarver, proprietário, claro, do Suns. A declaração aparece em uma bela análise de Lowe sobre essa situação. Seu time é aquele que foi eliminado no campeonato passado com 48 vitórias.

Essa ideia de posicionar os 16 melhores seria a mais simples de se efetuar, mesmo, embora não corrija as ''injustiças'' do calendário, por ora, bem mais fácil de que a rapaziada do Leste desfruta. Mas as mudanças são sempre complicadas de se fazer num sistema que está em operação há mais de duas décadas. Quaisquer que sejam.Isso envolve dinheiro (o faturamento dos playoffs), meus amigos, e aí a gente já sabe… E não só isso: as regras em prática na liga estão todas interligadas, como Lowe sempre faz questão de nos lembrar. ''Todo item do ecossistema da NBA está ligado os outros: se você mudar uma parte, estará mudando todas, às vezes por acidente'', escreveu.

Se for para ter mudança, não será com o campeonato em andamento. As regras continuam, o que representa um tremendo desafio para a fração ocidental da liga.  Como já escrevi na ficha de apresentação do Suns para esta temporada: no Oeste, não basta ser bom. Precisa ser excelente. E que os jogadores e treinadores se preparem para mais prorrogações, drama e eventuais decepções. Vai ser difícil de abotoar camisa, mesmo.