Vinte Um

Em Oklahoma City, lá vem a tempestade Westbrook

Giancarlo Giampietro

Russell Westbrook só quer um abraço. E mais um arremesso, gente

Russell Westbrook só quer um abraço. E mais um arremesso, gente

De um episódio deprimente – cirurgia que vai afastar Kevin Durant por pelo menos um mês e meio –, o desdobramento está carregadíssimo de ironias. Para sobreviver no Oeste sem o atual MVP da NBA, o Oklahoma City Thunder vai precisar de um Russell Westbrook mais agressivo. Como se fosse possível.

O mesmo Westbrook que já foi massacrado em praça pública incontáveis vezes, por sua seleção de arremessos e sua eloquência  com a bola em mãos. Algumas vezes com razão, é verdade, mas também por vezes numa injustiça daquelas – Allen Iverson ou até mesmo seu contemporâneo Derrick Rose já foram celebrados pelos mesmos motivos. Aí entra a parte em que falamos: mas nenhum dos dois tinha um companheiro tão qualificado ao lado. É verdade. A prioridade deveria ser sempre dele.

Acontece que, ao seu modo, o segundo craque do Thunder também se enquadra na categoria de aberrações da liga. O sujeito é tão atlético que qualquer jogada parece fácil. Deve ter a impressão que, não importando o grau de sofisticação ou complicação de um movimento que vá tentar, nenhum defensor na terra vai conseguir pará-lo. É um (?) mal que já acometeu Jordan e Kobe, entre outros do primeiro escalão de homens-borracha. O que não quer dizer que ele tenha carta branca para fazer toda e qualquer besteira possível em quadra. Que ele não precise passar – ou que não passe… – a bola. Ele simplesmente não é um armador aos moldes de Andre Miller ou Scott Machado. E a pressão que ele coloca em uma defesa, mesmo quando não está convertendo suas infiltrações, é imensurável e também contribuiu para a eficiência de Durant.

Ibaka, claro, enterra. Mas seu forte é o chute de média distância, sem jogadas individuais

Ibaka, claro, enterra. Mas seu forte é o chute de média distância, sem jogadas individuais

Mas aí que está. Ou melhor, não está: sem seu grande cestinha e líder, OKC vai depender de Westbrook. Ele contra a rapa. Então se preparem, cada um no seu abrigo: nas primeiras seis semanas da temporada, prepare-se para uma tempestade. De lances mirabolantes, de tirar o fôlego, de fazer a cabeça doer. E as consequentes críticas, positivas ou negativas que virão.

O time: agora realmente não há muito o que fazer, não sobram muitas alternativas a Scotty Brooks, uma vez que seu sistema ofensivo se baseia quase que exclusivamente na capacidade individual de seus dois principais jogadores. Fora a superdupla, o único atleta criativo que resta no elenco é Reggie Jackson, que pode muito bem causar as mesmas aflições de Wess. Quando o titular precisar descansar, restará ao armador revelado por Boston College assumir a direção. E a mentalidade será realmente a mesma. Ambos vão ter a vida dificultada também pela ausência de Anthony Morrow por quatro a seis semanas. Excepcional arremessador, o ala foi a principal contratação para a temporada e sofreu uma torção no joelho.

Serbe Ibaka converte seus chutes de média distância com impressionante eficácia, ajudando a espaçar a quadra – sem ele, as infiltrações de Westbrook ficaram muito mais complicadas contra uma defesa tão bem postada como a do Spurs, por exemplo, nas finais de conferência. Mas o pivô naturalizado espanhol não produz por conta própria. Seu arremesso melhorou consideravelmente, mas, perto da cesta, ele só vai pontuar em rebotes ofensivos ou quando acionado em cortes fora da bola para a cesta.

Melhor aquecer direitinho, gente. O time vai precisar: PJII e Lamb

Melhor aquecer direitinho, gente. O time vai precisar: PJII e Lamb

De resto, Brooks agora se vê forçado usar os jogadores mais jovens, e o programa de desenvolvimento  do clube, tão elogiado, será testado a ferro e fogo. Agora não há mais Caron Butlers e Derek Fishers no caminho, ao passo que a necessidade de se encontrar novas soluções  se faz necessária, enquanto seu cestinha alienígena não volta. Poderá Perry Jones, o Terceiro, dar um salto? Nunca é demais lembrar que o espigão já foi considerado um dos melhores prospectos dos Estados Unidos. Para não falar de Jeremy Lamb, que não abraçou a chance que teve na temporada passada, com sua postura um tanto soneca, mas um talento de se admirar.

Só não dá para esperar muito de Andre Roberson. O ala vem sendo moldado para a condição de marcador implacável, com envergadura e força física, assumindo agora a vaga de Thabo Sefolosha no ataque. Tal como o veterano suíço, não oferece muito no ataque. Mitch McGary, que seria uma boa opção em combinações de pick-and-roll – apontado por muitos como o sucessor de Nick Collison –, é mais um lesionado. De todo modo, sua seleção agora ganha status de suspeita, já que a equipe já conta com dois pivôs jovens na sua rotação. Não teria sido melhor investir em um ala? Acho que sim. Por outro lado, como Presti poderia imaginar que Durant e Morrow estariam fora do páreo por mais de um mês?

No fim, talvez o mais importante para o Thunder seja endurecer sua defesa e tentar equilibrar as coisas a partir daí, ainda que KD também faça falta nesse quesito, com sua envergadura e agilidade absurdas. Posso estar sendo um tanto pessimista? Talvez. Mas, além de Westbrook, as capacidades de Brooks serão testadas para valer. Algo que muitos técnicos certamente dizem em off: coordenar um ataque e um time em geral com um Durant ao seu lado fica muito mais fácil.

Olho nele: Steven Adams. se tudo correr bem, desde que Brooks não se perca em teimosia, o neozelandês encrenqueiro deve derrubar Kendrick Perkins (que ainda pode ser útil em algumas circunstâncias, mas produz muuuuito pouco) e assumir mais minutos na rotação. Em sua jornada de calouro, o tempo de quadra já subiu de 14,8 minutos na temporada regular para 18,4 nos playoffs. Um acréscimo justificado. Aos 20 anos, o garoto surpreendeu muita gente com o impacto que causa na defesa e nos rebotes, com força, energia e, pasme, muita malandragem. Adams irritou uma série de adversários desde os amistosos de pré-temporada. Nos mata-matas, arrumou um jeito de expulsar Zach Randolph de um jogo decisivo. Melhor ainda, ele se apresentou para o training camp deste ano com um bigode felpudão. Mas disse que não era algo definitivo, e, sim, apenas para que aparecesse desta forma nas fotos oficiais da temporada. O kiwi, dizem, é um dos caras mais bem-humorados da paróquia.

Figura

Figura

Abre o jogo: ''Mitch McGary? Mitch McGary… (silêncio constrangedor)… McGary?'', de Serge Ibaka, senhoras e senhores, quando questionado sobre seu novo companheiro de garrafão, o pivô revelado por Michigan que já foi estrela do torneio da NCAA de 2013 e também virou manchete neste ano por ter sido suspenso do basquete universitário devido ao uso de maconha. Sem mais. 

Você não perguntou, mas… Westbrook jogou apenas 41 minutos sem Durant ao seu lado na temporada. Neste curto período, somando diversos jogos, ele tentou nada menos que 35 arremessos.  Na última vez que Wess jogou por uma longa sequência sem a companhia do cestinha, em 2010-2011, o armador teve médias de 26,7 pontos e 7 assistências em 22,5 arremessos. Segura.

nick-collison-seattle-cardUm card do passado: Nick Collison. Pela primeira vez na série, escolhemos um jogador ainda em atividade. Collison merece: trata-se um dos pouquíssimos caras que nunca mudou de clube, ainda que, no seu caso, o clube tenha trocado de cidade. É o mais antigo do time, tendo sido draftado em 2004 pelo regime anterior ao de Sam Presti, aliás. Ficou. Afinal, não tem por que descartar um pivô inteligente desses, que é uma constante no ranking de cargas (faltas de ataque cavadas, forçadas) ano após ano, também disposto ao sacrifício – ainda que tenha uma base corporal forte pacas. No ataque, não sai do seu quadrado e pontua com eficiência. Collison já chegou maduro ao basquete profissional, com 24 anos, vindo de boas campanhas com Kirk Hinrich em Kansas. Dos seus companheiros de então, apenas dois estão em atividade na liga no momento: Reggie Evans (Kings) e Luke Ridnour (Magic). A conta pode subir para quatro, dependendo do que Ray Allen decidir da vida e se Rashard Lewis ainda for receber uma oferta.