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Pat Riley apronta novamente, contrata Joe Johnson e desperta ira na NBA
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Giancarlo Giampietro

O anel que ainda causa barulho na NBA

O anel que ainda causa barulho na NBA

Sem David Stern, se há alguém que chega mais perto do status de um Poderoso Chefão, esse alguém está vivendo em Miami há um bom tempo – sem ter coincidido com o Scarface, diga-se – e que está prestes a completar 71 anos no próximo dia 20. Pat Riley, senhoras e senhores. Ao contratar o veterano Joe Johnson, ele aprontou mais uma vez.

Mas, calma. Não quer dizer que o ala, que estava mofando em Brooklyn, tenha chegado para fazer a torcida festeira do Heat esquecer LeBron. Que ele representa uma evolução, e tanto, comparando com Gerald Green, não há dúvida. Deixa o time mais forte. O exato impacto que terá pelo time ainda está cedo para saber, em que pesem as duas vitórias desde sua estreia.

Por ora, o que chama mais a atenção é a manobra que o clube da Flórida fez para poder acertar com JJ, despertando inveja e, principalmente, a ira de alguns de seus concorrentes. Com uma generosa contribuição de ninguém menos que Beno Udrih, o veterano armador que vai passar por uma cirurgia no pé, não deve jogar mais nesta temporada e, ainda assim, se despediu de South Beach com um gesto que deve fazer dele alguém muito popular na balada.

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Foi assim: o esloveno aceitou encerrar seu contrato com o Miami, na chamada decisão de “buyout”, na qual dirigente e agente negociam a rescisão para que, em geral, o atleta possa buscar uma vaga que lhe apeteça mais, enquanto a franquia tem a chance de, eventualmente, poupar uma grana. Até aí normal.

Acontece que Udrih, com a perspectiva de ficar três meses de molho, não vai jogar por mais nenhum time neste campeonato. Ainda assim, aceitou dar um desconto ao Miami, que não precisaria pagar o restante de seu salário na íntegra. Foi algo em torno de US$ 50 mil a 90 mil. Uma pechincha no mundo da NBA, certo? É, dá para falar que sim. Seja 50 ou 90, o que causa revolta em outras vizinhanças é que esse dinheiro é o suficiente para que o escritório de Riley fuja da temível “luxury tax” (a multa da luxúria, hehe).

Johnson chega ao Miami praticamente de graça. Valeu, Udrih

Johnson chega ao Miami praticamente de graça. Valeu, Udrih

O que isso significa? Um lucro imediato de pelo menos US$ 2,6 milhões para a franquia. São US$ 110 mil de economia em multas mais US$ 2,6 milhões que vai receber daqueles times que estão estourados, acima desse limite. Para o futuro, os ganhos são ainda  imensuráveis, já que se livra de algumas amarras impostas pela liga aos clubes que extrapolam o teto salarial constantemente – o que, em Miami, vinha acontecendo desde os anos LeBron.

Sacou?

O Heat ganhou muito nessa. E Udrih? Literalmente, perdeu dinheiro. E por que ele aceitaria isso?

Pois é. É justamente essa a dúvida que atormenta a concorrência. A dispensa de jogadores nessa fase é mais do que normal. Vimos acontecer com o próprio Johnson.  Varejão nem viajou para Portland e já acertou com o Golden State. David Lee chegou a Dallas para, quem imaginaria, dar um descanso a Zaza Pachulia. Andre Miller agora é do San Antonio. Por aí vamos. Udrih será operado e vai esperar até julho, agosto, setembro… para ter um novo time. Se é que isso vai acontecer. Caso aceite, digamos, uma oferta de salário mínimo garantido do Heat, aí podem esperar que a chiadeira vai aumentar, indicando um acordo por baixo da mesa entre ambas as partes.

O legado Udrih: um bom soldado

O legado Udrih: um bom soldado

“Se isso faz sentido para as pessoas, ou não, é o que Udrih quis fazer, o que ele se sentiu confortável em fazer. Ele ainda é um irmão para nós”, afirmou Dwyane Wade. Foi o famoso “valeu, mermão!”, numa cara-de-pau tremenda.

O plano do Miami, aliás, era ainda mais ambicioso. Eles torciam para que o Philadelphia 76ers, com uma vaga no elenco, recolhessem o esloveno durante o período de “waivers”. Aí a consequência seria de que o Miami iria reduzir ainda mais seus encargos, limpando na íntegra os US$ 2,1 milhões de seu salário, para ganhar margem para contratar mais um jogador pelo salário mínimo – e tudo indicava que já tinha um acordo verbal com o cestinha Marcus Thornton, dispensado pelo Houston Rockets.

O Sixers está abaixo do piso estipulado para a folha salarial, e qualquer que seja a quantia devida teria de ser completada e distribuída entre os 14 atletas do grupo ao final da temporada, com uma vaga sobrando. Caberia ali. Mas Jerry Colangelo e/ou Sam Hinkie não aprovaram essa, claro. Até porque Philly vai receber a escolha de Draft do Heat. Então não seria do interesse deles abrir mais uma brecha para o clube da Flórida melhorar seu elenco.

Ainda assim, por mais que Erik Spoelstra esteja com a rotação enxuta, Riley não vai reclamar de nada, por já ter conseguido quebrar, legalmente, o protocolo da liga para adicionar Johnson sem que isso interferisse nas finanças da franquia para o futuro. Foi uma tacada de mestre de sua equipe. O presidente do clube já afirmou que pretende manter o atleta de 34 anos em sua base na próxima temporada e até que ele decida se aposentar. “A coisa mais importante é que o Pat me disse que isso não é um negócio de curto prazo. Ele gostaria que eu encerrasse minha carreira aqui”, disse o jogador.

A empolgação é geral. O veterano respondeu com 18,0 pontos, 3,5 assistências e 65,2% no aproveitamento de arremessos (15-23)  e 50% de fora (3-6) em 31,5 minutos – só não vamos esquecer que foi contra o Knicks e o Bulls, dois times em desarranjo total. Johnson afirmou que seus dois primeiros jogos pelo Heat o fizeram correr como não havia acontecido nos últimos sete, oito, nove anos. Desde que saiu de Phoenix, basicamente. “Eu me senti rejuvenescido. Estou amando este novo começo”, afirmou. Dá para entender tranquilamente o astral do ala, que escapou de uma situação deprimente em Brooklyn para voltar a brigar pelos playoffs em Miami. Além disso, Johnson afirma que passa as últimas seis férias em Miami e que ficaria feliz em deixar seus filhos de 9 e 2 anos em tempo integral num clima mais quente.

Do ponto de vista esportivo, faz sentido a escolha por Miami, em detrimento de LeBron James. O Cavs tem mais time, muito mais chance de lutar pelo título. Mas os minutos, os arremessos e a participação em geral de Johnson seria mais reduzida por lá. Oras, a divisão de tarefas entre LBJ, Kyrie Irving e Kevin Love já é complicada o bastante para adicionar um veterano que não se vê como sexto, sétimo homem de rotação.

No Oeste, o Oklahoma City certamente receberia JJ de braços abertos, naquele papel que já foi de James Harden um dia, que também teve um Kevin Martin e que hoje está carente, independentemente da autoconfiança de Dion Waiters. Segundo o ala, as conexões que ele tinha com o Heat pesaram mais, citando Dwyane Wade , Amar’e Stoudemire e (!?) Udonis Haslem como caras com quem está mais acostumado. Desconfio que a presença de gigantes como Golden State e San Antonio no Oeste seja outro fator que o tenha influenciado. né?

O Brrooklyn não foi bacana

O Brrooklyn não foi bacana

O quanto Johnson pode render é um mistério. Seria razoável esperar um ritmo desses até o final do ano? Não sei bem. O que também não dá para tirar como padrão é o seu rendimento recente pelo Brooklyn Nets. Ele fazia sua pior temporada desde o ano de novato, em 2001-02, entre Boston e Phoenix. Parecia o fim da linha. Mas temos de entender a conjuntura: ele não é o mesmo jogador de dez anos atrás, claro, quando caminhava para sua primeira seleção para o All-Star, quando fazia, muito bem, um pouco de tudo. Fisicamente ele caiu bastante, não tem como. O aspecto motivacional, todavia, também desmoronou junto, ainda mais nesta campanha em que não havia mais a grife de Deron Williams, Paul Pierce ou Kevin Garnett por perto. Pelo que se pode entender, a dupla Thaddeus Young-Brook Lopez não o comovia tanto assim.

Em Miami, ele pode ser uma arma complementar, com a bola vindo das mãos de Dwyane Wade, dono ainda da quarta maior taxa de uso da liga, e eventualmente de Goran Dragic. Para alguém com tanta milhagem acumulada (quase 40.500 minutos só de temporada regular, mais 3.400 de playoffs), o mais prudente seria Johnson jogar fora da bola e ganhar em eficiência com isso. Só precisa ver o quão rapidamente ele pode se livrar desse cacoete, desenvolvido de modo lastimável em Atlanta, sob o comando de Mike Woodson. Wade não parece preocupado: “Quero que Joe seja Joe”. Ponto.

Por falar em rapidez, desde que Chris Bosh foi afastado pela infeliz reincidência de coágulos sanguíneos, perdendo a versatilidade e habilidade do ala-pivô em meia quadra, Erick Spoelstra resolveu acelerar as coisas em seu time, numa reviravolta mais que bem-vinda. Antes do All-Star Game, o Heat era o segundo time mais lento da NBA. Agora, é o 11º mais rápido, vejam só, num ritmo de jogo que favorece muito mais o estilo de Dragic. Antes, o time era o segundo time que menos arremessava (79,5 por jogo). Agora, é o nono que mais busca a cesta (88,3). São mais oportunidades para os atletas pontuarem, e a partilha também aumenta quando se subtrai o volume de jogo que Bosh concentrava. Dragic (jogando, enfim, como o armador em que se investe US$ 80 milhões), Luol Deng (uma surpresa, com 15,0, 10,0 rebotes nos últimos cinco jogos, mas com menos eficiência nos arremessos, é verdade), Hassan Whiteside (que agora resolveu converter lances livres e, mesmo saindo do banco, rumo a um contrato imenso em julho) e até Wade estão produzindo mais.

No coletivo, o time saltou da 25ª posição no ranking de eficiência ofensiva para a 15ª, sem perder em nada em sua força defensiva, campo no qual subiram do sexto lugar para o quarto, vejam só. De qualquer forma, o asterisco de sempre vale aqui: estamos falando de uma amostra bem menor de jogos. Os adversários vão se preparar mais para essa proposta mais agressiva no ataque, enquanto a tabela de jogos vai se reequilibrar. De qualquer maneira, vale acompanhar com atenção esse processo com muita atenção. O time é muito talentoso.

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Whiteside achou a mão no lance livre e no geral

A questão é se o elenco vai se sustentar, mesmo que o ritmo não seja dos mais frenéticos. No momento, Spoelstra está usando uma rotação de apenas oito homens. Uma rotação de playoff.  Faltam, no entanto, quase dois meses até a fase decisiva começar, e o quinteto titular tem dois jogadores que não são muito conhecidos pela durabilidade. Wade que o diga, com Amar’e lhe fazendo companhia. Qualquer deslize, num Leste muito equilibrado, pode custar a eliminação dos playoffs. O ala-armador dá de ombros novamente: “Essa noção de que possamos correr tanto que eu não seria capaz de acompanhar… é maluca”, diz. É curiosa, nesse sentido, a divisão de forças que Spoelstra tem feito em sua rotação, agrupando os jogadores mais experientes no time que começa as partidas, enquanto Whitside e os promissores calouros Justise Winslow e Josh Richardson saem do banco.

Sem espaço salarial para contratações nem de atletas de salário mínimo, a comissão técnica sabe que esse octeto não deve receber ajuda tão cedo, mesmo com duas vagas abertas – elas só devem ser preenchidas nas últimas duas semanas da temporada regular, para se pagar quase nada em em salário proporcional aos dias restantes no calendário. Gerald Green parece ter entrado em transe – e daí o assédio a Thornton –, Josh McRoberts mal consegue parar em pé e Udonis Haslem já está pronto para assumir algum cargo fora de quadra. Tyler Johnson ainda diz que pode retornar em abril, depois de uma cirurgia no ombro. Bosh não deveria pensar em basquete enquanto não tiver garantia médica de que o jogo não lhe faz mal, ou que não interfere em sua recuperação. É um problema muito sério, que faz do basquete algo menor.

No ano passado, quando Bosh teve uma embolia pulmonar diagnosticada, o Miami desandou e escorregou para fora da zona de classificação dos playoffs. Dessa vez, o time parece mais equipado para suportar a perda de um craque desses, desde que as lesões não se estendam. Esse é mais um testamento da competência de sua diretoria, que se virou como pôde para a montagem de um grupo qualificado, de origem bastante diversificada. Na atual rotação, Wade é o franchise player e Dragic, o agente livre caro, mas adquirido via troca. Luol Deng veio na faixa de US$ 10 milhões. Depois você vai ter Whiteside (desses que justificam a D-League), Stoudemire (fim de carreira, com salário mínimo, mas na melhor forma física dos últimos anos), dois novatos via Draft e Joe Johnson, claro.

Para a próxima temporada, o quadro clínico de Bosh é fundamental, mas Riley terá flexibilidade para poder se intrometer na conversa com os agentes livres mais badalados, dependendo do que decidir sobre Whiteside. Como executivo, ele confia em dois trunfos para tentar atrair caras com a fama de Johnson, mas num ponto ascendente da carreira: o clima e a vida em Miami e, hã, sua própria reputação na liga. São oito títulos de NBA, afinal – um como jogador, cinco na época de técnico e dois como executivo. Desde que chegou a Miami, em 1995, o clube só não foi aos playoffs em quatro anos. Vai argumentar como contra isso? Aí é aturar, mesmo, e conter a inveja.


Jukebox NBA 2015-16: Phoenix Suns, Superchunk e alta velocidade
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá: a temporada da NBA já está quase na metade, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “The Question Is How Fast”, por Superchunk. (Nem clipe tem)

Superquem?

O Superchunk, banda indie dos anos 90 que nunca foi um hit em paradas de sucesso, mas teve seu culto de seguidores a partir de Chapel Hill, que já foi casa de Michael Jordan, James Worthy, Rasheed Wallace, Vince Carter e, claro, Tyler Hansbrough, justamente por acolher a prestigiada UNC (Universidade da Carolina do Norte). Mas é preciso dizer que os caras da banda não estavam nem aí para os estimados Tar Heels. Envolvidos com música, ativismo social e mais música, fundaram a Merge Records, que lançaria anos depois o Arcade Fire e divulgaria também bandas como Teenage Fanclub, Spoon, entre outras atrações mais alternativas.

Mas, como eles próprios diriam com naturalidade, que se dane a vocação da banda, no caso. O que vale é que o título dessa canção e sua pegada contam muito sobre o estado de desarranjo em que se encontra o Phoenix Suns a poucos dias do intervalo do All-Star. O quão rápido eles queriam voltar aos playoffs? O quão rápido o trem saiu dos trilhos? O quão rápido acabou o respeito por Jeff Hornacek? O quão rápido Earl Watson foi promovido? O quão rápido o time queria jogar, mesmo quando não tinha bons armadores em quadra para conduzir os negócios? O quão rápido Markieff Morris vai conseguir virar a chave e tentar mostrar serviço nas próximas semanas para se mandar do time? O quão rápido o gerente geral Ryan McDonough vai conseguir limpar essa bagunça toda? Essas são algumas das questões pendentes.

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O próprio McDonough admite: a equipe e seu trabalho viraram reféns do próprio sucesso inesperado da primeira campanha, em 2013-14, quando conseguiram 48 vitórias e, numa das conferências mais fortes da história, ficou fora dos playoffs. Em julho de 2014, a franquia estava se sentindo tão bem, que até mesmo tentou se intrometer na disputa por LeBron James, se aproveitando do fato de Eric Bledsoe ter o mesmo agente do superastro. Sonhar não custava nada. Mesmo com o óbvio não, sem problemas, eles tinham um futuro auspicioso pela frente. Ou talvez estivessem empolgados demais, se distanciando um pouco da realidade que os cercava.

Goran Dragic havia sido eleito para o grupo dos 15 melhores da liga. Eric Bledsoe brilhou ao seu lado, assumindo mais responsabilidades no ataque do que nos tempos de Clippers, mas sem ser exigido demais (até que o esloveno se lesionou). Markieff Morris progredia, enquanto Channing Frye bombardeava. Gerald Green jogou o melhor basquete de sua carreira. Todos felizes que só, empolgados com o ritmo de jogo alucinante de Jeff Hornacek, o segundo técnico mais votado naquela temporada, atrás de Pop.

Com Dragic, o Suns corria com velocidade e um propósito. Miragem?

Com Dragic, o Suns corria com velocidade e um propósito. Miragem?

Passou tudo como uma miragem no deserto do Arizona. Quando chegaram a fevereiro do ano passado, Dragic já havia pedido para ser trocado. Pressionado, o gerente geral se envolveu em uma sequência alucinante de negociações que pode muito bem ter custado o seu cargo, mandando embora três armadores de uma só vez, para ter o direito de pagar US$ 70 milhões a Brandon Knight, abrindo mão de escolhas de Draft preciosas, recebendo outras mais longínquas. Foram tantos telefonemas, trocas de mensagem, boatos, confirmados ou não, que demorou uns dois ou três dias para jogadores, técnicos e torcedores entenderem qual era o elenco que o Suns levaria até o final do campeonato.

De lá para cá, só desarranjo, descendo a ladeira.

Bledsoe, e uma nova cirurgia no joelho: a terceira no menisco

Bledsoe, e uma nova cirurgia no joelho: a terceira no menisco

O flerte com LaMarcus Aldridge acabou sendo o melhor momento do clube. Tudo para ver o San Antonio Spurs (mais uma vez!) estragar a festa. Até o final de novembro, a equipe se segurou com oito vitórias e nove derrotas (desde então, são 6 triunfos e 27 reveses, com 18,1%, pior até que o Lakers). Mas o vestiário já estava fraturado, prontinho para virar as costas para Hornacek, sem controle algum sob a situação. Antes disso, o técnico não havia conseguido trabalhar variações ofensivas para um time que dependida tanto da criatividade de Dragic na transição, para abrir a quadra para os chutadores e cortes dos pivôs em meia quadra. O plano ainda era correr o mais rápido possível: o Suns ainda é o quarto que mais corre no campeonato,  mesmo sem as peças necessárias, com Eric Bledsoe precisando de mais uma cirurgia no joelho e Knight se atrapalhando com a bola antes de ser afastado por lesão.

Faltou flexibilidade a Hornacek, mas também faltou jogador, por azar ou não. Para variar, sobrou para o técnico. Agora cabe a Earl Watson assumir essa, instruído a cobrar mais dos atletas, procurar algum sentido de união no clube e, ao mesmo tempo, desenvolver os mais jovens – excluindo desde já o ala TJ Warren, fora da temporada devido a maaais uma lesão grave no elenco. Boa sorte. “A primeira ordem para nós é construir confiança e um programa, e, não, apenas uma organização. Construir uma família. Temos de amar, temos de estimular, nutrir e ensinar”, disse. O quão rápido suas mensagens serão processadas?

A pedida? Eram os playoffs… Agora, bem, virou Ben Simmons (ou Brandon Ingram). Quando listei as músicas de pré-temporada, ao Suns estava endereçada uma pérola do U2 – “Stay (Far Away, So Close!)” –, para tratar justamente da pressão em cima de um time que parecia muito perto da briga pelos playoffs, mas sem garantia alguma, morrendo na praia nos últimos anos. Agora, quase três anos depois de McDonough assumir o clube, o Suns enfim se encaminha para ter uma escolha alta no Draft. Se, em 2014, a ideia era se aproximar de Andrew Wiggins, Jabari Parker ou Joel Embiid, agora os alvos são os alas Ben Simmons, Brandon Ingram e Dragan Bender, de preferência. Se, há dois anos, a bem-sucedida-e-frustrada campanha de 48 vitórias impossibilitou uma aposta mais promissora do que TJ Warren, agora o clube caminha em direção ao topo da lista de recrutamento. De acordo com projeção do “Basketball Power Index”, do ESPN.com, o Suns teria 34,5% de chances de ficar entre os três primeiros. Uma probabilidade menor que a de Sixers, Lakers, Nets e Timberwolves.

Ben Simmons: o prospecto da vez, dinâmico, mas sem chute

Ben Simmons: o prospecto da vez, dinâmico, mas sem chute

A gestão: McDonough chegou ao Arizona com a reputação de ser dos melhores scouts, avaliadores de talentos da liga, alguém da confiança de Danny Ainge, protagonistas em diversas boas escolhas do Celtics nos últimos anos. Ao Phoenix, levou Alex Len (quinta escolha em 2013), Archie Goodwin ( Warren (14º em 2014), Tyler Ennis (18º em 2014), Bogdan Bogdanovic (27º em 2014) e Devin Booker (13º em 2015).

É uma sólida coleção de jovens jogadores, embora uma ou outra escolha pode ser questionada – como é o caso da grande maioria das escolhas, na verdade. Nerlens Noel, CJ McCollum, Kentavious Caldwell-Pope, Giannis Antetokounmpo, Dennis Schröder e Rudy Gobert, todos hoje mais produtivos, estavam disponíveis para o lugar Len. Mas é inegável que o pivô ucraniano ainda tem muito potencial para se explorar. Ennis foi selecionado com o intuito de se encurralar o Toronto Raptors e acabou sendo uma furada – embora seja muito jovem ainda para se considerar um fiasco em Milwaukee. A ideia por trás de Bogdan-Bogdan era assegurar os direitos sobre um jovem europeu que não fosse ocupar espaço no elenco e teto salarial do clube por um tempo. Olhando em retrospectiva, sob as mesmas condições, o extraordinário pivô Nikola Jokic, seu compatriota, estava disponível. Até aí, outros 39 atletas foram selecionados antes do sérvio. E Bogdan-Bogdan segue progredindo sob a orientação de Zeljko Obradovic na Turquia. Sobre Devin Booker, ainda está muito cedo, mas os primeiros sinais mostram um talento imenso para aquele que é o jogador mais jovem em atividade na liga. Ironicamente, era venerado por Hornacek, com quem obviamente poderia aprender muito.

McDonough tem Watson como salvação?

McDonough tem Watson como salvação?

Agora… nos anos 60 e 70, talvez os gerentes gerais da liga só se preocupassem, mesmo, com o que se passava em quadra. A NBA de hoje é muito mais complexa que isso. Entre tantas outras nuanças, o jovem dirigente também se sai bem ao administrar a folha salarial do time, para a aquisição de novas peças, se permitindo a chance de flertar com grandes contratações como a de LaMarcus Aldridge (que passou perto…). Mais um ponto para ele.

Ao lidar com jovens e velhos astros, porém, as complicações vão além. Tem mais, muito mais. E aí David Blatt pode falar uma coisa ou outra a respeito. Pesa muito o modo como você se relaciona com o elenco, a comissão técnica e todos os adendos dessa turma. E esse ponto não parece ser um dos mais fortes de McDonough Entre tantos atletas negociados por ele, há um consenso: eles desembarcam no aeroporto soltando cobras e lagartos sobre a organização e a diretoria. Dizem que não são sinceros. Que quase não há comunicação e ninguém sabe ao certo o que se pensa sobre eles. Mais: as diversas trocas executadas nos últimos dois campeonatos quase sempre ignoraram a química do vestiário. Muitas peças se duplicaram e criaram confusão.

Em tese, por exemplo, fazia todo o sentido contratar Isaiah Thomas como terceiro armador numa rotação que usaria dois desta posição o tempo todo. Seriam 32 minutos para cada? Razoável, não? Claro que sim. Mas “claro que não”, ao mesmo tempo. Goran Dragic estava prestes a se tornar agente livre. Eric Bledsoe queria muito mais, depois de tanto tempo como reserva de Chris Paul. O mesmo vale para Thomas, que queria mais atenção vindo de Sacramento. Isso para não falar no rolo todo dos irmãos Morris: assinar um pacote em conjunto para os gêmeos foi algo inédito e que pareceu bonitinho na época e que se tornou uma armadilha. Os dois, segundo consta, aprontaram uma barbaridade na temporada 2014-15, no dia a dia do clube – isso para não falar na possibilidade de ambos serem presos. Markieff diz que o gerente geral o traiu ao mandar Marcus para Detroit. Agora, se defender a parceria era algo tão importante assim, talvez eles pudessem ter sido mais profissionais, não? Mais tranquilos? O ala-pivô não quis saber. Virou um encosto para o time, sem dar ouvidos a Chandler. Todos esses são sentimentos difíceis de se administrar.

Em meio a tanta incerteza, insegurança, sobrou para Hornacek. O curioso é que, mesmo no processo de sucessão do treinador, mais um processo bizarro foi conduzido. Em vez de nomear Watson prontamente – que era o movimento esperado por nove a cada dez observadores da franquia –, decidiram fazer entrevistas com os demais assistentes, fazendo dos únicos técnicos remanescentes concorrentes entre si. Se buscavam união, não parecia.

Porém, em sua coletiva para explicar a troca de técnico, o gerente geral também se mostrou fragilizado. Ele sabe que, se houver uma próxima queda, muito provavelmente sua gaveta será esvaziada. O que não seria de todo justo, aliás. Jogar toda a culpa em seu escritório seria tolice.

Cedo ou tarde, Robert Sarver, o proprietário do clube odiado pela torcida, daqueles que mete a mão na massa e interfere demais, vai ter de responder publicamente por tantos tropeços.

Olho nele: Devin Booker.

No período pré-Draft, o jovem ala era visto como o melhor arremessador em potencial daquela turma toda, mas não mais do que isso. Sim, o tiro de longa distância é uma habilidade altamente requisitada no mercado da NBA hoje e já explicaria uma escolha alta. Muitos o questionavam como um talento de ponta. Com apenas meia temporada como profissional, o garoto mostra que tem muito para onde crescer. A cada jogo, parece colocar em prática uma surpresinha, especialmente na criação de jogadas, aprendendo rapidamente como guiar um pick-and-roll, batendo para a cesta, indicando que pode se tornar uma arma completa. Em janeiro, com tempo de quadra generoso (33,6 minutos), respondeu com 17,3 pontos, 3,2 rebotes e 2,6 assistências, convertendo 35,2% nos chutes de fora. Aproveitamento fraco para um especialista, certo? Só leve em conta de que ele está trabalhando sem nenhum armador ao seu lado e também ficando mais visado – com o time completo, passava dos 50%. Booker é a única nota positiva do time em um campeonato caótico.

earl-watson-card-sonics-rookieUm card do passado: Earl Watson. Um dado um tanto assustador: Watson começou sua carreira já neste século, em 2001-2002, draftado pelo Seattle SuperSonics, via UCLA, para ser reserva de um veterano Gary Payton. Aquela seria a sétima temporada de Kevin Garnett e a sexta de Kobe Bryant. Paul Pierce, Jason Terry, Vince Carter, Dirk Nowitzki, Tim Duncan também tinham boa rodagem. E aqui estamos: 15 anos depois, aos 36 (dois mais velho que Tyronn Lue), o ex-armador se torna o técnico mais jovem da liga. Muito cedo?

Desde os últimos jogos pelo Utah Jazz e o Portland Trail Blazers, entre 2013 e 2014, havia a expectativa em torno de Watson de que não demoraria muito para ele virar um treinador. Quando decidiu se aposentar aos 35, certamente ainda seria capaz de conseguir um contrato de salário mínimo para ajudar um time mais jovem ou compor um elenco de veteranos, atuando praticamente como um mediador entre os técnicos e os atletas. Basicamente, será esta a sua missão agora em Phoenix, mas com mais responsabilidades e o distanciamento inevitável e necessário que seu novo cargo pede. Fora o lado de relações institucionais, restam dúvidas sobre sua bagagem tática para guiar um time de NBA.

Para constar, Watson tem ascendência mexicana por parte de mãe, uma característica que, no Arizona, pode fazer dele alguém de apelo popular. Ele terá meia temporada, contudo, para mostrar do que é capaz.


Do MVP à maior decepção. Uma lista de prêmios da NBA 2014-15
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Giancarlo Giampietro

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O começo dos playoffs também coincide com as diversas coletivas de imprensa que a NBA vai marcar para anunciar os vencedores dos prêmios individuais da temporada. Ao divulgar a sede – Oakland, Atlanta, Houston etc. –, a liga já indicará o escolhido. Como leva um tempo para organizar cada anúncio, há anos em que a cerimônia pode até ser meio indigesta, creiam. Corre-se o risco de entregar o troféu para um jogador que acabou de ser despachado nos mata-matas, como aconteceu em 2007 com Dirk Nowitzki. Seu Dallas Mavericks havia voado na temporada regular, aparentemente se recuperando bem da derrota para o Miami Heat nas finais da temporada anterior. Mas aí eles deram de frente com o Golden State Warriors de Don Nelson, seu ex-mentor, e acabaram entrando na história como mais um cabeça-de-chave número um a ser  eliminado pelo oitavo colocado. Se formos pensar no equilíbrio da atual Conferência Oeste, corre-se um sério risco.

Mas não há o que fazer: os mata-matas começam quase que imediatamente após o final da temporada regular. Técnicos e scouts se apressam em preparar o estudo sobre seu adversário, para dirimir tudo e passar aos atletas. E a raça que atende pela alcunha de jornalistas também está apressada, tentando colocar no papel uma série de artigos que se replicam, mas parecem inevitáveis. Como o tradicional para revelar suas escolhas para a votação (aqui, no caso, imaginária) dos melhores da temporada.

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(Um parêntese, apenas: neste ano vamos ter um interessante contraponto entre as escolhas dos jornalistas e a dos jogadores. A associação dos atletas decidiu promover uma votação própria. “Os torcedores e os técnicos escolhem os all-stars. A mídia vota nos prêmios da liga. Nossos membros querem reconhecer as performances sensacionais de seus companheiros também. Os jogadores não têm votado para os prêmios desde 1980”, afirmou a advogada e diretora-executiva da entidade, Michele Roberts, em comunicado oficial divulgado na quinta-feira. Serão 10 categorias nessa seleção paralela, definidas pelos jogadores durante o intervalo do All-Star. “A nomenclatura exata para cada prêmio e o programa ainda estão sendo definidos”, diz. O estranho é que os votos foram dados antes do final da temporada. Como os atletas votaram para algo cujo nome ainda nem foi definido? Houve caras que se recusaram a participar do processo. Como John Wall, que levantou um ponto necessário: “Como jogadores, sabemos quem é quem, mas pode ser que nosso orgulho e nosso ego interfira. Pode ser que você não queira ver determinada pessoa ganhar um prêmio. Vai haver gente dizendo que é o MVP, ou o melhor jogador, então nunca vai ter uma disputa justa, na minha opinião.”)

Posto isso, vamos nessa, mas sem poder se estender muito sobre cada eleito. Cada um merecia um post próprio, mas há ainda muito o que ser digitado. Xô, tendinite..

MVP: James Harden
A disputa com Stephen Curry é muito torturante. Você tem muitos argumentos a favor dos dois, expostos aqui já, além de outros candidatos. Mas parece claro que, a essa altura, o troféu vai para Harden ou Curry. Steph é o melhor jogador no melhor time da liga. Faz coisas incríveis com a bola, seja arremessando, a ponto de comemorar uma cesta quando ela não cai, ou driblando, para descadeirar um CP3. Supera Harden em termos de índice de eficiência. Se quiser brincar com mais números, tudo bem. Em geral vai dar o líder do Warriors (e aqui que a gente precisa tomar cuidado com as estatísticas avançadas: de modo geral, os dados de Curry serão fora de série. E ele é brilhante, não temos dúvida. Mas, em termos de avaliação numérica, é muito difícil separar o que cada jogador faz do conjunto da obra de sua equipe. E o Golden State detonou a concorrência). Ainda assim, vou com Sr. Barba, pela carga pesada que carregou durante o campeonato para manter o Houston Rockets bem posicionado na Conferência Oeste – sem o seu astro, seria difícil até imaginar uma classificação aos playoffs. Foi aquele que ficou mais minutos em quadra e que mais cobrou lances livres. E melhorou consideravelmente sua defesa, marcando até mesmo gente como Z-Bo e Blake Griffin. Mais de uma bíblia já foi escrita a respeito da disputa dos dois, e geralmente os artigos todos têm terminado da seguinte maneira: “Veja bem, ambos merecem o prêmio, e a distância entre eles é mínima”. Não me parece que exista realmente uma “escolha errada” aqui. Mas deve dar Curry. Gostaria de ver Anthony Davis logo abaixo dos dois, e talvez a briga do Pelicans até o fim pelo oitavo lugar do Oeste o ajude. Os outros dois votos ficariam entre Wesbrook, LeBron e Chris Paul.

Melhor defensor: Draymond Green
Andrew Bogut é quem protege a cesta e vai ter um papel essencial nos playoffs para que seu time controle as batalhas mais importantes: aquelas da zona pintada. Qualquer torção de tornozelo ou lesão de ombro dele pode causar danos sérios ao favoritismo do Warriors, é verdade. Mas quem dá o recado, quem dita a intensidade da equipe na hora de parar o adversário. Ele é daqueles que fala horrores – mas que justifica tudo em quadra. Além disso, devido ao seu pacote de força física, inteligência, determinação e estatura mediana para a posição (2,01 m) permite a Steve Kerr confiar num sistema de trocas na defesa. É curioso isso: o fato de ser considerado baixo ao deixar a Universidade de Michigan State fez com que caísse para a segunda rodada do Draft. Hoje, é algo que joga a seu favor de modo único – com sua envergadura e senso de posicionamento, consegue marcar grandalhões. Ao mesmo tempo, é flexível o bastante para brecar as infiltrações de alas e armadores. Sua consistência durante todo o ano acaba valendo mais que os esforços impressionantes de Kawhi Leonard na reta final da temporada. Tivesse o jovem astro do Spurs disputado toda a temporada neste ritmo, acho que não haveria dúvida em apontá-lo aqui. Rudy Gobert seria outra escolha tranquila.

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Melhor 6º homem: Lou Williams
Nos momentos de crise, com DeMar DeRozan ou Kyle Lowry afastados, foi Williams quem carregou o Toronto Raptors. Sua habilidade para gerar oportunidades de pontuar por conta própria é vital num ataque que contradiz o ‘modelo Spur’: ao mesmo tempo que o clube canadense teve o terceiro sistema ofensivo mais eficiente do campeonato, ele foi apenas o antepenúltimo em cestas assistidas. Seus percentuais de arremesso são baixos, mas mudam de figura quando você vê o tipo de chute que lhe cabe em quadra, batendo adversários no mano a mano com velocidade e agilidade. Geralmente marcado no perímetro, tentando desafogar a vida de Dwane Casey. Basta conferir seu gráfico de tentativas de cesta e perceber que ele é ma ameaça constante, por toda o perímetro, interno e externo. É um perfil parecido com o de Isaiah Thomas, no fim. Agora, se o baixinho ajudou a devolver o Celtics aos playoffs, o simples fato de ele ter finalizado sua campanha em Boston já serve como um ponto contrário a sua candidatura – houve uma razão para o Phoenix Suns o liberar no mesmo dia em que havia trocado Goran Dragic, e ao que tudo indica ele dá trabalho no dia a dia. Dennis Schröder, Rodney Stuckey e o eterno Jamal Crawford também merecem consideração.

Jogador que mais evoluiu: Hassan Whiteside
Na temporada passada, ele estava no Líbano e na segunda divisão chinesa. Hoje, está posicionado entre os dez jogadores mais eficientes da liga. Em termos de custo-benefício, foi a melhor contratação da temporada. Acho que não precisa ir muito além disso – embora o próprio fato de ele nem ter jogado a temporada passada levante uma questão técnica sobre o prêmio: é possível comparar o desempenho atual com o de um passado um tanto distante? Caso o Utah Jazz tivesse se livrado de Enes Kanter mais cedo, Rudy Gobert poderia desbancá-lo aqui. Seu crescimento também foi impressionante, com o jogo desacelerando  para permitir que ele usasse seus atributos físicos de modo intimidador. Com o francês titular, sua equipe teve a defesa mais eficiente depois do All-Star Game, e foi de longe. Outros caras que vão ganhar votos justos estão no topo e participaram da festa em Nova York: Jimmy Butler e Klay Thompson, que trabalharam sério na virada de um campeonato para o outro e se tornaram cestinhas de elite.

Melhor novato: Andrew Wiggins
Nikola Mirotic arrebentou nos últimos meses da temporada, especialmente quando Rose e Gibson estavam fora de ação. Tem os números avançados mais qualificados. Teve um papel importante em uma equipe que disputou jogos relevantes o campeonato todo, com ambição de título. Mas há dois pontos contra o montenegrino naturalizado sérvio, a meu ver: 1) não podemos nos esquecer que foi apenas a partir de março que ele ganhou minutos significativos, devido aos desfalques na rotação de Thibs – em fevereiro, por exemplo, jogou apenas 14,3; 2) não me sinto confortável em tratar o talentoso ala-pivô como “novato” – não quando ele já ganhou o prêmio de MVP do campeonato espanhol e vários troféus pelo Real Madrid. Tecnicamente ele é um calouro, sim. Na realidade, já é um “jovem veterano”. Então vamos de Andrew Wiggins, que teve o ano mais consistente entre todos os estreantes. Aliás, deu para perceber um padrão aqui, né? A preocupação de não se deixar levar apenas pelo que aconteceu nas semanas finais de campanha. Pode não ter tido o ano mais eficiente, mas conseguiu produzir em um nível elevado para um garoto só completou 20 anos em fevereiro e que mal teve a assistência de Ricky Rubio, ou de qualquer outro veterano para facilitar sua transição. É difícil ter uma exuberância estatística quando seu time tem um elenco inexperiente e estropiado. De qualquer forma, mostrou uma evolução regular mês a mês e dá toda a pinta de que vai se tornar a estrela cantada por olheiros há dois, três anos. Por isso, nas minhas contas, fica acima de Nerlens Noel, Jordan Clarkson e Elfrid Payton, calouros que jogaram muito, mas apenas depois do All-Star.

Melhor técnico: Steve Kerr
Tá, aqui vamos apelar sensivelmente aos números. O Golden State se despediu da temporada regular com o segundo melhor ataque;  a melhor defesa, embora jogue com o ritmo mais acelerado da liga; o melhor saldo de pontos, disparado, e essa é uma estatística notoriamente influente no resultado dos playoffs; melhor em percentual de arremessos, sem importar qual a medição usada; o segundo melhor rendimento em jogos apertados – nas raras ocasiões em que não conseguia atropelar os adversários; o segundo em cestas assistidas… Você precisa vasculhar bastante toda a magnífica seção de estatísticas do NBA.com para encontrar um ou outro ranking em que eles apareçam mal posicionados. Então tudo bem: em aproveitamento de rebotes, ocupam apenas o 12º lugar, sendo que, naqueles mais importantes, os defensivos, estão em 19º. Está certo que Kerr já assumiu uma base sólida, um grupo que havia disputado as últimas duas edições dos playoffs e que cresceu muito na defesa sob a orientação de Mark Jackson. Mas o fato é que o clube deu um salto de 16 vitórias na classificação geral, e desconfio que isso não se deve à chegada de Shaun Livingston, Leandrinho, Justin Holiday e James Michael McAdoo. Não obstante, o final de temporada um tanto morno do Atlanta Hawks acaba facilitando a escolha entre ele e Mike Budenholzer. O que não quer dizer que o treinador dos campeões do Leste não mereça um robusto pergaminho de elogios, ao por também ter elevado seu mesmo grupo a outro patamar. Terry Stotts, sempre subestimado em Portland, Kevin McHale, que revolucionou a defesa do Rockets mesmo com Dwight Howard no estaleiro, Brad Stevens, um mago ao ter endireitado um Boston Celtics em cosntante mutação,  e Jason Kidd, com uma rotação única por sua extensão e uma retaguarda sufocante com o jovem Bucks, são outros nomes que merecem atenção.

david-griffin-cavs-executivo

David Griffin terminou a temporada sorrindo

Melhor executivo: David Griffin
Os mais chegados a LeBron James garantem que, se fosse para deixar Miami, apenas um retorno para Cleveland seria possível. Não se sabe até hoje o quanto a franquia de Ohio estava informada a respeito disso. E não importa. Quando a possibilidade de acertar a contratação de James se apresentou, o dirigente já havia tomado todos os passos necessários para acolhê-lo, num trabalho nada fácil: saber usar as escolhas de Draft acumuladas durante meses e meses para abrir espaço no teto salarial, tomando cuidado para não sabotar completamente o futuro da franquia se algo desse errado. Está certo que o segundo movimento – a troca por Kevin Love, cedendo uma promessa como Andrew Wiggins – não teve a repercussão (esportiva) esperada, mas não dá para ignorar o fato de que LBJ praticamente exigiu que a transação fosse feita. De qualquer forma, em meio a uma alarmante crise com menos de 50% da temporada disputada, Griffin foi nobre e valente o bastante para chamar uma coletiva e dar um basta aos rumores sobre uma possível demissão de David Blatt. Depois, voltou ao mercado para buscar reforços que salvassem seu treinador e, ao mesmo tempo, satisfizesse os anseios do astro. Agindo sempre sob uma pressão imensurável, tendo um dos proprietários de clube mais impacientes e ativos na sala ao lado. Bravo. O combo Bob Myers-Jerry West-Travis Schlenk-Kirk Lacob também merece aplausos por um entrosamento único na gestão do Warriors, assim como John Paxson e Gar Forman, que estão desgastadíssimos com Tom Thibodeau, mas deram ao técnico um elenco capaz de relevar as constantes lesões de Derrick Rose.

Por fim, alguns itens alternativos:

Melhor jogador sub-23: Anthony Davis, com 22 anos completos em março.  Steph Curry tem 27. Durant e Wess, 26. Harden, 25. Tim Duncan? 38. LeBron? 30. Assimilem isso.

Melhor segundanista: Rudy Gobert. Desculpe, Giannis. : (

Melhor estrangeiro: Pau Gasol, redivivo em Chicago e líder em double-doubles na temporada. Fica acima de seu irmão, que teve dois meses fantásticos na abertura do campeonato, mas depois caiu um tico.

Melhor brasileiro: Leandrinho? A despeito de seu entra-e-sai na rotação do Warriors. Mas convenhamos que não foi uma temporada das mais produtivas para os selecionáveis, com diversas lesões atrapalhando a trinca Splitter-Nenê-Varejão, da mesma forma que Vitor Faverani acabou dispensado por Boston sem poder mostrar serviço. Em Toronto, os caçulas mal jogaram.

Melhor importação da D-League: Whiteside, surrupiado pelo Miami Heat da toca do Memphis Grizzlies, o Iowa Energy. Aliás, Pat Riley foi o executivo que melhor usou a liga de desenvolvimento este ano. Basta ver como Tyler Johnson chegou ‘pronto’ quando foi promovido. Menção honrosa aqui para Robert Covington, um ala de muito potencial por sua habilidade atlética na defesa e o chute de fora no ataque. Veja aqui todos os jogadores que conseguiram elevar consideravelmente sua renda mensal ao serem chamados pela liga maior.

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

Melhor resultado de troca: se for pensar no curtíssimo prazo, a chegada de Timofey Mozgov ao Cleveland, por propósitos defensivos e também para animar LeBron, que, segundo consta, quase chorou de alegria ao ver o quão gigante o russo é de perto. Vale mencionar também a contratação de Isaiah Thomas pelo Boston. Sim, teve mais impacto que nomes como Rondo, Jeff Green e Goran Dragic. Ou mesmo Quincy Pondexter, que ajudou o Pelicans a estabilizar sua defesa e ainda recuperou seu arremesso de três pontos. Pensando longe, tudo vai depender de renovações de contrato. Dragic vai ficar em Miami, presumimos. Será que Rondo vai se encontrar em Dallas durante os playoffs? Como o Phoenix vai aproveitar tantas escolhas futuras de Draft? Será que Philly vai descolar o pick do Lakers já neste ano? Enfim, tudo em aberto.

Time mais azarado: Oklahoma City e Indiana Pacers têm uma alta conta hospitalar para competir aqui.

Maior decepção: New York Knicks. Phil Jackson prometeu os playoffs em setembro e terminou o ano falando que enfim tinha um plano para reerguer a franquia. O Los Angeles Lakers não fica muito atrás.

O jogador mais desmiolado: Nick Young, com seus devaneios de grandeza. Você quer acreditar que tudo não passa de uma grande piada, mas, quando percebe o conjunto da obra, começa a duvidar disso. Byron Scott não quer reencontrá-lo de modo algum na próxima temporada.

O dirigente mais intempestivo: Vivek Ranadive, dono do Kings, que demitiu Michael Malone depois o melhor início de campanha da equipe em muito tempo, efetivo Tyrone Corbin (um desastre), depois pressionou Chris Mullin a assumir o cargo durante a temporada para depois frustrar seu “consultor” ao contratar George Karl. Se não fosse o bastante, ainda trouxe Vlade Divac de volta para ser o novo chefão das operações de basquete. Com tudo isso, conseguiu sabotar DeMarcus Cousins de uma forma inacreditável, justamente no primeiro ano que o pivô se comportou do início ao fim. Aliás, Boogie também precisa ser incluído na lista de jogadores que mais evoluíram – e talvez seja hoje o jogador mais subestimado, por isso. Loucura geral.

A notícia que pode ter maior impacto a longo prazo: a NBA, depois de sua última reunião com os proprietários das franquias, indicando que o teto salarial pode passar dos US$ 100 milhões em 2017-18.


Por que você pode (quase) gostar da briga pelos playoffs no Leste?
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Giancarlo Giampietro

Enquanto a NBA mantém divisão Leste-Oeste, Pacers e Celtics têm chances

Enquanto a NBA mantém divisão Leste-Oeste, Pacers e Celtics têm chances

Não, esta não é uma tentativa de autoplágio, tá?

É que, desde o momento em que este polêeeemico (coff! coff!) artigo foi publicado, as coisas mudaram bastante. E a não-corrida pelas últimas vagas dos playoffs da Conferência Leste se tornou quase uma corrida de verdade, com a ascensão de alguns times que já estariam mortinhos da Silva no Oeste, mas que, no lado oriental dos EUA, sempre tiveram chances.

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Um termo recorrente aqui vai ser o “quase”. Sim, quase dá para gostar do que está acontecendo por lá. Só não dá para curtir de verdade quando você se toca que, enquanto equipes que mais perdem do que ganham sonham com os mata-matas, no Oeste vamos ter pelo menos dois desses caras assistindo tudo de fora: Anthony Davis, Russell Westbrook, Kevin Durant, Serge Ibaka, Dirk Nowitzki, Rajon Rondo, Monta Ellis, ou Tyson Chandler. Isso para não falar de Mitch McGary, Perry Jones, o Terceiro, Luke Babbitt, Alex Ajinça, JJ Barea e do sargento Bernard James.

Muita sacanagem, gente.

Especialmente no caso do Monocelha, que ainda sustenta o maior índice de eficiência da história da liga.

De qualquer forma, aqui estamos. Com o Indiana Pacers, agora em sétimo, tendo uma das melhores campanhas do Leste desde o All-Star Game. Com o Boston Celtics curtindo a segunda maior sequência de vitórias em voga – cinco, atrás apenas das seis do Utah Jazz de Rudy Gobert. Esses dois times (quase) emergentes estão empatados com o Miami Heat, restando 16 partidas para ambos. O atual tetracampeão do Leste vive um sufoco danado para manter a oitava posição. Um pouquinho abaixo, em décimo, com apenas um triunfo a menos, o Charlotte Hornets também vai dizer que tem boas chances nessa. Jesus, até mesmo o Brooklyn Nets ainda acredita.

Assumindo desde já um risco aqui de considerar que o Milwaukee Bucks, mesmo sentindo falta dos chutes de fora de Brandon Knight, ‘está’ classificado. Restariam, então, duas vagas, mesmo. Vamos examinar, então, novamente os candidatos? Por que dá para (quase) gostar deles?

INDIANA PACERS (30-36)

Hill e Vogel: reflexos de uma cultura vencedora

Hill e Vogel: reflexos de uma cultura vencedora


– O que deu errado:
o quinteto vice-campeão do Leste do ano passado jamais poderia ser repetido, uma vez que Lance Stephenson se mandou para Charlotte. E aí o Paul George ainda fraturou a perna. Já era motivo para muita tristeza. Mas Frank Vogel mal podia imaginar que, por conta de mais e mais lesões, nem mesmo o trio George Hill-David West-Roy Hibbert ele poderia escalar por 20 jogos. Muita crueldade.

Como se viraram: Palmas para Frank Vogel, por favor. Mais palmas. Pode até levantar da cadeira. Que o que o técnico fez este ano é de fato admirável. O Pacers ainda marca muito. Desde 1º de fevereiro, tem a segunda defesa mais eficiente, atrás apenas de Utah. A coesão defensiva é e também um testamento da cultura estabelecida pelo treinador nos últimos anos, sempre com a orientação dos senadores Larry Bird e Donnie Walsh. Nunca, jamais subestimem a química, que amplifica o talento em quadra. A ironia é que, devido aos desfalques, Vogel se viu obrigado a buscar diversas soluções, ampliando sua rotação e preservando seus atletas (ninguém passa da casa dos 30 minutos em média). No ataque, Hill vem jogando o melhor basquete de sua carreira, enquanto Rodney Stuckey redescobriu o caminho da cesta, para compensar as diversas noites de aro amassado durante a campanha. Luis Scola também ressuscitou e segue aplicando seus truques para cima dos adversários, mantendo o alto nível no garrafão quando West sai. Viver de Solomon Hill e CJ Miles para pontuar seria impossível.

– Campanha na conferência: 22-18.

Últimos 10 jogos: 7-3.

O que vem por aí: 7 jogos em casa, 9 fora, e adversários com aproveitamento de 51,2% e 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

MIAMI HEAT (30-36)

erderam um tal LeBron James. De modo que a equipe voltaria a ser de Dwyane Wade. Mas as constantes lesões de Wade, mesmo quando ele era apenas o braço direito de LBJ seriam um problema. Foi o que aconteceu. O entra-e-sai do astro, que já perdeu 18 partidas, atrapalha demais, quebrando o ritmo da equipe. Ainda mais depois de Chris Bosh ter sido afastado por conta de uma embolia pulmonar e de Josh McRoberts mal ter feito sua estreia. Contar com jogadores desgastados como Luol Deng, Chris Andersen e Udonis Haslem na rotação também pesa numa reta final de temporada.

Como se viraram: encontraram Hassan Whiteside perdido por aí. E, claro, fecharam uma troca por Goran Dragic. Vai precisar de mais tempo para o esloveno sacar quais as características peculiares de seus companheiros, mas sua visão de jogo, agressividade e categoria compensam demais. Era isso, ou Norris Cole: escolham. Pat Riley deve ganhar todos os elogios devidos por essa negociação, mas também precisa ser louvado pela atenção que tem com sua filial da D-League, recrutando jogadores mais que úteis – e baratos – como Tyler Johnson e Henry (ex-Bill) Walker para encorpar o banco de Erik Spoelstra.

Últimos 10 jogos: 5-5.

– O que vem por aí: 8 jogos em casa, 8 fora, adversários com aproveitamento de 49,6% e só 2 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

BOSTON CELTICS (30-36)

Brad Stevens obviamente saberia como usar os talentos de Thomas

Brad Stevens obviamente saberia como usar os talentos de Thomas


– O que deu errado:
se Indiana e Miami sofreram com lesões, em Boston os desfalques foram “forçados” – pelas constantes trocas de Danny Ainge. Rajon Rondo e Jeff Green, enfim, foram negociados. Brandan Wright, Tayshaun Prince e Jameer Nelson mal chegaram e já foram repassados. Dos que estão fora hoje, só Jared Sullinger foi encaminhado para o departamento médico. Ao todo, Brad Stevens teve 22 jogadores em quadra (mais que quatro quintetos) e 11 titulares diferentes.

– Como se viraram: tal como Vogel, Stevens merece a ovação popular, por ter conseguido manter um senso de unidade e competitividade num elenco itinerante, no qual nenhum jogador parecida estar 100% garantido. Não só isso: soube desenvolver ou aproveitar melhor as diversas peças que recebeu, com um quê de Rick Carlisle nessa. Poderia até ser candidato a técnico do ano em um campeonato mais frágil, mas só vai ganhar, mesmo, menções honrosas em listas lideradas por Steve Kerr e Mike Budenholzer – para não falar de Terry Stotts, sempre subestimado. Está certo que as mudanças não foram sempre para o mal. Isaiah Thomas perdeu os últimos jogos, mas se encaixou perfeitamente num time carente por cestinhas, enquanto Tyler Zeller, contratado em julho, vai surpreendendo como referência na tábua ofensiva. Para não falar de Luigi Datome, o Gigi, já um herói popular em Boston e que mal via a quadra em Detroit.

Campanha na conferência: 18-21.

Últimos 10 jogos: 7-3

– O que vem por aí: 7 jogos em casa, 9 fora, adversários com aproveitamento de 49,8% e 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

CHARLOTTE HORNETS (29-36)

MKG: um dos maiores malas na defesa, né, Wess?

MKG: um dos maiores malas na defesa, né, Wess?

– Os problemas: para um time cheio de carências no ataque, a contratação de Lance Stephenson foi uma tremenda decepção. O ala-armador só contribuiu para uma coisa: deixar o vestiário conturbado. E aí que, para piorar, Al Jefferson perdeu dez partidas e em algumas de suas incursões estava claramente debilitado. Para completar, Kemba Walker passou por uma cirurgia no joelho. Ficava difícil pensar em fazer pontos. Do outro lado, Michael Kidd-Gilchrist fez muita falta por cerca de 20 jogos.

As soluções: Steve Clifford respirou fundo em um início de campanha horroroso e conseguiu colocar as coisas no trilho, contando com uma senhora ajuda da fragilidade de seus adversários. Quando a defesa encaixou – coincidentemente, com o retorno de MKG, um Tony Allen supersize –, Charlotte já não se preocupava mais com a frequência que a bola estava caindo. Até porque essa fase coincidiu com as melhores semanas de Kemba como profissional, até sua lesão acontecer. De qualquer forma, uma troca totalmente subestimada por Maurice Williams acabou se revelando salvadora. O armador veio do Minnesota para cumprir aquilo que faz melhor: esquentar a munheca aqui e ali oupor um curto período de tempo. Tudo de que o Hornets precisava.

Campanha na conferência: 22-17.

– Últimos 10 jogos: 6-4.

O que vem por aí: 7 jogos em casa, 10 fora, adversários com aproveitamento de 50% e 5 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

BROOKLYN NETS (27-38)

Um Thaddeus Young não é o bastane para Brooklyn

Um Thaddeus Young não é o bastane para Brooklyn

– O que deu errado: Um russo bilionário que já teve a ousadia de desafiar Vladmir Putin em uma eleição presidencial ordenou que o time vencesse, e vencesse o título logo de cara? Sim. Seu gerente geral, que já havia se atrapalhado todo com movimentos imediatistas em seu emprego anterior, abraçou a causa? Claro que sim. Para isso, ele torrou escolhas de Draft para contratar estrelas que obviamente já haviam passado de seu auge há um bom tempo? Hmm… SIM! O que será que deu errado, então? Nem sei. Sem contar as constantes trocas de técnico, um ginásio lindo, mas que não pode ser chamado de casa, mais lesões de Brook Lopez etc.

– As soluções: fora Thaddeus Young, a primeira vez na história em que o jogador que eles receberam ser a peça mais jovem numa troca (por Kevin Garnett)? Difícil de achar outra. Ok, talvez o fato de não terem se precipitado ao demitir Lionel Hollins. Nem mesmo o fato de estarem no Leste é tão relevante aqui…

– Campanha na conferência: 11-19.

– Últimos 10 jogos: 4-6.

– O que vem por aí: 11 jogos em casa, 6 fora, adversários com aproveitamento de 52,3%, 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

Se for pensar, Indiana vive o melhor momento, mas pode ser algo frugal, com uma tabela difícil pela frente. Miami simplesmente não pode pensar em perder Wade (e o cabeça-de-vento Whiteside) por dois ou três jogos, enquanto tem o calendário mais fácil entre esses. Boston está no meio do caminho entre eles e é o time que menos depende de um só atleta. Charlotte precisa resolver o que fazer com a dinâmica Kemba/Mo Williams agora, ao passo que vai jogar muito mais como visitante e tem seis jogos back-to-back, no final do campeonato. Já o Brooklyn nem tem um fator casa verdadeiro para se empolgar com as 11 partidas em seu ginásio. Tudo isso para dizer que não tenho ideia do que vai sair dessa disputa.

A única certeza é a de que o Detroit Pistons já está eliminado, podendo Stan Van Gundy se concentrar no que Reggie Jackson não consegue fazer em quadra. De resto, um palpite mais conservador poderia pender para os finalistas da conferência dos últimos dois anos, não? Se os playoffs já começaram para os cinco clubes acima, a experiência do que sobrou de seus núcleos poderia fazer a diferença. Mas eles obviamente estão numa posição tão frágil como a dos demais. De novo: são times que mais perderam do que venceram durante a campanha. Boa sorte apostando em qualquer um deles. Talvez o melhor fosse realmente virar os olhos para o Oeste e aproveitar os últimos jogos do ano para Wess ou Monocelha. Um deles infelizmente vai ficar no quase.


12 trocas de última hora: quem saiu ganhando na NBA?
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Giancarlo Giampietro

Jovem Enes Kanter chega a OKC para reforçar o banco e oferecer pontos no garrafão

Jovem Enes Kanter chega a OKC para reforçar o banco e oferecer pontos no garrafão

“Meu Deus”.

Depois de 11 12 trocas fechadas, com 36 39 jogadores envolvidos (mais de dois elencos completos, ou três de elencos mínimos de 13!) numa única quinta-feira, essa foi a simples e exausta reação do jornalista Adrian Wojanarowski, do Yahoo! Sports, talvez com a orelha quente e os dedos da mão calejado de tanto que usou o telefone.

Wojnarowksi, vocês sabem, é o jornalista mais quente quando chega a hora de anunciar negociações por toda a NBA. Mas hoje o trabalho foi tanto que nem ele aguentou. As coisas foram muito além do imaginado. Foi uma loucura.

(Atualização nesta sexta de manhã: para vermos o quanto a jornada foi maluca, mesmo: houve ainda uma 12ª troca entre Oklahoma City Thunder e New Orleans Pelicans, com o envio do armador ligeirinho Ish Smith para N’awlins, apenas para abrir espaço no elenco para o que segue abaixo. como disse o jornalista Marc Stein, do ESPN.com, mais uma fera nesse tipo de ocasião: “Talvez tenham sido 12 trocas.Perdi minha habilidade de fazer matemática em algum lugar durante esta tarde”.)

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Em termos de nomes, o destaque fica por conta do retorno de Kevin Garnett a Minnesota, 20 anos depois de ter sido draftado pela franquia. Uma história muito legal, mas cujas repercussões para a liga são reduzidas, é verdade. Thaddeus Young foi para Brooklyn, ocupar sua vaga no quinteto titular do Nets.

Quando KG foi draftado pelo Wolves, Wiggins tinha 4 meses de idade

Quando KG foi draftado pelo Wolves, Wiggins tinha 4 meses de idade

Pensando nos times de playoff… Ou melhor: pensando nos times que tentam chegar aos playoffs, Oklahoma City Thunder e Miami Heat foram os times que saíram triunfantes dessa jornada de extrema tensão – três trocas foram fechadas literalmente na última hora permitida.

Foi numa dessas negociações que OKC adquiriu o pivô Enes Kanter e o ala Steve Novak, do Utah Jazz, e o armador DJ Augustin e o ala Kyle Singer, do Detroit Pistons. De uma só vez, o gerente geral Sam Presti reformulou todo o seu banco de reservas e deixou seu time muito mais forte para as batalhas que se aproximam. Kanter oferece o tipo de jogo interior que a equipe jamais teve durante essa gestão, enquanto Augustin e Singler são belos arremessadores e jogadores competitivos que devem se encaixar perfeitamente na cultura, na química do time. Não obstante, Durant e Wess ainda viram o Phoenix Suns (meio que) se despedaçar, dando a entender que não se mete mais na briga pelo oitavo lugar do Oeste. Resta a Anthony Davis e os Monocelhas o papel de oposição ao Thunder.

Para reforçar sua segunda unidade, Presti precisou se desfazer apenas de Reggie Jackson (um enorme talento, mas já sem paciência alguma com o clube, prestes a entrar no mercado de agentes livres), que foi para Detroit para tentar salvar a temporada de SVG, Kendrick Perkins (RIP, provavelmente agora rumo ao Clippers), Grant Jerrett (um prospecto interessante, mas que não teria espaço tão cedo), os direitos sobre  o alemão Tibor Pleiss (um belo jogador) e uma ou outra escolha de Draft que ainda não foi revelada. O Utah apenas limpou o salário de Novak e ganhou alguma compensação futura por Kanter. Melho que nada.

O Miami Heat coneguiu algo aparentemente impensável: levou Goran Dragic (e o irmão Zoran). Está certo que o time da Flórida já aparecia na seleta lista de clubes desejados do armador esloveno, mas o difícil era imaginar que tipo de pacote Pat Riley poderia construir para convencer o Suns a abrir mão de um descontente Dragic, mas que ainda tinha valor de mercado e era seu principal jogador. Acabou fechando a conta ao mandar duas escolhas futuras de Draft (os anos ainda não estão definidos, mas devem ser daqui a um boooom tempo). De última hora, o New Orleans Pelicans também entrou no negócio e obteve o armador Norris Cole e o ala-pivô Shawne Williams. Para o Arizona, também foram o pivô Justin Hamilton e os veteranos John Salmons e Danny Granger. Afe.

Éramos três: sobrou apenas Bledsoe, agora com Knight na jogada

Éramos três: sobrou apenas Bledsoe, agora com Knight na jogada

Se antes Jeff Hornacek tinha armadores em excesso, viu, depois de Dragic, mais dois serem despachados, vindo Brandon Knight em contrapartida. Foi um dia violento para o caderno de jogadas do treinador. Ao menos Knight tem bom arremesso de três e se encaixa bem como segundo armador ao lado de Bledsoe – desde que, claro, não crie caso, como fez Dragic. Mais: o atleta revelado pela universidade de Kentucky vai se tornar agente livre restrito ao final da temporada. Qual será sua pedida? Haverá algum desconto em comparação com o esloveno? A conferir.

Numa troca tripla, o jovem Tyler Ennis foi enviado para Milwaukee Bucks, que também recebeu o pivô Miles Plumlee e Michael Carter-Williams, do Philadelphia 76ers. O Sixers ganha uma escolha de Draft do Lakers, via Suns, que é protegida para o top 5 do próximo recrutamento de calouros – só com muito azar Suns e Lakers perdem essa, de modo que, discretamente, o Sixers mostra que realmente não confiava em MCW como seu armador do futuro. Os números nem sempre contam toda a história… Ainda mais num sistema que infla as estatísticas. Ah, além disso o time ganhou uma escolha de Draft futura, via OKC, para recolher JaVale McGee, de Denver. Um perigo colocar um lunático desses ao lado de Joel Embiid, camaronês que ainda não fez sua estreia e, segundo dizem, já desperta uma certa preocupação por seu comportamento fora de quadra.

Carter-Williams e McDaniels pareciam promissores em Philly. Estão fora: reformulação até quando?

Carter-Williams e McDaniels pareciam promissores em Philly. Estão fora: reformulação até quando?

Depois, o Suns negociou o pequenino Isaiah Thomas com o Boston Celtics, que cedeu Marcus Thornton e uma escolha de draft de primeira rodada para 2016, pertencente ao Cleveland Cavaliers. E o Celtics, do hiperativo Danny Ainge, devolveu Tayshaun Prince ao Detroit Pistons, ganhando a dupla estrangeira Jonas Jerebko e Luigi Datome (acho que SVG foi mal nessa, mas… vale pela nostalgia). No geral, Ainge se envolveu em seis trocas neste campeonato: Rondo para Dallas, Green para Memphis, Wright para Phoenix, Nelson para Denver e as duas desta quinta. Celtics, Suns e, claro, Sixers são os clubes com mais escolhas de Draft para os próximos anos. Resta saber se vão transformar esses trunfos em jogadores de verdade.

Teve mais, com a sempre regular presença do Houston Rockets de Daryl Morey, que agora conta com Pablo Prigioni e com o ala novato KJ McDaniels. Para tê-los, mandou Alexey Shved para o New York Knicks, com mais duas escolhas de segunda rodada, e além de ter repassado o armador Isiah Canaan e uma escolha de 2ª rodada para o Sixers.

Lembrando que tudo começou quando o Portland Trail Blazers acertou com o Denver Nuggets a transação do ala Arron Afflalo, dando Thomas Robinson, Will Barton, Victor Claver e uma escolha de primeira rodada e outra de segunda, e quando Washington Wizards e Sacramento Kings trocaram Andre Miller e Ramon Sessions. Miller vai reencontrar George Karl.

Meu Deus.

Quem ganhou e quem perdeu com tudo isso?

Sam Presti: o cartola-prodígio andava apanhando muito mais que o normal nos últimos meses, num processo de deterioração que começou com a saída de James Harden. Para piorar, graves lesões de Durant e Westbrook acabaram pondo a equipe numa situação delicada em uma Conferência Oeste extremamente dura. A pressão estava evidente, e ele mesmo admitiu isso. A resposta, em teoria, foi demais – os nomes não causam alvoroço, mas foram grandes achados. Depois de flertar, e muito, com Brook Lopez, encontrou em Kanter um ótimo plano B: o turco não vai ser muito exigido em OKC.Precisa apenas pontuar e pegar rebotes com eficiência saindo do banco e pode melhorar na defesa ao se integrar a um sistema mais bem entrosado. O que pagar para o turco ao final da temporada, quando ele vira agente livre restrito? Bem, não é a prioridade no momento. Singler merece minutos na rotação de perímetro, revezando com Roberson e dando um descanso a KD. Augustin já mostrou que sabe ser produtivo vindo do banco e ainda oferece um ritmo de jogo diferente, podendo cadenciar as coisas. Bônus: o armador é bem próximo a Durant, ajudando a compensar a perda de Perk no vestiário.

Quem aí quer partilhar a bola com Chalmers e Birdman, Dragic?

Quem aí quer partilhar a bola com Chalmers e Birdman, Dragic?

Goran Dragic: pelo simples fato de ter exigido uma troca em cima da hora e ainda conseguido uma transferência para um dos três clubes que imaginava defender (Lakers e Knicks eram os outros). Pelo preço que pagou, está implícito também que Riley vai concordar em assinar um contrato de US$ 100 milhões por cinco anos com o esloveno, que, além do mais, troca o sol do Arizona pelo da Flórida, e ainda leva o irmão na bagagem. Se em Phoenix precisava dividir a bola com Eric Bledsoe e Isaiah Thomas, agora vai tomá-la das mãos de Mario Chalmers.

Dwyane Wade: a temporada do Miami Heat parecia destinada ao purgatório até que… Primeiro apareceu o fenômeno Hassan Whiteside. Depois, essa megatroca. Que coisa, hein? Ter Dragic por perto significa menos responsabilidades criativas para o astro da franquia, tanto em transição como nas combinações de pick-and-roll/pop com Chris Bosh e Whiteside. Menos responsabilidades = mais descanso para o ala-armador, que já foi afastado por três períodos diferentes nesta campanha devido a problemas musculares. E é sabido que, assim como nas temporadas anteriores, o Miami só vai aspirar a alguma coisa se Wade estiver em forma nos mata-matas. Com LeBron ou com Dragic. Mais: precisamos ter um Cavs x Heat nos playoffs, não? Precisamos.

Reggie Jackson: mais um que forçou uma negociação e teve seu desejo atendido. Agora vai ter uns 30 jogos pelo Pistons para mostrar ao mercado que pode, sim, ser um armador titular, e de ponta. Stan van Gundy estava fazendo maravilhas por Brandon Jennings e agora tenta dar o seu toque especial a este jogador explosivo, com grande faro para pontuar, mas que foi um tanto inconsistente em Oklahoma City.

Arron Afflalo agora é chapa de Damian Lillard

Arron Afflalo agora é chapa de Damian Lillard

Terry Stotts: agora vai poder olhar para o seu banco de reservas e ver alguém quem confiar para hora que o jogo apertar e Nicolas Batum ainda estiver com a cabeça na lua. É de se questionar se o treinador fez de tudo, mesmo, para assimilar um prospecto interessante como Will Barton. O fato, porém, é que o Blazers não podia esperar uma revisão nas rotações de seu treinador e, assim como Memphis, Dallas, Houston etc., sente que existe uma boa chance este ano e foi de all in para cima de Afflalo, pagando caro num futuro agente livre.

Os experimentos de Jason Kidd: o Milwaukee Bucks perdeu seu cestinha e principal criador em Brandon Knight, mas ganha em Michael Carter-Williams um armador alto, de envergadura. Com ele em quadra, Kidd vai poder simplesmente instaurar um sistema de “troca geral” na defesa, trocando todas as posições, além de fechar para valer seu garrafão e as linhas de passe. Miles Plumlee, atlético e forte, também ajuda pra isso. Vai ser ainda mais chato enfrentar o Bucks.

Jerami Grant: quem? Bem, o filho do Harvey Grant, sobrinho do Horace, e ex-companheiro de Fab Melo em Syracuse. Selecionado na segunda rodada do Draft pelo Sixers, demorou para estrear ao se recuperar de uma lesão no tornozelo. Enquanto esteve fora, KJ McDaniels fez barulho pela equipe, com suas jogadas acrobáticas dos dois lados da quadra. Aos poucos, porém, Grant foi ganhando espaço, com flashes de muito potencial devido a sua envergadura e tamanho. Agora, terá mais minutos para convencer Sam Hinkie de que pode ser uma peça para o dia em que Philly quiser ser novamente competitivo. Talvez demore, todavia…

Pablo Prigioni: o argentino deixa a pior equipe da liga para se juntar a uma que sonha com o título. Nada mal para o veterano que está nas últimas em quadra. Nova York por Nova York, sempre dá para retornar nas férias, né?

Doc Rivers? Ele estava rezando para que ao menos um jogador de seu agrado fosse dispensado, e está a alguns minutos/horas de ver Kendrick Perkins virar um agente livre. O Utah Jazz não vai manter o pivô em seu elenco, abrindo caminho para uma rescisão. O vínculo entre Doc e Perk é óbvio, e o elenco do Clippers é dos raros casos para o qual o campeão pelo Celtics em 2008 ainda seria uma boa notícia em termos de basquete – e não só de liderança. O Cleveland Cavaliers, no entanto, pode atrapalhar seus planos.

Andrew Wiggins, Zach LaVine e Anthony Bennett: desde que saibam escutar os xingamentos de Kevin Garnett e entender o recado. KG vai tocar o terror no vestiário do Wolves e, ao mesmo tempo, servir como um líder, mentor que Kevin Love jamais foi. Ricky Rubio vinha assumindo essa, mas tem de entender a companhia especial que chega também de modo inesperado.


Phoenix Suns: ser bom já não é o bastante
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

De fácil para o Suns no Oeste, só mesmo o Lakers. Afe

De fácil para o Suns no Oeste, só mesmo o Lakers. Afe

O Phoenix Suns 2013-2014 foi uma das histórias mais empolgantes da  NBA. Um time que 99,9% da liga projetava para disputar as primeiras posições do Draft acabou se colocando na briga pelos playoffs. No final, a rapaziada de Jeff Hornacek ficou fora. O que nos leva ao outro lado dessa história, bastante difícil de se assimilar: num Oeste selvagem que só, ser um bom time já não basta mais. Você tem de ser excelente, e esse é o desafio da franquia do Vale do Sol para uma nova jornada.

Quando o Suns conseguiu 48 vitórias e, ainda assim, não conseguiu entrar nos mata-matas, esse acabou virando o dado oficial para mostrar como sua conferência é inóspita. Pensem assim: se essa equipe estivesse no Leste, não só teria se garantido com tranquilidade na fase decisiva, como ainda teria mando de quadra ao lado de Pacers, Heat e Raptors. O Suns virou o pôster do desequilíbrio que há entre o lado do Atlântico e do o Pacífico neste momento.

Os gêmeos Morris: química e uma negociação de contrato singular

Os gêmeos Morris: química e uma negociação de contrato singular

Se o desfecho de dois jogos apertados tivesse resultado favorável a eles, esses caras teriam passado. Neste Oeste, porém, não dá para falar de “se”, de hipóteses. O nível de exigência é altíssimo, e os times têm de executar noite após noite. E noite após noite, mesmo, considerando a ascensão de DeMarcus Cousins e Anthony Davis para transformar Sacramento e New Orleans em escalas também indesejáveis na estrada. Hoje, só sobraram Timberwolves (mas só por causa das diversas lesões)e, gasp!, Lakers como oponentes que não despertem tanta preocupação assim. Até mesmo a jovem equipe de Utah exige respeito, até porque jogar em Salt Lake City nunca foi fácil.

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Para Phoenix, resta saber de onde tirar forças para elevar seu padrão de jogo e atingir a excelência. Um fator óbvio já pesa contra eles: ninguém vai mais ser pego de surpresa pela correria promovida por Hornacek. Toda a liga já teve uma temporada para se acostumar com seu sistema que põe dois armadores em quadra ao mesmo tempo, incentiva a definição individual de jogadas e enfatiza o combo da moda: infiltrações/tiros de três pontos.

Entre os reforços, se for julgar apenas por sua produção numérica, o baixinho Isaiah Thomas foi uma pechincha. Um dos jogadores mais eficientes da temporada passada fechou por menos de US$ 8 milhões anuais? Isso só se explica pela baixa estatura do armador, mesmo. Agora ficou aquela pergunta para todo mundo: e o clube realmente precisava dele?

Está certo que a negociação de Eric Bledsoe se arrastava de modo perigoso. Que Goran Dragic vai virar agente livre ao final da temporada. Então poderia ser um bom plano de precaução?

Acontece que, depois de tantos blefes e cartadas de ambos os lados, a diretoria comandada por Lon Babby e o matador gerente geral Ryan McDonough cedeu em praticamente tudo na hora h para renovar com Bledsoe. Thomas ficaria no banco, uma situação sobre a qual sempre reclamou em Sacramento. Haveria, então, uma disputa intensa por minutos, e Hornacek teria de controlar bem as coisas.

Há uma sensação de desconforto geral para aqueles que acompanham o time mais de perto – Dragic, por exemplo, não lembra em nada o jogador que foi eleito para o terceiro melhor time da liga. Thomas segue extremamente produtivo – é o jogador mais eficiente da equipe e aparece novamente no top 15 da liga. Vem fazendo uma dupla explosiva com Gerald Green e já foram vários os casos em que os dois terminaram a partida jogando, enquanto Bledsoe e Dragic, os xodós do ano passado, só assistiam.

Goran Dragic: sinais de infelicidade? Ou só cansaço mesmo?

Goran Dragic: sinais de infelicidade? Ou só cansaço mesmo?

Ah, mas que jogue quem estiver melhor, não? É o que Hornacek vem dizendo. Mas todo mundo sabe que um vestiário não funciona de modo tão simples. E que o basquete não se explica só por números. Thomas é o atleta que mais dá assistências no time, por exemplo, mas isso se explica também pelo fato de que ele em quadra, a bola tem um dono apenas.

A temporada é longa, lesões vão acontecer eventualmente, e o técnico e diretoria vão ter de realmente monitorar o desenrolar dessa história. Qualquer fragmentação que atrapalhe a incrível química que a equipe desenvolveu na última campanha seria mortal. Afinal, como as 48 vitórias vão sempre lembrar, com o time inteiro já era muito difícil.

O time: o Phoenix Suns é um time que joga duro, corre demais e exige preparo físico de seu adversário. Tudo começa com o ataque constante de Bledsoe, Dragic e Thomas. Esses caras são extremamente velozes com a bola e vão, sempre que possível, agredir as defesas em transição em busca de cestas fáceis. Atrás deles vêm os alas, abrindo para o chute de três pontos. Muitos arremessos de fora, sim.

Thomas: jogando muito, mas com um problema

Thomas: jogando muito, mas com um problema

Em situação de meia quadra, porém, Hornacek ainda insiste muito em jogadas individuais. O Suns progrediu um pouco nesse sentido: depois de terminar a temporada passada em penúltimo em média de assistências por posse de bola, acima apenas do Sacramento de Thomas, hoje é o 20º. De times de ponta, abaixo deles só aparecem Raptors e Rockets, o que não é uma coincidência. São dois times que regem muitos de seus princípios ofensivos com base em planilhas estatísticas, procurando os arremessos mais eficientes em quadra. O clube do Arizona segue o mesmo princípio. É um modelo, ok. E os três seguem entre os dez melhores ataques. Aqui no meu canto, porém, ainda prefiro um time que passe mais a bola, que peça mais movimentação, como Steve Kerr está tentando com o Golden State.

O que o Suns tem de imprevisível é o cestinha da vez. Veja a pontuação em média de seu elenco: são cinco jogadores entre 14,1 pontos e 15,5, algo bem raro. O oponente nunca sabe quem vai comandar o ataque, quem vai estar com a mão quente e isso requer ajustes para o decorrer da partida. A segunda unidade, com Thomas e Gerald Green (insano-para-o-bem-e-para-o-mal), virou um terror.

Gerald Green e suas insanidades

Gerald Green e suas insanidades

Na defesa, o time vai melhor do que a fama sugere. PJ Tucker é um dos marcadores mais chatos e físicos no perímetro, Miles Plumlee protege bem o garrafão ao lado de Markieff Morris – algo que Alex Len também deve fazer –, enquanto Bledsoe e Thomas põem pressão nas linhas de passe.

A pedida: voltar aos playoffs pela primeira vez desde 2010, quando Nash e Amar’e ainda estavam em plena forma e Steve Kerr era o gerente geral. Desde 1975, a franquia nunca havia ficado fora da fase decisiva por quatro anos seguidos.

Olho nele: Alex Len. O jovem pivô, de 21 anos, mal conseguiu ficar em pé em seu primeiro ano como profissional, tendo passado por duas cirurgias nos tornozelos – uma delas, no esquerdo, antes mesmo do Draft e outra, no direito, na pré-temporada. Isso, claro, atrasou o desenvolvimento do ucraniano, que foi limitado a apenas 42 jogos e 8,6 minutos. Para a segunda temporada, a torcida se assustou quando ele sofreu duas fraturas no dedinho da mão direita – uma na liga de verão de Las Vegas e outra no training camp. Dessa vez, porém, não era tão grave, e o garoto foi liberado para acompanhar o time desde o início da campanha. Como reserva de Miles Plumlee, vem tendo seus momentos de brilho que sugerem que pode ganhar mais e mais minutos e até mesmo uma promoção. Fica bem claro o apelo que Len despertava no ano passado: estamos falando de um cara gigante, bastante espichado, mesmo, e com muita mobilidade. Um potencial incrível a ser explorado e que pode ser um diferencial para o Suns em sua batalha. Desde que ele escape da enfermaria.

Alex Len é grande, gente

Alex Len é grande, gente

Abre o jogo: “A vontade de vencer e a intensidade do Zoran se destacam toda vez que ele entra em quadra. Ele tem sido um jogador produtivo na Euroliga, na Liga ACB e em competições Fiba. Ele vai bem defensivamente e em transição, e acho que nossos torcedores vão reconhecer rapidamente sua paixão pelo jogo”, Ryan McDonough, explicando a contratação do caçula esloveno. Obviamente a transação não teve nada a ver com uma tentativa de agrado a Goran, que vai muito provavelmente virar um agente livre ao final da temporada… A negociação por Zoran acabou se estendendo bastante e ele perdeu parte do training camp do time. Até o momento ele só fez uma partida pelo calendário oficial, ganhando dois minutos numa derrota para o Clippers.

Você não perguntou, mas… a renovação de contrato dos gêmeos Morris foi das coisas mais engraçadas e curiosas da pré-temporada. Em vez de cada um negociar seu contrato, Markieff e Marcus trataram de valores sempre lado a lado, com a assessoria do superagente Leon Rose. No final, a diretoria ofereceu um total de US$ 52 milhões para eles, por quatro anos. A divisão? Eles que se acertassem. Markieff ficou com 32 (média de US$ 8 milhões) e Marcus, com 20 (média de US$ 5 mi). Não tem confusão nenhuma, aliás, já que os irmãos garantem operar a mesma conta bancária. “Eles queriam resolver isso e continuar juntos. E sabiam que, se entrassem no mercado, dificilmente conseguiriam. Eles são muito próximos, então foi melhor negociar a quantia total e depois deixar que eles dividissem. Eles queriam desesperadamente ficar juntos. E jogam melhor juntos também. Um motiva o outro, e tem sido divertido assistir ao amadurecimento deles”, disse o presidente do clube, Lon Babby. “Dissemos para eles que não importava”, assegura Markieff. “Se eles simplesmente pudessem colocar US$ 13 milhões por ano para os gêmeos Morris, já seria ótimo. Não precisava nem dizer nossos nomes. Somos jogadores de US$ 52 milhões.”

2581-87FrUm card do passado: Steve Nash. Na temporada 1996-97, o Phoenix também contou com três armadores de ponta em sua rotação: Jason Kidd, Kevin Johnson e o brilhante canadense. Todos eles de carreiras estelares. A diferença é que Nash, na ocasião, era apenas um calouro, vindo da modestíssima Universidade de Santa Clara, ainda sem condições de brigar para valer com tempo de quadra com os demais astros. Kidd havia acabado de chegar de Dallas depois de uma supertroca. Johnson, hoje prefeito de Sacramento, conseguiu se manter saudável por grande parte do campeonato. Os dois começavam o jogo em situação de dupla armação num time que acabou apelando de verdade ao small ball, com Rex Chapman, Wesley Person e Cedric Ceballos se revezando nas posições 3 e 4. Nash disputou 60 partidas em seu ano de novato, com média de 10,5 minutos, 2,3 pontos e 2,1 assistências, acertando já 41,8% de seus chutes de longa distância. Guiado por Danny Ainge, o Suns se recuperou durante o campeonato e conseguiu chegar aos playoffs como o 8º colocado. E aí vinha outra diferença: naquele ano, eles mais perderam (42) do que venceram (40), e ainda assim entraram nos mata-matas.


Flamengo perde, mas mostra que não é café-com-leite
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Giancarlo Giampietro

Laprovíttola x Thomas: argentino nem se importou com rivais mais badalados (e bem mais ricos)

Laprovíttola x Thomas: argentino nem se importou com rivais mais badalados (e bem mais ricos)

Os aspectos que valem mais na turnê rubro-negra pelos Estados Unidos dizem respeito realmente ao que o clube pode ganhar em outras esferas, fora de quadra. Seja do ponto de vista logístico, estratégico e até – por que não? – comercial.

Mas, para quem acabou de conquistar a Copa Intercontinental, vem de um bicampeonato no NBB e tem também o troféu de melhor da América (Latina), o jogo também até que é importante. O Flamengo não pode ser visto como café-com-leite. Foi o que o primeiro time latino-americano a competir no maior palco da modalidade mostrou nesta quarta-feira, ao fazer uma partida dura com o Phoenix Suns, embora perdendo 100 a 88.

Alguma ressalvas, claro, precisam ser colocadas logo de cara: este foi apenas o primeiro jogo do Suns em sua pré-temporada. Eles estavam treinando pesado a mais de 2 mil metros de altitude até o final de semana e em diversos momentos dava para notar seus atletas pareceram um pouco pregados em quadra – os efeitos positivos da correria em Flagstaff devem ser sentidos mais adiante, ou assim espera, ao menos, sua comissão técnica. Além disso, o ginásio nem encheu, e tal. Para eles, esta é apenas uma fase de ajustes e de desenferrujar. Não entra para os registros oficiais.

Meyinsse fez de Miles Plumlee gato e sapato. Pivô do Fla tem bola para jogar em alto nível

JErome Meyinsse fez de Miles Plumlee gato e sapato. Muito forte, atlético e determinado, pivô do Fla tem bola para jogar em alto nível. Grande sacada de mercado dos rubro-negros

Posto tudo isso, ninguém vai jogar para perder – Gregg Popovich não infartou, mas também não ficou só de sorrisos em sua entrevista depois de a máquina chamada Spurs ser derrotada pelo modesto Alba Berlim, um pouco mais cedo, na capital alemã. Para o Suns, ainda contava o orgulho de jogar em casa, mesmo que vazia, contra um time ‘inexpressivo’ para o mercado de lá.

(Antes que os rubro-negros se enfureçam: os caras nem bem sabem o que é Barcelona ou Real Madrid no basquete – o problema é de ignorância norte-americana, e, não, de irrelevância flamenguista, tá?)

“Foi um jogo estranho… Não sabíamos muito sobre o Flamengo. Então foi um pouco difícil”, afirmou Goran Dragic, que, convenhamos, não jogou nada (6 pontos em 25 minutos, 2-9 de quadra, três turnovers e uma assistência). O astro esloveno foi dos que aparentou maior cansaço e falta de sintonia em quadra, errando até mesmo bandeja livre no contra-ataque.

Os treinadores e atletas do Suns podem ter estudado um minutinho ou outro do time brasileiro, mas certamente não conheciam em detalhe, por exemplo, os truques que um Nícolas Laprovíttola pode apresentar. O argentino pode ter forçado muitos chutes de três pontos (1-5, com péssimas escolhas) e algumas infiltrações sem destino, mas mostrou que tem talento para competir no mais alto nível, entrando no garrafão, cavando diversas faltas e tudo o mais, sem se intimidar com um pitbull como Eric Bledsoe (somou 13 pontos, sendo 10 deles em lances livres, e deu 12 assistências).

O armador não estava sozinho nesse sentido. Vários atletas flamenguistas mostraram categoria em diversos momentos da partida, quebrando alguns tabus a respeito de suas qualidades. Pesa para o elenco rubro-negro também seu entrosamento, sua química, sua continuidade são fatores que fazem diferença em qualquer esporte, mas que no basquete são ainda mais importantes. São essenciais.

Do ponto de vista individual, todavia, nada foi mais instigante do que ver o jovem Cristiano Felício causando impacto no garrafão, levando a melhor sobre um desastrado Miles Plumlee e dando um trabalho danado para os irmãos Morris. Fisicamente, no mínimo, está pronto. A técnica (sempre) pode melhorar, mas já está claro, no pouco tempo que recebe, que pode influenciar um jogo para agora – e não apenas num futuro hipotético baseado em seu potencial evidente.

Para constar: em 15 minutos, ele teve o maior saldo de pontos (o plus/minus) do Flamengo, com +13. Foram oito pontos e oito rebotes para o pivô. Ele realmente já pede um voto de confiança maior de Neto e precisa jogar, e mais. O rubro-negro só tem a ganhar com isso, e o basquete brasileiro, em geral, também agradeceria.

Sempre mais admirado fora do país do que por aqui, Marcelinho anotou 16 pontos em sua estreia numa quadra de NBA, contra um Dragic sonolento-quase-parando. Mas cometeu cinco dos 26 turnovers do Fla, fazendo muita firula na hora de passar a bola. No total, o jogo teve 47 desperdícios de posse de bola. Isso é pré-temporada

Sempre mais admirado fora do país do que por aqui, Marcelinho anotou 16 pontos em sua estreia numa quadra de NBA, contra um Dragic sonolento-quase-parando. Mas cometeu cinco dos 26 turnovers do Fla, fazendo muita firula na hora de passar a bola. No total, o jogo teve 47 desperdícios de posse de bola. Isso é pré-temporada, não podemos esquecer

Enquanto isso, o americano Derrick Caracter, contratado de última hora especificamente para a Copa Intercontinental e para o giro de amistosos nos EUA – pelo que vemos, desnecessariamente –, mal conseguiu fazer cócegas em seus compatriotas (cometeu dois turnovers em 9 minutos e mais nada). Ao contrário de Jerome Meyinsse. O pivô titular também fez bela partida, com 15 pontos em 24 minutos, dominando o garrafão ofensivamente no primeiro quarto até se atrapalhar com as faltas.

Foi investindo em Meyinsse, mesmo, que o Flamengo fez um belo início de partida, chegando a abrir vantagens como 6-0, 13-8 e 30-25, até meados do segundo quarto, quando o time da casa assumiu a liderança pela primeira vez no duelo, com 34-33. Se bem observado pelos olheiros internacionais, o pivô não deve durar muito no mercado brasileiro. Assim como Laprovíttola.

A partir do momento em que o Suns passou a rodar seu elenco, bem mais volumoso, o aspecto físico foi fazendo a diferença, ainda mais numa etapa ainda preliminar da preparação física dos caras. As escapadas no placar da equipe norte-americana aconteceram justamente na segunda parcial como na quarta, com o jogo de transição com pernas mais descansadas fez estragos. Vale destacar aqui outro ponto: o fato de o jogo da NBA ser mais longo, com oito minutos a mais do que os brasileiros estão habituados a disputar (20% mais longo). Cansa.

Por outro lado, mesmo que seja só um amistoso, de pré-temporada, também dá para puxar a orelha em termos de execução ofensiva também. Se o Fla tivesse maneirado nos arremessos de três pontos – ou caprichado mais, já que optaram pelas bombas… –, numa linha ainda mais distante que a da Fiba, talvez a história pudesse ter sido diferente. Vai saber. O time da Gávea matou apenas 6-25 de fora (24%). Quando o ataque alimentou os pivôs e usou mais infiltrações, foi muito mais produtivo. Nos primeiro e terceiro períodos, quando conseguiu segurar mais o jogo, a equipe de Neto venceu por 49 a 38. Mesmo.

Está certo: não foi um desastre, muito longe disso. Para se ter em mente: até agora o Maccabi Tel Aviv, aquele mesmo que foi derrotado na Copa Intercontinental pelos rubro-negros, já disputou dois e tomou duas pauladas. Nesta terça, deu Brooklyn Nets: 111 a 94. No primeiro jogo, contra o Cleveland Cavaliers, o placar foi de 107 a 80.

Para quem vem fazendo história em quadra, porém, ambição não pode faltar. Na próxima semana, tem mais: quarta, contra o Orlando Magic (teoricamente o jogo mais ganhável) e na sexta contra o Memphis Grizzlies. Os dirigentes, a comissão técnica e os jogadores vão descobrir mais instalações, mais atletas, mais conexões – e também podem fazer um pouco de turismo, que ninguém é de ferro. Mas, sim, pelo que apresentou em seu primeiro teste contra o Suns, dá para pensar em aprontar algo a mais que uma lista de presentes ou a lição de casa.


Cresce nos EUA movimento para limitar NBA em torneios Fiba
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Giancarlo Giampietro

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Em um texto nada celebratório sobre a conquista do bicampeonato mundial pelos Estados Unidos neste domingo, o jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo! Sports, praticamente decretou o fim da farra que a USA Basketball vem fazendo nos últimos anos. Farra no bom sentido: ganhando ouro após ouro para restaurar a hegemonia na modalidade. Para ele, o mundo Fiba está prestes a passar por um processo drástico de reformulação, cujo ponto principal será o êxodo dos grandes talentos da NBA. Conforme escrito aqui ontem: a maior ameaça à soberania dos Estados Unidos em cenário global hoje é interna.

Para quem não está familiarizado com o escbriba, Wojnarowski é o repórter mais quente entre as centenas (milhares?) que acompanham o dia-a-dia da NBA nos Estados Unidos. No dia do Draft, por exemplo, está habituado a cantar pedra por pedra, escolha por escolha a noite toda, minutos antes de as seleções acontecerem. Em tempos de agente livre, virou praticamente canal obrigatório de veiculação de acordos – e ameaças – de agentes e/ou dirigentes. É um cara evidentemente bem conectado que, por conta do acúmulo de furos, ganhou uma credibilidade imensa. É como se tudo o que ele escreve seja fato, ou esteja em vias de se concretizar como tal.

Então, meus amigos, anotem aí algumas de suas frases do artigo:

– A distância (entre o Team USA) e o resto do mundo aumentou novamente, e o romance de Times dos Sonhos está lentamente, mas seguramente morrendo. Competições Sub-22 são o caminho, com os melhores jogadores jovens da NBA e uma ou outra superestrela universitária sendo introduzidos para o mercado global.

– O começo do fim para a USA Basketball aconteceu naquela noite de agosto, quando Paulo George tombou na quadra, e um osso explodiu de sua carne. Foi um momento cruel e de autoanálise, e os jogadores dos EUA ainda estavam falando sobre isso no domingo em Madri. Aquela imagem foi chocante, e vai ficar na cabeça das pessoas por um looongo tempo. Será um dos catalisadores para tirar as estrelas da NBA do basquete Fiba.

– George será o ímpeto para acabar com a participação das estrelas da NBA, mas longe de ser a única razão. Depois das Olimpíadas de 2016 no Rio, a Copa do Mundo de Basquete e os Jogos Olímpicos estão destinados a se tornar um torneio sub-22, de desenvolvimento.

– “Temos de tirar nossos veteranos de lá e colocar nossos jogadores mais jovens. Já existe apoio para esta mudança, e está ficando mais forte”, afirmou um gerente geral da liga ao repórter.

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Bem, antes de mais nada, essas declarações não chegam a ser bombásticas para quem vem acompanhando gente como Mark Cuban, dono do Dallas Mavericks, chiando barbaridade a cada convocação das seleções internacionais nos últimos anos. A fratura exposta sofrida por George no jogo-treino interno da seleção ianque, televisionada para o mundo todo, apenas intensificou esse sentimento, por tudo o que a mídia americana tem publicado. Cada vez mais se discute e se especula sobre um limite de idade, da mesma forma que acontece com o futebol olímpico.

Em sua argumentação/exposição sobre a submergente relação entre os interesses da NBA com os da Fiba, Wojnarowski parte para um ataque frontal contra o celebrado Coach K, dizendo que seu envolvimento com a federação e a equipe nacional se deve muito mais pelos benefícios que tira disso para seu trabalho do dia-a-dia, em Duke, do que por qualquer noção patriótica. Estar envolvido com a nata do basquete norte-americano só vai lhe ajudar na hora de recrutar os melhores adolescentes do país. Mas é um tanto óbvio, não? Além do mais, fica a pergunta: um técnico que já está presente na TV o tempo todo, independentemente de uma medalha de ouro num Mundial, precisa disso? Dá vantagens, mas o quanto isso difere do que John Calipari vem fazendo em Kentucky, estocando talentos top 10, 20 do colegial, formando supertimes com talentos que vão dominar o Draft do ano seguinte? Exposição por exposição, influência por influência… O jogo de poder e marketing da NCAA é pesado e um tanto sujo há tempos.

Agora, se o treinador de Duke e da seleção americana tem seus próprios objetivos no trabalho com a seleção, quais são as intenções, então, das fontes anônimas por trás desse específico texto? Estão claras, né? Há muita gente querendo desvincular a NBA do mundo Fiba. Resta saber se Wojnarowski escreve em nome de uma maioria, ou se o artigo serve justamente como instrumento de… recrutamento para a “causa”.

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

A lógica por trás do argumento de limitar a idade dos atletas nos torneios é um tanto arrogante – parte do pressuposto que só a NBA importa no tabuleiro do basquete. “Tirando a seleção americana, há mais talento e interesse dos torcedores de basquete em jogos das ligas de verão do que neste evento”, disse um gerente geral, sem se identificar.

Ligas de verão são os torneios que acontecem logo após o Draft da NBA, em julho, para que os recém-escolhidos comecem seu processo de adaptação, enquanto dúzias e dúzias de atletas, jovens ou não, que estão fora da liga, tentam uma vez mais impressionar cartolas e treinadores em busca de um tão sonhado contrato.  A maioria deles, porém, terá de se contentar com a D-League ou com uma viagem para a Europa. Não são competições oficiais: os clubes nem jogam com seus uniformes principais, deixando bem claro que uma coisa é uma coisa, e a outra, bem diferente.

A parte sobre o talento? Pode até ser. O único paralelo possível para os basqueteiros americanos, em termos de quantidade, são os boleiros brasileiros. E isso nem precisa ser discutido, até porque, num Mundial de basquete, há muito mais paixão envolvida do que nas peladas de Las Vegas ou Orlando. Sabe essa coisa de se importar com algo? Acreditem: ainda existe no esporte.

Dentro dos Estados Unidos, o público em geral só parece valorizar o torneio olímpico. Por outro lado, a reação dos jogadores é bem diferente. Kevin Durant estava eufórico ao conquistar o título em 2010, assim como James Harden neste ano. Só não vale falar em empolgação do Kenneth Faried, contra o qual chinês algum gostaria de jogar nem mesmo uma partida de tênis de mesa. Periga ele devorar a tábua toda. (Outra discussão seria o que a dominância desses caras significa para o mundo Fiba. Tira a graça? Força naturalmente o crescimento dos rivais? Mas essa fica para outra ocasião.)

Mesmo que toda a empolgação dos rapazes de Colangelo fossem fake, daí a falar sobre a falta de apelo global é ir muito além da linha do razoável. Pau Gasol e a Espanha não me pareceram indiferentes depois da eliminação contra a França. Boris Diaw pode ter cara e jeito de indiferente, mas estava bem animado com seus companheiros na hora de receber a medalha de bronze no sábado. Os sérvios vararam madrugada adentro após a vitória sobre os franceses na semifinal.  Claro que a NBA é a maior força financeira e técnica da modalidade, e de longe. Mas há vida aqui fora. Além do mais, se as competições fossem tão irrelevantes assim, por que Cuban clamaria publicamente para que seus comparsas dessem um golpe em Fiba/COI e assumissem eles a organização – e o faturamento – do torneio? Aí não teria problema, imaginem.

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

O que pega, mesmo, não é discussão sobre popularidade, e, sim, os interesses estratégicos de cada franquia e da liga como um todo. Para elas, dãr, o que conta é a temporada que vai de outubro a junho – para muitos.  Além de dinheiro o, que os dirigentes uerem é que seus jogadores (leia-ses “investimentos”) sejam preservados, que não se avariem – ou melhor, eles até podem se lesionar numa tabela massacrante de 82 jogos, mas aí não tem problema, já que estão a serviço de quem assina cheque.

O Spurs simplesmente fez uso de uma cláusula acordada com a Fiba para vetar a participação de Manu Ginóbili na Copa: se o atleta não estiver 100%, se houver o risco de ele agravar uma condição médica nas competições internacionais, as franquias podem proibi-los de jogar. Se o narigudo e genial argentino não foi liberado, Gregg Popovich ao mesmo tempo deve ter ficado satisfeito com o Mundial de Diaw, que sempre pode usar uma competição ou outra para controlar o peso (foram 25,4 minutos para ele em média em nove partidas). O Phoenix Suns não iria contrariar Goran Dragic a uma temporada de o astro esloveno virar um agente livre: se Dragic quer jogar o Mundial, que vá. Num time em que era a principal referência, ele ficou em quadra por apenas 26,1 minutos, de 40 possíveis. O que poucos divulgaram: houve acordo entre a franquia do Arizona e a federação, para estabelecer esse limite.

No Brasil, Leandrinho foi quem mais jogou: 24 minutos, seguido por Anderson Varejão, com 23,6. Os irmãos Gasol não passaram de 27. E por aí vamos. Os jogos são intensos, sim. Há toda uma fase de preparação, de treinos duros e amistosos. Mas quem aí acredita que todos esses atletas ficariam o mês de agosto e setembro de pernas para o ar? Caso o fizessem, o departamento médico e físico de cada time da NBA teria sérios problemas na última semana do mês, quando os elencos se reúnem para a realização (já!!!) dos campos de treinamento. Aí, meus amigos, Diaw não seria mais a exceção.

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

Quando vão para quadra, os atletas estão sujeitos, mesmo, a contusões e lesões. Algo como o que aconteceu com Paul George, porém, é um baita acidente. Uma tristeza, mas um acidente. Assim como o que ocorreu com Monta Ellis em 2008, quando o armador se arrebentou todo… andando de mobilete. Nas férias, depois de ter assinado um contrato milionário. Ainda assim,

“Não há dúvida sobre o impacto (da lesão) em nosso time”, afirmou em comunicado  o legendário Larry Bird, presidente do Pacers. “Mas mantemos nosso apoio à USA Basketball e acreditamos nas metas da NBA de dar uma exposição ao nosso jogo e nossos jogadores no mundo todo. Essa foi uma lesão extremamente infeliz que ocorreu num palco de grande visibilidade, mas que poderia ter acontecido em qualquer momento, em qualquer lugar.”

Na mesma noite de agosto, o comissário Adam Silver foi bem mais sucinto em seu pronunciamento. “Foi difícil assistir à lesão que Paul George sofreu nesta noite, enquanto representava seu país. Os pensamentos e as orações de todos nós da NBA estão com Paul e sua família”, disse. Resta saber e acompanhar se os pensamentos de Silver e de outros proprietários das franquias de lá também acompanham o das fontes de Wojnarowski nesse tópico e se eles vão realmente seguir em frente com essa ofensiva.


O acusado de entrega-entrega da vez é… a Austrália!
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Giancarlo Giampietro

A Austrália de Lemanis leva o troféu pragmatismo do torneio. Entregou e "ganhou"

A Austrália de Lemanis leva o troféu pragmatismo do torneio. Entregou e “ganhou”

Um torneio Fiba sem a acusação de que alguma seleção tenha feito marmelada e entregado um jogo não teria validade histórica nenhuma. Vocês se lembram do bafafá envolvendo os espanhóis em confronto com o Brasil, nas Olimpíadas de 2012, não? Sempre acontece dessas, mesmo que nunca se comprove. É quando um time dá uma boa espiada na tabela e acaba mexendo seus pauzinhos para pegar o caminho supostamente mais fácil. Na ocasião, os espanhóis, depois de terem sido surpreendidos pela Rússia, teriam feito uma forcinha para cair para a terceira posição do Grupo B, atrás também do Brasil, para escapar de um confronto com os Estados Unidos na semifinal.

Pois bem. Agora é a vez de a Austrália assumir essa bronca, e com sucesso. Nesta quinta-feira, última rodada da primeira fase da Copa do Mundo, os Boomers foram derrotados por Angola por 91 a 83, se posicionaram no terceiro lugar do Grupo D, abrindo mão de brigar pela ponta, e incentivaram um zum-zum-zum que só. Num torneio cheio de jogos parelhos com Filipinas, Senegal e até mesmo a Coreia do Sul, uma zebra dessas não seria de se estranhar tanto assim. O problema, meus amigos, é que hoje é possível ver todas as partidas do torneio nesta Internet. Tem repórter e dedo-duro para tudo que é lado, né? Então, se você vai adotar procedimentos, digamos, estranhos, a chance é de 100% de que alguém vá perceber. Como o irado Goran Dragic. O armador esloveno, cujo time está envolvido na disputa de posições com os australianos, disparou no Twitter:

(Traduzindo: o basquete é um esporte bonito, e esses australianos de uma figa não deveriam estar fazendo corpo mole contra Angola! A Fiba deveria tomar providências e mandar esses caras para as cucuias, isso se não for o caso de mandar para um lugar muito mais quente e um pouco mais abaixo!)

Mexer com os nervos do Goran Dragic desse jeito não é uma coisa legal, gente. Podem perguntar para o Leandrinho o quão simpático é o armador do Phoenix Suns. Eleito para o terceiro quinteto da NBA na temporada passada, na melhor fase da carreira, ele foi um dos poucos jogadores top da liga que se apresentou para bater uma bola no Mundial, e aprontam uma dessas com ele?

Mas, epa, pera lá! “Aprontam”. Dá para insinuar, mesmo, que a Austrália tenha brincado de entrega-entrega hoje?

É, dá. Infelizmente. Vamos a alguns fatos curiosos.

Começa que o ala Joe Ingles (11,8 pontos e 3,5 assistências) e o pivô Aron Baynes (17,2 pontos e 7 rebotes), suas principais figuras uma vez que a formiguinha Patty Mills se lesionou, foram poupados e nem pisaram em quadra. O armador Matthew Dellavedova e o pivô David Andersen, outros dois importantes atletas, também titulares, jogaram quatro minutos cada. Nenhum deles declarou sentir alguma lesão.

O caçulinha – e maior aposta do país – Dante Exum jogou por 31 minutos. Nas quatro partidas anteriores, havia somado 34 (8min30s por confronto). O ala Chris Goulding, que já chegou a marcar 50 pontos na liga australiana e só havia participado de um jogo até aqui, com dez minutos, também encarou os angolanos por 30 minutos. O pivô Nathan Jawai, afastado durante praticamente toda a temporada europeia por conta de dores de uma lesão na coluna, foi outro a jogar 30 minutos cravados, após 26 no total. E por aí vamos, né?

Exum leva a bola, Jawai tenta acompanhar

Exum leva a bola, Jawai tenta acompanhar

São três atletas de talento, que contribuiriam para muitas seleções. Goulding, por exemplo, já foi logo marcando 22 pontos para cima dos angolanos, provavelmente dando um susto – nos seus compatriotas. Mas ele simplesmente não parecia fazer mais parte dos planos do técnico Andrej Lemanis até esta quinta-feira. O mesmo treinador que havia deixado claro também, antes do tapinha inicial do torneio, que Exum ficaria no banco, sem muitas responsabilidades. Foi titular hoje e teve a bola em mãos por longas sequências. A Austrália tinha a chance de assumir a primeira colocação do grupo, e reagiria desta forma?

Ainda assim, os Boomers venceram o primeiro tempo por 42 a 29. Será… Será, então, que todas as contas estavam erradas? Será que, no fim, não haveria risco de eles terminarem com a segunda posição do Grupo D, entre Eslovênia e Lituânia, caindo desta forma na mesma chave dos Estados Unidos (pensando nas quartas de final)? Será que, oras, resolveram adotar a humildade no meio do confronto, pensando que de nada valia fazer planos pelas quartas, se não se concentrassem antes nas oitavas?

Muitas ponderações poderiam ter sido feitas nessa linha, mas não deve ter sido o caso. Na volta do intervalo, tomaram 62 pontos em 20 minutos, com direito a 34 no terceiro período e acabaram perdendo por 91 a 83. Pode parecer prepotência australiana, não? Quem seriam eles para pensar matematicamente, para fugir dos Estados Unidos, sem se importar com a Turquia (seu próximo rival) no meio do caminho? O que pega é o seguinte, porém: abaixo do Team USA e da Espanha,

Quem se consagrou nessa foi o jovem pivô Yanick Moreira, que somou o double-double mais volumoso do torneio até aqui, com 38 pontos e 15 rebotes. Malemolência do adversário  à parte, olho no angolano, hein? Ele vem sendo trabalhado pelo consagrado Larry Brown na South Methodist University e fez também bons jogos contra eslovenos e mexicanos. Só não dá para esperar que seja o futuro superpivô africano, como seus oponentes permitiram acontecer.

Yanick Moreira, nome para acompanhar na NCAA, com Larry Brown

Yanick Moreira, nome para acompanhar na NCAA, com Larry Brown

E por que interessaria aos Aussies a derrapada? Porque, segundo o pragmatismo deles, era mais fácil tentar cair para o terceiro lugar do que tentar o primeiro. Se a Lituânia derrotasse a Eslovênia e, no caso de um triunfo sobre a Angola, os australianos se meteriam num empate tríplice com os europeus, mas com provável desvantagem no saldo de cestas. Então decidiram trucar: assimilaram a segunda derrota e, depois, ficaram na torcida para os lituanos. Deu certo: os bálticos venceram por 67 a 64 e desbancaram os eslovenos da primeira posição com base justamente no confronto direto. Os ex-iugoslavos, com quatro triunfos e um revés, escorregaram para segundo. Caso passem pelas oitavas – em duelo com a República Dominicana –, terão os Estados Unidos pela frente nas quartas. E adeus briga por medalhas.

Agora imaginem Dragic espumando, com dificuldade para dormir até? No seu hotel, os Boomers, todavia, podem sorrir sarcasticamente. Certamente viram o duelo que fechou o grupo. Mas e vocês, rapaziada, como explicar aquele quarto período?”, poderão questionar. É que no quarto período, a Eslovênia marcou míseros dois pontos com seu armador, permitindo a virada. Uma baita entregada. Mas de outro tipo.


O 5º dia da Copa do Mundo: Agora afunilou
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram daquelas jornadas triplas da Copa do Mundo da FIFA, né? Um jogão atrás do outro, dominando sua agenda. Pois bem. Pegue esse agito todo e multiplique por quatro. O resultado é a Copa do Mundo da Fiba. É muito basquete num dia só: 12 partidas! Uma tabela de estatística vai atropelando a outra, os fatos vão se acumulando, e pode ficar difícil de dar conta de tudo. Vamos dar um passada, então, pela rodada. Para o básico, deixe de ser preguiçoso e acesse o site oficial da competição, né? Veja lá a situação dos grupos e os todos os resultados. Sobre a vitória brasileira sobre a Sérvia, clique aqui.

Luis Scola (22 pontos, 14 rebotes, 29 minutos) não se importunou com os atletas senegaleses. E agora?

Luis Scola (22 pontos, 14 rebotes, 29 minutos) não se importunou com os atletas senegaleses. E agora?

Quatro de cinco rodadas da fase de grupos já foram disputadas. Muitos sustos, poucas sacoladas, e sete vagas ainda abertas para que a chave do mata-mata seja preenchida. Foi um dia cheio de jogos, com todas as seleções novamente em quadra, resultando em 12 partidas, muitas delas simultâneas, para tornar qualquer resumo insuficiente. Fazemos aqui nosso melhor (humilde) esforço. Depois de ter chorado com os filipinos.

As contas
A essa altura do campeonato, todo mundo quer saber, mesmo, de quem vai enfrentar quem nas oitavas de final. Bom, conforme dito na croniqueta da vitória brasileira sobre a Sérvia, o time de Magnano assegurou a segunda posição do Grupo A, atrás da Espanha. O que quer dizer que vai enfrentar o terceiro do Grupo B. A partir daí, a segunda pergunta que – dá para sentir – muita gente está fazendo é: vai dar Argentina, ou não? Olha, pode acontecer, mas precisa de uma combinação tripla de resultados: que Luis Scola & Cial percam para a Grécia + vitória da Croácia sobre Porto Rico + vitória das Filipinas contra Senegal. Hoje, o adversário seria o time africano, mesmo. Os senegaleses assegurariam o terceiro lugar com uma vitória sobre os filipinos, ou se Porto Rico superar a Croácia.  Pode dar Croácia, se eles vencerem Porto Rico e… a) a Argentina vencer a Grécia e as Filipinas, Senegal ou b) a Grécia derrotar a Argentina e Senegal, as Filipinas. A Fiba mostra os cenários, mas o site Eurohoops vai além.

O jogo da rodada: Turquia 77 x 73 Finlândia
Com 15 segundos no relógio, o armador Petteri Koponen tinha dois lances livres para bater, com a chance de garantir mais uma vitória histórica – lideravam por 68 a 65, afinal. O líder do time escandinavo, porém, errou os dois arremessos. Tempo pedido. Na reposição de bola, a Finlândia decidiu pagar para ver o que os turcos podiam, sem fazer a falta e jogar um adversário para a linha de lance livre – talvez abalados pelas falhas de seu atleta. Aí que o ala Cenk Akyol, que já foi tido como uma grande promessa do basquete europeu, foi draftado pelo Atlanta Hawks e hoje é um medíocre ala do Galatasaray, acabou matando uma bomba de longa distância, aproveitando passe de Emir Preldzic, a quatro segundos do fim, forçando a prorrogação (Koponen ainda erraria uma bola de dois antes do estouro do cronômetro). No tempo extra, Preldzic passou de organizador a definidor, anotando cinco de seus 13 pontos, incluindo suas únicas duas cestas de quadra, para garantir a vitória. Ele ainda contribuiu com 8 rebotes e 5 assistências. Destaque também para os incríveis 22 pontos (com oito lances livres desperdiçados) de Omer Asik, que virou, de uma hora para a outra, uma força ofensiva no Mundial. O resultado ainda não garante a classificação turca, mas praticamente elimina os finlandeses: para eles avançarem ao mata-mata, precisam derrotar a Nova Zelândia (plausível) e torcer para que a Ucrânia vença… os EUA (atchim!).

Asik e Gonlum consolam Koponen. Coisa linda

Asik e Gönlum consolam Koponen. Coisa linda

A surpresa: Manimal!!!
Vamos lá: ninguém ganha esse apelido de bobeira. Ele é o Manimal simplesmente por fazer coisas que valham o nome. O pivô mexe com um jogo de diversas maneiras. Em sua linha estatística, deveriam constar também itens como: “bolas perdidas recuperadas sem ninguém perceber”, “atropelamentos sem falta”, “saltos”, “chicotadas com o cabelo”, entre outras. Isso tudo o torcedor do Denver Nuggets sabia. Agora, o alcance de sua influência era desconhecido até mesmo pelo público geral americano.  Após quatro jogos, ele aparece como o segundo cestinha do time, com média de 14,8 pontos por jogo e aproveitamento de 78,4% nas tentativas de cesta. Afe.. Por mais que tenha refinado seu arremesso, com os pés plantados ou em progressão, por mais energia que leve para a quadra, ninguém contava com isso. “Espere o inesperado”, ele mesmo resume, após liderar o ataque americano com 16 pontos em controlados 17 minutos, tendo errado três de seus 11 chutes. Credo.

Alguns números
1.000 – O confronto entre EUA e República Dominicana foi o milésimo na história dos Mundiais.

17 – Foram os reduzidos minutos de Goran Dragic contra a Angola nesta quarta, não importando que os africanos tenham feito um jogo parelho por mais de três quartos. Quando a parcial final começou, aliás, os eslovenos perdiam por um ponto (66 a 65). Ainda assim os eslovenos maneiraram no tempo de quadra de sua estrela, que marcou 14 pontos e cometeu 3 faltas. Nenhum jogador do time, na verdade, passou  da marca de 25 pontos (Dormen Lorbek, cestinha com 17 pontos).  Aí tem coisa? Não sei: não faria sentido entrega-entrega, uma vez que o líder do Grupo D escaparia de um duelo com Estados Unidos e Espanha nas semifinais.

14 – Contra a enchouriçada linha de frente de Senegal, Scola apanhou 14 rebotes, seu recorde nesta competição. Mesmo sem mal sair do chão, o pivô argentino é o quarto em média nesse fundamento, com 9,8 por jogo. Acima dele aparece justamente um adversário com quem lidou durante o dia: o pivô Gorgui Dieng (média de 10,8, a segunda), mas que não conseguiu se destacar contra os hermanos. Marcado por Nocioni no início, teve seu pior jogo, disparado: 11 pontos, 8 rebotes e 5 turnovers, com 4/11 nos arremessos. Dessa vez não deu para os supreendentes africanos, atropelados por 81 a 46.

2 – No duelo dos sacos de pancada do Grupo A, o Irã venceu o Egito por 88 a 73, com 23 pontos, 15 rebotes e 4 assistências de Hamed Haddadi. Foi apenas seu segundo triunfo em um Mundial, novamente contra uma seleção do norte africano. Em 2010, eles haviam batido a Tunísia, arquirrival egípcia, por 71 a 58.

O Irã de Haddadi ainda tem chances remotas no grupo do Brasil: precisam vencer a França e torcer para uma vitória da Sérvia contra a Espanha. Qual é a mais difícil de acontecer?

O Irã de Haddadi ainda tem chances remotas no grupo do Brasil: precisam vencer a França e torcer para uma vitória da Sérvia contra a Espanha. Qual é a mais difícil de acontecer? Se vencerem a França por mais de 8 pontos, não importaria se a Espanha derrotasse a Sérvia. Tenha fé!

0 – A Lituânia arrasou a Coreia do Sul: 79 a 49. E aí que você pode tentar matar a charada: “Dãr, chance zero de os sul-coreanos vencerem”. Sim, a resposta se sustenta. Mas o mais curioso e bizarro, mesmo, é que a vitória aconteceu sem nenhum lance livre convertido – ou batido!!! – pelos bálticos. Sim, todos os 79 pontos lituanos aconteceram em chutes com a bola em jogo (26 de dois pontos, 9 de três). Fair play dos coreanos, né? Donatas Motiejunas, pivô do Houston Rockets, foi o nome do jogo, com 18 pontos, 7 rebotes e 5 assistências em 29 minutos. Depois de sofrer com a forte marcação australiana na véspera, o armador Adas Juskevicius sorriu com 20 pontos em 21 minutos.

Andray Blatche: contagem de arremessos
67! – Em um jogo de matar ou morrer contra Porto Rico, Blatche ficou no meio do caminho. Não varou a casa dos 20 arremessos, mas ultrapassou os 10. Terminou com 16 – 10 de dois pontso e 6 de longa distância. Para quem viu a partida, porém, sabe que poderia ter sido mais. O pivô, na verdade, enxergou A Luz e passou a respeitar de verdade seus companheiros, fazendo a bola girar do jeito que dava (com um ou meia dúzia de turnovers no meio do caminho), em vez de encarar a marcação por vezes tripla dos porto-riquenhos. Ele terminou com duas assistências, mas buscou muito mais passes decisivos do que os estatísticos puderam computar. O basquete enobrece, uma coisa linda. Além do mais, ele ainda mantém uma distância confortável para a concorrência no quesito: Luis Scola é quem chega mais perto, com 57 tentativas de cesta.

O que o Giannis Antetokounmpo fez hoje?
Hoje foi dos dias em que o treinador grego não deu muita bola para o menino – com a vitória sobre a Croácia por 76 a 65, assegurou a primeira ou segunda posição do Grupo B, dependendo do confronto desta quinta com a Argentina. Giannis ficou em quadra por 12 minutos, como se fosse um quarto de NBA, anotando dois pontos na sua única investida próxima da cesta. Uma enterrada cortando por trás da defesa, que a Fiba gravou e exibe no vídeo abaixo. Coisa pouca para os padrões dele, né? Fora isso, o futuro craque do Bucks errou dois arremessos de três e pegou quatro rebotes. Amanhã, ele vai ter Andrés Nocioni pelo caminho. Cuidado!

Tuitando:

Nove das 16 vagas nas oitavas de final estão preenchidas.


A galera do Mondo Basquete tem publicado as estatísticas avançadas de cada jogo do Brasil no Mundial. Leia-se: os números que vão além dos números divulgados nas tabelas mais simples, medindo o impacto qualitativo – que nem sempre é reproduzido fielmente pelo quantitativo – do desempenho de cada jogador. Tiago Splitter foi destaque contra os sérvios.

 

Sem um miniclipe do Vine, não tem graça. Lá vai o companheiro de Bruno Caboclo e Lucas Bebê para a enterrada: DeRozan jogou 18 minutos contra os dominicanos e anotou 11 pontos (mas cometeu cinco desperdícios de bola).