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Arquivo : Frank Vogel

Quando os playoffs da NBA chacoalham algumas certezas
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Giancarlo Giampietro

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Dá para escrever sobre qualquer coisa sem ter muitas certezas? Nem que seja sobre basquete?

Pensem bem: é uma pergunta realmente difícil de encarar, e não apenas retórica. Ainda mais nestes tempos em que, a julgar pela Associação dos Comentaristas Online Desunidos, o mundo talvez nunca tenha vivido uma era de tantas absolutas convicções assim. Pelo menos não desde os tempos em que se convencionava que a Terra era plana e o centro do Universo. (E se for para falar de política brasileira contemporânea, pior ainda. Aí o que tenho para recomendar apenas é este artigo, hã, definitivo da Eliane Brum no El País, esse acontecimento surpreendente da mídia tupi-guarani.)

Se a galera toda está cheia de si, ou de saber, como você vai marcar sua opinião? Vai encarar o espírito Alborghetti e bater literalmente o pau na mesa? Deve ser a via mais fácil, mesmo, e a mais usual. Descobrir sua ira e celebridade interiores para babar e brilhar muito. Um outro caminho é assumir que você não sabe de nada. Você, no caso, valendo como “nós todos”. Que a gente deva fuçar, estudar, observar e esperar pela eventual contradição dos fatos com sua opinião. Entendendo que opinião pode variar desde um palpite, uma desconfiança até a tal da certeza irremediável.

Agora, para encurtar essa conversa de louco — como são todas as conversas de butiquim, afinal –, vamos associar o devaneio ao tem de mais tópicos agitados por aí, depois de 1) Dilma x Temer, 2) Audax e 3) Leicester: os playoffs da NBA, claro.

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A primeira certeza balançada foi a da candidatura do Golden State Warriors ao bicampeonato, mas por motivo fortuito, de azar: o escorregão de Steph Curry. De todo modo, no momento em que o Clippers também ruiu com lesões, a trilha do Warriors ficou menos congestionada, ou menos pedregosa. Além disso, Steve Kerr fala com otimismo sobre o retorno de Curry. É possível que aconteça já no próximo sábado, para o Jogo 3 (e a NBA obviamente deu uma forcinha para estender o calendário). Então pode ser que o susto já tenha passado, e nada como topar com o corroído Houston Rockets para apaziguar os ânimos. De resto nada do que aconteceu até agora tira de San Antonio e Cleveland o status de favoritos, ao lado dos atuais campeões.

Mas há outros pontos que podem muito bem ser questionados depois das primeiras semanas de mata-mata:

– Kemba Walker, darling universitário
Olha, dependendo do quanto você valoriza a experiência da NCAA, não há como alterar essa percepção. Se vai valorizar o suposto romantismo do basquete universitário, a pressão de render em tenra idade em rede nacional, ou se não vai conseguir relevar o baixo nível em geral da esvaziada competição em anos recentes, crendo que qualquer jogo de NBA vale mais.

Enfim, depois do que fez por Connecticut em 2011, seria bem difícil para Walker ser mais conhecido pelos seus feitos profissionais. Mas entre usar o título pelos Huskies como principal referência e descartá-lo como séria ameaça na NBA, tem um grande intervalo. Aqui, admito que pendia muito para este segundo grupo. Por mais desconcertante que possa ser seu gingado, estamos falando de um armador tinha dificuldade séria para chegar aos 40% nos arremessos de quadra. Tem limite para assimilar ineficiência. O que mudou este ano é que, por mais que os 42,7% não empolguem tanto, ele passou pela primeira vez da casa dos 34% nos chutes de fora (37,5%). Aí que os defensores, enfim, tinham de grudar nele no perímetro, em vez de recuar e pagar para ver. Isso ajuda demais na hora de bater para a cesta, algo fundamental para alguém que está com a taxa de uso mais alta dos playoffs até o momento (34% das posses do Hornets terminam com uma definição dele, em arremesso ou passe). Contra o Miami, teve dificuldade no início. Mas,  partir do momento em que reencontrou espaços, amparado por uma boa defesa, conseguiu colocar seu time no páreo.

– Jeremy Lin era uma mentira insana
Tão rápido como a NBA abraçou o armador naquelas semanas mágicas de 2012, muita gente também se prontificou a descartá-lo, como uma espécie de one hit wonder. Obviamente, Lin não virou o All-Star que muitos nova-iorquinos pirados cravavam. Mas deu provas em Charlotte que seu jogo físico e corajoso pode muito bem ajudar um time que se declama para os playoffs.

Dá para dizer que, depois das lesões de Kidd-Gilchrist, Batum e Jefferson, antes da chegada de Lee, o armador ajudou a salvar a temporada de uma equipe muito bem preparada e competitiva. Sob a orientação de Clifford, Lin nunca criou tão pouco para os companheiros. Também teve seu pior campeonato no aproveitamento de quadra, mas não pára de atacar, substituindo Kemba ou jogando ao seu lado em quartos períodos. Agredir as defesas parece ser a ordem. Juntos, os dois armadores já bateram 71 lances livres em seis partidas, sendo que 38 estão na conta do jogador de ascendência asiática. Em playoff, isso alivia bastante, ainda mais contra uma defesa que estava visivelmente preocupada em marcar os chutes de três. Ao que parece, deu resultado a reclamação pública sobre arbitragens menos criteriosas quando ele era o atacante. No Jogo 6, ele não foi bem, mas em geral sua contribuição é bastante positiva.

– Whiteside e os grandalhões que não sabem converter lances livres
O pivô do Miami Heat não é nenhum Mark Price. Mas, gente, faz muita diferente quando uma força da natureza como Whiteside beira a marca dos 60% parado diante da linha, ainda mais quando comparado com os indesculpáveis 35,5% de Andre Drummond. Com um rendimento desses, não há como SVG manter seu gigante em quadra num final de jogo equilibrado, ou mesmo quando a vantagem do Detroit é grande e os adversários começam a descer o porrete. Whiteside saltou de 50% pela temporada passada para 65% nesta. Pela série contra o Hornets, vem com 59,3%. Se ele só fica 29,3 minutos em quadra, é porque tem se carregado de faltas, justamente pelos ataques constantes de Kemba e Lin.

Esquisito assim, mas está funcionando

Esquisito assim, mas está funcionando

– Austin, filho do homem
Bom, no ano passado, o jogador já havia vivido bons momentos. O conjunto da obra ainda não justifica exatamente a fama que tinha como colegial, visto como um dos melhores prospectos de sua geração. Ainda assim, sua exibição no derradeiro Jogo 6 em Portland foi mais um indício de que há espaço para ele na liga. O mistão do Clippers deu uma canseira no jovem Blazers, liderado pelo ímpeto do Rivers filho e de Jamal Crawford. Mais que somar 21 pontos e 8 assistências em 31 minutos, impressiona mais a imagem. Quando voltou para a quadra com o olho esquerdo cerrado feito boxer que topou com Mike Tyson no auge e seguiu atacando.

– Myles Turner: novatos não têm vez em playoffs.
(Bônus: o Indiana queria aderir ao small ball)
Aos 19 anos, Turner ainda está aprendendo exatamente como contestar bandejas sem se pendurar em faltas e sem perder o posicionamento adequado à frente do aro. Também está com o corpo claramente em formação e ainda se movimenta com uma postura um tanto estranha.

Com um treinador de orientação mais conservadora, é provável que ele não fosse lançado em uma série tão equilibrada e tensa como esta contra o Toronto Raptors. Mas Frank Vogel, durante a temporada já havia visto bastante: não só não podia barrar seu jovem pivô como afirmou que o Pacers iria até onde ele pudesse levá-lo. Não, ele não é mais jogador que Paul George e George Hill hoje. Mas virou o tal do “x-factor” devido ao impacto que causa em seus melhores dias, tanto na proteção de cesta (ajudando um combalido Ian Mahinmi) como com seu sutil toque perto da cesta e nos chutes elevados, rápidos e impressionantes de média distância. O talento e o desempenho precoce de Turner, aliás, abreviaram a estratégia de Larry Bird e Vogel de usar uma formação mais baixa nesta campanha. O time, na real, ficou com a linha de frente ainda mais alta, mesmo após a saída de Hibbert.

– Vince Carter: amarelão; Matt Barnes: só bravata, encrenqueiro
Sim, já faz tempo que Carter saiu de Toronto pela porta dos fundos, com o filme queimado, especialmente por sua viagem de graduação para a Carolina do Norte em dia de Jogo 7 contra Iverson e o Sixers. As passagens frustradas por Jersey (acompanhando Kidd) e Orlando (com Howard) reforçaram a imagem de que ele seria mais um desses astros desinteressados. Não se atrevam a repetir isso à frente de Dave Joerger.

Carter e Barnes foram as forças por trás do Esquadrão Suicida do Grizzlies, que, francamente, não era para ter chegado aos playoffs de modo algum. Foi o nome de ambos que o treinador citou em uma emocionante coletiva em Memphis, depois de varrida contra o Spurs. Se não pela questão técnica — mesmo que tenham feito o possível depois de o time perder seus dois principais criadores em Gasol e Conley –, mas essencialmente pela liderança durante período em que o time poderia ter basicamente virado um caótico Sacramento Kings.

– Continuidade é tudo na NBA
O gerente geral do Portland Trail Blazers e o técnico Terry Stotts podem erguer o braço para se gabar. Perderam quatro titulares supeevalorizados e ainda abocanharam o quinto lugar do Oeste. Está certo que o Rockets entrou em colapso. Que o Grizzlies e o Pelicans se arrebentaram. Que o Mavs não tinha pernas. E daí?  Utah, Sacramento e Phoenix não souberam aproveitar nada disso, enquanto o Blazers curtia. A comparação com o Utah é interessante. A equipe de Quin Snyder inseriu dois calouros em sua rotação (Raulzinho e Trey Lyles) e, no meio do caminho, foi atrás de Shelvin Mack. Ok. Mas Gordon Hayward, Derrick Favors, Rudy Gobert, Rodney Hood, Joe Ingles, Trey Burke, Trevor Booker e Alec Burks eram os mesmos. Lesões e mudanças na rotação à parte, o Utah largava com vantagem. Foi atropelado no caminho.

Cada série pode ter apresentado suas surpresas (ou quase isso), dependendo do ponto de vista.

Agora chegamos às semifinais de conferência. Depois do massacre que foi o Jogo 1, a cabeça quer pensar que nem vai ter série: 124 a 92? Uau. A última vez que um time conseguiu reverter um prejuízo desse num mata-mata? O Los Angeles Lakers sobre o Boston Celtics na final de 1985, depois de perder fora de casa por 148 a 114. Faz tempo. Da minha parte, não chegou a ser tão assustadora assim assim, considerando o que havíamos acabado de assistir pela primeira rodada. Claro que Durant e Westbrook não vão arremessar sempre tão mal assim (11-34). É de se imaginar que, sozinho, LaMarcus não vá superar a dupla também daqui para a frente (38 a 30), ou que Ibaka (19) será o cestinha da equipe? Mas, se OKC teve suas dificuldades contra Dallas, que se defendia no perímetro com Felton, Deron, Barea e Harris acompanhando de Matthews ou o do novato Anderson, o que aconteceria contra um time dez vezes melhor, com a dupla Kawhi e Green? Billy Donovan e seus astros têm um problemaço para resolver, cheios de incertezas.

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Os melhores da (metade) da temporada: Conferência Leste
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Giancarlo Giampietro

Escrever uma artigo sobre prêmios de uma temporada qualquer da NBA pode ser um exercício de futilidade, certo? Por outro lado, dá ao blog, inativo por tanto tempo, a chance de recuperar o tempo perdido e abordar um ou outro protagonista da temporada. Então vamos roubar um pouco e dividir essa avaliação toda em duas listas, para cada conferência. Desta forma, ganhamos espaço para falar mais. E, claro, deixa a vida mais fácil na hora de fazer as escolhas:

Melhor jogador: LeBron James

LeBron não está jogando tudo o que pode. Mas ainda reina no Leste

LeBron não está jogando tudo o que pode. Mas ainda reina no Leste

Os acontecimentos recentes de Cleveland quase sugerem que essa escolha aqui deveria ser invalidada. Mas, em termos de bola, por mais que ele tenha relaxado em diversos jogos, desencanando da defesa, em termos de produtividade, ainda não há ninguém no Leste que possa com o dono do Cavaliers, mesmo que ele não esteja sendo tão efetivo como nos tempos de Miami Heat, claramente o auge de sua carreira. Também não importa ainda que ele tenha amassado o aro em suas tentativas de longa distância em novembro e dezembro – em janeiro, o aproveitamento já subiu para 37,3%, que é o mínimo que ele precisa fazer para pressionar as defesas. Com ele em quadra, o Cavs vence seus adversários por 11,3 pontos a cada 100 posses de bola. Sem ele, a equipe tem saldo negativo de 7,7 pontos. Dá um saldo de 19,0 a seu favor, o que é uma diferença absurda para uma equipe que conta com a folha salarial mais cara, e de longe, da liga.
Outros candidatos? Hã… ninguém. Talvez fosse legal falar aqui sobre Paul Millsap, subestimado a carreira toda até receber uma proposta generosa do Orlando Magic durante as férias e que segue hiperprodutivo, fazendo de tudo um pouco para elevar o Atlanta. Paul George começou a temporada numa arrancada sensacional, mas perdeu rendimento despencar de dezembro para cá, chutando abaixo dos 40% e, hoje, se fosse para votar, ficaria atrás também de Kyle Lowry, para mim.

Melhor técnico: Frank Vogel

Vogel tem Paul George e não muito mais que isso

Vogel tem Paul George e não muito mais que isso

O Leste oferece várias opções. David Blatt vai dirigir a seleção do Leste no All-Star e vem fazendo um bom trabalho, mas com o melhor elenco da conferência, de longe. Acho que chegou a hora de Vogel ser aclamado. Que ele tenha perdido Roy Hibbert e David West e mantido o time entre as defesas mais eficientes da liga, é um feito, e tanto. Estão atrás apenas de San Antonio e  praticamente num empate técnico com o Golden State e Boston em segundo, com a ajuda de Ian Mahinmi e Lavoy Allen, que ainda compõem uma dupla de pivôs contra adversários de garrafão mais pesado, pedindo licença ao conceito de small ball que Larry Bird queria por em prática.

O sistema ofensivo, porém, ainda está, de certo modo, emperrado, sendo o 19º mais eficiente da liga – o que, ainda assim, já é um avanço em relação aos últimos dois campeonatos, em que falhou em ficar até mesmo entre os 20 primeiros. Ajudaria se Monta Ellis pudesse jogar um pouquinho mais. Sua contratação foi um fiasco até o momento. Com médias de 43,1% nos arremessos e 27,1% de três, 2,7 turnovers e apenas 2,5 lances livres por jogo, ele faz sua pior temporada desde o ano de novato. O Pacers precisa de uma evolução nesse sentido para se distanciar da concorrência na briga por uma vaga nos playoffs, com a chance de ter mando de quadra – seu saldo de 3,1 pontos por jogo, o terceiro melhor da conferência, abaixo de Cavs e Raptors, já é promissor.

Basicamente, então: Vogel viu muitas trocas no elenco, está mudando o modo como time joga, passando de 19º para o 5º time que mais corre na NBA (!!!) e não perdeu muito em pegada defensiva. Tem um elenco limitado e está tirando muito dele.

Outros candidatos? Stan Van Gundy (repetindo a fórmula de sucesso em Orlando), Dwane Casey (o Raptors deu mais um salto neste ano, mesmo que DeMarre Carroll ainda não tenha contribuído tanto), Scott Skiles (mais aqui) e Steve Clifford (sabotado pela lesão de três titulares).

Melhor defensor: Hassan Whiteside

Assusta

Assusta

Olha… Para quem não estiver tão por dentro assim do que prega a intelligentsia do NBA Twitter, há uma campanha expansiva contra o pivô-surpresa do Miami Heat, alegando basicamente que ele é uma fraude. Campanha que foi reforçada, de maneira nada sutil, pelo ala Evan Fournier, do Orlando Magic. (Segue um resumo: dia desses, Rudy Gobert basicamente manifestou sua frustração sobre a ideia de que os números dizem tudo sobre um jogador de basquete, que não é bem assim e de que há jogadores que caçam estatísticas em quadra. Aí o Nikola Vucevic o interpelou e pediu para que ele citasse nomes, ué. E aí Fournier, amigo de Gobert desde as competições de base e parceiro de Vucevic na Flórida, se intrometeu e achou que estava sendo sutil ao escrever: “Blancoté? Risos”, que, em francês, se tratava de um diretaço em relação ao pivô do Heat. É o tipo de zum-zum-zum que faz da NBA esse universo incrível.)

O principal argumento dessa turma toda é o de que, por mais tocos e rebotes que Whiteside compute, o Miami seria um time pior com ele em quadra. Será? Friamente, existe um número que mostra que o Miami, com ele em quadra, sofre 3,5 pontos a menos por 100 posses de bola quando o pirulão está no banco.  Agora, o que essa conta não indica é que Whiteside está quase sempre em quadra acompanhado por um certo Dwyane Wade (seu companheiro em oito dos dez quintetos que ele já compôs no ano). O astro ainda carrega o piano ofensivamente – mesmo que alienando Goran Dragic no processo –, mas que está hoje entre os marcadores mais ineficazes da liga. Não estou dizendo que Wade afunda o Miami por conta própria. Só não parece justo que tratem Whiteside, líder em tocos na temporada e com uma bagagem de infantilidade, exatamente desta forma.

O índice de “Real Plus-Minus” do ESPN.com,  o coloca como o jogador de número 375, com saldo de -2,05.  O que diabos é o RPM? É uma ferramenta analítica, desenvolvida por Jeremias Engelmann e Steve Ilardi, que faz uma estimativa sobre o impacto de um jogador no desempenho da equipe e é medido em saldo de pontos por 100 posses, levando em conta quem está em quadra tanto ao seu lado como do outro. Não são números exatos, mas servem como um bom indício. Nomes como Tim Duncan, Draymond Green, Andrew Bogut, Kawhi Leonard e Kevin Garnett aparecem entre os dez primeiros colocados nesta temporada, para constar.

Nesta mesma medição, Whiteside está em em 10º, e creio que seus 4,8 tocos por 36 minutos ajudem para tanto – intimidam e o colocam entre os melhores da liga de quase todas as medições de proteção de aro. Em sua conferência, Ian Mahinmi (5º), Andre Drummond (8º) e Pau Gasol (9º) estão acima. Mahinmi é uma grata surpresa pelo Indiana, mas fica ainda menos minutos em quadra (23,8). Em Miami, Whiteside joga por 28,9. O que, para mim, é um mistério. Estaria Spoelstra, com um cochicho de Riley, procurando controlar a produção do pivô que vai virar agente livre? Talvez seja muita conspiração aqui. Talvez ele seja muito indisciplinado, mesmo, e, ao contrário do que acontece com Stan Van Gundy e Drummond em Detroit, Spoelstra acredita ter alternativas para tornar seu time mais produtivo sem um pivô de números . Só é difícil entender, já que Amar’e Stoudemire, Chris Andersen e Udonis Haslem não são mais solução para nada e Josh McRoberts está quebrado. Com Justise Winslow e Gerald Green, as formações de smallball são bem-vindas. Ao redor de um pivô tão atlético, têm potencial para render ainda mais.
Outros candidatos? O próprio Winslow, Nerlens Noel e Bismack Biyombo, que está jogando muito em Toronto.

Melhor novato: Kristaps Porzingis

Nasce uma estrela

Nasce uma estrela

O letão mais popular em Nova York. O letão mais popular no mundo, na verdade, com todo o respeito a Ernests Gulbis. A quarta camisa mais vendida da NBA. Um rapaz carismático e que não fica só nisso. Proporciona os highlights e também substância ao Knicks, dando um refresco para Carmelo Anthony e oferecendo esperança de verdade a sua torcida. O que mais impressiona no pivô é sua agilidade, coordenação e talento em geral para alguém tão comprido, que contribui dos dois lados da quadra. Por outro lado, é de se admirar a maturidade e graça com as quais vem lidando com tanto burburinho e atenção que vem recebendo. Que história. Qualquer scout que tenha cravado para seu gerente geral que Porzingis seria uma estrela na liga deve estar se sentindo muito bem agora.

O garotinho aqui chorou muito quando ouviu o nome de Porzingis pela primeira vez:

Mas agora esse mesmo pirralho deve saber até este rap de cor:


Outros candidatos? Jahlil Okafor, um jogador de fundamentos ofensivos de fato impressionantes para alguém de sua idade e que, enfim, vem conseguindo evitar as páginas do TMZ, e Winslow, que é a antítese de seu companheiro de Duke: faz muito na defesa, mas ainda tem um longo caminho pela frente para se tornar alguém respeitado no ataque. Não dá tempo de Myles Turner entrar nesse papo.

Jogador que mais evoluiu: esse faz mais sentido esperarmos até o final da temporada, né? Mahinmi (ele de novo!), Kemba Walker, os bockers Derrick Williams e Lance Thomas e Kent Bazemore despontam como candidatos.

Melhor executivo: a mesma coisa. Masai Ujiri, Stan Van Gundy e Phil Jackson poderiam levantar a mão por ora.

All-Star: Kyle Lowry, Jimmy Butler, Paul George, LeBron James e Chris Bosh. Mais… John Wall, Kemba Walker, DeMar DeRozan, Jae Crowder, Carmelo Anthony, Pau Gasol e Andre Drummond.
(Aos fãs de Isaiah Thomas, Brook Lopez, Al Horford, Kevin Love: desculpe)


Quais perguntas podem separar os clubes da NBA de suas metas? Parte II
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Giancarlo Giampietro

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É regra geral: todo gerente geral de um clube da NBA entra em uma nova temporada cheio de otimismo, com a expectativa de ver os planos das férias colocados em prática, se transformando em vitórias, ginásio cheio, vendas lá no alto e o tapinha nas costas do chefão. Quer dizer: todos, menos Sam Hinkie e o Philadelphia 76ers.

Acontece que não há trabalhos perfeitos, não existe ciência exata na hora de compor os elencos, de imaginar e sugerir uma tática e executá-la. Há casos de jogadores que não vão se entender como se imaginava. Lesões podem atrapalhar tudo logo no primeiro mês de campanha. Um técnico pode ter perdido o controle do vestiário. A concorrência talvez esteja mais forte. Sorte e azar estão sempre rondando por aí. Os dirigentes sabem disso – até a hora de confrontar os problemas mais graves, porém, não custa sonhar que tudo esteja bem encaminhado.

Entre o sucesso e o fracasso numa temporada, muitas questões precisam ser respondidas, como numa lista de afazeres. Não dá para colocar todas elas aqui, até porque há tópicos que vão aparecer no meio do caminho e que não estavam previstas, interna ou externamente. Com um belo atraso, o blog vai retomar sua série de, hã, ‘prévias’ (na falta de um termo mais atualizado) sobre cada franquia e tentar se aprofundar nessa lista. Para compensar o tempo perdido, porém, seguem as indagações que julgo mais importantes para cada time, ponderando quais suas ambições mais realistas e o que pode separá-los de suas metas.

Coferência Leste, lá vamos nós:

(E clique aqui para ler sobre o Oeste)

CENTRAL

Hoiberg dá liberdade ao Bulls. Como os jogadores vão aproveitá-la?

Hoiberg dá liberdade ao Bulls. Como os jogadores vão aproveitá-la?

– Bulls: vamos descobrir qual o impacto de se proporcionar liberdade, criatividade e poder de decisão para um elenco que venceu muitas partidas (e suou e se arrebentou) sob o pulso firme de Thibs. Essa, para mim, é a questão mais interessante, do ponto de vista de cultura esportiva, de toda a temporada. É uma questão até mesmo humanista. (Sim, gente, é nesse momento que você pode entrar com a referência básica na linha de “o esporte enquanto reflexo/espelho/laboratório da sociedade.)

– Bucks: é o time mais enigmático do Leste, ao meu ver. Essa molecada pode tanto avançar consistentemente rumo ao topo da conferência como pode engasgar com seu ritmo frenético, fazendo uma pausa para uma avaliação mais cuidadosa de quem é quem no elenco para saber exatamente o que eles têm no elenco. É o tipo de questão que qualquer jovem equipe tem de enfrentar depois de um primeiro ano com sucesso acima do esperado.

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– Cavaliers: se o time chegar pelo menos com 80% de sua capacidade técnica aos playoffs, acho que não vai ter desculpa: será o suficiente para brigar de igual para igual com qualquer rival, mesmo aquele que venha do Oeste. E aí vamos saber se o plano mirabolante de LeBron James de assumir o controle de uma franquia ainda como jogador pode vingar. Dependendo dos resultados, pode ser outro marco histórico da indústria esportiva (mais e mais astros exigindo poder pleno no futuro), ou o supercraque terá muito o que explicar sem apontar para uma ou outra falha de técnicos, dirigentes e companheiros que deveriam ter autonomia, mas, hoje, são basicamente seus subordinados

O remodelado Pacers vai pedir mais de Paul George. Mas e o que está ao seu redor?

O remodelado Pacers vai pedir mais de Paul George. Mas e o que está ao seu redor?

Pacers: Larry Bird arrefeceu e decidiu mudar o curso do time em 180º, e Paul George não sabe exatamente como reagir e o que fazer com as novas instruções. Qualquer alteração drástica a esse ponto pede paciência para se avaliar. Em Chicago, Hoiberg ao menos tem as peças para fazer o jogo aberto e bonito. Já Frank Vogel vai ter de se virar com Monta Ellis, Rodney Stuckey e George Hill. Esse trio pode conviver em paz, ainda mais sabendo que a bola vai ficar mais com seu astro? Esses caras vão atacar de modo integrado ou vão adotar o sistema de “uma-vez-de-cada-um”? Com tantos possíveis tijolos forçados atirados rumo ao aro, o duvidoso novo conjunto de pivôs vai estar preparado para apanhar os rebotes? Vogel será deveras exigido.

Pistons: de certa forma, está tudo aqui, finalmente. SVG mexeu, remexeu e conseguiu formar um time com peças bem similares ao que tinha em Orlando. Andre Drummond pode não ser um Dwight Howard defensivamente, mas, no ataque, vai atrair ajuda de marcação sem parar, liberando a quadra para os alas chutadores e para os ataques de Reggie Jackson. Só falta aqui um segundo playmaker como era Turkoglu. Então… será que agora vai!?!? Será que o Pistons voltará a ser um time digno de NBA (o que, no Leste, equivale basicamente a time de playoff)?

NORDESTE

– Celtics: Ainge está tentando, cavucando e, aos poucos, encontrando. Um Jae Crowder aqui, outro Amir Johnson ali, e Brad Stevens vai ganhando peças. Será que eles têm pique e fôlego para desafiar Toronto no topo da divisão?

Greg Monroe não quis saber de Phil Jackson. Entra Robin Lopez

Greg Monroe não quis saber de Phil Jackson. Entra Robin Lopez

– Knicks: muita gente, mas muita gente mesmo simplesmente acredita que Phil Jackson foi um tremendo de um sortudo em sua carreira de técnico por ter em mãos grandes lendas do basquete. O que é ridículo, uma vez que nenhum desses craques havia ganhado um título antes de conhecê-lo. Bem, de qualquer forma, agora como presidente do Knicks, o Mestre Zen ainda não conseguiu uma superestrela para fazer companhia a Carmelo. Então, para que o Knicks volte a ser competitivo, o que vai pesar é sua visão geral e seu olho de scout, confiando que os alvos alternativos que escolheu são os corretos. Vai dar triângulo? Ou melhor, vai dar jogo?

– Nets: sério… qual é a graça aqui? O que tem de divertido nesse time, agora que Brook Lopez nem visita mais a Comic Con!? Além de uma eventual troca pelo cada vez mais lento Joe Johnson, da estabilidade física de seu talentoso pivô e da histeria de Lionel Hollins, não sei bem o que pode gerar interesse em torno da franquia. O que é alarmante, considerando que Billy King vai ceder uma escolha alta de Draft ao Celtics antes de tentar seduzir algum agente livre com os cacos de um projeto estilhaçado.

DeMarre Carroll chega ao Raptors com propósitos claros

DeMarre Carroll chega ao Raptors com propósitos claros

– Raptors: depois da tremenda decepção dos últimos playoffs, Masai Ujiri tinha uma chance de implodir tudo e resgatar a ideia de repaginação do clube, abortada em meio a uma inesperada guinada. Ou, poderia fazer uma análise fria do que faltava ao seu time, acreditando que, com essa base, é possível, sim, chegar ao título do Leste. Ao dar US$ 15 milhões a DeMarre Carroll, fica claro o caminho que preferiu seguir, de modo que não há muitas dúvidas aqui. É preciso saber se, com um novo estafe e reforços de mentalidade cascuda, Dwane Casey vai conseguir montar uma defesa forte e sustentável.

– 76ers: entre os que pregam a frieza de cálculos e experimentos e a necessidade natural de se querer competir. qual o limite? Pelo bem de Brett Brown, qual o limite para se estender esse dilema? Não há a menor possibilidade de prolongar este Processo por mais um ano, certo? CERTO!?

SUDESTE

Não é exatamente para cravar que Splitter foi contratado por Budenholzer

Não é exatamente para cravar que Splitter foi contratado por Budenholzer

– Hawks: se até o Bulls e o Pacers quiseram ficar mais leves e velozes, será que o Hawks já estava light demais? Entra em cena Tiago Splitter, com seu impacto nos pormenores do jogo e da defesa, para fazer uma rotação, em teoria, perfeita com Millsap e Horford. Só é preciso checar se Bazemore, Sefolosha e Holiday conseguem segurar as pontas no perímetro para que o catarinense não seja exigido demais para compactar a defesa.

– Hornets: a lesão de Kidd-Gilchrist dói demais, a concorrência parece mais ajeitada, mas o Leste ainda é o pálido Leste, e algum clube precisa se dar bem por aqui. Caberá a Steve Clifford chegar a um total que valha mais que a soma de suas peças, remediando a defesa e confiando que o sofrível ataque será animado pela chegada de Batum, Lin, Kaminsky e, quiçá, Jeremy Lamb, em sua última chamada.

– Heat: não vejo meio termo aqui: ou esse time vai arrebentar, ou vai se arrebentar. Qual alternativa será a correta, então? a) todos jogam (Wade e Bosh especialmente), Dragic e Wade dialogam, Whiteside é de verdade, e Spoelstra terá condição de preparar um bom menu. Ou… b) com um monte de peças de durabilidade suspeita, as lesões não cessam, o time não consegue ganhar um conjunto, e, em tempos de dificuldade, os egos tomam conta da bola?

O Orlando precisa de Hezonja. Mas, para jogar com Skiles, ele precisa defender

O Orlando precisa de Hezonja. Mas, para jogar com Skiles, ele precisa defender

– Magic: os jovens de cabeça boa agora têm um mentor com histórico positivo nos primeiros anos de trabalho, podendo tirar o máximo de sua ética de trabalho. Ainda assim, sabe do que esse time vai precisar, se quiser entrar na briga pelos playoffs? Justamente de seu jogador com temperamento mais volátil. Sim, Mario Hezonja! O jovem croata será um desafio para Skiles durante a jornada, uma vez que, suponho, Fournier não será o bastante para desafogar o ataque.

– Wizards: tudo parece muito bem encaminhado aqui. Wittman está decidido a aplicar na temporada regular o ritmo acelerado bem-sucedido de algumas semanas de playoffs. Quando o Wizards voltar ao mata-mata, só não terá aquele tal de Paul Pierce para chamar a bronca. E aí será a vez de John Wall e Bradley Beal darem mais um passo, na tentativa de conquistar Kevin Durant.


Quais perguntas podem separar os clubes da NBA de suas metas? Parte I
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Giancarlo Giampietro

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É regra geral: todo gerente geral de um clube da NBA entra em uma nova temporada cheio de otimismo, com a expectativa de ver os planos das férias colocados em prática, se transformando em vitórias, ginásio cheio, vendas lá no alto e o tapinha nas costas do chefão. Quer dizer: todos, menos Sam Hinkie e o Philadelphia 76ers.

Acontece que não há trabalhos perfeitos, não existe ciência exata na hora de compor os elencos, de imaginar e sugerir uma tática e executá-la. Há casos de jogadores que não vão se entender como se imaginava. Lesões podem atrapalhar tudo logo no primeiro mês de campanha. Um técnico pode ter perdido o controle do vestiário. A concorrência talvez esteja mais forte. Sorte e azar estão sempre rondando por aí. Os dirigentes sabem disso – até a hora de confrontar os problemas mais graves, porém, não custa sonhar que tudo esteja bem encaminhado.

Entre o sucesso e o fracasso numa temporada, muitas questões precisam ser respondidas, como numa lista de afazeres. Não dá para colocar todas elas aqui, até porque há tópicos que vão aparecer no meio do caminho e que não estavam previstas, interna ou externamente. Com um belo atraso, o blog vai retomar sua série de, hã, ‘prévias’ (na falta de um termo mais atualizado) sobre cada franquia e tentar se aprofundar nessa lista. Para compensar o tempo perdido, porém, seguem as indagações que julgo mais importantes para cada time, ponderando quais suas ambições mais realistas e o que pode separá-los de suas metas.

Coferência Oeste, lá vamos nós:

PACIFICO

Lance Stephenson é um dos talentos cheios de personalidade que Doc vai monitorar

Lance Stephenson é um dos talentos cheios de personalidade que Doc terá de monitorar

Clippers: no papel, o banco melhorou consideravelmente, e foi algo que faltou no ano passado. Do ponto de vista técnico, não se discute. O que pega é saber se eles poderão se transformar num conjunto que possa dar minutos significativos de descanso aos principais caras do time. Nesse sentido, a balança aqui se inverte: caberá ao técnico Doc honrar as contratações do executivo  Rivers e comprovar que a segunda unidade melhorou, sim, o suficiente para enfim ajudar a dupla CP3-Griffin a conseguir os resultados que ainda não chegaram (leia-se: vencer mais que duas rodadas de playoff). Doc Rivers é reconhecido como um mago de vestiário, e suas habilidades devem ser testadas diante de tantas *personalidades* reunidas.

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Kings: em meio ao caos geral da franquia, a cordialidade e malandragem de Vlade Divac ou o estilo oposto e confrontativo de George Karl pode amainar e dar um jeito nas coisas? Talento aqui não se discute, e há espaço para crescer no Oeste, independentemente de o Rajon Rondo de hoje ser a figura deprimente de Dallas ou a maravilha de Boston.

O que importa, mesmo, para o Lakers, a partir de agora, é o desenvolvimento de D'Angelo Russell e não os números de Kobe

O que importa para o Lakers, a partir de agora, é o desenvolvimento de D’Angelo Russell e não os números de Kobe

Lakers: pode Kobe ser uma figura grandiosa, quando não são suas glórias, números e façanhas o que mais importa? Isto é, pode o Laker mais adorado de todos os tempos, aos 37 anos, 20 de NBA, e após uma série de graves lesões, entender suas limitações, ser paciente e dar suporte no desenvolvimento das jovens apostas do elenco? Para o clube, pensando em resultados, a era Bryant já é passado. Se o astro, porém, relutar, já está comprovado que Byron Scott não vai comprar briga e fazer o que precisa ser feito para frear uma poderosa locomotiva que avança rapidamente em direção o precipício. (Há quem diga, na verdade, que ela já saltou sobre o trilho rompido e, neste exato momento, está  poucos segundos de se espatifar de vez lá em baixo. Favor imaginar aqui aquela cena de blockbuster hollywoodiano, com a câmera em slow, e o trem em chamas sendo engolido pelo breu de um penhasco.)

Markieff Morris ainda não sabe o que é jogar um playoff

Markieff Morris ainda não sabe o que é jogar um playoff em meio ao hiato do Suns

Suns: dois times dos playoffs do ano passado estão estão bem mais fracos e, dependendo da enfermaria de New Orleans, a lista sobe para três. Se não for este o momento para Jeff Hornacek enfim chegar com sua equipe aos mata-matas, quando vai ser? Especialmente com Tyson Chandler ainda em forma para tentar fortalecer a defesa. É um ano de presão para o técnico e o gerente geral Ryan McDonough.

– Warriors: são o alvo, não mais a novidade. Internamente, não há dúvidas sobre a motivação em busca do bi. Mas em que ponto o time ainda pode ainda crescer para o momento em que, supostamente, terão de enfrentar um concorrente de peso e 100% saudável (em tese, Clippers e Spurs chegam fortalecidos para um eventual embate)? Com Kerr afastado, esse crescimento pode ser simplesmente natural, orgânico, fruto de uma estrutura e cultura plenamente estabelecidas? Ou eles nem precisam crescer? (Olha, na real, é difícil encontrar qualquer preocupação para além da saúde de seu adorado e aclamado técnico. Esses caras são demais, e o início de campanha de Steph Curry provoca uma comoção geral na liga. No mata-mata passado, eles já enfrentaram algumas situações críticas e souberam contorná-las. Não parece haver qualquer tipo de crise numa temporada regular que possa desestabilizá-los.)

NOROESTE

Blazers: há um núcleo jovem aqui para se trabalhar em cima, mas vai levar quanto tempo, num Oeste duríssimo, para o Portland voltar para a briga? O caso do Phoenix Suns serve como exemplo de como pode ser difícil reconstruir o clube nesta conferência, sem que se apele a extremos. Tal como no Arizona há dois anos, o Blazers tem dois jovens armadores fogosos para conduzir a reformulação e uma série de atletas promissores, mas do mesmo nível técnico em seu elenco. Escolhas terão de ser feitas e precisarão ser certeiras, caso Paul Allen não queira assistir aos playoffs de seu luxuosíssimo iate, longe do eterno Rose Garden. (Moda Center? Não.)

Raulzinho mal chegou e já está cheio de responsabilidades em Salt Lake City

Raulzinho mal chegou e já está cheio de responsabilidades em Salt Lake City

– Jazz: Quinn Snyder tem formações flexíveis para empregar, mas é o quinteto mais alto, com Favors e Gobert ao centro, que faz estragos, que é o diferencial da equipe. Mas podem Raulzinho, Burke e Burks jogar consistentemente bem para dar suporte a Hayward e municiar esses pivôs para que ataque não zere tamanho potencial defensivo?

Nuggets: Mike Malone vai colocá-los para jogar preparados e bem mais combativos do que nos anos de Brian Shaw. Mas, por mais que seus pirulões europeus sejam bastante instigantes, que Mudiay tenha seus flashes e que Gallo esteja em forma, a sensação é de que eles ainda estão num estágio abaixo de Portland no que se refere a jovem coleção de talentos e na curva de retomada. Então fica a dúvida: como lidar com essa situação incômoda de que talvez estejam no limbo sem perspectivas reais para ascensão num futuro breve? Vão precisar ser ainda mais pacientes e eficientes no Draft, ou agressivos em busca de uma troca redentora.

Pontos e rebotes não são problema para Kanter. E o resto?

Pontos e rebotes não são problema para Kanter. E o resto?

– Thunder: aqui são duas perguntas em uma, pois não tem jeito de evitá-las: a tempestade de lesões, enfim, acabou? Se a resposta for positiva, podem Kanter e Waiters se endireitar e fortalecer as pretensões de título de uma franquia que bate na trave há tempos, na hora mais providencial, antes que Durant vire efetivamente um agente livre?

Timberwolves: depois da lamentável notícia que comoveu toda a liga (R.I.P. Flip), quem vai assumir o controle do departamento de basquete? Que direção tomar com um elenco abarrotado de peças extremamente atraentes – seguir com a reconstrução passo a passo ou, dependendo do ritmo de Towns, já acelerar o processo?

SUDOESTE (A CARNIFICINA)

Matt Barnes muito provavelmente não é a solução para os problemas de ataque do Grizzlies

Matt Barnes muito provavelmente não é a solução para os problemas de ataque do Grizzlies

Grizzlies: remando contra a maré até quando com os dois pivôs batedores de bife? Ou: o quão difícil é, de verdade, encontrar na NBA de hoje um ala que possa jogar bem dos dois lados da quadra, ou que, no ataque, pelo menos saiba arremessar? A julgar pelo investimento feito em Jeff Green, parece que é complicado, mesmo. E o viajado, mas sempre útil Matt Barnes já não foi esse cara em Los Angeles…

Mavericks: quantos truques a mais poderia ter a mente brilhante de Rick Carlisle? Cabe ao técnico, ano após ano depois de 2011, dar um jeito e tirar de seu elenco um rendimento acima do previsto, relevando as seguidas tentativas frustradas de mercado de Mark Cuban.

– Pelicans: pode um só Monocelha compensar tantas lesões já de cara? Isso, claro, se ele, mesmo, ficar intacto na temporada, coisa que ainda não rolou em sua breve carreira.

– Rockets: Daryl Morey conseguiu formar um elenco com duas grandes estrelas (uma produtiva de verdade, a outra já com alguns asteriscos) e, ao redor deles, reuniu um bando de atletas um tanto subestimados, mas cuidadosamente garimpados para turbinar o sistema idealizado pelas mais complexas planilhas estatísticas. Até que chega, quase de graça, um Ty Lawson. Posto isso, supondo que uma hora as lesões vão acalmar, fica para o tampinha e o Sr. Barba um questionamento simples: e aí? Eles vão conseguir conviver, cada um fazendo sacrifício em termos de números com um único objetivo em comum?

Ty Lawson está de volta a um time de ponta, com um contrato de risco

Ty Lawson está de volta a um time de ponta, com um contrato de risco (para ele). Precisa dar certo

– Spurs: numa liga que abraçou de vez a velocidade e o espaçamento, pensando no curto prazo, vai adiantar ter tantos pivôs excelentes se a bola não chegar redonda para eles? LaMarcus é um bastião para o futuro pós-Duncan, mas, para o presente, o que vai contar, mesmo, é o estado físico e atlético de Tony Parker (e Manu Ginóbili).


Por que você pode (quase) gostar da briga pelos playoffs no Leste?
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Giancarlo Giampietro

Enquanto a NBA mantém divisão Leste-Oeste, Pacers e Celtics têm chances

Enquanto a NBA mantém divisão Leste-Oeste, Pacers e Celtics têm chances

Não, esta não é uma tentativa de autoplágio, tá?

É que, desde o momento em que este polêeeemico (coff! coff!) artigo foi publicado, as coisas mudaram bastante. E a não-corrida pelas últimas vagas dos playoffs da Conferência Leste se tornou quase uma corrida de verdade, com a ascensão de alguns times que já estariam mortinhos da Silva no Oeste, mas que, no lado oriental dos EUA, sempre tiveram chances.

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Um termo recorrente aqui vai ser o “quase”. Sim, quase dá para gostar do que está acontecendo por lá. Só não dá para curtir de verdade quando você se toca que, enquanto equipes que mais perdem do que ganham sonham com os mata-matas, no Oeste vamos ter pelo menos dois desses caras assistindo tudo de fora: Anthony Davis, Russell Westbrook, Kevin Durant, Serge Ibaka, Dirk Nowitzki, Rajon Rondo, Monta Ellis, ou Tyson Chandler. Isso para não falar de Mitch McGary, Perry Jones, o Terceiro, Luke Babbitt, Alex Ajinça, JJ Barea e do sargento Bernard James.

Muita sacanagem, gente.

Especialmente no caso do Monocelha, que ainda sustenta o maior índice de eficiência da história da liga.

De qualquer forma, aqui estamos. Com o Indiana Pacers, agora em sétimo, tendo uma das melhores campanhas do Leste desde o All-Star Game. Com o Boston Celtics curtindo a segunda maior sequência de vitórias em voga – cinco, atrás apenas das seis do Utah Jazz de Rudy Gobert. Esses dois times (quase) emergentes estão empatados com o Miami Heat, restando 16 partidas para ambos. O atual tetracampeão do Leste vive um sufoco danado para manter a oitava posição. Um pouquinho abaixo, em décimo, com apenas um triunfo a menos, o Charlotte Hornets também vai dizer que tem boas chances nessa. Jesus, até mesmo o Brooklyn Nets ainda acredita.

Assumindo desde já um risco aqui de considerar que o Milwaukee Bucks, mesmo sentindo falta dos chutes de fora de Brandon Knight, ‘está’ classificado. Restariam, então, duas vagas, mesmo. Vamos examinar, então, novamente os candidatos? Por que dá para (quase) gostar deles?

INDIANA PACERS (30-36)

Hill e Vogel: reflexos de uma cultura vencedora

Hill e Vogel: reflexos de uma cultura vencedora


– O que deu errado:
o quinteto vice-campeão do Leste do ano passado jamais poderia ser repetido, uma vez que Lance Stephenson se mandou para Charlotte. E aí o Paul George ainda fraturou a perna. Já era motivo para muita tristeza. Mas Frank Vogel mal podia imaginar que, por conta de mais e mais lesões, nem mesmo o trio George Hill-David West-Roy Hibbert ele poderia escalar por 20 jogos. Muita crueldade.

Como se viraram: Palmas para Frank Vogel, por favor. Mais palmas. Pode até levantar da cadeira. Que o que o técnico fez este ano é de fato admirável. O Pacers ainda marca muito. Desde 1º de fevereiro, tem a segunda defesa mais eficiente, atrás apenas de Utah. A coesão defensiva é e também um testamento da cultura estabelecida pelo treinador nos últimos anos, sempre com a orientação dos senadores Larry Bird e Donnie Walsh. Nunca, jamais subestimem a química, que amplifica o talento em quadra. A ironia é que, devido aos desfalques, Vogel se viu obrigado a buscar diversas soluções, ampliando sua rotação e preservando seus atletas (ninguém passa da casa dos 30 minutos em média). No ataque, Hill vem jogando o melhor basquete de sua carreira, enquanto Rodney Stuckey redescobriu o caminho da cesta, para compensar as diversas noites de aro amassado durante a campanha. Luis Scola também ressuscitou e segue aplicando seus truques para cima dos adversários, mantendo o alto nível no garrafão quando West sai. Viver de Solomon Hill e CJ Miles para pontuar seria impossível.

– Campanha na conferência: 22-18.

Últimos 10 jogos: 7-3.

O que vem por aí: 7 jogos em casa, 9 fora, e adversários com aproveitamento de 51,2% e 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

MIAMI HEAT (30-36)

erderam um tal LeBron James. De modo que a equipe voltaria a ser de Dwyane Wade. Mas as constantes lesões de Wade, mesmo quando ele era apenas o braço direito de LBJ seriam um problema. Foi o que aconteceu. O entra-e-sai do astro, que já perdeu 18 partidas, atrapalha demais, quebrando o ritmo da equipe. Ainda mais depois de Chris Bosh ter sido afastado por conta de uma embolia pulmonar e de Josh McRoberts mal ter feito sua estreia. Contar com jogadores desgastados como Luol Deng, Chris Andersen e Udonis Haslem na rotação também pesa numa reta final de temporada.

Como se viraram: encontraram Hassan Whiteside perdido por aí. E, claro, fecharam uma troca por Goran Dragic. Vai precisar de mais tempo para o esloveno sacar quais as características peculiares de seus companheiros, mas sua visão de jogo, agressividade e categoria compensam demais. Era isso, ou Norris Cole: escolham. Pat Riley deve ganhar todos os elogios devidos por essa negociação, mas também precisa ser louvado pela atenção que tem com sua filial da D-League, recrutando jogadores mais que úteis – e baratos – como Tyler Johnson e Henry (ex-Bill) Walker para encorpar o banco de Erik Spoelstra.

Últimos 10 jogos: 5-5.

– O que vem por aí: 8 jogos em casa, 8 fora, adversários com aproveitamento de 49,6% e só 2 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

BOSTON CELTICS (30-36)

Brad Stevens obviamente saberia como usar os talentos de Thomas

Brad Stevens obviamente saberia como usar os talentos de Thomas


– O que deu errado:
se Indiana e Miami sofreram com lesões, em Boston os desfalques foram “forçados” – pelas constantes trocas de Danny Ainge. Rajon Rondo e Jeff Green, enfim, foram negociados. Brandan Wright, Tayshaun Prince e Jameer Nelson mal chegaram e já foram repassados. Dos que estão fora hoje, só Jared Sullinger foi encaminhado para o departamento médico. Ao todo, Brad Stevens teve 22 jogadores em quadra (mais que quatro quintetos) e 11 titulares diferentes.

– Como se viraram: tal como Vogel, Stevens merece a ovação popular, por ter conseguido manter um senso de unidade e competitividade num elenco itinerante, no qual nenhum jogador parecida estar 100% garantido. Não só isso: soube desenvolver ou aproveitar melhor as diversas peças que recebeu, com um quê de Rick Carlisle nessa. Poderia até ser candidato a técnico do ano em um campeonato mais frágil, mas só vai ganhar, mesmo, menções honrosas em listas lideradas por Steve Kerr e Mike Budenholzer – para não falar de Terry Stotts, sempre subestimado. Está certo que as mudanças não foram sempre para o mal. Isaiah Thomas perdeu os últimos jogos, mas se encaixou perfeitamente num time carente por cestinhas, enquanto Tyler Zeller, contratado em julho, vai surpreendendo como referência na tábua ofensiva. Para não falar de Luigi Datome, o Gigi, já um herói popular em Boston e que mal via a quadra em Detroit.

Campanha na conferência: 18-21.

Últimos 10 jogos: 7-3

– O que vem por aí: 7 jogos em casa, 9 fora, adversários com aproveitamento de 49,8% e 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

CHARLOTTE HORNETS (29-36)

MKG: um dos maiores malas na defesa, né, Wess?

MKG: um dos maiores malas na defesa, né, Wess?

– Os problemas: para um time cheio de carências no ataque, a contratação de Lance Stephenson foi uma tremenda decepção. O ala-armador só contribuiu para uma coisa: deixar o vestiário conturbado. E aí que, para piorar, Al Jefferson perdeu dez partidas e em algumas de suas incursões estava claramente debilitado. Para completar, Kemba Walker passou por uma cirurgia no joelho. Ficava difícil pensar em fazer pontos. Do outro lado, Michael Kidd-Gilchrist fez muita falta por cerca de 20 jogos.

As soluções: Steve Clifford respirou fundo em um início de campanha horroroso e conseguiu colocar as coisas no trilho, contando com uma senhora ajuda da fragilidade de seus adversários. Quando a defesa encaixou – coincidentemente, com o retorno de MKG, um Tony Allen supersize –, Charlotte já não se preocupava mais com a frequência que a bola estava caindo. Até porque essa fase coincidiu com as melhores semanas de Kemba como profissional, até sua lesão acontecer. De qualquer forma, uma troca totalmente subestimada por Maurice Williams acabou se revelando salvadora. O armador veio do Minnesota para cumprir aquilo que faz melhor: esquentar a munheca aqui e ali oupor um curto período de tempo. Tudo de que o Hornets precisava.

Campanha na conferência: 22-17.

– Últimos 10 jogos: 6-4.

O que vem por aí: 7 jogos em casa, 10 fora, adversários com aproveitamento de 50% e 5 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

BROOKLYN NETS (27-38)

Um Thaddeus Young não é o bastane para Brooklyn

Um Thaddeus Young não é o bastane para Brooklyn

– O que deu errado: Um russo bilionário que já teve a ousadia de desafiar Vladmir Putin em uma eleição presidencial ordenou que o time vencesse, e vencesse o título logo de cara? Sim. Seu gerente geral, que já havia se atrapalhado todo com movimentos imediatistas em seu emprego anterior, abraçou a causa? Claro que sim. Para isso, ele torrou escolhas de Draft para contratar estrelas que obviamente já haviam passado de seu auge há um bom tempo? Hmm… SIM! O que será que deu errado, então? Nem sei. Sem contar as constantes trocas de técnico, um ginásio lindo, mas que não pode ser chamado de casa, mais lesões de Brook Lopez etc.

– As soluções: fora Thaddeus Young, a primeira vez na história em que o jogador que eles receberam ser a peça mais jovem numa troca (por Kevin Garnett)? Difícil de achar outra. Ok, talvez o fato de não terem se precipitado ao demitir Lionel Hollins. Nem mesmo o fato de estarem no Leste é tão relevante aqui…

– Campanha na conferência: 11-19.

– Últimos 10 jogos: 4-6.

– O que vem por aí: 11 jogos em casa, 6 fora, adversários com aproveitamento de 52,3%, 4 situações de dois jogos em duas noites seguidas.

Se for pensar, Indiana vive o melhor momento, mas pode ser algo frugal, com uma tabela difícil pela frente. Miami simplesmente não pode pensar em perder Wade (e o cabeça-de-vento Whiteside) por dois ou três jogos, enquanto tem o calendário mais fácil entre esses. Boston está no meio do caminho entre eles e é o time que menos depende de um só atleta. Charlotte precisa resolver o que fazer com a dinâmica Kemba/Mo Williams agora, ao passo que vai jogar muito mais como visitante e tem seis jogos back-to-back, no final do campeonato. Já o Brooklyn nem tem um fator casa verdadeiro para se empolgar com as 11 partidas em seu ginásio. Tudo isso para dizer que não tenho ideia do que vai sair dessa disputa.

A única certeza é a de que o Detroit Pistons já está eliminado, podendo Stan Van Gundy se concentrar no que Reggie Jackson não consegue fazer em quadra. De resto, um palpite mais conservador poderia pender para os finalistas da conferência dos últimos dois anos, não? Se os playoffs já começaram para os cinco clubes acima, a experiência do que sobrou de seus núcleos poderia fazer a diferença. Mas eles obviamente estão numa posição tão frágil como a dos demais. De novo: são times que mais perderam do que venceram durante a campanha. Boa sorte apostando em qualquer um deles. Talvez o melhor fosse realmente virar os olhos para o Oeste e aproveitar os últimos jogos do ano para Wess ou Monocelha. Um deles infelizmente vai ficar no quase.


Coisas para se fazer no Leste quando você (não) está morto
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Giancarlo Giampietro

Lance Stephenson, o símbolo da 'corrida' pelos mata-matas do Leste

Lance Stephenson, o símbolo da ‘corrida’ pelos mata-matas do Leste

Na onda tarantinesca do cinema dos anos 90, Coisas para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto foi um dos primeiros filhotes. Lançado em 1995, um ano depois de Pulp Fiction, foi um entre uma centena de películas (ainda eram películas, acho) a tirar do submundo alguns criminosos de personalidade singular, tentando sair de enrascadas com humor e violência, nem sempre explícita. Os diálogos obrigatoriamente precisavam conter referências da cultura pop em um mínimo de 67% de suas falas.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Andy Garcia, o impagável Steve Buscemi, o eterno Dr. Brown Christopher Lloyd e o curinga Christopher Walken que me desculpem, mas este aqui não é um bom filme. Pelo menos não no meu gosto. A melhor coisa era o título. E só. Mas que título, né? Serve para deixar qualquer coluna parecendo muito mais legal do que é na verdade. ; )

Coisas para se fazer em Denver quando você está mortoSe for para tomá-lo emprestado e empregá-lo na NBA, ele nem precisa de adaptação. O Denver Nuggets já está morto nesta temporada faz tempo – algo de que a franquia se demorou a dar conta, mas enfim aconteceu. Mas esse texto não vai perder mais tempo para falar do indeciso time de Brian Shaw. No Leste, tem muito mais gente enterrada. Digo: enterrada, mas viva – numa expressão tão cara ao chapa Ricardo Bulgarelli, do Sports+.

Na conferência banhada pelo Oceano Atlântico, você nunca pode dar uma equipe como falecida nesta temporada, por mais que todos os fatos apontem o contrário. São todas sobreviventes – menos o New York Knicks e o Philadelphia 76ers, claro, que só querem competir hoje por Jahlil Okafor, mesmo.

O Philadelphia se sabota voluntariamente: Sam Hinkie já fez uma série de coisas para matar as chances de resultado positivo para sua equipe. Por outro lado, Phil Jackson começou o ano vendendo uma proposta em Manhattan e vai terminá-lo com outra inversa.

De resto, excluindo o pessoal do topo e o valente e surpreendente Milwaukee Bucks, temos uma extensa lista de times que entraram no campeonato com aspirações de playoffs, mas para os quais quase nada saiu conforme o planejado. Mesmo assim, todos ainda têm chances de classificação. Segue a folha corrida, com os times ordenados de acordo com suas respectivas campanhas e posicionamento até esta segunda-feira, 11h da manhã, horário de Brasília:

7 – Miami Heat (20-24, 45,5%): Pat Riley e Erik Spoelstra anunciavam um mundo pós-LeBron em que o time seguiria fortíssimo e deveria ser encarado se não como candidato ao título, mas pelo menos como candidato a uma quinta final consecutiva. Em sua última entrevista, não conseguiu disfarçar a frustração, embora ainda sustentando a opinião de que vê muito potencial a ser explorado no atual elenco. Se jogassem no Oeste, estariam hoje na 11ª posição, mesmo que enfrentem semanalmente adversários bem mais fracos. Os veteranos Dwyane Wade e Chris Bosh já perderam juntos 18 partidas – Bosh, em particular, estava barbarizando até sofrer uma mardita lesão na panturrilha. Josh McRoberts nem estreou de verdade. Shabazz Napier, bicampeão universitário e senior, não estava tão pronto assim como se imaginava. Mesmo jogando muitas vezes com dois armadores, Spoelstra não se sente confortável mais em colocar sua equipe para correr – o Heat tem o ataque mais lento da liga. As boas notícias: quando joga, Wade ainda é bastante produtivo, mesmo que distante de seu auge. E o fenômeno Hassan Whiteside (mais sobre ele depois). Com tantos problemas, o clube da Flórida ainda é o favorito para se classificar em sétimo.

8 – Charlotte Hornets (19-26, 42,2%): depois de chegar aos mata-matas na temporada passada, Michael Jordan redescobriu o gosto pela coisa. Foi às compras e hoje está com remorso. Não tem um dia em que o HoopsHype não destaque um rumor de negociação envolvendo Lance Stephenson. O Hornets sente que precisa se livrar de Stephenson o quanto antes, a ponto de aceitar discutir com Brooklyn uma troca por Joe Johnson, o segundo jogador mais bem pago da liga. Sim, o JJ mesmo. É de abrir os olhos todo esse esforço: sem o volátil ala-armador, o aproveitamento é de 9-5 (64%). Al Jefferson enfrenta uma incômoda lesão na virilha, que limita seus movimentos e já o tirou de quadra por nove partidas. Kemba Walker joga há tempos com um um cisto no joelho, que passou a preocupar de verdade neste mês, lhe custando três jogos, justo quando vivia seu melhor momento na NBA. Michael Kidd-Gilchrist ainda não sabe o que é um arremesso de três pontos. Marvin Williams é Marvin Williams. Mas não tem tempo ruim, não: o Hornets se vê hoje dentro da zona dos mata-matas, graças a uma defesa que foi a mais implacável neste mês de janeiro. É o bastante. Sofram:

9 – Brooklyn Nets (18-26, 40,9%): Billy King promove neste momento o maior saldão. É chegar e levar! Desde que paguem, e caro. Afinal, ele quer se desfazer da folha salarial mais custosa de toda a liga, com mais de US$ 91 milhões investidos. Então temos aqui o time da vez na central de boatos. Antes de ser afastado por conta de uma fratura na costela, Deron Williams havia virado banco de Jarrett Jack. Brook Lopez, que já perdeu dez jogos, não consegue superar a marca de 6,0 rebotes. Joe Johnson está em quadra, mas a verdade é que o clube vem acobertando lesões no joelho e no tornozelo para tentar vendê-lo. Bojan Bogdanovic é um fiasco até o momento e aquele por quem havia sido substituído, Sergey Karasev, anda curtindo a vida adoidado. Lionel Hollins não consegue mais se conter em entrevistas coletivas, manifestando constante desprezo por sua equipe. Com mais uma vitória, eles voltam a se juntar ao Hornets, para reassumir o oitavo lugar (uma vez que levam a melhor no critério de desempate por confronto direto). Kevin Garnett sorri. Totalmente surtado.

10 – Detroit Pistons (17-28, 37,8%): até o Natal, o presidente e técnico Stan Van Gundy havia testemunhado apenas cinco vitórias dos rapazes da Motown. Em 28 duelos. Tipo um Sixers, mesmo. Foi aí que ele ativou o detonador da bomba e mandou embora Josh Smith, aceitando lhe pagar mais de US$ 30 milhões a troco de nada. Obviamente que o Pistons venceria 12 das próximas 17 partidas e se recolocaria na discussão. O duro é perder Brandon Jennings pelo restante da temporada, devido a mais uma ruptura de tendão de Aquiles nesta campanha. Jennings era outro que praticava o melhor basquete de sua decepcionante carreira. Momento para pânico geral, não? Em qualquer outra circunstância, sim. Mas talvez SVG consiga fazer que DJ Augustin replique sua incrível jornada dos tempos de Chicago. Se não for o caso, resta sempre o caminho de uma troca (Prigioni é o primeiro nome especulado) ou de um milagre vindo da D-League (Lorenzo Brown, ex-Sizers e North Carolina State, também é comentado). Enquanto isso, Greg Monore vai conseguindo a proeza de superar Andre Drummond nos rebotes. Vai que dá!

11 – Boston Celtics (15-27, 35,7%): Danny Ainge trocou Rajon Rondo. Danny Ainge trocou Jeff Green. Danny Ainge trocou Brandan Wright. Danny Ainge trocou até mesmo Austin Rivers. Marcus Smart ainda é só uma promessa. Kelly Olynyk começou muito bem o campeonato e despencou até sofrer uma torção de tornozelo grave. Evan Turner continua acumulando números, mas sem eficiência nenhuma. E o Celtics ainda tem chances, para tornar a vida de Brad Stevens menos miserável. Esse é um dos clubes que tem, hoje, um dos maiores conflitos de interesses entre o que a direção espera (reformulação apostando no próximo Draft) e o técnico prega (tentar vencer a cada rodada, e que se dane). Os caras acabaram de conseguir dois triunfos em um giro pela Conferência Oeste  e de fazer um jogo relativamente duro contra Warriors e Clippers. E aí: Ainge vai trocar Stevens também?

12 – Indiana Pacers (16-30,  34,8%): o time da depressão, mas que não desiste nunca. Só não são brasileiros. Frank Vogel deve ler a relação de lesões acima e gritar em seu escritório: Vocês querem falar de desfalques!? Sério!? Peguem esta, então:” Paul George acompanha o time nas viagens, vai treinando de leve, e só; George Hill só disputou sete de 46 partidas; Hibbert perdeu outras quatro, enquanto West já perdeu 15; CJ Watson ficou fora de 18 jornadas, dez a mais que Rodney Stuckey e oito a mais que CJ Miles; Donald Sloan já tentou 334 arremessos neste campeonato, sendo que, de 2011 a 2014, havia somado 393 chutes; apenas o imortal Luis Scola e Solomon Hill jogaram todas as partidas. E o Pacers ainda deu um jeito de vencer 16 partidas e de se manter entre as dez defesas mais eficientes da liga, superando até mesmo o Memphis Grizzlies. Alguém aí falou em Votel para técnico do ano?

13 – Orlando Magic (15-32, 31,9%): o quê? Você não bota fé!? Não vá me dizer que não leu nada dos parágrafos acima?


O Indiana Pacers da depressão
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Em baixo: Donnie Walsh e o proprietário Herbie Simon. Acima, vocês sabem quem. Todos chatiados

Em baixo: Donnie Walsh e o proprietário Herbie Simon. Acima, vocês sabem quem. Todos #chatiados

Apesar de este ser um blog e de o seu… blogueiro ter uma carreira toda (coff! coff!) construída na internet, venho por meio deste confessar minha ignorância digital. As coisas podem estar bombando na internet há um bom tempo, todo mundo já se matando de rir com a piada da semana, e o cara aqui, boiando geral nas redes sociais, sem entender nada do que está acontecendo. Como nos casos dos constantes “memês” – já foi um desafio entender o conceito. Dentre essas ondas, existe a expressão “da depressão”, né?

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Comunidade Ninja da depressão, pequeno polegar da depressão, ciclone da depressão etc. Esses, pelo menos, já se explicavam pelo nome, ao menos. De qualquer forma, nem sabia a origem do, hã, fenômeno. Coisa que o site da Vejinha SP, num serviço de (in)utilidade pública, nos conta.

Pensava que, a partir do momento que a bola subiu para a temporada 2014-2015, esse tema deveria ser limitado a um só time: o Indiana Pacers. Mas aí a gente vê a tempestade de lesões que abala o Oklahoma City Thunder e o pior início de campanha da história do Lakers, e o clube acabou aumentando por um tempinho. De qualquer forma, o simples fato de dois times surgirem para roubar até mesmo as manchetes negativas do Pacers só aumenta a fossa deles, não?

Quem aí está preparado para muito Donald Sloan na armação? É o que restou

Quem aí está preparado para muito Donald Sloan na armação? É o que restou

Estamos tratando de um clube  que foi sério candidato ao título da NBA nos últimos dois anos. Que, ao final da era LeBron em South Beach, poderia muito bem acreditar que era chegada a hora. Mas aí Paul George se arrebentou num jogo-treino besta da USA Basketball, Lance Stephenson se mandou para Charlotte, e toda a base promissora montada por Larry Bird e Donnie Walsh se ruiu. Sabemos bem que o Pacers tinha dificuldades para pontuar mesmo com os dois jovens alas no time. Sem as suas duas principais forças criativas, sobrou para George Hill, CJ Miles, Chris Copeland e Rodney Stuckey a coordenação e produção ofensiva? Argh.

Com Roy Hibbert ao centro do garrafão apoiado por David West,  George Hill pressionando qualquer armador que passe à sua frente, Solomon Hill batalhando por um futuro na liga nas alas e um sistema já bem engendrado, o Pacers poderia muito bem segurar as pontas pela defesa. Em seus primeiros quatro pontos, nem isso vem acontecendo, porém – não de acordo com o padrão que vimos desde que Frank Vogel foi empossado técnico.

Vogel, contrato renovado, time arrebentado

Vogel, contrato renovado, time arrebentado

Mais aí tem mais aaaargh: West torceu feio o tornozelo na pré-temporada,  G-Hill tem problemas no joelho e CJ Watson, no pé. É um trio que está fora de ação por tempo indeterminado, deixando a equipe num estado de calamidade.

Do ponto de vista de Vogel, demorou, mas ele ao menos teve seu esforço premiado com uma renovação contratual. Entre as boas notícias também consta o ressurgimento obrigatório de Copeland.

De qualquer modo, fazendo as contas aqui de baixas e reforços, o saldo é gravíssimo. Nem mesmo na pálida Conferência Leste dá para sonhar em competir por algo relevante. Muito provavelmente nem pelos playoffs. Então perdoem as lágrimas que escorrem desde Indianápolis. É deprê geral.

O time: mas que time?

A pedida: eles querem ainda uma vaguinha nos mata-matas, mas deveriam se concentrar, mesmo, na loteria do Draft.

(Bom, ok, ok, só para não deixar passar batido: Si Pacers vai tentar defender bem ainda, e para isso vai precisar de um Roy Hibbert muito mais motivado do que esteve no campeonato passado, com a cabeça em ordem. West e Hill precisariam voltar rapidamente, e bem. Copeland tem de de sustentar sua produção de início, acertando os chutes de longa distância ao lado de Miles e do croata Damjan Rudez. Stuckey precisa render vindo do banco. Enfim, são muitos “ses” para serem conferidos, gente.)

Chris Copeland, liberado para jogar e chutar. Valeu, Vogel

Chris Copeland, liberado para jogar e chutar. Valeu, Vogel

Olho nele: Chris Copeland. Enquanto muitos apostavam em Stuckey como o cestinha do time, suprindo a ausência de George e Stephenson, quem vem despontando como a principal arma ofensiva é o ala ex-New York Knicks, que tem qualidades interessantes, mesmo: o chute de longa distância bastante elevado combinado com um corpo esguio e veloz. O veterano havia sido posto de castigo por Vogel na temporada passada, meio que inexplicavelmente, para um time que precisava de mais arremessadores – ele poderia não ter a mesma consistência defensiva do resto da trupe, mas aí cabe ao comandante encontrar um equilíbrio entre os dois lados da quadra, não? Essa foi uma das falhas do técnico, que não conseguiu desenvolver uma segunda unidade consistente e produtiva, dependendo demais de seus titulares. Ver Copeland render neste ano é uma boa, mas ao mesmo tempo não deixa de ser mais um ponto deprimente para o clube, uma vez que o torcedor mais amargurado pode muito bem perguntar por que diabos eles tiveram de abraçar Rasual Butler nos playoffs.

Abre o jogo: “Vamos ser uma das surpresas da NBA. Esta equipe é capaz de fazer seu trabalho. Temos talento o suficiente para cumprir nossas metas e competir com os melhores. Não vamos complicar mais as coisas. Um banco de qualidade será uma grande parte de nosso sucesso este ano”, Frank Vogel, bastante otimista. Mas é preciso dizer: a declaração foi antes das lesões de West, Hill e Watson. A ideia do treinador é a de usar uma rotação mais extensa, com dez atletas, e ele vem fazendo isso, apesar dos desfalques.

Você não perguntou, mas… Roy Hibbert se reuniu com Kareem Abdul-Jabbar durante as férias por motivos de tutelagem, aconselhamento, ombro amigo e… filmes de ninja! Sim, sim. O legendário pivô, o maior cestinha da história da liga e hoje uma espécie de guru espiritual visitou Hibbert em sua casa, e os dois deram um tempo no divã para se divertir com pancadaria. Hibbert infelizmente não revelou os títulos assistidos. A história, todavia, nos remete a…

Jalen Rose, Indiana Pacers, card, 2000Um card do passado: Jalen Rose. Uma curiosidade a respeito do Pacers? Na história da franquia, quatro de seus atletas já foram eleitos aqueles que mais evoluíram numa temporada – o já prêmio de Most Improved Player. Esse quarteto foi apontado desde o ano 2000, com o ala-armador Rose puxando a fila. Na sequência, viriam Jermaine O’Neal (2002), Danny Granger (2009) e Paul George (2013). Hoje um popular comentarista da ESPN, Rose credita sua melhora em quadra exclusivamente ao seu trabalho com Larry Bird, então técnico da equipe que foi derrotada pelo Lakers na decisão (4-2). Para ter qualquer perspectiva de sucesso nesta temporada e justificar o otimismo de Vogel, o Pacers bem que poderia usar mais um salto de qualidade desses para qualquer um de seus atletas.


Andrew Bynum, a aposta enigmática de Larry Bird
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Giancarlo Giampietro

Bynum x Bosh: algo para se ver nos playoffs? E aí, Bird?

Bynum x Bosh: algo para se ver nos playoffs? E aí, Bird?

Quando o Indiana Pacers avançou rapidamente com a contratação de Andrew Bynum, não foram poucos os que entenderam o acerto como uma medida preventiva por parte atual líder da Conferência Leste. Prevenção em muitos sentidos, dentre os quais se destacaria sorrateiramente a intenção de tirar o pivô da alçada do Miami Heat. Poxa, os caras já estão se virando com o Greg Oden – qual o motivo, então, de dar a Pat Riley a chance de reabilitar dois gigantes talentosos?

Larry Bird, o Jesus do basquete em Boston e chefão do Pacers, não achou a menor graça nessa lógica. Ao menos foi o que disse: “Não temos dinheiro para jogar fora assim e deixá-lo sentado no banco. Essa talvez seja uma das coisas mais estúpidas que já ouvi”.

Se ele está falando, quem somos nós para discordar, né? Mesmo que a cada jogo entre Indiana e Miami as coisas fiquem mais quentes, na esteira de dois confrontos eletrizantes em duas temporadas seguidas pelos playoffs da liga, com os treinadores e jogadores falando abertamente sobre cada elenco/time está moldado para bater o outro…

Mas tudo bem. É o que está colocado publicamente. E, de qualquer forma, Bird menciona algo indiscutível: a despeito da capacidade que a franquia tem para competir pelo topo no Leste, o Pacers está bem distante da elite em termos de arrecadação. Eles até se viram com boa administração, algumas apostas certeiras no Draft e um programa sólido de desenvolvimento dos atletas. Só não dá para fazer aviãozinho com notas de cem e distribuir em seja lá qual for a praça central de Indianápolis.

Agora, mesmo que a ressalva do legendário ex-jogador seja aceita, diante dessa lógica de economia apertada, a pergunta ainda se faz necessária: se não podem queimar a grana, vale, ao menos, apostar?

Porque Bynum, a essa altura, é, sim, uma aposta. De um milhão de dólares.

* * *

Orgulhoso, Andrew Bynum fez questão de espalhar a informação por toda a NBA: ele não assinaria contrato algum que fosse pelo salário mínimo da liga. Mesmo que estivesse desempregado, dispensado imediatamente pelo Chicago Bulls, depois da troca por Luol Deng. Mesmo que já tivesse embolsado US$ 6 milhões na temporada, para ficar em quadra exatamente por 420 minutos pelo Cavs – fazendo as contas, dá mais de US$ 14,2 mil a cada 60 segundos de jogo.

Podem falar que o cara é um sanguessuga, mercenário, depravado, o que for. Mas, assim como Kobe se recusou a ganhar menos em sua extensão contratual, para teoricamente ‘ajudar’ o Lakers, Bynum simplesmente não aceitou ganhar o piso – que é, por exemplo, o que o Phoenix Suns vai pagar a Leandrinho pelo restante do campeonato.

Típico. De jogador mais jovem da história da liga a pivô dominante, passando por muitas lesões e lições desde que foi selecionado pelo Lakers no Draft de 2005 – o último em que foi permitida a entrada direta dos adolescentes de high school e no qual foi ensanduichado, acreditem, por Ike Diogu e Fran Vázquez! –, o pivô se firmou como um dos personagens mais singulares numa liga CHEIA desses tipos. Até mesmo Phil Jackson se viu encafifado em diversas ocasiões tentando entender o sujeito.

Bynum e um de seus possantes

Bynum e um de seus possantes

Quando Bynum foi afastado pela diretoria do Cleveland Cavaliers nesta temporada, o Mestre Zen, mesmo depois de alguns anos separado do jogador, propenso a reflexões sobre o Cosmo e a Vida, não foi capaz de avaliar com propriedade o que se passa com o cara. “Fico relutante em julgar as intenções dele no basquete. Ele é um homem com muitos interesses e que tem uma vida fora do jogo”, disse. “Mas ele gosta de competir.”

Na época, para tentar limpar a barra de tantas calças enlameadas, diretores e treinadores do Cavs vazaram descaradamente diversas informações (ou “opiniões” travestidas de fatos) sobre como o pivô era uma figura apática no cotidiano da equipe e de como já não parecia ter mais o mínimo desejo de estender sua carreira. Coincidentemente ou não, foi a mesma linha de raciocínio que o seguiu durante sua passagem patética pela Filadélfia, cuja única contribuição para o Sixers só foi a estética capilar diversificada do lado de fora da quadra.

E vale a ênfase no “fora de quadra”, aliás. É o que mais se ouve sobre Bynum, como o próprio Jackson ressaltou.

É bastante curiosa, aliás, a reação generalizada aos “interesses do jogador para além do basquete”, como um viés crítico – obviamente não é o caso do treinador mais vitorioso da liga, que sabe muito bem: nem todos são maníacos feito Kobe Bryant. De qualquer forma, para aqueles de visão mais cerrada, é como se um advogado ou um dentista não pudessem pensar em outra coisa que não a lei, contratos, cáries e resina.

Um perfil da Sports Illustrated (daqueles imperdíveis, clássicos a partir da impressão) já detalhou suas diversas paixões. Como carros e o automobilismo em geral, por exemplo. Suspeita-se que, no mundo da NBA, talvez seja um dos poucos que acompanhe a Fórmula 1 para valer e vá identificar Rubens Barrichello numa pista de esqui em Aspen. Sabemos que ele também gosta bastante de futebol e já chegou a adiar uma importante cirurgia para acompanhar a Copa do Mundo de 2010 de perto – aí, sim, o Mestre Zen ficou fulo da vida.

O quanto essas coisas servem como distração? Ou, por outro lado, o quanto a “mente aberta” de Bynum poderia ajudá-lo a prosperar em sua profissão de verdade?

Kareem Abdul-Jabbar – 1) o maior cestinha da NBA; 2) ex-assistente do Lakers pessoal para Bynum; 3) co-piloto de aviões nas horas vagas – tenta nos ajudar a entender um pouco mais sobre isso. “Quando trabalhei com Andrew, eu o descobri como alguém brilhante e dedicado, mas que se entendiava com a natureza repetitiva do trabalho com os fundamentos do basquete, algo muito importante para que ele fosse bem-sucedido”, disse. “Na minha opinião, Andrew é o tipo de pessoa que tem uma batida diferente, é como se fosse um ‘baterista diferente’. Então não vamos saber os fatos até que Andrew decida nos dizer exatamente qual o problema (em Cleveland) e que compartilhe seus pensamentos a respeito.”

Abdul-Jabbar e o poder da mente com Bynum

Abdul-Jabbar e o poder da mente com Bynum

Quem também pode contar um pouco mais sobre o “homem Andrew Bynum” é Darvin Ham, alguém com um currículo muuuuuito mais modesto que o de Jabbar, mas que sempre foi daqueles jogadores prediletos dos técnicos por onde quer que tenha passado e que trabalhou como seu treinador da mesma forma. “Realmente passei muito tempo com ele em sessões de um contra um e também fiquei em trabalhos de grupo. Ele não é, mesmo, um cara que cria problemas. Ele apenas quer ficar sozinho, na dele, jogando basquete. Simples assim”, disse o hoje integrante da comissão técnica do Atlanta Hawks.

“Ele é um cara inteligente. Tem essas ideias sobre novas maneiras de treinamento. Umas coisas que ele sugeria para mim. Tivemos uma chance de conversar nas últimas férias, e ele simplesmente me deixou embasbacado pelo nível de como ele pensa as coisas”, continuou Ham.

Daí que ele foi questionado sobre quais técnicas novas seriam essas para se trabalhar com jogadores ou pivôs? “É uma atividade de ninja que poucos já viram e que ninguém dominou ainda. Vamos colocar as coisas desta maneira. E ele foi um dos melhores pupilos nisso. Abraçou isso totalmente.”

Técnicas ninja completamente secretas?!

Calma, não se assustem, pede o assistente do Hawks.

“É uma pena que ele tenha passado por tantos problemas físicos, mas agora estou feliz. Fico feliz de ver que alguém se prontificou a seguir em frente e foi atrás dele. No ambiente certo, mas sem querer dizer que outro lugar era o ambiente errado… Quando ele está focado, ele se foca de verdade.”

*  *  *

Larry Bird, seja na versão de jogador, técnico, dirigente, comentarista ou amigo de bar, é daqueles que não alivia em nada. Sai falando “verdades” na fuça de qualquer um. Obviamente, ao negociar com o pivô e seu agente, deve ter exposto quais condições ou tipos de conduta que não serão aceitas em seu quintal. Definitivamente não vai tolerar muito do que se ouviu sobre seus maneirismos em Cleveland.

Segundo consta, Bynum por diversas vezes entrou em conflito com Mike Brown e seus assistentes, sem aceitar bem o que se passava em quadra. Desafiava a comissão ao quebrar jogadas e rotações defensivas nos treinos. Ficava com cara de poucos amigos no banco ou no vestiário. Esse tipo de coisa que irrita no dia a dia.

Bynum gostava, ou não, de treinar com o Cavs? Dava trabalho?

Bynum gostava, ou não, de treinar com o Cavs? Dava trabalho?

Agora, também é preciso dizer que, no Cavs, o grandalhão não era o único resmungão ou forrrgado a atrapalhar a pretensa arrancada do time rumo aos playoffs. Bynum já foi dispensado, Deng chegou para tentar ensinar boas maneiras aos rapazes, e as derrotas não pararam de acontecer. Na mais recente visita desta cambada a Nova York, consta que diversos jogadores caíram na noite ao lado de JR Smith – e de quem mais, oras? – na véspera da partida. Tomaram mais uma sova daquelas (21 pontos).

As coisas estão pegando fogo por lá. O gerente geral Chris Grant foi demitido. Os rumores não cessam. O Akron Beacon Jorunal publicou que, “se não acontecer nenhuma virada significante antes da data final para trocas, este elenco vai passar por uma reformulação”. Para quem tiver um tempinho sobrando e o mínimo de interesse sobre o inferno que ronda Anderson Varejão, também vale a leitura. Dion Waiters, o talentoso e tinhoso ala-armador, já estaria nas últimas, com um temperamento de supercraque e produção extremamente irregular que alienam qualquer um. Mas até mesmo o queridinho Kyrie Irving também não passa despercebido. “Seu comportamento tem irritado companheiros e outros membros da organização”, diz a reportagem. Sim, Luol Deng não poderia estar mais deslocado.

Esperava-se que Irving e Waiters, pelo prestígio com que chegaram na NBA, seriam dois jogadores a liderar uma reação do Cavs, que colocariam fim ao luto pela partida de LeBron James – e seus talentos – para a Flórida. Em vez disso, os corajosos torcedores da combalida franquia são obrigados hoje a ouvir Bynum falando este tipo de coisa: “Não é que não tenha dado certo. Aconteceu apenas que a atmosfera por lá não era daquelas que promovem energia positiva”.

Agora bem distante desse ambiente, num time muito mais sereno e que é sério candidato ao título, o pivô tem a chance de recuperar sua imagem, já arranhada pelo ano sabático que passou em 2012-2013 e por algumas intempéries que deixavam Kobe e Gasol malucos em Los Angeles.

*  *  *

Você pode apelar aos números, pode passar horas e horas diante da TV ou laptop, vendo basquete que não acaba mais. É assim que se entende e se ama o jogo. Mas, para um time prosperar, as ações que se passam longe das câmeras e calculadoras também são igualmente importantes. A famosa química fora de quadra. A cultura de vestiário.

Na construção do atual elenco, Bird, traumatizado pelos assustadores acontecimentos em Auburn Hills há mais de dez anos, enfatizou por anos e anos a contratação de sujeitos de “bom caráter”, “comprometidos com o clube a comunidade” e tudo isso. Mesmo que custasse o desmanche de uma base muito talentosa e que tivessem de passar por um longo processo de reformulação, foi por esse caminho que ele seguiu. Acostumada a jogar os mata-matas desde os tempos de Reggie Miller novato, a equipe chegou a ficar quatro anos fora dos playoffs na década passada. Foi preciso paciência.

Paul George tinha apenas 14 anos quando Artest e Ben Wallace quase fizeram David Stern infartar. Há um distanciamento claro aqui. Mas o progresso que testemunhamos tanto do ala como de Roy Hibbert e Lance Stephenson tem influência direta desse trabalho que Bird desenvolveu a partir de 2005. Assim como a composição de uma das melhores defesas de todos os tempos. Não se trata de mera falácia. Para se armar um paredão desses, é preciso que um atleta cubra o outro, e isso vai além de conceitos táticos, embora Frank Vogel ainda não receba os créditos devidos pelo que armou. Fato é que, todavia, neste plano de longo prazo, a franquia juntou aos poucos as peças que formam o timaço de hoje, tendo sempre em vista uma só diretriz pessoal.

Para os que cobrem regularmente o Pacers 2013-14, a sinergia no discurso dos jogadores e a camaradagem entre eles são grandes marcas e se impõem jogo após jogo, treino após treino. Não que sejam todos santos. Stephenson já aprontou das suas, inclusive como um reservão há dois anos no primeiro grande embate com o Heat, provocando LeBron James. Agora uma figura importantíssima para o time, o ala-armador se acalmou.E muito disso tem a ver com o contato diário com Bird e jogadores bastante sérios como David West e Luis Scola, entre outros, que metem medo ao seu jeito. As costelas dos adversários têm marcas a respeito.

É nesse contexto que a enorme e controversa figura de Bynum será inserida. Nem mesmo nos tempos de títulos com o Lakers o pivô teve contato com um ambiente regrado, controlado desses. Como vai reagir? E, talvez mais importante, como os donos do pedaço encaram sua chegada?

George x Granger: disputa só no game no vestiário do Pacers

George x Granger: disputa só no game no vestiário do Pacers

Paul George foi o mais receptivo, durante a repercussão da negociação, embora colocando uma ou outra vírgula aqui e ali. “Não dá para deixar passar um talento gigante desses, e espero que ele seja capaz de nos ajudar, vindo com uma atitude para aceitar nosso programa”, afirmou o jovem astro. “Ele vai ter de provar muita coisa para si mesmo, se ele quer jogar, ou não. Se ele vier pronto para isso, pronto para trabalhar bastante, realmente acreditando em nosso programa, não temos nenhum problema de tê-lo por aqui. Esperamos que, no segundo em que ele entrar no vestiário, que todos o recebam de braços abertos e que ele sinta a química da equipe. Temos um grupo muito próximo aqui. Vamos saber de cara se ele está comprometido conosco, ou não.”

Não parece, realmente, um discurso de irmandade? Seria Bynum capaz de aprontar tanto a ponto de bagunçar com isso? Seria dispensado de imediato, ao menor sinal de alerta?

David West e George Hill, por exemplo, não quiseram falar de imediato sobre o assunto. “O que o Larry disse? Se você tem alguma questão, vá perguntar para ele, ou Frank”, afirmou o ala-pivô. “Pergunte para o Frank”, reforçou o armador, em contato com o Star, de Indianápolis.

Bem, Frank Vogel, aquele que vai tentar fazer o que Mike Brown fracassou em duas ocasiões – dobrar Bynum –, estava bem mais sorridente que seus atletas. “Ele sabe que aqui é o lugar certo. Acreditamos também que oferecemos o lugar certo para ele. Ele expressou (durante as tratativas) que quer se encaixar no time, e essa foi a palavra que queríamos ouvir, considerando nossa mentalidade de que o que conta primeiro é o time”, afirmou.

Tudo isso é muito bacana, mesmo, mas não impediu que o próprio Vogel ligasse com urgência para Brian Shaw, seu ex-braço direito e outro a trabalhar no Lakers com Bynum, para se informar mais a respeito do grandalhão antes que qualquer cheque fosse assinado. Qual foi a resposta?

“Acho que muito do que se fala sobre ele… Ele é um bom sujeito. Não é má pessoa”, disse.

(Parêntese 1: Reparem que, tal como Darvin Ham, Shaw interrompe seu discurso e redireciona a frase para algo mais direto.)

“Acho que ele passou por algumas situações em qe ele realmente não respeitava o treinador e o programa.”

(Parêntese 2: Essa foi uma baita espetada em Mike Brown, e vale relembrar que muitos esperavam e/ou torciam para que Shaw fosse contratado como o sucessor de Phil Jackson no Lakers… Mas continuemos.)

“Sei que, em sua vida pessoal, ele vem lidando com algumas coisas com sua mãe. Então ele ficou meio que distraído, o que é algo você espera, levando em conta essas coisas.”

*  *  *

No release para anunciar a contratação, a equipe de comunicação do Pacers fez questão de incluir esta frase aqui do bebezão: “Será ótimo ficar na reserva de Roy, e eu farei qualquer coisa para ajudar este time”. Bem conveniente, né? Que gesto bonito. “Não foi uma decisão difícil. Acho que é o lugar certo para mim e, com toda a honestidade, acredito que temos a melhor chance para vencer.”

Ok, vamos dar um voto de confiança, então. Que ele se dedique ao máximo e desencane de jogar boliche com o joelho estourado. Já ajudaria bastante. Mas, pensando em quadra, que tipo de Bynum vai se apresentar em Indiana?

Sonhar com seus números e atuações dos bons tempos de Los Angeles Lakers, quando chegou a ter médias de 18,7 pontos e 11,8 por jogo, parece delírio. Mas será que, num time muito mais bem estruturado, ele consegue render (muito) mais do que fez em pouco tempo de Cleveland? Bird e Vogel esperam que sim. Porque o que ele apresentou nos primeiros meses da temporada não deixa muita gente animada, não. Vejamos, por exemplo, seu aproveitamento ofensivo:

Em uma palavra: desastre. Bynum teve muita dificuldade para converter seus arremessos de perto da cesta, como as manchas vermelhas mostram no gráfico

Em uma palavra: desastre. Bynum teve muita dificuldade para converter seus arremessos de perto da cesta, como as manchas vermelhas (abaixo da média da liga) mostram no gráfico

Agora, segue seu quadro de arremessos na temporada 2011-2012:

Em 2011-2012, sua última temporada inteirona, o vermelho se espalha por todos os lados, mas próximo da cesta, a área mais importante, vemos um aproveitamento muito melhor. Muito melhor

Em seu último campeonato em que estava inteiro, ou algo perto disso, o vermelho se espalha por todos os lados, mas próximo da cesta, a área mais importante de atuação, vemos um aproveitamento muito superior.

Além de ser muito mais eficiente nas finalizações próximo da cesta – quem não se lembra das ponte aéreas de Gasol para o cara? –, é importante comparar a diferença  no volume de chutes de média distância entre os dois gráficos, constando-se um padrão de jogo bem diferente . Sem explosão ou mobilidade, Bynum se viu afastado do garrafão. Mas, mesmo ali perto, não foi nada ameaçador. Na defesa, ele pode ficar ainda mais exposto a jogadas em pick-and-roll, sem conseguir se deslocar adequadamente para o lado, e, de certa forma, precisará ser protegido pelo sistema, sem precisar subir tanto em quadra.

Em termos estatísticos, suas médias despencaram tanto do ponto de vista de índices de eficiência (que podem ser comparados aos de seu segundo ano na liga, quando tinha apenas 19 anos) como nas projeções de produção por minuto. Definitivamente não estamos mais diante de uns dos três ou cinco melhores pivôs da liga. Ainda assim… Seus números são bem mais palatáveis que os do francês Ian Mahinmi, que, silenciosamente, vem fazendo uma campanha horripilante de ruim, nos 16 minutos em média que recebe para dar um descanso a Hibbert. Temos aqui, enfim, algo concretamente positivo a falar sobre o investimento.

E Frank Vogel está muito mais otimista, na verdade, do que qualquer blogueiro pé-rapado e abelhudo. “Ele tem uma mobilidade muito boa e deu a entender que pode ser uma força”, disse o técnico, com base nas análises de seu estafe sobre as atuações do grandalhão neste campeonato. “Ele pareceu bem.”

É de se imaginar que o treinador queira ver seu novo gigante atuando desta maneira:

No dia 30 de novembro, Bynum, mesmo pesadão, conseguiu se impor diante de Joakim Noah (também baleado, diga-se, sem ter feito uma pré-temporada adequada) e do chatíssimo Chicago Bulls, com 20 pontos, 10 rebotes e 5 tocos. Mesmo com tempo limitado, ele ainda emendaria mais três jogos sólidos em seu primeiro momento de brilho desde 2013 – e que durou pouco. Em Indiana, todavia, a carga será muito mais leve.

Mahinmi, prestes a ceder 16 minutos para Bynum

Mahinmi, prestes a ceder 16 minutos para Bynum

Vogel e sua comissão tentarão trabalhar o jogador de uma forma que ele se aproxime ao máximo de um fac-simile de Hibbert, nos minutos que tiver ao seu dispor. Que consiga, de alguma forma, proteger a cesta, sem se expor ao máximo no perímetro. Mas convenhamos que, para o Pacers, pensando no confronto que interessa, a final do Leste, eles realmente esperam que o reforço não tenha tanto tempo de quadra. Quanto mais Hibbert ao centro da defesa, melhor para brecar os LeBrons de Miami.

Sim, o Pacers vai passeando no Leste, a despeito de um ou outro tropeço recente, mas essa excepcional campanha só vai valer para alguma coisa se eles passarem pelo time da Flórida no final do ano. É só nisso que eles pensam, admita ou não Larry Bird.

A abordagem do presidente do clube é de tudo ou nada neste ano. “Não estou preocupado sobre o ano que vem, e nem tenho um ano todo pela frente. Estamos aqui e agora, e vamos fazer de tudo para que posamos avançar o mais longe possível. Sabemos que efrentaremos uma dura competição, mas, se tivermos a chance de melhorar nossa equipe, vamos fazer isso”, afirma.

O Indiana será uma equipe melhor com o enigmático pivô?

Erik Spoelstra, do seu lado, garante que não está  preocupado. “Estamos concentrados apenas em nós neste momento. Estou certo de que (a contratação) chama muitas manchetes e diversas histórias. Ele combina com o estilo deles, de terem um garrafão alto e físico, mas, pensando do nosso ponto de vista, isso não nos afeta em nada”, afirma o técnico do Heat.

Sim, definitivamente Andrew Bynum, hoje, não é um problema ou solução para os atuais bicampeões. Larry Bird não quis saber de permitir isso. Agora, para quem não tem tanto dinheiro para fazer estripulias no mercado, ele só espera que daqui a alguns meses sua aposta se mostre bastante lucrativa.


Scola reforça ainda mais o banco do Indiana Pacers, seu terceiro clube na NBA
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Giancarlo Giampietro

David West & Luis Scola

West e Scola agora são amigos em Indiana. O Pacers vem com tudo, sim

Bem, essa já não é tão discreta, né?

Pelo menos não para nós brasileiros, que sabemos bem dos truques e truques de que um Luis Scola é capaz. Agora ele vai oferecer suas habilidades para o técnico Fran Vogel, em Indiana. O banco do Pacers, seu (grande) ponto fraco da equipe nos últimos playoffs, fica ainda mais forte.

Segundo a mídia americana, a diretoria do Pacers estava namorando há um tempão a ideia de contratar Scola. As negociações esquentaram na semana passada, até que Larry Bird concordou em ceder um pouco mais ao Phoenix Suns para fechar o negócio.

O clube do Arizona, em plena reconstrução, recebeu em troca o ala Gerald Green, o pivô Miles Plumlee e uma escolha de primeira rodada no próximo Draft da NBA, considerado por 100 em 100 especialistas como um dos mais fortes desde 2003 (ano de LeBron, Melo, Wade, Bosh e Darko).

O argentino, Bird já anunciou, chega para ser o reserva imediato de David West. Difícil encontrar um time com alas-pivôs tão talentosos assim na rotação – clique aqui para ver uma detalhada comparação estatística entre os novos companheiros –, embora possamos dizer o mesmo sobre “ala-pivôs nada atléticos”.

Acontece que essa ressalva, sinceramente, pouco importa neste caso. West e Scola não vão castigar tanto o aro ou incomodar seus adversários com tocos, mas têm muito fundamento, inteligência, força e coração para batalhar no garrafão. Dificilmente os dois poderão ficar juntos em quadra, mas ter Scola no elenco se torna um grande luxo, dando a Vogel a chance de regular os minutos de seu titular.

No fim, o Indiana está inserindo Scola no papel que coube a Tyler Hansbrough nos últimos anos. Difícil até de quantificar o que representa essa evolução. Tudo de rebote que a equipe estaria perdendo numa troca do Psyco-T por Chris Copeland acaba zerado agora.

A presença do craque sul-americano também reforça, desta maneira,  indiretamente a rotação exterior, já que Copeland pode ser aproveitado como um reserva de Paul George. Caso Danny Granger esteja em forma, os minutos desse cestinha ficariam bem limitados, mas Vogel só teria o que agradecer ao seus dirigentes – tendo um jogador de bom nível como o décimo ou 11º jogador de sua rotação. Dando tudo certo, as coisas ficariam assim:

– George Hill, CJ Watson, Donald Sloan.
– Lance Stephenson, Orlando Johnson.
– Paul George, Danny Granger, Solomon Hill.
– David West, Luis Scola, Chris Copeland.
– Roy Hibbert, Ian Mahinmi.

(Pensem que atletas como G. Hill, Stephenson, George, Granger, S. Hill e Copeland podem fazer múltiplas funções em quadra, aumentando consideravelmente as alternativas para a comissão técnica.)

Se Copeland e CJ Watson não valeram tantas manchetes, com Scola a história fica diferente.

Erik Spoelstra, Tom Thibodeau, Mike Woodson e (?) Jason Kidd certamente já estão avisados.

*  *  *

O que o Phoenix Suns está ganhando nessa?

(Fora o aumento de confiança na capacidade do novo gerente geral Ryan McDonough…)

O mais importante é a escolha condicional do próximo Draft. A escolha ficará com o Pacers caso eles falhem em se classificar para os playoffs. Algo inimaginável. E, ok, se eles forem para os mata-matas, é bem provável que o clube do Vale do Sol vá ganhar nessa um “pick” por volta da 25ª posição. Historicamente, poucos talentos de primeiro nível são aproveitados nessa altura. Mas há bons valores, de todo modo, para serem descobertos, assim como o ala-armador Archie Goodwin, extremamente promissor, apenas o 29º do recrutamento de calouros.

De resto, não é muita coisa. Mas, para um time processo de remodelação, quanto mais jogadores diferentes para se avaliar, melhor.  Com o plantel do campeonato passado é que eles não poderiam ficar.

Gerald Green já tem 27 anos. O tempo passa. McDonough estava no estafe do Boston Celtics que escolheu o atlético ala no Draft de 2005, quando saiu direto do colegial para a grande liga, ainda adolescente.

O jogador era muito cru tecnicamente, pouco maduro fora de quadra também e naufragou, passando ainda por Minnesota Timberwolves, Houston Rockets e Dallas Mavericks até ser forçado a continuar com sua carreira fora dos Estados Unidos. Passou pela China, pela Rússia, voltou para a D-League e, no fim da temporada 2011-2012, era novamente um jogador de NBA, fazendo uma campanha decente pelo New Jersey Nets (18,4 pontos numa projeção por 36 minutos, 48,1% nos arremessos, 39,1% de três, em 31 jogos). Que bela história! Green havia encontrado seu rumo, enfim! E o Pacers pagou para ver, e não deu muito certo: sua pontaria despencou, sua disciplina defensiva também não condizia com o esperado e, nos playoffs, teve apenas 11,7 minutos. O Suns espera que, num sistema ofensivo mais agressivo, ele possa render mais, ainda que sua posição não seja garantida. Há minutos para serem conquistados, mas tudo vai depender de um jogador muito talentoso, mas bastante inconsistente.

Plumlee é o irmão mais velho dos Irmãos Plumlee (conte aí o calouro Mason, recém-escolhido pelo Nets e o caçulinha Marshall, que ainda joga por Coach K em Duke). Não sei se a gente precisa acrescentar algo depois disso, né? Os Irmãos Plumlee!

Mas, ok, não vamos nos contentar com essa futilidade. Miles é mais um jogador extremamente atlético, especialmente para alguém do seu porte (2,11 m e 115,7 kg), com boa impulsão e agilidade, além de forte. Apesar dos quatro anos sob a tutela de Krzyzewski, ainda é visto como um jogador em desenvolvimento. O que, no caso, é um pouco estranho, considerando que, apesar de partir apenas para sua segunda temporada, já tem 24 anos. Vai ter de mostrar serviço nos treinos a Jeff Hornacek se quiser se intrometer numa rotação com Marcin Gortat, os gêmeos Morris e, talvez, o ucraniano Alex Len, quinta escolha do Draft, mas que vem de cirurgias em ambos os pés.


Miami, enfim, iguala intensidade do Indiana, se livra de zebra e está na final da NBA
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Giancarlo Giampietro

Chris Bosh vive na defesa!

Até o Chris Bosh marcou bem nesta segunda. Aí complicou para o Indiana de David West

De tanto que se fala, pode parecer o discurso mais automático de todos, uma falácia, o clichê dos clichês. E nem sempre esse discurso explica tudo, mesmo. Mas que pode fazer diferença? Ô se pode.

Tudo isso para falar de “energia”, “intensidade”, “vontade”, “raça”. São quesitos que supostamente seriam obrigatórios para jogadores que ganham milhões e milhões por seus contratos – só de salário. Mas nem sempre é fácil, assim, de se explicar. Nem sempre estamos falando exatamente de coração: “cabeça” pode explicar isso muito bem: a concentração para executar aquilo que é necessário em quadra.

Paremos por aqui, contudo. Independem as razões para as oscilações de empenho na análise deste Jogo 7: uma vez que o Miami Heat enfim pôde fazer frente, mesmo, consistentemente, frente ao Indiana Pacers  nas pequenas coisas, na briga pelos rebotes, na aplicação defensiva, seu talento fez a diferença. Vitória por 99 a 76 e a vaga nas finais da NBA para enfrentar o San Antonio Spurs.

Comecemos pelos rebotes, a batalha que todos julgaram ser impossível para os atuais campeões desde o começo da série. Nesta segunda-feira, o time da casa dominou as coletas (43 a 36), em especial na tábua ofensiva (15 a 8).

LeBron, rumo ao aro

LeBron e o Miami agrediram muito mais o aro no Jogo 7, sem ajuda dos juízes

Destaque aqui para Chris Bosh. Sim, é possível! No caso, consegue pegar mais de cinco rebotes num jogo! Vocês podem não acreditar, mas ele apanhou nove nesta partida decisiva, um recorde pessoal na final do Leste. Mas a ovação fica por conta, mesmo, de Dwyane Wade. O ala-armador orgulhoso e quebradiço que  até mesmo superou Bosh no garrafão com nove rebotes – seis deles ofensivos! Spoelstra chorou ao checar as estatísticas finais, certeza.

Além disso, temos o caminhão de 21 desperdícios de posse de bola cometidos pelo oponente. Mesmo quando venceram o primeiro tempo período por dois pontos, os jogadores do Pacers não tiveram a chance de se sentirem confortáveis em quadra. Cometeram nos 12 minutos iniciais 9turnovers. Eram 15 ao final do primeiro tempo. Reparem, então: cometeram apenas seis na segunda etapa, mas, francamente, o confronto já estava decidido. Uma vez que o time da casa abriu 15 pontos antes de ir ao intervalo, a fatura estava praticamente liquidada.

Pois o Pacers depende em demasia de seu quinteto titular (mais a respeito em um artigo sobre o fechamento de temporada deles). Significava, basicamente, que seus cinco principais jogadores precisariam fazer um trabalho tão impecável a ponto de tirar uma desvantagem dessas em 24 minutos de jogo contra um time que tem LeBron James. Muito difícil.

Mas mais difícil ainda quando esse mesmo time está jogando com uma defesa dessas. É impossível jogar com esse tipo de suor o tempo todo, 48 minutos por partida. Quando eles conseguem, todavia, entregar por alguns – ou muitos – minutos uma defesa com um nível de pressão acima da média dentro das quatro linhas, fica muito difícil. E só assim, mesmo, para inverter o tabuleiro apresentado apresentado na série.

Penando por todo o confronto com Roy Hibbert debaixo da cesta, resolveram cortar, de uma vez por todas, seu acesso ofensivo. Em vez de parar o poste com a bola dominada, melhor evitar que ele a receba de vez, não? E taca Mike Miller flutuando para a cabeça do garrafão, Bosh (aleluia!) marcando de modo antecipado, nem que fosse com um posicionamento 3/4 consistente, Chris Andersen, Udonis Haslem, Wade, Chalmers, todos eles esticando bem os braços, procurando o passe, acotovelando, cutucando, incomodando, sufocando, desgastando. Sem contar a defesa exemplar de LeBron para cima de George: colado em seu jovem e emergente rival (só 7 pontos em 2/9 de quadra, com 4 assistências e três turnovers), sem perder a pose ou o foco. Impressiona demais mesmo quando não faz cesta.

Como se ele também não tivesse arrebentado no ataque, ué: foram 32 pontos em 40 minutos, 15 deles na linha de lances livres (traduzindo: agressividade ao extremo e sem a ajuda da arbitragem geralmente caseira da liga). Perdeu o medo de encarar Hibbert? Sim. Mas também enfrentou  menos o paredão do Indiana rumo ao aro, uma vez que o gigantão teve um raríssimo problema com faltas no duelo. Além disso, o astro desta vez contou com a ajuda de Wade (19 pontos, 7/15, 5 lances livres) e Ray Allen (10 pontos, todos no segundo quarto decisivo). Quem é vivo aparece, gente. Wade definitivamente não jogou como o craque de sempre, mas ao menos compensou a explosão reduzida com um pouco mais de coragem.

Com a vitória, o Miami se insere num grupo seleto de equipes a jogar a final da NBA por, no mínimo, três anos seguidos: apenas o Los Angeles Lakers (em seis ocasiões), o Boston Celtics (duas), Chicago Bulls (duas), Detroit Pistons (uma) e Knicks (uma, nos anos 50) deram conta disso.

Só mesmo, os elencos mais talentosos para se estabelecer desta maneira.

Desde que a habilidade natural esteja acompanhada por tudo aquilo que os técnicos imploram nessas gravações registradas em discursos inflamados durante paradas de tempo. Súplicas que podem parecer as mais banais. Mas que, no calor de uma decisão, podem fazer toda a diferença.

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Pequenos detalhes. Dentro e fora de quadra. Como Erik Spoelstra  comprovou neste jogo ao limar Shane Battier de sua rotação e inserir Mike Miller. Para os técnicos conscientes, metódicos, é algo MUITO difícil de se fazer. Pense o seguinte: você ficou com um padrão de equipe por mais de 90 partidas no ano. Chega uma hora, porém, em que fica de frente para a parede. As coisas estão difíceis, tem de fazer algo. Mas primeiro você se sente obrigado a tentar até o último instante a reabilitação de um de seus homens de confiança. Até que chega a hora em que diz chega. E, para Battier, ao menos no duelo com o Pacers, chegou o fim. Toca botar Mike Miller, que estava afundado no banco de reservas, em quadra.

Mike Miller x Paul George

Mike Miller, mais do que um chutador e peça quase esquecida no banco do Miami. Talento

Miller foi muito bem em pouco tempo no Jogo 6 e mostrou que estava pronto. Na volta a Miami, não contribuiu em nada no ataque naquele fundamento que basicamente paga seu salário – o chute de longa distância –, mas mostrou por que já foi um agente livre cortejado por James e Wade para se juntar ao time. Porque ele pode fazer, sim, mais do que arremessar. Ótimo reboteador para sua posição, bom passador e um jogador inteligente que cobre bem os espaços dos dois lados da quadra. Fez a diferença em diversas posses de bola dessa maneira: ajudou muito nas dobras defensivas do segundo período derradeiro e conseguiu várias interceptações. Não por acaso, em sua linha estatística, o número mais elevado foi de roubos de bola: três. Parece nada, mas é muito mais do que o esperado e, ao mesmo tempo, descreve muito pouco o que ele fez em quadra.

E ter um Mike Miller como solução de última hora diz muito a respeito do desnível de talento nos dois grupos. O cabeludinho certamente seria o sexto homem do Pacers se estivesse do outro lado.

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Frank Vogel foi duramente criticado por sua decisão de sentar Roy Hibbert na posse de bola final da prorrogação do primeiro jogo. Uma pane que acabou sendo custosa demais, e ele mesmo assumiu o erro. Neste Jogo 7, seu erro foi um o pouco mais sutil, mas também valeu como uma senhora derrapada. Ele falhou feio em sua rotação. Depois de vencer o primeiro período por dois pontos, abaixou a guarda muito rapidamente, ao descansar três titulares de uma vez (DJ Augustin, Sam Young e Tyler Hansbrough), permitindo a reação imediata – e a escapada dos adversários no placar. Uma coisa as estatísticas mais avançadas mostraram claramente na série: quando o Indiana tinha seus cinco titulares, juntinhos, ao mesmo tempo em ação, a equipe venceu o Miami Heat. Qualquer outra formação, porém, mesmo que fosse apenas um reserva acompanhando quatro titulares, deu Miami. Numa partida dessas, era hora de segurar um pouco mais as mudanças, mesmo que se corresse o risco de esgotar o quinteto inicial. Era a hora de ver como o oponente viria para quadra e, aí, tomar uma decisão. Mas tudo bem também: o que o treinador tirou de um plantel limitado desses é incrível, e, apenas em sua terceira temporada como o comandante, está crescendo junto com seus atletas.

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Depois do jogo de cartas e blefes entre Popovich e Spoelstra durante a temporada regular – nos dois confrontos diretos entre dois candidatos ao título, pelo menos um dos times poupou alguns de seus principais jogadores –, agora chegou a hora de eles e suas equipes se enfrentarem para valer em quadra. As finais começam no dia dia 6, quinta-feira, em San Antonio Miami, claro. Expectativa de um grande embate.