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Coisas para se fazer no Leste quando você (não) está morto
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Giancarlo Giampietro

Lance Stephenson, o símbolo da 'corrida' pelos mata-matas do Leste

Lance Stephenson, o símbolo da ‘corrida’ pelos mata-matas do Leste

Na onda tarantinesca do cinema dos anos 90, Coisas para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto foi um dos primeiros filhotes. Lançado em 1995, um ano depois de Pulp Fiction, foi um entre uma centena de películas (ainda eram películas, acho) a tirar do submundo alguns criminosos de personalidade singular, tentando sair de enrascadas com humor e violência, nem sempre explícita. Os diálogos obrigatoriamente precisavam conter referências da cultura pop em um mínimo de 67% de suas falas.

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Andy Garcia, o impagável Steve Buscemi, o eterno Dr. Brown Christopher Lloyd e o curinga Christopher Walken que me desculpem, mas este aqui não é um bom filme. Pelo menos não no meu gosto. A melhor coisa era o título. E só. Mas que título, né? Serve para deixar qualquer coluna parecendo muito mais legal do que é na verdade. ; )

Coisas para se fazer em Denver quando você está mortoSe for para tomá-lo emprestado e empregá-lo na NBA, ele nem precisa de adaptação. O Denver Nuggets já está morto nesta temporada faz tempo – algo de que a franquia se demorou a dar conta, mas enfim aconteceu. Mas esse texto não vai perder mais tempo para falar do indeciso time de Brian Shaw. No Leste, tem muito mais gente enterrada. Digo: enterrada, mas viva – numa expressão tão cara ao chapa Ricardo Bulgarelli, do Sports+.

Na conferência banhada pelo Oceano Atlântico, você nunca pode dar uma equipe como falecida nesta temporada, por mais que todos os fatos apontem o contrário. São todas sobreviventes – menos o New York Knicks e o Philadelphia 76ers, claro, que só querem competir hoje por Jahlil Okafor, mesmo.

O Philadelphia se sabota voluntariamente: Sam Hinkie já fez uma série de coisas para matar as chances de resultado positivo para sua equipe. Por outro lado, Phil Jackson começou o ano vendendo uma proposta em Manhattan e vai terminá-lo com outra inversa.

De resto, excluindo o pessoal do topo e o valente e surpreendente Milwaukee Bucks, temos uma extensa lista de times que entraram no campeonato com aspirações de playoffs, mas para os quais quase nada saiu conforme o planejado. Mesmo assim, todos ainda têm chances de classificação. Segue a folha corrida, com os times ordenados de acordo com suas respectivas campanhas e posicionamento até esta segunda-feira, 11h da manhã, horário de Brasília:

7 – Miami Heat (20-24, 45,5%): Pat Riley e Erik Spoelstra anunciavam um mundo pós-LeBron em que o time seguiria fortíssimo e deveria ser encarado se não como candidato ao título, mas pelo menos como candidato a uma quinta final consecutiva. Em sua última entrevista, não conseguiu disfarçar a frustração, embora ainda sustentando a opinião de que vê muito potencial a ser explorado no atual elenco. Se jogassem no Oeste, estariam hoje na 11ª posição, mesmo que enfrentem semanalmente adversários bem mais fracos. Os veteranos Dwyane Wade e Chris Bosh já perderam juntos 18 partidas – Bosh, em particular, estava barbarizando até sofrer uma mardita lesão na panturrilha. Josh McRoberts nem estreou de verdade. Shabazz Napier, bicampeão universitário e senior, não estava tão pronto assim como se imaginava. Mesmo jogando muitas vezes com dois armadores, Spoelstra não se sente confortável mais em colocar sua equipe para correr – o Heat tem o ataque mais lento da liga. As boas notícias: quando joga, Wade ainda é bastante produtivo, mesmo que distante de seu auge. E o fenômeno Hassan Whiteside (mais sobre ele depois). Com tantos problemas, o clube da Flórida ainda é o favorito para se classificar em sétimo.

8 – Charlotte Hornets (19-26, 42,2%): depois de chegar aos mata-matas na temporada passada, Michael Jordan redescobriu o gosto pela coisa. Foi às compras e hoje está com remorso. Não tem um dia em que o HoopsHype não destaque um rumor de negociação envolvendo Lance Stephenson. O Hornets sente que precisa se livrar de Stephenson o quanto antes, a ponto de aceitar discutir com Brooklyn uma troca por Joe Johnson, o segundo jogador mais bem pago da liga. Sim, o JJ mesmo. É de abrir os olhos todo esse esforço: sem o volátil ala-armador, o aproveitamento é de 9-5 (64%). Al Jefferson enfrenta uma incômoda lesão na virilha, que limita seus movimentos e já o tirou de quadra por nove partidas. Kemba Walker joga há tempos com um um cisto no joelho, que passou a preocupar de verdade neste mês, lhe custando três jogos, justo quando vivia seu melhor momento na NBA. Michael Kidd-Gilchrist ainda não sabe o que é um arremesso de três pontos. Marvin Williams é Marvin Williams. Mas não tem tempo ruim, não: o Hornets se vê hoje dentro da zona dos mata-matas, graças a uma defesa que foi a mais implacável neste mês de janeiro. É o bastante. Sofram:

9 – Brooklyn Nets (18-26, 40,9%): Billy King promove neste momento o maior saldão. É chegar e levar! Desde que paguem, e caro. Afinal, ele quer se desfazer da folha salarial mais custosa de toda a liga, com mais de US$ 91 milhões investidos. Então temos aqui o time da vez na central de boatos. Antes de ser afastado por conta de uma fratura na costela, Deron Williams havia virado banco de Jarrett Jack. Brook Lopez, que já perdeu dez jogos, não consegue superar a marca de 6,0 rebotes. Joe Johnson está em quadra, mas a verdade é que o clube vem acobertando lesões no joelho e no tornozelo para tentar vendê-lo. Bojan Bogdanovic é um fiasco até o momento e aquele por quem havia sido substituído, Sergey Karasev, anda curtindo a vida adoidado. Lionel Hollins não consegue mais se conter em entrevistas coletivas, manifestando constante desprezo por sua equipe. Com mais uma vitória, eles voltam a se juntar ao Hornets, para reassumir o oitavo lugar (uma vez que levam a melhor no critério de desempate por confronto direto). Kevin Garnett sorri. Totalmente surtado.

10 – Detroit Pistons (17-28, 37,8%): até o Natal, o presidente e técnico Stan Van Gundy havia testemunhado apenas cinco vitórias dos rapazes da Motown. Em 28 duelos. Tipo um Sixers, mesmo. Foi aí que ele ativou o detonador da bomba e mandou embora Josh Smith, aceitando lhe pagar mais de US$ 30 milhões a troco de nada. Obviamente que o Pistons venceria 12 das próximas 17 partidas e se recolocaria na discussão. O duro é perder Brandon Jennings pelo restante da temporada, devido a mais uma ruptura de tendão de Aquiles nesta campanha. Jennings era outro que praticava o melhor basquete de sua decepcionante carreira. Momento para pânico geral, não? Em qualquer outra circunstância, sim. Mas talvez SVG consiga fazer que DJ Augustin replique sua incrível jornada dos tempos de Chicago. Se não for o caso, resta sempre o caminho de uma troca (Prigioni é o primeiro nome especulado) ou de um milagre vindo da D-League (Lorenzo Brown, ex-Sizers e North Carolina State, também é comentado). Enquanto isso, Greg Monore vai conseguindo a proeza de superar Andre Drummond nos rebotes. Vai que dá!

11 – Boston Celtics (15-27, 35,7%): Danny Ainge trocou Rajon Rondo. Danny Ainge trocou Jeff Green. Danny Ainge trocou Brandan Wright. Danny Ainge trocou até mesmo Austin Rivers. Marcus Smart ainda é só uma promessa. Kelly Olynyk começou muito bem o campeonato e despencou até sofrer uma torção de tornozelo grave. Evan Turner continua acumulando números, mas sem eficiência nenhuma. E o Celtics ainda tem chances, para tornar a vida de Brad Stevens menos miserável. Esse é um dos clubes que tem, hoje, um dos maiores conflitos de interesses entre o que a direção espera (reformulação apostando no próximo Draft) e o técnico prega (tentar vencer a cada rodada, e que se dane). Os caras acabaram de conseguir dois triunfos em um giro pela Conferência Oeste  e de fazer um jogo relativamente duro contra Warriors e Clippers. E aí: Ainge vai trocar Stevens também?

12 – Indiana Pacers (16-30,  34,8%): o time da depressão, mas que não desiste nunca. Só não são brasileiros. Frank Vogel deve ler a relação de lesões acima e gritar em seu escritório: Vocês querem falar de desfalques!? Sério!? Peguem esta, então:” Paul George acompanha o time nas viagens, vai treinando de leve, e só; George Hill só disputou sete de 46 partidas; Hibbert perdeu outras quatro, enquanto West já perdeu 15; CJ Watson ficou fora de 18 jornadas, dez a mais que Rodney Stuckey e oito a mais que CJ Miles; Donald Sloan já tentou 334 arremessos neste campeonato, sendo que, de 2011 a 2014, havia somado 393 chutes; apenas o imortal Luis Scola e Solomon Hill jogaram todas as partidas. E o Pacers ainda deu um jeito de vencer 16 partidas e de se manter entre as dez defesas mais eficientes da liga, superando até mesmo o Memphis Grizzlies. Alguém aí falou em Votel para técnico do ano?

13 – Orlando Magic (15-32, 31,9%): o quê? Você não bota fé!? Não vá me dizer que não leu nada dos parágrafos acima?


Nada que se compare a Ibaka na vitória do Thunder
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Giancarlo Giampietro

a

Vamos lá, mais uma vez…

“‘Cause NOOOOOOOTHING compares
Nothing compares 2 U!

Calma, calma.

Não há clima para melodrama, sofrimento nenhum na base 21 aqui nesta manhã de segunda-feira, com o friozinho da zona sul paulistana lá fora. Muito menos em Oklahoma City. Lá o sol vai surgindo cheio de folia, depois do retorno de Serge Ibaka, com todos os retoques heróicos que os torcedores – mais os marketeiros – gostam. E nem dá para ser diferente, neste caso.

Mas que o igualmente histórico vídeo acima corre o risco de virar o clipe oficial da campanha do Thunder nestes playoffs da NBA, ô se corre. Independentemente do destino do time nos próximos dias. Vão virar o jogo contra o Spurs? Perdem na final? Ganham o tão esperado título para a dupla Durant-Wess? Não importa. Vamos todos chutar pedrinhas por aí com essa balada na cabeça, pensando no pivô.

“Se Ibaka jogar nesta série, vou raspar minha cabeça, usar um vestido, adotar um sotaque irlandês e cantar karaokê como Sinead O’Connor.”

Pois foi o que disse Scott Brooks, ainda em San Antonio, num dos blefes mais excêntricos da história da NBA. O técnico tentava de tudo para despistar sobre o possível retorno de seu pivô congolês-espanhol-mutante quando a série retornasse aos confins de Oklahoma. Todo mundo acreditou – menos Gregg Popovich, Tony Parker, Manu Ginóbili, Tim Duncan e o roupeiro do San Antonio.

Mas, que ótimo, né?

Aqui, vamos celebrar sempre quando uma fonte decide quebrar a rotina e mergulhar nas profundezas da cultura pop para dar uns quilates a mais a sua declaração.

Imagine se ele dissesse algo do tipo: “Gente do céu, já falei um milhão de vezes que o Ibaka não joga mais nesta final do Oeste. Chega disso”. Qual seria a graça desse chororô? Se for para chorar, que seja com a Sinead O’Connor.

Fato é que Ibaka se recuperou de seu estiramento na panturrilha – lesão que, segundo os médicos do Thunder, o afastaria do restante dos playoffs. Mesmo mancando em alguns momentos, ele pode ter alterado a série.

Foi o único fator? Claro que não:

1) Os rapazes de OKC notoriamente jogam melhor em casa. Especialmente contra os bandoleiros de San Antonio. Venceram agora os últimos oito confrontos em seu ginásio.

2) Brooks tomou a sábia – e ao mesmo tempo demorada – decisão de tornar seu time mais atlético em quadra. Arrancou Sefolosha e Collison de sua rotação e deu apenas 13 minutinhos para Perk. O experimento só não foi mais radical porque Derek Fisher e Caron Butler seguiram acima de Perry Jones, o Terceiro, na lista do técnico. Não exagera, né? Por mais inteligentes que sejam o ala suíço e o pivô que, ao lado de Durant, é o único remanescente da franquia dos tempos de Seattle, se for para apostar em gente cerebral, a vantagem tende a pender para o outro lado.

Então, com Reggie Jackson entre os titulares e Jeremy Lamb e Steven Adams ganhando mais espaço na segunda unidade, que viesse o caos para quadra, no ataque e, especialmente, na defesa. As linhas de passe ficam mais apertadas, o espaço para bater para a cesta também é reduzido.

Oi, gente, eu me chamo Reggie Jackson e também fui importante na nossa vitória, né? Depois de Sefolosha ter zerado nas duas primeiras partidas, o armador somou 15 pontos e 5 assistências no Jogo 3

Oi, gente, eu me chamo Reggie Jackson e também fui importante na nossa vitória, né? Depois de Sefolosha ter zerado nas duas primeiras partidas, o armador somou 15 pontos e 5 assistências no Jogo 3

De qualquer forma, a influência de Ibaka na partida foi obviamente maior, já pelo que fez num primeiro quarto que não poderia ser escrito nem em contos de fadas. O cara me faz a primeira cesta do time? E vai matando uma atrás da outra? E começa a dar tocos na defesa como se nada tivesse acontecido? Este já fica conhecido como oficialmente como o “O Jogo do Ibaka” nos registros históricos.

Para a autointitulada “Loud City” nem precisa de muito para o ginásio ser tomado pela histeria. Com o pivô aprontando dessas? Era recomendável o uso de protetor auricular. Até as 500 milhas da Indy ficaram mansinhas.

O impacto causado por Ibaka foi emocional inicialmente, mas, com o decorrer do jogo, se tornou ainda mais relevante no tabuleiro tático. Um Ibaka a 70, 80% já é no mínimo cinco vezes mais atlético que seus companheiros de garrafão. É o que se sente em quadra e que vai muito além dos quatro tocos que ele deu em 29 minutos neste Jogo 3, ou dos 2,7 tocos por partida durante a temporada regular (foi o segundo na liga nesse fundamento). Com sua envergadura e mesmo  agoraa limitada mobilidade, o pivô fecha espaços e intimida os adversários.

(Por outro lado, Nick Collison sabe aonde como se posicionar perfeitamente – ano após ano ele está entre os atletas que mais cavam/apanham em faltas de ataque –, mas não é capaz de surpreender um atacante pelo alto. Não vai ser aquele cara a contestar uma cesta quase certa e forçar o erro. O mesmo vale para Perkins. Adams, de 20 anos, vindo da Nova Zelândia, ainda está aprendendo os macetes – embora também tenha feito uma grande partida neste domingo.)

Não é que Ibaka apenas dê tocos e altere a rota de bandejas. Há casos em que seu oponente simplesmente nem vai olhar para a cesta, respeitando demais seus atributos defensivos. E isso vale até mesmo para um armador rápido e maroto como Parker (4-13 nos arremessos, 4 assistências e 4 turnovers), ou para um Tim Duncan (7-17 nos arremessos), com todos os seus anéis, prestígio e fundamentos. Só o Kawhi Leonard que não se importou muito:

Esse foi um caro corte para a cesta que resultou numa cesta fácil para o Spurs (com dois detalhes: talvez só tenha se tornado fácil devido ao arranque explosivo do ala e ao fato de Ibaka não estar 100% – reparem como ele “demora”, segundo seus padrões, para largar Splitter e saltar na cobertura).  O time como um todo terminou o jogo com apenas 39,6% (36-91) nos arremessos, após ter combinado para 53,8% nas duas partidas em casa (91-169). Além disso, cometeu 16 desperdícios de posse de bola, vindo de apenas 9 e 12 em casa.

Esses números têm muito mais a ver com o que aconteceu entre os dois rivais durante a temporada regular, com Ibaka em ação, do que com o que vimos no início do duelo no Texas. Com o congolês-espanhol-mutante, o Thunder segurou o potente ataque de Popovich a 42 pontos no garrafão em média em quatro jogos, com 44% de acerto nos chutes. Sem ele, foram 60 pontos e 54%.

Joga lá para cima, mesmo, Manu, que o Ibaka quer te pegar

Joga lá para cima, mesmo, Manu, que o Ibaka quer te pegar

“A ausência de Serge é muito dura”, afirmou Reggie Jackson antes do Jogo 3. “Você fica até meio preguiçoso ao ter alguém como ele, que apaga tudo, na cobertura, interferindo em um monte de arremessos. Seu corpo começa a dizer algumas coisas: ‘Apenas os direcione no caminho de Serge’.”

Dentre as muitas declarações sobre o terceiro principal jogador do Thunder que li, acho que essa foi a melhor. Há tanta coisa implícita e explícita aqui. Vale destacar, pelo menos, o quão importante é a química que se desenvolve entre os atletas. Algo que você desenvolve com base na repetição diária de treinamentos que definitivamente você não vai reparar em menos de uma semana de treinos nas vésperas de uma final de conferência. A defesa da equipe se comporta de um jeito com Ibaka e de outra forma sem o cara, e não só por causa de sua constituição física assustadora.

Da mesma forma vale para o ataque, no qual marcou 15 pontos, com 6 cestas em 7 tentativas. É inevitável questionar como alguém tão ágil e forte como o pivô não tenha desenvolvido um jogo confiável de costas para a cesta. Acontece que, no ataque de Oklahoma City, todo e qualquer espaço obtido para infiltrações de Westbrook e Durant é bem-vindo. O grandalhão ter desenvolvido o chute de média para longa distância casa perfeitamente com essa proposta.

Nestes playoffs, Ibaka, aliás, tem a melhor média de acerto na média distância, convertendo 51,9%, entre aqueles que tentaram no mínimo 20 arremessos. Durante a temporada, ele matou 46,9% dali, quarto na liga entre os 65 jogadores que arriscaram pelo menos 250 vezes. Bem acima da média. Isto é: essa bola tem de ser respeitada, e a defesa do Spurs que se vire a partir daí – Splitter flutuando mais, em vez de se plantar embaixo da cesta, ou trocas rápidas na jogada de pick-and-pop, ou ajuda vindo da cabeça do garrafão, ou do lado contrário etc.

O Retorno de Ibaka

O Retorno de Ibaka

Claro, se Ibaka for jogar a próxima partida. Dessa vez o intervalo para recuperação é mais curto. Terça-feira já está aí – o que faz dos minutos a mais que ele jogou no domingo um tanto alarmantes: assim que Popovich limpou seu banco e voltou com Bonner, Ayres e Baynes, era o caso de Brooks ter sacado na hora seu pivô, mesmo que ainda restassem mais de cinco minutos.

Agora voltam as perguntas: será que joga? Será que joga e de modo efetivo?

Oklahoma City inteira vai cruzar os dedos em pensamento positivo. Todos eles cantando numa serenata que só para seu pivô: “Nada se compara a você”.


Inconstâncias de JR Smith complicam o Knicks na semifinal contra o Pacers
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Giancarlo Giampietro

Charlie Kaufman escreveu dois dos roteiros mais cativantes e instigantes para filmes (nem tão) recentes (assim) de Hollywood: “Quero Ser John Malkovich” (1999) e “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (2004), peças que investigam, tentam compreender o que se passa literalmente por dentro de nossas cabeças doentias. Isso e mais um pouco, claro, com humor e muita estranheza.

Brilho Eterno de uma Mente Sumida

Quem quer ser Charlie Kaufman?

Kaufman, nasceu em 19 de novembro de 1958 em Nova York, onde hoje deve estar perdido em seus devaneios, já que ele anda bastante sumido dos cinemas. Temos aqui um projeto que talvez lhe interesse: entender a mente de JR Smith. A película só não poderia se chamar “Confissões de uma Mente Perigosa”, uma pena. Já que esse é o título do primeiro filme dirigido por George Clooney, o qual ajudou a roteirizar também. Olhando a foto aqui do lado, dá para entender de onde vêm suas ambições introspectivas, né? (Leia-se: cara de doido da peste!)

Porque é difícil de compreender o que se passa com o maluquinho ala do Knicks.

Deixemos primeiro ele mesmo falar sobre seu péssimo desempenho na semifinal do Leste contra o Indiana Pacers, que lidera por 3 a 1: “Eu assumo a culpa por essa série toda. Estou deixando meus companheiros na mão, meus técnicos na mão, e não me sinto bem com isso.”

Um apanhado de números serve como uma boa radiografia para a má sensação que domina Smith no momento, com sua equipe voltando para Nova York a uma derrota da eliminação: mesmo marcando 13,3 pontos em 30 minutos, mas com um aproveitamentos horripilantes de 28,1% nos arremessos, queimando 16 chutes por partida para converter apenas 4,5, e de 64,7% nos lances livres. Em termos de eficiência seu índice despencou de 17,6 no duelo com o Celtics para pífio 6,6 diante do Pacers.

Mesmo que a defesa de Frank Vogel seja hoje muito mais forte que a de Doc Rivers, os problemas de Smith vêm do final da série contra os velhacos de Boston, mesmo – o que exclui também qualquer problema mais grave decorrente da febre que teve nos últimos dias. Sua má fase vem mais especificamente do episódio em que atingiu Jason Terry de maneira estúpida no terceiro confronto, uma atitude que resultou em sua expulsão de quadra e na suspensão de uma partida. Vamos lá: nos três jogos antes do gancho, 16,3 pontos de média, 43% de acerto. Desde então:  13,3 pontos, 28,8%.

“Acho que tivemos esse incidente com Terry na primeira rodada e talvez isso tenha feito ele perder o foco por alguns jogos, mas acho que ele está pronto para voltar ao seu nível”, disse o armador Pablo Prigioni, aquele que dificilmente vai ficar avoado em quadra, tentando dar uma força para o companheiro. Mas não rolou. O cara basicamente surtou.

JR Smith x Paul George

JR Smith não para de chutar

E não é a primeira vez em sua carreira, George Karl que o diga.

Smith nunca foi o cestinha mais certeiro. É capaz de criar diversas situações de arremesso por conta própria, com muita habilidade no drible e capacidade atlética, mas nem sempre se compromete com as melhores jogadas, daquelas que não abalam a saúde de seus treinadores. Peguemos seus números na atual temporada, por exemplo, a melhor desde que entrou na liga há oito anos, para sentir suas oscilações. Em novembro, teve médias de 14,2 pontos e 43,8%. Em dezembro, 18,1 e 39,5%. Em janeiro, 15,8 e 36,6%. Em fevereiro, 16,5 e 43%. Em março, 22,1 e 44,2%. Em abril, excepcionais 22 pontos e 48.3%. Uma loucura, que, ainda assim, não lhe custou o prêmio de melhor sexto homem do campeonato.

Há outros fatores que podem explicar tantos altos e baixos, obviamente. O quão bem o Knicks está atacando coletivamente, quem está jogando e contra quem se está jogando, sua forma física etc. São variáveis que afetam a todos. No caso específico de Smith, porém, esse rendimento inconstante vem de longa data e vai custando caro para um time que vai dependendo cada vez mais de Carmelo Anthony, uma vez que Amar’e Stoudemire mal consegue parar em pé.

“Quero que JR arremesse. Ele não pode abrir mão disso. Não quero que ele pare de procurar a cesta. Quero que ele continue agressivo”, clamou Carmelo. Enquanto Smith não souber o que se passa em sua cabeça, porém, fica a dúvida sincera de que a súplica do astro seja a realmente a melhor solução.

Será que Kaufman topa esse roteiro?

Encontrar um diretor seria fácil: Spike Lee está logo ali no Madison Square Garden.


O Fantástico Mundo de Ron Artest: Um mutante
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Giancarlo Giampietro

Antes da criação do Vinte Um, um projeto mais modesto, mas seguramente mais divertido era criar um blog todo voltado ao ala Ron Artest, do Los Angeles Lakers.

E bancaria como? A começar pela leitura do site HoopsHype, obrigatória para qualquer fã de basquete, devido ao acúmulo absurdo de informação oferecido diariamente, com tweets e declarações dos jogadores, jornalistas, dirigentes e trechos de reportagem do mundo todo.

As novelas das negociações de LeBron James e Carmelo Anthony foram certamente as líderes em manchetes nos últimos anos desse site agregador de conteúdo. Afinal, é o tipo de assunto que rende boato, respostas a boato e os boatos que, então, brotam desse processo.  Mas há também um personagem que dia sim, dia não vai estar presente por lá, geralmente no pé dos boletins de rumores, puxando a fila dos faits divers. Ron Artest, senhoras e senhores.

Sucessor natural de Dennis Rodman na prática do lunatismo – embora com personalidades e natureza completamente diferentes, num mano-a-mano que deve ser explorado em uma ocasião futura  –, Ron-Ron vai ganhar o seu próprio quadro aqui. Nos tempos em que a ordem é racionar na vida em sustentabilidade, o jogador não nos priva de sua condição de fonte de humor inesgotável.

*  *  *

Apenas 12 dias depois de passar por uma cirurgia devido a uma ruptura de menisco, Ron Artest, o #mettaworldpeace, afirmou que volta a jogar pelo Lakers já nesta terça-feira, contra o Hornets. Inicialmente, o clube californiano previa que o ala fosse ficar afastado de quadra por até seis semanas. Fazendo as contas, então, quer dizer que ele volaria a jogar praticamente um mês antes do previsto.

Incrível! Alucinante! Como definiu Pau Gasol:

#mettaworldartQuer dizer, além de lunático, ótimo defensor e, ao que tudo indica, um parceirão, Ron-Ron já pode ser conhecido também como um mutante. “Eu o chamo de Logan agora, ele é o Wolverine. Extremamente impressionante”, afirmou Kobe Bryant, revelando uma inesperada predileção nerd, ao citar a grande estrela dos X-Men em uma conversa de basquete. Brook e Robin Lopez já têm companhia!

Artest está com a bola toda, agora, se sentindo. “Meus companheiros ficaram surpresos ao me verem trabalhando duro e correndo. Foram 14 anos sem problema algum, isso ajuda. Adivinhem só!”, tuitou no domingo, após ter revelado que seu médico, responsável pela operação, estava surpreso pela boa condição de seus joelhos a essa altura da carreira.

O único senão disso tudo é que, em forma, nosso anti-herói vai ficar mais tempo em quadra do que no sofá, abastecendo a Internet com suas preciosidades de pensamento, alegrando a moçada. Em entrevista recente, até o comissário David Stern afirmou que checa o Twitter duas vezes por dia e que a conta do ala do Lakers é uma ótima fonte de entretenimento.

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Grizzlies avalia Scott Machado como possível reforço para os playoffs
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Giancarlo Giampietro

Scott Machado, do Santa Cruz Warriors

Scott Machado em lance livre, agora vestido de Warrior (em uniforme que lembra a vestimenta dos anos 90 do Golden State)

Segundo Chris Vernon, influente jornalista de Memphis, âncora de um programas de rádio mais ouvidos na cidade – e olha que por lá, onde Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash, Roy Orbison, BB King, Otis Redding, Isaac Hayes* e outras lendas foram reveladas,  há muita coisa boa para se ouvir em rádio além de informativos esportivos –, o brasileiro Scott Machado está na mira do Grizzlies, que procura mais um armador para a reta final de temporada e disputa dos playoffs. Essa é a boa notícia.

A má? O gaúcho nova-iorquino 🙂 é apenas um dos nomes especulados pela franquia do Tennessee para as próximas semanas, ao lado de Keyon Dooling, Johnny Flynn, Courtney Fortson e Sundiata Gaines.

A partir dessa informação, é possível refletir sobre diversos aspectos. Vamos tentar dar conta de algum deles:

– Primeiro de tudo é que Scott ainda pode despertar interesse de uma franquia da NBA mesmo não encantando, exatamente, encantado durante este mês de março em atividade pela D-League, já a serviço do Santa Cruz Warriors – ele deixou o Rio Grande Valley Vipers, clube filiado ao Houston Rockets, que investiu bastante em seu basquete durante a temporada. A equipe de Santa Cruz, como o apelido entrega, está vinculada ao Golden State e tem como titular em sua posição o armador Stefhon (isso mesmo, com f + h) Hannah, formado na universidade de Missouri.

Recapitulando, então: Scott jogou seu último jogo pelo Vipers no dia 13 de fevereiro, até sofrer uma contusão. Então, perdeu espaço no time – para gente rodada como Andre Gaudeolock ou mesmo para o conturbado ala-pivô Royce White, que, na verdade, é mais um criador de jogadas do que um definidor, e depois fez sua estreia pelo Santa Cruz Warriors no início de março. Desde então, segue em atividade pelo time californiano. Desde então, jogou apenas uma média de 15,7 minutos, com média de 4,1 assistências por jogo (média bastante elevada, por sinal).

Ante de pular para o próximo tópico, vale sempre a ressalva de como o universo da D-League consegue ser ainda mais maluco do que o nosso – ou o da NBA, no caso. Os jogadores trocam, sim, facilmente de equipe e lidar quase sempre com atletas que preferem mais ver um companheiro morto do que ajudá-lo, tudo em busca do Eldorado. Para um armador puro feito Scott, essas condições podem ser extremamente nocivas ou positivas, tudo dependendo do controle que ele consiga exercer sobre a equipe. Em Santa Cruz, ele tenta agora estabelecer melhor relação do que teve em Hidalgo, pelo Rio Grande Valley.

Scott Machado x Coby Karl

Scott Machado ainda luta por seu lugar na NBA, agora vinculado a nova franquia: Golden State

– Gastamos alguns parágrafos para falar do Scott, mas já fica logo o aviso: pode ser que não dê em nada. O Memphis Grizzlies tem hoje 13 jogadores sob contrato, o mínimo necessário da liga para a disputa dos playoffs. Eles não são, então, obrigados a contratar ninguém mais.

– Ainda assim, parecem inclinados a adicionar um reforço barato para o elenco – nunca se sabe quando alguém pode torcer o tornozelo, afinal. E aí pensando em playoffs talvez faça mais sentido contratar um jogador muito mais provado do que um novato inexperiente. E aí Dooling, supostamente aposentado em Boston, mas já topando qualquer coisa, pintaria como o favorito disparado. Além disso, mesmo sem jogar, Dooling pode ser uma figura positiva para se adicionar por sua influência fora de quadra, no vestiário. Danny Ainge e Doc Rivers tentaram contratá-lo como assistente técnico no ano passado, inclusive, para mantê-lo por perto, mas, uma vez que anunciou sua aposentadoria, teria de esperar um ano para retornar a Boston.

– Em termos de experiência, pensando em alguém talvez até mais útil em quadra, Sundiana Gaines, 26, também levaria vantagem, já com 113 partidas disputadas na liga, 57 pelo New Jersey Nets em 2011-2012. Pior: Gaines tem em John Hollinger, ex-analista da ESPN e vice-presidente de basquete do Grizzlies hoje, um fã. Veja o que ele, ainda como jornalista, escreveu no ano passado sobre o jogador, avaliando sua produção estatística: “Se ele pudesse arremessar a bola, ele seria muito bom. Gaines está na elite em diversas áreas que não pedem o arremesso da bola de basquete”.

– Pode ser, por outro lado, que o Grizzlies contrate alguém de olho mais na próxima campanha do que necessariamente nos mata-matas, alguém que ficaria de molho nos playoffs. O segredo seria contratar alguém barato agora, para tê-lo nas ligas de verão de 2013 e, no mínimo, poder envolver seu contrato (não-garantido, na maioria das vezes) em outra negociação, para ganhar flexibilidade. Se for este o caso, as chances do brasileiro subiriam bastante, a despeito da presença do jovem e muito talentoso Wroten no elenco de Memphis.

– Disputar novamente posição com Courtney Fortson serve para Scott relembrar como a coisa realmente não é fácil: os dois, alguns meses atrás, estavam na briga por uma vaga no elenco do Houston Rockets para iniciar a temporada 2012-2013, e o brasileiro do Queens acabou vencendo essa – para, um pouco depois, ser dispensado já durante o campeonato em favor de Patrick Beverley, hoje reserva fixo de Jeremy Lin.

Achou que era simples? De o Scott Machado estar entre os nomes discutidos pelo Grizzlies e ser contratado de prontidão?

Nada.

Na NBA, quase nunca funciona assim, e o armador, numa nova equipe, agora olhando Stephen Curry e Jarrett Jack no time de cima, vai ter de paciência para lidar com isso.

*PS: não fosse o som de Memphis, o que seria da civilização ocidental?


As estranhas relações entre duas atrações imperdíveis do Lollapalooza e a NBA
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Giancarlo Giampietro

Shaq Fu

Shaq Fu! Aaaargh

É muito mais fácil ligar o basquete ao rap, ainda mais depois da geração gansta. Existem até mesmo aqueles cestinhas que se meteram a besta como artistas fora de quadra também, e a gente sabe que quase nunca isso vai dar certo. Shaquille O’Neal, Allen Iverson e o nosso lunático anti-herói Ron Artest, justo ele, podem rimar alguma coisa a respeito.

Por outro lado, tem gente que, em outro estilo, mandou muito bem, como o finado Wayman Tisdale, que talvez tenha sido um melhor baixista de funk/jazz do que ala-pivô, embora fosse um habilidoso jogador para pontuar no garrafão – e não muito mais que isso.

Agora, com o festival Lollapalooza chegando a São Paulo com sua edição 2013 neste fim de semana de Páscoa, o blogueiro tem a chance de roubar um pouquinho e falar sobre outra coisa que lhe apetece. Mas, ok, para não soar ofensivo ao batalhador leitor que já podia reclamar do cansaço e da  perda tempo neste espaço, a gente dá um jeito de jogar o basquete no meio dessa história.

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OS PIONEIROS CULTS DE OKLAHOMA CITY

Wayne Coyne

Flaming Lips, de Wayne Coyne, e seu ritual estão prestes a voltar ao Brasil

Kobe Bryant deve ter feito das suas. Alguma bandeja reversa por baixo do aro. Alguma mudança brusca de direção seguida de enterrada. Um arremesso em flutuação na zona morta, com o corpo já atrás da linha da tabela. Qualquer coisa desse tipo que tenha feito o esquisitão Wayne Coyne vibrar na plateia. Atitude que foi imediatamente repreendida.

“Mas aquilo foi maluco! Quem é aquele?”, perguntou o músico. Explicaram de quem se tratava e completaram que ali, na cidade deles, meu chapa, ninguém vai aplaudir alguém que jogue do outro lado, não importa quem ou o que o sujeito tenha feito.

Wayne Coyne, o líder do Flaming Lips, atração do festival paulistano na sexta-feira, é do tipo de pessoa que realmente não sabe quem seja esse tal de Kobe. Sua cabeça já anda bastante ocupada com muita coisa: as trezentas parcerias musicais que podem ser engatilhadas nas próximas semanas, com robôs que aterrorizem a pequena Yoshimi, sobre como os efeitos do ácido podem ser positivos para um ser-humano antes do almoço e de como poderia usar a próxima representação de vagina e/ou bichos de pelúcia em um palco, galeria ou kit para imprensa. É maluco, mas, no universo criado pela banda, acontece tudo de modo muito pueril, acreditem.

(Já entrei nessa isso em duas ocasiões, em 2005 aqui em Sampa, em 2011 em Santiago. É um ritual especial. O sujeito vai entrar em uma bolha de plástico e andar/rolar por cima de centenas no público. O telão sempre trazendo algo surpreendente para a apresentação. Eles vão estourar muitos confetes, serpentinas e balões de plástico. A banda emenda alguns refrões cativantes em sequência. O plano é fazer de tudo para que o show de sexta-feira seja inesquecível. Lendo assim, pode parecer apenas uma festinha tonta para a criançada mal-crescida, e talvez seja isso mesmo. Mas só vendo ao vivo para saber.)

Calha que a banda tem como base a mesma Oklahoma City do Thunder. Muito antes de Kevin Durant tomar conta dos outdoors e ser cultuado – junto com Westbrook e a barba de James Harden –,  Coyne, de 51 anos, e seu grupo eram os que mais chegavam perto de celebridades locais.

"Thunder Up", Coyne!

Wayne Coyne comemora. Resta saber apenas se foi cesta do Thunder

Ao contrário do Thunder com seus jovens superastros, o Flaming Lips nunca foi necessariamente um arrasa-quarteirão de vendas, embora tenham ganhado fama mundial no mesmo período em que sua cidade floresceu. Eles deram uma piscadela para o estrelado com a trilogia “The Soft Bulletin”(1999), “Yoshimi Battles the Pink Robots” (2002) e “At War with the Mystics” (2006), ganhando três Grammys, mas não tardaram em recuar para suas trincheiras obscuras.

Antes desse flerte com o mainstream, por exemplo, haviam gravado um disco quádruplo – “Zaireeka”, de 1997 – cujas partes deveriam ser tocadas simultaneamente numa orquestra do barulho (leiam com a voz do locutor global na cabeça, por favor, anunciando a próxima atração da “Sessão da Tarde”). Você pode entender como uma “coisa-de-lôco”, um lixo irrecuperável, mas eles sinceramente não se importam. Em um projeto mais recente, lançado no ano passado, fizeram um álbum coletivo – “The Flaming Lips and Heady Fwends” –, trocando arquivos de músicas com colaboradores espalhados pelo mundo todo, apresentando gente como Chris Martin, do Coldplay, e Bon Iver, para depois costurar tudo.

Enfim, antes da migração do Supersonics para Okahoma City, quais as referências possíveis da cidade para aqueles fora dos Estados Unidos? Para a maioria, provavelmente apenas o lamentável atendado de 1995,  que resultou na morte de 168 pessoas e em outras 684 feridas. Mas, pelas razões citadas acima, para um pequeno grupo de seguidores, havia também os Lábios Flamejantes.

Hoje, a coisa mudou. Quando o líder do grupo é abordado em turnês pela Europa, Austrália e, de repente, aqui no Brasil, o que ele mais ouve é sobre os fedelhos do Thunder, como as pessoas gostam de assistir aos jogos deles. Durant, Westbrook e, snif! snif!, James Harden haviam ultrapassado sua popularidade.

O time se tornou o símbolo perfeito para a revitalização por qual passou Oklahoma City da década de 90 para cá. De uma terra perdida no meio dos Estados Unidos, onde se encontram diversas formações vegetais, uma área de confluência climática e também de diversas culturas das diferentes regiões que a rodeiam, a cidade se tornou um pólo econômico e criativo.

Embora o grupo de Coyne tenha feito uma música que virou o hino oficial de rock da cidade – a encantadora “Do You Realize???”, do vídeo acima –, o Flaming Lips, com sua psicodelia e provações constantes, nunca seria mesmo um símbolo de nada institucional, muito menos em um território ainda bastante conservador. Um nativo que nunca deixou o local, por mais que Nova York ou Los Angeles pudessem ser muito mais convidativas e cômodas para sua carreira, Coyne reconhece a importância do clube nesse sentido, diante do ressurgimento de Oklahoma City. “Acho que as pessoas gostam da ideia de que, seja o roqueiro malucão ou o jogador de basquete, nós todos temos este espírito da cidade. É algo que eu realmente não acho que existe. Mas o Thunder provavelmente conseguiu unir isso mais do que qualquer um”, disse em entrevista ao New York Times, em abrangente reportagem sobre a relação da equipe e a cidade.

No ano passado, durante os playoffs, o Flaming Lips até regravou um de seus hits – acho que dá para ser classificado como um hit –, “Race for the Prize” como um hino para o time: “Thunder Up!”, sendo tocado minutos antes dos jogos. ‘”Kevin Durant / don’t say he can’t!”, diz um trecho da letra. Veja abaixo a versão atualizada, seguida pela original ao vivo:


Só não peçam que Wayne Coyne entenda alguma coisa de basquete. “Quando você está lá, não é que um jogo seja um evento que siga um script de Steven Spielberg. Fico meio confuso. Será que nós vencemos? Eles venceram? E, quando você olha para o placar, bem, será que o jogo acabou?”, disse ao NYT, se autodescrevendo como o torcedor mais perdido do ginásio e do planeta.

O negócio deles é no palco mesmo, território em que consegue encontrar as similaridades entre o jogo e um show. “É aquela ideia de que está todo mundo focado na mesma coisa, ao mesmo tempo, ficando juntos e fazendo da experiência algo maior. É uma tolice, mas todas as coisas são tolas assim.”

Com o Flaming Lips, é isso aí.

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OS RENEGADOS DO GRUNGE

Fundada em meados dos anos 80, mapeada pela indústria musical americana apenas em 1993 com a entrada de “Transmissions from the Satellite Heart” nas paradas, o Flaming Lips poderia ter embarcado na onda grunge que dominava as rádios naqueles tempos, mas seguiram por um caminho absurdo, completamente distante do chamado “som de Seattle”. Ironicamente, Kevin Durant poderia ter sido uma figura totalmente ligada a essa cidade do Noroeste dos Estados Unidos, mas acabou jogando lá por apenas um ano, antes do polêmico deslocamento de sua franquia para Oklahoma City.

Shawn Kemp x Jeff Ament

Jeff Ament em peça publicitária com Shawn Kemp, seu ídolo em Seattle

Foi um movimento amaldiçoado por Jeff Ament, baixista do Pearl Jam e fanático pelo Supersonics, daqueles que compravam carnês de ingressos temporada após temporada junto com o guitarrista Stone Gossard. Os dois são outros que tocam no Lollapalooza, mas no domingo.

Muito antes de conhecer Chris Cornell ou Eddie Vedder, Ament era um armador talentoso no colegial em Montana, interiorzão da América profunda. Foi eleito para seleções estaduais e tudo, a ponto de ser recrutado pela universidade de… Montana (dãr!) como jogador. Entrou para a equipe dirigida por Mike Montgomery, futuro técnico de Stanford, do Golden State Warriors e hoje da universidade de California e, rapidamente, descobriu que, como aspirante a uma carreira no basquete universitário, ele provavelmente tinha mais jeito, mesmo, para o rock. “Os mundos de esportes e música não combinavam, realmente. Onde eu cresci, eu podia ser um esportista e um punk rocker. Quando fui para a universidade, ficou aparente que eu tinha de pertencer somente a um desses grupos”, disse em entrevista interessante à ESPN americana.

Bem, a gente já sabe hoje no que deu isso tudo. O cara se mudou para Seattle, conheceu certas pessoas, as coisas demoraram para se encaixarem, mas de repente ele fazia parte de uma das bandas que se tornaria das mais populares do mundo. No início, na condição de estrela emergente do rock, Ament era obrigado a esconder do público sua outra metade. Afinal, tinha sempre quem importunasse. “Kurt Cobain e Coutrney Love sempre zoaram o fato de que eu jogava basquete. Uma vez eu parei para dizer oi antes de um show e, quando estava indo embora, Courtney gritou: ‘Vá jogar basquete com Dave Grohl!'”, recordou o baixista. Os roqueiros que foram etiquetados como grunge já eram aqueles que a sociedade não queria. Ament conseguiu ser um rejeitado dentro desse universo. 🙂

Jeff Ament, versão basqueteiro

Jeff Ament não tinha a maior pinta de basqueteiro do mundo, de todo modo

Nas turnês, porém, ele confessa que sempre havia uma bola de basquete ou futebol americano por perto. Vedder, segundo seu companheiro, era mais ligado ao beisebol. Hoje, mais maduro e consagrado, não há restrição alguma, claro, em se assumir um basqueteiro – que realmente acompanha a NBA em detalhes, ainda que em Seattle ele não tenha mais nenhum clube profissional pelo qual torcer. “(Se um novo time chegasse,) Acho que teria de namorá-lo por um tempo. Se as coisas dessem certo, poderia checar se alguém gostaria de dividir o carnê de ingressos por alguns anos”, afirma.

Avaliando a possível transferência do Sacramento Kings para Seattle, fica difícil de avaliar qual o comportamento adequado. “Seria a melhor e a pior opção ao mesmo tempo. É a melhor porque eles têm provavelmente o melhor potencial como time de playoff, se o DeMarcus Cousins conseguir entender seu cérebro de alguma forma, ou se eles conseguirem um técnico que possa treiná-lo, ou se o Tyreke Evans der as caras. Mas Sacramento é uma cidade pequena. Se você tira o Kings deles, vão ficar com o quê? Só um time menor de beisebol, algo assim”, diz.

A ligação do Pearl Jam com o basquete, desta forma, é muito mais intensa do que o normal entre os roqueiros, certamente maior que a do Flaming Lips com o Thuder. Desse vínculo, se  destacam duas histórias:

– Ament já escreveu uma canção para citando Kareem Abdul-Jabbar, chamada “Sweet Lew”, do álbum “Lost Dogs” (2003), em referência ao nome de batismo do legendário pivô, Lew Alcindor. Não foi bem uma homenagem: Jabbar foi seu técnico em um jogo de celebridades e o teria ignorado quando foi tentou puxar um papo – a propósito, ele identifica os bateristas Chad Smith, do Red Hot Chilli Peppers, e Steve Gordon, do Black Crowes, como os melhores músicos-jogadores que conheceu.

Mookie Blaylock, ex-Pearl Jam

Mookie Blaylock, ex-armador do Nets e ex-Pearl Jam. Seu número? Dez, ou “Ten”, primeiro álbum da banda que vendeu mais que água nos anos 90

– Um dos primeiros nomes da banda foi “Mookie Blaylock”, aquele armador que defendeu New Jersey Nets, Golden State Warriors, mas teve seu  melhor momento pelo Atlanta Hawks nos anos 90. Como isso aconteceu? O grupo estava em uma lanchonete para fazer sua primeira gravação em um estúdio, com uma diária de uns US$ 10. Ainda assim, conseguiam comprar alguns pacotes de cards. Em um deles, saiu o armador. Ainda não haviam decidido um um nome para o conjunto e colocaram a “figurinha” de Blaylock na capa da fita que gravaram. Depois, saíram em uma turnê de dez dias com o Alice in Chains usando esse nome. Só mais tarde que veio a combinação a ser consagrada.

Há diversas explicações para “Pearl Jam”. Uma fictícia, inventada por Vedder em uma entrevista é de que ele teria uma avó chamada Pearl, que fazia uma geleia inigualável. Outra teoria, que tem seus defensores entre biógrafos e velhos amigos, é de que “Pearl” seria uma referência ao apelido de Earl “The Pearl” Monroe, craque do Knicks e do Bullets nos anos 70, e fantástico nas enterradas. O “Jam” também teria sido unido a “Pearl” depois que os amigos compareceram a um show de Neil Young, e o figurão canadense não parava de esticar suas músicas, em “jam sessions” com os companheiros de palco.

 Por mais fanáticos que sejam, música para o Sonics Jeff Ament e Stone Gossard nunca fizeram. 🙁

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Atração do Lollapalooza paulistano de 2012, a Band of Horses, também de Seattle, chegou a gravar uma música intitulada “Detelf Schrempf”. Mas eles juram que não tem inspiração alguma no ex-craque alemão. Investigamos isso na encarnação passada.

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#NBAbands

De vez em quando tem dessas brincadeiras no Twitter que divertem, né? Demora, mas acontece. Ótima oportunidade, então, para resgatar alguns dos trocadilhos na fusão de nomes de bandas com jogadores da NBA, a #NBAbands, que foi trending topic há algumas semanas.

– “Durant Durant” = para ficar no tema.

– “Garret Temple of Dog” = o Temple of Dog uniu os integrantes de Pearl Jam e Soundgarden, vizinhos de Seattle. Garret Temple ainda busca se firmar na NBA, fazendo dupla armação com John Wall no Wizards.

– “Rajon Against the Machine” = A fama de esquentadinho de Rajon Rondo poderia ser direcionada contra o sistema, como fez nos anos 90 os revolucionários do Rage Against?

– “30 Seconds Dumars” = Quando Joe Dumars contratou Charlie Villanueva e Ben Gordon de uma só vez, quebranco a banca, muitos torcedores do Pistons se perguntaram certamente se ele estava com a cabeça a “30 Seconds to Mars”, banda do ator Jared Leto.

– “John, Paul George, and Ringo” = Eu realmente nunca havia pensado que o prodígio do Indiana Pacers reunia dois daquele quarteto de Liverpool em um só nome.

– “The Jimmer Fredette Experience” = A experiência de Jimi Hendrix não durou muito, mas deixou um baita legado para a música. Jimmer Fredette, fenômeno univeristário, ainda batalha para deixar sua marca na liga.

– “Bryant Adams” = uma combinação insólita de um dos maiores assassinos em quadra, Kobe Bryant, com um astro pop canadense de letras bem melosas, Bryan Adams.

– “My Darnell Valentine”, “My Bloody Valanciunas” = a banda shoegaze viajandona My Bloody Valentine voltou a lancar um álbum neste ano e serviu de inspiração para dois dos melhores nomes, seja com o ex-armador de Portland Trail Blazers, Cleveland Cavaliers e que terminou a carreira na Itália, ou com o jovem pivô lituano Jonas Valanciunas, aposta do Raptors.

– “Lillard Skynyrd” = Damien Lillard pode ter vindo do interior dos Estados Unidos, mas imagino ser pouco provável que a sensação do Blazers toque em seu iPod algum sucesso setentista do Lynyrd Skynyrd.

–  “Simon & Garnett” = Se Paul Simon já brigava com alguém de voz tão bonita como Art Garfunkel, o que aconteceria se ele fizesse dupla com um psicopata feito Kevin Garnett?

– “The Artist Formally Known as Tayshaun Prince” = hoje no Grizzlies, Tayshaun ao menos quer provar que ainda pode ser uma peça útil nos playoffs, enquanto Prince pirou por completo.

– “Bon Iverson” = Iverson chegou tarde. Bon Iver já tem em Kanye West seu rapper preferido.

– “Ol’ Dirk Bastard” = Nowitzki já é praticamente um texano de Dallas, mas parece estar longe do rap nervoso (e dos pileques) de Ol’ Dirty Bastard, um dos integrantes do histórico grupo de rap Wu Tang Clan.

– “Al Jefferson Airplane” = Os movimentos de costas para a cesta de Al Jefferson são tão criativos como o som psicodélico do Jefferson Airplane? Não chega a tanto.

– “Earth, Wind & Fire Isiah” = nesta versão, a banda favorita de qualquer torcedor radical do New York Knicks que tenha vivido um pesadelo na era Isiah Thomas em Manhattan.

– “Brad Lohaus of Pain” = É do House of Pain uma das músicas mais tocadas na história dos jogos de basquete, “Jump Around”. Para Brad Lohaus, um branquelo pouco atlético, ficar saltando muito por aí, apenas na primeira versão do NBA Jam, pelo Milwaukee Bucks, mesmo.


Howard tem a missão de suceder pivôs do Lakers em Hollywood. Relembre os clássicos
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Giancarlo Giampietro

Ao vestir a camisa do Lakers, sendo um pivô, Dwight Howard sabe que tem uma grande responsabilidade pela frente… Virar um astro de Hollywood!

Mais do que dominar meros mortais como rivais, o jogador precisa honrar a brilhante participação de seus antecessores com o uniforme amarelo e roxo que causaram no cinema: Kareem Abdul-Jabbar, Wilt Chamberlain, Shaquille O’Neal. São performances marcantes, ignorados injustamente pela Academia.

Preparem-se. É muita emoção:

ABDUL-JABBAR, “ROGER” e BRUCE LEE (Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu, 1980, Jogo da Morte, 1974)

Uma das estrelas mais sisudas que a NBA já teve estrelando um clássico pastelão da Sessão da Tarde com Leslie Nielsen! Vai ver que o ex-Lew Alcindor era apenas um incompreendido. Nesta sequência, ele trava um diálogo com o pentelho do garoto Joey, que insiste em falar que o co-piloto seria Abdul-Jabbar, embora este garanta se chamar Roger Murdock. Até que ouve um bom “trash talk” do menino, não se aguenta e se revela. Detalhe para as intervenções do piloto, sensacionais. “Você já viu um homem adulto nu?”, pergunta. Qual a chance de essa frase ser aprovada no mundo-censura de hoje?

O maior cestinha da história da NBA tem uma vasta filmografia. Mas sua estreia nas telonas aconteceu de modo trágico: Jogo da Morte, o último título rodado por Bruce Lee, o astro do Kung Fu que morreu durante as filmagens, em 1974. Abdul-Jabbar e Hai Tien, personagem de Lee, se enfrentam em uma luta épica no quarto andar de um prédio-cativeiro que o protagonista tinha de subir para libertar seus familiares.

Primeiro vamos com o bom-humor de Airplane! e, depois, a pancadaria com Bruce Lee. Neste, reparem na diferença de altura entre os dois combatentes e as cores do uniforme do lutador, que seriam homenageadas no Kill Bill de Tarantino 30 anos mais tarde:

WILT CHAMBERLAIN X GRACE JONES (Conan: O Destruidor, 1984)

O homem dos 100 pontos em um jogo e das proclamadas cerca de 20.000 ‘namoradas’ enfrenta a batalha de sua vida: a cantora disco, musa cult, ícone fashionista Grace Jones. É vida ou morte para seguir a jornada com o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger. Bravo!

SHAQUILLE O’NEAL, GENIO, VIGILANTE E JOGADOR (Kazaam, 1996 e Steel – O Homem de Aço, 1997, e Blue Chips, 1994)

Perto do que estrelaram Kareem e Wilt, o Shaq que nos desculpe, mas seus filmes de humor não têm muita graça, não. Como diria qualquer cinéfilo que se preze: “Não se fazia mais filmes de bobageira com pivôs do Lakers como antigamente”. Abaixo, Shaquille O’Neal tem a infeliz ideia de aceitar o papel de um gênio hip-hop da lâmpada, o Kazaam. Depois, faz as vezes de super-herói (antes de Dwight Howard, ele foi o primeiro Superman, oras!), interpretando um dos poucos vigilantes negros dos quadrinhos, o Steel, personagem criado pela DC Comics na sequência da saga da “Morte do Super-Homem”. Na real, era para ser um filme de ação, né? Mas, de tão trash, ficaria na prateleira cômica da locadora virtual 21.

Por fim, o inesquecível Blue Chips, com Nick Nolte, que faz sua denúncia contra a sujeirada do esporte universitário norte-americano em contraponto a uma educação do bom jogo e bons valores, blablabla, com direito a participação de Rick Pitino no começo e Bobby Knight no fim, além de Kevin Garnett, Allan Houston, Larry Bird e muito mais. Vejam a cena com o técnico Nolte abordando sua ex-mulher, professora, que concorda em dar uma força para Shaq/Neon elevar suas notas:

– Veja também: na encarnação passada do blogueiro, Shaquille O’Neal rapper e Michael Jackson interagindo com Magic Johnson e Michael Jordan.


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