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Arquivo : Andre Drummond

Quando os playoffs da NBA chacoalham algumas certezas
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Giancarlo Giampietro

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Dá para escrever sobre qualquer coisa sem ter muitas certezas? Nem que seja sobre basquete?

Pensem bem: é uma pergunta realmente difícil de encarar, e não apenas retórica. Ainda mais nestes tempos em que, a julgar pela Associação dos Comentaristas Online Desunidos, o mundo talvez nunca tenha vivido uma era de tantas absolutas convicções assim. Pelo menos não desde os tempos em que se convencionava que a Terra era plana e o centro do Universo. (E se for para falar de política brasileira contemporânea, pior ainda. Aí o que tenho para recomendar apenas é este artigo, hã, definitivo da Eliane Brum no El País, esse acontecimento surpreendente da mídia tupi-guarani.)

Se a galera toda está cheia de si, ou de saber, como você vai marcar sua opinião? Vai encarar o espírito Alborghetti e bater literalmente o pau na mesa? Deve ser a via mais fácil, mesmo, e a mais usual. Descobrir sua ira e celebridade interiores para babar e brilhar muito. Um outro caminho é assumir que você não sabe de nada. Você, no caso, valendo como “nós todos”. Que a gente deva fuçar, estudar, observar e esperar pela eventual contradição dos fatos com sua opinião. Entendendo que opinião pode variar desde um palpite, uma desconfiança até a tal da certeza irremediável.

Agora, para encurtar essa conversa de louco — como são todas as conversas de butiquim, afinal –, vamos associar o devaneio ao tem de mais tópicos agitados por aí, depois de 1) Dilma x Temer, 2) Audax e 3) Leicester: os playoffs da NBA, claro.

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A primeira certeza balançada foi a da candidatura do Golden State Warriors ao bicampeonato, mas por motivo fortuito, de azar: o escorregão de Steph Curry. De todo modo, no momento em que o Clippers também ruiu com lesões, a trilha do Warriors ficou menos congestionada, ou menos pedregosa. Além disso, Steve Kerr fala com otimismo sobre o retorno de Curry. É possível que aconteça já no próximo sábado, para o Jogo 3 (e a NBA obviamente deu uma forcinha para estender o calendário). Então pode ser que o susto já tenha passado, e nada como topar com o corroído Houston Rockets para apaziguar os ânimos. De resto nada do que aconteceu até agora tira de San Antonio e Cleveland o status de favoritos, ao lado dos atuais campeões.

Mas há outros pontos que podem muito bem ser questionados depois das primeiras semanas de mata-mata:

– Kemba Walker, darling universitário
Olha, dependendo do quanto você valoriza a experiência da NCAA, não há como alterar essa percepção. Se vai valorizar o suposto romantismo do basquete universitário, a pressão de render em tenra idade em rede nacional, ou se não vai conseguir relevar o baixo nível em geral da esvaziada competição em anos recentes, crendo que qualquer jogo de NBA vale mais.

Enfim, depois do que fez por Connecticut em 2011, seria bem difícil para Walker ser mais conhecido pelos seus feitos profissionais. Mas entre usar o título pelos Huskies como principal referência e descartá-lo como séria ameaça na NBA, tem um grande intervalo. Aqui, admito que pendia muito para este segundo grupo. Por mais desconcertante que possa ser seu gingado, estamos falando de um armador tinha dificuldade séria para chegar aos 40% nos arremessos de quadra. Tem limite para assimilar ineficiência. O que mudou este ano é que, por mais que os 42,7% não empolguem tanto, ele passou pela primeira vez da casa dos 34% nos chutes de fora (37,5%). Aí que os defensores, enfim, tinham de grudar nele no perímetro, em vez de recuar e pagar para ver. Isso ajuda demais na hora de bater para a cesta, algo fundamental para alguém que está com a taxa de uso mais alta dos playoffs até o momento (34% das posses do Hornets terminam com uma definição dele, em arremesso ou passe). Contra o Miami, teve dificuldade no início. Mas,  partir do momento em que reencontrou espaços, amparado por uma boa defesa, conseguiu colocar seu time no páreo.

– Jeremy Lin era uma mentira insana
Tão rápido como a NBA abraçou o armador naquelas semanas mágicas de 2012, muita gente também se prontificou a descartá-lo, como uma espécie de one hit wonder. Obviamente, Lin não virou o All-Star que muitos nova-iorquinos pirados cravavam. Mas deu provas em Charlotte que seu jogo físico e corajoso pode muito bem ajudar um time que se declama para os playoffs.

Dá para dizer que, depois das lesões de Kidd-Gilchrist, Batum e Jefferson, antes da chegada de Lee, o armador ajudou a salvar a temporada de uma equipe muito bem preparada e competitiva. Sob a orientação de Clifford, Lin nunca criou tão pouco para os companheiros. Também teve seu pior campeonato no aproveitamento de quadra, mas não pára de atacar, substituindo Kemba ou jogando ao seu lado em quartos períodos. Agredir as defesas parece ser a ordem. Juntos, os dois armadores já bateram 71 lances livres em seis partidas, sendo que 38 estão na conta do jogador de ascendência asiática. Em playoff, isso alivia bastante, ainda mais contra uma defesa que estava visivelmente preocupada em marcar os chutes de três. Ao que parece, deu resultado a reclamação pública sobre arbitragens menos criteriosas quando ele era o atacante. No Jogo 6, ele não foi bem, mas em geral sua contribuição é bastante positiva.

– Whiteside e os grandalhões que não sabem converter lances livres
O pivô do Miami Heat não é nenhum Mark Price. Mas, gente, faz muita diferente quando uma força da natureza como Whiteside beira a marca dos 60% parado diante da linha, ainda mais quando comparado com os indesculpáveis 35,5% de Andre Drummond. Com um rendimento desses, não há como SVG manter seu gigante em quadra num final de jogo equilibrado, ou mesmo quando a vantagem do Detroit é grande e os adversários começam a descer o porrete. Whiteside saltou de 50% pela temporada passada para 65% nesta. Pela série contra o Hornets, vem com 59,3%. Se ele só fica 29,3 minutos em quadra, é porque tem se carregado de faltas, justamente pelos ataques constantes de Kemba e Lin.

Esquisito assim, mas está funcionando

Esquisito assim, mas está funcionando

– Austin, filho do homem
Bom, no ano passado, o jogador já havia vivido bons momentos. O conjunto da obra ainda não justifica exatamente a fama que tinha como colegial, visto como um dos melhores prospectos de sua geração. Ainda assim, sua exibição no derradeiro Jogo 6 em Portland foi mais um indício de que há espaço para ele na liga. O mistão do Clippers deu uma canseira no jovem Blazers, liderado pelo ímpeto do Rivers filho e de Jamal Crawford. Mais que somar 21 pontos e 8 assistências em 31 minutos, impressiona mais a imagem. Quando voltou para a quadra com o olho esquerdo cerrado feito boxer que topou com Mike Tyson no auge e seguiu atacando.

– Myles Turner: novatos não têm vez em playoffs.
(Bônus: o Indiana queria aderir ao small ball)
Aos 19 anos, Turner ainda está aprendendo exatamente como contestar bandejas sem se pendurar em faltas e sem perder o posicionamento adequado à frente do aro. Também está com o corpo claramente em formação e ainda se movimenta com uma postura um tanto estranha.

Com um treinador de orientação mais conservadora, é provável que ele não fosse lançado em uma série tão equilibrada e tensa como esta contra o Toronto Raptors. Mas Frank Vogel, durante a temporada já havia visto bastante: não só não podia barrar seu jovem pivô como afirmou que o Pacers iria até onde ele pudesse levá-lo. Não, ele não é mais jogador que Paul George e George Hill hoje. Mas virou o tal do “x-factor” devido ao impacto que causa em seus melhores dias, tanto na proteção de cesta (ajudando um combalido Ian Mahinmi) como com seu sutil toque perto da cesta e nos chutes elevados, rápidos e impressionantes de média distância. O talento e o desempenho precoce de Turner, aliás, abreviaram a estratégia de Larry Bird e Vogel de usar uma formação mais baixa nesta campanha. O time, na real, ficou com a linha de frente ainda mais alta, mesmo após a saída de Hibbert.

– Vince Carter: amarelão; Matt Barnes: só bravata, encrenqueiro
Sim, já faz tempo que Carter saiu de Toronto pela porta dos fundos, com o filme queimado, especialmente por sua viagem de graduação para a Carolina do Norte em dia de Jogo 7 contra Iverson e o Sixers. As passagens frustradas por Jersey (acompanhando Kidd) e Orlando (com Howard) reforçaram a imagem de que ele seria mais um desses astros desinteressados. Não se atrevam a repetir isso à frente de Dave Joerger.

Carter e Barnes foram as forças por trás do Esquadrão Suicida do Grizzlies, que, francamente, não era para ter chegado aos playoffs de modo algum. Foi o nome de ambos que o treinador citou em uma emocionante coletiva em Memphis, depois de varrida contra o Spurs. Se não pela questão técnica — mesmo que tenham feito o possível depois de o time perder seus dois principais criadores em Gasol e Conley –, mas essencialmente pela liderança durante período em que o time poderia ter basicamente virado um caótico Sacramento Kings.

– Continuidade é tudo na NBA
O gerente geral do Portland Trail Blazers e o técnico Terry Stotts podem erguer o braço para se gabar. Perderam quatro titulares supeevalorizados e ainda abocanharam o quinto lugar do Oeste. Está certo que o Rockets entrou em colapso. Que o Grizzlies e o Pelicans se arrebentaram. Que o Mavs não tinha pernas. E daí?  Utah, Sacramento e Phoenix não souberam aproveitar nada disso, enquanto o Blazers curtia. A comparação com o Utah é interessante. A equipe de Quin Snyder inseriu dois calouros em sua rotação (Raulzinho e Trey Lyles) e, no meio do caminho, foi atrás de Shelvin Mack. Ok. Mas Gordon Hayward, Derrick Favors, Rudy Gobert, Rodney Hood, Joe Ingles, Trey Burke, Trevor Booker e Alec Burks eram os mesmos. Lesões e mudanças na rotação à parte, o Utah largava com vantagem. Foi atropelado no caminho.

Cada série pode ter apresentado suas surpresas (ou quase isso), dependendo do ponto de vista.

Agora chegamos às semifinais de conferência. Depois do massacre que foi o Jogo 1, a cabeça quer pensar que nem vai ter série: 124 a 92? Uau. A última vez que um time conseguiu reverter um prejuízo desse num mata-mata? O Los Angeles Lakers sobre o Boston Celtics na final de 1985, depois de perder fora de casa por 148 a 114. Faz tempo. Da minha parte, não chegou a ser tão assustadora assim assim, considerando o que havíamos acabado de assistir pela primeira rodada. Claro que Durant e Westbrook não vão arremessar sempre tão mal assim (11-34). É de se imaginar que, sozinho, LaMarcus não vá superar a dupla também daqui para a frente (38 a 30), ou que Ibaka (19) será o cestinha da equipe? Mas, se OKC teve suas dificuldades contra Dallas, que se defendia no perímetro com Felton, Deron, Barea e Harris acompanhando de Matthews ou o do novato Anderson, o que aconteceria contra um time dez vezes melhor, com a dupla Kawhi e Green? Billy Donovan e seus astros têm um problemaço para resolver, cheios de incertezas.

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Jukebox NBA 2015-16: o Detroit Pistons vai chegar lá?
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “I’ll Be There”, por Jackson Five

Tá. Pode ser problema na cabeça, mas é assim que imagino a cena: noite de terça-feira, vitória suada sobre um gigante como o Oklahoma City Thunder, o pessoal da limpeza dando um trato no Palace de Auburn Hills, os jogadores sorridentes já endereçados a suas respectivas casas, e Stan Van Gundy soltando o gogó, sozinho, em seu carro, tentando chegar ao agudo impressionante do jovem Michael: “Iiiiii’ll beee theeeere”.

Na mesma noite, o Washington Wizards, ameaça na tabela do Leste, faz jogo duro contra o Golden State Warriors (justo quem!?), mas perde no final. E SVG enche o pulmão novamente:  “Iiiiii’ll beee theeeere”.

Aí chega a quarta-feira, e o mesmo Wizards, concluindo sua longa viagem pela Costa Oeste, acaba perdendo para o hilário Sacramento Kings. Com os olhinhos fechados por trás do óculos e o bigode arqueado, o técnico-presidente do Pistons repete, cantando, na tradução, que “vai estar lá”. No caso, os playoffs.

Como estamos falando de Detroit, com todo o respeito a Stooges e MC5, não dava para fugir da Motown, certo? Por mais que Van Gundy, neste rolê aqui, pareça muito mais um parceiro de Eminem, cantando a dura realidade das ruas de uma abandonada “Motor City” do que qualquer outra coisa:

(Em outubro do ano passado, SVG e alguns jogadores do Pistons saíram para um passeio de bicicleta pela cidade, o "Slow Roll Detroit", gerando essa foto que é pura comédia sem intenção, popularizando o personagem que viria a ser conhecido carinhosamente como 'Notorious SVG'. Os caras não perdem a piada)

(Em outubro do ano passado, SVG e alguns jogadores do Pistons saíram para um passeio de bicicleta pela cidade, o “Slow Roll Detroit”, gerando essa foto que é pura comédia sem intenção, popularizando o personagem que viria a ser conhecido carinhosamente como ‘Notorious SVG’. Os caras não perdem a piada)

Mas, ok, chega de devaneio. Van Gundy tem todo o direito de estar feliz, de ver seu projeto seguir adiante, muito perto de uma vaguinha nos mata-matas do Leste. Mas certamente não estará mais exultante que o torcedor fanático dessa prestigiada franquia. Aquele tipo que se acostumou a lutar pelo título da conferência a cada temporada na década passada, quando o time era uma pedra nas botinas de LeBron e Dwyane, e depois teve se deprimir com o final desastroso da era Joe Dumars.

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Com a patinada feia do Chicago Bulls e o motor do Indiana Pacers empacando, o Pistons conseguiu abrir boa vantagem nessa reta final de temporada ao vencer seis dos últimos sete jogos. Perdeu apenas para o Atlanta Hawks, que, hoje, tem a defesa mais chata de toda a liga.

Não foi uma tabela tão difícil assim, é verdade, com Sacramento, Brooklyn, Milwaukee e Orlando pelo caminho. Mas, amigos, se é para chegar ao playoff, vale qualquer coisa, mesmo um placar de 92 a 91 contra o Bucks. Além do mais, os caras ainda bateram Charlotte e, mais importante, OKC – a data preferida no calendário de Reggie Jackson –, para ratificar essa boa sequência. Foi uma sequência importante, já que, neste mês derradeiro de temporada, as coisas vão ficar um pouco mais complicadas.

Mas o Pistons parece preparado, deixando sua inconsistência para trás. Algo normal, considerando que, na rotação de SVG, estão apenas dois trintões: Steve Blake e Anthony Tolliver. Com 29 anos, Aron Baynes está chegando lá. De resto, todos se posicionam entre os 19 de Stanley Johnson e os 26 de Marcus Morris.

Drummond e Jackson são pilares nesta reforma do Pistons: o pivô está prestes a receber um contrato máximo, lidera a liga com 14,9 rebotes, mas ainda é um dos alvos preferidos das cobranças do técnico, que já o acusou de ser preguiçoso na defesa, na frente de todos. Chegou uma hora que Dwight Howard e Shaquille O'Neal se enervaram com o estilo abrasivo e forçaram a barra contra ele. Shaq o derrubou em Miami, Dwight não conseguiu em Orlando. Para Drummond, porém, o mais prudente seria ouvir e perceber o quanto seu jogo tem se expandido nos últimos anos

Drummond e Jackson são pilares nesta reforma do Pistons: o pivô está prestes a receber um contrato máximo, lidera a liga com 14,9 rebotes, mas ainda é um dos alvos preferidos das cobranças do técnico, que já o acusou de ser preguiçoso na defesa, na frente de todos. Chegou uma hora que Dwight Howard e Shaquille O’Neal se enervaram com o estilo abrasivo e forçaram a barra contra ele. Shaq o derrubou em Miami, Dwight não conseguiu em Orlando. Para Drummond, porém, o mais prudente seria ouvir e perceber o quanto seu jogo tem se expandido nos últimos anos

Se essa galera ouvir o que o técnico tem a dizer, tudo tende a dar certo. Não que ele seja uma figura messiânica, ou qualquer coisa do tipo. Aliás, SVG é um adepto da autodepreciação, que costuma ir direto ao ponto, ganhando manchetes e as redes sociais com muita facilidade, em tempos de notícias por minuto. Política nunca foi o seu forte.

(A ponto de gerar de uma das cenas mais constrangedoras diante dos microfones para uma superestrela da NBA de que temos nota. Em 2012, ainda em Orlando, numa coletiva como outra qualquer ao final de um treino, simplesmente disse aos jornalistas que Dwight Howard estava tentando derrubá-lo nos bastidores. Não foi uma insinuação. Disse que todas as letras. E aí o pivô, numa coincidência absurda, se aproxima do entrevistado e o abraça, fazendo algum gracejo, sem saber que o técnico havia acabado de soltar uma bomba daquelas. Imagine quando foi avisado do que havia acontecido…)

Numa liga imensa em sua abrangência mercadológica, mas que ainda funciona como um “mundo pequeno” em seu cotidiano, a franqueza do bigodudo pode assustar. A ponto de, quando desempregado, ter sua contratação pela ESPN vetada por David Stern – éo que jura o expatriado Bill Simmons. Stern simplesmente não podia conviver com a ideia de ter uma metralhadora dessas pronta para ser disparada em um veículo de imensa audiência.

Stanley Johnson tem apenas 19 anos. Sua evolução como cestinha pode deixar o Pistons ainda mais perigoso na próxima temporada, e com um trio intercambiável com Morris e Harris

Stanley Johnson tem apenas 19 anos. Sua evolução como cestinha pode deixar o Pistons ainda mais perigoso na próxima temporada, e com um talentoso trio intercambiável com Morris e Harris

As intempéries de SVG – seja com a liga em geral, com um árbitro ou um unicórnio – podem ganhar mais repercussão, mas não deveriam ofuscar seu trabalho. Em oito temporadas como técnico principal, ele só teve uma campanha abaixo de 50% de aproveitamento, sua primeira em Detroit. De resto, alternou entre os 51,2% em sua estreia pelo Miami e os 72% em dois campeonatos pelo Orlando Magic, incluindo 2009, quando foi campeão do Leste.

Sua linha de conduta é dos técnicos que cobram uma barbaridade. Da mesma forma que atende aos jornalistas: falando o que pensa. Cobra, mesmo, e deve ter hora que cansa, com Shaquille O’Neal não se cansa de alardear. Em geral, porém, se os jogadores quiserem ouvir, tendem a crescer. Dwyane Wade, Udonis Haslem, Caron Butler, Dwight Howard, JJ Redick, Courtney Lee, Ryan Anderson, Trevor Ariza e Marcin Gortat foram alguns jogadores jovens claramente influenciados pelo treinador. Está acontecendo agora com Reggie Jackson e Andre Drummond. Outros veteranos também se beneficiaram e nunca jogaram tão bem em outras mãos, como Rashard Lewis e Hidayet Turkoglu.

A formação com os dois alas altos versáteis ao lado de Dwight Howard acabou revolucionando a liga, tão influente quanto os sete segundos ou menos de Mike D’Antoni. Não espere que o técnico-presidente se gabe por isso. “Não havia como um deles sair do banco, sendo reserva de um cara inferior na posição 4, então decidimos abrir a quadra. Não sou tão esperto assim para inovar algo. Só joguei com o que tinha”, afirmou em entrevista ao SB Nation.

“Ele cobra muito. Mas ele é justo”, diz Reggie Jackson, na mesma matéria. “É alguém de quem você até pode discordar algumas vezes, brincar e ter seus argumentos, mas, no final, é uma questão de querer chegar ao topo da montanha. Não importa o que aconteça, estamos apenas tentando nos ajudar um ajudar o outro e descobrir onde podemos ir. A sensação que passa é que o técnico está reunindo as peças do quebra-cabeça. Estamos começando a nos entender. Agora cabe a nós crescermos juntos e nos amadurecer, para entender o que é preciso a cada noite, não importando quem enfrentamos.”

A pedida? Escapar do Cleveland Cavaliers na primeira rodada e tentar fazer série dura mesmo sem mando de quadra, confiando na leitura de Van Gundy e no poderio físico de Drummond no garrafão.

A gestão: ok, confesso. Essa história de acúmulo de cargos, de presidente e técnico, não agrada muito. A própria história da NBA está aí para provar que não costuma dar muito certo. Mas Stan Van Gundy foi mais esperto do que ególatra. É dele a última palavra no departamento de basquete, dependendo a partir daí de um simples visto do proprietário Tom Gores canetar. Até bater o martelo, porém, o chefinho ouve bastante gente.

Seu braço direito é o experiente Jeff Bower, que trabalhou por seis anos pelo Hornets, com mais altos do que baixos em sua gestão. Ele tem o cargo de gerente geral, sendo responsável pela coordenação dos scouts e também no contato diário com os demais clubes, com o escritório da liga e demais atividades corriqueiras na operação de um clube. Muito necessário. Como técnico, Van Gundy já fica tempo demais assistindo a vídeos, pensando em estratégias com seus assistentes e orientando os jogadores, tudo nos mínimos detalhes.

Bower e Van Gundy são amigos de longa data

Bower e Van Gundy são amigos de longa data

O que uma bela reportagem da Sports Illustrated nos mostrou é que ele soube usar os recursos do bilionário Gores para levar esse trabalho minucioso para além da sala dos treinadores. Segundo Michael Rosenberg, em um ano e meio, o escritório do Pistons passou de um dos mais enxutos da liga a um dos mais povoados, com 18 contratados. São três gerentes gerais assistentes, quatro scouts dedicados exclusivamente a jogos da NBA, seis olheiros para jogos internacionais e universitários, além de caras dedicado a estatísticas avançadas e estratégia. Uma das metas dessa turma? Simplesmente assistir a todos os 1.230 jogos da NBA nesta temporada.

“Quando você documenta mais de mil jogos, a ideia não é achar o segredo para o título. Não é assim que funciona. A meta é encontrar diversas pequenas dicas, pistas – ver aquilo que os outros times ainda não enxergam e se aproveitar disso”, escreve Rosenberg. Basicamente: todo mundo sabe quem é Tim Duncan, LeBron James ou Kobe Bryant. Agora, será que todos estão cientes do que Jonathon Simmons faz pelo Spurs, ou que Jon Leuer produz pelo Phoenix Suns? Informação nunca é o bastante. Você  nunca sabe que tipo de oferta pode chegar ao seu WhatsApp.

Esse trabalho está apenas começando. Bower afirma que a aposta em Reggie Jackson, para quem ofereceram US$ 80 milhões, já é um reflexo desse processo ambicioso. Vamos monitorar o que vem por aí. A troca por Tobias Harris em fevereiro já foi outro movimento bastante interessante da franquia, assim como seria o negócio riscado por Donatas Motiejunas, vetado supostamente por um problema grave em suas costas. Vamos monitorar.

Olho nele: Tobias Harris

Courtney Lee rendeu duas escolhas de segunda rodada em fevereiro ao Memphis. Já Jeff Green valeu uma escolha de primeira. Dias antes, o máximo que o Orlando conseguiu por Harris foi a garantia de se desfazer de seu salário, enquanto Scott Skiles acreditava que a chegada dos veteranos Brandon Jennings e Ersan Ilyasova seriam o suficiente para colocar o Magic de vez na briga pelos playoffs. Muito pouco, não? Nem tanto, de modo surpreendente, segundo a avaliação dos scouts da liga.

Aqueles que não enxergavam muita coisa no ainda jovem ala, de apenas 23 anos, agora devem estar revisitando o caso. Em Detroit, Harris progrediu em praticamente todos os quesitos. Vem sendo mais explorado no ataque e correspondendo. Produz mais pontos e assistências, menos turnovers e melhora no aproveitamento de quadra e também nos tiros de três pontos. Sua média de rebotes caiu, mas seu índice de eficiência subiu em geral. Além disso, causa o maior impacto ofensivo de sua carreira. Que tal?

É curiosa a resistência a Harris. É um ala forte e ágil, com diversos recursos para chegar à cesta. Ele tem de ser marcado na quadra toda, podendo te machucar de média para longa distância e sendo forte e atlético o bastante para finalizar perto da tabela. Sua chegada deu mais dinamismo ao time, em relação a Ilyasova. No ano que vem, deve retornar ainda melhor, depois de um training camp com SVG, enquanto o valor de seu salário vai cair consideravelmente neste novo mercado.

walter-herrmann-pistons-cardUm card do passado: Walter Herrmann. Na temporada 2008-09, a última em que a Motown participou dos playoffs, Rasheed Wallace ainda estava lá, assim como Richard Hamilton e Tayshaun Prince, do grupo campeão em 2004. Chauncey Billups havia sido trocado logo no início da temporada, por Allen Iverson, num negócio que daria muito errado. O elenco ainda contava com Arron Afflalo antes da fama e com um jovem Amir Johnson, de apenas 21 anos. Enfim, vários personagens interessantes que poderiam ser recuperados aqui.

Mas se você lê “Herrmann, Walter” na lista, não tem como fugir, de tanto carisma, mesmo que ele tenha ficado apenas 5,5 minutos em média em quadra na série contra o Cleveland Cavaliers, na qual o time foi varrido de quadra, logo na primeira rodada. Chegava ao fim ali uma sequência de oito temporadas com participação na fase final, com direito a duas finais e seis decisões de conferência.

O craque argentino chegou relativamente tarde aos Estados Unidos – e ao mesmo tempo cedo. Estava apenas com 27 anos, mas vindo de lesões e de uma história trágica em sua vida pessoal. Ainda assim, teve seus momentos, especialmente na temporada de estreia, pelo Charlotte Bobcats, em 2006-07, entrando no ritmo durante o campeonato para fazer 19,6 pontos por jogo no mês de abril. Depois, seria trocado para o Pistons, compondo rotação para Flip Saunders. Em 2009, retornaria ao basquete espanhol.  O que podemos dizer é que, na NBA de hoje, de pivôs mais flexíveis e maior espaçamento de quadra, teria muito mais sucesso.


Detroit Pistons: todo o poder a Stan Van Gundy
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Orlando estava muito bem, obrigado, mas...

Orlando estava muito bem, obrigado, mas…

E se você estivesse curtindo uma semiaposentadoria na Flórida, vivendo mais próximo das crianças, acompanhando-as no jogo de futebol no final da tarde de uma terça-feira, respirando e relaxando numa vizinhança tranquila? Depois de passar uns dois bons anos estressantes, tendo de responder diariamente aos mesmos questionamentos, 99% deles ligados a um gigante de 2,11 m e massa muscular assustadora, mas mal crescido em outros aspectos, que muito provavelmente queria sua demissão, mas que, ao mesmo tempo, era sua única aposta para o sucesso?

Para tirar a pessoa de um sossego desses, só com uma oferta irrecusável, mesmo. Como, por exemplo, ter controle total nas operações de basquete de um clube de NBA, respondendo apenas ao bilionário que comprou a franquia. Ter a oportunidade de, basicamente, ser o seu próprio chefe, e ainda ganhando US$ 7 milhões por ano. Só assim, mesmo, para Stan Van Gundy retornar, tendo o Detroit Pistons como seu grande brinquedinho.

O magnata Tom Gores bem que flertou com Phil Jackson no passado. Em 2013, por exemplo, o Mestre Zen fez um frila em Detroit, trabalhando como consultor de Joe Dumars durante o período de mercado aberto para os agentes livres e também para a contratação de (mais) um treinador. Não se sabe exatamente qual foi a influência de Jackson, o quanto Dumars o escutou. Sabemos, no entanto, que as coisas não deram muito certo, resultando no desligamento de Maurice Cheeks antes mesmo que ele concluísse a primeira temporada de seu contrato.

SVG e um novo pivô para desenvolver: até onde pode Drummond chegar?

SVG e um novo pivô para desenvolver: até onde pode Drummond chegar?

Com o time novamente fora dos playoffs, seria, enfim, a gota d’água para Dumars. Chegaria a hora de se despedir do ídolo, bicampeão como jogador e arquiteto do time que derrubou o Lakers nas finais de 2004, retornou às finais em 2005 contra o Spurs e alcançou a decisão da Conferência Leste em seis anos consecutivos. Depois de tanto sucesso, o gerente geral falhou gravemente no processo de reformulação, com muitas apostas caríssimas e furadas, como Allen Iverson e, especialmente, a inesquecível dupla Ben Gordon e Charlie Villanueva. O aproveitamento nas últimas cinco temporadas não passou dos 40%. Para limpar essa bagunça, Jackson, amigo do proprietário, nem topou. Van Gundy aceitou.

O ex-técnico do Orlando Magic e Miami Heat andava comentando alguns jogos da liga para a rede de rádio da NBC e do basquete universitário para a TV. Mas sem tanto compromisso. Diferentemente do acordo que teria com a ESPN, para a qual trabalharia como analista em seus shows pré-jogo e tal, de muita repercussão no dia-a-dia da NBA. Acontece que a equipe de David Stern, ao que tudo indica, não fiou tão entusiasmada assim com a possibilidade de uma figura tão inteligente e desbocada ganhasse esse tipo de plataforma para se expressar.

Desde então, muitos clubes fizeram fila para conversar com o SVG, Clippers e Kings entre eles. Mas as propostas não eram o suficiente para que ele se afastasse da família, ou que os fizesse mudar de cidade novamente. Passado um tempinho, para os garotos avançarem nos estudos, e a autonomia para gerir os negócios, e cá estamos com o retorno de uma figura muito respeitada – menos por Shaquille O’Neal –, que desenvolveu uma série de jogadores em Orlando além de Dwight Howard (Marcin Gortat, Trevor Ariza, Courtney Lee, Ryan Anderson e até mesmo gente rodada como Hedo Turkoglu e Rafer Alston!), formando um time bastante competitivo em torno do pivô.

Agora a expectativa é que ele faça o mesmo com o mastodôntico Andre Drummond, que transborda vigor físico e potencial. As dúvidas? Essa coisa de ele, mesmo, sair contratando suas peças. São poucos os treinadores que ganharam tanto poder na liga. Temos hoje os seguintes casos: Gregg Popovich com o Spurs, Doc Rivers com o Clippers e Flip Saunders com o Timberwolves. Em San Antonio, Pop conta com o inestimável apoio de RC Buford e uma estrutura já enraizada. Rivers e Saunders estão começando nessa aventura.

Meeks foi a primeira contratação de SVG. Pagou caro

Meeks foi a primeira contratação de SVG. Pagou caro

Com um bom espaço para contratações, não dá para dizer que SVG tenha causado boa impressão no mercado. Os valores gastos em veteranos como Jodie Meeks (US$18 milhões por três anos e já afastado por uma lesão nas costas) e Caron Butler (US$ 10 milhões por dois anos) foram, no mínimo, suspeitos e bem acima do que atletas com as mesmas habilidades receberam (Anthony Morrow e o Oklahoma City Thunder fecharam por US$ 10 milhões e três anos). DJ Augustin recebeu um pouco menos, mas a equipe já tinha um armador diminuto e irregular em Brandon Jennings. Além disso, sua versão cartola também falhou em chegar a um acordo com Greg Monroe. Pior: o pivô assinou a oferta qualificatória da franquia e vai se tornar um agente livre sem restrições ao final da temporada.

Resultado: Van Gundy, o técnico, vai ter de arrumar isso. Um tanto esquizofrênico isso? Pois é. Acontece quando você é o seu próprio patrão. Não tem com quem reclamar. O brinquedinho é todo dele.

O time: SVG olha para o seu elenco e vê três excelentes homens de garrafão, mas que tiveram sérias dificuldades quando escalados juntos na última temporada. Usar Josh Smith mais afastado da cesta é um convite para uma série de decisões absurdas. É provável que, ao contrário de Cheeks, o novo treinador chegue a uma simples conclusão: fazer um rodízio, mesmo. Sai um, entra o outro, e por aí vai, seguindo sempre com uma dupla forte. Agora, nas alas… Hm…  Temos um problema. Em teoria, Jerebko, Singler, Datome são o mesmo jogador – claro que há características peculiares que os diferenciam, mas as funções exercidas em quadra são basicamente a mesma. No fim, é um trio de atletas promissores, mas que geram  nenhum deles consegue se separar do outro. E aí que Butler só deixa essa rotação mais confusa nesse sentido. Mais uma ala 3/4, para espaçar a quadra, e tal. Na armação, Jennings precisa tomar um rumo na vida: se DJ Augustin mandá-lo para o banco, seria basicamente o fim. Van Gundy costurar tudo isso e fazer um grande conjunto? Seria sua maior obra.

Smith quer a bola. Drummond é o foco

Smith quer a bola. Drummond é o foco

A pedida: um retorno aos playoffs seis anos depois. Mesmo no Leste, um desafio, e tanto.

Olho nele: Kentavious Caldwell-Pope. Alguém com um nome desses precisa fazer um sucesso, né? O ala vai para o seu segundo ano, mais confiante e animado com as mudanças que vê ao redor.  Kentavious é bastante atlético, com capacidade para colocar a bola no chão e atacar a cesta. Além disso, tinha a reputação de ser grande arremessador vindo da universidade, ainda que essa habilidade ainda não tenha aparecido na grande liga (aproveitamento de 30,3% de longa distância até aqui). Aos 21 anos, ainda tem muito o que desenvolver. Fez ótima summer league em Orlando, mas perdeu boa parte da pré-temporada devido a uma torção no joelho. Dependendo do seu progresso, pode fazer as contratações de Butler e Meeks ainda mais banais.

Para que chamá-lo de KCP, quando se tem Kentavious?

Para que chamá-lo de KCP, quando se tem Kentavious?

Abre o jogo: “Não é um desrespeito com as pessoas que estão trabalhando no clube, mas foi duro para mim chegar a um acordo por mais quatro anos com gente que é nova por aqui. Honestamente, se você for perguntar para qualquer um na rua se eles topariam isso, na área em que trabalham, diriam não.  As pessoas ficam presas ao dinheiro e acham que, se foi oferecido, você é obrigado a aceitá-lo. Nós ganhamos muito dinheiro, mas todo o restante não pode ser relevado por causa disso. Se os jogadores fizessem esse tipo de coisa, seriam infelizes, porque receberiam o dinheiro apenas por receber e não estariam totalmente dedicados”, Greg Monroe, explicando por que não aceitou uma das ofertas de Van Gundy para estender seu contrato e seguir a rota incomum de jogar um ano pela oferta qualificatória. Ao mesmo tempo em que ganha liberdade para decidir seu futuro, o pivô também corre certo risco. Reparem nos malabarismos retóricos que ele precisa fazer para não entrar em conflito com os torcedores do Pistons.

Você não perguntou, mas… o Pistons entrou para o rol dos clubes da NBA que tem sua própria filial na D-League, o Grand Rapids Drive (não, não se trata de trocadilho).  Ex-gerente geral do Orlando Magic, Otis Smith foi agora contratado por seu antigo subordinado para dirigir o time B em quadra. Será a primeira vez que cumprirá a função de técnico. “Gosto do ‘desenvolvimento’ que está no nome da liga. Desta forma posso passar mais tempo no desenvolvimento do estafe e dos jogadores, dentro e fora da quadra”, afirma Smith. “Estar em quadra com os caras, ensinando-os, fazê-los evoluir e serem profisisonais… Isso é o que mais me anima.”

dennis-rodman-pistons-cardUm card do passado: Dennis Rodman. Com menos músculos, sem tatuagens, antes de se relacionar com Madonna e se casar com Carmen Electra, de atuar com Jean-Claude van Damme e Mickey Rourke e virar celebridade mundial, para além do quadrante da NBA, antes de se indispor com David Robinson, de intrigar e vencer mais Phil Jackson e de passar algumas noites mal dormidas na casa de Mark Cuban, Rodman já era um grandessíssimo jogador na Motown, ainda que como coadjuvante de Thomas e Dumars. Em suas últimas duas temporadas por lá, de 1991 a 93, o ala-pivô começou seu impressionante período hegemônico de melhor reboteiro da liga – e talvez da história –, com médias superiores a 18 por jogo. Nos dias de hoje, Andre Drummond é forte candidato a liderar o campeonato neste fundamento.


EUA definem time com a Espanha na mira
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Giancarlo Giampietro

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

LaMarcus Aldridge, Blake Griffin e Kevin Love disseram não, obrigado. LeBron e Carmelo, que também quebram um galho por lá, assim como Kevin Durant, também pularam fora. Mas quem disse que o Coach K não conseguiria montar um Team USA grande – ou gigante – para a Copa do Mundo de basquete na Espanha?

Na calada da noite, madrugada de sexta para sábado já no horário de Brasília (sacanagem!!!), o gerentão Jerry Colangelo e o técnico Mike Krzyzewski anunciaram os cortes finais – Damian Lillard, Kyle Korver, Gordon Hayward e Chandler Parsons – para definir seu elenco de 12 atletas. Com muitas surpresas, sendo o estoque de grandalhões a maior delas.

Da turma meio que exclusiva de garrafão, eles terão: Anthony Davis, Kenneth Faried (titulares), Mason Plumlee, DeMarcus Cousins e Andre Drummond. São cinco pivôs, mais o Rudy Gay que pode fazer o papel de strecht 4 pontualmente, dependendo do time que estiver do outro lado. Uma linha de frente abarrotada, , principalmente quando comparamos esta escalação com a de outras temporada. Vejam só:

– 2010: Tyson Chandler, Odom, Love (+ Gay, Granger e Durant)

-2012: Tyson Chandler, Davis, Love (+ LeBron, Carmelo e Durant)

Temos aí a mesma composição: três pivôs mais três “híbridos”, que seguravam as pontas de quando em quando para marcar lá embaixo – ainda que, no sistema promovido pelo Coach K, esse conceito de posições fosse bastante dissipado. Além do mais, caras como Odom, Love e Davis fazem muito mais em quadra do que simplesmente proteger o aro e rebotear. Você pega esses duas listas e vê um esbanjo de versatilidade. No sexteto de 2014, não é bem assim.

Claro que DeMarcus Cousins tem uma habilidade fora do comum para alguém do seu porte. Kenneth Faried é consideravelmente dinâmico e vem expandindo seu raio de ação. Mason Plumlee, que ganhou sua vaga feito um autêntico azarão nos coletivos dos “aspirantes” contra o time principal, também é um excelente passador. Mas não dá para comparar.

Então o que acontece?

Isso se chama respeito. Pela Espanha, basicamente.

Ninguém da USA Basketball vai admitir em público, até para não soar prepotente e não encher de confiança os donos da casa. Mas os americanos entram na competição com um único objetivo: alcançar a final e levar mais ouro para casa. Creem piamente que os irmãos Gasol e o contratado Serge Ibaka estarão do outro lado. Um trio de arromba, que, num jogo travado, físico (e, quiçá, com arbitragem caseira?), pode te carregar de faltas. Daí a mudança de curso.

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

“Não consigo reforçar o quanto foi impressionante a dedicação e o comprometimento de cada um dos finalistas”, disse Colangelo. “Desde que assumi a gerência do programa em 2005, esse foi sem dúvida o processo de seleção mais difícil pelo qual passamos. Gostaria de deixar claro que isso não tem a ver apenas com talento. Cada um desses jogadores é incrivelmente talentoso e cada um oferece habilidades únicas. No fim, o que pesou foi a formação da melhor equipe possível, selecionando os caras que sentimos que se encaixariam da melhor forma com o estilo que temos em mente para esta equipe.”

No programa que restaurou a hegemonia ianque no basquete mundial,  a explosão, a velocidade, a capacidade atlética como um todo foram elementos fundamentais em suas seleções Claro, desde que esses atletas também fossem multifundamentados. Ajuda poder contar com Westbrooks, LeBrons, Georges e tudo o mais, né? Aberrações do ponto de vista físico, mas igualmente fenomenais com a bola.

Sem esses caras do primeiro escalão, o Coach K tinha ao seu dispor a ala, digamos, branca que sobrou – Chandler Parsons e Gordon Hayward, que supostamente poderiam quebrar o galho como jogadores híbridos (simplesmente “forwards”). Após Durant pedir dispensa, não demorou, no entanto, para que a federação recorresse a Rudy Gay, um campeão mundial em 2010, mas que nem havia sido convocado para o novo ciclo olímpico que se inicia. Já era uma pista a respeito dos alas de Dallas Mavericks e Utah Jazz.

Já Kyle Korver era visto como o sniper do elenco. Aquele que seria utilizado para derrubar as defesas por zona mais coordenadas, com seu arremesso perfeito – sim, ele também tem um QI acima da média, se mexe como poucos fora da bola, ajuda na coesão defensiva e tem bom passe, mas seu chamariz, em meio a tamanha concorrência, é o chute de três. Num time que já conta com Stephen Curry, Kyrie Irving, James Harden e Klay Thompson, porém, sua especialidade pôde ser sacrificada.  Os recursos atléticos e técnicos de DeMar DeRozan se tornaram mais atraentes.

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

O corte inesperado, mesmo, pensando na primeira lista divulgada, foi o de Damian Lillard. Não só por ser um senhor (e destemido) arremessador, mas principalmente por todas as dúvidas que ainda vão rondar Derrick Rose por um bom tempo. O armador jogou contra o Brasil no domingo e, segundo consta, sentiu dores no corpo inteiro, e, não, apenas nos joelhos operados. Tantas dores que, na quarta-feira, não foi para a quadra para enfrentar a República Dominicana, pulando também os treinos no meio do caminho. Num Mundial com uma sequência desgastante de jogos, como fica essa equação? Não seria prudente levar Lillard? Talvez o simples fato de que Colangelo e Krzyzewski tenham pensado que não seja a melhor notícia que o torcedor do Bulls poderia receber.

Agora, numa Conferência Oeste que já é brutal, os adversários do Portland Trail Blazers que se cuidem, porque Lillard vai ter ainda mais um bom motivo para incendiar cada ginásio que visitar na próxima temporada. John Wall ganhou companhia.

Mas ainda tem chão para os Irmãos Gasol e Ibaka pensarem no quão enfezado Lillard vai estar em quadra. Antes, eles vão acompanhar com curiosidade como os Estados Unidos vão trabalhar com tantos pivôs.


Notas sobre a pré-temporada: Splitter, Monocelha, Rose, Oladipo e mais
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Giancarlo Giampietro

 – O San Antonio Spurs não resolveu pagar US$ 36 milhões para Tiago Splitter para deixá-lo no banco ou diminuir seu papel no time, né? Para um técnico que pensa tanto a longo prazo como Gregg Popovich, o lema de não levar tão a sério o que acontece nesta época do ano vale ainda mais, certo? Sim, sim. É de se esperar que sim. Pois o catarinense anda um tanto devagar. Depois de passar zerado na partida contra o Atlanta Hawks, na quinta-feira, ele tem apenas 22 pontos e 18 rebotes em quatro partidas até o momento, jogando por 70 minutos. Para comparar, o australiano Aron Baynes acumulou 37 pontos e 26 rebotes pontos nos mesmos 70 minutos. Recém-contratado, Jeff Ayres, ex-Jeff Pendergraph, já ficou em quadra por 73 minutos e vem se mostrando um bom passador, com 10 assistências. Não é que o brasileiro venha sendo preservado pelo treinador: enquanto o pivô disputou os quatro jogos do San Antonio até este sábado, Tim Duncan, Manu Ginóbili e Tony Parker já foram poupados em pelo mens um um deles.

Oh, my...

Sem palavras, Anthony Davis

– Anthony Davis, Anthony Davis, Anthony Davis… O novato número um do Draft de 2012 está voando. Ele marcou mais de 21 pontos em suas primeiras quatro partidas. Na quinta, deixou cair a peteca: foram só 18. Sua média é de 22,6 pontos até aqui. O ala-pivô voltou das férias mais forte e muito mais confiante em seu repertório ofensivo, atacando o aro e também convertendo os chutes em flutuação, enquanto na defesa continua estocando bloqueios e roubadas sem parar. Já estaria pronto o Monocelha para ingressar na elite da NBA? Não faz muito tempo em que o jogador era extremamente cobiçado pelos olheiros da liga, comparado a Tim Duncan e tudo isso. Seu ano de novato não foi ruim de modo algum, mas o excesso de pequenas lesões, a explosão de Damian Lillard em Portland e o gigantismo de Andre Drummond acabaram por ofuscar Davis um pouco. Mas só um pouco. Agora ele pretende justificar toda a badalação que recebeu em Kentucky.

– Ao que tudo indica, as dores no joelho de Derrick Rose não eram tão sérias ou incômodas assim. Acreditem se quiser, então: chegou o dia em que Tom Thibodeau foi precavido ao lidar com seus jogadores! O técnico do Bulls pode ter deixado muita gente frustrada no Rio de Janeiro ao sacar sua estrela do amistoso contra o Wizards, mas para o torcedor mais fanático pelo time de Chicago essa só poderia ser uma ótima notícia, independentemente do quanto o armador renderia no retorno aos Estados Unidos. E o que vimos? Rose arrebentando com Pistons e Pacers. Contra o Detroit, foram 22 pontos em 22 minutos. Contra o Indiana, 32 pontos em 31 minutos. Está bom? Calma, que tem mais: o jogador vem com um desempenho sensacional na linha de três pontos, tendo convertido seis dos últimos dez arremessos nas últimas três partidas, o que dá 60% (dãr). A média em sua carreira? Só 31%. Se o atleta realmente conseguiu melhorar dessa forma seu chute de longa distância durante a última temporada de suplício… Digo, obviamente ele não vai arremessar 60, nem 50% durante o campeonato, mas se beirar os 40% já seria um progresso incrível e um pesadelo para seus marcadores.

– As limitações físicas de Joakim Noah, ainda sofrendo com dores na virilha, são o que mais incomodam Thibodeau, então, neste momento. Taj Gibson é que não vai reclamar de nada. O ala-pivô construiu sua reputação na liga com base em sua capacidade na defesa. A julgar pelo que vem apresentando nestes primeiros jogos em outubro, pode ser que na outra tábua seu jogo também tenha se expandido. Ele pontuou em duplos dígitos nas cinco partidas do Bulls, com média de 15 pontos por jogo (contra 7,9 na carreira e 8,0 na temporada passada) e acertou 62,5% de seus arremessos, muitos deles cravadas de se levantar da cadeira. Qualquer melhorias neste sentido também seria um ganho enorme para Thibs, na hora de o treinador promover sua já tradicional substituição de Boozer por Gibson nos minutos finais das partidas: ele fortaleceria sua retaguarda e não perderia muito no ataque, desde que seu reserva consiga render ofensivamente, especialmente convertendo arremessos de média distância.

– Sobre o Pacers, o que dizer? São cinco jogos, cinco derrotas. Todo mundo vai dizer que pré-temporada não serve para avaliar nada, e tal… Mas o último time a passar batido pela fase de amistosos, sem nenhuma vitoriazinha sequer, foi o Los Angeles Lakers no ano passado. E sabemos muito bem o que saiu daí. Era de se imaginar algumas dificuldades para Frank Vogel, num período em que ele tem de integrar um monte de novos reservas ao seu esquema defensivo e, ao mesmo tempo, precisa tirar o ferrugem do ala Danny Granger. Sua equipe também ainda não enfrentou nenhuma baba (dois duelos com Bulls, dois com Rockets e um com o Mavs). Mas… Nenhum triunfo para o vice-campeão do Leste? A ver. Granger, aliás, não vem muito bem. Ele acertou apenas 14 de seus 44 arremessos de quadra (31,8%). Ao menos de longa distância ele vem matando: 8/17 (47%).

Darren Collison ama Chris Paul

Claver tenta, mas está difícil de parar Darren Collison, o reserva ideal do CP3

– Parece que o negócio de Darren Collison é ficar perto de Chris Paul, não? Até hoje, o armador viveu seus melhores dias na NBA em sua campanha de calouro, em 2009-2010, quando foi selecionado pelo New Horleans Hornets para ser o reserva do superastro. Acontece que CP3 se lesionou bastante naquela temporada, e o jogador revelado pela UCLA acabou ganhando muitos minutos e deu conta do recado de forma surpreendente até, com médias de 18,8 pontos e 9,1 assistências nas partidas em que começou como titular. De lá para cá, porém, não conseguiu repetir esse tipo de números, com dois anos muito irregulares pelo Indiana Pacers, além de uma passagem bastante frustrante pelo Dallas Mavericks, na qual deixou o técnico Rick Carlisle maluco por sua indisciplina defensiva e alguns hábitos indesejados no ataque. Sua cotação caiu tanto que, como agente livre, se viu forçado a assinar pelo mínimo com o Los Angeles Clippers… Para ser reserva de Paul novamente. E o que vemos na pré-temporada? Alguns jogos impressionantes do armador, claro. Nesta sexta, por exemplo, ele somou 31 pontos e seis assistências em derrota para o Portland Trail Blazers – foi tão bem que ficou em quadra por 34 minutos, forçando Doc Rivers a colocá-lo ao lado de seu franchise player. Collison também teve duas partidas com dez assistências, sendo que, contra o Sacramento Kings, no dia 14, terminou com um double-double, anotando 20 pontos em 36 minutos. Se conseguir repetir esse tipo de desempenho nos jogos para valer, o armador pode complicar um pouco a vida de Rivers, mas sem deixar que o técnico lamente a saída do dinâmico Eric Bledsoe.

– Para o Oklahoma City Thunder, outro concorrente de ponta na Conferência Oeste, o importante é a acompanhar como está o desenvolvimento do ala Jeremy Lamb, que, em sua segunda temporada, será obrigado a arcar com muito mais responsabilidades, assumindo o lugar que um dia foi de James Hardem na rotação da equipe. Se sua capacidade atlética e envergadura pode reforçar a defesa de perímetro do time, deixando as linhas de passe ainda mais apertadas (já foram nove bolas recuperadas em quatro jogos…), no ataque sua mira de três pontos está totalmente desarrumada: converteu apenas três chutes em 17 tentados (17,6%). Se o ala não der um jeito de trabalhar esse fundamento, a vida de Kevin Durant no ataque ficará muito mais complicada, com mais jogadores concentrados na ajuda.

– Entre os novatos, o destaque fica, por enquanto, para o ala-armador Victor Oladipo, segunda escolha do Draft, aposta do Orlando Magic. Um competidor feroz, ele vem saindo do banco pelo jovem time da Flórida, mas causando impacto nas partidas com sua capacidade atlética invejável e muita dedicação e versatilidade. Em cinco partidas até aqui, são 14,2 pontos, 5,5 assistências, 6,2 rebotes e 1,8 roubo de bola, isso sem ter jogado mais que (!) 30 minutos em nenhuma ocasião. Olho nele: nunca foi muito badalado quando adolescente, mas, em seus três anos na universidade de Indiana, evoluiu demais para se tornar um prospecto de elite. Tem tudo para se tornar rapidamente um líder em Orlando.

Que mais que vocês vêm reparando?


Jennings inaugura polêmicas, desdenha de ex-parceiros e promete vida nova
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Giancarlo Giampietro

E a primeira polêmica oficial da temporada 2013-2014 da NBA ficou por conta de… Brandon Jennings!

Palmas para ele, pessoal!

(Clap-clap-clap-clap-clap! São milhões de aplausos, no clima de Iiiiiirrmãos Benson!)

Muito bem, obrigado, obrigado.

Vocês viram essa? Em Detroit, o mais novo Brandon da Motown – assumindo o cargo que antes pertencia a Knight, numa das trocas mais curiosas do verão – foi elogiar seus novos companheiros, num gesto básico de solidariedade. O problema é que, ao falar bem de uns, decidiu pisar no calo de outros, seus antigos parceiros de Milwaukee.

“Neste ano acho que vocês vão ver um jogador completamente diferente, só de ver todo o talento que tenho ao meu redor, os veteranos neste vestiário”, afirmou, indicando que não praticava um bom e saudável basquete pelo Bucks por ter de fazer demais em quadra, sem ter a companhia adequada. Depois, foi a vez de fazer comentários diretos específicos sobre os grandalhões. “Não pude jogar com um cara que tenha presença de garrafão desde Andrew Bogut, alguém para quem você possa atirar a boa. Agora tenho isso aqui. Caras como Josh, Drummond. Podemos fazer pick-and-rolls. Um monte de opções.”

Daí que o Larry Sanders, que acaba de assinar um contrato gigantesco em Milwaukee, de US$ 11 milhões por quatro temporadas, não gostou muito dessas observações técnicas do armador. E disse que, para os pivôs do Pistons mostrarem o que podem, Jennings “tem de passar a bola para eles primeiro”.

Ouch.

Um raro momento em que os atletas deixam de lado a diplomacia, abrindo mais uma história intrigante para acompanharmos na temporada.

Pensem no seguinte: em maio, o Bucks estava disputando os playoffs, com os dois presentes no quinteto titular. Cinco meses atrás apenas. Não dá para imaginar que, de lá para cá, a apreciação de um pelo outro tenha mudado drasticamente assim… Quer dizer: os dois mal se aturavam, mas isso não podia vir a público de modo algum, para evitar uma crise institucional numa equipe das mais pobrinhas da liga, que se vira do jeito que pode para ser competitiva. E os técnicos e dirigentes que se virem para contornar esse tipo de situação, que, acreditem, se replica em diversos vestiários dos clubes da liga, mas que dificilmente “vaza” devido a um rígido controle de comunicação.

Uma vez, porém, que as temporadas mudem, com jogadores pegando as malas e partindo para outra, é aí que se abrem as portas para que esse tipo de desavença (ou, no mínimo, “desgosto”) seja revelado. O mais novo Piston obviamente não confiava muito nos pivôs que tinha ao seu lado para alimentá-los, e ao menos um desses gigantões esperava muito mais passes de seu armador.

Jennings é realmente uma figura daquelas, que estava escondido em Milwaukee nos últimos anos, esperando mais microfones, luzes. Talvez Detroit, hoje em dia, ainda não seja o palco para isso, mas ele ao menos encontrou algum jeito de chamar a atenção. Segundo consta, na sua primeira parada na NBA, se tornou persona non grata, se comportando como uma suprestrela, embora sua produção em quadra não se justificasse.

Este é outro aspecto que nunca se pode ser ignorado quando se escreve ou comenta a liga norte-americana. Os egos enormes envolvidos. Muitos desses atletas são paparicados desde a adolescência, tratados como reizinhos das mais diversas regiões de um país de proporções continentais. O duro é se ajustar a uma nova realidade, quando, ao seu lado, estão vários atletas que pensam exatamente a mesma coisa. O caso de Jennings é especial neste sentido. Ele saiu do high school direto para a Euroliga, com um contrato bem valioso. Já era patrocinado por um fornecedor esportivo emergente nos EUA quando foi selecionado no Draft de 2009. Chegou a marcar 55 pontos naquela que era apenas sua sétima partida no campeonato. Mas este continua a ser o principal feito de uma carreira que entra em sua quinta temporada.

Quando você o olha em ação, algumas habilidades saltam aos olhos, especialmente seu controle de bola. Jennings se desloca sem a menor dificuldade, com muita desenvoltura no drible, mesmo em alta velocidade – o indefectível Zach Lowe esmiuça seu jogo aqui. Mas não conseguiu em Milwaukee se desvencilhar de péssimos hábitos ofensivos, com poucos passes para cesta (não se enquadrou nem entre os 20 melhores em percentual de assistências por posse de bola, e Nate Robinson foi o 18º…) e uma seleção de arremessos sofrível. Seu aproveitamento nos tiros de quadra até agora é de ridículos 39,4%, algo inaceitável para alguém pouco pontua na linha de lances livres (2,9 na carreira). Vejam aqui seu quadro de 2012-2013:

Em amarelo, a média da liga. Em vermelho, abaixo (o que mostra o quanto sofre nas bandejas. De todo modo, o gráfico indica potencial de crescimento para Jennings de média para longa distância, desde que consiga reduzir o número de arremessos contestados que assume durante as partidas

Nem mesmo nas medições avançadas seus números sobrevivem, ficando abaixo de Iverson, Marbury, Steve Francis e qualquer outro dos anti-heróis que tenha  ouvido gritos e gritos de “fominha” durante as últimas décadas e sido eleito ao menos uma vez para um All-Star. Injusto esse tipo de comparação? Talvez. Desde que o próprio armador entenda em que ponto está sua trajetória no momento.

Veja o que ele também disse em sua chegada a Detroit: “Definitivamente tenho de mudar meu jogo para que este time tenha sucesso. As coisas que eu estava fazendo em Milwaukee eu não precisarei fazer mais aqui: tentar tantos arremessos ruins”. E mais: “Agora eu posso simplesmente ser eu mesmo em quadra, ser o que era cinco anos atrás, quando estava no colegial”.

Então é isso?

Ersan Ilyasova & Cia. estavam segurando o armador, atrapalhando seu potencial? Acompanhado de Greg Monroe, Andre Drummond e Josh Smith, vamos ver o “verdadeiro” Brandon Jennings?

Joe Dumars e Larry Sanders mal podem esperar.


Mercado da NBA: panorama da Divisão Central
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Giancarlo Giampietro

O post já vai ficar imenso, então vamos direto ao assunto. A partir desta quarta-feira, os clubes da NBA começaram a oficializar os acordos que trataram nos últimos dias, em período agitado no mercado de agentes livres. Nesta quarta, resumimos o Leste. Confira o rolo em que cada franquia da Divisão do Central se meteu, ou não, abaixo:

Cleveland Cavaliers: os principais reforços do time de Kyrie Irving (já dá para tratar assim, né?) por enquanto vêm do Draft: o ala-armador Dion Waiters, ex-companheiro de Fab Melo em Syracuse, e o pivô Tyler Zeller. Em termos de negociações por agentes livres, tudo anda muito quieto em Ohio. A equipe chegou a ser envolvida na central de boatos própria que virou a negociação entre Nets e Magic por Dwight Howard, mas se recusou a receber o ala Kris Humphries com um contrato de mais de um ano de duração. Certos eles. Também se recusam a falar sobre Anderson Varejão com os diversos interessados.

Daryl Morey

Chicago agora detesta Morey

Chicago Bulls: o gerente geral do Houston Rockets, Daryl Morey, deve ser o novo inimigo público número um em Chicago, uns 80 anos depois de Al Capone. O rei dos nerds fez uma proposta diabólica pelo turco Omer Asik, que, se coberta, vai estrangular as finanças do Bulls daqui a dois anos. A partir desta quarta, John Paxson e Gar Forman têm três dias a mais para debater se vale a pena segurá-lo. Ronnine Brewer e CJ Watson, que dá lugar ao repatriado Kirk Hinrich, já foram dispensados. Kyle Korver ainda não sabe o que o futuro (breve) reserva. O novato Marquis Teague também vai ajudar Hinrich na missão de preencher os minutos perdidos pela lesão de Derrick Rose. Ah, e Luol Deng vai se quebrando ainda mais pela Grã-Bretanha.

Detroit Pistons: dos contratos bizarros que Joe Dumars andou distribuindo nos últimos anos, de um ele se desvencilhou no mês passado: Ben Gordon, mandado para Charlotte em troca de Corey Maggette. O ala ainda pode ter alguma utilidade, mas sua maior relevância para o clube é o fato de estar no último ano de seu contrato. Para o garrafão, na tentativa de dar uma força para o talentoso Greg Monroe, chegam o novato Andre Drummond, apenas 18 anos e forte candidato a pior chutador de lances livres da história da liga, e o ucraniano Vyacheslav Kravtsov, uma contratação surpreendente que agrada a muitos olheiros do basquete europeu, por sua capacidade atlética e evolução recente na liga de seu país. Ainda precisam arrumar o que fazer com Charlie Villanueva.

Vyacheslav Kravtsov

Ânimo, Kravtsov: você vai trocar de uniforme

Indiana Pacers: com um elenco jovem e barato, o Pacers brigou para valer com o Miami Heat nos playoffs, numa história inspiradora para os pequenos mercados da NBA que tentam se virar como podem diante das potências econômicas. Tava tudo muito bonitinho até que a temporada se encerrou de vez para escancarar uma rede de fofocas e intrigas na direção do clube. O resultado foi a demissão do gerente geral David Morway e na saída do presidente Larry Bird, que havia promovido o brilhante – e genioso – Kevin Pritchard para o cargo de seu antigo assessor. O veterano Donnie Walsh, arquiteto daquela versão histórica do Pacers dos anos 90 liderada por Reggie Miller, assume o cargo de Bird, para aliviar a tensão. George Hill teve seu contrato renovado, mas ainda não há sinal nenhum sobre as intenções do clube a respeito de Leandrinho. O pivô Roy Hibbert fica. Depois de flertar com o Portland, do qual iria receber uma bolada, foi avisado de que nem precisaria assinar a proposta, que ela seria coberta de imediato.

Milwaukee Bucks: Está aqui uma dessas franquias que poderia se inspirar no que fizeram o Pacers, com ou sem intriga, vá lá. A prioridade de John Hammond era renovar com o versátil ala-pivô turco Ersan Elyasova e, a despeito de muito assédio, até da Europa, ele conseguiu. Outro estrangeiro, o argentino Carlos Delfino deve estar de saída. Chegam os novatos John Henson, ala-pivô magrelo, mas ótimo defensor, e Doron Lamb, campeão universitário por Kentucky e de boa pontaria nos três pontos.

Veja o que aconteceu até agora nas Divisões do Atlântico e Sudeste.

Na quinta, passamos a limpo aqui a Conferência Oeste.


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