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Denver Nuggets: em busca de uma identidade perdida
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas para a temporada 2014-2015

Ainda há muitos ponteiros para Brian Shaw acertar em Denver

Ainda há muitos ponteiros para Brian Shaw acertar em Denver

O Denver Nuggets tinha algo especial. Mas decidiu que não era o bastante, já que não estavam se aproximando, materialmente, do título. Deixaram, então, o técnico ir embora, acompanhado pelo gerente geral e por um de seus principais jogadores. Alguns reforços de pouco impacto chegaram, mas boa parte do núcleo central do elenco segue intacta – o que é muito maluco, já que eram atletas contratados pensando no estilo de jogo da gestão anterior, bem diferente do que prega o novo treinador. Por ora, ficou nisso a reformulação do clube. De modo que o que temos para esta campanha é um time perdido no meio do caminho, ainda em busca de identidade.

Em 2012-2013, sob o comando de George Karl, o Nuggets venceu 69,5% de suas partidas na temporada regular. A melhor campanha da história da franquia. Nos playoffs, porém, foram derrubados pelo emergente Golden State Warriors em seis jogos, culminando na quarta derrota seguida logo na abertura dos mata-matas. Com ou sem Carmelo Anthony. Sempre com Karl no comando. Para a família Kroenke, era a hora de dar um basta. Não aguentavam mais tanta frustração, o que dá para entender. Por outro lado, seria mais compreensível o “basta” se eles tivessem alguma ideia de qual direção seguir na sequência. Não parece o caso. Nesse ponto, sugiro também a leitura casada sobre a ficha dedicada ao Portland Trail Blazers, que vai curtindo seu próprio período de lua de mel com a torcida, ainda que sem sonhar com o título.

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Os Kroenkes demitiram Karl e, logo em sequência, não fizeram força para segurar o nigeriano Masai Ujiri na chefia das operações de basquete, depois que ele recebeu uma senhora proposta de Toronto. Os dois haviam acabado de serem eleitos técnico e executivo do ano. Os seguidos fracassos na fase decisiva, porém, pesaram mais alto. Sem se importar que, no meio do processo, Ujiri tenha sido obrigado a negociar Carmelo Anthony e, ainda assim, que tenha mantido o time competitivo e, segundo mostram os números, até melhorado. Karl também se adaptou rapidamente à nova formatação do elenco. Outro fator importante: o Nuggets estava e continua no Oeste. Uma conferência brutal em que, basicamente, qualquer um dos oito classificados acha que pode chegar longe, se contar com um pouquinho de sorte. Isso, claro, não quer dizer que qualquer técnico já entra com a prancheta toda rabiscada de desculpas automáticas, que não deva ser cobrado por uma derrota ou outra. Só não dá para considerar inaceitáveis.

Gallo chegou no pacote por Carmelo. De volta de cirurgia, vai ficar ou preparar as malas?

Gallo chegou no pacote por Carmelo. De volta de cirurgia, vai ficar ou preparar as malas?

A saída de Ujiri é ainda mais alarmante. Ele havia retornado ao clube como gerente geral em 2010. Enfrentou toda a turbulência em torno de Melo – e ainda saiu ganhando dessa. Ok, são poucos os cartolas que vão ganhar US$ 3 milhões por temporada, num contrato de cinco anos. É mais que muito jogador por aí. Mas me desculpem se não dá para chorar por uma família com capital superior a US$ 6 bilhões, que controla times também da MLB, da NFL e o Arsenal, na Inglaterra…

O novo manda-chuva do basquete, Tim Connelly, tem uma bucha nas mãos. Seu elenco tem alguns ótimos jogadores e uma vasta maioria de atletas medíocres, cuja combinação é moldada para correr. Ao mesmo tempo, correr com  a bola, em teoria, não os levou a lugar nenhum – mesmo que essa tenha sido a identidade do time por um loooongo tempo, desde os anos 80 com Doug Moe dirigindo Alex English e Dan Issel. A contratação de Brian Shaw, pupilo de Phil Jackson em Los Angeles, peça integral também do sucesso recente do Indiana Pacers, sinalizava uma mudança drástica nessa direção. Acontece que, até o momento, poucas trocas significativas foram feitas para que o técnico ganhasse o tipo de jogador que se adequaria melhor ao que pensa sobre o jogo.

Não é fácil, claro. Os clubes mal haviam terminado de assimilar os meandros do novo acordo trabalhista, e as estruturas da liga já foram sacudidas novamente com a decolagem do valor dos direitos de transmissão das próximas temporadas. Tantas alterações sugerem precaução, conservadorismo nas transações. Algo que não ajuda Connelly em nada: a impressão que a montagem de elenco é a de que ele está obviamente estocando atletas com salário razoável na esperança de concretizar uma megatroca. Nate Robinson, Randy Foye, JJ Hickson, Darrell Arthur, Randy Foye etc… qual seria o ponto senão aglomerar diversos salários de médio porte, todos mais palatáveis ao mercado, para formar um pacote e ir atrás de oportunidades? E quais oportunidades? Essa é uma boa pergunta. Precisa saber quem seria o próximo Kevin Love da vez. Tem de ser esse tipo de estrela, já que o Andre Iguodala não serviu…

Mozgov, um dos jogadores mais cobiçados do elenco, mas que o Denver não quer negociar. Mais um trocado por Melo

Mozgov, um dos jogadores mais cobiçados do elenco, mas que o Denver não quer negociar. Mais um trocado por Melo

O time: Shaw estava determinado a desacelerar o Nuggets em sua primeira temporada no Colorado. Não deu muito certo. Depois, o discurso mudou para algo como: vamos correr ainda – afinal, precisavam explorar a altitude das Montanhas Rochosas de alguma forma –, mas também vamos defender bem e vamos jogar bem em meia quadra quando os atletas assimilarem melhor os conceitos. Vamos ser oportunistas. Não aconteceu nada disso. O Nuggets esteve abaixo da média da liga tanto atacando como defendendo. Enfim, é uma confusão que só. O retorno de Arron Afflalo ajuda, ainda mais enquanto Danilo Gallinari desenferruja. Ty Lawson precisa cuidar do tornozelo, Kenneth Faried tem um novo contrato de US$ 50 milhões para honrar, enquanto Timofey Mogzgov, Jusuf Nurkic e o inigualável JaVale McGee digladiam por minutos. No que vai dar isso tudo? Impossível dizer, enquanto a tal da troca não sai.

A pedida: chegar aos playoffs, amigos, seria pedir demais.

Olho nele: Kenneth Faried. Até porque, quando o cara está em quadra, é difícil desviar o olhar, mesmo. O ala-pivô do Nuggets usou ao máximo a experiência da Copa do Mundo da Fiba para se valorizar e entrar no radar da indústria do marketing esportivo americana, com sua energia aparentemente inesgotável para fazer das suas a impulsão impressionante, a ferocidade na disputa por rebotes a cabeleira chicoteando de um lado para o outro. O pacote todo que justifica o apelido de Manimal. Tudo muito divertido, sem dúvida. O que Faried precisa fazer, todavia, é elevar o seu jogo como um todo a outro patamar. A parte que não aparece nos clipes de melhores jogadas, no caso. Aprimorar seu posicionamento defensivo e o chute de média distância, por exemplo. Prestes a completar 25 anos, o superatleta ainda tem muito o que desenvolver.

Abre o jogo: “Todo mundo nessa liga pode pular. Mas não há muitos caras fortes”, Jusuf Nurkic, o calouro número 16 do draft, que tem 20 anos apenas, nunca disputou uma Euroliga, mas bate que é uma grandeza. O pivô é um ótimo reboteiro, tem habilidade em seu jogo de pés e potencial para assumir em breve a posição de titular do time, mas, em um primeiro momento, vai ficar conhecido na liga pelos hematomas que causa. Em Denver, já faz sucesso. “Ele traz a dor, ofensiva e defensivamente”, resume o técnico Shaw.

Shaw e o encapuzado Lawson no treino do Broncos

Shaw e o encapuzado Lawson no treino do Broncos

Você não perguntou, mas… Brian Shaw levou o armador Ty Lawson a um treino do Denver Broncos, no início de outubro, para que o tampinha observasse o quarterback Peyton Manning mais de perto e aprender uma coisa ou outra sobre ser um líder. “Espero mais dele do que de qualquer outro no nosso time”, afirmou. “Ele é nossa primeira linha de defesa e de ataque. Conversamos sobre sua liderança. Se ele não for um cara muito falante, tudo bem. Mas você precisa liderar ou de maneira vocal, ou por exemplo. Ele entende isso”, completou. O veterano Manning, uma das grandes personalidades do esporte americano da última década, respondeu a algumas perguntas do armador, com quem se encontrou pela primeira vez. Shaw ele conhecia de Indiana, de seus tempos de Colts.

kiki-vandeweghe-nuggets-cardUm card: Kiki Vandeweghe. O ala foi a 11ª escolha do Draft de 1980. Quatro anos depois, já havia disputado dois All-Star Games pelo Denver, com o time chegando de forma constante aos playoffs, sob o comando de Doug Moe. Foi uma sequência de nove temporadas nos mata-matas, rendendo apenas uma final de conferência em 1985, quando este cestinha de respeito já havia sido mandado para Portland. Aposentado aos 34 anos, em 1993, como jogador do Clippers, Vandeweghe retornou ao Colorado como gerente geral em 2001, após uma boa passagem pelo Dallas Mavericks. Foi com ele que o time retomou o caminho das vitórias, apostando na reconstrução via Draft, que lhes rendeu Nenê e Carmelo – além de Nikoloz Tskitishvili. Dispensado em 2006, assinou com o Nets. Hoje, trabalha nos escritórios da NBA em Nova York.


O 5º dia da Copa do Mundo: Agora afunilou
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram daquelas jornadas triplas da Copa do Mundo da FIFA, né? Um jogão atrás do outro, dominando sua agenda. Pois bem. Pegue esse agito todo e multiplique por quatro. O resultado é a Copa do Mundo da Fiba. É muito basquete num dia só: 12 partidas! Uma tabela de estatística vai atropelando a outra, os fatos vão se acumulando, e pode ficar difícil de dar conta de tudo. Vamos dar um passada, então, pela rodada. Para o básico, deixe de ser preguiçoso e acesse o site oficial da competição, né? Veja lá a situação dos grupos e os todos os resultados. Sobre a vitória brasileira sobre a Sérvia, clique aqui.

Luis Scola (22 pontos, 14 rebotes, 29 minutos) não se importunou com os atletas senegaleses. E agora?

Luis Scola (22 pontos, 14 rebotes, 29 minutos) não se importunou com os atletas senegaleses. E agora?

Quatro de cinco rodadas da fase de grupos já foram disputadas. Muitos sustos, poucas sacoladas, e sete vagas ainda abertas para que a chave do mata-mata seja preenchida. Foi um dia cheio de jogos, com todas as seleções novamente em quadra, resultando em 12 partidas, muitas delas simultâneas, para tornar qualquer resumo insuficiente. Fazemos aqui nosso melhor (humilde) esforço. Depois de ter chorado com os filipinos.

As contas
A essa altura do campeonato, todo mundo quer saber, mesmo, de quem vai enfrentar quem nas oitavas de final. Bom, conforme dito na croniqueta da vitória brasileira sobre a Sérvia, o time de Magnano assegurou a segunda posição do Grupo A, atrás da Espanha. O que quer dizer que vai enfrentar o terceiro do Grupo B. A partir daí, a segunda pergunta que – dá para sentir – muita gente está fazendo é: vai dar Argentina, ou não? Olha, pode acontecer, mas precisa de uma combinação tripla de resultados: que Luis Scola & Cial percam para a Grécia + vitória da Croácia sobre Porto Rico + vitória das Filipinas contra Senegal. Hoje, o adversário seria o time africano, mesmo. Os senegaleses assegurariam o terceiro lugar com uma vitória sobre os filipinos, ou se Porto Rico superar a Croácia.  Pode dar Croácia, se eles vencerem Porto Rico e… a) a Argentina vencer a Grécia e as Filipinas, Senegal ou b) a Grécia derrotar a Argentina e Senegal, as Filipinas. A Fiba mostra os cenários, mas o site Eurohoops vai além.

O jogo da rodada: Turquia 77 x 73 Finlândia
Com 15 segundos no relógio, o armador Petteri Koponen tinha dois lances livres para bater, com a chance de garantir mais uma vitória histórica – lideravam por 68 a 65, afinal. O líder do time escandinavo, porém, errou os dois arremessos. Tempo pedido. Na reposição de bola, a Finlândia decidiu pagar para ver o que os turcos podiam, sem fazer a falta e jogar um adversário para a linha de lance livre – talvez abalados pelas falhas de seu atleta. Aí que o ala Cenk Akyol, que já foi tido como uma grande promessa do basquete europeu, foi draftado pelo Atlanta Hawks e hoje é um medíocre ala do Galatasaray, acabou matando uma bomba de longa distância, aproveitando passe de Emir Preldzic, a quatro segundos do fim, forçando a prorrogação (Koponen ainda erraria uma bola de dois antes do estouro do cronômetro). No tempo extra, Preldzic passou de organizador a definidor, anotando cinco de seus 13 pontos, incluindo suas únicas duas cestas de quadra, para garantir a vitória. Ele ainda contribuiu com 8 rebotes e 5 assistências. Destaque também para os incríveis 22 pontos (com oito lances livres desperdiçados) de Omer Asik, que virou, de uma hora para a outra, uma força ofensiva no Mundial. O resultado ainda não garante a classificação turca, mas praticamente elimina os finlandeses: para eles avançarem ao mata-mata, precisam derrotar a Nova Zelândia (plausível) e torcer para que a Ucrânia vença… os EUA (atchim!).

Asik e Gonlum consolam Koponen. Coisa linda

Asik e Gönlum consolam Koponen. Coisa linda

A surpresa: Manimal!!!
Vamos lá: ninguém ganha esse apelido de bobeira. Ele é o Manimal simplesmente por fazer coisas que valham o nome. O pivô mexe com um jogo de diversas maneiras. Em sua linha estatística, deveriam constar também itens como: “bolas perdidas recuperadas sem ninguém perceber”, “atropelamentos sem falta”, “saltos”, “chicotadas com o cabelo”, entre outras. Isso tudo o torcedor do Denver Nuggets sabia. Agora, o alcance de sua influência era desconhecido até mesmo pelo público geral americano.  Após quatro jogos, ele aparece como o segundo cestinha do time, com média de 14,8 pontos por jogo e aproveitamento de 78,4% nas tentativas de cesta. Afe.. Por mais que tenha refinado seu arremesso, com os pés plantados ou em progressão, por mais energia que leve para a quadra, ninguém contava com isso. “Espere o inesperado”, ele mesmo resume, após liderar o ataque americano com 16 pontos em controlados 17 minutos, tendo errado três de seus 11 chutes. Credo.

Alguns números
1.000 – O confronto entre EUA e República Dominicana foi o milésimo na história dos Mundiais.

17 – Foram os reduzidos minutos de Goran Dragic contra a Angola nesta quarta, não importando que os africanos tenham feito um jogo parelho por mais de três quartos. Quando a parcial final começou, aliás, os eslovenos perdiam por um ponto (66 a 65). Ainda assim os eslovenos maneiraram no tempo de quadra de sua estrela, que marcou 14 pontos e cometeu 3 faltas. Nenhum jogador do time, na verdade, passou  da marca de 25 pontos (Dormen Lorbek, cestinha com 17 pontos).  Aí tem coisa? Não sei: não faria sentido entrega-entrega, uma vez que o líder do Grupo D escaparia de um duelo com Estados Unidos e Espanha nas semifinais.

14 – Contra a enchouriçada linha de frente de Senegal, Scola apanhou 14 rebotes, seu recorde nesta competição. Mesmo sem mal sair do chão, o pivô argentino é o quarto em média nesse fundamento, com 9,8 por jogo. Acima dele aparece justamente um adversário com quem lidou durante o dia: o pivô Gorgui Dieng (média de 10,8, a segunda), mas que não conseguiu se destacar contra os hermanos. Marcado por Nocioni no início, teve seu pior jogo, disparado: 11 pontos, 8 rebotes e 5 turnovers, com 4/11 nos arremessos. Dessa vez não deu para os supreendentes africanos, atropelados por 81 a 46.

2 – No duelo dos sacos de pancada do Grupo A, o Irã venceu o Egito por 88 a 73, com 23 pontos, 15 rebotes e 4 assistências de Hamed Haddadi. Foi apenas seu segundo triunfo em um Mundial, novamente contra uma seleção do norte africano. Em 2010, eles haviam batido a Tunísia, arquirrival egípcia, por 71 a 58.

O Irã de Haddadi ainda tem chances remotas no grupo do Brasil: precisam vencer a França e torcer para uma vitória da Sérvia contra a Espanha. Qual é a mais difícil de acontecer?

O Irã de Haddadi ainda tem chances remotas no grupo do Brasil: precisam vencer a França e torcer para uma vitória da Sérvia contra a Espanha. Qual é a mais difícil de acontecer? Se vencerem a França por mais de 8 pontos, não importaria se a Espanha derrotasse a Sérvia. Tenha fé!

0 – A Lituânia arrasou a Coreia do Sul: 79 a 49. E aí que você pode tentar matar a charada: “Dãr, chance zero de os sul-coreanos vencerem”. Sim, a resposta se sustenta. Mas o mais curioso e bizarro, mesmo, é que a vitória aconteceu sem nenhum lance livre convertido – ou batido!!! – pelos bálticos. Sim, todos os 79 pontos lituanos aconteceram em chutes com a bola em jogo (26 de dois pontos, 9 de três). Fair play dos coreanos, né? Donatas Motiejunas, pivô do Houston Rockets, foi o nome do jogo, com 18 pontos, 7 rebotes e 5 assistências em 29 minutos. Depois de sofrer com a forte marcação australiana na véspera, o armador Adas Juskevicius sorriu com 20 pontos em 21 minutos.

Andray Blatche: contagem de arremessos
67! – Em um jogo de matar ou morrer contra Porto Rico, Blatche ficou no meio do caminho. Não varou a casa dos 20 arremessos, mas ultrapassou os 10. Terminou com 16 – 10 de dois pontso e 6 de longa distância. Para quem viu a partida, porém, sabe que poderia ter sido mais. O pivô, na verdade, enxergou A Luz e passou a respeitar de verdade seus companheiros, fazendo a bola girar do jeito que dava (com um ou meia dúzia de turnovers no meio do caminho), em vez de encarar a marcação por vezes tripla dos porto-riquenhos. Ele terminou com duas assistências, mas buscou muito mais passes decisivos do que os estatísticos puderam computar. O basquete enobrece, uma coisa linda. Além do mais, ele ainda mantém uma distância confortável para a concorrência no quesito: Luis Scola é quem chega mais perto, com 57 tentativas de cesta.

O que o Giannis Antetokounmpo fez hoje?
Hoje foi dos dias em que o treinador grego não deu muita bola para o menino – com a vitória sobre a Croácia por 76 a 65, assegurou a primeira ou segunda posição do Grupo B, dependendo do confronto desta quinta com a Argentina. Giannis ficou em quadra por 12 minutos, como se fosse um quarto de NBA, anotando dois pontos na sua única investida próxima da cesta. Uma enterrada cortando por trás da defesa, que a Fiba gravou e exibe no vídeo abaixo. Coisa pouca para os padrões dele, né? Fora isso, o futuro craque do Bucks errou dois arremessos de três e pegou quatro rebotes. Amanhã, ele vai ter Andrés Nocioni pelo caminho. Cuidado!

Tuitando:

Nove das 16 vagas nas oitavas de final estão preenchidas.


A galera do Mondo Basquete tem publicado as estatísticas avançadas de cada jogo do Brasil no Mundial. Leia-se: os números que vão além dos números divulgados nas tabelas mais simples, medindo o impacto qualitativo – que nem sempre é reproduzido fielmente pelo quantitativo – do desempenho de cada jogador. Tiago Splitter foi destaque contra os sérvios.

 

Sem um miniclipe do Vine, não tem graça. Lá vai o companheiro de Bruno Caboclo e Lucas Bebê para a enterrada: DeRozan jogou 18 minutos contra os dominicanos e anotou 11 pontos (mas cometeu cinco desperdícios de bola).


O 2º dia da Copa do Mundo: coisas estranhas acontecem
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram daquelas jornadas triplas da Copa do Mundo da FIFA, né? Um jogão atrás do outro, dominando sua agenda. Pois bem. Pegue esse agito todo e multiplique por quatro. O resultado é a Copa do Mundo da Fiba. É muito basquete num dia só: 12 partidas! Uma tabela de estatística vai atropelando a outra, os fatos vão se acumulando, e pode ficar difícil de dar conta de tudo. Vamos dar um passada, então, pela rodada. Para o básico, deixe de ser preguiçoso e acesse o site oficial da competição, né? Veja lá a situação dos grupos e os todos os resultados. Sobre a vitória brasileira sobre o Irã, clique aqui.

Neste domingo, o Mundial flertou um pouco mais com acontecimentos estranhos. Enquanto o Brasil treinava contra o Irã, Senegal derrotava Porto Rico, para conquistar sua primeira. Por 20 minutos, nossos irmãos angolanos davam uma canseira na Lituânia, até que arrefeceram no segundo tempo. E a Turquia… Bem, a Turquia nos deu o…

O jogo da rodada: EUA tomam um beliscão
Ao final do primeiro tempo, com os turcos vencendo por 35 a 30, ficava aquela sensação no ar: será que vai acontecer isso, mesmo? Será que o Team USA pode realmente perder logo na segunda rodada da Copa, para a Turquia, mesmo? A equipe de Ergin Ataman conseguiu amarrar o jogo nos 20 minutos iniciais, dominando os rebotes, desacelerando as ações em quadra e movimentando bastante a bola. Na defesa, salpicou uma zoninha aqui e ali, que confundia os impacientes norte-americanos.

Na volta do intervalo, porém, veio o atropelo: 63 a 37 para os rapazes de Coach K, que voltaram do vestiário babando de raiva. Pressionado, o treinador, aliás, manteve seu quinteto inicial por muito mais tempo – segurando no banco, por exemplo, um Derrick Rose pior que nulo.  Houve um lance no início do terceiro período em que três atletas ao mesmo tempo fizeram falta em Asik. Era ianque caindo de um lado para o outro no tablado, num esforço que derrubou o ataque adversário. Os desarmes e contestações resultaram em contragolpes e desafogo. James Harden também assumiu o controle do ataque, na sua melhor forma: quando joga de modo agressivo, mas seguro ao mesmo tempo (14 pontos + 7 assistências). É habilidoso demais no drible, e ninguém do outro lado estava preparado para brecá-lo. Kenneth Faried e Anthony Davis passaram a dominar o garrafão. Os dois ágeis pivôs terminaram com 41 pontos, enterrando tudo e qualquer coisa por cima dos grandalhões mais pesados da Turquia.  Com todos correndo de modo alucinado, saía uma atrás da outra:

A surpresa: Senegal vence

Maurice Ndour sobe para a bandeja: 8 pontos

Maurice Ndour sobe para a bandeja: 8 pontos

Bom, para vocês terem uma ideia do tamanho da surpresa neste recinto, tinha os porto-riquenhos como candidatos a azarões nesta Copa do Mundo. Sabe-tudo, né? A lição que fica: nunca aposte suas fichas  em Porto Rico. A segunda: nem leve muito a sério o que está sendo escrito aqui. Óbvio.

Depois de levarem marretada da Argentina na primeira rodada, José Juan Barea e Carlos Arroyo foram praticamente eliminados logo no segundo dia com uma derrota por 82 a 75. Não assisti. Seria meio difícil entender como uma seleção com dois armadores tão talentosos poderia perder para uma equipe que basicamente não tem armação. Mas aí já encontramos uma causa: os 11 minutos de jogo para Arroyo. O veterano, que fez uma temporada excepcional na Europa e estava, enfim, se entendo bem com Barea em quadra, sofreu uma grave torção de tornozelo, indo parar no hospital. Pode ser que nem jogue mais no torneio.

Além disso, os senegaleses oprimiram os caribenhos atleticamente. Ganharam a disputa nos rebotes (38 a 33), cobraram mais lances livres (27 a 17) e permitiram um acerto de apenas 43,8% nos arremessos de dois. Sem muito o que fazer perto da cesta, Porto Rico desandou a disparar de três, como culturalmente gostam: 29 chutes de fora, contra 42 no perímetro interno. Em sua estreia em competições Fiba, Gorgui Dieng segue impressionante: 18 pontos, 13 rebotes, 2 tocos e 2 assistências em 34 minutos.

Essa foi apenas a terceira vitória de Senegal nos Mundiais, a primeira contra um time de fora da Ásia e a primeira também numa partida que não seja pelo “torneio de consolação” – nos tempos em que se disputava o 15º lutar etc. Antes, o país havia batido a China por 89 a 79 em 1978 e superado a Coreia do Sul por 75 a 72 em 1998.

Deve ser legal!

Um causo
“Contra os argentinos beligerantes muito pior pior passou Dario Saric, que está bem conservado Nocionija (11 pontos), mas depois de uma de cotovelo de Argentina perdeu seis dentes, na verdade, implante, então ele procurou a mudança. Eventualmente Dario e tal de volta no jogo para estar nessa linha que selou essa grande vitória. Solução protética temporária para o problema Saric estarão disponíveis o mais tardar amanhã por um dentista local, mas sem ele é que ele será capaz de jogar.” Calma, ninguém saiu bebendo por estas bandas aqui na sede das Organizações 21, na Vila Bugrão paulistana. O parágrafo acima foi redigido pelo Sr. Tradutor Google, com base em relato do diário Vecernji , da Croácia. Se a gente juntar os fragmentos, dá para entender que o jovem Dario Saric teve a infelicidade de se deparar com o cotovelo de Andrés Nocioni num dos primeiros jogos do dia. Perdeu seis (SEIS!) dentes nesse… Acidente. Na verdade, os dentes perdidos já eram de um implante. Então, para ele, ficou elas por elas, de modo que voltou para a quadra e contribuiu na segunda vitória croata em duas rodadas: 90 a 85. Depois, foi ao dentista. Mas deve jogar nesta segunda, sem problema.

Dario Saric ao fundo, bem distante do cotovelo de Nocioni

Dario Saric ao fundo, bem distante do cotovelo de Nocioni

 (Outro causo
Pelo Grupo A, em duelo de rivais diretos pela vaga, a França se meteu em mais um jogo duro, a segunda pedreira em duas rodadas, mas saiu com a vitória sobre a Sérvia: 74 a 73. Um pontinho, convertido pelo pivô Joffrey Lauvergne em lance livre no último segundo. Até aí, normal. Não foi a primeira vez, nem a última em que um jogo de basquete é definido desta maneira. Acontece que, em papo com jornalistas sérvios– ele era jogador do Partizan Belgrado –, fez uma confissão: “Tenho de ser honesto com você, não sofri falta no final da partida”, segundo relato do popular tabloide Večernje Novosti. Será? O pivô Miroslav Raduljica já havia cantado a bola: “Perguntem ao Joffrey, ou para os árbitros. Não seria objetivo se tivesse de dizer algo”. Já o técnico sérvio Aleksandar Djordjevic mal se continha: “Estou irritado, e acho que com razão. Tudo o que foi duvidoso foi marcado contra nós”.)  

Alguns números
30 – A Argentina perdeu para a Croácia, mas não olhem para Luis Scola para tentar entender o que se passou. O pivô argentino marcou 30 pontos na derrota – a sexta vez que chegou a essa marca em um jogo de Mundial. Esse é para a história.  

26 – Na segunda rodada, Goran Dragic repetiu os 26 minutos da estreia. De novo: Phoenix Suns e Eslovênia chegaram a um acordo para limitar a utilização do genial armador. É algo que pode virar tendência para os próximos torneios, dependendo da sensibilidade e empenho na diplomacia de ambas as partes. Contra o México, o astro, que somou 18 pontos e 6 assistências, e nem precisou de mais, graças ao desempenho de seu irmão caçula…  

0 – Estávamos esperando por um grande jogo de Zoran Dragic nesta temporada de seleções, e ele finalmente saiu neste domingo. E foi um estrondo: o ala-armador marcou 22 pontos em 22 minutos num jogo tranquilo contra o México. Mas o destaque, mesmo, fica para sua linha de arremessos: 4/4 nos arremessos de dois pontos, 4/4 nos de três pontos e 2/2 nos lances livres. Sim, ele não perdeu nenhum arremesso na jornada.

Goran Dragic, em raro momento de aperto contra o México: 89 a 68

Goran Dragic, em raro momento de aperto contra o México: 89 a 68

 Andray Blatche: contagem de arremessos
42! – Depois de tentar 24 chutes na estreia contra a Croácia, o pivô mais filipino do Mundial maneirou em nova derrota, agora contra a Grécia: 18 chutes de quadra (6/15 de dois pontos e 0/3 de longa distância). Ele terminou com 21 pontos e 14 rebotes em 33 minutos, enquanto nenhum de seus companheiros tentou mais que sete chutes.  

O que Giannis Antetokounmpo fez hoje?
Não foi muito, não. Foram três pontos, todos em lances livres, em apenas 14 minutos. Em arremessos de quadra, foram 0/3 de longa distância, e só. Curva de aprendizado ainda pela frente para o adolescente grego.

No Twitter:

A Finlândia tomou um vareio contra os Estados Unidos na véspera, mas reagiu prontamente contra a Ucrânia. Para que acabar com a festa? Neste domingão, a farra foi a de sempre, como o armador Petteri Koponen nos mostra. Não importando o que acontecer daqui para a frente, os #Susijengi já levaram para casa o Troféu Joinha de Simpatia.

Miroslav Raduljica, um autêntico bisnagão sérvio,  judia do aro em Granada.


Libertem a fera, quer dizer, o Manimal! O jogador mais pilhado do Mundial – e olha que Anderson Varejão está em ótima forma…

O Team USA posou para a foto oficial no primeiro jogo de agasalho. Não pode. Tiveram de repetir hoje, com uma animação que só.


EUA definem time com a Espanha na mira
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Giancarlo Giampietro

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

LaMarcus Aldridge, Blake Griffin e Kevin Love disseram não, obrigado. LeBron e Carmelo, que também quebram um galho por lá, assim como Kevin Durant, também pularam fora. Mas quem disse que o Coach K não conseguiria montar um Team USA grande – ou gigante – para a Copa do Mundo de basquete na Espanha?

Na calada da noite, madrugada de sexta para sábado já no horário de Brasília (sacanagem!!!), o gerentão Jerry Colangelo e o técnico Mike Krzyzewski anunciaram os cortes finais – Damian Lillard, Kyle Korver, Gordon Hayward e Chandler Parsons – para definir seu elenco de 12 atletas. Com muitas surpresas, sendo o estoque de grandalhões a maior delas.

Da turma meio que exclusiva de garrafão, eles terão: Anthony Davis, Kenneth Faried (titulares), Mason Plumlee, DeMarcus Cousins e Andre Drummond. São cinco pivôs, mais o Rudy Gay que pode fazer o papel de strecht 4 pontualmente, dependendo do time que estiver do outro lado. Uma linha de frente abarrotada, , principalmente quando comparamos esta escalação com a de outras temporada. Vejam só:

– 2010: Tyson Chandler, Odom, Love (+ Gay, Granger e Durant)

-2012: Tyson Chandler, Davis, Love (+ LeBron, Carmelo e Durant)

Temos aí a mesma composição: três pivôs mais três “híbridos”, que seguravam as pontas de quando em quando para marcar lá embaixo – ainda que, no sistema promovido pelo Coach K, esse conceito de posições fosse bastante dissipado. Além do mais, caras como Odom, Love e Davis fazem muito mais em quadra do que simplesmente proteger o aro e rebotear. Você pega esses duas listas e vê um esbanjo de versatilidade. No sexteto de 2014, não é bem assim.

Claro que DeMarcus Cousins tem uma habilidade fora do comum para alguém do seu porte. Kenneth Faried é consideravelmente dinâmico e vem expandindo seu raio de ação. Mason Plumlee, que ganhou sua vaga feito um autêntico azarão nos coletivos dos “aspirantes” contra o time principal, também é um excelente passador. Mas não dá para comparar.

Então o que acontece?

Isso se chama respeito. Pela Espanha, basicamente.

Ninguém da USA Basketball vai admitir em público, até para não soar prepotente e não encher de confiança os donos da casa. Mas os americanos entram na competição com um único objetivo: alcançar a final e levar mais ouro para casa. Creem piamente que os irmãos Gasol e o contratado Serge Ibaka estarão do outro lado. Um trio de arromba, que, num jogo travado, físico (e, quiçá, com arbitragem caseira?), pode te carregar de faltas. Daí a mudança de curso.

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

“Não consigo reforçar o quanto foi impressionante a dedicação e o comprometimento de cada um dos finalistas”, disse Colangelo. “Desde que assumi a gerência do programa em 2005, esse foi sem dúvida o processo de seleção mais difícil pelo qual passamos. Gostaria de deixar claro que isso não tem a ver apenas com talento. Cada um desses jogadores é incrivelmente talentoso e cada um oferece habilidades únicas. No fim, o que pesou foi a formação da melhor equipe possível, selecionando os caras que sentimos que se encaixariam da melhor forma com o estilo que temos em mente para esta equipe.”

No programa que restaurou a hegemonia ianque no basquete mundial,  a explosão, a velocidade, a capacidade atlética como um todo foram elementos fundamentais em suas seleções Claro, desde que esses atletas também fossem multifundamentados. Ajuda poder contar com Westbrooks, LeBrons, Georges e tudo o mais, né? Aberrações do ponto de vista físico, mas igualmente fenomenais com a bola.

Sem esses caras do primeiro escalão, o Coach K tinha ao seu dispor a ala, digamos, branca que sobrou – Chandler Parsons e Gordon Hayward, que supostamente poderiam quebrar o galho como jogadores híbridos (simplesmente “forwards”). Após Durant pedir dispensa, não demorou, no entanto, para que a federação recorresse a Rudy Gay, um campeão mundial em 2010, mas que nem havia sido convocado para o novo ciclo olímpico que se inicia. Já era uma pista a respeito dos alas de Dallas Mavericks e Utah Jazz.

Já Kyle Korver era visto como o sniper do elenco. Aquele que seria utilizado para derrubar as defesas por zona mais coordenadas, com seu arremesso perfeito – sim, ele também tem um QI acima da média, se mexe como poucos fora da bola, ajuda na coesão defensiva e tem bom passe, mas seu chamariz, em meio a tamanha concorrência, é o chute de três. Num time que já conta com Stephen Curry, Kyrie Irving, James Harden e Klay Thompson, porém, sua especialidade pôde ser sacrificada.  Os recursos atléticos e técnicos de DeMar DeRozan se tornaram mais atraentes.

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

O corte inesperado, mesmo, pensando na primeira lista divulgada, foi o de Damian Lillard. Não só por ser um senhor (e destemido) arremessador, mas principalmente por todas as dúvidas que ainda vão rondar Derrick Rose por um bom tempo. O armador jogou contra o Brasil no domingo e, segundo consta, sentiu dores no corpo inteiro, e, não, apenas nos joelhos operados. Tantas dores que, na quarta-feira, não foi para a quadra para enfrentar a República Dominicana, pulando também os treinos no meio do caminho. Num Mundial com uma sequência desgastante de jogos, como fica essa equação? Não seria prudente levar Lillard? Talvez o simples fato de que Colangelo e Krzyzewski tenham pensado que não seja a melhor notícia que o torcedor do Bulls poderia receber.

Agora, numa Conferência Oeste que já é brutal, os adversários do Portland Trail Blazers que se cuidem, porque Lillard vai ter ainda mais um bom motivo para incendiar cada ginásio que visitar na próxima temporada. John Wall ganhou companhia.

Mas ainda tem chão para os Irmãos Gasol e Ibaka pensarem no quão enfezado Lillard vai estar em quadra. Antes, eles vão acompanhar com curiosidade como os Estados Unidos vão trabalhar com tantos pivôs.


Diante de armadilha americana, foi Raulzinho quem escapou
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

(Obs: post atualizado domingo de manhã, com as estatísticas)

Lembramos o Mundial de 2010, em que o jogo foi decidido na última bola. Teve também o amistoso antes de Londres 2012, também no pau. Então o placar de 95 a 78 para os Estados Unidos, no quinto amistoso do Brasil rumo ao Mundial masculino, não pode ser visto como um bom sinal, algo que Splitter, mesmo, deixou claro em entrevista ao SporTV. Não dá, mesmo, para ser encarado como algo auspicioso, como um “grande teste”, e tal. Tem sempre de se tomar cuidado com a versão oficialesca da coisa.

Mas também não é o fim do mundo. Por 20 ou 25 minutos, a seleção jogou de modo competitivo. Melhor: nesses momentos, tinha em quadra o armador Raulzinho, justamente o personagem mais criticado nesta fase de preparação.

Neste sábado, foi um dos melhores em quadra (6 pontos e 4 assistências em 14 minutos). A diferença básica: o jovem atleta dessa vez usou a velocidade adequada, arrancando nos momentos certos. Teve calma com a bola, em vez de jogar com a quinta engatada o tempo todo. Isso, a despeito do convite da defesa americana para a correria e o caos, quase sempre pressionando muito a bola.

(A lição: não vale julgar um atleta por quatro ou cinco partidas. Posto isso, o corte de Rafael Luz ainda me parece inexplicável, por diversos motivos, que valem um texto particular. Só fica uma pergunta, porém: precisava definir o grupo de 12 atletas de modo tão rápido? Você economiza em passagem e hospedagem, mas talvez tire a chance de um jovem atleta provar ainda mais que merece uma vaga nos amistosos seguintes. Desde que,  claro, Magnano esteja aberto a novos nomes em sua lista e não tivesse o grupo fechado em sua cabeça desde fevereiro. De 2012, no caso…)

Agora, voltando a esse papo de pressão na bola. É um dos pontos centrais de estratégia da defesa norte-americana nesta retomada da hegemonia mundial – e algo que vai ser intensificado nesta equipe atual, visto que o garrafão está ainda mais enfraquecido. O tipo de armadilha com que Huertas, Larry, Alex e Leandrinho não souberam lidar (juntos, Huertas, Garcia e Barbosa cometeram 12 dos 21 turnovers brasileiros).

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Nesse sentido, foi um desempenho bastante atípico para o armador titular da seleção e do Barcelona, cometendo muitos turnovers, cedendo muitos contra-ataques. Na metade final do primeiro período, em especial, foi um horror, ele teve dificuldade extrema para até mesmo cruzar a linha central. Algo que fugiu bem ao padrão do que havia apresentado contra os Estados Unidos nas exibições anteriores sob a orientação de Magnano, conquistando muitos fãs na imprensa de lá.

Larry, talvez empolgado demais por estar jogando em casa (ou não), não conseguiu ler o que se passava ao seu redor em quadra. Bateu para a cesta e não se cansou de levar tocos (1-4 nos arremessos de quadra, apenas 3 pontos em 12 minutos, nenhuma assistência). Ele já não está mais habituado a jogar contra seus compatriotas, a encarar esse tipo de capacidade atlética que um Anthony Davis ou um Mason Plumlee apresentam. Não há nada errado em “bater para a cesta”, mas, para alguém veterano, que teria de estar pronto, tinindo para encarar a elite mundial, bem que uma finta aqui e ali poderiam ser usadas, né? Digo: Magnano comprou a ideia de sua naturalização, o trata como pesa intocável em seu time desde 2012. Supostamente, então, é um cara para resolver, custando a outros atletas de futuro uma vaga no time. Então a cobrança também fica alta em relação a sua produção, independentemente da nacionalidade. Vamos ver. Também não vai enfrentar americanos em todos os jogos daqui para a frente.

Quem não se intimidou com os caras foi Rafael Hettsheimeir, que teve uma noite praticamente perfeita nos chutes de fora (3-4 nos tiros de três pontos, sendo que o único erro veio numa bola no estouro do cronômetro de posse; terminou o jogo com 13 pontos em 12 minutos e 5-6 no aproveitamento de quadra). Encarnou o “strecht 4” da moda na NBA – para não dizer “strecht 5” e deve ter impressionado os scouts presentes. Lembrando que o pivô, hoje fechado com o Bauru, já chegou a abrir negociações com Dallas Mavericks e outros clubes de lá há alguns anos. Mas também precisamos ter prudência aqui: se não é certo afundar Raulzinho por causa de três ou quatro partidas, não é para jogar o pivô lá para o alto por causa de uma jornada.

Hettsheimeir tem realmente trabalhado neste chute de média para longa distância. Ganhou licença para chutar, por parte de Magnano. Mas notem que em sua carreira, mesmo nas temporadas recentes, os percentuais não são tão elevados assim. Ok, ele matou 40% na última Euroliga, pelo Unicaja Málaga, marca excelente. Mas foram apenas 24 disparos no total, em 17 partidas, uma amostra bastante reduzida. Na Liga ACB, em 45 chutes, o rendimento caiu para 31,1%. No ano anterior pelo Real, 28,1%. Em 2011-2012, pelo Zaragoza, caíram 33,9%. Claro que tudo depende do contexto: quem dividia a quadra com ele, qual tipo de arremesso era gerado (contestado ou não?), os defensores etc. E outra: se os arremessos começarem a cair sem parar, as defesas vão se ajustar. E, para alguém do seu tamanho, não dá para esperar que vá colocar a bola no chão e invadir o garrafão. Enfim: é uma arma interessante para o tabuleiro de Magnano, mas precisamos entender qual o seu devido valor e a devida eficiência para saber quando usá-la na hora-hora-do-vamo-vê.

*  *  *

Marcelinho Machado e Guilherme Giovannoni tiveram tempo de quadra bastante reduzido no amistoso. Giovannoni retorna de lesão no tornozelo, registre-se. Seus minutos estarão vinculados aos de Hettsheimeir, desconfio. Se o pivô estiver convertendo as bolas de longa distância em alta frequência, seu papel no time fica seriamente ameaçado. Contra os EUA, de todo modo, a velocidade da concorrência acaba sendo um fator inibidor para os mais veteranos da equipe. Estiveram juntos no final do primeiro tempo, para executar uma defesa. Não entendi muito bem. Então fica aqui mais um ponto para se checar no giro europeu de amistosos.

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Sobre os atletas dos Estados Unidos, nenhuma novidade. Mas não deixa de ser interessante vê-los em ação contra os brasileiros, para reforçar algumas impressões, de ambos os lados. Alguns comentários rápidos sobre mais alguns dos personagens em quadra:

James Harden: nem mesmo um defensor aplicado e enfezado como Alex consegue ler seus movimentos para prever o lado do corte. No um contra o um, driblando a bola de maneira marota, o Sr. Barba tem um ritmo todo dele e cava lances livres sem parar. Candidato a cestinha do Team USA no Mundial.

Anthony Davis: se o público espanhol foi privado de ver Kevin Durant em ação ao vivo, que se deleitem com a capacidade atlética do Monocelha. Anthony Davis tem o corpo perfeito para o basquete. A confiança cada vez mais alta, subindo junto com seus fundamentos. Jogador mais importante do time.

Stephen Curry: queimou a redinha no início do primeiro período, depois foi preservado pelo Coach K. No Mundial, é de se imaginar que vá ser muito mais utilizado. Hoje o show estava reservado para Derrick Rose, reencontrando a ansiosa e apaixonada torcida de Chicago.

– Por falar em Derrick Rose… Em espasmos, você vê que o arranque e a impulsão ainda estão lá. Excelente notícia – para o basquete. Tal como aconteceu com Larry, deu para notar a pilha que o rapaz também estava, sem contar a ferrugem de alguém que disputou apenas dez partidas desde 2012.

Mason Plumlee: atlético e inteligente, uma combinação que te leva longe. Mostrou porque ultrapassou Boogie Cousins e Andre Drummond na rotação do Coach K.

Rudy Gay: no cenário dos sonhos de Krzyzewski, ele teria Durant, LeBron e Melo. No plano B, só Durant. Na falta de tudo isso, teve de apelar a Rudy Gay, que fez 28 anos neste domingo. E aí que o treinador dos Estados Unidos gostaria muito que o ala acertasse ao menos 35% de seus chutes de três pontos.  O jogador do Sacramento Kings teria tudo para se encaixar no time, não fosse sua deficiência nos arremessos. Duro é que isso aconteça. Na defesa, ele acaba compensando com agilidade, impulsão e envergadura. Mas o ataque sofre.

– Por isso, esperem uma boa dose de Kenneth Faried no Team USA. Um homem não é apelidado de Manimal gratuitamente. O motorzinho do Denver Nuggets pode não acertar nenhum chute atrás da linha de lance livre ou fora do garrafão, mas compensa o espaçamento criando e achando buracos com sua movimentação incessante. Energia nunca é demais. Além do mais, o ala-pivô ainda pode pontuar som seus semi-ganchos (tipo os do Splitter) e chutes em flutuação, que evoluíram muito na última temporada.

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De resto, ainda parece que o Coach K precisa fuçar um tanto em sua rotação. Klay Thompson e Chandler Parsons deixaram a pegada cair. Damian Lillard nem viu a quadra (vai de dupla e tripla armação o tempo todo, ou não?)’ precisa ver se Cousins vai ter  alguma chance quando o joelho estiver inteiro. Se Korver vai jogar mais em algum teste futuro. E tal. Obviamente não são problemas de arrancar os cabelos. Mas são ajustes necessários para o único objetivo que lhes interessa: o ouro. “Nada além do ouro é aceitável”, como disse o Monocelha na saída de quadra para a repórter Karin Duarte, do SporTV.


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