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Coisas para se fazer no Leste quando você (não) está morto
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Giancarlo Giampietro

Lance Stephenson, o símbolo da 'corrida' pelos mata-matas do Leste

Lance Stephenson, o símbolo da ‘corrida’ pelos mata-matas do Leste

Na onda tarantinesca do cinema dos anos 90, Coisas para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto foi um dos primeiros filhotes. Lançado em 1995, um ano depois de Pulp Fiction, foi um entre uma centena de películas (ainda eram películas, acho) a tirar do submundo alguns criminosos de personalidade singular, tentando sair de enrascadas com humor e violência, nem sempre explícita. Os diálogos obrigatoriamente precisavam conter referências da cultura pop em um mínimo de 67% de suas falas.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Andy Garcia, o impagável Steve Buscemi, o eterno Dr. Brown Christopher Lloyd e o curinga Christopher Walken que me desculpem, mas este aqui não é um bom filme. Pelo menos não no meu gosto. A melhor coisa era o título. E só. Mas que título, né? Serve para deixar qualquer coluna parecendo muito mais legal do que é na verdade. ; )

Coisas para se fazer em Denver quando você está mortoSe for para tomá-lo emprestado e empregá-lo na NBA, ele nem precisa de adaptação. O Denver Nuggets já está morto nesta temporada faz tempo – algo de que a franquia se demorou a dar conta, mas enfim aconteceu. Mas esse texto não vai perder mais tempo para falar do indeciso time de Brian Shaw. No Leste, tem muito mais gente enterrada. Digo: enterrada, mas viva – numa expressão tão cara ao chapa Ricardo Bulgarelli, do Sports+.

Na conferência banhada pelo Oceano Atlântico, você nunca pode dar uma equipe como falecida nesta temporada, por mais que todos os fatos apontem o contrário. São todas sobreviventes – menos o New York Knicks e o Philadelphia 76ers, claro, que só querem competir hoje por Jahlil Okafor, mesmo.

O Philadelphia se sabota voluntariamente: Sam Hinkie já fez uma série de coisas para matar as chances de resultado positivo para sua equipe. Por outro lado, Phil Jackson começou o ano vendendo uma proposta em Manhattan e vai terminá-lo com outra inversa.

De resto, excluindo o pessoal do topo e o valente e surpreendente Milwaukee Bucks, temos uma extensa lista de times que entraram no campeonato com aspirações de playoffs, mas para os quais quase nada saiu conforme o planejado. Mesmo assim, todos ainda têm chances de classificação. Segue a folha corrida, com os times ordenados de acordo com suas respectivas campanhas e posicionamento até esta segunda-feira, 11h da manhã, horário de Brasília:

7 – Miami Heat (20-24, 45,5%): Pat Riley e Erik Spoelstra anunciavam um mundo pós-LeBron em que o time seguiria fortíssimo e deveria ser encarado se não como candidato ao título, mas pelo menos como candidato a uma quinta final consecutiva. Em sua última entrevista, não conseguiu disfarçar a frustração, embora ainda sustentando a opinião de que vê muito potencial a ser explorado no atual elenco. Se jogassem no Oeste, estariam hoje na 11ª posição, mesmo que enfrentem semanalmente adversários bem mais fracos. Os veteranos Dwyane Wade e Chris Bosh já perderam juntos 18 partidas – Bosh, em particular, estava barbarizando até sofrer uma mardita lesão na panturrilha. Josh McRoberts nem estreou de verdade. Shabazz Napier, bicampeão universitário e senior, não estava tão pronto assim como se imaginava. Mesmo jogando muitas vezes com dois armadores, Spoelstra não se sente confortável mais em colocar sua equipe para correr – o Heat tem o ataque mais lento da liga. As boas notícias: quando joga, Wade ainda é bastante produtivo, mesmo que distante de seu auge. E o fenômeno Hassan Whiteside (mais sobre ele depois). Com tantos problemas, o clube da Flórida ainda é o favorito para se classificar em sétimo.

8 – Charlotte Hornets (19-26, 42,2%): depois de chegar aos mata-matas na temporada passada, Michael Jordan redescobriu o gosto pela coisa. Foi às compras e hoje está com remorso. Não tem um dia em que o HoopsHype não destaque um rumor de negociação envolvendo Lance Stephenson. O Hornets sente que precisa se livrar de Stephenson o quanto antes, a ponto de aceitar discutir com Brooklyn uma troca por Joe Johnson, o segundo jogador mais bem pago da liga. Sim, o JJ mesmo. É de abrir os olhos todo esse esforço: sem o volátil ala-armador, o aproveitamento é de 9-5 (64%). Al Jefferson enfrenta uma incômoda lesão na virilha, que limita seus movimentos e já o tirou de quadra por nove partidas. Kemba Walker joga há tempos com um um cisto no joelho, que passou a preocupar de verdade neste mês, lhe custando três jogos, justo quando vivia seu melhor momento na NBA. Michael Kidd-Gilchrist ainda não sabe o que é um arremesso de três pontos. Marvin Williams é Marvin Williams. Mas não tem tempo ruim, não: o Hornets se vê hoje dentro da zona dos mata-matas, graças a uma defesa que foi a mais implacável neste mês de janeiro. É o bastante. Sofram:

9 – Brooklyn Nets (18-26, 40,9%): Billy King promove neste momento o maior saldão. É chegar e levar! Desde que paguem, e caro. Afinal, ele quer se desfazer da folha salarial mais custosa de toda a liga, com mais de US$ 91 milhões investidos. Então temos aqui o time da vez na central de boatos. Antes de ser afastado por conta de uma fratura na costela, Deron Williams havia virado banco de Jarrett Jack. Brook Lopez, que já perdeu dez jogos, não consegue superar a marca de 6,0 rebotes. Joe Johnson está em quadra, mas a verdade é que o clube vem acobertando lesões no joelho e no tornozelo para tentar vendê-lo. Bojan Bogdanovic é um fiasco até o momento e aquele por quem havia sido substituído, Sergey Karasev, anda curtindo a vida adoidado. Lionel Hollins não consegue mais se conter em entrevistas coletivas, manifestando constante desprezo por sua equipe. Com mais uma vitória, eles voltam a se juntar ao Hornets, para reassumir o oitavo lugar (uma vez que levam a melhor no critério de desempate por confronto direto). Kevin Garnett sorri. Totalmente surtado.

10 – Detroit Pistons (17-28, 37,8%): até o Natal, o presidente e técnico Stan Van Gundy havia testemunhado apenas cinco vitórias dos rapazes da Motown. Em 28 duelos. Tipo um Sixers, mesmo. Foi aí que ele ativou o detonador da bomba e mandou embora Josh Smith, aceitando lhe pagar mais de US$ 30 milhões a troco de nada. Obviamente que o Pistons venceria 12 das próximas 17 partidas e se recolocaria na discussão. O duro é perder Brandon Jennings pelo restante da temporada, devido a mais uma ruptura de tendão de Aquiles nesta campanha. Jennings era outro que praticava o melhor basquete de sua decepcionante carreira. Momento para pânico geral, não? Em qualquer outra circunstância, sim. Mas talvez SVG consiga fazer que DJ Augustin replique sua incrível jornada dos tempos de Chicago. Se não for o caso, resta sempre o caminho de uma troca (Prigioni é o primeiro nome especulado) ou de um milagre vindo da D-League (Lorenzo Brown, ex-Sizers e North Carolina State, também é comentado). Enquanto isso, Greg Monore vai conseguindo a proeza de superar Andre Drummond nos rebotes. Vai que dá!

11 – Boston Celtics (15-27, 35,7%): Danny Ainge trocou Rajon Rondo. Danny Ainge trocou Jeff Green. Danny Ainge trocou Brandan Wright. Danny Ainge trocou até mesmo Austin Rivers. Marcus Smart ainda é só uma promessa. Kelly Olynyk começou muito bem o campeonato e despencou até sofrer uma torção de tornozelo grave. Evan Turner continua acumulando números, mas sem eficiência nenhuma. E o Celtics ainda tem chances, para tornar a vida de Brad Stevens menos miserável. Esse é um dos clubes que tem, hoje, um dos maiores conflitos de interesses entre o que a direção espera (reformulação apostando no próximo Draft) e o técnico prega (tentar vencer a cada rodada, e que se dane). Os caras acabaram de conseguir dois triunfos em um giro pela Conferência Oeste  e de fazer um jogo relativamente duro contra Warriors e Clippers. E aí: Ainge vai trocar Stevens também?

12 – Indiana Pacers (16-30,  34,8%): o time da depressão, mas que não desiste nunca. Só não são brasileiros. Frank Vogel deve ler a relação de lesões acima e gritar em seu escritório: Vocês querem falar de desfalques!? Sério!? Peguem esta, então:” Paul George acompanha o time nas viagens, vai treinando de leve, e só; George Hill só disputou sete de 46 partidas; Hibbert perdeu outras quatro, enquanto West já perdeu 15; CJ Watson ficou fora de 18 jornadas, dez a mais que Rodney Stuckey e oito a mais que CJ Miles; Donald Sloan já tentou 334 arremessos neste campeonato, sendo que, de 2011 a 2014, havia somado 393 chutes; apenas o imortal Luis Scola e Solomon Hill jogaram todas as partidas. E o Pacers ainda deu um jeito de vencer 16 partidas e de se manter entre as dez defesas mais eficientes da liga, superando até mesmo o Memphis Grizzlies. Alguém aí falou em Votel para técnico do ano?

13 – Orlando Magic (15-32, 31,9%): o quê? Você não bota fé!? Não vá me dizer que não leu nada dos parágrafos acima?


Remendado, Pacers surpreende (antigo?) rival em Miami
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Giancarlo Giampietro

Hibbert dominante em Miami, de novo

Hibbert dominante em Miami, de novo

Era como se fosse um Indiana Pacers x Miami Heat dos bons e velhos tempos. Tipo da temporada passada, mesmo.

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Nesta quarta-feira, os dois times que disputaram o Leste nos últimos dois campeonatos voltaram a se enfrentar bastante modificados, comparando com suas versões da final da conferência há sete meses. E o que a gente viu? Novamente um jogo tenso, equilibrado, decidido nos últimos instantes. Um jogo em que os visitantes de Indianápolis conseguiram novamente desacelerar o jogo ao dominar chutar traseiros nos rebotes e tirar seu adversário de seu ritmo. Venceram por 81 a 75.

Nesse caso, foi uma baita surpresa.

Se o Heat vai se virando bem depois da saída de LeBron, com Chris Bosh e Dwyane Wade elevando a produção e os armadores ajudando a manter o dinamismo do ataque, o Pacers era basicamente o time oficial da depressão na liga. A equipe perdeu Paul George devido a uma lesão horripilante, deixou Lance Stephenson ir embora no mercado e ainda viu George Hill e David West se lesionarem no training camp. Não nos esqueçamos dos problemas físicos também de CJ Watson, Rodney Stuckey e CJ Miles. Impossível brigar quando 80% de seu forte quinteto titular e dois de seus principais reforços acabam afastados, certo? Ainda mais quando o banco de reservas era sua principal deficiência.

Já (nem) faz tempo, né?

Já (nem) faz tempo, né?

Pois o técnico Frank Vogel vai dando um jeito de manter seu conjunto competitivo em quadra. “Sloan, Hill, Copeland, Scola, Hibbert, Price, Rudez, Lavoy Alen, Ian Mahinmi e Shane Whittinton”, disse Vogel, elencando o que tem ao seu dispor na rotação. “A vida te manda uma bola de rosca, veneosa em sua direção às vezes. Você tem apenas de acertá-la.”

O engraçado é que a frase serve tanto para os atletas, que têm uma oportunidade de ouro para mostrar serviço, como para o próprio treinador, que falhou seriamente nos últimos dois anos em desenvolver uma segunda unidade do Pacers. Enquanto o time titular voava, o rendimento da equipe despencava quando era a hora de usar os reservas. Muitos dos caras que estavam enterrado em seu banco no ano passado agora provam um certo valor. Especialmente os alas Chris Copeland e Solomon Hill.

Imagine se a direção do clube (oi, Larry Bird!) tivesse adotado a mesma saída de um ano atrás, quando empacotou Gerald Green e Miles Plumlee numa troca por Scola? Os dois atletas despachados se tornaram peças relevantes para o Phoenis Suns instantaneamente. Dessa vez, por força de um ocaso e de seguidas desgraças, ao menos o desenvolvimento dos coadjuvantes vai acontecendo internamente.

Na Flórida, essas novas peças se mostraram bastante adequadas para o plano de Vogel de triturar os adversários dentro do garrafão. Os caras pegaram 53 rebotes no geral, 16 ofensivos, contra 28 de Miami – 25 rebotes a mais que o oponente = a massacre nas minhas contas. Roy Hibbert, sempre ele contra o Heat, apanhou 15 rebotes por conta própria, sendo quatro no ataque. Mas o destaque fica para Solomon Hill, mesmo, com 10 no geral, igualmente divididos entre defensivos e ofensivos.

O ala foi selecionado no Draft de 2013, na posição 23, para surpresa geral dos especialistas. Um formando da Universidade do Arizona, ele chamava a atenção pelos atributos atléticos, mas ninguém o julgava como alguém digno da primeira rodada. O mais estranho, porém, foi que em sua campanha de novato, ele mal jogou. Foram apenas 28 partidas e média de 8 minutos. Para um calouro de 22 anos, mais experimentado? Uma decepção e uma situação equivalente à de Miles Plumlee.

Donald Sloan parte para cima. Repita: Donald Sloan parte para cima

Donald Sloan parte para cima. Repita: Donald Sloan parte para cima

Agora não teve jeito. Era Solomon Hill, ou nada. “Estamos sofrendo com lesões há um tempo já, então eu nem olho mais para quem está jogando, ou não”, afirmou Hibbert, que vem num excepcional início de temporada, e lembrou o Miami de seu potencial ofensivo, quando está motivado e em boa forma. “Seja lá quem estiver em quadra, vamos caminhar juntos.”

Foi com essa galera de segundo ou terceiro escalão que o Pacers respondia a cada boa jogada de Wade para se manter à frente do placar no quarto período, deixando a torcida local muda, aflita, como nas vezes em que triunfaram por lá nos mata-matas, mesmo. Algo até chocante, considerando a formação do time.

Peguem o AJ Price, oras. O armador foi selecionado pelo Pacers em 2009. Jogou três temporadas por lá, sem gerar muita comoção quando dispensado. Passou por Wizards e Timberwolves nos últimos dois campeonatos. Estava sem clube, depois de não conseguir uma vaguinha no Cleveland LeBrons. E lá estava o cara reencontrando Shabazz Napier no início do quarto período, em mais um racha empolgante, como aquele da pré temporada no Rio. Não era nem para ter acontecido isso. Antes de Price, o Pacers tentou contratar o israelense Gal Mekel para ajudar Sloan na armação. O negócio estava fechado, mas acabou caindo devido a um impasse burocrático, de visto trabalhista.

Com a raspa do tacho, defendendo pacas e espremendo uma cesta ou outra, eles limitaram um superempolgado Bosh a apenas nove pontos, errando 10 de seus 13 arremessos. “Nosso ataque é baseado em movimentação de bola. E eles nos esmagaram”, disse o ala-pivô. Copeland concorda: “Tem jogos em que é isso que conta: deixar a defesa vencer por nós. Acho que dificultamos os arremessos deles. Tem dias em que o jogo na estrada fica feio.”

Pensem nisso: temos aqui o Chris Copeland falando sobre uma vitória contra o Miami Heat, fora de casa, comentando sobre como o ataque não foi lá uma maravilha. Quem iria imaginar uma coisa dessas? Fruto da história recente entre as equipes? “Só estava pensando em não permitir uma sequência de derrotas novamente”, disse Hibbert. “Perdemos seis seguidas e vencemos o último jogo. Não estou pensando em rivalidade. Só estou pensando em conseguir algumas vitórias.”


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