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Arquivo : Roy Hibbert

Varejão está sem clube: ok, quais são os próximos passos?
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Giancarlo Giampietro

Varejão vai para o mercado de "buyouts". Seria Hibbert um concorrente?

Varejão vai para o mercado de “buyouts”. Seria Hibbert um concorrente?

São negócios. O mundo da NBA sabe. E, no mundo da liga americana, esses negócios são duros e bastante complicados também, cheios de pormenores, que os diretores são obrigados a dominar, para entender direitinho os passos a se seguir e, também, as brechas que eles podem aproveitar para lucrar em uma negociação, ganhar flexibilidade na gestão etc. A troca de Anderson Varejão é uma prova disso.  A partir do momento em que o Portland mal absorveu seu contrato e já o dispensou, é natural que muitas dúvidas surjam em relação ao futuro do brasileiro. Há particulares que precisam ser atendidas para que ele retorne à liga ainda nesta temporada. Pensando nisso, segue uma básica bateria de perguntas e respostas para tentar sacar deve ser sua próxima jogada. Se for para entender as motivações de Cavs e Blazers nesta negociação, as explicações estão no texto da véspera, mesmo.

1 – Varejão foi dispensado pelo Trail Blazers. Ainda pode jogar neste campeonato?
Sim, não há impedimento. Ele apenas fica sem contrato, com a franquia do Oregon sendo responsável por pagar o restante de seu salário: para constar, o bilionário Paul Allen, fundador da Microsoft, vai arcar com o restante do pagamento do brasileiro nesta temporada e ainda pagar mais US$ 9,3 milhões que estavam garantidos em seu vínculo com o Cavs referentes a 2016-17. Havia um quarto ano de contrato, valendo US$ 10 milhões, mas que não tinham garantia alguma. As informações são de Brian Windhorst, do ESPN.com, repórter que cobriu o Cavs durante praticamente toda a carreira de Anderson.

2 – O pivô já pode assinar com uma equipe nesta sexta?
Não. O que poderia acontecer era que um clube se candidatasse a receber seu contrato num intervalo de 48 horas desde o momento em que ele foi dispensado. Aproximadamente até umas 18h, 19h de sábado, no horário de Brasília), Varejão está sob moratória. (PS: E aqui corrijo uma informação que escrevi ontem: são 48 horas, mesmo, e em vez de 72 horas, que era o prazo do penúltimo acordo trabalhista da liga). Na terminologia da NBA, é o período de “waiver”. Nessas 48h, só podem se candidatar a seus serviços as equipes com espaço suficiente em suas folhas salariais para assumir o contrato de Varejão ou aquelas que tenham “exceções de trocas” acima deste valor. Mais detalhes no site do especialista Larry Coon, a bíblia em assuntos dos regulamentos de cap da liga. No momento – excluindo, por motivos óbvios, Portland, que ainda tem espaço em sua folha –, não há nenhum clube em condições de adquiri-lo desta forma. Aqui estão todas as “exceções de troca” disponíveis no início da temporada.

Chris Kaman ocupa a vaga de pivô veterano em Portland

Chris Kaman já ocupava a vaga de pivô veterano em Portland

3 – Tá, mas e depois de 48 horas? Como fica sua situação contratual?
Aí Anderson vai virar um agente livre novamente. O Portland seguirá pagando seu salário pelo vínculo anterior, mas ele está liberado para fazer um novo contrato com uma nova franquia.

4 – E Varejão pode assinar com qualquer clube?
Não, há uma restrição aqui. A primeira de todas diz respeito ao Cavs. Depois de um jogador ser trocado e dispensado, ele não pode voltar ao clube de origem tão cedo. Há restrições. No caso de Cleveland, se LeBron desejar um retorno do velho companheiro, vai ter de esperar por um ano até que ele seja liberado. Até fevereiro de 2017, em vez dos seis meses que escrevi ontem. Há uma certa confusão aqui pelo fato de a regra ser um pouco flexível. Se o contrato original do capixaba estivesse em sua última temporada, aí ele poderia retornar ao Cavs já em julho, quando a janela se reabre. Mas o vínculo se estendia até junho de 2018. Então, o que vale é um ano de calendário cheio para que as partes possam negociar algo. Larry Coon explica novamente.

De resto, o pivô só pode fechar com algum clube que tenha uma vaga em seu elenco. Durante a temporada regular, cada time só pode ter 15 jogadores sob contrato. Hoje, diversos times interessantes para o brasileiro estão abaixo do limite: Atlanta Hawks, Charlotte Hornets, Houston Rockets, Miami Heat, Oklahoma City Thunder, New York Knicks e Washington Wizards. O Clippers também pode ser adicionado a esta lista pelo fato de ter 14 contratos garantidos no elenco, com a 15ª sendo preenchida pelo contrato temporário de Jeff Ayres, ex-Pacers e Spurs. Todos os clubes aqui citados têm aspiração de jogar os playoffs. Resta saber se algum deles teria o interesse de fechar com o brasileiro. Ele seria contratado ou pelo salário mínimo da liga (recebendo o proporcional pelos dias de vínculo), ou por alguma “exceção contratual” (as exceções “mid level” ou “mini mid level”).

5 – Então ele pode jogar os playoffs?
Pode, totalmente liberado, por ter sido dispensado antes de março. Qualquer jogador que rescinda seu contrato até o fim de fevereiro fica elegível para jogar os mata-matas.

*    *    *

Estas são as perguntas de respostas factuais. Agora vem a parte subjetiva do negócio, sobre a qual já expus algumas coisas no texto de quinta (segue o link novamente). A decisão que Anderson será extremamente relevante para os planos de Rubén Magnano.

Qual seria o melhor clube para Varejão? Se for para pensar em tempo de quadra, espiando a lista acima, talvez as melhores opções sejam Atlanta, Houston e Miami.

O Hawks perdeu seu pivô reserva. Ironicamente, Tiago Splitter. Por mais intimidador e longilíneo que seja nosso primo cabo-verdiano Walter Tavares, não acredito que Mike Bundeholzer esteja preparado para lhe dar mais minutos. Ainda mais na reta final da temporada. Mike Muscala terá suas chances, arremessa bem de média distância, é um pouco mais rodado, mas não serve como solução se o assunto for defesa. Varejão sabe passar a bola como poucos entre os pivôs e não seria um entrave no sistema de Bud. Que tal?

Poderia o Hawks tentar contratar um segundo pivô brasileiro?

Poderia o Hawks tentar contratar um segundo pivô brasileiro?

Os outros dois times ainda estão na briga por vaga nos mata-matas e precisam de ajuda no garrafão. O Rockets conta com um quebradiço (e descontente) Dwight Howard, o jovem extremamente promissor Clint Capela e os versáteis e inconstantes Terrence Jones e Josh Smith. Em tese, os quatro comporiam a rotação. Se Howard mantiver a concentração e a forma, fica mais difícil de jogar. Mas, se as lesões permitirem e se Varejão estiver confiante em sua capacidade física e atlética, há uma clara necessidade no elenco de mais um pivô que cuide da defesa, até para dar descanso ao antigo All-Star.

Já o Heat vive um novo drama com Chris Bosh. O ala-pivô está afastado por tempo indeterminado das quadras, depois de médicos detectarem novos coágulos sanguíneos, agora em sua panturrilha. Há o temor de que ele não possa mais jogar nesta temporada ou – toc, toc, toc – que tenha de se aposentar das quadras. Isso deixaria Erik Spoelstra com Hassan Whiteside, Amar’e Stoudemire, Josh McRoberts e Udois Haslem. Os três últimos são rodados e não são conhecidos pela durabilidade.

Do restante, o Clippers, a princípio, pareceria interessante. Mas Doc Rivers prioriza as formações mais baixas quando DeAndre Jordan vai para o banco, tendo Blake Griffin disponível, ou não. Com a chegada de Jeff Green, essa tendência só é reforçada. Varejão teria disputar, então, minutos com Cole Aldrich. Imagino que muita gente vá engasgar ao ler esta frase. Mas, a despeito do jeitão molenga do cara, de ser um refugo de OKC, a verdade é que ele tem sido superprodutivo na reserva de Jordan e vem sendo constantemente elogiado por um enamorado técnico e chefão.  O mesmo raciocínio tático vale para o Wizards, de Gortat e Nenê. Já o Thunder tem pivôs para dar e vender, assim como Hornets e Knicks.

Peja foi dispensado pelo Raptors em 20 de janeiro 2011. Quatro dias depois, assinou com o Mavs. Ao lado de Nowitzki, conquistou naquele mesmo ano um tão aguardado título, depois de tantas decepções pelo Sacramento Kings

Peja foi dispensado pelo Raptors em 20 de janeiro 2011. Quatro dias depois, assinou com o Mavs. Ao lado de Nowitzki, conquistou naquele mesmo ano um tão aguardado título, depois de tantas decepções pelo Sacramento Kings

Mas, a despeito de tanta matutação, primeiro, vai depender de quem vá mostrar interesse, né? Conforme dito acima, os clubes mais precavidos vão aguardar a chegada de março para saber qual exatamente é o menu de jogadores que ficarão disponíveis para contratação. Lembro de dois casos bem-sucedidos de parcerias improvisadas, de última hora, que deram muito certo: Peja Stojakovic deu uma boa mão ao Dallas na campanha do título em 2011, enquanto Boris Diaw se encaixou como uma luva no sistema do Spurs no momento em que Michael Jordan se cansou de seus caprichos.

Há muitos nomes especulados neste ano para este mercado paralelo. São atletas esperam mostrar serviço para conseguir um novo contrato vantajoso em julho. Os mais cogitados são:

David Lee:  É provável que ele rescinda com Boston ainda nesta sexta. Aí temos um concorrente direto em termos de posição. No pacote técnico, porém, são beeeem diferentes. Qualquer equipe que pense em contratar Lee vai precisar de um sistema defensivo forte para assimilar um jogador desatento e de pouca mobilidade, esperando que, eventualmente, seu repertório ofensivo compense. , que Consistente tiro de média distância, ótima visão de quadra e boa munheca perto da cesta são seus principais atributos. Pouco utilizado na campanha do título do Warriors (mas com um papel importante na hora da virada sobre o Cavs, diga-se), o pivô sucumbiu na sangrenta batalha por minutos no Celtics de Brad Stevens. Todavia, ainda acredita que pode contribuir para um time de ponta.

JJ Hickson: outro concorrente, e ex-companheiro de Cleveland. Tudo leva a crer que o Denver vai abrir mão desse cavalo, contente que está com seus jovens pivôs europeus. Hickson oferece vigor físico, capacidade atlética e muita briga pelos rebotes em abas as tábuas. Um trombador. Boa arma no pick-and-roll. Só não esperem dele criatividade com a bola. Precisa ser acionado em situações de tomada fácil de decisão. Também costuma tirar o sono dos treinadores pelo entendimento limitado de rotações e coberturas defensivas.

Roy Hibbert/Brandon Bass: a única missão dessa dupla até o final da temporada seria cuidar da garotada. Nesse caso, Bass parece ser um cara mais influente no dia a dia de um time, devido ao profissionalismo exemplar. Creio que ele seria o agente livre mais cobiçado entre os pivôs aqui citados, por estar evidentemente em forma e por ter um estilo de jogo fácil de se encaixar em qualquer rotação: não compromete na defesa, já que é um veterano que entende suas limitações e está habituado a ser um operário. Em suma: ele vai bem sem querer aparecer. É bastante eficiente no ataque com seus tiros de média distância e presença perto da tabela. Perdido em meio ao caos angelino, faz uma das melhores temporadas de sua carreira.

Hibbert, por sua vez, é um enigma: um sujeito difícil de se motivar, ainda que esse contexto caótico do Lakers não seja favorável a ninguém. A dúvida é saber se, na NBA de hoje, ainda há espaço para alguém que se movimenta tão devagar. Em minutos limitados, como pivô reserva, imagino que dê para encaixá-lo, como um protetor de aro respeitável.

Martin tem opção de mais um ano de contrato em Minnesota. Vai topar sair?

Martin tem opção de mais um ano de contrato em Minnesota. Vai topar sair?

– Kevin Martin: o ala já foi uma máquina de fazer cestas. Mas as diversas lesões que sofreu durante sua carreira parecem, enfim, estar cobrando um preço caro, lhe roubando muito de sua legendária eficiência como cestinha. Martin lida com dores crônicas no pulso direito. Para piorar, sofreu uma torção na região, que o tirou de quadra nas partidas que antecederam ao All-Star. De qualquer forma, ainda tem acertado 36,4% de seus arremessos de três pontos num time que não tem quase nenhum chutador ao seu lado e cava faltas com boa frequência, iludindo os defensores. Seu papel também seria claro: reforçar o ataque de uma segunda unidade. O que pega é que ele tem mais uma temporada em seu contrato com Minnesota. Será que daria um desconto ao clube em seu salário de US$ 7 milhões para sair?

Ty Lawson: sua contratação pelo Rockets acabou se mostrando um desastre. Lawson passou por sérios problemas fora de quadra nos últimos meses em Denver e saiu dos trilhos. Se a expectativa era viver um recomeço em Houston, se vê constantemente frustrado em quadra, já que sobram poucos minutos para jogar sem a companhia de James Harden. Pois, quando o barbudo está em quadra, a bola não sai das mãos dele, fazendo do tampinha um mero chutador na zona morta (um desperdício para alguém tão veloz e explosivo no drible). Dispensar o armador poderia ser um tiro pela culatra? O outro lado da questão é que, se Lawson estiver descontente, reclamando de tudo no vestiário, só vai deixar o problemático vestiário do time ainda mais conturbado.

Joe Johnson: por fim… o nome mais badalado. JJ pode ter envelhecido e se deprimido em Brooklyn, mas, sem a responsabilidade de carregar um ataque, muito provavelmente ainda pode ser bastante efetivo. Ele ainda pode matar os chutes de fora e fazer a bola girar. O problema é a defesa, deixando todo mundo passar. Se revigorado, talvez possa ao menos tentar brigar por posição. Se ele vai para o mercado, ou não, é que ninguém sabe. As notícias em torno do tema são muito conflitantes até o momento.

Em relação a Varejão, a questão é se ele ainda pode ser efetivo como defensor e reboteiro, depois de tantas lesões, em especial a ruptura no tendão de Aquiles. O brasileiro sempre foi um jogador especial na execução defensiva, com empenho, agilidade e inteligência acima da média. Disso ninguém duvida. A questão sincera e justa se volta apenas ao aspecto físico.

Por outro lado, joga a seu favor o fato de ser uma figura carismática, com excelente reputação no vestiário e muita experiência em jogos decisivos. Também não é dos caras que vai exigir atenção em quadra e é uma figura amada por seus técnicos. Além disso, não seria uma contratação de risco. Não estaria chegando para salvar a temporada de ninguém, mas, sim, para ser uma peça complementar que possa ajudar a elevar o nível de qualquer clube interessado.


É Boban Marjanovic contra a teoria da evolução no basquete
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Giancarlo Giampietro

Gustavo Ayón, de 2,08m, vira só mais um baixinho

Gustavo Ayón, de 2,08m, vira só mais um baixinho

A natureza – e o basquete – sempre dão um jeito de se reinventar, não?

(E que tal começar filosofando assim numa sexta-feira?)

No mundo todo, há muita gente pelo menos 35 vezes mais inteligente que um mero blogueiros que já tenha declarado a extinção dos dinossauros. Ou melhor, a extinção do pivô-cincão-gigante-jogando-de-costas-para-a-cesta-lento-toda-a-vida-mas-que-faz-estragos. Você pega o Miami Heat bicampeão da NBA em 2012-2013, os texanos Mavs e Spurs nas outras pontas (2011 e 2012), a seleção norte-americana reassumindo o controle das competições Fiba, o Flamengo, o Bauru… Enfim, são diversos os casos que comprovariam essa tese. Eles listam, sim, pirulões em seus elencos, mas são caras extremamente ágeis, explosivos, dinâmicos (como Tyson Chandler, Jerome Meyinsse, Mason Plumlee, Tiago Splitter etc., cada um na sua). A velocidade é o que manda em quadra.

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Só não dá para aplicar a teoria evolucionista assim tão friamente, gente. Ao menos não no esporte – que o diga Barcelona, com todos os seus tampinhas encantadores, subvertendo um darwinismo que parecia exigir de um jogador de futebol um mínimo de 1,85 m de estatura. No basquete, não seria diferente. Para cada ação, há uma reação. E, mesmo isoladamente, vão surgir casos que desafiam a regra vigente. Aí chega a hora de apresentar para o basqueteiro brasileiro mais incauto a figura imensa que se chama Boban Marjanovic, do Estrela Vermelha.

Para quem está ligado nas transmissões semanais de Euroliga no Sports+, o pivô não é novidade alguma. Agora, como ele não jogou a última Copa do Mundo e anda afastado da seleção sérvia, não foi draftado por nenhum time da NBA e só defendeu o Atlanta Hawks numa liga de verão ao lado de Lucas Bebê, pode ser que Marjanovic ainda seja um anônimo em geral. Urge, então, apresentá-lo.

Marjanovic nasceu na cidadezinha de Inđija, que tem área de 384 km² e cuja população não passa dos 50 mil habitantes. Foi revelado nas pelo Hemofarm, um tradicional clube de base da Sérvia – Darko Milicic também saiu de lá. Completou 26 anos em agosto passado. Ah, e e estava esquecendo já: ele tem 2,21 m de altura. Ou 2,22m. Ou 2,23 m, dependendo da fonte. Ele, vocês entenderam, é IMENSO. E não deveria ter espaço no basquete de hoje. Não só conseguiu se manter em quadra, porém, como é o jogador mais produtivo do segundo principal campeonato de clubes do mundo.

O sérvio lidera a competição em índice de eficiência tanto na medição normal, como por minuto. É o oitavo cestinha, com média de 15,7 pontos, o principal reboteiro, com 9,9, acerta 63,2% de seus arremessos de dois pontos (sendo o 13º) e sofre 3,85 faltas por jogo (o 13º também). Alguns detalhes, antes de seguirmos adiante: as equipes da Euroliga têm tabelas diferentes, então os números vêm com um asterisco; sobre as faltas: seriam muito mais, pode ter certeza, não fosse pelo fato de ele converter 74,6% de seus lances livres. Não é inteligente tentar parar o pivô na marra, então, embora muitas vezes seja a única alternativa quando o cara recebe a bola a um raio de cinco metros do aro, em situação de isolamento. Isso causa problemas sérios.

“Marjanovic é um dos jogadores mais dominantes da competição. É um jogador que proporciona muitíssima dificuldade para todas as equipes, porque temos pouca solução tática para enfrentá-lo, devido a sua maneira de finalizar e a capacidade que ele tem”, avalia o técnico Xavi Pascual, do Barcelona, que vai tentar parar o pivô nesta sexta (estou nessa transmissão ao lado de Rafael Spinelli). “Há poucos jogadores que dão identidade ao seu time nesta competição, e ele dá um estilo ao seu.”

Isso não deixa de ser uma ironia. Afinal, foi da Europa que a NBA pegou a gripe do strecht four, que tem Dirk Nowitzki como seu principal agente. Os dirigentes estão vasculhando todo e qualquer canto do mundo em busca de um pivô minimamente competente no arremesso de longa distância. A ideia é espaçar a quadra e facilitar as infiltrações de armadores e alas numa liga que não permite mais o contato de mão por parte dos defensores. Quanto mais espaçada a quadra, as figuras mastodônticas tendem a se complicar na defesa – como perseguir os jogadores mais rápidos no perímetro? Causa e efeito.

Na Europa, porém, Marjanovic tem a marcação por zona como sua aliada. Ainda que a liga americana permita defesas flexíveis hoje, existe ainda a restrição de três segundos para o marcador se distanciar de seu oponente. Claro que muitas vezes eles conseguem roubar dois ou três segundos a mais que o permitido, mas essa preocupação já interfere o bastante. Faz muita diferença, na real.

De modo que o pivô não precisa ser utilizado apenas de modo pontual, como acontece com o Maccabi Tel Aviv e Sofoklis Schortsanitis, por exemplo. Ele tem média de 27 minutos por jogo, enquanto a jamanta grega só fica em quadra por 14 minutos. Isso também diz muito a respeito do condicionamento físico do sérvio. O cara tem mais de 2,2o m de altura e pesa mais de 130 kg. Joga normalmente, e numa equipe que está cheia de alas jovens, fogosos que partem feito malucos para o contra-ataque – destaque para Nikola Kalinic (já bastante elogiado aqui), Jaka Blazic (um assessor dos irmãos Dragic na Eslovênia), o hiper-atlético Nemanja Dangubic (draftado pelo Spurs no ano passado) –, todos coordenados pelo arrojado armador Marcus Williams (ex-Nets, Warriors e Grizzlies).

O renovado elenco do Estrela vai correr sempre quando pode, especialmente quando joga em Belgrado, empurrados por sua torcida fervorosa. Marjanovic, claro, não é o primeiro a chegar ao ataque, mas consegue de certa forma acompanhá-los em transição. Além disso, não é sempre que seu time vai conseguir uma enterrada ou bandeja tranquila no contragolpe. Aí chega a hora de jogar em 5 x 5. Aí é bola no Marjanovic. E seu impacto ofensivo é enorme, com o perdão do trocadilho.

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Pega leve aí, Boban! Não vá machucar ninguém

Seu compatriota é lento, se comparado com Pau Gasol, Ante Tomic e outros espigões talentosos. Mas, considerando em seu tamanho, ele se mexe com relativa desenvoltura. Para os antenados com a NBA, não se trata de um Nikola Pekovic muito mais espichado, alguém que prevalece, sim, no garrafão devido ao físico avantajado, sem se esquecer da técnica para complementar o pacote. Debaixo do ar, dãr, só sai cravada. Mas ele tem excelente chute de média distância e gira bem, ainda que geralmente para a finalização com o braço direito, por cima do ombro esquerdo.

Na primeira fase da Euroliga, enfrentando Olympiakos, Laboral Kutxa, Valencia, Galatasaray e Neptunas Klaipeda, Marjanovic fez pelo menos 11 pontos em todas as dez partidas. Num jogo eletrizante de prorrogação dupla contra o Gala em Istambul, somou 23 pontos e 17 rebotes em 34 minutos, tendo cometido apenas duas faltas. Foi o mais volumoso de seus sete double-doubles. No primeiro duelo com o clube turco, matou 11 de 14 arremessos de quadra. Na segunda partida contra o estreante lituano Neptunas, o aproveitamento foi de 11-13. Uma vez que recebe a bola, ninguém vai movê-lo dali – por isso, a melhor forma de marcá-lo e atacar a fonte. O Real Madrid o limitou a 9 pontos (4-6), em 20 minutos, na abertura do Top 16 ao usar o americano Marcus Slaughter em marcação frontal, inibindo as linhas de passe. Contra o Maccabi, que tem em Alex Tyus um jogador similar, terminou com 10 pontos e 4-10, em 28 minutos.  Além disso, ambos os clubes possuem em Rodríguez, Lllull, Ohayon e Pargo armadores que pressionam, e muito, no perímetro. No reencontro com o Galatasaray, porém, voltou a arrasar, com 18 pontos (7-10) em 24 minutos.

Nem sempre foi assim, porém. Marjanovic sempre foi bem cotado como prospecto na Europa, tendo sido campeão mundial sub-19 em 2007, ao lado de Miroslav Raduljica, trombando com Paulão Prestes nas semifinais, aliás. Em 2010, depois de passar batido pelo Draft da NBA (estava no radar dos scouts, porém), se consolou com um belo contrato de três anos com o CSKA Moscou. A superpotência russa nunca o aproveitou, porém. Quando Dusko Vujosevic foi demitido, acabou dispensado, depois de ter sido emprestado para o Zalgiris Kaunas, pelo qual teve médias de 5,2 pontos e 3,5 rebotes em apenas seis partidas. Em 2011-2012, teve uma campanha praticamente perdida, passando pelo Nizhny Novgorod, da Rússia, e de volta aos Bálcãs, pelo Radnicki Kragujevac.

Foi só em 2012-2013 que o gigante se acertou, jogando pelo Mega Vizura. Virando referência no jogo interno, desabrochou com 16,9 pontos por jogo e 11,6 rebotes, aproveitamento de 68,9% nos arremessos e 85,4% nos lances livres para ser eleito o MVP da liga sérvia. O projeto estava recuperado. Na temporada seguinte, assinou com o Estrela Vermelha. Foi muito bem em 2012-2013, mas não foi o suficiente para descolar uma vaga na seleção nacional (Raduljica e Nenad Krstic foram escolhidos… A concorrência é braba). De qualquer forma, elevou seu jogo para outro patamar na atual campanha. Dificilmente ficará fora da próxima convocação.

A pergunta que fica: Marjanovic teria espaço na NBA hoje? Valeria o teste? Seria necessário, no entanto, encontrar um clube realmente interessado, que valorize muito suas peculiares características. Não existe em solo americano um jogador com seu tamanho, com porte físico. Roy Hibbert seria aquele que chega mais perto, com 2,18 m e mais de 130 kg também. Agora, até até o pivô que um dia defendeu a Jamaica em torneio Fiba Americas parece mais ágil que o sérvio (ao mesmo tempo, também é mais… baixo!). E Hibbert, não nos esqueçamos, joga num time que rema contra a maré, ainda apostando num jogo interior de pesos pesados, opressor – capitaneando uma das melhores defesas dos últimos anos, enquanto o principal recurso do sérvio é o ataque.

Se for apenas para oferecer o salário mínimo ou um contrato sem garantias, não tem por que Boban topar, economicamente. Ao final da temporada, seu agente vai poder barganhar tranquilamente um contrato milionário no basquete europeu. O que já é uma grande conquista. Ao menos esse dinossauro aqui já sobreviveu.


Remendado, Pacers surpreende (antigo?) rival em Miami
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Giancarlo Giampietro

Hibbert dominante em Miami, de novo

Hibbert dominante em Miami, de novo

Era como se fosse um Indiana Pacers x Miami Heat dos bons e velhos tempos. Tipo da temporada passada, mesmo.

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Nesta quarta-feira, os dois times que disputaram o Leste nos últimos dois campeonatos voltaram a se enfrentar bastante modificados, comparando com suas versões da final da conferência há sete meses. E o que a gente viu? Novamente um jogo tenso, equilibrado, decidido nos últimos instantes. Um jogo em que os visitantes de Indianápolis conseguiram novamente desacelerar o jogo ao dominar chutar traseiros nos rebotes e tirar seu adversário de seu ritmo. Venceram por 81 a 75.

Nesse caso, foi uma baita surpresa.

Se o Heat vai se virando bem depois da saída de LeBron, com Chris Bosh e Dwyane Wade elevando a produção e os armadores ajudando a manter o dinamismo do ataque, o Pacers era basicamente o time oficial da depressão na liga. A equipe perdeu Paul George devido a uma lesão horripilante, deixou Lance Stephenson ir embora no mercado e ainda viu George Hill e David West se lesionarem no training camp. Não nos esqueçamos dos problemas físicos também de CJ Watson, Rodney Stuckey e CJ Miles. Impossível brigar quando 80% de seu forte quinteto titular e dois de seus principais reforços acabam afastados, certo? Ainda mais quando o banco de reservas era sua principal deficiência.

Já (nem) faz tempo, né?

Já (nem) faz tempo, né?

Pois o técnico Frank Vogel vai dando um jeito de manter seu conjunto competitivo em quadra. “Sloan, Hill, Copeland, Scola, Hibbert, Price, Rudez, Lavoy Alen, Ian Mahinmi e Shane Whittinton”, disse Vogel, elencando o que tem ao seu dispor na rotação. “A vida te manda uma bola de rosca, veneosa em sua direção às vezes. Você tem apenas de acertá-la.”

O engraçado é que a frase serve tanto para os atletas, que têm uma oportunidade de ouro para mostrar serviço, como para o próprio treinador, que falhou seriamente nos últimos dois anos em desenvolver uma segunda unidade do Pacers. Enquanto o time titular voava, o rendimento da equipe despencava quando era a hora de usar os reservas. Muitos dos caras que estavam enterrado em seu banco no ano passado agora provam um certo valor. Especialmente os alas Chris Copeland e Solomon Hill.

Imagine se a direção do clube (oi, Larry Bird!) tivesse adotado a mesma saída de um ano atrás, quando empacotou Gerald Green e Miles Plumlee numa troca por Scola? Os dois atletas despachados se tornaram peças relevantes para o Phoenis Suns instantaneamente. Dessa vez, por força de um ocaso e de seguidas desgraças, ao menos o desenvolvimento dos coadjuvantes vai acontecendo internamente.

Na Flórida, essas novas peças se mostraram bastante adequadas para o plano de Vogel de triturar os adversários dentro do garrafão. Os caras pegaram 53 rebotes no geral, 16 ofensivos, contra 28 de Miami – 25 rebotes a mais que o oponente = a massacre nas minhas contas. Roy Hibbert, sempre ele contra o Heat, apanhou 15 rebotes por conta própria, sendo quatro no ataque. Mas o destaque fica para Solomon Hill, mesmo, com 10 no geral, igualmente divididos entre defensivos e ofensivos.

O ala foi selecionado no Draft de 2013, na posição 23, para surpresa geral dos especialistas. Um formando da Universidade do Arizona, ele chamava a atenção pelos atributos atléticos, mas ninguém o julgava como alguém digno da primeira rodada. O mais estranho, porém, foi que em sua campanha de novato, ele mal jogou. Foram apenas 28 partidas e média de 8 minutos. Para um calouro de 22 anos, mais experimentado? Uma decepção e uma situação equivalente à de Miles Plumlee.

Donald Sloan parte para cima. Repita: Donald Sloan parte para cima

Donald Sloan parte para cima. Repita: Donald Sloan parte para cima

Agora não teve jeito. Era Solomon Hill, ou nada. “Estamos sofrendo com lesões há um tempo já, então eu nem olho mais para quem está jogando, ou não”, afirmou Hibbert, que vem num excepcional início de temporada, e lembrou o Miami de seu potencial ofensivo, quando está motivado e em boa forma. “Seja lá quem estiver em quadra, vamos caminhar juntos.”

Foi com essa galera de segundo ou terceiro escalão que o Pacers respondia a cada boa jogada de Wade para se manter à frente do placar no quarto período, deixando a torcida local muda, aflita, como nas vezes em que triunfaram por lá nos mata-matas, mesmo. Algo até chocante, considerando a formação do time.

Peguem o AJ Price, oras. O armador foi selecionado pelo Pacers em 2009. Jogou três temporadas por lá, sem gerar muita comoção quando dispensado. Passou por Wizards e Timberwolves nos últimos dois campeonatos. Estava sem clube, depois de não conseguir uma vaguinha no Cleveland LeBrons. E lá estava o cara reencontrando Shabazz Napier no início do quarto período, em mais um racha empolgante, como aquele da pré temporada no Rio. Não era nem para ter acontecido isso. Antes de Price, o Pacers tentou contratar o israelense Gal Mekel para ajudar Sloan na armação. O negócio estava fechado, mas acabou caindo devido a um impasse burocrático, de visto trabalhista.

Com a raspa do tacho, defendendo pacas e espremendo uma cesta ou outra, eles limitaram um superempolgado Bosh a apenas nove pontos, errando 10 de seus 13 arremessos. “Nosso ataque é baseado em movimentação de bola. E eles nos esmagaram”, disse o ala-pivô. Copeland concorda: “Tem jogos em que é isso que conta: deixar a defesa vencer por nós. Acho que dificultamos os arremessos deles. Tem dias em que o jogo na estrada fica feio.”

Pensem nisso: temos aqui o Chris Copeland falando sobre uma vitória contra o Miami Heat, fora de casa, comentando sobre como o ataque não foi lá uma maravilha. Quem iria imaginar uma coisa dessas? Fruto da história recente entre as equipes? “Só estava pensando em não permitir uma sequência de derrotas novamente”, disse Hibbert. “Perdemos seis seguidas e vencemos o último jogo. Não estou pensando em rivalidade. Só estou pensando em conseguir algumas vitórias.”


O Indiana Pacers da depressão
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Em baixo: Donnie Walsh e o proprietário Herbie Simon. Acima, vocês sabem quem. Todos chatiados

Em baixo: Donnie Walsh e o proprietário Herbie Simon. Acima, vocês sabem quem. Todos #chatiados

Apesar de este ser um blog e de o seu… blogueiro ter uma carreira toda (coff! coff!) construída na internet, venho por meio deste confessar minha ignorância digital. As coisas podem estar bombando na internet há um bom tempo, todo mundo já se matando de rir com a piada da semana, e o cara aqui, boiando geral nas redes sociais, sem entender nada do que está acontecendo. Como nos casos dos constantes “memês” – já foi um desafio entender o conceito. Dentre essas ondas, existe a expressão “da depressão”, né?

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Comunidade Ninja da depressão, pequeno polegar da depressão, ciclone da depressão etc. Esses, pelo menos, já se explicavam pelo nome, ao menos. De qualquer forma, nem sabia a origem do, hã, fenômeno. Coisa que o site da Vejinha SP, num serviço de (in)utilidade pública, nos conta.

Pensava que, a partir do momento que a bola subiu para a temporada 2014-2015, esse tema deveria ser limitado a um só time: o Indiana Pacers. Mas aí a gente vê a tempestade de lesões que abala o Oklahoma City Thunder e o pior início de campanha da história do Lakers, e o clube acabou aumentando por um tempinho. De qualquer forma, o simples fato de dois times surgirem para roubar até mesmo as manchetes negativas do Pacers só aumenta a fossa deles, não?

Quem aí está preparado para muito Donald Sloan na armação? É o que restou

Quem aí está preparado para muito Donald Sloan na armação? É o que restou

Estamos tratando de um clube  que foi sério candidato ao título da NBA nos últimos dois anos. Que, ao final da era LeBron em South Beach, poderia muito bem acreditar que era chegada a hora. Mas aí Paul George se arrebentou num jogo-treino besta da USA Basketball, Lance Stephenson se mandou para Charlotte, e toda a base promissora montada por Larry Bird e Donnie Walsh se ruiu. Sabemos bem que o Pacers tinha dificuldades para pontuar mesmo com os dois jovens alas no time. Sem as suas duas principais forças criativas, sobrou para George Hill, CJ Miles, Chris Copeland e Rodney Stuckey a coordenação e produção ofensiva? Argh.

Com Roy Hibbert ao centro do garrafão apoiado por David West,  George Hill pressionando qualquer armador que passe à sua frente, Solomon Hill batalhando por um futuro na liga nas alas e um sistema já bem engendrado, o Pacers poderia muito bem segurar as pontas pela defesa. Em seus primeiros quatro pontos, nem isso vem acontecendo, porém – não de acordo com o padrão que vimos desde que Frank Vogel foi empossado técnico.

Vogel, contrato renovado, time arrebentado

Vogel, contrato renovado, time arrebentado

Mais aí tem mais aaaargh: West torceu feio o tornozelo na pré-temporada,  G-Hill tem problemas no joelho e CJ Watson, no pé. É um trio que está fora de ação por tempo indeterminado, deixando a equipe num estado de calamidade.

Do ponto de vista de Vogel, demorou, mas ele ao menos teve seu esforço premiado com uma renovação contratual. Entre as boas notícias também consta o ressurgimento obrigatório de Copeland.

De qualquer modo, fazendo as contas aqui de baixas e reforços, o saldo é gravíssimo. Nem mesmo na pálida Conferência Leste dá para sonhar em competir por algo relevante. Muito provavelmente nem pelos playoffs. Então perdoem as lágrimas que escorrem desde Indianápolis. É deprê geral.

O time: mas que time?

A pedida: eles querem ainda uma vaguinha nos mata-matas, mas deveriam se concentrar, mesmo, na loteria do Draft.

(Bom, ok, ok, só para não deixar passar batido: Si Pacers vai tentar defender bem ainda, e para isso vai precisar de um Roy Hibbert muito mais motivado do que esteve no campeonato passado, com a cabeça em ordem. West e Hill precisariam voltar rapidamente, e bem. Copeland tem de de sustentar sua produção de início, acertando os chutes de longa distância ao lado de Miles e do croata Damjan Rudez. Stuckey precisa render vindo do banco. Enfim, são muitos “ses” para serem conferidos, gente.)

Chris Copeland, liberado para jogar e chutar. Valeu, Vogel

Chris Copeland, liberado para jogar e chutar. Valeu, Vogel

Olho nele: Chris Copeland. Enquanto muitos apostavam em Stuckey como o cestinha do time, suprindo a ausência de George e Stephenson, quem vem despontando como a principal arma ofensiva é o ala ex-New York Knicks, que tem qualidades interessantes, mesmo: o chute de longa distância bastante elevado combinado com um corpo esguio e veloz. O veterano havia sido posto de castigo por Vogel na temporada passada, meio que inexplicavelmente, para um time que precisava de mais arremessadores – ele poderia não ter a mesma consistência defensiva do resto da trupe, mas aí cabe ao comandante encontrar um equilíbrio entre os dois lados da quadra, não? Essa foi uma das falhas do técnico, que não conseguiu desenvolver uma segunda unidade consistente e produtiva, dependendo demais de seus titulares. Ver Copeland render neste ano é uma boa, mas ao mesmo tempo não deixa de ser mais um ponto deprimente para o clube, uma vez que o torcedor mais amargurado pode muito bem perguntar por que diabos eles tiveram de abraçar Rasual Butler nos playoffs.

Abre o jogo: “Vamos ser uma das surpresas da NBA. Esta equipe é capaz de fazer seu trabalho. Temos talento o suficiente para cumprir nossas metas e competir com os melhores. Não vamos complicar mais as coisas. Um banco de qualidade será uma grande parte de nosso sucesso este ano”, Frank Vogel, bastante otimista. Mas é preciso dizer: a declaração foi antes das lesões de West, Hill e Watson. A ideia do treinador é a de usar uma rotação mais extensa, com dez atletas, e ele vem fazendo isso, apesar dos desfalques.

Você não perguntou, mas… Roy Hibbert se reuniu com Kareem Abdul-Jabbar durante as férias por motivos de tutelagem, aconselhamento, ombro amigo e… filmes de ninja! Sim, sim. O legendário pivô, o maior cestinha da história da liga e hoje uma espécie de guru espiritual visitou Hibbert em sua casa, e os dois deram um tempo no divã para se divertir com pancadaria. Hibbert infelizmente não revelou os títulos assistidos. A história, todavia, nos remete a…

Jalen Rose, Indiana Pacers, card, 2000Um card do passado: Jalen Rose. Uma curiosidade a respeito do Pacers? Na história da franquia, quatro de seus atletas já foram eleitos aqueles que mais evoluíram numa temporada – o já prêmio de Most Improved Player. Esse quarteto foi apontado desde o ano 2000, com o ala-armador Rose puxando a fila. Na sequência, viriam Jermaine O’Neal (2002), Danny Granger (2009) e Paul George (2013). Hoje um popular comentarista da ESPN, Rose credita sua melhora em quadra exclusivamente ao seu trabalho com Larry Bird, então técnico da equipe que foi derrotada pelo Lakers na decisão (4-2). Para ter qualquer perspectiva de sucesso nesta temporada e justificar o otimismo de Vogel, o Pacers bem que poderia usar mais um salto de qualidade desses para qualquer um de seus atletas.


Jogadores americanos descendentes causam impacto e ajudam a explicar surpresas no continente
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Giancarlo Giampietro

Holland x Feldeine

John Holland e James Feldeine: duas novidades norte-americanas no Caribe

Os Estados Unidos nem jogaram a Copa América de basquete neste ano, mas o talento de seus jogadores ainda deu o jeito de fazer a diferença. Do campeão México à surpreendente Jamaica, passando até mesmo pelo Brasil com Larry Taylor, muitas das seleções que disputaram o torneio continental contaram com uma ajudinha da mão-de-obra dos atuais bicampeões olímpicos. O grau de sucesso variou de time para time, mas a presença deles foi impactante de um modo geral, para atestar, ainda que por vias tortas, a influência do país no esporte.

Aí você pode pensar: “Dãr. Quanta novidade, hein?”

Bem, acreditem. Antes de Jerry Colangelo, Coach K, LeBron & Cia. conseguirem restaurar um certo grau de normalidade para as competições masculinas da Fiba, essa aura, essa influência estava sendo esculhambada em praça pública. Voltemos.

Muito se falou sobre o Pan de 1987 nestes últimos dias de Oscar Schmidt no Hall da Fama, então esta vocês já sabem responder direitinho no vestibular: que, no basquete masculino, o Brasil foi o primeiro time a vencer os Estados Unidos na casa dos caras, em Indianápolis. Que os norte-americanos perderam para a União Soviética nas Olimpíadas de 1988 também vem por esteira, e que esses acontecimentos somados a uma boa dose de interesses econômicos dos dois lados, Fiba e NBA, levaram ao ingresso do Dream Team em Barcelona 1992, e o resto foi história.

Uma história que, se for pensar bem, não durou taaaaaaaaaanto assim, não. Em Sydney 2000, lá estavam os EUA penando contra a Lituânia na semifinal, a um chute de três pontos de Sarunas Jasikevicius de ver o império ruir.

Não tardou muito, mesmo: no Mundial de 2002, de novo no solo sagrado amaldiçoado de Indianápolis, veio o maior vexame da história (para eles): derrotas para Argentina na segunda fase, Iugoslávia nas quartas e, como se não bastasse, Espanha na disputa pelo sexto lugar. Os jogadores utilizados nesta? Andre Miller, Baron Davis, Jay Williams, Reggie Miller, Michael Finley, Paul Pierce, Shawn Marion, Raef LaFrentz, Elton Brand, Jermaine O’Neal, Antonio Davis e Ben Wallace. Um timaço em qualquer circunstância. Todos All-Stars ou futuros All-Stars, ultramilionários, estrelas de seus times, alguns que seriam campeões mais adiante. Mas nem todos eram maduros o suficiente para a empreitada e, além disso, não eram necessariamente os maiorais da liga na época (nada de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal, por exemplo).

Conclusão da época? Nós, ianques, não podemos mais nos dar ao luxo de não levar o que temos de melhor.

Dois anos depois, Atenas 2004, Jogos em que a seleção norte-americana sofreu mais uma humilhação daquelas com a derrota para Porto Rico na primeira fase e a assinatura da caderneta de freguesia para a Argentina, nas semifinais. Ao menos bateram os lituanos novamente e ganharam o bronze. Quem estava lá? Allen Iverson, Stephon Marbury, Dwyane Wade, LeBron James, Carmelo Anthony, Richard Jefferson, Shawn Marion, Lamar Odom, Amar’e Stoudemire, Carlos Boozer, Emeka Okafor e Tim Duncan. Reparem: grandessíssimos nomes, mas uma combinação de talentos que não faz o menor sentido, com nenhum chutador de primeira linha – e lembrem-se que Wade, Melo e LeBron eram apenas novatos na liga e saíram da capital grega odiando Larry Brown. Além do mais, com Iverson e Marbury, era como se eles tivessem a versão deluxe de Arroyo e Ayuso, sobrando tiros pra tudo que é lado.

Conclusão? No, we can’t. Não dava para jogar sem ter os melhores em quadra – e sem passar o mínimo possível de espírito de equipe.

Aí que o resto se fez de história também, com a reformulação completa da confederação. Antes disso, os fiascos seguidos botaram em dúvida o tipo de basquete praticado por lá. E até mesmo a qualidade do “jogador americano X” foi questionada. O orgulho todo foi embrulhado num jornal velho e atirado na lata de lixo. Compreensível a reação e exagerada da mesma forma.

Ainda numa digressão, temos o caso de uma campanha na qual eles não levaram o ouro, mas em que o talento abundante no país ficou em evidência. Antes da “derrocada” em Indianápolis, vale quebrar a linearidade e voltar quatro anos no tempo para edição 1998 do Mundial, também em Atenas. Abalada pela instauração do primeiro lo(u)caute na NBA, USA Basketball teve de se virar com um catadão de universitários, jogadores que na época estariam na D-League, caso ela existisse, ou de alguns veteranos em atividade na Europa. Destaque para o pivô Brad Miller, que remaria bastante e viraria um dos melhores de sua posição na grande liga, e o ala Trajan Langdon, um ídolo para os torcedores do CSKA Moscou. Treinados por Rudy Tomjanovich, com a assistência de Del Harris, esses atletas foram valentes o suficiente para conquistar o bronze, somando 7 vitórias (incluindo um placar de 83 a 59 contra o Brasil…) e 2 derrotas (Lituânia e, na semi, contra a Rússia, por um total de quatro pontos) – leia aqui o relato comovido da federação deles.

Jimmy King, um dos quase-anônimos do bronze

O ala Jimmy King, companheiro de Webber, Rose e Howard no histórico time dos “Fab Five” da univesidade de Michigan, foi um dos que conquistou o bronze no Mundial da Grécia em 1998

Nesse campeonato, os Estados Unidos foram obrigados a se alimentar com a rebarba, jogadores que não teriam a menor chance de entrar num elenco final de 12 atletas caso estivessem todos os de ponta disponíveis, mas ainda assim deram um jeito de brigar por um lugar ao pódio, lutando contra cachorros grandes. Com o tanto de jogadores que o país produz, algo semelhante apenas ao que o Brasil faz no futebol, não é impossível formar uma equipe competitiva.

Ao mesmo tempo, sem muita margem de erro, podem ficar em quarto num torneio continental como na Copa América de 2005, atrás de Brasil, Argentina e Venezuela, algo impensável para sua grife, ou, só com jogadores da D-League, ficar com um bronze no Pan de Guadalajara 2011, com um elenco que contou com três atletas hoje inscritos na NBA (Greg Stiemsma, Donald Sloan e Lance Thomas).

Tudo depende de preparação, seriedade, química e – por que não? – um pouco de sorte. De qualquer forma, passando por essas diferentes equipes citadas, algo fica muito claro: não é qualquer grupo que vai sair triunfante de uma competição oficial, independentemente de quem estiver jogando. Isso Paul Pierce e Tim Duncan poderão confirmar. Mas também não dá para negar o talento disponível.

E é a partir dessa fonte inesgotável de talento que o cenário da Copa América, hoje, se vê drasticamente alterado. Foram diversos os jogadores nascidos nos Estados Unidos inscritos no torneio disputado em Caracas, espalhados por vários elencos, como o ala Donta Smith, que se naturalizou venezuelano a menos de dez dias do torneio. Mas nem todos são descaradamente mercenários como o jogador ex-Atlanta Hawks: muitos entregam já em seus sobrenomes a ascendência latino-americana. A diferença é que, depois de passarem pelo High School, se formarem, ou não, nas universidades de lá, se beneficiando de toda a estrutura de seu país, na hora de jogar por uma seleção, eles simplesmente não teriam espaço se não na de seus familiares – como Scott Machado.

No México, temos, por exemplo, o pivô Lorenzo Mata, nascido na Califórnia, formado na UCLA. Combativo, disposto a trombar e fazer o serviço sujo, também um bom passador, inteligente, ele se apresentou como um sólido companheiro de garrafão para o astro Gustavo Ayón no México. Os inéditos campeões continentais também contaram com mais dois californianos em sua rotação, com papel importante: Jovan Harris, cestinha na final contra Porto Rico, com 23 pontos, e Orlando Méndez, além do baixinho catimbeiro que é o tal do Paul Stoll, esse natural do estado de Michigan.

O marrentinho Stoll

Paul Stoll, o tampinha e marrento armador reserva do México, direto de Michigan

Mais uma equipe a ser surpreendida pelos mexicanos, Porto Rico não teria muito do que reclamar, não, já que Renaldo Balkman, um dos melhores do torneio, veio de Nova York. Assim como John Holland, encontrou um ótimo ala para complementar seus armadores talentosos. Ele é um nova-iorquino de 24 anos, muito atlético, aguerrido na defesa, que vem evoluindo consideravelmente nas últimas duas temporadas. Neste campeonato, eles ganharam a companhia de outro conterrâneo, Ramon Clemente, ala-pivô estreante, da mesma forma que o ala Ricky Chaney, de Los Angeles. (E tenham em mente que Carmelo Anthony também seria uma possibilidade não fosse tão badalado e cobiçado desde a adolescência, de modo que a USA Basketball não o deixaria escapar de modo algum.)

O mesmo aconteceu na República Dominicana, com outro jogador de ponta: o ala-armador James Feldeine, de Nova York e uma ótima opção para pontuação a partir do perímetro, com suas infiltrações que desafogam a pressão pra cima dos, aí, sim, dominicanos naturais como Francisco Garcia e Jack Martínez. Outros nova-iorquinos: Edgar Sosa, Ricardo Greer e até mesmo o Ronald Ramon, de Limeira. Já o promissor Karl Towns Jr., de 17 aninhos, é de Nova Jersey.

E a Jamaica? Bem, Samardo Samuels nasceu realmente na ilha, vindo de Trelawny. De resto, temos cinco americanos e até um canadense, o jovem armador Dylan Howell, que saiu de Toronto. (Outro “gringo” que pode reforçar a seleção é o gigante Roy Hibbert, do Indiana Pacers, que já defendeu a equipe num torneio regional, mas se arrependeu e nutria esperanças de que pudesse ser liberado para defender os Estados Unidos de volta – sendo que já havia jogado pelo Team USA no Pan do Rio de Janeiro… –, até que seu pedido estapafúrdio foi recusado pela Fiba. Tá vendo? Acha que a federação vai dizer “sim” pra tudo?!)

Mas deu para sacar, né?

Os jogadores “importados” não chegam a ser Os Craques de suas seleções, mas se tornaram peças complementares importantes para a formação de sólidas e competitivas bases. Se fosse para subtrair todos esses caras, provavelmente nenhum dos três países teria beliscado a vaga – ou, no mínimo, teriam sofrido muito mais para assegurar a vaga. O “se” não entra em quadra, no entanto.

A única condição que se espera é que esses reforços tenham realmente alguma relação direta com os países que adotaram, algo que vá além de uma eventual valorização econômica pela vitrine que é disputar um torneio internacional de seleções.

Bem diferente do que vem acontecendo na Europa… Mas esta história fica para amanhã.

 


Na tabela 2013-2014 da NBA, os jogos (alternativos) que você talvez queira ver
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Giancarlo Giampietro

Com olançamento sempre adiantadíssimo de tabela, agora da temporada 2013-2014, a NBA já reservou em seu calendário – sem nem consultá-los, vejam só! – algumas noites ou madrugadas de suas vidas. E nem feriado eles respeitam, caramba.

Já é hora, então, de sentar com o noivo, avisar a namorada, checar se não é o dia da apresentação do filho, e que a universidade não tenha marcado nenhuma prova para essas datas: Kobe x Dwight, retorno de Pierce e Garnett com Boston, o Bulls abrindo a temporada contra os amáveis irmãos de Miami, Kobe x Dwight, as tradicionais visitas de LeBron ao povoado de Cleveland, Nets x Knicks, revanche Heat x Spurs, Kobe x Dwight etc. etc. etc. Não precisa nem falar mais nada a respeito.

Mas, moçada, preparem-se. Que não ficaria só com isso, claro. A liga tem muito mais o que oferecer para ocupar seu tempo de outubro a junho. Muito mais. Colocando a caixola para funcionar um pouco – acreditem, de vez em quando isso acontece –, dá para pescar mais alguns jogos alternativos que talvez você esteja interessado em assistir, embora não haja nenhuma garantia de que eles vão ocupar as manchetes ou a conversa de bar – porque basqueteiro também pode falar disso no bar,  sem passar vergonha. Pode, né?

Hora de rabiscar novamente a agenda, pessoal. Mexam-se:

– 1º de novembro de 2013: Miami Heat x Brooklyn Nets
Depois de encarar o Bulls na noite de abertura, de descansar um pouco diante do Sixers, lá vem o Nets para cima dos atuais campeões logo em sequência. Essa turma de David Stern não toma jeito. Querem colocar fogo em tudo. Bem, obviamente esse jogo não é tão alternativo assim, considerando as altíssimas expectativas em torno dos rublos do Nets. Mas há uma historieta aqui para ser acompanhada em meio ao caos: será que Kevin Garnett, agora que não se veste mais de verde e branco, vai aceitar cumprimentar Ray Allen? Quem se lembra aí de quando o maníaco pivô se recusou a falar com o ex-compadre no primeiro jogo entre eles desde que o chutador partiu para Miami? Vai ser bizarro para os dois e Paul Pierce, certamente. Assim como a nova dupla de Brooklyn quando chegar a hora de enfrentar o Los Angeles Clippers de Doc Rivers em 16 de novembro.

No hard feelings? KG x Allen

E o KG nem aí para esse tal de Ray Allen ao chegar a Miami

1º de novembro de 2013:  Houston Rockets x Dallas Mavericks
Sim, uma noite daquelas! Mas sem essa de “clássico texano”. O que vale aqui é o estado psicológico de Dirk Nowitzki e o tamanho de sua barba. Contra o Rockets, o alemão vai poder se perder no tempo, divagando no vestiário sobre como poderiam ser as coisas caso o plano audacioso de Mark Cuban tivesse funcionado: implodir um time campeão para sonhar com jovens astros ao lado de seu craque. Dois astros como Harden e Howard, sabe? Que o Houston Rockets roubou sem nem dar chance para o Mavs, que teve de se virar com um pacote Monta Ellis-Samuel Dalembert-José Calderón e mais cinco chapéus e três botas de vaqueiro para tentar fazer de Nowitzki um jogador feliz.

Hibbert x Gasol

E que tal um Hibbert x M. Gasol?

– 11 de novembro de 2013: Indiana Pacers x Memphis Grizzlies
Vimos nos playoffs: dois times que ainda fazem do jogo interior sua principal força, e daquele modo clássico (pelo menos que valeu entre as décadas de 70 e 90), alimentando seus pivôs, contando com sua habilidade e físico para minar os oponentes*. Então temos aqui David West x Zach Randolph e Roy Hibbert x Marc Gasol. Só faça figas para que eles não esmaguem o Mike Conley Jr. acidentalmente. Candidatos a título, são duas equipes que estão distante dos grandes mercados, mas merecem observação depois do que aprontaram em maio passado.  Não dá tempo de mudar. (*PS: com a troca de Lionel Hollins por Dave Joerger, o Grizzlies deve adotar algumas das diretrizes analíticas de John Hollinger, provavelmente buscando mais arremessos de três pontos, mas não creio que mudem taaaanto o tipo de basquete que construíram com sucesso nas últimas temporadas e, de toda forma, no dia 11 de novembro, talvez ainda esteja muito cedo para que as mudanças previstas sejam totalmente incorporadas pelos atletas.)

– 22 de dezembro de 2013: Indiana Pacers x Boston Celtics
O campos da universidade de Butler está situado no número 4.600 da Sunset avenue, em Indianápolis. De lá para o ginásio Bankers Life Fieldhouse leva 17 minutos de carro. Um pulo. Então pode esperar dezenas e dezenas de seguidores de Brad Stevens invadindo a arena, com o risco de torcerem para os forasteiros de Boston, em vez para o Pacers local, time candidato ao título. Sim, o novo técnico do Celtics é venerado pela “comunidade” de Indianápolis e esse jogo aqui pode ter clima de vigília. (E, sim, mais um jogo do Pacers: a expectativa do VinteUm é alta para os moços.)

– 28 de dezembro de 2013: Portland Trail Blazers x Miami Heat
Se tudo ocorrer conforme o esperado para Greg Oden, três dias depois do confronto com o Lakers no Natal, ele voltará a Portland já como um jogador ativo no elenco do Miami Heat, deixando o terno no vestiário, indo fardado para a quadra. Da última vez em que ele esteve no Rose Garden, foi como espectador, sem vínculo com clube algum, sendo vaiado e aplaudido, tudo moderadamente. E se, num goooolpe do destino, o jogador chega em forma, tinindo, tendo um papel importante nos atuais bicampeões? Imaginem o tanto de corações partidos e a escala de depressão que isso pode – vai? – gerar na chamada Rip City.

– 13 de março de 2014:  Atlanta Hawks x Milwaukee Bucks
O tão aguardado reencontro entre Zaza Pachulia com essa fanática torcida de Atlanta, que faz a Philipps Arena tremer a cada jogo do Hawks. Não dá nem para imaginar como eles vão se comportarem na hora de acolher de volta esse cracaço da Geórgia, ainda mais vestindo a camisa do poderoso Bucks de Larry Drew – justo quem! –, o ex-técnico do Hawks. E, para piorar as coisas, o Milwaukee ainda tentou roubar desses torcedores o armador Jeff Teague. Não vai ficar barato! (Brincadeira, brincadeira.) Na verdade, an 597otem aí o dia 20 de novembro, bem mais cedo no campeonato, que é quando Josh Smith jogará em Atlanta pela primeira vez com o uniforme do Detroit Pistons. Neste caso, os 597 torcedores do Hawks presentes no ginásio e que consigam fazer mais barulho que o sistema de som vão poder aloprar o ala sem remorso algum quando ele optar por aqueles chutes sem-noção de média distância, desequilibrado, com 17 segundos de posse de bola ainda para serem jogados.

Ron-Ron tem um novo amigo agora

Ron-Ron agora vai acompanhar Melo em Los Angeles

– 25 de março de 2014: Los Angeles Lakers x New York Knicks
Já foi final de NBA, Carmelo Anthony seria um possível alvo do Lakers no mercado de agentes livres ao final da temporada, Mike D’Antoni não guarda lembrança boa alguma de seus dias como técnico Knickerbocker. São muitas ocorrências. Mas a cidade de Los Angeles tem de se preparar mesmo é para o retorno de Ron Artest ao Staples Center. Na verdade, o ala já terá jogado na metrópole californiana em 27 de novembro, contra o Clippers, mas a aposta aqui é que apenas quando ele tiver o roxo e o amarelo pela frente que suas emoções vão balançar, mesmo. E um Ron-Ron emocionado pode qualquer coisa. Nesta mesma categoria, fiquem de olho no dia 21 de novembro para o reencontro de Nate Robinson, agora um Denver Nugget, com seus colegas do Bulls, a quem ele jurou amor pleno. Robinson também é uma caixinha de… Fogos de artifício, e não dá para saber o que sai daí. Ele volta a Chicago no dia 21 de fevereiro.

– 12 de abril de 2014: Charlotte Bobcats x Philadelphia 76ers
O Sixers lidera os palpites das casas de apostas a pior time da temporada. O time nem técnico tem hoje – o único nesta condição –, seu elenco tem uma série de refugos do Houston Rockets, eles vão jogar com um armador novato que não sabe arremessar e lá não há sequer um jogador que possa pensar em ser incluído na lista de candidatos ao All-Star Game. Desculpe, Thaddeus Young, nós amamos você, mas tem limite. E, Evan Turner, bem… Estamos falando talvez da última chance. Então, no quarto confronto entre essas duas equipes na temporada, Michael Jordan espera, desesperadamente, que o seu Bobcats esteja beeeeem distante do Sixers na classificação da Conferência Leste. Se não for em termos de posições, que aconteça pelo menos em número de vitórias. Do contrário, é de se pensar mesmo se, antes de o time voltar ao nome Hornets, não era o caso de fechar as portas.

– 16 de abril de 2014: Sacramento Kings x Phoenix Suns
Como!? Deu febre?!? Não, não, tá tudo bem. É que… no crepúsculo da temporada, essa partida tem tudo para ser uma daquelas em que ninguém vai querer ganhar. Embora os torcedores do Kings tenham esperanças renovada com um nova gestão controlando o clube, a concorrência no Oeste ainda é brutal o suficiente para que eles coloquem a barba de molho e não sonhem tanto com playoffs assim. Ou nem mesmo com uma campanha vitoriosa. Fica muito provável que esses dois times da Divisão do Pacífico estejam se enfrentando por uma posição melhor no Draft de Andrew Wiggins (e Julius Randle, Aaron Gordon, Jabari Parker, Dante Exum e outros candidatos a astro). Então a promessa é de muitos minutos e arremessos para os gêmeos Morris em Phoenix, DeMarcus Cousins mandando bala da linha de três pontos, defesas de férias e mais esculhambação.


Sem alarde, Pacers se reforça com as melhores menores contratações da NBA
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Giancarlo Giampietro

Para  o Indiana Pacers ganhar algum destaque neste mês de julho, ainda na ressaca do título do Miami Heat, só mesmo o terrorismo psicológico promovido pela mídia de Los Angeles sobre o possível rapto de Paul George pelo Lakers em 2014, por mais que o ala diga que não tem plano algum para fazer uma mudança, nem que fosse para voltar para casa.

Sem nenhuma megatroca, sem se envolver com nada que se refira a Dwight Howard, num mercado pequeno, é natural que o Pacers não atraia tantas manchetes, mesmo, a despeito do retorno de Larry Bird ao comando de suas operações – e nada que numa soma de “Bird + competição” deva ser subestimado.

Mimos até para Chris Copeland

Na hora de cortejar Copeland, o Pacers criou uma revista fake da ESPN para mostrar o quão legal seria sua contratação. Vale tudo para conseguir um agente livre, mesmo aquele que não está no primeiro escalão

De qualquer forma, quietinhos em seu canto, a diretoria do Pacers fez um ótimo trabalho para, primeiro, segurar David West e, depois, reforçar seu elenco, com duas das melhores menores contratações da NBA neste mês de julho. Assim como a franquia em si, Chris Copeland e CJ Watson não têm o maior chamariz na liga ou entre os agentes livres que andavam disponíveis por aí. Mas a chegada deles a Indianápolis faz muito sentido para que seja ignorada e pode ter um tremendo impacto nos playoffs. Acreditem.

Pensem assim: a equipe levou o Miami Heat ao sétimo jogo, chegando a roubar o mando de quadra daqueles que seriam os tricampeões. Eles talvez não tenham chegado tão perto como o Spurs de destronar LeBron James, mas que essa possibilidade existiu na final da Conferência Leste não há dúvida. Erik Spoelstra e suas estrelas ficaram contra a parede. Ou melhor, contra o paredão – valendo o trocadilho, já que a defesa de Frank Vogel era absurda e Roy Hibbert e David West foram uma dupla sensacional no garrafão.

E, dentre as diversas histórias produzidas pelo grande embate entre Pacers e Heat, além da ascensão de George e Hibbert, estava a fraqueza, a completa anemia do banco de reservas esquálido dos vice-campeões da conferência. Lembrando: com seu quinteto titular em quadra, o Pacers “venceu” a final. O problema era o complemento das partidas em que qualquer substituto da rotação de Vogel ia para quadra.

DJ Augustin, Sam Young, Tyler Hansbrough e Ian Mahinmi. Gerald Green e Orlando Johnson. Era uma draga daquelas.

Augustin, em especial, foi um horror. Não dá para aliviar. Sem confiança alguma, mal conseguia cruzar a linha divisória da quadra diante da forte pressão que os defensores do Miami Heat colocam na bola. A insegurança era tamanha que Paul George e Lance Stephenson se viam obrigados a levar a bola em diversos ataques.Além disso, quando estabelecidos em meia-quadra, Augustin também não conseguia se desmarcar para arremessar ou criar situações por conta própria. Em 97 minutos nas finais do Leste, ele chutou apenas nove vezes, sendo cinco de três pontos (tendo convertido duas bolas, o que dá um aproveitamento de 40%, que, isolado, pareceria ótimo, mas, neste contexto, não vale nadica de nada). Diminuto, Augustin também era vulnerável na defesa. Basicamente: contribuições nulas num confronto de alto nível.

Trocá-lo por Watson é uma grande evolução. Não que o jogador ex-Nets e Bulls seja um craque. Mas tem muito mais recurso para jogar por conta própria e, ao mesmo tempo, pode dividir a quadra com George Hill sem rebaixar muito a defesa da equipe. Aos números (todos da temporada passada): em média, 16,8% das posses de bola com Augustin terminaram em turnover, comparando com 12,1% de Watson; em assistências, Augustin ‘venceu’ por 21,6% a 17,2%, um percentual que praticamente é anulado por seu maior volume de desperdícios de bola; nos três pontos, deu Watson por a  41,1% a 35,3%; nos arremessos de quadra, Watson novamente: 41,8% a 35%, o que resulta também em números muito melhores nas métricas avançadas de True Shooting (arremessos de dois, de três pontos e lances livres na conta) e Effective Field Goal % (arremessos de quadra, mas com um peso maior dedicado aos tiros de três, que valem mais).

Já Chris Copeland chega ao Pacers para reforçar, e muito, seu ataque. O calouro de 29 anos, uma das surpresas da temporada passada, cuja história ainda vale seu próprio post, ainda mais depois deste ótimo perfil do SBNation, é um excelente arremessador, especialmente de longa distância. Veja sua pontaria durante a temporada regular:

Chris Copeland em cores

Apenas na zona morta pela direita, no perímetro, em que o ala ex-Knicks esteve abaixo da média da liga. Estranhamente, ali na quina da direita, seu aproveitamento é excepcional. Por outro lado, vemos que o chute de média distância não é lá o seu forte, embora Copeland consiga colocar a bola no chão a partir da finta. Esse, na verdade, é o seu diferencial quando comparado com gatilhos como Steve Novak: as quase 100 cestas na área mais próxima ao aro, oferecendo mais versatilidade a um ataque. Num banco limitado como o do Pacers, essa é uma baita novidade. “Acho que eles  (os novos companheiros) são muito promissores e que eu serei capaz de fazer algo novo aqui, sendo mais uma peça no quebra-cabeça”, afirmou o ala.

Com o cabeludo, o que Vogel vai perder é a força nos rebotes, ainda mais com a subtração de Hansbrough, um leão nas duas tábuas, especialmente na ofensiva. Em termos defensivos, Hansbrough também tem índices muito superiores aos de Copeland. Agora, fica registrada aqui a crença de que muito disso tem a ver com o próprio sistema do Pacers e que, se bem orientado, o recém-contratado também pode fazer um bom papel na retaguarda. Se não tem a massa física para isso, pode compensar em agilidade e envergadura.

São duas contratações pontuais e providenciais, considerando a carência do plantel. De resto, o forte núcleo desta emergente equipe foi mantido, voltando para a temporada 2013-2014 com ainda mais tarimba e confiança.

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Via Draft, o Indiana Pacers deixou graaaaande parte dos especialistas atônitos ao escolher o ala Solomon Hill, da universidade de Arizona, na 23ª posição – sendo que, para boa parte dos sites especializados, ele estava cotado apenas para a segunda rodada do recrutamento. A aposta do gerente geral Kevin Pritchard é a de que ele chegue pronto, maduro ao clube, já preparado para contribuir para Vogel já na abertura da temporada regular. Algo que não aconteceu no ano passado com Miles Plumlee, outro senior que o Pacers escolheu bem antes do que apontavam as projeções.

Hill tem 22 anos e é apenas um ano mais jovem que Paul George, por exemplo.

Tendo iniciado sua carreira em Arizona como um ala-pivô baixo, trabalhou bastante por quatro temporadas para migrar para o perímetro. Durante a liga de verão de Orlando, fez um bom papel como ala, embora seus movimentos não sejam nada naturais, como prova dessa transição em seu jogo. Suas médias foram de 12 pontos, 5,2 rebotes, 2,6 assistências, 0,8 roubos de bola e 0,4 tocos em 28,8 minutos, com pontaria de 55,6% nos três pontos e 48,9% nos arremessos. No geral, foi um sólido desempenho para um atleta de quem não se exigirá muito além de bom posicionamento defensivo e a conversão dos tiros de três. Se tudo certo, ele assumiria os minutos do limitado Sam Young na rotação.

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Danny Granger, em Indiana até quando?

O que esperar de Danny Granger, gente?

Quer dizer, Hill teria espaço se Danny Granger não conseguir recuperar a forma física depois de uma temporada perdida em razão de uma ingrata tendinite no joelho. O veterano fez falta demais nos playoffs, embora sua ausência tenha forçado George e Stephenson a elevarem seu rendimento de modo significativo. Em seu último ano de contrato, Granger pode funcionar tanto como um sério candidato a sexto homem, num cenário ideal.

Caso o ala se apresente bem em quadra, muito vai se especular também sobre uma eventual troca, já que está no último ano de contrato. Para um clube que não dispõe de poucos recursos financeiros, encontrar uma negociação em que Granger fosse liberado seria difícil. O Pacers simplesmente não pode adicionar salários muito robustos para os próximos anos na periferia de seu elenco, uma vez que George já tem encaminhada uma renovação de contrato astronômica. Isso depois de Hibbert e West também acertarem por valores altíssimos.

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Revigorado após passar um ano sabático, em casa com a família, Larry Bird está animado para a temporada – com alta expectativa em torno de sua equipe. “Gostamos disso. É por isso que jogamos. Queremos essas expectativas lá em cima. Queremos jogar bem e estar em um nível de basquete em que possamos competir a cada noite”, afirmou.

 


Splitter vai renovar por US$ 36 milhões e quatro anos. Spurs não deu chance para o “se”
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Giancarlo Giampietro

Splitter pra mais dois pontos

Ah, como seria a trajetória de Tiago Splitter na NBA em outra equipe? De repente sem a pedagogia de Gregg Popovich, que o segurou por um ano e meio até que estivesse devidamente adaptado ao que ele espera dos jogadores do Spurs. Ou sem a necessidade de dividir espaço, toques e pontos com um mito chamado Tim Duncan. Parece que a gente nunca mais vai saber.

Nesta terça-feira, Adrian  “Fura o furo” Woynarowski, do Yahoo! Sports, publicou que a franquia texana e o pivô catarinense já encaminharam a renovação de seu contrato – as partes começaram as tratativas na segunda-feira e encaminharam o acordo raaaapidamente. Segundo o renomado jornalista, serão US$ 36 milhões pagos ao catarinense por serviços a serem prestados nas próximas quatro temporadas – ele se tornará, assim, o terceiro brasileiro, mais bem pago da liga, atrás de Nenê e Anderson Varejão.

(Nota: o vínculo ainda não é oficial.  Deve-se respeitar a moratória imposta pela liga até o dia 10 de julho, quando os clubes podem anunciar suas negociações. Até lá, nem dirigentes, nem jogadores podem comentar a respeito.)

Em entrevista coletiva neta terça-feira pela manhã, talvez ciente das conversas adiantadas para sua extensão contratual, Splitter já havia dito que considerava o Spurs “a melhor opção” para sua carreira. “É claro que o basquete é um esporte envolvido por muitos negócios, e nós não sabemos o que vai acontecer. Mas, pelo estilo de jogo, pela oportunidade que tive e por já conhecer o sistema, o técnico e forma de trabalho, o melhor pra mim seria ficar no Spurs.”

Segundo consta na mídia norte-americana, o Portland Trail Blazers, desesperado atrás de um guarda-costas para proteger LaMarcus Aldridge, estaria interessado em enviar uma proposta a Splitter, que era um agente livre restrito – poderia negociar com qualquer equipe, mas o Spurs teria o direito de cobrir uma eventual oferta. Gregg Popovich e RC Buford já logo disseram: “Nem vem, que não tem”. Foi a mesma coisa, aliás, que o Indiana Pacers fez com Roy Hibbert no ano passado – uma vez que o Blazers se engraçou para seu gigantão, o martelo da renovação foi batido prontamente.

Então, agora, temos o seguinte: Splitter segue em San Antonio para render e ajudar Tim Duncan sempre quando necessário, até que o legendário pivô decida pela aposentadoria. Em termos de impacto e manchetes, não foi o desfecho mais atraente, mas é o mais seguro. Já se sabe o que esperar do catarinense no clube texano no próximo ano: defesa, luta por rebotes, finalizações em pick-and-roll com Tony Parker e, possivelmente, Manu Ginóbili, umas cinco ou sete cestas por partida, eficientes corta-luzes e a certeza de que vai entrar em quadra novamente brigando pelo título.

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A despeito da negociação concretizada, o pivô não vai defender a seleção brasileira na Copa América deste ano. Disse que precisava de descanso, independentemente da papelada assinada. Compreensível: seriam suas primeiras férias para acompanhar o filho e respirar um pouco após a temporada mais desgastante que já viveu – lembrem-se que o catarinense jogou as Olimpíadas em agosto do ano passado e que sua temporada se estendeu até junho. De 2005 a 2012, ele se apresentou para a CBB toda vez que foi chamado.

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Não tem jeito: grandalhões são pagos quando chega a hora de entrarem no mercado de agentes livres. Com um pivô talentoso como Splitter, não seria diferente. Seu segundo contrato não deixa também de recompensá-lo pelo desconto que deu para o Spurs no primeiro vínculo: a média anual de cerca de US$ 3,6 milhões não fazia jus ao que o MVP da Liga ACB ganharia no mercado europeu.

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Outro candidato ao título acertou uma renovação contratual importantíssima nesta terça: o Indiana Pacers, segurando David West. O pivô deve ganhar US$ 12 milhões em cada um dos próximos três campeonatos. Um valor que contextualiza bem a bolada que Tiago vai levar no Texas.


Quais os desafios que aguardam Tiago Splitter nas finais contra o Miami Heat?
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Giancarlo Giampietro

Splitter pra mais dois pontos

Dificilmente Tiago vai encontrar um caminho tão livre assim para fazer a bandeja

Ele pode ser o primeiro brasileiro campeão da NBA. É o nosso melhor e mais consistente jogador na Seleção há anos. Decidiu tudo que é título na Espanha e na Europa em geral. Agora está no palco mais brilhante, chamativo, com um papel muito importante, encarando talvez seu maior desafio. Dá um frio na barriga intenso só de pensar. O que esperar de Tiago Splitter na decisão contra o Miami Heat? Vamos respirar fundo e tentar entender/projetar o que vem pela frente.

Ataque
A característica mais marcante do Miami Heat é sua capacidade atlética coletiva. São aqueles que representam, na prática, aquilo que se idealiza sobre a liga norte-americana em termos de exuberância física.  Erik Spoelstra pode mandar para quadra jogadores de muita velocidade e agilidade, impulsão e invariavelmente empenhados em fazer o serviço sujo. Quando levam isso ao máximo, se torna um inferno atacar contra esses caras – como Paul George descobriu no Jogo 7 das finais do Leste.

Um páreo duro, ainda mais para um jogador como Tiago, que gosta de produzir se esgueirando pelos mínimos espaços oferecidos por uma defesa, a despeito de seu corpanzil.

Além de muito inteligente, enxergando os diversos ângulos para se cortar para a cesta, o catarinense corre bem e se desloca por toda a quadra e também é bastante coordenado para um cara de seu tamanho, podendo receber o passe nas redondezas do garrafão em velocidade e, tal como o carteiro Karl Malone, entregar a carta no destino certo (sua  média na carreira é de 57,2% nos arremessos, sensacional).

Contra os mutantes de Miami, porém, essa habilidade para finalização será testada ao máximo. É preciso cuidado com a defesa que virá do lado contrário em seus pick-and-rols com Parker e Manu, especialmente quando LeBron tiver Dwyane Wade e Chris Andersen ao seu lado. Os três têm ótimo tempo de cobertura.

Só não dá para confundir precaução com receio, temor, mesmo que estejamos falando desses atletas de primeiríssimo time – e aqui, literalmente, já que são os atuais campeões.

Splitter nunca  teve o jogo mais vertical. É difícil, por exemplo, lembrar a última cravada, ou até mesmo um grande highlight de sua carreira nessa linha. E não teve problema nenhum para o pivô prosperar e se tornar um dos melhores do mundo (Fiba) em sua posição. Ele desenvolveu uma série de movimentos, digamos, criativos, para não escrever estranhos, mas que obviamente são úteis e eficientes.

Splitter se vira

Splitter vai precisar finalizar com autoridade, ao seu modo, contra uma defesa hiperatlética

Colocar isso em prática na NBA, envolto por jogo mais veloz, explosivo e aéreo que o da Liga ACB ou Euroliga, sempre foi visto como o grande desafio para o catarinense, alguém que foi analisado pelos scouts das franquias norte-americanas desde a adolescência na Espanha, uns bons deeeeez anos atrás.

“A evolução foi lenta, mas consistente. Claro que todo mundo quer chegar e jogar, se adaptar o mais rápido possível. Demorou um pouco, mas agora estou bem, com mais protagonismo tanto no ataque quanto na defesa”, disse o pivô em entrevista completinha a Daniel Neves, companheiro aqui do UOL Esporte.

Demora um pouco, mesmo, para captar o que se passa ao seu redor. Talvez Gregg Popovich o tenha segurado um tico demais da conta. Ou talvez ele só estivesse realmente esperando a plena adaptação de seu jogador. Mas o fato é que hoje o brasileiro está confortável e perfeitamente integrado ao plano de um dos maiores treinadores da história. Enfrentando quem quer que seja, com suas bolas heterodoxas, mesmo.

Dentre essas jogadas, aliás, o arremesso em flutuação pode lhe ser muito útil no confronto. É um chute que ele converte com boa frequência e pode ser utilizado quando o tráfego rumo ao aro estiver intenso. Além disso, como destacamos em outro post quando o rival ainda era o Golden State Warriors, é muito incomum que um pivô tenha esse tipo de bola, que até hoje surpreende os narradores e comentaristas da liga e, imagino, também os seus oponentes.

Veja aqui a sequência a partir de 1min01s, com seu floater em pleno funcionamento e os comentários de Jeff Van Gundy na sequência:

Um Splitter eficiente em quadra será fundamental para o Spurs. Se o pivô conseguir incomodar a defesa interior de Miami, estará criando um senhor problema para Spoelstra, que poderá ter dificuldade para decidir o que fazer na hora em que ele e Tony Parker jogarem em dupla.  “Vamos continuar fazendo nosso jogo. Todos os times têm brechas e vamos aproveitar tudo o que está à nossa disposição”, disse ao Daniel.

Fica a dúvida sobre que marcador seria designado para o brasileiro de cara. Muito provavelmente Chris Bosh nos primeiros minutos, com o técnico do Heat tentando preservar o jogador de um embate direto com Tim Duncan.  Além disso, resta saber se Spo vai optar por ficar com dois pivôs em quadra como fez contra o Indiana Pacers, ou se vai voltar com Shane Battier para sua rotação, confiando no ala para segurá-lo. Se esse duelo realmente acontecer, Splitter precisaria fazer de tudo para se impor em quadra no mano-a-mano, fazendo o oponente pagar pela estratégia de small ball, seguindo o exemplo dado por  David West.

Defesa
Vocês podem não acreditar, mas o mesmo time que é superveloz e atlético na defesa, também leva esse mesmo pacote para o ataque. :  )

A diferença que os percalços para Tiago aqui estão distantes da cesta, independentemente de quem estiver em quadra do outro lado – Haslem, Bosh, Battier, LeBron, Mike Miller ou Rashard Lewis. Ops, esqueçam o Lewis. Apenas Chris Andersen não fica posicionado desse jeito.

A ideia é espaçar bastante a quadra, abrindo trilhas para os cortes de LeBron e Wade. Por isso, os “pivôs” do Miami se afastam costumeiramente da área pintada, preparados para receber o passe e matar os chutes de média e longa distância. Splitter vai ter de persegui-los em muitas ocasiões no perímetro, mesmo Haslem, que, do nada, recuperou sua confiança e voltou a representar uma ameaça nesse quesito.

Foi algo que David West fez excepcionalmente bem pelo Pacers, contestando os chutes de longa distância até de Ray Allen – Shane Battier, então, nem se fala: foi reduzido a pó, a ponto de se tornar uma peça inútil para o Heat. O catarinense tem velocidade e movimentação lateral para dar conta disso, ainda que não esteja tão habituado a correr atrás de alas. Como o chapa Rafael Uehara mostra nesta edição aqui, com ações focadas na contenção de pick-and-roll:

Ao mesmo tempo que tem de vigiar essa turma, o brasileiro vai ter de ajudar, e muito, Kawhi Leonard na inglória missão para tentar incomodar LeBron James de algum jeito. A ideia é que ele ou Duncan se posicionem atrás de Leonard, centralizados, para desencorajar as infiltrações os atropelos do superastro. Uma ação que requer uma baita organização tática e sintonia fina com os companheiros.  “Não existe uma pessoa no nosso time que possa pará-lo [LeBron]. A única forma é adotar uma defesa forte no coletivo. Só assim conseguiremos enfrentar os astros do time deles”, afirmou o brasileiro ao Daniel.

Splitter x Z-Bo

Splitter lidou bem com Z-Bo na final do Oeste; Miami apresenta desafio bem diferente

Muitas vezes é quase como uma defesa por zona, com a limitação dos três segundos imposta pela NBA. Para alguém criado na Europa, não é problema algum. A verdade é que a promoção e efetivação de Splitter no quinteto titular do Spurs foi capital para a solidificação de uma defesa que andava estranhamente mambembe sob a orientação de Popovich. Sua mera presença física ao lado de Duncan ajuda a congestionar tudo.

De todo modo, poucos são tão grandes como um Roy Hibbert, dos raros casos capazes de intimidar LeBron. Nesse confronto, para o brasileiro vai contar muito mais sua aplicação e desenvoltura tática.

E aí?
Esses são apenas alguns dos pontos que envolvem Tiago Splitter num grande  e promissor jogo de tabuleiro que começa nesta quinta-feira e se estenderá para os próximos dias. Lembrando que o brasileiro se tornará um agente livre ao final da temporada. Dependendo do quão bem ele executar seu papel, o Spurs pode ter problemas para segurá-lo em seu elenco. Agora, se isso for ajudá-los a conquistar um título depois de seis anos, Popovich e Duncan aceitarão de bom grado. Vamos ver no que dá.


Miami, enfim, iguala intensidade do Indiana, se livra de zebra e está na final da NBA
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Giancarlo Giampietro

Chris Bosh vive na defesa!

Até o Chris Bosh marcou bem nesta segunda. Aí complicou para o Indiana de David West

De tanto que se fala, pode parecer o discurso mais automático de todos, uma falácia, o clichê dos clichês. E nem sempre esse discurso explica tudo, mesmo. Mas que pode fazer diferença? Ô se pode.

Tudo isso para falar de “energia”, “intensidade”, “vontade”, “raça”. São quesitos que supostamente seriam obrigatórios para jogadores que ganham milhões e milhões por seus contratos – só de salário. Mas nem sempre é fácil, assim, de se explicar. Nem sempre estamos falando exatamente de coração: “cabeça” pode explicar isso muito bem: a concentração para executar aquilo que é necessário em quadra.

Paremos por aqui, contudo. Independem as razões para as oscilações de empenho na análise deste Jogo 7: uma vez que o Miami Heat enfim pôde fazer frente, mesmo, consistentemente, frente ao Indiana Pacers  nas pequenas coisas, na briga pelos rebotes, na aplicação defensiva, seu talento fez a diferença. Vitória por 99 a 76 e a vaga nas finais da NBA para enfrentar o San Antonio Spurs.

Comecemos pelos rebotes, a batalha que todos julgaram ser impossível para os atuais campeões desde o começo da série. Nesta segunda-feira, o time da casa dominou as coletas (43 a 36), em especial na tábua ofensiva (15 a 8).

LeBron, rumo ao aro

LeBron e o Miami agrediram muito mais o aro no Jogo 7, sem ajuda dos juízes

Destaque aqui para Chris Bosh. Sim, é possível! No caso, consegue pegar mais de cinco rebotes num jogo! Vocês podem não acreditar, mas ele apanhou nove nesta partida decisiva, um recorde pessoal na final do Leste. Mas a ovação fica por conta, mesmo, de Dwyane Wade. O ala-armador orgulhoso e quebradiço que  até mesmo superou Bosh no garrafão com nove rebotes – seis deles ofensivos! Spoelstra chorou ao checar as estatísticas finais, certeza.

Além disso, temos o caminhão de 21 desperdícios de posse de bola cometidos pelo oponente. Mesmo quando venceram o primeiro tempo período por dois pontos, os jogadores do Pacers não tiveram a chance de se sentirem confortáveis em quadra. Cometeram nos 12 minutos iniciais 9turnovers. Eram 15 ao final do primeiro tempo. Reparem, então: cometeram apenas seis na segunda etapa, mas, francamente, o confronto já estava decidido. Uma vez que o time da casa abriu 15 pontos antes de ir ao intervalo, a fatura estava praticamente liquidada.

Pois o Pacers depende em demasia de seu quinteto titular (mais a respeito em um artigo sobre o fechamento de temporada deles). Significava, basicamente, que seus cinco principais jogadores precisariam fazer um trabalho tão impecável a ponto de tirar uma desvantagem dessas em 24 minutos de jogo contra um time que tem LeBron James. Muito difícil.

Mas mais difícil ainda quando esse mesmo time está jogando com uma defesa dessas. É impossível jogar com esse tipo de suor o tempo todo, 48 minutos por partida. Quando eles conseguem, todavia, entregar por alguns – ou muitos – minutos uma defesa com um nível de pressão acima da média dentro das quatro linhas, fica muito difícil. E só assim, mesmo, para inverter o tabuleiro apresentado apresentado na série.

Penando por todo o confronto com Roy Hibbert debaixo da cesta, resolveram cortar, de uma vez por todas, seu acesso ofensivo. Em vez de parar o poste com a bola dominada, melhor evitar que ele a receba de vez, não? E taca Mike Miller flutuando para a cabeça do garrafão, Bosh (aleluia!) marcando de modo antecipado, nem que fosse com um posicionamento 3/4 consistente, Chris Andersen, Udonis Haslem, Wade, Chalmers, todos eles esticando bem os braços, procurando o passe, acotovelando, cutucando, incomodando, sufocando, desgastando. Sem contar a defesa exemplar de LeBron para cima de George: colado em seu jovem e emergente rival (só 7 pontos em 2/9 de quadra, com 4 assistências e três turnovers), sem perder a pose ou o foco. Impressiona demais mesmo quando não faz cesta.

Como se ele também não tivesse arrebentado no ataque, ué: foram 32 pontos em 40 minutos, 15 deles na linha de lances livres (traduzindo: agressividade ao extremo e sem a ajuda da arbitragem geralmente caseira da liga). Perdeu o medo de encarar Hibbert? Sim. Mas também enfrentou  menos o paredão do Indiana rumo ao aro, uma vez que o gigantão teve um raríssimo problema com faltas no duelo. Além disso, o astro desta vez contou com a ajuda de Wade (19 pontos, 7/15, 5 lances livres) e Ray Allen (10 pontos, todos no segundo quarto decisivo). Quem é vivo aparece, gente. Wade definitivamente não jogou como o craque de sempre, mas ao menos compensou a explosão reduzida com um pouco mais de coragem.

Com a vitória, o Miami se insere num grupo seleto de equipes a jogar a final da NBA por, no mínimo, três anos seguidos: apenas o Los Angeles Lakers (em seis ocasiões), o Boston Celtics (duas), Chicago Bulls (duas), Detroit Pistons (uma) e Knicks (uma, nos anos 50) deram conta disso.

Só mesmo, os elencos mais talentosos para se estabelecer desta maneira.

Desde que a habilidade natural esteja acompanhada por tudo aquilo que os técnicos imploram nessas gravações registradas em discursos inflamados durante paradas de tempo. Súplicas que podem parecer as mais banais. Mas que, no calor de uma decisão, podem fazer toda a diferença.

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Pequenos detalhes. Dentro e fora de quadra. Como Erik Spoelstra  comprovou neste jogo ao limar Shane Battier de sua rotação e inserir Mike Miller. Para os técnicos conscientes, metódicos, é algo MUITO difícil de se fazer. Pense o seguinte: você ficou com um padrão de equipe por mais de 90 partidas no ano. Chega uma hora, porém, em que fica de frente para a parede. As coisas estão difíceis, tem de fazer algo. Mas primeiro você se sente obrigado a tentar até o último instante a reabilitação de um de seus homens de confiança. Até que chega a hora em que diz chega. E, para Battier, ao menos no duelo com o Pacers, chegou o fim. Toca botar Mike Miller, que estava afundado no banco de reservas, em quadra.

Mike Miller x Paul George

Mike Miller, mais do que um chutador e peça quase esquecida no banco do Miami. Talento

Miller foi muito bem em pouco tempo no Jogo 6 e mostrou que estava pronto. Na volta a Miami, não contribuiu em nada no ataque naquele fundamento que basicamente paga seu salário – o chute de longa distância –, mas mostrou por que já foi um agente livre cortejado por James e Wade para se juntar ao time. Porque ele pode fazer, sim, mais do que arremessar. Ótimo reboteador para sua posição, bom passador e um jogador inteligente que cobre bem os espaços dos dois lados da quadra. Fez a diferença em diversas posses de bola dessa maneira: ajudou muito nas dobras defensivas do segundo período derradeiro e conseguiu várias interceptações. Não por acaso, em sua linha estatística, o número mais elevado foi de roubos de bola: três. Parece nada, mas é muito mais do que o esperado e, ao mesmo tempo, descreve muito pouco o que ele fez em quadra.

E ter um Mike Miller como solução de última hora diz muito a respeito do desnível de talento nos dois grupos. O cabeludinho certamente seria o sexto homem do Pacers se estivesse do outro lado.

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Frank Vogel foi duramente criticado por sua decisão de sentar Roy Hibbert na posse de bola final da prorrogação do primeiro jogo. Uma pane que acabou sendo custosa demais, e ele mesmo assumiu o erro. Neste Jogo 7, seu erro foi um o pouco mais sutil, mas também valeu como uma senhora derrapada. Ele falhou feio em sua rotação. Depois de vencer o primeiro período por dois pontos, abaixou a guarda muito rapidamente, ao descansar três titulares de uma vez (DJ Augustin, Sam Young e Tyler Hansbrough), permitindo a reação imediata – e a escapada dos adversários no placar. Uma coisa as estatísticas mais avançadas mostraram claramente na série: quando o Indiana tinha seus cinco titulares, juntinhos, ao mesmo tempo em ação, a equipe venceu o Miami Heat. Qualquer outra formação, porém, mesmo que fosse apenas um reserva acompanhando quatro titulares, deu Miami. Numa partida dessas, era hora de segurar um pouco mais as mudanças, mesmo que se corresse o risco de esgotar o quinteto inicial. Era a hora de ver como o oponente viria para quadra e, aí, tomar uma decisão. Mas tudo bem também: o que o treinador tirou de um plantel limitado desses é incrível, e, apenas em sua terceira temporada como o comandante, está crescendo junto com seus atletas.

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Depois do jogo de cartas e blefes entre Popovich e Spoelstra durante a temporada regular – nos dois confrontos diretos entre dois candidatos ao título, pelo menos um dos times poupou alguns de seus principais jogadores –, agora chegou a hora de eles e suas equipes se enfrentarem para valer em quadra. As finais começam no dia dia 6, quinta-feira, em San Antonio Miami, claro. Expectativa de um grande embate.