Vinte Um

Arquivo : Mike Woodson

Pat Riley apronta novamente, contrata Joe Johnson e desperta ira na NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

O anel que ainda causa barulho na NBA

O anel que ainda causa barulho na NBA

Sem David Stern, se há alguém que chega mais perto do status de um Poderoso Chefão, esse alguém está vivendo em Miami há um bom tempo – sem ter coincidido com o Scarface, diga-se – e que está prestes a completar 71 anos no próximo dia 20. Pat Riley, senhoras e senhores. Ao contratar o veterano Joe Johnson, ele aprontou mais uma vez.

Mas, calma. Não quer dizer que o ala, que estava mofando em Brooklyn, tenha chegado para fazer a torcida festeira do Heat esquecer LeBron. Que ele representa uma evolução, e tanto, comparando com Gerald Green, não há dúvida. Deixa o time mais forte. O exato impacto que terá pelo time ainda está cedo para saber, em que pesem as duas vitórias desde sua estreia.

Por ora, o que chama mais a atenção é a manobra que o clube da Flórida fez para poder acertar com JJ, despertando inveja e, principalmente, a ira de alguns de seus concorrentes. Com uma generosa contribuição de ninguém menos que Beno Udrih, o veterano armador que vai passar por uma cirurgia no pé, não deve jogar mais nesta temporada e, ainda assim, se despediu de South Beach com um gesto que deve fazer dele alguém muito popular na balada.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Foi assim: o esloveno aceitou encerrar seu contrato com o Miami, na chamada decisão de “buyout”, na qual dirigente e agente negociam a rescisão para que, em geral, o atleta possa buscar uma vaga que lhe apeteça mais, enquanto a franquia tem a chance de, eventualmente, poupar uma grana. Até aí normal.

Acontece que Udrih, com a perspectiva de ficar três meses de molho, não vai jogar por mais nenhum time neste campeonato. Ainda assim, aceitou dar um desconto ao Miami, que não precisaria pagar o restante de seu salário na íntegra. Foi algo em torno de US$ 50 mil a 90 mil. Uma pechincha no mundo da NBA, certo? É, dá para falar que sim. Seja 50 ou 90, o que causa revolta em outras vizinhanças é que esse dinheiro é o suficiente para que o escritório de Riley fuja da temível “luxury tax” (a multa da luxúria, hehe).

Johnson chega ao Miami praticamente de graça. Valeu, Udrih

Johnson chega ao Miami praticamente de graça. Valeu, Udrih

O que isso significa? Um lucro imediato de pelo menos US$ 2,6 milhões para a franquia. São US$ 110 mil de economia em multas mais US$ 2,6 milhões que vai receber daqueles times que estão estourados, acima desse limite. Para o futuro, os ganhos são ainda  imensuráveis, já que se livra de algumas amarras impostas pela liga aos clubes que extrapolam o teto salarial constantemente – o que, em Miami, vinha acontecendo desde os anos LeBron.

Sacou?

O Heat ganhou muito nessa. E Udrih? Literalmente, perdeu dinheiro. E por que ele aceitaria isso?

Pois é. É justamente essa a dúvida que atormenta a concorrência. A dispensa de jogadores nessa fase é mais do que normal. Vimos acontecer com o próprio Johnson.  Varejão nem viajou para Portland e já acertou com o Golden State. David Lee chegou a Dallas para, quem imaginaria, dar um descanso a Zaza Pachulia. Andre Miller agora é do San Antonio. Por aí vamos. Udrih será operado e vai esperar até julho, agosto, setembro… para ter um novo time. Se é que isso vai acontecer. Caso aceite, digamos, uma oferta de salário mínimo garantido do Heat, aí podem esperar que a chiadeira vai aumentar, indicando um acordo por baixo da mesa entre ambas as partes.

O legado Udrih: um bom soldado

O legado Udrih: um bom soldado

“Se isso faz sentido para as pessoas, ou não, é o que Udrih quis fazer, o que ele se sentiu confortável em fazer. Ele ainda é um irmão para nós”, afirmou Dwyane Wade. Foi o famoso “valeu, mermão!”, numa cara-de-pau tremenda.

O plano do Miami, aliás, era ainda mais ambicioso. Eles torciam para que o Philadelphia 76ers, com uma vaga no elenco, recolhessem o esloveno durante o período de “waivers”. Aí a consequência seria de que o Miami iria reduzir ainda mais seus encargos, limpando na íntegra os US$ 2,1 milhões de seu salário, para ganhar margem para contratar mais um jogador pelo salário mínimo – e tudo indicava que já tinha um acordo verbal com o cestinha Marcus Thornton, dispensado pelo Houston Rockets.

O Sixers está abaixo do piso estipulado para a folha salarial, e qualquer que seja a quantia devida teria de ser completada e distribuída entre os 14 atletas do grupo ao final da temporada, com uma vaga sobrando. Caberia ali. Mas Jerry Colangelo e/ou Sam Hinkie não aprovaram essa, claro. Até porque Philly vai receber a escolha de Draft do Heat. Então não seria do interesse deles abrir mais uma brecha para o clube da Flórida melhorar seu elenco.

Ainda assim, por mais que Erik Spoelstra esteja com a rotação enxuta, Riley não vai reclamar de nada, por já ter conseguido quebrar, legalmente, o protocolo da liga para adicionar Johnson sem que isso interferisse nas finanças da franquia para o futuro. Foi uma tacada de mestre de sua equipe. O presidente do clube já afirmou que pretende manter o atleta de 34 anos em sua base na próxima temporada e até que ele decida se aposentar. “A coisa mais importante é que o Pat me disse que isso não é um negócio de curto prazo. Ele gostaria que eu encerrasse minha carreira aqui”, disse o jogador.

A empolgação é geral. O veterano respondeu com 18,0 pontos, 3,5 assistências e 65,2% no aproveitamento de arremessos (15-23)  e 50% de fora (3-6) em 31,5 minutos – só não vamos esquecer que foi contra o Knicks e o Bulls, dois times em desarranjo total. Johnson afirmou que seus dois primeiros jogos pelo Heat o fizeram correr como não havia acontecido nos últimos sete, oito, nove anos. Desde que saiu de Phoenix, basicamente. “Eu me senti rejuvenescido. Estou amando este novo começo”, afirmou. Dá para entender tranquilamente o astral do ala, que escapou de uma situação deprimente em Brooklyn para voltar a brigar pelos playoffs em Miami. Além disso, Johnson afirma que passa as últimas seis férias em Miami e que ficaria feliz em deixar seus filhos de 9 e 2 anos em tempo integral num clima mais quente.

Do ponto de vista esportivo, faz sentido a escolha por Miami, em detrimento de LeBron James. O Cavs tem mais time, muito mais chance de lutar pelo título. Mas os minutos, os arremessos e a participação em geral de Johnson seria mais reduzida por lá. Oras, a divisão de tarefas entre LBJ, Kyrie Irving e Kevin Love já é complicada o bastante para adicionar um veterano que não se vê como sexto, sétimo homem de rotação.

No Oeste, o Oklahoma City certamente receberia JJ de braços abertos, naquele papel que já foi de James Harden um dia, que também teve um Kevin Martin e que hoje está carente, independentemente da autoconfiança de Dion Waiters. Segundo o ala, as conexões que ele tinha com o Heat pesaram mais, citando Dwyane Wade , Amar’e Stoudemire e (!?) Udonis Haslem como caras com quem está mais acostumado. Desconfio que a presença de gigantes como Golden State e San Antonio no Oeste seja outro fator que o tenha influenciado. né?

O Brrooklyn não foi bacana

O Brrooklyn não foi bacana

O quanto Johnson pode render é um mistério. Seria razoável esperar um ritmo desses até o final do ano? Não sei bem. O que também não dá para tirar como padrão é o seu rendimento recente pelo Brooklyn Nets. Ele fazia sua pior temporada desde o ano de novato, em 2001-02, entre Boston e Phoenix. Parecia o fim da linha. Mas temos de entender a conjuntura: ele não é o mesmo jogador de dez anos atrás, claro, quando caminhava para sua primeira seleção para o All-Star, quando fazia, muito bem, um pouco de tudo. Fisicamente ele caiu bastante, não tem como. O aspecto motivacional, todavia, também desmoronou junto, ainda mais nesta campanha em que não havia mais a grife de Deron Williams, Paul Pierce ou Kevin Garnett por perto. Pelo que se pode entender, a dupla Thaddeus Young-Brook Lopez não o comovia tanto assim.

Em Miami, ele pode ser uma arma complementar, com a bola vindo das mãos de Dwyane Wade, dono ainda da quarta maior taxa de uso da liga, e eventualmente de Goran Dragic. Para alguém com tanta milhagem acumulada (quase 40.500 minutos só de temporada regular, mais 3.400 de playoffs), o mais prudente seria Johnson jogar fora da bola e ganhar em eficiência com isso. Só precisa ver o quão rapidamente ele pode se livrar desse cacoete, desenvolvido de modo lastimável em Atlanta, sob o comando de Mike Woodson. Wade não parece preocupado: “Quero que Joe seja Joe”. Ponto.

Por falar em rapidez, desde que Chris Bosh foi afastado pela infeliz reincidência de coágulos sanguíneos, perdendo a versatilidade e habilidade do ala-pivô em meia quadra, Erick Spoelstra resolveu acelerar as coisas em seu time, numa reviravolta mais que bem-vinda. Antes do All-Star Game, o Heat era o segundo time mais lento da NBA. Agora, é o 11º mais rápido, vejam só, num ritmo de jogo que favorece muito mais o estilo de Dragic. Antes, o time era o segundo time que menos arremessava (79,5 por jogo). Agora, é o nono que mais busca a cesta (88,3). São mais oportunidades para os atletas pontuarem, e a partilha também aumenta quando se subtrai o volume de jogo que Bosh concentrava. Dragic (jogando, enfim, como o armador em que se investe US$ 80 milhões), Luol Deng (uma surpresa, com 15,0, 10,0 rebotes nos últimos cinco jogos, mas com menos eficiência nos arremessos, é verdade), Hassan Whiteside (que agora resolveu converter lances livres e, mesmo saindo do banco, rumo a um contrato imenso em julho) e até Wade estão produzindo mais.

No coletivo, o time saltou da 25ª posição no ranking de eficiência ofensiva para a 15ª, sem perder em nada em sua força defensiva, campo no qual subiram do sexto lugar para o quarto, vejam só. De qualquer forma, o asterisco de sempre vale aqui: estamos falando de uma amostra bem menor de jogos. Os adversários vão se preparar mais para essa proposta mais agressiva no ataque, enquanto a tabela de jogos vai se reequilibrar. De qualquer maneira, vale acompanhar com atenção esse processo com muita atenção. O time é muito talentoso.

whiteside-hands-miami

Whiteside achou a mão no lance livre e no geral

A questão é se o elenco vai se sustentar, mesmo que o ritmo não seja dos mais frenéticos. No momento, Spoelstra está usando uma rotação de apenas oito homens. Uma rotação de playoff.  Faltam, no entanto, quase dois meses até a fase decisiva começar, e o quinteto titular tem dois jogadores que não são muito conhecidos pela durabilidade. Wade que o diga, com Amar’e lhe fazendo companhia. Qualquer deslize, num Leste muito equilibrado, pode custar a eliminação dos playoffs. O ala-armador dá de ombros novamente: “Essa noção de que possamos correr tanto que eu não seria capaz de acompanhar… é maluca”, diz. É curiosa, nesse sentido, a divisão de forças que Spoelstra tem feito em sua rotação, agrupando os jogadores mais experientes no time que começa as partidas, enquanto Whitside e os promissores calouros Justise Winslow e Josh Richardson saem do banco.

Sem espaço salarial para contratações nem de atletas de salário mínimo, a comissão técnica sabe que esse octeto não deve receber ajuda tão cedo, mesmo com duas vagas abertas – elas só devem ser preenchidas nas últimas duas semanas da temporada regular, para se pagar quase nada em em salário proporcional aos dias restantes no calendário. Gerald Green parece ter entrado em transe – e daí o assédio a Thornton –, Josh McRoberts mal consegue parar em pé e Udonis Haslem já está pronto para assumir algum cargo fora de quadra. Tyler Johnson ainda diz que pode retornar em abril, depois de uma cirurgia no ombro. Bosh não deveria pensar em basquete enquanto não tiver garantia médica de que o jogo não lhe faz mal, ou que não interfere em sua recuperação. É um problema muito sério, que faz do basquete algo menor.

No ano passado, quando Bosh teve uma embolia pulmonar diagnosticada, o Miami desandou e escorregou para fora da zona de classificação dos playoffs. Dessa vez, o time parece mais equipado para suportar a perda de um craque desses, desde que as lesões não se estendam. Esse é mais um testamento da competência de sua diretoria, que se virou como pôde para a montagem de um grupo qualificado, de origem bastante diversificada. Na atual rotação, Wade é o franchise player e Dragic, o agente livre caro, mas adquirido via troca. Luol Deng veio na faixa de US$ 10 milhões. Depois você vai ter Whiteside (desses que justificam a D-League), Stoudemire (fim de carreira, com salário mínimo, mas na melhor forma física dos últimos anos), dois novatos via Draft e Joe Johnson, claro.

Para a próxima temporada, o quadro clínico de Bosh é fundamental, mas Riley terá flexibilidade para poder se intrometer na conversa com os agentes livres mais badalados, dependendo do que decidir sobre Whiteside. Como executivo, ele confia em dois trunfos para tentar atrair caras com a fama de Johnson, mas num ponto ascendente da carreira: o clima e a vida em Miami e, hã, sua própria reputação na liga. São oito títulos de NBA, afinal – um como jogador, cinco na época de técnico e dois como executivo. Desde que chegou a Miami, em 1995, o clube só não foi aos playoffs em quatro anos. Vai argumentar como contra isso? Aí é aturar, mesmo, e conter a inveja.


NBA, onde nepotismo também acontece
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Os irmãos Smith, JR e Chris, agitando em Manhattan

Os irmãos Smith, JR e Chris, agitando em Manhattan

Ray Felton está afastando, com uma lesão muscular na coxa. Pablo Prigioni também, depois de sofrer uma fratura no dedão do pé direito. Iman Shumpert não virou o armador que o time esperava – no máximo, ele consegue controlar a bola apenas como uma segunda válvula de escape. Beno Udrih arrasou ontem contra o Bucks e, ao mesmo tempo, foi arrasado por Brandon Knight.

Tudo isso deixa o técnico Mike Woodson numa situação ainda mais delicada. O New York Knicks já é o time mais decepcionante da temporada. E agora só restou um armador para constar história? Justamente numa posição tão crucial?

E, agora, diabos, a quem ele poderia recorrer?

Ao Chris Smith?!

Acho que não.

Sabe o armador Chris Smith, né? Irmão mais jovem do JR, que ganhou um contrato garantido e salário de cerca de US$ 500 mil para ser o 15º homem do Knicks na temporada, ainda que, segundo relato do superrepórter Adrian Wojnarowski, exista integrantes da própria comissão técnica do time que acreditam que o caçulinha não tenha “sequer talento para ser um jogador da Liga de Desenvolvimento da NBA”.

Chris Smith, nem na liga de verão

Chris Smith, nem na liga de verão

Pois, então. Foi esse o atleta convocado às pressas por Woodson para, ao menos, ajudá-lo a formar dois times nos treinamentos. Ao que tudo indica, Chris não está pronto para encarar um Madison Square Garden lotado e irritado. Na mesma reportagem de Wojnarowski, um gerente geral rival o definiu como “talvez o pior jogador da história das ligas de verão”.

Quando a franquia garantiu o contrato do armador, o burburinho foi tamanho que a direção da liga se viu obrigada a abrir uma investigação interna – obviamente a negociação estava vinculada à renovação com JR, ainda que não haja documentos comprovando isso… Mas até que ponto era algo irregular?

No fim, as repostas que tiveram foram de que não seria um absurdo assim considerar Chris Smith como um cara digno de NBA. “Chris tem talento suficiente”, disse um dirigente, sem se identificar, ao  New York Post. “Ele pode se tornar um jogador da NBA um dia. Algumas equipes preferem manter aqueles que são considerados projetos em vez de jogadores que podem ajudar imediatamente, e Chris é um desses projetos.”

Agora… Obviamente é um projeto. Mas que se frise: de 26 anos. Nascido em outubro de 1987, é mais velho que Stephen Curry, Jrue Holiday, Derrick Rose e Ty Lawson, para citar apenas quatro integrantes de uma das posições mais concorridas da liga hoje em dia. Mais velho também que Brandon Jennings, o atrevido reforço do Detroit Pistons que foi a público no Twitter para questionar o que o (nem tão) jovem Smith fazia por ali, citando dois experientes armadores que hoje fazem carreira na Europa, esperando por uma proposta da liga. “Espere, espere, espere. O irmão do JR Smith está na NBA, mas o Pooh Jeter e o Bobby Brown, não? Pode me chamar de hater, mas isso não dá!”, disparou.

(No fim, o crítico deletou seu post, mas não foi rápido o suficiente para evitar que jornalistas e outros seguidores espalhassem sua mensagem. JR tomou as dores da família. “É meu irmãozinho, então eu vou interferir por ele, de um jeito ou de outro. Não apenas contra Brandon, mas contra qualquer um que diga alguma coisa para ele”, declarou.)

Desnecessário dizer que nem Woodson, nem James Dolan e talvez nem mesmo o ala do Knicks esperam que Chris Smith vire um craque ou alguém do nível de Jennings. Desde o início da temporada, ele foi enviado para a liga de desenvolvimento, defendendo a filial do clube de Manhattan, o Eerie BayHawks. E, mesmo num campeonato com números bastante inflados, o jogador não chega a impressionar, com médias de 11,3 pontos, 4,5 rebotes, 2,7 assistências, 2,0 desperdícios de posse de bola, 24,7 minutos, em seis partidas.

Quando o técnico da equipe, Gene Corss, foi questionado pelo New York Times sobre a perspectiva de Smith se encontrar na NBA, sua resposta não foi das mais entusiasmadas.”Acho que ele tem potencial para trabalhar, continuar a crescer e se tornar um bom jogador. E, qualquer que seja a situação em que ele estiver, acho que pode ter sucesso. Mas você nunca sabe qual a situação que vai rondar um atleta”, disse.

Chega a ser um pouco embaraçoso, não?

Como se um Smith já não fosse o bastante de problema...

Como se um Smith já não fosse o bastante de problema…

Mas tem mais. Mike Woodson nem tem como refutar que o laço de sangue com seu talentoso – mas incontrolável – ala pesa nesse contexto. “Tenho um grande respeito por essa família. É o irmão dele. Eu respeito isso”, disse.

Hein?

E como fica Chris Smith nisso tudo?.

“Isso me ajuda? Obviamente. Ele é meu irmão mais velho. As pessoas querem que fiquemos juntos o tempo todo. E ele me ajudou muito”, afirma.

“É claro que eu tenho muito o que provar”, afirmou o armador ao Times. “Mas eu ainda não consegui jogar direito desde que deixei Louisville. Digo, eu sinto que sou um dos jogadores mais subestimados agora. Mas sempre fui subestimado. Ninguém espera nada de mim. Vão sempre me olhar como o irmão mais novo do JR, porque ele é um atleta fenomenal, sexto homem do ano e tudo isso. Mas eu sempre tive minha própria plataforma, meus objetivos próprios.”

Difícil, porém, é que esses objetivos coincidam com os do Knicks, afundados na Conferência Leste.

*  *  *

O caso de Chris e JR Smith com o Knicks pode ser aquele mais vexatório ou espalhafatoso, mas está longe de ser o único vínculo nepotista na liga norte-americana. O mais grave deles, aliás, deve ser aquele descoberto durante o lo(u)caute que escancarou diversos problemas do sindicato dos jogadores. Entre eles, foi descoberto que o diretor executivo, Billy Hunter, empregava dois filhos e uma nora no órgão. Uma apuração da Bloomberg, aliás, revelou que a família Hunter recebeu mais de US$ 4 milhões em salários durante a década.

De qualquer forma, de modo bem menos escandaloso, o emprego de familiares é usual entre as franquias, especialmente entre treinadores e dirigentes.

Não que a prática seja preliminar ou fundamentalmente errada. É compreensível que, num mundo bastante competitivo, em que por vezes a capacidade de guardar segredos é a mais importante, se corra a alguém da maior confiança. O problema é correr o risco (grande) de misturar as coisas. Quando a confiança é colocada muito da competência. Não se trata de uma regra. Mas, que pode acontecer, ô se pode.

Que o diga Michael Jordan e quem quer que trabalhe para o…

Charlotte Bobcats
No que se refere a nepotismo, Jordan também pode ser considerado o melhor na NBA. Ok, podemos atenuar o termo e dizer que, em matéria de cuidar dos chapinhas do passado e compadres, não tem para ninguém. Buzz Peterson, seu rival dos tempos de colegial e ex-companheiro na Universidade da Carolina do Norte, foi um de seus cartolas. Fred Whitfield, presidente do clube, é seu amigo há 30 anos. Ex-parceiros de Chicago Bulls como Rod Higgins (vice-presidente e manda-chuva do departamento de basquete), Sam Vincent e Charles Oakley também foram aproveitados. Conto em mais detalhes nesta reportagem aqui. Depois que o texto foi publicado, MJ ainda promoveu seu irmão Larry a diretor, no cargo anteriormente ocupado por Peterson.

Cory Higgins, o filho do Rod

Cory Higgins, o filho do Rod

Higgins, aliás, aprendeu direitinho e chegou a contratar seu filho, Cory, como terceiro armador do clube – na época, não havia um scout sequer que entendesse a aposta no jovem graduado pela Universidade do Colorado. O atleta ficou uma temporada e meia na equipe. Aí chegou o dia em que teve de ser dispensado, em dezembro de 2012, olho no olho. “Quando você toma uma decisão como essa, de contratar seu filho, sempre sabe que um dia como esse poderia acontecer. O jogador também sabe disso. O aspecto pessoal é o aspecto pessoal. Mas, quando você dá o próximo passo e se dá conta de que isso é um negócio, você sempre sabe que isso poderia acontecer”, disse o pai, com toda a franqueza do mundo. “Ele não deixa de ser meu milho.”

Então tá.

O Higgins filho tinha média de 3,7 pontos em 10,3 minutos pelo Bobcats, tendo disputado 44 jogos, com aproveitamento de 32,4% nos arremessos de quadra em sua carreira, com 20% nos três.

Em meio a esse contexto, como Jordan ou Higgins poderiam punir Paul Silas, ex-treinador da equipe, quando este optou por não dirigir a draga de elenco que tinha na temporada 2011-2012, pós-lo(uc)aute, quando conseguiram terminar com a pior campanha da história da liga, em termos de aproveitamento de vitórias. Na ocasião, o veterano Paul tinha as melhores intenções. Seu filho Stephen era seu principal assistente, e o papai coruja acreditava que chegaria o dia em que sua cria seria um técnico principal na liga. Então por que não começar logo, pegando experiência? O Bobcats não iria para nenhum lugar mesmo…

(Como podemos testemunhar até hoje. E, antes mesmo da família Silas, os Bickerstaffes haviam tomado conta do banco de reservas. O experiente Bernie foi o primeiro treinador da franquia e teve seu filho John-Blair em seu estafe e por três anos – aos 25, ele foi, inclusive, o assistente mais jovem da história da liga. J.B. hoje trabalha com Kevin McHale no Houston Rockets.)

Minnesota Timberwolves e Boston Celtics
Quando Rick Adelman cedeu e aceitou a bucha que é treinar um Minnesota Timberwolves, ao menos garantiu mais alguns trocados para sua família ao incluir seu filho David em sua comissão técnica. Antes da NBA? O herdeiro havia trabalhado, até então, apenas no nível de high school, em Portland. Não era o currículo mais impressionante disponível no mercado, certeza.

Em Boston, Danny Ainge encontrou um lugar na sua equipe de gestão para o filho Austin. Formado na BYU, na qual foi companheiro do ala Jonathan Tavernari, o Ainge filho migrou direto para o banco de reservas, com terno e gravata. Foi assistente na Southern Utah University e treinador do Maine Red Claws (filial do Celtics na D-League) antes de ser contratado pela franquia mais vencedora da história da NBA.

Em sua defesa: sua saída do Red Claws foi bastante sentida. “Eu sinto muito em ver Austin partir para seu novo cargo com o Celtics”, disse o presidente e gerente geral do clube, Jon Jennings, via release. “Todos nós gostamos de trabalhar com ele. Ninguém trabalhou  mais duro e estava mais comprometido com a evolução de nossos jogadores.”

Além de ajudar o pai na condução e formação do elenco, Austin também quebra um galho do brasileiro Vitor Faverani, ajudando na tradução do espanhol para o inglês, sempre que necessário.

Austin Ainge (e) e o geniozinho Brad Stevens

Austin Ainge (e) e o geniozinho Brad Stevens

Sacramento Kings
Na capital californiana, o processo foi inverso. Michael Malone assumiu o comando de um time pela primeira vez e recorreu ao pai Brendan, extremamente experiente, que seria seu principal assistente. Sua missão seria ajudar a guiar o filho em sua temporada de calouro. Em cerca de três meses, porém, o Malone sênior abriu mão do cargo, dizendo que basicamente não tinha mais paciência para esse tipo de atividade.

“Foi um choque completo para mim. Estava na minha sala, e ele entrou e disse: ‘Estou saindo’. Eu respondi: ‘Aonde você vai?’. E ele simplesmente falou que estava saindo para valer. Foi uma surpresa. Acho que era algo com o qual ele estava lutando por um tempo. Foi difícil lidar com isso e algo muito emocional porque não é apenas a relação de um técnico com um assistente. Há uma dinâmica de pai e filho, mas, para ser justo, eu não estaria aqui se não fosse por ele. Ele me deu um empurrão para chegar aqui”, afirmou o Malone júnior, que vinha fazendo ótimo trabalho no estafe de Mark Jackson no Warriors e com Monty Williams no Hornets, hoje Pelicans, diga-se.

Dallas Mavericks
Don Nelson fechou com Mark Cuban para reestruturar uma franquia que foi uma piada durante grande parte da década de 90. Levou junto na bagagem o filho Donnie, que trabalhou como gerente geral, nos bastidores, como o braço direito de Cuban nas negociações com atletas. O Don filho, porém, já tinha mais o que oferecer. Trabalhou como assistente da seleção lituana em diversas competições coordenou a seleção chinesa por dois anos e em ambos os cargos teve sucesso. Também criou os chamados Global Games, em Dallas, um torneio amistoso que reúne algumas das melhores seleções juvenis do mundo. Ele só ficou em uma situação constrangedora no Texas quando a relação do Don pai e do magnata se estremeceu a ponto de envolver os tribunais. No final, Cuban teve de pagar mais de US$ 6 milhões em um acordo.

Los Angeles Lakers
Bem, o falecido Jerry Buss não quis nem saber: seu legado teria de ser sustentado pelos filhos. Quando seus problemas de saúde o afastavam gradativamente da condução diária da célebre franquia, o Sr. Buss transferiu suas responsabilidades para os dois filhos. Jim ficaria com o basquete. Jeannie, com os negócios. Ric Bucher escreve mais a respeito aqui. Jim foi assistente do gerente geral Mitch Kupchak desde 1998. Na visão dos torcedores do Lakers, é uma nulidade, famoso por seu apreço por corridas de cavalo, por não tirar o santo boné da cabeça e por ter demitido mais de uma dezena de empregados do vitorioso departamento esportivo antes do lo(u)caute.

Jeanie e Jim Buss. Uma popular em LA, outra nem tanto

Jeanie e Jim Buss. Uma popular em LA, outra nem tanto

(Esse processo aconteceu também no Denver Nuggets, lembremos, com Josh Kroenke, de 33 anos, assumindo a presidência do time, deixando o pai Stan mais afastado. Josh jogou por Missouri na NCAA e já marcou Carmelo uma vez. Leia seu perfil aqui, do intrépido Wojnarowski.)

Em quadra, depois de muito tempo separados, hoje em dia para onde quer que Mike D’Antoni vá, ele carrega junto o irmão Dan, mais velho. Enquanto Mike conquistava a Itália – e, sobretudo, Kobe – e Milão, como jogador, depois de passagem não muito brilhante na NBA, Dan era treinador na boa e velha West Virginia, em high school. Na verdade, ele se ocupou disso por (!) 30 anos até ser convencido pelo caçula a assumir um cargo de assistente no Phoenix Suns. A parceria se repetiu em Manhattan e, agora, em Hollywood.

Atlanta Hawks e Utah Jazz
Dias depois de fechar a surpreendente contratação de Paul Millsap, Danny Ferry não foi tão criativo assim ao anunciar seu elenco para a liga de verão de Las Vegas em 2013. As atrações principais eram o brasileiro Lucas Bebê e o alemão Dennis Schroeder, mas não deixava de chamar a atenção o número 45 da equipe, John… Millsap. Irmão (três anos) mais velho de Paul, conseguiu a vaguinha na carona do contrato milionário do ex-jogador do Jazz, claro. A generosidade, no entanto, se limitou a uma assinatura de contrato. Em Vegas, John jogou por apenas 17 minutos, em duas partidas, marcando dois pontos no total.

Em Utah, aliás, John já havia ganhado um empurrãozinho ao defender por um bom tempo o Flash, da D-League, que hoje é chamado Delaware 87ers, afiliado ao Philadelphia 76ers.

Para saber mais sobre a saga dos irmãos Millsap – há ainda Elijah, do Los Angeles D-Fenders, e o caçulinha Abraham, é só acessar o site do Paul.

Golden State Warriors

Seth e Stephen, filhos do Dell

Seth e Stephen, filhos do Dell

Com Stephen Curry e Klay Thompson, o Golden State Warriors causa inveja a muita gente. Será que é justo que o mesmo time possa ter dois arremessadores tão acima da média? Que dois gatilhos desses possam fazer dupla? Bem, há outra franquia que ao menos pode replicar esses sobrenomes. Estamos falando – coincidência ou não! – do Santa Cruz Warriors, filial da equipe na D-League. É lá que jogam Seth Curry e Mychel Thompson, irmãos dos cestinhas.

Seth é mais jovem que Stephen. Os dois herdaram do pai, Dell, a mecânica belíssima e a eficiência nos chutes de longa distância. Mychel, mais velho que Klay, já é moldado de um jeito diferente, muito mais voluntarioso do que o refinado caçula. Os dois são filhos de mais ums ólido veterano da NBA, o pivô Mychal Thompson, bicampeão pelo Los Angeles Lakers em 1987-88.

Comparando com John Millsap, há algo que os separa, contudo. Depois de brilhar pelo Erie BayHawks na liga de desenvolvimento, Mychel foi contratado pelo Cleveland Cavaliers – aparentemente sem influência do sobrenome. Jogou cinco partidas pelo Cavs, sendo titular em três ocasiões. Já Seth se formou pela tradicional Universidade de Duke, sob o comando do Coach K, como um jogador importante na NCAA. Uma grave lesão de tornozelo antes do Draft acabou atrapalhando suas pretensões no recrutamento de calouros. Provavelmente teria espaço em uma grande liga da Europa, mas preferiu acompanhar o irmão na Califórnia.

Los Angeles Clippers
Não foi possível confirmar os rumores de que Doc Rivers, com tantos desfalques, estaria interessado na contratação do Little Chris (Paul) para fortalecer seu banco de reservas:

(Brincadeira. Fui!)


Bargnani x Novak? Knicks confia em reforço italiano para sonhar com título
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Andrea Bargnani x mídia de NYC

Andrea Bargnani e Steve Novak entraram juntos na NBA, no Draft de 2006.

Badalado na Itália, o italiano, “Il Mago”, foi o primeiro da lista de recrutamento de novatos, algo inédito para um europeu. Após sete temporadas, ganhou mais de US$ 48 milhões e ainda tem mais, no mínimo, US$ 11,8 milhões encomendados – ou US$ 23 mi, dependendo do que o New York Knicks optar. Até 10 de julho de 2013, conhecia apenas um só time da liga norte-americana, o Toronto Raptors.

O americano já ficou para lá de contente em ser o número 32 daquela relação, algo de certo modo surpreendente para o ex-companheiro de Dwyane Wade em Marquette. De lá para cá, embolsou US$ 8 milhões em sete anos, três milhões a menos que “Bargs” faturou na última temporada. De qualquer forma, tem mais de US$ 10 milhões garantidos para os próximos três anos. O ala foi selecionado pelo Rockets e trocado para o Clippers em 2008. Assinou como agente livre com o Dallas Mavericks em setembro de 2010. Acabou dispensado em janeiro de 2011. Em fevereiro do mesmo ano, completou a trinca texana ao fechar com o San Antonio Spurs. Foi chutado mais uma vez em dezembro. Dois dias depois, acertou com o New York Knicks. Foi aí que aconteceu a “Linsanidade”, na qual surfou com toda a empolgação possível, mandando bala do perímetro a partir das infiltrações do armador.

Os dois são conhecidos como jogadores altos com ótimo arremesso de três pontos, mas têm status bem distintos, como fica evidente nessa comparação. Até que seus caminhos voltaram a se cruzar há alguns meses, quando Knicks e Raptors fecharam uma transação. A equipe nova-iorquina teve de ceder Novak, Marcus Camby, Quentin Richardson, uma escolha de primeiro round e mais duas de segundo para fechar o negócio.

Por esse preço, julga-se o prestígio de Bargnani como o de uma estrela, não? Foi um superpacote, digno de um antigo número um do Draft. Que muita gente tenha feito troça dos Bockers e louvado mais uma limpa de mão cheia promovida por Masai Ujiri, o novo manda-chuva do time canadense é o problema.

Para o mercado da NBA, o italiano já era visto como um fiasco total, um símbolo de jogador com um salário muito acima do merecido, considerado como o grande motivo para a queda de Bryan Colangelo, antecessor de Ujiri. Colangelo havia fechado uma renovação contratual de mais de US$ 50 milhões por cinco temporadas com seu atleta em 2009, ainda que o jogador de 2,13 m de altura ainda não tivesse apanhado mais de 6 rebotes em média em três campanhas na liga.

Mas Bargnani ainda era novo, apenas com 23 anos. Dá para entender a dificuldade se desvencilhar de uma aposta pessoal dessas, ainda mais pela faceta intrigante de seu basquete. Ele foi um dos muitos possíveis futuros “Dirk Nowitzkis”, daqueles grandalhões com munheca para converter os arremessos de longa distância e a coordenação para driblar arrancando em direção ao aro. Uma versatilidade que encanta, mas que nem sempre se traduz em quadra. O astro alemão é um workaholic. Sua habilidade e dedicação contumaz são únicas, difíceis de se equiparar.

Já Novak não tem nada de potencial para se explorar nesse sentido. Tem uma e só qualidade que lhe sustenta na liga: o tiro de longa distância, na qual é um sniper, com média de 43,3% na carreira e quatro temporadas com um mínimo de 41,6%. O italiano, por sua vez, chegou a converter 40,9% em 2009, mas só vem caindo desde, então, terminando os últimos dois anos com uma pontaria abaixo de medíocre – 29,6% e 30,9%. O tipo de arremesso que sobra para um é diferente do que resta para outro, diga-se.

Seria a pressão por encabeçar um Draft? A falta de fome? As constantes lesões? Ter começado num time com Chris Bosh, um jogador de certa forma semelhante e que pode ter tolhido seu desenvolvimento na entrada na liga? A falta de estrutura na comissão técnica ou clube? Ou simplesmente ele não era bom o bastante? Não há uma só resposta definitiva para entender o que deu errado na jornada do italiano acima do lago Michigan. Fato é que as médias de 15,2 pontos, paupérrimos 4,8 rebotes, 0,9 tocos e 43,7% nos arremessos valeram como uma enorme decepção.

E o que fazer com uma peça rara dessas em Nova York? Justamente na cidade com a mídia mais implacável, com tabloides diversos prontinhos para estorvar? Para ponderar: o Brooklyn Nets conseguiu Kevin Garnett, Paul Pierce e Andrei Kirilenko. O Knicks, se corroendo de inveja, tem um “Bargs” para apresentar – além do #mettaworldpeace, claro, que é uma oooooutra história.

Vai encarar?

De um jeito outro, o italiano é obrigado a. E o técnico Mike Woodson acredita que pode ajudá-lo neste sentido, confiante depois do trabalho que fez com JR Smith e Raymond Felton no ano passado. “Não acho que você pode desperdiçar a oportunidade de contar com uma peça como Bargnani”, disse. “Ele é um desses jogadores talentosos que acho que posso influenciar. Já o assisti muitas vezes de longe, treinando contra ele em Toronto. Acho que ele pode fazer uma série de coisas. Só tenho de deixá-lo aclimatado ao que estamos fazendo, se sentindo bem, porque ele realmente pode ajudar este clube.”

Já Carmelo Anthony fala de um jeito mais desbocado. “Não tem pressão para cima dele”, afirmou. “Você tem de vir aqui e jogar bola. Toda a pressão está em mim. Deve ser uma transição fácil para ele, se ajustar a isso. Apenas faça as coisas certas, e o resto deveria ser fácil.”

Melo até que tem razão. Se as coisas não derem certo para o Knicks, pode ter certeza de que ele, Amar’e, Chandler e Smith, além de Woodson, da diretoria e do proprietário James Dolan, vão aparecer na frente na lista dos críticos. Com o volume de cobertura, porém, de que o time desfruta, sempre dá para sobrar uma farpa para um ragazzo.

Tendo que se preocupar não apenas com o Nets, mas também com Pacers, Bulls e, claro, Heat, para cumprir as expectativas (irreais?) de um tão cobrado título, o Knicks vai precisar de tudo o que Bargnani puder entregar. Nem que seja – pelo menos e quem diria? – simular o rendimento de um Novak na linha de três pontos. Nessa hora, não é mais o prestígio que conta. Mas, sim, a produção.


Knicks diversifica ataque e resgata Carmelo Anthony para empatar série
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Melo no ataque

Carmelo ataca o grandalhão Hibbert em movimento

Em seus últimos quatro jogos, Carmelo Anthony havia arremessado 110 vezes. E acertado 35. Isso dá um aproveitamento de 31,8%, e não estamos falando de chutes de três pontos, mas arremessos de todos os cantos da quadra, incluindo os mais próximos ao aro.

Cruzes, hein?

Dos números acima, o número que assusta mais, acho, são as 110 tentativas. Média de 27,5 por jogo. Quer dizer, Melo estava, no mínimo, jogando por 55 pontos possíveis por duelo, sem contar os tiros de longa distância e os lances livres. Chuta, chuta, chuta, e chuta mais um pouco. Depois perguntam por que o Tyson Chandler tem dores nas costas. Vai pular tanto assim por rebote, vai. 😉

Mas é desta forma que o New York Knicks foi construído, mesmo. Seu plano de jogo vive ou morre por seu superastro. Felton vai ciscar aqui e ali para tentar abrir a defesa. Os chutadores vão se espalhar pelos cantos do ataque e o ala vai aparecer no “cotovelo” do garrafão para entrar em ação e gastar seu vasto repertório de movimentos.

O problema é que, de tanto recurso que o cara tem, por vezes o ataque da equipe pode ficar muito acomodado, estagnado, um prato cheio para boas defesas. Bota no Melo que ele resolve, ué. E a estrela gosta – tem a vocação de Oscar, Kobe, Jordan, Marcelinho neste caso, de atirar primeiro e perguntar depois.

Nesta terça, porém, na surra por 105 a 79, sobre o Pacers, igualando a série em 1 a 1, o Knicks procurou diversificar um pouco suas ações ofensivas e, enfim, resgatou seu cestinha do Pólo Norte.

Em vez de se contentar com jogadas de isolamento contra um defensor versátil e eficaz como Paul George. Em diversas ocasiões, mas, especialmente no segundo tempo, Felton e  Prigioni davam aquela enroladinha básica com a bola ao cruzar a quadra, enquanto o ala partia em direção a Chandler para uma série de corta-luzes diferentes – e Chandler, com sua envergadura e agilidade, é um dos melhores nesse quesito, daí que, se você for olhar sua linha estatística e dizer que, poxa, “fulano fez só oito pontos e pegou quatro rebotes”, pode correr o risco de julgar sua partida como ‘fraca’, ‘apagada’, quando há muitas outras formas de se contribuir para uma vitória no basquete.

Para ficar mais divertido, por vezes, o próprio Carmelo fazia um corta-luz prévio em cima do marcador de Chandler para, depois, receber a troca de favores do pivô, numa ação que pode deixar os defensores desnorteados, liberando o atacante por alguns segundos preciosos. O passe vem na mão e aí é caixa. Além disso, Anthony partiu para outros cantos da quadra e também procurou se desgarrar rapidamente, em movimento, em situações de transição, antes que a sufocante defesa do Pacers se recompusesse inteiramente.

Resultado: oele voltou a ter um a ter um volume de jogo altíssimo, com 26 disparos, mas com um rendimento bem mais palatável, convertendo exatamente a metade, aproveitando seu melhor posicionamento. Terminou com sua linha clássica de 32 pontos e 9 rebotes.

Se os chutes de longa distância no geral não caíram com a frequência desejada – foram apenas 10 cestas em 30 –, a (nem tão) simples reabilitação de Carmelo é uma notícia para o técnico Mike Woodson e o torcedor  (e cineasta genial nas horas vagas) Spike Lee.

Agora só resta mais uma expedição ao frio polar para recuperar JR Smith. Este ainda está com as mãos congeladas.

*  *  *

O que mais deu certo para o Knicks?

Na defesa, para tentar cortar o jogo interior potente do Pacers, Woodson resolveu atacar a raiz, com razão. Sua defesa pressionou bastante as linhas de passe e desestabilizou os limitados atletas de perímetro do adversário, que cuidaram muito mal da bola, cometendo 21 turnovers. Quatro atletas de Nova York tiveram dois roubos de bola – foram 11 no geral para equipe.

Esse abafa funcionou com perfeição do final do terceiro período em diante, quando os visitantes ficaram mais de dez minutos sem fazer uma cesta de quadra. Impressionante: sem saber o que fazer, a rapaziada tacava bolas desequilibradas de fora para amassar o aro do Garden. Foi essa sequência que tornou um jogo apertado em 36 minutos numa lavada ao final dos 48.

*  *  *

Pablo Prigioni teve um jogo perfeito: com 10 pontos, 4 assistências, 4 rebotes, convertendo todos os seus quatro arremessos, dois deles de longa distância, sem perder a bola uma vez sequer. A exigente torcida nova-iorquino aprovou e gritava “Pablo!” toda hora. Engraçado ver um veterano como o argentino virando mascote a essa altura da carreira.

*  *  *

Do lado do Pacers, a despeito de seus sete erros com a bola, impressiona a confiança com que Paul George vem se apresentando nos playoffs. Dá para perceber de cara por sua postura corporal, agindo com desenvoltura e firmeza em seus movimentos. Cresceu demais o rapaz na ausência de Danny Granger e com as tentativas, erros e acertos ao longo do campeonato.

 


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>