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Arquivo : Laprovittola

Guia olímpico 21: o que esperar da Argentina?
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Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira, iniciamos uma série sobre as equipes do torneio masculino das Olimpíadas do #Rio2016:

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Lá vem o Luis de novo

O elenco
Armadores: Facundo Campazzo e Nicolás Laprovítoola
Alas: Manu Ginóbili, Nicolás Brussino, Patricio Garino, Gabriel Deck e Carlos Delfino.
Pivôs: Andrés Nocioni, Leo Mainoldi, Luis Scola, Marcos Delía e Roberto Acuña.

A troca de gerações está encaminhada. Claro que eles vão sentir essa passagem. Nenhuma seleção internacional perde jogadores como Luis Scola, Manu Ginóbili e Andrés Nocioni sem sofrer um baque.  A não ser os Estados Unidos. Se algum dia vão poder brigar novamente pelo ouro olímpico? As perspectivas não são tão otimistas, mas está muito cedo para dizer. Mas pelo menos a Argentina pode olhar para seus 12 olímpicos e perceber que há um caminho a ser seguido pelo próximo ciclo.

Entre atletas nascidos nos anos 90, os armadores Facundo Campazzo e Nicolás Laprovíttola, os alas Nicolás Brussino, Patricio Garino e Gabriel Deck e mesmo os pivôs Marcos Delía e Roberto Acuña já compõem uma sólida base para futuros torneios. Especialmente os armadores, que estão subindo degraus na Europa consistentemente, rumo aos grandes clubes do continente. Prometem bastante os eventuais duelos com Raulzinho, Ricardo Fischer, Rafael Luz, entre outros da nova geração brasileira.

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Mas vale prestar atenção nos laterais. Brussino é quem vai ficar mais visado agora, pelo fato de o Dallas Mavericks estar apostando em seu talento – seu contrato, de todo modo, não é garantia: o garoto vai ter de brigar por uma vaga no elenco de Rick Carlisle em outubro. O rapaz de 23 anos não pára de crescer, tem muita envergadura para incomodar na defesa, a despeito do físico franzino, e no ataque pontua com inteligência, se deslocando pela quadra em busca de espaço para o arremesso. Ao meu ver, Garino é um prospecto mais interessante, ou pelo menos mais confiável, seguro para uma aposta. Atlético, forte, aguerrido, pode fazer um pouco de tudo em quadra, vai fazer longa carreira na Europa se a NBA não lhe abrir as portas (alô, Orlando, vocês viram a liga de verão em casa).

Garino chegou para ficar na seleção

Garino chegou para ficar na seleção

(O mais promissor deles acabou cortado por Sergio Hernández: Juan-Pablo Vaulet, draftado pelo Nets no ano passado. Vaulet é de um enorme talento, com capacidade atlética bem acima da média, agressividade para atacar o aro, coletar os rebotes e defender. Tem muita personalidade. Só não dá para cravar que vá virar um craque para liderar a seleção por dois motivos: primeiro, seu arremesso ainda é uma calamidade e, segundo, seu histórico de lesões já é muito preocupante para um garoto de 20 anos.)

A presença de jogadores mais jovens é um alívio para os mais veteranos, podendo fazer o serviço sujo – desde que Hernández não peça para Nocioni aliviar, o que é impossível. E ainda tem a incrível história de Carlos Delfino, que não jogava há três anos, passou por sete cirurgias no pé direito e foi chamado por pura fé.

Rodagem
A Argentina chegou à disputa por medalhas nas últimas três Olimpíadas, ganhando o ouro em Atenas 2004 e o bronze em Pequim 2008. Há quatro anos, os caras derrotaram a seleção brasileira num jogo dramático, mas perderam para Estados Unidos e Rússia e ficaram em quarto. Do grupo de Londres 2012, apenas cinco estão de volta, porém, e um deles é Delfino, que a gente nem sabe se vai conseguir jogar para valer. Leo Mainoldi não estava naquele grupo, mas tem muita bagagem. Do restante do elenco, Laprovíttola e Delía participaram de todas as competições com a seleção principal desde 2013. Garino, Brussino e Deck foram introduzidos ao time no ano passado, enquanto Acuña é estreante.

Para acreditar

Ainda não é simples ficar no caminho de Ginóbili

Ainda não é simples ficar no caminho de Ginóbili

Vou confessar aqui: não gostei nadinha deste uniforme dourado que a Argentina tem apresentado em amistosos. Mas é óbvio que ele diz muita coisa e vale para além do marketing. É só um questão de recordar que não faz muito tempo ainda que a seleção fez uma das campanhas mais memoráveis do torneio olímpico para ser campeã em Atenas 2004.

Chega uma hora em que nossos vizinhos ao Sul não poderão mais levantar essa credencial, tentando dar carteirada toda hora. Mas, enquanto o trio Scola, Nocioni e Ginóbili estiver por aí, é melhor respeitar. Mesmo com os três estando hoje mais próximos dos 40 anos do que dos 30, vai haver diversos confrontos na primeira fase em que eles ainda terão pelo menos dois dos três, quatro melhores atletas em quadra. Sim, ainda. Pode escanear os elencos de seus adversários e conferir isso aí.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?
>> Espanha ainda depende de Pau Gasol. O que não é ruim

Com disse Delfino em alguma entrevista que vi por aí, talvez a excepcional ao Basket Plus mesmo, em que ele solta alguma coisa sobre o croata Dario Saric nesta linha: “Vejo muita gente falando sobre ele. Ok. Mas, para a Olimpíada, se tivesse de escolher entre Saric e Scola, o que faria?”, perguntando de maneira retórica. Pois é. O mesmo raciocínio vale para Manu, que só não tem números maiores pelo Spurs porque não compensa para Gregg Popovich desgastá-lo antes dos playoffs.

Questões
A Argentina está renovando seu elenco, mas seus principais atletas não vão correr muito. Dos três craques, apenas Nocioni ainda tem o preparo para ir de um lado para o outro da quadra sem parar. Só porque é maluco, mesmo. Scola nunca foi desses – seus arranques são apenas oportunistas, em contragolpes certeiros. Então, ou Campazzo sai em disparada com qualquer atleta mais jovial que esteja em ação, ou o time se vê obrigado a atacar quase sempre em cinco x cinco.

Esse ritmo mais lento vai obrigar que Scola seja o Scola de sempre, em pick-and-rolls and pick-and-popcom Campazzo, em jogadas de costas para a cesta. Vai forçar também que Ginóbili consiga se esgueirar pelas defesas como foco primário ou secundário do ataque. Que Campazzo e Laprovíttola consigam conduzir o time sem turnovers, mas sem se tornarem burocráticos – nenhum deles é um Prigioni ou Pepe Sánchez. Tudo isso é bem possível.

O problema maior diz respeito ao sistema defensivo e rebotes. Foi na tabela que a equipe foi destroçada pelos brasileiros há dois anos, pela Copa do Mundo. O que pega é que os dois melhores pivôs do time, Scola e Nocioni, são craques e fazem muita coisa em quadra, menos a proteção do aro. Além disso, os dois têm coração enorme, mas não são caras de 2,10m de altura. É difícil lidar com um Gasol, um Valanciunas, um Nenê ou mesmo um Ezeli, do ponto de vista físico e atlético. Esse é o desafio de montar uma linha de frente com Nocioni e Scola. Se os dois fossem companheiros de clube na Europa, por exemplo, num Real Madrid, é muito provável que um seria o substituto do outro.

Por fim, temos Carlos Delfino. Depois de três anos parado e sete cirurgias, foi convocado ‘no escuro’ por Hernández. É uma história maravilhosa, realmente. Mas não dá para saber o que o veterano pode fazer pela seleção depois de retornar ao esporte apenas nesta fase de amistosos, após três temporadas afastado. Quando no auge, Delfino ajudava nos rebotes, nos arremessos de fora e também poderia criar jogadas em situações de aperto para a seleção.

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As primeiras impressões sobre o Flamengo 2015-2016
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos já está voando pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Marquinhos já se candidata a MVP pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Algumas notas com base do que vi dos jogos contra o Orlando Magic e Bauru. Vamos lá:

Quem já está acelerando, voando em quadra? Marquinhos. Entre o basquete que pôde apresentar pela seleção pela Copa América e o que já ofereceu nesta segunda em Bauru, são dois mundos completamente diferentes. Descendo a ladeira da Panela (veja só as frases absurdas que alguém pode construir…), o veterano ala lembrou novamente a força que pode ser em quadras nacionais.

Contra Bauru, mesmo que seu aproveitamento de quadra não tenha sido o mais eficiente, com 17 pontos em 16 arremessos (2/7 de três), a notícia que fica é a volta de seu arranque com a bola, batendo até mesmo os armadores que tentavam cercá-lo. A defesa bauruense, em geral, só conseguiu pará-lo com faltas (foram cinco recebidas). Também deu oito passes para a cesta e apanhou sete rebotes. Acreditem: nos grandes jogos, a atual configuração do Flamengo vai precisar dessa agressividade e desse tipo de rendimento.

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Ao blog, o ala disse que durante as férias fez um trabalho específico com personal trainer e ganhou mais massa muscular, com a ideia de chegar na melhor forma na reta final da competição. Que será a hora de brigar por troféus e, além disso, principalmente, se apresentar a Magnano tinindo.

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José Neto não quis dizer que sim, nem que não após a derrota para o Bauru. Na verdade, o técnico não estava com cara de quem topava discutir muita coisa com nenhum jornalista na segunda-feira, apelando a respostas cada vez mais evasivas, seja por esconder o jogo, para preservar seus atletas ou por entender que o interlocutor não está preparado para assimilar sua carga tática. Vai saber.

Então, diante de um silêncio efetivo, nos resta fazer deduções, que já vêm desde o fechamento do elenco rubro-negro para a temporada 2015-2016. Ainda que o comandante seja o mesmo, o time tende a mudar bastante.

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

É claro que eles ainda vão pontuar em transição. As cestas no contragolpe são em geral aquelas mais visadas, mais fáceis, depois dos lances livres.  Mas suas peças novas sugerem que essas escapadas serão mais esporádicas e só na boa, na certa, especialmente contra adversários mais qualificados.

A saída de Laprovíttola, Benite, Felício e até mesmo de Herrmann (versão ala-pivô) resultou numa grande perda de velocidade e arrojo. Dos quatro novos protagonistas, apenas Rafael Mineiro tem velocidade e/ou predisposição para correr quadra inteira e atacar. Rafael Luz, jovem, obviamente também daria conta, mas sua vocação é para um jogo mais controlado, pelo que pudemos ver em seus jogos pelo Obradoiro e pela seleção brasileira pan-americana. Também oriundo do basquete espanhol, Jason Robinson, por ora, está no mesmo ritmo. Sobre João Paulo Batista, nem precisamos nos estender.

>> Alguém pode impedir uma final entre Bauru e Flamengo?

Sobraria, então, para Marquinhos ser esse propulsor. Agora: se correr é uma forma de evitar o choque físico, gera tanto ou mais desgaste, e não sei bem se você vai querer sobrecarregar seu melhor jogador, por mais que ele se apresente em excelente forma e que a preparação física do flamenguista seja a melhor do país.

De volta ao país após mais de 10 anos, JP vai chamar constantes marcações duplas

De volta ao país após mais de 10 anos, JP vai chamar constantes marcações duplas

Se o Flamengo não vai correr tanto, precisa compensar na execução de meia quadra, com um basquete mais bem engendrado e de imposição técnica e física. E eles têm jogadores inteligentes e talentosos para tanto. Cabeça por cabeça, talvez seja o coletivo de maior QI do NBB.

O jogo interior tem tudo para ser o mais poderoso do liga, e de longe. JP é um dos cestinhas mais eficientes e oportunistas da liga, podendo render tanto com o chute de média distância como de costas para a cesta em isolamento, bem como em deslocamentos sorrateiros a partir do corta-luz. Rafael Mineiro é elástico e ágil demais para alguém de sua estatura e, se ganhar a confiança da comissão técnica e dos companheiros, pode render em diversos pontos de ataque. Meyinsse ainda é uma dor-de-cabeça (e de costelas, baço, rim e tudo o mais) perto da cesta, enquanto Olivinha vai trazer a energia e o faro de bola de sempre. Ao redor deles, Marquinhos, Robinson e Marcelinho vão arremessar de três pontos com prazer. É de se esperar que Mineiro e Olivinha também subam para chutar.

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Rafael Luz vai botar esses caras para jogar. Para lidar com o armador, é preciso entender as diferenças entre seu jogo e toda a criatividade de Laprovíttola. O novo armador não vai entrar em quadra pensando em marcar 20, 15 ou mesmo dez pontos. Mas talvez termine com sete assistências, seis rebotes e quatro roubos de bola. Poderia olhar mais para a cesta, certamente. Houve um lance no segundo tempo contra Bauru em que ele pegou o rebote ofensivo a dois passos do garrafão, pela direita, no fundo da quadra, e, se o pensamento de arremessar passou por sua cabeça, foi bem rápido, pois ele virou a cabeça automaticamente para a direção contrária e fez o passe para fora. O técnico Neto, figura sempre agitada ao lado da quadra, não conseguiu esconder sua frustração com o lance. O mesmo aconteceu quando Rafael errou um passe bobo para um desatento Marquinhos a 3min52s do fim, resultando em turnover e sua quarta falta, para cima de Fischer, brecando o contra-ataque, quando a partida pegava fogo (foi uma das tantas chances de empate que o Flamengo desperdiçou no quarto período, diga-se).

Parece sem confiança na hora de finalizar, no momento. Mas há muito o que ele pode oferecer a um time com sua pegada defensiva (é um armador alto, forte e combativo) e senso de organização. Um passe pode fazer mais bem que o arremesso. Quanto mais entrosado estiver com os novos companheiros, mais influência positiva ele vai exercer sobre eles. Só é preciso um pouco de paciência e que se evite comparações entre jogadores completamente diferentes.

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Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Jason Robinson é uma incógnita.O americano tem 35 anos e, em 2013, chegou a pensar em se aposentar. Quanto estendeu a carreira, viveu talvez sua melhor temporada em 2013-2014, pelo San Sebastián, sendo o segundo principal cestinha da Liga ACB. Isso não é para qualquer um, mas foi um tanto bizarro para um jogador que por grande parte de sua trajetória frequentou as divisões menores da Espanha ou até mesmo de Portugal. Pelo Zaragoza, no ano passado, seu rendimento já não foi mais o mesmo. Ainda assim, é um cara experiente, rodado para compor a rotação flamenguista no perímetro. Mas também alguém beeeeeeem diferente de Vitor Benite.

Está claro que o jogo de transição não é para ele. No segundo tempo, durante a reação flamenguista, ele abriu mão de várias chances de contra-ataque, preferindo ir com calma. Está muito cedo para avaliar o ala. Em um primeiro momento, parece um atleta complementar, que sabe fazer um pouco de tudo no ataque e está respeitando e conhecendo os companheiros, enquanto assimila aquilo que o cerca. Na defesa, fez um bom papel contra Alex nas ocasiões em que estiveram duelando.

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É por isso que não estranharia se, no decorrer da temporada, o mundo desse mais uma volta, e Marcelinho Machado, aos 40 anos, se torne uma peça fundamental para o Fla mais uma vez, como um parceiro de Marquinhos na agressão e criação de jogadas.

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Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Rafael Mineiro saiu de reforço do Mundial para inimigo público em Bauru, sendo o jogador mais *homenageado* pela torcida legal. Claro que, na esportiva, dá para entender, já que ele saiu de um clube para o outro. A verdade é que o pivô flamenguista passou por uma sequência de trocas de camisa que dificilmente vai ser replicada por algum jogador brasileiro. Vejamos: em agosto, ele estava a serviço da seleção. Quando voltou do México para casa, defendeu o Limeira brevemente pelo Paulista, até o time ser eliminado e o clube anunciar que estava fora da temporada, mesmo. Aí ele encontrou no Bauru um lar temporário, reforçando a rotação interior que trombaria com astros de Real Madrid, New York Knicks e Washington Wizards. Foram duas semaninhas de treino, jogos e viagens até que, por fim, assinasse com o Fla. Pura loucura. Mas é um jogador de fácil encaixe, devido a sua versatilidade e habilidade defensiva.


E o professor Scola deu uma aula na molecada canadense da NBA
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Giancarlo Giampietro

Mais uma exibição histórica de Scola pela Argentina

Mais uma exibição histórica de Scola pela Argentina

O professor Luis Alberto Scola, 35 anos, resolveu ensinar a molecada canadense que, no mundo Fiba, as coisas podem ser mais complicadas do que se espera. Nesta terça-feira, essa verdadeira lenda argentina marcou 35 pontos e pegou 13 rebotes, em 34 minutos, e liderou uma estrondosa vitória por 94 a 87 sobre a geração NBA de uma potência emergente.

>> Brasil vence a República Dominicana, com 8 minutos de ótimo basquete

Só no terceiro período, quando os jovens adversários começavam a se empolgar, foram 18 pontos, para deixá-los perturbados. Dá para dizer que, diante do volume de jogo impressionante do veterano, a seleção norte-americana se desestabilizou um pouco e teve de correr atrás do placar no quarto período.  Simplesmente não sabiam o que fazer contra o craque.

Foi um pouco de mais do mesmo do ponto de vista brasileiro, um tanto castigado por tantas surras que Scola nos aplicou. Um terror por toda a zona interior, atacando de frente e de costas para a cesta, com fintas para todos os lados, a munheca infalível e muita inteligência. É algo que sempre me maravilha e não consigo responder: o que é mais sensacional em seu jogo? A habilidade ou o instinto? São os fundamentos que permitem ele tomar decisões inesperadas pelos defensores, ou é a tomada de decisão que facilita a execução? Não importa. Os dois andam juntos e, com isso, temos uma figura legendária para acompanhar. Agora contratado pelo Raptors, é de se imaginar o quão calorosa será sua recepção em Toronto, né? ; )

Para os jovens canadenses, como Anthony Bennett, Kelly Olynyk, Andrew Nicholson e Dwight Powell, todos eles concorrentes na grande liga, era algo novo. Pelo Rockets, pelo Suns ou pelo Pacers, o argentino que eles conheciam era outro jogador, mais comedido. Daí que era até engraçado quando o veterano errava um arremesso e, segundos antes de a bola bater no bico, já estava de prontidão para coletar o rebote e encestar, num mesmo movimento, deixando atletas mais altos e/ou mais ágeis para trás, sem entenderem o que acontecia direito. E quando Scola puxava contra-ataque sem que ninguém se aproximasse deles, com os oponentes demorarem para persegui-lo, já apressados.

Correr, aliás, foi algo que o Canadá tentou fazer, para se aproveitar de sua condição atlética e tentar, quem sabe, cansar o pivô rival. Mesmo depois de cestas argentinas, o time de Jay Triano tentou acelerar em transição. Acontece que nossos vizinhos ao Sul estavam preparados para conter essa correria, por mais que os armadores Cory Joseph e Phil Scrubb rompessem, vez ou outra, a defesa para atacar o aro. Foram 12 pontos em contragolpes para eles.

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No geral, porém, a Argentina refreou como podia o arranque e o vigor físico deles, somando inclusive 14 pontos em sua transição e ainda vencendo a batalha dos rebotes por 45 a 39. Também soube cuidar da bola, limitando seu ataque a apenas nove turnovers. Mesmo com um conjunto também bastante renovado, a Argentina jogou com intensidade e maturidade.

Ajuda ter líderes como Scola e Andrés Nocioni (15 pontos e 5 rebotes) ao lado, obviamente. Os dois causam um impacto imenso, cuidando de pequenas coisas em quadra com atenção e esmero. Também é preciso dizer que o time de Sérgio Hernández não é só Scola+Chapu contra a rapa. A começar pelo técnico, que vai fazendo um trabalho bem mais interessante que o de Julio Lamas. Pode parecer bobagem, mas o “Ovelha” foi influente até mesmo ao saber esfriar os canadenses com pedidos de tempo providenciais quando as enterradas e bolas de três sucediam. O mais importante, porém, é seu trabalho para captação de talentos e saber como usá-los. Contra os canadenses, o treinador armou um ataque todo espaçado para dar centímetros e segundos preciosos para seu grande jogador atacar.

O camisa 4 usou todo o seu repertório, mas não viu, surpreendentemente, muitas dobras defensivas, pois havia ameaça no tiro exterior — a despeito do aproveitamento de 5-29, 26%. Além disso, temos na Cidade do México uma equipe em que cada um conhece seu papel e vai executando suas obrigações de modo competente. O universitário Patricio Garino se encaixou perfeitamente ao lado dos campeões olímpicos com sua aplicação tática. Ótimo marcador, atacante oportunista e que não tenta fazer o que está além de suas capacidades. Depois de campanhas muito ruins, Leo Mainoldi acertou a munheca. Tayavek Gallizzi soube peitar os canadenses para dar alguns minutos de descanso aos veteranos.

A maior ajuda, mesmo, veio dos armadores. Nícolas Laprovíttola teve uma atuação que já deixa o torcedor flamenguista saudosista — e os dirigentes do Lietuvos Rytas, para onde está indo, bastante animados. Foram 20 pontos, 4 assistências e 4 rebotes em 21 minutos para o barbudo, que foi realmente dominante quando esteve em quadra. Já Facundo Campazzo, que pouco jogou pelo Real Madrid durante a temporada, anotou 10 pontos, seis assistências em 18 minutos. Juntos, eles acertaram 12 de 17 arremessos de quadra, agredindo e sem forçar a barra. Talvez os canadenses pudessem ter tentado uma pressão maior para cima dos armadores. Mas talvez isso não fizesse a menor diferença. Foi uma grande exibição da dupla.

O espevitado Brady Heslip, que, guardadas as devidas proporções, seria um jovem Juan Carlos Navarro canadense, bem que tentou fazer frente a eles do outro lado da quadra. Com uma mentalidade agressiva e sua mecânica perigosíssima, não deixou a coisa desandar para valer e conseguiu tirar seu time do sufoco em situações de meia quadra. Ele que é justamente um dos três atletas do grupo de Jay Triano que hoje não têm contrato com a NBA.

Andrew Wiggins teve seus lampejos, com direito a uma enterrada para cima de Nocioni, com direito a uma audaciosa encarada na sequência. Imagino o desespero de Flip Saunders ao ver a provocação de seu jogador, que é muito jovem e talvez não soubesse exatamente com quem estava mexendo. O rapaz tinha apenas 9 anos de idade quando Chapu estava recebendo sua medalha olímpica. Wiggins também ainda não é um ala que possa criar situações por conta própria e carregar uma equipe nesse tipo de jogo.

Dos mais experientes da equipe, Kelly Olynyk foi engolido por Scola na defesa — neste ponto, o técnico Jay Triano de um caldeirão de sopa para o azar ao confiar no ala-pivô para segurar a lenda argentina no mano a mano. No ataque, voltando de lesão, o cabeleira do Celtics se não teve a melhor leitura de jogo, chutando quando tinha espaço para atacar e cortando para a cesta quando o garrafão estava congestionado. Brigou lá embaixo, é verdade, terminando com 11 pontos, 10 rebotes e mais 4 assistências para os companheiros. Mas errou 0 de seus 13 arremessos, em 23 minutos, falhando em todas as suas quatro tentativas do perímetro.

O Canadá não fez uma partida ruim, para assustar. Mas acabou acusando o golpe desferido por Scola e seus amigos baixinhos. Agora vai ter se recuperar rapidamente. Eles ainda têm Porto Rico, Venezuela e Cuba pela frente, após uma derrota que não é nenhum absurdo, mas não estava nos planos de uma seleção considerada a grande favorita ao título e a uma das vagas olímpicas. Por sorte, o próximo jogo é contra os cubanos, o que tende a ser um treino. Esse, sim, o tipo de jogo que não tende a passar nenhuma lição.


Porto Rico vence Brasil: notas sobre o amistoso
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Giancarlo Giampietro

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

A Copa Tuto Marchand é um evento meio estranho. Tem estatísticas da Fiba, nome de torneio, banca de oficial, mas não passa de um conjunto de amistosos que serve para seus participantes dar uma espiada nos adversários às vésperas de uma Copa América, embora todos saibam que nem tudo está sendo mostrado. Só uma coisa ou outra. Pegue a partida entre Brasil e Porto Rico pela primeira rodada desta edição 2015, neste domingo. Em um pedido de tempo no quarto período, com o jogo praticamente descarrilado já, Rubén Magnano abriu espaço para Gustavo de Conti passar uma jogada. Planejaram uma conexão direta em ponte aérea. O tipo de jogada para buscar uma cesta decisiva ao final da partida. Não deu certo, mas era uma cartada ali.

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Esse é um exemplo de situação que mostra como essas partidas em San Juan não devem ser levadas muito a sério, e não só pelo fato de a seleção ter sido derrotada pelo time da casa por 79 a 66. De qualquer forma, os jogos apresentam alguns indícios. Sem TV para registrar os acontecimentos, o canal oficial para se acompanhar o torneio é a LiveBasketball.TV, pagando por assinatura. Com base no que pudemos ver contra os porto-riquenhos, seguem algumas notas.

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Foi uma partida beeeem diferente em relação ao que aconteceu no Pan-Americano. Porto Rico jogou com muito mais pegada e estrutura, já devidamente influenciado por Rick Pitino. Imagino o célebre técnico da Universidade de Louisville tenha usado a surra histórica que a equipe tomou em Toronto a seu favor para pilhar seus atletas — e também para amainar um pouco o orgulho ferido. Os brasileiros conseguiram fazer apenas três pontos de contra-ataque, diante de uma defesa em transição muito atenta. Foi claramente uma prioridade para o treinador que é um mestre nesse tipo de lance.

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É preciso dizer que, a despeito do desfalque de José Juan Barea, John Holland e Maurice Harkless — supostamente o trio titular no perímetro –, esta já era uma seleção porto-riquenha também distinta daquela de semanas atrás, especialmente pela presença sempre energética de Renaldo Balkman no quinteto titular. O cabeleira é uma figura muito influente quando o basquete Fiba está em quadra.

Balkman deu muito trabalho a qualquer defensor que estivesse à sua frente. Com agilidade e vigor, passou facilmente por Giovannoni e Olivinha, para acumular 16 pontos, 4 rebotes, 3 assistências, 2 roubos de bola e 2 tocos em 26 minutos, batendo seis lances livres. Ele basicamente fez o que quis em quadra, iludindo os brasileiros com fintas para um chute suspeito do perímetro. Botava a bola no chão, e aí era um abraço, com ataques rápidos em direção à cesta. Fora da rotação, Marcus Toledo não teve a chance de bater de frente com o veterano. Seria um duelo muito interessante.

Esse aspecto de rapidez e velocidade chamou a atenção: mesmo quando o ala-pivô ex-Knicks e Nuggets estava no banco, os caribenhos em geral tiveram o time mais leve em ação, com Devon Collier e Ramon Clemente também prevalecendo em seus movimentos. Concentrando-se em propósitos defensivos, é provável que Rafael Mineiro tenha de ficar mais tempo em quadra durante a Copa América, ao lado de Augusto.

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Augusto Lima, do outro lado da quadra, fez das suas. Sem Daniel Santiago e Peter John Ramos, Porto Rico tem alas-pivôs móveis, mas pode enfrentar dificuldade na hora de proteger a cesta na busca por uma vaga olímpica, pelo menos a julgar por esta partida. Tanto o pivô do Murcia, extremamente atlético e voluntarioso, como JP Batista, mais lento, mas inteligente em seus cortes e com excelente munheca, se deslocaram muito bem pela área pintada e pontuaram com eficiência perto da tabela, enfrentando pouca resistência na cobertura. Foram 14 pontos e 4 rebotes ofensivos para Augusto, em 17 minutos (6-11 de FG) e 18 pontos em 20 minutos para João Paulo (com 8-12). Foram os dois jogadores mais lúcidos do Brasil.

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Os dois pivôs brasileiros tiveram atuação eficiente e arriscaram juntos 35% dos arremessos da seleção e tiveram boa assessoria da turma de fora.  No geral, porém, o time não movimentou bem a bola. Foi um nível bem abaixo de rapidez em relação ao que vimos em Toronto, isso é certo. E aqui não estamos falando só de contra-ataque, de transição. Mas de ritmo de jogo, mesmo, de movimentação de bola. É nesses detalhes — e, não, nos números — que vocês devem notar a diferença que um armador com a cancha e vocação de passe de Rafael Luz pode fazer, gente.

Parte disso se justifica pela postura mais combativa dos caribenhos, claro. Outra parte da resposta vem do fato de Magnano ter promovido uma rotação claramente alternativa, na qual Rafael jogou apenas oito minutos, Benite ficou com 17, enquanto os caçulas Deryk Ramos e Danilo Siqueira jogaram, respectivamente, 15 e 16 minutos. Mas por vezes os atletas parecem muito acomodados e confiantes em dar a bola para Marquinhos e deixar o veterano ala resolver as coisas em jogadas individuais. Isso já havia acontecido bastante nos amistosos em Brasília e não é saudável.

Não que o ala flamenguista não tenha bola para isso. É difícil encontrar um marcador no mundo Fiba que consiga freá-lo quando ataca a cesta. De toda forma, quando servido em movimento, em progressão em direção ao aro, ele fica ainda mais perigoso. Essa é uma opção para finais de jogada, lances mais apertados, claro. Talvez a preocupação aqui seja dar mais ritmo a Marquinhos, que está voltando de férias. Não à toa, foi o brasileiro que mais jogou, com 27 minutos (sete a mais que JP). Quando o torneio para valer começar, espera-se que o ala esteja mais entrosado e afiado. Com seu pacote de mobilidade, altura, visão de quadra e habilidade, é uma peça mais que bem-vinda, que cai como uma luva, caso a equipe repita o padrão de jogo que a levou à conquista do ouro na metrópole canadense.

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Outro ponto a ser considerado no ataque: , Giovannoni, Olivinha e Marquinhos vão precisar acertar seus disparos ou ao menos representar alguma ameaça nesse sentido. Do contrário, o espaçamento de quadra vai para o buraco, e os ângulos de infiltração serão tapados. De modo que as defesas poderão se dedicar muito mais à fiscalização de Benite, deslocando adversários para cobrir sua trilha longe da bola. Goste-se ou não de ver Rafael Hettsheimeir chutando de três pontos, o fato é que um pivô com chute hoje faz parte integral do plano tático de Magnano.

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Entre os mais jovens, Danilo teve seus momentos. Sua primeira passada é algo que pode ser explorado mais em movimentações fora da bola, ou em ataques após as tradicionais parábolas pelo fundo da quadra. Pode render bem como reserva de Benite, mostrando visão de jogo para distribuir a bola. Deryk foi um pouco mais comedido. Melhorou bem no segundo tempo, procurou buscar a bola em rebotes longos para tentar dar um pouco mais de velocidade à transição ofensiva, mas não conseguiu quebrar a primeira linha defensiva de Porto Rico, terminando com quatro assistências e quatro turnovers. Merece mais chances, de qualquer forma, contra Canadá e Argentina.

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No primeiro jogo da noite, a jovem seleção canadense, cercada de imensa expectativa, venceu os argentinos por por 85 a 80. Foi também um duelo de altos e baixos. Facundo Campazzo  ficou fora de um lado e Corey Joseph do outro. Sem o tampinha, a equipe de Sergio Hernández perde em velocidade e criatividade, dependendo ainda mais dos veteranos e infalíveis Scola e Nocioni. Os campeões olímpicos marcaram 23 pontos cada, em 57 minutos. Nicolás Laprovíttola anotou 16 pontos e deu 4 assistências, em 31 minutos. O caminho para os hermanos é ter o barbudo ex-Fla, agora no Lietuvos Rytas, ao lado de Campazzo. Do lado do Canadá, a linha de frente titular teve Anthony Bennett, que fez ótimo Pan, ao lado de Kelly Olynyk, o jogador de NBA deles mais experiente em competições Fiba. Andrew Wiggins marcou 18 pontos em 26 minutos.


A final prometia mais, mas o Fla, tricampeão, não tem nada com isso
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Giancarlo Giampietro

Flamengo, tricampeão, ainda hegemônico no NBB

Flamengo, tricampeão, ainda hegemônico no NBB

Se for pensar apenas no que vimos nas finai do NBB, o Flamengo é o melhor time do Brasil, e disparado. Neste sábado, o clube rubro-negro voltou a dominar o Bauru em quadra, vencendo por 77 a 67 e fechando a série em 2 a 0 para conquistar o tricampeonato. Na terça-feira, havia triunfado por 91 a 69.

Claro que uma avaliação mais justa, porém, deve levar em conta o que aconteceu durante toda a temporada. Os bauruenses garantiram uma vaga na decisão nacional em busca do quarto título no ano, vindo de títulos pelo Campeonato Paulista, pela Liga Sul-Americana e pela Liga das Américas – esta a maior conquista, em março. Uma pena que esses dois grandes times, com elencos estrelados, não tenham se enfrentado no auge.

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Este Flamengo foi muito mais forte que aquele que perdeu, em pleno Maracanãzinho, a semifinal do torneio continental para o Pioneros de Quintana Roo, enquanto o Bauru não lembrou em nada a equipe que bateu os mexicanos para se classificar para a Copa Intercontinental, ganhando o direito de jogar contra o Real Madrid. Entre um Flamengo voando em quadra e um Bauru trôpego, fica difícil de diferenciar onde termina o domínio de um e a derrocada do outro. Estão interligados, obviamente. Fato é que o time carioca não tem nada com isso e jogou demais. “Este ano nem foi o menor nosso, não estávamos regulares no campeonato. Pegamos o melhor time do Brasil no ano, que estava ganhando tudo, mas vencemos com duas partidas incontestáveis”, afirmou o ala-armador Vitor Benite, ao SporTV.

O Fla fez uma excepcional defesa do início ao fim, protegendo seu garrafão como se fosse uma mina de ouro. Não teve infiltração, não teve bandejas nem para os armadores, nem para os pivôs: tudo contestado. Esse foi apenas um ponto. O povoamento na zona pintada estava ligado a um forte combate no perímetro também, sem permitir que os gatilhos bauruenses tivessem liberdade, conforto para pontuar. Serviço completo. Do outro lado da quadra, os rubro-negros foram muito mais conscientes com a bola, que girava de um lado para o outro, procurando bons arremessos, fazendo uso de seu arsenal também para lá de respeitável. O aproveitamento, no final, foi inferior ao do primeiro jogo, mas serviu para confirmar o título.

Ao passo que o campeão paulista se perdeu nos mesmos erros da primeira partida, com um ataque muito individualista, sem velocidade e movimentação. Na base do bumba-meu-boi, no desespero, o time de Guerrinha ainda conseguiu tirar 13 pontos de sua desvantagem, mas era tarde demais. “Eles começaram a meter muita bola, tentando dar um susto na gente, mas nossos três quartos muito superiores fizeram a vitória”, disse Benite, que vive ótima fase, dentro de quadra e diante dos microfones, com lucidez. Ele marcou 15 pontos em 25 minutos dessa vez, com um jogo muito agressivo e consciente. Ao lado de Nícolas Laprovíttola, fez estragos. O argentino foi quem levou o prêmio de MVP das finais, colaborando com 19 pontos, 7 rebotes e 4 assistências em 34 minutos, dominando Ricardo Fischer.

Uma foto que diz muito: a dificuldade para Bauru atacar

Uma foto que diz muito: a dificuldade para Bauru atacar

Robert Day, aquele do Bolsa Atleta, comandou ataque nessa parcial, chegando a 23 pontos, com 18 nos tiros de fora. Mas não dá para esquecer que o ala americano, aquele contemplado por uma Bolsa Atleta, teve uma atuação praticamente calamitosa do outro lado da quadra. Basquete se faz lá e cá – e o igualmente veterano Larry Taylor teve um papel mais importante no esboço de reação, com sua energia (11 pontos, 7 rebotes, 6 assistências).

Nem mesmo este quarto final foi suficiente para deixar os índices ofensivos de Bauru mais palatáveis. Terminaram com 31% nos arremessos de três (9/29) e meros 36,8% de dois (14/38), com Murilo vivendo uma jornada muito infeliz (apenas 2 pontos em 23 minutos, acertando apenas uma bola debaixo da cesta em seis tentativas). Faltou perna, mas também faltou cabeça, resultando em números que não condizem com o que o time produziu durante toda a temporada – que é, de todo modo, histórica sob qualquer perspectiva, a despeito da frustração no final.

Já o Flamengo começou sua campanha batendo o Maccabi Tel Aviv pela Copa Intercontinental e a fechou com mais esta taça nacional. Entre um evento e outro, muita coisa aconteceu. “Oscilamos muito”, disse Marcelinho Machado, agora tetracampeão, que chegou a ser afastado do elenco ao reclamar do banco de reservas. José Neto e sua comissão conseguiram contornar esse momento de turbulência, com seu capitão, diga-se. Também conseguiram driblar o calendário um tanto maluco – o Flamengo já teve de disputar sua principal partida logo de cara, duelando com o campeão europeu. Depois, se mandou para os Estados Unidos para fazer amistosos em Phoenix, Orlando e Memphis. A preparação física e a montagem do time acabam abaladas, não tem como. “Mas crescemos no momento certo. Contra Bauru, uma grande equipe, fizemos dois jogos brilhantes”, diz Marcelinho.

A final prometia mais. Muito mais, é verdade. Mas isso não tira o brilho da conquista da equipe rubro-negra, ainda hegemônica quando o assunto é NBB.

Flamengo, tetracampeão, tricampeão, NBB, Marília

Marcelinho ergue a taça mais uma vez

Qualquer alegria para Herrmann é pouco: campeoníssimo e história muito sofrida

Qualquer alegria para Herrmann é pouco: campeoníssimo e história muito sofrida

Laprovíttola com o compatriota Magnano, felizmente presente no ginásio

Laprovíttola com o compatriota Magnano, felizmente presente no ginásio

* * *

O que prometia mais também era a exposição da decisão para o basquete brasileiro. Desde o início da competição, a pareceria entre a LNB e a Globo prometia a transmissão da série em rede nacional, com sinal aberto. Não foi bem assim. O confronto deste sábado, em Marília, foi transmitido pelo “Canal 5” apenas para o Rio de Janeiro e algumas praças do interior paulista (TV Tem, TV Tribuna, TV Diário e TV Vanguarda ). Para as demais regiões do país, “TV Globinho” neles – coube ao SporTV dar a cobertura esportiva.

A troca de última hora deixou muita gente frustrada. “Decepcionante: aqui em Belo Horizonte e outros estados, estarem passando a ‘abelhinha”‘ao invés da final do NBB! Massificação do esporte? Sacanagem”, lamentou o técnico Demétrius, que fez ótimo trabalho com o Minas Tênis, quinto colocado na fase de classificação. “Além de não passar na Globo a final do NBB… No SporTV, não está em HD, confere?”, indagou Gustavo de Conti, treinador vice-campeão do NBB 6 pelo Paulistano.

O ginásio Neusa Galetti estava belíssimo neste sábado, a despeito do horário ingrato. Prova de potencial do NBB

O ginásio Neuza Galetti estava belíssimo neste sábado, a despeito do horário ingrato. Prova de potencial do NBB

O aspecto logístico da final realmente esteve longe do ideal. Sim, transmissão em TV aberta para o Rio de Janeiro e cidades do interior paulista, um pólo de basquete, é melhor do que nada. Mas os pontos em que a liga precisou ceder também são relevantes. Tivemos dois jogos em horários difíceis de assimilar. A primeira partida foi marcada para 21h30 de uma terça-feira, na longínqua Arena da Barra, de difícil acesso, ainda mais para voltar para casa 23h30. O duelo derradeiro teve início às 10h da matina. Horários ingratos e datas muito espaçadas – Marília está a 105 km de Bauru, forçando a galera a cair na estrada bem cedo. Que o ginásio neste sábado estivesse cheio, belíssimo, só serve de testamento para o potencial da modalidade, que pode ser mais bem explorado.

Uma final melhor-de-três é bem melhor que a de jogo único. Mas perde para a melhor-de-cinco, não? E por que, então, este sistema não foi adotado, já que o formato já seria alterado? Por conta do acerto com a TV. A Globo poderia passar os últimos dois embates – o Jogo 2 e um eventual Jogo 3. Ficaria mais simples. Acontece que não teve terceira partida, e nem mesmo a finalíssima ganhou o alcance nacional merecido.

De qualquer forma, no âmbito esportivo, o Flamengo tratou de amenizar a polêmica. Considerando o que vimos em quadra por 70 dos 80 minutos de jogo, uma série de até cinco partidas muito provavelmente terminaria com varrida de 3 a 0.

* * *

Bom, segue o jejum paulista no NBB, né? O último campeão brasileiro vindo de São Paulo foi o Ribeirão Preto, em 2003. Continua também a bipolarização Flameng0-Brasília, os únicos campeões nacionais nesta fase. A diferença é que agora os rubro-negros se tornaram os maiores vencedores, com quatro taças. Marcelinho foi o único presente em todas essas conquistas.


A final não é brasileira, mas o Bauru ainda é o favorito
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Giancarlo Giampietro

Alex, perto de mais um título continental

Alex, perto de mais um título continental

Não há como negar: o Bauru vai entrar em quadra neste domingo como o grande favorito ao título da Liga das Américas, no Rio de Janeiro. Tem grandes chances, sim, de estender a sequência de títulos do Brasil no torneio continental para três. Afinal, o time de Guerrinha já soma 15 vitórias consecutivas em partidas internacionais nesta temporada, somando aqui aquelas que fez para ganhar a Liga Sul-Americana. E não só isso. O clube paulista vem simplesmente arrasando os concorrentes que enfrenta pelo caminho, com uma margem de pontos superior a 27 pontos em média, tendo batido o Peñarol de Mar del Plata por 88 a 61, de modo incontestável.

Agora, uma coisa é o jogo falado, outra é o jogado, como diria qualquer um neste sábado, após o Pioneros de Quintana Roo, do México, ter derrubado o Flamengo e impedido uma decisão 100% nacional. Para frustrar o Maracanãzinho e a organização do Final Four da LDA como um todo, os caras batalharam, por vezes literalmente, contra o Flamengo, vencendo por 81 a 80. Já aprontaram uma, agora vão tentar outra.

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Sim, por mais que a mesma equipe mexicana tenha vencido o torneio em 2012 e tenha chegado ao Rio de Janeiro com cinco triunfos e apenas uma derrota, foi uma surpresa o resultado da segunda partida do dia. No papel, o elenco rubro-negro é muito mais qualificado. Acontece que os visitantes não permitiram que esse talento fizesse a diferença, jogando um basquete muito combativo, físico para desestabilizar um ataque geralmente potente.

Não teve bicampeonato para Neto e o Flamengo

Não teve bicampeonato para Neto e o Flamengo

Foram 25 faltas cometidas, com direito a dois jogadores excluídos. Um estilo que gera, obviamente, muitos lances livres – e o Flamengo, como um todo, falhou nos tiros de um ponto, (19-28, 68%). Mas as falhas na linha não foram a única razão isso para explicar o resultado. A defesa agressiva  também forçou 17 turnovers, cinco deles pelas mãos de Nícolas Laprovíttola. Marquinhos foi o único jogador de perímetro brasileiro que conseguiu enfrentar esses caras e prevalecer, com uma grande atuação (27 pontos, 8-10 nos lances livres, 8-13 nos arremessos, em 41 minutos).

Com ou sem porrete, os mexicanos defenderam muito bem o jogo exterior de seu adversário, limitando o time da casa a míseras 6 bolas de três pontos em 28 tentativas, para um aproveitamento de 21%. Isso, na real, não chega a ser uma novidade, uma vez que, no duelo entre ambos no dia 25 de janeiro, o Fla já havia acertado apenas 10 em 32 (31%). Junte os dois, e temos 16-60. Fica difícil de vencer assim, e aí faltou procurar outros – e melhores – caminhos para explorar Jerome Meyinsse, muito mais explosivo que seus oponentes, debaixo do aro. O pivô acertou sete de oito tentativas de cesta, mas também cometeu cinco desperdícios de posse de bola, somando 16 pontos em 39 minutos. Cristiano Felício ficou apenas cinco minutos em quadra e também poderia ter ajudado.

Na defesa, o que matou foi a dificuldade em marcar o pivô Justin Keenan, pesadão, mas com bom arremesso, se desmarcando em jogadas de pick and roll ou pick and pop para matar tiros de média para longa distância ou descolar faltas (25 pontos, 8-15 de quadra e 7-9 nos lances livres). A comissão técnica do Bauru certamente tomou nota disso, que o grandalhão tem de ser respeitado e contestado, até porque o armador Brody Manjarres não finaliza tão bem assim quando mais perto da cesta.

Ao ver estes números, Manuel Cintrón, ex-treinador de Porto Rico que diz ter ficado dois anos em fase de “reciclagem”, poderia se sentir até mais confortável ao caminhar para o embate com o Bauru na decisão. Afinal, sabemos bem que o clube paulista investe bastante nos chutes de longa distância também. Acontece que seu poderio ofensivo é tão grande que, mesmo numa jornada em que essas bolas não caem (8-36, 22% contra o Peñarol), os bauruenses podem chegar a 80 pontos.

Murilo, diferente de Jefferson, mas igualmente perigoso. Novas possibilidades no ataque

Murilo, diferente de Jefferson, mas igualmente perigoso. Novas possibilidades no ataque

Jefferson William faz falta no espaçamento de quadra, mas a dupla Murilo-Hettsheimeir oferece um jogo interior muito interessante para Guerrinha e um problema para qualquer oponente (somaram 34 pontos, 12 rebotes e 13-23 nos arremessos, com Rafael novamente exagerando na dose de três, errando sete de nove disparos). Outra: não é segredo que o eterno Alex adora uma partida de muito contato físico, batendo para dentro, desafiando gente muito maior. Na semifinal, fez um pouco de tudo, com 18 pontos, 6 assistências e 7 rebotes, 4-10 nos arremessos e 8-9 nos lances livres, em 31 minutos. Sua intensidade será importantíssima neste domingo.

Bauru e Pioneros também já se enfrentaram pela Liga das Américas, 22 de fevereiro. A equipe brasileira venceu por 92 a 79. Os 13 pontos, porém, foram abertos apenas no quarto final, com uma parcial de 28 a 15. Naquela ocasião, curiosamente, Manjarres anotou 17 pontos, mas foi o intempestivo Romel Beck Castro o cestinha, com 28 pontos e 6-10 nos tiros de fora – o restante do time ficou em 3-14. Do outro lado, os campeões paulistas mataram 13-35 e mais de 50% nos arremessos gerais. Ricardo Fischer jogou demais, com 19 pontos, 8 assistências e 6 rebotes (8-11), mas pode esperar algumas bordoadas neste domingo. A ver se essa dinâmica vai se repetir.

Antes de o torneio começar, Cintrón resumiu bem o estado de espírito de seu time: “Não temos nada a perder. Não havíamos traçado esta meta, de chegar ao Final Four, e a conseguimos. Vamos jogar como se fora um partido a mais e com a tranquilidade de saber que o trabalho deu resultados”. Resultado por resultado, o Bauru tem um retrospecto recente muito mais relevante. Agora resta confirmar isso em quadra.


Bauru também sabe vencer um jogo de nervos
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Giancarlo Giampietro

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

Como parece acontecer em todo anunciado grande jogo do NBB, aquele que gera expectativa por parte de todos os envolvidos com o campeonato – e, não, apenas de duas torcidas –, o duelo entre Flamengo e Bauru desta terça-feira foi nervoso.

Bastante equilibrado, e nervoso, no qual o clube paulista saiu vencedor por 84 a 77, mostrando que pode render nas mais diversas situações, chegando a nove triunfos consecutivos.

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Sim, essa coisa da chiadeira não é a perspectiva mais original para se abordar um confronto tão interessante como esse, com os atuais bicampeões encarando o time que se reforçou tanto, mas tanto, que se tornou obrigatoriamente o principal candidato a derrubá-los. Jajá coloco um pouco mais de colher aqui. Antes, se faz necessário bater na mesma tecla. Muito já se escreveu a respeito disso, mas, enquanto a medição da reclamação dos técnicos e jogadores – principalmente o dos técnicos – se manter em altos decibéis, não tem como não registrá-la. É demais, gente.

Os árbitros cometem erros?!

Esperem um pouco aí, enquanto dou uma pausa para me restabelecer depois de bombástica informação.

(…)

Pronto: água com açúcar tomada. Qualquer coisa, a maracugina já está a postos também.

A arbitragem no Rio de Janeiro deixou passar muitos lances. Teve, por exemplo, um ataque em que Gui (acho) levou o toco de Benite na zona morta, no primeiro tempo, num ação que pareceu limpa, na bola. No segundo tempo, Jerome Meyinsse foi subir para um bloqueio e tocou no aro, impedindo uma bandeja. Interferência clara, e nada foi marcado.

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos... O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos… O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Percebam que nem citei o time dos atletas acima. Porque não importa: os erros acontecem naturalmente, contra e para ambos os lados, de modo que se nivelam ao estouro do cronômetro. Nessa partida em específico, não sei bem se houve uma atrocidade, ou uma conduta tendenciosa que justificasse tanta pirraça. A não ser que a pressão seja algo consciente, para tentar ganhar o benefício da dúvida mais para a frente, num momento de decisão.  Não seria de forma alguma algo aceitável, mas sabemos que faz parte do jogo. A relatada alta temperatura na Arena da Barra também poderia ser um fator para esquentar a cuca, claro. Mas esse costuma ser o padrão de tensão das partidas por aqui, independentemente do funcionamento do ar-condicionado.

Além do mais, cobrar tanto os homens do apito pode ser mero escapismo. Afinal, ninguém aqui, aí ou ali acredita piamente que Bauru e Flamengo tenham feito um jogo perfeito*, né? Não quando temos 29 turnovers somados e um aproveitamento nos arremessos bem abaixo dos 50%. O Fla, por exemplo, fez um ataque para 183 pontos e terminou com 77 (42,1%).

(*PS: Ninguém é perfeito. Jornalista, jogador, torcedor, técnico e juiz. Será impossível conviver com uma realidade dessas?)

Atrás no placar o tempo todo, os rubro-negros, naturalmente, foram aqueles que mais reclamaram – creio, aliás, que muito mais. Obviamente não ajudou em nada o fato de o time de José Neto ter perdido dois dos últimos três jogos, situação com a qual não estão nada habituados. “Não estávamos tão concentrados e isso nos prejudicou. Bauru soube controlar o jogo e é muito difícil você virar uma partida atuando diante de uma equipe tão qualificada. Não estamos em um bom momento na competição, mas temos que botar a cabeça no lugar e tentar consertar os erros para os próximos jogos”, disse Gegê.

Nas entrevistas pós-jogo, ainda mais depois de tanta tensão em quadra, é difícil colher uma declaração tão boa como essa, via site oficial da LNB. O jovem armador flamenguista resumiu objetiva e precisamente o que se passou (ou o que se passa) em quadra com sua equipe. Se a cabeça não está no lugar, as coisas ficam mais complicadas, mesmo, especialmente contra o único rival do NBB que lhe pode fazer frente no número de atletas “selecionáveis” – ao menos levando em conta os nomes constantes nas listas de Rubén Magnano e sua comissão.

E aí, nesse jogo de nervos, o clube paulista encontrou mais uma oportunidade para comprovar sua força. O Limeira de Dedé e seu batalhão de armadores é o líder do NBB no momento, com apenas um revés, e vem de mais uma grande vitória. Mas é muito difícil apontar outro favorito ao título que não Bauru.

A forma como a partida se desenvolveu só reforça essa impressão. No papel e também pela abordagem que resultou nos títulos do Paulista e da Liga Sul-Americana, sabemos que a equipe de Guerrinha está construída para vencer pelo ataque. O potencial ofensivo em seu elenco é absurdo, com oito atletas que podem bater a marca de 20 pontos com tranquilidade. Caras que, colocados num time de menor orçamento, poderiam ser a principal referência.

Contra os rubro-negros, porém, qual era a preocupação? Ricardo Fischer conta: “Era um confronto direto e sabemos o quanto é difícil bater o Flamengo fora de casa. Viemos com uma proposta de baixar a pontuação deles e conseguimos. Empurramos o Flamengo para baixo”. Objetivo alcançado – o que, ironicamente, rendeu ao seu time uma folguinha como melhor ataque do NBB, superando os cariocas em casas decimais.

O Bauru tem em seu perímetro atletas ainda mais ágeis que que os do Fla – ainda mais quando estão juntos Alex, Larry e Gui (num excelente segundo tempo). Velocidade e agilidade: é para isso que o basquete se voltou, e os quatro líderes do campeonato nacional têm esse ponto em comum. A presença de Jefferson William na rotação de pivôs também dá mais leveza ao conjunto paulista. O ala-pivô, aliás, fez uma grande atuação, mexendo bem a bola, correndo para valer, enfrentando um páreo duríssimo contra Herrmann e Olivinha.

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

No Rio, Jefferson e seus companheiros não promoveram exatamente um abafa, não executaram uma defesa massacrante, mas conseguiram limitar as infiltrações de Nicolás Laprovíttola, algo essencial. Marquinhos, é verdade, conseguiu jogar lá dentro, mas as linhas de passe estavam mais apertadas. E aí temos arremessos de longe bem fiscalizados (7/30, 23,3%).

Do outro lado, o volume nos tiros de fora bauruenses seguiu elevado, com 29 tentativas, contra 30 de dois pontos. Seu aproveitamento foi bem maior (37,9%, rendendo 12 pontos a mais também) neste fundamento. Mas não se pode ignorar a vantagem dos visitantes nos lances livres, com nove pontos a mais (21 a 12), em cestas preciosas conseguidas depois de infiltrações de Fischer, Alex e da busca do jogo interior com Hettsheimeir, consistentemente mais efetivo em seu retorno ao Brasil quando mais perto da cesta.

Não foi um banho de basquete. O Flamengo se aproximou do placar de modo perigoso em diversas ocasiões no segundo tempo, inclusive nos minutos finais. Faltou, no entanto, na hora de concluir a virada, a lucidez e a frieza que Gegê mencionou. É algo obrigatório para enfrentar um time do porte de Bauru: concentração, mais na bola, muito menos no apito.


NBB7 tem Flamengo favorito ao tri, mas com nova ameaça
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Giancarlo Giampietro

flamengo-2014-carioca-basquete

O NBB que começa nesta sexta-feira promete o melhor nível técnico do campeonato em sete edições. São ao todo dez atletas que disputaram a última Copa do Mundo, algumas importações de talento interessantes e jovens promissores – sim, eles ainda existem, mesmo que dependam da boa vontade de seus técnicos para jogarem. Fazer um bolão para adivinhar os quatro semifinalistas também será uma tarefa complicada, com muita gente se achando no direito de entrar nessa parada, o que é extremamente saudável. Resta saber o que todos os técnicos por trás dessas forças poderão aprontar, para fazer suas equipes se diferenciarem e subirem na tabela, tirando o máximo da técnica que tiveram à disposição.

De todo modo, em meio a essa crença de imprevisiblidade, uma tese é difícil de se evitar. Nem há muito como escondê-la: por tudo o que conquistou na última temporada – e no início desta –, o Flamengo é o grande favorito, principalmente depois que as negociações de Marquinhos com a NBA não foram adiante. Um jogador único dentro da liga nacional.

Se o time rubro-negro confirmar essa condição, chegará a um tricampeonato, repetindo o feito de seu rival Brasília, que ganhou três taças consecutivas entre 2010 e 2012. Se, para enfrentar adversários da liga norte-americana, em partidas de mais longas, o elenco de José Neto se mostrou reduzido, em cenário nacional, com os 40 minutos regulares da Fiba e uma concorrência mais justa, plantel não será um problema. Nem mesmo o tão sonhado pivô extra, que poderia ter sido JP Batista, parece necessário.

Dessa vez ele terá Vitor Benite desde o início da campanha – em vez de apenas na partida final –, ganhando  mais poder de fogo. Mas o grande chamariz, mesmo, em termos de novidade fica por conta de Walter Herrmann, que, aos 35 anos, tem muito o que render em quadra:

Demais, né? É o tipo de lance que você não cansa de rever. De tão sofisticado que foi o movimento, a cada reprise pode-se reparar em um novo detalhe: nada como fazer da bola de basquete uma bolinha de tênis. Herrmann, Marquinhos e Olivinha formam um trio de atletas intercambiáveis, que podem exercer múltiplas funções, entregando um pacote de características diversas que facilitam muito qualquer riscado de prancheta. A linha de frente é complementada pelo excelente Jerome Meyinsse, que comprovou contra Maccabi e NBA que não é só forte e atlético para os padrões sul-americanos, e Cristiano Felício, que já provou merecer seus minutos em sua turnê pelos EUA.

Não fica só nisso. Nícolas Laprovíttola é o melhor armador em atividade no país hoje, com um arsenal de fintas para entrar no garrafão quando bem entender. O que facilita a conexão com Olivinha, Herrmann, Meyinsse e Felício e, ao mesmo tempo, abre espaço para os chutes de fora de seus companheiros. Se o argentino maneirar um pouco no ímpeto e desistir dessa ideia de chutes de três em movimento, a partir do drible, sua eficiência vai decolar, impulsionando toda a equipe. Sim, há sempre detalhes para corrigir e o que melhorar, mesmo para os campeões. Mesmo para um time com o luxo de contar com um Gegê em constante evolução, saindo do banco. Enfim, um esquadrão, que deve imprimir um estilo de jogo agressivo, de velocidade e combativa defesa.

Uma nova ameaça
O Fla tem três quatro (1, 2, 3, 4) jogadores que disputaram a última Copa do Mundo. O único clube que repete essa marca é justamente aquele que, em teoria, desponta como a maior ameaça ao seu reinado: o Bauru. Campeã nacional em 2002, com os veteranos Raul, Vanderlei e Josuel, um emergente Leandrinho e os adolescentes Marquinhos e Murilo, a cidade só se viu entre os quatro melhores do NBB na edição retrasada, quando terminou em terceiro lugar.

Rafael e Larry, dois selecionáveis

Rafael e Larry, dois selecionáveis em Bauru

Para esta sétima edição, porém, a equipe do interior paulista foi a que mais se reforçou. Num projeto bastante ambicioso, a diretoria entregou a Guerrinha quatro grandes nomes: Alex, Rafael Hettsheimeir, Jefferson William e Robert Day, que se juntam a um núcleo já bastante forte.  As contratações do veterano Alex, que aos 34 ainda tem um vigor físico assustador, e de Hettsheimeir são as que chamam mais a atenção, e não necessariamente pela grife de seleção brasileira. Tirar o ala-armador de Brasília foi uma surpresa, um negócio que causa impacto em duas equipes de ponta de uma vez. Já o pivô passou os últimos nove anos na Espanha, estava em clubes de ponta do campeonato nacional mais forte da Europa e que poucos imaginavam que poderia voltar aos 28. Pois ele queria faz tempo, como revelou ao VinteUm.

O Bauru tem todas as peças que precisa para montar um ataque poderosíssimo. São três pivôs versáteis com Murilo, Hettsheimeir e Jefferson. Larry Taylor e Ricardo Fischer dividem a armação. Guilherme Deodato, o americano Day e Alex rodam nas alas. Esperem trovejadas de três pontos aqui. Constam também os caçulas Wesley Sena (se conseguir bater Thiago Mathias, já será ótimo sinal), Carioca (um tanque em direção ao aro), Vezaro e Gabriel para completar a rotação. As interrogações ficam por conta do joelho de Murilo, que vem dando trabalho, e da consistência defensiva de um time que é baixo no perímetro e vai depender de muita pressão em cima da bola para se proteger – algo que Alex, Larry, Fischer e Gui podem muito bem fazer.

É um plantel mais volumoso e com mais apelo que o do velho candidato Brasília, que tem José Vidal novamente na beirada da quadra. Giovannoni é um sério candidato ao prêmio de MVP do ano, agora com ainda mais responsabilidades ofensivas, enquanto Arthur vai correr ao redor das defesas, se desmarcar e converter seus chutes. Fúlvio é o tipo de armador que vai satisfazê-los em sua sede de pontos. Para a equipe candanga voltar ao top 4, porém, dois pontos são importantes: que o americano Darington Hobson se encaixe e se adapte – já ouvi por aí que ele tem um senso de grandeza um pouco desproporcional ao que produz… – e que Ronald e Isaac esteja prontos para carregar uma carga maior. A defesa vai depender muito dos três.

Mais que o CV
Esses são evidentemente os times mais estrelados da competição. Considerando a divisão de títulos bipolar dos seis primeiros campeonatos, sabemos que isso tende a fazer diferença por estas bandas. Por outro lado, a lista de vice-campeões nos permite pensar, sim, em mais candidatos, ou surpresas. Não é que Flamengo e Brasília tenham chegado a todas as decisões. Nos últimos quatro anos, a equipe derrotada foi diferente.

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano, segundo colocado do ano passado, fez por merecer o respeito de todos e também mantém seu núcleo, com um elenco bastante homogêneo em que os americanos Kenny Dawkins e Desmond Holloway carregam a pontuação e uma série de companheiros os ajudam com defesa, movimentação de bola e espaçamento. Para este ano, chegaram o experiente Fernando Penna (um jogador de que gosto, mas que não sei bem o quanto era necessário num elenco que já tinha o jovem Arthur Pecos para ajudar Dawkins e Manteiguinha) e o americano DeVon Hardin, um gigante extremamente atlético que chega para substituir um Rafael Mineiro, que foi para o São José. O pivô havia feito ótimo campeonato na temporada passada patrulhando o garrafão, ocupando espaços na defesa. Para isso, Hardin, que já foi selecionado no Draft da NBA de 2008, vai ter de mostrar que é muito mais que um campeão de enterradas. E, sim, Fabrício Melo poderia estar aqui, mas acabou dispensado por questões extraquadra. Gustavo de Conti vai tentar fazer dessa turma uma nova encrenca para os adversários.

E, se for para falar em surpresa, não há como ignorar o que o Mogi das Cruzes também balançou o NBB6. Honestamente, talvez nem mesmo o técnico Paco Garcia esperasse que sua equipe poderia alcançar a semifinal e endurecer contra o Flamengo numa série melhor-de-cinco. O problema do sucesso é o desmonte. Quatro de seus atletas migraram para o próximo clube dessa lista. Em contrapartida, chegaram caras de ponta como Shamell e Paulão, além do ala Tyrone Curnell, referência do Palmeiras no campeonato passado, do armador Elinho e do jovem pivô Gerson Espírito Santo, formado em Colorado State. O Mogi pode manter a pegada de  um garrafão pesado, massacrante que o levou  longe, mas também conta hoje com mais alternativas para acelerar o jogo. Tantas trocas, porém, pedem tempo para o acerto. O que não deve mudar é o apoio de sua torcida. Lá o mando de quadra faz realmente diferença.

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Também semifinalista, mesmo numa temporada conturbada em que contou com três técnicos, o São José é outro que tem algumas caras novas para entrosar. E pior: algumas delas chegando de última hora, perdendo a fase de preparação, a ponto de faltar contingente para o técnico Zanon – recém-egresso do Mundial feminino, diga-se – realizar coletivos. Além disso, Caio Torres vem sofrendo com uma tendinite no joelhor direito. A contratação de Mineiro ganha relevância por isso. Valtinho é quem assume a direção agora – Manny Quezada, o homem dos 50 pontos, foi embora. Nas alas, Betinho vai ter a companhia de dois americanos: Andre Laws, que está de volta (e nem dá para entender por que havia sido liberado), e Jimmy Baxter, mais um que vem da Argentina.

Agora vai?
O continente paulista, aliás, talvez chegue com sua maior força ao campeonato nacional, desde que ele passou a ser organizado pela LNB. O estado, maior polo produtor do país, ainda não conquistou o título do NBB, tendo de se contentar com três vice-campeonatos, quatro terceiros lugares e três quatro lugares. Tem mais gente querendo entrar nessa briga.

O Pinheiros estoca as revelações mais tentadoras do basquete brasileiro, com o novato Georginho chegando para a festa, mas tem na contratação do técnico Marcel de Souza seu ponto mais intrigante, que promete algo de diferente no plano tático, encerrando seu exílio. A receita na montagem do elenco é semelhante à de seu rival da capital: nomes não muito badalados, mas com bons jogadores em quantidade (são quatro armadores que pedem tempo de quadra, por exemplo: os irmãos Smith, Paulinho e Jéfferson Campos, sem contar Humberto). Subestimem o quanto quiserem um trator como Marcus Vinícius Toledo, que isso não costuma sair bem. Os resultados recentes do time, campeão da Liga das Américas 2013, também o credenciam.

De volta ao interior, armadores também não faltam a Limeira, agora com Nezinho ao lado de Ronald Ramon e Deryk. A presença de um cestinha como David Jackson e de Rafael Mineiro, Teichmann e Fiorotto também encoraja muito. E quanto a Franca? O time da capital basqueteira dosa, entre seus protagonistas, a cancha de Helinho, que está de volta para trabalhar, veja só, com Lula Ferreira, e dos argentinos Juan Figueroa e estreante Marcos Mata (candidato a MVP?) dois alguns prospectos para a seleção brasileira como Leo Meindl e Lucas Mariano – mas talvez que talvez só sejam aproveitados com maior frequência no outro ciclo olímpico, a julgar pelo progresso deles e o conservadorismo de Rubén Magnano. A rotação, porém, é enxuta.

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

São todos ótimos times, com muito potencial para ser explorado por seus treinadores. Depois do que Paulistano, São José e Mogi fizeram no NBB6, cada um ao seu modo, com trilhas diferentes, está claro que o equilíbrio da competição permite diversos desdobramentos. O maior orçamento, os nomes mais consagrados…  Essas coisas talvez não importem mais. Vai pesar o melhor trabalho de quadra, mesmo.

No Rio, pensando nisso, o Flamengo tem algo que costuma fazer a diferença no basquete: química e continuidade, como o Spurs demonstra na NBA. No caso do gigante carioca, a diferença é que, em seu elenco, estão muitos dos melhores jogadores da liga também. Uma combinação dura de derrubar.


Fla conclui giro pelos EUA com sua pior derrota
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Giancarlo Giampietro

O novo e bem mais magro Marc Gasol: outro nível de desafio para o Fla

O novo e bem mais magro Marc Gasol: outro nível de desafio para o Fla

A turnê de NBA do Flamengo não terminou da mesma forma que começou. Depois de fazer dois bons jogos, competitivos, contra Phoenix Suns e Orlando Magic, o time carioca levou uma surra nesta sexta-feira do Memphis Grizzlies: 112 a 72.

O atual campeão intercontinental conseguiu equilibrar as coisas no primeiro quarto, mas teve muita dificuldade para lidar com o time titular do Grizzlies em geral. Com Mike Conley e Marc Gasol em quadra, o adversário tem uma das defesas mais fortes da liga norte-americana. Uma retaguarda muito mais forte que as de Phoenix e Orlando. Isso faz diferença.

Conley, por exemplo, azucrinou com a cabeça de um já desligado Nico Laprovíttola. Além do mais, pode colar no adversário sabendo que, na sua cobertura, está um dos pivôs mais inteligentes – e imponentes – do mundo, o ex-Big Marc Gasol. Impressionante como está afinado o gigante espanhol. Sua temporada regular promete, e muito.

Além disso, Tony Allen é um animal na pressão em cima da bola e na perseguição de seus alvos do lado contrário. Courtney Lee dosa um pouco da velocidade de Allen, mas sem se arriscar muito atrás de roubadas ou tocos. É uma combinação ingrata, que o ataque do Fla sentiu logo de cara, depois de ter aberto de modo surpreendente uma vantagem de 10 a 2 em menos de três minutos.

Aí o técnico Dave Joerger pediu tempo, e a coisa mudou de figura. Embora de um modo curioso. Ainda com seus titulares, empatou o jogo rapidamente em 12 a 12 e chegou a abrir 27 a 12. Já com os reservas em quadra, os brasileiros voltaram a apertar, empatando em 36 a 36. A partir desse ponto, porém, desandou: o Grizzlies já voltaria para o vestiário com uma vantagem de 62 a 41. Fim de jogo.

Ainda mais que Laprovíttola estava numa jornada completamente desastrada. O armador cometeu sete turnovers apenas na primeira metade da partida. Além do mais, o argentino precisa tirar de seu arsenal – ou reduzir drasticamente o volume de tentantivas –  esse tiro de três pontos depois do drible. Essa é uma bola para poucos, em qualquer nível, seja em amistoso contra time de NBA, ou em playoff do NBB. Ainda mais quando se está pregado em quadra. Não havia explosão nenhuma em seu jogo nesta sexta. Já que foi até Memphis, todavia, o armador ao menos tem a chance de visitar a antiga residência do Elvis Presley. Graceland é logo ali.

O jovem Gegê foi bem melhor nesta sexta. Por outro lado, encarou por muito mais tempo o esloveno Beno Udrih, em vez de uma peste como Conley. Udrih está há 10 anos na NBA, mas muito mais por sua habilidade e visão de quadra no ataque do que pelo empenho ou agilidade na defesa, sabemos.

Marquinhos teve sua melhor atuação individual neste giro, combatendo na defesa, matando seus chutes de fora e correndo bem a quadra. Cristiano Felício voltou a bater de frente com pivôs de ponta, como Kostas Koufos, e segurou a bronca.

*   *   *

Bem, agora é ouvir diretoria, comissão técnica e jogadores do Flamengo na volta para saber que tipo de lição, experiência eles tiram dessa viagem marcante. Com a relação de NBA e LNB se estreitando, é de se imaginar que esse tipo de oportunidade vá se repetir no futuro para outras equipes daqui.

*   *   *

Um lance engraçado aconteceu logo no início de partida, quando Marcelinho Machado matou uma bola de três na zona morta na cara de Tony Allen. Foi ali que Joerger parou o jogo. E ficou aquele medo na massa rubro-negra: seria um verdadeiro teste de imortalidade para o camisa 4 flamenguista, uma vez que o pitbull do Memphis certamente voltaria para quadra querendo devorá-lo vivo. Felizmente nada de mais grave aconteceu.*   *   *

E Marcelinho, aos 39 anos, terminou sua turnê de NBA com 13-27 nos seus chutes de três pontos, ou 48% de aproveitamento. Contra o Grizzlies, foi de 4-7, depois de 6-12 contra o Suns.

 


Flamengo perde, mas mostra que não é café-com-leite
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Giancarlo Giampietro

Laprovíttola x Thomas: argentino nem se importou com rivais mais badalados (e bem mais ricos)

Laprovíttola x Thomas: argentino nem se importou com rivais mais badalados (e bem mais ricos)

Os aspectos que valem mais na turnê rubro-negra pelos Estados Unidos dizem respeito realmente ao que o clube pode ganhar em outras esferas, fora de quadra. Seja do ponto de vista logístico, estratégico e até – por que não? – comercial.

Mas, para quem acabou de conquistar a Copa Intercontinental, vem de um bicampeonato no NBB e tem também o troféu de melhor da América (Latina), o jogo também até que é importante. O Flamengo não pode ser visto como café-com-leite. Foi o que o primeiro time latino-americano a competir no maior palco da modalidade mostrou nesta quarta-feira, ao fazer uma partida dura com o Phoenix Suns, embora perdendo 100 a 88.

Alguma ressalvas, claro, precisam ser colocadas logo de cara: este foi apenas o primeiro jogo do Suns em sua pré-temporada. Eles estavam treinando pesado a mais de 2 mil metros de altitude até o final de semana e em diversos momentos dava para notar seus atletas pareceram um pouco pregados em quadra – os efeitos positivos da correria em Flagstaff devem ser sentidos mais adiante, ou assim espera, ao menos, sua comissão técnica. Além disso, o ginásio nem encheu, e tal. Para eles, esta é apenas uma fase de ajustes e de desenferrujar. Não entra para os registros oficiais.

Meyinsse fez de Miles Plumlee gato e sapato. Pivô do Fla tem bola para jogar em alto nível

JErome Meyinsse fez de Miles Plumlee gato e sapato. Muito forte, atlético e determinado, pivô do Fla tem bola para jogar em alto nível. Grande sacada de mercado dos rubro-negros

Posto tudo isso, ninguém vai jogar para perder – Gregg Popovich não infartou, mas também não ficou só de sorrisos em sua entrevista depois de a máquina chamada Spurs ser derrotada pelo modesto Alba Berlim, um pouco mais cedo, na capital alemã. Para o Suns, ainda contava o orgulho de jogar em casa, mesmo que vazia, contra um time ‘inexpressivo’ para o mercado de lá.

(Antes que os rubro-negros se enfureçam: os caras nem bem sabem o que é Barcelona ou Real Madrid no basquete – o problema é de ignorância norte-americana, e, não, de irrelevância flamenguista, tá?)

“Foi um jogo estranho… Não sabíamos muito sobre o Flamengo. Então foi um pouco difícil”, afirmou Goran Dragic, que, convenhamos, não jogou nada (6 pontos em 25 minutos, 2-9 de quadra, três turnovers e uma assistência). O astro esloveno foi dos que aparentou maior cansaço e falta de sintonia em quadra, errando até mesmo bandeja livre no contra-ataque.

Os treinadores e atletas do Suns podem ter estudado um minutinho ou outro do time brasileiro, mas certamente não conheciam em detalhe, por exemplo, os truques que um Nícolas Laprovíttola pode apresentar. O argentino pode ter forçado muitos chutes de três pontos (1-5, com péssimas escolhas) e algumas infiltrações sem destino, mas mostrou que tem talento para competir no mais alto nível, entrando no garrafão, cavando diversas faltas e tudo o mais, sem se intimidar com um pitbull como Eric Bledsoe (somou 13 pontos, sendo 10 deles em lances livres, e deu 12 assistências).

O armador não estava sozinho nesse sentido. Vários atletas flamenguistas mostraram categoria em diversos momentos da partida, quebrando alguns tabus a respeito de suas qualidades. Pesa para o elenco rubro-negro também seu entrosamento, sua química, sua continuidade são fatores que fazem diferença em qualquer esporte, mas que no basquete são ainda mais importantes. São essenciais.

Do ponto de vista individual, todavia, nada foi mais instigante do que ver o jovem Cristiano Felício causando impacto no garrafão, levando a melhor sobre um desastrado Miles Plumlee e dando um trabalho danado para os irmãos Morris. Fisicamente, no mínimo, está pronto. A técnica (sempre) pode melhorar, mas já está claro, no pouco tempo que recebe, que pode influenciar um jogo para agora – e não apenas num futuro hipotético baseado em seu potencial evidente.

Para constar: em 15 minutos, ele teve o maior saldo de pontos (o plus/minus) do Flamengo, com +13. Foram oito pontos e oito rebotes para o pivô. Ele realmente já pede um voto de confiança maior de Neto e precisa jogar, e mais. O rubro-negro só tem a ganhar com isso, e o basquete brasileiro, em geral, também agradeceria.

Sempre mais admirado fora do país do que por aqui, Marcelinho anotou 16 pontos em sua estreia numa quadra de NBA, contra um Dragic sonolento-quase-parando. Mas cometeu cinco dos 26 turnovers do Fla, fazendo muita firula na hora de passar a bola. No total, o jogo teve 47 desperdícios de posse de bola. Isso é pré-temporada

Sempre mais admirado fora do país do que por aqui, Marcelinho anotou 16 pontos em sua estreia numa quadra de NBA, contra um Dragic sonolento-quase-parando. Mas cometeu cinco dos 26 turnovers do Fla, fazendo muita firula na hora de passar a bola. No total, o jogo teve 47 desperdícios de posse de bola. Isso é pré-temporada, não podemos esquecer

Enquanto isso, o americano Derrick Caracter, contratado de última hora especificamente para a Copa Intercontinental e para o giro de amistosos nos EUA – pelo que vemos, desnecessariamente –, mal conseguiu fazer cócegas em seus compatriotas (cometeu dois turnovers em 9 minutos e mais nada). Ao contrário de Jerome Meyinsse. O pivô titular também fez bela partida, com 15 pontos em 24 minutos, dominando o garrafão ofensivamente no primeiro quarto até se atrapalhar com as faltas.

Foi investindo em Meyinsse, mesmo, que o Flamengo fez um belo início de partida, chegando a abrir vantagens como 6-0, 13-8 e 30-25, até meados do segundo quarto, quando o time da casa assumiu a liderança pela primeira vez no duelo, com 34-33. Se bem observado pelos olheiros internacionais, o pivô não deve durar muito no mercado brasileiro. Assim como Laprovíttola.

A partir do momento em que o Suns passou a rodar seu elenco, bem mais volumoso, o aspecto físico foi fazendo a diferença, ainda mais numa etapa ainda preliminar da preparação física dos caras. As escapadas no placar da equipe norte-americana aconteceram justamente na segunda parcial como na quarta, com o jogo de transição com pernas mais descansadas fez estragos. Vale destacar aqui outro ponto: o fato de o jogo da NBA ser mais longo, com oito minutos a mais do que os brasileiros estão habituados a disputar (20% mais longo). Cansa.

Por outro lado, mesmo que seja só um amistoso, de pré-temporada, também dá para puxar a orelha em termos de execução ofensiva também. Se o Fla tivesse maneirado nos arremessos de três pontos – ou caprichado mais, já que optaram pelas bombas… –, numa linha ainda mais distante que a da Fiba, talvez a história pudesse ter sido diferente. Vai saber. O time da Gávea matou apenas 6-25 de fora (24%). Quando o ataque alimentou os pivôs e usou mais infiltrações, foi muito mais produtivo. Nos primeiro e terceiro períodos, quando conseguiu segurar mais o jogo, a equipe de Neto venceu por 49 a 38. Mesmo.

Está certo: não foi um desastre, muito longe disso. Para se ter em mente: até agora o Maccabi Tel Aviv, aquele mesmo que foi derrotado na Copa Intercontinental pelos rubro-negros, já disputou dois e tomou duas pauladas. Nesta terça, deu Brooklyn Nets: 111 a 94. No primeiro jogo, contra o Cleveland Cavaliers, o placar foi de 107 a 80.

Para quem vem fazendo história em quadra, porém, ambição não pode faltar. Na próxima semana, tem mais: quarta, contra o Orlando Magic (teoricamente o jogo mais ganhável) e na sexta contra o Memphis Grizzlies. Os dirigentes, a comissão técnica e os jogadores vão descobrir mais instalações, mais atletas, mais conexões – e também podem fazer um pouco de turismo, que ninguém é de ferro. Mas, sim, pelo que apresentou em seu primeiro teste contra o Suns, dá para pensar em aprontar algo a mais que uma lista de presentes ou a lição de casa.