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Arquivo : JR Smith

Cavs destroça a Conferência Leste, e não há do que duvidar aqui
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Giancarlo Giampietro

Tem sido um atropelo

Tem sido um atropelo

À medida que Stephen Curry vai acertando os parafusos em confronto com o Oklahoma City Thunder, a grande pergunta que fica no ar para os #NBAPlayoffs é sobre o Cleveland Cavaliers e sua assustadora dominância. O quanto isso tem mais a ver com o alto nível de rendimento que os LeBrons têm apresentado ou com a fragilidade de seus adversários? Parece ser o tópico mais intrigante por aí. Depois de o time espancar o Toronto Raptors pelo segundo jogo seguido, por 108 a 89, nesta quinta-feira, talvez já não seja mais relevante questionar isso.

A equipe se tornou apenas a quarta na história a somar dez vitórias em seus dez primeiros jogos. Se for pensar apenas em duelos com times da conferência, já são 17 triunfos seguidos desde o ano passado, que é a maior sequência da história dos mata-matas. Abrir um placar de 2 a 0 pelas finais de conferência não é algo tão raro assim de acontecer: 11 já haviam feito. Todos os 11 saíram vencedores rumo à decisão da liga. Quando reúne LeBron James a Kevin Love e Kyrie Irving, o Cavs também está invicto, com 14 vitórias.

Esse sucesso todo, acho que está claro, passa pelo sistema ofensivo, que é o mais eficiente destes playoffs, e de longe. Na média, são 116,9 pontos por 100 posses de bola, contra 112,7 do Golden State Warriors, o segundo colocado. A defesa não é tão de elite assim. Entre os 16 times classificados para a segunda fase, estão apenas em nono. Mas quer saber? Não está fazendo a menor diferença. Seu ataque tem trucidado a oposição.

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Em dez partidas até aqui, apenas três jogos foram decididos por menos de 10 pontos de diferença, dois deles contra o Detroit Pistons pela primeira rodada (106 a 101 pelo Jogo 1, bem parelho do início ao fim, e 100 a 98 pelo Jogo 4, quando o time da Motown lutava contra a varrida) e um contra o Altanta Hawks (100 a 99 pelo Jogo 4, também com os anfitriões lutando em vão para evitar o 4-0). Isto é: dois desses duelos mais equilibrados aconteceram quando já estava tarde demais nas respectivas séries.

Tem muita gente dizendo que isso se deve à fragilidade da conferência. Não acho que seja mais o caso de bater nessa tecla — e, se for para irritar o torcedor do Cavs, é só ficar falando sobre isso sem parar. O aproveitamento de seus concorrentes dos playoffs do Leste nesta temporada foi de 58,7%, com uma média de 48,1 vitórias. No ano passado, tiveram, respectivamente, e 56,4% e 46,2. Vale lembrar que dois times chegaram aos mata-matas em 2015 tiveram rendimento abaixo dos 50%, como o Boston Celtics, derrotado na primeira rodada. O oitavo colocado deste ano foi o Detroit Pistons, já com 44 vitórias. E outra: se os números lhe parecem similares, é porque houve a influência do excepcional rendimento do Hawks de 2014-15, de 60 triunfos. Tudo para ser varrido por Cleveland na final regional, com quatro de seus titulares jogando no sacrifício.

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%, segundo o Synergy

Essa é a ironia: pela segunda temporada seguida, os LeBrons pegam um adversário completamente desestabilizado na hora de disputar o troféu do Leste. Se é para falar de fraqueza do adversário, ao contrário daquele Hawks, as mazelas do Toronto Raptors são no momento técnicas e/ou psicológicas — por mais que Jonas Valanciunas faça falta, não dá para imaginar que só o lituano faria tanta diferença assim para compensar um saldo negativo de 50 pontos em duas partidas. Após uma belíssima campanha, a equipe canadense  se esfarelou em questão de semanas. Kyle Lowry e DeMar DeRozan já erraram, juntos, 374 arremessos em 16 partidas (23,3 por jogo). Estão acertando apenas 36,3% no total. Isso não é número para uma dupla de All-Stars.

Mas o Cavs não tem nada com isso. E, mesmo que Lowry e DeRozan estivessem jogando o máximo, o Raptors não seria páreo para o que o seu adversário vem apresentando. Um tipo de basquete que não tomou conhecimento nem mesmo da segunda melhor defesa da liga, a do Atlanta, pelas semifinais. Nem mesmo os hiperativos marcadores de Mike Budenholzer puderam impedir que o Cleveland chegasse aos 100 pontos em todas as suas partidas, incluindo contagens de 123 e 121 pelos Jogos 2 e 3 da série. Que isso fique claro: o Atlanta era um oponente em ascensão, que prometia dar trabalho graças a seu empenho na contenção, mas não teve chance nenhuma.

Não há quem tenha feito mais splash do que o Cavs. Em termos de aproveitamento efetivo dos arremessos de quadra (eFG%, que dá mais valor aos tiros de três), eles têm 56,2%, acima dos 54,8% do Golden State. O Spurs se despediu com 51,9%. O Thunder tem 51,1%. O Raptors, só 45,4%. Cheio de confiança, o Cavs vem arriscando 33,1 chutes de fora nos playoffs, acertando 44,7%, contra 40,8% do Warriors, para comparar.  É o segundo time que gera mais assistências por posse de bola, aí atrás dos atuais campeões, e o quarto em percentual de assistências para cestas de quadra.

Dando uma boa olhada nos números dos playoffs — com a devida ressalva de que eles são um pouco desequilibrados, pelo simples fato de que os times não têm se enfrentado entre si, mas só contra alguns adversários específicos –, houve algo que me surpreendeu, em relação ao que vemos em quadra. Sabe aquele papo de que Tyronn Lue queria ver seu time acelerando geral? Esqueça. Nos playoffs, eles só têm o quinto ritmo mais lento dos mata-matas, só correndo mais que Raptors, Pacers, Grizzlies e Pistons. Ainda assim, estão destroçando os oponentes, com este aproveitamento altíssimo.

A excelência coletiva ao mesmo tempo passa por e gera a excelência individual. E aí tudo começa com LeBron James, né? Embalado, com 23 pontos, 11 rebotes e 11 assistências nesta terça-feira, o ala passou Magic Johnson no ranking histórico de triple-doubles pelos playoffs, ocupando a liderança agora, e também deixou Shaquille O’Neal para trás na lista de cestinhas, assumindo o quarto lugar. Seu desempenho contra o Raptors é digno de um MVP e de quem não quer se distanciar da chata conversa sobre quem-é-o-melhor-do-mundo:

É, são 69,2% na conversão dos arremessos de quadra, algo devastador. O mais legal, porém, é entender como ele está chegando a esse aproveitamento. O departamento de estatísticas da ESPN levantou dados curiosos sobre o rendimento de LBJ e Stephen Curry após dois jogos pelas finais de conferência. Cada um converteu 18 arremessos de quadra. Ao medir a distância do ala para o aro quando fez suas cestas, você acumula até agora apenas 8,8m. Para Curry? São 105,4m. Demais o contraponto, né? Não dá para ter abordagens mais diferentes. Na área restrita, o trator do Cavs converteu 17 de 19 tentativas. Não tem Bismack Biyombo que o atrapalhe.

As coisas caminham juntas também. LeBron só consegue chegar à área restrita para castigar o aro por ter grandes chutadores ao seu lado, espaçando a quadra. E esses chutadores também se beneficiam da atenção que o craque chama, ganhando alguns instantes valiosos para receber o passe e olhar para a cesta — ou fazer a bola girar, como tem acontecido constantemente nesta fase decisiva, num avanço que chega a ser até milagroso, quando comparado ao que vimos na temporada regular. E aqui você tem de elogiar o trabalho de Tyronn Lue, conseguindo convencer seus astros a reparar o estrago, mas também não dá para não criticar a postura do elenco nos tempos de David Blatt.  

Channing Frye está com um aproveitamento efetivo de 85% nos arremessos com os pés plantados. Impressionante, e não é nem mesmo o maior do time. O inabalável (!?) JR Smith está com 87%. No geral, Frye tem convertido 78,3% na soma de chutes de dois e três, enquanto JR tem 67,9%. Para termos uma ideia do que isso significa, Curry teve 64,3% durante a temporada regular. Klay Thompson, 56,9%. Isso para não falar de Irving e Love. Então chegou a hora de marcar LeBron individualmente, o tempo integral, e ver no que dá. Não pode dobrar mais. O problema do Raptors é que, debilitado, DeMarre Carroll não dá conta disso. OKC e Warriors estariam mais bem equipados. Mas obviamente é um risco a ser corrido. Hoje, com o Cavs acertando tanto nos disparos de fora, você tem de assumi-lo. Seria a sexta final seguida para LeBron, aliás.

Das três equipes anteriores que venceram seus dez primeiros jogos pelos playoff, só uma chegou ao título — o Lakers de 2001, com Shaq e Kobe arrancando cabeças para muito perto de concluir sua campanha pelo mata-mata com 100% de aproveitamento, sofrendo apenas um revés na abertura das finais contra Allen Iverson. Sim, aquele jogo pelo qual Tyronn Lue é lembrado até hoje. O Lakers já havia vencido 11 jogos seguidos em 1989, mas ficaria com o vice-campeonato ao ser superado pelo Detroit Pistons na decisão, com lesões limitando seu poder de fogo na hora decisiva. O outro caso foi o do San Antonio Spurs, em 2012, quando o esquadrão de Gregg Popovich estava barbarizando desde as últimas semanas da temporada regular até esbarrar no Oklahoma City Thunder numa das séries mais emocionantes da década.

Quer dizer, aqueles que não foram campeões só pararam em adversários especiais.  Acho que ninguém imagina que o Cleveland vá atropelar qualquer time que saia do Oeste, por mais desgastante que possa ser o confronto entre Warriors e Thunder.  Mas parece claro que aquela equipe que está jogando o basquete mais eficiente, bonito e, caceta, avassalador é o Cavs.

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Virou melhor de três: notas antes do Jogo 5 entre Warriors e Cavs
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Giancarlo Giampietro

Escuta, gente, eu recebi um SMS de madrugada que diz que...

Escuta, gente, eu recebi um SMS de madrugada que diz que…

Após duas vitórias para cada lado, o que temos agora é realmente uma série melhor de três para definir as #NBAFinals. Mas isso não significa que Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers estejam recomeçando do zero. Tudo o que aconteceu nas primeiras quatro partidas conta e influencia o que vem pela frente. E foi muita coisa.

Duas prorrogações em Oakland, com o Cavs roubando o mando de quadra após muito drama. LeBron James nunca arremessou tanto em sua vida, acumulando números absurdos num esforço hercúleo. Matthew Dellavedova virou personagem de cinema. Timofey Mozgov e Tristan Thompson engoliram a tábua ofensiva. Stephen Curry errou muitos arremessos de três pontos e cometeu um caminhão de turnovers no meio do caminho até reencontrar o mínimo de equilíbrio. Andre Iguodala provou que ainda pode ser um jogador bastante relevante na liga, assim como David Lee, em menor escala. E, claro, diante de tanta movimentação por parte de seus jogadores, David Blatt e Steve Kerr jogaram xadrez. Ou pôquer. Escolham.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

Rumo ao Jogo 4, o Warriors estava contra a parede, encurralado pela pressão física que seus adversários estavam impondo, incomodando LeBron aqui e ali, mas se curvando diante de sua dominância. E aí o time californiano radicalizou, ao banir nos grandalhões de sua rotação e enfim assumir o controle das ações em quadra, como aconteceu na quinta-feira.  Agora é a vez de Blatt promover ajustes, embora seja difícil imaginar quais.

Pequenas coisas podem ser feitas. A preocupação inicial é tentar ajudar Matthew Dellavedova a ser eficiente no ataque, liberando o australiano com bons corta-luzes para que ele possa produzir alguma coisa. A outra é o que fazer quanto a Andre Iguodala. Em teoria, você paga para ver seu chute de longa distância, historicamente ineficiente. Mas que tal apenas fazer sombra ao ala, pelo menos? Sobre os minutos de LeBron: quando ele vai descansar e como atacar quando ele está no banco? Gastar os 24 segundos só não adianta.

É aqui, então, que entra a primeira de algumas notinhas interessantes que pudemos coletar desde quinta. Uma nota que vale como emenda ao último artigo do blog sobre as finais: a escassez de alternativas técnicas para Blatt, e a angústia que essa constatação gera:

– Diga-me com quem andas
O repórter Brian Windhorst construiu sua carreira na NBA com a sorte de poder acompanhar o surgimento do adolescente LeBron em Ohio, ao mesmo tempo em que trabalhava diariamente na cobertura do Cavs. Competente, cultivou fontes e estava muito bem posicionado para relatar o que se passava ao redor do principal nome da franquia. Foi, por isso, contratado pela ESPN.

Estamos falando, logo, de alguém bem conectado, com credibilidade para dar furos sobre o cotidiano do clube. Sua última matéria de bastidores, com base em fontes anônimas, porém, é daquelas de se fazer coçar a cabeça. Apurou que “alguns jogadores sentem, acreditam que uma rotação mais ampla, com minutos mais distribuídos, beneficiaria a equipe”.

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Só faltou identificar que tipo de jogador estava falando isso: os que não estão saindo do banco, ou algum titular eventualmente extenuado? Faz toda a diferença, não? Se o cara não está sendo utilizado, dãr, é claro que vai pedir para entrar na festa. São as finais. Se alguém estiver se arrastando, não poderá pedir para sair, literalmente, mas pode recomendar que um companheiro diferente seja utilizado. Pega bem com o coletivo, ao mesmo tempo em que não funciona como confissão.

As duas linhas argumentativas fazem todo o sentido, aliás, como teoria. Na prática… O que está sendo pedido? Que Blatt tente abrir as portas do vestiário para Mike Miller e/ou Shawn Marion – já que pedir Kendrick Perkins e Brendan Haywood ultrapassaria a fronteira da insanidade. Sobre Miller e Marion: talvez fosse o caso de arriscar, mesmo, a inserção de um deles no grupo de atletas ativos. O problema: quem exatamente eles vão substituir, em termos de dar descanso?

Há cinco anos, Marion poderia dar muito trabalho ao Warriors. Agora, quer jogar, mas ninguém sabe ao certo o que ele pode oferecer – ou se não vai atrapalhar

Há cinco anos, Marion poderia dar muito trabalho ao Warriors. Agora, quer jogar, mas ninguém sabe ao certo o que ele pode oferecer – ou se não vai atrapalhar

Os titulares visivelmente mais desgastados são LeBron e Dellavedova, e não me ocorre de que maneira um dos veteranos alas poderia rendê-los. Sem Kyrie Irving e Kevin Love, o Cleveland não tem um jogador além de seu principal astro que possa criar jogadas por conta própria. Marion e, muito menos, Miller, não se encaixam nesse perfil. Não adianta ter um chutador desses, se ele não vai ter espaço para arremessar – como aconteceu em Miami e Memphis, a partir das sobras de James, Wade, Bosh, Gasol e Randolph. Isso para não falar do jogador que ele precisaria marcar: Barnes, Iguodala, Livingston, Leandrinho? Sem chance. (Antes de mais nada, o mesmo raciocínio vale para o calouro Joe Harris, com o agravante de sua inexperiência).

Do outro lado da quadra, o antigo Matrix já não tem mais condições de marcar um armador, especialmente um armador veloz e habilidoso como o Chef Curry. Mesmo com minutos reduzidos. Fiscalizar Klay Thompson talvez seja pedir demais. E, em termos de ala-lento-que-ainda-pode-tentar-fazer-alguma-coisa-para-atrapalhar-Draymond-e-Harrison, James Jones já se ocupou dessa tarefa, sendo muito mais perigoso nos arremessos. Ele parece o mais indicado para dar uma folga a Tristan Thompson.

De resto, temos Timofey Mozgov, sobre o qual não precisamos nem gastar mais tempo para discutir, e os demais alas. JR Smith jogou menos de 32 minutos por partida desde que chegou a Cleveland e passou também um bom tempo no banco em Nova York. Iman Shumpert sofreu com pequenas lesões e não passou dos 25 minutos em média em seu novo clube. Nos playoffs, sua carga subiu para 34 minutos. O cabeleira tem 24 anos, um a mais que o Thompson canadense, alguém que leva muito mais pancadas numa partida de basquete e deu de ombros ao ser questionado sobre um eventual cansaço ao final do Jogo 4. Miller e Marion poderiam eventualmente substitui-los por alguns minutos pontuais que fossem. No plano geral, faria diferença? São caras que já ganharam títulos, sabem o que precisa ser feito. A dúvida é se eles ainda conseguem e se, mais grave, os meros minutinhos que possam ganhar não seriam muito custosos.

A temporada regular dos veteranos...

A temporada regular dos veteranos… Não anima muito

“É uma decisão do técnico, se ele pensar em usar mais o banco. Não usamos muitos caras nesta campanha de playoff. Acho que poderia ajudar alguns dos que estão acumulando muitos minutos, certamente. Basta dar alguns minutos aqui e ali. Mas a comissão técnica vai  tentar fazer o que for melhor para nos ajudar em nossa preparação física e mental para o domingo”, diz LeBron, para, depois, completar e consentir: “Não temos muitas opções em termos de escalação.”

Seria prudente um remanejamento de minutos. Qualquer respiro a mais para LBJ pode ser valioso no caso de outro jogo apertado. A dica até ficaria. Mas aí você tem de encontrar as alternativas para sustentá-la.

– Valendo US$ 6 milhões ou mais
Se o banco de reservas não oferece muitas alternativas, a grande esperança de Blatt talvez seja, mesmo, uma evolução dos próprios jogadores que ele vem utilizando. Em especial JR Smith. O ala seria o único que poderia realmente ajudar a aliviar as responsabilidades ofensivas do camisa 23. Não estivesse numa terrível fase.

Taí um chute quase contestado para JR converter. Fácil?

Taí um chute quase contestado para JR converter. Fácil?

Se, contra o Atlanta Hawks, o avoado Smith teve médias de 18 pontos e 50% nos arremessos, contra o Golden State seu aproveitamento vem sendo horroroso, que não compensa em nada sua constante desatenção defensiva. Em quatro partidas, tentou 47 arremessos de quadra e converteu apenas 14. Na linha de três, foram 7 em 28. Se ele comete poucos turnovers, também não dá assistências (foram apenas três até aqui), num claro sinal de que não está criando, nem mesmo tentando criar nada. Deve ser um reflexo direto do plano de jogo centralizado em James, para gastar o tempo e conter o número de desperdícios de bola. Mas o Cavs precisa, com certo desespero, que ele ao menos consiga converter os chutes que tiver no lado contrário a partir das eventuais dobras em cima da superestrela. LBJ sabe disso.

“Ele pode errar uma centena de arremessos”, disse. “Se estiver bem posicionado, a partir de infiltrações e passes para fora, tem de chutar com confiança. Se ele estiver se sentindo confiante em sua agilidade, então eu também estarei confiante nisso. Enquanto competidor, se você perder sua confiança em suas capacidades, fica muito difícil de recuperá-la.”

Com mais mobilidade, a defesa do Warriors forçou que Smith, Dellavedova e Shumpert colocassem a bola no chão antes de subir para a cesta. A estratégia deu certo, em geral. Mas o próprio Smith é quem se gaba ao dizer que prefere muito mais um arremesso contestado, difícil, do que aquele em que estiver livre. Tem agora uma ótima oportunidade para comprovar sua lógica tresloucada.

As decisões de extensão contratual de James e Kevin Love, naturalmente, são as que mais chamam a atenção nos bastidores do Cavs. Acontece que JR também pode virar um agente livre, caso decida exercer uma cláusula contratual e abrir mão dos US$ 6,4 milhões que tem para receber na próxima temporada. Se continuar ladeira abaixo nestas finais, talvez seja difícil optar pela rescisão, com a insegurança de que talvez não esteja tão valorizado assim para assinar um novo compromisso de longo prazo.

– Tem hora para tudo
Nick U’Ren tem apenas 28 anos. Você pode espiar seu currículo aqui e perceber uma vasta área de atuação e talvez não pudesse imaginar que partiu dele uma sugestão que pode ter mudado o rumo da série: a promoção de Andre Iguodala ao time titular, mas no lugar de Andrew Bogut. Lee Jenkins, um dos melhores textos e repórteres envolvidos com a cobertura de NBA, conta tudo na Sports Illustrated.

Seu cargo tem o seguinte título: “assistente especial do treinador principal”. O cara basicamente quebra todo o tipo de galho para Steve Kerr e sua comissão técnica. Na última quarta, decidiu fazer algo a mais. No tempo (supostamente) livre à noite, decidiu recuperar alguns VTs das finais do ano passado, entre Spurs e Heat. Não faz tanto tempo assim, mas é fácil relevar ou mesmo esquecer alguns detalhes daquela batalha que envolveu um time totalmente dependente de LeBron. Foi quando se deparou com a escalação texana para o Jogo 3, em Miami. Tiago Splitter, tão importante para a defesa de Gregg Popovich, deu lugar a Boris Diaw no quinteto inicial.

U’Ren telefonou na hora para Luke Walton, um dos assistentes e Kerr proteção do aro, o Warriors rebaixaria sua estatura e envergadura completamente. Walton, o integrante mais jovem do corpo de técnicos, matutou e abraçou a causa. Mandou uma mensagem de texto às 3 h da madruga para Steve Kerr. Essa é a história por trás da “mentira” assumida por Steve Kerr, que havia dito que não alteraria de forma alguma seu time.

Nick U'Ren, o homem do momento

Nick U’Ren, o homem do momento

O treinador tinha todos os motivos para relutar, mesmo. Com Bogut patrulhando o garrafão, seu time foi o melhor da liga por quase 100 partidas. Embora tivessem perdido o o controle das finais, não é fácil passar a borracha em tudo o que haviam elaborado até o momento. No fim, porém, o pentacampeão da NBA ignorou qualquer noção de vaidade e topou a mudança proposta por um cara de 28 anos, provavelmente desconhecido pela grande maioria de torcedores do Warriors. Não só isso: na entrevista pós-jogo, fez questão de dar todo o crédito para U’Ren, dizendo ainda que o rapaz tem toda a pinta de que vai se tornar um gerente geral ou técnico no futuro.

Sobre o que escreve Jenkins: “Quando Kerr assumiu o cargo em maio, fechou com dois assistentes experientes em Ron Adams e Alvin Gentry, mas também deu oportunidades a Walton e Jarron Collins. Ele trouxe Bruce Fraser, com quem trabalha junto desde a universidade, e U’Ren, que trabalhou com ele em Phoenix. Deu a eles uma voz, independentemente de seu status, criando uma cultura em que ninguém tinha receio de falar – ou mandar uma mensagem de texto de madrugada”.

A propensão de Kerr ao diálogo, aliás, emula o comportamento da diretoria do Warriors. Os debates entre os principais articuladores da franquia já se tornaram célebres. Como no dia em que Jerry West ameaçou pedir demissão do cargo de consultor caso o proprietário Joe Lacob decidisse levar em frente a troca de Klay Thompson por Kevin Love. Um chefe mais controlador talvez se antecipasse e decidisse ele, mesmo, mandar West embora (ou qualquer figura menos prestigiada). Ninguém sabe ao certo se o legendário estava falando sério, ou não. Sua opinião foi ouvida, fato.

A habilidade de Steph Curry, a genialidade de LeBron, a velocidade de Leandrinho, a brutalidade de Tristan Thompson… Isso é o que a gente vê em quadra. É  o que decide de fato os rumos de um campeonato. Mas, por trás do sucesso de um clube de NBA, estão acontecendo muito mais coisas, gente.


JR Smith: da confusão ao encaixe para reforçar o Cavs
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Giancarlo Giampietro

E aí? Não é que deu certo?

E aí? Não é que deu certo?

O supertimes tendem a dar muito certo. O Boston Celtics de Pierce, Garnett e Allen precisou de apenas um training camp para se entender perfeitamente e caminhar para o título, o primeiro da franquia desde a era Larry Bird, após 22 anos. Em Miami, levou um pouco mais de tempo para LeBron e Wade se acertarem e terem na quadra o mesmo entrosamento da sala de estar, ou do jatinho privado, no caso. Karl Malone não conseguiu o anel com o Lakres, mas foi até a final ao lado de Shaq, Kobe e Payton, mesmo numa temporada 2003-04 espalhafatosa e acidentada.

Agora, no momento de construir uma equipe, o gerente geral X não vai obrigatoriamente buscar sempre os melhores componentes, o que há de melhor disponível no mercado. Existe, ou deveria existir uma preocupação com o encaixe dessas peças, tanto do ponto de vista esportivo, como na questão do convívio social. Não que todo elenco de NBA requeira uma aura fraternal. Família Kerr, Família McHale… Coisa mais cafona. Se tiver, porém, tanto melhor. Apenas espera-se que os jogadores tenham um mínimo de respeito mútuo para que o projeto possa ser levado adiante.

Tudo isso para chegar ao Jogo 1 da final da Conferência Leste, também já conhecido como O Jogo de JR Smith – assim como a sétima partida entre Clippers e Spurs pertence a Chris Paul. O que o ala ex-Knicks fez na quarta-feira foi para deixar qualquer observador maluco, independentemente de sua ocupação ou filiação. Torcedor, jogador, técnico, olheiro, dirigente, do Cavs ou do Hawks. Todos de queixo caídos, por diversas razões.

Fato 1: JR anotou 28 pontos, seu recorde pessoal nos mata-matas, sendo que 24 deles vieram em arremessos de três pontos. Seu aproveitamento ultrapassou o limite do absurdo, com oito conversões em 12 tentativas de longa distância.

Fato 2: JR converteu, então, 66,7% de seus arremessos de fora. O Cavs, excluindo seus números, ficou em 2-14 (14,3%). O Hawks chutou 4-23 (17,4%).

Fato 3: Dos 28 pontos de JR, 17 aconteceram entre a marca de 3min27s do terceiro período e a de 9min59s do quarto. Foram cinco disparos de três nesse intervalo, vencido por Cleveland por 22 a 4, para que uma vantagem de 85 a 67 fosse aberta no placar. O time da casa reagiria, mas o estrago foi grande demais.

Fato 4: Sabe quantos pontos os demais reservas de David Blatt fizeram? Nenhum. Zero. Nada.

Fato 5: As oito cestas de três do ala representam a segunda melhor marca de um jogador que tenha saído do banco em uma partida de playoff. Jason Terry encaçapou 9 pelo Mavs em 2011.

Foi uma exibição especial de um talento especial, que pode assombrar os adversários se empolgado. Ao mesmo tempo, talento cujo detentor também afugentou muitos dirigentes durante a temporada – e toda a sua carreira, na real. Vale a pena ler uma reportagem de Brian Windhorst no ESPN.com, na qual ele detalha como o Knicks estava desesperado para se livrar de Smith, até o Cleveland topar a empreitada. “Francamente, o Knicks estava tentando limpar seu contrato da folha salarial na próxima temporada, mas também queria afastá-lo do time. Reclamando sobre sua situação e o status decadente do Knicks, Smith não estava apenas falhando em produzir, mas também dando muito trabalho. Na verdde, o Knicks estava tentando encontrar um meio de se livrar deles há meses”, escreve.

Se o seu antigo time o estava tratando dessa forma, que tipo de problema ele poderia causar num vestiário que já andava um tanto turbulento? (Para não falar, claro, de todo o dossiê já público sobre sua prática avançada do lunatismo.) Foi o tipo de reflexão que o gerente geral David Griffin teve de fazer antes de levar o negócio adiante. A preocupação era tamanha que o cartola chegou a pedir autorização para o Knicks para conversar com o jogador antes de assinar qualquer coisa.

Para bater o martelo, teve cobertura. Sondou LeBron e Blatt e ouviu sim de ambos. O astro não só avalizou a troca, como também a incentivou. Disse que tomaria conta do reforço. O treinador também não se mostrou preocupado com a bagagem fora de quadra: se fosse pensar apenas no jogo, as habilidades de JR seriam perfeitas para um time que precisava de mais capacidade atlética no perímetro e mais arremesso. A combinação deu certo, como podemos notar, e nem mesmo a suspensão que sofreu por agressão a Jae Crowder foi recebida de forma negativa pelo clube. Windhorst relata: todos acharam o gancho de dois jogos exagerado, apoiando o ala. Provavelmente nenhum treinador tenha se empenhado tanto como Blatt vem fazendo, na hora de defendê-lo.

Xácomigo: LeBron disse que cuidaria de JR

Xácomigo: LeBron disse que cuidaria de JR

E aí veio essa atuação fantástica para o Cavs roubar o mando de quadra do Hawks na primeira partida para dar razão a todos. Cheio de confiança, Smith fez chover bolas de três em Atlanta, com alguns arremessos num grau de dificuldade altíssimo. Depois, figura que só, diria aos jornalistas presentes: “Prefiro tentarsempre um arremesso contestado a um chute livre. É meio entediante quando você arremessa livre”. E não é que os números comprovam sua preferência? O ala converte 48% nos chutes marcados, comparando com os 40% quando está isolado.

É praticamente impossível que ele consiga repetir esse tipo de desempenho, e nada perto disso pode ser cobrado, mesmo. Mas o fato é que o cestinha se sente respaldado e tem liberdade para atacar, botando pressão na defesa adversária e abrindo a quadra para LeBron fazer das suas, assim como havia acontecido na campanha 2012-13 pelo Knicks, com um sistema aberto de Mike Woodson ao redor de Carmelo. Um grande contraste com o sistema de triângulos, um ataque que propicia liberdade nos movimentos (as jogadas não são rabiscadas), mas pede muito paciência para esperar boas oportunidades de finalização. Esse alto astral, essa lua de mel muito provavelmente não vá durar ad eternum, pois a volatilidade de Smith beira o incontrolável. De qualquer forma, pelos resultados apresentados até aqui, a aposta já valeu.

O chuta-chuta parece até meio desmedido em algumas situações? Sim, tem hora que o Cavs exagera como um tudo. Por outro lado, pensem nos pivôs do time: Timofey Mozgov, Kevin Love (antes) e, principalmente, Tristan Thompson. Os três têm uma presença intimidadora perto da tabela. O canadense devora a tábua ofensiva com voracidade – contra o Hawks, foram cinco; na temporada e nos playoffs, coleta 14% das sobras. No ranking de times, apenas o Dallas Mavericks coleta mais rebotes no ataque nestes playoffs. Faz mais sentido, então, ter um chutador como JR nessa configuração. Você quer que ele acerte tudo, claro. No caso de erro, contudo, há quem esteja lá para tentar compensar. As características de cada atleta se interligam. A partir daí se forma a química em quadra. No vestiário, lideranças como LeBron e Perk entram em cena.

Iguodala num gesto em prol da química da melhor campanha da liga

Iguodala num gesto em prol da química da melhor campanha da liga

Esse tipo de situação se repete em diversos times que ainda estão no páreo, em diferentes níveis. Pegue o Houston Rockets, por exemplo, e sua rotação no perímetro. Patrick Beverley faz uma falta danada, mesmo que não seja exatamente um armador de ponta. Não sei nem mesmo se dá para enquadrá-lo como um “armador”, “armaaaaador”, mesmo. E talvez nem precise. Afinal, James Harden é o condutor do ataque, quem controla a bola, enquanto Beverley oferece chute de três do lado contrário e muita pegada defensiva. Os dois se complementam. Não que um jogador como Goran Dragic ou Kyle Lowry (ex-jogadores do clube, especulados nos últimos meses como possíveis alvos de Daryl Morey) não possa dar certo, mas qualquer um deles exigiria um bom ajuste tático e técnico por parte do segundo colocado na eleição de MVP desta temporada. Beverley, diga-se, foi contratado antes mesmo de Harden, mas se tornou uma companhia perfeita. Agora vai virar agente livre. Em Houston, sua importância é amplificada. Sem um ala-armador como Sr. Barba ao seu lado, será que renderia com a mesma eficiência ou relevância?

Em Oakland, Andre Iguodala foi convencido por Steve Kerr a sair do banco de reservas. Não quer dizer que hoje seja um jogador inferior a Harrison Barnes. Entrando com a segunda unidade, porém, ao lado de Shaun Livingston, pode apertar a defesa e sufocar adversários, em teoria, inferiores, além de partilhar a bola e fazer o ataque fluir. Por outro lado, o envolvimento de Barnes com os titulares elevou sua produção. O jovem dá mais amostras de seu potencial. Agora, como seriam as coisas sem a companhia de chutadores como Curry e Klay ao seu lado? É mais fácil jogar como a terceira, quarta opção em quadra do que como a referência, o foco da segunda unidade, né? Como nos tempos de Mark Jackson.

O Atlanta Hawks como um todo talvez seja o maior exemplo disso, no qual o todo se tornou indiscutivelmente maior que a soma de suas partes – temos um supertime moldado de outra forma, sem superestrelas, mas com um nível acentuado de entrosamento e preparação. Essas são questões que qualquer torcedor deveria fazer antes de cobrar, comentar ou vibrar com qualquer contratação. Nem sempre o talento individual deve prevalecer. No caso de JR Smith, a verdade é que os recursos individuais nunca foram um problema. Difícil era enquadrá-lo. Ou melhor: encaixá-lo.


Cavs desfalcado pede ajuda aos amigos de LeBron
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Giancarlo Giampietro

Visão de dirigente de LeBron vai ser testada

Visão de dirigente de LeBron vai ser testada

LeBron James tinha um plano, desde o início. Se era virar as costas para um Dwyane Wade em frangalhos, para os arremessos de Chris Bosh e uma liderança como Pat Riley, que fosse para um clube em que pudesse dar as cartas – se não todas elas, mas grande parte do baralho. Se pudesse ser em casa, quanto melhor.

Quando o Rei decide retomar suas raízes, nem toda a ingenuidade de Cleveland vai poder confiar que fosse por mero sentimentalismo e apego a crenças locais. Isso pode até ter influenciado em todo o processo, mas um cara tão inteligente e ambicioso como LeBron não vai seguir um rumo porque o coração mandou. Assim como faz em quadra, sua versão homem de negócios avalia tudo o que está ao seu redor nos mínimos detalhes antes de tomar qualquer, na falta de melhor termo, decisão.

A maior prova disso é sua própria carta publicada na Sports Illustrated, comunicando ao povo de South Beach que estava retornando com os seus talentos para Ohio. Lá, deixou claro que Andrew Wiggins e Anthony Bennett não faziam parte de seus planos, abrindo caminho para a negociação por Kevin Love. O ala exigia um sacrifício do futuro por parte da franquia para instaurar seu reinado imediato. Sabemos o que aconteceu.

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Pois agora Kevin Love está fora de ação. Oficialmente, no caso – uma vez que não possamos dizer que o ala-pivô estava 100% presente de corpo e alma durante uma temporada cheia de pequenos incidentes que, quando agrupados, pintavam um cenário no qual sua saída de Cleveland, como agente livre, era realmente possível. Ninguém sabe ao certo mais depois da cirurgia no ombro esquerdo que vai tirá-lo das quadras por até seis meses.

O que sabemos é que, sem Love, LeBron e todos os seus chapinhas vão ter de realmente jogar muito para combater o Chicago Bulls nas semifinais do Leste. Talvez seja injusto com David Griffin, o gerente geral que merece o prêmio de Executivo do Ano pelo simples fato de ter tornado possível a volta do superastro e ainda realizou duas excelentes trocas em meio a um momento de crise. Mas é notório que algumas contratações do Cavs foram, digamos, sugeridas por James.

Espera-se alguma coisa, qualquer coisa da dupla acima

Espera-se alguma coisa, qualquer coisa da dupla acima. Ambos com 34 anos

Sim, estamos falando de Mike Miller e James Jones, além de, em menor escala, Shawn Marion – que não é dos amigos íntimos, nem nada disso, mas foi recrutado pessoalmente pelo craque. Ainda mais com JR Smith suspenso das duas primeiras partidas em Cleveland, esses veteranos precisam dar alguma contribuição para o Cavs. Mesmo que David Blatt opte por usar Timofey Mozgov e Tristan Thompson ao mesmo tempo e por longos minutos. Mesmo com minutos elevados para LeBron e Irving, que já tiveram, respectivamente, 43,0 e 40,5 minutos contra o Boston Celtics. Love e Smith acumularam mais de 53 minutos em média, que precisam ser absorvidos por alguém.

“A margem de erro contra o Celtics era tamanha que eles poderiam jogar num nível C, que tudo bem. Mas agora essa margem diminuiu consideravelmente. Contra o Bulls, não vai dar nem mais o B”, afirmou o jornalista Brian Windhorst, do ESPN.com, em podcast com Bill Simmons, editor-chefe do Grantland. Windhorst não está mais 100% dedicado ao dia a dia do Cavs, mas é um dos repórteres mais bem conectados dentro da franquia – e também com o círculo mais íntimo de LeBron. Acompanha o ala desde sua adolescência.

Windhorst depois mencionou a necessidade de pelo menos um integrante desse trio parada dura jogar bem em jogos isolados. Tipo: se Jones for bem na primeira partida, Marion, na segunda e Miller, na terceira. Para darem mais opções a David Blatt. Do contrário, as coisas podem se complicar. O técnico também adiciona Kendrick Perkins a essa lista. “Caras que estão no banco e não estavam jogando muito, com Shawn, Mike e Perk, precisam obviamente estar prontos para jogar mais minutos, e sei que eles vão fazer isso por serem profissionais e terem experiência e por terem estado em situações vitoriosas antes”, afirmou.

De fato, são todos trintões com muita bagagem e histórias para contar e que já foram campeões em diferentes momentos de suas carreiras. Estão habituados a momentos de pressão. Blatt (e LeBron) têm de se apegar a esse conceito, mesmo, para contar com os veteranos. Já que, em termos de atividade em quadra, a produção foi praticamente nula durante a temporada.

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Mesmo no caso de uma projeção estatística por 36 minutos, as coisas não melhoram muito. Na maior parte do tempo, os quatro jogaram mais como aposentados do que como peças importantes num time de playoff. Para não falar das dificuldades de Jones e Miller na defesa e as trapalhadas de Perk no ataque, cometendo turnovers sem parar (32,1% das posses de bola na qual foi envolvido). Contra o Celtics, Miller não teve um minuto sequer de ação, enquanto Marion e Perk somaram sete. Jones foi o único que jogou regularmente, com 46 minutos em quatro partidas, acertando apenas 2 de 11 arremessos de três (a especialidade de sua carreira).

Não que seus contratos tenham sido completamente equivocados. Faz bem uma presença reconfortante no vestiário, ainda mais no caso do Cavs, que seria o time mais visado/badalado/atacado/pressionado do campeonato. Não é por acaso que, ao checar o plantel do hegemônico Chicago Bulls de Phil Jackson (e Jerry Krause…), vamos encontrar verdadeiros anciões como James Edwards em 1996, aos 40, acompanhado por John Salley e Jack Haley, e Robert Parish em 97, aos 43. Mas nenhum desses pivôs velhacos teria um papel relevante em quadra. Bem diferente do que se espera em Cleveland agora.

Bicampeão com Miami e um dos melhores amigos de LBJ, James Jones está confiante. Ou mais ou menos confiante: “Uma parte essencial de nosso time foi subtraída, mas acho que temos o suficiente e nós sabemos que temos o suficiente. Então vamos jogar, competir. No final do dia, é questão de dar nosso melhor e esperar que esse melhor seja o bastante”, diz o ala

Essa incerteza gera um suspense tático para lá de intrigante – e deve até mesmo dificultar a vida dos técnicos de Chicago em um primeiro momento. Na hora de preparar o scout da série, eles vão precisar se ater com cuidado aos reduzidos minutos em que Kevin Love – e Smith – estavam no banco e tentar tirar conclusões a partir daí.

Mike Miller teve algumas grandes partidas pelo Miami e pelo Memphis nos playoffs. Conseguirá replicá-las?

Mike Miller teve algumas grandes partidas pelo Miami e pelo Memphis nos playoffs. Conseguirá replicá-las?

(Um parêntese: a contraposição dos talentos gera duelos individuais extremamente interessantes. São todas variáveis que corre-se o risco de ficar muito confuso. Tanto aqui no texto como nas pranchetinhas mágicas. Kyrie Irving x Derrick Rose: quem vai pontuar mais e permitir mais/menos pontos também? Iman Shumpert x Jimmy Butler: foi o ala com o qual LeBron comparou Shump no momento da troca, mas o emergente astro do Bulls é muito mais completo – e forte. Mozgov x Gasol: o russo vai tentar brecar o espanhol, mas tomando o máximo de cuidado com faltas. Thompson x Gibson: o canadense saltitante, cheio de energia contra um combalido e valente ala-pivô. Miller/Jones x Dunleavy Jr.: a corrida dos veteranos. Por aí vamos.)

O que pega é que Chicago também tem seus problemas. Joakim Noah está se arrastando pela quadra, e não é que Taj Gibson esteja correndo muito mais. Nikola Mirotic também se contundiu contra o Milwaukee Bucks, para não falar de todo o drama em torno de qualquer queda de Derrick Rose. A despeito da lavada que sofreu no Jogo 6, o Milwaukee Bucks deu muito trabalho.

Como Zach Lowe destaca em sua análise sempre minuciosa, Jason Kidd não teve problema Noah com jogadores menores, uma vez que o pivô não representava nenhuma ameaça. Marion, mesmo dois ou três passos mais lento que os tempos de Matrix, não teria problema com ele e ainda poderia atrapalhar Butler. Será que Jones e Miller também dariam conta? Talvez não seja necessário usar Thompson e Mozgov, uma dupla atleticamente opressora, ma que pode atrapalhar o ataque, em termos de espaçamento. A não ser que Mozgov acerte seus chutes de dois de longe com muita eficiência. Ainda assim, a quadra estará mais apertada para as infiltrações de LeBron e Irving. “Vamos ter de manter nosso ataque espaçado porque é dessa forma que jogamos”, diz Blatt. “Claro que sem os dois na escalação, algumas mudanças precisarão ser feitas. Mas tivemos muito sucesso neste campeonato e não queremos nos afastar tanto das coisas que deram certo.”

Se Miller e Jones ao menos estiverem acertando seus arremessos, a solução mais prática e recomendável talvez seja colocar LeBron como o ala-pivô efetivo do time, algo que ele fez com maestria em Miami, e apostar no small ball. Usar a flexibilidade que uma aberração atlética como o camisa 23 proporciona. O problema é que, dentre as muitas razões para seu retorno a Cleveland, ter Kevin Love ao seu lado no quinteto inicial era muito atraente justamente para afastá-lo da cesta. “LeBron odeia defender no garrafão, ter de batalhar ali. Para ele, é OK jogar ali no ataque de vez em quando, mas odeia marcar na posição 4”, diz Windhorst.

Por essas e outras que a mera cogitação de LeBron para o prêmio de MVP não parece nem um pouco justa com os outros candidatos. Afinal, estamos falando de um jogador que deliberadamente se esquivou de algumas responsabilidades. O mesmo cara que tirou duas semanas de folga durante a temporada para aliviar o estresse sobre a mente e o corpo. Que falou abertamente sobre como, em algumas partidas, estava no modo “relaxa e goza”.

Contra Chicago, ele sabe que não vai poder se comportar assim – vai precisar se desdobrar, alternando entre Gibson, Noah, Mirotic e, provavelmente, Butler, no caso de o ala estiver massacrando Shumpert ou Smith (quando este retornar). Haja fôlego e resistência.

Mesmo que o Bulls também esteja avariado fisicamente, é um time muito mais forte e calejado que o Boston Celtics. Com um número maior de opções que as da final de conferência de 2011 que o Miami derrubou, mas com um mesmo núcleo sedento por seu primeiro título. Thibs, Noah, Gibson e, principalmente, Rose vão brigar enquanto puderem.

Aí que LeBron vai ter de se expor de acordo com o que sua equipe precisar e o adversário pedir. Se houve um motivo para ele curtir a primeira metade do campeonato, era para poder se desdobrar nos playoffs, algo que a primeira rodada. “Obviamente, Kevin traz muito para o nosso time. É uma grande perda para nós. Ninguém vai conseguir assumir sua função – ele é especial por um motivo. Mas alguns dos nossos caras vão ter de se levantar e fazer mais. Precisamos disso, ainda mais com o JR fora”, afirmou James. Que, dessa vez, não vai ser testado apenas como craque, mas também como dirigente. E amigo.


Que rei sou eu? Cavs aguarda LeBron exemplar na 2ª metade da temporada
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Giancarlo Giampietro

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“Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. É uma frase para a qual, obviamente, não se pode atribuir autoria, mas acabou eternizada na cultura pop por Stan Lee, quando este fez o edificante Tio Ben proferi-la para um jovem Peter Parker. Saca, né? O futuro Homem-Aranha, que ainda precisava entender exatamente o que mudava em sua vida a partir do momento em que foi picado por um mardito aracnídeo radioativo. Acontece.

Desde a adolescência, com seus jogos transmitidos em rede nacional nos EUA e o rosto estampado em capas de revista, mais jovem ainda que Peter, LeBron James certamente já se deu conta desse lema. Isso não o impediu de assumir o título de Rei. De jeito nenhum. Então, se é para tratar desta forma, com todos os caprichos envolvidos, espera-se uma contrapartida – que ele reine com dignidade, algo que, na primeira metade da temporada 2014-2015, esteve longe de acontecer. Mas que, a julgar por sua mudança de comportamento nas últimas três partidas, pode estar mudando. Já não era sem tempo.

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Depois de enfrentar situações dificílimas em sua trajetória e vencer em Miami e retornar consagrado, o Rei James decidiu retornar a Cleveland, para abraçar o seu povo. Vocês perdoem se o tom do texto parece grandioso, mas  é que o próprio atleta levou a discussão para esse lado quando decidiu anunciar seu novo contrato com Cavaliers com uma carta pomposa publicada na Sports Illustrated.

Estava tudo muito perfeito. Ele decidia reatar os laços com muita gente para lá de magoada com sua saída, a começar por Dan Gilbert, o proprietário da franquia. “Estou voltando para casa”, disse. Uma vez de volta, estava por todos os lados em Ohio, como uma figura de fato onipresente. Muito bonito, mesmo. Chega uma hora, porém, em que a euforia passa, e os resultados começam a ditar o rumo das coisas.

LeBron: presente em ações comunitárias em Ohio

LeBron: presente em ações comunitárias em Ohio

Em termos práticos, pensando apenas no jogo, a primeira coisa que vinha na cabeça era que o cara já está realizado em sua carreira, finalmente* aclamado dentro e fora de quadra, e que esse parecia um movimento natural. (*PS: Essa noção, aliás, de que só os campeões podem se inserir no grupo dos grandes jogadores, como se Robert Horry superasse Charles Barkley, é bastante absurda, considerando tudo o que já havia feito em sua carreira, liderando alguns times capengas a um patamar elevado nos playoffs. De qualquer forma, LBJ oficialmente se livrava dessas amarras. Ganhou dois anéis, com um basquete exuberante, limitando qualquer polêmica ao seu redor apenas àquelas querelas de sempre, que não levam a lugar nenhum: “Fulano é muito melhor que sicrano” etc. Não esperem que eu vá perder meu tempo nessa.)

LeBron, todavia, tinha uma estrutura consolidada em Miami. Parceiros testados e aprovados e toda a credibilidade de Pat Riley nos escritórios. Virar as costas para isso não era uma, hã, decisão tão simples. Precisava, sim, de uma certa dose de coragem, para reassumir a missão de quebrar a maldição esportiva que paira pelos clubes profissionais de Ohio. Era tudo uma questão de prioridades, além do mais: o que pesava mais? O simples prazer de estar em casa, ou a chance de buscar mais um título para ele e o primeiro para seus súditos?

Retomando seu ensaio para a SI, nota-se que ele discorre muito mais mais sobre o significado de retomar o convívio em sua vizinhança. Apenas no sétimo parágrafo que ele menciona “Cleveland” como time e não como localidade, ao dizer que só sairia do Heat se fosse para fechar com o Cavaliers, mesmo – mas sem citar o nome do clube, curiosamente. Em nenhuma parte de sua carta isso acontece. Sério. Reparem que o apelido só aparece em intervenções editoriais.

A carta, a volta, o rei

A carta, a volta, o rei

Depois, LeBron repassa brevemente as cicatrizes que precisariam ser revisadas antes de selar um acordo. A principal era uma conversa franca e cara a cara com o intempestivo Gilbert. “Estava com as emoções confusas. Era fácil dizer que, ok, nunca mais gostaria de lidar com essas pessoas novamente. Mas aí você sobre o outro lado. E se eu fosse uma criança que acompanhava um atleta, que esse atleta me fez querer algo melhor para minha vida, e aí ele deixasse a cidade?”, indaga, retoricamente. Aqui, num documento de circulação nacional, o astro se assume com uma referência mais ampla e que seus gestos têm influência para muito além das quadras. Grandes poderes, né? Para assumir responsabilidades ainda maiores.

É tranquilo escrever que, por ora, a atitude do craque não condiz com o que fala.

O problema, desde já, é tentar encontrar uma unidade em seu discurso. Mesmo que não conceda tantas entrevistas exclusivas, como na conversa com Lee Jenkins, da SI, o jogador da NBA está muito mais sujeito ao contato com a mídia do que o boleiro regular brasileiro, por exemplo. O jogador de NBA fala bastante.

A paciência de LeBron não abrangia a evolução de Wiggins

A paciência de LeBron não abrangia a evolução de Wiggins

Com tantas declarações por aí, basta fazer uma boa pesquisa para ver que, como líder de um time que ajudou a construir, LeBron ainda, no mínimo. São diversas oscilações de jogo para jogo, dependendo do resultado. “Não estamos juntos pelo tempo necessário. As pessoas querem sucesso imediato no nosso esporte, e acho que é muito complicado de pedir isso”, afirma um dia. OK, isso condiz com o que está escrito no nono parágrafo de sua carta nacional, no qual o veterano deixava bem claro que não estava prometendo títulos. Que seria difícil conseguir, mais difícil até que 2010, quando se uniu a Wade e Bosh. “Não estamos prontos. De jeito nenhum”, escreveu. “Minha paciência vai ser testada. Sei disso. Vou para uma situação com um jovem time e um técnico novo. Vou ser o tiozão. Mas me empolga a chance de formar um grupo e ajudá-los a alcançar um lugar ao qual eles não sabiam que poderiam chegar. Eu me vejo agora como um mentor”, disse.

Parecia a coisa correta a ser dita. Na prática, porém… A parcimônia era menor do o volume de uma caixa d’água paulistana em janeiro de 2015. Tem vezes em que ele está espumando diante dos jornalistas:”Tentei me manter paciente. Tentei não deixar minha linguagem corporal tão ruim como aconteceu algumas vezes”, para depois falar sobre os “maus hábitos” desenvolvidos por alguns jogadores e reclamar sobre a pouca movimentação de bola. “Minha paciência não é infinita. Tenho um nível baixo de tolerância para coisas dessa natureza. Então é algo em que estou trabalhando também, algo que sabia desde o princípio que seria o maior teste que enfrentaria: ver o quanto tenho de paciência nesse processo.”

Primeiro ponto: qualquer observador sagaz percebeu de cara a omissão de Andrew Wiggins e Anthony Bennett em seu ensaio. Ali estava uma senhora dica para as duas escolhas número 1 do Draft: já poderiam preparar as malas, de preferência grandes, para caber muitos casacos felpudos. Estava na clara que seriam negociados por Kevin Love. O mesmo ala-pivô que nunca havia disputado os playoffs, é verdade, mas que, supostamente, era um produto muito mais bem acabado do que o par de adolescentes canadenses. E aí LBJ começou a se impor como dirigente. Quer dizer: é no que todo mundo acredita, a não ser que David Griffin estivesse realmente encantado com o potencial de Mike Miller, James Jones e Shawn Marion, todos acima da faixa de 34 anos.

Quando os jogos começaram, não demorou muito para começar o zum-zum-zum sem fim. De que LeBron não dava a mínima para David Blatt. Que mal escutava o que se falava durante pedidos de tempo, mantinha conversas paralelas e saía antes do final das instruções. Que preferia que o assistente principal Tyronn Lue fosse o comandante. Em quadra, começou o “jogo do aponta”. Qualquer pane defensiva do Cavs resultava em um jogador encarando o outro, com o camisa 23 ditando o ritmo. A julgar pelo turbilhão que tomou conta da equipe, é como se a sua carta tivesse sido ditada na época do Antigo Testamento, não?

O Cavs já disputou 42 partidas desde O Retorno, entrando oficialmente na segunda metade da temporada. Se LeBron se apresentou como um mentor, líder e figura anciã, elucidativa, foi só com as portas fechadas, não? Talvez no primeiro dia do training camp.

David Blatt tem o respaldo de seu xará, Griffin

David Blatt tem o respaldo de seu xará, Griffin

Quem não se lembra do confronto natalino com os velhos companheiros de Miami? No segundo tempo, Love falhou feio e permitiu em duas posses de bola seguidas rebotes ofensivos para o adversário. Um deles foi coletado por Mario Chalmers ou Norris Cole. O ala-pivô ouviu um monte de seu capitão: um “BOX OUT” daqueles em leitura labial que não precisava da ajuda do especialista do Fantástico. Para constar: foram dois lances realmente constrangedores.

Love tem feito disso: sua concentração oscila de acordo com o número de arremessos que recebe. Fica emburrado e joga tudo para o alto. LeBron tinha todo o direito, então, de chamar a atenção, de cobrar mais empenho do co-astro, ainda mais num fundamento que ele se gaba de ser dos melhores na liga. O problema é quando o próprio ala não faz o básico. Seu hábito de caminhar chutando pedrinhas e cantarolando na transição defensiva só se agravou da temporada passada para essa. Luol Deng fez o que quis em quadra, gente. Menciono esse jogo apenas devido ao apelo que teve, ao simbolismo presente em quadra. Não foi um caso isolado, definitivamente. Falhas generalizadas, mas um atleta em especial berrando em quadra. Comparem sua competitividade com a de Kawhi Leonard no início da temporada:

LeBron tem de se esforçar muito mais no ataque do Cavs do que Kawhi, no do Spurs, claro. Mas isso não é desculpa para vagar pela quadra. Ao mesmo tempo, nas entrevistas, o Rei pedia para os torcedores não esquentarem, a despeito da campanha irregular do time. Contra o Orlando Magic, no dia 26 de novembro, ele foi provocado por Tobias Harris e arrebentou no quarto final. Ao final da partida, soltou a seguinte pérola: “Na verdade, estava num modo de relaxamento hoje, mas este modo foi desativado depois do que ele disse”. LeBron voltou para relaxar, então?

Para ser justo, é aqui que se faz obrigatória a menção de que o ala jogava com dores no joelho e nas costas. “O joelho está doendo o ano todo. Vai e volta”, afirmou. A franquia em nenhum momento divulgou precisamente a origem desses problemas, mas ele ficou afastado de oito partidas, das quais seu time perdeu sete. Mesmo jogando de modo esculachado/avariado, suas habilidades são tamanhas que causam um impacto significativo. Seus números continuam espetaculares, com 26,0 pontos, 7,4 assistências e 5,5 rebotes. Mas o padrão de jogo está abaixo do que vimos há dois anos, no auge, em Miami.

Agora, esquece: não é decente fazer essa comparação direta, exigir esse tipo de produção, até por estar numa equipe de configuração diferentes. Fora isso, jogadores envelhecem. Até mesmo alguém de aparência super-humana como LeBron. Enfrentando uma crise, o Cavs não o tiraria de ação durante um trecho tão complicado da tabela, com jogos contra Hawks, Bucks, Mavericks e uma viagem pelo Oeste, se seus médicos realmente não recomendassem o período de descanso pensando a longo prazo.

LeBron, assistindo: relaxamento ou lesões?

LeBron, assistindo: relaxamento ou lesões?

Lesões e dores só não explicam o modo como vem se comportando em relação a David Blatt – que cometeu falhas de um treinador novato, mas sobre o qual escreveremos depois. LeBron já disse com todas as letras que chegou a um ponto na carreira em que não precisa de nenhum técnico para lhe dizer o que fazer em quadra. Quando questionado sobre um possível voto de confiança para o (?)comandante, se ele merecia ficar no cargo, soltou esta: “Que outro técnico nós temos? Ele é o nosso técnico”. Uma resposta conciliadora e atenciosa, né? Um verdadeiro diplomata.

O curioso é que o “Rei” passou pelas mesmas coisas em 2010, agindo com desdém em relação a Erik Spoelstra, por exemplo. Agir dessa forma novamente, conhecendo o desenrolar da história em Miami, chega a ser infantil. Embora, valha dizer, não seja o único. Atletas reclamam e entram em conflito com técnicos. E as superestrelas da NBA estão sempre demandando Têm muito poder. No caso específico de James e do Cavs, sua influência se torna incomparável. Nem mesmo Kobe apitaria tanto no Lakers. O fato é que não contribui para nada.

De todo modo, Griffin, com ou sem o aval de Gilbert, comprou a briga quando, antes de um jogo contra o Mavs, convocou uma coletiva na qual defendeu Blatt de modo enfático. O ala já estava afastado. A previsão era de muitas derrotas, e, ainda assim, o cartola arriscou seu pescoço para oferecer uma blindagem ao treinador. Ele só não poderia ir para a quadra, na estrada, para evitar esta cena:

Aconteceu em Phoenix, na primeira partida de LeBron após duas semanas de descanso – e sete derrotas em oito partidas. O astro disse que não fez nada demais e que estava apenas tentando salvar Blatt de levar uma falta técnica. O treinador ratificou a história. Mas dava para fazer de outro jeito, né? Ainda mais com o tanto de especulação em torno da relação entre os dois. Essa imagem tem tudo para ser a mais emblemática possível.

Ou, talvez, tivesse. Pois bastou uma bem-sucedida passagem por Los Angeles para concluir a viagem pelo Oeste para que as coisas mudassem.  Pelo menos assim quer entender a diretoria e a mídia em Cleveland. Especialmente depois de um triunfo contra os Clippers, um adversário de respeito, na qual a defesa foi mais uma vez uma peneira, mas o ataque funcionou de acordo com seu potencial: 126 a 121. Um triunfo mais que bem-vindo, é verdade. Mas o que mais se comemorou foi um jesto de James ao final do confronto. Depois de um pedido de tempo e de uma jogada bem-sucedida, que terminou com fal-e-cesta em cima de Tristan Thompson, o Rei se curvou diante da comissão técnica (em sentido figurado).

Veja a descrição do portal Cleveland.com sobre esse instante: “A jogada era para encontrar Irving na cabeça do garrafão, mas os Clippers estavam concentrados nele. James, então, fez um passe rápido para Tristan Thompson, que estava cortando para a cesta e finalizou a bandeja, sofrendo a falta. James imediatamente olhou para a comissão técnica e apontou na direção deles, como se os estivesse aplaudindo por desenhar uma jogada tão bonita e efetiva. Foi a primeira vez que James escancarou qualquer nível de satisfação ou gratidão a Blatt”.

O Akron Beacon Journal, jornal que vem relatando com intensidade o distanciamento entre os dois personagens, conta assim: “James estava engajado, particularmente na vitória contra o Clippers. Ele fez contato visual com Blatt. Conversou com ele na quadra. Esses são momentos que ele vinha tipicamente compartilhando apenas com Lue”.

Duas vitórias, uma boa jogada, e qualquer crise estaria resolvida? Sabemos que não é assim que acontece. Ainda mais quando um mero gesto de LBJ ganha tamanha proporção. Imagine como estava o clima na cobertura e no dia a dia para que dessem tanta importância para essa passagem. De qualquer forma, para quem vê o time de perto, foi um baita sinal. Então fica aqui registrado.

A segunda vitória em Los Angeles. Hora da virada?

A segunda vitória em Los Angeles. Hora da virada?

Dias depois, o Cavs pegou outro suposto favorito da Conferência Leste que encara péssima fase, o Chicago Bulls, e venceu por 108 a 94. A terceira vitória seguida, algo que não acontecia há quase um mês, e um respiro. “O período fora foi a coisa mais difícil por que já passei. Odiei o fato de que estávamos jogando um basquete bem decente quando saí e perdemos um monte de jogos. Espero que, quando voltar, possamos recuperar nosso caminho vitorioso”, havia dito o astro em Phoenix, antes do empurrão e antes dos triunfos.

Desde que retornou, LeBron vem com médias de 31,7 pontos, 5,2 assistências, 7,0 rebotes, 1,5 roubo de bola e acertou 52,3% nos aremessos de quadra. Excelente. Mas também cometeu um caminhão de turnovers (5,2), acertou apenas 61% nos lances livres e deu o papelão de sempre na defesa. Neste momento, no League Pass, durante as paradas de jogo, a NBA tem veiculado um clipe com as 17 assistências que Kobe deu contra o Cavs, seu recorde pessoal. Muitos desses passes resultaram em cestas com uma grande contribuição de seu amigo. Não consegui gravar as imagens aqui, mas LeBron foi batido em diversas situações constrangedoras. Segue uma delas abaixo, na qual ele nem mesmo tenta se aproximar de Wesley Johnson:

Quer dizer: umas coisas podem mudar. Outras, porém, requerem um pouco de… paciência. Um dado curioso levantado pelo site Nylon Calculus nos mostra como o Cavs pode ser considerado o time mais inconsistente da NBA: quando eles vencem, vão muito bem; quando perdem, perdem mal de verdade. Se você for confrontar o saldo do índice de eficiência obtido em triunfos (13,3) e o dos reveses (-14,1), vai ter um hiato de 27,4 pontos, o maior da liga. Esse padrão se mantém mesmo quando os três astros estão juntos em quadra. O que isso nos mostra? Que a equipe tem muito o que render mesmo e decola quando as coisas se encaixam. Mas as derrotas são feias na mesma medida, numa prova de seu desacerto. Esse tipo de resultado só evidencia os problemas de química.

Claro que não estamos falando exclusivamente de vestiário. Faltava um pivô como Mozgov, faltava mais gente atlética e comprometida com a defesa (a ver se Shumpert resolve…) e de alas, no geral, mais capazes que os anciões Miller e Jones (J.R. começa bem, mas não dá para comemorar muito, vocês sabem). Mas não dá para subestimar de modo algum o quanto o vestiário é importante para o sucesso de um time. Veja o que aconteceu com o Indiana Pacers na temporada passada, depois das adições de Evan Turner e Andrew Bynum. São diversos os casos semelhantes.

Em Cleveland, Akron e arredores, o ambiente em geral é bom – no que se refere a ruas e torcida, ainda tomadas pela euforia, pelo menos. A galera está contente demais em ter o prodígio local por perto. Para eles, porém, mais que o LeBron cidadão presente em consertos de música clássica, parques e projetos sociais, o que preferem ver é o LeBron craque em ação, alguém que faça o Cavs melhorar e competir em alto nível. Um LeBron totalmente comprometido com o seu reino, assumindo de fato suas responsabilidades.


Cavs dá últimas cartadas para avançar no Leste
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Giancarlo Giampietro

Acesso restrito para a dupla agora em NYC

Acesso restrito para a dupla agora em NYC

No domingo, pouco antes de o Cleveland Cavaliers iniciar aquela que seria uma sequência duríssima de jogos, sem poder contar com LeBron James, o gerente geral David Griffin fez questão de chamar uma entrevista coletiva. Na pauta, o respaldo incisivo ao técnico David Blatt, cuja segurança no cargo já era ameaçada (ao menos por especulações na mídia). Bateu a mão na mesa e disse que não tinha nada disso. Que era ridículo até mesmo pensar isso.

Além do apoio dado ao treinador, o dirigente falou sobre como estava realmente buscando reforços para o time, principalmente depois da lessão que custou mais uma temporada a Anderson Varejão. Mas alertou que as coisas andavam difíceis no mercado. “Estamos ativamente no telefone e fazendo tudo que podemos para melhorar a equipe. Ao mesmo tempo, infelizmente, nosso timing não bate sempre com o dos outros. Até o deadline para se fazer trocas, as pessoas não têm tipicamente muitas razões para fazer uma negociação. Então, estamos fazendo o que podemos e trabalhando todo e qualquer cenário. A lesão alterou o nível de urgência. O que não posso fazer é alterar o nível de disponibilidade no mercado. Então, até que chegue o momento em que possamos encaminhar um negócio que atenda a necessidade de ambos os lados, vamos continuar a nos mexer”, afirmou.

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Três dias depois, fechou duas trocas. Que coisa, né?

Esta é a NBA, onde o adiantado da hora acontece.

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

Depois de receber JR Smith e Iman Shumpert numa entrega expressa de Phil Jackson, o Cleveland agora anuncia um acordo com o Denver Nuggets para, depois de meses e meses de flerte, enfim ter o pivô Timofey Mozgov em seu elenco. A contratação do gigante russo é a mais importante, para suprir uma carência clamorosa no garrafão. Foi por isso, também, a transação mais custosa, com o time do Colorado recebendo duas escolhas de primeira rodada de Draft.

Ainda que seja realmente muito cedo – e, sim, ridículo – para falar em demissão de Blatt, Griffin, por outro lado, teve tempo o suficiente para perceber que o elenco montado para a abertura da temporada não daria conta do recado. Por mais que bata na tecla de que o processo de montagem do renovado Cavs é de médio para longo prazo, desde o momento em que LeBron James assinou um contrato curto e forçou a barra para a troca de Kevin Love, as metas para a franquia se tornaram automaticamente imediatistas.

No mesmo domingo da coletiva enfática do gerente geral, fiz no Sports+ o jogo de seu desfalcado Cavs contra o Dallas Mavericks. Sem LeBron James, com um Kyrie Irving limitado por dores nas costas, a equipe levou uma surra em casa, como já esperava. Não dava para falar muita coisa sobre tática com base naqueles 48 minutos. Mas o que ficou claro foi a fragilidade do elenco que ia além dos seis, sete principais homens da rotação.

Mesmo com força máxima, a verdade é que o produto entregue em quadra se mostrava bastante vulnerável. O time teve bons momentos, venceu todas as equipes que estavam acima na classificação da Conerência Leste, mas a química obviamente não era das melhores, com a defesa sofrendo mais, como o de costume nessas ocasiões de química duvidosa. LeBron tem muito o que falar a respeito, aliás. Mas esse assunto fica para daqui a pouco. Griffin, de todo modo, percebeu que algo precisava ser feito.

Lou Amundson: leão de treino, corre e briga por rebotes. Mas não dá para jogar

Lou Amundson: leão de treino, corre e briga por rebotes. Mas não dá para jogar

Mogzgov chega para, em teoria, fortalecer a defesa interior. O porte físico do pivô, de 2,16m, já é imponente. Mas ele pede ainda mais respeito quando vemos o quanto salta e como corre pela quadra. O curioso, porém, é que o Denver Nuggets defende com menos eficiência quando ele está em quadra, embora isso possa ter a ver com quem está ao seu redor. Segundo a medição avançada de Real Plus-Minus, do ESPN.com, que procura fazer exatamente a distinção de quem está em quadra na hora de avaliar o impacto de cada jogador, ele seria 25º pivô com mais impacto defensivo para seu time. Blatt certamente confia no atleta, com quem já trabalhou com sucesso na seleção russa – foram, juntos, medalhistas de bronze nas Olimpíadas de Londres 2012.

A contratação já diminui a carga sobre Tristan Thompson, de todo modo, e arruma um guarda-costas para Kevin Love, que sempre precisou de um. E aí está uma questão mais relevante do que simplesmente dissecar os números do russo: o Cavs precisa defender melhor de modo geral, e tudo começa pelo comprometimento de suas estrelas, incluindo o ala-pivô ex-Wolves e LBJ.  Se eles não fizerem sua parte, não há pivô que vá consertar, por conta própria, uma defesa esburacada. Iman Shumpert, se conseguir ficar em forma, já pode dar uma boa força para isso, com muita agilidade e envergadura para efetuar desarmes e ameaçar as linhas de passe.

(Sobre JR Smith? Bem… Já está registrado que é um dos jogadores mais lunáticos de sua geração. Cuja seleção de arremessos sempre foi irritante. Nas últimas quatro temporadas, ele não passou da marca de 43% de quadra. Seu chute de longa distância, todavia, é bem superior ao de Dion Waiters. E, ego por ego, não dá para dizer que o povo de Cleveland vai sentir muito a falta do ala-armador endereçado para OKC. Se ele não aprontar muito, vai representar um avanço em relação a Mike Miller e James Jones, os chapas do Rei, que são atiradores muito mais apurados, mas que não contribuem com mais nenhuma habilidade em quadra. Ao menos essa versão de Miller que temos visto: o ala, nos bons tempos, era melhor reboteiro e distribuidor.)

Para Blatt, a dificuldade é que ele agora tem três novos jogadores a integrar em seus planos e rotações, enquanto seu relacionamento com LeBron e Love ainda está, digamos, em manutenção – ao menos os reforços chegaram mais de um mês antes da data final para trocas, dando mais tempo para buscar o entrosamento ideal. Pode ser que não dê tempo de buscar mando de quadra nos mata-matas. O fundamental seria apenas chegar aos mata-matas com um conjunto sólido, azeitado. No Leste, o fato é que ao menos eles não estão ameaçados.

O treinador, de qualquer modo, sabe que a cobrança é dura. Mas deve se sentir mais animado: bem melhor trabalhar com jogadores realmente produtivos, em vez de um projeto como Alex Kirk ou veteranos inofensivos como AJ Price, Lou Amundson e Brendan Haywood. Eram quatro peças nas quais ele não tinha confiança nenhuma. Jones só começou a jogar por causa de lesões e, agora, devido a trocas. Fora isso, Shawn Marion hoje está muito mais para “Cocoon” do que “Matrix“. E aqui já estamos falando de mais de 1/3 do antigo plantel comprometido.

Um plantel cuja construção certamente teve mais influência de LeBron e Griffin, o dirigente que, agora, espera não ter de convocar tão cedo uma nova coletiva. Em termos de negociações, não sobrou muito com o que mexer. Seu trabalho está praticamente feito. Se ele se sentir obrigado a se apresentar aos jornalistas num futuro breve, aí, sim, Blatt pode ficar verdadeiramente preocupado.

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Sam Presti, gerente geral do Thunder, sabe que as chances de Reggie Jackson se mandar ao final do campeonato beiram os 98,9%. O armador quer ser titular de algum time e já montou um bom DVD de melhores momentos para justificar um contrato na casa, talvez, de oito dígitos anuais. Então Waiters se encaixaria, num preço baixo, como o cestinha do banco para ajudar Durant e Westbrook. Supostamente, claro. O número quatro do Draft de 2013 tem um bom drible e finaliza bem quando próximo da cesta. Segundo medição do NBA.com, porém, ele acertou nesta temporada apenas 27% dos arremessos em situação de catch-and-shoot. Quer dizer, o cara precisa da bola para produzir – e fica ansioso, para não dizer desesperado quando não a tem em mãos. Se em Cleveland, ela ficava dividida entre LeBron e Irving, em OKC… Sacaram, né Waiters precisa aceitar suas limitações de momento e entender que a história de “novo, possível Dwyane Wade”, como seu peixe foi vendido no período pré-Draft, parece uma tremenda balela. Se topar e se enquadrar, pode ser bastante útil. Se não rolar, ao menos o preço pago não foi dos mais caros.

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Lance Galloway, o futuro (imediato) para o Knicks

Lance Galloway, o futuro (imediato) para o Knicks – não o do Westchester

Para o Knicks, é curioso ver em ação o executivo Phil Jackson, com outra mentalidade. Como treinador, ele gostaria de melhorar sua equipe para já, inclusive limitando o tempo de quadra dos calouros. Distante da quadra, não há por que se precipitar. Os Bockers caminham para ser um dos três piores times da temporada, garantindo uma ótima escolha de Draft. Hardway Jr. vai ter mais arremessos, enquanto Cleanthony Early, mais minutos. Jogadores jovens e baratos observados na D-League serão testados – entre eles o armador Langston Galloway, de 23 anos, que jogou a liga de verão pela franquia e estava em sua filial de Westchester. Além disso, sem Smith, ele ganha mais US$ 7 milhões de teto salarial para investir em agentes livres.

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A adição de Mozgov, Shumpert e Sith custarão US$ 7,3 milhões em multas por excesso salarial ao final do campeonato. Dan Gilbert, o mesmo que vai pagar US$ 16 milhões a Mike Brown nos próximos quatro anos, não tem problema em usar o talão de cheques.

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O Cavs mantém suas próprias escolhas de Draft para o futuro. Na troca pelo pivô russo, eles enviaram picks que pertenciam ao Memphis Grizzlies e ao Oklahoma City Thunder. O do Memphis é o mais valioso, já que pode ser de loteria (protegido entre os postos 1 e 5 nos próximos quatro anos). Em 2019, não restará mais nenhuma restrição.

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Em Denver, todos os olhos se voltam agora para o calouro Jusuf Nurkic. O pivô bósnio vem jogando bem em 2015, com médias de 11,7 pontos, 8,7 rebotes e 4 tocos nos últimos três jogos, em 22 minutos. Já deixou JaVale McGee comendo poeira. Esperem um grande saldão no Colorado, com diversos contratos de médio porte para atletas experimentados, que podem contribuir para times com aspirações aos playoffs.


Black Friday!? JR Smith não queria saber de nada disso
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Giancarlo Giampietro

É isso, mesmo.

Sem essa de Black Friday para a família Smith. Pelo menos era essa a mentalidade do inigualável JR até terça-feira, a julgar por uma de suas manifestações no Instagram. Sabe-se lá de onde o avoado ala do Knicks tirou essa ideia, mas ele estava convencido de que o dia de descontos do mercado norte-americano, devidamente importado no Brasil, tinha vínculo com os tempos da escravidão nos EUA.

“VOCE SABIA? A Black Friday proveu da escravidão? Era o dia seguinte ao Thanksgiving, quando os mercadores de escravos ps vendiam com desconto para os proprietários de terra, como ajudantes para o inverno que estava por chegar (para cortar e empilhar madeiras etc.)”, escreveu.

Uma outra Black Friday

Uma outra Black Friday

Imagino que não tenha sido Phil Jackson ou Derek Fisher os responsáveis, mas parece que Smith caiu em uma pegadinha online. Deve ter visto essa teoria da conspiração em algum canto da web e se impressionado. Aí mandou ver. Obviamente, o ala do Knicks foi malhado na rede social, até que decidiu deletar o post, sem nenhuma errata. (Risos)

O New York Daily News, na sua condição de tabloide, não perdoou em sua nota: “Agora, desamarrar os cadarços de um adversário é a segunda coisa mais idiota que ele já fez”.

Para quem não sabe, o significado de Black Friday tem a ver com se livrar do prejuízo, vendendo mercadorias, limpando o estoque (saindo do vermelho para o preto, como eles dizem por lá). No Brasil, faria mais sentido “Sexta-feira Azul”. Mas aí tem muita torcida por aí que não iria gostar disso, né? Atleticanos e Colorados, por exemplo.

Aproveitando a deixa, recupero um texto antigo aqui sobre “O Fantástico Mundo de JR Smith, edição especial“.

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Fazendo aula de geometria com o New York Knicks
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Phil Jackson leva o triângulo a NYC

Phil Jackson leva o triângulo a NYC

“Assisti ao Knicks ontem de noite. Claramente eles ainda estão aprendendo o triângulo. Eu ainda não o entendo.”

A frase poderia ser de qualquer torcedor. Mas saiu da boca do comissário da NBA, Adam Silver, um advogado nova-iorquino fanático por basquete que certamente viu o Chicago Bulls e o Los Angeles Lakers de Phil Jackson jogarem e acumularem títulos. Ainda assim, a aura em torno do sistema ofensivo desenvolvido por Sam Barry, na Universidade Southern California nos anos 40, desenvolvido por Tex Winter nas décadas seguintes e adotado por Jackson com fervor.

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Com seu ex-técnico fazendo o papel de mentor, fora da quadra, agora é o estreante Derek Fischer que tenta empregá-lo em Manhattan, na esperança de reconduzir o New York Knicks ao patamar de potência na Conferência Leste. Do ponto de vista tático, esta é certamente a principal história desta temporada. amuita ênfase de modo geral.

sistema dos triângulos, basqueteA abordagem dos triângulos basicamente contraria tudo isso – a única semelhança seria a aversão a jogadas desenhadas, ensaiadas e previsíveis –, com sua dança de jogadores em situação de meia quadra e a bola passando de um lado para o outro, mas sempre usando o poste baixo ou alto como ponto de convergência. Há muitos mais detalhes, que não caberiam aqui e já foram explicados por gente que realmente entende do ramo. Então, se alguém tiver o interesse de ler a respeito desse conceito, recomendo os comentários do grande Marcel de Souza no DataBasket em sua sequência detalhada de editoriais sobre o sistema. Leva tempo para aprendê-lo e aplicá-lo com sucesso.

O ídolo da seleção brasileira e atual treinador do Pinheiros lista alguns tópicos importantes, de todo modo: a) evitar o drible; b) ao passar a bola, procurar sempre o jogador mais livre; c) ao receber a bola, olhar sempre para a cesta; d) usar a criatividade e a intuição; e) jogar sem a bola; f) ler a defesa. Lidos assim, isolados, parece algo muito básico. E é, mesmo – o sistema espera que seus atletas sejam bem fundamentados e conscientes em quadra. Só não dá para confundir “básico” e “fácil”. Vá perguntar para o JR Smith.

“Você tem de pensar mais sobre o jogo. É mais complexo o modo como jogamos, mais do que estamos acostumados a fazer. Estamos acostumados a receber a bola e partir com ela, coisas do tipo. Agora, tem de saber o momento de cortar para a cesta, assegurar que estamos indo para os lugares certos na quadra. É um esforço de consciência, acho”, afirmou o ala, provavelmente com a cuca fritando.

Fisher tenta explicar para JR

Fisher tenta explicar para JR

Existe essa aura, mesmo, de sofisticação e complicações em torno do sistema. Por um lado, a tática foi vencedora na grande liga, ganhando o respaldo de uma lenda viva como Jackson, que já disse para os atletas e técnicos do Knicks que eles ainda vão passar por períodos de dureza durante a temporada. Por outro, seus detratores vão dizer que Jackson tinha Jordan, Pippen, Shaq, Kobe e Gasol ao seu lado. Que, dessa forma, qualquer um se consagraria, independentemente do sistema. O que os críticos dizem, porém, a respeito do fato de nenhum desses astros ter vencido antes de seus caminhos cruzarem com o do Mestre Zen? Mistério.

O que eles vão apontar é que aqueles que tentaram empregá-lo acabaram fracassando de modo retumbante, como Jim Cleamons em Dallas e Kurt Rambis em Minnesota. Nenhum dos dois venceu mais que 30% de suas partidas. Por outro lado, se não tinham supercraques em mãos, também não precisava exagerar na ruindade. É só dar uma espiada nos elencos que dirigiam. Além do mais, existe a possibilidade de que eles simplesmente não estavam preparados para serem treinadores principais. De todo modo, ambos foram contratados por Jackson para serem hoje assistentes de Fisher em Nova York.

Mesmo que não tenha topado assumir o Knicks como técnico, Jackson sempre considerou os triângulos como um quesito obrigatório para a reformulação da equipe. Por isso, limitou sua busca por treinadores que já tivessem familiaridade com o sistema. Steve Kerr era a prioridade, fato, mas escapou para o Warriors. Fisher foi, então, o segundo alvo natural. Pentacampeão pelo Lakers, ex-presidente do sindicato dos jogadores, um veterano respeitadíssimo nos vestiários, tem o tipo de aura que pede o respeito de jogadores, jornalistas e torcedores.

O novato Shane Larkin vai jogando enquanto Calderón não volta

O novato Shane Larkin vai jogando enquanto Calderón não volta

Para ambos, a coisa é séria. “Não achei muita graça ao ver o comissário tripudiando em cima disso também. Ele não precisa se envolver nisso. Já há foco o suficiente no triângulo, e não é nada demais. É um sistema. É o basquete simples. Apenas joguem. Já chega de falar do triângulo: agora é a hora dos negócios e de jogar da forma certa”, rebateu Jackson.

O time: não tem Jordan, não tem Kobe, mas tem Melo. Carmelo Anthony ganha o foco ofensivo do Knicks, independentemente do sistema utilizado. O ala agora vai ser testado de uma forma diferente, como o próprio presidente do clube adiantou em conversa com o seu chapa Charley Rosen, publicada no ESPN.com: “Passar nunca foi uma grande força de seu jogo, mas no triângulo ele vai poder ter leituras rápidas como um quarterback procurando por seu primeiro recebedor, e depois o segundo e o terceiro. Vai haver muitas oportunidades de isolamento para Melo, e no triângulo vai ficar muito difícil de as defesas fazerem dobras para cima dele. Não vai ser que nem na temporada passada, em que ele teve de partir para o arremesso decisivo com uma gangue de marcadores ao seu redor. Também vamos ter Melo receber diversas oportunidades no post-up”.

Sem explosão, Amar'e vai jogando bem no ataque. Difícil é ser relevante na defesa

Sem explosão, Amar’e vai jogando bem no ataque. Difícil é ser relevante na defesa

Nesse tipo de situação, é especialmente de frente para a cesta que Carmelo produz como uma verdadeira estrela, usando seu primeiro passo explosivo e excelente arremesso. Se confiar no sistema e nos companheiros, o jogo tende a ficar mais fácil para ele. “Quero que Phil e Derek saibam que estou dentro. Estou abraçando este desafio”, diz o ala, que precisa avisar estar totalmente comprometido com o projeto do clube que vai lhe pagar mais de US$ 124 milhões pelos próximos cinco anos. Que bom.

Aliás, para os que encaram o inglês basqueteiro, vale a pena acessar este link de Rosen para ver os comentários de Jackson sobre cada atleta de seu elenco. Ele não se mostra o mais entusiasmado possível, mas, no geral, no contato com a mídia americana, vem mantendo um tom positivo, bem distante do sarcasmo que dominava seus últimos meses em Los Angeles. “Vejo crescimento neste time, e estou otimista. Nem sempre o que importa é o placar final, mas, sim, como você joga por vezes. Acho que estamos jogando muito melhor, com o nível de dedicação que gostamos de ver.”

Quando José Calderón voltar, o ataque vai ganhar um arremessador e um passador dos mais brilhantes da liga, evoluindo naturalmente. O problema sério que Fisher tem para resolver está do outro lado, na defesa. Trocar Tyson Chandler por Samuel Dalembert tem suas consequências, Amar’e Stoudemire não conseguia segurar a onda nem mesmo quando era um dos atletas mais temidos da liga, Bargnani faz Stoudemire parecer Tim Duncan, Calderón é muito mais lento que 95% dos atletas de sua posição, Carmelo gosta de dar uma viajada – ou espreguiçada… Enfim, a coisa é feia. Fisher vai ter muito trabalho para bolar um esquema que cubra por tantas deficiências individuais.

A pedida: aprender o sistema, conferir aqueles que realmente valem algo ao time e dar um passo decisivo apenas na temporada que vem. No Leste, tudo é possível, mas ir aos playoffs neste ano ainda vai ser bem difícil.

Ninguém ligou para o Shump nas férias

Ninguém ligou para o Shump nas férias

Olho nele: Iman Shumpert. No início de temporada, o ala-armador de 24 anos é aquele que vem mais produzindo com o novo sistema, elevando bastante suas médias tanto em quantidade como qualidade. Destaque para o elevado aproveitamento nos arremessos de três pontos, que não deve ser sustentável, por mais que Carmelo pense o contrário: “Ele está jogando de acordo com o esquema, aproveitando aquilo que lhe é oferecido”. De qualquer forma, com explosão física e agilidade, é também o melhor defensor da equipe. A subida de produção pode ser um problema. Ao final da temporada, Shumpert vai virar agente livre, depois de seus agentes e os dirigentes mal terem conversado neste ano.

Abre o jogo: “Não havia reconhecido o número que me ligou. Então telefonei de volta, e era o Phil. Daí minha bateria acabou e eu tive de correr para recarregá-la. Ele só queria dizer que acreditavam em mim e que uma coisa que eu precisava fazer era também ter essa fé em mim mesmo”, de Thanais Antetokounmpo, ala-pivô grego selecionado pelo Knicks no último Draft, mas que vai defender sua filial da D-League nesta temporada. O episódio serve para ilustrar o tipo de impacto que Jackson já causa pelo Knicks. Não é todo dia que você tem a chance de trocar mensagens com o técnico mais vitorioso da história da NBA, uma personalidade deste tamanho. Um cara que fortalece a marca do clube e vai colocá-lo em toda conversa por um agente livre.

Você não perguntou, mas… Spike Lee, torcedor mais ilustre do Knicks e excepcional cineasta, produziu um filme de cerca de uma hora para tentar ajudar o torcedor da franquia a entender o sistema de triângulos. Foi ao ar no dia 24 de outubro, no canal MSG, da mesma rede que controla a franquia e o próprio (veja um trecho). “Nunca fiz nada parecido com isso antes. A ideia era explicar para o torcedor comum o sistema e a misteriosa mitologia e o aspecto zen que o Phil Jackson usou para vencer seis títulos em Chicago e mais cinco em LA”, disse Lee. O diretor assistiu a alguns jogos dessas equipes, filmou um breve ensaio com os atletas do Knicks e acredita que (talvez) tenha passado a sacar um pouco do que acontece. “Todo mundo diz que moleque do colegial pode guiá-la. Os proponentes do ataque por triângulos dizem que é simples. Mas, se você não for um proponente, não vai saber o que está acontecendo.”

Tim Hardaway Jr. treina, Spike Lee observa e registra

Tim Hardaway Jr. treina, Spike Lee observa e registra

Patrick Ewing, Knicks, center, BullsUm card do passado: Patrick Ewing. Um cara que sofreu na mão de Jackson e seu Bulls nos anos 90 e que, por isso, provavelmente poderia advogar a favor do novo sistema empregado pelo clube, não fosse por seu rancor cada vez maior por não receber uma chance de virar um técnico principal da equipe – ou de qualquer equipe. Ewing vem sendo assistente há um bom tempo já e sempre falou em público sobre o desejo de promoção. Seus clamores, contudo, não despertaram muito interesse ou entrevistas, nem mesmo da franquia na qual se consagrou e que não se cansa de trocar de treinadores. Hoje, o ex-superpivô trabalha no Hornets. Para constar: há quem duvide seriamente de sua capacidade como treinador. Por outro lado, o clã Van Gundy e Steve Clifford o defendem  como um candidato.


O Fantástico Mundo de… JR Smith! Edição especial
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Giancarlo Giampietro

No flagra

No flagra

Faz tempo que não conseguimos acrescentar aqui um episódio sobre o lunatismo que ronda o Fantástico Mundo de Ron Artest, né? Olha, não é que tenhamos deixado nosso anti-herói de lado, nem nada disso. Acontece que, em meio ao caos que controla a temporada do New York Knicks, nem mesmo as intempéries e trejeitos do Ron-Ron conseguem chamar muito a atenção.

Por exemplo. Dia desses ele estava diante da sedenta mídia nova-iorquina, que procurava repercutir um encontro que o proprietário da franquia, o magnata e cantor James Dolan, teve com com o elenco. Quando foram checar o que o #mettaworldpeace tinha a falar a respeito, o jogador escapou de um modo criativo. “Não sou um jogador. Eu sou um alien. Não estava lá de verdade. Estava em outra galáxia com meus amigos galácticos”, disse.

On the record.

Claro que a piada nem é tão original assim, depois que Baron Davis fez brincadeiras a respeito de abdução por seres extraterrestres numa entrevista qualquer – e muita gente acreditou que ele estava falando sério.

O que impressiona na declaração do Sr. Artest é a velocidade de pensamento, o reflexo de autodefesa, para tirar da cartola uma piada dessas em vez de simplesmente dizer que “não tinha comentários a fazer a respeito”.

Dava para ter feito, então, o post: “O Fantástico Mundo de Ron Artest – Arquivo X”, e tal. Mas perdi o bonde, e não só isso: ele vem jogando muito pouco nesta temporada, drenando o joelho sem parar, apelando a outros tratamentos com placas sanguíneas agora, e talvez não valesse dedicar tanto espaço assim. Mas fica aqui, de qualquer forma, o registro.

O bom nessa história toda de humor na NBA e em Nova York é que sempre vai haver outra fonte para nos divertir. O maníaco do JR Smith dá mais que conta.

Uma semana depois de ter recorrido a redes sociais para acusar a diretoria do Knicks de “traição” por ter dispensado seu irmãozinho caçula improdutivo, apenas alguns dias depois de ter desafiado Andrea Bargnani no concurso de arremesso mais estúpido da temporada (*), o ala aprontou mais uma neste sábado, na calada da noite em Dallas.

Em uma aparente reação na temporada, após terem batido o Spurs, despertando toda a fúria do Coach Pop, e jogado no pau contra o Rockets, os Bockers iam ganhando do Mavs, controlando bem o jogo. As coisas estão mudando, pensava Spike Lee. E os caras venceram, mesmo, a cambada de Dirk Nowitzki, saindo do Texas com surpreendentes triunfos.

E aí que, nesta segunda, calha a gente recuperar uma inacreditável molecagem do irmão mais velho do Chris.

Vocês viram?

Dirk Nowitzki estava na linha de lances livres, com pouco mais de dois minutos restando no quarto período. JR saiu do banco, chamado por Mike Woodson. Ele se posicionou no garrafão, ao lado de Shawn Marion. Ele se curva para, supostamente, mexer, em seu tênis. De forma sorrateira (ou nem tanto), contudo, ele puxa com a mão direita o cadarso de… Marion! Que reparou, claro. É uma coisa de louco:

Na posse de bola seguinte, Marion tenta arrumar o calçado. Até que, no ataque do Dallas, com mais uma falta cometida, ele enfim tem tempo para acertar tudo.

O que dizer a respeito? E se o ala do Mavs tivesse torcido o pé? E se ele perdesse o tênis no meio da jogada, parasse, e o Knicks atacasse com um homem a mais? Ele ficaria orgulhoso? É sério tudo isso?

Na temporada em que ele já foi suspenso por violar as leis antidroga da NBA (e não como jogador do Denver Nuggets em tempos de maconha liberada no Colorado), e que, no Twitter, deixou no ar uma ameaça a Brandon Jennings, que havia criticado a contratação de seu irmão, Smith conseguiu: desbancou Ron Artest na condição de príncipe lunático da liga.


NBA, onde nepotismo também acontece
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Giancarlo Giampietro

Os irmãos Smith, JR e Chris, agitando em Manhattan

Os irmãos Smith, JR e Chris, agitando em Manhattan

Ray Felton está afastando, com uma lesão muscular na coxa. Pablo Prigioni também, depois de sofrer uma fratura no dedão do pé direito. Iman Shumpert não virou o armador que o time esperava – no máximo, ele consegue controlar a bola apenas como uma segunda válvula de escape. Beno Udrih arrasou ontem contra o Bucks e, ao mesmo tempo, foi arrasado por Brandon Knight.

Tudo isso deixa o técnico Mike Woodson numa situação ainda mais delicada. O New York Knicks já é o time mais decepcionante da temporada. E agora só restou um armador para constar história? Justamente numa posição tão crucial?

E, agora, diabos, a quem ele poderia recorrer?

Ao Chris Smith?!

Acho que não.

Sabe o armador Chris Smith, né? Irmão mais jovem do JR, que ganhou um contrato garantido e salário de cerca de US$ 500 mil para ser o 15º homem do Knicks na temporada, ainda que, segundo relato do superrepórter Adrian Wojnarowski, exista integrantes da própria comissão técnica do time que acreditam que o caçulinha não tenha “sequer talento para ser um jogador da Liga de Desenvolvimento da NBA”.

Chris Smith, nem na liga de verão

Chris Smith, nem na liga de verão

Pois, então. Foi esse o atleta convocado às pressas por Woodson para, ao menos, ajudá-lo a formar dois times nos treinamentos. Ao que tudo indica, Chris não está pronto para encarar um Madison Square Garden lotado e irritado. Na mesma reportagem de Wojnarowski, um gerente geral rival o definiu como “talvez o pior jogador da história das ligas de verão”.

Quando a franquia garantiu o contrato do armador, o burburinho foi tamanho que a direção da liga se viu obrigada a abrir uma investigação interna – obviamente a negociação estava vinculada à renovação com JR, ainda que não haja documentos comprovando isso… Mas até que ponto era algo irregular?

No fim, as repostas que tiveram foram de que não seria um absurdo assim considerar Chris Smith como um cara digno de NBA. “Chris tem talento suficiente”, disse um dirigente, sem se identificar, ao  New York Post. “Ele pode se tornar um jogador da NBA um dia. Algumas equipes preferem manter aqueles que são considerados projetos em vez de jogadores que podem ajudar imediatamente, e Chris é um desses projetos.”

Agora… Obviamente é um projeto. Mas que se frise: de 26 anos. Nascido em outubro de 1987, é mais velho que Stephen Curry, Jrue Holiday, Derrick Rose e Ty Lawson, para citar apenas quatro integrantes de uma das posições mais concorridas da liga hoje em dia. Mais velho também que Brandon Jennings, o atrevido reforço do Detroit Pistons que foi a público no Twitter para questionar o que o (nem tão) jovem Smith fazia por ali, citando dois experientes armadores que hoje fazem carreira na Europa, esperando por uma proposta da liga. “Espere, espere, espere. O irmão do JR Smith está na NBA, mas o Pooh Jeter e o Bobby Brown, não? Pode me chamar de hater, mas isso não dá!”, disparou.

(No fim, o crítico deletou seu post, mas não foi rápido o suficiente para evitar que jornalistas e outros seguidores espalhassem sua mensagem. JR tomou as dores da família. “É meu irmãozinho, então eu vou interferir por ele, de um jeito ou de outro. Não apenas contra Brandon, mas contra qualquer um que diga alguma coisa para ele”, declarou.)

Desnecessário dizer que nem Woodson, nem James Dolan e talvez nem mesmo o ala do Knicks esperam que Chris Smith vire um craque ou alguém do nível de Jennings. Desde o início da temporada, ele foi enviado para a liga de desenvolvimento, defendendo a filial do clube de Manhattan, o Eerie BayHawks. E, mesmo num campeonato com números bastante inflados, o jogador não chega a impressionar, com médias de 11,3 pontos, 4,5 rebotes, 2,7 assistências, 2,0 desperdícios de posse de bola, 24,7 minutos, em seis partidas.

Quando o técnico da equipe, Gene Corss, foi questionado pelo New York Times sobre a perspectiva de Smith se encontrar na NBA, sua resposta não foi das mais entusiasmadas.”Acho que ele tem potencial para trabalhar, continuar a crescer e se tornar um bom jogador. E, qualquer que seja a situação em que ele estiver, acho que pode ter sucesso. Mas você nunca sabe qual a situação que vai rondar um atleta”, disse.

Chega a ser um pouco embaraçoso, não?

Como se um Smith já não fosse o bastante de problema...

Como se um Smith já não fosse o bastante de problema…

Mas tem mais. Mike Woodson nem tem como refutar que o laço de sangue com seu talentoso – mas incontrolável – ala pesa nesse contexto. “Tenho um grande respeito por essa família. É o irmão dele. Eu respeito isso”, disse.

Hein?

E como fica Chris Smith nisso tudo?.

“Isso me ajuda? Obviamente. Ele é meu irmão mais velho. As pessoas querem que fiquemos juntos o tempo todo. E ele me ajudou muito”, afirma.

“É claro que eu tenho muito o que provar”, afirmou o armador ao Times. “Mas eu ainda não consegui jogar direito desde que deixei Louisville. Digo, eu sinto que sou um dos jogadores mais subestimados agora. Mas sempre fui subestimado. Ninguém espera nada de mim. Vão sempre me olhar como o irmão mais novo do JR, porque ele é um atleta fenomenal, sexto homem do ano e tudo isso. Mas eu sempre tive minha própria plataforma, meus objetivos próprios.”

Difícil, porém, é que esses objetivos coincidam com os do Knicks, afundados na Conferência Leste.

*  *  *

O caso de Chris e JR Smith com o Knicks pode ser aquele mais vexatório ou espalhafatoso, mas está longe de ser o único vínculo nepotista na liga norte-americana. O mais grave deles, aliás, deve ser aquele descoberto durante o lo(u)caute que escancarou diversos problemas do sindicato dos jogadores. Entre eles, foi descoberto que o diretor executivo, Billy Hunter, empregava dois filhos e uma nora no órgão. Uma apuração da Bloomberg, aliás, revelou que a família Hunter recebeu mais de US$ 4 milhões em salários durante a década.

De qualquer forma, de modo bem menos escandaloso, o emprego de familiares é usual entre as franquias, especialmente entre treinadores e dirigentes.

Não que a prática seja preliminar ou fundamentalmente errada. É compreensível que, num mundo bastante competitivo, em que por vezes a capacidade de guardar segredos é a mais importante, se corra a alguém da maior confiança. O problema é correr o risco (grande) de misturar as coisas. Quando a confiança é colocada muito da competência. Não se trata de uma regra. Mas, que pode acontecer, ô se pode.

Que o diga Michael Jordan e quem quer que trabalhe para o…

Charlotte Bobcats
No que se refere a nepotismo, Jordan também pode ser considerado o melhor na NBA. Ok, podemos atenuar o termo e dizer que, em matéria de cuidar dos chapinhas do passado e compadres, não tem para ninguém. Buzz Peterson, seu rival dos tempos de colegial e ex-companheiro na Universidade da Carolina do Norte, foi um de seus cartolas. Fred Whitfield, presidente do clube, é seu amigo há 30 anos. Ex-parceiros de Chicago Bulls como Rod Higgins (vice-presidente e manda-chuva do departamento de basquete), Sam Vincent e Charles Oakley também foram aproveitados. Conto em mais detalhes nesta reportagem aqui. Depois que o texto foi publicado, MJ ainda promoveu seu irmão Larry a diretor, no cargo anteriormente ocupado por Peterson.

Cory Higgins, o filho do Rod

Cory Higgins, o filho do Rod

Higgins, aliás, aprendeu direitinho e chegou a contratar seu filho, Cory, como terceiro armador do clube – na época, não havia um scout sequer que entendesse a aposta no jovem graduado pela Universidade do Colorado. O atleta ficou uma temporada e meia na equipe. Aí chegou o dia em que teve de ser dispensado, em dezembro de 2012, olho no olho. “Quando você toma uma decisão como essa, de contratar seu filho, sempre sabe que um dia como esse poderia acontecer. O jogador também sabe disso. O aspecto pessoal é o aspecto pessoal. Mas, quando você dá o próximo passo e se dá conta de que isso é um negócio, você sempre sabe que isso poderia acontecer”, disse o pai, com toda a franqueza do mundo. “Ele não deixa de ser meu milho.”

Então tá.

O Higgins filho tinha média de 3,7 pontos em 10,3 minutos pelo Bobcats, tendo disputado 44 jogos, com aproveitamento de 32,4% nos arremessos de quadra em sua carreira, com 20% nos três.

Em meio a esse contexto, como Jordan ou Higgins poderiam punir Paul Silas, ex-treinador da equipe, quando este optou por não dirigir a draga de elenco que tinha na temporada 2011-2012, pós-lo(uc)aute, quando conseguiram terminar com a pior campanha da história da liga, em termos de aproveitamento de vitórias. Na ocasião, o veterano Paul tinha as melhores intenções. Seu filho Stephen era seu principal assistente, e o papai coruja acreditava que chegaria o dia em que sua cria seria um técnico principal na liga. Então por que não começar logo, pegando experiência? O Bobcats não iria para nenhum lugar mesmo…

(Como podemos testemunhar até hoje. E, antes mesmo da família Silas, os Bickerstaffes haviam tomado conta do banco de reservas. O experiente Bernie foi o primeiro treinador da franquia e teve seu filho John-Blair em seu estafe e por três anos – aos 25, ele foi, inclusive, o assistente mais jovem da história da liga. J.B. hoje trabalha com Kevin McHale no Houston Rockets.)

Minnesota Timberwolves e Boston Celtics
Quando Rick Adelman cedeu e aceitou a bucha que é treinar um Minnesota Timberwolves, ao menos garantiu mais alguns trocados para sua família ao incluir seu filho David em sua comissão técnica. Antes da NBA? O herdeiro havia trabalhado, até então, apenas no nível de high school, em Portland. Não era o currículo mais impressionante disponível no mercado, certeza.

Em Boston, Danny Ainge encontrou um lugar na sua equipe de gestão para o filho Austin. Formado na BYU, na qual foi companheiro do ala Jonathan Tavernari, o Ainge filho migrou direto para o banco de reservas, com terno e gravata. Foi assistente na Southern Utah University e treinador do Maine Red Claws (filial do Celtics na D-League) antes de ser contratado pela franquia mais vencedora da história da NBA.

Em sua defesa: sua saída do Red Claws foi bastante sentida. “Eu sinto muito em ver Austin partir para seu novo cargo com o Celtics”, disse o presidente e gerente geral do clube, Jon Jennings, via release. “Todos nós gostamos de trabalhar com ele. Ninguém trabalhou  mais duro e estava mais comprometido com a evolução de nossos jogadores.”

Além de ajudar o pai na condução e formação do elenco, Austin também quebra um galho do brasileiro Vitor Faverani, ajudando na tradução do espanhol para o inglês, sempre que necessário.

Austin Ainge (e) e o geniozinho Brad Stevens

Austin Ainge (e) e o geniozinho Brad Stevens

Sacramento Kings
Na capital californiana, o processo foi inverso. Michael Malone assumiu o comando de um time pela primeira vez e recorreu ao pai Brendan, extremamente experiente, que seria seu principal assistente. Sua missão seria ajudar a guiar o filho em sua temporada de calouro. Em cerca de três meses, porém, o Malone sênior abriu mão do cargo, dizendo que basicamente não tinha mais paciência para esse tipo de atividade.

“Foi um choque completo para mim. Estava na minha sala, e ele entrou e disse: ‘Estou saindo’. Eu respondi: ‘Aonde você vai?’. E ele simplesmente falou que estava saindo para valer. Foi uma surpresa. Acho que era algo com o qual ele estava lutando por um tempo. Foi difícil lidar com isso e algo muito emocional porque não é apenas a relação de um técnico com um assistente. Há uma dinâmica de pai e filho, mas, para ser justo, eu não estaria aqui se não fosse por ele. Ele me deu um empurrão para chegar aqui”, afirmou o Malone júnior, que vinha fazendo ótimo trabalho no estafe de Mark Jackson no Warriors e com Monty Williams no Hornets, hoje Pelicans, diga-se.

Dallas Mavericks
Don Nelson fechou com Mark Cuban para reestruturar uma franquia que foi uma piada durante grande parte da década de 90. Levou junto na bagagem o filho Donnie, que trabalhou como gerente geral, nos bastidores, como o braço direito de Cuban nas negociações com atletas. O Don filho, porém, já tinha mais o que oferecer. Trabalhou como assistente da seleção lituana em diversas competições coordenou a seleção chinesa por dois anos e em ambos os cargos teve sucesso. Também criou os chamados Global Games, em Dallas, um torneio amistoso que reúne algumas das melhores seleções juvenis do mundo. Ele só ficou em uma situação constrangedora no Texas quando a relação do Don pai e do magnata se estremeceu a ponto de envolver os tribunais. No final, Cuban teve de pagar mais de US$ 6 milhões em um acordo.

Los Angeles Lakers
Bem, o falecido Jerry Buss não quis nem saber: seu legado teria de ser sustentado pelos filhos. Quando seus problemas de saúde o afastavam gradativamente da condução diária da célebre franquia, o Sr. Buss transferiu suas responsabilidades para os dois filhos. Jim ficaria com o basquete. Jeannie, com os negócios. Ric Bucher escreve mais a respeito aqui. Jim foi assistente do gerente geral Mitch Kupchak desde 1998. Na visão dos torcedores do Lakers, é uma nulidade, famoso por seu apreço por corridas de cavalo, por não tirar o santo boné da cabeça e por ter demitido mais de uma dezena de empregados do vitorioso departamento esportivo antes do lo(u)caute.

Jeanie e Jim Buss. Uma popular em LA, outra nem tanto

Jeanie e Jim Buss. Uma popular em LA, outra nem tanto

(Esse processo aconteceu também no Denver Nuggets, lembremos, com Josh Kroenke, de 33 anos, assumindo a presidência do time, deixando o pai Stan mais afastado. Josh jogou por Missouri na NCAA e já marcou Carmelo uma vez. Leia seu perfil aqui, do intrépido Wojnarowski.)

Em quadra, depois de muito tempo separados, hoje em dia para onde quer que Mike D’Antoni vá, ele carrega junto o irmão Dan, mais velho. Enquanto Mike conquistava a Itália – e, sobretudo, Kobe – e Milão, como jogador, depois de passagem não muito brilhante na NBA, Dan era treinador na boa e velha West Virginia, em high school. Na verdade, ele se ocupou disso por (!) 30 anos até ser convencido pelo caçula a assumir um cargo de assistente no Phoenix Suns. A parceria se repetiu em Manhattan e, agora, em Hollywood.

Atlanta Hawks e Utah Jazz
Dias depois de fechar a surpreendente contratação de Paul Millsap, Danny Ferry não foi tão criativo assim ao anunciar seu elenco para a liga de verão de Las Vegas em 2013. As atrações principais eram o brasileiro Lucas Bebê e o alemão Dennis Schroeder, mas não deixava de chamar a atenção o número 45 da equipe, John… Millsap. Irmão (três anos) mais velho de Paul, conseguiu a vaguinha na carona do contrato milionário do ex-jogador do Jazz, claro. A generosidade, no entanto, se limitou a uma assinatura de contrato. Em Vegas, John jogou por apenas 17 minutos, em duas partidas, marcando dois pontos no total.

Em Utah, aliás, John já havia ganhado um empurrãozinho ao defender por um bom tempo o Flash, da D-League, que hoje é chamado Delaware 87ers, afiliado ao Philadelphia 76ers.

Para saber mais sobre a saga dos irmãos Millsap – há ainda Elijah, do Los Angeles D-Fenders, e o caçulinha Abraham, é só acessar o site do Paul.

Golden State Warriors

Seth e Stephen, filhos do Dell

Seth e Stephen, filhos do Dell

Com Stephen Curry e Klay Thompson, o Golden State Warriors causa inveja a muita gente. Será que é justo que o mesmo time possa ter dois arremessadores tão acima da média? Que dois gatilhos desses possam fazer dupla? Bem, há outra franquia que ao menos pode replicar esses sobrenomes. Estamos falando – coincidência ou não! – do Santa Cruz Warriors, filial da equipe na D-League. É lá que jogam Seth Curry e Mychel Thompson, irmãos dos cestinhas.

Seth é mais jovem que Stephen. Os dois herdaram do pai, Dell, a mecânica belíssima e a eficiência nos chutes de longa distância. Mychel, mais velho que Klay, já é moldado de um jeito diferente, muito mais voluntarioso do que o refinado caçula. Os dois são filhos de mais ums ólido veterano da NBA, o pivô Mychal Thompson, bicampeão pelo Los Angeles Lakers em 1987-88.

Comparando com John Millsap, há algo que os separa, contudo. Depois de brilhar pelo Erie BayHawks na liga de desenvolvimento, Mychel foi contratado pelo Cleveland Cavaliers – aparentemente sem influência do sobrenome. Jogou cinco partidas pelo Cavs, sendo titular em três ocasiões. Já Seth se formou pela tradicional Universidade de Duke, sob o comando do Coach K, como um jogador importante na NCAA. Uma grave lesão de tornozelo antes do Draft acabou atrapalhando suas pretensões no recrutamento de calouros. Provavelmente teria espaço em uma grande liga da Europa, mas preferiu acompanhar o irmão na Califórnia.

Los Angeles Clippers
Não foi possível confirmar os rumores de que Doc Rivers, com tantos desfalques, estaria interessado na contratação do Little Chris (Paul) para fortalecer seu banco de reservas:

(Brincadeira. Fui!)