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Arquivo : Fabrício Melo

Troca de Rondo resulta na dispensa de Faverani. Na NBA, nada é garantido
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Giancarlo Giampietro

Carreira de Faverani pelo Boston durou 488 minutos em 37 jogos; marcou 164 pontos

Carreira de Faverani pelo Boston, por enquanto, durou 488 minutos em 37 jogos; marcou 164 pontos

Como jogadores, dirigentes e treinadores sempre falam: são negócios afinal, não?

O universo da NBA é muito complicado, cheio de armadilhas, que são intrínsecas ao jogo. O jogo como um todo, mesmo, muito mais os dados lançados fora de quadra, como Scotty Hopson pode muito bem assinalar. Assinar um contrato com um time da liga norte-americana pode ser o auge para a carreira de um atleta, mas não é certeza de nada. Quer dizer: dependendo do acordado, até rende uma boa grana. No que se refere a basquete, uma vez lá, você tem de se preparar para encarar uma competitividade extrema. Além disso, num cenário sempre volátil, também vai precisar de sorte.

O que faltou a Vitor Faverani. Nesta quinta-feira, sua passagem pelo Boston Celtics se encerrou, ao ser dispensado depois da fulminante troca de Rajon Rondo para o Dallas Mavericks. Como Danny Ainge recebeu mais jogadores (Brandan Wright, Jameer Nelson e Jae Crowder) do que mandou (Rondo e Dwight Powell), acabou ultrapassando novamente o limite de contratos permitidos pela liga (15). Sobrou para o pivô brasileiro, que ainda se recupera de uma segunda lesão no joelho.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

A transição de jogador relevante na Europa para peça complementar nos Estados Unidos geralmente é bem complicada. Splitter, Teletovic e, agora, Bojan Bogdanovic são alguns dos casos de gente badalada no Velho Continente que enfrentou sérios percalços ao migrar para a NBA. Para Faverani, que nunca chegou a ter o sucesso desse trio no princípio de sua carreira, não seria diferente. Já coloquei aqui os altos e baixos de seu primeiro ano na liga, que acabou encerrado por conta de uma lesão no joelho. Lesão que pediu duas cirurgias e olhe pôs numa posição muito difícil.

Uma pena. Seu talento e suas habilidades se encaixam com o sistema tático em voga na liga americana, já que não só pode proteger bem o aro como tem potencial para ser uma ameaça no perímetro. O próprio Danny Ainge já disse isso. Mas chegou uma hora em que os bastidores o atropelaram. O cartola precisava encontrar um novo destino para Rondo. Não é que ele duvide da capacidade do armador. O que pega é que ele vai virar agente livre ao final da temporada e, segundo a mídia de Boston, iria pedir um contrato máximo para renovar. Coisa de US$ 20 milhões, aproximadamente, e o clube não estava disposto a desembolsar tal quantia. Aí que o Dallas apareceu com tudo e venceu Houston Rockets e Los Angeles Lakers num breve leilão e levou o armador. Faverani acabou pagando o pato, mesmo que tivesse um salário garantido de mais de US$ 2 milhões.

Brandan Wright e Jae Crowder acabam forçando a dispensa de Faverani

Brandan Wright e Jae Crowder acabam forçando a dispensa de Faverani

O que vai ser do pivô de 26 anos? Caso não seja recolhido por nenhuma franquia em seu período de waiver, até sábado, imagino que um retorno para a Europa seja o mais fácil de concretizar – tem muito apelo mercado na Espanha, e aí seria uma questão de apenas averiguar se está tudo certo mesmo com o joelho e seguir em frente.

Por outro lado, ao que  parece, a ideia inicial é tentar mais alguma porta nos Estados Unidos, o que dá para entender. Inevitável que fique um pouco de frustração. Segundo um de seus agentes, Luis Martin, ele poderia até mesmo ser reaproveitado pelo Boston no futuro. É o que disse ao repórter Gustavo Faldon, do ESPN.com.br.

Sua dispensa aconteceu por circunstâncias bem diferentes, se compararmos com o que aconteceu com outro gigantão brasileiro descartado pelo Celtics, Fabrício Melo. Mais jovem, Fab foi draftado por Ainge, ainda muito cru, como uma aposta de longo prazo num elenco que ainda contava com Garnett e Pierce. O que ele mostrou em um ano de trabalho, dentro e fora da quadra, foi o suficiente para o dirigente abortar esse projeto bruscamente. O pivô foi trocado para o Memphis, chegou a acertar, ironicamente, com o mesmo Mavs, mas se viu fora da liga rapidamente. Nem no Paulistano conseguiu se manter, independentemente de seu potencial (se nos Estados Unidos já é difícil encontrar um cara de 2,13 m e ágil, imagine por aqui…). Pelo que entendo, aprontou fora da quadra.

Ainda que bem diferentes, as histórias de Faverani e Melo têm outro ponto em comum além do fato de terem sido relevados pelo Boston Celtics: como é difícil se manter na NBA. São casos que servem de alerta para qualquer garoto que espera chegar a esse eldorado, ainda mais depois do que ocorreu com Bruno Caboclo. A saída do garoto do Pinheiros direto para o Raptors acende uma fagulha, mesmo, nas revelações brasileiras. Não tem como. Se alguém, por ventura, conseguir replicar esse salto, é para se comemorar, mesmo, com orgulho. Só não dá para achar que a vida está feita, que a carreira está ganha.

Como disse Luis Martin a Gustavo Faldon: “Ele (Vitor) não entendeu nada. Estava falando com o técnico sobre voltar e de repente vem a troca. Todo mundo falando da volta dele, o Danny Ainge, mas daí venho a troca e muda tudo”.

Num campo em que a concorrência em quadra e os negócios são cruéis, a luta é contínua. Não sobra muito tempo para comemorar.

*   *   *

Num veículo brasileiro, a gente acaba se concentrando no impacto da negociação para um compatriota. Mas toda as partes envolvidas em qualquer negociação são afetadas.  Sabe o que Jameer Nelson estava fazendo quando soube que seria trocado para Boston? Comprando presentes de Natal para crianças de Dallas no shopping North Park, segundo Brad Towsend, repórter do Dallas Morning News.

* * *

Já Mark Cuban, o irrequieto dono do Dallas Mavericks, deu seu aval para a troca enquanto se preparava para participar da gravação do último programa de Stephen Colbert no canal Comedy Central. Colbert vai substituir o genial Dave Letterman na CBS.


Sobrinho de Leandrinho tenta a chance na D-League da NBA
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Giancarlo Giampietro

Ricardo Barbosa, sobrinho de Leandrinho, armador, Osasco

Ricardo Barbosa, armador de 20 anos e 1,85 m de altura, está tentando a sorte nos Estados Unidos também. O jogador se inscreveu no Draft da liga de desenvolvimento da NBA, a NBADL – também popularmente conhecida como D-League. Mas quem seria Ricardo? Era a pergunta de um scout da liga principal norte-americana quando veio me informar sobre essa pequena surpresa na lista oficial que recebera pela manhã. Bem, estamos falando de um sobrinho do Barbosa mais famoso em tempos recentes do basquete nacional: Leandrinho.

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A princípio, minha pergunta para o olheiro foi de espanto: Ricardo quem? Também não conhecia, e havia pouca informação disponível por aí no Google. Checar informações nas federações nacionais nem sempre é a tarefa mais fácil, mas com ajuda da comunidade nerd basqueteira, como o pessoal do Mondo Basquete, e de grandíssimos torcedores do Pinheiros, conseguimos juntar as peças.

Quando obtive acesso à lista oficial – agora já divulgada pela D-League com alguns nomes interessantes como Marquis Teague, Erik Murphy, o dominicano Eloy Vargas e o canadense Brady Heslip –, chamou a atenção o agente que o representava: Sam Goldfelder, cujos atletas vão ganhar mais de US$ 57 milhões nesta temporada da NBA. É um cara poderoso, que conta com Blake Griffin como principal cliente. Quando fui conferir quem mais ele representava, lá estava Leandrinho.

Por aqui, pouco se escreveu sobre Ricardo. A primeira ocorrência que encontrei foi um texto do extremamente valioso blog da Liga Nacional de Basquete, o Território LNB. Numa lista de “novos talentos”, identificando nada menos que 25 jovens atletas para serem acompanhados na LDB de 2013. Ô loco. Ricardo, inscrito pelo Pinheiros – clube que seu tio defendeu depois da cirurgia por que passou no joelho, antes de voltar ao Phoenix Suns –, apareceu na posição 18, com a seguinte descrição: “Nascido em 1994, mostrou uma grande evolução da 2ª para a 3ª edição da LDB. Em São Sebastião do Paraíso mostrou muita versatilidade, começou jogando na 2 e assumiu a armação principal do time após a contusão de Gustavoa Ceccato. Boa defesa e, no ataque, um faro pra encontrar os buracos no sistema adversário”.

Ricardo Barbosa, jogando pelo Pinheiros na LDB

Ricardo Barbosa, jogando pelo Pinheiros na LDB

O garoto, que é filho de Arthur, irmão mais velho de Leandro e uma grande influência na trajetória ímpar do ala-armador, não foi aproveitado pelo time principal do clube da capital paulista, no entanto. Antes, na base, havia jogado pelos times menores de Hebraica e Palmeiras.

Neste ano, Ricardo assinou com o time de Osasco. E foi pesquisando no perfil do clube no Facebook que encontramos também o Eduardo Barbosa, irmão mais velho de Ricardo, que já havia ganhado suas manchetes no passado por ter assinado com o Londrina em 2010. Em termos de clube, Eduardo teve na base a mesma trajetória do caçula, tendo estudado também por dois anos nos Estados Unidos. Na equipe paranaense, que passava por situação financeira bastante grave, trabalhou com o técnico Ênio Vecchi. Justamente o comandante de Osasco.

Agora, o jovem atleta tenta dar um grande salto. Ele é um dos cerca de 180 atletas que estão disponíveis para as franquias da D-League selecionarem neste sábado, pela tarde – 11 deles têm experiência de NBA. Entre eles também consta o veterano armador Luther Head, ex-Houston Rockets, companheiro de Deron Williams na universidade de Illinois, e Chris Smith, o irmãozinho do JR. David Stockton, armador revelado por Gonzaga, nunca jogou lá, mas também tem um sobrenome de peso, com pai famoso.

Como funciona o Draft? São loooongas oito rodadas de escolhas para as 18 franquias. Tal como na liga principal, esses picks estão sujeitos a trocas, e tal, com muitas delas já interferindo na ordem de escolha deste ano. As negociações, porém, só podem acontecer até esta sexta-feira. Não estranhem se Ricardo for selecionado pelo Santa Cruz Warriors, filial do Golden State, de Leandrinho. Na campanha passada, eles contaram com Seth Curry, por exemplo. Esse tipo de acordo é normal.

Dos 18 times, 17 têm vínculo exclusivo com, digamos, seus irmãos da NBA. O único fora da brincadeira é o Fort Wayne Mad Ants, justamente aquele de melhor nome, que acaba sendo forçado a abrir espaço em suas fileiras aos demais 13 clubes da liga administrada hoje por Adam Silver. O Toronto Raptors, de Bruno Caboclo e Lucas Nogueira, está no meio dessa confusão, diga-se.

O training camp dos times começa no dia 2 de novembro, enquanto a largada da temporada regular será no dia 14. Na véspera, os clubes precisam definir seu elenco oficial de 10 atletas. A origem dos jogadores não precisa ser apenas via draft. O site oficial explica tudo em detalhes, mas basicamente os times de cima têm direito de “reservar” alguns atletas para seus afiliados (num limite de quatro). Além disso, durante o calendário regular, sabemos muito bem que há constante intercâmbio entre os dois campeonatos. Brasileiros como Vitor Faverani, no campeonato passado, antes de se lesionar, Scott Machado e Fabrício Melo já passaram por essa rota.


Nenê protagoniza melhor momento brasileiro na temporada
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Giancarlo Giampietro

Nenê sobe livre para a enterrada triunfal, depois de Wall limpar a quadra

Nenê sobe livre para a enterrada triunfal, depois de Wall limpar a quadra

Não dá para dizer que a temporada 2013-2014 seja a mais auspiciosa para os brasileiros na NBA. Não que estejam terrivelmente mal. Nada disso. Mas tem faltado um pouco de brilho, barulho, grandes momentos – talvez pelo fato de a turma ter se assentado em situações cômodas, de estabilidade.

De todo modo, neste sábado, Nenê ao menos conseguiu registrar um grande momento para a legião de exportados, realizando um dos melhores jogos de sua já longínqua carreira na liga norte-americana. Na verdade, o melhor momento, e justo com ele, sempre afeito a dar o mérito aos companheiros. Um cara que não curte muito esse negócio de se gabar em entrevistas – isso, claro, quando ele topa falar com algum repórter. Mas dessa vez não havia muito como ele escapar dos microfones e gravadores.

O pivô marcou 30 pontos na vitória do Washington Wizards sobre o New Orleans Pelicans, igualando sua melhor marca pessoal. Mais: fez a cesta do triunfo, uma enterrada com 0s9 no cronômetro, bem em cima da buzina, mesmo, para definir o placar de 94 a 93. “Apenas rezei”, afirmou o são-carlense, em mais um gesto típico, sempre evocando termos religiosos para suas ações em quadra. “Queria encerrar o jogo com a bola nas minhas mãos. Eles fizeram isso, colocaram nas minhas mãos. O John foi fantástico: uma infiltração daquelas, e ele me encontrou.”

Veja a jogada aqui, eleita pela turma da NBA como a melhor de uma noite cheia de jogos (e, de brinde, veja a enterrada poderosa do brasileiro na 10ª posição, deixando o Monocelha na saudade):

Esses foram apenas os famosos “highlights”, né? Mas, se você quiser saber exatamente o estrago que Nenê fez na defesa do Pelicans, melhor assistir a este compacto com suas cestas de quadra (e algo a mais):

O pivô estava simplesmente com as mãos pegando fogo, tendo convertido 13 de 19 arremessos de quadra. Para quem não clicou no vídeo, a boa nova foi sua confiança na conversão dos chutes de média distância. Na temporada, este vem sendo seu aproveitamento:

Em amarelo: Nenê arremessando de acordo com a média da liga em praticamente todo o perímetro interno, sendo mais eficiente na cabeça do garrafão e dois ou três passos para a direita. Não por acaso, região em que encaçapou diversas vezes contra o Pelicans

Em amarelo: Nenê arremessando de acordo com a média da liga em praticamente todo o perímetro interno, sendo mais eficiente na cabeça do garrafão e dois ou três passos para a direita. Não por acaso, região em que encaçapou diversas vezes contra o New Orleans

Quer dizer, Nenê já precisa ser respeitado na hora de subir para o jump-shot. Se conseguir, de alguma forma, elevar seu rendimento, seu impacto no ataque do Wizards seria mortal: 1) é difícil parar John Wall em suas infiltrações, no mano a mano, de modo que o pivô (Greg Stiemsma, por exemplo, em diversos dos lances acima)  também precisa recuar um bocado no garrafão para fechar a porta; 2) Marcin Gortat é um ótimo finalizador debaixo do aro e também chama a atenção da ajuda, da cobertura; 3) o mais ilustre dos Hilários do esporte tem liberdade para receber o passe e finalizar; se for para matar, deixa os defensores praticamente diante de constante xeque-mate após xeque-mate.

Agora, voltando à discrição de Nenê. Vasculhando os sites norte-americanos, ou mesmo os locais de Washington, foi difícil encontrar mais declarações do brasileiro. Vamos aqui com as únicas duas:

– “Foi uma vitória fantástica” – a básica.

– “Não, não, não. Isso não está certo” – o pivô descrevendo o que pensou quando Anthony Davis (aliás, mais um jogo sensacional para este jovem craque) converteu dois lances livres nos segundos finais para por o time visitante na frente do placar.

A enterrada de outro ângulo

A enterrada de outro ângulo

E só. Se alguém tem outra na manga, favor endereçar em telegrama urgente. É impressionante e diz muito sobre seu comportamento – com a ressalva de que o elenco do Wizards se mandou rapidamente do ginásio, com um voo marcado para Cleveland, aonde jogam novamente neste domingo.

Mas o sumiço do pivô também fala bastante sobre a moral que John Wall tem na capital norte-americana. (Claro, essa não é uma surpresa, já que é, agora oficialmente, o All-Star da franquia.) Sua assistência para a enterrada triunfal de Nenê foi o grande chamariz nos relatos da partida. E, de fato, merecia destaque. “John fez duas jogadas no fim que você não consegue ensinar”, afirmou o técnico Randy Wittman. “Ele partiu para a cesta querendo a bandeja. Estando um ponto abaixo, com o relógio correndo, ele ficou sob controle, para fazer aquela última jogada para o Nenê. Foi uma boa execução no momento  decisivo.”

É… Vejam que Wall atrai a atenção de marcação tripla no garrafão, limpando um espaço precioso para a decolagem de seu pivô. “Eu queria ir para um arremessos”, confessou o armador. “Mas vi Anthony Davis se aproximar. Então pensei em passar por trás para Gortat. Mas aí vi (Jeff) Withey chegar ao mesmo tempo, e então vi Nenê por ali, e e era o passe mais fácil e mais seguro. Por sorte, ele conseguiu fazer a cesta a tempo.”

Fica bem claro o amadurecimento do número um do Draft de 2010. Demorou um pouco mais, mas ele chegou lá, sem perder o embalo da temporada passada, na qual ficou afastado por um longo período devido a complicações no joelho.

O Wizards se mantém na zona de classificação da Conferência Leste, ainda que não consiga de jeito nenhum ultrapassar a marca de 50% de aproveitamento. Wall é quem lidera essa campanha, mas, sem Nenê, pode ter certeza de que não conseguiriam. Por mais que ele diga pouca coisa a respeito.

*  *  *

Varejão e Splitter, de novo lidando com questões físicas

Varejão e Splitter,  lidando com questões físicas

Um bom momento para checar como estão os demais brasileiros, né?

Tiago Splitter vem sofrendo novamente com suas já famosas lesões na panturrilha, o tipo de problema físico que precisa ser muito bem cuidado, para que não vire algo mais grave, que possa lhe atrapalhar nos playoffs. Com Gregg Popovich, porém, não há esse risco. Na semana passada, o catarinense se viu incluído numa lista nada agradável, elaborada pelo jornalista Bill Simmons, editor-chefe e fundador do inigualável Grantland e comentarista da ESPN: a dos 30 piores contratos da liga. Simmons autaliza esta relação anualmente e incluiu o pivô na 23ª posição. “Eu sempre levo pro lado pessoal quando o Spurs paga mais do que deve para alguém. O Spurs é supostamente o clube mais esperto da liga! Por favor, RC Buford! Você é um modelo a ser seguido!!! Você deu US$ 36 milhões para alguém que nem conseguia ficar na quadra nas finais de 2013???? Justo você?? Por quê????”, exclamou, questionou, aloprou.

Splitter recebeu um contrato de US$ 36 milhões por quatro anos. Uma bolada. Mas Simmons não apresentou muitos argumentos para atacar o negócio, além do fato de o jogador ter penado contra o Miami na decisão para questionar esse montante – como se ele fosse o único pivô a ter enfrentado dificuldade contra o time da Flórida . Naturalmente, o comentário despertou uma certa indignação entre os torcedores do Spurs. O blog Pounding the Rock saiu em defesa do atleta, de modo racional. O mesmo blog já havia elaborado um artigo excelente para detalhar a importância do pivô para a defesa texana. Há coisas que os números realmente não contam, ao menos na superfície. Por outro lado, é preciso dizer que Tiago vive sua pior temporada desde o ano de novato, de acordo com medições estatísticas mais avançadas ou em projeções por minuto, mesmo depois de ter descansado durante as férias, sem ter disputado a Copa América. Não quer dizer que esteja mal, mas que pode render mais.

Anderson Varejão estava começando a embalar no garrafão do Cleveland Cavaliers e… Está fora de quadra desde 9 de fevereiro, por conta de alguma contusão/lesão/questão/dor nas costas. O Cavs não divulgou exatamente qual o problema do capixaba, deixando os blogueiros da cidade ressabiados. A ESPN chegou a noticiar que ele teria tomado uma injeção de cortisona, mas o gerente geral David Griffin negou a informação. Em contato com Sam Amico, repórter da FoxSports, contudo, o dirigente confirmou que ao menos um tipo de injeção foi aplicada. Só não quis confirmar qual.

O pivô estreou na temporada um pouco mais tarde, se reabilitando da assustadora embolia pulmonar que o tiro das quadras na temporada passada. Seu tempo de quadra vinha sendo mais controlado, se comparando com os três campeonatos anteriores, mas aos poucos ele vinha recebendo uma carga maior de minutos. Em 2014, tinha médias de 10 pontos, 10 rebotes, 3,3 assistências e 1,5 roubo de bola. Até que parou. Neste sábado, sabe-se que ele não treinou.

– Para Leandrinho, só o fato de já somar 18 partidas na temporada 2013-2014 já é uma vitória, superando uma série de dúvidas sobre seu retorno depois de uma lesão grave no joelho. Prova de sua dedicação, seriedade, devoção aos treinamentos. Aliás, um aspecto muito subestimado na carreira do ligeirinho – não foi só talento natural que o levou ao sucesso nos Estados Unidos. Posto isso, o ala-armador tem perdido rendimento em fevereiro. Depois de abrir o mês marcando 13 pontos em dois jogos seguidos (ambas derrotas, para Chicago e Houston), converteu 17 no total em suas últimas quatro partidas, em seis cestas de quadra, tendo ficado fora da surra do Suns para cima do Spurs, na sexta, abrindo vaga para o calouro extremamente promissor Archie Goodwin. O baixotinho Ish Smith foi o beneficiado.

– Em um ano em que o Boston Celtics joga mais para perder do que para ganhar, a estreia do técnico Brad Stevens na NBA foi considerada pela mídia norte-americana como um dos poucos pontos positivos. É elogiado pelo quanto se prepara para cada confronto, pela eficiência de suas jogadas após pedidos de tempo, pela evolução de Jordan Crawford em suas mãos, entre outros pontos. Agora, no que se refere a Vitor Faverani, acho que o jovem treinador erra, e feio. Dar tempo de quadra para um veterano como Kris Humphries, no último ano de contrato, em detrimento de uma aposta para o futuro, não faz muito sentido. E não é que o pivô gaúcho tenha afundado a equipe quando jogou.  Agora, caminhando para os meses finais de temporada, Faverani se recupera de uma torção no joelho esquerdo. Em três jogos completos pela D-League, teve médias de 16,3 pontos, 12 rebotes, 3,6 assistências e 2 tocos, em cerca de 32 minutos. A ressalva de sempre: os números nesse campeonatos são sempre inflados, pelo ritmo de pelada de muitas partidas. De qualquer forma, Faverani entregou. Agora é ver se consegue voltar para quadra rapidamente e se vai receber mais uma chance adequada de Stevens.

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Enquanto isso, na D-League…

Scott Machado, novamente Warrior

Scott Machado, novamente Warrior

– Superada (?) a frustração da dispensa pelo Utah Jazz, Scott Machado voltou à alçada do Warriors, defendendo novamente a filial da franquia em Santa Cruz. Dessa vez, porém, ele é reserva de Seth Curry, o irmãozinho do Steph. Antes que acusem o clube de nepotismo, saibam que o armador tem média de 19,5 pontos por jogo e 6,4 assistências, mesmo que não tenha colocado em prática seu grande arremesso de três pontos (32,5% de longa distância… cai a eficiência quando ele passa mais tempo com a bola, claro). O gaúcho de Nova York tem médias de 20,8 minutos, com 8,6 pontos, 3,4 assistências, 3,1 rebotes e apenas 33,3% nos chutes de quadra…

Fabrício Melo passou um bom tempo em inatividade (inexplicavelmente, diga-se) e assinou com o Texas Legends, a filial do Dallas Mavericks, clube que o cortou no training camp, lembrem-se, numa situação que nunca lhe foi muito favorável. Ainda preciso sentar um dia à frente do YouTube para ver em que tipo de forma está o pivô mineiro, mas depois de fazer ótimas partidas no ano passado pelo Maine Red Claws, seus números na atual campanha por enquanto são tímidos: 4,1 pontos, 3,6 rebotes e horrendo 38,6% nos arremessos em apenas 13 jogos (13,6 minutos). É reserva do imortal Melvin Ely, hoje com 35 anos. Um cara que entrou na NBA no mesmo Draft de Nenê (2002), rodou por várias franquias (Clippers, Hornets/Pelicans. Spurs, Nuggets…) e nunca teve média superior a 25 minutos por jogo.


Pressionado, Fabrício Melo recomeça em Dallas e tenta cumprir promessa
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Giancarlo Giampietro

“Você simplesmente não acha tantos jogadores grandes que sejam tão talentosos como ele. Está na mesma categoria de Al Jefferson e DeMarcus Cousins em termos de seu nível de habilidades ofensivas. Ainda há algum trabalho a ser feito defensivamente e nos rebotes, mas sua evolução é evidente por conta de seu contínuo aprimoramento no condicionamento físico.”

Foi isso o que escreveu Jerry Meyer, analista do Rivals.com – um site especializado no recrutamento de jogadores colegiais nos Estados Unidos –, lá nos idos de 2009, sobre um jovem pivô Fabrício de Melo, que ainda tentava se acostumar a ser chamado de “Fab Melo” por seu mais novo treinador, Adam Ross, na Weston Sagemont Upper School, na Flórida. O brasileiro iniciava sua jornada em quadras norte-americanas e causava uma baita impressão.

Fabrício, tipo Boogie Cousins

Nos tempos de promessa colegial e comparações

Depois de uma avaliação dessas, você pode até duvidar das credenciais de Meyer, mas saiba que ele não estava sozinho nesta barca. Ao concluir sua formação colegial, foi convocado para as principais partidas festivas nesta categoria. Ao lado de Kyrie Irving, Harrison Barnes, Tristan Thompson e outros, por exemplo, disputou o tradicional McDonald’s All-American de 2010.

Três temporadas depois, porém, as comparações com Jefferson e Cousins soam surreais, enquanto o termo “promissor” aparece cambaleante ao lado de seu nome. Embora ainda jovem, aos 23 anos, abrindo apenas sua segunda temporada na NBA, já não seria um exagero dizer que o atleta vê sua carreira a perigo, em uma corrida contra o tempo que se iniciou, na verdade, desde que decidiu tentar a vida de jogador de basquete, mais tarde que o normal para os padrões americanos. Nesta semana, ele abre a pré-temporada como jogador do Dallas Mavericks, mas sem contrato garantido.

“Melo começou aqui (nos Estados Unidos) aos 18. Ele tinha 20 como um calouro de universidade. Faz uma grande diferença em termos de desenvolvimento. Acreditar que ele possa ser um um jogador de NBA agora é uma expectativa injusta”, afirma Amin Elhassan, analista do ESPN.com e ex-integrante de diretorias do New York Knicks e do Phoenix Suns. Para comparar: com os mesmos 20 anos (completados em agosto), Andre Drummond já vai para sua segunda temporada de Detroit Pistons.

De basquete organizado, num ambiente verdadeiramente estruturado, o pivô tem quantos anos? Cinco? Se você for considerar os treinos e jogos colegiais dos Estados Unidos como competição nesse nível, a conta seria essa. Mas Elhassan questiona até mesmo isso. “Ele jogou em Sagemont, no sul da Flórida. Não é que ele estivesse enfrentando jogadores de alta classe”, diz.

E um agravante: no Brasil, passou a encarar o basquete como algo a ser testado para valer aos 15, depois de um ano em que deu bela espichada, ultrapassando os 2 metros de altura. “Como todo brasileiro, eu jogava futebol. Mas reparei que era sempre o último a ser escolhido nas peladas. Aí comecei a jogar basquete e me apaixonei”, disse, com o bom-humor de sempre, em entrevista ao MegaMinas que juro que estava neste link aqui, até ficar fora do ar.

Leva mais tempo para os pivôs desenvolverem seus jogos. Quando eles começam tarde no esporte, esse processo de aprendizado fica ainda mais lento. No caso de Fabrício, ele acabava compensando essa falta de recurso técnico dominando fisicamente os atletas de sua idade em ligas colegiais inferiores da Flórida. Foi o suficiente para inflar seu status, com a NBA aparecendo precocemente como uma plausível meta. “Sei que Fab tem o objetivo pessoal de jogar na NBA. Muitos garotos têm esse sonho e, para a maioria, não é algo razoável. Com ele, hesito em dizer, mas seu objetivo é atingível. Com o tempo, ele será capaz de desenvolver habilidades do nível de NBA”, disse Ross, seu primeiro técnico nos EUA, em janeiro de 2010.

Bem, hoje sabemos que a própria liga reconheceu essas habilidades do pivô, com Danny Ainge lhe dedicando 22ª escolha do Draft de 2012. Mesmo tendo o rapaz passado dois anos na universidade de Syracuse, na qual o técnico Jim Boeheim investe muito na defesa por zona, algo ainda não muito comum na NBA e ainda limitado em suas regras. Quer dizer: era mais um desafio para Melo, fazer sua presença sentir efeito num jogo com espaçamento bem diferente e contra jogadores muito mais experientes e capacitados. “Ele tem algumas ferramentas físicas intrigantes, mas é difícil assimilar a velocidade e as demandas intelectuais do jogo quando não se tem muita experiência. Tem potencial, mas enfrenta dificuldade com o entendimento do jogo”, diz Elhassan.

Para Ainge, chefão do Celtics, essas dificuldades foram tão alarmantes que ele decidiu abortar o projeto apenas uma temporada depois de sua seleção. Fabrício apareceu em apenas seis partidas pelo Celtics na última campanha, acumulando apenas 36 minutos de ação (o equivalente a três quartos de uma partida). No total, foram apenas sete pontos, a mesma quantidade de faltas que cometeu. Na D-League, teve momentos melhores, como na sequência de partidas em que somou 15 pontos, 16 rebotes e um recorde de 14 tocos contra o Erie Bayhawks e 32 pontos, nove rebotes e nove tocos contra o Idaho Stampede. No total, teve médias de 9,8 pontos, 6,0 rebotes e 3,1 tocos (melhor da liga), em apenas 26,2 minutos.

Fabrício Melo, quase dominante na D-League

Pelo Maine Red Claws, alguns minutos, mas sem convencer Ainge

Não foi o suficiente, porém. Toda a paciência recomendada por analistas foi completamente ignorada pelo cartola e por uma crítica e torcida bastante exigentes. “Ele provou ser pouco mais que um projeto a longo prazo, na melhor das hipóteses”, sentenciou o Boston Globe. Duas semanas depois de adquirir o brasileiro, o Memphis Grizzlies também o dispensou, sem nenhuma intenção de desenvolvê-lo sob a tutela de um Marc Gasol. Nenhum clube o recolheu no período de waiver, como destaquei aqui. Seu status caiu tanto, que uma projeção do ESPN.com o apontou como o segundo pior jogador para a temporada 2013-2014.

Agora, em Dallas, Fabrício tem algumas semanas para tentar mudar essa percepção de “fiasco” em torno de seu jogo. Precisa convencer Mark Cuban, Donnie Nelson, o novo gerente geral Gersson Rosas e – por que não? – Dirk Nowitzki de que vale o investimento. É um tipo de experimento em que a franquia texana tem certa experiência. Que o digam DeSagana Diop, DJ Mbenga e Ian Mahinmi, três casos de pivôs fisicamente impressionantes, mas sem muitos recursos técnicos, que foram contratados como jovens agentes livres na gestão de Nelson.

O jeito é pensar a longo prazo, mesmo. Qualquer contribuição do brasileiro para a próxima temporada seria surpreendente (veja mais abaixo), mesmo que a companhia para o astro alemão não seja das mais inspiradoras no garrafão – temos aqui o temperamental Samuel Dalembert, o magricelo Brandan Wright, o frustrado DeJuan Blair e o sargento Bernard James.

Mbenga jogou por sete anos na NBA. Diop talvez tenha se despedido da liga na temporada passada, 11 anos depois de ser draftado. Mahinmi entra em sua quinta campanha, com mais dois anos, no mínimo, de contrato garantido. Será que Fabrício conseguirá ao menos seguir uma trilha dessas?

Pesquisando artigos sobre o início então promissor do mineiro nos Estados Unidos, surgiu também esta frase de seu primeiro treinador, falando sobre o sonho olímpico de seu jovem atleta. “Assim que (a sede de 2016) foi anunciada, ele me telefonou e estava muito empolgado. ‘Coach, o Rio ganhou. Eu vou. Vou estar lá'”, relembrou.

Esta não chega a impressionar tanto como a comparação feita pelo scout, sobre Cousins e Jefferson. Mas, hoje, também está longe.

Acompanharemos qual o desfecho deste conto.

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O Mavs tem no momento 15 jogadores com contratos garantidos. Isto é, para permanecer no elenco texano, Fabrício vai ter de jogar muito em treinos e amistosos para que Mark Cuban e a comissão técnica decidam dispensar alguns destes salários, mesmo tendo que pagá-los na íntegra durante a temporada. Considerando que dez destes atletas acabaram de ser contratados como agentes livres (numa reformulação daquelas), é bem improvável que aconteça. De modo que o brasileiro teria de se contentar em jogar pela filial da D-League, o Texas Legends, que tem Donnie Nelson como um dos proprietários e Eduardo Nájera como técnico, além de Del Harris, Spud Webb e a pioneira Nancy Lieberman na diretoria.

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Os arquivos online também renderam uma anedota de Fabrício em seleções brasileiras de base. Sul-Americano Sub-17 de 2007, em Guanare, na Venezuela. Fabrício foi convocado, ao lado de Augusto Lima, Vitor Benite, Rafael Luz. Todos nas listas recentes de Rubén Magnano. Menos o mineiro, que não foi chamado nem mesmo na pré-lista do argentino para a Copa América. O técnico era José Henrique Saviani, com o ex-armador Cadum como assistente e Lula Ferreira como supervisor. Neste torneio, o pivô foi o que recebeu menos minutos pela seleção, que terminou numa amarga quarta posição. Perderam para Argentina e Uruguai nos mata-matas.


Ranking põe 2 pivôs brasileiros entre os 20 piores jogadores da NBA, mas qual deles deve se preocupar?
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Giancarlo Giampietro

Fab Melo, o Fabrício

Fabrício não pôde mostrar muita coisa como novato, e seu status despencou em um ano

O melhor da NBA já sabemos quem é. Começa com K, quer dizer, com L. Com “L”, tá, pra ficar claro? Todos sabemos.

E que tal brincar de falar sobre os 5oo (5 x 100) melhores jogadores da NBA? Foi o que o ESPN.com decidiu fazer mais uma vez, a partir desta semana, e o início desta insanidade afetou diretamente os pivôs Fabrício Melo e Vitor Faverani, listados supostamente entre os piores jogadores da liga. O impacto deste ranking para os dois deveria ser nulo – para um deles, contudo, acaba sendo muito preocupante.

Antes de comentar a parte que os atinge, vale gastar algumas linhas sobre o projeto em si.

Empilhar 500 jogadores é algo tão maluco, mas tão maluco – e absurdo, e apelativo, e… Interessante? –, que, se quisessem adotar uma prática sadomasoquista, poderiam divulgar o resultado com um nome por dia, e assim passaríamos quase um ano e meio acompanhando o projeto.

Mas o site americano não precisa disso. O que eles vão fazer é pegar as cinco centenas de jogadores que seu imenso estafe ranqueou e dividi-las em blocos, de modo que a coisa dure apenas umas duas semanas, se tanto. A ideia, claro, é que acabe quando os training camps estiverem prestes a começar. Matam, assim, dois coelhos, dois pobres coelhos de uma vez: não só cobrem um período no qual, para eles, a notícia mais interessante pode ser a próxima briga que um Goran Dragic vá descolar na Europa, como arrumam um jeito de levar sua polêmica para dentro da cobertura geral da liga. Kobe e Dwyane Wade já reclamaram, por exemplo. Kobe, que começa com K, assim como Kevin, de Durant.

Faverani para el mate

Faverani nem jogou na NBA ainda e já se vê metido em lista de polêmicas, ou quase-polêmicas

Aí começa aquela bagunça que só, agitando bares, escritórios, condomínios, sem contar a paróquia. Isso gera tráfego, audiência, e pode até para o jornalista brasileiro oportunista: “Cara, você não vai acreditar, mas o idiota do Vinte Um chegou a pensar em colocar o Kobe ou o Durant na frente do LeBron como o bambambam da NBA? Tem noção?!”, reclama um. E do outro lado do Skype o outro responde: “Afe, vôclicá, caramótoupeira”, e pronto. Talvez percam alguns segundos digitando algum comentário bombástico. Habemus cliques e cliques, e assunto pra conversa.

Mas não é de Kobes e LeBrons que vamos falar, não. Do ponto de vista tupinambá, o ranking mal começou e já atingiu dois brasileiros: Fabrício, ex-Boston Celtics, e Victor Faverani, um novíssimo Boston Celtic.

Para Vitor, que ficou na posição 481 da lista, isso não representa nada. Coisa alguma. Bulhufas.

Como você vai ranquear um jogador que nunca pisou numa quadra de NBA? E, por mais amplo que seja o painel de eleitores, com mais de 200, é de se duvidar que 5% (dez, no caso) tenham gastado mais do que cinco minutos do pivô em ação pelo Valencia. Mas nem no YouTube. Então… Como exatamente eles vão dar para o paulista uma nota  maior ou menor do que a de DeSagana Diop, o veterano pivô que está logo acima na tabela, como o número 480? Diop, que somou 0,7 pontos e 1,9 rebote em 10,3 minutos pelo Charlotte Bobcats no campeonato passado – e que em sua carreira nunca teve média de mais de 20 minutos. Não faz sentido.

Ainda assim, Diop, selecionado em 2001 pelo Cleveland Cavaliers num histórico Draft – o mesmo de Tyson Chandler, Eddy Curry e Kwame Brown –, conseguiu dar um jeito de permanecer na liga até hoje, acumulando 13 temporadas de experiência. Nada como os 2,13 m de altura. A mesma de Fabrício Melo, que ficou na… Tipo… Em… 499º, também conhecido como penúltimo lugar. Atrás dele? Apenas Royce White. O que, aliás, parece até piada – e não se enganem, os jogadores reparam, sim, nesse tipo de “produto editorial”.

White é um ala-pivô cujas habilidades intrigantes nunca puderam ser testadas pelo Houston Rockets em seu ano de novato, tornando-se muito mais famoso por sua luta/campanha a favor do reconhecimento de doenças mentais como algo sério e relevante e que deveria ser enquadrado na política da NBA da mesma forma que lesões em articulações etc.  Não é nenhum absurdo, mas o modo como ele conduziu a campanha foi desastroso, para dizer o mínimo, virando chacota entre dirigentes e torcedores e uma anedota durante a boa campanha do Rockets. Acabou trocado para o Philadelphia 76ers. Sixers, que na verdade estava mais interessado em obter os direitos sobre o pivô turco Furkan Aldemir como contrapartida.

Fabríco Melo no ataque, ou quase

Fabrício, marcado por Steve Novak. Diz muito?

Pois é. Esse figura recebeu uma nota 1,50, contra 1,55 de Melo. Para constar: a pontuação ia de 0 a 10, com o intuito de avaliar a expectativa em torno do “nível geral de cada jogador para a próxima temporada da NBA”. Fabrício caiu de 389 para penúltimo. E aqui o ranking se torna relevante porque confirma uma percepção negativa em torno do jovem brasileiro ao redor da liga. Seu status não poderia estar mais baixo no momento.

De certa forma, poucos viram o brasileiro jogar no último ano também. Vestido de Celtic, ele ficou em quadra por apenas 36 minutos em toda a campanha 2012-2013. Não dá nem uma partida inteira de Fiba. Como avaliá-lo, então, de uma forma justa? Muito difícil. Daí que o fato de ele ter sido dispensado pelo Celtics não pegou nada bem e o empurrou ladeira abaixo. Afinal, era o clube que estaria mais interessado em seu desenvolvimento e, principalmente, mais informado a seu respeito, não? E, se Danny Ainge desistiu tão rápido, que tipo de mensagem isso passa para seus concorrentes e para quem cobre o assunto?

E há mais ingredientes: depois de apenas uma campanha, o pivô foi trocado pelo Boston Celtics para o Memphis Grizzlies. De imediato, a franquia gerida por fanáticos por estatísticas decidiu por dispensá-lo – isto é, estavam mais interessados nas possibilidades estratégicas que a negociação proporcionava, do que em adotá-lo como um novo projeto. E o que aconteceu depois? Nenhuma franquia sequer se candidatou a recolhê-lo durante o período de waiver. Nenhuma, nem mesmo aquelas abaixo do teto salarial que ainda precisam preencher seu elenco. Mesmo sendo ele ainda jovem, com apenas um ano na liga e um gigante que não se encontra todo dia por aí. Até que, por fim, o Dallas Mavericks decidiu convidá-lo para seu training camp, mas sem nenhuma obrigação contratual.

Vamos discutir mais sobre o pivô e sua curiosa trajetória no basquete norte-americano em breve, reunindo material desde seus tempos como um badalado colegial na Flórida. Na cabeça do mineiro de Juiz de Fora, porém, estes tempos já não podem contar para mais nada. É hora de engolir a seco essa cotação baixíssima, encarar o duro e reformular sua reputação para ontem. Não se trata mais de brincadeira.

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Scott Machado, ainda sem clube, mas flertando com um retorno ao time do Warriors na D-League, ficou com a 463ª posição, grudado em… Lamar Odom. Os dois tiveram a mesma nota: 2,05, assim como, ironicamente, Ian Clark, ala-armador que roubou tempo de quadra do brasileiro nova-iorquino durante a liga de verão de Las Vegas e acabou descolando um contrato garantido do Utah Jazz. Um arremessador excepcional.

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A ideia era publicar na quinta-feira um artigo sobre a influência dos jogadores norte-americanos no EuroBasket, mas um problema técnico me fez perder… Hã… Basicamente todos os números que levantei dos “gringos”. Daqueles momentos em que você perde a fé na tecnologia. Vamos ver se dá ânimo de fazer de novo.


Caras da Copa América: Thompson e Nicholson, e as diferentes formas de se formar um garrafão canadense
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Giancarlo Giampietro

A NBA está escancarada para o talento de estrangeiros há tempos. Para alcançar a liga norte-americana, há diversas maneiras. Pergunte aos brasileiros. Temos um Nenê começando a encestar com uma tabela fincada na garupa de um jipe. Temos Leandrinho com treinamentos praticamente militares quando era um infante, um adolescente. Que tal Tiago Splitter saindo de casa aos 15 anos para morar no País Basco? E por aí vamos, com infinitas rotas até conhecer o eldorado.

Para os canadenses, as coisas têm sido um pouco mais fáceis – na verdade, estamos em um ponto que já o fluxo das revelações do país mais ao norte da América (descontado o Alaska) já nem pode ser considerado mais uma tendência, mas, sim, uma realidade irreversível. Agora, entre eles também há diferentes maneiras de se encaminhar uma carreira profissional.

É só comparar as diferentes trajetórias de Andrew Nicholson e Tristam Thompson, duas das principais apostas de uma promissora seleção, dos poucos jogadores da grande liga americana a se apresentar para a disputa da Copa América e que vão desafiar o combalido garrafão brasileiro neste domingo, terceiro dia de disputa do torneio continental.

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Tristan Thompson no ataque

Thompson, badalado desde adolescente, destinado a jogar na NBA

Tristan Thompson, segundo tudo indica, foi sempre um destaque atlético, desde os primeiros anos de estudante em Brampton, uma das cidades englobadas pela grande Toronto. Uma significativa influência de carga genética ajuda a contar esta história. Seu irmão mais jovem, Dishawn (demais, né?), é um ala-armador já cobiçado pelas grandes universidades americanas, com previsão para se formar no colegial no ano que vem. Um primo foi destaque na NCAA e na liga de futebol canadense, como tackle defensivo. Embora os pais, de origem jamaicana, não tenham feito dinheiro com o esporte, estiveram sempre envolvidos com esse tipo de prática – o pai jogava futebol, a mãe era uma corredora – até que a necessidade de fazer a vida os levou a deixar a ilha caribenha rumo a Toronto.

Enfim, Tristan nasceu na metrópole canadense, que, vejam só, acabou ficando pequena para seus planos. Com 16 anos, deixou seu país para jogar no circuito colegial dos Estados Unidos. A primeira parada foi na Saint Benedict’s Preparatory School, ao lado do armador Myck Kabongo. Sua cotação explodiu nessa escola, entrando em seu ano de junior (o penúltimo neste nível) como o jogador mais bem ranqueado em todo o país em sua classe. Foi disputado também por muitas das principais universidades, escolhendo jogar na de Texas.

A despeito do sucesso em quadra, deixou St Benedict’s devido aos constantes conflitos com o treinador Dan Hurley. Depois de um bate-boca durante uma partida, foi afastado do time e anunciou que sairia do programa de vez. Um mero acidente de percurso, e  não demorou, claro, para que seu telefone disparasse a tocar, até que mudou-se para a prep school de Findlay. Lá, faria dupla com o armador Cory Joseh,  hoje armador titular da seleção canadense e reserva de Tony Parker no Spurs e com quem fez parceria em Texas.

Na universidade que recentemente revelou Kevin Durant e LaMarcus Aldridge, embora não tenha propriamente arrebentado, ficou apenas um ano e só – o chamado “one and done”, cada vez mais frequente desde que a NBA aumentou suas restrições para a admissão de calouros.  Aos 20, realizou aquele que parecia seu destino, selecionado no Draft de 2011 na quarta colocação pelo Cleveland Cavaliers.

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Andrew Nicholson, a finta e o contato

Andrew Nicholson, um (nerd) físico a serviço do basquete canadense

Até os 16 anos, Andrew Nicholson gostava, mesmo, era de jogar beisebol, talvez escondido dos pais. Mas ele acabou crescendo demais, correndo o risco de ficar um pouco ridículo com a indumentária deste esporte. Começou, então, a praticar basquete para valer no colegial Father Michael Goetz, em Mississauga, também nos arredores de  Toronto.

Quer dizer: “para valer” é relativo. Não está muito claro se o esporte era realmente algo planejado como algo sério para o seu futuro. Pelo menos é o que diz o técnico Mark Schmidt, da universidade de St. Bonaventure, que recrutou o praticamente desconhecido pivô depois de vê-lo em ação após uma viagem de cerca de 260 km da cidade de Olean, no estado de Nova York, para vê-lo em ação em Mississauga.

“Eu sentei com ele e seus pais depois de seu ano de calouro (já na universidade) e disse que ele poderia jogar na NBA. Eles não tinham noção disso. Para eles, era apenas livros, livros e livros. Era o modo como os pais dele encaravam as coisas, e é isso que ele faz. A ideia de uma carreira de basquete realmente nunca ocorreu para nenhum deles, então tive de explicar que havia uma chance legítima para isso”, afirmou o treinador, quando seu pupilo se preparava para o terceiro ano de NCAA, com 20 anos. “Ele calçava mais de 50, tinha mãos enormes do tamanho de uma mesa e não tinha ideia disso.”

A essa altura, os gerentes gerais já ligavam direto para Schmidt, procurando informações sobre aquele emergente jogador, de quem poucos haviam tomado nota até então, algo raro considerando a vasta rede de informações que os clubes da liga conseguem reunir. Embora já pudesse tentar o Draft de 2011, Nicholson optou por cursar o ano de senior, de modo que poderia se completar seu curso de física. A preferência, na verdade, era fazer química, mas ele teve dificuldade para conciliar os horários de estudante-atleta com classes e aulas extra no laboratório. “Ainda assim, foi desafiador”, conta Nicholson. “Mas tive a capacidade para isso. Sou muito, muito, muito bom em dividir meu tempo. Controlo até os milisegundos.”

Opa, então tá. Temos aí um raro caso de jogador profissional que optou por levar os estudos até o fim, sem medo de afetar sua outra carreira (muito mais lucrativa). Em tempos em que vemos Fabrício Melo momentaneamente desempregado, é de se pensar…

Diplomado e ainda badalado pelos scouts, depois de fazer treinos privados por 12 times diferentes em 14 dias, ele foi escolhido pelo Orlando Magic no Draft de 2012, aos 22, na posição 19.

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Um ano e nove meses mais velho que Thompson, Nicholson é um jogador de movimentos refinados no ataque. Consegue girar bem para ambos os lados de costas para a cesta e também ataca muito bem quando de frente para o aro, com um bom chute de média para longa distância, num repertório que já despertou comparações com David West. Para ele chegar a esse nível, porém, falta algo fundamental: a coragem e disposição do sempre subestimado pivô do Indiana Pacers em aceitar o contato físico e brigar pela bola.

Thompson, por outro lado, é pura energia. Embora seu físico, de cara, não passe essa impressão – não estamos falando do jogador mais musculoso –, sua capacidade atlética é acima da média, tem boa envergadura e, com esse pacote todo, é um baita reboteiro. Tecnicamente, contudo, ainda está em progressão. Consegue a maior parte de seus pontos quando servido próximo da cesta ou em rebarbas ofensivas.

(Até por isso, aliás, decidiu revolucionar seu jogo durante as férias: arremessava com a mão esquerda até o final da temporada passada, e agora resolveu que a mão direita tem a melhor munheca. Para os que mal conseguem usar a perna esquerda (ou direita) para subir no busão, morram de inveja: o ambidestro TT é daqueles que assina cheque com a direita, escova os dentes com a esquerda e pode bater lances livres como bem entender. Considerando que 58,6% de suas primeiras  483 tentativas na liga, decidiu tentar com a outra.)

Isto é: numa ótima notícia para o técnico Jay Triano, aumentando e muito o poder de fogo e versatilidade de sua seleção, em quadra eles também não poderiam ser mais diferentes.

Caras da Copa América:


Faverani rumo a Boston: “Tenho de chegar antes e ganhar meu espaço”
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Giancarlo Giampietro

Faverani, ele, mesmo

Faverani, rosto ainda não muito conhecido para o público brasileiro

Sentado ali na modesta arquibancada do ginásio Antônio Prado Júnior, do clube Paulistano, estava o mais novo integrante da legião brasileira na NBA, nas me parecia. Acompanhado do irmão mais novo e de seus agentes, Vitor Faverani obviamente chamava a atenção pelo tamanho, mas conseguia ver o jogo entre Brasil e México numa boa, sem ser importunado. Autógrafo, pedido de foto, nada. Quer dizer, tirando o fato de um jornalista se intrometer nessa história para pedir uma entrevista, mais um bate-papo e conhecer o pivô que, neste sábado, está chegando ou já chegou a Boston para se apresentar ao Celtics.

Natural esse anonimato. Tal como Tiago Splitter, Vitor saiu do Brasil muito, mas muuuito cedo. Passou nove temporadas na Espanha. Neste período, defendeu seis clubes diferentes. Entre idas e vindas, teve contato reduzido – para não dizer zero – com a seleção brasileira. E só defendendo a seleção é que um jogador de basquete consegue visibilidade no Brasil, segundo pensa um certo “Mão Santa”.

Daí que, impossibilitado de se apresentar a Rubén Magnano, devido ao recente acordo fechado com a franquia mais vitoriosa da NBA, só lhe cabia ali, mesmo, primeiro o papel de torcedor e, depois, o de diplomata. Era sua intenção falar em privado, cara a cara com o técnico argentino para expor o que se passava. Antes disso, com forte entonação, acentuação espanhola, mas em português descontraído, a conversa deste gaúcho primeiro radicado no interior paulista e, depois, na costa Mediterrânea deve ter sido um pouco mais fácil:

VinteUm: Já tem viagem marcada para Boston?
Faverani: Estou indo para Boston no sabadão, mas antes vim aqui apoiar um pouco a seleção. Chego lá com dois meses para começar a liga e vou poder fazer um trabalho individual,  com preparador físico e com os treinadores. Conhecer os companheiros novos. Sobre o jogo, o time não tem muito o que falar agora. É uma mudança definitiva agora. Tenho contrato de três anos e agora a primeira coisa é tocar essa pré-temporada, tentar ganhar meu lugarzinho lá.

Faverani

Faverani, depois de altos e baixos, um nome estabelecido na Espanha

Como você lidou com essa questão de NBA em sua carreira? Muitos a cobiçam, mas você vem de muitos anos na Espanha, os últimos deles firmes também numa liga de ponta, a ACB…
O sonho da NBA sempre está aí. Desde que eu peguei uma bola na mão, você pensa nisso. Mas o primeiro que tem de fazer é assinar um contrato, né? (Nota: seu primeiro vínculo profissional foi assinado em 2004, com o Unicaja Málaga, dez anos atrás! Veja mais abaixo.). E depois que um jogador vai pensar nisso. Bem, eles me chamaram para treinar em Boston. Fui sem nenhuma expectativa de poder ficar. Via esse sonho muito longe. Mas graças a Deus a Liga LEB e a Liga ACB – joguei na Europa desde pequeninho – me deixaram preparado. Consegui fazer bons treinos e ficar.

É curioso isso e algo que muitas vezes pode passar batido. Com 25 anos, você já passou por muita coisa na sua vida, seja pessoalmente ou como jogador. Agora dá um passo desses. Como pensa que será a transição?
Não é fácil para nenhum jogador. Se você for perguntar, todos têm seus altos e baixos como jogador. Há também as lesões, mas graças a Deus não tive nada grave até agora. A transição imagino que seja a mesma de outras. É a melhor liga do mundo, os melhores estão ali física e taticamente. O talento é puro ali. Mas minha adaptação será trabalho, trabalho e trabalho, e jogar basquete. Não tem outra: é botar a bola na cesta, se me deixarem jogar ali dentro, e tomara que seja bastante. O que você tem de fazer é trabalhar e ver se as coisas saem bem.

O quanto você consegue verde NBA jogando na Espanha?
Alguns jogos a gente consegue acompanhar, mas é muito difícil, mesmo, porque alguns vão terminar 4h da manhã e, no dia seguinte, você começa a treinar às 10h. Aí não tem quem aguente. É legal ver NBA, ver tudo, mas a gente tem de dormir, né? Para ajudar o seu time. Então, para falar do Boston e do jogo, é melhor esperar os treinos.

Já entrou em contato com o Fabrício Melo?
Tive o prazer de me encontrar com ele no ginásio. Ele estava lá. Durante os testes, ele e outros jogadores estavam ali, mas não podiam treinar comigo. Peguei o telefone dele, que até disse que estava com a mãe em casa, fazendo feijão.
(Nota: três dias depois, o pivô brasileiro seria trocado para o Memphis Grizzlies. O que não impede que seu compatriota possa ao menos fazer uma ligação, para pegar dicas da cidade. De repente a mesma casa?)

Bom, e seleção brasileira? Como fica? Já conversou com o Magnano sobre sua dispensa?
Vim hoje apoiar e poder falar com ele um pouquinho. Falei com ele em Valência, disse que tinha muita ilusão de vir para a seleção. Mas o Boston colocou algumas coisas aí. Eles me convocaram agora, e o importante agora mesmo é olhar para a NBA, sendo o primeiro ano, tentando conseguir meu espaço ali dentro. É importante que eu não chegue depois de ninguém, fazendo as coisas certinhas. Então vim explicar para ele. Com certeza, se eu ficasse em Valência, estaria com a seleção – claro, se ele quisesse. Mas no primeiro ano tenho de mostrar serviço desde o começo, ganhar meu espacinho. Ele é um treinador, sabe do que falo e vai me entender. Para muita gente a prioridade agora é realmente poder estar com o seu clube,  desde o começo.

Mas você tem alguma expectativa, intenção de jogar pela seleção no futuro?
Com certeza. Tou ali sentado, morrendo de vontade de vestira camisa da seleção brasileira, mas é o que te falei. A primeira coisa agora é Boston Celtics na minha cabeça, mesmo. Para o futuro, não descarto. Claro, se o Magnano quiser. Sei que ele tem um grupo espetacular, converso sempre com eles (nota: Rafael Luz, Hettsheimeir, Paulão, Raulzinho, Lucas Bebê, Huertas… Todos conhecidos e companheiros de basquete espanhol), e quero um dia jogar de verde e amarelo.

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Não são todos que estão familiarizados com a trajetória do pivô. Então vai um breve resumo: ele deixou as categorias de base do Araraquara,  em 2004, com 16 anos e 2,07 m de altura, para fazer testes pelo Unicaja Málaga. Não demorou nem dez minutos para que os dirigentes deste tradicional clube espanhol quisessem contratá-lo. De modo que, ainda adolescente, firmava seu primeiro contrato de trabalho e poderia começar a ajudar a família – mãe e irmãos – financeiramente. Três anos antes, detalhe: era obrigado a disputar as primeiras peladas com um tênis 44 abrigando um pé 46, porque era o que tinha.

Fazer essa mudança já seria algo bastante drástico para alguém da sua idade. Mas, pensem, era apenas o começo: uma vez na Espanha, os desafios pela frente ainda eram enormes não só no dia-a-dia (longe de casa pela primeira vez, tendo de se virar em um novo país, com novo idioma), como em quadra, cercado de grandes expectativas em ligas muito competitivas. O primeiro ano serviu para evidenciar seu potencial. Com 17 anos, já dominava torneios sub-20, jogando contra gente significativamente mais velha. Passou a treinar com Zan Tabak pessoalmente, a jogar na LEB-2 (terceira divisão) e a fazer fama rápida entre os olheiros europeus. Aos 18, foi cedido por empréstimo para o Zaragoza, ocupando um valorizado posto de extracomunitário na LEB-1 (segunda divisão), na qual arrancou com tudo também, sendo comparado por Sergio Scariolo (então treinador do Málaga) a um jovem Luis Scola. “Tomara que tenha a mesma progressão”, disse. Aí que as coisas diferiram.

Tempos difíceis para Faverani

De branco e verde, no Unicaja, Faverani não conseguiu fazer muita coisa. Espera que em Boston a coisa seja diferente

No decorrer da temporada, passou a ser questionado pelo comportamento fora de quadra, pela falta de disciplina e dedicação. “Que se sinta imprescindível não é bom”, “Tenho a sensação de que precisa de estímulos importantes para subir de nível” e mais frases nessa linha começaram a cercar seu desenvolvimento. Em março de 2007, o Zaragoza optou pela rescisão de seu contrato. Voltou ao Unicaja, fez a estreia na ACB, mas não podia ser aproveitado num clube deste porte ainda. Na próxima temporada, então, voltou a ser emprestado, agora para o Gipuzkoa BC (hoje clube de Raulzinho). Trabalhando com Pablo Laso, atual comandante do Real Madrid, teve médias de apenas 12 minutos por partida, mas ajudou o clube a conseguir o acesso à elite. Quando regressou a Málaga, voltou a dominar a competição sub-20. Até que decidiram segurá-lo e incorporá-lo de vez ao time principal para a temporada 2008-2009.

“Faverani é o que tem mais potencial de todos que já vi na Europa. Realmente, ele me impressionou”, foi o que disse o pivô americano Marcus Haislip, ex-jogador do Milwaukee Bucks que teve uma sólida carreira na Espanha após fracassar na NBA. Estava o brasileiro pronto para dar o grande salto, então? Que nada: mal foi aproveitado, passando muito mais tempo com a filial Clínicas Rincón Axarquía do que no time de cima. Difamado, passou batido no seu último ano de Draft da NBA e encerrou seu vínculo com o clube de Málaga.

Parece que era uma despedida necessária. Em 2009-2010, jogou ao lado de Paulão pelo Murcia, pelo qual foi campeão da segunda divisão, com papel de protagonista – e, mais importante, regular em quadra e boa influência no vestiário –, liderando uma campanha inédita de 30 vitórias e quatro derrotas. Até receber uma nova chance em um grande clube, dessa vez o Valencia. Tinha dúvidas se era o caso de deixar o lugar em que foi tão bem sucedido, mas, por fim, topou nova mudança. Na primeira temporada, arrebentou. Na segunda, teve alguns problemas físicos que limitaram seu rendimento. Mas aí já não havia mais dúvida: Faverani havia, enfim, vencido, realizado.

Agora, aos 25, deixa a Espanha, sua segunda terra, para trás.

 


Fabrício Melo vive semana decisiva para encaminhar sua carreira pelo Boston Celtics
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Giancarlo Giampietro

A história não mudou muito, não. Só um pouco.

Fabrício Melo continua sendo encarado pela diretoria do Boston Celtics como um “projeto”. A diferença: talvez o clube esteja mais disposto a  utilizar o brasileiro. O quanto? Muito vai depender de sua atuação durante a liga de verão de Orlando, que começou neste domingo. “Nós conversamos a respeito e ele sabe é uma semana muito importante”, afirmou o técnico Jay Larranaga, que era cotado para assumir a equipe principal até que Danny Ainge surpreendeu a NBA ao contratar o jovem Brad Stevens para o lugar de Doc Rivers.

Rivers que, segundo o Boston Herald, não apostava muito no pivô e, em off, deixava isso claro para os jornalistas. Com uma comissão sendo constituída agora, Fabrício fica mais animado. “Definitivamente vejo isso como um novo começo para mim. Estou pronto para encarar e me sinto muito diferente comparando com o ano passado. Não sabia o que esperar. Agora sei o que acontece. Estou muito mais confortável”, disse Melo

Fabrício e o meio-gancho

Fabrício, em ação contra o Orlando Magic: bom início de semana decisiva

A equipe de verão do Celtics está sob o encargo de Larranaga, que teve coisas positivas para falar sobre o mineiro de Poços de Caldas antes do início do torneio na Flórida. “Ele tem se preparado realmente durante o último mês em Boston, trabalhando duro, então espero que ele tenha uma ótima liga de verão”, disse. “Acho que Fab tem feito um ótimo trabalho desde o momento em que começamos a treinar.”

Legal, e tal. O que pega é que o treinador ainda se sente impelido a fazer uma resalva: “Ele ainda não é um produto finalizado”. É uma repetição natural do discurso de Danny Ainge no ano passado. Sabiam que haviam contratado alguém que levaria tempo para contribuir. Por isso, a liga de verão em Orlando é tão importante: o clube precisa saber o quanto progrediu e o quanto falta para poder ser um atleta de NBA para valer.

Neste domingo, pela estreia da liga de verão contra o Magic,  pudemos ver um pouco de tudo do discurso de Larranaga – a NBA TV transmite tudo online durante a semana e, depois, nos brindará com os jogos de Las Vegas. No primeiro tempo, o brasileiro, ainda muito cru ofensivamente, foi ignorado por seus companheiros em muitos ataques, sem mal poder tocar na bola. O canadense Kelly Olynyk, o mais novo draftado da equipe, foi quem centralizou as ações, algo esperado. O jogador de Gonzaga é bastante talentoso e mais desenvolvido que o companheiro nesse sentido. Embora um ano mais jovem, tem muito mais rodagem e bagagem.

No segundo tempo, outro jogo: Fabrício se apresentou de modo mais assertivo em quadra e, mesmo sem o condicionamento físico ideal, batalhou no garrafão com dois jogadores competentes em Kyle O’Quinn e Andrew Nicholson e teve sucesso. E foi recompensado do outro lado, marcando todos os seus pontos após o intervalo. Em uma ocasião, converteu até mesmo um tiro de média distância seguido de falta, e os reservas do Celtics se divertiram horrores no banco.

É claro que ninguém em Boston imagina ou sonha que Fabrício vá virar um Kevin McHale. Ainge o selecionou para proteger o aro, dominar os rebotes, fazer bons corta-luzes e, se possível, contribuir de uma forma ou de outra com pontos debaixo do aro. “Ele tem um potencial tremendo”, diz o técnico. “Ele teve alguns grandes jogos nesta temporada da D-League. Fez algumas coisas que nenhum jogador havia feito antes, com seus triple-doubles (de pontos, rebotes e tocos). Ele teve um ótimo impacto defensivo, então o que nós apenas temos de fazer é levá-lo a traduzir isso para a NBA, e de modo consistente.”

Kelly Olynk, um talento

Olynyk, aposta de Ainge, muito mais desenvolvido que Fabrício

Antes de avaliarmos 0s números de Fabrício neste primeiro jogo, uma nota obrigatória: as estatísticas das ligas de verão são constantemente questionadas por scouts e jornalistas presentes no ginásio. E, de certo modo, elas pouco importam também. Treinadores e dirigentes estão muito mais interessados em ver essas peladas para projetar o que suas revelações podem fazer nos jogos que realmente importam, do que em acumular vitórias em julho.

De todo modo, lá vão: foram nove pontos, oito rebotes e um toco (em Victor Oladipo, ala superatlético selecionado em segundo no Draft deste ano) para o brasileiro, que jogou por 28 minutos. Mas, dentre seus dados, o mais importante foi seu saldo de cestas: +6, o maior de todos os dez atletas do Celtics que foram para quadra. Além dele, apenas o ala-armador Courtney Fells teve saldo positivo na derrota por 95 a 88 diante de um adversário que escalou muitas figuras de seu time principal. Outra marca importante: cometeu apenas três faltas, sem deixar de ser combativo, problema que foi uma constante nas últimas temporadas.

Com diz Larranaga, a despeito de a inexperiência de Fabrício, o desafio é fazer isso de modo consistente durante toda a semana, decisiva. Afinal, um ambiente de extrema competição como o da NBA, não há tanta paciência assim. O pivô se mostra confiante. “Acho que estou muito perto”, disse. “Acho que agora vou jogar. Isso é o que vai me fazer melhorar: apenas jogar basquete. É do que preciso. Agora quero ficar confortável e mostrar o que posso fazer.”

 

*  *  *

As opiniões sobre Fabrício depois da estreia:

– Brad Stevens (quem mais importa, no caso): “Não tenho condições de comparar o ano passado, nem mesmo duas semanas atrás com o que vi hoje, mas penso que as coisas que me impressionaram sobre ele foi o modo como ele tentou se comunicar defensivamente. Acho que ele foi bastante ativo, muito engajado. E ele obviamente fez alguns ganchos bem em frente de onde estávamos, mostrando muito toque. Ele é um cara grande que pode jogar no garrafão e ao redor dele. Sabe fazer corta-luzes. Defensivamente, ele parece alguém que tem bons instintos e sabe o que está acontecendo. As primeiras impressões foram boas”.

Jay Larranaga: “Acho que Fab fez um monte de coisas legais. Ele nos dá uma presença interior. Ele fez alguns ganchos legais, foi para o rebote, deu um belo toco. Ele hoje está como todos nós: um trabalho em progresso, e acho que ele deu bons passos hoje”.

Jared Sullinger (pivô que também parte para o segundo ano em Boston, muito mais polido também e que está afastado devido a uma cirurgia nas costas, mas acompanha o time feito um assistente técnico): “Comparando com o ponto em que estava no ano passado, ele é um jogador completamente diferente”.

*  *  *

Uma presença interessante no elenco de verão de Boston: o armador Jayson Granger, que é… Uruguaio (filho de Jeff Granger, ala-pivô americano naturalizado que defendeu nossos vizinhos do Sul por anos e anos). Velho conhecido daqueles que seguem Lucas Bebê na Liga ACB, é mais um dos projetos sul-americanos do Estudiantes. Com 23 anos, 1,88 m de altura, ele vem de uma bela temporada na Espanha e decidiu se testar contra atletas de primeiro nível nos EUA. Neste domingo, acertou apenas um de seis arremessos, mas somou cinco pontos e quatro assistências, ganhando mais tempo de quadra depois da lesão de Nolan Smith, azarado jogador ex-Portland. O jovem Granger, porém, costuma ignorar a seleção uruguaia.


Após dura eliminação, Boston Celtics encara incertezas em torno da dupla Pierce-Garnett
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Giancarlo Giampietro

Adeus?

Fabrício Melo pode se despedir de Pierce e Garnett

Será que dessa vez o fim chegou, mesmo?

Eliminado pela primeira vez na fase de abertura dos playoffs desde que uniu Paul Pierce e Kevin Garnett em seu plantel, o Boston Celtics vai enfrentar algumas duas semanas de ponderação, ao mesmo tempo em que junta seus pedacinhos fragmentados pela marretada que tomaram do New York Knicks.

Juntos, sob a orientação de Doc Rivers, os dois veteranos foram campeões em 2008, vice em 2010 e uma vez finalistas do Leste em 2012.

Nesta temporada, depois da contratação de reforços que pareciam tão promissores em outubro, o clube penou com muitas lesões – incluindo a crucial e lamentável perda de Rajon Rondo – e a estafa de seus dois principais jogadores e nunca pôde se inserir para valer na lista de candidatos ao título.

Saibam que, em Boston, por mais orgulhosos que os torcedores fiquem de seus atletas, a expectativa é sempre de brigar pela ponta, mesmo, ainda mais depois da sequência incrível que viveram nas últimas temporadas.

E teria um time centrado nos dois astros, que já disputaram 100 (!!!) partidas de playoffs lado a lado, condições de voltar a reinar na NBA? Sem ajuda, muuuuita ajuda, depois do que aconteceu neste campeonato, é bem provável que a resposta seja “não”.

Exigir de Garnett e Pierce que lideram a equipe em uma temporada regular brutal e que cheguem em forma para digladiar nos mata-matas, quando eles estão em suas, respectivamente, 18ª e 15ª temporadas, não parece o melhor caminho.

Pierce x Knicks

Celtic toda a vida, Pierce foi exigido demais na série contra o Knicks

Estatisticamente, eles ainda dão conta do recado. Especialmente KG. Se você pegar seus números em uma projeção por 36 minutos, suas médias de 2012-2013 seriam ainda consistentes com o que apresentou em 2008-2009, por exemplo. Seu impacto na defesa ainda é imenso. Mas, fisicamente, já não é mais possível acompanhar o ritmo – desde 2007 seu tempo de quadra é reduzido ano a ano. Nesta temporada, pela primeira vez ficou abaixo dos 30 minutos por partida desde sua campanha de novato, e mesmo isso não foi suficiente para evitar diversas contusões e lesões, que o limitaram a 68 partidas no ano.

Pierce, por seu lado, a despeito de ter acumulado a menor média de minutos de sua carreira (33,4), teve sua melhor temporada estatística desde 2009. Ele perdeu apenas cinco jogos também. Quer dizer, ainda está inserido entre os melhores de sua posição, ainda mais considerando sua habilidade para criar no mano-a-mano. Nos playoffs, porém, mesmo enfrentando um time que não é conhecido pelo poderio defensivo, sem ter um atleta decentemente equipado para combatê-lo, o experiente ala teve aproveitamento de apenas 36,8% nos chutes de quadra. Além disso, cometeu absurdos 5,3 desperdícios de posse de bola por jogo. Quer dizer: o Celtics pediu muito de seu cestinha.

Pouco o que dizer
Nesta sexta, em Boston, depois do revés por 88 a 80, um balde de água fria para um elenco extremamente orgulhoso e que havia ganhado confiança pelos dois triunfos seguidos, eles preferiram não falar.

A dor ainda era muito grande, as emoções “muito, muito fortes”, como definiu Garnett, para que falassem qualquer coisa prevendo o futuro. Vão passar dias e dias até que a dupla e o técnico Rivers possam se reunir e discutir o que ainda pode ser feito, o que será de suas trajetórias

Esse vínculo emocional representa o maior dilema e desafio do cartola Danny Ainge. Novamente.

Há pelo menos três anos o dirigente precisa lidar com a oposição de dois possíveis planejamentos: manter a base ou implodir tudo, reconstruindo o grupo.

Em 2012, Ainge foi criativo e criou uma terceira via. Renovou com Garnett, que era um agente livre, e Bass, segurou Pierce, substituiu o desertor Ray Allen por Jason Terry e investiu na chegada de peças mais jovens, como os alas Jeff Green e Courtney Lee e o novato Jared Sullinger (sem contar Fabrício Melo). A equipe se apresentou para a pré-temporada com muito otimismo.

Acabou que Sullinger, quando começava a engrenar, foi afastado por problemas nas costas. Depois da dura perda de Rondo, Leandrinho também foi abatido. Terry e Lee foram duas grandes decepções. Green ainda é muito inconstante. Sobrou, então, a carga pesada para Pierce e Garnett levarem, ao mesmo tempo em que gente como Terrence Williams, Jordan Crawford, Shavlik Randolph e DJ White chegava de todos os lugares, no meio do campeonato, sem entrosamento algum ou experiência para contribuir positivamente.

O que, diabos, fazer?
Com essa alternativa esgotada, cá está novamente a questão do que fazer com os astros. “Bem, você não vai encontrar Paul Pierces e Kevin Garnetts no mercado. Esses caras não existem mais – exceto pelos caras que vão provavelmente ficar onde estão”, disse Ainge.

Paul Pierce + Kevin Garnett

100 jogos de playoffs para a dupla

Apenas uma pequena parte do salário de Pierce para 2013-2014, seu último ano de acordo, é garantida. Ele poderia, então, ser facilmente negociado – um movimento com o qual a franquia flertou, e muito, durante os campeonatos mais recentes. “Isso é uma questão para o Ainge e sua equipe. Não tenho ideia do que vai ser. Só sei que espero definitivamente estar jogando no ano que vem”, afirmou o ala.

E a informação predominante que vem de Boston é de que Garnett, sem o seu fiel parceiro, anunciaria a aposentadoria de imediato, abrindo mão de mais duas temporadas de seu contrato – ele já teria informado ao Clippers, por exemplo, que não aceitaria uma troca para Los Angeles, nem para jogar ao lado de Chris Paul e Blake Griffin. O pivô poderia, aliás, pendurar seu par de tênis mesmo que Pierce continuasse.

É duro.

“O que espero é que nós aproveitemos no próximo ano esta experiência que tivemos, jogando com paixão e coração a cada noite”, disse o doidinho-da-silva Jason Terry, num momento, porém, de reflexão. “Ter jogado com KGe Paul foi uma grande experiência. Sei que as pessoas agora estão se perguntando se ambos vão estar de volta. Não posso responder isso, mas o que posso dizer é que eles me ensinaram muito.”


Grupos da Copa América definidos: ótima oportunidade para avaliar os prospectos da seleção
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Giancarlo Giampietro

Olha o Brasil aí

Olha, aqui no QG 21 tava fazendo falta, sim. Conversar sobre a seleção brasileira.

Nesta quinta-feira, a Fiba Américas divulgou a tabela da Copa América masculina de basquete, que será disputada de 30 de agosto a 11 de setembro na Venezuela. Os quatro primeiros colocados se classificam para a Copa do Mundo da Espanha em 2014.

Na primeira fase, não dá para ter apreensão alguma: num grupo de cinco times, avançam as quatro primeiras. Só não dá para tropeçar muito porque os pontos se acumulam na segunda etapa, que definirá os quatro semifinalistas – e classificados – do torneio. O Brasil encara Porto Rico, Canadá, Uruguai e Jamaica em seus quatro duelos iniciais.

Aqui de longe, ainda sem saber nada das listas, dá para arriscar dizer que o Canadá se projeta como o adversário mais complicado. Sim, mais que Porto Rico – independentemente da presença de José Juan Barea, Carlos Arroyo etc.. Agora com Steve Nash engravatado, cumprindo papel de  dirigente, a confederação canadense tem se esforçado em agrupar seus principais jogadores, tentando formar um programa realmente competitivo. Os primeiros sinais são promissores, e talento não faltará ao time, mesmo que os alas-pivôs Kelly Olynyk e Anthony Bennett, dois dos jogadores mais dominantes do basquete univeristário dos EUA nesta temporada, e o jovem armador Myck Kabongo sejam selecionados no Draft da NBA neste ano e possam, eventualmente, ter suas convocações vetadas.

Rubén Magnano, do seu canto, adota o discurso protocolar de qualquer jogo é pedreira. Conhecendo o técnico, não era de se esperar outra coisa, claro. (Isso, claro, se o argentino ainda for o comandante da seleção até lá, lembrando que a CBB passa por eleições em março. Mesmo que o candidato da oposição, o velho conhecido presente-de-Grego, tenha indicado que não haveria mudança alguma nesse sentindo, não dá para cravar como ficaria a situação, pensando muito mais em Magnano aqui. E, não, esse pequeno comentário não é uma campanha em prol do horrendo Carlos Nunes, que tem na contratação do supertécnico seu grande – e único?! – trunfo para buscar a reeleição.)

“Não será uma competição fácil e não podemos descuidar de nenhum adversário. Enfrentaremos nossos rivais mais difíceis na sequência. A estreia será contra Porto Rico, que pela capacidade e bagagem técnica é um grande candidato à classificação. Precisamos estar bem preparados para jogar e ir atrás do nosso objetivo”, afirmou o treinador. “A seleção do Canadá também é uma grande equipe e tem muito potencial. Mas precisamos saber antes de fazer uma análise mais completa quais os jogadores irão representar seu país, pois eles trocam bastante a cada ciclo os jogadores. O mesmo serve para o Uruguai que dependerá dos jogadores que vão atuar, mas com certeza será um jogo difícil. A Jamaica não é tão difícil quanto os demais, mas não podemos descuidar de nenhum adversário.”

Um pouco de blablabla.

O Uruguai realmente tem jogadores muito interessantes, com o pivô Esteban Batista, os armadores Gustavo Barrera, Jayson Granger e o veterano Martín Osimani etc. A Jamaica também pode até contar com o grandalhão Roy Hibbert, do Indiana Pacers, o pivô Samardo Samuels e Patrick Ewing Jr. Mas não dá para esperar perrengue algum contra esses dois times se o Brasil praticar um basquete minimamente consistente.

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Na outra chave estão: Argentina, República Dominicana, México, Paraguai e Venezuela. México e Paraguai são as babas.

Avaliando as dez equipes participantes, em teoria apenas seis brigam por vaga, em ordem alfabética: Argentina, Brasil, Canadá, Porto Rico, República Dominicana e Venezuela Quem chegará mais forte que o outro? Aí, sim, é impossível dizer. Tudo depende de quem vai dizer sim a seus técnicos.

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Para Magnano, as notícias que já vieram dos Estados Unidos não são boas, sabemos:

– O argentino já sabe que não vai poder contar com Leandrinho, que ainda vai estar em recuperação de uma cirurgia no joelho.

– Anderson Varejão hoje é, na melhor das hipóteses, uma incógnita. Ele é outro que não vai terminar a temporada regular da NBA jogando, afastado devido a um coágulo detectado em seu pulmão direito. O pivô já deixou o hospital, visitou os companheiros de Cavs, mas a estimativa inicial era de que ele ainda passaria por tratamento até maio. Se ele vai estar pronto em agosto, física e/ou espiritualmente, é uma dúvida tão grande quanto sua cabeleira – e raça em quadra.

– Ainda em atividade, Nenê jogou as Olimpíadas no sacrifício, algo que implicou em mais uma temporada acidentada na liga norte-americana, agora vestindo a camisa do Washington Wizards. Será que ele topa emendar mais uma vez suas férias?

Tiago Splitter e o San Antonio Spurs esperam sinceramente que ainda estejam em quadra em meados de junho, nas finais da NBA.

– Fabrício Melo consegue jogar na D-League, tem potencial físico, mas ainda está longe de ser um jogador de impacto em partidas decisivas, de peso, como teremos na Copa América. Caso não seja envolvido em alguma troca durante o próximo Draft, em junho, certamente estará em ação pelo Celtics nas próximas ligas de verão em julho.

– Scott Machado ainda não conseguiu retomar o caminho da NBA depois de ser dispensado pelo Houston Rockets. Conseguindo ou não uma nova chance na liga principal, também deve participar dos torneios de verão norte-americanos. Para quando será que Magnano vai marcar sua apresentação?

Mas calma, gente. Nem tudo está perdido.

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Mesmo se não puder contar o sexteto que iniciou a atual temporada da NBA, Magnano ainda teria talento o suficiente para compor uma equipe de respeito, forte, para disputar a Copa América, contando com aqueles que julga os destaques do NBB – embora nem sempre os melhores de fato do campeonato nacional sejam chamados, diga-se – e com os garotos em desenvolvimento na Europa. (Desde que, claro, nenhum deles faça a transição para a liga norte-americana entre as temporadas.)

Rafael Hettsheimeir vai recuperando a melhor forma pelo Real Madrid aos poucos, Vitor Faverani tratou de fazer as pazes e é um pivô de elite na Europa, Rauzlinho ganhou minutos preciosos de Liga ACB nesta temporada, assim como Lucas Bebê, e Augusto Lima e Rafael Luz devem estar doidos para mostrar mais serviço pela seleção.

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Muita gente pode ter se despedido de Manu Ginóbili, Andrés Nocioni e Pablo Prigioni em Londres, mas nenhum dos três anunciou oficialmente a aposentadoria da seleção argentina. Luis Scola, pelo contrário, garantiu que joga. A República Dominicana não vai contar mais com John Calipari. Sem o badalado treinador, Al Horford e Francisco Garcia vão topar o desafio? A Venezuela depende, muito, do cada vez melhor Greivis Vasquez.