Vinte Um

Arquivo : República Dominicana

Brasil vence. Foram nove minutos de ótimo basquete, antes da complacência
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Giancarlo Giampietro

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Voltando do trabalho (o outro), cheguei atrasado para o jogo, admito. No caminho, apressado depois de tantas baldeações no lamentável metrô paulistano, restava recorrer ao Twitter e às estatísticas oficiais, já que o sinal de celular não permitia o acesso regular à Fiba TV. Por um bom tempo, achei que, para ajudar, o “tempo real” estava com pau. Afinal, passavam-se as estações, e o Brasil não saía do cinco. Atualizei por conta o link, e nada. Até me dar conta de que estava tudo correndo normalmente. Era só a dificuldade (de sempre?) para se fazer cestas, mesmo. Entre uma bola de três de Marquinhos e um lance livre de Rafael Luz, correram mais de quatro minutos de partida sem nenhum pontinho. Dali até o final sairiam mais dez, diga-se.

Ao menos isso: consegui escapar do período de draga total desta terça-feira, em vitória por 71 a 65. Quando o sofá já se mostrava acolhedor o bastante, a seleção brasileira estava mais solta em quadra, se aproveitando da pouca resistência que a República Dominicana oferecia para construir vantagem no placar. Quando restavam 4min20s para o fim do primeiro tempo, vencia por 31 a 26. A 5min37s do final do terceiro quarto, a parcial já apontava 54-34. Ou seja, em nove minutos, abriu-se 15 pontos.

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E aí há os dois lados, como sempre: os dominicanos parecem desmembrados neste torneio, para alívio geral de argentinos, mexicanos, porto-riquenhos e, opa!, dos canadenses. Tiveram uma postura muito mais frouxa que a dos uruguaios na véspera. Certo. Os brasileiros, de qualquer maneira, souberam se aproveitar desses lapsos de um modo apropriado. Foi uma bela sequência, mesmo. O ataque voltou a ficar, digamos, elástico, no ritmo do Pan, com todos participando. A bola rodou muito mais, indo para o garrafão, voltando para o perímetro, cruzando de um lado para o outro. Fugiram daquele sistema básico de toca-para-o-Marquinhos-que-tudo-bem – o ala flamenguista foi o cestinha novamente, com 17 pontos. Ricardo Fischer marcou todos os seus 10 pontos, João Paulista fez a festa no garrafão (10 pontos e 9 rebotes em 24 minutos), Augusto cravou e até o jovem Leo Meindl, que andava bem travado, esteve agressivo e relativamente produtivo (5 pontos, 3 rebotes, 3 assistências em 18 minutos).

(Parêntese para a revelação francana: o ala apareceu bem, em cortes pelo lado contrário que ele faz tão bem e que deveria usar muito mais, diversificando seu arsenal. E se faz imperativo também que o reforço bauruense trabalhe sua c ondição atlética. Nem todo mundo precisa ser Kobe Bryant nessa vida, mas Leo pode muito bem perder alguns quilos e ganhar em arranque e agilidade, sem perder a força que lhe ajuda em suas ainda raras incursões no garrafão. Ele tem muito talento para ser explorado, e o tempo ainda está o seu favor. Duro é se acomodar em quadras nacionais. Não pode.)

>> E o professor Scola deu uma aula para a molecada canadense da NBA

O jogo meio que se decidiu, então, de modo precoce, e aí voltou a complacência. É meio injusto destacar isso, pois o placar não estava saindo do zero, mas vamos lá: os caribenhos venceram os últimos 15 minutos de jogo por 14 pontos, com direito a um 20-13 no quarto final. Período em que, durante um pedido de tempo, Magnano perguntou aos atletas: “Por que vocês não estão respeitando o que estou falando?”, com ar de perplexidade, depois de tantos arremessos de três pontos forçados. É, pois é. Nada como o áudio liberado no banco de reservas, um reflexo de uma condução mais light do argentino nesta temporada ajuda.

Todo treinador é responsável por sua equipe. Desde a convocação à condução dos treinos, à preparação para os jogos e ao comando na partida. Por mais supercontrolador que seja, porém, todo profissional nesse cargo tem um limite de ação — e, cá entre nós entre marmanjos não me agrada muito o estilo autoritário. Chega uma hora que o desenvolvimento da equipe vai depender da execução dos atletas. Por que os jogadores não estavam cumprindo o recomendado, então, se torna uma boa pergunta. Voltamos aqui ao relaxamento, a um descompromisso com a competição? Os maus hábitos liberados (por quem?) devido ao placar largo? Vai saber.

Por isso, nessa acompanho o Wlamir: não dá para comemorar tanto o resultado, porque não é que o Brasil tenha jogado muito bem, ou melhor: consistentemente bem. E foi contra um adversário que parece destinado à eliminação bem antes da disputa das medalhas. Nesta quarta-feira, é a vez de enfrentar o México, com jogadores  melhores, ginásio bombando e a perspectiva de um embate bem mais complicado.


Brasil e Espanha respiram aliviados em Mundial de desfalques
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Giancarlo Giampietro

Magnano está treinando todos aqueles com que esperava contar. Raridade

Magnano está treinando todos aqueles com que esperava contar. Raridade

O Brasil tem um time rodado, o elenco mais experiente de todos os 24 inscritos na Copa do Mundo de basquete. Com o mesmo grupo, trocando Caio Torres por Rafael Hettsheimeir, terminaram as Olimpíadas de Londres 2012 com o quinto lugar.

São dois pontos importantes para justificar qualquer otimismo que o Basqueteiro da Silva possa sentir em relação ao torneio que começa neste sábado.

Mas saiba que há mais um elemento importante a ser considerado: entre as seleções que afirmam publicamente que jogam por uma medalha neste Mundial, apenas o Brasil e a anfitriã Espanha vão levar para quadra o que no jargão da imprensa esportiva se chama de “força máxima”.

Rubén Magnano, que tanto chiou no ano passado ao final de uma vexatória Copa América, tem agora ao seu dispor a lista que julga ideal. Justamente num campeonato em que seus principais concorrentes estão seriamente avariados.

Se é para falar em desfalque, a lista começa obrigatoriamente com os Estados Unidos da América. O Coach K teve de montar sua lista final sem LeBron James, Kevin Durant, Carmelo Anthony, Russell Westbrook, Paul George… (respirem fundo, que ainda tem mais)… Kevin Love, Blake Griffin e LaMarcus Alridge. Isso para não falar de Michael Jordan, Wilt Chamberlain, Mugsy Bogues, John Isner e os Harlem Globe Trotters. Ainda assim, são candidatos ao ouro, claro – mas sem amedrontar tanto os donos da casa.

A França, campeã europeia, não vai contar com os pontos, assistências e, principalmente, liderança de Tony Parker, seu Macho Alfa. Se já não fosse duro o bastante, ainda perderam seus dois melhores pivôs: Joakim Noah e Alexis Ajinça, duas baixas seriíssimas para sua defesa, além do fogoso e criativo ala-armador Nando De Colo. Resulta que a dupla Boris Diaw e Nicolas Batum vai ter de mostrar do que é feita. Acostumados a vida toda a escoltar Parker – e outras estrelas como Roy, Lillard, Nash, LaMarcus, Duncan, Stoudemire etc. em suas carreiras –, os dois agora têm de canalizar todo o seu talento como referências primárias. Era para os Bleus estarem no topo da pirâmide dos favoritos, mas eles acabam rebaixados ao segundo escalão.

Mesmo nível em que aparece a Lituânia não tinha o estourado ala-pivô Linas Kleiza, cestinha que, quando em forma, pode ajudar qualquer time do mundo. Mas ainda poderia conviver com isso, já que há pivôs de sobra por lá. O problema sério foi ter perdido, de última hora, seu armador Mantas Kalnietis, que deslocou o ombro no último teste da seleção. O cara não é cerebral, não está nem entre os 20 melhores do mundo em sua posição, mas calha de ser o único do país com tarimba para liderar um time desses, a despeito de seus arroubos de loucura aqui e ali. Basicamente: era o jogador que os lituanos não podiam perder.

Šarūnas Vasiliauskas tem as cartas lituanas em mãos: foi o único armador que sobrou no elenco

Šarūnas Vasiliauskas tem as cartas lituanas em mãos: foi o único armador que sobrou no elenco

Na Argentina, a lamentação fica por conta da ausência de Manu Ginóbili, primeiro, e de Carlos Delfino, em segundo. Manu tentou de tudo para se alistar, mas o Spurs disse não, preocupado com a recuperação de uma fratura por estresse na perna. Delfino nem jogou a temporada depois de passar por uma cirurgia no pé direito. Os dois eram basicamente as únicas opções seguras de pontuação no perímetro para Julio Llamas, que agora se vê com um elenco desbalanceado – Scola, Nocioni e Herrmann jogam basicamente na mesma posição hoje em dia.

Já está bom?

Nada, tem muito mais.

Lorbek poideria dar uma baita ajuda para Goran The Dragon não fosse o joelho estourado

Lorbek poideria dar uma baita ajuda para Goran The Dragon não fosse o joelho estourado

A Eslovênia poderia ter um baita time, mas, por motivos diversos, seja de disputas de ego ou lesões, vai com uma equipe remendada para o Mundial. Enquanto Goran Dragic estiver inteiro, eles terão chances. Mas o fato é que sua cotação nas casas de apostas seria mais elevada se o pivô Erazem Lorbek (que não fez uma boa temporada pelo Barcelona, mas ainda é um craque) tivesse pedido dispensa e se Dragic, Beno Udrih e Sasha Vujacic levantassem a bandeira de paz. Boki Nachbar ainda poderia ajudar, caso não tivesse se despedido da seleção.

Por falar em despedidas e seleções balcânicas, bem que o veterano e ainda produtivo Zoran Planinic poderia dar uma forcinha para sua Croácia. Ainda na região, a Sérvia não vai poder contar com o jovem armador Nemanja Nedovic, lesionado, e com o ala Vladimir Micov, que brigou com o técnico. São coadjuvantes, mas estariam entre os 12 num cenário perfeito.

Se a Grécia ttivesse Vassilis Spanoulis entre seus convocados, também teria subido alguns postos na lista de candidatos ao pódio, mesmo que Dimitris Diamantidis siga aposentado de competições Fiba. Kostas Koufos e Sofoklis Schortsanitis também deixariam o garrafão helênico muito mais pesado, com o perdão do trocadilho. A arquirrival Turquia não é confiável, mas se tornaria mais forte com Ersan Ilyasova formando uma bela linha de frente com Preldzic e Asik. Hedo Turkoglu? Nem levaria, mas fica o registro.

Mesmo meu candidato preferido a azarão do Mundial, Porto Rico, tem seus problemas. Há quem julgue que o gigante PJ Ramos não faça falta – é certamente o caso do técnico Paco Olmos, que se recusou a chamá-lo –, mas não há como relevar a baixa do ala John Holland. Americano de ascendência porto-riquenha, ele não tem muito cartaz neste mundão Fiba, mas se tornou um personagem fundamental para o time devido a sua capacidade atlética, apetite pelos rebotes e defesa. “Grande coisa”, poderia responder o técnico Orlando Antígua, da República Dominicana. “Nós perdemos o Al Horford. O Al Horford, meu craque!!!”

Al Horford poderia fazer toda a diferença para os dominicanos

Al Horford poderia fazer toda a diferença para os dominicanos

Do outro lado do planeta, a Austrália ficou sem seus dois principais jogadores: o armador Patty Mills, o explosivo reserva do San Antonio Spurs e também o cestinha das últimas Olimpíadas, operado, e o pivô Andrew Bogut, do Golden State Warriors, que já não tem mais saúde para praticar basquete nas férias.

Se você somar todos os nomes em negrito, vai ver que são mais de 20 jogadores fundamentais fora de combate, além de todas as ausências norte-americanas. Isso tira um pouco do brilho do torneio, mas abre caminho para quem chega inteiro. Mesmo assim, ninguém vai ser insano de dizer ficou “moleza” para Huertas, Splitter, Nenê & Cia. Mas que as chances aumentaram e estão aí, não há dúvida.


A (outra) esquadra americana no Mundial
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Giancarlo Giampietro

Blatche, versão Smart Gilas

Blatche, versão Smart Gilas

No dia 26 de maio, ao final de uma sessão do Senado na capital Manila, o senador filipino Juan Edgardo “Sonny” Angara estava exultante. O projeto de Lei nº 2108 havia sido aprovado de modo unânime, e a seleção nacional de basquete estava muito perto de garantir os serviços de Andray Blatche na Copa do Mundo deste ano. Bastava apenas uma aprovação final do gabinete presidencial. O famoso carimbo.

“Blatche é possivelmente o melhor pivô da NBA que podemos conseguir, que esteja disposto a evitar algumas ofertas mais lucrativas agora e no futuro apenas para integrar nossa equipe”, disse Angara, chefe da comissão de Jogos, Esportes e Lazer do Congresso filipino. “Ter jogadores naturalizados é a regra nas competições internacionais em vez da exceção. É algo bastante aceito. Apenas vamos tirar vantagem dessa regra”, completou.

Pragmaticamente, o digníssimo senador Angara está correto. É a esse o ponto que a Fiba permitiu o jogo de seleções chegasse. Os torneios de seleção viraram, também, uma extensão do balcão de negócios do mercado da bola. Até ganhar um passaporte, Blatche nunca havia pisado por lá, embora jure que tenha sangue filipino.

A regra atual da federação permite que cada seleção conte com um jogador estrangeiro em seu plantel, sem exigência de vínculo algum desse atleta com o país adotivo. Não precisa ter morado por lá, não precisa ter um tio avô do cunhado, nem nada dessas besteiras. A justificativa: aumentar o poder de competitividade. E algo mais.

“O processo de naturalização é permitido pela Fiba para dar a outros países a chance de se igualar em termos de altura e talento. Não há nada errado com isso”, afirma o agente Danny Espiritu nesta matéria aqui, que advoga pela naturalização – haja propaganda. Mas veja bem: se equiparar não só em talento, como em… Altura! Não precisa nem fazer piada a respeito. Para constar: Blatche tem algo em torno de 2,10 m de altura (a gente nunca sabe a medida exata, então ficamos nessa generalização).

Daí que Filipinas, equipe que não joga o Mundial desde 1978, saiu de modo agressivo em busca de um reforço. JaVale McGee chegou a se candidatar publicamente a esta vaga, mas sua temporada avariada por lesões no joelho o tirou do páreo. Então, optaram (ou aceitaram uma oferta?), por Blatche, que fez uma bela campanha pelo Brooklyn Nets.

Marcus Douthit deu para o gasto e agora é substituído por Blatche

Marcus Douthit deu para o gasto e agora é substituído por Blatche

Ele ficou fora dos Jogos Asiáticos, uma vez que a autoridade olímpica do vasto continente exige que, para um atletas naturalizados ser inscrito, ele precisaria ter passado um mínimo de três anos seguidos eu seu novo país. Não que fosse um grande problema, pois o time já contava com outro pivô gringo, Marcus Douthit, que já foi escolhido pelo Lakers na década passada e teve, por exemplo, um double-double de 10 pontos e 22 rebotes em confronto com a China.

Superado o empecilho regional – ainda que no torneio FIBA local, o impacto de gringos também seja descarado –, durante a fase de treinos e amistosos, o pivô filipino norte-americano assumiu o controle de uns 90% dos ataques da equipe. Virou cada Blatche por si, e um Blatche contra todos, basicamente. O cara tem movimentos de costas para a cesta, agilidade para bater os grandalhões no ataque frontal e bom chute de média distância, além de ser bom passador. Fosse um pouco mais dedicado ao condicionamento físico e aos treinos em geral – em Washington, é persona non grata –, teria recursos de sobra para ser um protagonista na NBA. No Mundial, porém, já faz o necessário para brilhar.

Em sua estreia contra a França, em derrota por 75 a 68, ainda fora de sintonia, ele tentou 17 arremessos e 2 lances livres em 26 minutos, acertando cinco. Somou 12 pontos e 7 rebotes. Contra a Austrália, derrota por 97 a 75, no dia seguinte, foram 17 arremessos (sete de três pontos!) e 3 lances livres em 28 minutos, com rendimento superior: 20 pontos e 10 rebotes.

(Para constar: no terceiro dia do quadrangular, foi poupado contra a Ucrânia, e seu time tomou uma sacolada de 114 a 64. Sabe quando será a próxima vez que a Ucrânia vai superar a marca de 100 pontos? Quando colarem aqui na Vila Guarani e enfrentarem o time do bairro. Só assim: no restante dos amistosos, o máximo que conseguiram foram os 73 pontos contra o México. Contra Lituânia e Eslovênia, não chegaram nem a 65 pontos.)

Depois, voltou a jogar contra Angola, em mais uma derrota pro 83 a 74, a despeito de seus 33 pontos e 17 rebotes. Há amistosos contra Egito, País Basco e tudo o mais, mas já deu para sacar, né? Se houvesse uma competição de Fantasy no Mundial, dá para dizer que o passe de Blatche estaria bem cotado.

Não é a primeira vez que os Gilas apelam para jogadores naturalizados. Douthit está aí como prova. Nos anos 80, eles contaram com alguns norte-americanos em seu time, incluindo um nome surpreendente: Chip Engelland, hoje um dos assistentes técnicos mais cobiçados da NBA, devido ao seu trabalho com o San Antonio Spurs. Foi ele que reinventou a mecânica de lance livre de Splitter.

Eles não são os únicos, claro. Um dos maiores ídolos do basquete grego é natural de Union City, Nova Jersey. Estamos falando de Nick/Nikos Galis, já nomeado para o Hall da Fama da Fiba em sua primeira classe, apontado também como um dos 50 melhores da história e da Euroliga. O cestinha se formou por Seton Hall, foi selecionado no Draft de 1979 pelo Boston Celtics, mas foi pelo Aris BC, ao lado de Panagiotis Giannakis, que entraria para o panteão. Ele é dos poucos que realmente merece o apelido de “mito”, ainda mais na Grécia.

Mais recentemente, tivemos um armador americano liderando, oras, a Rússia. JR Holden conseguiu algo que, nos anos 80, pareceria menos provável do que Arvydas Sabonis recusar um copo de cerveja. JR Holden teve seu passaporte providenciado diretamente por Vladimir Putin e ajudou o país a ganhar o Eurobasket de 2007, com David Blatt de técnico.

Importar armadores, aliás, virou uma prática realmente de se abrir os olhos na Europa. No Eurobasket 2013, sete países diferentes, incluindo Croácia e Itália, tiveram de usar essa cartada extra.

Por aí vamos. Em 2008, Chris Kaman resolveu ativar sua cidadania alemã, por conta de seus avós paternos. Nem seu pai, já nascido nos Estados Unidos, aprovou a ideia. “Mas eu não me importo”, disse o pivô, agora do Blazers. “Faço o que quiser, não tenho de agradar a ninguém. Ainda sou um americano. Ainda jogo na NBA. Ainda sou de Michigan. Apenas escolhi seguir minha ascendência de um pouco mais atrás e ver se eles me permitiram jogar pela Alemanha.”

Chris Kaman, neto de alemão com muito orgulho e muito amor, jogou as Olimpíadas de 2008

Chris Kaman, neto de alemão com muito orgulho e muito amor

Simples assim. Num país como os Estados Unidos, de imigração incessante, a fonte se torna praticamente inexaurível. Se a Alemanha já conseguiu que um neto se prontificasse a ajudar Dirk Nowitzki, imagine a facilidade que Porto Rico (território americano, aliás), República Dominicana e outros países caribenhos têm para procurar reforços.

Foi assim com Renaldo Balkman. O ala-pivô jamais poderia sonhar em defender os Estados Unidos. Então sorriu e topou na hora quando a federação “rival” foi procurá-lo. Melhor: sua mãe (cujo ramo familiar era porto-riquenho), diferentemente do caso de Kaman, aprovou tudo. “Ela sempre me disse que eu deveria visitar aqui, e eu finalmente vim. E veja no que deu. Agora estou na seleção. Na primeira vez que vim, achei as coisas diferentes. Agora é por nosso país, pelo nosso orgulho.”

O ala-pivô defende Porto Rico desde 2010 e se tornou uma peça-chave de uma equipe que promete dar um trabalho danado nesta Copa do Mundo. Entre dominicanos, o escolta nova-iorquino James Feldeine foi recrutado mais recentemente, iniciando sua trajetória pela seleção no ano passado. Para o futuro, a aposta fica no jovem ala-pivô Karl Towns, ainda um adolescente, considerado um dos dez melhores recrutados da NCAA este ano, por Kentucky.

Por aí vamos, sem nos esquecermos do bauruense Larry Taylor. Claro que cada caso é um caso. O armador natural de Chicago já passou muitos Carnavais por aqui para contar história.

Começando por ele, então, aqui vão os americanos que defenderão outras nações, com os mais diferentes contextos. Comparando com os torneios de Europa e Ásia do ano passado, até que o povo maneirou:

Larry Taylor (Brasil)
O que para Shamell não aconteceu, para Larry foi até rápido: a naturalização e sua convocação intrínseca para defender o Brasil. Obviamente, Rubén Magnano adora o atleta: desde que foi liberado burocraticamente, o astro do Bauru, um tremendo boa praça, está no grupo de intocáveis do técnico.

Na Espanha, Larry vai ter papel integral na rotação, revezando com Huertas e com os alas, dependendo do adversário. Tal como fez com Goran Dragic em amistoso na semana passada, esperam que ele seja usado para atazanar os armadores oponentes com forte pressão em cima da bola, usando sua velocidade e tenacidade. É algo que consegue executar muito bem, mesmo.

O problema está do outro lado da quadra. Na hora de atacar, não está nada acostumado a jogar sem a bola, por vezes fincando os pés em um lado da quadra, isolado. Rende melhor quando parte no drible, um contra um – algo que na seleção vai acontecer bem menos do que em Bauru. Como arremessador de três pontos, somando Olimpíadas e a última Copa América, acertou apenas duas de 21 tentativas. Ai.

Eugene “Pooh” Jeter (Ucrânia)
A primeira referência que acompanha o armador de 30 anos é o fato de ele ser irmão da velocista Carmelita Jeter, uma das estrelas do atletismo dos Estados Unidos. É um bom dado para qualquer enquete, sem dúvida. Mas o americano já construiu uma respeitável carreira no exterior a ponto de ter reconhecimento próprio.

Vamos colocar desta maneira: se Jeter não tivesse comprado a ideia, os ucranianos jamais teriam se classificado para o Mundia. No Eurobasket passado, era um dos poucos atletas dessa seleção capazes de produzir a partir do drible. Num time que adora gastar a posse de bola, cabia ao baixinho muitas vezes desafiar os oponentes e o relógio para pontuar. Teve médias de 13,5 pontos e 4,1 assistências, com 47,6% nos arremessos de 2 pontos e 35,7% de três. Considerando toda a carga sobre seus ombros, é um desempenho sensacional.

Pooh jogou na China no ano passado e reclama de que nunca teve uma chance real para mostrar seus talentos na NBA, depois de passar apenas um ano como reserva do caótico Sacramento Kings de 2010-11. Ao menos, em seu currículo tem uma passagem pelo basquete ucraniano, tendo defendido o BC Kyiv em 2007-08.

– Oliver Lafayette (Croácia)
Depois de usar Dontaye Draper no Eurobasket, a Croácia agora decidiu investir em Lafayette para compor sua armação no Mundia. Sim, deus do basquete, até a Croácia enfrenta séria dificuldade para produzir um armador local que lhe deixe confortável em competições de ponta.

O convite aconteceu de úuuultima hora. Vejam só: em junho. Dito o sim, o passaporte saiu rapidamente. Assim que se faz. Aos 30 anos, então, o veterano, ainda muito rápido e forte, entra no mundo das seleções, ajudando Roko Ukic, em busca de qualquer entrosamento possível com os novos companheiros.

Lafayette, mais um pontuador do que um organizador, se formou na universidade de Houston em 2005 e vagou pela D-League até assinar com o Boston Celtics em 2010 para fazer precisamente um jogo pelo clube. E não é que foi bem? Anotou sete pontos, um recorde para um atleta nessas condições.

Dali para a frente, com a NBA inscrita em seu currículo, migrou para a Europa e rodou por grandes clubes como Partizan Belgrado, Zalgiris Kaunas e Valencia, na temporada passada – mas nunca por uma agremiação croata. Agora, vai se juntar ao Olympiakos, vindo de boa campanha na Espanha.

Nick Calathes (Grécia)
Com avô grego, Calathes foi um jogador de ponta na NCAA, como estrela de Florida, mas se concentrou em defender os helênicos desde cedo, tal como seu xará Galis. Ele se vestiu de azul e branco já no Eurobasket sub-20 de 2008. Um ano depois, faria sua estreia pela seleção.

Alto, forte, de excelente visão de jogo, o armador se beneficiou da dupla cidadania para assinar um acordo generoso com o Panathinaikos, ignorando, num primeiro momento, a NBA. Seu contrato foi assinado em maio de 2009, antes mesmo do Draft, valendo nada menos que 2,4 milhões de euros limpos por três anos. Sem contar o fato de que tinha residência e carro pagos pelo clube, mais a grana dos patrocínios. Uma bolada.

Quando questionado se a decisão de jogar pela seleção grega estava incluída neste mesmo pacote, Calathes foi enfático em negar, em 2011: “Não, não. Nada disso. É uma honra jogar pela Grécia, por minha ascendência, minha família. Espero poder jogar muito mais pela equipe”.

E aqui está Calathes, como um dos protagonistas da seleção grega – algo que seu irmão mais velho, Pat Calathes, uma vez cotado como um belo prospecto, não realizou. Já liberado depois de cumprir gancho de quatro meses por dar positivo em exame antidoping, vai para o Mundial e cheio de responsabilidades para guiar a seleção que sente a falta de Vassilis Spanoulis.

Renaldo Balkman e Alex Franklin (Porto Rico)
Já escrevi até que bastante sobre o ala-pivô no ano passado, antes da Copa América, e suas encrencas por aí. Para atualizar, vale a menção de que ele arrebentou no torneio continental, com médias de 18,7 pontos e 8,9 rebotes pelos vice-campeões. Com seu vigor físico e mais liberdade no ataque, pode fazer diferença, ainda que contra concorrência mais dura.

Já Franklin, natural da Pensilvânia, faz a sua segunda campanha pela seleção porto-riquenha, herdando a vaga que seria de John Holland. Um ala hiperatlético, Holland havia se tornado peça fundamental da equipe, mas virou desfalque este ano devido a uma lesão. Aprovado no Centrobasket, seu substituto tenta segurar o rojão no perímetro ao lado de Barea e Arroyo. Um ala de 26 anos, jogou pela universidade de Siena, pela qual foi uma estrela. Depois, virou profissional na Espanha e no México, até chegar aos Indios de Mayagüez.

James Feldeine e(República Dominicana)
Feldeine vem de uma vizinhança barra-pesada de Nova York, ao norte de Manhattan. “Washington Heights me fez virar o homem que sou hoje. Foi muito duro crescer em um lugar tão difícil. Havia muita violência por parte das gangues”, conta. Você já imagina todo o cenário, né? E que o basquete, como em diversos casos, serviu de refúgio para o garoto de mãe dominicana.

Dos playgrounds nova-iorquinos, o ala-armador foi para a modestíssima universidade de Quninnipiac, de Hamden. O sonho de NBA ficou longe, mas ele se tornou um jogador de ponta na Espanha, jogando a Liga ACB pelo Fuenlabrada, com médias de 15,9 e 13,9 pontos por jogo em duas temporadas. Nada mal. Agora, tem contrato com o Cantú, da Itália.

Explosivo em suas infiltrações, um bandejeiro de primeira, Feldeine estreou pela República Dominicana no ano passado, na Copa América, com 14 pontos por partida. Seu estilo casa bem com o de Francisco Garcia.

O país ainda poderia contar com Karl Towns, de 18 aninhos,  uma das maiores promessas do basquete universitário americano deste ano. Ao mesmo tempo que o recrutou para Kentucky, John Calipari também o pôs para jogar na seleção caribenha – uma opção surpreendente para um garoto tão badalado desde cedo. Do alto de seus 2,13 m, com envergadura e leveza impressionantes, o pivô ainda está nos primeiros passos de seu desenvolvimento como jogador, mas não jogará na Espanha, vetado por sua universidade.  Pena.

­- Erik Murphy (Finlândia)
Esse o torcedor do Bulls conhece. Pelo menos um pouco. O ala-pivô foi selecionado pela equipe no Draft passado, na onda do stretch 4 da NBA. Graduado pela universidade de Florida, subiu de cotação devido ao seu potencial no arremesso de três pontos. Frágil fisicamente, porém, foi pouco aproveitado por Tom Thibodeau em seu ano de novato. Rapidamente, viu como funcionam os negócios da liga rapidamente.

Para limpar espaço em sua folha salarial e evitar o pagamento de multas, a franquia de Chicago o dispensou antes mesmo de sua temporada de calouro se encerrar. O Utah Jazz aceitou seu contrato, mas nunca chegou a escalá-lo. Em julho deste ano, foi repassado para o Cleveland Cavaliers. Não se sabe se há realmente um interesse em aproveitá-lo ao lado de LeBron James.

Pensando nisso, a Copa do Mundo vem bem a calhar para o atleta de 23 anos – hora de mostrar serviço, com todos observando, afinal. Erik tem passaporte finlandês por parte da mãe, Päivi, que foi jogadora da seleção do país. Aqui, estamos falando, na verdade, de uma família só de basqueteiros: seu pai, Jay Murphy, fez carreira na Europa. O irmão caçula, Alex, começou na NCAA sob o comando do Coach K em Duke, mas pediu transferência para Florida.

“Os garotos vão para a Finlândia a cada verão. Meu irmão ainda está lá, meus sobrinhos. Falamos sobre como seria divertido ele jogar pela seleção. Mas o mais importante é algo que serve de inspiração, e eles estão orgulhosos disso”, conta a mãe em entrevista ao site do Bulls.

Curiosidade: quem também tentou entrar na festa foi o veteranaço Drew Gooden, do Washington Wizards – sua mãe também tem ascendência escandinava. A papelada não foi regularizada a tempo, porém. “Mesmo que não seja possível este ano, ainda vou para a Espanha apoiar o time e os jogadores e começar a construir uma relação para os próximos anos. De qualquer forma, vou conseguir minha dupla cidadania e vou me tornar um cidadão finlandês”, assegurou.

Reggie Moore (Angola)
É, até nossos irmãos entraram na onda. Formado na universidade de Oral Roberts em 2003, Moore jogou em Portugal, Israel e Espanha até migrar para Angola em 2009. Está lá desde então, defendendo hoje o Primeiro de Agosto. Em suma: como se fosse o Larry Taylor angolano.

Sua naturalização gerou um burburinho, mas, em maio de 2013, o presidente da federação do país, Paulo Madeira, simplesmente se defendeu dizendo que a seleção precisava de um pivô, e que Moore havia se oferecido. “O atleta manifestou publicamente interesse em representar a seleção, como fruto dos vínculos familiares que está a criar. E a nós interessa ter um jogador como ele”, disse o dirigente.

Reggie Moore, da Califórnia para Angola

Reggie Moore, da Califórnia para Angola

Moore correspondeu em sua estreia por Angola no Afrobasket do ano passado, com 10,1 pontos e 3,6 rebotes em média, sendo bastante regular na campanha do título. Baixo, com 1,98 m, e forte, com bom arremesso, gosta de atacar a cesta de frente.


Jogadores americanos descendentes causam impacto e ajudam a explicar surpresas no continente
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Giancarlo Giampietro

Holland x Feldeine

John Holland e James Feldeine: duas novidades norte-americanas no Caribe

Os Estados Unidos nem jogaram a Copa América de basquete neste ano, mas o talento de seus jogadores ainda deu o jeito de fazer a diferença. Do campeão México à surpreendente Jamaica, passando até mesmo pelo Brasil com Larry Taylor, muitas das seleções que disputaram o torneio continental contaram com uma ajudinha da mão-de-obra dos atuais bicampeões olímpicos. O grau de sucesso variou de time para time, mas a presença deles foi impactante de um modo geral, para atestar, ainda que por vias tortas, a influência do país no esporte.

Aí você pode pensar: “Dãr. Quanta novidade, hein?”

Bem, acreditem. Antes de Jerry Colangelo, Coach K, LeBron & Cia. conseguirem restaurar um certo grau de normalidade para as competições masculinas da Fiba, essa aura, essa influência estava sendo esculhambada em praça pública. Voltemos.

Muito se falou sobre o Pan de 1987 nestes últimos dias de Oscar Schmidt no Hall da Fama, então esta vocês já sabem responder direitinho no vestibular: que, no basquete masculino, o Brasil foi o primeiro time a vencer os Estados Unidos na casa dos caras, em Indianápolis. Que os norte-americanos perderam para a União Soviética nas Olimpíadas de 1988 também vem por esteira, e que esses acontecimentos somados a uma boa dose de interesses econômicos dos dois lados, Fiba e NBA, levaram ao ingresso do Dream Team em Barcelona 1992, e o resto foi história.

Uma história que, se for pensar bem, não durou taaaaaaaaaanto assim, não. Em Sydney 2000, lá estavam os EUA penando contra a Lituânia na semifinal, a um chute de três pontos de Sarunas Jasikevicius de ver o império ruir.

Não tardou muito, mesmo: no Mundial de 2002, de novo no solo sagrado amaldiçoado de Indianápolis, veio o maior vexame da história (para eles): derrotas para Argentina na segunda fase, Iugoslávia nas quartas e, como se não bastasse, Espanha na disputa pelo sexto lugar. Os jogadores utilizados nesta? Andre Miller, Baron Davis, Jay Williams, Reggie Miller, Michael Finley, Paul Pierce, Shawn Marion, Raef LaFrentz, Elton Brand, Jermaine O’Neal, Antonio Davis e Ben Wallace. Um timaço em qualquer circunstância. Todos All-Stars ou futuros All-Stars, ultramilionários, estrelas de seus times, alguns que seriam campeões mais adiante. Mas nem todos eram maduros o suficiente para a empreitada e, além disso, não eram necessariamente os maiorais da liga na época (nada de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal, por exemplo).

Conclusão da época? Nós, ianques, não podemos mais nos dar ao luxo de não levar o que temos de melhor.

Dois anos depois, Atenas 2004, Jogos em que a seleção norte-americana sofreu mais uma humilhação daquelas com a derrota para Porto Rico na primeira fase e a assinatura da caderneta de freguesia para a Argentina, nas semifinais. Ao menos bateram os lituanos novamente e ganharam o bronze. Quem estava lá? Allen Iverson, Stephon Marbury, Dwyane Wade, LeBron James, Carmelo Anthony, Richard Jefferson, Shawn Marion, Lamar Odom, Amar’e Stoudemire, Carlos Boozer, Emeka Okafor e Tim Duncan. Reparem: grandessíssimos nomes, mas uma combinação de talentos que não faz o menor sentido, com nenhum chutador de primeira linha – e lembrem-se que Wade, Melo e LeBron eram apenas novatos na liga e saíram da capital grega odiando Larry Brown. Além do mais, com Iverson e Marbury, era como se eles tivessem a versão deluxe de Arroyo e Ayuso, sobrando tiros pra tudo que é lado.

Conclusão? No, we can’t. Não dava para jogar sem ter os melhores em quadra – e sem passar o mínimo possível de espírito de equipe.

Aí que o resto se fez de história também, com a reformulação completa da confederação. Antes disso, os fiascos seguidos botaram em dúvida o tipo de basquete praticado por lá. E até mesmo a qualidade do “jogador americano X” foi questionada. O orgulho todo foi embrulhado num jornal velho e atirado na lata de lixo. Compreensível a reação e exagerada da mesma forma.

Ainda numa digressão, temos o caso de uma campanha na qual eles não levaram o ouro, mas em que o talento abundante no país ficou em evidência. Antes da “derrocada” em Indianápolis, vale quebrar a linearidade e voltar quatro anos no tempo para edição 1998 do Mundial, também em Atenas. Abalada pela instauração do primeiro lo(u)caute na NBA, USA Basketball teve de se virar com um catadão de universitários, jogadores que na época estariam na D-League, caso ela existisse, ou de alguns veteranos em atividade na Europa. Destaque para o pivô Brad Miller, que remaria bastante e viraria um dos melhores de sua posição na grande liga, e o ala Trajan Langdon, um ídolo para os torcedores do CSKA Moscou. Treinados por Rudy Tomjanovich, com a assistência de Del Harris, esses atletas foram valentes o suficiente para conquistar o bronze, somando 7 vitórias (incluindo um placar de 83 a 59 contra o Brasil…) e 2 derrotas (Lituânia e, na semi, contra a Rússia, por um total de quatro pontos) – leia aqui o relato comovido da federação deles.

Jimmy King, um dos quase-anônimos do bronze

O ala Jimmy King, companheiro de Webber, Rose e Howard no histórico time dos “Fab Five” da univesidade de Michigan, foi um dos que conquistou o bronze no Mundial da Grécia em 1998

Nesse campeonato, os Estados Unidos foram obrigados a se alimentar com a rebarba, jogadores que não teriam a menor chance de entrar num elenco final de 12 atletas caso estivessem todos os de ponta disponíveis, mas ainda assim deram um jeito de brigar por um lugar ao pódio, lutando contra cachorros grandes. Com o tanto de jogadores que o país produz, algo semelhante apenas ao que o Brasil faz no futebol, não é impossível formar uma equipe competitiva.

Ao mesmo tempo, sem muita margem de erro, podem ficar em quarto num torneio continental como na Copa América de 2005, atrás de Brasil, Argentina e Venezuela, algo impensável para sua grife, ou, só com jogadores da D-League, ficar com um bronze no Pan de Guadalajara 2011, com um elenco que contou com três atletas hoje inscritos na NBA (Greg Stiemsma, Donald Sloan e Lance Thomas).

Tudo depende de preparação, seriedade, química e – por que não? – um pouco de sorte. De qualquer forma, passando por essas diferentes equipes citadas, algo fica muito claro: não é qualquer grupo que vai sair triunfante de uma competição oficial, independentemente de quem estiver jogando. Isso Paul Pierce e Tim Duncan poderão confirmar. Mas também não dá para negar o talento disponível.

E é a partir dessa fonte inesgotável de talento que o cenário da Copa América, hoje, se vê drasticamente alterado. Foram diversos os jogadores nascidos nos Estados Unidos inscritos no torneio disputado em Caracas, espalhados por vários elencos, como o ala Donta Smith, que se naturalizou venezuelano a menos de dez dias do torneio. Mas nem todos são descaradamente mercenários como o jogador ex-Atlanta Hawks: muitos entregam já em seus sobrenomes a ascendência latino-americana. A diferença é que, depois de passarem pelo High School, se formarem, ou não, nas universidades de lá, se beneficiando de toda a estrutura de seu país, na hora de jogar por uma seleção, eles simplesmente não teriam espaço se não na de seus familiares – como Scott Machado.

No México, temos, por exemplo, o pivô Lorenzo Mata, nascido na Califórnia, formado na UCLA. Combativo, disposto a trombar e fazer o serviço sujo, também um bom passador, inteligente, ele se apresentou como um sólido companheiro de garrafão para o astro Gustavo Ayón no México. Os inéditos campeões continentais também contaram com mais dois californianos em sua rotação, com papel importante: Jovan Harris, cestinha na final contra Porto Rico, com 23 pontos, e Orlando Méndez, além do baixinho catimbeiro que é o tal do Paul Stoll, esse natural do estado de Michigan.

O marrentinho Stoll

Paul Stoll, o tampinha e marrento armador reserva do México, direto de Michigan

Mais uma equipe a ser surpreendida pelos mexicanos, Porto Rico não teria muito do que reclamar, não, já que Renaldo Balkman, um dos melhores do torneio, veio de Nova York. Assim como John Holland, encontrou um ótimo ala para complementar seus armadores talentosos. Ele é um nova-iorquino de 24 anos, muito atlético, aguerrido na defesa, que vem evoluindo consideravelmente nas últimas duas temporadas. Neste campeonato, eles ganharam a companhia de outro conterrâneo, Ramon Clemente, ala-pivô estreante, da mesma forma que o ala Ricky Chaney, de Los Angeles. (E tenham em mente que Carmelo Anthony também seria uma possibilidade não fosse tão badalado e cobiçado desde a adolescência, de modo que a USA Basketball não o deixaria escapar de modo algum.)

O mesmo aconteceu na República Dominicana, com outro jogador de ponta: o ala-armador James Feldeine, de Nova York e uma ótima opção para pontuação a partir do perímetro, com suas infiltrações que desafogam a pressão pra cima dos, aí, sim, dominicanos naturais como Francisco Garcia e Jack Martínez. Outros nova-iorquinos: Edgar Sosa, Ricardo Greer e até mesmo o Ronald Ramon, de Limeira. Já o promissor Karl Towns Jr., de 17 aninhos, é de Nova Jersey.

E a Jamaica? Bem, Samardo Samuels nasceu realmente na ilha, vindo de Trelawny. De resto, temos cinco americanos e até um canadense, o jovem armador Dylan Howell, que saiu de Toronto. (Outro “gringo” que pode reforçar a seleção é o gigante Roy Hibbert, do Indiana Pacers, que já defendeu a equipe num torneio regional, mas se arrependeu e nutria esperanças de que pudesse ser liberado para defender os Estados Unidos de volta – sendo que já havia jogado pelo Team USA no Pan do Rio de Janeiro… –, até que seu pedido estapafúrdio foi recusado pela Fiba. Tá vendo? Acha que a federação vai dizer “sim” pra tudo?!)

Mas deu para sacar, né?

Os jogadores “importados” não chegam a ser Os Craques de suas seleções, mas se tornaram peças complementares importantes para a formação de sólidas e competitivas bases. Se fosse para subtrair todos esses caras, provavelmente nenhum dos três países teria beliscado a vaga – ou, no mínimo, teriam sofrido muito mais para assegurar a vaga. O “se” não entra em quadra, no entanto.

A única condição que se espera é que esses reforços tenham realmente alguma relação direta com os países que adotaram, algo que vá além de uma eventual valorização econômica pela vitrine que é disputar um torneio internacional de seleções.

Bem diferente do que vem acontecendo na Europa… Mas esta história fica para amanhã.

 


Aproveitamento de 3 pontos é alto, mas seleção escapa de derrota ao agedir a cesta
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Giancarlo Giampietro

Giovannoni alternando

Guilherme para a bandeja também: 6/7 nos arremessos, 3/4 de fora

Na vitória suada contra a República Dominicana, com a cesta de Alex a menos de meio segundo do fim, a seleção brasileira acertou 44% de seus arremessos de longa distância. Foram oito cestas em 18 tentativas, ótimo rendimento. Além disso, o time de Rubén Magnano não mostrou uma propensão exagerada ao tiro de fora, numa comparação com os 49 arremessos de dois pontos que tentaram durante toda a partida. Muito bem.

Agora, para um específico grupo de jogadores, especialmente aqueles aculturados dentro do NBB – e, na verdade, no basquete brasileiro como um todo, numa predisposição que antecede o campeonato e esta nomenclatura –, há sempre um perigo quando se desfruta de uma boa jornada com os chutes de longa distância. O de achar que vai ser sempre assim. De que será com esses chutes que as coisas vão se “desafogar”, para ficar no termo usado pelo legendário Wlamir durante a transmissão da ESPN.

Mas foi apenas pelos tiros de três pontos que o jogo foi vencido? Eles foram tão cruciais assim? Recapitulemos os minutos derradeiros do quarto período na ofensiva brasileira, antes da intervenção salvadora de Alex, para avaliar o peso de cada bola. Leva um pouco tempo, mas se faz necessário…

O quarto começou com vantagem brasileira de quatro pontos, 57 a 53. O limeirense Ronald Ramon não precisou nem de três segundos para anotar uma bandeja e deixar os dominicanos bem próximos no placar. Aí, na bola seguinte, Giovannoni acertou uma bomba de fora com assistência de Larry. Foi um lance celebrado, de que teria dado um respiro ao time.

Com 9min02s no cronômetro, foi a vez de João Paulo Batista fazer mais dois, levando o escore a 62 a 55. Seguiram-se, então, cinco pontos seguidos dos oponentes, numa velocidade que só, até que, com 8min13s, Larry fez uma cesta. Com 5min41s, contudo, a República Dominicana liderava por 67 a 64.

Parecia que o jogo escorria pelo ralo, mesmo, quando Huertas entrou em ação, marcando os próximos oito pontos brasileiros em quatro cestas, lembrando seu poder de finalização a despeito das amarras de Xavier Pascual. Na terceira, restando 2min41s, foi para recuperar a dianteira em 72 a 70.

Nas duas posses de bola seguinte, a República Dominicana teve um turnover com o versátil Eulis Baez e um erro num chute completamente forçado de Francisco Garcia.  Com 1min17s, no ataque seguinte, bum!, Giovannoni não hesitou em queimar quase de frente para a cesta, com um mínimo espaço necessário para matar de fora, levando o placar a 75 a 70.

Uma série de ataques infelizes de um lado e de boas investidas de Garcia, descolando lances livres, e chegamos ao minuto final com 15 segundos no relógio e os caribenhos com a chance de matar o jogo. Sabemos o que houve: Garcia errou mais uma vez no perímetro, mas, com a defesa brasileira quebrada após o rebote, James Feldeine recebeu livrinho na zona morta pela esquerda para encestar, num lance com ecos do Jogo 6 das finais da NBA, sem a mesma dramaticidade, claro, ou dificuldade. Até que Alex fez das suas. E acabou.

Dessa reviravolta toda, tirando, claro, as intervenções nos últimos segundos, se você não ficar atento e se deixar levar pelas “emoções”, é capaz de lembrar dos chutes de Guilherme. Olha que maravilha! De três! É assim que eu gosto! Ignorando que, no momento de maior dificuldade, ficando três pontos atrás, foram quatro jogadas agressivas de Huertas, buscando a cesta de perto, em que o controle do placar foi reassumido. No fim, pressionado, o armador foi buscar os pontos no garrafão, lá pertinho do aro, aonde a probabilidade é muito maior de conversão, e você não precisa exclusivamente de superpivôs para atacar deste jeito.

Aqui não se trata, então, de uma crítica – embora as coisas não estejam nada perto de uma maravilha. Mas, antes, um alerta: que não se enamorem pela conversão nos chutes de fora, como de costume, como estão habituados a fazer durante boa parte da temporada. Nem toda defesa vai dar tanto espaço assim como fizeram os dominicanos.

Deste jogo, a lição mais importante que fica para o ataque é, ironicamente, o erro (quase) crucial de Larry, com o aro escancarado a um palmo da fuça, e os segundos minguando. Acabou que não caiu a bola, mas o rebote só saiu manso para o tapinha por causa da confusão que o americano criou ao partir para cima dos dominicanos e procurar a bandeja. Ele pode ter falhado na execução técnica, mas tomou a decisão correta, a despeito do aperto da situação, em vez de optar por um atalho na linha de três.


Enfrentando ala de NBA, nove centímetros mais baixo, Alex mostra seu valor e faz cesta da vitória
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Giancarlo Giampietro

Cisco x Alex, os Garcias

O duelo entre Garcias sempre animado pelo mundo Fiba

Alex é sempre o primeiro a divagar… Ah, se fossem dez centímetros a mais!

Mas tem hora que nem todo centímetro vai compensar a disposição para fazer o serviço sujo, a preocupação com os detalhes, a disposição em quadra. E lá estava o diminuto ala, do alto de seu oficial 1,92 m, com os braço esquerdo e os dedos todos estendidos para conferir o rebote ofensivo, com cerca de 0s2 no cronômetro, e definir uma vitória por 78 a 77 para a seleção brasileira pela rodada de abertura da Copa Tuto Marchand, em Porto Rico.

Um desfecho de certa forma irônico, enquanto podemos nos apegar a esse tipo de coisa, já que ainda escrevemos sobre jogos preparatórios. O rebote é o fundamento que talvez mais preocupe rumo a uma disputa de vaga no Mundial – e título continental, oras –, e foi justamente num tapinha ofensivo que o time de Magnano se safou nessa.

Um viva ao amigo Elpidio Fortuna, aliás, que ficou hipnotizado pela bola, pela rebarba de uma bandeja agressiva, inteligente, mas mal efetuada por Larry Taylor e se esqueceu de uma das tarefas mais básicas do jogo. Aquela que muitas vezes dói, por conta das pancadas nas costelas, na coxa ou mais, mas que é extremamente necessária: o bloqueio de rebote. Alex subiu livrinho da silva, sem contato físico nenhum, para fazer a cesta decisiva.

Não que o chamado “Brabo” tenha algum problema em assimilar as pancadas. Pelo contrário, né? Fosse proibido de buscar o contato, teria de buscar outro esporte. Que o diga o talentoso Francisco Garcia, seu xará de sobrenome, que deve detestar os dias em que tem o Brasil pela frente. Ele sabe que aquele tampinha estará em quadra disposto a contestá-lo, ou, no mínimo, importuná-lo.

Aconteceu na última Copa América em 2011, com uma vaga olímpica em jogo. Aconteceu no Pan de 2003 até, dez anos atrás! Na casa deles, em Santo Domingo. E teve repeteco nesta quinta, mesmo em torneio amistoso. Alex perseguindo o dominicano no perímetro, com uma postura defensiva na maioria das vezes perfeita – em duplo sentido, contando não só o empenho, como também o posicionamento. Mesmo sendo mais baixo, o brasileiro não arrisca muito, guardando posição, com os braços erguidos, deixando para saltar ou dar o bote apenas no último instante. É um comportamento que atrapalha o alto e esguio dominicano.

Em competições de nível Fiba, diante de poucos atletas de primeiro nível, mesmo, que ele tem pela frente, Cisco ainda possui recursos suficientes para criar suas situações de arremesso. Contra o Brasil, ele ainda pode colocar a bola no chão com mais tranquilidade e partir rumo ao garrafão na esperança de descolar uma falta ou seu arremesso de média distância, encurtando a passada, para aproveitar sua envergadura. Arthur e Benite foram obrigados a tomar nota disso.

Com o número 10 da seleção em seu cangote, porém, a coisa fica um pouco mais difícil. Suas investidas são mais suadas, até pela pressão física que o adversário impõe. Se a arbitragem deixar o pau comer, o Garcia brasileiro consegue equilibrar bem as coisas.

E aí, medindo de baixo para cima o dominicano, com seus 2,01 m de altura e oito anos de NBA no currículo, sem contar a marca de US$ 29 milhões em salário que vai bater este ano como jogador do Rockets, Alex primeiro vai combater. Depois, sempre sobra um tempo para levar aquela hipótese dos dez centímetros adiante.

PS: mais algumas notas sobre a partida, com as mesmas preocupações de sempre, nesta sexta.


Grupos da Copa América definidos: ótima oportunidade para avaliar os prospectos da seleção
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Giancarlo Giampietro

Olha o Brasil aí

Olha, aqui no QG 21 tava fazendo falta, sim. Conversar sobre a seleção brasileira.

Nesta quinta-feira, a Fiba Américas divulgou a tabela da Copa América masculina de basquete, que será disputada de 30 de agosto a 11 de setembro na Venezuela. Os quatro primeiros colocados se classificam para a Copa do Mundo da Espanha em 2014.

Na primeira fase, não dá para ter apreensão alguma: num grupo de cinco times, avançam as quatro primeiras. Só não dá para tropeçar muito porque os pontos se acumulam na segunda etapa, que definirá os quatro semifinalistas – e classificados – do torneio. O Brasil encara Porto Rico, Canadá, Uruguai e Jamaica em seus quatro duelos iniciais.

Aqui de longe, ainda sem saber nada das listas, dá para arriscar dizer que o Canadá se projeta como o adversário mais complicado. Sim, mais que Porto Rico – independentemente da presença de José Juan Barea, Carlos Arroyo etc.. Agora com Steve Nash engravatado, cumprindo papel de  dirigente, a confederação canadense tem se esforçado em agrupar seus principais jogadores, tentando formar um programa realmente competitivo. Os primeiros sinais são promissores, e talento não faltará ao time, mesmo que os alas-pivôs Kelly Olynyk e Anthony Bennett, dois dos jogadores mais dominantes do basquete univeristário dos EUA nesta temporada, e o jovem armador Myck Kabongo sejam selecionados no Draft da NBA neste ano e possam, eventualmente, ter suas convocações vetadas.

Rubén Magnano, do seu canto, adota o discurso protocolar de qualquer jogo é pedreira. Conhecendo o técnico, não era de se esperar outra coisa, claro. (Isso, claro, se o argentino ainda for o comandante da seleção até lá, lembrando que a CBB passa por eleições em março. Mesmo que o candidato da oposição, o velho conhecido presente-de-Grego, tenha indicado que não haveria mudança alguma nesse sentindo, não dá para cravar como ficaria a situação, pensando muito mais em Magnano aqui. E, não, esse pequeno comentário não é uma campanha em prol do horrendo Carlos Nunes, que tem na contratação do supertécnico seu grande – e único?! – trunfo para buscar a reeleição.)

“Não será uma competição fácil e não podemos descuidar de nenhum adversário. Enfrentaremos nossos rivais mais difíceis na sequência. A estreia será contra Porto Rico, que pela capacidade e bagagem técnica é um grande candidato à classificação. Precisamos estar bem preparados para jogar e ir atrás do nosso objetivo”, afirmou o treinador. “A seleção do Canadá também é uma grande equipe e tem muito potencial. Mas precisamos saber antes de fazer uma análise mais completa quais os jogadores irão representar seu país, pois eles trocam bastante a cada ciclo os jogadores. O mesmo serve para o Uruguai que dependerá dos jogadores que vão atuar, mas com certeza será um jogo difícil. A Jamaica não é tão difícil quanto os demais, mas não podemos descuidar de nenhum adversário.”

Um pouco de blablabla.

O Uruguai realmente tem jogadores muito interessantes, com o pivô Esteban Batista, os armadores Gustavo Barrera, Jayson Granger e o veterano Martín Osimani etc. A Jamaica também pode até contar com o grandalhão Roy Hibbert, do Indiana Pacers, o pivô Samardo Samuels e Patrick Ewing Jr. Mas não dá para esperar perrengue algum contra esses dois times se o Brasil praticar um basquete minimamente consistente.

*  *  *

Na outra chave estão: Argentina, República Dominicana, México, Paraguai e Venezuela. México e Paraguai são as babas.

Avaliando as dez equipes participantes, em teoria apenas seis brigam por vaga, em ordem alfabética: Argentina, Brasil, Canadá, Porto Rico, República Dominicana e Venezuela Quem chegará mais forte que o outro? Aí, sim, é impossível dizer. Tudo depende de quem vai dizer sim a seus técnicos.

*  *  *

Para Magnano, as notícias que já vieram dos Estados Unidos não são boas, sabemos:

– O argentino já sabe que não vai poder contar com Leandrinho, que ainda vai estar em recuperação de uma cirurgia no joelho.

– Anderson Varejão hoje é, na melhor das hipóteses, uma incógnita. Ele é outro que não vai terminar a temporada regular da NBA jogando, afastado devido a um coágulo detectado em seu pulmão direito. O pivô já deixou o hospital, visitou os companheiros de Cavs, mas a estimativa inicial era de que ele ainda passaria por tratamento até maio. Se ele vai estar pronto em agosto, física e/ou espiritualmente, é uma dúvida tão grande quanto sua cabeleira – e raça em quadra.

– Ainda em atividade, Nenê jogou as Olimpíadas no sacrifício, algo que implicou em mais uma temporada acidentada na liga norte-americana, agora vestindo a camisa do Washington Wizards. Será que ele topa emendar mais uma vez suas férias?

Tiago Splitter e o San Antonio Spurs esperam sinceramente que ainda estejam em quadra em meados de junho, nas finais da NBA.

– Fabrício Melo consegue jogar na D-League, tem potencial físico, mas ainda está longe de ser um jogador de impacto em partidas decisivas, de peso, como teremos na Copa América. Caso não seja envolvido em alguma troca durante o próximo Draft, em junho, certamente estará em ação pelo Celtics nas próximas ligas de verão em julho.

– Scott Machado ainda não conseguiu retomar o caminho da NBA depois de ser dispensado pelo Houston Rockets. Conseguindo ou não uma nova chance na liga principal, também deve participar dos torneios de verão norte-americanos. Para quando será que Magnano vai marcar sua apresentação?

Mas calma, gente. Nem tudo está perdido.

*  *  *

Mesmo se não puder contar o sexteto que iniciou a atual temporada da NBA, Magnano ainda teria talento o suficiente para compor uma equipe de respeito, forte, para disputar a Copa América, contando com aqueles que julga os destaques do NBB – embora nem sempre os melhores de fato do campeonato nacional sejam chamados, diga-se – e com os garotos em desenvolvimento na Europa. (Desde que, claro, nenhum deles faça a transição para a liga norte-americana entre as temporadas.)

Rafael Hettsheimeir vai recuperando a melhor forma pelo Real Madrid aos poucos, Vitor Faverani tratou de fazer as pazes e é um pivô de elite na Europa, Rauzlinho ganhou minutos preciosos de Liga ACB nesta temporada, assim como Lucas Bebê, e Augusto Lima e Rafael Luz devem estar doidos para mostrar mais serviço pela seleção.

*  *  *

Muita gente pode ter se despedido de Manu Ginóbili, Andrés Nocioni e Pablo Prigioni em Londres, mas nenhum dos três anunciou oficialmente a aposentadoria da seleção argentina. Luis Scola, pelo contrário, garantiu que joga. A República Dominicana não vai contar mais com John Calipari. Sem o badalado treinador, Al Horford e Francisco Garcia vão topar o desafio? A Venezuela depende, muito, do cada vez melhor Greivis Vasquez.


Calipari afirma que não treinará mais a República Dominicana
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Giancarlo Giampietro

John Calipari

Em meio ao que se repercutiu da vitória estrondosa dos EUA sobre a República Dominicana, na semana passada, na abertura de seus amistosos preparatórios, quase que passa despercebida uma declaração que veio do outro lado, o caribenho: John Calipari afirmou que não vai dirigir mais a emergente seleção nos próximos anos.

“Sempre disse que iria me aposentar aos 55 anos. Bem, estou oficialmente me aposentado, depois desse jogo… Da República Dominicana. Vou ajudá-los, dar consultoria e fazer essas coisas, mas não acho que vou treiná-los mais”, afirmou o todo-poderoso técnico da universidade de Kemtucky, em seu site oficial.

O “Coach Cal” tem um cartaz enorme nos EUA, tendo, ano após ano, recrutado os melhores jogadores colegiais de seu país – vide o esquadrão que montou em 2011-2012, com seis jogadores draftados em junho. Para fazer pacotes com esse, requer muito contato. E foi esse prestígio que ele emprestou aos dominicanos, reunindo a turma da NBA, por exemplo, montando uma comissão técnica forte, entre um ou outro detalhe que pode fazer diferença. Além disso, o mais importante: é um baita técnico.

Sem Calipari, a República Dominicana seguirá como essa força a incomodar os rivais da América? Canadá, Argentina e Porto Rico aguardam essa resposta com muito interesse, é certo. O Brasil não se preocupa tanto assim, agora, por já ter a vaga no Rio-2016 garantida, claro.


E ainda entra o Anthony Davis nos EUA
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Giancarlo Giampietro

Anthony Davis, o MonocelhaAí foi assim: o Blake Griffin se lesionou o menisco do joelho esquerdo, vai parar por duas semanas e  está fora das Olimpíadas, aquele que seria um baque – mais um – para qualquer seleção do mundo que não fosse a dos Estados Unidos. Pois… Vocês viram o segundo tempo do amistoso contra a República Dominicana na sessão Corujão depois da vitória da seleção brasileira sobre a Argentina? Um atropelo.

E, na metade final do quarto final, eis que entra em quadra o garotão Anthony Davis, número um do Draft pelo Hornets e campeão universitário este ano por Kentucky. Já crava uma, pega outro rebote ofensivo e ainda, como se não bastasse, mata uma bola de três para logo em seguida sofrer falta numa jogada de quatro pontos. Detalhe: o chute de longa distiancia seria o ponto fraco do rapaz. Ah, tá. Ele não se segurou e começou a provocar a comissão técnica dominicana, liderada por John Calipari, que, antes de tudo, foi justamente seu mentor em seu única temporada de atleta-estudante.

Davis, então, já se qualifica para ser o Christian Laettner deste time. Uma versão turbinada do calouro do Dream Team original. Calipari  afirma que estar ao lado de feras como Kobe e LeBron vai acelerar o desenvolvimento do jogador em dois anos.

Então… Blake quem?


Nigéria fecha semana histórica com a vaga olímpica
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Giancarlo Giampietro

Nigéria se classifica para as Olimpíadas de Londres-2012

É uma baita surpresa, mas não tratem como aberração a classificação da Nigéria para as Olimpíadas de Londres-2012, fechando os 12 times do torneio ao conquistar a vaga derradeira com uma vitória sobre a República Dominicana, neste domingo, em Caracas.

Foi um confronto extremamente físico, voltado para o garrafão, com atletas fora de série de ambos os lados. Não faltaram lapsos mentais também, mas em geral foi uma batalha agradável de se assistir – nada como ver de fora uma situação dramática dessas com duas equipes que se dedicaram bastante pela classificação.

Contra os nigerianos, os dominicanos encontraram um time que tinha uma resposta atlética com a qual não estão habituados. Al Horford e Jack Martínez não puderam simplesmente dominar as tábuas e a zona pintada. Porque Alade e Al-Farouq Aminu, Ike Diogu e o veterano Olumide Oyedeji, um dos líderes do grupo, não iam deixar. E falta ao time caribenho alguém para facilitar a vida de seus armadores vindo de fora – seus armadores Coronado e Fortuna (que nome para dupla sertaneja, hein?) foram muito destrambelhados durante todo o torneio e Francisco Garcia dificilmente passa a bola.

Do outro lado, os nigerianos apostam muito em investidas oficiais, mas seus ataques são centrados no garrafão e, lá dentro, eles são solidários. Brigam feito loucos pelo rebote ofensivo, fazem sólidos corta-luzes não hesitam em fazer o último passe no caso de um defensor estiver bem posicionado.

Tecnicamente, a Nigéria reuniu um elenco muito talentoso.

Ike Diogu pareceu um anônimo durante as transmissões da semana, mas se trata de um jogador que já ganhou mais de US$ 10 milhões em salários em sua carreira na NBA, pela qual foi ignorado na última campanha, de modo surpreendente. Fez apenas dois jogos pelo San Antonio Spurs, e só. Mas ele foi draftado na nona colocação em 2005 pelo Warriors, lidou com alguns problemas físicos no início, mas sempre foi um atleta eficiente nos minutos que recebeu, virando um dos queridinhos dos estatísticos. Não é uma estrela, mas é um pivô extremamente competente ofensivamente e cuja combinação de habilidades se traduz muito bem para o mundo Fiba (vide os dois arremessos de três pontos que converteu no quarto período neste domingo, ajudando seu time a se desvencilhar de uma reação dominicana). Ainda mais com o corpo fino do jeito que está.

Oyedeji foi draftado em 2000 pelo finado Seattle Superonics, no posto 42, e ficou por três temporadas na liga, sendo que já atuava em clubes de primeira divisão na Europa. Ele não balançou o coração de ninguém nos Estados Unidos, mas cumpriu uma carreira de nômade por todo o globo depois, adquirindo muita bagagem. Na hora do vamos ver, no quarto período, com Alade Aminu excluído por faltas, foi chamado para defender Martínez e deu conta do recado.

Esses são apenas dois exemplos, e nem precisamos nos estender muito sobre Al-Farouq Aminu, que ainda tem status de promessa na NBA e provou durante o torneio que os scouts estão certos – executou uma imitação perfeita de Kirilenko na disputa pela vaga, com 14 pontos e cinco tocos. Mas há muito mais histórias para serem contadas pelo restante do elenco.

São raros os momentos em que o blogueiro acerta alguma coisa, então lembramos aqui uma nota produzida, ainda na encarnação passada, para chamar a atenção sobre o grupo que a equipe africana estava reunindo, ainda que dois atletas de rebarba da NBA esperados não tenham jogado (seja por problemas na apresentação ou, a julgar pelo que vimos nas últimas duas semanas, talvez não tenham passado pelo corte final, oras).

Esta é a segunda vez que a Nigéria disputará as Olimpíadas, tendo terminado com a 11ª colocação em Atenas-2004 entre as mulheres. Valeu a bela festa que seus jogadores fizeram, comemorando com seus compatriotas em plena Caracas nas arquibancadas, para depois dançarem em quadra e se abraçarem feito garotos do basquete universitários – afinal, essa foi uma experiência marcante na formação de boa parte desse grupo também, de sua cultura basquetebolística. Antes da comemoração, a cena emblemática para isso aconteceu quando seus sete reservas se enganchavam pelos braços, sentados no banco, esperando o estouro do cronômetro, assim como haviam feito na grande vitória sobre a Grécia nas quartas de final.

Não que se agrupem em um timaço. Basta apenas não menosprezá-los.