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Arquivo : Budenholzer

O adeus de Pop e mais algumas histórias sobre Tim Duncan
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Giancarlo Giampietro

Tal como a contratação de Durant pelo Warriors, a aposentadoria de um cara como Tim Duncan é um tanto difícil de se assimilar. Foram 19 anos de NBA com ele no topo. Aí o cara decide que sua carreira chegou ao fim e não faz nem mesmo uma declaração formal para o release do Spurs. Foi assim: pronto, acabou.

O lado positivo do anúncio? De segunda-feira para cá, o pivô, talvez muito a contragosto, foi homenageado sem parar. Se a despedida de Kobe Bryant foi celebrada durante toda uma temporada regular – diluída, portanto –, a de TIMMY! veio de uma só vez, com artigos, galerias, clipes e anedotas despejados no ciberespaço nos últimos dois dias. Quem saiu ganhando com isso? Nós.

Então segue aqui um apanhado de histórias e memórias sobre um jogador que pouco deu o que falar para tabloides ou mesmo em termos de perfis, já que não era o cara mais aberto ou disposto com jornalistas.

*    *    *

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Começamos com um resumo do emocionado – sim, acreditem, emocionado – depoimento de Gregg Popovich nesta terça-feira, em San Antonio, antes de iniciar sua coletiva. Para constar, o Spurs ainda não conseguiu marcar com Duncan sua própria entrevista. Para quem quiser conferir na íntegra como foi o bate-papo com o técnico e presidente do clube, em inglês, o repórter Calvin Watkins, do ESPN.com, prestou o serviço público de transcrever tudinho. Vamos lá:

“Estou tentando organizar minha cabeça enquanto estou aqui e ele não está mais. E nós todos sabemos por quê. Dissemos isso por 19 anos, e ele realmente só se importou em fazer o melhor trabalho que podia quando o assunto era basquete, além de ser quem ele era com seus companheiros, alguém também que amava sua família. Ele é realmente isso.

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Essa entrevista jamais passa pela cabeça dele, então imaginei que o melhor era eu vir aqui e dar conta disso e de alguma forma dizer adeus a ele, o que é impossível por um monte de razões.

Tentei pensar em como compará-lo a alguém e o que dizer sobre ele. Sei que todo mundo comenta sobre com quem gostaria de jantar um dia. Sabe, se pudesse escolher alguém para jantar, almoçar, ou algo assim. As pessoas vão dizer nomes como Madre Teresa, Jesus, Dalai Lama, e, ok, eu entendo. Mas se você for pensar em pessoas mais mundanas, pessoas interessantes, penso em gente como William F. Buckley pela direita e Gore Vidal pela esquerda, com seus debates, pessoas muito espertas, cheias de ideias que mexiam contigo. E eu posso honestamente dizer (soluça) que meu jantar seria com Tim Duncan, porque ele é a pessoa mais real, consistente e verdadeira que já encontrei na minha vida. Ele era tão genuíno, que mexe com sua cabeça, como Buckley e Vidal fizeram de um jeito meio que avant-garde.

Passar um tempo com Timmy é algo sublime em diversas maneiras. As pessoas não sabem muito sobre sua inteligência. Penso em caras como John Cleese, espertos, incisivos, sarcásticos. Ninguém conhece esse lado de Timmy. Posso estar na orelha dele durante um jogo, perguntando de um modo duro por que ele não está pegando rebotes, na frente de todo mundo, e, na saída da quadra, ele vai dizer: ‘Obrigado pela motivação, Pop’, ‘Obrigado pelo apoio, Pop’, e se virava, olhando para o nada, nós começávamos a rir. Essas coisas passam despercebidas, mas seus companheiros reparam, e é por isso que els o amam, porque ele foi o melhor companheiro que qualquer um poderia imaginar.

NBA: Finals-San Antonio Spurs-Practice

Pense em quantas pessoas já jogaram com ele, e tudo o que Tim Duncan precisava fazer era levantar um dos braços, direito ou esquerdo, e colocar sobre seus ombros, e vinha daí um conforto que os permitia se tornar o melhor jogador que poderia ser. Tivemos um monte de jogadores que passaram por aqui e tiveram sucesso e foram para outros lugares apenas porque Tim Duncan criou esse ambiente.

Não é questão de falsa modéstia, de jeito nenhum. As pessoas que cresceram comigo me conhecem. Mas não estaria aqui se não fosse por Tim Duncan. Estaria em uma Liga Budweiser em algum lugar da América, gordo, e ainda tentando jogar ou treinar um time de basquete. Mas estou aqui. Ele fez a vida de centenas de nós, estafe e treinadores, durante os anos, e nunca disse nada. Ele apenas veio trabalhar todo dia. Chegou cedo, saiu tarde. E estava lá disponível para qualquer pessoa, desde os jogadores mais prestigiados aos menos conhecidos por que ele era assim, em todos esses aspectos.

Ele é insubstituível. Não vai acontecer. Nós somos todos únicos, mas ele foi tão importante para tantas pessoas que é incompreensível. Pensar que ele não está mais aqui deixa tudo difícil, desde ir para um treino ou pegar um pedaço de bolo de cenoura.”

Foi demais.

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Agora, se for para ler sobre a parceria entre Duncan e Popovich, um texto de 2014 de Marc Stein, também do ESPN.com, parece ainda definitivo.  É longo, mas imperdível, com depoimentos de Kobe, Shaq e inúmeras fontes do universo Spur ou de adversários desse time histórico. Stein lembra quando Pop esteve a perigo no cargo, com a torcida pedindo por Doc Rivers e quando o mesmo Doc esteve perto de levar o pivô para Orlando, também discute a importância de R.C. Buford nessa relação, entre tantos causos.

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Antes de iniciar a sessão de perguntas e respostas, o treinador, então, citou um artigo do Wall Street Journal como um resumo perfeito da essência de Duncan como jogador. Aqui está: “Tim Duncan se vai, brilhantemente, sem vaidade“. Pego emprestada apenas o último parágrafo do texto assinado por Jason Gay: “Se você o viu jogar, será sua missão lembrar as futuras gerações que não o viram. O basquete é um jogo atordoante, com tanta criatividade individual, que é fácil se levar por um momento deslumbrante e ignorar o aspecto genial da consistência. Mesmo que Tim Duncan não tenha sido o mais brilhante, o mais barulhento ou o mais celebrado, dava para ver em seu jogo a verdadeira grandeza da NBA, por 19 anos ininterruptos. Você viu a história. Você viu Tim Duncan.”

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Tim Duncan and Shaquille O'NealForam realmente diversos textos sensacionais publicados em nome de Duncan. Kevin Arnovitz, do ESPN.com, afirma que o pivô foi “o jogador mais influente de sua época“. Algo talvez que você não imaginava ler, considerando a popularidade de Shaq, Kobe ou até mesmo de um ícone urbano como Iverson. Então que influência foi essa? “Embora ele tivesse pouco apelo público para fora da zona central do Texas, ele iniciou uma mudança cultural nos centros de treinamento da NBA, nos vestiários e mesmo nas suítes dos executivos. A NBA de hoje se tornou obsessiva pela adoção e instauração de uma cultura organizacional. Sempre buscando por alguma vantagem num ambiente competitivo, as franquias tornaram a cultura de trabalho como um baluarte”, escreve.

Em suma: o jeito San Antonio de vencer. E aí vemos alunos de Pop e R.C. Buford espalhados por toda a liga, como em Atlanta, OKC, Utah, New Orleans, Brooklyn, com os proprietários dessas franquias apostando nesses ideais. Mas apenas San Antonio tinha um Tim Duncan. “Nós todos entramos em nossas casas e agradecemos a ele. Pense em todos os técnicos, gerentes gerais e mesmo os assistentes de vídeo que agora são assistentes técnicos, todas as pessoas que subiram na hierarquia da liga. Devemos todo nosso sucesso e nossas vagas a Timmy. A ‘cultura’ foi Timmy”, disse Mike Budenholzer, presidente e técnico do Hawks.

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E o que dizer de Tim Duncan e o Brasil?

Bem, o pivô enfrentou a seleção nacional em algumas ocasiões. Primeiro como uma promessa universitária ainda.

Renan Damasceno, conta no Super Esportes da vez em que Tim Duncan jogou em Belo Horizonte e, depois de derrotado, foi ao vestiário brasileiro pedir dicas a Josuel. Queria aprender algumas manhas a mais sobre o tradicional gancho do gigante brasileiro. Sim, tudo isso aconteceu em 1996, um ano antes do pivô das Ilhas Virgens chegar a San Antonio.

duncan-vasco-1999Gustavo Faldon e Luís Araújo, pelo ESPN.com.br, foram atrás dos vascaínos que enfrentaram o Spurs em 1999 pelo exinto McDonald’s Championship, em Milão. A dupla também aproveitou um papo com Rogério Klafke para ir um pouco mais atrás no tempo, em 1994,  quando Duncan estava treinando junto com os astros da NBA que iriam ganhar o Mundial do Canadá.

Quase uma década depois, em 2003, Duncan estava sendo dirigido justamente por Pop, a serviço da seleção americana que dominou o Pré-Olímpico de San Juan. O jogo de estreia foi justamente contra uma jovem seleção, com uma vitória fácil por 110 a 76. Pouco depois de conquistar o segundo título de sua carreira, Duncan anotou 17 pontos em 16 arremessos e só errou dois de dez arremessos. Uma dessas tentativas frustradas veio em toco do sempre ‘brabo’ Alex. O tipo de lance que rendeu ao ala-armador a proposta para jogar pelo Spurs.

Vale dizer que essa Copa América foi o grande momento Fiba da carreira do pivô. Em 2004, ele viveu uma Olimpíada infernal. Não só não evitou o vexame de três derrotas num mesmo torneio (uma bizarrice para a geração NBA, para Porto Rico, Lituânia e Argentina), como saiu enfurecido com a arbitragem, dizendo-se perseguido. Jamais defenderia o Team USA depois dessa.

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Por fim, duas anedotas de quadra da liga, de duas figuras.

Primeiro vamos com Steven Adams. O pirado neozelandês de OKC agora, em 2016, dominou o quarentão. Mas nem sempre foi assim: “Ele é um cara legal. Aí cometi meu maior erro quando era novato. Eu estava, tipo, batendo nele o tempo todo, e ele estava tendo dificuldade com isso. Aí ele se aproximou uma hora e falou comigo um pouco. Algo como: ‘E aí, amigão, como você está?’, esse tipo de coisa. Pensei: ‘Poxa, que cara bacana’. Depois disso, ele fez uns 20 pontos. Fui ao M.B. (Mark Bryant, assistente técnico da equipe) e disse isso. E ele falou: ‘Foi uma manha de veterano! Não faça isso. Você não pode ser legal em quadra’. E eu meio que dei de ombros. ‘Mas ele é um cara legal! Desculpe!’, respondi”

Por fim, recorremos ao ex-pivô Ethan Thomas, que não chegou a deixar saudades por onde passou, mas se tornou um dos atletas da liga mais engajados em causas políticas e sociais na década passada.

Sua história, porém, é mais simplória e reveladora: “Estávamos jogando contra o Spurs, e eu recebi a bola no garrafão. Fiz o pivô por dentro e avancei para o meio para tentar um gancho, e ele me bloqueou. Quando estávamos correndo em transição, ele me diz: ‘Foi um bom movimento, mas você tem de me atingir mais, para ou levar a falta ou para que eu não consiga te bloquear’. Não sabia se ele estava me provocando ou o quê, então apenas olhei para ele e disse: ‘Ok’. Então, algumas jogadas depois, fui para cima novamente, encostei mais no corpo dele e ele não conseguiu dar o toco. Errei o arremesso, mas ele olhou para mim e disse: ‘Bem melhor’, e eu segui jogando (risos)”.

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Jukebox NBA 2015-16: Atlanta Hawks, para não achar que tudo acabou
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Don’t Dream It’s Over”, por Crowded House

A música? Bem, tem uma das letras mais sem pé, nem cabeça que se encontra por aí, e a métrica de seus versos impede que alguém de inglês macarrônico os acompanhe. Começa assim: “ liberdade no interior/Há liberdade sem/Tente pegar um dilúvio em um copo de papel”, e por aí (aonde, exatamente!?) vai. Até que chegamos ao refrão, e nada dessa confusão importa mais. É um hino da Antena 1. Com o radinho ligado a caminho da farmácia, do supermercado, na sala de espera do dentista, quem nunca? 

(…)

Vamos lá, galera, pode levantar a mão sem receio. Sei bem que é o tipo de melodia que todo orgulhoso que se preze vai tentar bloquear da cabeça. Mas é difícil de segurar: “Ei, não sonhe que tenha acabado”.

Boa. E, nesse refrão temos a seguinte frase: “Eles vêm para construir um muro entre nós, e sabemos que eles não vão vencer”, que já faz mais sentido e serve para duas narrativas em torno do Atlanta Hawks.

1) alguém teve a ideia de dividir, desmontar o atual elenco, ou de pelo menos estudar seriamente a possibilidade, a ponto de o time ter virado o epicentro das boatarias sobre eventuais trocas neste ano. Muitos ficaram à espera sobre o que aconteceria com Al Horford e, em menor escala, Jeff Teague. Quais as razões por trás dessa especulações? Uma é simples: Horford vai virar agente livre ao final do campeonato, e parece existir o temor de que ele possa *buscar novos rumos*. Então era melhor ver o que uma troca pelo dominicano poderia proporcionar, para não sair de mãos vazias. Segundo o rescaldo após o prazo para negociações, a diretoria pediu, com razão, um preço altíssimo pelo talentoso pivô, daqueles jogadores que se encaixa muito bem em qualquer sistema. O preço assustou os interessados, que, afinal, também não teriam segurança alguma de renovar com o atleta. Mas há quem diga também que os novos proprietários da franquia estariam cogitando uma transação por não terem a intenção de arcar com um inevitável contrato exorbitante para o veterano. No final das contas, não rolou nada. “Eles não venceram”: sejam os interessados em Horford ou os proprietários. Ok, paremos por aqui, para abrir a segunda narrativa e, depois, deixar que elas se unam.

Horford será um dos agentes livres mais cortejados em julho

Horford será um dos agentes livres mais cortejados em julho

2) mesmo com Tiago Splitter, um excelente marcador, afastado por conta de uma infeliz e complicada lesão no quadril e sem ter o catarinense em plena forma durante o campeonato, Mike Budenholzer conseguiu montar uma das defesas mais fortes da liga. É a segunda mais eficiente no momento, superada apenas por aquela orquestrada pelo chapa Gregg Popovich. Defesa… “Muro”… Pegou, né? Tudo para não deixar o outro time (“eles”) vencer, num fortalecimento providencial para compensar a queda brusca de rendimento no ataque. Aquela belíssima máquina ofensiva despencou da sexta posição para a 15ª neste ano. O time está desequilibrado nesse sentido, virando uma espécie de Chicago Thibs.

Então juntemos os dois pontos acima: há, ou havia, uma certa decepção em torno do Atlanta. Depois da melhor campanha de regular da história do clube, alcançando a marca de 60 vitórias, a equipe regrediu sensivelmente e tem uma projeção de 48 triunfos, de acordo com seu ritmo atual. Triste?

Nem tanto.

Primeiro porque o campeonato não terminou ainda e a equipe vem em seu melhor momento, voltando a se colocar em situação para ter mando de quadra na primeira rodada dos playoffs.  Mas a questão maior é saber se eles não jogaram demais naquela ocasião, se não chegaram perto do limite do atual elenco. Se for o caso, uma queda seria inevitável. Não nos esqueçamos que, em 2013-14, na estreia do Coach Bud, o resultado final foi de 38 vitórias e 44 derrotas. Agora estão praticamente no meio termo entre um ano e outro.

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Pode ser que, na real, o Hawks tenha até mesmo extrapolado seu limite, como naquele mês de janeiro em que se mostrou invencível, algo inédito, forçando inclusive a bem sacada eleição de todo o seu quinteto titular ao prêmio de “melhor(es) do mês”, levando quatro deles também ao All-Star Game. Tudo merecido. De qualquer forma, no trecho final da tabela, não nos esqueçamos que o time teve um aproveitamento medíocre de 11 triunfos e 10 reveses. Por mais que já estivessem garantidos nos mata-matas e que seu técnico leve a sério a filosofia Popovichiana de preservar seus jogadores sempre que puder, a queda foi significativa e um indício de que já estavam perdendo o pique.

(Poderíamos acrescentar a varrida que sofreram do Cleveland Cavaliers, sem Kevin Love, na final do Leste como outro indício de que tinham chegado longe demais até, mas aí é um tanto injusto, uma vez que a equipe tinha seus próprios problemas médicos para resolver. Vários, aliás: Thabo Sefolosha estava fora de combate, devido a uma fratura exposta na perna causada pela polícia nova-iorquina; Kyle Korver perdeu as últimas duas partidas depois de topar com Matthew Dellavedova e lesionar o tornozelo; DeMarre Carroll, com o joelho estourado, foi para o sacrifício; Paul Millsap estava se recuperando de um deslocamento de ombro, enquanto Horford, por fim, deslocou seu dedinho da mão direita, a mão do arremesso. Chega, né? Sem Carroll e Sefolosha para ao menos tentar incomodá-lo, LeBron estraçalhou o oponente e até foi gentil com David Blatt ao erguer o troféu da conferência.)

A lamentável lesão de Carroll ainda abala o ala até em Toronto

A lamentável lesão de Carroll pelos playoffs ainda persegue o ala mesmo em Toronto

Curiosamente, daquele esplêndido time titular de 2015, o único que saiu foi justamente aquele que ficou fora do jogo festivo da liga: Carroll, ganhando uma bolada do Toronto Raptors depois de expandir seu jogo de um modo impressionante em Atlanta (créditos para Bud e Quin Snyder, segundo o ala). A simples partida do ala para o Canadá não explicaria de modo algum as dificuldades encaradas pelo Hawks, até porque seu ponto mais forte era o combate no perímetro, embora tivesse desenvolvido um consistente chute de longa distância. E, bem, marcar não tem sido o problema. O que é uma grata e salvadora surpresa.

Desde o All-Star deste ano, por sinal, a defesa do Hawks é até mais eficiente que a do Spurs, ficando em primeiro na lista, sofrendo baixíssimos 94,6, pontos por 100 posses de bola, e com uma boa vantagem para cima dos texanos (numa amostra pequena de 15 jogos, é verdade, mas enfrentando duas vezes o Warriors e uma vez o Clippers, dois dos ataques mais poderosos da década). Time irregular durante toda a campanha, vem usando esse fortalecimento na contenção para desfrutar de novo momento de subida, vencendo seus últimos cinco jogos e oito dos últimos dez. Durante esta sequência, impediu que seu oponente alcançasse a marca de 100 pontos. No caso de Lakers (77), Jazz (84), Grizzlies (83) e Pacers (75), nem passaram dos 90, na verdade.

Você olha para o elenco em geral e não encontra brutamontes ou jogadores ferozes, intimidadores, certo? Mas se deixar se levar pelas aparências, vai ter uma ingrata surpresa.”A envergadura deles em todas as posições, a capacidade atlética, a velocidade e agilidade, todas tremendas”, afirma Dwane Casey, técnico do Toronto Raptors, e coordenador defensivo do Dallas campeão de 2011 e de alguns grandes times do finado SuperSonics, nos tempos de George Karl.

Homens brancos sabem defender: Korver preenche espaços

Homens brancos sabem defender: Korver preenche espaços

“Eles se parecem muito com o San Antonio, por razões óbvias”, disse Frank Vogel, técnico do Indiana que entende uma coisa ou outra sobre marcação sufocante, depois de ver seu time esmigalhado. “Eles jogam duro para valer. A intensidade e a tenacidade deles é admirável. Eles grudam no seu peito a cada corta-luz. Eles passam por cima de qualquer corta-luz. São dedicados e estão entrelaçados em um bom esquema. Além de ter bons defensores individualmente, como Teague e Millsap com as mãos, Bazemore, a inteligência de Korver, que pode ser criticado por sua mobilidade, mas na verdade é um defensor muito, muito bom. Horford também é forte. Eles têm um talento muito bom para a defesa e são obviamente muito bem treinados.”

Se são dominantes defensivamente, mas não conseguem o sucesso da temporada passada, então a lógica é que o problema esteja localizado no ataque. Aí que, na hora de comparar os números de uma temporada para a outra, encontra-se alguns dados interessantes. Em relação ao time que liderou a conferência em 2015, a versão atual caiu um pouco no aproveitamento geral de arremessos, mas não foi nada drástico: na medição que leva em conta chutes de dois e três pontos mais os lances livres (“True Shooting”), o time caiu de terceiro para sétimo (indo de 56,3% para 55,1%). O quanto representa de queda 1,2% nessa estatística? Na temporada atual, é o que separa o Thunder do Clippers, de terceiro para quinto. Por outro lado, o time segue com uma proposta solidária: é o segundo com mais cestas assistidas na liga, melhorou sua frequência de assistência x turnover e até mesmo acelerou o ritmo, passando de 20º a 10º.

O que acontece, então?

Tem de fuçar mais um pouco até chegar aos tiros arremessos de três pontos, que são obviamente parte integral de seu sistema (estão em sétimo entre aqueles que mais arriscam de fora). Nota-se uma boa diferença, com a equipe caindo de 38% para 34,8%, ou de segundo no geral para 15º, e aí que chega a hora de falar um pouco sobre Kyle Korver.

O ataque de Bud sente a falta da ameaça que o ala representou na temporada passada, quando ficou muito perto do clube dos 50%/40%/90%, chegando ao All-Star Game pela primeira vez na carreira, dias antes de completar 34 anos de idade. Seja pela dificuldade de se recuperar de uma cirurgia no tornozelo, que atrapalhou suas já legendárias atividades físicas no período de férias, ou pelo simples envelhecimento, sua pontaria nos arremessos de fora baixou de 49,2% para 40,3%. Claro que ainda é um ótimo índice. Mas essa queda tirou o líder em aproveitamento no campeonato passado do grupo dos 20 primeiros até a semana passada – agora está em 18º.

Ainda assim, Korver ainda representa uma grande ameaça na cabeça dos defensores e estrategistas. Claro que você não vai deixá-lo livre, só porque ele não mata mais quase 50% de suas tentativas. Né? (Risos). Ainda assim, seu impacto gravitacional é menor este ano. Por gravidade, aqui, entenda o quanto sua presença em quadra interfere no posicionamento de seus oponentes, seja seu marcador específico ou outros atletas que se distraiam para conter sua ameaça. De jogador com o maior saldo de pontos na Conferência Leste em 2014-15 (10,9 por 100 posses de bola, numa das estatísticas mais legais do ano passado, mostrando o quanto o basquete vai além dos highlights), passou a quinto, sendo superado pelo trio LeBron-Love-Irving e Kyle Lowry, com 6,0 pontos. Nada mal, ainda na elite. Mas abaixo do nível espetacular em que havia jogado, quando a simples possibilidade de ele aparecer livre no perímetro significava pleno terror para os oponentes:

Só um adendo: claro também que não cai tudo nas costas de Korver aqui. No perímetro, o time também sente a falta de Carroll (algo que qualquer scout, cinco anos atrás, consideraria uma coisa maluca de se dizer). O ala matou 39,5% de seus chutes de três em sua última temporada pelo Hawks. Em seu lugar na rotação, Kent Bazemore vem convertendo 36,3%. E a vaga de reserva de Bazemore herdada por Tim Hardaway Jr. também valeu uma queda de 36,4% para 33,0%. Millsap também ficou para trás, de 35,6% para 31,1%. Da turma que mais atira, só Teague cresceu, de 34,3% para 40,1%, algo que vinha passando batido, confesso. O armador está logo abaixo de Korver no ranking geral da liga. Além disso, a boa notícia para Budenholzer é que o ala tem esquentado a mão vive em março seu melhor mês nesta campanha, chegando a 53,1% de aproveitamento nos chutes de três, com 4,9 tentativas por partida. Essa guinada coincide justamente com as oito vitórias em dez jogos do Hawks.

Agora é conferir se o Hawks consegue apertar ainda mais o passo e a defesa e carregar sua boa fase rumo aos playoffs, ao contrário do que aconteceu no ano passado. Isso só reforçaria o impasse que a diretoria enfrenta. Se esse núcleo vai ser desmembrado neste campeonato, não sabemos. Enquanto o momento de refletir sobre planos de médio a longo prazo não chega, que eles desfrutem e continue sonhando e, quiçá, cantando.

A pedida? Uma revanche com o Cleveland Cavaliers na final do Leste.

De assistente a todo poderoso em Atlanta

De assistente a todo poderoso em Atlanta

A gestão: ao imprimir em seu cartão de negócios os cargos de presidente e técnico, Mike Budenholzer entrou em um seleto grupo na NBA, ao qual só pertencem hoje Pop, Doc, Stan Van Gundy e… só (#FlipRIP). É impressionante sua ascensão, não? De assistente em San Antonio por 17 anos a todo poderoso em Atlanta em duas temporadas. Pois é: estudar no Institituto Instituto Gregg Popovich & R.C. Buford Spursiano de Basquete por tanto tempo tem suas vantagens, mas não deixa de ser notável que, após duas boas campanhas do time, tenhas ido promovido a chefão das operações esportivas do clube após o afastamento de Danny Ferry (e há quem diga que o antigo chefe, quem lhe ofereceu uma tão demorada e aguardada chance, se ressinta com isso).

SVG vai dando sinais de que é possível em Detroit. Rivers, por outro lado, já tem um número suficientes de trapalhadas em Los Angeles para Steve Ballmer repensar essa decisão. Pop é o presidente do Spurs, mas a divisão de trabalho no escritório talvez seja no máximo de 50/50 com Buford. Não só é raro ver alguém acumular ambos os cargos, como mais difícil ainda que vire um caso de sucesso. Mencionar Red Auerbach ou Pat Riley não vem ao caso. A liga mudou muito de lá para cá e, no caso de Riles, o título de 2006 nem conta, pois foi algo praticamente efêmero, já que ele assumiu o time no meio da jornada e, dois anos depois do título, o Miami já estaria fora dos playoffs.

O Coach (& President) Bud ainda está sob avaliação. A troca de uma escolha de primeira rodada por Tim Hardaway Jr. é bastante questionável, ainda mais com tantos jogadores interessantes disponíveis numa valiosa 15ª posição. Vamos lá: Kelly Oubre Jr., Justin Anderson, Bobby Portis e, meu candidato favorito, Rondae Hollis-Jefferson, para citar só aqueles que estavam bem cotados à época e que preencheriam lacunas no elenco, embora nem sempre você precise fazer uma seleção de impacto iminente. Além disso: não dá para esquecer que essa escolha veio de Brooklyn, como fruto da vantajosa troca de Joe Johnson – isto é, queimaram um cartucho. A troca indireta de Justin Holiday por um aluguel de alguns meses de Kirk Hinrich, que não deve nem jogar, também reflete uma mentalidade imediatista. Como é de praxe: técnicos querem melhorias para já. O futuro? Cuidemos depois.

A absorção do contrato de Tiago Splitter foi uma boa tacada. Só convenhamos que, vindo de San Antonio, foi praticamente um acordo de compadre. Outra negociação que envolve um brasileiro foi positiva: a espera por Kris Humphries no mercado de “buyouts” – em 2016, o ala-pivô é um jogador mais produtivo do que Anderson Varejão, que era visto por diversos scouts consultados pelo blog como “opção natural” para a equipe. De resto, todo o elenco do Hawks é uma herança de Ferry: Bazemore, Sefolosha, Walter Tavares, Schrödinho etc. Vamos ver como eles vão se sair em um verão (setentrional) importantíssimo, no qual terão espaço salarial considerável, ainda mais se Horford partir.

Splitter poderia ter feito muito por Atlanta. Mas o quadril não permitiu

Splitter poderia ter feito muito por Atlanta. Mas o quadril não permitiu

Sobre Bazemore, o Hawks tem outra preocupação para julho. O ala também vai virar agente livre e, de acordo com a expectativa geral de scouts e executivos, vai interesse de muitos clubes, podendo ganhar um aumento de mais de 500% em seu salário de US$ 2 milhões. Sim, na nova NBA um jogador atlético, com chute razoável de fora e que defende múltiplas posições no perímetro, só com restrições a oponentes muito altos e físicos, vai ganhar mais de US$ 10 milhões tranquilamente – é o atual salário de Danny green. Será uma bonança financeira para acolher um número reduzido de atletas no auge da carreira.

E aí há um ponto para se monitorar em futuras operações do clube: tanto Bazemore como seu antecessor no time titular, DeMarre Carroll, foram alvos baratos, de jogadores pouco falados, que se mostraram certeiros, lucrativos. O problema? Os contratos foram muito curtos. Então lá se foi um Carroll, que evoluiu uma barbaridade em Atlanta e foi ganhar uma bolada em Toronto. Paul Millsap quase se mandou. Pode acontecer o mesmo com Bazemore.

Olho nele: Paul Millsap

Desde que saiu de Utah, o ala-pivô foi eleito para a seleção do Leste do All-Star Game em todas as três temporadas seguintes. Antes de renovar seu contrato, recebeu uma oferta de US$ 20 milhões anuais do Orlando Magic. Quer dizer: já se foi o tempo em que Millsap poderia ser considerado “subestimado”. Ele pode não vender carro, navio ou avião. Não é um darling do marketing. Mas os técnicos não estão nem aí para isso.  Pudera: poucos podem igualar o nível de atividade, versatilidade e produtividade do veterano de 30 anos, que contrariou muitos scouts ao se tornar essa estrela.

Nesta temporada, só quatro jogadores têm um mínimo de 15,0 pontos, 8,0 rebotes, 1,0 toco, 1,0 roubo em média: Kevin Durant, Boogie Cousins, Anthony Davis e Millsap. (Se for para acrescentar um filtro de 3,0 assistências por partida, Davis sai da jogada). Não é um fato isolado. Desde 2011, só Anthony Davis, Boogie Cousins e Dwight Howard se juntariam ao veterano. Para um cara que foi escolhido na 47ª posição de seu Draft, nada mal.

dikembe-mutombo-card-hawks-1998-99Um card do passado: Dikembe Mutombo. A última vez que o Atlanta se meteu entre as melhores defesas da NBA foi na temporada 1998-99, ano pós-locaute, quando este distinto senhor congolês tomava conta da tabela, talvez já aos seus 40 anos de idade, segundo a desconfiança da época. Aí fica fácil, né? Com Dikembe Mutombo Mpolondo Mukamba Jean-Jacques Wamutombo (se você tem a chance de escrever o nome completo desta muralha em forma de pessoa, não dá para hesitar), só não defende quem não quer. Seu time teve a segunda defesa mais eficiente da liga, atrás somente do, coincidência, Spurs.

O africano teve média de 2,8 tocos em sua carreira, que se estendeu de 1991 a 2009. No meio do caminho, passou cinco anos em Atlanta, fazendo parte de um time competitivo, mas não o suficiente para se distinguir em uma Conferência Leste pesada, com Bulls lá na frente e Pacers, Knicks e Heat num pelotão intermediário. Das quatro vezes que foi eleito Defensor do Ano, duas aconteceram em Atlanta, numa dobradinha entre 1997 e 1998. Ironicamente, no ano em que o Hawks teve seu melhor rendimento, Alonzo Mourning foi eleito. Para Georgetown, tudo bem: ficou em casa – aliás, entre 1996 e 2001, só deu Mutombo ou Mourning nesse quesito.

Voltando àquele Atlanta, é preciso dizer que Mutombo não estava sozinho. A defesa comandada por Lenny Wilkens tinha o ultra-agressivo Mookie Blaylock para pressionar a bola (seu reserva, Anthony Johnson, também dava trabalho na linha de passe) e três alas-pivôs experientes e centrados para consolidar uma linha de frente muito forte no rebote e de posicionamento: Grant Long, LaPhonso Ellis e Alan Henderson.


Mais uma na conta de Pierce. Na vitória do Wizards, essa e outras verdades
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Giancarlo Giampietro

Começaram os playoffs, né?

Desde aquele jogo histórico há uma semana, um clássico instantâneo de Chris Paul, as coisas começaram a pegar fogo. Depois da cesta milagrosa de Derrick Rose em Chicago, para deixar os sonhos do torcedor do Bulls mais intensos, foi a vez de Paul Pierce aprontar mais uma neste sábado, para dar a vitória ao Washington Wizards contra o Atlanta Hawks. A equipe da capital venceu por 103 a 101 e reassume a liderança da série, por 2 a 1. Mais um final emocionante.

O que aprendemos com esse jogo?

Bem, primeiro que é muito difícil você contrariar A Verdade. Paul Pierce, no caso.

Paul Pierce: uma verdade difícil de se contrariar na hora da decisão

The Truth: difícil de se contrariar na hora da decisão

Não importa se tem John Wall, se tem Bradley Beal, se tem Marcin Gortat. Na caminhada firme do Wizards nestes playoffs, o técnico Randy Wittman já sacou que, para definir um jogo na última bola, não há caminho melhor que colocar a bola no veterano astro, que ainda está em forma e nunca permitiu que sua confiança caísse para o nível dos meros mortais.

Tudo bem: essa mensagem já é meio batida, mas Pierce fez questão de reforçá-la para evitar uma derrota catastrófica no quintal de Obama.

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Fora isso, no entanto, há uma outra mensagem que o jogo passou, uma que deveria ter impacto maior para qualquer um envolvido com (ou apaixonado por) um jogo de basquete: a história da liga americana diz que são os supercraques que resolvem a parada em quadra, mas isso não quer dizer que você não consiga sobreviver sem eles.

Já havia acontecido com o Los Angeles Clippers vencendo o Houston Rockets sem Chris Paul – mas aí estaríamos falando de uma meia verdade, uma vez que Blake Griffin está jogando como um autêntico MVP durante toda essa fase decisiva. Neste sábado, porém, o repeteco se mostrou valioso: sem John Wall, afastado por tempo indeterminado, enquanto o inchaço em sua mão esquerda não diminui, o Wizards fez uma grande partida com base no coletivo e construiu larga vantagem. No quarto período, a vantagem de até 20 pontos se evaporou, claro. Mas aí que as coisas ficam mais legais: pois foi a segunda unidade de Mike Budenholzer que tirou toda essa diferença.

John Wall foi forçado a atuar como torcedor e assistente neste sábado

John Wall foi forçado a atuar como torcedor e assistente neste sábado

Ok, vamos evitar ser simplistas: obviamente que  ajuda ter um Derrick Rose, mesmo que a 80% de sua capacidade. Ele pode fazer a diferença aqui e ali, mas LeBron, um Wade ou Bosh no time. Os três juntos, então? Afe: isso pode resultar em até quatro finais consecutivas. Mas o Miami só conseguiu seu título quando os três foram fundidos num só time. Um time de verdade. Sem o devido contexto, conjunto, todos eles ficam pelo caminho.

E foi com uma abordagem exemplar que o Washington conseguiu vencer três quartos por 85 a 66, com pontuação distribuída por diversos atletas, boas trocas de passe, num bom e velho jogo solidário. Agora essa é a parte em que você pode falar: ué, mas não é que o John Wall arremesse 30 bolas por jogo feito Westbrook ou Kobe. Sim, não, mesmo. Mas Wall dominava o jogo para o Wizards de outra forma, com sua habilidade para quebrar a primeira linha defensiva, ganhar terreno e criar para os companheiros. Nas cinco partidas que realizou, o armador gerou 30,8 pontos em assistências – 11 a mais que James Harden, o segundo da lista. Some aí os 17,4 pontos que lee fazia por conta, e temos um número absurdo para quantificar sua influência no time.

Nenê: 17 pontos, 7 rebotes, 4 assistências, 7-9 nos arremessos, em 30 minutos

Nenê: 17 pontos, 7 rebotes, 4 assistências, 7-9 nos arremessos, em 30 minutos

Seria facilmente compreensível se o time perdesse controle. Mas, não. Sentado no banco, a jovem estrela ficou toda orgulhosa ao ver seus companheiros distribuírem 27 assistências para 37 cestas de quadra. Ramon Sessions, titular provisório, deu seis assistências, duas a menos que Bradley Beal. Nenê e Otto Porter Jr. contribuíram com quatro cada. Marcin Gortat, com três. Cada um assumindo um quinhão de responsabilidade. Sete jogadores terminaram com pontuação entre 8 e 17, com Beal e Nenê sendo os cestinhas.

O brasileiro, aliás, fez o que podemos considerar sua estreia no confronto. Depois de passar batido nas primeiras duas partidas, sem nenhuma cesta de quadra, o pivô converteu sete de nove arremessos. Emblemático que, num esforço coletivo, ele tenha brilhado: vários de seus técnicos já pediram para que grandalhão fosse um pouco, pelo menos um pouco mais egoísta e usasse sua habilidade com a bola para chamar mais jogadas.

O que aconteceu no quarto período? Simples complacência por parte do time da casa, um clima de “já ganhou”, ainda mais quando Budenholzer sacou todos seus titulares e limpou o banco de reservas, pondo em quadra até mesmo Shelvin Mack, ex-Washington. É um momento sempre perigoso, não só pelo risco de se menosprezar o adversário do outro lado, mas principalmente por tirar sua própria equipe do trilho.

A bola parou de rodar da forma apropriada. Vimos Will Bynum queimar um ou outro chute de média distância sem passe, por exemplo. Duas ou três posses de trapalhada, e a vantagem já estava em dez pontos, restando cinco minutos. Aí a pressão aumenta, e, quando o time vai ver, já não consegue retomar o ritmo de dez minutos atrás. Enquanto o oponente está sedento, acreditando numa virada salvadora. Foi quase, porém. Os reservas do Hawks podem ter saído decepcionados, mas não deveriam ficar cabisbaixos de modo algum.

Dennis Schröder deu mais indícios de que logo mais vai poder ter o seu próprio time para conduzir. Uma das melhores defesas da liga simplesmente não conseguia conter o alemão, que anotou 16 de seus 18 pontos no quarto final. Aceleração máxima rumo ao aro, bandejas, assistências e faltas recebidas. Ao redor dele, durante quase toda a parcial, estavam Mike Scott, Kent Bazemore, Mack e Mike Muscala. Sim, Muscala, o pivô draftado pela franquia em 2013 na segunda rodada, 28 posições atrás de Lucas Bebê e que jogou na temporada passada ao lado de Rafael Luz na Espanha. O mesmo que converteu uma bola de três a 14 segundos do fim, para empatar o placar.

Budenholzer até utilizou Jeff Teague nos primeiros cinco minutos do quarto, colocou Korver na vaga de Bazemore a 3min42s do fim e chamou DeMarre Carroll para uma defesa a 23 segundos. No geral, porém, abraçou os suplentes da mesma forma que seu mentor, Gregg Popovich, fez em diversas ocasiões pelo Spurs. Mesmo com o jogo parelho no final, deixou a cavalaria fora, premiando o esforço dos coadjuvantes, ao mesmo tempo que dava um recado aos principais atletas, que fizeram um jogo apático demais. A segunda unidade que se comportou como um time verdadeiramente empenhado em lidar com os problemas apresentados em quadra sem esperar pela aparição de alguma figura messiânica.

Até que…

Sim, um personagem com essa aura brilhou no último ataque. Pierce já não é mais o cara do Boston Celtics, obviamente. Não aguenta carregar um time durante toda a temporada. Se o que temos é a oportunidade de matar uma partida com a última bola, no entanto, aí muda a história. Aí é como se ele fosse aquele supercraque. Pronto para finalizar o serviço preparado por todo um time.


Prêmios! Prêmios! Os melhores do Leste antes do All-Star
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Giancarlo Giampietro

Estamos na fase de premiação, né? Logo mais o Boyhood deve, precisa, merece ganhar os prêmios mais importantes na cerimônia do Oscar. Bem longe do glamour de Hollywood, aqui na base do conglomerado 21, sediado na Vila Bugrão paulistana, é hora de olhar para o que aconteceu em mais de metade da temporada da NBA e distribuir elogios. Claro que elogios totalmente irrelevantes para os astros da NBA, mas tudo bem.

De primeira, saímos com a Conferência Leste, que é uma tristeza que só, com exceção desta galera aqui:

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

MVP: O quinteto do Atlanta Hawks. Se a NBA pode escolher, oficialmente, os cinco para “Jogador do Mês de Janeiro”, por que um blog raé do Brasil não poderia? Al Horford, com suas múltiplas habilidades, é o principal jogado do líder da conferência, mas não dá para pinçar um, e só, no jogo bonito de Atlanta. A influência de Korver é muito difícil de ser medida em estatísticas, mas obviamente que as defesas entram em pânico diante da possibilidade de ele ficar livre por dois centímetros na linha de três pontos. Paul Millsap, com seu arsenal ofensivo impressionante, dá a Mike Budenholzer muita flexibilidade. Jeff Teague vai resolver as coisas na hora do aperto, entrando no garrafão com facilidade. DeMarre Carroll faz o serviço sujo e ainda desenvolveu seu tiro exterior. Esse time é uma verdadeira máquina.

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Lowry mereceria o prêmio em novembro, dezembro talvez, mas deu uma esfriada. John Wall já o superaria, para mim, devido a sua consistência e imposição física em quadra. Pelo andar da carruagem, porém, um certo Rei de Cleveland deve aparecer aqui ao final da temporada, como o MVP do Leste – mas que dificilmente vai recuperar o terreno perdido, nas minhas contas, para Monocelha, Curry e Harden no geral. LeBron vem jogando muito desde que retornou de sua licença premiada, mas isso significa que, por ora, são apenas algumas semanas de alto nível (para os seus padrões). Antes de sua parada, para botar o corpo e a cuca em dia, o astro reclamou demais e deu contribuição significativa para os tropeços do Cavs. Ah, e Pau Gasol, rejuvenescido longe da sombra de Mike D’Antoni, lidera a liga em double-doubles, com 33 até esta segunda-feira.

Melhor treinador: Mike Budenholzer. Por causa disto tudo aqui. É muito difícil instaurar o tipo de química que vemos em quadra em Atlanta, gente, e o Coach Bud aprendeu direitinho depois de anos e anos como assistente de Gregg Popovich. Jason Kidd, guiando um elenco jovem, valente e extremamente versátil em Milwaukee, seria minha segunda opção. Acho que muitos subestimaram a qualidade do plantel do Bucks. Mas não esperava que fosse encontrá-los com aproveitamento superior a 50% no início de fevereiro. Kidd começou muito mal como chefe do Brooklyn Nets na temporada passada, mas se ajustou no decorrer da campanha e se revela um treinador do tipo que adoro: aquele que sabe aproveitar o que tem em mãos, em vez de forçar os jogadores a se entregarem completamente ao ‘seu’ sistema. Dwane Casey também precisa ser mencionado, pelo excelente trabalho que faz em Toronto há um tempinho já. Outro elenco que rende muito mais por conta de química do que pelo talento individual de suas peças.

Sobra até Derrick Favors para Middleton na defesa

Sobra até Derrick Favors para Middleton na defesa

Melhor defensor: Khris Middleton. Quem? James Khristian Middleton, nascido em Charleston, no dia 12 de agosto de 1991. Ele, mesmo, o ala titular do Milwaukee Bucks que está envolvido diretamente no esquema agressivo orquestrado por Jason Kidd. O técnico quer ver seus atletas trocando a marcação constantemente. Isso requer muita atenção aos detalhes e, ao mesmo tempo, perna firme e resistente. Middleton, aos 2,01 m, é forte e ágil para dar conta de marcar um ala-armador ou um ala-pivô (isso, claro, se não for um brutamontes como David West ou um gigante que nem Pau Gasol… Vai depender de quem estar do outro lado). Na melhor defesa da conferência, ele causa o maior impacto: o Bucks toma 8,9 pontos a mais, a cada 100 posses de bola, quando ele está descansando no banco.

DeMarre Carroll e Al Horford oferecem a mesma versatilidade ao Hawks. John Wall pressiona demais o drible do adversário com agilidade e tamanho, e ainda protege o aro em transição e vindo do lado contrário e comanda a forte defesa do Wizards, com uma boa ajuda de Nenê na cobertura. Quando Michael Kidd-Gilchrist está em forma, o Charlotte Hornets se posiciona entre as dez melhores retaguardas.  É muito estranho escrever este parágrafo sem mencionar Joakim Noah e Taj Gibson, mas, ao que parece, os anos de trabalho puxado com Thibs cobram, invariavelmente, um preço. Os dois não têm conseguido repetir as performances sensacionais do campeonato passado, e acredito que isso tem muito mais a ver com um desgaste físico e mental do que a chegada de Pau Gasol, que lhes rouba minutos e toques.

Melhor sexto homem: Lou Williams. Um Jamal Crawford mais baixinho, mas muuuuito mais eficiente, . A missão de Lou é criar arremessos por conta própria.  Rasual Butler – virge! – já resolveu uma porção de jogos para o Wizards saindo do banco 98,5% das vezes com a mão já pegando fogo. Aaron Brooks se encaixou perfeitamente no módulo de “Armador Tampinha Reserva do Chicago Bulls”, mas ninguém mais parece notar sua existência. Dennis Schröder causa o mesmo impacto pelo Hawks. Em Milwaukee, são diversos reservas qualificados, mas nenhum que desponte.

Em Toronto, é "Loooooooouuuu" sempre que ele pega na bola

Em Toronto, é “Loooooooouuuu” sempre que ele pega na bola

Jogador que mais evoluiu: Hassan Whiteside. Ele jogou o ano passado no Líbano. Hoje, representa uma dor-de-cabeça para 29 equipes que não lhe ofereceram nem mesmo um contrato não-garantido antes de a bola subir. Mais detalhes aqui. O engraçado é que Jimmy Butler, até outro dia desses, parecia a maior barbada de toda a liga nessa categoria, independentemente da conferência. O que o ala do Bulls ralou para elevar seu jogo ao patamar de All-Star vale como exemplo para qualquer jogador subestimado na liga. Talvez seja precipitado indicar Whiteside, pelo fato de ele ter jogado pouco até agora. Vamos ver se dura até o final da temporada. Jeff Teague também deu um belo salto, passando de jogador “ok, muito bom” para “putz grila, excelente”, algo nem sempre fácil de se fazer.

Melhor novato: Nikola Mirotic. O que é uma injustiça, né? De calouro, o montenegrino naturalizado espanhol não tem nada. Muito menos a barba. De qualquer forma, poder qualificar Mirotic “tecnicamente” como novato nos livra a cara aqui, pois seria difícil seguir em outra rota. As lesões não deixaram Jabari Parker, Marcus Smart e Aaron Gordon competir adequadamente aqui. Elfrid Payton é o estreante que joga mais pressionado, com máxima responsabilidade devido a sua posição, e faz um trabalho competente em diversas esferas menos aquela que pede cestas – o mesmo problema para Nerlens Noel.

Primeiro time
Jowh Wall
Kyle Lowry
Jimmy Butler
LeBron James
Al Horford

Segundo time
Jeff Teague
Dwyane Wade
Kyle Korver
Paul Millsap
Pau Gasol

Terceiro time
Kyrie Irving
Brandon Knight
Khris Middleton
Chris Bosh
Greg Monroe

Observações: fiquei entre Kemba Walker e Brandon Knight na terceira formação, e aí preferi decidir pela melhor campanha do Bucks, ainda que Walker tenha levado o Hornets nas costas enquanto Al Jefferson estava lesionado e Lance Stephenson curtia sua piração, até ser afastado por causa de uma cirurgia no joelho. Middleton ganha a vaga que seria de Carmelo Anthony, mas não dá para botar um time com aproveitamento abaixo de 20%. Por números, pode parecer um crime excluir Nikola Vucevic. Se for assim, desde que Josh Smith foi mandado para um breve exílio, Monroe vem abafando – inclusive seu companheiro Andre Drummond. Wade jogou pouco, mas o suficiente para entrar aqui – sem ele, o Miami Heat estaria completamente atolado.

Nesta quarta, sai a lista do Oeste.


Chegou a hora de aceitar o Atlanta Hawks como sério candidato
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Giancarlo Giampietro

Estão aí para ficar

Estão aí para ficar

Há alguns caminhos básicos para aceitar um time qualquer como favorito, ou forte candidato ao título. Cada vez mais se valoriza números e números, dentre os quais o saldo de pontos acumulado durante a campanha se destaca como um grande indicador para além da óbvia comparação entre vitórias e derrotas. O seguidor mais conservador pode se apegar a outros fatores como a quantidade de superestrelas em um elenco e o retrospecto, histórico recente dessa equipe nos mata-matas. Ainda assim, essa abordagem também tem uma base empírica, já que são raríssimos os casos de clubes que conquistaram a NBA sem contar com um craque transcendental em sua formação.

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Tanto que o Detroit Pistons virou a menção obrigatória de exceção dessa regra, com os Wallace que não eram irmãos e a dupla entrosadíssima de Billups e Hamilton. Todos All-Stars, bem acima da média, que se entenderam muito bem e entraram para os livros históricos. Mas nenhum deles vai entrar no panteão. O Spurs de 2014 poderia até entrar nessa lista também, mas vai depender de como você avalia o fato de a equipe contar com Parker, Duncan e Ginóbili, que já não estavam no auge mais, mas cujo currículos causam, de qualquer forma, inveja em muita gente.

Deixemos os atuais campeões de lado, todavia. Ou melhor: nem tanto, já que, para falar sobre o Atlanta Hawks, não dá para ignorar o fator #SpursDoLeste, com um time armado sob os mesmos princípios saudáveis que Gregg Popovich consolidou em San Antonio. Em seu segundo ano de trabalho na Geórgia, Mike Budenholzer vai obtendo resultados incríveis. Nesta quarta, por exemplo, ele já se assegurou como o técnico da seleção do Leste no All-Star Game, com a melhor campanha da conferência, por ora inatingível. Seus atletas venceram 28 das últimas 30 partidas que disputaram, vindo de 14 vitórias seguidas, igualando o recorde da temporada 1993-94. Os falcões estão voando, mesmo, como nunca antes na história da franquia. Ainda assim, guiada por princípios históricos – resumidos na marcante frase de Jordan sobre crianças, homens e playoffs –, a crítica demorou a reconhecê-los como séria ameaça na liga americana. Pode incluir esta besta quadrada aqui nesse pacote. Pode, também, esquecer qualquer preconceito. O Atlanta veio para ficar.

Não quer dizer que o título é deles já, de modo antecipado. Que seja impossível de perder. Qualquer lesão de Al Horford, Jeff Teague, Kyle Korver e Paul Millsap já os deixariam em maus lençóis. O Washington segue jogando de igual para igual com a maioria dos grandes. Mesmo em espiral, Toronto não pode ser desrespeitado. Para não falar de Chicago e Cleveland, esses, sim, os conjuntos estelares, que vão chegar aos mata-matas, independentemente da histeria ao redor de ambos. Importante dizer que todos esses times já foram surrados pelo Hawks. De qualquer modo, muita coisa pode acontecer em 40 partidas, em três meses de temporada regular até a chegada aos mata-matas.

Se tivéssemos, no entanto, a chance de congelar o tempo e deslocar esse Hawks de hoje, 22 de janeiro de 2014, e descolá-lo para os primeiros dias de abril, teríamos no páreo um favorito, e tanto. Favorito e encantador, ainda que sem o sex appeal de um Golden State Warriors comandado por um técnico tão carismático e vitorioso e liderado em quadra por um talento precioso como o de Stephen Curry.

O irônico é que o gerente geral Danny Ferry, ainda afastado por uma gafe-ou-comentário racista, fez de tudo para contratar a chamada superestrela. Alguém da estirpe de Curry – ou do ala-pivô Bob Pettit, que guiou a equipe nos tempos de St. Louis ao título em 1958, desbancando Bill Russell, Red Auerbach e o Celtics. Foi atrás de Chris Paul e Dwight Howard, nativos da Geórgia, quis também se reunir com Carmelo e LeBron. Dikembe Mutombo, Joe Johnson e Isaiah Rider (risos) que nos desculpem, mas o clube não conta com ninguém desse porte desde as cravadas inigualáveis de Dominique Wilkins nos anos 80.

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Não rolou, claro. Fechou, então, com Millsap, Korver, DeMarre Carroll, Mike Scott, Pero Antic, Thabo Sefolosha e Kent Bazemore. E não é que deu certo? Com um basquete eficiente, consistente, de movimentação de bola totalmente solidária e arremessadores perigosos para quebrar qualquer sistema defensivo, de Thibs a marcação por zona, a turma de Al Horford está arrebentando. Ênfase em solidariedade, por favor. É um conceito que pode ser banalizado se usado a cada crônica de jogo, a cada análise de uma equipe. Neste caso, contudo, não precisa se preocupar, pois o termo cabe ferfeitamente.

O Atlanta é o segundo time em assistências por jogo, atrás do Golden State. Mas acho que já aprendemos que se basear apenas em números absolutos não cola mais, né? Cada equipe joga num ritmo, produzindo mais ou menos números. O melhor, sempre, é saber o quão eficiente o conjunto se apresenta. Então que tal conferir o ranking de assistências por posse de bola e ver que, nessa medição, eles aparecem em primeiro? Lideram também a coluna de percentual de cestas de quadra que são assistidas – o Spurs, observem, está em terceiro. Esse padrão se mantém para seus chutes de três pontos: apenas 7,1% dos tiros de longa distância decorrem de jogadas individuais, em vez de um passe, contra 9,2% do Spurs. Istoé, Jamal Crawford, Nick Young e JR Smith não teriamm espaço por lá. Nas bolas de dois pontos sem assistências, o percentual sem assistências é maior (39,9%, e aqui entram as infiltrações de Jeff Teague e Dennis Schröder), mas ainda é o menor da liga.  Por fim, na média de assistências para cada turnover, estão em terceiro. Nas últimas sete vitórias, em seis ocasiões eles bateram a marca de 30 assistências. Vamos todos juntos, então, repetir: jo-go so-li-dá-rio. Pode soletrar também, se achar necessário.

A excelente visão de quadra e a predisposição para passar a bola resultam, obviamente, numa bola seleção de arremessos. A equipe é a terceira no aproveitamento efetivo de arremessos, a medição que dá um pouco mais de valor para os arremessos de três pontos, já que… segundo minhas contas, três é maior que dois. Sim, Budenholzer também é um adepto dos arremessos de três como peça integral de uma ofensiva, tendo o segundo melhor aproveitamento da liga nesse quesito (atrás apenas do Golden State). O sistema do ex-assistente do Coach Pop enfatiza o chute de fora, mas não chega a ser obcecado como o Houston Rockets, sendo o nono que mais arrisca, mas com oito tentativas a menos que os texanos). Por ter um excelente rendimento, no entanto, é o quarto time que mais depende da bola de longa distância para gerar pontos.

Parêntese obrigatório aqui para o Sr. Kyle Elliot Korver, nascido no dia 17 de março de 1981, natural de Lakewood, na Califórnia. O que ele está fazendo nesta temporada não existe. Quer dizer: existe, mas é inédito – nunca um atleta terminou a temporada regular com mais de 50% tanto nos arremessos de dois como de dois e 90% nos lances livres. Seus números, respectivamente: 51,8%, 53,5% e 92,2%. Ele lidera a liga no aproveitamento do perímetro pelo segundo campeonato seguido. Sua habilidade neste fundamento faz com que seus companheiros ataquem com 4 contra 4, já que ele não pode ficar livre de modo algum. Ele transformou um chute de três em bandeja, gente. E aí que foi engraçado ver o cara enterrar nesta quarta contra o Indiana Pacers, em transição. Foi sua primeira cravada desde desde 16 de novembro de 2012, contra o Kings! No meio do caminho, ele matou 484 chutes de fora em 198 jogos. Vejam abaixo e, logo depois, seu esmeraldino gráfico de arremessos:

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

Korver merece estar no All-Star. Mas este também é o caso de Teague, jogando seu melhor basquete, Millsap, que vai receber uma bolada no mercado de agentes livres, e Horford, o faz-tudo perfilado por Zach Lowe com a maestria de sempre e que só não tem o status de superestrela por jogar em Atlanta e pelas lesões peitorais bizarras. Dificilmente os técnicos vão encontrar espaço no banco da seleção do Leste para fazer justiça a todos eles.

Ao menos eles não dão a mínima para isso. Millsap ficou todo orgulhoso ao ser selecionado no ano passado, mas vai sobreviver se a façanha não se repetir. O mesmo vale para os outros. Afinal, numa unidade dessas, é muito complicado separar o sucesso de um e o do outro. “Sentimos que temos peças realmente boas que combinam bem, e entendemos que temos de jogar juntos para ter sucesso”, diz o atirador de elite.

Korver e seu arremesso perfeito

Korver e seu arremesso perfeito

Depois de longa consulta nos números, são poucos os pontos fracos a serem apontados para um raro caso de time que está entre os dez melhores no ranking de eficiência ofensiva e defensiva (Golden State, soberano, e Portland são os outros). O máximo que dá para falar é de uma fragilidade nos rebotes. Na tábua defensiva, ocupa apenas a 18ª posição na coleta de rebotes disponíveis, situação da qual Greg Monroe e Andre Drummond tiraram proveito na segunda-feira (juntos, somaram 12 rebotes ofensivos). Além disso, o Hawks é o 19º em contra-ataques: apenas 11,6% de seus pontos saem em transição, contra 18,6% do Warriors, e também o 18º em lances livres (17,1%). Esses pontos, porém, não preocupam tanto, devido a sua excelência na execução em meia quadra. Para os mata-matas, porém, podem fazer falta.

Ah, claro, se for para falar de números, o pior de todos é o de público, o sétimo pior da liga, com 16.327 espectadores em média – 2.500 a mais que o lanterna Timberwolves. O torcedor de Atlanta tem demorado para se interessar pela excelente fase. A despeito do incidente com Ferry, passar os dias sem prestigiar essa equipe é um pecado. Contra o Pistons, no feriado em homenagem a Martlin Luther King, a arena teve capacidade esgotada (19.108). Contra o modorrento time do Pacers, nesta quarta, só 15.045 foram ao ginásio. A baixa audiência só não impede que o valor da franquia tenha subido quase 100% no último ranking divulgado pela Forbes.

Vale mencionar também que o Hawks encarou até o momento a quinta tabela mais fraca da liga. Juntos, seus adversários têm aproveitamento de 48,9,%. Por outro lado, estão empatados com o Bulls nesse quesito. O Wizards, concorrente direto, teve a segunda jornada mais fácil, com 48%. O time de Budenholzer também fez mais jogos fora do que em casa (22 x 21, é verdade).

Então é isso: você precisa se esforçar para encontrar algum senão nessa jornada do Hawks, que se tornou apenas o terceiro time da história do Leste a somar 28 vitórias em um intervalo de 30 jogos. Os outros dois? Miami em 2012-2013 e Chicago em 1995-96, e ambos levaram o título.  Bastam mais três triunfos para que eles igualem as 38 da temporada passada (38). Com aproveitamento de 81,3% na atual campanha, a equipe cresceu até o momento 34,7%, o maior salto.

Recordes? All-Star? Favoritismo? Não que isso tudo valha algo para eles. “Todos nós sabemos de verdade que ainda não conquistamos nada”, disse Korver. “Eu amo quando a melhor equipe vence os melhores jogadores. Foi o que aconteceu nas finais do ano passado para mim.”

A final vencida pelo Spurs. Vocês sabem, o Hawks do Oeste.


Atlanta Hawks: comentário racista deixa time indefinido
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Se for para comparar o que ele estava fazendo em Atlanta com a operação que conduziu em Cleveland, Danny Ferry era um homem completamente diferente. O gerente geral do Hawks se livrou do supercontrato de Joe Johnson e ainda recebeu escolhas de Draft nessa – quando o inverso parecia necessário –, limpando sua folha salarial. Deixou Josh Smith ir embora, com todo o seu talento, mas toda a dor-de-cabeça que causa também. Contratou Paul Millsap por uma pechincha, conseguiu tirar Mike Budenholzer da sombra de Gregg Popovich. Tudo parecia muito promissor, um processo arrumadinho, à espera de mais uma grande contratação, ou de mais alguns bons negócios que pudessem levar a franquia para o topo no Leste.

Até que… Bomba.

Ferry e o Hawks: agora no limbo

Ferry e o Hawks: agora no limbo

O cartola usou a maldita frase: “Luol Deng tem um quê de África nele” (numa tradução livre, insinuando que havia algo de mentiroso por trás da boa imagem do ala) em conversa com os proprietários do clube, em teleconferência antes de abrir negociações com agentes livres, e a gravação vazou. Depois do escândalo envolvendo Donald Sterling, era tudo o que a NBA menos queria, de que menos precisava. O comentário lamentável forçou seu afastamento por tempo indeterminado – embora, pasme, não tenha causado sua demissão. E o Hawks, um dos times com maior dificuldade para encher seu ginásio e consolidar sua marca, despencou nos rankings de afabilidade da liga. Se é que isso era possível, e por mais que muitas fontes tenham saído em defesa de Ferry, dizendo que ele nunca foi conhecido como alguém de ideias ou comportamento racista. Até mesmo Deng. Mas não tinha jeito, o estrago estava feito.

“Quando fui trocado para o Hawks, não queria vir para cá porque, por tudo o que sabia e ouvia, falava sobre o ambiente ruim, sem torcedores, sem empolgação nenhuma na cidade. Fiquei muito chateado ao sair de Chicago. Mas depois aceitei renovar meu contrato. Depois de ver o que o Danny estava falando, as pessoas que ele estava trazendo”, disse Kyle Korver. “Estava ficando mais atraente, e eu realmente acreditava no projeto, com um potencial enorme na cidade. E aí acontece isso. Espero que, quando a poeira abaixar, que esse projeto continue. Qualquer um que conheça o jogo e tenha visto nossa transformação vai concordar. Mas é triste que isso tenha acontecido. Isso me deixa bem chateado.”

O time: em quadra, o Hawks vai tentar se livrar dessa frustração com um conjunto bem entrosado e, esperam, que possa desenvolver as ideias de Budenholzer, na segunda temporada sob sua orientação, com muita movimentação de bola e pick and rolls. Podem esperar ainda mais arremessos de três pontos, depois da segunda colocação no campeonato passado nesse fundamento. Que o diga Paul Millsap, por exemplo. O ala-pivô saiu de 39 chutes de fora em 2013 para 212 em 2014 (mais de 5 vezes mais) Com Pero Antic em quadra, o técnico pode escalar até cinco chutadores abertos, sem pestanejar. Para a defesa, Thabo Sefolosha e Kent Bazemore chegam para ajudar DeMarre Carroll, deixando a rotação mais vasta e forte. Fica a dúvida, porém, sobre a forma física de Al Horford. O pivô dominicano já sofreu bizarramente duas rupturas musculares no peito, tendo disputado apenas 11 jogos em 2011-12 e 29 na campanha passada. Com Horford, o Hawks teve 16 V e 13 D (55,1%). Sem ele,  22 V e 31 D (41,5%).

A pedida: essa é difícil de responder, não só devido ao afastamento de Ferry, mas porque o clube está à venda. O ex-jogador e comentarista Chris Webber já se candidatou a comprá-lo, apoiado por investidores. Supostamente, a atual configuração do Hawks vai jogar para entrar nos playoffs e tentar fazer um estrago. Se o vestiário estiver tumultuado, se Horford não se recuperar bem, porém, as coisas ficam bem mais complicadas numa conferência que ficou mais forte.

Al Horford, e sua lesão complicada no peito

Al Horford, e sua lesão complicada no peito

Olho nele: Dennis Schröder. O alemão abre sua segunda temporada, disputando os minutos de reserva de Jeff Teague com Shelvin Mack. Seu progresso é importante por diversos fatores. Não só porque Ferry (se ele ainda apitar alguma coisa, claro) não é dos maiores fãs do armador titular, mas porque o Hawks bem que poderia usar um atleta promissor como peça valiosa em uma eventual troca. Durante a pré-temporada, Schröder teve algumas boas exibições. Ainda precisa melhorar consideravelmente seu arremesso e ter um pouco mais de calma com a bola. Mas, aos 21 anos, segue um prospecto intrigante, com muita velocidade, envergadura e visão de jogo.

Você não perguntou, mas… O ala Mike Scott tem “muito mais de 20 tatuagens em seu corpo” (já não conta mais…), das quais ele estima que “80% ou 85% sejam emojis” – os emoticons que usamos no dia a dia de teclar. “É que uso muito os emojis quando estou trocando mensagens. Isso sou eu. É original”, disse ao Mashable. As pessoas agora estão usando, mas ninguém fazia dessas antes de eu entrar nessa”, afirmou o reserva, que, vez ou outra, causa um estrago no ataque.

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Abre o jogo: “Fica sempre na sua cabeça, mas, no final do dia, você tem de ir para a quadra e jogar basquete, independentemente de sua situação. Tenho de me concentrar neste ano, em um jogo de cada vez, sem olhar muito adiante. É ficar no presente” – Paul Millsap. O ala-pivô vai cumprir seu último ano de um curto contrato com o Hawks. Se Ferry, por um lado, acertou com o veterano por um preço muito abaixo do mercado, por outro assinou um vínculo curto.

Sergey Bazarevich, Hawks, rookie, EuroUm card do passado: hoje o Atlanta Hawks é uma das franquias de mente mais aberta para a contratação de estrangeiros. Para o lugar do assistente Quin Snyder – uma baixa bastante importante, diga-se –, por exemplo, foi contratado o croata Neven Spahija. Há 20 anos, porém, o armador Sergei Bazarevich era um peixe fora d’água ao chegar a Atlanta. O russo havia acabado de ganhar a medalha de prata no Mundial do Canadá, perdendo para a prespeira segunda versão do Dream Team, aos 29 anos. Então poderia ser um rookie de NBA, mas já era uma figura experimentada em basquete de alto nível. Sua passagem, porém, não foi das mais memoráveis: durou apenas 10 partidas, com 30 pontos e 14 assistências acumulados. Hoje, Bazarevich dirige o Lokomotiv Kuban, um dos times emergentes do basquete russo, que conta com o indomável Anthony Randolph em seu elenco.


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