Vinte Um

É Boban Marjanovic contra a teoria da evolução no basquete
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Giancarlo Giampietro

Gustavo Ayón, de 2,08m, vira só mais um baixinho

Gustavo Ayón, de 2,08m, vira só mais um baixinho

A natureza – e o basquete – sempre dão um jeito de se reinventar, não?

(E que tal começar filosofando assim numa sexta-feira?)

No mundo todo, há muita gente pelo menos 35 vezes mais inteligente que um mero blogueiros que já tenha declarado a extinção dos dinossauros. Ou melhor, a extinção do pivô-cincão-gigante-jogando-de-costas-para-a-cesta-lento-toda-a-vida-mas-que-faz-estragos. Você pega o Miami Heat bicampeão da NBA em 2012-2013, os texanos Mavs e Spurs nas outras pontas (2011 e 2012), a seleção norte-americana reassumindo o controle das competições Fiba, o Flamengo, o Bauru… Enfim, são diversos os casos que comprovariam essa tese. Eles listam, sim, pirulões em seus elencos, mas são caras extremamente ágeis, explosivos, dinâmicos (como Tyson Chandler, Jerome Meyinsse, Mason Plumlee, Tiago Splitter etc., cada um na sua). A velocidade é o que manda em quadra.

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Só não dá para aplicar a teoria evolucionista assim tão friamente, gente. Ao menos não no esporte – que o diga Barcelona, com todos os seus tampinhas encantadores, subvertendo um darwinismo que parecia exigir de um jogador de futebol um mínimo de 1,85 m de estatura. No basquete, não seria diferente. Para cada ação, há uma reação. E, mesmo isoladamente, vão surgir casos que desafiam a regra vigente. Aí chega a hora de apresentar para o basqueteiro brasileiro mais incauto a figura imensa que se chama Boban Marjanovic, do Estrela Vermelha.

Para quem está ligado nas transmissões semanais de Euroliga no Sports+, o pivô não é novidade alguma. Agora, como ele não jogou a última Copa do Mundo e anda afastado da seleção sérvia, não foi draftado por nenhum time da NBA e só defendeu o Atlanta Hawks numa liga de verão ao lado de Lucas Bebê, pode ser que Marjanovic ainda seja um anônimo em geral. Urge, então, apresentá-lo.

Marjanovic nasceu na cidadezinha de Inđija, que tem área de 384 km² e cuja população não passa dos 50 mil habitantes. Foi revelado nas pelo Hemofarm, um tradicional clube de base da Sérvia – Darko Milicic também saiu de lá. Completou 26 anos em agosto passado. Ah, e e estava esquecendo já: ele tem 2,21 m de altura. Ou 2,22m. Ou 2,23 m, dependendo da fonte. Ele, vocês entenderam, é IMENSO. E não deveria ter espaço no basquete de hoje. Não só conseguiu se manter em quadra, porém, como é o jogador mais produtivo do segundo principal campeonato de clubes do mundo.

O sérvio lidera a competição em índice de eficiência tanto na medição normal, como por minuto. É o oitavo cestinha, com média de 15,7 pontos, o principal reboteiro, com 9,9, acerta 63,2% de seus arremessos de dois pontos (sendo o 13º) e sofre 3,85 faltas por jogo (o 13º também). Alguns detalhes, antes de seguirmos adiante: as equipes da Euroliga têm tabelas diferentes, então os números vêm com um asterisco; sobre as faltas: seriam muito mais, pode ter certeza, não fosse pelo fato de ele converter 74,6% de seus lances livres. Não é inteligente tentar parar o pivô na marra, então, embora muitas vezes seja a única alternativa quando o cara recebe a bola a um raio de cinco metros do aro, em situação de isolamento. Isso causa problemas sérios.

''Marjanovic é um dos jogadores mais dominantes da competição. É um jogador que proporciona muitíssima dificuldade para todas as equipes, porque temos pouca solução tática para enfrentá-lo, devido a sua maneira de finalizar e a capacidade que ele tem'', avalia o técnico Xavi Pascual, do Barcelona, que vai tentar parar o pivô nesta sexta (estou nessa transmissão ao lado de Rafael Spinelli). ''Há poucos jogadores que dão identidade ao seu time nesta competição, e ele dá um estilo ao seu.''

Isso não deixa de ser uma ironia. Afinal, foi da Europa que a NBA pegou a gripe do strecht four, que tem Dirk Nowitzki como seu principal agente. Os dirigentes estão vasculhando todo e qualquer canto do mundo em busca de um pivô minimamente competente no arremesso de longa distância. A ideia é espaçar a quadra e facilitar as infiltrações de armadores e alas numa liga que não permite mais o contato de mão por parte dos defensores. Quanto mais espaçada a quadra, as figuras mastodônticas tendem a se complicar na defesa – como perseguir os jogadores mais rápidos no perímetro? Causa e efeito.

Na Europa, porém, Marjanovic tem a marcação por zona como sua aliada. Ainda que a liga americana permita defesas flexíveis hoje, existe ainda a restrição de três segundos para o marcador se distanciar de seu oponente. Claro que muitas vezes eles conseguem roubar dois ou três segundos a mais que o permitido, mas essa preocupação já interfere o bastante. Faz muita diferença, na real.

De modo que o pivô não precisa ser utilizado apenas de modo pontual, como acontece com o Maccabi Tel Aviv e Sofoklis Schortsanitis, por exemplo. Ele tem média de 27 minutos por jogo, enquanto a jamanta grega só fica em quadra por 14 minutos. Isso também diz muito a respeito do condicionamento físico do sérvio. O cara tem mais de 2,2o m de altura e pesa mais de 130 kg. Joga normalmente, e numa equipe que está cheia de alas jovens, fogosos que partem feito malucos para o contra-ataque – destaque para Nikola Kalinic (já bastante elogiado aqui), Jaka Blazic (um assessor dos irmãos Dragic na Eslovênia), o hiper-atlético Nemanja Dangubic (draftado pelo Spurs no ano passado) –, todos coordenados pelo arrojado armador Marcus Williams (ex-Nets, Warriors e Grizzlies).

O renovado elenco do Estrela vai correr sempre quando pode, especialmente quando joga em Belgrado, empurrados por sua torcida fervorosa. Marjanovic, claro, não é o primeiro a chegar ao ataque, mas consegue de certa forma acompanhá-los em transição. Além disso, não é sempre que seu time vai conseguir uma enterrada ou bandeja tranquila no contragolpe. Aí chega a hora de jogar em 5 x 5. Aí é bola no Marjanovic. E seu impacto ofensivo é enorme, com o perdão do trocadilho.

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Pega leve aí, Boban! Não vá machucar ninguém

Seu compatriota é lento, se comparado com Pau Gasol, Ante Tomic e outros espigões talentosos. Mas, considerando em seu tamanho, ele se mexe com relativa desenvoltura. Para os antenados com a NBA, não se trata de um Nikola Pekovic muito mais espichado, alguém que prevalece, sim, no garrafão devido ao físico avantajado, sem se esquecer da técnica para complementar o pacote. Debaixo do ar, dãr, só sai cravada. Mas ele tem excelente chute de média distância e gira bem, ainda que geralmente para a finalização com o braço direito, por cima do ombro esquerdo.

Na primeira fase da Euroliga, enfrentando Olympiakos, Laboral Kutxa, Valencia, Galatasaray e Neptunas Klaipeda, Marjanovic fez pelo menos 11 pontos em todas as dez partidas. Num jogo eletrizante de prorrogação dupla contra o Gala em Istambul, somou 23 pontos e 17 rebotes em 34 minutos, tendo cometido apenas duas faltas. Foi o mais volumoso de seus sete double-doubles. No primeiro duelo com o clube turco, matou 11 de 14 arremessos de quadra. Na segunda partida contra o estreante lituano Neptunas, o aproveitamento foi de 11-13. Uma vez que recebe a bola, ninguém vai movê-lo dali – por isso, a melhor forma de marcá-lo e atacar a fonte. O Real Madrid o limitou a 9 pontos (4-6), em 20 minutos, na abertura do Top 16 ao usar o americano Marcus Slaughter em marcação frontal, inibindo as linhas de passe. Contra o Maccabi, que tem em Alex Tyus um jogador similar, terminou com 10 pontos e 4-10, em 28 minutos.  Além disso, ambos os clubes possuem em Rodríguez, Lllull, Ohayon e Pargo armadores que pressionam, e muito, no perímetro. No reencontro com o Galatasaray, porém, voltou a arrasar, com 18 pontos (7-10) em 24 minutos.

Nem sempre foi assim, porém. Marjanovic sempre foi bem cotado como prospecto na Europa, tendo sido campeão mundial sub-19 em 2007, ao lado de Miroslav Raduljica, trombando com Paulão Prestes nas semifinais, aliás. Em 2010, depois de passar batido pelo Draft da NBA (estava no radar dos scouts, porém), se consolou com um belo contrato de três anos com o CSKA Moscou. A superpotência russa nunca o aproveitou, porém. Quando Dusko Vujosevic foi demitido, acabou dispensado, depois de ter sido emprestado para o Zalgiris Kaunas, pelo qual teve médias de 5,2 pontos e 3,5 rebotes em apenas seis partidas. Em 2011-2012, teve uma campanha praticamente perdida, passando pelo Nizhny Novgorod, da Rússia, e de volta aos Bálcãs, pelo Radnicki Kragujevac.

Foi só em 2012-2013 que o gigante se acertou, jogando pelo Mega Vizura. Virando referência no jogo interno, desabrochou com 16,9 pontos por jogo e 11,6 rebotes, aproveitamento de 68,9% nos arremessos e 85,4% nos lances livres para ser eleito o MVP da liga sérvia. O projeto estava recuperado. Na temporada seguinte, assinou com o Estrela Vermelha. Foi muito bem em 2012-2013, mas não foi o suficiente para descolar uma vaga na seleção nacional (Raduljica e Nenad Krstic foram escolhidos… A concorrência é braba). De qualquer forma, elevou seu jogo para outro patamar na atual campanha. Dificilmente ficará fora da próxima convocação.

A pergunta que fica: Marjanovic teria espaço na NBA hoje? Valeria o teste? Seria necessário, no entanto, encontrar um clube realmente interessado, que valorize muito suas peculiares características. Não existe em solo americano um jogador com seu tamanho, com porte físico. Roy Hibbert seria aquele que chega mais perto, com 2,18 m e mais de 130 kg também. Agora, até até o pivô que um dia defendeu a Jamaica em torneio Fiba Americas parece mais ágil que o sérvio (ao mesmo tempo, também é mais… baixo!). E Hibbert, não nos esqueçamos, joga num time que rema contra a maré, ainda apostando num jogo interior de pesos pesados, opressor – capitaneando uma das melhores defesas dos últimos anos, enquanto o principal recurso do sérvio é o ataque.

Se for apenas para oferecer o salário mínimo ou um contrato sem garantias, não tem por que Boban topar, economicamente. Ao final da temporada, seu agente vai poder barganhar tranquilamente um contrato milionário no basquete europeu. O que já é uma grande conquista. Ao menos esse dinossauro aqui já sobreviveu.


Chegou a hora de aceitar o Atlanta Hawks como sério candidato
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Giancarlo Giampietro

Estão aí para ficar

Estão aí para ficar

Há alguns caminhos básicos para aceitar um time qualquer como favorito, ou forte candidato ao título. Cada vez mais se valoriza números e números, dentre os quais o saldo de pontos acumulado durante a campanha se destaca como um grande indicador para além da óbvia comparação entre vitórias e derrotas. O seguidor mais conservador pode se apegar a outros fatores como a quantidade de superestrelas em um elenco e o retrospecto, histórico recente dessa equipe nos mata-matas. Ainda assim, essa abordagem também tem uma base empírica, já que são raríssimos os casos de clubes que conquistaram a NBA sem contar com um craque transcendental em sua formação.

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Tanto que o Detroit Pistons virou a menção obrigatória de exceção dessa regra, com os Wallace que não eram irmãos e a dupla entrosadíssima de Billups e Hamilton. Todos All-Stars, bem acima da média, que se entenderam muito bem e entraram para os livros históricos. Mas nenhum deles vai entrar no panteão. O Spurs de 2014 poderia até entrar nessa lista também, mas vai depender de como você avalia o fato de a equipe contar com Parker, Duncan e Ginóbili, que já não estavam no auge mais, mas cujo currículos causam, de qualquer forma, inveja em muita gente.

Deixemos os atuais campeões de lado, todavia. Ou melhor: nem tanto, já que, para falar sobre o Atlanta Hawks, não dá para ignorar o fator #SpursDoLeste, com um time armado sob os mesmos princípios saudáveis que Gregg Popovich consolidou em San Antonio. Em seu segundo ano de trabalho na Geórgia, Mike Budenholzer vai obtendo resultados incríveis. Nesta quarta, por exemplo, ele já se assegurou como o técnico da seleção do Leste no All-Star Game, com a melhor campanha da conferência, por ora inatingível. Seus atletas venceram 28 das últimas 30 partidas que disputaram, vindo de 14 vitórias seguidas, igualando o recorde da temporada 1993-94. Os falcões estão voando, mesmo, como nunca antes na história da franquia. Ainda assim, guiada por princípios históricos – resumidos na marcante frase de Jordan sobre crianças, homens e playoffs –, a crítica demorou a reconhecê-los como séria ameaça na liga americana. Pode incluir esta besta quadrada aqui nesse pacote. Pode, também, esquecer qualquer preconceito. O Atlanta veio para ficar.

Não quer dizer que o título é deles já, de modo antecipado. Que seja impossível de perder. Qualquer lesão de Al Horford, Jeff Teague, Kyle Korver e Paul Millsap já os deixariam em maus lençóis. O Washington segue jogando de igual para igual com a maioria dos grandes. Mesmo em espiral, Toronto não pode ser desrespeitado. Para não falar de Chicago e Cleveland, esses, sim, os conjuntos estelares, que vão chegar aos mata-matas, independentemente da histeria ao redor de ambos. Importante dizer que todos esses times já foram surrados pelo Hawks. De qualquer modo, muita coisa pode acontecer em 40 partidas, em três meses de temporada regular até a chegada aos mata-matas.

Se tivéssemos, no entanto, a chance de congelar o tempo e deslocar esse Hawks de hoje, 22 de janeiro de 2014, e descolá-lo para os primeiros dias de abril, teríamos no páreo um favorito, e tanto. Favorito e encantador, ainda que sem o sex appeal de um Golden State Warriors comandado por um técnico tão carismático e vitorioso e liderado em quadra por um talento precioso como o de Stephen Curry.

O irônico é que o gerente geral Danny Ferry, ainda afastado por uma gafe-ou-comentário racista, fez de tudo para contratar a chamada superestrela. Alguém da estirpe de Curry – ou do ala-pivô Bob Pettit, que guiou a equipe nos tempos de St. Louis ao título em 1958, desbancando Bill Russell, Red Auerbach e o Celtics. Foi atrás de Chris Paul e Dwight Howard, nativos da Geórgia, quis também se reunir com Carmelo e LeBron. Dikembe Mutombo, Joe Johnson e Isaiah Rider (risos) que nos desculpem, mas o clube não conta com ninguém desse porte desde as cravadas inigualáveis de Dominique Wilkins nos anos 80.

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Não rolou, claro. Fechou, então, com Millsap, Korver, DeMarre Carroll, Mike Scott, Pero Antic, Thabo Sefolosha e Kent Bazemore. E não é que deu certo? Com um basquete eficiente, consistente, de movimentação de bola totalmente solidária e arremessadores perigosos para quebrar qualquer sistema defensivo, de Thibs a marcação por zona, a turma de Al Horford está arrebentando. Ênfase em solidariedade, por favor. É um conceito que pode ser banalizado se usado a cada crônica de jogo, a cada análise de uma equipe. Neste caso, contudo, não precisa se preocupar, pois o termo cabe ferfeitamente.

O Atlanta é o segundo time em assistências por jogo, atrás do Golden State. Mas acho que já aprendemos que se basear apenas em números absolutos não cola mais, né? Cada equipe joga num ritmo, produzindo mais ou menos números. O melhor, sempre, é saber o quão eficiente o conjunto se apresenta. Então que tal conferir o ranking de assistências por posse de bola e ver que, nessa medição, eles aparecem em primeiro? Lideram também a coluna de percentual de cestas de quadra que são assistidas – o Spurs, observem, está em terceiro. Esse padrão se mantém para seus chutes de três pontos: apenas 7,1% dos tiros de longa distância decorrem de jogadas individuais, em vez de um passe, contra 9,2% do Spurs. Istoé, Jamal Crawford, Nick Young e JR Smith não teriamm espaço por lá. Nas bolas de dois pontos sem assistências, o percentual sem assistências é maior (39,9%, e aqui entram as infiltrações de Jeff Teague e Dennis Schröder), mas ainda é o menor da liga.  Por fim, na média de assistências para cada turnover, estão em terceiro. Nas últimas sete vitórias, em seis ocasiões eles bateram a marca de 30 assistências. Vamos todos juntos, então, repetir: jo-go so-li-dá-rio. Pode soletrar também, se achar necessário.

A excelente visão de quadra e a predisposição para passar a bola resultam, obviamente, numa bola seleção de arremessos. A equipe é a terceira no aproveitamento efetivo de arremessos, a medição que dá um pouco mais de valor para os arremessos de três pontos, já que… segundo minhas contas, três é maior que dois. Sim, Budenholzer também é um adepto dos arremessos de três como peça integral de uma ofensiva, tendo o segundo melhor aproveitamento da liga nesse quesito (atrás apenas do Golden State). O sistema do ex-assistente do Coach Pop enfatiza o chute de fora, mas não chega a ser obcecado como o Houston Rockets, sendo o nono que mais arrisca, mas com oito tentativas a menos que os texanos). Por ter um excelente rendimento, no entanto, é o quarto time que mais depende da bola de longa distância para gerar pontos.

Parêntese obrigatório aqui para o Sr. Kyle Elliot Korver, nascido no dia 17 de março de 1981, natural de Lakewood, na Califórnia. O que ele está fazendo nesta temporada não existe. Quer dizer: existe, mas é inédito – nunca um atleta terminou a temporada regular com mais de 50% tanto nos arremessos de dois como de dois e 90% nos lances livres. Seus números, respectivamente: 51,8%, 53,5% e 92,2%. Ele lidera a liga no aproveitamento do perímetro pelo segundo campeonato seguido. Sua habilidade neste fundamento faz com que seus companheiros ataquem com 4 contra 4, já que ele não pode ficar livre de modo algum. Ele transformou um chute de três em bandeja, gente. E aí que foi engraçado ver o cara enterrar nesta quarta contra o Indiana Pacers, em transição. Foi sua primeira cravada desde desde 16 de novembro de 2012, contra o Kings! No meio do caminho, ele matou 484 chutes de fora em 198 jogos. Vejam abaixo e, logo depois, seu esmeraldino gráfico de arremessos:

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

Korver merece estar no All-Star. Mas este também é o caso de Teague, jogando seu melhor basquete, Millsap, que vai receber uma bolada no mercado de agentes livres, e Horford, o faz-tudo perfilado por Zach Lowe com a maestria de sempre e que só não tem o status de superestrela por jogar em Atlanta e pelas lesões peitorais bizarras. Dificilmente os técnicos vão encontrar espaço no banco da seleção do Leste para fazer justiça a todos eles.

Ao menos eles não dão a mínima para isso. Millsap ficou todo orgulhoso ao ser selecionado no ano passado, mas vai sobreviver se a façanha não se repetir. O mesmo vale para os outros. Afinal, numa unidade dessas, é muito complicado separar o sucesso de um e o do outro. ''Sentimos que temos peças realmente boas que combinam bem, e entendemos que temos de jogar juntos para ter sucesso'', diz o atirador de elite.

Korver e seu arremesso perfeito

Korver e seu arremesso perfeito

Depois de longa consulta nos números, são poucos os pontos fracos a serem apontados para um raro caso de time que está entre os dez melhores no ranking de eficiência ofensiva e defensiva (Golden State, soberano, e Portland são os outros). O máximo que dá para falar é de uma fragilidade nos rebotes. Na tábua defensiva, ocupa apenas a 18ª posição na coleta de rebotes disponíveis, situação da qual Greg Monroe e Andre Drummond tiraram proveito na segunda-feira (juntos, somaram 12 rebotes ofensivos). Além disso, o Hawks é o 19º em contra-ataques: apenas 11,6% de seus pontos saem em transição, contra 18,6% do Warriors, e também o 18º em lances livres (17,1%). Esses pontos, porém, não preocupam tanto, devido a sua excelência na execução em meia quadra. Para os mata-matas, porém, podem fazer falta.

Ah, claro, se for para falar de números, o pior de todos é o de público, o sétimo pior da liga, com 16.327 espectadores em média – 2.500 a mais que o lanterna Timberwolves. O torcedor de Atlanta tem demorado para se interessar pela excelente fase. A despeito do incidente com Ferry, passar os dias sem prestigiar essa equipe é um pecado. Contra o Pistons, no feriado em homenagem a Martlin Luther King, a arena teve capacidade esgotada (19.108). Contra o modorrento time do Pacers, nesta quarta, só 15.045 foram ao ginásio. A baixa audiência só não impede que o valor da franquia tenha subido quase 100% no último ranking divulgado pela Forbes.

Vale mencionar também que o Hawks encarou até o momento a quinta tabela mais fraca da liga. Juntos, seus adversários têm aproveitamento de 48,9,%. Por outro lado, estão empatados com o Bulls nesse quesito. O Wizards, concorrente direto, teve a segunda jornada mais fácil, com 48%. O time de Budenholzer também fez mais jogos fora do que em casa (22 x 21, é verdade).

Então é isso: você precisa se esforçar para encontrar algum senão nessa jornada do Hawks, que se tornou apenas o terceiro time da história do Leste a somar 28 vitórias em um intervalo de 30 jogos. Os outros dois? Miami em 2012-2013 e Chicago em 1995-96, e ambos levaram o título.  Bastam mais três triunfos para que eles igualem as 38 da temporada passada (38). Com aproveitamento de 81,3% na atual campanha, a equipe cresceu até o momento 34,7%, o maior salto.

Recordes? All-Star? Favoritismo? Não que isso tudo valha algo para eles. ''Todos nós sabemos de verdade que ainda não conquistamos nada'', disse Korver. ''Eu amo quando a melhor equipe vence os melhores jogadores. Foi o que aconteceu nas finais do ano passado para mim.''

A final vencida pelo Spurs. Vocês sabem, o Hawks do Oeste.


Que rei sou eu? Cavs aguarda LeBron exemplar na 2ª metade da temporada
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Giancarlo Giampietro

lebron-cavs-2014-2015

''Grandes poderes trazem grandes responsabilidades''. É uma frase para a qual, obviamente, não se pode atribuir autoria, mas acabou eternizada na cultura pop por Stan Lee, quando este fez o edificante Tio Ben proferi-la para um jovem Peter Parker. Saca, né? O futuro Homem-Aranha, que ainda precisava entender exatamente o que mudava em sua vida a partir do momento em que foi picado por um mardito aracnídeo radioativo. Acontece.

Desde a adolescência, com seus jogos transmitidos em rede nacional nos EUA e o rosto estampado em capas de revista, mais jovem ainda que Peter, LeBron James certamente já se deu conta desse lema. Isso não o impediu de assumir o título de Rei. De jeito nenhum. Então, se é para tratar desta forma, com todos os caprichos envolvidos, espera-se uma contrapartida – que ele reine com dignidade, algo que, na primeira metade da temporada 2014-2015, esteve longe de acontecer. Mas que, a julgar por sua mudança de comportamento nas últimas três partidas, pode estar mudando. Já não era sem tempo.

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Depois de enfrentar situações dificílimas em sua trajetória e vencer em Miami e retornar consagrado, o Rei James decidiu retornar a Cleveland, para abraçar o seu povo. Vocês perdoem se o tom do texto parece grandioso, mas  é que o próprio atleta levou a discussão para esse lado quando decidiu anunciar seu novo contrato com Cavaliers com uma carta pomposa publicada na Sports Illustrated.

Estava tudo muito perfeito. Ele decidia reatar os laços com muita gente para lá de magoada com sua saída, a começar por Dan Gilbert, o proprietário da franquia. ''Estou voltando para casa'', disse. Uma vez de volta, estava por todos os lados em Ohio, como uma figura de fato onipresente. Muito bonito, mesmo. Chega uma hora, porém, em que a euforia passa, e os resultados começam a ditar o rumo das coisas.

LeBron: presente em ações comunitárias em Ohio

LeBron: presente em ações comunitárias em Ohio

Em termos práticos, pensando apenas no jogo, a primeira coisa que vinha na cabeça era que o cara já está realizado em sua carreira, finalmente* aclamado dentro e fora de quadra, e que esse parecia um movimento natural. (*PS: Essa noção, aliás, de que só os campeões podem se inserir no grupo dos grandes jogadores, como se Robert Horry superasse Charles Barkley, é bastante absurda, considerando tudo o que já havia feito em sua carreira, liderando alguns times capengas a um patamar elevado nos playoffs. De qualquer forma, LBJ oficialmente se livrava dessas amarras. Ganhou dois anéis, com um basquete exuberante, limitando qualquer polêmica ao seu redor apenas àquelas querelas de sempre, que não levam a lugar nenhum: ''Fulano é muito melhor que sicrano'' etc. Não esperem que eu vá perder meu tempo nessa.)

LeBron, todavia, tinha uma estrutura consolidada em Miami. Parceiros testados e aprovados e toda a credibilidade de Pat Riley nos escritórios. Virar as costas para isso não era uma, hã, decisão tão simples. Precisava, sim, de uma certa dose de coragem, para reassumir a missão de quebrar a maldição esportiva que paira pelos clubes profissionais de Ohio. Era tudo uma questão de prioridades, além do mais: o que pesava mais? O simples prazer de estar em casa, ou a chance de buscar mais um título para ele e o primeiro para seus súditos?

Retomando seu ensaio para a SI, nota-se que ele discorre muito mais mais sobre o significado de retomar o convívio em sua vizinhança. Apenas no sétimo parágrafo que ele menciona ''Cleveland'' como time e não como localidade, ao dizer que só sairia do Heat se fosse para fechar com o Cavaliers, mesmo – mas sem citar o nome do clube, curiosamente. Em nenhuma parte de sua carta isso acontece. Sério. Reparem que o apelido só aparece em intervenções editoriais.

A carta, a volta, o rei

A carta, a volta, o rei

Depois, LeBron repassa brevemente as cicatrizes que precisariam ser revisadas antes de selar um acordo. A principal era uma conversa franca e cara a cara com o intempestivo Gilbert. ''Estava com as emoções confusas. Era fácil dizer que, ok, nunca mais gostaria de lidar com essas pessoas novamente. Mas aí você sobre o outro lado. E se eu fosse uma criança que acompanhava um atleta, que esse atleta me fez querer algo melhor para minha vida, e aí ele deixasse a cidade?'', indaga, retoricamente. Aqui, num documento de circulação nacional, o astro se assume com uma referência mais ampla e que seus gestos têm influência para muito além das quadras. Grandes poderes, né? Para assumir responsabilidades ainda maiores.

É tranquilo escrever que, por ora, a atitude do craque não condiz com o que fala.

O problema, desde já, é tentar encontrar uma unidade em seu discurso. Mesmo que não conceda tantas entrevistas exclusivas, como na conversa com Lee Jenkins, da SI, o jogador da NBA está muito mais sujeito ao contato com a mídia do que o boleiro regular brasileiro, por exemplo. O jogador de NBA fala bastante.

A paciência de LeBron não abrangia a evolução de Wiggins

A paciência de LeBron não abrangia a evolução de Wiggins

Com tantas declarações por aí, basta fazer uma boa pesquisa para ver que, como líder de um time que ajudou a construir, LeBron ainda, no mínimo. São diversas oscilações de jogo para jogo, dependendo do resultado. ''Não estamos juntos pelo tempo necessário. As pessoas querem sucesso imediato no nosso esporte, e acho que é muito complicado de pedir isso'', afirma um dia. OK, isso condiz com o que está escrito no nono parágrafo de sua carta nacional, no qual o veterano deixava bem claro que não estava prometendo títulos. Que seria difícil conseguir, mais difícil até que 2010, quando se uniu a Wade e Bosh. ''Não estamos prontos. De jeito nenhum'', escreveu. ''Minha paciência vai ser testada. Sei disso. Vou para uma situação com um jovem time e um técnico novo. Vou ser o tiozão. Mas me empolga a chance de formar um grupo e ajudá-los a alcançar um lugar ao qual eles não sabiam que poderiam chegar. Eu me vejo agora como um mentor'', disse.

Parecia a coisa correta a ser dita. Na prática, porém… A parcimônia era menor do o volume de uma caixa d'água paulistana em janeiro de 2015. Tem vezes em que ele está espumando diante dos jornalistas:''Tentei me manter paciente. Tentei não deixar minha linguagem corporal tão ruim como aconteceu algumas vezes'', para depois falar sobre os ''maus hábitos'' desenvolvidos por alguns jogadores e reclamar sobre a pouca movimentação de bola. ''Minha paciência não é infinita. Tenho um nível baixo de tolerância para coisas dessa natureza. Então é algo em que estou trabalhando também, algo que sabia desde o princípio que seria o maior teste que enfrentaria: ver o quanto tenho de paciência nesse processo.''

Primeiro ponto: qualquer observador sagaz percebeu de cara a omissão de Andrew Wiggins e Anthony Bennett em seu ensaio. Ali estava uma senhora dica para as duas escolhas número 1 do Draft: já poderiam preparar as malas, de preferência grandes, para caber muitos casacos felpudos. Estava na clara que seriam negociados por Kevin Love. O mesmo ala-pivô que nunca havia disputado os playoffs, é verdade, mas que, supostamente, era um produto muito mais bem acabado do que o par de adolescentes canadenses. E aí LBJ começou a se impor como dirigente. Quer dizer: é no que todo mundo acredita, a não ser que David Griffin estivesse realmente encantado com o potencial de Mike Miller, James Jones e Shawn Marion, todos acima da faixa de 34 anos.

Quando os jogos começaram, não demorou muito para começar o zum-zum-zum sem fim. De que LeBron não dava a mínima para David Blatt. Que mal escutava o que se falava durante pedidos de tempo, mantinha conversas paralelas e saía antes do final das instruções. Que preferia que o assistente principal Tyronn Lue fosse o comandante. Em quadra, começou o ''jogo do aponta''. Qualquer pane defensiva do Cavs resultava em um jogador encarando o outro, com o camisa 23 ditando o ritmo. A julgar pelo turbilhão que tomou conta da equipe, é como se a sua carta tivesse sido ditada na época do Antigo Testamento, não?

O Cavs já disputou 42 partidas desde O Retorno, entrando oficialmente na segunda metade da temporada. Se LeBron se apresentou como um mentor, líder e figura anciã, elucidativa, foi só com as portas fechadas, não? Talvez no primeiro dia do training camp.

David Blatt tem o respaldo de seu xará, Griffin

David Blatt tem o respaldo de seu xará, Griffin

Quem não se lembra do confronto natalino com os velhos companheiros de Miami? No segundo tempo, Love falhou feio e permitiu em duas posses de bola seguidas rebotes ofensivos para o adversário. Um deles foi coletado por Mario Chalmers ou Norris Cole. O ala-pivô ouviu um monte de seu capitão: um ''BOX OUT'' daqueles em leitura labial que não precisava da ajuda do especialista do Fantástico. Para constar: foram dois lances realmente constrangedores.

Love tem feito disso: sua concentração oscila de acordo com o número de arremessos que recebe. Fica emburrado e joga tudo para o alto. LeBron tinha todo o direito, então, de chamar a atenção, de cobrar mais empenho do co-astro, ainda mais num fundamento que ele se gaba de ser dos melhores na liga. O problema é quando o próprio ala não faz o básico. Seu hábito de caminhar chutando pedrinhas e cantarolando na transição defensiva só se agravou da temporada passada para essa. Luol Deng fez o que quis em quadra, gente. Menciono esse jogo apenas devido ao apelo que teve, ao simbolismo presente em quadra. Não foi um caso isolado, definitivamente. Falhas generalizadas, mas um atleta em especial berrando em quadra. Comparem sua competitividade com a de Kawhi Leonard no início da temporada:

LeBron tem de se esforçar muito mais no ataque do Cavs do que Kawhi, no do Spurs, claro. Mas isso não é desculpa para vagar pela quadra. Ao mesmo tempo, nas entrevistas, o Rei pedia para os torcedores não esquentarem, a despeito da campanha irregular do time. Contra o Orlando Magic, no dia 26 de novembro, ele foi provocado por Tobias Harris e arrebentou no quarto final. Ao final da partida, soltou a seguinte pérola: ''Na verdade, estava num modo de relaxamento hoje, mas este modo foi desativado depois do que ele disse''. LeBron voltou para relaxar, então?

Para ser justo, é aqui que se faz obrigatória a menção de que o ala jogava com dores no joelho e nas costas. ''O joelho está doendo o ano todo. Vai e volta'', afirmou. A franquia em nenhum momento divulgou precisamente a origem desses problemas, mas ele ficou afastado de oito partidas, das quais seu time perdeu sete. Mesmo jogando de modo esculachado/avariado, suas habilidades são tamanhas que causam um impacto significativo. Seus números continuam espetaculares, com 26,0 pontos, 7,4 assistências e 5,5 rebotes. Mas o padrão de jogo está abaixo do que vimos há dois anos, no auge, em Miami.

Agora, esquece: não é decente fazer essa comparação direta, exigir esse tipo de produção, até por estar numa equipe de configuração diferentes. Fora isso, jogadores envelhecem. Até mesmo alguém de aparência super-humana como LeBron. Enfrentando uma crise, o Cavs não o tiraria de ação durante um trecho tão complicado da tabela, com jogos contra Hawks, Bucks, Mavericks e uma viagem pelo Oeste, se seus médicos realmente não recomendassem o período de descanso pensando a longo prazo.

LeBron, assistindo: relaxamento ou lesões?

LeBron, assistindo: relaxamento ou lesões?

Lesões e dores só não explicam o modo como vem se comportando em relação a David Blatt – que cometeu falhas de um treinador novato, mas sobre o qual escreveremos depois. LeBron já disse com todas as letras que chegou a um ponto na carreira em que não precisa de nenhum técnico para lhe dizer o que fazer em quadra. Quando questionado sobre um possível voto de confiança para o (?)comandante, se ele merecia ficar no cargo, soltou esta: ''Que outro técnico nós temos? Ele é o nosso técnico''. Uma resposta conciliadora e atenciosa, né? Um verdadeiro diplomata.

O curioso é que o ''Rei'' passou pelas mesmas coisas em 2010, agindo com desdém em relação a Erik Spoelstra, por exemplo. Agir dessa forma novamente, conhecendo o desenrolar da história em Miami, chega a ser infantil. Embora, valha dizer, não seja o único. Atletas reclamam e entram em conflito com técnicos. E as superestrelas da NBA estão sempre demandando Têm muito poder. No caso específico de James e do Cavs, sua influência se torna incomparável. Nem mesmo Kobe apitaria tanto no Lakers. O fato é que não contribui para nada.

De todo modo, Griffin, com ou sem o aval de Gilbert, comprou a briga quando, antes de um jogo contra o Mavs, convocou uma coletiva na qual defendeu Blatt de modo enfático. O ala já estava afastado. A previsão era de muitas derrotas, e, ainda assim, o cartola arriscou seu pescoço para oferecer uma blindagem ao treinador. Ele só não poderia ir para a quadra, na estrada, para evitar esta cena:

Aconteceu em Phoenix, na primeira partida de LeBron após duas semanas de descanso – e sete derrotas em oito partidas. O astro disse que não fez nada demais e que estava apenas tentando salvar Blatt de levar uma falta técnica. O treinador ratificou a história. Mas dava para fazer de outro jeito, né? Ainda mais com o tanto de especulação em torno da relação entre os dois. Essa imagem tem tudo para ser a mais emblemática possível.

Ou, talvez, tivesse. Pois bastou uma bem-sucedida passagem por Los Angeles para concluir a viagem pelo Oeste para que as coisas mudassem.  Pelo menos assim quer entender a diretoria e a mídia em Cleveland. Especialmente depois de um triunfo contra os Clippers, um adversário de respeito, na qual a defesa foi mais uma vez uma peneira, mas o ataque funcionou de acordo com seu potencial: 126 a 121. Um triunfo mais que bem-vindo, é verdade. Mas o que mais se comemorou foi um jesto de James ao final do confronto. Depois de um pedido de tempo e de uma jogada bem-sucedida, que terminou com fal-e-cesta em cima de Tristan Thompson, o Rei se curvou diante da comissão técnica (em sentido figurado).

Veja a descrição do portal Cleveland.com sobre esse instante: ''A jogada era para encontrar Irving na cabeça do garrafão, mas os Clippers estavam concentrados nele. James, então, fez um passe rápido para Tristan Thompson, que estava cortando para a cesta e finalizou a bandeja, sofrendo a falta. James imediatamente olhou para a comissão técnica e apontou na direção deles, como se os estivesse aplaudindo por desenhar uma jogada tão bonita e efetiva. Foi a primeira vez que James escancarou qualquer nível de satisfação ou gratidão a Blatt''.

O Akron Beacon Journal, jornal que vem relatando com intensidade o distanciamento entre os dois personagens, conta assim: ''James estava engajado, particularmente na vitória contra o Clippers. Ele fez contato visual com Blatt. Conversou com ele na quadra. Esses são momentos que ele vinha tipicamente compartilhando apenas com Lue''.

Duas vitórias, uma boa jogada, e qualquer crise estaria resolvida? Sabemos que não é assim que acontece. Ainda mais quando um mero gesto de LBJ ganha tamanha proporção. Imagine como estava o clima na cobertura e no dia a dia para que dessem tanta importância para essa passagem. De qualquer forma, para quem vê o time de perto, foi um baita sinal. Então fica aqui registrado.

A segunda vitória em Los Angeles. Hora da virada?

A segunda vitória em Los Angeles. Hora da virada?

Dias depois, o Cavs pegou outro suposto favorito da Conferência Leste que encara péssima fase, o Chicago Bulls, e venceu por 108 a 94. A terceira vitória seguida, algo que não acontecia há quase um mês, e um respiro. ''O período fora foi a coisa mais difícil por que já passei. Odiei o fato de que estávamos jogando um basquete bem decente quando saí e perdemos um monte de jogos. Espero que, quando voltar, possamos recuperar nosso caminho vitorioso'', havia dito o astro em Phoenix, antes do empurrão e antes dos triunfos.

Desde que retornou, LeBron vem com médias de 31,7 pontos, 5,2 assistências, 7,0 rebotes, 1,5 roubo de bola e acertou 52,3% nos aremessos de quadra. Excelente. Mas também cometeu um caminhão de turnovers (5,2), acertou apenas 61% nos lances livres e deu o papelão de sempre na defesa. Neste momento, no League Pass, durante as paradas de jogo, a NBA tem veiculado um clipe com as 17 assistências que Kobe deu contra o Cavs, seu recorde pessoal. Muitos desses passes resultaram em cestas com uma grande contribuição de seu amigo. Não consegui gravar as imagens aqui, mas LeBron foi batido em diversas situações constrangedoras. Segue uma delas abaixo, na qual ele nem mesmo tenta se aproximar de Wesley Johnson:

Quer dizer: umas coisas podem mudar. Outras, porém, requerem um pouco de… paciência. Um dado curioso levantado pelo site Nylon Calculus nos mostra como o Cavs pode ser considerado o time mais inconsistente da NBA: quando eles vencem, vão muito bem; quando perdem, perdem mal de verdade. Se você for confrontar o saldo do índice de eficiência obtido em triunfos (13,3) e o dos reveses (-14,1), vai ter um hiato de 27,4 pontos, o maior da liga. Esse padrão se mantém mesmo quando os três astros estão juntos em quadra. O que isso nos mostra? Que a equipe tem muito o que render mesmo e decola quando as coisas se encaixam. Mas as derrotas são feias na mesma medida, numa prova de seu desacerto. Esse tipo de resultado só evidencia os problemas de química.

Claro que não estamos falando exclusivamente de vestiário. Faltava um pivô como Mozgov, faltava mais gente atlética e comprometida com a defesa (a ver se Shumpert resolve…) e de alas, no geral, mais capazes que os anciões Miller e Jones (J.R. começa bem, mas não dá para comemorar muito, vocês sabem). Mas não dá para subestimar de modo algum o quanto o vestiário é importante para o sucesso de um time. Veja o que aconteceu com o Indiana Pacers na temporada passada, depois das adições de Evan Turner e Andrew Bynum. São diversos os casos semelhantes.

Em Cleveland, Akron e arredores, o ambiente em geral é bom – no que se refere a ruas e torcida, ainda tomadas pela euforia, pelo menos. A galera está contente demais em ter o prodígio local por perto. Para eles, porém, mais que o LeBron cidadão presente em consertos de música clássica, parques e projetos sociais, o que preferem ver é o LeBron craque em ação, alguém que faça o Cavs melhorar e competir em alto nível. Um LeBron totalmente comprometido com o seu reino, assumindo de fato suas responsabilidades.


O malucão Nick Nolte de volta a um ginásio de basquete
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Giancarlo Giampietro

A D-League da NBA reúne seus melhores talentos neste fim de semana em Santa Cruz, na Califórnia, para o seu chamado ''showcase ''. Os times se enfrentam em formato de copa, mata-mata mesmo, no ginásio da filial do Golden State.

Fora uma dúzia de gerentes gerais da grande liga e de uma banca de scouts de times do mundo todo, sabe quem deu as caras por lá?

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

Nolte, cabeleira, retomando o contato com o basquete 21 anos depois de Blue Chips

O ator Nick Nolte, um verdadeiro maluco e que anda sumido, provavelmente de saco cheio de Hollywood (na verdade, tem filmado regularmente, mas nenhum papel que lhe renda muito destaque) e da sociedade contemporânea ocidental como um todo. Reparem bem no visual do cara na em foto do jornalista Ken Berger, do site da CBS: está pronto para se tornar um quarto integrante do ZZ Top. Obviamente ele está se lixando para o que um blogueiro brasileiro ou qualquer chupim americano pense.

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São várias as histórias hilárias, as lendas em torno da jornada de Nolte, hoje com 73 anos. Tem aquela sobre cachorros, que Barcinski já lembrou em seu blog no R7, segundo palavras do grande escritor (não só de literatura policial) James Ellroy. O ator vivia em mansão daquelas na capital do cinema e adotou um vira-lata. Gostou tanto da experiência que saiu recolhendo qualquer cãozinho que visse pelo caminho. Agora, perguntem se ele tinha alguma paciência para dar um belo jeito nos animais? Claro que não. Mas não que maltratasse também. Servia comida da boa e da melhor. Só não ia pegar pra dar banho, nem limpar o que aparecesse de m. pela frente. Mais fácil, então, era instalar uma barraca no quintal e deixar a casa para cachorrada.

O cara obviamente bate em outra rotação. Natural que sua estelar carreira estelar também seja irregular. Já foi indicado três vezes ao Oscar, mas provavelmente seu trabalho mais popular tenha sido ''48 Horas'', de 1982, ao lado de Eddie Murphy. Já viram, né? Um clássico.  Para o basquteiro, porém, o vínculo com Nolte se direciona para a década de 90, com ''Blue Chips'', um dos filmes estrelados por Shaquille O'Neal, então com 22 anos, completando sua segunda temporada pelo Orlando Magic, pronto para dominar o marketing da NBA.

Em vez de um gênio da lâmpada ou de um super-herói de aço, nessa (ainda) película o pivô faz um papel de… Jogador de basquete. Bem, dãr, vocês sabem. Não sou que vou ficar falando aqui sobre o enredo de uma peça obrigatória em sua coleção, discutindo os percalços éticos da vida de um treinador de basquete universitário, na caça por talentos mundo afora, tentando seduzi-los, mas sem deixar que alguém saiba que passou dos passar dos limites. Nolte faz o treinador Pete Bell, fictício, que recruta o gigante imperdível que atende simplesmente pelo nome de Neon. Ô, loco. Duas décadas depois, a ''denúncia'' de Blue Chips continua válida. As regras da NCAA só são duras, mesmo, com os jogadores… Enquanto os programas seguem lucrando sem parar.

Confesso que realmente não me recordava de o filme ter sido dirigido por um figurão como William Friedkin (''Operação França'', ''O Exorcista'' e, mais recentemente, ''Killer Joe'', um filme completamente demente com uma performance estarrecedora do bola-da-vez Matthew McConaughey, rodado em 2011). O que só deixa um basqueteiro cinéfilo mais contente e orgulhoso. Já o roteiro tem a assinatura de Ron Shelton, o que faz tudo ganhar mais sentido, já que ele é o cara por trás da história de ''Homens Brancos Não Sabem Enterrar''. Curiosamente, Shelton chegou a jogar beisebol profissionalmente, em times filiados ao Baltimore Orioles.

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Pete Bell e Neon discutem algumas coisinhas que não podem ser publicadas

Em Blue Chips – o termo vem do mercado de ações, do tipo em que você pode investir sua grana sem estressar, traduzido para o mundo do esporte como os prospectos mais badalados com Wiggins, Shaq, LeBron etc. –, temos também a participação de outros atletas como Penny Hardaway (''Butch McRae'', antes da briga em Orlando), Calbert Cheaney (formado em Indiana, jogando por Indiana), Bobby Hurley (o armador de Duke que sofreu um acidente que acabou com sua carreira), Geert Hammink (um holandês cult), Rodney Rogers (eleito melhor sexto homem da liga pelo Suns) e muitos, muuuuitos outros jogadores que estavam entrando na NBA naqueles tempos. Há também papel para Bob Cousy (interpretando!) e outras lendas como Larry Bird, Bobby Knight e Rick Pitino, como eles mesmo.

Fiz uma pesquisa aqui para saber de algum interesse especial de Nick Nolte pelo basquete. Não achei. Então a gente pode fingir que essa foi a primeira vez que ele voltou a um ginásio de basquete desde que gravou o filme com Shaq, 21 anos depois, né?

Foi para ver estes jogos aqui.

Aê.

Valeu, pelo menos, para relembrar o filme e este post aqui: Abdul-Jabbar e Wilt Chamberlain curtindo horrores em Hollywood.


Euroligado: Spanoulis e sua fama de matador
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Giancarlo Giampietro

O craque Spanoulis matando jogos

O craque Spanoulis matando jogos

Se você tem um jogo dificílimo na Euroliga, precisando de uma cesta de qualquer jeito, você vai querer a bola nas mãos de quem para buscar a vitória?

Quando questionados pelo site da Euroliga, os gerentes gerais dos times do Top 16 apontaram Vassilis Spanoulis como esse jogador. Ele recebeu 41,6% dos votos, contra 25% de um cara como Juan Carlos Navarro, que mete medo em qualquer defesa. Milos Teodosic ficou em quarto, com apenas 8,3%, o que é surpreendente.

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Contra o Fenerbahçe, nesta sexta-feira, o astro grego comprovou a fama. Ele não fez necessariamente A Cesta da Vitória, aquela no estouro do cronômetro, e tal, virando o placar. Mas foi um de seus chutes de três, a 17s8 do fim, que praticamente selou um grande triunfo do Olympiakos no…

Jogo da Rodada: Fenerbahçe 68 x 74 Olympiakos
Spanoulis é o tipo de jogador que não só cresce em momentos decisivos – e, não, com ele, essa definição não configura um clichê –, como também exige que o adversário planeje todo um sistema defensivo para contê-lo. Uma necessidade que aumentou drasticamente depois que ele comandou um bicampeonato europeu em 2012 e 2013.

Não: o Olympiakos não teve ou tem apenas um jogador decente em seu elenco. Mas é inegável que seu ataque depende muito das características de um armador completo e agressivo com ele. O camisa 7 representa um problema nas movimentações do lado contrário a e a partir do drible. Quando está com a bola, vai usar e abusar de corta-luzes para ganhar terreno perigoso e colocar a retaguarda em crise, uma vez que pode matar tanto o chute de três, como se esgueira em meio a grandalhões e finaliza próximo do aro.

Ciente dessas habilidades, a diretoria do clube de Pireus procura cercá-lo de pivôs explosivos, que possam receber passes em velocidade no corte para a cesta, e chutadores no perímetro, para espaçar a quadra. É tudo muito simples, mesmo, mas vá tentar parar isso.  No jogão transmitido pelo Sports+, com Rafael Spinelli e Ricardo Bulgarelli, o Fenerbahçe tentou e teve algum sucesso em Istambul, até que a partida caminhou para os momentos decisivos.

Zeljko Obradovic já dirigiu Spanoulis no Panathinaikos. Sabe muito bem como lidar com o cara. O que ele fez? Quando Spanoulis tinha a bola em mãos, procurou jogar com pivôs mais ágeis e atléticos, que pudessem confrontá-lo depois do corta-luz e se recuperar em tempo de reencontrar o pivô da vez, desfazendo a troca. Ter a flexibilidade de Jan Vesely e Nemanja Bjelica ajuda para isso. Quando o grego procurava se desmarcar sem a bola, a equipe turca também tinha ordem para fazer trocas imediatas, para que ele não ganhasse o mínimo espaço para ser acionado e atacar. Além disso, quando o cara conseguia passar pela primeira linha defensva, o Fener tinha envergadura e atenção para fazer uma boa cobertura e contestá-lo na zona pintada.

Com disse, deu relativamente certo: o armador errou todos os seus arremessos de dois pontos (0-4) e cometeu cinco turnovers – aliás, seu número de desperdícios tem sido elevado durante todo o campeonato, num reflexo de uma condição física que já começa a se deteriorar, encarando uma tendinite séria no joelho, que o abalou na temporada passada. Por outro lado, ainda conseguiu cavar cinco faltas, convertendo 7 de 7 lances livres. É a pressão que exerce mental e taticamente sobre seus adversários.

>> Veja a classificação geral dos grupos
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Até que, nos últimos dois minutos, Spanoulis desembestou ao converter oito dos nove pontos derradeiros para os visitantes. ''Clutch'', é o que dizem, né? O craque terminou com 16 pontos e 6 assistências, matando 3/7 nos arremessos de fora, incluindo a bola decisiva a 17 s do fim, quando o placar estava empatado em 68 a 68. O chute obrigaria o Fener a buscar um ataque rápido para uma bola de dois pontos ou a tentar o empate direto com um chute de longa distância. Bogdan-Bogdan e Zisis, no entanto, se atrapalharam na reposição de bola, resultando num turnover e o fim das esperanças.

Talvez seja por isso que os dirigentes também o tenham selecionado como o principal líder da Euroliga, com 45,83% dos votos (novamente acima de Navarro), e, mais importante, como o jogador que seria a prioridade para contratação, com 33,3%, superando o superpivô Ante Tomic, com 12,5%.

Jan Vesely: impacto positivo para o Fener, atleticamente

Jan Vesely: impacto positivo para o Fener, atleticamente

De volta ao jogão, outra cartada tática importante: o técnico Giannis Sfairopoulos usou uma formação baixa por muitos momentos, com o americano Tremmell Darden – que o Real Madrid inexplicavelmente deixou sair… – marcando Nemanja Bjelica. Sua equipe não só não sentiu o impacto dessa decisão nos rebotes, como conseguiu tirar Bjelica de jogo. O ala-pivô sérvio, como já registrado aqui na semana passada, está jogando demais e é uma peça integral no ataque turco, devido a sua mobilidade, visão de jogo e arremesso incomuns para a posição. Em diversas ocasiões, é Bjelica quem já puxa o contra-ataque do Fener, sem perder tempo em acionar o armador. Esse jogo em transição pouco funcionou contra os gregos.

Nos minutos finais, sem poder contar com o sérvio e também sem poder explorar muito Jan Vesely (devido ao seu péssimo lance livre), o Fener se complicou. Andrew Goudelock (23 pontos em 32 minutos, 5-11 de três pontos) vinha convertendo tudo no ataque em jogadas de isolamento, mas se atrapalhou todo nas últimas posses de bola. De qualquer forma, o clube de Istambul está progredindo sob o comando de Obradovic, enfim. Pode ter duas derrotas em três rodadas pelo Grupo F, mas, ainda que em casa, perdeu para quem tinha de perder – o primeiro revés foi contra o CSKA –, e tem totais condições de dar o troco na volta. Olympiakos e CSKA lideram, invictos no Top 16.

Na trilha de Huertas
O armador brasileiro teve sua menor contagem de pontos (4) desde a 2ª rodada da primeira fase, e o Barcelona acabou perdendo mais uma pelo To p16, a segunda em três jogos, dessa vez para o Maccabi Tel Aviv, em Israel, por 70 a 68. Foi uma boa queda de produção para Huertas, que vinha numa sequência incrível pelo clube espanhol, com média de 21,7 pontos por partida nas últimas quatro jornadas – ele ainda deu sete assistências em 25 minutos, acertando de dois de oito arremessos. Com 20 pontos do fogoso Jeremy Pargo, o Maccabi encerrou uma sequência de oito derrotas nesse tradicional confronto europeu. O atual campeão continental chegou a abrir 11 pontos de folga no terceiro período, mas teve de resistir a uma preocupante reação dos visitantes no quarto final, com ótima participação do jovem ala croata Mario Hezonja.

Em números

Devin Smith, capitão do Maccabi, dá o toco em Maciej Lampe. Bonito na foto

Devin Smith, capitão do Maccabi, dá o toco em Maciej Lampe. Bonito na foto

500 – Contra o Barça, o Maccabi atingiu a marca de 500 vitórias na elite do basquete europeu, justamente em seu jogo de número 800.

69% – O trio de armadores Milos Teodosic, Aaron Jackson e Nando de Colo marcou 54 dos 78 pontos (ou69%) da vitória do CSKA Moscou sobre o Anadolu Efes, em Istambul. De Colo foi eleito o MVP da semana, aliás, com 34 de índice de eficiência, com 22 pontos, 7 rebotes, 2 assistências e 4 roubos de bola em 31 minutos. O CSKA tem 13 vitórias em 13 jogos.

7 – Apenas sete atletas do Panathinaikos pontuaram na vitória tranquila sobre o Zalgiris Kaunas, em Atenas, por 77 a 58. O interessante é que, desses sete, seis terminaram com dígito duplo, entre 10 e 14 pontos. Dimitris Diamantidis terminou com sete pontos em quase 26 minutos, mas deu seis assistências. Com tempo de quadra significativo, o letão Janis Blums e o americano DeMarcus Nelson ficaram sem pontuar.

5 – Cinco dos oito jogos da semana terminaram com triunfo dos visitantes. Quem se aproveitou dessa onda foi o Olimpia Milano, que bateu o Unicaja Málaga por 84 a 77. Em seu reencontro com o Estrela Vermelha depois da melhor partida da primeira fase – que teve desfecho fatídico fora de quadra –, o Galatasaray conseguiu um importantíssimo triunfo em Belgrado: 74 a 65. O Estrela está na lanterna do Grupo E, enquanto o Málaga ocua a última posição do Grupo F, ambos com três derrotas até aqui.

0 – O armador americano Ben Hansbrough acumula 26min55s em três partidas pelo Laboral Kutxa na Euroliga e está zerado em pontuação até o momento, tendo tentado apenas dois arremessos. Além disso, tem o mesmo número de faltas pessoais que o de rebotes e assistências somados (sete). Quer dizer: nem sempre o selo de NBA diz muito sobre um jogador. Sim, estamos falando do irmão mais jovem de Tyler Hansbrough, que jogou junto dele no Indiana Pacers por uma temporada – sendo o terceiro armador da rotação, é verdade. Está cedo ainda, mas, para quem chegou para substituir Sasha Vujacic, é muito pouco. Sua equipe ao menos conseguiu a primeira vitória no Top 16 ao bater o Nizhny Novgorod, da Rússia, por 81 a 74, em casa, jogo que transmiti pelo Sports+. Um dos cestinhas do campeonato, o armador Taylor Rochestie marcou 24 pontos pelo Nizhny, acertando seis em sete chutes de longa distância.

Tuitando


As jogadas da semana!


Com mercado em polvorosa, até OKC se mexe; Brook Lopez é o alvo
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Giancarlo Giampietro

Brook Lopez em OKC? Seria uma referência ofensiva e transferência inédita para o clube

Brook Lopez em OKC? Seria uma referência ofensiva e transferência inédita para o clube

Tem artigos nos quais você bate o olho e, de cara, já concede: ''O cara mandou muito bem nessa''. Belo gancho (uma pauta que procede), bela sacada, texto preciso. Aconteceu comigo ao ver este texto de Paul Flannery, do SB Nation: ''Esperança incentiva trocas na nova era de paridade da NBA''.

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Se você pegar os últimos acontecimentos, com uma temporada cheia de trocas, várias delas com a participação de times da Conferência Oeste – e o Boston Celtics, claro –, vai ver que o título é perfeito. Acerta na mosca. No momento em que escrevo isso aqui, temos mais um rumor quente de negociações, agora com o Brooklyn Nets e seu pivô Brook Lopez no centro do furacão. Estariam muito perto de negociá-lo, com o envolvimento de Charlotte Hornets e, surpreendentemente, Oklahoma City. Ou só de OKC, mesmo.

Por que surpreende?

Bem, é só ver o histórico de Sam Presti na gestão do Thunder. Ele fechou, sim negociações e alterou seu elenco aqui e ali, como quando mandou Jeff Green e Nenad Kristic para o Boston Celtics, recebendo Kendrick Perkins e Nate Robinson, em 24 de fevereiro de 2011. Em geral, porém, o dirigente é muito, mas muito mais conservador na hora de lidar com suas peças. A construção do plantel, para ele, acontece muito mais pelo Draft e com contratações no mercado de agentes livres, geralmente buscando veteranos para completar a rotação e ajudar com o vestiário (Derek Fisher, Caron Butler, Royal Ivey). De negociações durante o campeonato, só coisas bem pontuais, como na aquisição de Nazr Mohammed e Ronnie Brewer.

Quando James Harden saiu para o Houston, foi antes de a temporada regular começar para valer e por força das circunstâncias especiais – o Mr. Barba estava para renovar o contrato, pronto para receber uma bolada, e, pensando no teto salarial, Presti não estava disposto a pagar o necessário.

Pois bem. Nesta campanha 2014-15, o cartola já buscou Dion Waiters em transação com Cavs e Knicks. Tá certo que só precisou abrir mão de Lance Thomas nessa, mas, ainda assim, assumiu um certo risco, já que o ala-armador ex-Cleveland não é das figuras mais tranquilas de se lidar no dia a dia, e, em OKC, valoriza-se demais a química do time.

Jeff Green: a aposta do Memphis, que se torna mais atlético e mais alto no perímetro

Jeff Green: a aposta do Memphis, que se torna mais atlético e mais alto no perímetro

Agora, Presti volta aos noticiários numa tentativa de importar Brook Lopez, podendo ceder Kendrick Perkins, Jeremy Lamb e Grant Jarrett, segundo nomes cogitados. O que está pegando? Justamente o ponto levantado por Flannery: todos os times de ponta do Oeste (e hoje essa lista chega a oito, nove integrantes, dependendo do quanto você confia no Phoenix Suns, ou não) acreditam que este pode ser o ano do título. No caso do Thunder, pesa também, primeiro, o fato de estarem fora da zona de classificação.

O Spurs, bicampeão da conferência, se mostra vulnerável, enquanto Kawhi Leonard não retorna e Tony Parker não retoma a melhor forma. O Golden State Warriors, pelos números apresentados, resultados e consistência, ganha o direito de se considerar o favorito. Porém, pelo fato de nunca terem ido longe nos mata-matas com o atual núcleo, vai caber sempre uma desconfiança. A concorrência sente que as portas estão abertas. Então o que temos é uma corrida para ver quem pode chegar lá primeiro.

O Dallas foi atrás de Rondo. O Rockets foi oportunista ao coletar Josh Smith e tirar Corey Brewer do Minnesota. O Phoenix Suns pagou uma escolha de primeira rodada, que pode virar duas de segunda, para ter Brandan Wright, talvez, por apenas meia temporada. O Memphis adicionou Jeff Green, um ala alto, atlético e verdadeiramente efetivo, que lhe faltava. O Clippers tenta se mexer com os poucos recursos que tem ao seu dispor, apostando em Austin Rivers, o filho do homem (mais a respeito disso no fim de semana, mas adianto: valeria a aposta em Austin para qualquer time, menos LAC). O Pelicans tinha problemas nas alas e buscou Dante Cunningham e Quincy Pondexter (nomes de pouca expressão, mas com perfil defensivo para suprir uma carência clamorosa). Enfim, só nesse parágrafo foram citados seis dos 11 primeiros do Oeste. Com OKC, são sete.

Até mesmo o Denver Nuggets entra nessa história, aliás. Embora a franquia tenha cedido Timofey Mozgov ao Cavs e pareça disposta a transferir mais veteranos, dias depois foi atrás de um cara como Jameer Nelson para a reserva de Ty Lawson, em vez de simplesmente abrir mão de Nate Robinson por nada. Então são oito de 11, estando apenas Golden State, Portland e San Antonio fora da brincadeira.

E agora temos novamente o Thunder se ouriçando. Depois de reforçar a segunda unidade com o talento de Waiters, está atrás de um pivô que lhe ofereceria uma dimensão totalmente diferente no jogo interno. Hoje, o time conta com Perk e Steven Adams, dois jogadores que seguram as pontas na defesa, mas não tiram o sono de ninguém na tábua de ataque. Lopez seria uma referência ofensiva inédita na era Durant-Westbrook: alguém que tem ótimo chute de média distância, mas tamém joga de costas para a cesta. Ocupa espaço no garrafão (podendo esbarrar com seus dois superastros, na hora que infiltrarem) e tem dificuldade para passar a bola. Para inserir um atleta desses no ataque, tende a demorar um pouco.

Foge do seu padrão, mas as oportunidades estão aí para serem aproveitadas. Pode ser que não dê em nada neste final de semana e que Lopez fique em Brooklyn. De qualquer forma, já diz muito o simples fato de Presti ter se e embrenhado em negociações. Está disposto, enfim, a assumir essa bronca, confiando que Scott Brooks daria um jeito e que a grande elevação no talento não só colocaria sua equipe entre os oito melhores, mas em condições muito mais favoráveis para buscar o título.

Nunca é demais lembrar que Durant e Wess vão se tornar agentes livres em 2016. Ainda que declarem amor ao clube publicamente, passar mais dois anos sem chegar lá poderia alterar um panorama hoje favorável para a renovação. Ir atrás de um pivô com o prestígio de Lopez seria um claro sinal de ambição, afastando a fama de sovinas. Mas essa é uma discussão para o futuro. Para hoje, temos uma central de rumores em polvorosa já, a mais de um mês do prazo para a realização das trocas nesta temporada.

Quem dá mais?


Mo Williams e o clube improvável dos 50
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Giancarlo Giampietro

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Wilt Chamberlain era uma aberração tamanha que, com a camisa do Philadelphia Warriors, marcou 100 pontos numa só partida, contra o New York Knicks, no dia 2 de março de 1962. Ninguém jamais chegou perto dessa quantia centenária – a não ser que dê para considerar o déficit de 19 pontos do recorde pessoal de Kobe Bryant, atingido contra o Toronto Raptors em 22 de janeiro de 2006, como algo mínimo.

Aspirar a 100 pontos num jogo de NBA hoje, sabemos, é algo quimérico. Se for para atingir a metade disso, porém, muda o cenário, não? OK: ninguém vai falar que é fácil terminar um jogo com cinquentinha. Mas em diversas ocasiões a marca já foi batida, a ponto de ter se tornado uma ''meta clássica''. Uma soma que define um clube famoso, do qual participam grandes cestinhas como Wilt, Jordan, Baylor, Kobe, Iverson, Wilkins, Malone, Carmelo, entre outros.

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Mas, de acordo com a lei do randômico, do sonhar-é-possível, numa liga que filtra os melhores atletas do mundo, recursos não faltam para um ou outro penetra entrar nesse grupo. Como acabou de fazer o armador Mo Williams, ao anotar 52 pontos na tão esperada vitória do Minnesota Timberwolves sobre o Indiana Pacers, terça-feira.  Quem poderia esperar por um evento desses? Ricky Rubio certamente, não. Muito menos LeBron, que teve em Williams seu principal parceiro de ataque em sua primeira passagem por Cleveland.

Quebrando um galho no revezamento com o jovem Zach Lavine desde a lesão de Rubio, Williams tinha média de 11 pontos por partida na temporada. Hoje tem 12,4. Aos 32, ele se tornou o quarto mais velho da história a se tornar um outro tipo de cinquentão.

O mais legal: a maior fonte de pontos para o armador na partida contra o Pacers foi justamente aquela bola que é julgada como a mais ineficiente da NBA nestes tempos, o tiro de média distância. Para deixar claro, no jargão da liga, o arremesso de média é todo aquele que não sai dentro do garrafão ou além da linha de três pontos. Nesta zona intermediária expandida, ele converteu 11 de 19 arremessos. Foi o máximo que um jogador conseguiu converter durante todo o campeonato, e bem acima de sua própria média de apenas dois cestas dali por partida.

O jogador natural de Jackson, no Mississipi, viveu seu auge entre 2005 e 2009, ano no qual, escoltando LeBron, foi eleito para o All-Star Game. Nas três campanhas, teve média superior a 17 pontos por partida (naquela temporada, chegou a marcar 44 e 43 pontos em vitórias, respectivamente, sobre Phoenix e Sacramento). Desde então, porém, sua cotação só caiu, lhe restando um papel que realmente é o mais indicado para suas características: um armador fogoso vindo do banco de reserva. Função que executou tão bem pelo Blazers no campeonato passado. Em Minnesota, numa jovem equipe, parece deslocado. Ao menos sua jornada inesquecível valeu para encerrar uma sequência de 15 reveses do time de Andrew Wiggins.

No geral, Maurice converteu 19 de 33 arremessos de quadra. Quando viu que era dia, brincou com os orgulhosos defensores de Indiana de que não adiantaria marcá-lo, já que ele estava com a sensação de que a cesta tinha a largura do Oceano Pacífico. Com essa confiança toda, não só ele estabeleceu seu recorde pessoal e o recorde de pontos da temporada 2014-2015, como também garantiu ingresso no clubinho alternativo dos 50 pontos, se juntando a mais algumas figuras que jamais apareceriam como favoritos numa casa de apostas.

Vejamos:

Terrence Ross, 51 pontos, 2014: o ala do Raptors foi a referência automática para completar as notas sobre Mo Williams, já que havia sido o caso improvável mais recente, depois de ter marcado 51 pontos contra o Los Angeles Clippers na temporada passada, igualando o recorde da franquia, antes pertencente a Vince Carter. Ele era o jogador com a menor média de pontos até se tornar um cinquentão, com 9,3 pontos  – sendo que sua principal marca havia sido de 26 pontos. Muitos consideram a explosão de Ross como a mais bizarra, por isso. Abaixo, vejo casos mais estranhos, especialmente pelo fato de Ross ser tão jovem (hoje tem 23, mas eram 22 anos quando realizou a melhor partida de sua vida). Ainda não sabemos aonde vai parar a carreira do talentoso ala, desses raros caras que poderia vencer tanto um torneio de 3 pontos como de enterradas. Ah, uma coisa: seu time perdeu mesmo assim, por 126 a 118. Ao final da partida, ele ouviu de Jamal Crawford: ''Bem-vindo ao clube dos 50 pontos''. O ala-armador chegou a fazer 52 contra o Miami Heat em 2007 – mas não entra nessa lista, já que é um cestinha prestigiado em toda a liga.

Andre Miller, 52 pontos, 2010: o armador é um baita jogador, não há dúvida. Mas nunca foi reconhecido como um perigoso pontuador de mão cheia, né? Sua fama é muito maior como a de organizador de jogadas (chegou a liderar a NBA em assistências em 2001-02, com 10,9), o que, aos 38, ainda lhe rende um bom emprego como reserva de John Wall em Washington. Pois com a camisa do Portland Trail Blazers, clube no qual não agradou tanto assim, aliás, aos 33 anos, ele destroçou a defesa do Dallas Mavericks, aproveitando seu tamanho, força e inteligência no jogo de pés de costas para a cesta, para liderar uma vitória bastante apertada: 114 a 112, com prorrogação. Foram 25 pontos entre o quarto final e o tempo extra, para ele ficar a dois pontos do recorde da franquia estabelecido por Damon Stoudamire. Sua média era de 12,6 pontos até então. No duelo com os texanos, Miller deu apenas duas assistências.

Brandon Jennings, 55 pontos, 2009: o armador já havia causado sensação nos Estados Unidos ao abrir mão do basquete universitário para jogar uma temporada na Itália, antes de entrar na NBA. Quando chegou ao Milwaukee Bucks, empolgado e tentando mostrar serviço (já era muito questionado pelos scouts naquela época…), causou estragos imediatos, marcando um mínimo de 24 pontos em sete de seus primeiros 11 jogos. O melhor deles foi contra o Golden State Warriors em 14 de novembro de 2009, na mesma temporada de Miller. Foram 21 cestas de quadra em 34 tentativas, incluindo 7-8 nas bolas de longa distância. Ele também deu cinco assistências. Em sua carreira, porém, ele nunca passou da média de 40% nos arremessos de quadra numa temporada e converte 35,1% nos tiros de três. Agora é Stan Van Gundy quem tenta canalizar o potencial do irregular armador em sua arrancada em busca dos playoffs com o Detroit Pistons.

Tony Delk, 53 pontos, 2001: num Phoenix Suns dirigido por Scott Skiles, com Jason Kidd e Penny Hardaway no elenco, foi Tony Delk, de 27 anos e campeão universitário por Kentucky nos anos 90, quem arrebentou com a boca no balão contra o emergente Sacramento Kings no dia 2 de janeiro, começando o ano novo com tudo. Dos 27 arremessos que tentou, errou apenas sete  (74% de aproveitamento) – e nenhum deles foi de longa distância. Matou também 13 de 15 lances livres, para compensar. Ainda assim, o Suns foi derrotado na capital californiana, na prorrogação, com ótima atuação da dupla sérvia Stojakovic e Divac, que somaram 77 pontos. Um ano depois, ainda com a fama de cestinha vindo do banco, Delk seria trocado para um impaciente Boston Celtics, que mandou um jovem ala chamado Joe Johnson para o Arizona… O veterano deixaria a histórica franquia em 2003, tendo ao menos ajudado o time de Paul Pierce e Antoine Walker a alcançar dois playoffs – em 2002, perderam a final do Leste para o Nets. Aos 32, ele viu sua carreira se encerrar, pelo Detroit Pistons, anotando 182 pontos, no total, na campanha 2005-06.

Clifford Robinson, 50, 2000: Robinson comandou o Phoenix Suns num triunfo sobre o Denver Nuggets, por 113 a 100, convertendo 17 de 26 arremessos em 43 minutos. Isto é, sozinho, anotou metade dos pontos do time adversário, que contava com Antonio McDyess em seu auge atlético, mais Raef LaFrentz, Popey Jones e Keon Clark na sua rotação de grandalhões. Robinson fez uma grande campanha em 1999-2000, passando da casa de 20 pontos em 28 ocasiões. Não foi uma jornada isolada: numa carreira que durou 17 anos, ele teve médias de 14,2 pontos por jogo e foi eleito para o All-Star e ganhou o prêmio de 6º homem da liga em 1993, com a camisa do Blazers, clube pelo qual foi vice-campeão da NBA em duas ocasiões. Nessa época, teve média superior a 20 pontos por quatro temporadas. E o que está fazendo aqui, então? É que, pelo Suns, o ala-pivô já estava bem longe de seu auge e se tornou o segundo jogador mais velho na história a marcar 50 pontos num jogo, aos 33 anos e 31 dias, atrás apenas de Andre Miller. Quando se aposentou em 2007, tinha 1.380 partidas de temporada regular em seu currículo, a nona maior rodagem da liga.

Tracy Murray, 50, 1998: com um nome comum desses, é bem capaz de Murray ter passado despercebido para o fã casual de NBA na década de 90. Até se esbaldar contra a fraquíssima defesa do Golden State Warriors em fevereiro de 1998, o arremessador talvez fosse mais famoso por ter sido incluído numa troca entre Blazers e Rockets que o mandou, em fevereiro de 1995, para Houston ao lado de Clyde Drexler, para ser campeão pela franquia texana. Reservão na turma de Tomjanovich, se tornou na temporada seguinte um membro fundador do Toronto Raptors. Num time fraco, conseguiu a maior média de sua carreira, com 16,2 pontos por partida. Com moral, assinou com o Washington Bullets em 1997, como agente livre. Aproveitando-se da ausência de Chris Webber e Juwan Howard, chamou a responsabilidade no ataque do técnico Bernie Bickerstaff e, em 43 minutos, converteu 18 de 29 arremessos contra um Warriors – que, vejam só, tinha Tony Delk no time titular. Murray jogou sua última partida de NBA em 2003, de volta ao Blazers, aos 32 anos, se despedindo com aproveitamento de 38,8% nas bolas de três e 9,0 pontos.

Dana Barros, 50 pontos, 1995: num decadente Philadelphia 76ers, o baixinho de 1,80 m (oficialmente, claro), viveu, de longe, seu melhor campeonato em 1994-95, sendo eleito de modo surpreendente até mesmo para um All-Star Game, com médias de 20,6 pontos e 7,5 assistências. Era seu segundo ano na Filadélfia, depois de ter passado quatro anos como reserva de Gary Payton e Nate McMillan no Seattle SuperSonics. Sua grande atuação aconteceu contra o Houston Rockets, justamente o campeão, torturando Kenny Smith e Sam Cassell –  e de nada adiantou, já que seu time foi surrado por 136 a 107. Outro que se valorizou bastante com a marca clássica em seu currículo, integrante da comunidade de ascendência cabo-verdiana de forte presença em Massachusetts, assinou, então, um belo contrato com o Boston Celtics, clube no qual ficou até 2000, sem, no entanto, repetir o sucesso. Depois de duas temporada pelo Pistons, voltou ao Celtics em 2003 para se aposentar da liga americana aos 36, com um único jogo.

– Willie Burton, 53 pontos, 1994:  o ala foi mais um a se aproveitar do elenco fraquíssimo do Sixers naquela temporada, ganhando um volume ofensivo impensável. Quando foi selecionado pelo Miami Heat na nona colocação do Draft de 1990, vindo da Universidade de Minnesota, prometia mais, mas acabou jogando por apenas oito temporadas na NBA, com média de 10,3 pontos e 42,4% de aproveitamento nos arremessos, em 21,1 minutos. Como segundo cestinha da equipe de Philly, terminou o campeonato 1994-95 com 15,3 pontos por jogo, sendo o auge os 53 que anotou justamente numa vitória contra sua ex-equipe, com 12 de 19 nos arremessos (5 de 8 em três pontos) e absurdos 24 de 28 nos lances livres, em 43 minutos, dando um banho em Glen Rice. O curioso é que, enquanto Barros conseguiu um megacontrato do Boston, Burton não recebeu nem mesmo uma proposta do 76ers. O máximo que o time lhe propôs foi um contrato sem garantias. O ala decidiu, então, jogar na Itália. Retornou em 1996 aos EUA, via Atlanta Hawks, mas com pouco prestígio. No dia 8 de março de 1999, foi dispensado pelo Charlotte Hornets, sendo obrigado a deixar o país novamente para estender sua carreira. Passou por Grécia, Rússia, em ligas menores americanas e se aposentou em 2004 no Líbano.


Bauru também sabe vencer um jogo de nervos
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Giancarlo Giampietro

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

Como parece acontecer em todo anunciado grande jogo do NBB, aquele que gera expectativa por parte de todos os envolvidos com o campeonato – e, não, apenas de duas torcidas –, o duelo entre Flamengo e Bauru desta terça-feira foi nervoso.

Bastante equilibrado, e nervoso, no qual o clube paulista saiu vencedor por 84 a 77, mostrando que pode render nas mais diversas situações, chegando a nove triunfos consecutivos.

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Sim, essa coisa da chiadeira não é a perspectiva mais original para se abordar um confronto tão interessante como esse, com os atuais bicampeões encarando o time que se reforçou tanto, mas tanto, que se tornou obrigatoriamente o principal candidato a derrubá-los. Jajá coloco um pouco mais de colher aqui. Antes, se faz necessário bater na mesma tecla. Muito já se escreveu a respeito disso, mas, enquanto a medição da reclamação dos técnicos e jogadores – principalmente o dos técnicos – se manter em altos decibéis, não tem como não registrá-la. É demais, gente.

Os árbitros cometem erros?!

Esperem um pouco aí, enquanto dou uma pausa para me restabelecer depois de bombástica informação.

(…)

Pronto: água com açúcar tomada. Qualquer coisa, a maracugina já está a postos também.

A arbitragem no Rio de Janeiro deixou passar muitos lances. Teve, por exemplo, um ataque em que Gui (acho) levou o toco de Benite na zona morta, no primeiro tempo, num ação que pareceu limpa, na bola. No segundo tempo, Jerome Meyinsse foi subir para um bloqueio e tocou no aro, impedindo uma bandeja. Interferência clara, e nada foi marcado.

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos... O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos… O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Percebam que nem citei o time dos atletas acima. Porque não importa: os erros acontecem naturalmente, contra e para ambos os lados, de modo que se nivelam ao estouro do cronômetro. Nessa partida em específico, não sei bem se houve uma atrocidade, ou uma conduta tendenciosa que justificasse tanta pirraça. A não ser que a pressão seja algo consciente, para tentar ganhar o benefício da dúvida mais para a frente, num momento de decisão.  Não seria de forma alguma algo aceitável, mas sabemos que faz parte do jogo. A relatada alta temperatura na Arena da Barra também poderia ser um fator para esquentar a cuca, claro. Mas esse costuma ser o padrão de tensão das partidas por aqui, independentemente do funcionamento do ar-condicionado.

Além do mais, cobrar tanto os homens do apito pode ser mero escapismo. Afinal, ninguém aqui, aí ou ali acredita piamente que Bauru e Flamengo tenham feito um jogo perfeito*, né? Não quando temos 29 turnovers somados e um aproveitamento nos arremessos bem abaixo dos 50%. O Fla, por exemplo, fez um ataque para 183 pontos e terminou com 77 (42,1%).

(*PS: Ninguém é perfeito. Jornalista, jogador, torcedor, técnico e juiz. Será impossível conviver com uma realidade dessas?)

Atrás no placar o tempo todo, os rubro-negros, naturalmente, foram aqueles que mais reclamaram – creio, aliás, que muito mais. Obviamente não ajudou em nada o fato de o time de José Neto ter perdido dois dos últimos três jogos, situação com a qual não estão nada habituados. “Não estávamos tão concentrados e isso nos prejudicou. Bauru soube controlar o jogo e é muito difícil você virar uma partida atuando diante de uma equipe tão qualificada. Não estamos em um bom momento na competição, mas temos que botar a cabeça no lugar e tentar consertar os erros para os próximos jogos”, disse Gegê.

Nas entrevistas pós-jogo, ainda mais depois de tanta tensão em quadra, é difícil colher uma declaração tão boa como essa, via site oficial da LNB. O jovem armador flamenguista resumiu objetiva e precisamente o que se passou (ou o que se passa) em quadra com sua equipe. Se a cabeça não está no lugar, as coisas ficam mais complicadas, mesmo, especialmente contra o único rival do NBB que lhe pode fazer frente no número de atletas ''selecionáveis'' – ao menos levando em conta os nomes constantes nas listas de Rubén Magnano e sua comissão.

E aí, nesse jogo de nervos, o clube paulista encontrou mais uma oportunidade para comprovar sua força. O Limeira de Dedé e seu batalhão de armadores é o líder do NBB no momento, com apenas um revés, e vem de mais uma grande vitória. Mas é muito difícil apontar outro favorito ao título que não Bauru.

A forma como a partida se desenvolveu só reforça essa impressão. No papel e também pela abordagem que resultou nos títulos do Paulista e da Liga Sul-Americana, sabemos que a equipe de Guerrinha está construída para vencer pelo ataque. O potencial ofensivo em seu elenco é absurdo, com oito atletas que podem bater a marca de 20 pontos com tranquilidade. Caras que, colocados num time de menor orçamento, poderiam ser a principal referência.

Contra os rubro-negros, porém, qual era a preocupação? Ricardo Fischer conta: “Era um confronto direto e sabemos o quanto é difícil bater o Flamengo fora de casa. Viemos com uma proposta de baixar a pontuação deles e conseguimos. Empurramos o Flamengo para baixo”. Objetivo alcançado – o que, ironicamente, rendeu ao seu time uma folguinha como melhor ataque do NBB, superando os cariocas em casas decimais.

O Bauru tem em seu perímetro atletas ainda mais ágeis que que os do Fla – ainda mais quando estão juntos Alex, Larry e Gui (num excelente segundo tempo). Velocidade e agilidade: é para isso que o basquete se voltou, e os quatro líderes do campeonato nacional têm esse ponto em comum. A presença de Jefferson William na rotação de pivôs também dá mais leveza ao conjunto paulista. O ala-pivô, aliás, fez uma grande atuação, mexendo bem a bola, correndo para valer, enfrentando um páreo duríssimo contra Herrmann e Olivinha.

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

No Rio, Jefferson e seus companheiros não promoveram exatamente um abafa, não executaram uma defesa massacrante, mas conseguiram limitar as infiltrações de Nicolás Laprovíttola, algo essencial. Marquinhos, é verdade, conseguiu jogar lá dentro, mas as linhas de passe estavam mais apertadas. E aí temos arremessos de longe bem fiscalizados (7/30, 23,3%).

Do outro lado, o volume nos tiros de fora bauruenses seguiu elevado, com 29 tentativas, contra 30 de dois pontos. Seu aproveitamento foi bem maior (37,9%, rendendo 12 pontos a mais também) neste fundamento. Mas não se pode ignorar a vantagem dos visitantes nos lances livres, com nove pontos a mais (21 a 12), em cestas preciosas conseguidas depois de infiltrações de Fischer, Alex e da busca do jogo interior com Hettsheimeir, consistentemente mais efetivo em seu retorno ao Brasil quando mais perto da cesta.

Não foi um banho de basquete. O Flamengo se aproximou do placar de modo perigoso em diversas ocasiões no segundo tempo, inclusive nos minutos finais. Faltou, no entanto, na hora de concluir a virada, a lucidez e a frieza que Gegê mencionou. É algo obrigatório para enfrentar um time do porte de Bauru: concentração, mais na bola, muito menos no apito.


Euroligado: um quarto inesquecível para Huertas
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Giancarlo Giampietro

Diamantidis, considerado um dos melhores defensores do basquete europeu na história, não conseguiu parar Huertas

Diamantidis, considerado um dos melhores defensores do basquete europeu na história, não conseguiu parar Huertas

Dentre todos os brasileiros que estão em atividade no exterior, o pivô Augusto Lima é aquele que vive a melhor temporada, no geral. Já contamos essa história. Mas aquele que vive a melhor fase é Marcelinho Huertas, conforme notado há algumas semanas também. Nesse excelente momento individual por que passa o armador,  os dez minutos mais vultuosos aconteceram nesta sexta-feira, no terceiro período da vitória providencial do Barcelona sobre o Panathinaikos, por 80 a 76. Foram, talvez, sem exagero, os dez melhores minutos de sua carreira – algo que só ele pode confirmar, claro.

Anotem essa: no confronto transmitido pelo Sports+, com Rafael Spinelli e Ricardo Bulgarelli, o paulistano matou seis bolas de longa distância depois do intervalo, sendo cinco delas de modo consecutivo. A sequência só foi interrompida por um pedido de tempo de Dusko Ivanovic, técnico do time grego e seu comandante por duas temporadas no Baskonia (hoje Laboral Kutxa). O sérvio pode ter tentado ''marcar'' o ex-pupilo, uma vez que sua defesa não conseguia pará-lo de modo algum, mas não deu certo.

Os dois primeiros arremessos caíram para dar ao Barça a liderança no início do terceiro quarto (45 a 40), depois de fal-e-cesta em cima de Esteban Batista. O americano DeMarcus Nelson converteu uma bandeja em infiltração para descontar. O ataque do Barça teve, então, bela movimentação de bola – destaque aqui para o pivô Ante Tomic, excelente passador a partir de marcações duplas – para encontrar o brasileiro novamente no perímetro. Livre, deu cesta. Na posse de bola seguinte, para desespero de Ivanovic, lá estava Huertas novamente sozinho para encaçapar a quarta, abrindo vantagem de nove pontos. Aí veio o pedido de tempo. O ala Vlantimir Giankovitz acertou um gancho. No ataque seguinte… Nova bomba de três para Huertas,  a quinta em menos de três minutos. Ao final da parcial, no último ataque catalão, ele contou com um pouco de sorte num chute de muito longe, a partir do drible, para fazer a sexta cesta de longe. Saíram, deste modo, 18 de seus 22 pontos.

(O Panathinaikos ainda apertou o jogo e vendeu cara a derrota, ficando a um ponto do empate no finalzinho, mas o time da casa sobreviveu, para somar sua primeira vitória na fase de Top 16.)

Na temporada, Huertas estava com um aproveitamento de 45,1% nos arremessos de fora. Já era o melhor rendimento de sua carreira na Euroliga, superando os 44,2% de 2010-11, pelo Baskonia, justamente sob a orientação de Ivanovic – e bem mais produtivo que os 33,8% do campeonato passado ou que os 35,6% da carreira, por exemplo. Depois da formidável jornada, no entanto, elevou este número para 51,3%. Nos últimos cinco jogos, são 66,6% (12/18).

Quando o armador está com uma pontaria dessas, seu jogo simplesmente vira um pesadelo para a concorrência, já que eles não podem se descuidar de suas infiltrações. Não apenas por sua capacidade para matar aqueles chutes lindos em flutuação, como também pela destreza nos passes, para deixar Tomic e os pivôs do Barça em ótima posição para finalização, ou para encontrar arremessadores como Navarro e Oleson abertos na zona morta. Rubén Magnano deve estar empolgado.

PS: neste domingo, numa partida que a Liga ACB já define como ''apoteótica'', o Barça derrotou o Unicaja Málaga por 114 a 110, com mais 19 pontos e 8 assistências de Huertas, em 27 minutos. O jogo foi definido na prorrogação apenas, na Catalunha.)

O jogo da rodada: Anadolu Efes 74 x 70 Unicaja Málaga
Foi daquelas vitórias que deixa o time vencedor em êxtase, ao passo que os perdedores entram em luta contra a depressão. Vindo de uma sequência de cinco reveses pela competição – embora lidere a Liga ACB de forma surpreendente –, a equipe malagueña, com sua proposta de jogo acelerado, venceu o primeiro tempo em Istambul por 15 pontos de vantagem (49 a 34). Mas marcou apenas 21 pontos depois do intervalo, com um desempenho ofensivo tenebroso.

A diferença foi construída com base em bom desempenho dos pivôs Will Thomas e Vladimir Golubovic na linha de frente, assessorados pelo armador Jayson Granger, todos reservas na rotação volumosa de Joan Plaza. No terceiro período, contudo, não houve quem conseguisse superar uma defesa muito bem armada por Dusan Ivkovic, que forçou uma série de chutes desequilibrados de seus oponentes, levando apenas oito pontos em dez minutos. Com múltiplas conversões de três do outro lado, a jovem equipe turca empatou o placar em 57 a 57.

Por mais substituições que fizesse, Plaza não conseguiu encontrar uma resposta, e o Anadolu chegou a abrir 67 a 59 no placar, numa parcial impressionante de 33 a 10 desde o final do primeiro tempo. Foi só com o veterano islandês Jon Stefansson, após um pedido de tempo, que o treinador espanhol ganhou algum suporte em quadra, voltando a equilibrar as coisas para os dois minutos finais, ficando três pontos atrás (69 a 66). O armador naturalizado croata Dontaye Draper, no entanto, foi decisivo nas últimas posses de bola com uma bandeja e um chute de fora para definir o primeiro triunfo do time de Dusan Ivkovic (aquele que não gosta de americanos meia-boca, diga-se) no Top 16.

Dario Saric não teve dos jogos mais empolgados no ataque (5 pontos e 2 assistências em 29 minutos, com 2/4 nos arremessos), mas o jovem ala Cedi Osman voltou a produzir bem, com 12 pontos em 16min54s, matando 5/10.

O que os cartolas pensam
Na segunda parte de sua enquete com os gerentes gerais dos times que disputam o Top 16, a Euroliga se concentrou nos jogadores – algo sempre mais interessante (neste link e neste também). Vamos a alguns dados:

euroleague-survey-mvp-2015-teodosic

– Marcelinho Huertas foi apontado como o quarto melhor armador do campeonato, com 8,3% dos votos, atrás de Milos Teodosic (CSKA, 41,6%), Sérgio Rodríguez (Real Madrid, 25%) e Vassilis Spanoulis (Olympiakos, 16,6%). Páreo duro, mesmo. Na hora de responder sobre quem seria o melhor passador, Huertas voltou a aparecer em quarto, ao lado do francês Thomas Heurtel, do Anadolu, com o mesmo percentual, atrás de Rodríguez (29,1%), Teodosic (25%) e Dimitris Diamantidis (Panathinaikos, 20,3%).

– Teodosic recebeu 33,3% dos votos na hora de palpitar sobre o eventual MVP dessta temporada, superando Boban Marjanovic (20,8%) e Tomic (12,5%). Andrew Goudelock, do Fenerbahçe, Nando De Colo e Sonny Weems, ambos do CSKA, Rudy Fernández, do Real, James Anderson, do Zalgiris, e Spanoulis também foram citados.

– Goudelock foi apontado com o melhor americano da competição, com 33,3%, acima de Weems, Anderson e Keith Langford, do já eliminado UNICS Kazan.

– Os alas-pivôs Stephane Lasme, do Anadolu, e Kyle Hines, do CSKA, foram apontados com os melhores defensores, com 16,6%. Hines ganhou a votação de jogador mais durão, mais chato de se lidar, com 16,1%.

– Agora, se eles tivessem o direito de assinar com qualquer jogador da Euroliga, sem nenhuma restrição, o alvo seria Spanoulis, com 33,3%, seguido por Tomic (12,5%), Bogdan-Bogdan, Weems e De Colo (8,3%).

Lembra dele? Felipe Reyes (Real Madrid)

Reyes, em seu gancho tradicional: fundamento, QI e determinação

Reyes, em seu gancho tradicional: fundamento, QI e determinação

O eterno coadjuvante. Reyes, 34, sempre foi mencionado na segunda linha de todos os textos sobre a era dourada espanhola, depois de Pau Gasol, Navarro, Calderón e até de Garbajosa. Pois o país já praticamente trocou de gerações, e o veterano  ala-pivô do Real se aprofundou na sua condição de coadjuvante. Em termos de esforço, consistência e fundamentos, porém, estamos falando de um craque, realizando uma Euroliga sensacional (sua 11ª!). Em vitória por 93 a 78 sobre o Galatasaray, na quinta, ele marcou 22 pontos e pegou 11 rebotes em apenas 22 minutos, acertando 9 de 13 arremessos, atingindo índice de eficiência de 29, para dividir o prêmio de MVP da jornada com o americano Brian Randle, do Maccabi Tel Aviv. Estraçalhou, num ritmo ainda mais forte do o que vem imprimindo na temporada (médias de 11,3 pontos e 6,1 rebotes em 17 minutos).

Em números

Goudelock fez o que quis no segundo tempo contra o Nizhny: tiros de três, bolas em flutuação, bandejas lindas. O mini Mamba faz estragos na Euroliga e já é considerado pelos cartolas o melhor americano e o melhor shooting guard da competição, além do segundo melhor arremessador, atrás de Jaycee Carroll, do Real

Goudelock fez o que quis no segundo tempo contra o Nizhny: tiros de três, bolas em flutuação, bandejas lindas. O mini Mamba faz estragos na Euroliga e já é considerado pelos cartolas o melhor americano e o melhor shooting guard da competição, além do segundo melhor arremessador, atrás de Jaycee Carroll, do Real

23 – O total de pontos anotados por Goudelock em apenas 24 minutos, na vitória do Fenerbahçe sobre o Nizhny Novgorod, por 78 a 60, guiando uma arrancada do clube turco no segundo tempo. O que vale ressaltar aqui: a flexibilidade que Zeljko Obradovic tem em seu elenco. Sua defesa melhorou muito após o intervalo, quando ele abriu mão de jogar com seus pivôs mais pesados (Savas, Erden e Zoric), emparelhando Jan Vesely, Emir Preldzic e Nemanja Bjelica. Que trio, não? Versáteis, ágeis, espichados, podendo trocar na marcação sem problemas, tapando o garrafão.

12 – O CSKA chegou a 12 triunfos consecutivos, sustentando sua invencibilidade, ao bater o Laboral Kutxa por 99 a 90 – partida que transmiti pelo Sports+. O clube russo claramente jogou para o gasto, ciente de sua superioridade em relação ao time espanhol, aquele que mais trocou peças durante a competição. Juntos, Teodosic e De Colo contribuíram com 35 pontos e 13 assistências, com 10/21 dos arremessos.

1 – Apeas um time do Grupo E conseguiu duas vitórias nas duas primeiras rodadas do Top16: o Real. De resto, temos seis times empatados com 1-1 e o Estrela Vermelha na lantetrna, com 0-2. No Grupo F, Olympiakos, CSKA e Anadolu estão com 2-0, com o time grego liderando a chave com base no saldo de pontos (+32).

Tuitando


Lucas Dias: depois da impaciência, o desenvolvimento
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Giancarlo Giampietro

Lucas vibra após grande atuação contra o Uberlândia

Lucas vibra após grande atuação contra o Uberlândia. Crédito: Ricardo Bufolin/ECP

Ao falar sobre atletas jovens, o primeiro mandamento é ter precaução. A tentação, vocês sabem, é anunciar um futuro auspicioso. Depois, encontrar paralelos, para anunciar o ''novo fulano de tal''. Se, nessa caminhada, as coisas não forem acontecendo conforme o ''esperado'', aí é a hora de, cheios de decepção, martelar e desconstruir a promessa.

Lucas Dias, do Pinheiros, já passou por esse processo. Ele só tem 19 anos.

Aos 16, foi eleito o MVP do jogo internacional do Jordan Brand Classic, com 18 pontos, 12 rebotes e 4 tocos, em Charlotte. Dois meses depois, em São Sebastião do Paraíso, teve médias de 15,6 pontos e 8,4 rebotes na Copa América Sub-18 e ajudou a seleção a se classificar para o Mundial, sendo dois anos mais jovem que a maioria dos concorrentes. Pronto. A partir daí, o garoto entrou no radar, virou tópico obrigatório nos fóruns de discussão. O basqueteiro brasileiro em geral não está acostumado a receber esse tipo de notícia.

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Sua escalação no time principal do Pinheiros era cobrada, cada jogo era seguido de perto. Até que chegou o Mundial Sub-19 em 2013, na qual não só o ala-pivô como toda a equipe nacional teve uma campanha frustrante, com um décimo lugar amargo, depois de algumas derrotas bem feias. Aí, claro, já teve quem se apressasse em dizer que não dava mais para o garoto. Ainda mais que ele não conseguia entrar na rotação da equipe adulta do clube paulista e, no ano passado, viu um tal de Bruno Caboclo passar voando por lá. Caboclo virou a grande aposta, enquanto Lucas ficou, de certa forma, esquecido. Como se não houvesse espaço para dois queridinhos.

Subindo para fazer a cesta numa jornada 100%

Subindo para fazer a cesta numa jornada 100%. Crédito: Ricardo Bufolin/ECP

Mas essa fase de sumiço chegou ao fim. Na terça-feira, Lucas Dias conseguiu uma proeza no atual cenário brasileiro: um adolescente a ser o cestinha de um jogo de NBB. Foi na vitória sobre o Uberlândia por 107 a 86, em casa. Não só ele liderou todos os marcadores, com 23 pontos em 24 minutos, como saiu com 100% nos arremessos, com três bolas de três, cinco de dois e mais dois lances livres. Na sua idade – de novo: apenas 19 anos –, isso dificilmente vai se repetir por estas bandas.

Os 23 pontos se equivalem exatamente à metade do que ele soma na temporada. Quer dizer: foi disparada a sua melhor partida na temporada. Mas isso não quer dizer que tenha sido um acidente ou qualquer coisa do tipo, um evento que tenha surgido ao acaso. Desde o dia 17 de dezembro, na saideira de 2014, o ala vinha recebendo mais tempo de quadra com o técnico Macel, registrando 12 minutos contra o Bauru, 19 minutos contra o Franca e 15 contra o Palmeiras. Dá mais de 18 minutos por jogo nas últimas quatro rodadas do campeonato. Até então, em cinco partidas, ele havia ficado em quadra por 10 minutos em média.

No duelo com o clube alviverde, ele teve uma atuação para se esquecer, saindo zerado, tendo desperdiçado todos os seus oito arremessos. Que tenha sido mantido na rotação por Marcel, contudo, só depõe ao seu favor. Com o treinador mesmo disse ao VinteUm: ''Comigo é assim: se você treinar como se joga, você joga. Na hora que aparecer um cara treinando como ele vai jogar… Na hora que for dominar, que mostrar como vai jogar no treino, eu não sou louco de não colocar para jogar''.

A liga D
Nesse ponto, para o garoto ganhar confiança, mais importante vem sendo sua participação na nossa liga de desenvolvimento, a LDB. Na semana passada, ele disputou a terceira etapa da competição sub-22, em Campinas. Após 17 jogos, o ala é o segundo cestinha até o momento, com média de 20,2 pontos, e o quarto reboteiro, com 9,4. ''Acho que minhas participações ncontribuíram para o bom desempenho, e estou feliz por ter aproveitado as oportunidades contra o Uberlândia”, disse.

Algumas exibições em particular renderam recordes da LDB para Lucas.  Na segunda etapa, em Joinville, contra o Grêmio Náutico União, ele somou 44 pontos e 55 no índice de eficiência, em 33 minutos, em vitória fácil por 95 a 56 – ao seu lado, o armador Georginho, 18 anos, também somou um triplo-duplo. Na ocasião, errou apenas 4 de 20 arremessos, com baixo volume no perímetro (1-3), além de coletar 16 rebotes e de ter cinco roubos de bola. Em Campinas, mais um jogo memorável: contra o Regatas (triunfo por mais que o dobro de diferença), o time da casa, converteu nove arremessos de longa distância e terminou o confronto com 37 pontos em 24 arremessos e 35 minutos, além de 9 rebotes, 3 assistências e 3 roubos de bola, para um índice de eficiência de 42.

Na LDB, dominante neste ano

Na LDB, dominante neste ano. Crédito: João Neto/LNB

Agora, só vale ressaltar que o volume nos arremessos de fora contra o Regatas (19 tentativas) foi algo simplesmente irreal, que não se traduz para nenhum campeonato de ponta. É preciso sempre fazer a devida contextualização, claro, levando em conta o nível dos adversários. Se for para conferir seu aproveitamento nos arremessos, temos 59,8% nas bolas de dois pontos, 32,2% nas de três e 76,5% nos lances livres. Quer dizer, ainda há o que melhorar em termos de eficiência. De todo modo, no geral, os números impressionam e servem para devolver a confiança ao jovem talento.

De volta ao time dos marmanjos, Lucas entrou em quadra no primeiro quarto,  substituindo o veterano Felipe Ribeiro, quando o placar estava 8 a 7 para sua equipe. Quando saiu, com 11 pontos marcados, restavam apenas 46 segundos na parcial, o time da casa já vencia por 28 a 13. O Uberlândia não esmoreceu, tentou uma reação nas parciais seguintes, até sucumbir no período final. Apenas dois pontos do ala saíram no que poderíamos chamar de ''garbage time'', quando o time de Marcel já tinha o resultado praticamente garantido, a 3min50s do fim. Isto é: seu desempenho foi fundamental para o Pinheiros a encerrar uma série de quatro derrotas no NBB.

Amadurecimento
Houve, sim, uma preocupação com o desenvolvimento de Lucas desde aquele malfadado Mundial. Há muitos que questionam a decisão do técnico Demétrius de ter usado o ala-pivô como um sexto homem, alegando que, quando ele entrava em quadra, o jogo já estava praticamente definido, deixando o principal talento daquela seleção numa posição, no mínimo, desconfortável. Era entrar para resolver, então?

Lucas agora joga a LDB desde o início. Crédito: João Neto/LNB

Lucas agora joga a LDB desde o início. Crédito: João Neto/LNB

O problema é que, quando retornou ao Pinheiros, havia um zum-zum-zum sobre uma falta de concentração ou empenho do garoto. Acontece muito mais do que se imagina, ainda mais quando, sem muito esforço, o jovem jogador pode fazer 20 pontos num jogo – hoje consagrado no basquete nacional, o ala Marquinhos já ouviu bastante nesse sentido. Uma coisa é dominar na sua categoria, porém. Outra é competir diariamente com adultos como Shamell, Olivinha, Morro etc.

Nesse contexto, a ascensão meteórica de Caboclo, vindo de Barueri, pode ter sido um ponto de virada para seu ex-companheiro. Pergunte no clube paulista sobre a dedicação do xodó do Toronto Raptors, e a empolgação impressiona. O menino simplesmente não saía do ginásio – padrão de trabalho que vem sendo mantido no Canadá, aliás. Suando bastante, o ala conseguiu ser o primeiro atleta sair direto do basquete brasileiro para a NBA em 11 anos – era algo que não acontecia desde Leandrinho, em 2003. Não tem como acompanhar um processo desse de perto e não ser afetado.

''É, mexeu muito com a turma da base a ida do Caboclo'', diz Marcel. O que todos precisam ter consciência é de que cada um tem sua história. ''Cada talento tem o seu tempo para amadurecer. O caso do Bruno é uma exceção pelo físico dele. É um cara de 2,08 m com envergadura de 2,35 m, coisa que você não vai achar facilmente por aí. Se ligassem para mim e falassem que estava com um rapaz desses, eu iria buscar na hora. Mas esses que ficaram provavelmente vão ser adultos no ano que vem. E aí talvez possam sair'', afirma o técnico. Além disso, é preciso lembrar que Caboclo, jogando a LDB de ponta a ponta, participando também do Paulista sub-19, passou muito mais tempo em quadra na temporada passada do que Lucas, que estava em tempo integral com o time adulto.

A caminhada segue
No clube paulista, antes mesmo da elevada produção recente, a percepção em torno Lucas já era altamente positiva. Mas é sempre melhor ver os resultados na prática, não? Resultados de muito treino. A turma do Sub-19, por exemplo, pode trabalhar até em três períodos. ''Ele vem muito bem, numa ascensão'', diz Claudio Mortari ao VinteUm. Hoje supervisor, Mortari dirigiu Lucas diariamente em sua transição da base para o adulto, acompanhando de perto os altos e baixos. ''Agora, é como digo, depende muito mais daquilo que o cerca fora da quadra, daquilo que ele tem como motivação interna e o que realmente queira. O trabalho necessário nós vamos oferecer. Os recursos técnicos ele já tem. Ele, o (armador) Humberto e o Georginho têm muito potencial. Vão ser? Tomara que sim. Mas não dá para afirmar, já que muito depende da resposta deles.''

A estreia contra Sérvia no Mundial Sub-19. As coisas não foram bem

A estreia contra Sérvia no Mundial Sub-19. As coisas não foram bem

Até por sustentar um programa de base que hoje deveria servir de referência no país, com a influência de gente como o diretor João Fernando Rossi e a coordenadora Thelma Tavernari, os abnegados dirigentes do Pinheiros estão sempre ouvindo cobranças, principalmente externas, sobre a utilização desses garotos em seu elenco principal. Mas essa transposição não é tão simples assim. Com bom patrocínio, tendo se habituado a competir por títulos anualmente, o clube tem de se manter competitivo – mesmo que seu orçamento não seja dos mais vultuosos do país.

Existe, sim, um desejo de aproveitar mais os garotos, ainda mais depois da conquista do título paulista sub-19. Pode acontecer num futuro breve. Para a próxima temporada, quem sabe? Ainda está muito cedo para dizer, tanto do ponto de vista estrutural, com da própria curva de aprendizado dos garotos. Nessa curva, ainda que eles não estejam jogando muitos minutos, isso não quer dizer que não possam evoluir. Agora sob a orientação de Marcel, Lucas e seus companheiros têm mais um ano para o desenvolvimento, num cenário de bem menos pressão.

''Renovação você não faz por decreto. É algo que você conduz com tranquilidade e faz por necessidade e com a competência de quem está chegando – a importância que cada garoto vai dar para essa oportunidade. Não tem uma fórmula mágica. Se tivesse, eu, por exemplo, não lançaria só um Oscar, mas um monte. Teria uns 45 caras como o Oscar na minha mão, o que não foi o caso'', diz Mortari. ''O que precisa é ter essa dimensão, essa paciência. Pode acontecer como num vestibular, em que o cara passa o ano inteiro estudando e, chega a hora h, acaba não acontecendo absolutamente nada. É preciso mantê-los nos seus lugares, conversando, mas confiando, com a expectativa sempre altamente positiva, valorizando o que se faz em quadra diariamente.''

Lucas vem reconhecendo as ferramentas excepcionais que estão ao seu dispor e vem tirando proveito delas. Como ele disse ao site da LNB: ''O Brenno (Blassioli) ou o Bruno (Mortari) estão sempre me ajudando. Nós fazemos diversos treinos individuais. Isso me dá muita confiança para as partidas e as coisas vem acontecendo naturalmente”.  Depois das naturais turbulências, as perspectivas se mantêm otimistas.

''O Lucas é um talento acima da média, como um lateral de 2,08 m de altura e bom arremesso, além de ser um garoto de coração enorme'', afirma o ala-pivô Felipe Ribeiro, 35, ao VinteUm. Contratado no ano passado pelo Pinheiros, Felipe agora tem a oportunidade de acompanhar o ala de perto e diariamente, estando muitas vezes do outro lado. Para ele, já não há dúvida de que o garoto pode prosperar no perímetro. ''É muito complicado julgar um garoto muito cedo, se ele vai ser um 3 ou um 4, mas acho que para trilhar uma carreira gloriosa, a posição 3, para ele, pelo arremesso, seria a melhor'', diz.

Lucas atacando lá dentro, perto da cesta

Lucas atacando lá dentro, perto da cesta. Crédito: Ricardo Bufolin/ECP

''Se fôssemos deixá-lo aqui no mercado doméstico, ele já seria um jogador pronto. Você poderia colocá-lo em qualquer time como um 3, mais até como 4, e ele conseguiria jogar. Mas hoje a gente não tem no Brasil um lateral de 2,08 m, além do Marquinhos. Acho que ele poderia ser um substituto à altura e até fora do país ele poderia se destacar'', completa Felipe.

Isso não significa que o atleta deva estacionar em quadra e apenas arremessar de três, como ainda pode acontecer com frequência, aliás. Pela versatilidade mostrada na base, com ótima presença nas tábuas ofensiva e defensiva, como reboteiro e bloqueador, seria um crime enquadrá-lo. Ter Marcel no comando do time adulto, então, serve como um alento. ''Meu sistema de jogo não olha número de posição, mas a capacidade do jogador de exercer várias funções. Por exemplo, o Lucas pode arremessar de três, pode jogar de posição 4 e até de 5, como fez no juvenil. É um jogador que marca o número 2, o 3. Tem agilidade para isso.''

Não dá para esperar que Lucas vá dominar as defesas do NBB a cada rodada, como fez contra o Uberlândia. Não dá para cobrar do ala muito mais do que já lhe é exigido em seu próprio clube, diariamente, nos treinos. Nada é garantido, mas ao menos percebe-se que, agora tranquilamente, segue a curva de desenvolvimento de um jovem talento.