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Arquivo : Danny Ferry

Tudo por LeBron: o malabarismo do Cavs para vencer e convencer o astro
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Giancarlo Giampietro

Seu time está no centro das chacotas por anos e anos? Você não tem coragem de assumir para quem torce e, no final, tenta escapar dizendo ser um “admirador profundo do estilo de basquetebol do San Antonio Spurs”? Você nem, mesmo, veste a camisa para bater, casualmente, uma bola na praça? Calma, gente. Isso não te obriga a jogar fora o uniforme. Pode ser que ainda dê tempo de reutilizá-lo – desde que não perca de vista a balança, claro. Os finalistas da NBA 2014-2015 nos ensinam que, das profundezas, após muitas trapalhadas no Draft, desmandos da diretoria, conflitos entre jogador e técnico, pode emergir um candidato ao título. Mesmo que demore um pouco. Ontem, publiquei a lista de dez episódios marcantes da história do Golden State Warriors, que nos ajudam como demorou tanto – precisamente 40 anos – para que a franquia retornasse a uma decisão. Hoje, as idas e vindas do Cleveland Cavaliers em torno de LeBron James:

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Um rei e um reino para conquistar

Façamos as contas: LeBron James está na NBA há 12 anos. São oito pelo Cleveland Cavaliers e quatro pelo Miami Heat. Em Ohio, chega a sua segunda final de NBA, enquanto, na Flórida, foram quatro. Pelo Cavs, busca o primeiro título. Pelo Heat, ganhou dois. Ok, então. Com a devida ressalva de que recebeu em 2003 um jogado ainda adolescente, em formação, não há como negar ao mesmo tempo que o clube demorou muito para capitalizar, durante a década passada, um dos maiores craques do esporte. Foram muitas falhas estruturais que propiciaram um produto aquém das expectativas em quadra e resultou na migração dos talentos de LeBron a South Beach, causando desespero geral em Cleveland, camisas queimadas, carta rancorosa de bilionário, até que os ânimos fossem apaziguados e o Rei Retornasse. Vamos lá:

– Antes de LeBron
Os deslizes aconteceram enquanto o jovem astro estampava capas de revista como colegial. Nos dois Drafts antecedentes ao de LeBron, o Cavs escolheu o pivô DeSagana Diop em 2001, na oitava colocação, e o ala-armador Dajuan Wagner, em 2002, na sexta. Nenhum deles conseguiu ajudar o craque, com status assustadoramente messiânico. Em retrospecto, se o Cavs tivesse acertado duplamente, talvez não tivesse nem mesmo condições de receber James em 2003. Ou, talvez, a produção de um calouro ainda não fosse o suficiente para elevar tanto assim o padrão de um time caótico, gerenciado (?) por Jim Paxson –  ex-jogador e irmão mais velho de John, o vice-presidente do Bulls.

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Diop vocês conhecem, já que deu um jeito de ficar na liga por mais de dez temporadas, se aposentando em 2013, mesmo que nunca tenha superado a média de 3 pontos por jogo. Sim, não tem erro de digitação aqui, não: foram 3,0 em 2006-07, e daí para baixo. O senegalês conseguiu a proeza de fazer mais faltas do que pontos em sua carreira (1.219 x 1.185). Nos, hã, bons tempos, Diop até protegia o aro em Dallas, revezando com Erick Dampier como segurança de Dirk Nowitzki. Mas foi muito pouco para justificar uma escolha tão alta, saindo direto do high school. Essa era a febre do momento, a captação de adolescentes antes mesmo de sua entrada no basquete universitário, e o recrutamento de 2001 foi um marco nesse sentido: Kwame Brown saiu em primeiro, Tyson Chandler, em segundo, Eddy Curry, em quarto. Kwame e Curry foram decepções, mas renderam muito mais que o africano, selecionado enquanto nomes como Joe Johnson, Zach Randolph, Richard Jefferson, Troy Murphy, Jason Collins, Brendan Haywood e Samuel Dalembert estavam disponíveis. Não vale mencionar Tony Parker aqui, pelo fato de o francês ter sido uma aposta inesperada do Spurs ao final da primeira rodada.

Quanto a Wagner, recordamos uma das histórias tristes recentes do basquete americano. Quando garoto, chegou a ser comparado a Allen Iverson. É aquele tipo de paralelo que sempre parece injusto, mas registre-se que o rapaz chegou a marcar 100 pontos numa partida de high school em New Jersey. Extremamente badalado, o cestinha preferiu jogar um ano por John Calipari na Universidade de Memphis. Sua experiência na NCAA não foi das melhores, mas a fama dos tempos de colegial ainda inflacionava sua cotação para o Draft de 2002. Nenê, Amar’e Stoudemire, Caron Butler e Chris Wilcox foram escolhidos entre os sétimo e décimo lugares.

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Tivesse esperado mais, talvez não assinasse nenhum contrato com a NBA. Wagner sofreu diversas lesões e com problemas de saúde em suas três primeiras temporadas e desfalcou o Cavs em 144 jogos. Na campanha 2004-05, então, foi afastado por conta de uma colite ulcerosa. É uma doença inflamatória intestinal rara, com incidência em 0,1% da população americana, por exemplo, e considerada crônica por muitos especialistas. No caso de Wagner, a medicação não surtia efeito. Em 2005, então, ele passou por uma cirurgia para remoção completa do cólon. Dispensado pelo Cavs, ele ainda tentou retornar a jogar em 2006, assinando com o Golden State Warriors. Novamente doente, foi cortado do elenco após uma partida e sete minutos. Estima-se que, ao menos, tenha ganhado  mais de US$ 8 milhões devido ao primeiro contrato.

– O primeiro time a gente não esquece
É preciso entender que a ideia de Jim Paxson não era ter uma boa equipe no início da década. O dirigente adotou a estratégia do quanto pior, melhor, para concorrer aos principais calouros da liga. Quando LeBron chegou em 2003, o cenário era de terra arrasada, mesmo. De qualquer forma… aquele elenco do Cavs era qualquer coisa de frankenstênico. Bad boys, veteranos improdutivos (Eric Williams, Ira Newble, Lee Nailon, Kevin Ollie, Tony Battie, Argh Argh), fiascos de Draft (já citados) e o caos geral: ao todo, 21 atletas se fardaram pela equipe no campeonato.  É tanta informação aqui, que a CPU começa a esquentar, castigando a ventoinha.

Darius Miles: presente para quem?

Darius Miles: presente para quem?

Os bad boys: Darius Miles, um promissor ala selecionado pelo Clippers em 2000, também vindo direto do high school, mas criticado constantemente por seus técnicos devido ao comportamento pouco entusiasmante em treinos e jogos; Ricky Davis, um cestinha explosivo, mas também fominha inveterado e que, num jogo contra o Utah Jazz, já arremessou contra a própria cesta para pegar o ‘rebote’ e completar um suposto triple-double. Despertou a ira de Jerry Sloan, que ordenou, em nome do basquete, que seus jogadores o quebrassem em quadra. Você por acaso gostaria de cercar seu prodígio com companheiros assim? Pobre Paul Silas, um técnico que, nos tempos de atleta, foi um grande pivô e também referência de vestiário.

Paxson ao menos entendeu o perigo dessa situação e se livrou dos dois jogadores. Primeiro, em dezembro, mandou Davis para o Boston. Em janeiro, Miles foi despachado para Portland. Quando chega a hora de desfazer de um problema, dificilmente virá em contrapartida o jogador dos sonhos. No pacote por Davis, ainda foi incluído o pivô Chris Mihm. Ambos foram trocados pelos alas Eric Williams e Kedrick Brown e o pivô Tony Battie. Aos 31 anos, já degastado, Williams acertou apenas 25,3% de seus tiros de três pelo Cavs e 36,6% dos chutes em geral. Battie teve médias de 5,4 pontos e 4,8 rebotes em 19 minutos, mas, com 2,11 m e boa capacidade atlética, convertia apenas 42,7% de seus arremessos. Dramático. Miles ao menos rendeu ao Cavs o armador Jeff McInnis, que ajudaria LeBron na condução do time, que até ensaiou uma reação e lutou por vaga nos playoffs, terminando com 35 vitórias e 47 derrotas. Aos 29 anos, porém, não era uma solução de longo prazo.

Mesmo jovem, para um jogador inteligente como LeBron, só dois parceiros deveriam se safar: Zydrunas Ilgauskas, com quem desenvolveu ótimo relacionamento, e Carlos Boozer, um acerto de Paxson no Draft de 2002, para compensar todos os problemas que teve com Wagner. Juntos, os dois pivôs contribuíram naquele ano com 30,8 pontos e 19,5 rebotes. O ala Jason Kapono não conseguia marcar nem a própria sobra, mas ao menos era um excelente chutador para tentar espaçar a quadra – o único especialista no elenco. Em 2005, ficou fora da lista de protegidos no Draft de expansão para a formação do elenco do Charlotte Bobcats e acabou recrutado.

Agora, um detalhe: nem mesmo uma boa notícia como o rendimento de Boozer duraria muito. O pivô revelado pelo Coach K passou a perna na diretoria do Cavs ao final do campeonato. Por ter sido escolhido na segunda rodada, seu contrato tinha um valor já bastante defasado. Querendo agradar o jovem pivô, então de 22 anos, o clube concordou em exercer uma opção contratual para torná-lo agente livre e aí fechar com ele um acordo muito mais lucrativo. Foi tudo acertado verbalmente (algo, em tese, proibido pela liga). Boozer foi liberado e… Assinou com o Utah Jazz. Uma punhalada que o tornou persona non grata em Cleveland. O jogador recebeu uma bolada, foi eleito duas vezes para o All-Star Game em sua nova equipe, mas virou as costas para LeBron. Valeu a pena? Bom, talvez a bagunça fosse tão grande que ele não se importasse.

– Procura-se um ala
Não dava para depender de Williams e Newble, obviamente. Paxson conhecia a necessidade de buscar um parceiro para LeBron no perímetro. O Draft de 2004 era uma boa oportunidade para tanto. Na décima posição, não daria para escolher Andre Iguodala, Luol Deng ou Josh Childress. Então foram de Luke Jackson. Jackson não era tão comentado assim quando jogava pela Universidade de Oregon, mas que impressionou os olheiros durante a fase de treinos. Já tinha 23 anos e teoricamente estava pronto para contribuir, com um perfil técnico que se encaixava: tinha capacidade atlética, bom arremesso e visão de quadra. Pelo menos era o que o gerente geral do Cavs enxergava. Só não deram tanta atenção aos exames médicos, físicos realizados pelo jogador. Assim como Wagner, Jackson mal conseguiu parar em pé. Em dois anos, disputou apenas 46 partidas pelo time, com média inferior a oito minutos e um total de 125 pontos. Aos 27,  já não estava mais na liga.

Pavlovic, não deu

Pavlovic, não deu

Já preocupado com a condição de Jackson, o cartola, então, orquestrou uma troca ao final da temporada, dando uma escolha futura de Draft ao Charlotte Bobcats, para receber Sasha Pavlovic. O sérvio já havia sido descartado pelo Utah Jazz, mas era jovem, com 21 anos e potencial a ser explorado. Só recebeu, porém, 13 minutos em média no primeiro ano em Cleveland, enquanto Ira Newble recebia 23 minutos. Foi reserva  durante boa parte de sua estadia em Cleveland. Em fevereiro de 2005, então, uma nova negociação foi feita, por mais um europeu: o tcheco Jiri Welsch, que vinha do Boston Celtics, custando ao time mais uma escolha de Draft. O tcheco era habilidoso com a bola, bom passador, versátil, mas havia mostrado pouco por Golden State ou Boston para justificar a transação. Em junho, já seria repassado ao Milwaukee Bucks.

Aqui, já começa um padrão bem maluco: o time sacrificava seu futuro para (tentar) melhorar de imediato, mesmo que sua jovem estrela estivesse apenas no segundo ano de liga. As duas escolhas gastas seriam usadas em 2007, respectivamente com  Jared Dudley e Rudy Fernández. Quando o Cavs foi eliminado pelo Celtics em 2010, Dudley era um jogador importante na rotação do Phoenix Suns, vice-campeão do Oeste. Bom defensor, sólido arremessador da zona morta, inteligente, poderia o ala poderia, quiçá, ter sido um Shane Battier antecipado na vida de LeBron.

– Troca de comando
Dan Gilbert comprou o Cleveland Cavaliers em março de 2005 e prometeu mudanças. Três semanas depois, Paul Silas foi demitido, com uma campanha de 34 vitórias e 30 derrotas. A equipe estava dentro da zona de classificação para os playoffs, mas vinha perdendo rendimento. O experiente assistente Brendan Malone foi promovido e venceu 8 de 18 partidas. O time acabou eliminado na temporada regular. Aí foi a hora de Jim Paxson procurar outro emprego também, mesmo que, antes de o campeonato começar, tivesse fechado uma excelente troca para amenizar a saída de Boozer: mandou Tony Battie para Orlando e recebeu Drew Gooden (quarta escolha em 2002) e Anderson Varejão, a primeira escolha da segunda rodada naquele ano (30º no geral). Além disso, cuidou para que o clube tivesse espaço em sua folha salarial para investir para a próxima temporada. O conjunto da obra era fraco, mesmo.

Danny Ferry foi o escolhido para o seu lugar – contratado depois de Mike Brown, aliás, o novo técnico. Ele havia defendido o Cavs na década de 90 e vinha trabalhando em San Antonio, cidade que havia conquistado dois títulos em três anos. O novo gerente geral tinha uma grande oportunidade de remontar a equipe em torno de LeBron – mas também trabalhava pressionado por Gilbert, que queria os playoffs a qualquer custo.

Dan Gilbert, Danny Ferry, Mike Brown, LeBron James: sobraram dois

Dan Gilbert, Danny Ferry, Mike Brown, LeBron James: sobraram dois

Ray Allen e Michael Redd eram os alvos iniciais, mas renovaram com Seattle e Milwaukee, respectivamente. Pois Ferry, em vez de usar da precaução e manter a flexibilidade financeira, torrou uma bela grana em opções alternativas que se provaram, em retrospecto, errôneadas: o ala-armador Larry Hughes, Donyell Marshall e Damon Jones.

O maior equívoco foi Hughes. Se, no futuro, haveria questões sobre como o jogo de Dwyane Wade e o de LeBron poderia se encaixar, com o ala-armador ex-Wizards simplesmente não rolou. Era mais um jogador que precisava da bola para entrar em ritmo no ataque, mas tinha um chute de longa distância ainda menos eficiente (30,9% de três na carreira e 34,2% com a camisa do Cavs). Lembrando que LBJ ainda tinha Para complicar ainda mais o entrosamento se lesionou no primeiro ano em Cleveland e não rendeu bem nos playoffs. Marshall e Jones seriam os gatilhos para tentar remediar essa carência, depois de terem se valorizado bastante nas duas campanhas anteriores. Mas já eram veteranos, perto do declínio físico.

Cavs sonhava com Redd, se contentou e pagou muito por Hughes (d)

Cavs sonhava com Redd, se contentou e pagou muito por Hughes (d)

O Cavs melhorou consideravelmente e alcançou a marca de 50 vitórias pela primeira vez desde 1993mas , isso tinha muito mais a ver com a evolução natural de LeBron e com a fortíssima defesa orientada por Brown, do que por melhora significativa no plantel, e Ferry já estava de mãos atadas. A ponto de as próximas contratações de agentes livres terem sido mais veteranos em final de carreira David Wesley, Scott Pollard, Devin Brown e Lorezen Wright, caras para compor o banco, e olhe lá. Qualquer evolução a partir daí caberia ao craque e ao treinador, mesmo.

A campanha de 2007 foi idêntica: 50 triunfos e 32 derrotas. Nos playoffs, porém, o time deslanchou, batendo Wizards, Nets e Pistons para conquistar o Leste pela primeira vez em sua história. Na decisão regional contra Detroit, LeBron teve uma das melhores atuações de sua careira. Na verdade, dá para especificar: uma das duas melhores – ao lado do Jogo 6 da final do Leste de 2012 contra o Boston Celtics. Tive o prazer de gravar um VT desta partida de , pelo Sports+, neste ano, ao lado do chapa Marcelo do Ó. Era o Jogo 5 da série, e o craque, aos 22 anos, realmente fez de tudo pela vitória:  anotou 25 pontos consecutivos para o Cavs entre o quarto período e a prorrogação, e 29 dos últimos 30 do seu time, chegando a 48 para derrubar Billups, Hamilton, Prince e Rasheed, a base campeã em 2004. Foi um divisor de águas para a estrela: ainda havia muita gente disposta a questionar sua integridade em momentos decisivos.

Se LeBron foi heróico, é por ter precisado agir assim, fora de seu modus operandi. Na visão do craque, basquete é um jogo que se vence e perde em conjunto. Acontece que, com Eric Snow, Daniel Gibson, Jones, Hughes e Pavlovic ao seu lado, fica difícil. A rotação de pivôs era sólida, com Ilgauskas ainda em relativa boa forma, Varejão aprontando das suas, Gooden e Marshall. Mas a turma do perímetro… Sem condições. Tirando o camisa 23, não havia ninguém ali em condições de criar jogadas. As tentativas de Pavlovic, sem aliviar, chegavam a ser hilárias. Eric Snow estava mais para Stone, com sua postura petrificada. Gibson era um calouro.

Na decisão, de qualquer forma, veio o choque de realidade: foram varridos pelo San Antonio Spurs. Era outro ponto a mais para se considerar:  a conferência é fraca há tempos já. Havia o decadente Detroit Pistons, e mais nada – o revival do Boston Celtics só aconteceria no ano seguinte, o Indiana Pacers foi destroçado por Ron Artest e o Chicago Bulls de Scott Skiles era quase um fac-símile da versão Thibs: defendia horrores, com operários adoráveis, mas morria nos playoffs. Ciente de que o que tinha em mãos não era o bastante, a diretoria passou a perseguir trocas. No entanto, o velho dilema se repete: se você está interessado em se desfazer de um contrato ruim, é bem provável que vá ter de receber o entulho do outro.

– A ciranda
Ninguém vai poder dizer que Ferry não tentou. Em fevereiro de 2008, veio a primeira chacoalhada, numa negociação tripla, mandou Hughes, Marshall, Gooden, Shannon Brown e o pivô Cedric Simmons embora, dando lugar a Ben Wallace, Joe Smith, Wally Szczerbiak e Delonte West. A equipe foi eliminada pelo Boston Celtics na semi do Leste (4 a 3). Em agosto do mesmo ano, trocou Smith e Jones por Mo Williams, cujas habilidades eram um ótimo complemento para as de LBJ. O Cavs conseguiu a melhor campanha da história (66 vitórias e 16 derrotas), mas perdeu na final de conferência para o Orlando Magic, de modo surpreendente. Então que mudassem de novo, em junho de 2009 trouxe Shaquille O’Neal de Phoenix, pagando Wallace, Pavlovic, uma escolha de Draft e US$ 500 mil. Por fim, no meio da temporada 2009-10, partiu o coração de muita gente ao trocar Zydrunas Ilgauskas e mais uma escolha de Draft para ter Antawn Jamison e Sebastian Telfair. E o Cavs voltou a perder para o Celtics, por 4 a 2, pela segunda rodada.

Olhar o quê, exatamente?

Olhar o quê, exatamente?

Com exceção de West e Williams, a esmagadora maioria das aquisições foi de jogadores envelhecidos, bem distante de seu auge atlético. Foram todas contratações um tanto desesperadas, imediatistas, para tentar agradar a LeBron antes que ele se tornasse um agente livre. Não funcionou. Por mais competitivo que o time tenha sido, a frustração por tantos revezes consecutivos nos playoffs foi enorme. Será que nem mesmo um craque desse porte conseguiria livrar Cleveland de sua teimosa maldição? Numa última medida, Gilbert saiu dos bastidores e demitiu Brown, apesar da equipe ter feito a melhor campanha nas últimas duas temporadas combinadas. Ferry não aprovou a decisão, e acabou se desligando do time também “em comum acordo” (aquela de sempre). Seu assistente, Chris Grant, foi promovido. Byron Scott foi contratado. LeBron se mandou para Miami.

– A reconstrução
Não há como se recuperar de imediato com uma perda dessas. Simplesmente não dá, especialmente depois de o clube ter apostado todas as suas fichas em negócios de pouco fôlego. Byron Scott jamais vai admitir isso, mas duvido que topasse a oferta do Cavs se soubesse que sua rotação na temporada regular seria composta por Mo Williams, Ramon Sessions, Daniel Gibson, Anthony Parker, Antawn Jamison, Anderson Varejão, JJ Hickson e Ryan Hollins. Conta outra.

O que Grant conseguiu fazer foi juntar cacos peças para o futuro. Ajudou já o fato de ter fechado um sign-and-tarde com o Miami Heat, já coletando duas escolhas de primeira rodada do Draft e duas de segunda. Nenhuma delas foi aproveitada pelo time em sua rotação, é verdade. Mas foram triunfos para outras transações. Outra escolha de segunda rodada veio em um negócio tramado com o Minnesota Timberwolves (Telfair e West por Sessions e Hollins). A terceira troca foi ainda mais lucrativa: assimilou o contrato de Baron Davis, dando Williams ao Clippers, para receber uma escolha de Draft de 2011. A franquia californiana pretendia abrir espaço salarial e caçar novos atletas (CP3 chegaria nessa). Mas o pick cedido deu ao Cavs a sorte grande: Kyrie Irving. Sem saber, a franquia começava a pavimentar a via para o Retorno. Em quarto, adicionou Tristan Thompson, coincidentemente agenciado por um amigo de infância de LeBron, Rich Paul. Para completar, ainda mandaram JJ Hickson para Sacramento, por Omri Casspi e mais uma escolha.

O processo de acúmulo de ‘ativos’ continuou na campanha 2011-12, quando Ramon Sessions foi enviado ao Los Angeles Lakers em troca de Luke Walton e mais um pick de primeira rodada, além do direito de inverter a ordem de seleção com o time californiano em 2013, se julgasse necessário (aconteceu). Para não perder a conta, nessas cinco transações, foram adquiridos seis picks de primeira rodada. No Draft, chegaram Dion Waiters e Tyler Zeller. Uma sexta troca, agora com o Memphis Grizzlies, renderia nova escolha, para que pudessem acolher Wayne Ellington, Marreese Speights e Josh Selby. Nenhum deles seria uma peça integral, mas o que valia era o suculento adicional do negócio.

Na teoria, o time ia se abastecendo de jovens atletas e moedas de troca valiosas para o futuro. Na prática, verdade seja dita, o time era uma bela porcaria, vocês sabem. Foram 64 vitórias em 230 jogos. E aí que a paciência de Gilbert chegou ao limite. O proprietário enquadrou Grant, dizendo que era a hora de obter resultados mais concretos. Sobrou primeiro para Scott, que não conseguiu desenvolver seus atletas, muito menos instaurar uma aura vencedora no vestiário – ainda que uma cobrança dessas fosse uma baita hipocrisia, considerando que o evidente plano do gerente geral era perder para pensar no futuro. Assim como faz o Philadelphia 7e6rs hoje.

A escolha de Draft do Memphis que chegou a Cleveland com Wayne Ellington ajudou na troca por Timofey Mozgov

A escolha de Draft do Memphis que chegou a Cleveland com Wayne Ellington ajudou na troca por Timofey Mozgov

Antes de Lebron, então, quem voltou foi Mike Brown, com um contrato de cinco anos e US$ 25 milhões. Ele retomava seu antigo cargo com o privilégio de poder orientar dois novatos número 1 do Draft, já que Anthony Bennett se juntava a Irving. O russo Sergey Karasev era mais um jogador jovem para a base. No mercado, contratou Jarrett Jack (pagando demais), Earl Clark e Andrew Bynum (uma roubada). No meio do campeonato, pela primeira vez desde 2010, o Cavs faria uma troca na qual o jogador mais relevante estava chegando, em vez de saindo: Luol Deng. Mas o time não evoluiu da forma que Gilbert esperava.

O desempenho de Bennett era decepcionante, e Bynum armou um circo, antes de ser envolvido na transação por Deng. A sucessão de erros recentes custou a demissão de Grant. David Griffin foi promovido e ainda teve de providenciar a chegada do pivô Spencer Hawes, do Sixers, numa vã tentativa de subir na tabela. Os veteranos não influenciaram a campanha,  e o time ficou fora do playoffs. Foi a vez de Brown ser novamente chutado para escanteio, mesmo com US$ 20 milhões ainda por receber da franquia.

De todo modo, a visão geral de Grant estava correta. O time estava preparado para avançar, ainda que tenha tropeçado feio em seu último ano de gestão. O campeonato ruim colocou o time novamente na loteria do Draft, e o restante dos concorrentes entrou em choque ao saber que, pela terceira vez em quatro anos, a família Gilbert era agraciada novamente com o primeiro lugar da lista e o direito a optar entre Andrew Wiggins, Jabari Parker e Joel Embiid. Uma das escolhas de Draft acumuladas durante o processo foi enviada por Griffin para o Boston Celtics, ao lado de Tyler Zeller, para que o clube pudesse se desfazer dos contratos de Jack e Karasev. Estava aberta a trilha para a contratação de LeBron – e de Kevin Love. Outra das escolhas foi usada para aquisição de Timofey Mozgov, enquanto Dion Waiters foi peça central na troca por Iman Shumpert e JR Smith. Aí… Bem, aí que o Cavs torna a disputar o título depois de oito anos.

Desde que publicou sua celebrada carta na Sports Illustrated, LeBron pediu paciência a todos. Que as coisas levariam um tempo até a se ajustar. Quando se apresentou ao clube, porém, ficou claro que o mais ansioso pela conquista de bons resultados era o próprio craque. Vem daí a troca de Wiggins por Love. O astro também deu uma canseira em David Blatt, deixou claro seu descontentamento com o próprio Love e com Irving e Waters em diversas partidas e não parou de mandar recados, velados ou não. Seu discurso inicial não poderia ser mais vazio. LeBron queria o título, e para já. Agora tem uma segunda chance, em busca da redenção em sua terra natal.  A diretoria, mais uma vez, cedeu a todos os seus pedidos. Só esperam todos que o desfecho seja diferente. Para agora e um pouco mais à frente.


Chegou a hora de aceitar o Atlanta Hawks como sério candidato
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Giancarlo Giampietro

Estão aí para ficar

Estão aí para ficar

Há alguns caminhos básicos para aceitar um time qualquer como favorito, ou forte candidato ao título. Cada vez mais se valoriza números e números, dentre os quais o saldo de pontos acumulado durante a campanha se destaca como um grande indicador para além da óbvia comparação entre vitórias e derrotas. O seguidor mais conservador pode se apegar a outros fatores como a quantidade de superestrelas em um elenco e o retrospecto, histórico recente dessa equipe nos mata-matas. Ainda assim, essa abordagem também tem uma base empírica, já que são raríssimos os casos de clubes que conquistaram a NBA sem contar com um craque transcendental em sua formação.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Tanto que o Detroit Pistons virou a menção obrigatória de exceção dessa regra, com os Wallace que não eram irmãos e a dupla entrosadíssima de Billups e Hamilton. Todos All-Stars, bem acima da média, que se entenderam muito bem e entraram para os livros históricos. Mas nenhum deles vai entrar no panteão. O Spurs de 2014 poderia até entrar nessa lista também, mas vai depender de como você avalia o fato de a equipe contar com Parker, Duncan e Ginóbili, que já não estavam no auge mais, mas cujo currículos causam, de qualquer forma, inveja em muita gente.

Deixemos os atuais campeões de lado, todavia. Ou melhor: nem tanto, já que, para falar sobre o Atlanta Hawks, não dá para ignorar o fator #SpursDoLeste, com um time armado sob os mesmos princípios saudáveis que Gregg Popovich consolidou em San Antonio. Em seu segundo ano de trabalho na Geórgia, Mike Budenholzer vai obtendo resultados incríveis. Nesta quarta, por exemplo, ele já se assegurou como o técnico da seleção do Leste no All-Star Game, com a melhor campanha da conferência, por ora inatingível. Seus atletas venceram 28 das últimas 30 partidas que disputaram, vindo de 14 vitórias seguidas, igualando o recorde da temporada 1993-94. Os falcões estão voando, mesmo, como nunca antes na história da franquia. Ainda assim, guiada por princípios históricos – resumidos na marcante frase de Jordan sobre crianças, homens e playoffs –, a crítica demorou a reconhecê-los como séria ameaça na liga americana. Pode incluir esta besta quadrada aqui nesse pacote. Pode, também, esquecer qualquer preconceito. O Atlanta veio para ficar.

Não quer dizer que o título é deles já, de modo antecipado. Que seja impossível de perder. Qualquer lesão de Al Horford, Jeff Teague, Kyle Korver e Paul Millsap já os deixariam em maus lençóis. O Washington segue jogando de igual para igual com a maioria dos grandes. Mesmo em espiral, Toronto não pode ser desrespeitado. Para não falar de Chicago e Cleveland, esses, sim, os conjuntos estelares, que vão chegar aos mata-matas, independentemente da histeria ao redor de ambos. Importante dizer que todos esses times já foram surrados pelo Hawks. De qualquer modo, muita coisa pode acontecer em 40 partidas, em três meses de temporada regular até a chegada aos mata-matas.

Se tivéssemos, no entanto, a chance de congelar o tempo e deslocar esse Hawks de hoje, 22 de janeiro de 2014, e descolá-lo para os primeiros dias de abril, teríamos no páreo um favorito, e tanto. Favorito e encantador, ainda que sem o sex appeal de um Golden State Warriors comandado por um técnico tão carismático e vitorioso e liderado em quadra por um talento precioso como o de Stephen Curry.

O irônico é que o gerente geral Danny Ferry, ainda afastado por uma gafe-ou-comentário racista, fez de tudo para contratar a chamada superestrela. Alguém da estirpe de Curry – ou do ala-pivô Bob Pettit, que guiou a equipe nos tempos de St. Louis ao título em 1958, desbancando Bill Russell, Red Auerbach e o Celtics. Foi atrás de Chris Paul e Dwight Howard, nativos da Geórgia, quis também se reunir com Carmelo e LeBron. Dikembe Mutombo, Joe Johnson e Isaiah Rider (risos) que nos desculpem, mas o clube não conta com ninguém desse porte desde as cravadas inigualáveis de Dominique Wilkins nos anos 80.

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Sefolosha não tem nem 5% do apelo de um LeBron, mas se encaixou bem no banco de reservas, para dar um descanso a Carroll. Ele e Bazemore fortalaceram a rotação de Budenholzer com energia e pegada defensiva

Não rolou, claro. Fechou, então, com Millsap, Korver, DeMarre Carroll, Mike Scott, Pero Antic, Thabo Sefolosha e Kent Bazemore. E não é que deu certo? Com um basquete eficiente, consistente, de movimentação de bola totalmente solidária e arremessadores perigosos para quebrar qualquer sistema defensivo, de Thibs a marcação por zona, a turma de Al Horford está arrebentando. Ênfase em solidariedade, por favor. É um conceito que pode ser banalizado se usado a cada crônica de jogo, a cada análise de uma equipe. Neste caso, contudo, não precisa se preocupar, pois o termo cabe ferfeitamente.

O Atlanta é o segundo time em assistências por jogo, atrás do Golden State. Mas acho que já aprendemos que se basear apenas em números absolutos não cola mais, né? Cada equipe joga num ritmo, produzindo mais ou menos números. O melhor, sempre, é saber o quão eficiente o conjunto se apresenta. Então que tal conferir o ranking de assistências por posse de bola e ver que, nessa medição, eles aparecem em primeiro? Lideram também a coluna de percentual de cestas de quadra que são assistidas – o Spurs, observem, está em terceiro. Esse padrão se mantém para seus chutes de três pontos: apenas 7,1% dos tiros de longa distância decorrem de jogadas individuais, em vez de um passe, contra 9,2% do Spurs. Istoé, Jamal Crawford, Nick Young e JR Smith não teriamm espaço por lá. Nas bolas de dois pontos sem assistências, o percentual sem assistências é maior (39,9%, e aqui entram as infiltrações de Jeff Teague e Dennis Schröder), mas ainda é o menor da liga.  Por fim, na média de assistências para cada turnover, estão em terceiro. Nas últimas sete vitórias, em seis ocasiões eles bateram a marca de 30 assistências. Vamos todos juntos, então, repetir: jo-go so-li-dá-rio. Pode soletrar também, se achar necessário.

A excelente visão de quadra e a predisposição para passar a bola resultam, obviamente, numa bola seleção de arremessos. A equipe é a terceira no aproveitamento efetivo de arremessos, a medição que dá um pouco mais de valor para os arremessos de três pontos, já que… segundo minhas contas, três é maior que dois. Sim, Budenholzer também é um adepto dos arremessos de três como peça integral de uma ofensiva, tendo o segundo melhor aproveitamento da liga nesse quesito (atrás apenas do Golden State). O sistema do ex-assistente do Coach Pop enfatiza o chute de fora, mas não chega a ser obcecado como o Houston Rockets, sendo o nono que mais arrisca, mas com oito tentativas a menos que os texanos). Por ter um excelente rendimento, no entanto, é o quarto time que mais depende da bola de longa distância para gerar pontos.

Parêntese obrigatório aqui para o Sr. Kyle Elliot Korver, nascido no dia 17 de março de 1981, natural de Lakewood, na Califórnia. O que ele está fazendo nesta temporada não existe. Quer dizer: existe, mas é inédito – nunca um atleta terminou a temporada regular com mais de 50% tanto nos arremessos de dois como de dois e 90% nos lances livres. Seus números, respectivamente: 51,8%, 53,5% e 92,2%. Ele lidera a liga no aproveitamento do perímetro pelo segundo campeonato seguido. Sua habilidade neste fundamento faz com que seus companheiros ataquem com 4 contra 4, já que ele não pode ficar livre de modo algum. Ele transformou um chute de três em bandeja, gente. E aí que foi engraçado ver o cara enterrar nesta quarta contra o Indiana Pacers, em transição. Foi sua primeira cravada desde desde 16 de novembro de 2012, contra o Kings! No meio do caminho, ele matou 484 chutes de fora em 198 jogos. Vejam abaixo e, logo depois, seu esmeraldino gráfico de arremessos:

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

É de se lamentar o péssimo aproveitamento na zona de média distância pela direita do ataque. Tsc, tsc

Korver merece estar no All-Star. Mas este também é o caso de Teague, jogando seu melhor basquete, Millsap, que vai receber uma bolada no mercado de agentes livres, e Horford, o faz-tudo perfilado por Zach Lowe com a maestria de sempre e que só não tem o status de superestrela por jogar em Atlanta e pelas lesões peitorais bizarras. Dificilmente os técnicos vão encontrar espaço no banco da seleção do Leste para fazer justiça a todos eles.

Ao menos eles não dão a mínima para isso. Millsap ficou todo orgulhoso ao ser selecionado no ano passado, mas vai sobreviver se a façanha não se repetir. O mesmo vale para os outros. Afinal, numa unidade dessas, é muito complicado separar o sucesso de um e o do outro. “Sentimos que temos peças realmente boas que combinam bem, e entendemos que temos de jogar juntos para ter sucesso”, diz o atirador de elite.

Korver e seu arremesso perfeito

Korver e seu arremesso perfeito

Depois de longa consulta nos números, são poucos os pontos fracos a serem apontados para um raro caso de time que está entre os dez melhores no ranking de eficiência ofensiva e defensiva (Golden State, soberano, e Portland são os outros). O máximo que dá para falar é de uma fragilidade nos rebotes. Na tábua defensiva, ocupa apenas a 18ª posição na coleta de rebotes disponíveis, situação da qual Greg Monroe e Andre Drummond tiraram proveito na segunda-feira (juntos, somaram 12 rebotes ofensivos). Além disso, o Hawks é o 19º em contra-ataques: apenas 11,6% de seus pontos saem em transição, contra 18,6% do Warriors, e também o 18º em lances livres (17,1%). Esses pontos, porém, não preocupam tanto, devido a sua excelência na execução em meia quadra. Para os mata-matas, porém, podem fazer falta.

Ah, claro, se for para falar de números, o pior de todos é o de público, o sétimo pior da liga, com 16.327 espectadores em média – 2.500 a mais que o lanterna Timberwolves. O torcedor de Atlanta tem demorado para se interessar pela excelente fase. A despeito do incidente com Ferry, passar os dias sem prestigiar essa equipe é um pecado. Contra o Pistons, no feriado em homenagem a Martlin Luther King, a arena teve capacidade esgotada (19.108). Contra o modorrento time do Pacers, nesta quarta, só 15.045 foram ao ginásio. A baixa audiência só não impede que o valor da franquia tenha subido quase 100% no último ranking divulgado pela Forbes.

Vale mencionar também que o Hawks encarou até o momento a quinta tabela mais fraca da liga. Juntos, seus adversários têm aproveitamento de 48,9,%. Por outro lado, estão empatados com o Bulls nesse quesito. O Wizards, concorrente direto, teve a segunda jornada mais fácil, com 48%. O time de Budenholzer também fez mais jogos fora do que em casa (22 x 21, é verdade).

Então é isso: você precisa se esforçar para encontrar algum senão nessa jornada do Hawks, que se tornou apenas o terceiro time da história do Leste a somar 28 vitórias em um intervalo de 30 jogos. Os outros dois? Miami em 2012-2013 e Chicago em 1995-96, e ambos levaram o título.  Bastam mais três triunfos para que eles igualem as 38 da temporada passada (38). Com aproveitamento de 81,3% na atual campanha, a equipe cresceu até o momento 34,7%, o maior salto.

Recordes? All-Star? Favoritismo? Não que isso tudo valha algo para eles. “Todos nós sabemos de verdade que ainda não conquistamos nada”, disse Korver. “Eu amo quando a melhor equipe vence os melhores jogadores. Foi o que aconteceu nas finais do ano passado para mim.”

A final vencida pelo Spurs. Vocês sabem, o Hawks do Oeste.


Atlanta Hawks: comentário racista deixa time indefinido
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Se for para comparar o que ele estava fazendo em Atlanta com a operação que conduziu em Cleveland, Danny Ferry era um homem completamente diferente. O gerente geral do Hawks se livrou do supercontrato de Joe Johnson e ainda recebeu escolhas de Draft nessa – quando o inverso parecia necessário –, limpando sua folha salarial. Deixou Josh Smith ir embora, com todo o seu talento, mas toda a dor-de-cabeça que causa também. Contratou Paul Millsap por uma pechincha, conseguiu tirar Mike Budenholzer da sombra de Gregg Popovich. Tudo parecia muito promissor, um processo arrumadinho, à espera de mais uma grande contratação, ou de mais alguns bons negócios que pudessem levar a franquia para o topo no Leste.

Até que… Bomba.

Ferry e o Hawks: agora no limbo

Ferry e o Hawks: agora no limbo

O cartola usou a maldita frase: “Luol Deng tem um quê de África nele” (numa tradução livre, insinuando que havia algo de mentiroso por trás da boa imagem do ala) em conversa com os proprietários do clube, em teleconferência antes de abrir negociações com agentes livres, e a gravação vazou. Depois do escândalo envolvendo Donald Sterling, era tudo o que a NBA menos queria, de que menos precisava. O comentário lamentável forçou seu afastamento por tempo indeterminado – embora, pasme, não tenha causado sua demissão. E o Hawks, um dos times com maior dificuldade para encher seu ginásio e consolidar sua marca, despencou nos rankings de afabilidade da liga. Se é que isso era possível, e por mais que muitas fontes tenham saído em defesa de Ferry, dizendo que ele nunca foi conhecido como alguém de ideias ou comportamento racista. Até mesmo Deng. Mas não tinha jeito, o estrago estava feito.

“Quando fui trocado para o Hawks, não queria vir para cá porque, por tudo o que sabia e ouvia, falava sobre o ambiente ruim, sem torcedores, sem empolgação nenhuma na cidade. Fiquei muito chateado ao sair de Chicago. Mas depois aceitei renovar meu contrato. Depois de ver o que o Danny estava falando, as pessoas que ele estava trazendo”, disse Kyle Korver. “Estava ficando mais atraente, e eu realmente acreditava no projeto, com um potencial enorme na cidade. E aí acontece isso. Espero que, quando a poeira abaixar, que esse projeto continue. Qualquer um que conheça o jogo e tenha visto nossa transformação vai concordar. Mas é triste que isso tenha acontecido. Isso me deixa bem chateado.”

O time: em quadra, o Hawks vai tentar se livrar dessa frustração com um conjunto bem entrosado e, esperam, que possa desenvolver as ideias de Budenholzer, na segunda temporada sob sua orientação, com muita movimentação de bola e pick and rolls. Podem esperar ainda mais arremessos de três pontos, depois da segunda colocação no campeonato passado nesse fundamento. Que o diga Paul Millsap, por exemplo. O ala-pivô saiu de 39 chutes de fora em 2013 para 212 em 2014 (mais de 5 vezes mais) Com Pero Antic em quadra, o técnico pode escalar até cinco chutadores abertos, sem pestanejar. Para a defesa, Thabo Sefolosha e Kent Bazemore chegam para ajudar DeMarre Carroll, deixando a rotação mais vasta e forte. Fica a dúvida, porém, sobre a forma física de Al Horford. O pivô dominicano já sofreu bizarramente duas rupturas musculares no peito, tendo disputado apenas 11 jogos em 2011-12 e 29 na campanha passada. Com Horford, o Hawks teve 16 V e 13 D (55,1%). Sem ele,  22 V e 31 D (41,5%).

A pedida: essa é difícil de responder, não só devido ao afastamento de Ferry, mas porque o clube está à venda. O ex-jogador e comentarista Chris Webber já se candidatou a comprá-lo, apoiado por investidores. Supostamente, a atual configuração do Hawks vai jogar para entrar nos playoffs e tentar fazer um estrago. Se o vestiário estiver tumultuado, se Horford não se recuperar bem, porém, as coisas ficam bem mais complicadas numa conferência que ficou mais forte.

Al Horford, e sua lesão complicada no peito

Al Horford, e sua lesão complicada no peito

Olho nele: Dennis Schröder. O alemão abre sua segunda temporada, disputando os minutos de reserva de Jeff Teague com Shelvin Mack. Seu progresso é importante por diversos fatores. Não só porque Ferry (se ele ainda apitar alguma coisa, claro) não é dos maiores fãs do armador titular, mas porque o Hawks bem que poderia usar um atleta promissor como peça valiosa em uma eventual troca. Durante a pré-temporada, Schröder teve algumas boas exibições. Ainda precisa melhorar consideravelmente seu arremesso e ter um pouco mais de calma com a bola. Mas, aos 21 anos, segue um prospecto intrigante, com muita velocidade, envergadura e visão de jogo.

Você não perguntou, mas… O ala Mike Scott tem “muito mais de 20 tatuagens em seu corpo” (já não conta mais…), das quais ele estima que “80% ou 85% sejam emojis” – os emoticons que usamos no dia a dia de teclar. “É que uso muito os emojis quando estou trocando mensagens. Isso sou eu. É original”, disse ao Mashable. As pessoas agora estão usando, mas ninguém fazia dessas antes de eu entrar nessa”, afirmou o reserva, que, vez ou outra, causa um estrago no ataque.

Curtir ou descurtir

Curtir ou descurtir

Abre o jogo: “Fica sempre na sua cabeça, mas, no final do dia, você tem de ir para a quadra e jogar basquete, independentemente de sua situação. Tenho de me concentrar neste ano, em um jogo de cada vez, sem olhar muito adiante. É ficar no presente” – Paul Millsap. O ala-pivô vai cumprir seu último ano de um curto contrato com o Hawks. Se Ferry, por um lado, acertou com o veterano por um preço muito abaixo do mercado, por outro assinou um vínculo curto.

Sergey Bazarevich, Hawks, rookie, EuroUm card do passado: hoje o Atlanta Hawks é uma das franquias de mente mais aberta para a contratação de estrangeiros. Para o lugar do assistente Quin Snyder – uma baixa bastante importante, diga-se –, por exemplo, foi contratado o croata Neven Spahija. Há 20 anos, porém, o armador Sergei Bazarevich era um peixe fora d’água ao chegar a Atlanta. O russo havia acabado de ganhar a medalha de prata no Mundial do Canadá, perdendo para a prespeira segunda versão do Dream Team, aos 29 anos. Então poderia ser um rookie de NBA, mas já era uma figura experimentada em basquete de alto nível. Sua passagem, porém, não foi das mais memoráveis: durou apenas 10 partidas, com 30 pontos e 14 assistências acumulados. Hoje, Bazarevich dirige o Lokomotiv Kuban, um dos times emergentes do basquete russo, que conta com o indomável Anthony Randolph em seu elenco.


Na ACB, Lucas Bebê deve se concentrar no desenvolvimento técnico de seu jogo, além do físico
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Giancarlo Giampietro

Lugar de Bebê é na quadra

Lucas ouve instruções em Vegas. Pelo Hawks, seria uma cena regular durante a temporada

Antes de desenvolver o físico, Lucas Bebê também tem muito o que progredir em termos de técnica.

No Atlanta Hawks, sobrando uma merreca de minutos na rotação interior, o pivô brasileiro teria muito tempo para puxar ferro, sim. Mas e a quadra? Como ficaria? Lembrando a declaração do seu agente, Aylton Tesch, ao Murilo Borges, da rádio Bradesco Esportes: “Se o Atlanta falar que vai dar de cinco a dez minutos de jogo para o Lucas e que, no final do ano, ele vai estar com 15 kg a mais de massa magra muscular e que vão fazer um trabalho extraquadra, de vídeo, para ele poder aprender mais o jogo da NBA, vale mais a pena do que se ele for jogar 25 minutos na Espanha, onde para condicionamento físico eles só querem que os atletas corram”, disse.

Lucas foi selecionado pelo Hawks no finalzinho de junho. Disputou a Summer League em julho. Ficou próximo de técnicos e dirigentes em Atlanta durante todo esse tempo, enquanto, paralelamente, Danny Ferry ia montando seu elenco para a próxima temporada da NBA. Encerradas essas contratações, não havia como garantir nem mesmo esses dez minutos com o técnico Mike Budenholzer, que tem Paul Millsap e Al Horford como seus principais pivôs, com os veteranos Elton Brand, Mike Scott, Pero Antic e Gustavo Ayón para assessorá-los, vindo do banco.

São cinco pivôs bastante versáteis, oferecendo ao estreante treinador uma combinação de habilidades interessante. Nenhum deles tem hoje a combinação de envergadura e agilidade de Lucas para proteger o aro, mas, no conjunto, é um forte quinteto defensivo. De modo que restaria ao carioca apenas as atividades complementares – ou a D-League. E, entre a liga de desenvolvimento e Liga ACB, não há muito o que escolher, não.

Não só Bebê vai ganhar mais dindin na Espanha, como vai enfrentar uma concorrência muito mais qualificada, num ambiente esportivo trilhões de vezes mais estruturado. Sem contar a familiaridade do jovem atleta com seus companheiros e com a própria competição em si, montando um cenário mais favorável para sua evolução. Se você tem uma opção de continuar num time com tradição no tratamento de jovens, brigando pelos playoffs na segunda liga mais forte do mundo, não há por que abrir mão disso. Um atleta com a sua idade – 20 anos recém-completos – tem de jogar.

“Retornar ao Estudiantes vai permitir que ele continue a se desenvolver, jogando minutos significantes contra uma competição muito boa. Vamos monitorar de perto seu progresso enquanto ele trabalha em direção a cumprir suas metas como um jogador de basquete”, afirmou Danny Ferry, ao anunciar a decisão do clube.

Não adianta também ficar obcecado agora com os músculos do Bebê (frase engraçada, né?). Com o tempo ele vai ganhar o físico necessário para encarar a elite, lembrando que não há muitos Marc Gasols ou Roy Hibberts por aí mundo afora. E, se o plano de Tesch deu certo, o Hawks deve encaminhar um preparador físico para acompanhar o atleta na Espanha.

Agora fica a expectativa para que ele se mantenha concentrado, empenhado em refinar seu jogo e avançar mais na concretização de seu imenso potencial, a despeito se sua preferência por ficar nos Estados Unidos. Caso consiga repetir o salto qualitativo que teve de 2011-2012 para 2012-13, vai estar em condição muito mais vantajosa para fazer a transição para a NBA em 2014.

*  *  *

Agora a parte chata de todo esse processo. E a seleção brasileira?

Lucas pediu dispensa no dia 18 de julho. Claro que, na NBA, as negociações são muito volúveis, uma palavra em julho não tem o mesmo peso em agosto. Naquela época, por exemplo, Gustavo Ayón ainda estava empregado pelo Milwaukee Bucks, antes de sobrar como uma barganha no mercado. Então talvez o brasileiro estivesse confiante, mesmo, de que fecharia com o Hawks para já. De modo que seria mais interessante ficar em Atlanta para afinar a relação com todos, da mesma forma que Vitor Faverani vai fazer a partir da semana que vem.

“Venho por meio desta solicitar o meu pedido de dispensa do grupo que se apresenta nesta quinta-feira, dia 18. Tal pedido se deve ao fato de eu encontrar nos Estados Unidos, disputando partidas válidas pela Summer League e em negociações contratuais para a próxima temporada da NBA. Este é um momento importante para a minha carreira, e que exige a minha permanência para que tudo seja resolvido o mais breve possível”, afirmou o pivô em comunicado oficial.

Em retrospecto, com a possibilidade de jogar na Espanha nunca descartada lá atrás – e, a cada dia que passasse, ela cresceria, naturalmente – , será que não valeria ter se apresentado a Rubén Magnano? Os treinos do argentino são intensos. Lucas poderia ter um bom espaço e já teria dado largada antecipada em sua temporada.

*  *  *

No dia 4 de janeiro de 2014, Bebê vai ter uma rodada animada pela Liga ACB. O adversário é o Obradoiro, o que significa que ele vai enfrentar o compatriota Rafael Luz e, ao mesmo tempo, o jovem pivô Mike Muscala, seu companheiro de Draft no Atlanta Hawks. Muscala definiu seu futuro bem antes, assinando com o time que foi o oitavo colocado na edição passada do campeonato espanhol .


Recusa de novato israelense evidencia lobby de times da NBA contra seleções
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Giancarlo Giampietro

Gal Mekel, orgulho israelense

Mekel foi barrado, de alguma forma, pela diretoria do Dallas Mavericks

São poucos os aficionados de NBA que já ouviram de Gal Mekel. Então permitam que o blog faça as honras: é o armador israelense, de 25 anos, recém-contratado pelo Dallas Mavericks, muito criativo com a bola, que vem de uma grande temporada pelo Maccabi Haifa, pelo qual foi campeão nacional e venceu também os prêmios de MVP tanto da temporada regular como das finais.

Mekel jogou demais pelo Mavs de verão em Las Vegas, mostrando de cara ser um armador puro, de verdade, que trata a bola com uma categoria impressionante, sendo muito instintivo em seus movimentos.  Está sempre de cabeça erguida, sem ser muito veloz no drible, mas avançando com seu próprio ritmo,  meio hipnotizante, lembrando muito Steve Nash (em estilo, o que não quer dizer que seja o “Novo Steve Nash”, ok?).

Pois bem. Foi um achado do Mavs. Ele chega para o banco de José Calderón, sem muita pressão, mas dá para imaginar que já vá ter um impacto em sua primeira campanha, ainda mais largando na frente de outro calouro, Shane Larkin, lesionado.

E, seguindo a lógica desta temporada de seleções, o que é ganho do Mavs significa, parece, obrigatoriamente perda de uma seleção. Israel, que tanto batalha para ter um time competitivo em nível continental, vai ter de encarar o Eurobasket sem seu principal condutor, para ira do técnico Arik Shivek.

Gal Mekel, no Mavs de verão

Mekel, visão de jogo. A serviço do Mavs e só do Mavs

Em entrevistas para a mídia israelense, Shivek saiu, num rompante, a detonar o clube texano, que recomendou a Mekel que ele se apresentasse para treinos em agosto, bem antes da abertura do traning camp oficial. Veja bem: não é que o jogador estivesse proibido de defender seu país na competição de 4 a 22 de setembro. Mas, como diz um o comandante Jair: “Se puder evitar…”. ; )

“O Mavs disse a Mekel que seria benéfico para ele participar dessas atividades”, disse o técnico israelense, que concentrou seus ataques em Donnie Nelson, o braço direito de Mark Cuban na direção da franquia. Se o Dallas foi uma das principais forças por trás da internacionalização da liga norte-americana, Nelson teve uma grande influência nesse processo. Natural: o filho do malucão Don Nelson foi assistente técnico da seleção lituana por anos e anos, sendo um dos ianques com a cabeça mais aberta para o mundo Fiba. Daí que Israel talvez esperasse um pouco mais de compreensão…

“Falei com Donnie Nelson pelo telefone. Isso me pegou de surpresa. Colocaram Gal em uma situação injusta”, disse Shivek, que questionou o dirigente sobre o que seria melhor para a evolução do armador: duelar com Tony Parker ou perder tempo jogando golfe?

Hehehe.

Aí deu uma exagerada, mas vale sempre o humor corrosivo.

Israel está no Grupo A do Eurobasket, que conta com a França de Parker, mais Grã-Bretanha, Alemanha, Ucrânia e Bélgica. Não são necessariamente os adversários mais fortes, mas a competitividade em si do campeonato europeu talvez já valesse para o atleta.

De todo modo, pensando o outro lado, dá para entender as motivações do Mavs facilmente. Tudo vai ser novidade para o jogador. Cidade, rotina, tática, nível de competição (ele não estaria sozinho em quadra, os mais jovens e alguns veteranos mais abnegados se apresentam e estão sempre rondando o ginásio), e tudo mais. Quanto mais cedo um jogador chegar, mais tempo para se adaptar a isso tudo. Desde que trabalhe sério e desencane dos campos de golfe, claro. O armador apenas diz: “Ficar afastado do Eurobasket não foi fácil. Mas tomei a decisão certa depois de consultar meu treinador da seleção e os diretores do Mavs”.

É o mesmo processo pelo qual Lucas Bebê vai passar com o Atlanta Hawks. Saca?

Mesmo que ele não vá assinar com a franquia para agora, o gerente geral Ferry o quer por perto pelo maior tempo possível, para acelerar os trabalhos físicos e técnicos com o pivô. Lembrando que o mesmo Ferry já havia criado alguns empecilhos para Anderson Varejão, em seus tempos de chefão do Cleveland Cavaliers.

Esse tipo de impasse acontece há tempos, não vai se encerrar por aqui e, na verdade, só tende a piorar, já que o influxo de jogadores estrangeiros na NBA segue firme, ainda mais com a crise econômica abalando as principais ligas europeias. Apenas os figurões têm autonomia para barganhar.

Por isso é bom que Magnano se familiarize com essa ideia, mesmo. Do contrário, teremos mais e mais convocações nos próximos anos que não terão representatividade alguma.


Hawks fecha com pivô macedônio, e minutos para Lucas Bebê ficam ainda mais minguados
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Giancarlo Giampietro

Pero Antic, figuraça

Pero Antic, figuraça e uma contratação no mínimo criativa do Atlanta Hawks

Desde que assumiu o controle das operações de basquete do Atlanta Hawks, o gerente geral Danny Ferry está inspirado. Conseguiu despachar o salário estratosférico de Joe Johnson, não caiu na armadilha de pagar horrores para Josh Smith, fechou um contrato muuuuuito mais palatável com Paul Millsap, achou dois novatos estrangeiros muito promissores no Draft mesmo sem ter uma das 15 primeiras escolhas, manteve um time competitivo e, ao mesmo tempo, com boa possibilidade de crescimento para o futuro.

Missão cumprida? Tudo certo?

Não, o sujeito simplesmente não para.

Em mais um movimento surpreendente, o dirigente está prestes a fechar um contrato com o gigante macedônio Pero Antic, bicampeão da Euroliga pelo Olympiakos. Antic chegaria a Atlanta para, muito provavelmente, ocupar o papel de quarto pivô da rotação do técnico Mike Budenholzer, atrás de Al Horford, Millsap e Elton Brand.

Somem aí também o ala DeMarre Carroll, que também pode marcar alas-pivôs em formações mais baixas, mais o segundanista Mike Scott, em franca progressão, e a conta de minutos disponíveis para Lucas Bebê fica bem minguada para a temporada 2013-2014. I

De acordo com o site espanhol Encestando, o brasileiro estaria disposto, sim, a pagar sua multa rescisória com o Estudiantes para migrar para os Estados Unidos já neste ano. Para se liberar de seu contrato com o clube madrilenho, o pivô precisaria pagar US$ 1 milhão, sendo que o Hawks pode contribuir com até US$ 575 mil na transação.

Sem citar fontes, o texto foi publicado, porém, antes da contratação de Antic. Resta saber se esse negócio pode alterar de alguma forma os planos de Lucas e de seu agente, o ex-jogador Aylton Tesch. Em entrevista à Rádio Bradesco Esportes FM, Aylton havia indicado que esperava que seu atleta tivesse pelo menos algo em torno de cinco a dez minutos por jogo. Nem mesmo essa quantia parece estar disponível agora.

Mas nem isso seria um impedimento também. Se lermos com atenção, nesse mesmo bate-papo, que já destacamos aqui, a preocupação maior para a próxima temporada seria, mesmo, o fortalecimento do atleta. “Se o Atlanta falar que vai dar de cinco a dez minutos de jogo para o Lucas e que, no final do ano, ele vai estar com 15 kg a mais de massa magra muscular e que vão fazer um trabalho extraquadra, de vídeo, para ele poder aprender mais o jogo da NBA, vale mais a pena do que se ele for jogar 25 minutos na Espanha, onde para condicionamento físico eles só querem que os atletas corram”, disse.

Mesmo que o brasileiro jogue pouco, a ideia seria, então, deixá-lo nos Estados Unidos para uma temporada de amadurecimento fora de quadra, que faça parte de um projeto de longo prazo para Bebê, talvez pensando em aproveitá-lo mais no segundo ano na liga norte-americana.  “Ele só vai para a NBA se o time tiver um plano de evolução para ele”, afirmou o agente. “Tem de planejar algo para que eu me sinta bem e o atleta também.”

 Vamos aguardar.

*  *  *

Antic vai fechar contrato (de um ano garantido) nesta quinta-feira em Atlanta.

E quem é Pero Antic?

Estamos falando de um pivô que vai completar 31 anos na próxima semana. Veteranaço, então, de muitas batalhas pelo Olympiakos nas últimas duas temporadas, no melhor momento de uma carreira que era modesta, modesta até brilhar no Eurobasket de 2011. Na ocasião, sua Macedônia desbancou favoritos, liderada pelo americano Bo McCalebb, e causou sensação. Escoltando o gringo, enfim chamou a atenção da elite do continente. Revelado pelo Rabotnicki Skopje, antes de defender o Olympiakos, defendeu o AEK de Atenas, o Estrela Vermelha de Belgrado, o Academic de Sófia, e, na Rússia, o Lokomotiv Kuban e o Spartak de São Petersburgo.

Detalhe: não será a primeira vez do macedônio no basquete norte-americano. Em 2000-2001, ele jogou uma temporada inteira dehigh school.

Em quadra, a despeito do físico – e visual – intimidador, com 2,08 m de altura e cerca de 120 kg, Antic é um jogador que, no ataque, atua muito mais no perímetro, distante da cesta. É um ótimo passador e… Bem, ficamos nisso, embora ele acredite piamente que pode ser uma arma nos chutes de três pontos.

Em sua carreira na Euroliga, o pivô só converteu o 26,7% de seus disparos, algo muito abaixo do aceitável. O que não o impediu de, na última temporada, ter arremessado 115 bolas de longa distância em 31 jogos, tendo matado apenas 26,1%. Nos chutes de dois pontos, o rendimento melhora um pouquinho: 51,5% (embora, no geral, tenha 47,3%). Em lances livres, converteu 67,3% em seis anos.

Na campanha do bicampeonato continental, eve médias de 6,2 pontos e 3,3 rebotes, em 15,7 minutos por partida. Suas contribuições para o Olympiakos, porém, estão muito mais nas intangíveis. O pivô é relativamente ágil para alguém de seu tamanho, se deslocando bem lateralmente para fechar espaços.

É uma contratação no mínimo curiosa de Ferry. Antic tem tudo para virar uma figura cult na NBA.


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