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Arquivo : Jefferson William

De frente com Andrés Nocioni: muita cultura além do coração
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Giancarlo Giampietro

Andrés Nocioni, Real Madrid x Bauru

Uma viso aos navegantes: o Real Madrid está em São Paulo desde quarta-feira, mas não anda muito aberto para conversar com a gente. Por enquanto, basicamente há três porta-vozes que se repetem: o técnico Pablo Laso, o armador Sergio Llull e Andrés Nocioni, nosso velho conhecido. Um ou outro vai falar aqui e ali, e neste sábado os novatos merengues Trey Thompkins e Willy Hernangómez estiveram disponíveis para um rápido bate-papo. Mais nada. Num depoimento pessoal, depois de ter transmitido com o Sports+ duas temporadas seguidas nas quais eles tinham a melhor equipe, posso dizer que esperava mais contato, mais oportunidades de discutir, trocar ideias.  Mas isso não quer dizer que sejam necessariamente esnobes, ou coisa mais grave.  É de se supor que este protocolo foi desenvolvido com o passar das últimas temporadas de retomada do clube no basquete europeu, honrando o peso da camisa, ou do escudo, como eles preferem dizer. É o Real Madrid, de nove títulos continentais na modalidade, e outros dez no futebol. Enfim.

Posto isso, quando eles falam, geralmente dão depoimentos ricos em detalhes que acabam compensando  o silêncio. Peguem Nocioni, o Chapu, por exemplo. Após a derrota de sexta-feira, foi  o único a parar na zona mista para atender a mídia que chegou lá um pouco mais cedo, topando falar com o Bruno Laurence, da TV Globo, com o resto na carona. Mais tarde, Llull e Laso se apresentariam para a coletiva. Antes do treino deste sábado, mais uma janela foi aberta. E quem estava lá de novo? Novamente o campeão olímpico argentino.

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O bom é que, amigos, a conversa rende, e sem cotoveladas, xingamentos ou berros irados. Para uma entrevista coletiva com uns cinco, seis repórteres, com os quais ele provavelmente só estava familiarizado com o sujeito da TV Real Madrid, o veterano de 35 anos falou bastante. Você pode ter certeza que o assessor de imprensa gigantesco do clube espanhol estava imaginando algo como cinco perguntinhas rápidas, respostas protocolares e um “hasta mañana”. Pois a sessão durou oito minutos. Para quem não está muito acostumado com esse processo, pode parecer pouco, mas se fosse transcrever tudo na íntegra aqui, pode ter certeza que seria mais um calhamaço típico do blog.

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Houve, por exemplo, uma exigente pergunta de um hermano sobre se Chapu imaginava, 19 anos depois  da Copa Intercontinental de 1996, estar de volta ao torneio. Por experiência própria, posso dizer que é o tipo de questionamento que poderia ser facilmente desconversado por alguém com má vontade, preguiça ou que não tenha tão interesse assim pela história, mesmo pela história por ele vivida. Mas, não. Do torneio realizado entre Olimpia Venado Tuerto, de sua Rosario, e Panathinaikos, Nocioni se lembrou de muita coisa. De como, naquela ocasião, era o contrário: ele estava ao lado do time mais fraco, sendo que agora estão com os “chamados, a priori” favoritos. Falou de como venceram o primeiro jogo em casa, “incrível”, com Alejandro Montecchia se destacando “como sempre”, que fizeram um segundo jogo equilibrado em Atenas, mas perderam, para, depois, serem atropelados na terceira partida. As respostas se prolongavam, sem o menor problema.

É engraçado: foi minha primeira entrevista com Nocioni ao vivo. O Chapu não estava em nenhum d0s torneios americanos que havia ido cobrir, e não foram poucos. Walter Herrmann, Federico Kammerichs, Marcos Mata, Leo Gutiérrez, Carlos Delfino e outros ‘ches’ estavam fazendo suas vezes. Fiquei impressionado pela combinação de lucidez, cultura e profissionalismo que usava para se expressar. Convenhamos: para quem o vê se matando e arrebentando (física e metaforicamente) a concorrência em quadra, não era a imagem que se supunha. Ou era?

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Aí me cai a ficha: para ser o vencedor que Nocioni se tornou, não basta força de vontade (desmedida, no seu caso) ou talento (muuuuuuuuito subestimado). Tem de saber o que fazer com essas ferramentas. E isso não acontece ao acaso. Quer dizer, há gente tão talentosa que acaba superando qualquer barreira com facilidade. No caso desse argentino ouro em Atenas 2004, bronze em Pequim 2008, semifinalista em Londres 2012 e classificado novamente para o Rio 2016, sem contar os quatro títulos recentes pelo Real Madrid em 2014-2015, e tantos outros do passado, pesa também a sua cultura basquetebolística. Nocioni não é só coração, mas também um  cérebro.

O que me ocorreu também foi um velho perfil do ex-volante Chicão, do São Paulo e da seleção brasileira, de autoria de José Maria de Aquino, para Placar. Se procurar com paciência no “Google Books”, deve dar para encontrar. Mas foi desses textos que fez a minha cabeça e valeu talvez mais do que um ano inteiro de faculdade. Nele, o repórter relata a ansiedade (pretensa, claro) de se encontrar com o brucutu meio-campista, desde a chegada ao prédio em que morava, à espera por sua saída no vestiário. Aos poucos, Aquino vai desconstruindo o mito de violência e rudeza em torno do jogador. No final,  está claro que se tratava de alguém com o coração enorme e também bastante pragmático. A reportagem, porém, terminava com uma espécie de aviso: “Mas que se diga que eu nunca joguei contra ele”. Pois é. Evoco essa tirada sensacional para dizer que nunca disputei um rebote com Chapu. Fiquemos assim.

*   *   *

11-Andrade-101-369x525Bom, nesses oito minutos de perguntas e respostas, duas vieram desta fonte aqui. A primeira foi sobre o desafio de se marcar um time que pode jogar com seus dois pivôs abertos, com Jefferson William e Rafael Hettsheimeir — e algo que Rafael Mineiro também poderia fazer, se estivesse mais entrosado. O strecht four, gente, é uma das posições da moda na NBA, mas é algo que foi importado da Europa, com enorme influência de Dirk Nowitzki. O movimento, porém, suplanta o craque alemão. Jorge Garbajosa, Dejan Tomasevic, Kostas Tsartsaris são alguns dos nomes de grandalhões que faziam muito bem o jogo de high-low que me vêm à cabeça, mas vai ter muito mais por aí. Praticamente toda seleção europeia tem um desses hoje (pensem em Nemanja Bjelica, Nikola Mirotic, Boris Diaw, Andrea Bargnani, Ersan Ilyasova etc.). Com um adendo: o fato de eles abrirem para o chute não quer dizer que tenham obrigatoriamente de limitar sua abordagem ofensiva à zona de longa distância.

O Bauru toma emprestada essa ideia e a leva ao extremo quando posiciona seus dois pivôs titulares no perímetro. O legendário argentino disse que é muito difícil lidar com algo assim. “É algo totalmente distinto. Sinceramente, não temos muita experiência com equipes assim na Europa. Não há nenhuma equipe que jogue desta maneira”, afirmou. “Temos de fazer alguns ajustes, pois ontem tínhamos a partida bastante controlada até que eles começaram a abrir os dois grandalhões para o tiro exterior, e aí o jogo saiu das nossas mãos. Rafa esteve em um nível altíssimo, com uma porcentagem incrível, mas que sabemos que não é nada de outro mundo, que tem feito isso na liga brasileira todos os dias. Vamos ter que ajustar um pouquinho a defesa, já que não podem chegar ao triunfo.”

Interessante, não? Quando guerrinha abre seus dois homens altos, parece estar infringindo uma série de regras clássicas do esporte. Pode beirar o absurdo, mesmo. Mas, se dá certo, se rende resultados, como você vai contestar isso? Naturalmente, não podem depender só desse fator que, de primeira, surpreende. O Real vai se planejar para conter esse tipo de armação, e o Bauru já tem de estar preparado para isso e buscar alternativas. Para o restante da concorrência do NBB, creio que vale ficar de olho no que Laso vai planejar e tentar executar.

*    *   *

A segunda questão era uma escapada do tema, mas que não deveria falar. Sobre como se sentia depois de mais uma participação olímpica, e o quão especial essa última Copa América foi ao lado de Scola, seu velho parceiro. Chapu foi além: “Foi um torneio incrível no qual conseguimos nossa classificação olímpica para manter um projeto, uma ideia de seleção argentina durante muitos anos. É nossa quarta edição de Jogos Olímpicos. Sinceramente me sinto muito orgulhoso de todo esse processo. Fomos com uma equipe jovem, de inexperientes em sua maioria. Mas conseguimos uma classificação incrível. Obviamente que tivemos um sabor amargo ao não conseguir o título no final, mas mas me parece que perdemos para um adversário grande que foi a Venezuela, terminando um torneio histórico para eles. Para nós, terminou sendo um torneio importantíssimo, porém, para manter a equipe no maior nível mundial.”


O Bauru sempre vai ter essa noite de sexta na qual derrotou o Real
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Giancarlo Giampietro

Independentemente do que aconteça no domingo, Bauru ao menos já vai ter a noite de sexta-feira para a sua história. Não é sempre que você pode enfrentar um Real Madrid, nove vezes campeão da Europa. Mais rara ainda é a chance de comemorar uma vitória para cima deles, como aconteceu no Ginásio do Ibirapuera, com jogo estendido até a última posse de bola e placar de 91 a 90.

Fischer matou o jogo com uma bandeja simples

Fischer matou o jogo com uma bandeja simples

Com uma defesa muito firme no final do segundo período e um ataque arrasador na abertura do terceiro, o Real chegou a abrir 17 pontos de vantagem quando haviam corrido precisamente 2min01s da segunda etapa (47 a 32). A partir daí, porém, o time baixou a guarda, conscientemente ou não, e, quando seus atletas se deram conta, a diferença já havia despencado. Ao final do quarto, o marcador apontava 62 a 59.  O time espanhol ainda chegou a abrir mais sete na última parcial, mas, àquela altura, a dinâmica do duelo era outra. O Bauru acreditava firmemente que era possível encará-los, e o público presente entrou na pilha, se inflamando.

Estava novamente em prática o ataque que havia arrebentado com a concorrência brasileira e continental há questão de meses. Um ataque bem diferente, diga-se, daquele que alcançou a final do NBB e teve rendimento sôfrego contra o Flamengo. Você pode não aprovar o volume de chutes de longa distância (33 de 65 no geral). Algumas delas foram forçadas, especialmente no primeiro quarto, quando o time estava nervoso com o grande palco, as luzes e os antagonistas. No segundo tempo, porém, não dá para negar que a bola girou no perímetro, passou em mais mãos, e foi aí que começou a chover arremessos de três pontos, com mais intensidade até do que os refrescantes e salvadores pingos do lado de fora, depois de uma semana de calor infernal em São Paulo.

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Entre os atiradores estavam novamente os pivôs, Rafael Hettsheimeir e Jefferson William, combinando para 9-17, com 6-9 para o ex-madrilenho, numa verdadeira aberração estatística, até mesmo para o Golden State Warriors, o Houston Rockets e qualquer outra equipe da NBA ou da Europa que busque cada vez mais o tiro exterior como um caminho “eficiente”. O fator que causa espanto é que seus grandalhões tenham um aproveitamento deste nível e com volume elevado. “Se for pegar as estatísticas, vai ver que fomos superiores em praticamente todos os fundamentos. Só perdemos nas cestas de três, e, sim, o acerto dos pivôs fez a diferença”, afirmou o técnico Pablo Laso — no geral, ambas as equipes converteram 48% de trás da linha, mas os brasileiros converteram seis a mais. Ele só esqueceu de mencionar as assistências (19 a 13, que também comprovam a maior fluidez do segundo tempo). “Alguns dos arremessos estavam até bem defendidos, mas eles fizeram”, completou o armador Sergio Llull, sentado ao seu lado. Sim, esse time do Bauru tem disso: quando estão com confiança, até mesmo alguns chutes que parecem destinados o ar — e não à cesta — caem. Em alguns momentos, Hettsheimeir não parecia nem mesmo ter o controle da bola e já efetua o disparo.

“Isso é o nosso forte. O Bauru montou um time com grandes chutadores e é algo que ajuda muito. Abre a quadra. Tanto que, no último ataque, o Guerrinha montou uma jogada como todos abertos, e o Fischer, nosso menor jogador, ficou praticamente sozinho para fazer a cesta. É algo que ajuda bastante”, afirmou Jefferson.

Alex x Llull. No poste baixo, sem que ninguém pudesse pará-lo

Alex x Llull. No poste baixo, sem que ninguém pudesse pará-lo

Há algo de heterodoxo no basquete bauruense que é interessante e que, quando funciona, cria uma bagunça tática, mesmo, e que o técnico Guerrinha registrou em sua coletiva, na sequência dos espanhóis. Quando o time está a pleno favor, as posições se invertem: se os pivôs estão no perímetro, o pequeno e brabo Alex está lá perto da cesta, oprimindo adversários de sua altura, mas que não têm como segurá-lo num jogo de pancada e habilidade de costas para a cesta. Há também a ameaça das infiltrações de Ricardo Fischer e, com a chegada de Leo Meindl, o time ganha outra opção interessante nessas trocas, uma vez que o jovem ala tem presença muito mais física que a de Robert Day.

“Você sabendo usar a bola dos três ela é fantástica. Ela nos colocou na vitória. É a nossa característica, mesmo, de arremesso, mas também usamos o Alex no poste baixo, que foi onde ele definiu o jogo nos minutos finais, sempre com a ameaça do arremesso de fora. A gente pode trocar as funções, isso faz parte do jogador moderno”, afirmou o técnico Guerrinha.

Rafael numa de suas incursões internas para fazer a cesta: no final das contas, teve aproveitamento inferior no garrafão ao dos tiros de fora

Rafael numa de suas incursões internas para fazer a cesta: no final das contas, teve aproveitamento inferior no garrafão ao dos tiros de fora

Bem, os chutes de três podem ter pavimentado a reação, mas foi uma bandeja, debaixo do aro, que garantiu o triunfo, não? Saibam que foi uma jogada quase que improvisada. “Nós fizemos um movimento que nem nossos jogadores conseguiam direito, porque não deu tempo de treinar. Mas desenhamos. Já tinha conversado algo com o Ricardo. O Alex falou para não perdemos o que foi passado, que era para cumprir à risca. E foi bem feito, terminando numa bandeja”, disse Guerrinha. Fischer acrescenta: “A gente tinha uma outra jogada. Ele desenhou para acabar em mim a bola, ou, consequentemente, no Alex, e felizmente caiu para mim e consegui sair livre e acertar”.

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Saiu aí a vitória, com uma simples e tranquila (na medida possível) finalização do armador, que teve uma grande atuação. Fischer, porém, era o primeiro a dizer nas entrevistas que, por mais especial que tenha sido a vitória, que tenha uma sensação de façanha, eles não poderiam se empolgar muito sabendo que, no domingo, às 12h, tem mais. E tem, mesmo. Da parte do Real, é algo que até mesmo os bauruenses esperam: eles virão mais preparados, tendo visto agora, de perto, o poderio do chute exterior de seu adversário. Não só isso, mas muitos outros detalhes. O sábado será um dia de muito estudo, para que depois os atletas sejam municiados de muita informação. Então aí vai precisar ver, mesmo, o quão eficiente os arremessos de Bauru poderão ser, com a oposição mais concentrada neles. “No primeiro tempo, eles não conseguiram”, disse o técnico merengue. “Não fomos surpreendidos. Conhecíamos bem esse estilo, e foi acerto deles. Não é que tenhamos jogado contra ninguém. É o campeão das Américas.”

Para segurar Alex, Laso também deve muito provavelmente usar mais o massudo Maciulis. Coisas do tipo, os ajustes por uma taça. Para ficar com ela, o Bauru precisa ganhar novamente, já que não existe empate no basquete e uma derrota por um pontinho também forçaria a prorrogação. O título, dãr, é o que vale mais. De qualquer forma, pelo menos por 40 minutos, os brasileiros se sentiram confiantes e otimistas de que era possível. “Já foi uma noite de sonho. Ganhar do Real Madrid por meio ponto já é isso. Sensacional, mas agora acabou a euforia”, afirmou Fischer.

*   *   *

Algumas notas sobre os bauruenses:

Ricardo Fischer fez uma partida excepcional ofensivamente, uma atuação que certamente eleva sua cotação no mercado internacional. Em conversa por telefone na semana passada, o armador já havia dito que, a despeito do final melancólico que teve a seleção, sua primeira experiência para valer com a equipe fez bem para sua cabeça. Voltou para casa com a sensação de que poderia competir com alguns dos melhores do mundo na posição, ainda que ciente de que há muito o que precisa melhorar, especialmente do ponto de vista físico e na defesa. Nesta sexta, foi batido facilmente em arranques de Lllull e Rodríguez, mas a verdade é que os espanhóis costumam ter sucesso contra a maioria de seus marcadores, mesmo. Do outro lado, porém, compensou com um controle de jogo que comprova o quão rapidamente vem amadurecendo. Depois de um início de jogo atabalhoado, voltou do banco de reservas mais sereno e assumiu as rédeas de sua equipe. De 12 turnovers cometidos no primeiro tempo, Bauru conseguiu limitar as besteiras para apenas três no segundo, e muito disso passou pela segurança de jogo de seu armador, que terminou com 12 pontos, 8 assistências e apenas dois desperdícios de posse de bola em 31 minutos, convertendo 4 de 10 arremessos.

Alex Garcia teve mais uma de suas partidas em que entrega um pouco de tudo ao time. Foram diversas as situações, gente, em que ele aparecia como a última barreira defensiva do time brasileiro, na cobertura do garrafão, pronto para desarmar tanques como Felipe Reyes e Gustavo Ayón. Fazendo falta, ou não, dá para se dizer que levou a melhor na grande maioria desses embates. Isso tem a ver com o seu senso de posicionamento, a força e a capacidade atlética ainda acima da média. Some-se a isso as oito assistências e os sete rebotes, e temos um perfeito “glue guy”, o homem da liga. Mas não podemos nos esquecer dos seus 12 pontos, sendo oito deles em arremessos nos arredores da cesta, com a importância tática já acima relatada. Se for para reclamar de algo, apenas lista-se os três lances livres que desperdiçou em 29 minutos. É impressão minha, ou, aos 35 anos, Alex está jogando o melhor basquete de sua carreira?

Uma das coisas mais legais da noite no Ibirapuera foi poder olhar para um lado, virar para o outro e se deparar com lendas do basquete brasileiro como Oscar, Paula, Hortência, Helen, ou contemporâneos como Larry (barrado por Mogi, mas presente na festa e aplaudidíssimo pela torcida de Bauru), Shamell, Giovannoni e tantos outros. Sobre o público, não peguei o número oficial, mas imagino que tenha sido algo em torno de 4 a 5 mil. Bem aquém da capacidade do ginásio. Ainda assim, era uma torcida engajada, que conhecia do jogo e soube empurrar Bauru no segundo tempo

Uma das coisas mais legais da noite no Ibirapuera foi poder olhar para um lado, virar para o outro e se deparar com lendas do basquete brasileiro como Oscar, Paula, Hortência, Helen, ou contemporâneos como Larry (barrado por Mogi, mas presente na festa e aplaudidíssimo pela torcida de Bauru), Shamell, Giovannoni e tantos outros. Sobre o público, não peguei o número oficial, mas imagino que tenha sido algo em torno de 4 a 5 mil. Bem aquém da capacidade do ginásio. Ainda assim, era uma torcida engajada, que conhecia do jogo e soube empurrar Bauru no segundo tempo

Gui Deodato: podem falar o que for do entrosamento de verões passados que tem com esse grupo, mas o jovem ala foi aquele que entrou na maior roubada. Na quinta-feira, estava em Rio Claro sofrendo para fechar a série contra Pinheiros, pelas quartas do Paulista. Do nada, tinha a missão de perseguir atacantes perigosos como Jaycee Carroll e Sergio Llull. Porém, compenetrado, usando sua envergadura e agilidade lateral, fez um trabalho admirável e foi importante demais na reação de sua ex-nova equipe, se é que isso faz sentido.

Leo Meindl mostrou no segundo tempo os lampejos que justificam a opinião geral de que fará parte por um tempo da seleção brasileira. Ainda há buracos em seu jogo que precisam ser trabalhados, como a visão de quadra quando driblando em direção à cesta (foram dele quatro dos 15 turnovers do time). Também tem o físico, algo que precisa ser martelado. Mas há outras características que lhe são naturais e  difíceis de se ensinar. Como o tino e o arrojo para pontuação. Meindl se comportou como se fosse a coisa mais natural do mundo anotar 15 pontos contra o Real Madrid, em apenas 22 minutos.-

Jefferson William fez apenas o seu quinto jogo desde que se recuperou de uma ruptura no tendão de Aquiles. Sair dessa, meus amigos, é uma batalha. O fato de ele poder estar em quadra para curtir uma final dessas já é uma vitória para o ala-pivô. Poder ter contribuído para o triunfo, então, nem se fala. Anotou 10 pontos em 27 minutos e, é verdade, pegou apenas três rebotes e teve problemas na defesa contra o americano Trey Thompkins, no quarto período. De todo modo, ao matar 3 de 8 arremessos de longe, se firmou como uma arma a ser respeitada pela defesa do Real, já cumprindo um papel tático muito relevante para sua equipe.

Rafael Mineiro jogou 14 minutos, anotou apenas 2 pontos, mas tem de ser elogiado. Sua capacidade defensiva é anormal. Acho que escrevi isso durante a Copa América, então corro o risco aqui da repetição: mas você não vai encontrar facilmente por aí um jogador do seu tamanho e com tanta mobilidade e seu senso de posição. O pivô foi bem na marcação de gente como Reyes, Thompkins e Gustavo Ayón, fechando espaços e portas, devido a sua movimentação lateral que é digna de um armador. Só contei uma posse de bola na qual ele foi batido, quando Thompkins conseguiu cortá-lo pela esquerda para fazer a bandeja no segundo tempo. E só. Ele é como se fosse um canivete suíço na defesa, cumprindo tarefas difíceis que nem sempre são percebidas.

Rafael Hettsheimeir começou a partida claramente pressionado. A bola estava fervendo em suas mãos. Foram diversas as vezes no primeiro tempo em que recebeu passes tranquilos e se atrapalhou na hora de subir na cesta. Quando o jogo estava no pau, nos minutos finais do quarto período, porém, lá estava o pivô batendo palmas em quadra, chamando o jogo. Uma senhora transformação, conduzida pelo volume de jogo externo. O camarada Ricardo Bulgarelli cantou esta, e com razão: deve ter sido sua melhor atuação ofensiva desde aquele embate histórico em Mar del Plata com Luis Scola, rumo à vaga olímpica. Foram 27 pontos em 38 minutos (descansou apenas por 1min48s). Pegou apenas três rebotes, por outro lado, e deve ficar atento a esse fundamento no segundo jogo. Desconfio que, para domingo, o Real possa fazer uso por mais minutos de sua formação “supersize”, procurando atacar a tábua ofensiva.


Copa Intercontinental: como está o Bauru?
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Giancarlo Giampietro

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O Real Madrid venceu tudo o que disputou na temporada passada. Para o Bauru, foi quase. Depois do Campeoanto Paulista, da Liga Sul-Americana e da Liga das Américas, que o credenciou para a Copa Intercontinental, acabaram varridos pelo Flamengo na final do NBB. Mas dá para dizer que aquele Bauru da final brasileira não era o mesmo de fevereiro, de uma sequência invicta que passou da casa de 30 partidas. (Para constar: o Fla não tinha nada com isso. Estava voando em quadra e atropelou, mesmo.)

“Acabou o gás”, afirma ao VinteUm o armador Ricardo Fischer, para, depois, fazer um comentário muito interessante: “Nosso time é muito competitivo, e a gente não acreditava no que estava acontecendo. Até ficamos nervosos com a situação, mas simplesmente não ia, não acontecia. A gente tentatava, mas não saía. Tivemos um pico muito grande na temporada por muito tempo. Nos playoffs, contra a Franca, já havia sido mais difícil. Aconteceu contra Mogi novamente, e aí veio a final. Lembro muito de, antes do Jogo 2, em Marília, ver muita vontade no vestiário. A vontade era imensa. Mas, no começo do jogo, logo errei uma bandeja. O Murilo pegou o rebote e perdeu também debaixo da cesta. Ali deu para ver.”

Bom, estamos agora no início de uma nova temporada? Vida nova, certo?

Hã… Nem tanto.

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Como o técnico Guerrinha gosta de dizer, o clube enfrentou uma série de “intercorrências” em sua preparação para um torneio tão relevante e contra um adversário tão imponente. A lista de percalços:

– Quatro de seus jogadores estiveram a serviço da seleção brasileira (Hettsheimeir só no Pan e Ricardo Fischer, Leo Meindl e o importado Rafael Mineiro em Toronto e na Copa América). Para Fischer e Meindl, o calendário foi mais ou menos assim: “Cheguei domingo de manhã, me apresentei quinta à tarde e já teve jogo no sábado”, relata o armador.  Mineiro começou a treinar apenas agora com a equipe, depois que Limeira foi eliminado na primeira fase do Paulista e, depois, saberíamos, encerraria as atividades do time adulto para o restante da temporada.

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Europa

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Espanha

– Hetthsheimeir chegou um pouco antes, mas se mandou para os Estados Unidos, onde fez testes pelo San Antonio Spurs. Segundo consta, fez bons treinamentos por lá, agradou aos treinadores, mas não deve ser contratado neste ano. O que acontece: os times da NBA querem conferir tudo de perto. Obviamente o antenadíssimo departamento de scouting internacional do clube texano tinha diversas notas sobre o pivô brasileiro, complementadas pelo que viram no Pan. Daí que acharam que era o momento de seus treinadores conferirem o jogador de perto. Isso demonstra interesse, mas serve também para um acúmulo maior de informações, pensando no futuro.  Achar uma vaga no atual elenco, com Duncan, Aldridge, West, Diaw, Marjanovic e Bonner, seria complicadíssimo — e nem sei se valeria a pena para o já veterano, que já teve o prazer de vestir a camisa do Real, mas sem mal sair do banco, lembrem-se, quando voltava de lesão. Mas nunca se sabe quando você vai precisar de um grandalhão com boa pontaria no tiro de fora, certo? Entre embarque e desembarque, o atleta se ausentou por 10 dias.

(PS: agora Rafael está sendo sondado de modo mais agressivo pelo Estudiantes, da Espanha. Sinto que há o interesse de voltar à Espanha, mas é algo que só vão discutir após a Copa Intercontinental e, eventualmente, após o giro pela NBA, com jogos contra New York Knicks e Washington Wizards pela frente. Segundo o técnico Guerrinha, para fechar com qualquer clube que não seja uma franquia da grande liga, há uma multa rescisória a ser paga.)

– As lesões: Murilo Becker está fora de combate, se recuperando de uma cirurgia devido a um deslocamento de retina no olho esquerdo. O veterano pivô simplesmente não consegue se livrar dos problemas físicos e se divertir em quadra. Alex sofreu uma pancada no joelho e perdeu alguns dias preciosos de treino também. Jefferson William está voltando de uma lesão no tendão de Aquiles, uma das piores para um jogador de basquete. “Sentimos muito a falta dele nos playoffs.  Taticamente é importantíssimo. Além de ser matador, ele movimenta bem nosso time, com muita mobilidade”, diz Fischer. “Na questão médica, ele está totalmente liberado, 100%. Agora é o tempo de ele voltar, de ganhar ritmo de jogo,”, completa. Jefferson disputou apenas três partidas pelo Campeonato Paulista (uma contra Limeira e duas contra Mogi) e acertou 36% de seus arremessos, sendo 5-17 (29,4%) de três pontos. Foram 10,3 pontos e 6,3 rebotes em 25 minutos. O talentoso e esguio ala-pivô é peça-chave para o esquema bauruense. Obviamente o atleta não vai chegar na forma ideal. mas estará em quadra.

>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?

Por essas e outras, Guerrinha admite que a preparação não foi a ideal. Aliás, nem esteve perto do ideal. Nesse sentido, comparando com o Pinheiros de 2013 e o Flamengo de 2014, o representante brasileiro deste ano talvez chegue pela primeira vez com mais questões para resolver do que seu adversário europeu. Vamos ver.  “Não desenvolvemos a preparação para este campeonato do modo como gostaríamos, para dar ritmo”, afirma o treinador. “Os últimos dois jogos contra Mogi foram muito importantes para dar o espírito. Pois o jogador fica naquela também: quer jogar o Mundial, não quer se machucar, então acaba se dosando. Mas as partidas contra o Mogi são sempre de muito pegada e servem (para dar esse ritmo). A equipe enfrentou, foi valente, e crescemos muito. Mas se perguntar se chegamos no ponto ideal, digo que não.”

bauru

 Na fase regular do Campeonato Paulista, poupando de modo considerável seus principais nomes, deixou Wesley Sena e Carioca jogarem, a equipe do interior paulista venceu quatro e perdeu seis. Foi o suficiente para lhe garantir a quarta posição do Grupo A, ficando acima de Franca e Limeira (que também não jogou com força máxima). Por isso, agora nas quartas estão enfrentando o primeiro do Grupo B, o Mogi. Registre-se que Bauru perdeu as duas fora de casa. A primeira foi por 89 a 84. A segunda, por 89 a 88. É de se imaginar jogos quentes, mesmo, com o perdão do trocadilho. (PS sobre Sena: o pivô de 19 anos foi muito bem, com uma produção encorajadora para alguém tão jovem, algo raro no Brasil. Falei com ele neta quinta. Uma hora sai o texto sobre ele.)

“O Real é uma potência que está reivindicando jogar a NBA. O clube joga um campeonato muito mais forte que o nosso. Mas é da nossa vontade, do nosso querer, diminuir essa diferença com muita disposição, de querer diminuir essa diferença”, afirma Guerrinha, que é o primeiro a admitir, contudo, que conceitos como garra e vontade não serão o suficiente para fazer frente ao Real. “Nos brasileiros estamos acostumados a jogar com a emoção. Os europeus em geral se baseiam na razão. E esse time do Real tem isso: eles sabem direitinho o que procurar em quadra, os desequilíbrios defensivos, os mismatches. Eles atacam isso. O ideal era trabalhar o time por um mês, para tentar diminuir essa margem de diferença de elenco e realidade que temos para ele, mas não foi possível. Esse vai ser o nosso desafio, de não cair só no emocional, de vontade.”

Diria que esse é apenas um dos tantos desafios que Bauru tem pela frente. Dependendo do grau de comprometimento e do preparo físico dos atletas do Real, Bauru vai ter de se superar para buscar o título.

*   *   *

Sobre a questão dos jogadores de aluguel, já abordada aqui no UOL Esporte pelo chapa Fábio Aleixo. Bauru contratou o pivô Rafael Mineiro e repatriou o ala Gui Deodato, que iniciou sua carreira pelo clube, agora cedido pelo Rio Claro. O curioso é que o jogador estava em quadra na noite desta quinta-feira, em casa, para vencer o Pinheiros e fechar o duelo pelas quartas de final do Paulista. Foi um quinto e último confronto emocionante, definido apenas na prorrogação (por 88 a 87), no qual Guilherme anotou 16 pontos em 15 arremessos, errando muito nos chutes de fora.

“Quando perdemos o Murilo (por causa de um problema no olho) fomos atrás do Rafael. Foi um pedido dos jogadores. Já o Gui é uma espécie de recompensa, pois fez parte do nosso time na última temporada inteira, foi criado lá. Já havíamos combinado”, afirmou Vitor Jacob, diretor do Bauru. O discurso foi repetido pelo técnico Guerrinha: de que houve até mesmo uma demanda por parte dos atletas para se reforçar o elenco.

Do ponto de vista ético e esportivo, não me parece a melhor solução. Afinal, este não é o Bauru que vai dar sequência à temporada — pode ser que Mineiro continue no time, mas ambas as partes teriam de chegar a um consenso quanto ao seu salário, que provavelmente não poderá seguir no patamar dos tempos de Limeira. O Flamengo fez o mesmo no ano passado ao acertar com o pivô americano Derrick Caracter, que, no final, acabou não acrescentando muito.

O treinador bauruense, de todo modo, lembra que esse expediente vem de longa data. “Desde que comecei no basquete, em 1976, na Argentina é histórico levar jogadores como reforço. Na nossa mais ainda. Em 1980 fomos para a Iugoslávia com Franca e levamos o Marcelo Vido e um americano. Em 1983, aqui no Ibirapuera, foi o mesmo: eu e o Gerson reforçamos o Sírio”, afirmou.

A dúvida é saber o quão facilmente Mineiro será integrado. Guerrinha aposta no entrosamento que teve com Fischer, Hettsheimeir e Meindl na seleção. Sobre Gui, o encaixa é muito mais natural, obviamente. Para contar: Bauru também tentou resgatar Larry Taylor, mas o americano não foi cedido pelo Mogi.


Bauru x Flamengo: os duelos, os números e a luta por hegemonia
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Giancarlo Giampietro

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Agora se reencontram na final

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Agora se reencontram na final

Tem tudo, mesmo, para ser uma grande final. Ou melhor: grandes finais, com a adoção do sistema melhor-de-três.

São dois elencos estelares e caríssimos para os padrões nacionais, com sete jogadores que disputaram a última Copa do Mundo em quadra e cinco atletas da seleção brasileira convocada para o Pan de Toronto, neste ano. Há também um enredo sobre hegemonias, com o Bauru tentando completar uma temporada perfeita, com quatro grandes troféus, enquanto o Flamengo mais uma vez tenta o tricampeonato, mantendo a soberania na competição. Isto é, além do troféu em si, há muita coisa especial para atiçar.

Depois de obter a melhor campanha de uma fase regular do NBB, com aproveitamento de 93,3% (28 vitórias em 30 jogos), Bauru sofreu nos playofs, precisando de dez partidas para despachar Franca e Mogi, pela ordem. A semifinal contra os mogianos foi duríssima, saindo de ambas as séries com saldo de apenas três pontos. Sim, três – como se tivesse conseguido cada um de seus triunfos por um mísero pontinho. Contra os francanos, pelas quartas, o saldo foi de 27 pontos em cinco jogos, todos eles obtidos no primeiro jogo da série. Quer dizer: deu empate nos outros quatro.

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Será que a equipe pode reencontrar a forma avassaladora de meses atrás? Foi quando estava iniciando uma sequência que chegaria a 26 jogos sem perder, só pelo NBB – ou 34, se formos contar também a campanha pela Liga das Américas. Para o técnico Guerrinha, não é a pressão para confirmar o favoritismo – fomentado ao longo de suas conquistas, diga-se – que precisa ser driblada. São as pernas, mesmo, que pesam mais.  “Fizemos 82 jogos em 240 dias, é praticamente um jogo a cada três dias.Franca e Mogi jogaram menos jogos, ficamos 23 dias parados, além de o nível das equipes ter aumentado muito”, afirmou.

A lesão de Jefferson William também é apontada pelo treinador como um fator significativo nesta queda de rendimento. “Quando o perdemos, ainda conseguimos ir além, pois ainda estávamos naquele embalo. Depois, começamos a sentir o desgaste de rotação, tanto física quanto tática. Quem jogava 20, 22 minutos passou a jogar 35, 37 minutos”, disse.

Jefferson estava jogando muita bola, sim, e faz muita falta – participou das duas vitórias na temporada regular, inclusive (84 a 77 no Rio e 92 a 84 em Bauru, com médias de 16,0 pontos, 7,5 rebotes em 33 minutos para o ala-pivô ex-flamenguista, e  e 5/11 de três). O elenco construído, no entanto, teve/tem recursos para seguir adiante. A rotação dos grandalhões ficou mais enxuta, mas talvez o jovem Wesley Sena pudesse ter sido mais testados na fase de classificação, para eventualmente dar conta de cinco ou seis minutinhos por jogo durante os playoffs. Não aconteceu, de modo que esse papel caberia, então, a Thiago Mathias, mas o pivô de 27 anos viu seu tempo de quadra despencar contra Mogi: não passou de 4 minutos nas últimas três partidas.

Não vai ter Jefferson em quadra: ala-pivô ex-Fla sofreu lesão no tendão de Aquiles

Não vai ter Jefferson em quadra: ala-pivô ex-Fla sofreu lesão no tendão de Aquiles

Contra um garrafão estelar como o do Flamengo, Rafael Hettsheimeir e Murilo vão ser exigidos ao máximo – e a ótima partida que Becker fez contra o Mogi no desfecho das semis não poderia ter vindo em melhor hora, com 17 pontos, 12 rebotes e 8 lances livres cobrados e convertidos em 35 minutos. Devido ao porte físico e excelentes mãos, Jerome Meyinsse e Cristiano Felício dão um trabalho danado na briga pelos rebotes. Ao lado deles, alas-pivôs como Olivinha e Walter Herrmann acrescentam muita versatilidade, podendo atacar dentro e fora, sem deixar que o poderio reboteiro caia. É difícil imaginar que, em formações mais baixas, Robert Day ou mesmo Alex consigam segurar esses dois, mesmo em minutos reduzidos – a tendência é que tabela ficasse vulnerável.

Na turma de fora, são vários os duelos muito envolventes:

1) o jovem Ricardo Fischer terá um desafio, e tanto, pela frente,  para atacar e ao mesmo tempo se preparar para ser agredido no embate com Laprovíttola, que se impôs contra Nezinho e Deryk pelas semis;

2) Larry Taylor poderá até eventualmente dar uma força a Fischer na defesa, mas já terá mãos cheias ao lidar com Vitor Benite, seu companheiro de seleção – são dois armadores-alas explosivos, que vêm com muita energia para a quadra, e, até pelas características atléticas semelhantes, talvez fosse o caso de Robert Day começar no banco, batendo de frente com Marcelinho; Gui Deodato também entra nessa equação aqui, dependendo do desfecho do confronto entre os armadores principais;

Benite e Larry vão para o Pan em Toronto. Antes, se enfrentam

Benite e Larry vão para o Pan em Toronto. Antes, se enfrentam

3) e aí sobram Alex e Marquinhos, dois velhos conhecidos e concorrentes, que já protagonizaram vários grandes ‘rachas’ nas últimas temporadas – sempre com o aspecto pitoresco da diferença de altura (15 centímetros) e estilo entre eles. Alex, quatro anos mais velho, com um vigor físico ainda impressionante, implacável na defesa, oferecendo ainda liderança e a confiança de quem já perdeu a conta dos troféus que conquistou por estas bandas. O nível de agressividade de Marquinhos sempre é uma incógnita, mas sua combinação de categoria, estatura e mobilidade faz a diferença de qualquer forma em quadras brasileiros.

Se formos levar em conta o que se passou nos mata-matas, a impressão é a de que o Flamengo chega muito mais inteiro fisicamente e também com a autoestima bastante elevada. Isso vai resultar em maior pegada defensiva? Em mais pressão sobre a bola? Isso se traduziu nos últimos jogos. A equipe deixou para trás os altos e baixos do início do campeonato. Recorde-se, todavia, que não foi uma temporada das mais típicas para o clube rubro-negro, que já precisou jogar em alto nível logo na largada para conquistar seu maior troféu, a Copa Intercontinental, para depois emendar uma empolgante, mas também insólita turnê de NBA pelos Estados Unidos. Dando um gás rumo aos playoffs, o Fla teve relativo trabalho contra São José (cinco jogos também, mas com placares muito mais elásticos em suas vitórias) e varreu Limeira de modo impressionante. “A vitória sobre eles nos deu muita esperança de fazer uma boa final. Nosso início não foi o esperado por todos, mas estamos aqui e vivos”, afirma José Neto.

*   *    *

Uma comparação estatística entre os clubes até a final, levando em conta toda a campanha:

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Sobre hegemonias? Esse é o aspecto mais interessante em jogo: de um lado o Bauru pode fechar no melhor estilo uma temporada que, convenhamos, já é histórica, depois da conquista do Paulista e de dois campeonatos continentais, a Liga Sul-Americana seguida pela Liga das Américas. Ganhar o NBB só deixaria tudo isso ainda mais incrível, com uma campanha 100% inédita por estas bandas. Além do mais, seria o primeiro clube paulista a ganhar o título nacional com a nova nomenclatura – e o primeiro desde Ribeirão Preto, em 2003. Já o Flamengo busca um tricampeonato que igualaria façanha de Brasília de 2010 a 2012.

*   *   *

A liga nacional enfrentou alguns problemas para montar a tabela final. Não dá para assimilar muito bem o horário de 21h30 desta terça-feira para subir a bola para a decisão. Por ser Flamengo, espera-se que a casa esteja cheia, apesar das dificuldades de logística que se tem para chegar à Arena da Barra. Se já é difícil acessar o ginásio neste horário, imagino o pesadelo que deva ser sair de lá entre 23h e 0h.

Depois, temos Marília, eventualmente para os próximos dois sábados, se assim a final exigir. Se Jacararepaguá está longe (para o Jota Quest e, claro, dependendo do ponto de partida no Rio), os bauruenses vão ter de correr cerca de 105 km para apoiar seu time. A mudança, neste caso, porém, era inevitável. A Panela de Pressão tem capacidade para apenas 2 mil torcedores, e aí seria muito pouco, mesmo, para um evento deste porte. Não acho que dê para contestar muito o regulamento. A diretoria do clube e da liga encontraram, então, o popular ginásio da Avenida Santo Antônio – parte do Centro Municipal Educacional, Esportivo e Cultural Professora Neuza Maria Bueno Ruiz Galetti. Tem capacidade para 7 mil pessoas e foi inaugurado em 2012. Uma curiosidade dessas que só no Brasil, mesmo? O ginásio foi construído com grana do ministério da Educação e, até novembro do ano passado, só poderia ser utilizado pela secretaria educacional local. Aí que a Prefeitura conseguiu alterar a regulamentação, em acordo com o Ministério Público,  liberado o espaço para atividades diversas. Demais.

O ginásio em Marília, nova casa para o NBB

O ginásio em Marília, nova casa para o NBB


Ricardo Fischer aceita a pressão de mudar e liderar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Fischer, bem na foto

Fischer, bem na foto

Tem vezes que, fora a festa e a congratulação de jogadores, dirigentes, técnicos e fã – o que já é muita coisa –, um Jogo das Estrelas qualquer não serve para coisas mais práticas de quadra. Digo: não define muita coisa do ponto de vista esportivo, do que acontece na temporada regular de verdade.

Em Franca, no último fim de semana, porém, o prêmio de MVP da partida entre brasileiros e estrangeiros entregue a Ricardo Fischer teve um valor realmente simbólico e para além do troféu. Serviu para confirmar a ascensão de um jovem armador que vem cumprindo seu papel de modo mais que satisfatório comandando um time dominado por veteranos que, desde o momento que foi formado, jogaria por uma e só razão: títulos.

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Aos 23 anos, Fischer se assume em quadra como líder. Mesmo que, quando olhe ao redor, veja basicamente jogadores muito mais experientes, com longa rodagem em jogos internacionais, por clubes e a seleção brasileira. Para ele, não tem problema. É sua a missão, a responsabilidade de encaixar tantas peças talentosas – e valiosas –, na tentativa de, no próximo final de semana, conquistar o terceiro troféu em três campeonatos. A Liga dos Américas, no caso, para tentar se tornar o terceiro campeão continental em três anos consecutivos.

O Bauru enfrenta no sábado, no Maracanãzinho, o Peñarol de Mar del Plata, da Argentina, enquanto o anfitrião Flamengo encara o Pioneros de Quintana Roo, do México, pelas semifinais (confira a tabela e preços de ingressos). Neste duelo, o clube paulista vai ter de se testar novamente sem o ala-pivô Jefferson William, afastado do restante da temporada devido a uma ruptura no tendão de Aquiles. Um desfalque que muda alguns planos, é verdade, mas que não tira do time de Guerrinha o favoritismo, por conta de tudo o que eles fizeram até aqui: além de liderarem o NBB, com 23 vitórias em 25 jogos, já ganharam o Campeonato Paulista e a Liga Sul-Americana.

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Podem se reencontrar na final continental

“Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando”, disse Fischer ao VinteUm. “Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.”

Para ajudar a equipe a chegar a este patamar, o armador precisou ajustar algumas coisas em seu jogo: menos pontos, mais passes. O tipo de sacrifício, aliás, que foi pedido para todos os jogadores de um elenco estrelado. “Preciso fazer mais que eles joguem, e está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo.”

Veja a entrevista realizada durante o final de semana do Jogo das Estrelas em Franca, antes de Fischer entrar em quadra para ganhar o prêmio de MVP e superar não apenas os estrangeiros do NBB como as vaias do torcedor fanático local, perseguindo um bauruense. Isto é: o armador ainda é jovem, mas já construiu um nome, uma reputação. Veja, então, o que ele tem a dizer:

21: O Bauru faz uma grande temporada, conquistando tudo o que conquistou, mas agora parte para a fase mais difícil, decidindo a Liga das Américas e lutando pelo título do NBB. Justo agora, o time teve seu primeiro grande desfalque, com a lesão de Jefferson William? Qual o impacto dessa lesão?
Ricardo Fischer:
O impacto foi grande. Se pegasse o vídeo do jogo depois do que aconteceu, estávamos abatidos. Além de ser um grande jogador, é um amigo nosso, que a gente sabe que, numa fase final do NBB, chegando aos playoffs, e também com o Final Four do NBB, acabou se machucando. É muito ruim. Para nós, vai mudar um pouco de característica. Provavelmente o Rafael vai jogar de 4, com o Murilo de 5, por ter um pouco disso. Mas a gente perde um pouco.

É a velocidade, não?
Sim, a velocidade a gente perde. Além disso, ele desafoga um pouco até como lateral. Mas ganhamos em outras coisas, como no jogo interno, principalmente com o Murilo e o Rafael jogando de costas. O Alex também provavelmente vai ter de fazer o pivô em alguma parte dos jogos. Agora vamos nos ajustando. Montaram um time para isso, para não sofrer com jogador fora. Acho que vamos estar bem.

Jefferson é baixa para o Bauru

Jefferson é baixa para o Bauru

E o Wesley Sena (pivô de 18 anos que compõe o elenco)? Ainda está muito cedo?
O Wesley… Assim, está treinando bastante com a gente, entrando nos jogos. Claro que no Final Four a gente não pode esperar muito dele. Mas na sequência, nessa fase final do NBB para os playoffs, acho que pode ajudar, sim Com certeza vai ganhar mais minutos.

Você é um armador jovem, em termos de idade, ainda que já venha acumulando boa experiência nos últimos anos. Quando você recebe as notícias de tantas contratações, de veteranos de Seleção… Então como faz para ser o líder desses caras em quadra? É uma curiosidade que sempre tenho, sobre como funciona essa dinâmica.
É engraçado, mesmo. Eu já era um líder antes de eles chegarem, e neste ano continuou. É estranho. Fui capitão, levantei o troféu da Liga Sul-Americana e, você vê, sendo um dos caçulas do time. Eles me respeitam muito. Acho que o armador tem de falar muito dentro da quadra, mesmo, e eles me escutam. Principalmente por ser o armador, com outra visão. Isso é fenomenal. Ao lado de tantas estrelas, que jogaram as Olimpíadas, Mundiais, têm vários títulos, poder ser um dos líderes, é muito bom.

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Fischer ainda pode atacar pelo Bauru: mas provavelmente a ação vai terminar em passe, com a quadra espaçada com chutadores

Por outro lado, imagino que, vez ou outra, no vestiário, eles podem pegar no seu pé também, né? De falar para o ‘moleque’ maneirar…
É… (Risos). Tem vezes que eles soltam o: “Calma aí”. Mas isso tudo que aconteceu foi bem natural, nada forçado. Todo mundo respeita. Pode até vir o Wesley, que é o mais novo do time, e a gente vai escutar e conversar.

E o que você ganha com esses veteranos ao seu lado? Um cara como o Alex. O que ele mais oferece no dia a dia de treinos, fora o nome, o respeito que pede dos adversários?
Cara, costumo dizer que o Alex é um monstro, mesmo. Como pessoa e como jogador ele teve um impacto gigantesco. Um cara que já ganhou tudo, já competiu em tudo, e nesses dias fez 35 anos, mas parece que tem uns 20 ainda, pelo vigor físico dele, pela vontade que tem de ganhar. Já podia ser alguém acomodado, jogando na dele, mas quer ganhar a qualquer custo. A gente aprende muito com isso, com sua experiência e também com as histórias que conta.

Na virada de uma temporada para a outra, você já via pistas, dicas de que um grande time estava sendo formado? Ou tudo isso te pegou de surpresa?
Por ser um armador, conversava muito com os diretores. E eles tinham essa ideia de trazer esses grandes reforços. Confesso que a surpresa foi o Robert Day e o Jefferson. Tínhamos já o Faber no time, que estava fechado, mas teve um problema pessoal e saiu. O Day foi uma novidade sensacional. Hoje temos um banco com Larry, Gui e outros caras que poderiam ser titulares em qualquer time. São caras que se completam, foi um time bem montado.

Quando soube queria todos esses jogadores como companheiro, as coisas mudaram para você na preparação para a temporada?
Muda bastante, porque no ano passado tinha mais protagonismo, tinha de buscar mais a cesta e ao mesmo tempo fazer o time jogar. Não preciso mais ir tanto para a cesta, agressivo como no ano passado. Preciso fazer mais que eles joguem. Acho que está correndo tudo bem. Fiz um grande trabalho, no lado mental, porque é difícil. No ano passado fazia 15, 20 pontos. Agora tem jogo que faço 2, 5, mas não me importo. Entendo qual a mudança que precisava ter. Para este ano, também trabalhei muito fisicamente.

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Ganhando força, mas mantendo a velocidade

Esse tipo de sacrifício é o que seria pedido para cada jogador, mesmo, com tantas contratações. Isso foi conversado com vocês antes de a temporada começar?
Foi tudo muito natural, mesmo, e acho que por isso que nosso time está tão bem. Todos os jogadores sabem que, para ganhar, precisariam abrir mão de algumas coisas. Todos entenderam isso, e não temos vaidade nenhuma, mesmo, por mais que algumas pessoas até nem acreditem. Se vou sair para o Larry entrar, estou dando o lugar para um grande jogador. Todos se respeitam, isso é a chave.

O favoritismo incomoda? A partir do momento que Bauru juntou este elenco, o nível de expectativa ficou altíssimo. Aí o time ganha o Paulista, ganha a Sul-Americana e lidera o NBB. Ao mesmo tempo, enquanto vai cumprindo com isso, cada resultado positivo, imagino, só faz crescer do outro lado, não?
Vem mais pressão. E isso vem, mesmo, desde o momento em que começamos a treinar. Todo mundo querendo saber como vai ser esse time, se vai ganhar. Estamos acostumados com essa pressão. É algo que anima a gente, dá vontade de mostrar para os outros nosso potencial. Até agora não está atrapalhando. Estamos mostrando o motivo pelo qual temos o rótulo de favoritos. Espero que consigamos manter essa sequência na Liga das Américas.

Sobre o estilo da equipe, de buscar muito o chute de três pontos. Sabemos que esse é um ponto discutido no basquete brasileiro há muito tempo. Talvez nem tanto o volume, mas a seleção de arremessos. De qualquer forma, lá fora, há uma tendência que isso cresça, mesmo. Para o Bauru, era esse o plano desde o início?
Acho que foi pensado, mas também teve o encaixe natural. Tem jogo em que chutamos 40 bolas, mas com um aproveitamento bom. A característica dos jogadores é essa. A gente não pode tirar. O que a gente conversa bastante é que, depois de estudar o jogo, vemos que alguns arremessos estão sendo forçados. Então a gente pode jogar mais interno, mas é uma característica que não dá para perder. O Rafael, por exemplo, é um jogador 5, que joga muito bem de costas, mas é um cara que faz corta-luz e pode abrir para o arremesso. O Alex pode jogar dentro e aberto também. Temos muitas armas. A gente procura trabalhar para liberar o arremessador, deixá-lo livre para matar.

Para fechar, queria perguntar como você está se sentindo na sua curva de aprendizado. No que pensa em melhorar daqui para a frente.
Tenho mais três anos de contrato, mas com cláusula para que eventualmente possa sair para a Europa ou para a NBA. Só no Brasil que não. O aprendizado foi esse de saber abrir mão do meu jogo ofensivo em prol da equipe. E fisicamente, mesmo. Na Seleção, acabei me machucando no Sul-Americano. E me foquei este ano no físico. Se voltar para a Seleção, para o Pan de Toronto, quero estar bem. É um trabalho em cima de resistência e força. Não sou um cara alto para a armação, então preciso ser veloz e forte. São coisas que eu percebi que precisava trabalhar, e neste ano já melhorei muito, mas ainda tem muito mais para ganhar, com um trabalho específico, com uma nutricionista e um preparador físico em Bauru, que trabalham sozinhos comigo.

E os planos para o futuro? Pensa em jogar na Europa, fora do país?
Penso, sim, em ir para a Europa. Ir para uma Espanha, jogar a Euroliga, acho que é o sonho de qualquer um. Mas estou feliz em Bauru, tenho esses três anos de contrato, assim como o resto do time. Então não precisa criar expectativas. O que tiver de acontecer, vai acontecer.


Pinheiros x Bauru: pela LDB, um jogo para ser gravado
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Giancarlo Giampietro

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Pode não ter tido prorrogação, ou cesta de três para completar uma virada milagrosa no final, nem nada disso. Também não vi nem 85% das partidas do campeonato como um tudo. Mas me sinto confortável em escrever que é improvável demais que a edição atual da LDB, a liga de desenvolvimento nacional, tenha visto um jogo melhor, de nível superior ao de Pinheiros 83 x 73 Bauru, nesta segunda-feira, em São Paulo.

Tivemos um jogo bastante centrado, mas longe de ser supercontrolado. Houve correria, mas uma correria bem organizada, com os atletas executando com segurança. Em situações de meia quadra, a bola girou de um lado para o outro e foram poucos os chutes forçados, daqueles de tapar o olho. Ao todo, foram apenas 15 desperdícios de bola no terceiro jogo do dia. Se for para comparar, no jogo que fechou a noite, o caos imperou em quadra muitas vezes, e chegamos a 34. E esse nem foi o recorde do dia, que coube a Sport e Limeira, com 35, enquanto Brasília x Basquete Cearense teve 23 – dos quais apenas 8 ficaram na conta da equipe de Fortaleza, diga-se, que chegou ao 24º triunfo consecutivo, com 12 pontos, 8 assistências e 7 rebotes de Davi Rossetto, seu líder.

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Não há como não elogiar o trabalho dos dois técnicos nessa partida especificamente: César Guidetti pelo time da casa e Hudson Previdelo pelo Bauru. Afinal, a presença de jogadores de muito potencial em quadra obviamente não serve como garantia de um grande jogo por estas bandas – quanto mais em partidas de garotos. Os dois elencos estavam recheados de bons valores, mas ainda muito jovens, que precisam de uma condução. Nesta segunda, no “Ginásio Azul” do ECP, foi o que aconteceu, sem momentos de destempero, showzinho, nem mesmo num quarto período tenso, em que os visitantes encostaram no placar perigosamente. Apenas dois caras bem tranquilos concentrados em seus times – não adianta ficar berrando numa LDB.

cesar-guidetti-hudson-previdelo-ldb.jpgAuxiliar de Marcel de Souza no time de cima, César assumiu a equipe Sub-23 na reta final da LDB e não teve nem uma semana de treinos com a molecada. O posto foi aberto devido à saída de Brenno Blassioli, que dirigiu a equipe nas três primeiras etapas da temporada regular e se mudou para a Turquia, acompanhando a esposa Sheilla, estrela do vôlei nacional – na quarta etapa, Zé Luiz, o José Luiz Marcondes, figura importante da base, havia sido o comandante. Importante ressaltar que não estamos falando de modo algum de um técnico novato – César tem vasta experiência nas categorias de base, desde os tempos de Santo André, com clubes ou seleções.

Do outro lado, Hudson, mandou para quadra um quinteto titular para a quadra desfalcado de duas peças importantíssimas em sua campanha: o armador Carioca e o pivô Wesley Sena. A duplinha foi convocada para o jogo do adulto, pelo NBB, contra a Liga Sorocabana, em mais uma vitória arrasadora dos rapazes de Guerrinha. Se o nome deste duelo foi o ala Gui Deodato, que explodiu para 35 pontos numa jornada memorável, vale notar que o trator chamado Carioca saiu de quadra com 12 pontos em apenas seis minutos de ação – sendo que oito deles foram nos lances livres. Wesley jogou por 13 minutos e anotou 4 pontos, mas não apanhou sequer um rebote. Com a lesão de Jefferson William, afastado da temporada por conta de uma infeliz ruptura no tendão de Aquiles, o jovem pivô deve ganhar mais chances. Vamos ver como reage. Os dois desfalques, inclusive, foram mencionados por Guidetti num breve papo depois da partida.

Hudson, por sua vez, não hesitou em falar sobre a estrutura de que o Bauru dispõe – e está desenvolvendo – hoje. Vale uma visita, na certa. Sabemos também que o Pinheiros aposta bastante na formação de base. De modo que não parece coincidência que tenhamos visto um grande duelo entre suas equipes. Durante a temporada, não dá para dizer que esse tenha sido o padrão de ambas, é verdade. Mas, se mantiverem o curso atual nos bastidores, a tendência é que isso possa se replicar mais e mais.

Georginho assumiu a responsabilidade nos minutos finais

Georginho assumiu a responsabilidade nos minutos finais

Em meio a essa organização que deveria servir de exemplo, os lances bonitos por parte dos protagonistas, os atletas, ganharam ainda mais valor – não surgiram a partir de jogadas quebradas e sem defesa recomposta. Um contexto propício para que o talento pudesse entrar em prática. E talento de fato não faltava em quadra. São todos garotos que merecem todo o carinho possível nessa fase importantíssima de desenvolvimento.

Do lado pinheirense, temos Georginho, próximo alvo imediato da NBA no Brasil, atraindo já mais de um terço dos clubes da liga; Lucas Dias, 19 pontos, talvez o cestinha com maior potencial desta nova geração, com um arsenal em constante evolução (ainda falta matar mais bolas em flutuação), cada vez mais propenso a fazer o passe extra e também muito mais ativo na defesa e no ataque aos rebotes; Humberto, que ainda depende muito de sua confiança, de seu conforto em quadra – quando as coisas vão bem, saia da frente; Duval, com sua força física e energia descomunais. Vamos ficar de olho também no caçulinha Cauê, que, na verdade, de “inho” não tem nada – aos 16 anos, entrou na partida apenas no quarto período e ajudou a fechar o garrafão e frear o ataque do Bauru. Sua presença física congestionou a defesa e ajudou a limitar o ataque interior bauruense, que, desta forma, não conseguiu explorar o fato de haver carregado os adversários de faltas.

Biloca, 20 anos, um ala bastante rápido, com belo potencial para defender e atacar o aro

Biloca, 20 anos, um ala bastante rápido, com belo potencial para defender e atacar o aro

O time do interior contou com a estreia de Guilherme Santos, um dos destaques do último Basketball without Borders, camp promovido pela NBA e pela Fiba, em Nova York durante o All-Star Weekend. Ganhando bons minutos, já que Carioca estava longe dali, o novíssimo armador (em diversos sentidos, já que está fazendo a transição para a posição precisamente neste momento) teve pouco de convívio com os companheiros e não foi tão bem no ataque. Mas isso não o impediu de agredir na defesa, pressionando quem quer que estivesse com a bola, incluindo Georginho e Humberto – mais altos e mais velhos. Hoje essa é a principal virtude do garoto de 17 anos. Quem carregou o ataque da equipe foi o ala Gabriel de Oliveira, com 22 pontos. Já é um atleta de 22 anos, de basquete bastante agressivo, buscando as infiltrações – e fugindo um pouco da propensão bauruense para o tiro de fora, somando nove lances livres. Outro que chamou atenção foi o ala Biloca, que tem muita velocidade nos pés e boa capacidade atlética.

Georginho acabou sendo o nome da partida, com um desempenho decisivo muito mais relevante que seus 19 pontos e 12 rebotes. Cheio de confiança, o armador matou 7 pontos nos minutos finais do quarto período, todos eles em arremessos a partir do drible, o que não é um dos pontos mais fortes de seu jogo. Sinal de que vai ganhando confiança e transferindo o trabalho dos treinos para a prática.  Um desfecho apropriado para uma grande duelo, algo que esperamos ver mais e mais por aqui.


20 votos para o Jogo das Estrelas do NBB 2015
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Giancarlo Giampietro

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

A assessoria de comunicação da Liga Nacional de Basquete cometeu a loucura de me estender um convite para participar da votação para o Jogo das Estrelas do NBB7, que vai ser disputado entre os dias 6 e 7 de março, com sede ainda para ser anunciada.

Ao menos essa responsabilidade foi divida entre diversos companheiros de imprensa, assim como os técnicos – e seus assistentes –, capitães e (!) árbitros envolvidos com a competição, além de outras “personalidades” da modalidade. Cada um dos eleitores teve a chance de escolher dez nomes para o time brasileiro e outros dez para a equipe estrangeira. Você precisa dividir cada grupo entre titulares e reservas, e os votos dedicados aos titulares ganham peso maior.  Essa é uma novidade no processo que, creio, ajuda a diminuir a chance de injustiças.

Mas, prepare-se, elas podem acontecer. Veja a repercussão, na NBA, para a exclusão de um enfezado Damian Lillard, que não conseguiu nem mesmo a 13ª vaga e foi ao Instagram protestar, lembrando que havia sido ignorado por torcedores, técnicos e até pelo comissário Adam Silver. Ele merecia a vaga de Kevin Durant? Para mim, sim, levando em conta o fato de que o ala de OKC perdeu metade da temporada norte-americana.

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Esse tipo de polêmica certamente vai aparecer aqui neste espaço, agora que abro minhas 20 escolhas. Inevitável. Mas boa parte das discussões depende de quais critérios cada um vai adotar para escolher sua seleção. Pesa mais o sucesso da equipe ou o rendimento individual de cada atleta? Na dúvida, preferi a solução mais fácil: dosar um pouco de cada caminho. Privilegiei os destaques das melhores campanhas, mas também tentei abrir espaço para caras que estejam numa ótima temporada, ainda que seus clubes decepcionem. Só procurei pensar apenas no que acontece neste ano, e, não, ignorando o conjunto da obra – se o cara é o cestinha histórico do NBB, se é medalhista olímpico, se já passou pela NBA etc.

Mais: você vai segmentar, estratificar os jogadores por posição? Na planilha encaminhada pela LNB, era preciso escolher um armador, dois alas e dois pivôs. Esses conceitos são todos meio relativos, não? Pegue um time como Limeira, uma das gratas notícias do campeonato. Nezinho, Ronald Ramon e Deryk estão revezando constantemente, dividindo a quadra, escoltados pelo gatilho de David Jackson, do jeito que o Paulo Murilo pregou sempre em seu Basquete Brasil – e quando dirigiu o Saldanha da Gama. Tentei ir um pouco além da nomenclatura clássica.

Vamos aos votos do VinteUm, então, seguidos por breves explicações. Os quintetos titulares vão ser escolhidos pelos torcedores:

NBB – Brasil
Titulares
Nezinho (Limeira)
Alex Garcia (Bauru)
Marquinhos (Flamengo)
Jefferson William (Bauru)
Rafael Hettsheimeir

Reservas
Coelho (Minas)
Leo Meindl (Franca)
Giovannoni (Brasília)
Gerson (Mogi das Cruzes)
Caio Torres (reservas)

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

O desafio aqui foi evitar de escalar todo o elenco do Bauru, né? Tendo apenas 10 vagas em cada seleção, achei o mais correta a distribuição entre mais clubes, impondo um limite de três atletas para cada agremiação. E aí Ricardo Fischer acabou sendo sacrificado, em detrimento de seus companheiros bauruenses escalados entre os titulares (Alex segue influenciando o jogo dos dois lados da quadra, resistindo ao tempo, Jefferson William é fundamental no sistema de Guerrinha por sua mobilidade e poder de execução, além de um bem-vindo nível de atividade na briga por rebotes e na defesa, e Rafael Hettsheimeir, ainda que deveras enamorado pelo chute de fora, vem sendo bastante produtivo em seu retorno ao país). Nezinho assume a vaga de Fischer, sendo um dos líderes do Limeira, pontuando com muito mais eficiência do que na temporada passada, ainda que frequente menos a linha de lance livre. Para completar, Marquinhos, que ainda não recuperou o ritmo de seu sensacional NBB5, mas tem números que igualam ou superam sua última campanha, em menos minutos, e ainda é um pesadelo para qualquer defesa nacional conter. O Flamengo também não tem sido o mesmo, mas, da mesma forma, continua sendo um time de respeito

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

No banco, o jovem Coelho merece reconhecimento: ganhou autonomia em Belo Horizonte e respondeu muito bem, obrigado. Em termos de produção, é o jogador mais eficiente de sua posição entre os brasileiros, com 14,59 por jogo, mais que o dobro de sua carreira – e o mais interessante pode melhorar muito ainda como um armador forte, veloz e agressivo. Confesso: foi uma dúvida brutal optar entre ele e Nezinho na vaga de titular, mas pesou a maior propensão ao passe e o recorde da equipe do veterano. Leo Meindl vem numa curva ascendente em sua carreira, ajudando o Franca a se manter entre os seis primeiros, a despeito dos problemas financeiros. Talvez não no ritmo esperado, mas está subindo enquanto se distancia de uma complicada lesão no joelho. Seu arremesso de três pontos o abandonou nesse campeonato, e talvez fosse mais interessante que ele usasse sua habilidade no drible e o jogo de média distância para buscar a cesta. Giovannoni faz uma temporada que o colocaria na discussão para MVP, mas o fato de o Brasília ser a grande decepção da temporada impede que isso aconteça.  Foi cruel deixar Lucas Cipolini fora, mas não havia como eleger dois atletas do time candango, a despeito de seu ótimo rendimento estatístico. No garrafão, temos então o jovem e hiperatlético Gérson, que faz Mogi crescer cada vez que vai para quadra com seu energia e dedicação extrema, e Caio Torres, em boa forma, vai fazendo a melhor temporada de sua carreira nos rebotes e como referência interior do time que menos arremessa de três no campeonato. Entre ele e Rafael, a dúvida também é grande. Seus números são superiores, mas o bauruense divide a bola com mais gente. A campanha abaixo de 50% do São José também não ajuda.

NBB – Mundo
Titulares
Jamaal Smith (Macaé)
David Jackson (Limeira)
Marcos Mata (Franca)
Tyrone Curnell (Mogi das Cruzes)
Jerome Meyinsse (Flamengo)

Reservas
Kenny Dawkins (Paulistano)
Ronald Ramón (Limeira)
Jimmy Baxter (São José)
Shamell (Mogi das Cruzes)
Steven Toyloy (Palmeiras)

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

A posição de armador estrangeiro, gente, é a mais concorrida de todo o campeonato. Não encontrei lugar aqui para Caleb Brown, limitado a apenas oito jogos em Uberlândia devido a dores lombares), para o jogo clássico do baixinho Maxi Stanic, do Palmeiras, e nem para Nícolas Laprovíttola, que anda muito inconstante. David Jackson, creio, é uma unanimidade como um arremessador letal de todos os cantos da quadra. Já Mata e Tyrone servem como influência mais que positiva para os jovens companheiros devido ao tino para cuidar de pequenas coisas e a conduta exemplar em quadra. Curiosamente, de tanto fundamento que tem, o argentino vira uma arma ofensiva em quadras brasileiras, assim como aconteceu com seu compatriota Frederico Kammerichs. Curnell pode não ser o jogaodor mais refinado, mas seu vigor físico e seu empenho contagiam. Quando faz dupla com Gérson, é melhor sair da frente – uma dupla que representa bem a identidade vibrante do Mogi. Meyinsse é hoje o pivô mais completo em atividade no país, dosando força física e agilidade acima da média.

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Ramón ganha uma vaga pela consistência que dá ao trio de armadores de Limeira, clube cujo rendimento pede também três indicados. Seus números caíram em quantidade, mas subiram em qualidade, ocupando uma vaga que, em nome e números poderia ser do jovem Desmond Holloway. O Paulistano, porém, insere o explosivo Dawkins no quinteto reserva, mesmo que não repita a química obtida no campeonato passado. Baxter tem números inferiores aos de Robbie Collum (em menos minutos também), uma figura importante para o Minas, mas se sobressai pela postura defensiva. Shamell tem passado bem menos a bola, mas ainda se sustenta como um cestinha decisivo nas quadras brasileiras, enquanto Steven Toyloy voltou a ser uma rocha no garrafão depois de um ano em que foi subaproveitado pelo Pinheiros, levando um Palmeiras a uma honrosa sétima posição.
Estão aí. Se for para xingar, que seja com educação, tá?


Bauru também sabe vencer um jogo de nervos
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Giancarlo Giampietro

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

O Bauru de Ricardo Fischer comandou o placar em mais um jogo tenso no Rio

Como parece acontecer em todo anunciado grande jogo do NBB, aquele que gera expectativa por parte de todos os envolvidos com o campeonato – e, não, apenas de duas torcidas –, o duelo entre Flamengo e Bauru desta terça-feira foi nervoso.

Bastante equilibrado, e nervoso, no qual o clube paulista saiu vencedor por 84 a 77, mostrando que pode render nas mais diversas situações, chegando a nove triunfos consecutivos.

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Sim, essa coisa da chiadeira não é a perspectiva mais original para se abordar um confronto tão interessante como esse, com os atuais bicampeões encarando o time que se reforçou tanto, mas tanto, que se tornou obrigatoriamente o principal candidato a derrubá-los. Jajá coloco um pouco mais de colher aqui. Antes, se faz necessário bater na mesma tecla. Muito já se escreveu a respeito disso, mas, enquanto a medição da reclamação dos técnicos e jogadores – principalmente o dos técnicos – se manter em altos decibéis, não tem como não registrá-la. É demais, gente.

Os árbitros cometem erros?!

Esperem um pouco aí, enquanto dou uma pausa para me restabelecer depois de bombástica informação.

(…)

Pronto: água com açúcar tomada. Qualquer coisa, a maracugina já está a postos também.

A arbitragem no Rio de Janeiro deixou passar muitos lances. Teve, por exemplo, um ataque em que Gui (acho) levou o toco de Benite na zona morta, no primeiro tempo, num ação que pareceu limpa, na bola. No segundo tempo, Jerome Meyinsse foi subir para um bloqueio e tocou no aro, impedindo uma bandeja. Interferência clara, e nada foi marcado.

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos... O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Alex: 17 pontos, 10 lances livres e 8 lances livres batidos… O empenho de sempre em grandes jogos para o veterano

Percebam que nem citei o time dos atletas acima. Porque não importa: os erros acontecem naturalmente, contra e para ambos os lados, de modo que se nivelam ao estouro do cronômetro. Nessa partida em específico, não sei bem se houve uma atrocidade, ou uma conduta tendenciosa que justificasse tanta pirraça. A não ser que a pressão seja algo consciente, para tentar ganhar o benefício da dúvida mais para a frente, num momento de decisão.  Não seria de forma alguma algo aceitável, mas sabemos que faz parte do jogo. A relatada alta temperatura na Arena da Barra também poderia ser um fator para esquentar a cuca, claro. Mas esse costuma ser o padrão de tensão das partidas por aqui, independentemente do funcionamento do ar-condicionado.

Além do mais, cobrar tanto os homens do apito pode ser mero escapismo. Afinal, ninguém aqui, aí ou ali acredita piamente que Bauru e Flamengo tenham feito um jogo perfeito*, né? Não quando temos 29 turnovers somados e um aproveitamento nos arremessos bem abaixo dos 50%. O Fla, por exemplo, fez um ataque para 183 pontos e terminou com 77 (42,1%).

(*PS: Ninguém é perfeito. Jornalista, jogador, torcedor, técnico e juiz. Será impossível conviver com uma realidade dessas?)

Atrás no placar o tempo todo, os rubro-negros, naturalmente, foram aqueles que mais reclamaram – creio, aliás, que muito mais. Obviamente não ajudou em nada o fato de o time de José Neto ter perdido dois dos últimos três jogos, situação com a qual não estão nada habituados. “Não estávamos tão concentrados e isso nos prejudicou. Bauru soube controlar o jogo e é muito difícil você virar uma partida atuando diante de uma equipe tão qualificada. Não estamos em um bom momento na competição, mas temos que botar a cabeça no lugar e tentar consertar os erros para os próximos jogos”, disse Gegê.

Nas entrevistas pós-jogo, ainda mais depois de tanta tensão em quadra, é difícil colher uma declaração tão boa como essa, via site oficial da LNB. O jovem armador flamenguista resumiu objetiva e precisamente o que se passou (ou o que se passa) em quadra com sua equipe. Se a cabeça não está no lugar, as coisas ficam mais complicadas, mesmo, especialmente contra o único rival do NBB que lhe pode fazer frente no número de atletas “selecionáveis” – ao menos levando em conta os nomes constantes nas listas de Rubén Magnano e sua comissão.

E aí, nesse jogo de nervos, o clube paulista encontrou mais uma oportunidade para comprovar sua força. O Limeira de Dedé e seu batalhão de armadores é o líder do NBB no momento, com apenas um revés, e vem de mais uma grande vitória. Mas é muito difícil apontar outro favorito ao título que não Bauru.

A forma como a partida se desenvolveu só reforça essa impressão. No papel e também pela abordagem que resultou nos títulos do Paulista e da Liga Sul-Americana, sabemos que a equipe de Guerrinha está construída para vencer pelo ataque. O potencial ofensivo em seu elenco é absurdo, com oito atletas que podem bater a marca de 20 pontos com tranquilidade. Caras que, colocados num time de menor orçamento, poderiam ser a principal referência.

Contra os rubro-negros, porém, qual era a preocupação? Ricardo Fischer conta: “Era um confronto direto e sabemos o quanto é difícil bater o Flamengo fora de casa. Viemos com uma proposta de baixar a pontuação deles e conseguimos. Empurramos o Flamengo para baixo”. Objetivo alcançado – o que, ironicamente, rendeu ao seu time uma folguinha como melhor ataque do NBB, superando os cariocas em casas decimais.

O Bauru tem em seu perímetro atletas ainda mais ágeis que que os do Fla – ainda mais quando estão juntos Alex, Larry e Gui (num excelente segundo tempo). Velocidade e agilidade: é para isso que o basquete se voltou, e os quatro líderes do campeonato nacional têm esse ponto em comum. A presença de Jefferson William na rotação de pivôs também dá mais leveza ao conjunto paulista. O ala-pivô, aliás, fez uma grande atuação, mexendo bem a bola, correndo para valer, enfrentando um páreo duríssimo contra Herrmann e Olivinha.

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

Jefferson jogou muito contra sua ex-equipe, dominando Herrmann

No Rio, Jefferson e seus companheiros não promoveram exatamente um abafa, não executaram uma defesa massacrante, mas conseguiram limitar as infiltrações de Nicolás Laprovíttola, algo essencial. Marquinhos, é verdade, conseguiu jogar lá dentro, mas as linhas de passe estavam mais apertadas. E aí temos arremessos de longe bem fiscalizados (7/30, 23,3%).

Do outro lado, o volume nos tiros de fora bauruenses seguiu elevado, com 29 tentativas, contra 30 de dois pontos. Seu aproveitamento foi bem maior (37,9%, rendendo 12 pontos a mais também) neste fundamento. Mas não se pode ignorar a vantagem dos visitantes nos lances livres, com nove pontos a mais (21 a 12), em cestas preciosas conseguidas depois de infiltrações de Fischer, Alex e da busca do jogo interior com Hettsheimeir, consistentemente mais efetivo em seu retorno ao Brasil quando mais perto da cesta.

Não foi um banho de basquete. O Flamengo se aproximou do placar de modo perigoso em diversas ocasiões no segundo tempo, inclusive nos minutos finais. Faltou, no entanto, na hora de concluir a virada, a lucidez e a frieza que Gegê mencionou. É algo obrigatório para enfrentar um time do porte de Bauru: concentração, mais na bola, muito menos no apito.


A conquista sul-americana de Bauru em números
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Giancarlo Giampietro

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Vamos com um apanhado estatístico do primeiro título continental da história de Bauru, que arrasou Mogi das Cruzes na final da #LSB2014 nesta quinta-feira, para termos uma ideia do quanto os caras sobraram nessa campanha:

281 – Os arremessos de três pontos em oito jornadas, com média assustadora de 35,1 por jogo. O aproveitamento foi de 38,1%. Para comparar, eles tentaram 23 chutes de fora a mais do que as bolas dentro do perímetro, zona em que tiveram aproveitamento de 62%. Em lances livres, foram 134 no geral, média de 16,7 por jogo.

169 – O saldo de pontos de Bauru no torneio, com média impressionante de 21,12 por partida. Avassalador. A maior diferença foi estabelecida na semifinal contra o Malvin, do Uruguai: 46 pontos. O jogo mais ‘apertado’? Triunfo sobre Brasília na abertura da segunda fase, com 95 a 87. Se for para contar apenas o Final Four, Bauru venceu os últimos dois jogos por uma média de 36 pontos. Para comparar, o vice-campeão Mogi terminou a competição com 40 pontos de saldo.

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

164 – O total de assistências da equipe em toda a campanha, em média superior a 20 por jogo. Excelente: 61,4% de suas cestas de quadra foram assistidas. Isso sem contar os passes que resultam em faltas e lances livres.

93,5 – A impressionante média de pontos por jogo. Apenas em uma ocasião o time ficou abaixo dos 80 pontos: na decisão contra Mogi, na qual também fez sua melhor defesa, limitando o adversário a 53 pontos. Mogi teve média de 78,3 pontos.

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

70,2% – Quando jogou perto da cesta, Rafael Hettsheimeir foi um terror para os adversários, matando 33 de 47 bolas de dois pontos. Em arremessos exteriores, ficou num 33,3% que não impressiona (12/36), mesmo sendo ele um pivô. Jefferson foi outro grandalhão que, no fim, não teve uma média tão boa assim lá fora: 32,7% (18/55).

57 – Os valiosos minutos recebidos pelo jovem pivô Wesley Sena, se aproveitando das sacoladas que sua equipe dava para entrar na festa. O promissor pivô tem apenas 18 anos e disputou sua primeira competição internacional adulta. Somou 25 pontos e sete rebotes, convertendo 10 de 19 arremessos (52,6%), com 1/3 de longa distância. O armador Carioca, de 21 anos, extremamente atlético, mas enfezado demais, ficou em quadra por 36 minutos.

56,9% – O aproveitamento de Robert Day em chutes de três no torneio. O gringo contemplado pelo Bolsa Atleta e que nada tem a declarar a respeito foi o único que, entre os que tiveram maior volume de jogo, superou sua pontaria de dois pontos com os pombos sem asa  (56,9% x 53,8%).

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

32 – Um jogador do calibre de Murilo disputou apenas 32 minutos no torneio, ainda limitado por problemas no joelho. Em cinco partidas no geral, ele marcou só 9 pontos, com… três arremessos de longa distância, em três tentativas. Fora isso, foram três arremessos de dois, todos errados.

5 – Todos os cinco titulares na maior parte da campanha terminaram com média de pontos superior a 10 por jogo. De cima para baixo: Robert Day (16,6), Rafael Hettsheimeir (16,5), Alex (13,3), Jefferson William (11,0) e Ricardo Fischer (10,8). Larry Taylor, que integrou o quinteto inicial na decisão contra Mogi, no lugar de seu compatriota norte-americano, terminou com 9,0. Gui Deodato teve 7,8.

2 – O atlético Gui Deodato tentou duas vezes mais arremessos de três do que de dois pontos: 30 x 15. Se levarmos em conta que ele matou módicos 30% dos disparos exteriores, é uma pena, mesmo, que ele não tenha expandido seu jogo. Ainda são raras as ocasiões em que vai por a bola no chão e partir para a cesta, sem explorar sua velocidade, agilidade e impulsão. No geral, ele cobrou apenas 14 lances livres em 163 minutos.


Fla abre luta pelo tri com números inflados de ataque (e defesa)
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Giancarlo Giampietro

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

A concorrência do Flamengo que fique atenta no NBB7: os atuais bicampeões vão se garantindo, por ora, com base em seu poderio ofensivo. Uma artilharia. Em duas partidas, os rubro-negros flertaram com a marca centenária, tendo média de 98 pontos por partida para vencer Paulistano e Liga Sorocabana, fora de casa.

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Um detalhe: nesses dois triunfos, a equipe carioca matou 25 bolas de longa distância. Somou, então 75 pontos, ou 38,2% do seu total com bombas a partir do perímetro – para quem arremessou da linha da NBA em três amistosos da pré-temporada, parece que ficou mais fácil o fundamento, né? Quem quiser derrubar os caras, então, vai ter de fiscalizar bem no perímetro.

Agora, será que o Fla consegue manter um ritmo assim? Difícil, bem difícil. O mais razoável, na briga por um terceiro título consecutivo, seria encontrar um equilíbrio, ainda mais priorizando uma evolução considerável em sua defesa, que também cedeu mais de 90 pontos para a dupla paulista. Na temporada passada, para constar, o time carioca teve médias de 84,7 pontos pró e 76 contra.

Olho no campeão olímpico trintão...

Olho no campeão olímpico trintão…

Ao menos na contenção dos chutes de longa distância a equipe de José Neto vem bem. Somados, Paulistano e LSB acertaram apenas 15/54 (6/24 e 9/30, respectivamente), para um aproveitamento de 27,7%. Neste caso, não valeu a premissa do toma lá, dá cá.

O cestinha flamenguista nessas duas primeiras partidas foi Walter Herrmann, com 38 pontos no total, contra 33 de Marquinhos e 32 de  Marcelinho. O veterano argentino, ainda um craque ao seu modo, é quem vem mais fazendo estragos nos arremessos de fora, com 8/13 (61,5%). Sua habilidade para puxar um dos pivôs para fora do garrafão vem sendo um problema, então, para os adversários, que vão precisar estudá-lo com mais atenção.

Um detalhe: da parte dos sorocabanos, o ataque também vai funcionando, com média de 94 pontos, acima dos 75,9 do campeonato passado. Mas tem muita coisa para rolar ainda.

Sem conclusões precipitadas, é só um registro de duas contagens anormais para o basquete brasileiro neste princípio de campeonato.

*   *   *

Idem para o Bauru e Jefferson William

Idem para o Bauru e Jefferson William

Assim como Herrmann, outro strecht four que fez chover* bolas de três na segunda rodada foi Jefferson William, pelo Bauru. O ala-pivô anotou 30 pontos, dos quais 15 foram em tiros de fora (em nove tentativas). Eitalaiá. Os scouts ligados ao movimento de estatísticas avançadas da NBA ficariam malucos por aqui. Não é segredo que Jefferson gosta desse tipo de jogada. Mas também não foi marcado: seu aproveitamento é de 52,9%, com 9/17. Não deve ser algo sustentável, porém. Em sua carreira no NBB, a média é de 36,9%. Vamos monitorar, uma vez que o time de Guerrinha não faz questão nenhuma de esconder sua predisposição pelos chutes de longa distância, com até cinco atletas abertos em quadra. Na vitória sobre o Basquete Cearense, eles tentaram 29 bolas de três pontos e 30 de dois. Um (des)equilíbrio ao qual não chegaria perto nem mesmo um time maluco por esse tipo de jogo como o Houston Rockets. Em média, o time texano vem com 73,5 arremessos por partida nesta temporada 2014-2015, com 31,3 tentativas exteriores.

(*Sim, uma indireta ao problema com goteiras no ginásio Panela de Pressão, que fez a partida ser adiada. Algo que acontece, sabemos, não pode deveria mais, né? Da parte da cidade, clube e liga.)

*   *   *

Na estreia do técnico Marcel em um NBB, seu Pinheiros venceu o Rio Claro, fora de casa, por 84 a 70, num jogo um tanto maluco. Também uma novidade neste campeonato nacional, os rioclarenses chegaram a virar a partida no segundo tempo e abrir nove pontos no placar, só para tomar um 24 a 11 na última parcial. Não vi a partida. De todo modo, chama a atenção o quinteto titular usado por Marcel: Paulinho teve a companhia dos irmãos Smith, formação com três armadores bastante agressivos. Eles eram protegidos, digamos assim, por dois atletas muito físicos na linha de frente Marcus Toledo e Douglas Kurtz. O trio Paulo-Joe-Jason terminou com 52 pontos –61,9% do total do time da capital. Não só: foram mais 11 assistências, de 15, para o trio, e oito roubos de bola (sete por parte dos americanos). Epa.