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Arquivo : Lucas Dias

Para entrar no radar, Wesley Sena é único brasileiro inscrito no #NBADraft
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Giancarlo Giampietro

Wesley, primeiro, tem de trombar para jogar por Bauru. Mas seu jogo pode crescer muito

Wesley, primeiro, tem de trombar para jogar por Bauru. Mas seu jogo pode crescer muito. Crédito: Caio Casagrande

Saiu nesta terça-feira a lista dos candidatos ao Draft da NBA, e dessa vez com um único brasileiro, o pivô Wesley Sena, cujo R.G. mostra: “Wesley Alexandre Sena da Silva”. Há duas semanas, como registramos aqui, Wesley Mogi, ou “Wesley Alves da Silva”, passou pelo Nike Hoop Summit, em Portland, se apresentando para mais de 100 scouts da NBA.

Então você pode imaginar a confusão que eles fizeram ao conferir a lista do Draft, especialmente para aqueles que, até hoje, escrevem Lucas ‘Noguiera’. : ) Fica mais difícil, mesmo, até porque os xarás também nasceram no mesmo ano, 1996 Então tem de se explicar que são dois jogadores diferentes, e tal. E até por isso, por mais que seu tempo de quadra tenha minguado nesta reta final de temporada, faz sentido que Wesley, o Sena, tenha inscrito seu nome, para ganhar cartaz e gerar sua própria identidade como prospecto internacional. Talento ele tem. Falta, por vezes, um empurrão.

Com 2,11m de altura (talvez até mais já) e mobilidade, o pivô de 19 anos tem recursos técnicos para ir longe. De cara, o que chama a atenção é a habilidade para o chute de média para longa distância, apresentando aqui e ali num sistema ofensivo abarrotado de cestinhas consagrados em solo brasileiro. Murilo Becker, seu companheiro diário de treinos, discorre sorrindo pela facilidade que o a jovem revelação tem para finalizar com as duas mãos no corte, a facilidade para o chute e como pode se transformar num pivô flexível de primeira linha.

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Encontrar espaço e chances neste tipo de elenco, todavia, é uma missão ingrata, e Wesley sabe disso. “Jogo no poste baixo, arremesso de média distância, de fora. Sempre tive, mas nunca fui um chutador. É um recurso que tenho, para desenvolver, que ninguém fique pagando para ver sempre. Vejo que, para completar o time, tenho de ter um jogo diferente do Hettsheimeir e do Jefferson, que são grandes arremessadores. Tenho de mostrar meu arremesso, mas tenho de ser mais agressivo no garrafão.”

Ao falar em “agressividade”, o pivô vai deixar seus técnicos e companheiros de clube felizes. Entre as diversas atividades de que participa durante os treinos em Bauru, nos treinos específicos e nos coletivos com os veteranos, esta mensagem vem sendo martelada em sua cabeça. É assim, mesmo, que você vai tratar um atleta de tanto potencial. Pois não é só arremesso. Ele tem boa mobilidade para alguém de seu tamanho e pode ser desses jogadores que jogam dentro e fora, dependendo de quem for seu parceiro na linha de frente ou de quem estiver do outro lado.  “O Wesley ainda não entrega  50% do que pode fazer. É um pouco tímido ainda, pode ter mais intensidade. Mas é um cara que tem condições de ir muito longe em sua carreira”, disse o ex-pivô Josuel, que adotou a molecada espichada do clube em sessões específicas.

O tempo de quadra de Sena mais do que duplicou neste NBB, passando de 5,9 minutos em 2014-15 para 14,2, como complemento numa rotação que tem Rafael Hettsheimeir, da seleção brasileira, Murilo Becker, também de extenso currículo pela seleção, um dos maiores pontuadores da história do campeonato, e Jefferson William, também convocado recente para disputar o Sul-Americano, campeão pelo Flamengo e que tem média de 13,4 pontos em sua carreira pela liga nacional. Essa é uma boa estrutura para que o jovem pivô seja lançado. Aos poucos, mesmo.

Logo quando fechou com o Bauru. Baskonia foi opção

Logo quando fechou com o Bauru. Baskonia foi opção

Há garotos e garotos, prospectos e prospectos, certo? Um jogador como Lucas Dias pareceu desenvolvido desde muito cedo e já pedia mais minutos há pelo menos uma temporada, até ser premiado na atual campanha surpreendente do Pinheiros. Mas há jogadores que pedem um pouco mais de tempo para desenvolvimento. Isso não tem a ver necessariamente só com talento, mas também com sua trajetória, personalidade e clube que defende, entre tantos.

Por exemplo: Wesley, tal como seu xará Mogi, foi descoberto meio que por acaso, mas um pouco mais cedo. Se Mogi só foi apresentado ao basquete aos 16 anos, numa escolinha pública em sua cidade natal (Guaçu, no caso), Sena foi descoberto entre os 12 e 13 anos — ele não lembra direito — durante uma competição de saltos em sua escola, em Campinas. “Eu não sabia jogar basquete, nem sabia o que era. Mas já era bem alto já, tinha 1,96m (risos)”, disse. “Aí me chamaram para fazer um teste no clube da Hípica, pois estavam formando um time.”

É por isso que se bate tanto na tecla da “massificação”, por parte de governo ou CBB. O basquete brasileiro precisa encontrar um jeito de detectar talentos como esse mais cedo, para que eles sejam envolvidos mais cedo em um ambiente próspero para o desenvolvimento, mais estruturado. Em 2012, Wesley chegou ao Palmeiras. Dois anos depois, assinou com o Bauru. No meio do caminho, ao lado do irmão mais novo, Yuri, chegou a passar por um período de testes em Vitoria-Gasteiz, terra do tradicionalíssimo Baskonia, o clube espanhol que convenceu a família Splitter a liberar um adolescente Tiago, em 2000. “Ficamos umas duas semanas treinando, conhecendo, mas o Bauru me chamou. Vim para cá para treinar antes de ir para a Espanha, mas fizeram uma proposta boa, falando que iam montar um time bom, interessante. Optei por ficar aqui, perto da família. Na Espanha, demonstraram interesse, fizeram proposta, mas preferi ficar.”

O início promissor pelo Palmeiras

O início promissor pelo Palmeiras, quando estreou pelo NBB já aos 16 anos

Pelo clube do interior paulista, que se tornou gradativamente um papa-títulos na América do Sul, o pivô foi desenvolvido durante toda a sua primeira temporada, mais como uma peça de LDB (com 30,2 minutos, 12,2 pontos, 7,0 rebotes, 1,3 assistência e 1,1 roubo de bola) do que do time principal. Para o início da atual temporada, porém, o cenário mudou. Primeiro por causa de seu progresso, mas também pelas circunstâncias bauruenses, com diversos atletas se apresentando à seleção, outros voltando de lesão e alguns mudando de clube.

Com o Campeonato Paulista começando muito cedo, veio a grande chance para os atletas mais jovens do clube, até por conta de uma Copa Intercontinental que se aproximava também. A equipe sofreu para se classificar para as quartas de final e acabou derrotada pelo Mogi das Cruzes em dois jogos. Mas ao menos Wesley pôde ir para a quadra e respondeu bem, com 11,4 pontos e 5,9 rebotes, em 12 partidas, com 54,6% nos arremessos e 60,4% nos lances livres. Se você excluir os duelos com Mogi, já com a cavalaria de volta, foram 13,1 pontos e 6,8 rebotes. Não são números que quebram a bolsa, mas são significativos para alguém tão jovem no basquete brasileiro, numa competição que ainda estava relativamente em clima de pré-temporada, mas com diversos clubes da elite nacional, claro. Isso para um jogador ainda em formação.

“Já era combinado, que eu teria mais tempo para ficar em quadra e que precisariam de mim no Paulista. Era para eu ajudar os veteranos que ficaram, como o Paulinho e o (Robert) Day. Acho que me surpreendi um pouco com meus números. Comecei bem discreto o Paulista, e aí cobraram mais de mim. Depois, foi acontecendo”, afirmou. “Foi uma experiência que me ajuda muito, de poder tanto jogar na minha categoria abaixo como com os adultos. Já treino com caras de alto nível. Mas no jogo sempre se exige mais. “Fiquei muito contente com meu desempenho dentro de quadra, mas não dá para se contentar. Tem de querer mais e tem muito o que melhorar ainda, diariamente é que você vê suas dificuldades. Tenho de ter mais agressividade no jogo, brigar por todo rebote, sempre estar correndo, fazer as ajudas na defesa com mais velocidade.”

Estão aí, de novo: agressividade e cobranças, como Wesley, mesmo, admite ser preciso. “Ele é um jogador de quem a gente exige 200%”, afirma André Germano, que coordena a base bauruense, trabalha com Demétrius e Hudson Previdelo no time de cima e também responde pelas seleções menores na CBB. “Falamos o tempo todo sobre os acertos e erros dele, de como ele pode expandir seu jogo. É só acreditar no que ele pode fazer.”

Se, no decorrer da temporada, Wesley perdeu muitos de seus minutos, especialmente com o retorno de Murilo à boa forma, não quer dizer que ele tenha sido esquecido por seus treinadores. Especialmente pelo primeiro semestre, quando o calendário se afrouxou um pouco antes da Liga das Américas, Germano o colocou em um programa de treinamento dedicado, que em geral começava às 8h, com academia, e terminaria entre 11h30, 12h, com o treino dos adultos. No meio do caminho, fazia sessões específicas.

Pelo NBB, os minutos estão sendo reduzidos na reta final

Pelo NBB, os minutos estão sendo reduzidos na reta final

Ainda estamos falando de um projeto, de um jogador que ainda pode ser desatento na defesa, na disputa por rebotes, em um time que entra em todas as competições para tentar ser campeão. A previsão de Germano, por exemplo, é de que ele possa alcançar a maturidade como jogador aos 23, 24 anos, ganhando em fundamentos e entendimento do jogo, além do crescimento fora de quadra, mesmo. No trabalho com bola, a ordem é não limitá-lo ao garrafão, mesmo que, a princípio seja a tarefa que o time principal espera dele. Nenhum jogador deve ser enquadrado a nada, ainda mais nesta idade. Basta ver o que Cristiano Felício fez em Chicago quando teve chances, comparando com o modo como era utilizado no Flamengo.  O brasileiro está hoje com 23 anos, justamente na faixa de idade que Germano aponta, por sinal.

É natural que Wesley sonhe com a NBA. Jogando por Bauru, aliás, ele teve sua primeira chance de conviver com a elite da modalidade, ao viajar para os dois amistosos históricos contra New York Knicks e Washington Wizards, em outubro, pelo calendário de pré-temporada da liga americana. Contra o time de Nenê, recebeu do então técnico Guerrinha 28 minutos para correr pela quadra. Terminou com 11 pontos, 5 rebotes e 2 assistências, matando 5 em 8 arremessos, com direito até a uma bola de três, na linha estendida. Nervoso, porém, errou seus quatro arremessos — a adrenalina sobe quando você para para pensar, né? “Não esperava jogar tanto, achei que ia entrar, mas não por tanto tempo. Entrei bem ansioso, mas acho que deu para produzir bem. Deu para ter uma noção do que é um jogo de NBA, bem diferente, bem físico. O Nenê ficou me dando dicas. Falou que era para continuar assim, que estou jogando bem. Foi uma grande sensação”, afirmou.

Mas tudo tem seu tempo. Ainda há uma longa estrada à frente para Wesley Alexandre Sena da Silva. Ou Wesley Sena, mesmo.

*   *   *

Lucas Dias arrebentou no NBB. Está no radar

Lucas Dias arrebentou no NBB. Está firme no radar

Por falar em Felício… Uma lembrança importante: talvez o pivô do Bulls seja o melhor exemplo para qualquer prospecto brasileiro, em vez de Bruno Caboclo, que foi uma clara exceção em todo esse processo. O Toronto se encantou por seu talento, assegurou uma promessa é, depois que o burburinho em torno do garoto fugiu do controle, gastaram logo uma escolha de primeira rodada nele, para surpresa geral. Isso nunca havia acontecido antes de, pelo menos não exatamente com um roteiro destes.

Já Felício passou batido em seu último Draft, o mesmo de Caboclo, em 2014.  Mesmo depois de ter se apresentando bem no adidas EuroCamp em Treviso. Tudo bem. Voltou ao Rio de Janeiro e seguiu trabalhando. Até que o Bulls lhe abriu as portas para um teste. Contrariando todas as perspectivas, devido à conjuntura específica do elenco de Chicago, cheio de pivôs altamente qualificados. Como ele conseguiu?  Não só com talento natural, mas com muito empenho. Ser ignorado por um sistema que só abre 60 vagas anuais é o mais provável, na verdade. Mas não é o fim da linha.

Esse tipo de roteiro deve estar na cabeça se cada garoto com aspirações de NBA, como o trio do Pinheiros (e mesmo um pivô bem jovem que logo mais vai estar em pauta, Lucas Cauê), Mogi e outros.

Dessa vez eles decidiram ficar fora do Draft. A movimentação, declarada, de scouts pelo país não foi das mais agitadas. Spurs e Sixers estiveram por aqui, do que sei. Bem menos do que no ano passado, quando Georginho foi um chamariz, depois de perfil publicado pelo DraftExpress. Que eles não tenham vindo não significa que não haja interesse. Pelo menos mais quatro clubes estiveram de olho no progresso da turma. A parceria da LNB com o sistema Synergy contribui muito para isso.

Três scouts manifestaram surpresa pela decisão de Lucas ficar fora, positivamente impressionados peço NBB que fez, passando de promessa a realidade, com números dignos de um All-Star nacional já. O progresso de Humberto também foi registrado. Mas seus clubes também não foram agressivos o suficiente também em suas sondagens. Para gente tão jovem, porém, não há pressa.

Lucas e Humberto vão completar 22 anos em 2017. Então vão ser candidatos automáticos ao Draft. Com mais um ano de cancha, desde que com tempo de quadra e oportunidade para produzirem, mantendo essa curva de ascensão, terão candidaturas ainda mais fortes, sólidas. Entre os olheiros, há aqueles que topam o risco máximo, como aconteceu com Caboclo, que tinha as ferramentas físicas, atléticas dos sonhos. Mas há muitos que preferem apostas mais factíveis, levando em conta aquilo que os atletas já produzem em suas ligas locais. Faz mais sentido, aliás. No caso de Mogi, George e Sena, de 1996, eles tem ainda mais dois anos.

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Aprendendo rápido, Mogi se exibe para olheiros da NBA em Portland
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Giancarlo Giampietro

No busão com a galera: Wesley (segundo sentado à direita)

No busão com a galera: Wesley (segundo sentado à direita)

Começou nesta segunda-feira, em Portland, o Nike Hoop Summit, um dos eventos juvenis mais importantes do calendário internacional, especialmente para os clubes da NBA. Providencial para scouts conferirem de perto em um só lugar, durante toda uma semana, diversos atletas de muito potencial, de todos os cantos do globo, e que provavelmente ainda não têm uma ficha tão extensa assim em seus banco de dados.

O ala Wesley Alves da Silva, ou, simplesmente, Mogi, do Paulistano, certamente se enquadra nesse grupo, de talentos intrigantes a serem avaliados com muita atenção a cada sessão de treino até a realização do jogo de sábado, contra a equipe dos Estados Unidos (que não necessariamente é a seleção americana oficial).

Georginho, promessa do Pinheiros, esteve por lá no ano passado. Agora é a vez do campeão de enterradas do NBB, seu companheiro na Copa América Sub-18 de 2014, em Colorado Springs, se testar diante de plateia exigente e curiosa. De olho em um Draft considerado fraco de modo quase unânime, se causar boa impressão na capital hipster do Oregon, deve entrar na discussão imediatamente. Mas é difícil falar em cotação no momento, até pela aura de mistério em torno de seu nome.

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Para alguém que mal jogou pelo time principal do Paulistano, Mogi é encarado como uma interrogação por muitos scouts que entraram em contato com o blog nas últimas semanas. Dos sites especializados, apenas o DraftExpress o acompanha com alguma regularidade, listando-o hoje como o décimo melhor prospecto na geração de 1996. Para o NBADraft.Net, seria o oitavo nessa lista.

No radar

Mogi mal joga pelo NBB. No final de semana das estrelas, brilhou

Mogi mal joga pelo NBB. No final de semana das estrelas, brilhou

Isso, na verdade, só torna ainda mais interessante o convite que recebeu. Ajuda, claro, ser representado nos Estados Unidos pelo gigantesco WMG (Wasserman Media Group). O grupo passa, sim, por reestruturação após a saída do superagente Arn Tellem para a gestão do Detroit Pistons, mas ainda tem cartela impressionante de clientes. Mas o interesse por Mogi não se justifica tão somente por lobby, claro. Cada um dos 12 estrangeiros convocados chegou ali depois de muita campanha nos bastidores, pode ter certeza.

Para Mogi ser listado, é porque há um interesse, ou curiosidade óbvios por parte da NBA. Resta saber se pesa mais a necessidade daqueles clubes que o acompanham mais de perto, desde aquele torneio em Colorado Springs – quando entrou na mira do DraftExpress, referência óbvia no serviço, por exemplo –, passando pelo adidas Nations do ano passado, na Califórnia. Ou se influencia mais a leva de times que só agora procura se informar melhor pelo ala nascido em Mogi Guaçu.

Se agora está num evento patrocinado pela multinacional norte-americana, foi em atividade conduzida por sua principal concorrente, alemã, no mercado de material esportivo que Mogi fez mais barulho, para se consolidar como um prospecto de primeiro time.

Em Anaheim, o brasileiro brilhou em um combinado sul-americano, ao lado dos compatriotas Daniel Bordignon Barbieri (ala-pivô do Baskonia, em franco desenvolvimento na Espanha), do pivô Lucas “Pipoka” Siewert (pivô já há um tempo no high school americano, na Califórnia e tem hoje sete ofertas de grandes universidades) e do armador Guilherme Santos (hoje segurando o rojão em final de temporada pelo Bauru, após a infeliz lesão de Ricardo Fischer).

Em quatro jogos, Mogi teve médias de 23,8 pontos, 7,3 rebotes e 2,3 assistências, acertando 66,6% de seus arremessos de quadra. Foi o cestinha e também o jogador mais eficiente da competição. Quem esteve por lá, de olho mais nos jogadores de fora do país, anotou seu nome no caderninho. O que nem sempre acontece, devido ao gigantesco tamanho do evento, com nove seleções diferentes, além de uma leva de quase 40 “conselheiros” universitários, como a sensação australiana Ben Simmons, o cestinha Buddy Hield, o jogador do ano, o ala-pivô Brice Johnson, destaque de North Carolina, entre outros.

Físico

Capacidade atlética e envergadura para ganhar nas enterradas

Capacidade atlética e envergadura para ganhar nas enterradas

Do ponto de vista do biótipo, tem “ferramentas” que os scouts procuram: bom tamanho (1,97m) e envergadura e capacidade atlética acima da média, ou muito acima da média, seguindo os parâmetros do NBB) com agilidade, mobilidade lateral, explosão em ataques verticais e impulsão. E, quando você soma impulsão e longos braços, tem um candidato sério a dar show em enterradas. Outro ponto a ser destacado: o rapaz é daqueles que parece jogar com mola nos pés, capaz de saltar várias vezes em sequência, sem perder força.

Por outro lado, Wesley ainda é muito magro, porém, a despeito de ter ganhado alguns quilos de músculo no ano passado. Não que seja o caso de bombá-lo: você não quer que ele perca em nada de sua rapidez. É só questão de deixá-lo um pouco mais forte apenas, até pelo estilo de jogo agressivo que apresenta, e isso não deve ser problema, de todo modo.

Isso chama a atenção: mesmo que seja magro até mesmo para um jogo de LDB, Wesley não foge do contato físico. Ataca o garrafão de modo incessante, com ou sem a bola, e também se dedica aos rebotes ofensivos, quesito em que tem bom aproveitamento para alguém de sua posição. Há momentos que você pensa que ele até pode se machucar em quadra, mas ele não liga: está constantemente de modo acelerado, vidrado na bola. É o que os scouts americanos gostam de qualificar como “motor” – e o do garoto gira em alta rotação.

Projeto


(Vídeo do adidas Nations 2015 em Long Beach. Wesley é o número 96, de cinza)

Para monitorar o progresso de Mogi, então, restou a eles  basicamente os 14 jogos que disputou pela LDB, a liga desenvolvimentista nacional, na qual caíram ainda na primeira fase, e o Campeonato Paulista Sub-19 do ano passado, pelo qual foram eliminados na semifinal. O difícil aí é colocar as ações do ala, ou de qualquer outro jogador promissor, em perspectiva, devido ao desnível em termos de talento.

Suas médias pela LDB foram de 10,6 pontos, 5,4 rebotes, 0,9 roubo, 0,9 assistência e 2,2 turnovers, em apenas 26,3 minutos. Quando jogou exclusivamente com garotos de sua idade, teve maior protagonismo, sendo um dos cestinhas do sub-19, diga-se – só uma pena que o site da Federação Paulista seja tão precário, para checagem de outros dados. Mas também é algo que os olheiros vão questionar. São poucos aqueles que, como Masai Ujiri, se sentem confortáveis em apostar em um garoto de números não muito expressivos num torneio sub-23 brasileiro. Essa dúvida girou em torno de Georginho no ano passado, ao passo que, neste ano, a elevada produção de Lucas Dias pelo Pinheiros não passa despercebida. Mas é aí que entra a parte mais legal (creio) e desafiadora da profissão, não? Justamente analisar o atleta de modo minucioso e projetar o que ele pode fazer entre os grandalhões.

Sem a bola

Pela LDB, Mogi não teve tanta liberdade em quadra nesta temporada

Pela LDB, Mogi não teve tanta liberdade em quadra nesta temporada

Bastava ver o Paulistano sub-23 em ação para entender o volume reduzido nas estatísticas. Acompanhado por dois armadores, o badalado Arthur Pecos e Leonardo, Mogi basicamente se via obrigado a atacar como arma secundária, enquanto os dois baixinhos seguravam demais a bola. De tanto driblarem, perdiam diversas oportunidades de assistir o ala em cortes que poderiam gerar cestas fáceis ou lances livres. Para alguém com sua explosão física, dificilmente os marcadores conseguiriam freá-lo se fosse acionado em curva em direção ao garrafão. É nesse tipo de movimentação e em transição que ele produz a maior parte de seus pontos. Basta que o armador o veja. Quando perto da tabela, tem elasticidade e criatividade para finalizar as jogadas, sabendo usar o famoso “euro step” – pense nos movimentos laterais que Dwyane Wade e Manu Ginóbili tanto executaram na carreira –, explorando a tabela, ou cravando com tudo, mesmo.

Em termos de jogadas individuais, o ala ainda precisa trabalhar bastante em movimentos, mesmo que seu primeiro passo consiga lhe colocar em posição de vantagem contra o defensor. Ele é rápido e ganha terreno com facilidade, mas pode refinar seu drible, mantendo a bola mais próxima de seu corpo – como vemos em dois lances de vídeo abaixo –, algo que foi uma das prioridades durante o mês de treinamentos que fez na academia IMG em junho passado. (Sim, a mesma academia que já acolheu Lucas Dias e Georginho, além de Henrique Coelho e Leonardo Demétrio, dupla do Minas, virando uma central brasileira basqueteira na… Flórida, claro).

Mogi também tem de desenvolver seu arremesso. Pela LDB, acertou apenas 68,9% de seus lances livres e 18,2% dos tiros de longa distância (8 em 41 tentativas), regredindo na primeira e evoluindo um pouco na segunda, em relação à temporada 2014-15. Talvez ele nunca vire Marcelinho Machado, mas não que seja um caso perdido. Comparando de um ano para o outro, conseguiu por um pouco mais de arco em seu chute, com a mecânica também mais elevada. Ao menos, ciente dessa deficiência, não força os arremessos a partir do drible. Isto é: ele tem limitações ainda relevantes em seu jogo, que precisam ser atenuadas na hora de se pensar em voos mais altos para a carreira.

Quilometragem baixa

(Duas cravadas de Wesley num top 5 do adidas Nations, jogadas 2 e 4)

De qualquer forma, uma coisa que não podem perder de vista: se Wesley é o jogador mais velho entre os estrangeiros convocados para o #HoopSummit – além dele, só o ala francês Isaia Cordinier nasceu em 1996, enquanto quatro companheiros são de 1998 –, também é um dos que menos tem rodagem. Poucos sabem, mas o ala começou a jogar muito tarde. Realmente tarde: em 2012, aos 16 anos. E não é que estivesse jogando em parques ou na escola até ser descoberto em um projeto social em Mogi Guaçu. Nada disso. Ele mal havia pegado numa bola de basquete até participar dessa escolinha. Como atleta, o máximo que fazia era disputar uma pelada, como zagueirão. E dos piores, ele mesmo confessa, ficando sempre entre os últimos a serem escolhidos.

O fato de, em 2016, entrar em uma lista de candidatos a NBA só mostra o quanto possui de talento natural e o quão dedicado tem sido a seus treinamentos, sob a orientação de Gustavo de Conti e de seu assistente Beto, comandante do sub-23 do Paulistano, que o trouxe do Palmeiras. Os dois ficaram juntos no clube alviverde por aproximadamente um ano, depois de ser levado por seu primeiro treinador para fazer um teste. Beto, aliás, conta uma anedota: Mogi chegou a ser dispensado, mas conseguiu retomar a vaga graças ao apoio do pai de Arthur Pecos. Em 2014, já estava na seleção sub-18.

Até pela inexperiência, o ala ainda comete alguns erros claros em quadra, de posicionamento, se distraindo com facilidade, permitindo cortes pelas costas, arremessos livres etc. No mano a mano, porém, costuma ir bem, colocando muita pressão no adversário, usando sua envergadura e as mãos ágeis. Também devido aos seus atributos físicos, consegue se recuperar em uma jogada. Por vezes, pode se ver sedento pela bola, no ataque e na defesa, congestionando de um lado ou perdendo seu oponente do outro. Falta cultura, e os técnicos do clube até procuram compensar isso ao lhe entregar alguns livros sobre o jogo. Para compensar essa desvantagem, Wesley apresenta um instinto apurado em quadra. Quando não precisa pensar muito em quadra, encontra maneiras de influenciar a partida, seja explorando buracos na defesa adversária, ou com botes rápidos para tentar o desarme. Ele ainda está aprendendo o jogo, fato. Pelo nível que apresenta hoje, dá para dizer que aprende com facilidade.

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Temporada brasileira começa com urgência no desenvolvimento de talentos
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Giancarlo Giampietro

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Antes de embarcar para os Estados Unidos e iniciar seus treinamentos para os Estados Unidos, aquele veloz garoto estava impressionando a todos aqui no Brasil. Leandro Mateus Barbosa ralava de igual para igual com veteranos da seleção. Ralava? Esqueça: aos 20 anos, o armador já era um dos melhores jogadores do país, com média de 28,2 pontos por partida, abaixo apenas de um Mão Santa e acima de Charles Byrd, Rogério, Vanderlei e outros da velha guarda. Isso foi em 2003, ano em que o ligeirinho se candidatou ao Draft da NBA.

Era uma época diferente. Hoje, a partir do momento em que um jogador se declara para a liga americana, entra forçosamente no radar de todos os clubes (sérios). Ainda é possível que aconteça um caso como o de Bruno Caboclo, que foi tratado até mesmo com certo desdém no momento de sua inscrição no ano passado para, depois, a menos de um mês antes do evento, gerar um pandemônio na busca por informações. Acho que nunca telefonaram tanto para o Brasil. Há 12 anos, Leandrinho precisou usar o circuito de treinos privados com os clubes para fazer seu nome nos Estados Unidos, jogando duro para valer, a ponto de tirar Dwyane Wade do sério em um teste pelo Memphis Grizzlies, para deleite de Jerry West.

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Agora isso já é quase impossível. Estar no radar da NBA significa ser escrutinado pelos olheiros. Esses caras querem assistir ao garoto máximo que puderem, seja na ‘fita’, ou, de preferência, in loco. Neste ano, a revelação mais estudada foi o armador Georginho, do Pinheiros, que, sob muitos aspectos, remete a Caboclo como prospecto: muito jovem (nascido em 1996), atributos físicos impressionantes e o tanto de projeção que se pode fazer a partir daí. Os olheiros vieram para cá para conferi-lo de perto, para que não se repetisse a loucura do ano passado, para que seus clubes não fossem pegos desprevenidos. Foram pelo menos dez franquias na área. Desta forma, passaram a conviver com outras dezenas de garotos daqui e com a LDB como um todo. Os que não cruzaram a linha do Equador tiveram a oportunidade de ver George em quatro cenários diferentes: o Nike Hoop Summit, o Draft Combine, o adidas Eurocamp e workouts particulares. Lucas Dias, Humberto Gomes e Danilo Siqueira foram os outros que se inscreveram e também passaram pela lupa, mas com menos exposição lá fora.

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

Todos eles foram avaliados, no fim, mas preferiram adiar o sonho de encarar o Draft, retirando o nome da lista. Qual o veredicto? Bem, a opinião de um ou outro scout ouvidos pelo VinteUm varia em relação ao futuro dos jogadores. Natural. De qualquer forma, houve um tópico que era consenso entre as vozes divergentes: para os olhos da NBA, os garotos deveriam sair do Brasil o quanto antes em busca de melhor desenvolvimento.

“Não me parece um caminho muito bom”, diz o vice-presidente de um clube da Conferência Oeste ao blog, ao ser questionado sobre a decisão do quarteto de retornar ao país. “Deixar o Draft não é uma decisão ruim. George muito provavelmente seria selecionado. Mas não é essa a questão. Esperava que eles levassem a carreira adiante em outro cenário.”

Esse vice-presidente acreditava que o melhor caminho era tentar uma vaga em um clube na Europa. A opinião foi compartilhada por um scout de um time da Divisão Sudoeste, no que se refere ao armador. “Acho que o ajudaria ficar no Draft e deixar o Brasil. O time da NBA que o escolhesse encontraria para ele uma boa situação na Europa, onde ele pudesse dominar o inglês. Depois, teria a D-League. E aí a NBA.”

Pessoalmente, não acho que a transição para o basquete europeu fosse tão simples assim: na idade deles, os técnicos, sempre pressionados por resultados, já esperam contar com um atleta mais preparado para render em alto nível. A busca por um clube mais paciente não seria tão simples. Com o que concorda um olheiro de um time da Divisão Noroeste, em declaração já publicada aqui. “Jogar na Europa não faz sentido para ele. Afinal, precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião”, disse. “Em primeiro lugar, a prioridade geral, para mim, era sair do Brasil. O mais rápido possível.”

Quando você lê esse tipo de declaração, o que vai pensar? Pode bater um certo desespero, não?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Mas elas precisam ser relativizadas também: os scouts da NBA estão, na grande maioria, procurando produtos prontos ou semiprontos, para chegar aos Estados Unidos (ou Canadá) agora e já oferecer algo. O nível de exigência dos dirigentes e treinadores é, em geral, elevado. A aposta do Toronto Raptors em Caboclo no ano passado foi algo raro. O clube estava consciente de que, ao contratá-lo, cru toda a vida, deveria preparar um projeto de longo prazo, sem se importar em trabalhar com o caçula por um ano inteiro em que o principal objetivo era deixá-lo mais forte e fluente em inglês. Era este o tipo de comprometimento que os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis, que trabalhavam com o ala até este ano, esperavam para George ou Lucas, para que eles ficassem no Draft. Não aconteceu.

Por outro lado, os scouts internacionais assistem centenas de jogos de todos os países, algo cada vez mais fácil devido a softwares como o Synergy, hoje presente no cotidiano do NBB. Provavelmente não haja público mais bem informado do que essa classe na hora de falar sobre garotos mundo afora. Em suma, eles têm um ponto de vista que não pode ser ignorado.

Além do mais, a despeito de termos reunido duas seleções neste ano, cheias de jovens, para o Pan e a Universíade, não acho que seja necessário aparecer um empregado da liga americana para afirmar que a produção de base como um todo é duvidosa, especialmente quando se leva em conta o potencial atlético do país. Nas declarações dos olheiros, o que preocupa, mesmo, é o tom alarmista das respostas.

 O que acontece?

Uma chance
Existe, claro, um problema de origem macro. A massificação parece uma utopia, sem contribuição estratégica alguma da CBB e com o investimento federal imediatista. Gasta-se muito, hoje. São bilhões. Mas os programas são massivamente direcionados ao Rio 2016, com pouco impacto a longo prazo. Além disso, mesmo a grana que sai diretamente do Ministério do Esporte para a confederação acaba sendo aproveitada da forma mais bizarra possível. Seus convênios milagrosos recentes, como os R$ 7 milhões cedidos este ano, tinham como finalidade tão somente que uma ou outra seleção pudesse treinar para uma competição específica.

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

Para ser justo, também não dá para esquecer que a pasta também libera a grana da LDB, uma das poucas iniciativas realmente promissoras e consistentes que temos em termos de base no país, graças à administração da liga nacional. A competição, que já iniciou sua nova edição, tem boa repercussão. Em março, em viagem para Mogi das Cruzes para assistir a jogos da quarta etapa da LDB, tive a oportunidade de rever Lisandro Miranda, um argentino que trabalha para o Dallas Mavericks há mais de dez anos. Entre os que já tive contato, é hoje o único scout sul-americano oficial da liga e está mais que habituado a visitar as quadras brasileiras. Numa conversa informal, elogiou muito o progresso que nossa principal competição para jovens vinha apresentando. Em termos de estrutura, deixava claro, para que os garotos pudessem jogar e deslanchar.

Que o campeonato representa um avanço enorme, não há dúvidas. É uma competição que ajuda a dar rodagem aos atletas que estão na iminência de sair do juvenil, ou que já estouraram a categoria. Acontece que, em termos de evolução técnica, a liga não oferece tantos desafios aos talentos de ponta do país. Eles dominam nesse nível, mas a tradução desse rendimento para um nível maior de competitividade não é tão simples assim, até pelo desnível técnico que se testemunha entre algumas equipes da primeira fase.

Está claro que, tecnicamente, é preciso mais que a LDB para fomentar uma modalidade. Para sustentar todos os clubes, porém, não há verba do governo que dê conta. É preciso que o setor privado entre em quadra. Com crise ou estagnação econômica (como preferirem…), o dinheiro, que já não era tão volumoso assim, voltou a encurtar. Qualquer real investido tende a vir, então, com uma cobrança forte por vitórias, empurrando dirigentes e técnicos para estratégias conservadoras. Neste cenário, o desenvolvimento de jovens atletas fica bem complicado. Pode treinar o quanto e com quem for, mas nada substitui a experiência em quadra em jogos para valer. A questão não é exatamente de infraestrutura. Até porque, com um jovem jogador, o quanto mais é preciso do que uma bola, duas tabelas e uma boa cabeça para aplicar treinos? Com a palavra, Tiago Splitter, que saiu do país muito cedo e se formou como jogador na Espanha: “Tinha o preparador físico, nutrição, mas nada que não vá ter no Brasil num clube de ponta. A grande diferença foi a competição. Cheguei com 15 anos lá e já comecei a jogar adulto, na terceira divisão. Fui subindo, até a primeira. Foi essa competição que me ajudou a ser um bom jogador”.

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

No NBB 7, apenas dez atletas sub-22 (nascidos a partir de 1993) tiveram um mínimo de 20 partidas com média de minutos superior a 10 por jogo. Dez! Ou dois quintetos, entre 16 equipes inscritas. Se for para filtrar por 20 partidas e 20 minutos em média, apenas quatro passariam no corte: Danilo, Leo Meindl, Deryk Ramos e Henrique Coelho, todos, não por coincidência, convocados por Magnano ou Gustavo de Conti. Eles eram os únicos jogadores de fato preparados para encarar o NBB? Não jogam mais por que não estão preparados, ou não estão preparados por que não jogam mais? A resposta para essa pergunta seria a mais fácil: sim e não. Aí não tem como errar, né? Na verdade, a combinação de um assentimento e negativa indica que ela é bem mais complicada.

Fundamentalismo
Rumo ao Draft, Georginho, Lucas e Danilo saíram do país para passar por curtos períodos de treinamento nos Estados Unidos, em academias prestigiadas como a IMG, da Flórida, e a Impact, de Las Vegas. Mesmo que não tenham ficado na lista final de recrutamento da NBA, esse tipo de experiência foi valiosa para abrir os olhos dos garotos em relação ao tipo de preparação que existe lá fora. Os três rapazes foram uníssonos ao comentar os diferentes treinamentos que receberam: nunca haviam visto nada parecido.

Um ponto em comum atentava à “intensidade”. Que saíam esgotados de quadra e, quando achavam que havia acabado, eram chamados para mais uma sessão. E mais uma. E mais uma. O regime espartano, de todo modo, serve mais para prepará-los aeróbica e emocionalmente para os testes que os desgastantes treinos que eventualmente pudessem fazer pelos clubes americanos. Pensando longe, o legado maior está no refinamento de habilidades.

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Quando estava em Vegas, Danilo disse o seguinte ao blog: “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade”.

Na volta a São Paulo, Lucas afirmou em longa entrevista: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer”.

Os comentários coincidem, não? E estamos falando de dois jovens talentos brasileiros de ponta, que trabalharam nos últimos anos em dois clubes que realmente investiram no trabalho de base, com o Minas Tênis colhendo antes do Pinheiros os frutos por projeto, com um grupo que soube mesclar revelações e veteranos para fazer sucesso no NBB. Neste ano, por diversas circunstâncias, o clube de São Paulo tenta repetir essa trajetória. Vamos falar mais a respeito na semana que vem.

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, Rep. Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, República Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

Mas temos aí Lucas e Danilo maravilhados pelos exercícios de fundamentos básicos que fizeram em um curto período. O que tirar dessa avaliação? É por essas e outras que causa admiração geral o fato de o Brasil ainda encontrar um jeito de produzir mão-de-obra, mesmo que as estruturas do esporte no país não sejam das mais confiáveis. Como Splitter disse durante sua visita ao Basketball without Borders, camp conduzido pela NBA e pela Fiba, em sua edição global, realizada em fevereiro deste ano em Nova York: “Nós vemos jogadores surgindo, mas não por sermos bem organizados. Eles simplesmente aparecem”.

Nem sempre depende-se do acaso ou da sorte. Se Lucas e Danilo chegam a flertar com a NBA hoje, é porque seus clubes também lhes permitiram isso. Mas é inegável que, no processo atual de formação do basquete brasileiro, há uma lacuna muito grande entre projeções e realizações. Durante o mesmo camp nova-iorquino, em nota já dada aqui no blog, me lembro de ter sido questionado por um importante dirigente de um clube da Conferência Oeste, sobre a discrepância que se nota entre o nível de potencial atlético das revelações brasileiras e os seus fundamentos básicos. A mesma tecla. Se ela for batida muitas vezes, complica demais.

Peguem o fiasco da Copa América sub-16 deste ano. Mais um desastre: o Brasil agora terminou em quinto, ficando muito longe de brigar por uma vaga no Mundial sub-17 desta temporada. Na primeira fase, três derrotas em três jogos. Depois, pelo torneio de consolação, saíram dois triunfos para evitar a fossa geral da molecada. É complicado entender de longe o que aconteceu. Afinal, o técnico do time, Cristiano Grama, foi um personagem fundamental para a composição justamente do Minas, a jovial sensação do último NBB. É um cara antenado, bem conectado, envolvido com a base brasileira. Sem ter assistido aos jogos, fica difícil avaliar, mas os resultados estão aí para comprovar ques as coisas não saíram nada bem. Um dado que chamou a atenção, antes mesmo do torneio, era que, talvez pela primeira vez na história, a equipe brasileira tinha média de altura mais baixa que a da Argentina. Nossos vizinhos comemoravam isso, para se ter uma ideia. Conversando com agentes, creiam: no país de Nenê, Splitter, Augusto, Varejão, Bebê, Faverani, Felício, Morro, Caio, Mariano, Paulão, Murilo, Hettsheimeir, parece que anda realmente difícil de encontrar pirulões promissores nas competições de base vigentes. Ao que parece, a safra para daqui mais alguns anos não deve oferecer tantos “surgimentos”.

E aí o que fazer quando a fonte seca? O basquete feminino, infelizmente, está aí para contar essa história. É nessa hora que entra a autocrítica. E, nesse sentido, ao menos faz bem ler uma carta de Alexandre Póvoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo, o tricampeão do NBB, na qual ele escreve: “Somos totalmente conscientes que estamos longe da plena satisfação acerca do que alcançamos até agora. Por exemplo, precisamos melhorar MUITO o nosso trabalho nas categorias de base, atualmente muito aquém da história do Flamengo formador de atletas (aliás, situação comum em todos os esportes olímpicos do clube e que estamos lutando dia-a-dia para ajustar)”. O rubro-negro foi vice-campeão da última LDB, mas é honesto ao assumir suas deficiências de formação. Até porque a principal figura do time, Felício, é produto da base do Minas.

Sem fazer muito alarde, em termos de mídia, uma potência nacional que tem investido muito na base é o Bauru, estruturando seu departamento e fazendo a rapa na coleta de talentos, até mesmo em países vizinhos. Diversos jogadores talentosos têm sido recrutados recentemente, como o ala-pivô Gabriel Galvanini, o pivô Michael Uchendu (brasileiro filho de nigerianos), o armador Guilherme Santos, entre outros.  Com um patrocinador forte, o clube montou um timaço que ganhou o Paulista, a Liga Sul-Americana e a Liga das Américas na temporada passada. Poderia se dar por satisfeito com esses resultados, mas, em tempos de vacas gordas, é melhor preparar o terreno para o que vem pela frente e de um modo muito mais razoável e sustentável. É um projeto para se monitorar de perto.

Curiosamente, é o mesmo Bauru que escalava Leandrinho nos idos de 2003, quando o Nacional ainda era organizado pela CBB, muito antes da grave crise com os clubes que quase levou tudo para o buraco. Não seria prudente esperar que, dos garotos garimpados pelo clube, alguém vá chegar em breve ao estágio de competir com David Jackson, Marquinhos ou Shamell pelo título de cestinha do NBB, como, lá atrás, fez o armador, um caso excepcional de quem que já fez mais de 18 pontos em média nos Estados Unidos. O que dá para cobrar, mesmo, é que ao menos tentem, ainda mais para um clube em que o dinheiro não é problema. Entre esses jovens atletas, é natural que o sonho seja a NBA. Pode ser que alguns deles até se veja com condições de, no futuro, inscrever no Draft, tentar a sorte. Se vai dar certo ou não, impossível dizer agora. Só esperemos que, em caso de retirada e retorno ao país, a resposta dos olheiros norte-americanos seja mais amena.


Brasileiros retiraram a candidatura ao Draft da NBA. O que houve?
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Giancarlo Giampietro

Georginho, agora em Treviso: longo período de testes para o armador

Georginho em Treviso, e os scouts da NBA atrás

O que houve?

Bem, respondendo: não é que tenha sido algo anormal, para começo de conversa. Foram quatro os jogadores daqui que se declararam ao Draft da NBA deste ano e, no final, acharam por melhor retirar retirar a candidatura. Foram os três pinheirenses Georginho, Humberto e Lucas Dias, mais o mineiro Danilo Siqueira.

Todos os jogadores de fora dos Estados Unidos, que não completam 22 neste ano, tinham até esta segunda-feira para decidir se continuariam, ou não, no páreo para a cerimônia que será realizada no dia 25, em Nova York. Cada um saiu por seus motivos. Isso significa que não sejam bons jogadores, que não tenham talento e que não possam mais flertar com o recrutamento de calouros da liga americana no futuro. Danilo será um candidato automático em 2016, por  chegar aos 22. Para constar, qualquer jogador brasileiro nascido em 1993, como Leo Meindl e Henrique Coelho, ainda pode ser escolhido este ano – mas seria uma grande surpresa. Lucas e Humberto têm pelo menos mais dois anos para participar do processo. Georginho, mais três.

O mais jovem do quarteto de ex-candidatos, aliás, era o que tinha a melhor cotação. De quatro clubes consultados pelo blog na segunda-feira, três disseram que tinham 100% de certeza de que ele seria selecionado no Draft, enquanto o outro acreditava que isso não seria possível, já por acreditar que o armador não ficaria na lista. Mesmo que esta seja uma pequena amostra no contexto da liga (4 de 30 clubes opinando), dificilmente o caçulinha passaria em branco na lista, devido aos seus atributos físicos incomuns e a tenra idade. Então por que abrir mão disso?

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias e preparação para encarar mais um teste

>> Danilo Siqueira: muita energia em trilha promissora

Existe uma diferença entre ser selecionado e ser pinçado especialmente por uma franquia que esteja disposta a elaborar um projeto detalhado, paciente, de longo prazo para um atleta de enorme potencial, mas muito jovem, longe de estar preparado para  encarar uma temporada regular – como nos moldes do Toronto Raptors com Bruno Caboclo, independentemente do sucesso dessa empreitada. Que ele fosse escolhido na segunda rodada do Draft e enviado ao basquete europeu estava descartado. Não seria nada fácil encontrar um clube disposto a investir num garoto que seria enquadrado já como adulto e não tem dupla cidadania. “Jogar na Europa não faz sentido para ele”, afirma um scout internacional ao VinteUm. “Ele precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião. A D-League provavelmente seria o melhor caminho, mas aí você tem de ter um time com afiliação única.”

Pois é: até para evitar a situação desconfortável que Caboclo enfrentou durante a temporada, jogando por um time que não tinha obrigação alguma de lhe dar minutos e oportunidades, o ideal era encontrar um dos 17 clubes com filial exclusiva na liga de desenvolvimento. Com um eventual contrato de quatro anos. E que tenha um histórico saudável no trato com atletas mais jovens. Você vai peneirando e peneirando, e os cenários fiam reduzidos. Os clubes ligaram para a base da poderosa Octagon nesta segunda-feira em Chicago, mas, no fim, não apareceu nada de concreto em relação ao tipo de comprometimento que esperavam.  Os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis decidiram, então, pela cautela e por mantê-lo no Pinheiros, com a perspectiva de receber muito mais tempo de quadra entre a elite nacional. “O projeto do clube para a próxima temporada é muito bom para os garotos. Optamos por este projeto”, disse Resende.

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O mesmo raciocínio se aplica ao ala Lucas Dias, que deve virar um ponto de referência para o técnico Claudio Mortari. Em relação a Humberto, os agentes declararam seu nome para que ganhasse evidência internacional e se fixasse no radar da liga para os próximos anos. Nem saiu do país, então. A diferença é que tanto George como Lucas já haviam tido mais exposição em quadras estrangeiras, devido ao currículo maior com a seleção brasileira. Eram mais comentados pelos scouts e também tiveram um papel de maior protagonismo na última LDB.

Em Las Vegas

Danilo em Las Vegas: uma semana de trabalho com fundamento

O caso de Danilo Siqueira está à parte. O ala-armador, representado pelo agente Vinícius Fontana, foi para os Estados Unidos passar por um período de treinamentos na academia Impact, em Las Vegas, a dez dias da data-limite para retirada do nome da lista. Na sexta passada, fez um workout em frente a uma plateia cheia de dirigentes, até mesmo com Phil Jackson presente. Os cartolas estavam lá para assistir ao letão Kristaps Porzingis, e Danilo pôde pegar carona nessa, num trabalho em conjunto com o superagente Andy Miller. Os planos em torno do atleta do Minas Tênis estavam voltados para o Draft de 2016 – ou para uma transferência para a Europa ao final de seu contrato.

(Aliás, existe um consenso entre as quatro fontes da NBA consultadas e que é  preocupante: eles acreditam que os jovens deveriam sair do Brasil “o quanto antes“, para acelerar sua curva de aprendizado. É um tema espinhoso, mas obrigatório de se abordar aqui no blog, mas em outro texto. Nos próximos dias, prometo.)

Georginho e Lucas encararam um périplo nas última semanas. Primeiro, passara duas semanas treinando na academia IMG, na Flórida e voltaram ao Brasil. Em abril, o armador participou do Nike Hoop Summit, em Portland. Depois, em maio, foi a vez do Draft Combine em Chicago – que o ala perdeu por conta de uma torção no tornozelo. Por fim, neste mês, viajaram até Treviso, na Itália, para disputar o adidas Eurocamp. Em volta disso, muitos workouts particulares nos Estados Unidos.

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

É raro que um prospecto, no caso de George, ganhe esse tipo de exposição rumo ao Draft. O brasileiro alternou boas e más partidas, algo natural para alguém tão inexperiente, que ainda está aprendendo inglês (e avançou bastante nesse sentido), ficou na estrada por um bom tempo e está habituado a um nível de concorrência muito inferior em quadras brasileiras (e aqui obviamente fez falta uma rodagem maior no NBB…). Em Chicago e Treviso ele jogou contra caras até cinco anos mais velhos. “Nos dois casos, não é um ambiente fácil para se jogar, devido ao fator competitivo entre os atletas, que querem nos impressionar”, afirmou um executivo de um clube da Conferência Oeste. “E pode anotar: não é fácil também para avaliar os jogadores nesse tipo de atividade.”

Para Lucas, o evento na Itália era essencial, mas no qual existe essa complicação para se afirmar, acentuada no caso de um ala-pivô, que depende dos companheiros para entrar em ação. “Ele não conseguiu fazer muita coisa nos dois primeiros dias. Não encontrou o seu nicho neste tipo de configuração, com tantos atletas que dominam a bola”, diz o scout internacional aqui já mencionado. “Ele foi ok. Teve alguns bons momentos no fim. Mas não me impressionou  muito com seu arremesso”, afirmou outro olheiro.

Para muitos avaliadores, os camps foram a primeira oportunidade de ver os brasileiros ao vivo. Nos treinos, o cenário já era outro. A maior parte das franquias que os convidaram foi de times que vieram ao Brasil para observá-los – caso de San Antonio, que compareceu duas vezes, Dallas e Portland, por exemplo. Em duas escalas em que a dupla visitou, ouvi de dirigentes que eles “competiram” muito bem, jogando de igual para igual com atletas já formados na NCAA. A tendência é que esses clubes que os acompanharam seu habitat os tenham em melhor conta. Foram avistados no mínimo dez times diferentes em ginásios brasileiros.

Houve quem se encantasse pelo garoto (como no caso de um dos clubes consultados pelo blog), outros que acreditavam que levaria muito tempo para que ele se desenvolvesse e se tornasse um atleta de NBA (dois clubes) e também os que não vinham nele as qualidades necessárias para se investir (o clube que não acreditava que ele fosse selecionado). Aqui é importante ressaltar a complexidade do universo dos scouts. Cada franquia tem um batalhão de observadores. Haverá conflitos naturais de opinião, gente com todo o tipo de ponto de vista possível.  Além disso, nem sempre o apreço de um scout signfique que seja possível a escolha do atleta. Como está a configuração do elenco? Eles já têm muitos jovens com quem trabalhar? Precisam reservar espaço no plantel para fechar uma troca? Precisam poupar dinheiro para não pagar multas? Etc.

E é aqui que fica uma lição para o blog, que repasso agora: esqueçam as projeções sobre o Draft dos sites especializados. Quer dizer: podem consultar, mas não é para levar ao pé-da-letra. Servem como indicativos, mas de uma forma bem flexível, digamos, e com a influência de muitos fatores externos. Haja lobby. O próprio Jonathan Givony, do DraftExpress, já disse que, se não desse tanta audiência, nem as faria, por achar bobagem. O esforço dele e de boa parte dos analistas dedicados a esta cobertura está quase todo voltado para a primeira rodada do recrutamento. O que já é difícil de acertar – e cujos palpites só tendem a se tornar mais precisos na véspera do evento, quando os times estão realmente encaminhados. Para a segunda rodada, então, com vendas e trocas de picks, então, não há como prever. Basta lembrar o que aconteceu com Bruno Caboclo no ano passado. O VinteUm até ouviu de múltiplas fontes que o ala tinha uma promessa do Toronto Raptors ou do Indiana Pacers. A informação estava circulando. Mas ninguém imaginava que o clube canadense fosse escolhê-lo em 20º. O plano nem era esse.

Caboclo só ficou no último Draft porque o Raptors, basicamente, pediu. Dessa vez, nenhum time se comprometeu, ou fez uma promessa desse tipo. As conjunturas mudam. E o que os quatro brasileiros têm ao seu lado, além do talento natural, é o tempo. Todos eles vão trabalhar com o técnico Gustavo de Conti, em Rio Claro, nos próximos dias para disputar a Universíade, na Coreia do Sul. Segue o jogo. Retornam provavelmente um tanto frustrados, mas certamente com mais bagagem e lições para serem revisadas durante a próxima temporada para, quiçá, tentar mais uma vez.


Brasileiros caem na estrada antes de tomar decisão sobre o Draft
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Giancarlo Giampietro

Georginho, agora em Treviso: longo período de testes para o armador

Georginho, agora em Treviso: longo período de testes para o armador

Enquanto dirigentes, técnicos e torcedores de Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers ainda estão concentrados neste ínfimo evento que são as #NBAFinals, o restante da liga se concentra no processo do Draft. Aquele que, por ora, envolve alguns jovens talentos brasileiros que têm até o dia 15 de junho para decidir se permanecem, ou não, inscritos na lista de recrutamento de calouros.

Estamos, então, nos últimos dias para que mostrem serviço aos olheiros americanos. Para tanto, é preciso cair na estrada, mesmo que muitos scouts tenham viajado para ver o que se passa por estas bandas in loco – pelo menos dez times por aqui para ver partidas da LDB, por exemplo. Os pinheirenses Georginho e Lucas Dias estão, neste momento, em Treviso, para a disputa do adidas EuroCamp, reunindo garotos de diferentes idades e nacionalidades. Já Danilo Siqueira (ou “Fuzaro”, para os estrangeiros) começou seu período de treinamentos na academia Impact, em Las Vegas, entrando no giro dos workouts. Humberto Gomes, outra talentosa revelação do Pinheiros, segue treinando em São Paulo e muito provavelmente vai retirar seu nome no dia 15, a não ser que surja algum time empenhado em lhe prometer uma seleção de modo surpreendente.

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>> Georginho e Lucas Dias vão declarar nome no Draft

Pegar a estrada se tornou rotina para George e Lucas, que já passaram, ao todo, por pelo menos sete cidades nos Estados Unidos para fazerem testes privados – em algumas delas juntos, na maioria separados. O armador esteve em Los Angeles, por exemplo, sendo testado pelo Lakers, em Boston e Portland, enquanto o ala teve seu check in em Salt Lake City anunciado pelo Utah Jazz. Encerrada a participação na Itália, os dois retornarão a solo norte-americano para mais duas sessões cada, sendo que a última vai reunir ambos nas dependências do Brooklyn Nets.

Um pique logo ali em El Segundo para Georginho

Um pique logo ali em El Segundo para Georginho

Os dois chegaram a Treviso na sexta-feira, depois de um voo realmente longo a partir de Portland, no extremo Noroeste dos EUA. No sábado, dia de abertura do camp, a despeito do cansaço, Georginho viveu um bom dia, segundo dois avaliadores de times da Conferência Oeste da NBA que consultei – só está cedo para publicar as opiniões deles, já que as atividades vão até segunda-feira. Para muitos, esta é a primeira chance de avaliar os garotos ao vivo. Para outros times, que já os acompanham há um tempo, a experiência serve para acúmulo de informações, mas acaba não sendo decisiva na avaliação.

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O armador está agrupado num time que ganhou o nome de San Antonio Spurs, curiosamente um time que o assistiu duas vezes aqui no Brasil. Mas isto é realmente só uma coincidência, gente. A equipe só leva este nome por ser dirigida por Jim Boylan, assistente de Gregg Popovich. Assim como o ‘Phoenix Suns’ de Lucas assim é chamado por ter Mike Longabardi, assistente de Jeff Hornacek, como técnico. Confira todos os elencos e o calendário de jogos e treinos. Jogar em Treviso não é algo inédito para os brasileiros, ainda que a maioria dos convocados tenha origem europeia. No ano passado, Rafael Luz, Cristiano Felício e Lucas Mariano estiveram por lá. Em 2013, Raulzinho e Lucas Bebê brilharam por lá, ao lado de Augusto Lima. É no mínimo uma ótima oportunidade para os garotos se testarem contra talentos de ponta.

Danilo Siqueira foi um dos poucos jovens com tempo regular de quadra no último NBB

Danilo Siqueira foi um dos poucos jovens com tempo regular de quadra no último NBB

Do outro lado do Atlântico – e bem distante da Costa Leste –, Danilo chegou a Las Vegas na sexta-feira para trabalhar com o prestigiado treinador Joe Abunassar, coordenador da Impact, uma academia que trabalha ou já trabalhou com dezenas de célebres figuras da NBA, com destaque para Kevin Garnett, Chauncey Billups, Kawhi Leonard, Kyle Lowry, Rudy Gay, Ricky Rubio, entre outros.

O explosivo ala-armador do Minas Tênis vai ter uma semana para se preparar para mostrar suas habilidades diante de dezenas de scouts durante um workout na próxima sexta, dia 12. O brasileiro vai acompanhar o letão Kristaps Porzingis, jovem ala-pivô do Sevilla que é tido por muitos como um dos cinco candidatos mais promissores do Draft. O pivô Myles Turner, da Universidade do Texas, também será apresentado. São dois calouros bem cobiçados, o que garante uma exposição tremenda ao jogador.


Lucas Dias no Draft, pronto para mais um teste
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Giancarlo Giampietro

Lucas Dias, NBA Draft, Pinheiros, 1995

É algo que, confesso, sempre me admira. Quando você vai conversar com um jogador jovem, é preciso todo o cuidado na hora de elaborar as perguntas, deixar bem claro o que está abordando, o que seria minha própria opinião e aquilo que tomo como fatos, o que você ouve a respeito de determinado assunto ou caso que possa ter envolvido o garoto.

Quando começa a entrevista, então, também não é raro que o dono do microfone se veja surpreendido: por mais tenra idade, muitos desses atletas já têm boas histórias para contar. Aconteceu em muitos casos comigo em coberturas de Mundiais Sub-Alguma-Coisa de futebol. A galera do atletismo. Do vôlei. Etc. Especialmente quando falamos de um país como o Brasil, com toda a sua dimensão e seus problemas, causos geralmente não faltam em suas trajetórias. Lembro de um papo agradável e revelador, por exemplo, com o volante Rômulo, ex-Vasco, saindo de Picos, no Piauí, para, hoje, morar na Rússia. Mas, enfim, obviamente não é sobre o meio-campista o artigo.

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Lucas Dias não veio de tão longe assim para um jornalista baseado em São Paulo, tendo saído de Bauru. Mas o ala do Pinheiros, um dos quatro candidatos brasileiros ao Draft da NBA, já tem realmente uma trajetória que deu e dá o que falar, estando a dois meses de completar 20 anos de idade. A pressão desmedida que uma das grandes apostas do basquete nacional enfrentou em temporadas anteriores já foi abordada aqui. Agora, é hora de abrir espaço para o ala falar a respeito do peso que lhe foi atribuído, mas decididamente não apenas sobre esse tema em – aquela que era para ser uma entrevista de 15, 2o minutos acabou durando exatos 54min05s, nas vizinhanças do clube Pinheiros. Isso, claro, com o atleta se dizendo “tímido” durante a gravação.

É interessante notar como ele já foi submetido a bons testes durante a adolescência. Mas nem é preciso fazer muito drama aqui, por mais que seja mais uma história de alguém que saiu bem cedo de casa, foi para a capital, vindo de origem humilde. Não é dessa forma que Lucas encara as coisas, mesmo. Sabe que enfrentou alguns momentos difíceis, mas não os glamoriza. Gosta de repassá-los em sua cabeça, é verdade, mas muito mais como fatores de motivação e também por força do hábito. “Sou daqueles que vai deitar e não tira a história da cabeça”, afirma ao VinteUm.

Mais agressivo pela LDB 2014

Mais agressivo pela LDB 2014

Para o repórter, então, fica mais fácil de retransmitir:

Teste 1: vida de atleta, em São Paulo, aos 14 anos
Lucas Dias Silva não foi o primeiro a deixar a família, em Bauru, para tentar dar um salto com suas pretensões basqueteiras. O irmão Diego (ou Diegão), pivô, embarcou para Belo Horizonte um tempo antes, para jogar na base do Minas Tênis. A mãe, Neia, já havia chorado quando ele saiu. Mas comigo foi mais. Ele já era mais velho, tinha sua confiança. Não que eu não tivesse, mas eu era muito novo na época, só com 14 anos”, afirma. De qualquer forma, quando estava preparado para se mudar para São Paulo, o irmão retornou, o que acabou compensando, de alguma forma. “Foi uma coincidência boa”, diz.

Federado : )

Federado : )

A mãe passou duas semanas com o filho na capital para facilitar a transição. Isso era janeiro de 2010, depois de o então pivô ter sido aprovado em testes em julho do ano anterior. A mudança levou um tempo para ser realizada, enquanto jogava pelo time da Associação Luso Brasileira em sua cidade natal – enquanto os primeiros treinos haviam sido pelo Greb (Grêmio Recreativo Energético de Bauru).  “Comecei com meu irmão. A gente trabalhava na rua entregando folheto. De repente, parou uma técnica do lado dele, dizendo que tinha potencial para jogar. Ele estava com 14 anos e foi treinar. Ficou lá umas duas semanas, enquanto eu estava na minha, estudando, brincando, jogando futebol, essas coisas. Ele cuidava de mim naquela época e perguntou seu eu queria treinar. Minha mãe trabalhava, também meu pai. Topei e comecei a gostar do basquete. Tinha nove anos”, relembra.

O progresso foi rápido e, cinco anos depois, era indicado para a base do Pinheiros, coordenada por Telma Tavernari. Impressionou a todos prontamente, entre eles o técnico Danilo Padovani. “Logo no primeiro dia já disseram que gostaram muito de mim perguntaram se eu queria ficar para assistir ao jogo do adulto”, conta, rindo. “Quando voltei, eles deram a maior força para mim e cuidaram da minha família também. Foram pessoas que entraram na minha vida, assim como meu técnico em Bauru, o Marco Aurélio, que não me forçou ficar.”

Assim como a mãe não ficou na metrópole. “Na primeira semana que ela foi embora, o primeiro fim de semana sem ela… Foi uma sensação muito ruim. Em Bauru, tem uma feirinha que a gente gosta ir aos finais de semana. Todo o domingo, era o passeio da família. Ficar sem isso, sem esse tipo de coisa, a ida à igreja com ela. Foi difícil”, diz. Hoje, o contato com a mãe acontece quando consegue viajar para sua cidade. Quando tem jogo pelo NBB ou pelo Paulista, tem torcida infiltrada entre os bauruenses.

Avançando com a carreira, Lucas teve de se virar para concluir os estudos. No primeiro ano, tudo corria bem. “Não tinha seleção, não era conhecido, conseguia manter. Mas no ano seguinte comecei a fazer parte daquela seleção  permanente, ficando seis meses com eles (em São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais). Lá não consegui. Era para ser à noite, mas tinha treino de manhã e de tarde. Não dava para descansar. Fui levando não sei como, não só eu, mas os outros também. Quando voltei, retomei a escola anterior. Treinava em duas categorias aqui no Pinheiros, e aí o adulto também me chamou. Era sair 10h da escola para vir ao clube. Foram dois anos para terminar a escola. Houve também as viagens. Mas o bom é que a escola (estadual Ministro Costa Manso) teve muita paciência, a Costa Manso. Deram trabalho para eu fazer, provas em dias diferentes, abonaram minhas faltas por causa da seleção, o que não eram obrigados a fazer. Graças a Deus terminei. Era algo que minha mãe cobrava muito. A faculdade ela também quer que eu faça, mas sabe que não tenho tempo hoje. A escola era obrigação. De qualquer forma, se fosse passar por tudo de novo, passaria”, afirma.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias: da impaciência ao desenvolvimento

Teste 2: a fama precoce e as cobranças
Em 2011, Lucas foi disputar seu primeiro torneio internacional: o Sul-Americano, sendo um ou dois anos mais jovem que a maioria de seus companheiros. Foram campeões de forma invicta, vencendo a Argentina duas vezes. Algo raríssimo em tempos recentes de competições de base. Logo… Chamaram a atenção. “Todo mundo falava que nossa seleção era fraca, que não ia chegar a lugar nenhum. Quando vencemos a Argentina, invictos, começaram a assediar um pouco”.

Lucas, nos treinos para o Sul-Americano em Cúcuta, na Colômbia

Lucas, nos treinos para o Sul-Americano em Cúcuta, na Colômbia

No ano seguinte, veio uma convocação surpreendente para a disputa do amistoso internacional do Jordan Brand Classic, evento que reúne, nos Estados Unidos, alguns dos jovens mais promissores do mundo. Quando questionado a respeito daquela experiência, os olhos do garoto brilham. “Vou falar para você”, anuncia. (Então deixe ele contar… Que a história é divertida. Está nas notas abaixo). Fato é que, com 18 pontos e 12 rebotes, o brasileiro foi eleito MVP da sua equipe, num evento do qual participou, entre outros, Domantas Sabonis, filho do legendário pivô lituano e hoje destaque da Universidade de Gonzaga, nos EUA.

Aí você imagina a repercussão. Para uma modalidade há muito carente de conquistas internacionais, o bafafá foi grande. Para completar, veio a Copa América Sub-18 em São Sebastião do Paraíso. A seleção foi vice-campeã, perdendo para os Estados Unidos na final. No meio do caminho, bateram um Canadá fortíssimo, com direito a Andrew Wiggins, Tyler Ennis e Trey Lyles em quadra. Definitivamente não é pouco. O elenco americano tinha: Marcus Smart, Julius Randle, Jerami Grant e Jarnell Stokes, todos já na NBA, e Sam Dekker e Montrezl Harrel, a caminho. Lucas brilhou, com médias de 15,6 pontos, 8,4 rebotes e 1,4 toco, convertendo 52,9% de seus arremessos de três pontos. Combinava envergadura e faro para a cesta.

De novo: era um ano mais jovem que a grande maioria dos adversários. Então você pode imaginar como as coisas ficaram. “Nossa seleção mostrou que podia competir com aqueles caras, chegando junto no jogo, correndo de igual para igual, e até mesmo com um jogo de contato. Só não deu para manter o ritmo na final. “Foi uma experiência legal, de ver onde a gente poderia chegar e conferir meu nível também”, diz Lucas.

Foi nessa época que o garoto passou a conviver com nós, abelhudos da mídia. Teve de aprender a se comportar diante dos jornalistas na marra, depois de um ou outro tropeço natural. As expectativas em torno do jogador basicamente saíram do controle. Quando chegou o Mundial Sub-19 em 2013, e o time venceu apenas três de seis partidas, contra China, Irã e Senegal e terminou em nono, uma posição frustrante. Um tremendo baque, e as primeiras críticas mais pesadas.  Do ponto de vista pessoal, foi difícil assimilar um rendimento de 6,4 pontos, 3,8 rebotes e, principalmente, os poucos minutos que teve (22,5). “Toda a seleção jogou mal”, afirma. “Ali comecei a me sentir mais pressionado. Todos esperavam um desempenho bom de nós, e o foco estava em mim. Acho que não estava preparado para isso.”

Lucas Dias x Domantas Sabonis no Jordan Brand Classic

Lucas Dias x Domantas Sabonis no Jordan Brand Classic

Teste 3: a fossa e a concorrência interna
“Quando voltei para o Pinheiros, não acreditava no que havia acontecido, justo naquele campeonato”, diz Lucas. O semblante muda nitidamente ao falar sobre a campanha. É difícil saber o que machucou mais: o que se falava pela rede, ou o que se passava pela cabeça do jovem que completara 18 anos durante a competição em Praga. “Comecei a me cobrar bastante. Eu mesmo me sentia pressionado. Aqui no Pinheiros nunca ninguém chegou cobrando dessa forma. Mas fiquei muito chateado. Foram uns quatro meses pensando na mesma coisa. A gente jogando aqui, mas minha cabeça não estava boa.”

Se houve algum ponto positivo para ser tirado, era o simples fato de ter saído um pouco do radar depois daquela tremenda decepção. Acontece em muitos lugares, mas no Brasil, sabemos bem, caprichamos: com a mesma rapidez que se infla uma história, facilmente pode-se virar as costas para ela. Para o jogador, depois de curtida a fossa, o evento acaba valendo como um marco pessoal, de toda forma. “Depois, entendi que aquele momento de decepção poderia ter acontecido para o bem. De que se aquele Mundial não correu bem, se eu tivesse um próximo Mundial, ou qualquer campeonato grande desses, que não ia deixar isso acontecer de novo. Comigo, não”, assegura. “Foi um momento de decepção para todo mundo. Se formos ver, muitos daqueles jogadores estão se destacando hoje: Deryk (Ramos) em Limeira, o Danilo (Fuzaro) em Minas, cada um subindo de pouquinho e pouquinho, se lembrando daquele Mundial, fazendo o que não mostrou naquela época. Foi bom para a gente. Não foi bom para o Brasil, mas, no pessoal, teve uma boa repercussão.”

Da Copa América (foto) para o Mundial, queda geral de rendimento

Da Copa América (foto) para o Mundial, queda geral de rendimento

Enquanto colocava a as coisas em ordem, começava a despontar em seu clube outra sensação. Mais uma contratação pontual do Pinheiros, vindo de uma cidade com nome até parecido: Barueri. Sim, estamos falando de Bruno Caboclo. Só mesmo o basqueteiro nacional mais hardcore o conhecia. Mas isso mudaria rapidamente, depois de suas exibições pela LDB. O ala, hoje coqueluche em Toronto, era o dono do time juvenil que competia na liga de base. Ainda que tivesse a mesma idade, Lucas, a essa altura, treinava em tempo integral com o adulto, ao lado do comparsa Humberto. (“É o companheiro que vou levar para a vida inteira. Podemos até brigar em quadra, mas estamos sempre juntos.”)

“Depois do Mundial, deu acalmada, e comecei a trabalhar mais empenhado no Pinheiros. Aí chegou o Bruno também, e o foco foi totalmente. Fiquei treinando mais duro ainda. Isso também foi outro motivo pessoal para mim, ver o Bruno treinando ali forte. Éramos amigos, mas cada um fazia o seu”, afirma. “No começo foi um pouco difícil. Quando está treinando no adulto, sem muitas chances, enquanto o time juvenil estava na LDB, ganhando destaque. Você queria fazer parte daquele conjunto, ficava meio triste com isso. Todo mundo subindo, e ficávamos eu e o Humberto aqui, sabe? Treinando, enquanto eles estavam jogando, se divertindo, fazendo com que o time crescesse.”

Em 2013, maior rodagem com o time adulto: 14 minutos em média

Em 2013, maior rodagem com o time adulto: 14 minutos em média

Na fase final, Lucas e Humberto reforçaram o Pinheiros na fase final da LDB e integram o time que conquistou o terceiro lugar: “Eu ficava pensando sobre como seria nossa seria chegada. Se ia piorar, se ia melhorar. O time comigo, Humberto, Bruno e George seria diferente. Fui para lá para ajudar a equipe, fiz bons jogos, mas não foi a LDB que eu esperava para mim. Isso foi, então, outra motivação para voltar melhor na (edição) seguinte. Não via a hora que começasse outra”. Um consolo foi retornar ao time principal para os playoffs do NBB 6 e ganhar minutos no playoff contra Mogi, produzindo. “Consegui botar em prática o que estava encontrando em meu jogo. Fomos eliminados, outra sensação ruim, mas estava me preparado já para a próxima temporada.”

Teste 4: a retomada
Ainda que estivesse jogando com o juvenil e curtindo a boa fase daquele time, não quer dizer que Lucas não se divertia do seu jeito. Nos treinos do adulto, era o alvo prioritário dos veteranos, sempre pontos para desafiá-lo. Pode pensar aí em Shamell e Márcio Dornelles… “Nossa, eles estavam sempre pegando no meu pé (risos)”, conta, bem-humorado. “Olha, só quem viu para poder falar. Tinha dia que eu saía bravo com eles, com um bico para o lado. Mas eles me chamavam e diziam que era para o meu bem. No coletivo era mais o Márcio, que batia. Depois do treino, era mais o Shamell, no um contra um, por várias horas.”

Título da LDB ficou com o Basquete Cearense; Lucas terminou como cestinha

Título da LDB ficou com o Basquete Cearense; Lucas terminou como cestinha

Depois de tantos treinos e aulas práticas dessa, Lucas se sentia pronto para arrebentar em quadra. Houve uma diferença, no entanto: dessa vez ele teria muito mais minutos com as equipes menores do que no adulto. “Foi um pouco desgastante no fim. Tinha dia que treinávamos com o adulto, jogar com o juvenil ou LDB. Teve uma semana que jogamos em Osasco com o Juvenil e voltamos para disputar a LDB, ainda treinando com o adulto. Mas foi uma temporada de colher o que se plantou durante todos os treinos, com muita paciência depois daquele Mundial.”

Na liga de desenvolvimento, foi o principal jogador, com médias de 20,8 pontos,  9,4 rebotes, 1,9 roubo, 1,5 assistência, em 32,1 minutos. Estabeleceu o recorde histórico de pontos (44) e de índices de eficiência do campeonato. “Consegui jogar em alto nível, foram jogos maravilhosos, para quebrar alguns recordes. Também fui eleito o melhor jogador da categoria juvenil no país. Fico quieto no meu canto. Os caras podem falar o que achar de mim, mas vou ficar no meu canto fazendo o que preciso. E o time fez uma grande LDB, mesmo que não tenha ficado entre os três primeiros.”

A frustração mais significativa da temporada 2013-2014 acabou sendo o papel limitado que teve na equipe de Marcel de Souza no NBB 7 – algo, aliás, cobrado por muita gente nos bastidores. Mas as chances reduzidas aos mais jovens não foi algo específico, particular ao Pinheiros. Poucos jogadores sub-23 tiveram espaço, ou, pior ainda, protagonismo em seus clubes. Lucas entrava e saía do time.

“No caso de nós três (Lucas, Georginho e Humberto), fiquei um pouco pensativo a respeito, de não termos jogado. Nunca critiquei. O Marcel era quem decidia. Acho que, pelo trabalho que vinha fazendo, merecia um pouco mais de tempo e que poderia ajudar a equipe. Mas nunca vou chegar no técnico e falar que tenho de jogar. Talvez fosse medo de não prejudicar a gente. Não tenho nada contra”, afirma o ala. “O mais curioso é que, para mim, o time do ano passado era muito mais forte que o deste ano, tinha mais investimento, e eu recebi mais minutos, mesmo achando que neste ano eu estava muito melhor. Chegando em casa bravo, minha namorada (Larissa) podia ver. (Risos)”

No final, Lucas teve médias de 11,3 minutos por jogo, depois de 14,1 minutos na campanha anterior. “Todo mundo esperava que eu talvez jogasse pelo menos uns dez minutos regularmente, mas nem isso. O Humberto apareceu agora só no finalzinho, nos playoffs, por causa da defesa”, afirma. “Acabou a temporada, não posso ficar remoendo o que já passou, mas agora tenho objetivos maiores.”

Lucas Dias: foi difícil de pará-lo na última LDB

Lucas Dias: foi difícil de pará-lo na última LDB

Teste 5: aqui estamos
O próximo passo é o Draft da NBA. O fato de o ala ter sido convidado para participar do Combine em Chicago mostra que desperta o interesse dos dirigentes. O que não signifique que tenha escolha garantida no dia 25 de junho, em Nova York. Nas próximas semanas é que as discussões vão esquentar. No momento, Georginho é o atleta nacional mais comentado. Humberto também está inscrito, assim como Danilo Fuzaro – mas ambos devem retirar seus nomes da lista até o dia 15 de junho, prazo para que uma decisão seja tomada.

Quanto mais os scouts avaliarem os jogos do Pinheiros na temporada, a tendência é que seu nome surja com mais força, devido a uma combinação de estatura (2,11 m, segundo as medições recentes do Pinheiros) e capricho nos arremessos de média para longa distância. “No final das contas, é provável que ele seja o mais habilidoso do trio do Pinheiros”, afirmou um olheiro da Conferência Oeste ao o VinteUm. Sua grande chance para impressioná-los vai acontecer em junho, no adidas Eurocamp em Treviso, o camp que reúne boa parte dos melhores jogadores até 22 anos fora dos Estados Unidos.

Versátil, Lucas será propagandeado como um possível “strecht four”, o ala-pivô aberto, uma função tática em voga no basquete internacional. É algo que os treinadores da IMG identificaram e que assimila o talento para chute e rebote do brasileiro. “Vai depender da ocasião, não tenho preferências. Na Copa América Sub-18, no nosso time sub-22, falavam também em me usar como um três, para o time ficar mais alto, forte no rebote. Não tem posição fixa. Acho que depende do jogo, cada um pede uma coisa. Entre as duas posições, acho que consigo render da mesma forma.”

“Tomara que aconteçam algumas coisas melhores para a minha vida agora. Estou torcendo muito para isso. É o objetivo maior. Acho que cada jogador de basquete que pega uma bola começa a sonhar com a NBA. Seria uma satisfação fechar esse ciclo com uma grande notícia, de estar lá. Aí começaria um novo ciclo, lembrando o que passei”, diz. “Agora, se não for para este ano também, não vou me decepciona. Vou ficar pensando uns três meses nisso, claro mas depois segue em frente.”

*   *   *

Lucas Dias relembra sua participação no Jordan Brand Classic de 2012, em Charlotte:

“Naquela seleção permanente, tinha um moleque da minha idade que já havia sido chamado para este jogo, o Guilherme Saad. Fiquei interessado, vendo que ele foi chamado, sabendo que havia  participar de um evento desse. Depois disso aí esse Jordan não tinha saído da minha cabeça. Seria uma oportunidade legal para mostrar meu jogo para todo mundo. Passou um tempão até o (então diretor de basquete pinheirense, João Fernando) Rossi chegar e falar do convite. Fiquei umas duas semanas só pensando nisso, no Jordan, no Jordan… Aí quando deu uns dois dias antes de viajar para o evento, liguei meia noite para o Rossi e disse que não queria ir. Não sei o que aconteceu comigo, mas não queria mais”.

Ele conversou comigo, perguntou o que tinha, falei que estava com medo de jogar mal lá. Mas me convenceu e mandou o Brenno (Blassioli, ex-técnico da base) comigo. A experiência foi toda diferente, mesmo, de tudo o que havia feito, até da seleção. Antes do jogo teve uma palestra, para pegar o diplominha do evento. Falei para o Brenno que estava ansioso, mas confiante para mostrar o que podia. Até brinquei com ele que, se Deus quisesse, poderia até rolar um MVP (risos). Ele: ‘Pára de pensar isso, só pense em fazer seu jogo’. Sempre quando boto uma coisa na mente, quando deito a cabeça no travesseiro, fico pensando. E foi isso: ‘Amanhã é o dia, amanhã é o dia’…”

“Entrei no ônibus, achando que as pessoas estavam olhando estranho para mim, aquela paranoia. Quando entrei na quadra para aquecer, já senti que era o dia. Sobe dois, e foi uma sensação muito gostosa. Ginásio cheio, parecia que minha família estava do meu lado. Se algo dava errado em quadra, era como se algum deles estivesse me apoiando.. Cada lance eu lembrava das primeiras semanas aqui em São Paulo, da minha mãe, da minha namorada (Larissa) dando força. Quando chegou a premiação, foi a melhor coisa. Não sabia o que fazer. Se ficava em quadra, se ia pro vestiário, se ia falar com o Brenno, se ligava para a minha mãe, se ia para a arquibancada. Na hora de comer, não acreditava, não estava lúcido. Era uma coisa gigantesca para mim. Ali foi o começo, cara. Uma gratificação muito boa.”

*   *   *

Lucas hoje está treinando no Pinheiros, em sua preparação para o recrutamento de calouros da NBA, dia 25 de junho. A ideia era que ele estivesse bem distante dali, em Chicago, onde está sendo realizado o Draft Combine. O ala recebeu o convite da liga, mas teve de recusar devido a uma torção de tornozelo que sofreu contra o Brasília, pelos playoffs do NBB. Já está recuperado, mas não viajaria nas melhores condições para ser, hã, testado contra jogadores muito mais experimentados, aos olhos de centenas de dirigentes e scouts.

*   *   *

Lucas também fala sobre os treinos que teve no mês passado na academia IMG, na Flórida, ao lado de Georginho: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer. Comecei a fazer isso na primeira semana, nas no primeiro jogo contra Brasília torci o pé. Nada grave. Nada grave. Tenho de agradecer ao Edu (Eduardo Resende, seu agente) por proporcionar isso para a gente.  Ele é o que tem mais paciência com a gente.”


NBA põe dois brasileiros entre os principais candidatos ao Draft
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Giancarlo Giampietro

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Só uma notinha rápida na cobertura dos brasileiros rumo ao Draft da NBA: o armador Georginho e o ala Lucas Dias receberam nesta semana um convite importante, confirmado, para participar do Combine de Chicago, entre os dias 12 e 17 de maio.

A simples convocação para o evento já é um sinal bastante positivo. O processo de seleção acontece com base no interesse dos times. Cada franquia manda para o escritório central, em Nova York, sua própria lista de prospectos que desejariam conferir em Chicago. A partir daí, a liga vai apurar os mais votados e fazer a lista final. Que George e Lucas tenham constado na primeira leva de atletas contatados mostra que atiçam a curiosidade dos clubes – e que estariam hoje num informal top 70 de prospectos segundo os dirigentes. Algo mais concreto que as projeções dos especialistas na cobertura. Dependendo dos andamento do camp, a cotação pode variar.

O problema? Lucas ainda está se recuperando de uma lesão no tornozelo, sofrida no confronto com o Brasília pelas quartas de final do NBB, na volta dos treinos com George na academia IMG, na Flórida. O armador, de todo modo, está liberado e viaja no domingo para a metrópole americana. É uma grande chance, depois de um Nike Hoop Summit inconclusivo, para ele mostrar serviço diante de basicamente toda a liga. É de se imaginar que os 30 gerentes gerais dos clubes estarão por lá, escoltados por outros dirigentes e scouts, para avaliar a safra deste ano de perto.

Vale lembrar que 93 jogadores se inscreveram no Draft de modo precoce, mas o grupo de concorrentes é bem maior, incluindo aqui os formandos do basquete universitário, os jogadores estrangeiros nascidos em 1993 e também aqueles que deixaram o basquete amador americano e se profissionalizaram antes de buscar a NBA.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
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>> Georginho e Lucas Dias vão declarar nome no Draft

O que é o NBA Draft Combine?

É o camp preparatório oficial da liga. Eles distribuíram cerca de 70 convites a garotada. Aqueles que são considerados, em tese, os 20 melhores da classe, ou algo em torno disso, só devem ir para Chicago para realizar exames médicos, avaliações atléticas e eventualmente realizar entrevistas formais com os cartolas. Estamos falando de Karl Towns, Jahlil Okafor, Emmanuel Mudiay, Kristaps Porzingis etc. O restante será obrigado a participar de jogos de cinco contra cinco em quadra.

Trata-se de uma mudança significativa neste ano em relação ao que aconteceu nas últimas temporadas, com muitos agentes atrapalhando ou controlando o processo, tirando seus atletas das sessões competitivas, para proteger sua cotação. Desta vez, quem for – pois os jogadores não são obrigados a aceitar o convite –, vai ter de se provar em quadra. O que é bom para os brasileiros, ainda relativamente desconhecidos pela maioria dos tomadores de decisão. Os dois, que também serão entrevistados e examinados fisicamente, só têm de estar preparados para enfrentar um nível bem elevado de competição, com muita gente sedenta em quadra.


Qual o cenário para os candidatos brasileiros ao Draft?
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Giancarlo Giampietro

Humberto (e) e Georginho estão inscritos

Humberto (e) e Georginho estão inscritos

A NBA divulgou nesta semana a lista de inscritos em seu processo de recrutamento de novatos, o Draft. Quatro brasileiros apareceram nela como candidatos: o trio pinheirense Georginho, Lucas Dias e Humberto Gomes, além do armador Danilo Fuzaro, do Minas Tênis.

O curioso é que lista poderia ter sido maior. Scouts da NBA me procuraram para coletar informações sobre Wesley Sena, aposta do Bauru para longo prazo, e Adriano Alves Júnior, um pivô do Minas Tênis que não jogou tanto pela última LDB, mas tem um físico impressionante. Os dois foram especulados nas últimas semanas nos Estados Unidos – seriam representados pelo poderoso WMG (Wasserman Media Group), do superagente Arn Tellem. O grupo avaliou os atletas e abriu discussão com os olheiros e dirigentes da liga. No final, ficaram fora. Ainda assim, quatro é um número elevado de brasileiros, numa espécie de ‘efeito Bruno Caboclo’ – apenas potências como Espanha e França têm mais apostas, com cinco cada.

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>> Técnico americano avalia o potencial da dupla

Antes de prosseguir avaliando os planos e chances dos quatro brasileiros inscritos, é importante esclarecer três pontos específicos sobre o evento, para não dar confusão:

– Só vai se declarar para o Draft aqueles que não são automaticamente inscritos. No caso de jogadores nascidos fora dos Estados Unidos, sem passagem pelo basquete universitário, a faixa etária para candidatura neste ano envolve os atletas nascidos entre 1994 e 1996. A idade mínima, portanto, é de garotos que vão completar 19 anos em 2015, como o caso de Georginho.

– E quem entra no processo automaticamente? Entre os estrangeiros (de novo: sem passagem pela NCAA), são aqueles nascidos em 1993, que já completaram ou vão  22 anos, como o caso de Leo Meindl, Henrique Coelho e outros tantos jovens talentos do NBB – só não podem incluir Lucas Mariano nessa, uma vez que o pivô de Franca se inscreveu no ano passado e não foi selecionado. Uma vez que você passa batido, perde a chance. A diferença aqui é de terminologia: Meindl, Coelho e os rapazes de sua geração não precisam declarar seus nomes. São elegíveis naturalmente. Jogadores nascidos até 1992, como Augusto Lima, só podem entrar na liga como agentes livres.

Leo Meindl já faz parte automaticamente da lista de selecionáveis no Draft, pela idade

Leo Meindl já faz parte automaticamente da lista de selecionáveis no Draft, pela idade

– Uma exceção brasileira consta na lista: o ala-armador Ricardo Barbosa, sobrinho de Leandrinho. Seu caso é o seguinte: o garoto nascido em 1994 passou pelo Draft da D-League no ano passado, fazendo a pré-temporada pelo Bakersfield Jam, a filial do Phoenix Suns. Mesmo que tenha sido dispensado precocemente, acaba inscrito incluído na lista de “draftáveis” também de modo automático. É o mesmo que acontece com o armador Emmanuel Mudiay, do Congo, que jogou no High School americano e atuou na liga chinesa como profissional.

Posto isso, qual o cenário que temos hoje para os brasileiros?

A lista publicada pela NBA aponta um número de 91 candidatos chamados underclassmen, aqueles que entraram na seletiva antes do limite para eles. Foram 43 estrangeiros e 48 universitários no total. Sabemos que o número de posições no Draft é de 60, então já há muita gente sobrando. A conta fica ainda mais excessiva quando levamos em conta os atletas que concorrem automaticamente, como o caso dos formandos da NCAA e estrangeiros nascidos em 1993. Gente como Mudiay, Frank Kaminsky (vice-campeão por Winsconsin), Jerian Grant (armador que foi a estrela de Notre Dame), Delon Wright (armador de Utah) e o ala espanhol Daniel Diez (revelado pelo Real Madrid, hoje no Gizpuoka San Sebastián).

Agora, desse número inicial, muitos já podem ser descartados. Especialmente no caso das revelações de fora dos Estados Unidos que entram na lista para ganhar exposição no mercado internacional e, depois, retiram seus nomes na última hora para manter elegibilidade para as próximas edições. Cada gringo pode se candidatar até três vezes – comparando com os americanos, eles têm outra vantagem: podem tomar uma decisão até 15 de junho deste ano, 10 dias antes do Draft, enquanto os pratas-da-casa que declaram já abriram mão por completo de sua carreira na NCAA.

Danilo: uma rara revelação nacional que teve tempo de quadra no NBB

Danilo: uma rara revelação nacional que teve tempo de quadra no NBB

A não ser que algo de imprevisto ocorra daqui até essa data-limite, podemos incluir nesse grupo de jogadores tanto Humberto, o armador do Pinheiros, como Danilo, armador do Minas. A ideia é realmente chamar a atenção de olheiros e dirigentes para acompanhamento futuro. Caso permaneçam com seus nomes na lista final, podem suspeitar que tenha coisa aí. Leia-se: a famosa promessa.

Por ser companheiro de clube de Georginho, o prospecto nacional mais visado nesta temporada, Humberto já foi avaliado por um número considerável de franquias. Ao menos 10 clubes estiveram persentes em quadras brasileiras durante a última LDB para assistir a jogos do Pinheiros. Fora a observação in loco, sempre mais valiosa para os empregados da NBA, outra ferramenta que facilita o estudo dos atletas é o sistema Synergy, que tem em seu catálogo horas e horas de filme dos jogos do NBB 7, no qual Danilo teve muito mais rodagem que os pinheirenses – e já vem sendo avaliado por alguns clubes espanhóis de ponta. Os dois, por ora, não aparecem com intensidade no radar da liga americana. Como é o caso de dezenas dos estrangeiros declarados, claro.

Georginho, por outro lado, tem, hoje, maiores chances. O armador hoje aparece cotado pelo DraftExpress, de Jonathan Givony, referência no ramo, como o 29º melhor prospecto. Já Chad Ford, do ESPN.com, o projeta como o 52º prospecto. Essas projeções são feitas com base no que os especialistas ouvem de dirigentes e scouts, mas também com base em suas impressões pessoais. O polivalente atleta de apenas 18 anos tem status incerto depois de uma participação irregular no Nike Hoop Summit, mas desperta muito interesse devido ao seu potencial de longo prazo, com atributos físicos impressionantes e movimentos interessantes com a bola. Olheiros ouvidos pelo VinteUm enxergam o garoto hoje como uma possível escolha de primeira rodada, no terço final, ou na segunda. Creem que dificilmente ele não seria selecionado por uma franquia na segunda ronda. A questão é saber se o clube interessado gostaria de contá-lo para agora, ou se o mandaria para a D-League e/ou Europa. De qualquer forma, a simples exclusão dos armadores Kris Dunn e Demetrius Jackson (Notre Dame) e do ala-armador Caris LaVert (Michigan) lhe abre caminho.

Quanto mais for estudado, tendência é que Lucas suba: potencial ofensivo e muito jovem

Quanto mais for estudado, tendência é que Lucas suba: potencial ofensivo e muito jovem

Já Lucas Dias é um nome que começa a ser mais comentado, e o reflexo disso aparece nas listas do DX e da ESPN. Há questão de cerca de 20 dias, o talento cestinha estava fora de ambas as relações. Hoje, já é o 69º para Givony e o número 80 para Ford. Fora os armadores citados acima, o austríaco Jakob Poeltl (Utah), os alas Nigel Hayes (Winsconsin) e Justin Jackson (North Carolina), o lituano Domantas Sabonis (Gonzaga) e o turco Egemen Guven (Karsiyaka) eram alguns dos prospectos que tinham praticamente certeza de que seriam selecionados, mas optaram por não se candidatar, pacientes. Isso também ajuda.

A segunda rodada do Draft parece mais realista para o ala, enfrentando, de qualquer forma, uma concorrência dura, especialmente de outros talentos estrangeiros como o ala-armador turco Cedi Osman, o pivô francês Mouhammadou Jaiteh, o pivô sérvio Nikola Milotinov, o ala búlgaro/cipriota Aleksandar Vezenkov e o pivô espanhol Guillhermo Hernángomez, todos mais experientes e mais badalados hoje. Não são necessariamente concorrentes diretos de posição, mas que podem atrair equipes propensas à seleção de um calouro que não precisa ser aproveitado de imediato.

Tanto George como Lucas aguardam um convite para disputar o adidas Eurocamp de Treviso, na qual dividiram quadra com a elite dos prospectos europeus, de diferentes idades. Seria um ambiente mais propício para mostrarem serviço, com mais jogos e atividades com bola. Existe a possibilidade de eles serem chamados também para jogar no Draft combine em Chicago, evento oficial da liga, no qual os principais prospectos geralmente só se apresentam para serem avaliados física e atleticamente e serem entrevistados pelos dirigentes, fugindo da ação em quadra com receio de que possam derrubar sua cotação.

O aviso de sempre: com quase dois meses restando ainda até o Draft, ainda está muito cedo para se apegar a essas projeções. Quano mais avançam os playoffs da liga, mais equipes terão sido eliminadas, o que significa mais e mais gente se voltando para o recrutamento de calouros. Os debates internos dos clubes começam a esquenta, uma vez que os técnicos também começam a dar seus palpites, depois de assistirem a jogos da molecada e, principalmente, depois de aplicarem os chamados workouts, os treinos privados das próximas semanas. Os índices atléticos, as entrevistas com os dirigentes, o desempenho nesses treinos – enfrentando concorrentes diretos de posição –, o trabalho dos agentes, o exame médico… Todos fatores que influenciam na tomada de decisão.


Técnico avalia potencial de Georginho e Lucas; veja vídeos dos treinos
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Giancarlo Giampietro

Daniel Barto não trabalha para nenhum time da NBA, mas tem influência direta no andamento de dezenas de carreiras de jogadores profissionais. Na verdade, segundo seu currículo, podemos até corrigir isso e falar de mais de uma centena. Ele é um dos melhores em seu ramo. Afinal, ele é o treinador principal do departamento de basquete da prestigiada academia IMG, situada na Flórida, na qual trabalha com atletas de todas as idades. Desde a turma já formada, que usa as férias ou momentos livres na temporada para manutenção e aprimoramento, como os mais jovens, especialmente aqueles que se preparam para o Draft da NBA, um processo sempre muito concorrido.

Neste ano, vocês já sabem, Barto recebeu a dupla Georginho e Lucas Dias, as duas revelações pinheirenses que estão em momento de flerte com a liga norte-americana. Em plena pausa para a Páscoa – nós, jornalistas, torramos a paciência, mesmo, sem noção alguma –, o técnico foi gentil o bastante para responder algumas perguntinhas do VinteUm por email sobre o trabalho com os garotos brasileiros.

Foram cerca de duas semanas de treinamento puxado, antes que George voasse para Portland para participar do Nike Hoop Summit e que Lucas retornasse a São Paulo para a disputa dos playoffs do NBB. Confira um pouco desse trabalho abaixo, em alguns vídeos de exercícios de arremesso cedidos pela IMG e uma entrevista com Barto para tirar suas impressões sobre  os garotos:

21: Você já os conhecia? Conseguiu ver alguns vídeos antes dos treinos? Quando começou a trabalhar com eles, ficou surpreso?
Dan Barto: Pude assistir a muitos jogos, sim, antes que eles chegassem Mas era difícil distinguir a velocidade real do jogo para o que se passava nas filmagens. De qualquer forma, fiquei impressionado com suas habilidades, a inteligência de jogo e a dedicação aos treinos desde o primeiro dia. Foram realmente profissionais.

Quando, ou se chegar a hora de eles fazerem os treinos privados com os times, quais habilidades específicas você acha que chamarão a atenção? O que podemos esperar de George nesta semana em Portland?
O George vai ser excelente nas ações de dois contra dois, três contra três. Sua envergadura e habilidade para usar o corpo para pontuar e criar ângulos de passe são muito impressionantes. Ele vai ter um ótimo desempenho no jogo e no último dia de treinamento. O importante é que ele se concentre de fato em criar nas situações de pick and roll, em vez das jogadas individuais em isolamento. Ele é um armador criador e precisa deixar isso claro a cada jogada.

Já o Lucas é um grande arremessador, e isso fica claro em todos os exercícios que fazemos. Com o seu tamanho (2,05 m, hoje), ele vai convertê-los num percentual bem superior ao de seus concorrentes de treino. Ele também já tem uns dois ou três movimentos com a bola que são muito difíceis de se parar. Se aprender a jogar recebendo contato usando essas jogadas e se manter firme com elas, vai impressionar muita gente.

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Em termos de língua inglesa, você sentiu que as aulas que fizeram ajudou na comunicação deles durante os treinos?
Algumas situações ainda vão parecer demais para eles, mas certamente terão interações e conversas bem melhores do que quando chegaram. A partir do momento que o assunto for basquete, eles se saem bem melhores.

Pessoalmente, não gosto muito de colocar uma etiqueta em um jogador, em termos de posição. Mas isso claramente faz parte dos debates pré-Draft sobre os prospectos. Você enxerga o George como um armador, ou talvez um combo guard? E quanto ao Lucas? Aqui no Brasil a opinião majoritária é a de que seu futuro é como um 3 – uma posição carente para a seleção nacional e que, por isso, acaba despertando muito interesse. Para a NBA, contudo, estaria ele mais propício a jogar como o 4 aberto, o strecht four, que é uma posição da moda?
O George vai poder jogar nas e eventualmente defender as três posições no perímetro. Acho que o Lucas deveria se concentrar em ser mais um strecht four, já que vai ganhar peso enquanto envelhece, algo que pode dificultar na hora de marcar os alas.

Você já trabalhou com uma série de jogadores da NBA nesse processo de Draft, e agora obviamente ainda é cedo para avaliações definitivas. Mas qual o potencial que identifica nos dois? George sabemos que já tem sido mais discutido, mas o Lucas talvez esteja um pouco fora do radar. Consideraria os dois material para 1ª rodada?
Sua colocação é precisa. O George precisa ir para uma organização que tenha um plano em mente. Um plano para desenvolvê-lo e desafiá-lo. Se ele tiver, por exemplo, a mesma oportunidade para crescer como teve o Elfrid Payton (o armador calouro e titular do Orlando Magic, que teve minutos extensos durante sua primeira campanha), poderia vê-lo obter resultados. O Elfrid precisa marcar todo o tipo de armadores na prática e tem a chance de aprender com seus erros nos jogos. Ele vai precisar arremessar bem e competir nos estes privados. Sinto que a primeira rodada está toda para ele, já que, nos treinos, vai ter sempre vantagem em altura.

O Lucas deveria o máximo de convites para treino que puder sem temer ninguém. Nem todos os treinos serão ótimos, mas é só uma questão de ele continuar se colocando a prova. Se mostrar valentia para batalhar com jogadores maiores, ele poderia realmente aumentar sua presença no radar do Draft.

* * *

A terça-feira marca o segundo dia de treinos para Georginho em Portland. Ainda não é hora de acionar os contatos por lá para saber como está o desempenho do brasileiro. Vamos conferir mais para o final da semana, ok?

De qualquer forma, uma importante etapa dos trabalhos na aprazível cidade do Noroeste americano já foi divulgada: as medidas dos prospectos reunidos por lá. E o armador do Pinheiros se saiu muito bem nessa. E pode esticar bastante esse muuuuuuuuuito, já que tem tudo a ver com os resultados que apresentou. De altura, George bateu 1,98 m, a mesma de Kobe Bryant, por exemplo. Mas o mais impressionante é sua envergadura de 2,12 m comprimento. Se você soma as duas coisas, vai ter um jogador com alcance de 2,9 m com os braços levantados e os pés no chão. Vai longe, mesmo. Se não bastasse, ele também tem as mãos mais largas entre todas as revelações internacionais reunidas em Portland.

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O que isso tudo quer dizer? “Caramba, isso quer dizer que ele pode até jogar na posição 3 com essas medidas. Ele tem o mesmo alcance de Caron Butler, Klay Thompson, Evan Turner, Maurice Harkless e Rodney Hood”, disse um scout ao VinteUm. É isso: o garoto tem tamanho para jogar até mesmo de ala, conforme Barto nos contou acima. Isso é excelente para a sua cotação, pois abre-se o leque de possibilidades para scouts e dirigentes projetarem. comparativamente. Como armador, ele é simplesmente gigante. Fora de quadra, já saiu ganhando.


Georginho encara semana pré-Draft crucial com a concorrência aumentando
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Giancarlo Giampietro

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Georginho mostrou serviço pela LDB durante toda a temporada. Agora, chega a Portland para impressionar

Ele já foi observado por pelo menos dez clubes da NBA no Brasil, em quadras brasileiras. Agora, porém, tendo chegado a Portland para a disputa do Nike Hoops Summit no próximo sábado, o jovem armador do Pinheiros vai muito provavelmente ser observado por executivos, treinadores e scouts de todos os clubes da liga norte-americana. “O evento vai ser crucial para ele”, afirma ao VinteUm o executivo de uma equipe, que já o vem observando, mas ainda não o assistiu ao vivo.

Para encarar uma semana dessas, o armador passou um tempo na badalada academia IMG, na Flórida, ao lado do ala Lucas Dias. Teve treinamento do bom e do melhor – e dos mais exigentes –, além de, tão ou o mais importante, fazer um intensivão de inglês. Está preparado. Agora é hora de ir para a quadra e mostrar seus talentos bastante promissores (força física, altura, envergadura e uma fluidez com a bola avançada para alguém de sua idade – características apresentadas já aqui no blog) e os reflexos desse período de treinamento. A expectativa é a de que, concluída as atividades, que ele tenha consolidado e, quem sabe, catapultado seu status como escolha de primeira rodada no próximo Draft da NBA.

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Para o alto e avante?
Segundo múltiplas fontes consultadas, gente em constante contato com os treinadores da IMG, as duas semanas de treinos puxados de Georginho foram um sucesso. O brasileiro até mesmo surpreendeu o experiente estafe da academia. A sensação desses treinadores é que sua cotação vai crescer rapidamente após o Hoop Summit. “Ele jogou partidas de 5 contra 5 por lá com alguns americanos já formados e outros atletas de alto nível do high school e era o melhor em quadra”, afirmou um scout da NBA. Em relação ao inglês, a sensação é de que George entende tudo o que é passado para ele, mas que tem dificuldade na hora de se expressar. Lembremos, todavia, que, até mesmo em sua língua nativa, o armador é um garoto de poucas palavras, que costuma ir direto ao ponto.

Sobre Lucas Dias? O ala também pleiteava uma vaga no prestigiado evento para categorias de base, mas a organização limitou toda a América do Sul para uma só vaga. Aí ficou difícil. De qualquer forma, a jovem promessa do Pinheiros também está na mira dos olheiros, fez barulho na Flórida e volta ao clube paulista muito mais confiante e preparado para ajudar o time do técnico Marcel de Souza nos playoffs. Depois, há diversos caminhos a serem seguidos: treinos com as equipes nos Estados Unidos, o adidas Eurocamp em Treviso. Tudo ainda indefinido.

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O importância do Hoop Summit
De um lado, agrupam jogadores dos Estados Unidos. Do outro, a gringaiada – mas também com diversos atletas que já atuam por lá, ainda no High School. George Lucas Alves de Paula entrou nesse grupo, o que já é um privilégio e tanto. A semana de treinos em meio à elite de sua geração será fundamental para as pretensões do versátil atleta de apenas 18 anos. Mais até que a partida do sábado, dizem os scouts.

O diferencial: a turma da NBA é proibida de acompanhar as sessões práticas dos jogadores americanos, devido a regras estabelecidas pela própria liga no contato com jogadores abaixo do limite de idade permitido para o Draft. Os chamados underclassmen. Essa restrição não vale para os europeus, asiáticos, australianos etc. Nem para Georginho, que, desta forma, vai ser analisado em tempo integral por muitos tomadores de decisão dos clubes.

A desenvoltura nos exercícios, nos coletivos, a linguagem corporal, a dedicação e a comunicação com os companheiros… São muitos os fatores para serem avaliados, que você pode sacar muito mais no dia-a-dia de atividades do que em minutos limitados no jogo. Muitos olheiros já o conhecem também desde a Copa América Sub-18 do ano passado, realizada em Colorado Springs, ou do Nike Global Challenge, disputado em Chicago. Mas o contato e a exposição em Portland serão muito maiores, a apenas dois meses e meio do Draft.

Jamal Murray deve ser uma das referências no time internacional

Jamal Murray deve ser uma das referências no time internacional

Em Portland, Georginho vai ter os seguintes garotos como concorrentes diretos na posição de armador: Jamal Murray (Canadá/Athlete Institute, 1,95 m, 1997), um armador que brilhou no Basketball without Borders de Nova York, Federico Mussini (Itália/Reggio Emilia, 1,80m, 1996) e Stefan Peno (Sérvia/Barcelona, 1,98m, 1997). É esse o grupo de atletas que, basicamente, vai dividir as tarefas de armação, criação de jogadas na seleção internacional. O interessante é que esta não será a primeira vez que o brasileiro enfrenta jogadores de ponta internacional. Como ele próprio disse ao VinteUm, a experiência contra os canadenses na Copa América serviu para abrir, e bem, os olhos. Vai estar bem mais preparado – e o período na IMG só facilita essa transição, num trabalho bastante inteligente por parte de seus agentes – Eduardo Resende, da EW Sports, e Alex Saratsis, da Octagon.

Dependendo do grau de sucesso que tiver em quadra, o brasileiro pode se fixar de vez na primeira rodada do Draft e, quiçá, entre os 15, 20 primeiros, ou até mesmo ter que adiar os planos de ingresso na liga norte-americana. Sim, as coisas podem variar a esse ponto. Esses são os extremos, porém. Em meio aos sites especializados, a cotação de Georginho ainda não é consistente. O DraftExpress, referência no segmento, o coloca como o 31º melhor candidato deste ano. Em sua projeção, porém, exclui dois atletas que estariam acima na tabela e não se alistariam neste ano, fazendo com o que ele suba para 29º. Isto é, estaria na chamada “bolha” da primeira rodada.  O ESPN.com, com Chad Ford, o lista apenas como o 74º prospecto.

Porém, basta que um só clube se encante pelo jogador, assim como aconteceu com o Toronto Raptors e Bruno Caboclo no ano passado,  para que tudo mude. Não há dúvida que Georginho tem potencial de monte e existe sempre com a possibilidade de uma “promessa” para acontecer – quando um dirigente se compromete com jogador e agente de que vai selecioná-lo de qualquer forma no recrutamento de calouros. As coisas são muito voláteis e dependem de uma série de outros fatores, porém: se Georginho e seus agentes só vão aceitar uma proposta de primeira rodada; se preferem a segunda ronda, com maior flexibilidade de contrato, podendo optar por uma equipe que até mesmo tenha um plano mais adequado para o garoto; se o time vai querer usá-lo já na próxima temporada em vez de mandá-lo para a Europa ou mantê-lo no Brasil. Etc. etc. etc.

Jerian Grant, quatro anos mais velho que Caboclo e "concorrente"

Jerian Grant, quatro anos mais velho que Caboclo e “concorrente”

Concorrência aumentando
Para se ter uma ideia, contudo, da volatilidade do Draft, basta ver a classe de armadores que deve se candidatar este ano. Se você fosse conversar com os executivos da liga no início da temporada, ou até mesmo há uns quatro meses, poucos se mostrariam animados com as perspectivas de selecionar um ‘baixinho’ neste ano. Isso pesava a favor de Georginho, um garoto cheio de talento para ser explorado e bastante jovem. Acontece que, agora em abril, o cenário mudou bastante. “Exatamente”, diz um scout da liga. “A posição está muito melhor do que parecia antes de a temporada começar.”

Jerian Grant (Notre Dame), Kris Dunn (Providence), Tyus Jones (Duke), Delon Wright (Utah), Cameron Payne (Murray State) e Terry Rozier (Louisville) são os universitários que ganharam (mais) fama. Quem é quem? Esse mesmo scout, que trabalha para uma equipe da Conferência Oeste, nos ajuda a entender quem são os caras mais falados no momento, para a metade da primeira rodada e as posições finais – sobre Emmanuel Mudiay e D’Angelo Russell, nem precisamos nos entender muito, já que são candidatos até mesmo para pick número um.

“Tanto Grant como Wright são seniors já provados e testados, controladores de jogo estáveis que vão ser valorizados por clubes que estejam vencendo neste momento. São meio que apostas seguras”, disse. “Dunn é um nome que está na moda hoje devido a sua capacidade atlética. Já a cotação de Payne está decolando neste momento: ele passa a bola tão bem como qualquer outro armador no Draft”, avalia. O tampinha Tyus Jones está tendo uma grande vitrine no Torneio Nacional da NCAA, ao lado de Jahlil Okafor e Justise Winslow, ambos praticamente garantidos como escolhas top 7 no Draft. Se Duke vencer o título, não teria muito incentivo a retornar para um segundo ano. Já Rozier, bastante explosivo e de pouca leitura de jogo, também foi longe no mata-mata e, segundo Rick Pitino, vem de uma situação familiar muito difícil, que força sua entrada no Draft, ainda que pudesse usar um ano a mais para crescer.

Na opinião de outro scout da Conferência Oeste, não podemos nos concentrar apenas em armadores – afinal, claro, há times que ignoram necessidades em seu elenco e simplesmente optam pelo melhor talento disponível. “A classe em geral deste Draft é muito forte. Talvez melhor que a do ano passado”, avisa. Para ele,  porém, o potencial de Georginho ainda pode fazer a diferença. “Há diversas opções de prospectos para a posição de armador, sim, mas acho que os treinos do Georginho ainda podem impulsioná-lo para uma vaga na faixa entre as 15ª e 30ª posições”, afirmou. “Ele vai para uma equipe com tempo para desenvolvê-lo.”

Efeito Caboclo?

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Estou apurando por aqui, mas não dá para cravar nada. Ainda. Tenho ouvido de fontes envolvidas com o Draft, tanto agentes como scouts, que podemos ter um elevado número de brasileiros declarados neste ano. A contagem pode ser de até cinco – três além de Georginho e Lucas Dias, no caso. Para eles, seria um ‘efeito Bruno Caboclo’, depois de o Raptors ter surpreendido a liga no ano passado ao escolhê-lo na 20ª posição. Não convém ainda divulgar estes nomes, até por não ter nada garantido. Dois deles seriam representados pelo WMG, o Wasserman Media Group, a maior agência no que se refere ao basquete americano.

Fora a especulação, creio que o mais relevante aqui é que o Brasil voltou a entrar no radar da NBA. Os clubes da LDB já se acostumaram com a visita dos olheiros por aqui durante a temporada. É um tema que merece ser explorado em mais detalhes aqui. Vamos esperar a lista oficial de candidatos.

Para constar: apenas os jogadores nascidos entre 1996, como no caso de Georginho), e 1994 podem se inscrever no recrutamento de novatos da NBA. Aqueles que nasceram em 1993, como Leo Meindl e Henrique Coelho, têm participação automática nesse processo, já que vão completar 22 anos agora, que é o limite para os atletas estrangeiros. Leo Meindl, de Franca, e Henrique Coelho, de Minas, se enquadram nesse grupo, por exemplo. A exceção, entre os garotos do NBB, é o pivô Lucas Mariano, que se candidatou no ano passado, mas acabou não sendo selecionado.