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Temporada brasileira começa com urgência no desenvolvimento de talentos
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Giancarlo Giampietro

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Antes de embarcar para os Estados Unidos e iniciar seus treinamentos para os Estados Unidos, aquele veloz garoto estava impressionando a todos aqui no Brasil. Leandro Mateus Barbosa ralava de igual para igual com veteranos da seleção. Ralava? Esqueça: aos 20 anos, o armador já era um dos melhores jogadores do país, com média de 28,2 pontos por partida, abaixo apenas de um Mão Santa e acima de Charles Byrd, Rogério, Vanderlei e outros da velha guarda. Isso foi em 2003, ano em que o ligeirinho se candidatou ao Draft da NBA.

Era uma época diferente. Hoje, a partir do momento em que um jogador se declara para a liga americana, entra forçosamente no radar de todos os clubes (sérios). Ainda é possível que aconteça um caso como o de Bruno Caboclo, que foi tratado até mesmo com certo desdém no momento de sua inscrição no ano passado para, depois, a menos de um mês antes do evento, gerar um pandemônio na busca por informações. Acho que nunca telefonaram tanto para o Brasil. Há 12 anos, Leandrinho precisou usar o circuito de treinos privados com os clubes para fazer seu nome nos Estados Unidos, jogando duro para valer, a ponto de tirar Dwyane Wade do sério em um teste pelo Memphis Grizzlies, para deleite de Jerry West.

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Agora isso já é quase impossível. Estar no radar da NBA significa ser escrutinado pelos olheiros. Esses caras querem assistir ao garoto máximo que puderem, seja na ‘fita’, ou, de preferência, in loco. Neste ano, a revelação mais estudada foi o armador Georginho, do Pinheiros, que, sob muitos aspectos, remete a Caboclo como prospecto: muito jovem (nascido em 1996), atributos físicos impressionantes e o tanto de projeção que se pode fazer a partir daí. Os olheiros vieram para cá para conferi-lo de perto, para que não se repetisse a loucura do ano passado, para que seus clubes não fossem pegos desprevenidos. Foram pelo menos dez franquias na área. Desta forma, passaram a conviver com outras dezenas de garotos daqui e com a LDB como um todo. Os que não cruzaram a linha do Equador tiveram a oportunidade de ver George em quatro cenários diferentes: o Nike Hoop Summit, o Draft Combine, o adidas Eurocamp e workouts particulares. Lucas Dias, Humberto Gomes e Danilo Siqueira foram os outros que se inscreveram e também passaram pela lupa, mas com menos exposição lá fora.

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

Todos eles foram avaliados, no fim, mas preferiram adiar o sonho de encarar o Draft, retirando o nome da lista. Qual o veredicto? Bem, a opinião de um ou outro scout ouvidos pelo VinteUm varia em relação ao futuro dos jogadores. Natural. De qualquer forma, houve um tópico que era consenso entre as vozes divergentes: para os olhos da NBA, os garotos deveriam sair do Brasil o quanto antes em busca de melhor desenvolvimento.

“Não me parece um caminho muito bom”, diz o vice-presidente de um clube da Conferência Oeste ao blog, ao ser questionado sobre a decisão do quarteto de retornar ao país. “Deixar o Draft não é uma decisão ruim. George muito provavelmente seria selecionado. Mas não é essa a questão. Esperava que eles levassem a carreira adiante em outro cenário.”

Esse vice-presidente acreditava que o melhor caminho era tentar uma vaga em um clube na Europa. A opinião foi compartilhada por um scout de um time da Divisão Sudoeste, no que se refere ao armador. “Acho que o ajudaria ficar no Draft e deixar o Brasil. O time da NBA que o escolhesse encontraria para ele uma boa situação na Europa, onde ele pudesse dominar o inglês. Depois, teria a D-League. E aí a NBA.”

Pessoalmente, não acho que a transição para o basquete europeu fosse tão simples assim: na idade deles, os técnicos, sempre pressionados por resultados, já esperam contar com um atleta mais preparado para render em alto nível. A busca por um clube mais paciente não seria tão simples. Com o que concorda um olheiro de um time da Divisão Noroeste, em declaração já publicada aqui. “Jogar na Europa não faz sentido para ele. Afinal, precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião”, disse. “Em primeiro lugar, a prioridade geral, para mim, era sair do Brasil. O mais rápido possível.”

Quando você lê esse tipo de declaração, o que vai pensar? Pode bater um certo desespero, não?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Mas elas precisam ser relativizadas também: os scouts da NBA estão, na grande maioria, procurando produtos prontos ou semiprontos, para chegar aos Estados Unidos (ou Canadá) agora e já oferecer algo. O nível de exigência dos dirigentes e treinadores é, em geral, elevado. A aposta do Toronto Raptors em Caboclo no ano passado foi algo raro. O clube estava consciente de que, ao contratá-lo, cru toda a vida, deveria preparar um projeto de longo prazo, sem se importar em trabalhar com o caçula por um ano inteiro em que o principal objetivo era deixá-lo mais forte e fluente em inglês. Era este o tipo de comprometimento que os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis, que trabalhavam com o ala até este ano, esperavam para George ou Lucas, para que eles ficassem no Draft. Não aconteceu.

Por outro lado, os scouts internacionais assistem centenas de jogos de todos os países, algo cada vez mais fácil devido a softwares como o Synergy, hoje presente no cotidiano do NBB. Provavelmente não haja público mais bem informado do que essa classe na hora de falar sobre garotos mundo afora. Em suma, eles têm um ponto de vista que não pode ser ignorado.

Além do mais, a despeito de termos reunido duas seleções neste ano, cheias de jovens, para o Pan e a Universíade, não acho que seja necessário aparecer um empregado da liga americana para afirmar que a produção de base como um todo é duvidosa, especialmente quando se leva em conta o potencial atlético do país. Nas declarações dos olheiros, o que preocupa, mesmo, é o tom alarmista das respostas.

 O que acontece?

Uma chance
Existe, claro, um problema de origem macro. A massificação parece uma utopia, sem contribuição estratégica alguma da CBB e com o investimento federal imediatista. Gasta-se muito, hoje. São bilhões. Mas os programas são massivamente direcionados ao Rio 2016, com pouco impacto a longo prazo. Além disso, mesmo a grana que sai diretamente do Ministério do Esporte para a confederação acaba sendo aproveitada da forma mais bizarra possível. Seus convênios milagrosos recentes, como os R$ 7 milhões cedidos este ano, tinham como finalidade tão somente que uma ou outra seleção pudesse treinar para uma competição específica.

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

Para ser justo, também não dá para esquecer que a pasta também libera a grana da LDB, uma das poucas iniciativas realmente promissoras e consistentes que temos em termos de base no país, graças à administração da liga nacional. A competição, que já iniciou sua nova edição, tem boa repercussão. Em março, em viagem para Mogi das Cruzes para assistir a jogos da quarta etapa da LDB, tive a oportunidade de rever Lisandro Miranda, um argentino que trabalha para o Dallas Mavericks há mais de dez anos. Entre os que já tive contato, é hoje o único scout sul-americano oficial da liga e está mais que habituado a visitar as quadras brasileiras. Numa conversa informal, elogiou muito o progresso que nossa principal competição para jovens vinha apresentando. Em termos de estrutura, deixava claro, para que os garotos pudessem jogar e deslanchar.

Que o campeonato representa um avanço enorme, não há dúvidas. É uma competição que ajuda a dar rodagem aos atletas que estão na iminência de sair do juvenil, ou que já estouraram a categoria. Acontece que, em termos de evolução técnica, a liga não oferece tantos desafios aos talentos de ponta do país. Eles dominam nesse nível, mas a tradução desse rendimento para um nível maior de competitividade não é tão simples assim, até pelo desnível técnico que se testemunha entre algumas equipes da primeira fase.

Está claro que, tecnicamente, é preciso mais que a LDB para fomentar uma modalidade. Para sustentar todos os clubes, porém, não há verba do governo que dê conta. É preciso que o setor privado entre em quadra. Com crise ou estagnação econômica (como preferirem…), o dinheiro, que já não era tão volumoso assim, voltou a encurtar. Qualquer real investido tende a vir, então, com uma cobrança forte por vitórias, empurrando dirigentes e técnicos para estratégias conservadoras. Neste cenário, o desenvolvimento de jovens atletas fica bem complicado. Pode treinar o quanto e com quem for, mas nada substitui a experiência em quadra em jogos para valer. A questão não é exatamente de infraestrutura. Até porque, com um jovem jogador, o quanto mais é preciso do que uma bola, duas tabelas e uma boa cabeça para aplicar treinos? Com a palavra, Tiago Splitter, que saiu do país muito cedo e se formou como jogador na Espanha: “Tinha o preparador físico, nutrição, mas nada que não vá ter no Brasil num clube de ponta. A grande diferença foi a competição. Cheguei com 15 anos lá e já comecei a jogar adulto, na terceira divisão. Fui subindo, até a primeira. Foi essa competição que me ajudou a ser um bom jogador”.

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

No NBB 7, apenas dez atletas sub-22 (nascidos a partir de 1993) tiveram um mínimo de 20 partidas com média de minutos superior a 10 por jogo. Dez! Ou dois quintetos, entre 16 equipes inscritas. Se for para filtrar por 20 partidas e 20 minutos em média, apenas quatro passariam no corte: Danilo, Leo Meindl, Deryk Ramos e Henrique Coelho, todos, não por coincidência, convocados por Magnano ou Gustavo de Conti. Eles eram os únicos jogadores de fato preparados para encarar o NBB? Não jogam mais por que não estão preparados, ou não estão preparados por que não jogam mais? A resposta para essa pergunta seria a mais fácil: sim e não. Aí não tem como errar, né? Na verdade, a combinação de um assentimento e negativa indica que ela é bem mais complicada.

Fundamentalismo
Rumo ao Draft, Georginho, Lucas e Danilo saíram do país para passar por curtos períodos de treinamento nos Estados Unidos, em academias prestigiadas como a IMG, da Flórida, e a Impact, de Las Vegas. Mesmo que não tenham ficado na lista final de recrutamento da NBA, esse tipo de experiência foi valiosa para abrir os olhos dos garotos em relação ao tipo de preparação que existe lá fora. Os três rapazes foram uníssonos ao comentar os diferentes treinamentos que receberam: nunca haviam visto nada parecido.

Um ponto em comum atentava à “intensidade”. Que saíam esgotados de quadra e, quando achavam que havia acabado, eram chamados para mais uma sessão. E mais uma. E mais uma. O regime espartano, de todo modo, serve mais para prepará-los aeróbica e emocionalmente para os testes que os desgastantes treinos que eventualmente pudessem fazer pelos clubes americanos. Pensando longe, o legado maior está no refinamento de habilidades.

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Quando estava em Vegas, Danilo disse o seguinte ao blog: “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade”.

Na volta a São Paulo, Lucas afirmou em longa entrevista: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer”.

Os comentários coincidem, não? E estamos falando de dois jovens talentos brasileiros de ponta, que trabalharam nos últimos anos em dois clubes que realmente investiram no trabalho de base, com o Minas Tênis colhendo antes do Pinheiros os frutos por projeto, com um grupo que soube mesclar revelações e veteranos para fazer sucesso no NBB. Neste ano, por diversas circunstâncias, o clube de São Paulo tenta repetir essa trajetória. Vamos falar mais a respeito na semana que vem.

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, Rep. Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, República Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

Mas temos aí Lucas e Danilo maravilhados pelos exercícios de fundamentos básicos que fizeram em um curto período. O que tirar dessa avaliação? É por essas e outras que causa admiração geral o fato de o Brasil ainda encontrar um jeito de produzir mão-de-obra, mesmo que as estruturas do esporte no país não sejam das mais confiáveis. Como Splitter disse durante sua visita ao Basketball without Borders, camp conduzido pela NBA e pela Fiba, em sua edição global, realizada em fevereiro deste ano em Nova York: “Nós vemos jogadores surgindo, mas não por sermos bem organizados. Eles simplesmente aparecem”.

Nem sempre depende-se do acaso ou da sorte. Se Lucas e Danilo chegam a flertar com a NBA hoje, é porque seus clubes também lhes permitiram isso. Mas é inegável que, no processo atual de formação do basquete brasileiro, há uma lacuna muito grande entre projeções e realizações. Durante o mesmo camp nova-iorquino, em nota já dada aqui no blog, me lembro de ter sido questionado por um importante dirigente de um clube da Conferência Oeste, sobre a discrepância que se nota entre o nível de potencial atlético das revelações brasileiras e os seus fundamentos básicos. A mesma tecla. Se ela for batida muitas vezes, complica demais.

Peguem o fiasco da Copa América sub-16 deste ano. Mais um desastre: o Brasil agora terminou em quinto, ficando muito longe de brigar por uma vaga no Mundial sub-17 desta temporada. Na primeira fase, três derrotas em três jogos. Depois, pelo torneio de consolação, saíram dois triunfos para evitar a fossa geral da molecada. É complicado entender de longe o que aconteceu. Afinal, o técnico do time, Cristiano Grama, foi um personagem fundamental para a composição justamente do Minas, a jovial sensação do último NBB. É um cara antenado, bem conectado, envolvido com a base brasileira. Sem ter assistido aos jogos, fica difícil avaliar, mas os resultados estão aí para comprovar ques as coisas não saíram nada bem. Um dado que chamou a atenção, antes mesmo do torneio, era que, talvez pela primeira vez na história, a equipe brasileira tinha média de altura mais baixa que a da Argentina. Nossos vizinhos comemoravam isso, para se ter uma ideia. Conversando com agentes, creiam: no país de Nenê, Splitter, Augusto, Varejão, Bebê, Faverani, Felício, Morro, Caio, Mariano, Paulão, Murilo, Hettsheimeir, parece que anda realmente difícil de encontrar pirulões promissores nas competições de base vigentes. Ao que parece, a safra para daqui mais alguns anos não deve oferecer tantos “surgimentos”.

E aí o que fazer quando a fonte seca? O basquete feminino, infelizmente, está aí para contar essa história. É nessa hora que entra a autocrítica. E, nesse sentido, ao menos faz bem ler uma carta de Alexandre Póvoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo, o tricampeão do NBB, na qual ele escreve: “Somos totalmente conscientes que estamos longe da plena satisfação acerca do que alcançamos até agora. Por exemplo, precisamos melhorar MUITO o nosso trabalho nas categorias de base, atualmente muito aquém da história do Flamengo formador de atletas (aliás, situação comum em todos os esportes olímpicos do clube e que estamos lutando dia-a-dia para ajustar)”. O rubro-negro foi vice-campeão da última LDB, mas é honesto ao assumir suas deficiências de formação. Até porque a principal figura do time, Felício, é produto da base do Minas.

Sem fazer muito alarde, em termos de mídia, uma potência nacional que tem investido muito na base é o Bauru, estruturando seu departamento e fazendo a rapa na coleta de talentos, até mesmo em países vizinhos. Diversos jogadores talentosos têm sido recrutados recentemente, como o ala-pivô Gabriel Galvanini, o pivô Michael Uchendu (brasileiro filho de nigerianos), o armador Guilherme Santos, entre outros.  Com um patrocinador forte, o clube montou um timaço que ganhou o Paulista, a Liga Sul-Americana e a Liga das Américas na temporada passada. Poderia se dar por satisfeito com esses resultados, mas, em tempos de vacas gordas, é melhor preparar o terreno para o que vem pela frente e de um modo muito mais razoável e sustentável. É um projeto para se monitorar de perto.

Curiosamente, é o mesmo Bauru que escalava Leandrinho nos idos de 2003, quando o Nacional ainda era organizado pela CBB, muito antes da grave crise com os clubes que quase levou tudo para o buraco. Não seria prudente esperar que, dos garotos garimpados pelo clube, alguém vá chegar em breve ao estágio de competir com David Jackson, Marquinhos ou Shamell pelo título de cestinha do NBB, como, lá atrás, fez o armador, um caso excepcional de quem que já fez mais de 18 pontos em média nos Estados Unidos. O que dá para cobrar, mesmo, é que ao menos tentem, ainda mais para um clube em que o dinheiro não é problema. Entre esses jovens atletas, é natural que o sonho seja a NBA. Pode ser que alguns deles até se veja com condições de, no futuro, inscrever no Draft, tentar a sorte. Se vai dar certo ou não, impossível dizer agora. Só esperemos que, em caso de retirada e retorno ao país, a resposta dos olheiros norte-americanos seja mais amena.


Lucas Dias no Draft, pronto para mais um teste
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Giancarlo Giampietro

Lucas Dias, NBA Draft, Pinheiros, 1995

É algo que, confesso, sempre me admira. Quando você vai conversar com um jogador jovem, é preciso todo o cuidado na hora de elaborar as perguntas, deixar bem claro o que está abordando, o que seria minha própria opinião e aquilo que tomo como fatos, o que você ouve a respeito de determinado assunto ou caso que possa ter envolvido o garoto.

Quando começa a entrevista, então, também não é raro que o dono do microfone se veja surpreendido: por mais tenra idade, muitos desses atletas já têm boas histórias para contar. Aconteceu em muitos casos comigo em coberturas de Mundiais Sub-Alguma-Coisa de futebol. A galera do atletismo. Do vôlei. Etc. Especialmente quando falamos de um país como o Brasil, com toda a sua dimensão e seus problemas, causos geralmente não faltam em suas trajetórias. Lembro de um papo agradável e revelador, por exemplo, com o volante Rômulo, ex-Vasco, saindo de Picos, no Piauí, para, hoje, morar na Rússia. Mas, enfim, obviamente não é sobre o meio-campista o artigo.

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Lucas Dias não veio de tão longe assim para um jornalista baseado em São Paulo, tendo saído de Bauru. Mas o ala do Pinheiros, um dos quatro candidatos brasileiros ao Draft da NBA, já tem realmente uma trajetória que deu e dá o que falar, estando a dois meses de completar 20 anos de idade. A pressão desmedida que uma das grandes apostas do basquete nacional enfrentou em temporadas anteriores já foi abordada aqui. Agora, é hora de abrir espaço para o ala falar a respeito do peso que lhe foi atribuído, mas decididamente não apenas sobre esse tema em – aquela que era para ser uma entrevista de 15, 2o minutos acabou durando exatos 54min05s, nas vizinhanças do clube Pinheiros. Isso, claro, com o atleta se dizendo “tímido” durante a gravação.

É interessante notar como ele já foi submetido a bons testes durante a adolescência. Mas nem é preciso fazer muito drama aqui, por mais que seja mais uma história de alguém que saiu bem cedo de casa, foi para a capital, vindo de origem humilde. Não é dessa forma que Lucas encara as coisas, mesmo. Sabe que enfrentou alguns momentos difíceis, mas não os glamoriza. Gosta de repassá-los em sua cabeça, é verdade, mas muito mais como fatores de motivação e também por força do hábito. “Sou daqueles que vai deitar e não tira a história da cabeça”, afirma ao VinteUm.

Mais agressivo pela LDB 2014

Mais agressivo pela LDB 2014

Para o repórter, então, fica mais fácil de retransmitir:

Teste 1: vida de atleta, em São Paulo, aos 14 anos
Lucas Dias Silva não foi o primeiro a deixar a família, em Bauru, para tentar dar um salto com suas pretensões basqueteiras. O irmão Diego (ou Diegão), pivô, embarcou para Belo Horizonte um tempo antes, para jogar na base do Minas Tênis. A mãe, Neia, já havia chorado quando ele saiu. Mas comigo foi mais. Ele já era mais velho, tinha sua confiança. Não que eu não tivesse, mas eu era muito novo na época, só com 14 anos”, afirma. De qualquer forma, quando estava preparado para se mudar para São Paulo, o irmão retornou, o que acabou compensando, de alguma forma. “Foi uma coincidência boa”, diz.

Federado : )

Federado : )

A mãe passou duas semanas com o filho na capital para facilitar a transição. Isso era janeiro de 2010, depois de o então pivô ter sido aprovado em testes em julho do ano anterior. A mudança levou um tempo para ser realizada, enquanto jogava pelo time da Associação Luso Brasileira em sua cidade natal – enquanto os primeiros treinos haviam sido pelo Greb (Grêmio Recreativo Energético de Bauru).  “Comecei com meu irmão. A gente trabalhava na rua entregando folheto. De repente, parou uma técnica do lado dele, dizendo que tinha potencial para jogar. Ele estava com 14 anos e foi treinar. Ficou lá umas duas semanas, enquanto eu estava na minha, estudando, brincando, jogando futebol, essas coisas. Ele cuidava de mim naquela época e perguntou seu eu queria treinar. Minha mãe trabalhava, também meu pai. Topei e comecei a gostar do basquete. Tinha nove anos”, relembra.

O progresso foi rápido e, cinco anos depois, era indicado para a base do Pinheiros, coordenada por Telma Tavernari. Impressionou a todos prontamente, entre eles o técnico Danilo Padovani. “Logo no primeiro dia já disseram que gostaram muito de mim perguntaram se eu queria ficar para assistir ao jogo do adulto”, conta, rindo. “Quando voltei, eles deram a maior força para mim e cuidaram da minha família também. Foram pessoas que entraram na minha vida, assim como meu técnico em Bauru, o Marco Aurélio, que não me forçou ficar.”

Assim como a mãe não ficou na metrópole. “Na primeira semana que ela foi embora, o primeiro fim de semana sem ela… Foi uma sensação muito ruim. Em Bauru, tem uma feirinha que a gente gosta ir aos finais de semana. Todo o domingo, era o passeio da família. Ficar sem isso, sem esse tipo de coisa, a ida à igreja com ela. Foi difícil”, diz. Hoje, o contato com a mãe acontece quando consegue viajar para sua cidade. Quando tem jogo pelo NBB ou pelo Paulista, tem torcida infiltrada entre os bauruenses.

Avançando com a carreira, Lucas teve de se virar para concluir os estudos. No primeiro ano, tudo corria bem. “Não tinha seleção, não era conhecido, conseguia manter. Mas no ano seguinte comecei a fazer parte daquela seleção  permanente, ficando seis meses com eles (em São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais). Lá não consegui. Era para ser à noite, mas tinha treino de manhã e de tarde. Não dava para descansar. Fui levando não sei como, não só eu, mas os outros também. Quando voltei, retomei a escola anterior. Treinava em duas categorias aqui no Pinheiros, e aí o adulto também me chamou. Era sair 10h da escola para vir ao clube. Foram dois anos para terminar a escola. Houve também as viagens. Mas o bom é que a escola (estadual Ministro Costa Manso) teve muita paciência, a Costa Manso. Deram trabalho para eu fazer, provas em dias diferentes, abonaram minhas faltas por causa da seleção, o que não eram obrigados a fazer. Graças a Deus terminei. Era algo que minha mãe cobrava muito. A faculdade ela também quer que eu faça, mas sabe que não tenho tempo hoje. A escola era obrigação. De qualquer forma, se fosse passar por tudo de novo, passaria”, afirma.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias: da impaciência ao desenvolvimento

Teste 2: a fama precoce e as cobranças
Em 2011, Lucas foi disputar seu primeiro torneio internacional: o Sul-Americano, sendo um ou dois anos mais jovem que a maioria de seus companheiros. Foram campeões de forma invicta, vencendo a Argentina duas vezes. Algo raríssimo em tempos recentes de competições de base. Logo… Chamaram a atenção. “Todo mundo falava que nossa seleção era fraca, que não ia chegar a lugar nenhum. Quando vencemos a Argentina, invictos, começaram a assediar um pouco”.

Lucas, nos treinos para o Sul-Americano em Cúcuta, na Colômbia

Lucas, nos treinos para o Sul-Americano em Cúcuta, na Colômbia

No ano seguinte, veio uma convocação surpreendente para a disputa do amistoso internacional do Jordan Brand Classic, evento que reúne, nos Estados Unidos, alguns dos jovens mais promissores do mundo. Quando questionado a respeito daquela experiência, os olhos do garoto brilham. “Vou falar para você”, anuncia. (Então deixe ele contar… Que a história é divertida. Está nas notas abaixo). Fato é que, com 18 pontos e 12 rebotes, o brasileiro foi eleito MVP da sua equipe, num evento do qual participou, entre outros, Domantas Sabonis, filho do legendário pivô lituano e hoje destaque da Universidade de Gonzaga, nos EUA.

Aí você imagina a repercussão. Para uma modalidade há muito carente de conquistas internacionais, o bafafá foi grande. Para completar, veio a Copa América Sub-18 em São Sebastião do Paraíso. A seleção foi vice-campeã, perdendo para os Estados Unidos na final. No meio do caminho, bateram um Canadá fortíssimo, com direito a Andrew Wiggins, Tyler Ennis e Trey Lyles em quadra. Definitivamente não é pouco. O elenco americano tinha: Marcus Smart, Julius Randle, Jerami Grant e Jarnell Stokes, todos já na NBA, e Sam Dekker e Montrezl Harrel, a caminho. Lucas brilhou, com médias de 15,6 pontos, 8,4 rebotes e 1,4 toco, convertendo 52,9% de seus arremessos de três pontos. Combinava envergadura e faro para a cesta.

De novo: era um ano mais jovem que a grande maioria dos adversários. Então você pode imaginar como as coisas ficaram. “Nossa seleção mostrou que podia competir com aqueles caras, chegando junto no jogo, correndo de igual para igual, e até mesmo com um jogo de contato. Só não deu para manter o ritmo na final. “Foi uma experiência legal, de ver onde a gente poderia chegar e conferir meu nível também”, diz Lucas.

Foi nessa época que o garoto passou a conviver com nós, abelhudos da mídia. Teve de aprender a se comportar diante dos jornalistas na marra, depois de um ou outro tropeço natural. As expectativas em torno do jogador basicamente saíram do controle. Quando chegou o Mundial Sub-19 em 2013, e o time venceu apenas três de seis partidas, contra China, Irã e Senegal e terminou em nono, uma posição frustrante. Um tremendo baque, e as primeiras críticas mais pesadas.  Do ponto de vista pessoal, foi difícil assimilar um rendimento de 6,4 pontos, 3,8 rebotes e, principalmente, os poucos minutos que teve (22,5). “Toda a seleção jogou mal”, afirma. “Ali comecei a me sentir mais pressionado. Todos esperavam um desempenho bom de nós, e o foco estava em mim. Acho que não estava preparado para isso.”

Lucas Dias x Domantas Sabonis no Jordan Brand Classic

Lucas Dias x Domantas Sabonis no Jordan Brand Classic

Teste 3: a fossa e a concorrência interna
“Quando voltei para o Pinheiros, não acreditava no que havia acontecido, justo naquele campeonato”, diz Lucas. O semblante muda nitidamente ao falar sobre a campanha. É difícil saber o que machucou mais: o que se falava pela rede, ou o que se passava pela cabeça do jovem que completara 18 anos durante a competição em Praga. “Comecei a me cobrar bastante. Eu mesmo me sentia pressionado. Aqui no Pinheiros nunca ninguém chegou cobrando dessa forma. Mas fiquei muito chateado. Foram uns quatro meses pensando na mesma coisa. A gente jogando aqui, mas minha cabeça não estava boa.”

Se houve algum ponto positivo para ser tirado, era o simples fato de ter saído um pouco do radar depois daquela tremenda decepção. Acontece em muitos lugares, mas no Brasil, sabemos bem, caprichamos: com a mesma rapidez que se infla uma história, facilmente pode-se virar as costas para ela. Para o jogador, depois de curtida a fossa, o evento acaba valendo como um marco pessoal, de toda forma. “Depois, entendi que aquele momento de decepção poderia ter acontecido para o bem. De que se aquele Mundial não correu bem, se eu tivesse um próximo Mundial, ou qualquer campeonato grande desses, que não ia deixar isso acontecer de novo. Comigo, não”, assegura. “Foi um momento de decepção para todo mundo. Se formos ver, muitos daqueles jogadores estão se destacando hoje: Deryk (Ramos) em Limeira, o Danilo (Fuzaro) em Minas, cada um subindo de pouquinho e pouquinho, se lembrando daquele Mundial, fazendo o que não mostrou naquela época. Foi bom para a gente. Não foi bom para o Brasil, mas, no pessoal, teve uma boa repercussão.”

Da Copa América (foto) para o Mundial, queda geral de rendimento

Da Copa América (foto) para o Mundial, queda geral de rendimento

Enquanto colocava a as coisas em ordem, começava a despontar em seu clube outra sensação. Mais uma contratação pontual do Pinheiros, vindo de uma cidade com nome até parecido: Barueri. Sim, estamos falando de Bruno Caboclo. Só mesmo o basqueteiro nacional mais hardcore o conhecia. Mas isso mudaria rapidamente, depois de suas exibições pela LDB. O ala, hoje coqueluche em Toronto, era o dono do time juvenil que competia na liga de base. Ainda que tivesse a mesma idade, Lucas, a essa altura, treinava em tempo integral com o adulto, ao lado do comparsa Humberto. (“É o companheiro que vou levar para a vida inteira. Podemos até brigar em quadra, mas estamos sempre juntos.”)

“Depois do Mundial, deu acalmada, e comecei a trabalhar mais empenhado no Pinheiros. Aí chegou o Bruno também, e o foco foi totalmente. Fiquei treinando mais duro ainda. Isso também foi outro motivo pessoal para mim, ver o Bruno treinando ali forte. Éramos amigos, mas cada um fazia o seu”, afirma. “No começo foi um pouco difícil. Quando está treinando no adulto, sem muitas chances, enquanto o time juvenil estava na LDB, ganhando destaque. Você queria fazer parte daquele conjunto, ficava meio triste com isso. Todo mundo subindo, e ficávamos eu e o Humberto aqui, sabe? Treinando, enquanto eles estavam jogando, se divertindo, fazendo com que o time crescesse.”

Em 2013, maior rodagem com o time adulto: 14 minutos em média

Em 2013, maior rodagem com o time adulto: 14 minutos em média

Na fase final, Lucas e Humberto reforçaram o Pinheiros na fase final da LDB e integram o time que conquistou o terceiro lugar: “Eu ficava pensando sobre como seria nossa seria chegada. Se ia piorar, se ia melhorar. O time comigo, Humberto, Bruno e George seria diferente. Fui para lá para ajudar a equipe, fiz bons jogos, mas não foi a LDB que eu esperava para mim. Isso foi, então, outra motivação para voltar melhor na (edição) seguinte. Não via a hora que começasse outra”. Um consolo foi retornar ao time principal para os playoffs do NBB 6 e ganhar minutos no playoff contra Mogi, produzindo. “Consegui botar em prática o que estava encontrando em meu jogo. Fomos eliminados, outra sensação ruim, mas estava me preparado já para a próxima temporada.”

Teste 4: a retomada
Ainda que estivesse jogando com o juvenil e curtindo a boa fase daquele time, não quer dizer que Lucas não se divertia do seu jeito. Nos treinos do adulto, era o alvo prioritário dos veteranos, sempre pontos para desafiá-lo. Pode pensar aí em Shamell e Márcio Dornelles… “Nossa, eles estavam sempre pegando no meu pé (risos)”, conta, bem-humorado. “Olha, só quem viu para poder falar. Tinha dia que eu saía bravo com eles, com um bico para o lado. Mas eles me chamavam e diziam que era para o meu bem. No coletivo era mais o Márcio, que batia. Depois do treino, era mais o Shamell, no um contra um, por várias horas.”

Título da LDB ficou com o Basquete Cearense; Lucas terminou como cestinha

Título da LDB ficou com o Basquete Cearense; Lucas terminou como cestinha

Depois de tantos treinos e aulas práticas dessa, Lucas se sentia pronto para arrebentar em quadra. Houve uma diferença, no entanto: dessa vez ele teria muito mais minutos com as equipes menores do que no adulto. “Foi um pouco desgastante no fim. Tinha dia que treinávamos com o adulto, jogar com o juvenil ou LDB. Teve uma semana que jogamos em Osasco com o Juvenil e voltamos para disputar a LDB, ainda treinando com o adulto. Mas foi uma temporada de colher o que se plantou durante todos os treinos, com muita paciência depois daquele Mundial.”

Na liga de desenvolvimento, foi o principal jogador, com médias de 20,8 pontos,  9,4 rebotes, 1,9 roubo, 1,5 assistência, em 32,1 minutos. Estabeleceu o recorde histórico de pontos (44) e de índices de eficiência do campeonato. “Consegui jogar em alto nível, foram jogos maravilhosos, para quebrar alguns recordes. Também fui eleito o melhor jogador da categoria juvenil no país. Fico quieto no meu canto. Os caras podem falar o que achar de mim, mas vou ficar no meu canto fazendo o que preciso. E o time fez uma grande LDB, mesmo que não tenha ficado entre os três primeiros.”

A frustração mais significativa da temporada 2013-2014 acabou sendo o papel limitado que teve na equipe de Marcel de Souza no NBB 7 – algo, aliás, cobrado por muita gente nos bastidores. Mas as chances reduzidas aos mais jovens não foi algo específico, particular ao Pinheiros. Poucos jogadores sub-23 tiveram espaço, ou, pior ainda, protagonismo em seus clubes. Lucas entrava e saía do time.

“No caso de nós três (Lucas, Georginho e Humberto), fiquei um pouco pensativo a respeito, de não termos jogado. Nunca critiquei. O Marcel era quem decidia. Acho que, pelo trabalho que vinha fazendo, merecia um pouco mais de tempo e que poderia ajudar a equipe. Mas nunca vou chegar no técnico e falar que tenho de jogar. Talvez fosse medo de não prejudicar a gente. Não tenho nada contra”, afirma o ala. “O mais curioso é que, para mim, o time do ano passado era muito mais forte que o deste ano, tinha mais investimento, e eu recebi mais minutos, mesmo achando que neste ano eu estava muito melhor. Chegando em casa bravo, minha namorada (Larissa) podia ver. (Risos)”

No final, Lucas teve médias de 11,3 minutos por jogo, depois de 14,1 minutos na campanha anterior. “Todo mundo esperava que eu talvez jogasse pelo menos uns dez minutos regularmente, mas nem isso. O Humberto apareceu agora só no finalzinho, nos playoffs, por causa da defesa”, afirma. “Acabou a temporada, não posso ficar remoendo o que já passou, mas agora tenho objetivos maiores.”

Lucas Dias: foi difícil de pará-lo na última LDB

Lucas Dias: foi difícil de pará-lo na última LDB

Teste 5: aqui estamos
O próximo passo é o Draft da NBA. O fato de o ala ter sido convidado para participar do Combine em Chicago mostra que desperta o interesse dos dirigentes. O que não signifique que tenha escolha garantida no dia 25 de junho, em Nova York. Nas próximas semanas é que as discussões vão esquentar. No momento, Georginho é o atleta nacional mais comentado. Humberto também está inscrito, assim como Danilo Fuzaro – mas ambos devem retirar seus nomes da lista até o dia 15 de junho, prazo para que uma decisão seja tomada.

Quanto mais os scouts avaliarem os jogos do Pinheiros na temporada, a tendência é que seu nome surja com mais força, devido a uma combinação de estatura (2,11 m, segundo as medições recentes do Pinheiros) e capricho nos arremessos de média para longa distância. “No final das contas, é provável que ele seja o mais habilidoso do trio do Pinheiros”, afirmou um olheiro da Conferência Oeste ao o VinteUm. Sua grande chance para impressioná-los vai acontecer em junho, no adidas Eurocamp em Treviso, o camp que reúne boa parte dos melhores jogadores até 22 anos fora dos Estados Unidos.

Versátil, Lucas será propagandeado como um possível “strecht four”, o ala-pivô aberto, uma função tática em voga no basquete internacional. É algo que os treinadores da IMG identificaram e que assimila o talento para chute e rebote do brasileiro. “Vai depender da ocasião, não tenho preferências. Na Copa América Sub-18, no nosso time sub-22, falavam também em me usar como um três, para o time ficar mais alto, forte no rebote. Não tem posição fixa. Acho que depende do jogo, cada um pede uma coisa. Entre as duas posições, acho que consigo render da mesma forma.”

“Tomara que aconteçam algumas coisas melhores para a minha vida agora. Estou torcendo muito para isso. É o objetivo maior. Acho que cada jogador de basquete que pega uma bola começa a sonhar com a NBA. Seria uma satisfação fechar esse ciclo com uma grande notícia, de estar lá. Aí começaria um novo ciclo, lembrando o que passei”, diz. “Agora, se não for para este ano também, não vou me decepciona. Vou ficar pensando uns três meses nisso, claro mas depois segue em frente.”

*   *   *

Lucas Dias relembra sua participação no Jordan Brand Classic de 2012, em Charlotte:

“Naquela seleção permanente, tinha um moleque da minha idade que já havia sido chamado para este jogo, o Guilherme Saad. Fiquei interessado, vendo que ele foi chamado, sabendo que havia  participar de um evento desse. Depois disso aí esse Jordan não tinha saído da minha cabeça. Seria uma oportunidade legal para mostrar meu jogo para todo mundo. Passou um tempão até o (então diretor de basquete pinheirense, João Fernando) Rossi chegar e falar do convite. Fiquei umas duas semanas só pensando nisso, no Jordan, no Jordan… Aí quando deu uns dois dias antes de viajar para o evento, liguei meia noite para o Rossi e disse que não queria ir. Não sei o que aconteceu comigo, mas não queria mais”.

Ele conversou comigo, perguntou o que tinha, falei que estava com medo de jogar mal lá. Mas me convenceu e mandou o Brenno (Blassioli, ex-técnico da base) comigo. A experiência foi toda diferente, mesmo, de tudo o que havia feito, até da seleção. Antes do jogo teve uma palestra, para pegar o diplominha do evento. Falei para o Brenno que estava ansioso, mas confiante para mostrar o que podia. Até brinquei com ele que, se Deus quisesse, poderia até rolar um MVP (risos). Ele: ‘Pára de pensar isso, só pense em fazer seu jogo’. Sempre quando boto uma coisa na mente, quando deito a cabeça no travesseiro, fico pensando. E foi isso: ‘Amanhã é o dia, amanhã é o dia’…”

“Entrei no ônibus, achando que as pessoas estavam olhando estranho para mim, aquela paranoia. Quando entrei na quadra para aquecer, já senti que era o dia. Sobe dois, e foi uma sensação muito gostosa. Ginásio cheio, parecia que minha família estava do meu lado. Se algo dava errado em quadra, era como se algum deles estivesse me apoiando.. Cada lance eu lembrava das primeiras semanas aqui em São Paulo, da minha mãe, da minha namorada (Larissa) dando força. Quando chegou a premiação, foi a melhor coisa. Não sabia o que fazer. Se ficava em quadra, se ia pro vestiário, se ia falar com o Brenno, se ligava para a minha mãe, se ia para a arquibancada. Na hora de comer, não acreditava, não estava lúcido. Era uma coisa gigantesca para mim. Ali foi o começo, cara. Uma gratificação muito boa.”

*   *   *

Lucas hoje está treinando no Pinheiros, em sua preparação para o recrutamento de calouros da NBA, dia 25 de junho. A ideia era que ele estivesse bem distante dali, em Chicago, onde está sendo realizado o Draft Combine. O ala recebeu o convite da liga, mas teve de recusar devido a uma torção de tornozelo que sofreu contra o Brasília, pelos playoffs do NBB. Já está recuperado, mas não viajaria nas melhores condições para ser, hã, testado contra jogadores muito mais experimentados, aos olhos de centenas de dirigentes e scouts.

*   *   *

Lucas também fala sobre os treinos que teve no mês passado na academia IMG, na Flórida, ao lado de Georginho: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer. Comecei a fazer isso na primeira semana, nas no primeiro jogo contra Brasília torci o pé. Nada grave. Nada grave. Tenho de agradecer ao Edu (Eduardo Resende, seu agente) por proporcionar isso para a gente.  Ele é o que tem mais paciência com a gente.”


Georginho conclui Hoop Summit com cotação pré-Draft ainda em suspense
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Giancarlo Giampietro

A talentosa seleção internacional do #HSU2015, com George usando a camisa 5

A talentosa seleção internacional do #HSUM2015, com George usando a camisa 5

Conforme o vice-presidente de um clube da Conferência Oeste disse ao blog na semana passada: o Nike Hoop Summit seria “crucial” para as pretensões de Georginho rumo ao Draft da liga norte-americana. Neste sábado, a seleção internacional, da qual o brasileiro fez parte, derrotou os Estados Unidos num jogo bastante equilibrado, por 103 a 101, definido realmente na última posse de bola.

Entrei em contato neste sábado com este mesmo executivo para saber qual teria sido o saldo do evento para a revelação do Pinheiros. A resposta dele foi um pouco mais cautelosa e reflexiva. Afinal, estamos falando de garotos. No caso do paulista de Diadema, um garoto de 18 anos. Nada pode ser tão definitivo assim. “Ele teve altos e baixos durante a semana, normal. Ainda é muito cedo para cravar qualquer coisa”, disse.

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Quer dizer: o Hoop Summit poderia ser crucial para George dependendo de seu desfecho. No caso de ele se atrapalhar muito em quadra, ou de arrebentar com a concorrência. Não aconteceu nem uma coisa (a confirmação como calouro de primeira rodada ou a decolagem, nem outra (torpedear seu status). As opiniões se dividiram, deixando o status do garoto ainda em suspense. Algo também já esperado, por se tratar de um prospecto inexperiente, que está sendo estudado com mais afinco agora. Para falar do jogo? O brasileiro foi titular. Anotou a primeira cesta do duelo, num tiro de três pontos. Depois, criou uma boa situação de finalização para um companheiro. Parecia iniciar bem. Muito bem. No final, porém, acabou sendo o terceiro atleta menos utilizado pelo técnico canadense Roy Rana, com 12min51s.

O que aconteceu? Bem, para os que estão mais acostumados com seu jogo, sabe-se que Georginho gosta de jogar com a bola em mãos. Criar a partir de situações de pick and roll e infiltrações. Contra uma defesa atlética e entrosada como a americana, porém, Rana aparentemente não se sentiu confortável ou confiante de entregar a armação para o brasileiro. Ela foi entregue ao armador candense Jamal Murray (30 pontos, 5 assistências e 23 arremessos em 27 minutos) e ao ala multiuso australiano Ben Simmons, grande sensação do jogo (13 pontos, 8 assistências e 8 rebotes). Dois caras de potencial absurdo – e também significativamente mais experientes. Ao lado do pivô haitiano Skal Labissiere, outro talento impressionante, com 21 pontos e 8 rebotes em 28 minutos, carregaram a equipe.

Ben Simmons vai jogar por LSU na próxima temporada. Possível astro

Ben Simmons vai jogar por LSU na próxima temporada. Possível astro

O problema é que, mesmo quando Murray ou Simmons estavam fora, Georginho também mal tocou na bola. O italiano Frederico Mussini, que joga na primeira divisão de seu país e também tem muito mais rodagem de elite, e o sérvio Stefan Peno também tinham prioridade na condução. No final, o brasileiro estava deslocado em quadra, sem poder mostrar o que tem de melhor. Parecia mais utilizado por Rana por propósitos defensivos, devido a sua envergadura e agilidade. Tanto que foi acionado pelo técnico a dois segundos do fim, quando os americanos tentariam uma última bola para empatar ou virar o jogo. Interessante, mas muito pouco e injusto num evento desses.

“Ele parece muito mais confortável quando está com a bola em mãos, e não teve a chance de fazer isso na partida. Seria legal se ele tivesse mais oportunidades de conduzir um pico and roll, por exemplo”, diz o scout 1 (para efeito de distinção das fontes, sem poder identificá-las pelo nome, vou adotar uma numeração, ok?). “A única vez que pôde driblar a bola e partir para a cesta, conseguiu criar um arremesso livre para um companheiro.”

Georginho acabou deslocado em quadra, sem muitas chances para mostrar seu talento

Georginho acabou deslocado em quadra, sem muitas chances para mostrar seu talento

De qualquer forma, o jogo em si não é o que pesa mais na avaliação dos olheiros. A maioria esteve por lá durante toda a estadia em Portland, podendo observar os garotos em cinco dias de treino. O conjunto da obra é o que conta. Neste ponto, entram os altos e baixos do prospecto brasileiro. Conversei com cinco fontes independentes para tentar entender como foi o evento para ele. Vamos lá, então.

A semana começou mal, com dois dias fracos de treino. O jogador parecia um tanto deslocado, e a impressão que se tinha era a de que mal se comunicava com os companheiros. A dificuldade em se expressar em inglês, ainda que, do seu lado, garanta entender tudo o que lhe falam em quadra.

Aqui, já vale um bom aparte. Era meio que esperada essa dificuldade de adaptação imediata, mesmo que ele tenha feito bons treinos na academia IMG, com uma equipe experiente na preparação de jovens atletas. Na Flórida, George estava ao lado de Lucas Dias e de treinadores exclusivamente dedicados a ele. Em Portland, estava acompanhado pela elite de sua geração, caras que muito provavelmente nunca havia visto antes. Caras de diferentes lugares do mundo, de diferentes línguas. Comunicação, aqui, sempre seria um problema, e para todos.

Além do mais, há o fator pressão. Você está num ginásio rodeado por mais de 100 profissionais da NBA. Não é exatamente uma semana de aprendizado, mas muito mais de exibição. Ao menos era essa a mentalidade da maioria dos jogadores convocados. Fica difícil de estabelecer química em quadra quando o que impera é o cada um por si. Uma situação que ficou clara em diversos momentos da partida deste sábado e que estava exacerbada nas primeiras sessões, nas quais lagunas atletas podem ter chamado a atenção por suas habilidades individuais, mas nas quais a qualidade do basquete praticado era péssima. Algo generalizado, frise-se.

Outra: há um considerável desnível técnico se formos comparar os melhores jogadores em ação na LDB nacional com os talentos que encontrou nos Estados Unidos. Obviamente. Ter mais minutos no NBB teria ajudado muito mais, diga-se. Então leva um tempo para assimilar o que e quem está ao seu redor. Algo também totalmente natural.

Juntando tudo isso, o que temos é um terreno pedregoso para um jogador que tem apenas dois torneios intercontinentais em seu currículo – a Copa América Sub-18 e o Nike Gloal Challenge. “Ele pareceu totalmente assustado e longe de estar pronto”, afirmou outro olheiro, o scout 2. “Acho que a língua atrapalha. Ele obviamente não está acostumado ao nível de competição que encarou aqui”, disse o scout 1, que ressalta como a equipe era, em geral, bem mais qualificada que o normal. “Esta é a primeira vez em nove anos que vejo esse jogo na qual a equipe internacional é muito mais talentosa que a dos Estados Unidos.”

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Com o passar dos treinos, porém, o nível de seu basquete passou a subir. Estava mais solto para influenciar o jogo do modo que seus atributos físicos incríveis propiciam. Sim, não podemos nos esquecer das medições do brasileiro, com a maior envergadura e alcance com os braços esticados para um armador qualificado como “armador” inscrito no Draft. Todos salivaram. Esse fator isolado, contudo, não garantiria uma sólida carreira. Precisa botar em prática.

“Sua forma de arremesso é um pouco estranha, mas é muito mais efetiva do que eu esperava. Seu drible também é bom, natural. Ele tem bons instintos na hora de avançar com a bola. Mas por vezes comete algumas decisões ruins no passe. Ele mostrou flashes durante os treinos, mas também pareceu confuso algumas vezes. O jogo correu um pouco rápido para ele no início”, avalia o scout 1, que obviamente teve uma impressão mais positiva do jogador. Curiosamente, o dirigente do início do texto repetiu a mesma expressão: “Mostrou flashes, mas em alguns momentos os jogos pareceram muito rápidos para eles”.

As estatísticas oficiais da partida, divergentes da planilha apresentada pela USA Basketball em seu site

As estatísticas oficiais da partida, divergentes da planilha apresentada pela USA Basketball em seu site

O chapa Jonathan Givony, presidente do DraftExpress, site especializado de maior respaldo entre os olheiros da NBA, atestou a evolução gradual de Georginho. “Ele finalmente começou a sair de sua concha. (No treino de sexta), nas primeiras posses de bola, ele atacou o aro num movimento decidido para tentar uma enterrada, e não parecia tímido de modo algum disparando a partir do perímetro durante todo o coletivo. Assim como o resto do time, ele tentou fazer acontecer mais cedo no cronômetro, usando seu corpo alto e forte para entrar no garrafão e sofrer faltas. Defensivamente, ele tinha uma presença constante, topando a troca de marcação e ficando com jogadores mais altos (como Ben Simmons), sem conceder nada, o que dá uma flexibilidade excelente ao seu time. É impossível não ver o quão talentoso ele é”, escreveu, antes do jogo.

Georginho, nas quadras de treino do Trail Blazers

Georginho, nas quadras de treino do Trail Blazers

O scout 2 já se mostra mais pessimista: “Os atributos físicos estão ali, mas isso não é o bastante. Ele é compridão e tudo, mas não achei que ele tenha jogado bem aqui. Deu para ver que no jogo os técnicos e companheiros não confiaram nele”.

Um consenso entre as fontes consultadas é de que a palavra-chave é “paciência”. Isto é: algo básico para falar de um jogador jovem quem mal é utilizado na primeira divisão do basquete brasileiro. Ao contrário do que afirmou, por exemplo, Dan Barto, o treinador que trabalhou com o brasileiro na IMG. “Ele está longe de ser um produto finalizado. A única questão é se algum time vai ter a paciência para deixá-lo crescer com suas dificuldades iniciais e se desenvolver com tempo de quadra e com seus erros, que não devem ser lá muito divertidos no começo”, escreveu Givony.

O executivo acha que sua cotação “caiu um pouco”, mas que tudo dependia do ponto de vista do observador. Givony, por exemplo, o listava como o 30º prospecto mais talentoso do Draft. Manteve essa posição. Chad Ford, especialista do ESPN.com, o tinha em 74º antes do Hoop Summit, mas agora o coloca como o 56º.

“Nunca estive nessa onda de primeiro round para ele”, diz o scout 2. “Então não foi decepcionante para mim. Ele seria um prospecto de segunda rodada para alguém que se impressione com sua envergadura. Mas posso estar errado, claro. Acredito que vá levar um longo tempo mesmo para que ele possa produzir. O que você vai precisar é de uma equipe que tenha uma vaga aberta no elenco e, ao mesmo tempo, controle seu próprio clube na D-League. Nem sempre é fácil achar isso”, disse o scout 2. “Provavelmente ele não esteja na primeira rodada neste momento, mas nunca se sabe. Ainda acho que seria melhor para ele entrar no Draft e deixar o Brasil. É o melhor para o seu desenvolvimento”, disse o scout 1, com ênfase em “deixar o Brasil”. “Jogar na Europa também não seria uma ideia ruim.”

Alguns pontos importantes para se destacar: percebam que essas são opiniões de algumas vozes no mundo da NBA. Mais de 100 avaliadores da liga estiveram em Portland. As opiniões vão divergir ainda mais se você abrir o leque. Como sempre digo: basta um time se apaixonar por um jogador para toda previsão mudar, e sei que um clube já havia se encantado pelo brasileiro no ano passado, enquanto estudava Bruno Caboclo. Mais: ainda não sabemos quais prospectos exatamente vão concorrer ao Draft e nem a ordem final dos times. Cada detalhe tem influência numa ciranda tão volátil como essa.

Por ora, no entanto, o armador retorna ao país. Nesta segunda-feira, já se apresenta a Marcel de Souza no Pinheiros, com o time enfrentando o Brasília pelos mata-matas do NBB. Também deve participar de partidas do Paulista Sub-19. Depois, ficará no aguardo de convites dos clubes da NBA para os exigentes treinos privados. Etapa na qual o mesmo vice-presidente afirma que será igualmente importante no processo de recrutamento e na qual o brasileiro terá mais chances de mostrar seu potencial. Está cedo ainda, e o tempo sempre estará ao lado de Georginho.

Atualização: recebi neste domingo pela manhã um feedback breve de mais um scout: “Nossa equipe avaliou que ele pode ser uma escolha de segunda rodada este ano devido ao seus atributos atléticos, mas que levaria um tempo para contribuir: coisa de 2 a 3 anos”.


Sumido dos ginásios, de mudança, Magnano reaparece em entrevista. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

A LDB se encerrou nesta terça-feira, em Fortaleza, com o Basquete Cearense sendo campeão, e nada. Ainda pelo mesmo campeonato, foram realizados, na semana passada, dois quadrangulares em São Paulo, e ninguém viu também. Durante transmissões do NBB e da Liga das Américas, nenhuma câmera conseguiu registrar sua presença também.

Rubén Magnano, o treinador da seleção brasileira, está sumido dos ginásios e também andava desaparecido do noticiário. Ao menos agora reaparece para quebrar o silêncio em entrevista para o site da CBB, para explicar o que anda fazendo até chegar o momento de bolar duas convocações para uma Copa América/Pré-Olímpico e o Pan de Toronto.

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Segundo a assessoria da confederação, Magnano compareceu a alguns jogos em São Paulo, sim, no ano passado e tem acompanhado tudo de casa pela TV e também por um programa que lhe permite assistir a todas ligas – muito provavelmente o Synergy. “Felizmente hoje temos à disposição na internet praticamente todos os jogos da Liga de Desenvolvimento e da Liga Nacional. Temos na CBB um programa que nos permite estar muito perto dos nossos jogadores nas ligas pelo mundo”, disse o treinador.

OK, isso é ótimo. Mas, ao mesmo tempo, não passa de dever da profissão, né? E mais: acredito que 10 a cada 10 scouts/técnicos/dirigentes vão dizer que nada substitui a experiência de ver uma partida in loco. Daí o estranhamento por esse chá de sumiço. Até porque Magnano, sabemos, é um junkie de basquete. “Não sei qual o contrato dele com a CBB, mas acho que é um cara que acrescentaria um técnico desse nível assistir ao nosso All-Star Game. Valorizaria o evento”, disse Guerrinha, comandante do Bauru e ex-assistente da seleção, ao VinteUm.

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Muita gente foi ao Pedrocão para ver o Jogo das Estrelas

Detalhe: ao site da CBB, Magnano afirma que vai viajar aos Estados Unidos em abril para falar com a legião nacional da NBA. Esse é um assunto interessante que vale uma abordagem mais detalhada mais adiante. Só fica o registro: a liga americana vai se encerrar em maio para a maioria dos brasileiros que lá estão. Vale a pena mesmo conversar eles de modo antecipado, sem saber o que vai acontecer adiante? Enfim, sigamos em frente. E por que a distinção? Por que a turma em atividade nos Estados Unidos (e Toronto) precisa de um bate-papo, e quem está no interior paulista ou Brasil afora não? Já se sabe absolutamente tudo sobre quem está em quadras nacionais? O que eles estejam sentindo não importa?

“Aqui está a maioria dos jogadores que vai trabalhar com ele, para trocar uma ideia”, afirma Guerrinha. “Também sinto falta dos assistentes dele. É muito importante essa troca. Pois também haveria o diálogo com os treinadores, para saber sobre o que está acontecendo, perguntar sobre o Ricardo, o que estou achando do Alex etc. Ninguém fala nada, ninguém conversa nada.”

Ex-treinador principal da seleção, hoje em Franca, Lula Ferreira foi um pouco mais diplomático quando questionado sobre o assunto: “Para poder emitir uma opinião, eu teria de saber o motivo de ele não ter vindo (ao Jogo das Estrelas). Claro que, analisando teoricamente, você espera que num evento desses ou em jogos do NBB, por ser uma pessoa de peso que pode ajudar no crescimento, como tem ajudado. Mas eu não posso julgar sem saber o motivo. Seria leviano da minha parte”.

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

Do seu lado, a CBB dá a entender que esse período de distanciamento em específico tem a ver com a mudança do argentino para o Rio de Janeiro. Em sua entrevista, o técnico afirma que estava em seu país natal até dias atrás. “Eu vim na semana passada da Argentina, cheguei em São Paulo, peguei o carro e vim para o Rio”, afirmou. Aliás, o presidente da CBB, Carlos Nunes, disse à colega Karla Torralba, aqui do UOL Esporte, que essa mesma mudança seria um entrave para a participação do treinador nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Em julho, no caso – meio longinho, não? Ao site da confederação, Magnano dá uma resposta mais plausível, claro. “Hoje, infelizmente, não tenho como falar onde vou estar, dizer o que vai acontecer com a comissão técnica. A possibilidade é grande de eu não ir ao Pan porque bate com as datas de treinos para o Pré-Olímpico. Mas não posso afirmar porque depois posso ter de desdizer. Essa situação de não ter resposta pode mudar muito nossa maneira de encarar cada torneio. Minha ideia é levar a melhor equipe em cada um. No momento que um torneio bate com a preparação de outro você precisa montar times diferente.”

Para quem não está por dentro, vale o esclarecimento: a CBB ainda nem sabe direito como planejar a vida de suas seleções masculinas para esta temporada, uma vez que a Fiba faz um interessantíssimo jogo duro com a confederação. E aí: vai ter vaga olímpica direta, ou não? A lógica diz que sim: se até a Grã-Bretanha ganhou, por que o Brasil, quinto em Londres 2012, não levaria? O problema, meus amigos, é que há claramente coisas pendentes no bastidor, ainda mais depois que o time de Magnano dependeu de um favor/convite/venda por parte da entidade internacional para evitar um vexame de apenas assistir ao Mundial da Espanha. Aí, sim, da TV, mesmo.

Essa pendenga, porém, não influencia, ou não deveria influenciar no afastamento de Magnano dos ginásios brasileiro. Nem mesmo a mudança, creio. Sabemos que essa história de empacotar as coisas torra a paciência, com todos os detalhes e os cuidados a serem tomados. A correria. Ainda mais quando você está saindo de uma cidade para a outra, e organizando as coisas de um país diferente. Porém, é de se perguntar o quanto demorou tal trâmite. Questão de meses?

Outro ponto que merece o debate: por mais que a confederação esteja sediada no Rio de Janeiro, não seria mais produtivo que o técnico permanecesse em São Paulo, cidade que tem três clubes do NBB e está muito mais próxima de outras tantas no interior do estado? “Quando vim para o Brasil decidi ficar em São Paulo porque era mais conveniente”, diz Magnano.

Agora, ao que parece, a conveniência mudou de lado. “Foi uma decisão (a de mudar-se pessoal combinada com a CBB, focada basicamente em nossas necessidades futuras. Hoje é necessário estar mais perto da CBB e do COB. Tenho um calendário de palestras com o COB muito interessante.”

Palestras com o COB? Epa. Não custa lembrar que é o comitê olímpico nacional que paga o salário do argentino. E não paga pouco. Quer dizer… Há uma gama de interesses aqui a serem atendidos. Como se fosse uma dívida, mesmo. Mas tudo bem: dependendo da agenda do argentino, sobra mais que o tempo necessário para acompanhar a temporada nacional, que já entrou em sua fase decisiva.

Na hora de falar está se passando em quadra, Magnano foi bastante genérico em suas respostas. Da turma da NBA: “Infelizmente o Anderson Varejão se machucou. Havia feito uma Copa do Mundo muito boa. Nenê está jogando em um nível bom. Tiago Splitter voltou bem. Leandrinho não começou bem, mas já melhorou muito”. Do que temos na Europa, registrou que “Augusto Lima está fazendo uma grande Liga ACB na Espanha eRaulzinho e Rafael Luz também” – Augusto já era um dos melhores pivôs da Espanha na temporada passada, diga-se. “E o Marcelinho Huertas é o armador do Barcelona. A equipe está com altos e baixos, mas ele continua sendo o armador de uma grande equipe”, completou, sem dizer que o brasileiro, no momento, perdeu o posto de titular para o jovem tcheco Tomas Satoransky.

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, certo?

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, lesionado, certo?

Sobre a garotada da LDB ou os mais jovens em geral, o argentino se entusiasmou mais um pouco em sua explanação:” Temos muitos jovens fazendo bons trabalhos. O Davi (Rossetto), do Basquete Cearense, é o garoto que mais evoluiu. É um exemplo para muitos jovens que, com trabalho, você consegue chegar ou ficar perto das suas metas. (Henrique), Coelho, do Minas. Gostei muito do que está fazendo nos últimos 50 dias o Cristiano Felício. Melhorou muito. Também tem o Lucas Mariano, Leo Meindl, Ricardo Fischer. O Sualison (Tavares, também do Basquete Cearense) também vem bem. E não podemos esquecer do Bruno Caboclo. Um jogador de futuro na Seleção. Pena que não está jogando tudo que eu gostaria por conta dos poucos minutos em quadra”.

Na hora de abordar os veteranos em atividade no NBB, foi mais evasivo. Disse que “Marquinhos está fazendo um trabalho interessante”. Até aí é o mesmo que dissermos que o Corinthians do Tite “tem defendido bem”. Qual a novidade? O mais preocupante, contudo, foi mencionar logo depois que “Marcelinho Machado “segue como um grande arremessador de três”. Sim, o cara é o bicampeão do torneio de chutes de longa distância, por sinal.

Mas… hã… Estaria o treinador pensando seriamente em mais uma convocação para o veterano ala, hoje reserva flamenguista? De novo: nada contra o camisa 4 num âmbito pessoal, mas levá-lo para mais um torneio não seria uma perda de tempo valioso no desenvolvimento de novas opções, dois anos depois de o veterano ter anunciado que se aposentaria da seleção (só para ser convencido a retornar na temporada passada, depois de ganhar o prêmio de MVP do Final Four da Liga das Américas)?

Para ser justo, Magnano talvez esteja apenas citando um fato corriqueiro para dizer que tem acompanhado as coisas. Ou pode dar a entender também de que as coisas não mudaram tanto assim de um ano para o outro. E, se for essa última alternativa, aí acho que temos um problema. Afinal, a tabela do NBB mostra algumas boas surpresas na parte de cima, assim como o Jogo das Estrelas também já ofereceu alguns nomes um pouco diferentes dos habituais. Nada disso valeria uma citação?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia ver mais de perto?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia vê-lo mais de perto?

De qualquer forma, há mais uma possibilidade que pode atenuar um eventual julgamento precipitado: o argentino obviamente não nasceu ontem e provavelmente não entregaria nenhuma bomba em uma entrevista ao veículo oficial da entidade, assim tão cedo, em março, para não interferir no desempenho de um alvo, digamos, alternativo. Aquela coisa de não mexer na cabeça de jogador e também para não alertar os adversários. Ainda mais se o Brasil tiver de jogar por uma vaga olímpica.

Felício, Fischer, Meindl e Mariano, convenhamos, não são mais segredo para ninguém, nem mesmo para o treinador que já os havia chamado para compor elenco de grupo em jornadas anteriores. Assim como Caboclo, já com seleo NBA. A menção a Coelho e a Davi, por outro lado, é algo que já anima um pouco mais. Não só pelo fato de o os armadores estarem fazendo uma ótima temporada, mas por serem caras que ainda não foram incluídos em nenhuma lista de seleção até aqui – se merecem, ou não, uma vaga, essa é outra discussão, que valeria outro texto, mais trocentas palavras. Os dois seriam de fato novidades e uma prova de que, mesmo distante, o argentino estaria antenado.

Precisa estar, mesmo: num piscar de olhos, a temporada dos clubes vai estar encerrada, e será o momento de anunciar as convocações. Fazer uma lista podendo chamar a cavalaria da NBA é algo relativamente fácil. Quando os caras não se apresentam, porém, pode dar num vexame como o da Copa América de 2013 – formando uma equipe sem equilíbrio nenhum e da qual, de modo absurdo, Magnano procurou se distanciar, lavando as mãos, acusando falta de talento.

Com seu currículo e salário elevado, esperava-se muito mais. Ao menos foi o que o VinteUm cobrou insistentemente na época, sem cair nessa de que só dá para montar uma boa seleção com Splitter & Cia. Isso tudo, claro, pode ser debatido tranquilamente. A ausência do argentino dos ginásios e principais eventos já é outra história. Com o Final Four da Liga das Américas programado para o fim de semana, se apresenta uma chance para retomar o contato com o basquete nacional. E olha que está fácil: os jogos serão disputados no Rio de Janeiro.


Pinheiros x Bauru: pela LDB, um jogo para ser gravado
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Giancarlo Giampietro

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Foi legal ver Georginho, 18, duelando com Guilherme Santos, 17. Talentos que pedem toda a atenção possível

Pode não ter tido prorrogação, ou cesta de três para completar uma virada milagrosa no final, nem nada disso. Também não vi nem 85% das partidas do campeonato como um tudo. Mas me sinto confortável em escrever que é improvável demais que a edição atual da LDB, a liga de desenvolvimento nacional, tenha visto um jogo melhor, de nível superior ao de Pinheiros 83 x 73 Bauru, nesta segunda-feira, em São Paulo.

Tivemos um jogo bastante centrado, mas longe de ser supercontrolado. Houve correria, mas uma correria bem organizada, com os atletas executando com segurança. Em situações de meia quadra, a bola girou de um lado para o outro e foram poucos os chutes forçados, daqueles de tapar o olho. Ao todo, foram apenas 15 desperdícios de bola no terceiro jogo do dia. Se for para comparar, no jogo que fechou a noite, o caos imperou em quadra muitas vezes, e chegamos a 34. E esse nem foi o recorde do dia, que coube a Sport e Limeira, com 35, enquanto Brasília x Basquete Cearense teve 23 – dos quais apenas 8 ficaram na conta da equipe de Fortaleza, diga-se, que chegou ao 24º triunfo consecutivo, com 12 pontos, 8 assistências e 7 rebotes de Davi Rossetto, seu líder.

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Não há como não elogiar o trabalho dos dois técnicos nessa partida especificamente: César Guidetti pelo time da casa e Hudson Previdelo pelo Bauru. Afinal, a presença de jogadores de muito potencial em quadra obviamente não serve como garantia de um grande jogo por estas bandas – quanto mais em partidas de garotos. Os dois elencos estavam recheados de bons valores, mas ainda muito jovens, que precisam de uma condução. Nesta segunda, no “Ginásio Azul” do ECP, foi o que aconteceu, sem momentos de destempero, showzinho, nem mesmo num quarto período tenso, em que os visitantes encostaram no placar perigosamente. Apenas dois caras bem tranquilos concentrados em seus times – não adianta ficar berrando numa LDB.

cesar-guidetti-hudson-previdelo-ldb.jpgAuxiliar de Marcel de Souza no time de cima, César assumiu a equipe Sub-23 na reta final da LDB e não teve nem uma semana de treinos com a molecada. O posto foi aberto devido à saída de Brenno Blassioli, que dirigiu a equipe nas três primeiras etapas da temporada regular e se mudou para a Turquia, acompanhando a esposa Sheilla, estrela do vôlei nacional – na quarta etapa, Zé Luiz, o José Luiz Marcondes, figura importante da base, havia sido o comandante. Importante ressaltar que não estamos falando de modo algum de um técnico novato – César tem vasta experiência nas categorias de base, desde os tempos de Santo André, com clubes ou seleções.

Do outro lado, Hudson, mandou para quadra um quinteto titular para a quadra desfalcado de duas peças importantíssimas em sua campanha: o armador Carioca e o pivô Wesley Sena. A duplinha foi convocada para o jogo do adulto, pelo NBB, contra a Liga Sorocabana, em mais uma vitória arrasadora dos rapazes de Guerrinha. Se o nome deste duelo foi o ala Gui Deodato, que explodiu para 35 pontos numa jornada memorável, vale notar que o trator chamado Carioca saiu de quadra com 12 pontos em apenas seis minutos de ação – sendo que oito deles foram nos lances livres. Wesley jogou por 13 minutos e anotou 4 pontos, mas não apanhou sequer um rebote. Com a lesão de Jefferson William, afastado da temporada por conta de uma infeliz ruptura no tendão de Aquiles, o jovem pivô deve ganhar mais chances. Vamos ver como reage. Os dois desfalques, inclusive, foram mencionados por Guidetti num breve papo depois da partida.

Hudson, por sua vez, não hesitou em falar sobre a estrutura de que o Bauru dispõe – e está desenvolvendo – hoje. Vale uma visita, na certa. Sabemos também que o Pinheiros aposta bastante na formação de base. De modo que não parece coincidência que tenhamos visto um grande duelo entre suas equipes. Durante a temporada, não dá para dizer que esse tenha sido o padrão de ambas, é verdade. Mas, se mantiverem o curso atual nos bastidores, a tendência é que isso possa se replicar mais e mais.

Georginho assumiu a responsabilidade nos minutos finais

Georginho assumiu a responsabilidade nos minutos finais

Em meio a essa organização que deveria servir de exemplo, os lances bonitos por parte dos protagonistas, os atletas, ganharam ainda mais valor – não surgiram a partir de jogadas quebradas e sem defesa recomposta. Um contexto propício para que o talento pudesse entrar em prática. E talento de fato não faltava em quadra. São todos garotos que merecem todo o carinho possível nessa fase importantíssima de desenvolvimento.

Do lado pinheirense, temos Georginho, próximo alvo imediato da NBA no Brasil, atraindo já mais de um terço dos clubes da liga; Lucas Dias, 19 pontos, talvez o cestinha com maior potencial desta nova geração, com um arsenal em constante evolução (ainda falta matar mais bolas em flutuação), cada vez mais propenso a fazer o passe extra e também muito mais ativo na defesa e no ataque aos rebotes; Humberto, que ainda depende muito de sua confiança, de seu conforto em quadra – quando as coisas vão bem, saia da frente; Duval, com sua força física e energia descomunais. Vamos ficar de olho também no caçulinha Cauê, que, na verdade, de “inho” não tem nada – aos 16 anos, entrou na partida apenas no quarto período e ajudou a fechar o garrafão e frear o ataque do Bauru. Sua presença física congestionou a defesa e ajudou a limitar o ataque interior bauruense, que, desta forma, não conseguiu explorar o fato de haver carregado os adversários de faltas.

Biloca, 20 anos, um ala bastante rápido, com belo potencial para defender e atacar o aro

Biloca, 20 anos, um ala bastante rápido, com belo potencial para defender e atacar o aro

O time do interior contou com a estreia de Guilherme Santos, um dos destaques do último Basketball without Borders, camp promovido pela NBA e pela Fiba, em Nova York durante o All-Star Weekend. Ganhando bons minutos, já que Carioca estava longe dali, o novíssimo armador (em diversos sentidos, já que está fazendo a transição para a posição precisamente neste momento) teve pouco de convívio com os companheiros e não foi tão bem no ataque. Mas isso não o impediu de agredir na defesa, pressionando quem quer que estivesse com a bola, incluindo Georginho e Humberto – mais altos e mais velhos. Hoje essa é a principal virtude do garoto de 17 anos. Quem carregou o ataque da equipe foi o ala Gabriel de Oliveira, com 22 pontos. Já é um atleta de 22 anos, de basquete bastante agressivo, buscando as infiltrações – e fugindo um pouco da propensão bauruense para o tiro de fora, somando nove lances livres. Outro que chamou atenção foi o ala Biloca, que tem muita velocidade nos pés e boa capacidade atlética.

Georginho acabou sendo o nome da partida, com um desempenho decisivo muito mais relevante que seus 19 pontos e 12 rebotes. Cheio de confiança, o armador matou 7 pontos nos minutos finais do quarto período, todos eles em arremessos a partir do drible, o que não é um dos pontos mais fortes de seu jogo. Sinal de que vai ganhando confiança e transferindo o trabalho dos treinos para a prática.  Um desfecho apropriado para uma grande duelo, algo que esperamos ver mais e mais por aqui.


Davi Rossetto: longe da vitrine, o amadurecimento e 100% na LDB
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Giancarlo Giampietro

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Quando se viu obrigado a deixar uma vitrine como o Pinheiros para embarcar em um projeto novo como o do Basquete Cearense, muitos poderiam ter olhado para o armador Davi Rossetto e apontado uma baita retrocesso. Ainda mais para um jogador com passagem pelas seleções brasileiras de base e tal.

Pois a mudança não poderia ter encaminhado o jovem paulistano em melhor direção. Longe da casa dos pais pela primeira vez, ele admite que, em Fortaleza, teve um ganho de maturidade que influenciou diretamente na estabilização de sua carreira. “Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra”, diz ao VinteUm.

Agora, de pouco adiantaria esse crescimento fora de quadra se, aos 22 anos, ainda não lhe fosse dada a oportunidade de bater bola com regularidade em jogos oficiais. O que, claramente, é fato raro no NBB 7. Atletas de 23 anos ou menos, ainda em formação, dificilmente veem a luz dos ginásios.

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O clube cearense, nesta edição, se tornou uma das exceções. Só não dá para saber o quanto isso tem a ver com a perda de seu principal patrocinador na virada de temporada, pedindo mão-de-obra mais barata, ou o se o uso mais frequente das revelações já fazia realmente parte do plano de ação.

“Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa”, afirma o armador.

Mais minutos para passar a bola

Mais minutos para passar a bola

Se for para falar do rendimento atual, não há como negar que, com garotos e menos medalhões, o time caiu de modo significativo na tabela. Hoje, ainda tenta entrar na zona de classificação para os playoffs, disputando a 12ª posição com o Macaé, com sete vitórias em 25 jogos (aproveitamento de 28%). Na sexta edição, terminara a temporada regular em nono, com 46,9%. De qualquer forma, as dores enfrentadas nesta temporada podem render frutos mais adiante. Na Liga de Desenvolvimento deste ano, esse núcleo jovem vem arrebentando. Foram 23 vitórias em 23 jogos, para um inédito aproveitamento de 100%. Espanto geral? Não para Davi e seus companheiros: “Vou ser bem sincero: não surpreende”, diz.

Um ponto precisa ser ponderado, é verdade: a média de idade do Basquete Cearense da LDB é bem mais elevada, por exemplo, que a do vice-líder Pinheiros, que venceu 20 partidas. Dos dez jogadores mais utilizados, apenas dois estão abaixo dos 20 anos: o armador Alberto e o pivô Leal. O Pinheiros tem apenas três atletas acima dos 20 em sua rotação regular, estando o trio entre os quatro que menos minutos recebem nesse grupo.

Essa diferença de idade faz diferença, não há como negar. Ainda mais quando se vê a equipe de Fortaleza ao vivo, praticando estilo físico de basquete, marcando com muita pegada para sustentar a melhor defesa do campeonato. Os rapazes sofrem em média apenas 56,0 pontos por rodada.

Victor de Gusmão, Erick Camilo e Davi: base 'experiente' na LDB

Victor Gusmão, Erick Camilo e Davi: base ‘experiente’ na LDB

Agora, isso não é o suficiente para explicar as 23 vitórias consecutivas, né? O técnico Espiga também conta com um entrosamento de sua base, com uma química excelente, sabendo administrar bem os minutos de todos. E tem em Davi um grande assistente na hora de botar o plano em prática.

O armador já vinha fazendo uma boa temporada divisão principal do basquete nacional, em prova clara de sua evolução. De jogador que recebia apenas 8 minutos em média há duas temporadas do NBB, fica em quadra por aproximadamente 32 minutos nesta edição. Melhor: ele vem correspondendo, com 13,1 pontos, 4,7 assistências e 1,2 roubo de bola, todas as melhores marcas de sua carreira.

Na LDB, soma 12,5 pontos, 4,3 assistências, 5,6 rebotes e 1,3 roubo – curiosamente, em menos minutos (27,1). Mas sua influência vai muito além dos números. O que mais chama a atenção em seu jogo: a agressividade na defesa – tem muita velocidade no deslocamento lateral, com excelente preparo físico, colando nos adversários. Ele é a cara do time.

Além disso, consegue controlar o ritmo da equipe no ataque de modo simples e eficiente, característica indispensável para qualquer armador, servindo ao já experiente pivô Erick Camilo, ex-São José e Paulistano, do explosivo ala-armador Victor Gusmão, entre outros. Com esse conjunto e um rendimento impecável até o momento, o Basquete Cearense entra como favorito na segunda fase da LDB, que começa nesta segunda-feira, no Pinheiros, com os oito melhores clubes da competição divididos em dois quadrangulares. Confira a tabela.

Curtindo essa campanha especial, mas sabendo que, sendo jovem, não tem nada garantido pela frente, ainda mais num basquete brasileiro que já maltratou muitas de suas promessas, Davi falou ao blog, esbanjando maturidade:

21: Surpreende chegar ao final da primeira fase de maneira invicta?
Davi Rossetto:
Vou ser bem sincero: não surpreende. No ano passado, a gente teve uma campanha muito boa para um time que tinha acabado de se formar. Treinamos três meses e perdemos quatro ou cinco jogos na fase de classificação. Com a reestruturação do projeto, sabíamos que a ‘minutagem’ no adulto mudaria, saindo um pouco de coadjuvante para protagonista ia ajudar e render frutos aqui. Óbvio que, até por a temporada ser longa, sendo um campeonato com semanas de jogos consecutivos, talvez não esperasse que fosse invicto, mas acreditávamos que poderíamos fazer uma boa campanha e terminar esta fase na primeira posição. Era para isso que a gente vinha trabalhando, então não chega a ser muito surpreendente.

Basquete 100% Cearense

Basquete 100% Cearense

Sobre os minutos no adulto, queria abordar justamente isso com você, que tem o privilégio de desfrutar de um bom tempo de quadra no NBB, algo muito raro no Brasil.
É verdade. O Bial tem como característica gostar de revelar jogadores, dar oportunidade. Nosso time sub-22 é muito aguerrido e enfrenta desafios. Aí acho que a gente acabou conquistando-o. Nesse momento de reestruturação do projeto, com o patrocinador master saindo, a gente soube aproveitar bem o momento. Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa.

Quando você foi para o clube cearense, já tinha em seu horizonte esses minutos a mais? Era algo que vislumbrava?
Claro, a minha ideia quando saí do Pinheiros era ter mais tempo. Era nisso que pensava. Mas, por incompetência minha, não produzi na minha primeira temporada e tive média de apenas cinco minutos. Aos poucos, fui entendendo melhor a minha função, trabalhando mais forte, com mais seriedade. Na segunda, tive 20 minutos e agora já estou próximo de 34. Sei que não é uma coisa habitual, ficar 34 minutos em média, mas é uma coisa que vou levar para a minha carreira inteira. Eu tinha aprimorado várias partes do meu jogo, mas talvez não soubesse bem a hora de usar isso. E essa minutagem maior, atuar com jogadores experientes te traz isso. Tem sido muito importante para minha evolução e maturidade.

Davi Rossetto, Basquete CearenseComo é seu dia-a-dia de treinos?
A gente não tem separação do sub-22 com o adulto. O treino é o mesmo, tudo junto. Normalmente temos um período de treino físico, de academia, e depois um treinamento na quadra. De tarde, vamos para mais um trabalho técnico e tático. Basicamente isso: o trabalho na academia e dois treinamentos em quadra.

Existem exercícios específicos de fundamento para vocês?
Bastante. Separamos os alas e armadores dos pivôs, com a comissão técnica passando para nós esses exercícios para nos aprimorarmos, que vão transferir muito para nós. Tem vezes que é uma sessão extra, com aqueles que tenham jogado menos, ou para aquele jogador que tenha uma deficiência mais específica. Mas, em geral, é o treino que fazemos pela manhã, depois do treinamento físico. De tarde, com o grupo inteiro, nos concentramos mais em questões estratégicas.

Sabemos que no Brasil a transição da base para o profissional pode ser um momento delicado, com vários jogadores tomando rumos diferentes. Como foi esse período para você? Chegou a pensar em parar, ou estava sempre seguro de que era o basquete que queria?
Quando fiz 18 anos, prestei vestibular e comecei a cursar minha faculdade, na EFES, Escola de Educação Física e Esporte da USP. Entrei em 2010, que foi um ano que peguei bastante seleção. Viajei muito, tem concentração, e não consegui ter continuidade nos estudos, até porque a faculdade era integral. Ali tive a dimensão de que não, que era o basquete que queria, que iria até o final. Se não estivesse com a cabeça tão voltada para o basquete, desistiria, sim. Não faria uma coisa meia boca. Não tentaria levar um ou outro nas coxas, como o pessoal fala. Para onde fosse voltar minha atenção, seria 100%. Escolhi o basquete e até hoje não me arrependi mais. Sou jovem, claro, e não descarto que possa me arrepender (risos).

Bom, vai caminhando bem, mesmo. Está satisfeito com a decisão. Embora satisfeito provavelmente não seja a melhor palavra…
Estou feliz. Satisfeito acho que a gente nunca pode sentir. Tem aquela frase de que o animal satisfeito acaba dormindo. O dia em que estiver satisfeito, vou dormir, e alguém vai me passar. Estou feliz e acredito que estou no caminho certo.

Davi Rossetto, CBB, base, Mundial, Sub-19Da sua geração da seleção, qual o panorama agora?
Bom, o Lucas Bebê está na NBA, o Raulzinho foi draftado. Tem o Vezaro, agora em Bauru, que acabou torcendo o joelho. O Felício no Flamengo. Eu e o Taddei aqui. O Gabriel Aguirre está nos Estados Unidos. Leo Meindl em Franca, Bruno no Minas… A geração continua e acho muito promissora ainda. Ficamos em nono no Mundial e pretendíamos mais. Acreditávamos em mais.

Tivemos o exemplo da geração do Mundial Sub-19 de 2007, que tinha o Paulão como um dos destaques, que teve um desfecho bem diferente, com muita gente parando cedo. Daquela para a sua, se passaram cinco, seis anos. Para você, a sobrevivência da sua turma se deve a uma qualidade individual das peças ou a mudanças promovidas no ambiente dos clubes brasileiros?
Acredito que o basquete brasileiro, com a criação da liga de desenvolvimento, dá mais oportunidades para que o jogador tenha uma sequência, tenha mais tempo para fazer a transição. Da nossa geração, por mais que estejam todos jogando, confesso que vejo muitos ainda nessa fase de transição. O Bebê, mesmo, está na NBA, mas ainda está nessa condição. Aquela geração de 2007… Não vou dizer que eram menos talentosos, não. Era uma boa geração, mas que, quando chegou aos 19 anos, ou era profissional, ou tinha de ir para um time mais fraco, uma liga mais fraco, e corriam o risco de desmotivar cedo e parar. Agora temos mais quadra, mais visibilidade e podemos adquirir mais maturidade, e não só no basquete. O que é importante, porque a cabeça de um cara de 19 anos não é nada parecida com a daquele que tem 22. Com 22, você passa mais segurança para quem pode contratá-lo. E a LNB foi fantástica na criação dessa liga. O NBB mais forte também colabora muito para isso, claro. Para que não fiquemos na dependência de uma só geração de jogadores para a seleção e permite que essa troca de faixas seja mais constante.

Se formos comparar você, hoje, ainda muito jovem, mas com maiores responsabilidades no NBB com o garoto que saiu da base do Pinheiros, o crescimento maior é nessa maturidade ou no aspecto técnico? Ou não dá para separar uma coisa da outra?
Na verdade não dá para separar. Um tem influência direta sobre o outro. Mas vou dizer que o que mais me ajudou para mim foi o amadurecimento, mesmo. Mais do que treinar, treinar, treinar, ou jogar, jogar, jogar. Foi refletir, pensar com uma outra cabeça. Sair da casa dos meus pais pela primeira vez, para me deparar com outras situações. Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra. Por isso não dá para separar. Mas, se tiver de destacar, falo do amadurecimento fora de quadra.

Para fechar: o Pinheiros, sabemos, virou uma vitrine não só para o basquete nacional como internacional. Teve o caso do Bruno Caboclo no ano passado, e agora os olheiros de fora estão vindo ver o Georginho, o Lucas. No seu caso, você acabou tendo de sair desse clube. Para muitos, poderia soar como um grande retrocesso. Esse tipo de coisa passava pela sua cabeça? Pois, agora, parece não ter nenhum remorso por essa decisão.
Olha, não sei nem se vai ficar bem eu falar isso, mas o Bruno Caboclo é um menino que hoje está na NBA, mas nem jogava no Pinheiros. Para mim, sempre tive claro que não iria para a NBA. Sabia que, se não tivesse a minutagem, não teria como. Para esses meninos, vejo um potencial fantástico e um trabalho de desenvolvimento muito bem feito. Mas eles não jogam. Tem dias que o Lucas não entra. O Georginho também, estando para ir para a NBA. Na minha reflexão, para ter uma carreira internacional, a ideia era ganhar minutos. No Basquete Cearense, via e vejo tudo o que precisava. O estafe estava comprometido em me fazer melhorar. Teve o desafio de mudar de cidade, algo que me exigia coragem, mas que deveria fazer. Quando converso com o pessoal lá, nunca ouvi que tenha feito uma burrada. Só me parabenizam. Passados três anos, foi o melhor para mim. Cada caso é um caso, mas, no meu, eu tinha de jogar. E veio o Basquete Cearense. Hoje eu me confundo… Olha, parece até o Bial falando (risos). Mas hoje me confundo com o Basquete Cearense. Vejo esses meninos do meu time, penso em defendê-los. Parei de pensar só no Davi e comecei a gostar de defender uma causa, o nosso projeto.


Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
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Giancarlo Giampietro

George Lucas Alves de Paula, o Georginho: 1,95 m, 18 anos, do Pinheiros

George Lucas Alves de Paula, o Georginho: 1,95 m, 18 anos, do Pinheiros

Imagine a cena: a meninada do time mini do Círculo Militar toda eufórica no banco de reservas, achando que o jogo está no papo, que iriam levar aquele quadrangular do Campeonato Paulista. Talvez o primeiro caneco deles, nessa iniciação ao esporte. Estavam na frente no placar, restando poucos segundos para o fim. Aí, de repente, cai aquela bomba, para deixar todos esses mesmos garotinhos de coração partido – o esporte “ensina”, vão dizer os professores. Do outro lado, Georginho sai comemorando pela quadra, irradiante, também sem acreditar. Ele acabara de fazer uma bola de três pontos milagrosa, atirada do meio da quadra. O título era do Associação Clube, de São Bernardo.

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“Foi quando acreditei que poderia ser, mesmo, um jogador de basquete, quando achei que esse era o meu futuro”, afirma ao VinteUm o garoto que hoje defende o Pinheiros tanto no NBB como na LDB – mas especialmente na liga de desenvolvimento. É curioso isso: como, para os atletas, não importando a idade, parece que suas primeiras memórias estão sempre muito distantes, não importando a idade. Cada jogo é uma história, afinal, não? Quando George Lucas Alves de Paula relembra essa jogada mirabolante, parece estar falando de um século passado. Mas foi apenas há seis anos, quando tinha 12.

Georginho, nos tempos de mini, quando foi o melhor jogador do campeonato – em 2009

Recordar é viver: Georginho, nos tempos de mini, quando foi o melhor jogador do campeonato – em 2009

O armador conta que rolou aquela confusão de sempre: o técnico, os meninos e, claro, os pais dos adversários todos reclamando que havia estourado o tempo já, que não deveria ter validado. “Na hora, foi bem, digamos assim, polêmico, mas depois assumiram a derrota”, diz. Seu agente, Eduardo Resende, da EW Sports, completa: “A bola não bateu nem no aro, fui direto, nem tinha o que falar” Aquela coisa: foi um lance tão inacreditável que, depois de passado o susto, o pessoal admitiu que não havia muito o que fazer, que era conceder a vitória, e paciência.

Os ânimos ficaram tão calmos que, mais tarde, o familiar de um de seus amigos do São Bernardo lhe conseguiu a gravação da partida. Gravação feita justamente pelo pai de um dos jogadores do Círculo Militar, que fazia compilações de melhores momentos para os moleques. O armador já assistiu milhares vezes. Recentemente, porém, já não mais o revisita. “Não costumo ver agora mais.  Não sobra tempo”, diz.

>> Leia também: Depois da impaciência, o desenvolvimento para Lucas Dias

Aos 18, Georginho tem uma rotina intensa de treinos no Pinheiros, com até três sessões diárias, dependendo da época, aproveitando-se de uma estrutura exemplar do clube paulista para desenvolver seu imenso talento. Um talento que já o coloca na mira da NBA.

Nesta semana, o armador está jogando em Mogi das Cruzes, com seus companheiros adolescentes de clube, pela quarta etapa da principal competição de base do país. Podem aguardar a presença de diversos scouts da liga americana. Em Nova York, seu nome já era assunto entre aqueles que observam os meninos ainda mais novos no Basketball Without Borders. Muitos tentando aprender a pronúncia correta para Mogi. Sai “Mougui”, invariavelmente. O burburinho só aumentou depois de o DraftExpress, do meu chapa Jonathan Givony, ter feito uma análise detalhada de suas qualidades, virtudes como prospecto. Givony, inclusive, tirou George da projeção para o Draft de 2016, inserindo-o na lista deste ano, como o 27º melhor prospecto.

Antes mesmo de o DX ‘causar’ geral, procurei aqui em São Paulo conversar com diversas fontes que acompanham o progresso desse garoto natural de Diadema. Também tive a chance de conversar por cerca de 30 minutos com o próprio jogador, naquela que seria a primeira entrevista, assim com ares de ‘oficial, exclusiva, de sua ainda incipiente carreira. “Não sei aonde posso chegar, mas sei que posso treinar muito. Não conheço meus limites ainda”, diz. Vamos embarcar nessa, então.

Desafios e facilidades
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A primeira coisa que chama a atenção em Georginho como um jogador de basquete são seus atributos físicos. Estamos falando de um armador de excelente estatura (1,95 m), mãos e braços enormes – “Envergadura dois metros e tralalau”, segundo Marcel  de Souza, o técnico do adulto – e já bastante forte para a idade. É rápido e muito habilidoso com a bola. Seus movimentos, se não tão explosivos, são muito fluidos, naturais, fáceis.

“A primeira coisa que impressiona no George é seu biotipo e sua desenvoltura atlética. Junto a isso vem também sua qualidade técnica. Para um armador alto, tem muita facilidade no controle de bola”, diz Brenno Blassioli, técnico que trabalhou com o garoto nos últimos dois anos no Pinheiros, mas que teve de se desligar do clube para acompanhar a esposa Sheilla, craque da seleção feminina de vôlei, na Turquia. “Ele é um jogador que passa segurança ao técnico na hora da pressão.”

Essa é uma combinação de tamanho e técnica faz do armador uma figura promissora para  qualquer cenário. No Brasil, então, se torna ainda mais anormal. Vai ser muito difícil encontrar jovens jogadores que lhe consigam fazer frente na base. Daí a importância de ele, mesmo que não jogue, treinar com os veteranos, especialmente na atual composição do elenco do Pinheiros, com diversos concorrentes/mentores interessantes. Aos 37, Joe Smith tem mais tempo de carreira do que Georginho tem idade. Seu irmão Jason é absurdamente forte. Jéfferson é bastante explosivo. Paulinho hoje está afastado por conta de uma cirurgia no joelho, mas, em forma, é um pesadelo para ser marcado. O Pinheiros confia nisso: que o mero treinamento diário já vá empurrar o jogador na direção certa, pedindo paciência para quem vê de fora.

Ano a ano no Grande ABCD paulista, até pegar a seleção

“Essa questão é muito relativa”, diz Brenno. “Você pode olhar por outro ângulo e ver que, num clube mais fraco, os garotos treinariam com jogadores mais limitados, criando vícios ruins técnica e taticamente. Hoje, com a LDB, os jogadores mais jovens têm a chance de treinar com jogadores de qualidade no adulto e colocarem em pratica na quadra. Prefiro que o George e Humberto compitam pela posição de Jeferson, Joe e Jason do que entrarem numa zona de conforto num time mais fraco.”

Essa competição vai, invariavelmente, forçar que qualquer jogador se aprimore. Quanto a isso não há dúvida, ainda mais para alguém que sabe ouvir bastante – e ainda que não represente exatamente os mesmos desafios de se ir para a quadra em jogos oficiais. “É muito bom estar na quadra com eles. O Joe, mesmo, é um cara que me dá muitas dicas, aprendo muito com ele. É um desafio para mim ter de conseguir marcá-los. Dá para tirar muito dessa experiência. Consigo pegar coisas que eles fazem contra mim e aplicar contra os da minha idade”, diz Georginho.

Em quadra na LDB ou pelo Sub-19, você vai ver o armador se impor fisicamente, atacando o aro, invadindo o garrafão com tranquilidade. Até por isso, há quem questione se o garoto vai se desenvolver como um armador completo, mesmo. Gente com receio de que ele possa terminar como um ala pontuador. Dos jogos a que assisti e por tudo o que ouvi das fontes diversas, só mesmo um acidente o empurraria nessa direção limitada. “No ano passado foi a primeira vez que ele jogou com atletas da mesma qualidade técnica, então o trabalho principal dele era fazer Lucas, Humberto e o Wesley jogarem, sem perder sua agressividade”, diz Brenno.

“Ele está longe de ser um puro armador, pelo fato de ser um bom finalizador. Porém, tem melhorado muito em sua visão de jogo. Foi o que mais trabalhei com ele ano passado. Está no caminho certo, mas precisa ainda melhorar muito mais. No basquete de hoje é muito difícil um puro armador ter sucesso se não tiver finalização. E ele tem tudo para representar um modelo de armador moderno, que é o combo guard“, detalha o treinador, numa excelente entrevista, diga-se.

Triplo-duplo
Falar em jogador completo, capaz de executar diversas tarefas em quadra, é algo que só vai agradar a Marcel, hoje em sua primeira temporada como treinador do time principal do Pinheiros. Ainda que não dê muito tempo de quadra para o jovem armador, o ex-jogador da seleção brasileira não esconde sua admiração pelo seu talento. Estão preparados?

 Georginho, George Lucas de Paula, Pinheiros, NBA Draft, prospect“O Georginho vai ser o novo Magic Johnson. Não vou falar mais nada”, afirmou Marcel, ao VinteUm. É o tipo de declaração que pode fazer um estrago, né? Então, depois da conclusão da resposta, fiz questão de perguntar ao técnico que história era essa de Magic Johnson, e ele respondeu: “Anota, e depois vamos ver.”

Agora, antes que coce a vontade de sair tuitando por aí essa declaração, é melhor entender, enfim, o que Marcel estava pensando. O treinador se referia ao tipo de jogador que Georginho pode virar, e não, sobre o jogador que vai se tornar: “Ele cobre várias funções, marca qualquer um e tem tudo para ser um triple-double de média. Teve um dia em que cheguei e falei para ele isso, que só era para voltar a falar comigo quando fizesse um triple-double. Tem de dar meta para o jogador”, afirma.

Pois, na volta de Joinville, depois da segunda etapa da LDB, o armador tinha uma notícia para o treinador: havia somado 11 pontos, 10 assistências e 10 rebotes em triunfo sobre o Grêmio Náutico União. “No dia que voltei de viagem, nos encontramos no clube, e ele perguntou se eu estava bem. Só respondi: ‘triplo-duplo’. Acho que ele já estava sabendo (risos)”, conta, sorridente. Marcel adora. “Ele tem potencial para fazer isso. O último jogador que vi atingir isso de média no juvenil foi o Dedé, hoje treinador do Limeira: passava, pegava rebote, chutava, tinha leitura de jogo. O Georginho é assim.”

Nesta terça-feira, aliás, em Mogi das Cruzes, Georginho repetiu a dose e conseguiu o segundo triplo-duplo da carreira, com 14 pontos, 10 rebotes e 10 assistências em vitória sobre o Joinville.

Da sua parte, mesmo que não seja utilizado na rotação do time principal, o jovem armador reconhece alguns benefícios de se trabalhar com uma lenda do basquete brasileiro feito Marcel – e sua tentativa de incentivar um basquete mais orgânico, menos ensaiado no Pinheiros.

“Todo mundo conhece a história do Marcel, sabe o que ele conquistou. De todos os técnicos que tive até agora, ele tem a visão mais diferenciada. É bom ter um técnico que vê por outro lado. Ele pede para a gente apostar no sistema. Ele aposta 100% no sistema, não gosta de chamar jogadas que possam auxiliar durante o jogo. Ele tem uns ataques que fala que são propositais, para desestabilizar os outros times. Dá uns treinos diferentes, são mais livres. Vou ficando mais versátil com isso.”

A ideia é desenvolver diversas facetas de seu jogo, no fim. E pensar que nada disso poderia valer de nada. Se os planos lá atrás tivessem dado certo, Georginho poderia ser hoje uma promessa do… Vôlei brasileiro.

Outras quadras
Georginho tinha “de sete para oito anos” quando seus pais, Maurício e Suzana, acharam que era uma boa hora para iniciá-lo no esporte. Foram até um clube municipal em Diadema, na Grande São Paulo, para ver o que havia disponível de atividades para meninos da sua idade. Talvez para decepção deles, não havia aulas da modalidade que praticavam como profissão. O vôlei.

“Eu ficava sempre com eles brincando na quadra. Aí fui atrás de treino, mas não encontrei num poliesportivo que tinha no bairro aonde eu morava. Mas tinha basquete, e meu pai havia jogado basquete até os 18, quando optou pelo vôlei. Então já tinha um pouco de vontade de conhecer também”, diz a revelação pinheirense. Azar do vôlei, que perdeu aquele que poderia ser um belo ponteiro de 1,95 m, sorte do basquete que ganhou um armador de tremendo potencial. E “nenhum arrependimento” da parte do garoto.

Notícia no agora precioso blog da ABA-SBC, a Associação de Basquete de São Bernardo do Campo

Notícia no agora precioso blog da ABA-SBC, a Associação de Basquete de São Bernardo do Campo

Ter pais ex-atletas pode ser um privilégio para qualquer atleta infantil – desde que não haja cobrança excessiva, ou, em casos mais graves, aquela necessidade de tentar fazer do filho a realização de sonhos frustrados do passado. No caso de George, a relação é benéfica.  “Eles sempre me dão conselhos, quando chego estressado ou chateado com alguma coisa. Podem não entender o basquete como entendo, mas a parte psicológica de qualquer esporte é muito parecida”, diz.

Progredindo bem nos primeiros anos, o próximo passo foi procurar uma estrutura melhor. Passou a jogar, então, pela Associação dos Funcionários Públicos de São Bernardo, como a criançada do Círculo Militar bem soube depois. Ficou lá até os 16, em 2013, quando chegou ao Pinheiros, clube no qual iria encontrar, pela primeira vez, jogadores da sua idade com o mesmo nível de jogo. Antes, estava habituado a resolver as coisas por conta própria em quadra. Hoje, está com os estudos parados, somente se dedicando ao esporte. “É algo totalmente diferente para mim. Fico mais afastado da família, vejo meus pais nos finais de semana que tenho livre, mas meu foco mudou completamente. Agora estou voltado 100% ao basquete.”

No Pinheiros, você só vai ouvir maravilhas sobre o empenho de Georginho numa rotina longa de treinos. O menino, se puder, vai dormir no ginásio – e é quase isso, mesmo, que acontece, já que divide um flat com seus companheiros a poucas quadras do clube. “Alguns dias estou bem cansado, mas aí tem de tirar forças de outro lugar. Esqueço que estou com uma ou outra dor porque preciso continuar treinando”, diz. E pode botar uma ênfase em “preciso” aí. No final do ano passado, o armador estava jogando o Paulista Sub-19, a LDB e, digamos, acompanhando, treinando com a equipe adulta. Além disso, realiza trabalhos específicos de fundamento com outros garotos, sob a orientação de Bruno Mortari.

“O Georginho é um dos que mais me encanta, mas não só pela habilidade. Encanta tanto como pessoa como pela vontade que ele tem de melhorar seu jogo no dia a dia, e o Pinheiros dá para ele toda a estrutura necessária para crescer”, diz o veterano ala-pivô Felipe Ribeiro, desses casos que chegou ao profissional sem nem mesmo ser burilado em categorias de base.

Fala, caboclo
Essa coisa de ser um rato de ginásio é um dos tantos paralelos que vamos encontrar na sua história com a de Bruno Caboclo. Os dois, que são muito amigos, por sinal, jogavam em clubes menores da grande São Paulo até chegarem ao Pinheiros. Extremamente dedicados e apaixonados pelo esporte. “O Bruno conseguiu chegar aonde está com muito trabalho. É uma coisa na qual posso me espelhar. Treinar muito forte o tempo inteiro.”

Outro ponto que une os dois? Ambos não são de falar muito. São bastante tímidos.

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Georginho também sabe sorrir

Em alguns momentos durante nosso bate-papo, George ficava um pouco quieto e parava um pouco, antes de começar ou terminar uma resposta. Diga-se nada parecido como aquela ocasião em que Bruno empacou diante de um repórter do SporTV nas finais da LDB do ano passado. E aí, quando você pega a gravação, porém, se depara algo interessante: ele pode não ficar muito de lero, mas diz aquilo que julga necessário dizer. Vai direto ao ponto.

Em quadra, essa é uma, hã, questão que também se manifesta. O armador não vai ficar gritando o tempo todo, dirigindo os companheiros com discurso. Não é um líder vocal como muitos podem esperar para a posição. Seria uma espécie de líder que dá o exemplo pelo que faz em quadra, pelo modo como se comporta. Mas é algo que vem sendo trabalhado.  “Fiquei contente com a evolução do George ano passado nessa área. O mais importante eu já coloquei na cabeça dele: jogador que não se comunica, não joga. Houve várias situações várias situações em que ele se comunicou de forma positiva, e os companheiros respeitaram. Naturalmente, ele irá ser um líder”, diz Brenno. “Nos times anteriores em que esteve, ele sempre jogou ‘sozinho’, então não precisava estimular a parte da comunicação. Líder silencioso não existe na minha opinião, por mais que ele de bom exemplos, vai haver horas em que ele vai ter que se comunicar se quiser jogar em alto níel, especialmente por ser um armador.”

Agora, existe aquele dilema também: Georginho tem apenas 18 anos e treina com marmanjos. Se, como armador, precisa falar, como seria na hora de lidar com gente muito mais rodada que ele? No começo, na dúvida, ficava de bico calado, mesmo.  “Eu era muito fechado, e eles brincavam que eu não falava, me enchiam o saco por ser muito quieto. Hoje estou brincando mais com eles, e acabo apanhando. Acho que é melhor assim.”

Exposição
No que Georginho e Caboclo divergem em suas trajetórias? Na mesma idade, o armador tem muito mais experiência internacional. Antes de ir para a NBA, Bruno Caboclo não jogou sequer por uma seleção nacional. Seu contato com o mundo lá fora havia sido se limitado ao Basketball without Borders das Américas em Buenos Aires, em 2013, e a bons minutos contra um time colombiano pelo Pinheiros na Liga das Américas. Duas boas competições, mas que não tem o peso de um torneio de seleções.

George, por outro lado, já disputou três campeonatos nessas condições. O primeiro foi o Sul-Americano Sub-17 de Salto, no Uruguai, em 2013. Que já serviu para lhe mostrar algumas coisas logo de cara. “Eram 18 jogadores convocados e já tinha uma competição interna muito forte, treinos mais puxados, para definir o grupo”, diz. O time ficou com a terceira posição no torneio, perdendo para a Argentina na semifinal. Valeu a classificação para a Copa América sub-18, em 2014, em Colorado Springs (EUA). E aí veio um tapa na cara.

“O primeiro jogo foi contra o Canadá, e foi o primeiro impacto que tive contra jogadores de nível internacional. Era muito diferente fisicamente, acho que não esperava tamanha superioridade deles”, disse. “Eles eram superiores em um pouco de tudo. Os jogadores do Canadá estão, em sua maioria, nos Estados Unidos. A gente sentiu essa diferença na formação para a deles.”

O armador admitiu também que entrou um tanto tímido em quadra. Aos poucos, se soltou durante a competição em que o Brasil foi um fiasco e, a despeito da campanha frustrada, foi um dos melhores jogadores do torneio, ao lado do ala Wesley Mogi, do Paulistano. Foi lá que entrou oficialmente para a lista de prospectos a serem observados pelos olheiros da NBA. Tão ou mais relevante, o garoto descobriu que existia outro nível de habilidade e intensidade para ser atingido: “Percebi que não posso levar como parâmetro bater só os jogadores daqui, que não vai ser suficiente. Tem que fazer algo a mais para superar os canadenses e os dos Estados Unidos”.

Quando retornou aos Estados Unidos em agosto, em Chicago, Georginho confirmou as expectativas na disputa do Nike Global Challenge, já muito mais solto e agressivo desde o princípio. “Na Copa América havia times fracos e três muito fortes (EUA, Canadá e Argentina). No Global Challenge, eram quase todos do mesmo nível (três eleções regionais americanas, Canadá, China e um combinado africano), dois ou três um pouco acima. Então tinha a possibilidade de ganhar ou perder de qualquer um. Foi legal para ver o que eu poderia fazer numa segunda chance”, diz.  Foi lá que ele fez isto aqui:

As exibições de talento natural vasto a ser explorado e a combinação com a incrível história de Bruno Caboclo e o Toronto Raptors acabou, então, invertendo a ordem das coisas. Agora não é mais Georginho que precisa ir ao encontro dos Estados Unidos. Os olheiros de lá já estão vindo ao seu encontro.

Eles chegaram
Segundo consta, até esta semana, ao menos quatro clubes já haviam viajado ao Brasil para ver de perto o armador. O último havia sido o Sacramento Kings, representado pelo Hall da Fama Mitch Richmond, com quem me deparei no ginásio do Pinheiros. Isso apenas nesta temporada, já que, em 2013-2014, já tivemos clubes por aqui para assistir e até aplicar treinos para Bruno Caboclo e seus antigos companheiros – os famosos workouts. Depois de muito tempo, o fenômeno Caboclo fez a NBA reabrir os olhos para o mercado de jogadores brasileiros. Como sabemos, isso aqui é uma mina de ouro em termos de capacidade atlética, atributos físicos. Resta saber explorar e aproveitar – algo que boa parte dos clubes daqui mal faz. Hoje, conto apenas 11 garotos sub-22 com mais de 10 minutos em média na liga nacional.

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Na LDB, sua imposição física incomoda os adversários

Georginho tem idade para se declarar a um Draft cuja classe de armadores, segundo todos os avaliadores de talento com quem falei em Nova York, é muito fraca. No topo, D’Angelo Russell e Emmanuel Mudiay são unanimidades. Depois, porém, não despontam muitos os atletas da posição com muito prestígio no momento. Os scouts vão alternar entre o calouro Tyus Jones, de Duke, e os veteranos Jerian Grant, de Notre Dame, e Delon Wright, de Utah. Há, então, uma óbvia lacuna a ser preenchida, especialmente para times que estejam selecionando na parte final da primeira rodada do Draft e estejam interessados em um armador.

De qualquer forma, acreditem, ainda está muito cedo para ir além nesse tipo de especulação. Georginho, primeiro, tem uma LDB a cumprir, na qual joga por um dos favoritos ao título – em que pese a derrota no fim de semana para o Sport, apenas a segunda nos primeiros 18 jogos. O campeonato paulista Sub-19 também vai começar em breve, ainda que o esfacelado site da federação estadual não nos ofereça dica nenhuma de quando vai ser. Melhor ele aproveitar ao máximo essas duas competições, mesmo, para se desenvolver e mostrar serviço. NBB? Por ora, algo muito difícil de acontecer: só foi acionado por Marcel em quatro partidas, sempre com o resultado decidido, acumulando 21 minutos de rodagem.

Na LDB, após as três primeiras etapas do torneio, teve médias de 11,4 pontos, 5,5 rebotes, 3,8 assistências e 2,01 roubos de bola em 26,4 minutos, com aproveitamento de 60,7% nos arremessos de dois pontos e 29,2% de três. Em geral, divide a responsabilidade de armar o time com Humberto Gomes, de 19 anos – também um prospecto para a liga, ao meu ver, que pode pegar carona nessa caravana. Além disso, Lucas Dias fica muito mais tempo com a bola do que no time adulto. Nas duas primeiras partidas em Mogi, teve os altos e baixos normais. Contra o Sport, domingo, atingiu seu recorde pessoal de pontos: 34 pontos em 38 minutos, em derrota na prorrogação. Acertou impressionantes 6 de 13 chutes de três pontos. Na segunda-feira, contra o Minas, o Pinheiros venceu, e o armador esteve mais contido, com 9 pontos em 24 minutos, sofrendo muitas faltas dos adversários (nove no geral), tendo arremessado apenas sete vezes. Foi Humberto que roubou a cena aqui, com 20 pontos em 25 minutos.

Depois da LDB, cuja fase final, com os oito melhores classificados, ainda não tem data, nem sede anunciada, tem o Paulista. Mas o compromisso mais importante para o futuro imediato do brasileiro será o Nike Hoop Summit, em abril. O tradicional evento realizado em Portland reúne invariavelmente os melhores prospectos do mundo todo e dos Estados Unidos. Andrew Wiggins, Nicolas Batum, Dennis Schröder, Tony Parker, Dirk Nowitzki, Dario Saric e até Marquinhos já deram as caras por lá. Georginho foi convidado para a edição deste ano.

Se aceitar, será rodeado por alguns dos melhores jogadores de sua idade,para uma semana toda de treinos, antes de enfrentar os destaques do high school americano. De acordo com os scouts, este evento pode ser crucial nas pretensões de Draft. Se for bem, não só se fixaria como um candidato a primeira rodada, como teria chance de elevar sua cotação até mesmo para um top 20. Se o seu rendimento não for dos melhores, aí, talvez, o ano de 2016 fique algo mais plausível. É tudo muito volátil, porém. Como dizem: basta um time se apaixonar para que qualquer previsão vá para o espaço, como a história de Toronto e Bruno nos mostrou.

Com tanta coisa grande (já!) pela frente, é natural, mesmo, que Georginho deixe de lado aquele DVD de sua primeira grande cesta. Afinal, ainda tem muito o que fazer em quadra, para produzir mais e mais clipes. “Meu sonho eu consigo alcançar com dia a dia de treino, competições e disputas”, afirma. “Antes do Bruno, acho que isso era uma coisa completamente distante para nós. Com esse avanço dele, acho que ficou uma coisa, se não mais próxima, mas que acreditamos que dá para alcançar.”


Jovem armador brasileiro se apresenta com sucesso a olheiros em NYC
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Giancarlo Giampietro

Guilherme Santos e Tiago Splitter: 13 anos de diferença

Guilherme Santos e Tiago Splitter: 13 anos de diferença

Ao pisar em um dos ginásios do Baruch College, em Nova York, para ver as atividades do Basketball without Borders, tinha poucas referências sobre quem seria Yuri Sena, 17 anos. Sabido que se tratava do irmão mais novo de Wesley Sena, com quem foi do Palmeiras para o Bauru, com uma passagem abrupta para testes pelo Saski Baskonia, da Espanha, vulgo Laboral Kutxa, no meio.

De Guilherme Santos, também de 17, porém? Não havia ouvido falar nada e nem deu tempo de fazer uma pesquisa mais apropriada antes do embarque para os Estados Unidos. Quem eu consultei por aqui também não soube dizer muita coisa. O que tinha até, então, era que ele havia acabado de assinar com o mesmo Bauru, saindo de Barueri, o mesmo clube que trabalhou com Bruno Caboclo antes de este sair para o Pinheiros e, depois, para Toronto. Mais jovem e mal jogou com o ala do Raptors por lá.

>> Leia também: Agora veterano, Splitter se admira com ‘surgimento’ de revelações no Brasil
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Então era a hora de saber quem era o garoto. Ao lado de muitos, mas muitos olheiros e dirigentes da NBA, como RC Buford, gerente geral do Spurs, David Griffin, gerente geral do Cleveland Cavaliers, Sam Hinkie, gerente geral do Philadelphia 76ers, e Masai Ujiri, homem reponsável pela seleção de Caboclo em Toronto. Sem contar Nikola Vujicic, diretor do Maccabi Tel Aviv, e outros cartolas europeus.

A impresssão foi positiva. “Ele foi uma grata surpresa”, afirmou ao VinteUm o chapa Jonathan Givony, o cara por trás do DraftExpress, o site mundial mais influente quando o assunto são as revelações do basquete. “Eu o desconhecia totalmente também. Ele fez um ótimo camp para mostrar seu talento. É um armador de jogo muito leve e que pode jogar em diferentes velocidades e vai especialmente bem quando em transição.”

Para apresentar seu cartão de visitas, Guilherme, de 1,92 m, teve a chance de jogar com três dos atletas mais renomados na lista geral: o croata Dragan Bender, MVP do camp e o mais perto de um grande craque garantido ali, o armador canadense Jamal Murray, com quem dividia a quadra nos momentos decisivos, e o pivô australiano Isaac Humphries, um legítimo pivô de 2,13 m, que deve causar bom impacto o momento que for jogar na NCAA. Os três devem, cedo ou tarde, aparecer na NBA. O que, naturalmente, resultou em maior atenção para sua equipe, que jogava em nome do Houston Rockets, dirigida por Matt Buser, um dos assistentes de Kevin McHale.

Dá para dizer que essa versão alternativa e fraldinha do Rockets venceu muito mais jogos do que perdeu no decorrer dos três dias do evento. Não que isso importe para muita coisa. O que todos estavam querendo ver ali era como cada garoto se comportava num ambiente desafiador por diversos sentidos, especialmente por estarem enfrentado a elite da categoria (embora alguns jogadores tenham sido proibidos por seus clubes de viajar), num ambiente de, sim, pressão.

“Digo a eles que já passei por isso, esse tipo de treino, com muita pressão. Falo para eles apenas irem para a quadra, fazerem o que sabem, para curtir o momento”, disse Tiago Splitter, que compareceu justamente ao terceiro dia de atividades, para contar algumas histórias para a garotada. “Sei que é difícil fazer isso, afinal, para muitos, o futuro está na mesa, precisando jogar bem. Mas ao se tornar um jogador profissional, essa pressão existe em cada jogo. Então pelo menos já se adaptam a isso. Gostaria de ter mais tempo para trabalhar com eles.”

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Para alguém que disputava apenas seu segundo evento internacional e que pouco fala inglês, Guilherme se mostrou bastante confortável. Bastante, mesmo. Era como se estivesse no quintal de casa. Comunicativo – não me pergunte como – e com uma energia contagiante, evidenciada por seu empenho nos treinos de fundamento. Sempre saltitando e dando até um jeito de furar a fila quando um companheiro aparentava cansaço e hesitação, para receber a bola novamente e partir para o abraço.

Essa eletricidade toda se traduziu para os jogos. Com envergadura, força física e muita agilidade no deslocamento lateral, pressionava demais o drible dos adversários em marcação adiantada, forçando turnovers seguidos ou ao menos desequilibrando qualquer orquestração ofensiva que o menino rival tivesse em mente. Isso aconteceu em especial no segundo dia. Foi impressionante. Quanto mais sucesso teve, mais Guilherme ganhava confiança e acelerava seu passo. “Dá para ver que ele é um cara dedicado nos dois lados da quadra e tem um nível de energia excelente”, disse Givony.

No ataque, deu para notar um jogador bastante tranquilo com a bola, com excelente drible e velocidade para atacar a cesta. No garrafão, quando corta pela esquerda, ainda foge da canhota na hora de finalizar. O arremesso dele ainda sai um pouco baixo e os braços se elevam um pouco inclinados demais para a frente, dando mais chance para que os oponentes o bloqueiem, ou atrapalhem. Não aconteceu nos momentos em que o observei.

(Durante o camp, na hora dos jogos, duas quadras paralelas ficavam ocupadas. Os jogadores são substituídos de cinco em cinco minutos, saindo praticamente todos de uma vez, para que cada inscrito tenha chances de mostrar serviço. Então o ritmo é frenético, com muitos jogadores para serem observados. Não dá para – e seria um desperdício – grudar os olhos num só atleta.)

Seu chute, ainda que com essa mecânica, até caiu com boa frequência. Mas, num nível mais alto de competição, pode ser um problema. Na avaliação dos scouts com quem conversei, é algo de fácil correção. No artigo, só dou aspas para Givony, pelo simples fato de os olheiros não poderem se pronunciar oficialmente sobre os chamados underclassmen, os jogadores que não estão na liga e nem passaram pela fase de Draft.

Agora, os cuidados devidos: foram só três dias de atividade, ainda que o fato de ele já ter sido o melhor jogador do All-Star do BwB das Américas do ano passado, no Canadá, seja outro ótimo sinal. Ele tem apenas 17 anos, como a grande maioria dos que ali se apresentaram. Todos cheios de inconsistências, longe de estarem formados tecnicamente.

Guilherme pode por vezes demorar para passar a bola. Quando tenta acalmar as coisas, como aconteceu na hora do primeiro jogo do domingo, teve uma partida praticamente nula. Estava num ritmo mais lento, apenas conduzindo a bola. Nesse contexto, isso dificilmente vai acontecer. A não ser que estejamos falando desse tipo raro de jogador que lê o jogo com uma fluência de veterano desde os anos de chupeta, como o Kendall Marshall de North Carolina. Não é o caso de Guilherme. Não é o caso de mais de 90% dos atletas na sua posição. Essas coisas se desenvolvem com o tempo.

Yuri Sena ao centro. De vermelho, Matt Buser orienta seu time

Yuri Sena ao centro. De vermelho, Matt Buser orienta seu time

No BwB, os meninos passam quase todo o tempo de treino em trabalhos específicos de fundamentos, para passe, finalização, defesa, cortes para a cesta e movimentação fora da bola/espaçamento. Os times mal treinam juntos, antes de a bola subir. Os técnicos têm tempo de passar uma ou outra jogada, que servem muito mais para se avaliar a capacidade de execução e improviso deles, do que para vencer uma partida. Além disso, cada quinteto assimila jogadores do mundo todo.

No segundo jogo do domingo, o jovem brasileiro já havia voltado ao modo turbo, agredindo desde o princípio. Obviamente havia tomado uma chamada do técnico. Depois, algo que fui descobrir por lá, em papos informais com o garoto e com gente da liga, é que ele, até o ano passado, jogava muito mais fora da bola – vá lá, como um “2” do que como um armador com mais responsabilidades com a bola. Uma informação valiosa para entender essas dificuldades e que torna o que ele mostrou em NYC algo mais interessante ainda. “Ele tem de continuar treinando seu arremesso e sua habilidade como criador de jogadas, mas ele nos mostrou alguns lampejos legais, no ataque e na defesa, que nos fazem acreditar que ele pode virar um bom jogador. Ele tem um futuro legal pela frente.”

Guilherme é um jogador que efetivamente entrou no radar da NBA. O que, de novo, não garante nada. “Quando tinha 17 anos, estava jogando na Espanha e as pessoas começaram a falar sobre mim como jogador de NBA. Já era profissional na Espanha, estava ciente disso, mas só fui entrar na liga aos 25 anos. Levou um bom tempo entre o momento que começaram a olhar para mim e a hora que cheguei para jogar aqui. Você tem de ser paciente”, diz Splitter, que, na verdade, não pode ser comparado com ninguém. Desde muito cedo, foi visto corretamente como um prodígio, alguém com uma maturidade e jogo muito evoluído para alguém de sua idade. Não é o caso de seu compatriota 13 anos mais jovem.

* * *

Sobre Yuri, é preciso dizer: se a vida de armador num camp destes não é fácil, para o pivô fica mais difícil ainda. Os grandões podem passar minutos e minutos sem nem mesmo ser acionados no ataque. Mais: esta foi a estreia internacional do garoto. Demorou um pouco para se aclimatar, como ele mesmo admitiu.No terceiro e último dia, estava bem mais solto no ataque e conseguiu se estabelecer como uma boa opção no jogo dentro da zona pintada, quando lhe passavam a bola.

De certa forma, Yuri, de 2,07 m, lembra, e muito, seu irmão. É comprido e magro. Tem um corpo que lhe permite jogar dentro e fora do garrafão. Sua predileção é ficar mais perto da cesta, mesmo. Tem um trabalho de pés ágil e consegue girar bem para os dois lados, finalizando também com a mesma eficiência com ambas as mãos, algo que, creiam, é uma raridade mesmo num seleto grupo desses.

A impressão que me passou é a de que o garoto ainda está tentando se sentir confortável com seu corpo em quadra, que talvez esteja em plena fase de crescimento. Impressão que também pode ter a ver com algo que o pivô contou: era para ele também ter jogado no ano passado, ao lado de Guilherme, na edição americana do BwB. Devido a uma lesão no pé, acabou não acontecendo. Ficou dois meses fora de ação.

Yuri tem as pernas bem compridas, o que é uma vantagem e salta aos olhos mesmo no jogo de transição. Mas sua base corporal ainda é fraca. O que dificulta o jogo de costas para a cesta contra adversários mais fortes, físicos.

* * *

Como dito aqui, tanto Guilherme como Yuri estão no Bauru, o time do momento no basquete brasileiro. NBB, para eles, a gente pode esquecer. O curioso é saber como o clube vai se comportar com eles em relação à LDB. Nem mesmo isso parece garantido, já que há uma série de atletas mais velhos, que mal veem a quadra no conjunto de selecionáveis de Guerrinha, para serem aproveitados.

Na armação, o time pode usar, por exemplo, Rafael Carioca – que é muito mais explosivo e forte que Guilherme, sendo quatro anos mais velho. Já Yuri poderia jogar ao lado do irmão Wesley, o que seria bem interessante. Pelo fato de terem perdido os primeiros jogos desta quarta etapa disputada em Belo Horizonte, dificilmente serão aproveitados agora. Para a fase final? A expectativa é que sim. A ver.

* * *

Ayán (d) e Maximo, promessas argentinas

Outro talento meio-brasileiro chamou a atenção no BwB em Nova York: o ala-armador Ayán Nuñez Caravalho. Sim, Carvalho: seu pai é brasileiro, a mãe argentina. Ele foi inscrito como argentino. É um jogador de vigor físico intrigante, belo arremessador, boa impulsão e muita agilidade. Dos três vizinhos que estavam por lá, foi o que mais chamou a atenção. O ala-armador Maximo Fjellerup também tem prestígio e possui um jogo mais veterano do que a média, aproveitando ou criando brechas na defesa para pontuar e passar. Mas não fez um camp muito bom no geral, um pouco fora de sintonia, forçando muitas jogadas de efeito. Também jogou por lá o ala Agustín Mas Delfino, que é forte para burro, sólido, mas tem um basquete, digamos, terreno que limita suas opções profissionais por ora. Acho que ainda pode fazer algo na Europa, mas, hoje, é difícil imaginá-lo na NBA.

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Um consenso: o nível do BwB deste ano foi bastante elogiado. Foi uma safra muito generosa, claro que pelo fato de reunir talentos do mundo todo pela primeira vez. Além de Bender (que é um prospecto de fazer cair o queixo, gente, e sobre o qual se encontra informação por aí na rede já de monte, incluindo vídeos), Murray (idem), mais alguns nomes para se monitorar: Silvio de Sousa, Angola, 16 anos, 2,03 m – um ala muito forte e atlético, com bom drible; Thomas Wilson, Austrália, 17 anos, 1,92m – depois de Murray, o melhor armador natural do camp; Yanhao Zhao, China, 17 anos, 1,95 m – um ala-armador muito rápido, atrevido e talentos com a bola.


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