Vinte Um

Arquivo : Marcel

Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

George Lucas Alves de Paula, o Georginho: 1,95 m, 18 anos, do Pinheiros

George Lucas Alves de Paula, o Georginho: 1,95 m, 18 anos, do Pinheiros

Imagine a cena: a meninada do time mini do Círculo Militar toda eufórica no banco de reservas, achando que o jogo está no papo, que iriam levar aquele quadrangular do Campeonato Paulista. Talvez o primeiro caneco deles, nessa iniciação ao esporte. Estavam na frente no placar, restando poucos segundos para o fim. Aí, de repente, cai aquela bomba, para deixar todos esses mesmos garotinhos de coração partido – o esporte “ensina”, vão dizer os professores. Do outro lado, Georginho sai comemorando pela quadra, irradiante, também sem acreditar. Ele acabara de fazer uma bola de três pontos milagrosa, atirada do meio da quadra. O título era do Associação Clube, de São Bernardo.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

“Foi quando acreditei que poderia ser, mesmo, um jogador de basquete, quando achei que esse era o meu futuro”, afirma ao VinteUm o garoto que hoje defende o Pinheiros tanto no NBB como na LDB – mas especialmente na liga de desenvolvimento. É curioso isso: como, para os atletas, não importando a idade, parece que suas primeiras memórias estão sempre muito distantes, não importando a idade. Cada jogo é uma história, afinal, não? Quando George Lucas Alves de Paula relembra essa jogada mirabolante, parece estar falando de um século passado. Mas foi apenas há seis anos, quando tinha 12.

Georginho, nos tempos de mini, quando foi o melhor jogador do campeonato – em 2009

Recordar é viver: Georginho, nos tempos de mini, quando foi o melhor jogador do campeonato – em 2009

O armador conta que rolou aquela confusão de sempre: o técnico, os meninos e, claro, os pais dos adversários todos reclamando que havia estourado o tempo já, que não deveria ter validado. “Na hora, foi bem, digamos assim, polêmico, mas depois assumiram a derrota”, diz. Seu agente, Eduardo Resende, da EW Sports, completa: “A bola não bateu nem no aro, fui direto, nem tinha o que falar” Aquela coisa: foi um lance tão inacreditável que, depois de passado o susto, o pessoal admitiu que não havia muito o que fazer, que era conceder a vitória, e paciência.

Os ânimos ficaram tão calmos que, mais tarde, o familiar de um de seus amigos do São Bernardo lhe conseguiu a gravação da partida. Gravação feita justamente pelo pai de um dos jogadores do Círculo Militar, que fazia compilações de melhores momentos para os moleques. O armador já assistiu milhares vezes. Recentemente, porém, já não mais o revisita. “Não costumo ver agora mais.  Não sobra tempo”, diz.

>> Leia também: Depois da impaciência, o desenvolvimento para Lucas Dias

Aos 18, Georginho tem uma rotina intensa de treinos no Pinheiros, com até três sessões diárias, dependendo da época, aproveitando-se de uma estrutura exemplar do clube paulista para desenvolver seu imenso talento. Um talento que já o coloca na mira da NBA.

Nesta semana, o armador está jogando em Mogi das Cruzes, com seus companheiros adolescentes de clube, pela quarta etapa da principal competição de base do país. Podem aguardar a presença de diversos scouts da liga americana. Em Nova York, seu nome já era assunto entre aqueles que observam os meninos ainda mais novos no Basketball Without Borders. Muitos tentando aprender a pronúncia correta para Mogi. Sai “Mougui”, invariavelmente. O burburinho só aumentou depois de o DraftExpress, do meu chapa Jonathan Givony, ter feito uma análise detalhada de suas qualidades, virtudes como prospecto. Givony, inclusive, tirou George da projeção para o Draft de 2016, inserindo-o na lista deste ano, como o 27º melhor prospecto.

Antes mesmo de o DX ‘causar’ geral, procurei aqui em São Paulo conversar com diversas fontes que acompanham o progresso desse garoto natural de Diadema. Também tive a chance de conversar por cerca de 30 minutos com o próprio jogador, naquela que seria a primeira entrevista, assim com ares de ‘oficial, exclusiva, de sua ainda incipiente carreira. “Não sei aonde posso chegar, mas sei que posso treinar muito. Não conheço meus limites ainda”, diz. Vamos embarcar nessa, então.

Desafios e facilidades
Georginho, Pinheiros, NBA draft, prospect, George Lucas Alves de Paula

A primeira coisa que chama a atenção em Georginho como um jogador de basquete são seus atributos físicos. Estamos falando de um armador de excelente estatura (1,95 m), mãos e braços enormes – “Envergadura dois metros e tralalau”, segundo Marcel  de Souza, o técnico do adulto – e já bastante forte para a idade. É rápido e muito habilidoso com a bola. Seus movimentos, se não tão explosivos, são muito fluidos, naturais, fáceis.

“A primeira coisa que impressiona no George é seu biotipo e sua desenvoltura atlética. Junto a isso vem também sua qualidade técnica. Para um armador alto, tem muita facilidade no controle de bola”, diz Brenno Blassioli, técnico que trabalhou com o garoto nos últimos dois anos no Pinheiros, mas que teve de se desligar do clube para acompanhar a esposa Sheilla, craque da seleção feminina de vôlei, na Turquia. “Ele é um jogador que passa segurança ao técnico na hora da pressão.”

Essa é uma combinação de tamanho e técnica faz do armador uma figura promissora para  qualquer cenário. No Brasil, então, se torna ainda mais anormal. Vai ser muito difícil encontrar jovens jogadores que lhe consigam fazer frente na base. Daí a importância de ele, mesmo que não jogue, treinar com os veteranos, especialmente na atual composição do elenco do Pinheiros, com diversos concorrentes/mentores interessantes. Aos 37, Joe Smith tem mais tempo de carreira do que Georginho tem idade. Seu irmão Jason é absurdamente forte. Jéfferson é bastante explosivo. Paulinho hoje está afastado por conta de uma cirurgia no joelho, mas, em forma, é um pesadelo para ser marcado. O Pinheiros confia nisso: que o mero treinamento diário já vá empurrar o jogador na direção certa, pedindo paciência para quem vê de fora.

Ano a ano no Grande ABCD paulista, até pegar a seleção

“Essa questão é muito relativa”, diz Brenno. “Você pode olhar por outro ângulo e ver que, num clube mais fraco, os garotos treinariam com jogadores mais limitados, criando vícios ruins técnica e taticamente. Hoje, com a LDB, os jogadores mais jovens têm a chance de treinar com jogadores de qualidade no adulto e colocarem em pratica na quadra. Prefiro que o George e Humberto compitam pela posição de Jeferson, Joe e Jason do que entrarem numa zona de conforto num time mais fraco.”

Essa competição vai, invariavelmente, forçar que qualquer jogador se aprimore. Quanto a isso não há dúvida, ainda mais para alguém que sabe ouvir bastante – e ainda que não represente exatamente os mesmos desafios de se ir para a quadra em jogos oficiais. “É muito bom estar na quadra com eles. O Joe, mesmo, é um cara que me dá muitas dicas, aprendo muito com ele. É um desafio para mim ter de conseguir marcá-los. Dá para tirar muito dessa experiência. Consigo pegar coisas que eles fazem contra mim e aplicar contra os da minha idade”, diz Georginho.

Em quadra na LDB ou pelo Sub-19, você vai ver o armador se impor fisicamente, atacando o aro, invadindo o garrafão com tranquilidade. Até por isso, há quem questione se o garoto vai se desenvolver como um armador completo, mesmo. Gente com receio de que ele possa terminar como um ala pontuador. Dos jogos a que assisti e por tudo o que ouvi das fontes diversas, só mesmo um acidente o empurraria nessa direção limitada. “No ano passado foi a primeira vez que ele jogou com atletas da mesma qualidade técnica, então o trabalho principal dele era fazer Lucas, Humberto e o Wesley jogarem, sem perder sua agressividade”, diz Brenno.

“Ele está longe de ser um puro armador, pelo fato de ser um bom finalizador. Porém, tem melhorado muito em sua visão de jogo. Foi o que mais trabalhei com ele ano passado. Está no caminho certo, mas precisa ainda melhorar muito mais. No basquete de hoje é muito difícil um puro armador ter sucesso se não tiver finalização. E ele tem tudo para representar um modelo de armador moderno, que é o combo guard“, detalha o treinador, numa excelente entrevista, diga-se.

Triplo-duplo
Falar em jogador completo, capaz de executar diversas tarefas em quadra, é algo que só vai agradar a Marcel, hoje em sua primeira temporada como treinador do time principal do Pinheiros. Ainda que não dê muito tempo de quadra para o jovem armador, o ex-jogador da seleção brasileira não esconde sua admiração pelo seu talento. Estão preparados?

 Georginho, George Lucas de Paula, Pinheiros, NBA Draft, prospect“O Georginho vai ser o novo Magic Johnson. Não vou falar mais nada”, afirmou Marcel, ao VinteUm. É o tipo de declaração que pode fazer um estrago, né? Então, depois da conclusão da resposta, fiz questão de perguntar ao técnico que história era essa de Magic Johnson, e ele respondeu: “Anota, e depois vamos ver.”

Agora, antes que coce a vontade de sair tuitando por aí essa declaração, é melhor entender, enfim, o que Marcel estava pensando. O treinador se referia ao tipo de jogador que Georginho pode virar, e não, sobre o jogador que vai se tornar: “Ele cobre várias funções, marca qualquer um e tem tudo para ser um triple-double de média. Teve um dia em que cheguei e falei para ele isso, que só era para voltar a falar comigo quando fizesse um triple-double. Tem de dar meta para o jogador”, afirma.

Pois, na volta de Joinville, depois da segunda etapa da LDB, o armador tinha uma notícia para o treinador: havia somado 11 pontos, 10 assistências e 10 rebotes em triunfo sobre o Grêmio Náutico União. “No dia que voltei de viagem, nos encontramos no clube, e ele perguntou se eu estava bem. Só respondi: ‘triplo-duplo’. Acho que ele já estava sabendo (risos)”, conta, sorridente. Marcel adora. “Ele tem potencial para fazer isso. O último jogador que vi atingir isso de média no juvenil foi o Dedé, hoje treinador do Limeira: passava, pegava rebote, chutava, tinha leitura de jogo. O Georginho é assim.”

Nesta terça-feira, aliás, em Mogi das Cruzes, Georginho repetiu a dose e conseguiu o segundo triplo-duplo da carreira, com 14 pontos, 10 rebotes e 10 assistências em vitória sobre o Joinville.

Da sua parte, mesmo que não seja utilizado na rotação do time principal, o jovem armador reconhece alguns benefícios de se trabalhar com uma lenda do basquete brasileiro feito Marcel – e sua tentativa de incentivar um basquete mais orgânico, menos ensaiado no Pinheiros.

“Todo mundo conhece a história do Marcel, sabe o que ele conquistou. De todos os técnicos que tive até agora, ele tem a visão mais diferenciada. É bom ter um técnico que vê por outro lado. Ele pede para a gente apostar no sistema. Ele aposta 100% no sistema, não gosta de chamar jogadas que possam auxiliar durante o jogo. Ele tem uns ataques que fala que são propositais, para desestabilizar os outros times. Dá uns treinos diferentes, são mais livres. Vou ficando mais versátil com isso.”

A ideia é desenvolver diversas facetas de seu jogo, no fim. E pensar que nada disso poderia valer de nada. Se os planos lá atrás tivessem dado certo, Georginho poderia ser hoje uma promessa do… Vôlei brasileiro.

Outras quadras
Georginho tinha “de sete para oito anos” quando seus pais, Maurício e Suzana, acharam que era uma boa hora para iniciá-lo no esporte. Foram até um clube municipal em Diadema, na Grande São Paulo, para ver o que havia disponível de atividades para meninos da sua idade. Talvez para decepção deles, não havia aulas da modalidade que praticavam como profissão. O vôlei.

“Eu ficava sempre com eles brincando na quadra. Aí fui atrás de treino, mas não encontrei num poliesportivo que tinha no bairro aonde eu morava. Mas tinha basquete, e meu pai havia jogado basquete até os 18, quando optou pelo vôlei. Então já tinha um pouco de vontade de conhecer também”, diz a revelação pinheirense. Azar do vôlei, que perdeu aquele que poderia ser um belo ponteiro de 1,95 m, sorte do basquete que ganhou um armador de tremendo potencial. E “nenhum arrependimento” da parte do garoto.

Notícia no agora precioso blog da ABA-SBC, a Associação de Basquete de São Bernardo do Campo

Notícia no agora precioso blog da ABA-SBC, a Associação de Basquete de São Bernardo do Campo

Ter pais ex-atletas pode ser um privilégio para qualquer atleta infantil – desde que não haja cobrança excessiva, ou, em casos mais graves, aquela necessidade de tentar fazer do filho a realização de sonhos frustrados do passado. No caso de George, a relação é benéfica.  “Eles sempre me dão conselhos, quando chego estressado ou chateado com alguma coisa. Podem não entender o basquete como entendo, mas a parte psicológica de qualquer esporte é muito parecida”, diz.

Progredindo bem nos primeiros anos, o próximo passo foi procurar uma estrutura melhor. Passou a jogar, então, pela Associação dos Funcionários Públicos de São Bernardo, como a criançada do Círculo Militar bem soube depois. Ficou lá até os 16, em 2013, quando chegou ao Pinheiros, clube no qual iria encontrar, pela primeira vez, jogadores da sua idade com o mesmo nível de jogo. Antes, estava habituado a resolver as coisas por conta própria em quadra. Hoje, está com os estudos parados, somente se dedicando ao esporte. “É algo totalmente diferente para mim. Fico mais afastado da família, vejo meus pais nos finais de semana que tenho livre, mas meu foco mudou completamente. Agora estou voltado 100% ao basquete.”

No Pinheiros, você só vai ouvir maravilhas sobre o empenho de Georginho numa rotina longa de treinos. O menino, se puder, vai dormir no ginásio – e é quase isso, mesmo, que acontece, já que divide um flat com seus companheiros a poucas quadras do clube. “Alguns dias estou bem cansado, mas aí tem de tirar forças de outro lugar. Esqueço que estou com uma ou outra dor porque preciso continuar treinando”, diz. E pode botar uma ênfase em “preciso” aí. No final do ano passado, o armador estava jogando o Paulista Sub-19, a LDB e, digamos, acompanhando, treinando com a equipe adulta. Além disso, realiza trabalhos específicos de fundamento com outros garotos, sob a orientação de Bruno Mortari.

“O Georginho é um dos que mais me encanta, mas não só pela habilidade. Encanta tanto como pessoa como pela vontade que ele tem de melhorar seu jogo no dia a dia, e o Pinheiros dá para ele toda a estrutura necessária para crescer”, diz o veterano ala-pivô Felipe Ribeiro, desses casos que chegou ao profissional sem nem mesmo ser burilado em categorias de base.

Fala, caboclo
Essa coisa de ser um rato de ginásio é um dos tantos paralelos que vamos encontrar na sua história com a de Bruno Caboclo. Os dois, que são muito amigos, por sinal, jogavam em clubes menores da grande São Paulo até chegarem ao Pinheiros. Extremamente dedicados e apaixonados pelo esporte. “O Bruno conseguiu chegar aonde está com muito trabalho. É uma coisa na qual posso me espelhar. Treinar muito forte o tempo inteiro.”

Outro ponto que une os dois? Ambos não são de falar muito. São bastante tímidos.

Georginho, Pinheiros, George Alves de Paula, 1996, Draft, prospect

Georginho também sabe sorrir

Em alguns momentos durante nosso bate-papo, George ficava um pouco quieto e parava um pouco, antes de começar ou terminar uma resposta. Diga-se nada parecido como aquela ocasião em que Bruno empacou diante de um repórter do SporTV nas finais da LDB do ano passado. E aí, quando você pega a gravação, porém, se depara algo interessante: ele pode não ficar muito de lero, mas diz aquilo que julga necessário dizer. Vai direto ao ponto.

Em quadra, essa é uma, hã, questão que também se manifesta. O armador não vai ficar gritando o tempo todo, dirigindo os companheiros com discurso. Não é um líder vocal como muitos podem esperar para a posição. Seria uma espécie de líder que dá o exemplo pelo que faz em quadra, pelo modo como se comporta. Mas é algo que vem sendo trabalhado.  “Fiquei contente com a evolução do George ano passado nessa área. O mais importante eu já coloquei na cabeça dele: jogador que não se comunica, não joga. Houve várias situações várias situações em que ele se comunicou de forma positiva, e os companheiros respeitaram. Naturalmente, ele irá ser um líder”, diz Brenno. “Nos times anteriores em que esteve, ele sempre jogou ‘sozinho’, então não precisava estimular a parte da comunicação. Líder silencioso não existe na minha opinião, por mais que ele de bom exemplos, vai haver horas em que ele vai ter que se comunicar se quiser jogar em alto níel, especialmente por ser um armador.”

Agora, existe aquele dilema também: Georginho tem apenas 18 anos e treina com marmanjos. Se, como armador, precisa falar, como seria na hora de lidar com gente muito mais rodada que ele? No começo, na dúvida, ficava de bico calado, mesmo.  “Eu era muito fechado, e eles brincavam que eu não falava, me enchiam o saco por ser muito quieto. Hoje estou brincando mais com eles, e acabo apanhando. Acho que é melhor assim.”

Exposição
No que Georginho e Caboclo divergem em suas trajetórias? Na mesma idade, o armador tem muito mais experiência internacional. Antes de ir para a NBA, Bruno Caboclo não jogou sequer por uma seleção nacional. Seu contato com o mundo lá fora havia sido se limitado ao Basketball without Borders das Américas em Buenos Aires, em 2013, e a bons minutos contra um time colombiano pelo Pinheiros na Liga das Américas. Duas boas competições, mas que não tem o peso de um torneio de seleções.

George, por outro lado, já disputou três campeonatos nessas condições. O primeiro foi o Sul-Americano Sub-17 de Salto, no Uruguai, em 2013. Que já serviu para lhe mostrar algumas coisas logo de cara. “Eram 18 jogadores convocados e já tinha uma competição interna muito forte, treinos mais puxados, para definir o grupo”, diz. O time ficou com a terceira posição no torneio, perdendo para a Argentina na semifinal. Valeu a classificação para a Copa América sub-18, em 2014, em Colorado Springs (EUA). E aí veio um tapa na cara.

“O primeiro jogo foi contra o Canadá, e foi o primeiro impacto que tive contra jogadores de nível internacional. Era muito diferente fisicamente, acho que não esperava tamanha superioridade deles”, disse. “Eles eram superiores em um pouco de tudo. Os jogadores do Canadá estão, em sua maioria, nos Estados Unidos. A gente sentiu essa diferença na formação para a deles.”

O armador admitiu também que entrou um tanto tímido em quadra. Aos poucos, se soltou durante a competição em que o Brasil foi um fiasco e, a despeito da campanha frustrada, foi um dos melhores jogadores do torneio, ao lado do ala Wesley Mogi, do Paulistano. Foi lá que entrou oficialmente para a lista de prospectos a serem observados pelos olheiros da NBA. Tão ou mais relevante, o garoto descobriu que existia outro nível de habilidade e intensidade para ser atingido: “Percebi que não posso levar como parâmetro bater só os jogadores daqui, que não vai ser suficiente. Tem que fazer algo a mais para superar os canadenses e os dos Estados Unidos”.

Quando retornou aos Estados Unidos em agosto, em Chicago, Georginho confirmou as expectativas na disputa do Nike Global Challenge, já muito mais solto e agressivo desde o princípio. “Na Copa América havia times fracos e três muito fortes (EUA, Canadá e Argentina). No Global Challenge, eram quase todos do mesmo nível (três eleções regionais americanas, Canadá, China e um combinado africano), dois ou três um pouco acima. Então tinha a possibilidade de ganhar ou perder de qualquer um. Foi legal para ver o que eu poderia fazer numa segunda chance”, diz.  Foi lá que ele fez isto aqui:

As exibições de talento natural vasto a ser explorado e a combinação com a incrível história de Bruno Caboclo e o Toronto Raptors acabou, então, invertendo a ordem das coisas. Agora não é mais Georginho que precisa ir ao encontro dos Estados Unidos. Os olheiros de lá já estão vindo ao seu encontro.

Eles chegaram
Segundo consta, até esta semana, ao menos quatro clubes já haviam viajado ao Brasil para ver de perto o armador. O último havia sido o Sacramento Kings, representado pelo Hall da Fama Mitch Richmond, com quem me deparei no ginásio do Pinheiros. Isso apenas nesta temporada, já que, em 2013-2014, já tivemos clubes por aqui para assistir e até aplicar treinos para Bruno Caboclo e seus antigos companheiros – os famosos workouts. Depois de muito tempo, o fenômeno Caboclo fez a NBA reabrir os olhos para o mercado de jogadores brasileiros. Como sabemos, isso aqui é uma mina de ouro em termos de capacidade atlética, atributos físicos. Resta saber explorar e aproveitar – algo que boa parte dos clubes daqui mal faz. Hoje, conto apenas 11 garotos sub-22 com mais de 10 minutos em média na liga nacional.

George Lucas Alves de Paula, Georginho, NBA draft, prospect, LDB, NBB, Pinheiros

Na LDB, sua imposição física incomoda os adversários

Georginho tem idade para se declarar a um Draft cuja classe de armadores, segundo todos os avaliadores de talento com quem falei em Nova York, é muito fraca. No topo, D’Angelo Russell e Emmanuel Mudiay são unanimidades. Depois, porém, não despontam muitos os atletas da posição com muito prestígio no momento. Os scouts vão alternar entre o calouro Tyus Jones, de Duke, e os veteranos Jerian Grant, de Notre Dame, e Delon Wright, de Utah. Há, então, uma óbvia lacuna a ser preenchida, especialmente para times que estejam selecionando na parte final da primeira rodada do Draft e estejam interessados em um armador.

De qualquer forma, acreditem, ainda está muito cedo para ir além nesse tipo de especulação. Georginho, primeiro, tem uma LDB a cumprir, na qual joga por um dos favoritos ao título – em que pese a derrota no fim de semana para o Sport, apenas a segunda nos primeiros 18 jogos. O campeonato paulista Sub-19 também vai começar em breve, ainda que o esfacelado site da federação estadual não nos ofereça dica nenhuma de quando vai ser. Melhor ele aproveitar ao máximo essas duas competições, mesmo, para se desenvolver e mostrar serviço. NBB? Por ora, algo muito difícil de acontecer: só foi acionado por Marcel em quatro partidas, sempre com o resultado decidido, acumulando 21 minutos de rodagem.

Na LDB, após as três primeiras etapas do torneio, teve médias de 11,4 pontos, 5,5 rebotes, 3,8 assistências e 2,01 roubos de bola em 26,4 minutos, com aproveitamento de 60,7% nos arremessos de dois pontos e 29,2% de três. Em geral, divide a responsabilidade de armar o time com Humberto Gomes, de 19 anos – também um prospecto para a liga, ao meu ver, que pode pegar carona nessa caravana. Além disso, Lucas Dias fica muito mais tempo com a bola do que no time adulto. Nas duas primeiras partidas em Mogi, teve os altos e baixos normais. Contra o Sport, domingo, atingiu seu recorde pessoal de pontos: 34 pontos em 38 minutos, em derrota na prorrogação. Acertou impressionantes 6 de 13 chutes de três pontos. Na segunda-feira, contra o Minas, o Pinheiros venceu, e o armador esteve mais contido, com 9 pontos em 24 minutos, sofrendo muitas faltas dos adversários (nove no geral), tendo arremessado apenas sete vezes. Foi Humberto que roubou a cena aqui, com 20 pontos em 25 minutos.

Depois da LDB, cuja fase final, com os oito melhores classificados, ainda não tem data, nem sede anunciada, tem o Paulista. Mas o compromisso mais importante para o futuro imediato do brasileiro será o Nike Hoop Summit, em abril. O tradicional evento realizado em Portland reúne invariavelmente os melhores prospectos do mundo todo e dos Estados Unidos. Andrew Wiggins, Nicolas Batum, Dennis Schröder, Tony Parker, Dirk Nowitzki, Dario Saric e até Marquinhos já deram as caras por lá. Georginho foi convidado para a edição deste ano.

Se aceitar, será rodeado por alguns dos melhores jogadores de sua idade,para uma semana toda de treinos, antes de enfrentar os destaques do high school americano. De acordo com os scouts, este evento pode ser crucial nas pretensões de Draft. Se for bem, não só se fixaria como um candidato a primeira rodada, como teria chance de elevar sua cotação até mesmo para um top 20. Se o seu rendimento não for dos melhores, aí, talvez, o ano de 2016 fique algo mais plausível. É tudo muito volátil, porém. Como dizem: basta um time se apaixonar para que qualquer previsão vá para o espaço, como a história de Toronto e Bruno nos mostrou.

Com tanta coisa grande (já!) pela frente, é natural, mesmo, que Georginho deixe de lado aquele DVD de sua primeira grande cesta. Afinal, ainda tem muito o que fazer em quadra, para produzir mais e mais clipes. “Meu sonho eu consigo alcançar com dia a dia de treino, competições e disputas”, afirma. “Antes do Bruno, acho que isso era uma coisa completamente distante para nós. Com esse avanço dele, acho que ficou uma coisa, se não mais próxima, mas que acreditamos que dá para alcançar.”


Lucas Dias: depois da impaciência, o desenvolvimento
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Lucas vibra após grande atuação contra o Uberlândia

Lucas vibra após grande atuação contra o Uberlândia. Crédito: Ricardo Bufolin/ECP

Ao falar sobre atletas jovens, o primeiro mandamento é ter precaução. A tentação, vocês sabem, é anunciar um futuro auspicioso. Depois, encontrar paralelos, para anunciar o “novo fulano de tal”. Se, nessa caminhada, as coisas não forem acontecendo conforme o “esperado”, aí é a hora de, cheios de decepção, martelar e desconstruir a promessa.

Lucas Dias, do Pinheiros, já passou por esse processo. Ele só tem 19 anos.

Aos 16, foi eleito o MVP do jogo internacional do Jordan Brand Classic, com 18 pontos, 12 rebotes e 4 tocos, em Charlotte. Dois meses depois, em São Sebastião do Paraíso, teve médias de 15,6 pontos e 8,4 rebotes na Copa América Sub-18 e ajudou a seleção a se classificar para o Mundial, sendo dois anos mais jovem que a maioria dos concorrentes. Pronto. A partir daí, o garoto entrou no radar, virou tópico obrigatório nos fóruns de discussão. O basqueteiro brasileiro em geral não está acostumado a receber esse tipo de notícia.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Sua escalação no time principal do Pinheiros era cobrada, cada jogo era seguido de perto. Até que chegou o Mundial Sub-19 em 2013, na qual não só o ala-pivô como toda a equipe nacional teve uma campanha frustrante, com um décimo lugar amargo, depois de algumas derrotas bem feias. Aí, claro, já teve quem se apressasse em dizer que não dava mais para o garoto. Ainda mais que ele não conseguia entrar na rotação da equipe adulta do clube paulista e, no ano passado, viu um tal de Bruno Caboclo passar voando por lá. Caboclo virou a grande aposta, enquanto Lucas ficou, de certa forma, esquecido. Como se não houvesse espaço para dois queridinhos.

Subindo para fazer a cesta numa jornada 100%

Subindo para fazer a cesta numa jornada 100%. Crédito: Ricardo Bufolin/ECP

Mas essa fase de sumiço chegou ao fim. Na terça-feira, Lucas Dias conseguiu uma proeza no atual cenário brasileiro: um adolescente a ser o cestinha de um jogo de NBB. Foi na vitória sobre o Uberlândia por 107 a 86, em casa. Não só ele liderou todos os marcadores, com 23 pontos em 24 minutos, como saiu com 100% nos arremessos, com três bolas de três, cinco de dois e mais dois lances livres. Na sua idade – de novo: apenas 19 anos –, isso dificilmente vai se repetir por estas bandas.

Os 23 pontos se equivalem exatamente à metade do que ele soma na temporada. Quer dizer: foi disparada a sua melhor partida na temporada. Mas isso não quer dizer que tenha sido um acidente ou qualquer coisa do tipo, um evento que tenha surgido ao acaso. Desde o dia 17 de dezembro, na saideira de 2014, o ala vinha recebendo mais tempo de quadra com o técnico Macel, registrando 12 minutos contra o Bauru, 19 minutos contra o Franca e 15 contra o Palmeiras. Dá mais de 18 minutos por jogo nas últimas quatro rodadas do campeonato. Até então, em cinco partidas, ele havia ficado em quadra por 10 minutos em média.

No duelo com o clube alviverde, ele teve uma atuação para se esquecer, saindo zerado, tendo desperdiçado todos os seus oito arremessos. Que tenha sido mantido na rotação por Marcel, contudo, só depõe ao seu favor. Com o treinador mesmo disse ao VinteUm: “Comigo é assim: se você treinar como se joga, você joga. Na hora que aparecer um cara treinando como ele vai jogar… Na hora que for dominar, que mostrar como vai jogar no treino, eu não sou louco de não colocar para jogar”.

A liga D
Nesse ponto, para o garoto ganhar confiança, mais importante vem sendo sua participação na nossa liga de desenvolvimento, a LDB. Na semana passada, ele disputou a terceira etapa da competição sub-22, em Campinas. Após 17 jogos, o ala é o segundo cestinha até o momento, com média de 20,2 pontos, e o quarto reboteiro, com 9,4. “Acho que minhas participações ncontribuíram para o bom desempenho, e estou feliz por ter aproveitado as oportunidades contra o Uberlândia”, disse.

Algumas exibições em particular renderam recordes da LDB para Lucas.  Na segunda etapa, em Joinville, contra o Grêmio Náutico União, ele somou 44 pontos e 55 no índice de eficiência, em 33 minutos, em vitória fácil por 95 a 56 – ao seu lado, o armador Georginho, 18 anos, também somou um triplo-duplo. Na ocasião, errou apenas 4 de 20 arremessos, com baixo volume no perímetro (1-3), além de coletar 16 rebotes e de ter cinco roubos de bola. Em Campinas, mais um jogo memorável: contra o Regatas (triunfo por mais que o dobro de diferença), o time da casa, converteu nove arremessos de longa distância e terminou o confronto com 37 pontos em 24 arremessos e 35 minutos, além de 9 rebotes, 3 assistências e 3 roubos de bola, para um índice de eficiência de 42.

Na LDB, dominante neste ano

Na LDB, dominante neste ano. Crédito: João Neto/LNB

Agora, só vale ressaltar que o volume nos arremessos de fora contra o Regatas (19 tentativas) foi algo simplesmente irreal, que não se traduz para nenhum campeonato de ponta. É preciso sempre fazer a devida contextualização, claro, levando em conta o nível dos adversários. Se for para conferir seu aproveitamento nos arremessos, temos 59,8% nas bolas de dois pontos, 32,2% nas de três e 76,5% nos lances livres. Quer dizer, ainda há o que melhorar em termos de eficiência. De todo modo, no geral, os números impressionam e servem para devolver a confiança ao jovem talento.

De volta ao time dos marmanjos, Lucas entrou em quadra no primeiro quarto,  substituindo o veterano Felipe Ribeiro, quando o placar estava 8 a 7 para sua equipe. Quando saiu, com 11 pontos marcados, restavam apenas 46 segundos na parcial, o time da casa já vencia por 28 a 13. O Uberlândia não esmoreceu, tentou uma reação nas parciais seguintes, até sucumbir no período final. Apenas dois pontos do ala saíram no que poderíamos chamar de “garbage time”, quando o time de Marcel já tinha o resultado praticamente garantido, a 3min50s do fim. Isto é: seu desempenho foi fundamental para o Pinheiros a encerrar uma série de quatro derrotas no NBB.

Amadurecimento
Houve, sim, uma preocupação com o desenvolvimento de Lucas desde aquele malfadado Mundial. Há muitos que questionam a decisão do técnico Demétrius de ter usado o ala-pivô como um sexto homem, alegando que, quando ele entrava em quadra, o jogo já estava praticamente definido, deixando o principal talento daquela seleção numa posição, no mínimo, desconfortável. Era entrar para resolver, então?

Lucas agora joga a LDB desde o início. Crédito: João Neto/LNB

Lucas agora joga a LDB desde o início. Crédito: João Neto/LNB

O problema é que, quando retornou ao Pinheiros, havia um zum-zum-zum sobre uma falta de concentração ou empenho do garoto. Acontece muito mais do que se imagina, ainda mais quando, sem muito esforço, o jovem jogador pode fazer 20 pontos num jogo – hoje consagrado no basquete nacional, o ala Marquinhos já ouviu bastante nesse sentido. Uma coisa é dominar na sua categoria, porém. Outra é competir diariamente com adultos como Shamell, Olivinha, Morro etc.

Nesse contexto, a ascensão meteórica de Caboclo, vindo de Barueri, pode ter sido um ponto de virada para seu ex-companheiro. Pergunte no clube paulista sobre a dedicação do xodó do Toronto Raptors, e a empolgação impressiona. O menino simplesmente não saía do ginásio – padrão de trabalho que vem sendo mantido no Canadá, aliás. Suando bastante, o ala conseguiu ser o primeiro atleta sair direto do basquete brasileiro para a NBA em 11 anos – era algo que não acontecia desde Leandrinho, em 2003. Não tem como acompanhar um processo desse de perto e não ser afetado.

“É, mexeu muito com a turma da base a ida do Caboclo”, diz Marcel. O que todos precisam ter consciência é de que cada um tem sua história. “Cada talento tem o seu tempo para amadurecer. O caso do Bruno é uma exceção pelo físico dele. É um cara de 2,08 m com envergadura de 2,35 m, coisa que você não vai achar facilmente por aí. Se ligassem para mim e falassem que estava com um rapaz desses, eu iria buscar na hora. Mas esses que ficaram provavelmente vão ser adultos no ano que vem. E aí talvez possam sair”, afirma o técnico. Além disso, é preciso lembrar que Caboclo, jogando a LDB de ponta a ponta, participando também do Paulista sub-19, passou muito mais tempo em quadra na temporada passada do que Lucas, que estava em tempo integral com o time adulto.

A caminhada segue
No clube paulista, antes mesmo da elevada produção recente, a percepção em torno Lucas já era altamente positiva. Mas é sempre melhor ver os resultados na prática, não? Resultados de muito treino. A turma do Sub-19, por exemplo, pode trabalhar até em três períodos. “Ele vem muito bem, numa ascensão”, diz Claudio Mortari ao VinteUm. Hoje supervisor, Mortari dirigiu Lucas diariamente em sua transição da base para o adulto, acompanhando de perto os altos e baixos. “Agora, é como digo, depende muito mais daquilo que o cerca fora da quadra, daquilo que ele tem como motivação interna e o que realmente queira. O trabalho necessário nós vamos oferecer. Os recursos técnicos ele já tem. Ele, o (armador) Humberto e o Georginho têm muito potencial. Vão ser? Tomara que sim. Mas não dá para afirmar, já que muito depende da resposta deles.”

A estreia contra Sérvia no Mundial Sub-19. As coisas não foram bem

A estreia contra Sérvia no Mundial Sub-19. As coisas não foram bem

Até por sustentar um programa de base que hoje deveria servir de referência no país, com a influência de gente como o diretor João Fernando Rossi e a coordenadora Thelma Tavernari, os abnegados dirigentes do Pinheiros estão sempre ouvindo cobranças, principalmente externas, sobre a utilização desses garotos em seu elenco principal. Mas essa transposição não é tão simples assim. Com bom patrocínio, tendo se habituado a competir por títulos anualmente, o clube tem de se manter competitivo – mesmo que seu orçamento não seja dos mais vultuosos do país.

Existe, sim, um desejo de aproveitar mais os garotos, ainda mais depois da conquista do título paulista sub-19. Pode acontecer num futuro breve. Para a próxima temporada, quem sabe? Ainda está muito cedo para dizer, tanto do ponto de vista estrutural, com da própria curva de aprendizado dos garotos. Nessa curva, ainda que eles não estejam jogando muitos minutos, isso não quer dizer que não possam evoluir. Agora sob a orientação de Marcel, Lucas e seus companheiros têm mais um ano para o desenvolvimento, num cenário de bem menos pressão.

“Renovação você não faz por decreto. É algo que você conduz com tranquilidade e faz por necessidade e com a competência de quem está chegando – a importância que cada garoto vai dar para essa oportunidade. Não tem uma fórmula mágica. Se tivesse, eu, por exemplo, não lançaria só um Oscar, mas um monte. Teria uns 45 caras como o Oscar na minha mão, o que não foi o caso”, diz Mortari. “O que precisa é ter essa dimensão, essa paciência. Pode acontecer como num vestibular, em que o cara passa o ano inteiro estudando e, chega a hora h, acaba não acontecendo absolutamente nada. É preciso mantê-los nos seus lugares, conversando, mas confiando, com a expectativa sempre altamente positiva, valorizando o que se faz em quadra diariamente.”

Lucas vem reconhecendo as ferramentas excepcionais que estão ao seu dispor e vem tirando proveito delas. Como ele disse ao site da LNB: “O Brenno (Blassioli) ou o Bruno (Mortari) estão sempre me ajudando. Nós fazemos diversos treinos individuais. Isso me dá muita confiança para as partidas e as coisas vem acontecendo naturalmente”.  Depois das naturais turbulências, as perspectivas se mantêm otimistas.

“O Lucas é um talento acima da média, como um lateral de 2,08 m de altura e bom arremesso, além de ser um garoto de coração enorme”, afirma o ala-pivô Felipe Ribeiro, 35, ao VinteUm. Contratado no ano passado pelo Pinheiros, Felipe agora tem a oportunidade de acompanhar o ala de perto e diariamente, estando muitas vezes do outro lado. Para ele, já não há dúvida de que o garoto pode prosperar no perímetro. “É muito complicado julgar um garoto muito cedo, se ele vai ser um 3 ou um 4, mas acho que para trilhar uma carreira gloriosa, a posição 3, para ele, pelo arremesso, seria a melhor”, diz.

Lucas atacando lá dentro, perto da cesta

Lucas atacando lá dentro, perto da cesta. Crédito: Ricardo Bufolin/ECP

“Se fôssemos deixá-lo aqui no mercado doméstico, ele já seria um jogador pronto. Você poderia colocá-lo em qualquer time como um 3, mais até como 4, e ele conseguiria jogar. Mas hoje a gente não tem no Brasil um lateral de 2,08 m, além do Marquinhos. Acho que ele poderia ser um substituto à altura e até fora do país ele poderia se destacar”, completa Felipe.

Isso não significa que o atleta deva estacionar em quadra e apenas arremessar de três, como ainda pode acontecer com frequência, aliás. Pela versatilidade mostrada na base, com ótima presença nas tábuas ofensiva e defensiva, como reboteiro e bloqueador, seria um crime enquadrá-lo. Ter Marcel no comando do time adulto, então, serve como um alento. “Meu sistema de jogo não olha número de posição, mas a capacidade do jogador de exercer várias funções. Por exemplo, o Lucas pode arremessar de três, pode jogar de posição 4 e até de 5, como fez no juvenil. É um jogador que marca o número 2, o 3. Tem agilidade para isso.”

Não dá para esperar que Lucas vá dominar as defesas do NBB a cada rodada, como fez contra o Uberlândia. Não dá para cobrar do ala muito mais do que já lhe é exigido em seu próprio clube, diariamente, nos treinos. Nada é garantido, mas ao menos percebe-se que, agora tranquilamente, segue a curva de desenvolvimento de um jovem talento.


Fazendo aula de geometria com o New York Knicks
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Phil Jackson leva o triângulo a NYC

Phil Jackson leva o triângulo a NYC

“Assisti ao Knicks ontem de noite. Claramente eles ainda estão aprendendo o triângulo. Eu ainda não o entendo.”

A frase poderia ser de qualquer torcedor. Mas saiu da boca do comissário da NBA, Adam Silver, um advogado nova-iorquino fanático por basquete que certamente viu o Chicago Bulls e o Los Angeles Lakers de Phil Jackson jogarem e acumularem títulos. Ainda assim, a aura em torno do sistema ofensivo desenvolvido por Sam Barry, na Universidade Southern California nos anos 40, desenvolvido por Tex Winter nas décadas seguintes e adotado por Jackson com fervor.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Com seu ex-técnico fazendo o papel de mentor, fora da quadra, agora é o estreante Derek Fischer que tenta empregá-lo em Manhattan, na esperança de reconduzir o New York Knicks ao patamar de potência na Conferência Leste. Do ponto de vista tático, esta é certamente a principal história desta temporada. amuita ênfase de modo geral.

sistema dos triângulos, basqueteA abordagem dos triângulos basicamente contraria tudo isso – a única semelhança seria a aversão a jogadas desenhadas, ensaiadas e previsíveis –, com sua dança de jogadores em situação de meia quadra e a bola passando de um lado para o outro, mas sempre usando o poste baixo ou alto como ponto de convergência. Há muitos mais detalhes, que não caberiam aqui e já foram explicados por gente que realmente entende do ramo. Então, se alguém tiver o interesse de ler a respeito desse conceito, recomendo os comentários do grande Marcel de Souza no DataBasket em sua sequência detalhada de editoriais sobre o sistema. Leva tempo para aprendê-lo e aplicá-lo com sucesso.

O ídolo da seleção brasileira e atual treinador do Pinheiros lista alguns tópicos importantes, de todo modo: a) evitar o drible; b) ao passar a bola, procurar sempre o jogador mais livre; c) ao receber a bola, olhar sempre para a cesta; d) usar a criatividade e a intuição; e) jogar sem a bola; f) ler a defesa. Lidos assim, isolados, parece algo muito básico. E é, mesmo – o sistema espera que seus atletas sejam bem fundamentados e conscientes em quadra. Só não dá para confundir “básico” e “fácil”. Vá perguntar para o JR Smith.

“Você tem de pensar mais sobre o jogo. É mais complexo o modo como jogamos, mais do que estamos acostumados a fazer. Estamos acostumados a receber a bola e partir com ela, coisas do tipo. Agora, tem de saber o momento de cortar para a cesta, assegurar que estamos indo para os lugares certos na quadra. É um esforço de consciência, acho”, afirmou o ala, provavelmente com a cuca fritando.

Fisher tenta explicar para JR

Fisher tenta explicar para JR

Existe essa aura, mesmo, de sofisticação e complicações em torno do sistema. Por um lado, a tática foi vencedora na grande liga, ganhando o respaldo de uma lenda viva como Jackson, que já disse para os atletas e técnicos do Knicks que eles ainda vão passar por períodos de dureza durante a temporada. Por outro, seus detratores vão dizer que Jackson tinha Jordan, Pippen, Shaq, Kobe e Gasol ao seu lado. Que, dessa forma, qualquer um se consagraria, independentemente do sistema. O que os críticos dizem, porém, a respeito do fato de nenhum desses astros ter vencido antes de seus caminhos cruzarem com o do Mestre Zen? Mistério.

O que eles vão apontar é que aqueles que tentaram empregá-lo acabaram fracassando de modo retumbante, como Jim Cleamons em Dallas e Kurt Rambis em Minnesota. Nenhum dos dois venceu mais que 30% de suas partidas. Por outro lado, se não tinham supercraques em mãos, também não precisava exagerar na ruindade. É só dar uma espiada nos elencos que dirigiam. Além do mais, existe a possibilidade de que eles simplesmente não estavam preparados para serem treinadores principais. De todo modo, ambos foram contratados por Jackson para serem hoje assistentes de Fisher em Nova York.

Mesmo que não tenha topado assumir o Knicks como técnico, Jackson sempre considerou os triângulos como um quesito obrigatório para a reformulação da equipe. Por isso, limitou sua busca por treinadores que já tivessem familiaridade com o sistema. Steve Kerr era a prioridade, fato, mas escapou para o Warriors. Fisher foi, então, o segundo alvo natural. Pentacampeão pelo Lakers, ex-presidente do sindicato dos jogadores, um veterano respeitadíssimo nos vestiários, tem o tipo de aura que pede o respeito de jogadores, jornalistas e torcedores.

O novato Shane Larkin vai jogando enquanto Calderón não volta

O novato Shane Larkin vai jogando enquanto Calderón não volta

Para ambos, a coisa é séria. “Não achei muita graça ao ver o comissário tripudiando em cima disso também. Ele não precisa se envolver nisso. Já há foco o suficiente no triângulo, e não é nada demais. É um sistema. É o basquete simples. Apenas joguem. Já chega de falar do triângulo: agora é a hora dos negócios e de jogar da forma certa”, rebateu Jackson.

O time: não tem Jordan, não tem Kobe, mas tem Melo. Carmelo Anthony ganha o foco ofensivo do Knicks, independentemente do sistema utilizado. O ala agora vai ser testado de uma forma diferente, como o próprio presidente do clube adiantou em conversa com o seu chapa Charley Rosen, publicada no ESPN.com: “Passar nunca foi uma grande força de seu jogo, mas no triângulo ele vai poder ter leituras rápidas como um quarterback procurando por seu primeiro recebedor, e depois o segundo e o terceiro. Vai haver muitas oportunidades de isolamento para Melo, e no triângulo vai ficar muito difícil de as defesas fazerem dobras para cima dele. Não vai ser que nem na temporada passada, em que ele teve de partir para o arremesso decisivo com uma gangue de marcadores ao seu redor. Também vamos ter Melo receber diversas oportunidades no post-up”.

Sem explosão, Amar'e vai jogando bem no ataque. Difícil é ser relevante na defesa

Sem explosão, Amar’e vai jogando bem no ataque. Difícil é ser relevante na defesa

Nesse tipo de situação, é especialmente de frente para a cesta que Carmelo produz como uma verdadeira estrela, usando seu primeiro passo explosivo e excelente arremesso. Se confiar no sistema e nos companheiros, o jogo tende a ficar mais fácil para ele. “Quero que Phil e Derek saibam que estou dentro. Estou abraçando este desafio”, diz o ala, que precisa avisar estar totalmente comprometido com o projeto do clube que vai lhe pagar mais de US$ 124 milhões pelos próximos cinco anos. Que bom.

Aliás, para os que encaram o inglês basqueteiro, vale a pena acessar este link de Rosen para ver os comentários de Jackson sobre cada atleta de seu elenco. Ele não se mostra o mais entusiasmado possível, mas, no geral, no contato com a mídia americana, vem mantendo um tom positivo, bem distante do sarcasmo que dominava seus últimos meses em Los Angeles. “Vejo crescimento neste time, e estou otimista. Nem sempre o que importa é o placar final, mas, sim, como você joga por vezes. Acho que estamos jogando muito melhor, com o nível de dedicação que gostamos de ver.”

Quando José Calderón voltar, o ataque vai ganhar um arremessador e um passador dos mais brilhantes da liga, evoluindo naturalmente. O problema sério que Fisher tem para resolver está do outro lado, na defesa. Trocar Tyson Chandler por Samuel Dalembert tem suas consequências, Amar’e Stoudemire não conseguia segurar a onda nem mesmo quando era um dos atletas mais temidos da liga, Bargnani faz Stoudemire parecer Tim Duncan, Calderón é muito mais lento que 95% dos atletas de sua posição, Carmelo gosta de dar uma viajada – ou espreguiçada… Enfim, a coisa é feia. Fisher vai ter muito trabalho para bolar um esquema que cubra por tantas deficiências individuais.

A pedida: aprender o sistema, conferir aqueles que realmente valem algo ao time e dar um passo decisivo apenas na temporada que vem. No Leste, tudo é possível, mas ir aos playoffs neste ano ainda vai ser bem difícil.

Ninguém ligou para o Shump nas férias

Ninguém ligou para o Shump nas férias

Olho nele: Iman Shumpert. No início de temporada, o ala-armador de 24 anos é aquele que vem mais produzindo com o novo sistema, elevando bastante suas médias tanto em quantidade como qualidade. Destaque para o elevado aproveitamento nos arremessos de três pontos, que não deve ser sustentável, por mais que Carmelo pense o contrário: “Ele está jogando de acordo com o esquema, aproveitando aquilo que lhe é oferecido”. De qualquer forma, com explosão física e agilidade, é também o melhor defensor da equipe. A subida de produção pode ser um problema. Ao final da temporada, Shumpert vai virar agente livre, depois de seus agentes e os dirigentes mal terem conversado neste ano.

Abre o jogo: “Não havia reconhecido o número que me ligou. Então telefonei de volta, e era o Phil. Daí minha bateria acabou e eu tive de correr para recarregá-la. Ele só queria dizer que acreditavam em mim e que uma coisa que eu precisava fazer era também ter essa fé em mim mesmo”, de Thanais Antetokounmpo, ala-pivô grego selecionado pelo Knicks no último Draft, mas que vai defender sua filial da D-League nesta temporada. O episódio serve para ilustrar o tipo de impacto que Jackson já causa pelo Knicks. Não é todo dia que você tem a chance de trocar mensagens com o técnico mais vitorioso da história da NBA, uma personalidade deste tamanho. Um cara que fortalece a marca do clube e vai colocá-lo em toda conversa por um agente livre.

Você não perguntou, mas… Spike Lee, torcedor mais ilustre do Knicks e excepcional cineasta, produziu um filme de cerca de uma hora para tentar ajudar o torcedor da franquia a entender o sistema de triângulos. Foi ao ar no dia 24 de outubro, no canal MSG, da mesma rede que controla a franquia e o próprio (veja um trecho). “Nunca fiz nada parecido com isso antes. A ideia era explicar para o torcedor comum o sistema e a misteriosa mitologia e o aspecto zen que o Phil Jackson usou para vencer seis títulos em Chicago e mais cinco em LA”, disse Lee. O diretor assistiu a alguns jogos dessas equipes, filmou um breve ensaio com os atletas do Knicks e acredita que (talvez) tenha passado a sacar um pouco do que acontece. “Todo mundo diz que moleque do colegial pode guiá-la. Os proponentes do ataque por triângulos dizem que é simples. Mas, se você não for um proponente, não vai saber o que está acontecendo.”

Tim Hardaway Jr. treina, Spike Lee observa e registra

Tim Hardaway Jr. treina, Spike Lee observa e registra

Patrick Ewing, Knicks, center, BullsUm card do passado: Patrick Ewing. Um cara que sofreu na mão de Jackson e seu Bulls nos anos 90 e que, por isso, provavelmente poderia advogar a favor do novo sistema empregado pelo clube, não fosse por seu rancor cada vez maior por não receber uma chance de virar um técnico principal da equipe – ou de qualquer equipe. Ewing vem sendo assistente há um bom tempo já e sempre falou em público sobre o desejo de promoção. Seus clamores, contudo, não despertaram muito interesse ou entrevistas, nem mesmo da franquia na qual se consagrou e que não se cansa de trocar de treinadores. Hoje, o ex-superpivô trabalha no Hornets. Para constar: há quem duvide seriamente de sua capacidade como treinador. Por outro lado, o clã Van Gundy e Steve Clifford o defendem  como um candidato.


Fla abre luta pelo tri com números inflados de ataque (e defesa)
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

A concorrência do Flamengo que fique atenta no NBB7: os atuais bicampeões vão se garantindo, por ora, com base em seu poderio ofensivo. Uma artilharia. Em duas partidas, os rubro-negros flertaram com a marca centenária, tendo média de 98 pontos por partida para vencer Paulistano e Liga Sorocabana, fora de casa.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Um detalhe: nesses dois triunfos, a equipe carioca matou 25 bolas de longa distância. Somou, então 75 pontos, ou 38,2% do seu total com bombas a partir do perímetro – para quem arremessou da linha da NBA em três amistosos da pré-temporada, parece que ficou mais fácil o fundamento, né? Quem quiser derrubar os caras, então, vai ter de fiscalizar bem no perímetro.

Agora, será que o Fla consegue manter um ritmo assim? Difícil, bem difícil. O mais razoável, na briga por um terceiro título consecutivo, seria encontrar um equilíbrio, ainda mais priorizando uma evolução considerável em sua defesa, que também cedeu mais de 90 pontos para a dupla paulista. Na temporada passada, para constar, o time carioca teve médias de 84,7 pontos pró e 76 contra.

Olho no campeão olímpico trintão...

Olho no campeão olímpico trintão…

Ao menos na contenção dos chutes de longa distância a equipe de José Neto vem bem. Somados, Paulistano e LSB acertaram apenas 15/54 (6/24 e 9/30, respectivamente), para um aproveitamento de 27,7%. Neste caso, não valeu a premissa do toma lá, dá cá.

O cestinha flamenguista nessas duas primeiras partidas foi Walter Herrmann, com 38 pontos no total, contra 33 de Marquinhos e 32 de  Marcelinho. O veterano argentino, ainda um craque ao seu modo, é quem vem mais fazendo estragos nos arremessos de fora, com 8/13 (61,5%). Sua habilidade para puxar um dos pivôs para fora do garrafão vem sendo um problema, então, para os adversários, que vão precisar estudá-lo com mais atenção.

Um detalhe: da parte dos sorocabanos, o ataque também vai funcionando, com média de 94 pontos, acima dos 75,9 do campeonato passado. Mas tem muita coisa para rolar ainda.

Sem conclusões precipitadas, é só um registro de duas contagens anormais para o basquete brasileiro neste princípio de campeonato.

*   *   *

Idem para o Bauru e Jefferson William

Idem para o Bauru e Jefferson William

Assim como Herrmann, outro strecht four que fez chover* bolas de três na segunda rodada foi Jefferson William, pelo Bauru. O ala-pivô anotou 30 pontos, dos quais 15 foram em tiros de fora (em nove tentativas). Eitalaiá. Os scouts ligados ao movimento de estatísticas avançadas da NBA ficariam malucos por aqui. Não é segredo que Jefferson gosta desse tipo de jogada. Mas também não foi marcado: seu aproveitamento é de 52,9%, com 9/17. Não deve ser algo sustentável, porém. Em sua carreira no NBB, a média é de 36,9%. Vamos monitorar, uma vez que o time de Guerrinha não faz questão nenhuma de esconder sua predisposição pelos chutes de longa distância, com até cinco atletas abertos em quadra. Na vitória sobre o Basquete Cearense, eles tentaram 29 bolas de três pontos e 30 de dois. Um (des)equilíbrio ao qual não chegaria perto nem mesmo um time maluco por esse tipo de jogo como o Houston Rockets. Em média, o time texano vem com 73,5 arremessos por partida nesta temporada 2014-2015, com 31,3 tentativas exteriores.

(*Sim, uma indireta ao problema com goteiras no ginásio Panela de Pressão, que fez a partida ser adiada. Algo que acontece, sabemos, não pode deveria mais, né? Da parte da cidade, clube e liga.)

*   *   *

Na estreia do técnico Marcel em um NBB, seu Pinheiros venceu o Rio Claro, fora de casa, por 84 a 70, num jogo um tanto maluco. Também uma novidade neste campeonato nacional, os rioclarenses chegaram a virar a partida no segundo tempo e abrir nove pontos no placar, só para tomar um 24 a 11 na última parcial. Não vi a partida. De todo modo, chama a atenção o quinteto titular usado por Marcel: Paulinho teve a companhia dos irmãos Smith, formação com três armadores bastante agressivos. Eles eram protegidos, digamos assim, por dois atletas muito físicos na linha de frente Marcus Toledo e Douglas Kurtz. O trio Paulo-Joe-Jason terminou com 52 pontos –61,9% do total do time da capital. Não só: foram mais 11 assistências, de 15, para o trio, e oito roubos de bola (sete por parte dos americanos). Epa.


Pinheiros aposta em Marcel, que encerra seu exílio
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Marcel, na época de São Bernardo

Marcel, na época de São Bernardo

Vocês me dão licença para voltar a uma encarnação passada e resgatar uma postagem de maio de 2012, né?

(Caceta, já se passaram dois anos!)

Foi mais ou menos assim, com algumas partes editadas, apagadas para dar um suspense:

“Você clica no link e começa a ler um artigo do grande Fulano, que tem as seguintes frases iniciais: “Eu gostaria de dizer de início que não tenho mais nenhuma pretensão a posto algum no basquete. Desisti dele em 1975, no vestiário do ginásio da Bradley University, quando me olhei no espelho e vi que seria médico. Só percebi isso em 2011, quando senti que a vida não me faria sentido sem que exercesse minha verdadeira profissão”.

Além do mais, chamam a atenção as seguintes frases:

– “Não reclamo do modo como fui tratado pelos do basquete principalmente nos últimos anos, afinal de contas, tenho que entender que minha maneira de ver o jogo não é a ideal para o basquete brasileiro. Nunca foi”.

– “Não culpo pessoas pelo tratamento quase sempre desrespeitoso que recebi por ter acreditado e lutado pelo ‘meu basquete’.”

– “Tudo o que alcancei e vivi no basquete, me deu o direito de também tratá-lo como sempre fiz: verdade acima de tudo, amor incondicional e luta pelo que acreditava ser o que sempre chamei de ‘o bom basquete’. Aquele jogado dentro da quadra, treinado à exaustão e aperfeiçoado em horas sem fim de treinamento individualizado (eu sozinho dentro do ginásio).”

De quem são as palavras destacadas? Marcel de Souza.

O novo técnico do Pinheiros.

Há dois anos praticamente exatos – faltam dois dias apenas para cravar –, saía no site Databasket a suposta despedida do basquete deste grande jogador e personalidade, uma figura inquieta do cenário brasileiro. E aqui estamos, neste sábado, repercutindo o anúncio de sua contratação, como sucessor de Claudio Mortari.

É uma agradável surpresa.

Com um elenco que vem brigando por títulos nos últimos anos, o clube paulista novamente se permite inovar ao escolher seu treinador. E diz muito sobre o basquete nacional que um estudioso declarado da modalidade, personagem histórico da seleção brasileira, possa ser considerado uma opção fora da caixa, diferente, diante da insossa dança de cadeiras que nos acostumamos a ver, com os mesmos nomes de sempre rodando fazendo ciranda, lá e cá.

Mortari foi a 'aposta' anterior do Pinheiros

Mortari foi a ‘aposta’ anterior do Pinheiros

Antes, o nome de Claudio Mortari já havia causado um certo espanto no meio, como um ser jurássico redescoberto. Não posso dizer que apreciei de modo incondicional o que sua equipe praticou em quadra nos últimos anos. Vieram títulos importantes e inéditos, resultados dignos de elite, mas com um estilo de jogo que assumiu muito das precipitações e loucuras a que já nos habituamos. De qualquer forma, sem prever exatamente o que viria a acontecer, valia a aposta.

Era um campeão mundial, oras. E, por mais que o jogo tenha mudado drasticamente em aspectos físicos, não dá para falar em “conceitos ultrapassados” neste esporte – grandes defesas e grandes ataques já existiram lá atrás. Os conceitos simplesmente são reciclados, reinventados, um instigando o outro. Em essência, o jogo é um só, com objetivos primários, em torno dos quais as diferentes cabeças vão moldar propostas, estratégias e aí, sim, se perder em pormenores essenciais para a vitória. Num cenário particular como o brasileiro, Mortari teve seus acertos e erros, não chegou exatamente a se distinguir, mas esteve longe de ser um fracasso, como tantos esperavam. Agora, de volta a um cargo administrativo, abre espaço para Marcel.

Depois de (quase) dois anos de exílio, ele retorna em uma situação que está próxima da ideal, num clube de ponta e com o qual já está familiarizado, tendo trabalhado por lá no final dos anos 90, contribuindo na transição de Guilherme Giovannoni, Marcio Cipriano e outros. A realidade do Pinheiros, em termos competitivos, porém, era outra.

Desde então, fez um belo trabalho com o São Bernardo, coordenou projetos em Jundiaí e Barueri, mas nunca teve a oportunidade de dirigir um time do NBB, por exemplo. Ele não apenas fará sua estreia no renovado campeonato nacional, como assumirá um time cheio de ambições – e com mais jovens extremamente talentosos para ajudar a lapidar.

Um Pinheiros diferente no retorno de Marcel

Um Pinheiros diferente no retorno de Marcel

É difícil entender o isolamento de um dos grandes ídolos de sua geração, mas é fácil explicar. Embora não seja afeito ao corporativismo vigente, o (ex-?) doutor ao mesmo tempo simplesmente ama o jogo  – daí que o anúncio de sua despedida em 2012 já soava um tanto duvidoso… É difícil largar a coisa, mesmo que frustrações, correria ou atropelos da vida possam empurrar nessa direção. Para quem não estava acompanhando, o craque já havia tornado a escrever Todas as Cestas(-feiras) sobre o jogo, com pauta diversificada e rica. Sem necessariamente apontar alvos, vai dar seus pitacos – e até mesmo gravar e jogar na internet um funk –, e, na vidinha pacata e arraigada do basquete brasileiro, isso não pega lá muito bem, tal como acontece com Paulo Murilo no Basquete Brasil.

Há muita gente por aí que simplesmente tem dificuldade de entender que um indivíduo possa exercer o direito de pensar por conta própria e expor aquilo que sente ou pondera sobre atos aparentemente banais como atirar uma bola ao cesto – além, claro, claro, dos muitos detalhes que precedem o chuá ou um airball. O diretor João Fernando Rossi, do Pinheiros, pelo visto, não se importa com isso. Leitor do articulista do Databasket e alguém que sabe valorizar a história da modalidade, enxergando possibilidades além do que o mercado rotineiro oferece, teve uma boa sacada.

É sempre muito cuidado com a rotina, pois ela realmente pode te engolir. Não dá para ser abelhudo a ponto de questionar a paixão de Marcel por clinicar, mas o certo é que o certificado do CRM estará sempre ao alcance.  Ao menos ele agora poderá mudar de ares um pouco, o que sempre faz bem. A expectativa fica para ver o quanto ele pode alterar, agora com os devidos recursos, o que vemos em quadra e há tempos pede uma chacoalhada.


Oscar Schmidt e suas histórias maravilhosas no Hall da Fama
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Oscar & Bird

Oscar e seu padrinho Bird no Hall da Fama. História para quem puder ouvir

De uma coisa vocês podem ter certeza: nunca nenhum integrante do Hall da Fama do Basquete treinou tanto para fazer seu discurso de introdução como Oscar Schmidt. Afinal, poucos desses se tornaram um palestrante de mão cheia, e santa, conforme o legendário cestinha brasileiro conseguiu.

Para quem não sabe, distante – ou afastado – do basquete, o ala tem uma das palestras mais concorridas e caras desse circuito que virou uma indústria própria no país e no globo. Os americanos, claro, nem contavam com isso. Daí que, quando aquela figura imensa subiu ao palanque de boina, acompanhado por ninguém menos que Larry Bird, poucos podiam imaginar que se iniciaria um derivado de stand up com duração de 17 minutos.

Quer dizer: como em Indianápolis-1987, novamente Oscar pegou os americanos de surpresa.

Usando de seus seus trejeitos e retórica típicos, treinados por anos e anos e apenas traduzindo para o inglês, Oscar contou alguns dos causos que já havia ensaiado bem durante os anos em que encarou plateias diversas e, além do mais, em suas mais recentes entrevistas. Dominou a sala, usando até Pat Riley como um degrau para suas piadas. Coragem! ; )

O “Mão Santa” falou de como queria ser jogador de futebol até ser convencido pela família a migrar para o basquete, deu suas explicações sobre como não topou jogar na NBA – embora tenha supostamente humilhado Charles Barkley em jogos das ligas de verão de 1984 –, falou com todo o orgulho sobre o ouro no Pan, tirando mais uma lasquinha dos locais, relembrou Marcel, Ary Vidal, Mortari e terminou por agradecer aos familiares, especialmente a esposa, sua “máquina pessoal de rebotes”, arrancando gargalhadas. De como se convenceu de aquela era a “prometida” quando topou por semanas e semanas ajudar em seus legendários treinamentos. “Não tem ninguém que treinou mais”, fala, sem se cansar de repetir.

Tem uma coisa nessa história que é deveras interessante e que supera qualquer fronteira sensorial de tempo-espaço. Assim como nos tempos de quadra, quando superou barreira dos 40 anos perseguindo um recorde aparentemente inatingível – o de maior cestinha do basquete, acima de Kareem Abdul-Jabbar. Não havia limites para a capacidade que tinha para encestar.  Da mesma forma, quiçá, que se aplicam suas histórias hoje.

Para os jornalistas, analistas – com ou sem pedigree, background –, a pior armadilha é se levar apenas pelas memórias e emoção, deixando qualquer senso crítico de lado. Recorrer aos números, aos títulos, aos fatos, ao que rodeou a carreira de um jogador nunca será demais. Nunca.

Oscar ao ataque

No caso do camisa 14 da seleção brasileira (daqueles poucos que roubou, eternizou um número para si no baquete Fiba), tudo isso fica um pouco mais difícil, ainda que, no geral, seus números sejam espetaculares. Como tudo no Brasil nesses dias, há duas facções que se enfrentam quando Oscar é o assunto.

Antes de mais nada: a arte de analisar estatísticas não é concreta, definitiva de modo algum. Mesmo as mais avançadas de hoje, pelo simples fato de que elas não consideram jamais, de maneira total, quem está em quadra com determinado jogador, quem está por ali do outro lado e o que está em jogo em um determinado minuto. Você pode ajustar, conflitar a gama de dados mais larga possível, mas isso nunca vai se tornar uma ciência exata. Ainda mais quando falamos de tempo já tão distantes, como os anos 80, auge do brasileiro.

De modo que o que nos resta são os pontos de vista. Treinadores, companheiros, adversários, jornalistas, torcedores, espectadores. E do próprio Oscar. Em primeira pessoa, Oscar não foi nunca alguém de abaixar a cabeça. Pelo contrário. Dentro e fora de quadra, enfrentou, enfrenta, doendo em quem pudesse doer. Nas últimas entrevistas, tem falado sem hesitação alguma: dominaria na NBA, fazia o que queria em quadra, foi um dos maiorais e poucos podiam contestá-lo.

Por outro lado, as críticas que perduraram durante – e, principalmente, após – a carreira do Mão Santa são também igualmente inesquecíveis: não marcava ninguém, não venceu o que realmente importava, não marcava ninguém, não passava a bola nem sob decreto, não marcava ninguém e não fazia de seus companheiros melhores jogadores em quadra e que, ao ser celebrado apesar de tudo isso, seria responsável por uma herança maldita (hoje traduzido como “legado”). São diversos os registros, internacionais ou nacionais, que o acompanharam nesse sentido.

Para isso tudo, alguns pontos ele próprio encara, dando a cara a tapa. Vamos relembrar suas respostas de costume, com um ou outro comentário:

– Sim, não passava a bola, mesmo, especialmente nos tempos de seleção brasileira de Vidal, quando, alega, jogava sob um “sistema de NBA” no qual ele e Marcel poderiam chutar o que devessem e/ou quisessem, enquanto o restante do time dava conta das outras, digamos, atividades de uma partida. Ele assume,  mas banca com a fama de quem não errava, de que era melhor ele (ou Marcel ou craque X) chutando do que qualquer outra coisa, já que fazia isso muito bem. Não sei se é a melhor abordagem: há times, líderes que venceram assim e outros que preferiram dividir, repartir de uma outra maneira, que o diga Magic Johnson. E, sim, seus números em assistências são paupérrimos, de um senhor mão-de-vaca. Uma coisa não se pode negar, contudo:  Oscar sempre fala de seus companheiros.

Ok, ele fala bastante. Candidato ao senado na chapa de Maluf. Impropérios, berros insanos nacionalistas sem limite – como quando gritava contra um adversário de Diego Hypólito no Pan do Rio 2007, constrangendo o público na Arena…  A despeito desse gigantesco ego (que pode incomodar em muitas ocasiões, embora, na situação que viva hoje, isso passe por lição de humanidade em seu ápice), Oscar, o fominha, não deixa de registrar a importância de seus companheiros para seu sucesso, sempre gastou um tempinho que fosse para elogiá-los, como o leão que era o pivô Israel, um de seus favoritos;

– Sobre o suposto “legado” de que teria incentivado gerações e gerações a fazer o “jogo errado” dos três pontos, isso não pode ser levado a sério como teoria. Um herói televisionado é o suficiente para corromper toda uma cultura esportiva? Não seria um gigantesco problema do basquete brasileiro, então, se foi/fosse esse o caso? Cada vez mais depender de ídolos (indivíduos) do que de estrutura, de paixão dispersa pelo jogo para se sustentar? Uma conta, aliás, que sobrou agora para a turma da NBA, com o pioneiro Nenê eleito como símbolo, pagar.

– Oscar assegura que só marcava quando necessário (ou pedido). Será que isso é uma opção? Há diversos casos mais recentes que  abordam o mesmo tema, por exemplo: o Kobe Bryant dos 81 pontos, Allen Iverson em 2001, Glenn Robinson, Scottie Pippen x Toni Kukoc, Marcelinho Machado, Dirk Nowitzki e a seleção alemã, Milos Teodosic e a nova (e já velha?) seleção sérvia, LeBron James no Cavs … Etc. Etc. Etc. Até onde vai uma responsabilidade e começa a outra? Quem faz as duas coisas sempre e em alto nível com muita pressão? O mais novo membro do “Hall da Fama” jura que, em sua última temporada de Espanha, seu técnico disse que as coisas mudariam de figura no Valladolid e que, a partir daí, precisaria marcar mais. Teria respondido: “Ok, só não me peça para fazer 40 pontos por jogo do outro lado?”. Abaixou sua média no ataque e teria “parado” todos quem enfrentou, conta, um por um. De qualquer maneira,  essas coisas são bem complicadas: só estudando números de adversários ou revendo fitas e fitas para emitir uma opinião concreta;

– Destaca também que nas Olimpíadas de 1988, após uma “inesperada” derrota para a Espanha na primeira fase, acabou sobrando para a seleção a União Soviética nas semifinais (na verdade, quartas de final), com uma derrota por dois pontos apenas (na verdade, cinco); mas ele conta: Sabonis teria feito apenas seu quarto ponto no jogo no minuto final (na verdade, terminou com 12), na penúltima posse de bola, e que o Brasil tinha a chance nas mãos de virar o jogo. Com a coisa “entalada na garaganta” até hoje, conforme disse no seu discurso, acredita que deveria ter optado por um chute de três pontos naquela ocasião, em vez de ter batido para dentro, como fez, sem conseguir converter o arremesso ou ter descolado falta nenhuma. De forma abstrata, sem ter em mente o modo como a defesa soviética se armou nessa específica investida, essa coisa de ir para a cesta tende a dar mais certo: aumenta-se as probabilidades, embora os números do 14 fossem assustadores. Mas, de novo: tudo depende da configuração da defesa. De toda maneira, a seleção terminou com a quinta colocação naquele torneio. A mesma que o país teve em Londres 2012. Por que esta seria boa e a outra, não?

Ah, o mundo hoje é diferente, muito mais equilibrado com a fragmentação de União Soviética e Iugoslávia e a expansão da modalidade por todos os cantos do globo a ponto de estarmos escrevendo algo após vitórias da Jamaica sobre Argentina e Brasil. De fato não há como negar isso. Agora, o outro lado da moeda é que, justamente, a constituição de potências como essas do front socialista da Guerra Fria deixava a aproximação do pódio em grandes torneios como algo bastante complicado. Além disso, mesmo com os universitários, os Estados Unidos da América ainda chegavam como favoritos a cada torneio.

Por aí vamos.

Ao revisitar os nomes do passado, porém, a discussão se amplia de modo significativo. Fica muito fácil falar de Pelé, Wlamir, Garrincha, Amaury – embora não faltem aqueles para problematizar o que é irrefutável. Os títulos, o currículo… Tudo isso impressiona.

Há uma certa condescendência no Brasil de que os ídolos não podem ser atingidos, de que há que se preservá-los não importa o que digam ou o que façam. É de fácil compreensão este tipo de argumento. Numa história tão carente de referências, para que maltratar aqueles que lá chegaram?

Estou no time dos que defendem que ninguém intocável, ao mesmo em que deve se entender que as diferenciações entre sujeito-esportista e sujeito-cidadão. E há exageros, claro. Gustavo Kuerten, por exemplo, era o número um do mundo e, nem por isso, tinha direito a perder numa segunda rodada de Viña del Mar ou Kitzbühel.  Qualquer piloto de Fórmula 1 minimamente competente jamais seria um Ayrton Senna.

No caso de Oscar, o que fazer? Em termos de competição regional, ele e sua seleção foram predadores. Nas grandes competições, o título nunca veio, mas não é que tenham fracassado de modo retumbante – por exemplo, ainda que no início de trajetória pela seleção, num encontro de diversas gerações, Oscar e Marcel Marcel e Oscar conquistaram o bronze do Mundial das Filipinas em 1978, a última medalha do país em alto nível.

Nessas horas, distante da frieza analítica ou do ranço inerente ao personagem, talvez a válvula de escape mais fácil seja apelar para artifícios de retórica clássicos, como aquele de um editor de jornal do filme “O Homem Que Matou o Facínora“, de John Ford – “Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda”. Ou como no”Peixe Grande” de Tim Burton, filme que sai em defesa de qualquer boa prosa, não importando a exatidão do que se fala.

Não à toa, o próprio Oscar recorre a algo nessa linha durante sua participação no Bola da Vez da ESPN Brasil. Caminhando para o fechamento do programa, ele disse: “O importante não é contar as histórias, é saber contar as histórias”.

Retórica de um profissional. Que não se cansará de surpreender os americanos e de provocar as mais diversas reações por aqui.

*  *  *

Aqui, o discurso de Oscar na íntegra:

*  *  *

Aqui, o vídeo oficial para a indicação de Oscar ao Hall da Fama:


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>