Vinte Um

Arquivo : agosto 2012

Jermaine O’Neal é mais um a desafiar os poderes de cura do estafe do Suns
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Giancarlo Giampietro

Ao perambular pelo deserto norte-americano, segundo o que se aprende nos filmes, séries televisivas e histórias em quadrinhos – educação das mais invejadas, hein? –, se você estiver em busca de paz de espírito, basta dar um Google no celular e procurar bem, que vai ter um Xamã em algum lugar pronto para atendimento.

Nessa breve pesquisa, podem tentar te despistar e citar os caras como sacerdotes ou feiticeiros de tribos asiáticas desde os tempos mais primórdios – e, sim, essa foi uma citação infame a Hermes & Renato. Mas voltando: segundo a educação refinada do QG 21 e, por consequência, de toda a civilização ocidental, xamãs só valem quando tratamos de integrantes especiais de tribos indígenas nas Américas, sejam do Sul ou do Norte. Mas mais os do Norte.

Pois bem.

Agora nos concentremos no Arizona, mais especificamente o Vale do Sol, onde uma onda de calor recente não deixava o termômetro baixar dos 40ºC.

Jermaine O'Neal

Jermaine O’Neal vai testar o poder de cura do Vale do Sol. Vai dar trabalho

É nesta área quente-pelando que eles praticam o que hoje há de mais moderno e eficaz em termos de curandeirismo. Só pode. Só assim para justificar a contratação de Jermaine O’Neal pelo Phoenix Suns.

(Tá vendo? Demorou, mas chegamos ao ponto).

O quebradiço pivô, que um dia já foi um All-Star, é mais um a desafiar a habilidade dos preparadores físicos que já deram um jeito em Steve Nash, Grant Hill, Shaquille O’Neal e, por último, Michael Redd.

Comecemos por Redd, aliás. O gatilho de três pontos, entre 29 e 31 anos, disputou apenas 61 partidas de 246 disponíveis em suas últimas três temporadas pelo Milwaukee Bucks, abalado por lesões e cirurgias no joelho. No último campeonato, uma vez tratado pelo estafe do Suns, participou de 51 jogos – e só não foram mais porque o calendário era menor (66) e ele chegou ao time mais tarde. Suportou 15,1 minutos por noite e anotou 8,2 pontos vindo do banco. Não era o Redd de antes, claro, mas voltava a ser um jogador respeitável, que precisava ser marcado, criando até mesmo algumas cestas por conta própria, sem depender exclusivamente de seus armadores para executar o serviço.

E o Shaq? Em sua única temporada completa pelo clube do Arizona, o superpivô teve médias de 17,8 pontos e 8,4 rebotes, em 75 partidas, número que havia sido batido pela última vez pelo gigante apenas em 1999-2000 (79), quando era oito anos mais jovem. Na verdade, em toda a sua carreira, ele só superou essas 75 também nas três primeiras campanhas de sua carreira, de 1992 a 95, ainda pelo Orlando Magic, quando arrebentava tabelas com seu corpanzil e explosão.

O caso mais dramático, no entanto, pode ser o de Grant Hill, que muita gente já dava como aposentado em 2002 e agora chegou ao campeonato 2012-2013 disputado a tapa por clubes candidatos ao título, assinando contrato com o Los Angeles Clippers. Sofrendo com gravíssimos problemas no pé e tornozelo, ele perdeu 292 jogos em seis temporadas pelo Orlando Magic (média de 48 por ano, de 82 possíveis). Pelo Phoenix, ficou fora em apenas 32 em cinco temporadas (média de 6 por ano), sendo que 17 dessas aconteceram em 2011-2012.

Os jogadores não só tomam nota da evolução destes veteranos, como também conversam muito nos vestiários, em reuniões fora da temporada etc. A palavra corre. E chegou a Jermaine O’Neal, que poderia assinar com o Lakers, mas preferiu o Suns para tentar um último suspiro e reviver a carreira.

Seus problemas não chegam a ser tão graves como os de Hill, mas vai dar trabalho. Joelho, tornozelo, costas, escolha a sua. Nos últimos dois anos, ele disputou somente 49 partidas somadas pelo Boston Celtics, falhando em acompanhar o ritmo de Kevin Garnett, Paul Pierce e Ray Allen, não necessariamente os atletas mais vigorosos da NBA nestes tempos, né? E, nos poucos minutos em que esteve em quadra, teve uma produção paupérrima, com médias de 5,0 pontos  4,5 rebotes e pouca mobilidade, embora ainda conseguisse proteger o aro como nos velhos tempos.

Em sua apresentação, o pivô, que já foi o jogador mais jovem da história da liga, quando draftado pelo Blazers vindo do High School, garantiu que se sente bem como não acontecia há anos. Antes mesmo de entrar em contato com estafe de Phoenix. Assim como Hill, ele seguiu os passos de Kobe para fazer um tratamento especial na Alemanha (“orthokine” – clique para ler um texto em espanhol).

Jermaine O’Neal, então, primeiro optou pela ciência. Agora ele confia sua evolução às técnicas milagrosas do departamento chefiado por Aaron Nelson.

*  *  *

Em sua passagem revigorada pelo Suns, Shaquille O’Neal qualificou o estafe do Suns como heteredoxo, que eles teriam práticas incomuns comparando com o que viu em sua carreira pelo Magic, Lakers e Heat.

Aaron Nelson ajuda Steve Nash

Aaron Nelson e a longevidade de Steve Nash

Brincadeira à parte, Nelson afirmou, então, que não havia nada de anormal na condução de sua equipe. “Para nós, é apenas ciência comum: cinesiologia, fisiologia, anatomia funcional”, afirma. O grande segredo de seu programa seria cuidar do corpo todo quando um atleta apresenta uma lesão, para impedir que as dores em uma determinada parte (joelho, cotovelo, por exemplo) causem reflexos em outra região.

Além disso, os jogadores são submetidos a tratamentos de crioterapia em uma câmara de ar e exames regulares semanais, fornecendo uma grande base de informações. Quando o histórico é conhecido, os preparadores têm maior facilidade para fazer o procedimento de reabilitação adequado.

Historicamente, o Suns, mesmo com muitos jogadores de alta rodagem em seu elenco, esteve posicionado no grupo dos clubes que menos atletas perderam por lesões, ao lado dos garotos do Oklahoma City Thunder, por exemplo. “Eles são fenomenais. Eles me disseram coisas sobre meu corpo que não havia ouvido durante toda minha carreira. São especiais”, afirmou Redd.


Tim Duncan, mais três anos de Spurs
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Giancarlo Giampietro

Tim Duncan, Spurs

Steve Nash no Lakers! Deron Williams no Nets! Ray Allen no Miami! E um monte de negociações menores que renderam exclamação atrás de exclamação no mercado da NBA. Mas não a do acerto entre Tim Duncan com o San Antonio Spurs. Havia uma certa dúvida sobre a continuidade de carreira de Kevin Garnett, seu contemporâneo, e se ele ficaria em Boston. Sobre o pivô supercampeão no Texas muito pouco se especulou. Claro que ele jogaria por mais um tempinho.  E, se fosse assim, claro que seria pelo Spurs.

Com Duncan, 36, conduziu as coisas sempre desse jeito: tudo com muita discrição. Tirando seu currículo impressionante em quadra, pouco se fala a respeito desse astro. E pode falar astro? Ele não curte nada disso.

Sabemos que algo que o diverte bastante é pescar, até mesmo ao lado de Gregg Popovich. Outra: quando a NBA passou a obrigar os jogadores a seguir uma etiqueta de vestimenta, o pivô foi um dos que ficou mais pê da vida, ainda que não se enquadrasse ao lado de Allen Iverson como um ícone hip-hop – só não gostou nem um pouco de ter de abrir mão do bermudão e da camiseta. É muito ligado a seus familiares. E… Bem… Fica por aí. Lidera, mas é quieto. Nem Twitter usa.

A ex-promessa da natação de Ilhas Virgens fechou contrato de mais três anos com o Spurs, sendo que o terceiro é opcional. Supostamente, então, ele joga no mínimo até 2014 e, antes de começar a campanha 2014-2015 (esses números parecem inacreditáveis aqui no QG 21…), vai avaliar se ainda pode ou quer continuar.

Duncan já está na NBA há 15 anos. Nesse período, o time texano venceu absurdos 70% de seus jogos (830 vitórias, 352 derrotas). Ganhou quatro campeonatos. Esteve sempre na briga pelos playoffs, sonhando com o título: já soma em sua carreira 190 partidas de mata-mata. Hoje, sem a agilidade e força de antes, não é mais uma figura irresistível no garrafão. Mas ainda faz bem vê-lo em quadra, e para Tiago Splitter deve ser um privilégio tê-lo por perto, mesmo que sua presença lhe roube minutos de quadra.


Málaga reforça com pivôs seu elenco, e Augusto fica em situação nebulosa na Espanha
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Giancarlo Giampietro

Um dos clubes mais fortes da Espanha e tradicionais da Europa, o Unicaja Málaga estava ficando para trás, bem para trás. Barcelona e Real Madrid mantiveram um núcleo fortíssimo e ainda fizeram contratações mais que pontuais para a próxima temporada.

Os catalães agora contam com o talento do pivô croata Ante Tomic, que veio do arquirrival, aliás, além de um certo armador legendário Sarunas Jasikevicius, de volta após nove anos, nos quais passou por praticamente todos os clubes de elite do continente. Já o Real acertou o retorno do Rudy Fernández, eleito vilão olímpico no Vinte Um, e com o pivô Marcus Slaughter, que nunca teve uma chance real na NBA e construiu sua carreira na Europa, jogando por agremiações menores até chegar ao primeiro escalão.

Augusto enterra na Espanha

Augusto: pivô muito atlético, veloz, saltador, mas que pode ficar preso no banco

E nada de o Málaga se mexer? Mesmo depois de terminar a Liga ACB passada com um decepcionante nono lugar, fora dos playoffs, e de uma campanha nada empolgante na Euroliga, com 17 vitórias e 17 derrotas?

Bem, na semana passada seu elenco enfim começou a tomar uma forma mais séria, e aí vem a má notícia na parte que refere ao basquete brasileiro: as contratações são pouco promissoras para o progresso de Augusto Lima. Três dos principais reforços para o técnico Jasmin Repeša são homens de garrafão: o norte-americano James Gist, o sérvio Kosta Perovic e o espanhol Fran Vázquez, que deixou o Orlando Magic falando sozinho mais uma vez. Eles se juntam ao croata Luka Žorić, e, de repente, a rotação de pivôs da equipe já parece deixar o brasileiro afundado no banco.

Claro que depende de Augusto também, de tentar se impor nos treinamentos e deixar um dos medalhões para fora. Mas é muito difícil: Gist, Perovic e Vázquez chegam com salários altos e status de soluções. Žorić seria o homem a ser batido, mas é muito mais experiente e foi dos poucos, do elenco passado, que agradou e seguiu no clube.

Augusto, hoje com 21 anos, vem sendo preparado em Málaga há tempos, em mais um caso de brasileiro que foi cedo para a Espanha para ser cultivado por um grande clube – trilha aberta por Tiago Splitter em 2000. Dezenas de jogadores daqui repetiram essa rota, e foram poucos os que vingaram. Dois deles apenas quando se desvincularam do Unicaja:

– Vitor Faverani, que hoje está por cima, precisou de uma reviravolta na carreira na temporada passada, na qual jogou pelo Valencia. Hoje é visto como um dos melhores pivôs da liga, mas, diga-se, vai ter de dar sequência ao trabalho e confirmar essa confiança toda no próximo campeonato.

– O armador Rafael Luz conseguiu sair do Málaga para o bem e, até onde se sabe, sem traumas com a diretoria. Na temporada passada, fez um bom campeonato pelo falido Alicante e agora está no Obradorio, com vida própria no mercado espanhol.

Tem também o Paulão, que acabou de assinar com o Cajasol, mas ainda busca estabilidade na carreira após uma jornada igualmente turbulenta pelo clube da Andaluzia. Se Faverani teve problemas de comportamento, o pivô revelado em Ribeirão Preto penava para se manter em forma devido a uma série de lesões que deixou muita gente frustada.

Augusto Lima, do Málaga

Augusto vai tirar o uniforme de treino?

É um problema: o Málaga investe em projetos de base, mas não consegue incorporar os talentos desenvolvidos ao seu time principal. Há muita pressão por resultados em uma liga bastante competitiva, e a saída de Aito Garcia no ano passado, um treinador mais afeito ao trabalho com jovens, não ajudou em nada.

Fica, então, esse impasse para Augusto, que também rendeu bem mais quando foi emprestado para o Granada em 2010-2011 e ganhou minutos preciosos. Tudo para,  campanha seguinte, de volta ao seu clube, ser atrapalhado por uma cirurgia nas costas. Não pôde mostrar serviço e agora enfrenta uma dura concorrência para pisar em quadra.

Lembrando que, até para o seu futuro longe da Espanha, a próxima temporada é muito importante para o brasileiro. Como vai completar 22 anos em 2013, ele participará do draft da NBA automaticamente. Seu jogo – de capacidade atlética, vigor e energia incomuns para alguém de seu tamanho – é bem conhecido pelos olheiros europeus, mas uma boa produção nos meses que antecedem o recrutamento de calouros da liga poderia alçá-lo até mesmo ao primeiro round.

Para produzir, no entanto, ele precisa, antes, jogar.


Nash tenta se redimir com canadenses e transformar o país em uma potência
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Giancarlo Giampietro

Steve Nash partiu o coração dos fervorosos torcedores do Toronto Raptors há algumas semanas, ao acertar sua transferência para o Los Angeles Lakers, em vez de um tão aguardado retorno para casa. Snif.

De certa forma, foi mais um ato do armador a frustrar quem gosta do basquete no Canadá, após mais de oito anos de distanciamento da seleção nacional. Se ele tivesse aceitado liderar o Raptors nas próximas temporadas, essas seguidas decepções poderiam ser facilmente esquecidas. Mas não deu. Snif-snif! Abre o berreiro!

Steve Nash, cartola no Canadá

Aos 38, Nash agora tem um outro uniforme para defender o Canadá. Bacana o lenço vermelho, né?

Para justificar esta ausência, Nash afirmava que não poderia mais emendar as férias da NBA com as atividades dos torneios Fiba. Que seu corpo não aguentaria. Tendo em vista sua forma física aos 38 anos, do ponto de vista profissional, pessoal, é complicado questionar sua opção.

Não que ele fosse obrigado a se apresentar, e tal, mas a gente sabe muito bem o quão pesada ficou a barra do Nenê por estas bandas nos últimos anos até ele jogar agora em Londres, né? Agora imagine o nível de apego e dependência dos canadenses com Steve Nash, alguém muito mais qualificado e, pior, insubstituível. A dor é insuportável. Pense nas músicas de Bryan Adams, Alanis Morissette e Avril Lavigne. Agora multiplique por dez. Pesado.

Agora, a partir desta semana, esse genial jogador tenta se redimir de alguma forma com seus patrícios basqueteiros, começando para valer no cargo de gerente geral da seleção masculina, num cargo parecido com o de Vanderlei aqui no Brasil. A primeira decisão foi a contratação de Jay Triano para o cargo de técnico. Triano, hoje assistente do Blazers, não foi muito bem como o comandante do Toronto Raptors na NBA, mas tem muita experiência no mundo Fiba, tendo sido um scout da seleção dos EUA por anos.

Seu desafio maior: aglutinar as hordas e hordas de talento que o país vem produzindo nos últimos anos, para tentar resgatar o respeito que o programa teve no começo da década passada. Tipo, quando o próprio armador entrava em quadra para liderar a equipe.

Para isso, Nash organizou um encontro de alguns de seus principais jogadores e apostas para esta semana. Seria o ponto de partida pensando no Mundial na Copa do Mundo da Espanha em 2014 e nas Olimpíadas do Rio-2016.

A lista inteira de convidados ainda não está clara, mas a imprensa canadense dá como certa ao menos as presenças do ala-pivô Tristan Thompson, do Cleveland Cavaliers, e do armador Cory Joseph, do San Antonio Spurs, além dos adolescentes Tyler Ennis (armador) e do prestigiado Andrew Wiggins (ala). Os dois meninos eram destaques da equipe  sub-18 que esteve em São Sebastião do Paraíso neste ano e que tiveram seus planos de desafiar os Estados Unidos na final frustrados pelo Brasil. Ops.

Andrew Wiggins, Canadá

Andrew Wiggins é a grande aposta canadense

Mas estes são apenas quatro nomes badalados de um grupo muito volumoso e de prestígio em cenário internacional que o Canadá pode contar. Realmente volumoso.  Contem aí veteranos como Joel Anthony, do Miami Heat, e Matt Bonner, o foguete ruivo do Spurs, recém-naturalizado – Sam Dalembert, que aprontou muito em 2007 e 2008, estaria fora. Também pode somar o ala Kris Joseph, companheiro de Fabrício Melo em Syracuse e agora no Boston Celtics. Ou o ala-pivô Andrew Nicholson, do Orlando Magic. Ou os armadores Mick Kabongo e Kevin Pangos, em atividade em times de ponta do basquete universitário norte-americano, respectivamente Texas e Gonzaga, que também revelou o pivô Robert Sacre, draftado em junho pelo Lakers.

Já deu quase um time inteiro só nessa rápida passadela, mas, juntando as peças de relatos de torneios e eventos de base dos últimos anos, teria muito mais para citar. A ponto de, mesmo com eventuais desistências, ser quase certa, ao menos em termos de nomes, a composição de uma grande equipe lá no Norte da América.

Só fica a dúvida sobre qual será o nível exato de ascendência de Nash sobre seus compatriotas. Sabemos que ele é um admirador sério do legendário Wayne Gretzky, ídolo do hóquei canadense e alguém que, suponho, deve deixar Adams, Alanis, Avril e Nelly Furtado no chinelo em termos de popularidade nacional. Nesse nível acho que só o Rush e o Neil Young. Teria o agora cartola esse tipo de influência? Como convencer os jovens recrutas a embarcar numa viagem que ele próprio recusa desde 2003?

Steve Nash, armador canadense

Os bons tempos de Nash vestido de vermelho

A diferença, a seu favor, é que as futuras estrelas da seleção canadense dividiriam responsabilidade, se desgastariam menos. Para quem se lembra do time olímpico de Sydney-2000 ou do Pré-Olímpico de San Juan-2003, a seleção dependia muito da criatividade do armador para jogar de igual para igual contra os principais times do continente. Desta vez, se pelo menos metade do contingente disponível aceitar as convocações, muda o cenário.

Isto é: para quem já comemorava o possível desmonte da República Dominicana sem John Calipari e torce desesperadamente pela aposentadoria dos craques argentinos, melhor começar a reservar desde já algumas horas  de secador também contra os homens de vermelho e Nash.

Por mais que os seguidores do Raptors e da seleção deles já estejam irados de tão tristes.


Bynum, aquele que preferiu sair de Los Angeles
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Giancarlo Giampietro

Aos poucos, o futebol, nosso futebol, ganha um status cult entre os jogadores da NBA, e a presença cada vez maior de atletas de fora do país. No Lakers, Kobe Bryant começou a acompanhar Pau Gasol nessa. Andrew Bynum também começou a gostar da coisa – adiou até mesmo uma cirurgia no joelho para ver a Copa do Mundo da África do Sul de perto.

Kobe e Gasol são Barcelona.  Bynum preferiu adotar o Real Madrid.

Bynum, do Philadelphia 76ersPara o universo em torno do Lakers, jornalistas inclusos, o pivô sempre foi um tanto enigmático, difícil de compreender. Profundamente imaturo x apenas aprendendo, desinteressado x tranquilo, passivo em quadra x alienado por Kobe. Até mesmo um Phil Jackson, o Mestre Zen, teve dificuldade de decifrá-lo e não conseguiu extrair, consistentemente, o melhor basquete do pivô.

Que é o que o exigente Chris Collins espera fazer agora pelo Philadelphia 76ers. Para onde o gigantão foi trocado, sem sentir o menor remorso, mais uma vez na contramão do que geralmente se vê na liga. É de esperar, oras, que os atletas queiram ir para Hollywood e, não, sair de lá.

Na Costa Leste, Bynum vai estar pertinho de casa (New Jersey), o que lhe agrada bastante. Em sua apresentação, durante a semana, foi aclamado por uma legião carente de torcedores do Sixers. Essa rapaziada já vibrou com Julius Erving, Moses Malone, Charles Barkley e Allen Iverson e, nos últimos anos, precisou se confortar com Andre Iguodala, que é um belo jogador, mas não alguém que fosse vender muitos ingressos ou elevar a equipe a um padrão de candidato ao título. Agora eles abraçaram o pivô como esse atleta.

Para o ex-angelino, no fim, é isso o que mais importa. Ser o dono, a referência de uma equipe, aos 24 anos, sete anos depois de ter entrado na liga como o jogador mais jovem da história, vindo direto do colegial para ser escolhido em décimo, de modo visionário e ousado, pelo Lakers.

“Vejo isso como uma oportunidade de assumir o time e ser ‘O Cara’ e avançar com minha carreira. Algumas metas pessoais seriam mais realistas de se obter aqui”, disse Bynum. “Quero ver o quão longe posso levar uma equipe”, afirmou.

Phil Jackson e Andrw Bynum

Nem o Mestre Zen captou a essência de Bynum

O jornalista-escritor Roland Lazenby, que está biografando Michael Jordan neste exato momento e tem boas fontes em Los Angeles, acredita que o pivô está pronto para estourar. “Ele é um homem inteligente. Ele é um jovem inteligente e não apenas por assim dizer. Temos gente brilhante no basquete e gente brilhante. Andrew Bynum é brilhante”, afirmou.

Bynum pode se distanciar, então, da NBA mundana por seu intelecto? Assim como o próprio Phil Jackson fez nos anos 70, caindo de cabeça na contracultura? Não é todo dia que algum jogador vá citar uma frase do general George S. Patto (sim, aquele do filme), célebre na cultura militar norte-americana. Questionado se ele poderia sentir a responsabilidade em Filadélfia, ele respondeu que: “A pressão gera dimantes”.

Ao mesmo tempo, ainda estamos falando do mesmo jogador que pode cometer lances estúpidos como estes do vídeo abaixo, em que se descontrola e desce a marretada em jogadores menores de modo desleal. Seu progresso pelo Sixers já é, desde já, um dos temas da próxima temporada da NBA.


Férias para o blogueiro, mas ainda pode dar uma passada por aqui
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Giancarlo Giampietro

Galera, vocês podem achar que é a maior mamata do mundo, né? Caramba, o cara mal inaugurou o blog aqui e já está saindo de férias. Não aguenta o tranco?!?

Mas calma!

Antes, o blogueiro já viveu uma outra encarnação. Então podemos dizer que a estafa vem do além. 🙂

Férias para o blogueiroDe todo modo, nas próximas três semanas, não será um período de inatividade total. A cada dois ou três dias, um post sofrido, batalhado vai dar as caras. Talvez os assuntos não sejam os mais quentes do mundo, mas você ainda poderá perder seu tempo por aqui. Quando, e se, Leandrinho assinar com algum clube, o Vinte Um vai ter seus comentários fresquinhos, pode deixar. O que não vai rolar, porém, são as respostas imediatas, tá?

E acho que é uma boa deixa para, além dos textinhos de ficha técnica aqui ao lado, escrever um pouco mais sobre este espaço.

Primeiro, temos uma fan page no facebook que, na volta das férias, receberá melhor cuidado: VinteUm.

Segundo, o Twitter, exposto na coluna da direita, mas toma de novo: @vinteum21.

Agora, sobre o blog:  para os heróis que o acompanham, acho que já deu para sacar que não é o veículo mais antenado do mundo, que não vai cobrir tudo, de cabo a rabo, que se passe com o basquete. O Bala já passa por isso como um trator, por exemplo. A página de basquete do UOL Esporte também traz relatos, entrevistas e notas. Não custa, vez ou outra, dar um resultado ou a notícia completa, mas não é sempre que você vai conferir nesta página o placar puro e simples de um jogo. Uma rolada de scroll para cima, um clique em “Basquete”, e vai achar tudo do que precisar. Se o blogueiro não pode ter preguiça, o leitor também, não, vai? Não teria graça alguma escrever aqui “o lide básico”, pressupondo que os que chegam aqui já estão, digamos, lidos.

O que não quer dizer que não possam detonar o blog, esculhambar a nação, e seja mais lá o que for. Para mim, melhor bagunçar, do que conformar. Mesmo.

Sobre os textos em si, não precisamos seguir nenhuma regrinha. Acho que não há bem um “Manual do Blogueiro”, né? Seria, inclusive, uma tremenda de uma bobagem. Em Boston, Bill Simmons construiu um império – é isso o que eles fazem na América afinal, não? 😉 – como torcedor declarado do Celtics, o que não o impede de ser crítico ao extremo com a NBA e, claro, Danny Ainge. Funciona assim, aliás, como um certo vizinho chamado Juca Kfouri, corintiano assumido e instituição do nosso jornalismo. Então me deixem com minhas cruzadas pelo Phoenix Suns! Volta, Nash!

Outros casos: o Marc Stein, do ESPN.com, sempre usou sua ascendência judaica para fazer uma piada ou outra durante os mais de dez anos em que o leio. Sua predileção por canhotos e pelo Manchester City também viraram sua marca registrada. Cada um faz do seu jeito.

Sites e blogs estritamente informativos são essenciais, mas minha ideia é mais dialogar com eles. E acho que assim segue a vida, um complementando o outro. Que sejamos todos felizes, é o que mais importa.

Abraço!


Gerente geral do Thunder se divide entre Ibaka, casamento e um homem barbado
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Giancarlo Giampietro

Sabe aquele tipo de trabalho que a gente enche o peito para dizer: queria ser eu ali!

Vai falar para o Sam Presti, vai.

Sam Presti, do Oklahoma City Thunder

Prest resolveu seu compromisso com Ibaka pela manhã

O gerente geral do Oklahoma City Thunder acaba de renovar o contrato do espanhol (coff-coff!) Serge Ibaka por cerca de US$ 48 milhões e mais quatro anos de vínculo, além da próxima temporada, na qual ainda vai receber ‘apenas’ US$ 2,25 milhões.

O contrato foi divulgado no sábado passado, mesmo dia em que o gerente geral do clube, um dos caçulas na profissão, iria… Se casar! Leia novamente: contrato de US$ 48 milhões divulgado no dia em que o gerente geral Sam Presti iria se casar.

“Estou querendo muito sair dessa teleconferência, sem querer ofender, e me voltar para a segunda metade do dia. Acho que dá para dizer que não há nenhuma dúvida sobre o comprometimento aqui deste lado do telefone”, afirmou Presti, ainda com estômago para brincar com os repórteres de Oklahoma City, pela manhã.

Enquanto sua noiva se embonecava!

Ainda quer o trabalho?

*  *  *

A renovação de Ibaka foi a primeira grande peça que o gerente geral prodigioso do Thunder deveria encaixar quanto ao futuro do Thunder, no projeto de fazer do clube um candidato ao título perene. Agora ele tem de se voltar para o ala-armador James Harden.

Serge Ibaka e James Harden, unidos no Thunder

Ibaka e Harden, unidos para sempre?

Tirando o fato de que Harden tem hoje a barba mais legal do esporte mundial, Daniel Alves que o diga, e que ele não foi nada bem nas finais da NBA contra o Miami Heat, o ala é um tremendo jogador, versátil, com capacidade para matar o jogo tanto de dentro como fora, servindo também aos companheiros, canhoto, alguém muito parecido a Ginóbili. Também deve ter crescido um bocado durante sua experiência com o Team USA campeão olímpico.

No competitivo contexto econômico da liga norte-americana, o insucesso alheio sempre é uma oportunidade, e vai ter muita gente de olho nas negociações entre Harden e o Thunder, incluindo o Phoenix Suns e o Dallas Mavericks nessa, por exemplo.

Os grandalhões geralmente recebem mais que os alas e armadores, mas Harden tem o tipo de talento e números que vêm subindo na liga que devem exigir um contrato bem generoso. Talvez maior que o de Ibaka. Sabendo que a franquia está sediada no menor mercado da liga, não é muito fácil fechar essa conta.

No momento, o Thunder já tem muita grana garantida para Durant, Westbrook, Perkings e, agora, Ibaka. Algo em torno de US$ 55 milhões apenas para os quatro, já acima do teto salarial. Se Clay Bennett, proprietário do clube, estiver disposto a quebrar a banca para investir, sem se preocupar com o retorno financeiro, mas apenas com o esportivo, pode ser que assine um baita cheque para o barbudo.

Ainda há tempo para resolver essa questão, no entanto. Harden tem pelo menos mais um ano em seu contrato, pronto para receber US$ 5,8 milhões nesta temporada.

Não precisa de pressa, então, para abrir as negociações.

A não ser que Presti queira dar um tempo nas núpcias para isso.


Paulista masculino de basquete tem divisão regional de grupos
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Giancarlo Giampietro

O Campeonato Paulista de basquete que começou na semana passada tem um detalhe interessante em sua fórmula de disputa que serve como uma amostra simples de que a modalidade ainda não tem tanto do que se orgulhar assim como prega de modo ufanista o presidente da CBB em seu editorial.

Na competição que teve largada na quinta-feira, chama a atenção uma divisão regional dos 16 clubes inscritos em dois grupos:

(Atualização! Desculpem, havia colocado aqui os grupos de 2011, que são praticamente os mesmos deste ano, mas agora está certinho.)

Grupo A: Franca, Limeira, Bauru, Jacareí, Liga Sorocabana, América de São José do Rio Preto e Rio Claro.
Grupo B: Suzano, São José, Paulistano, Mogi das Cruzes, Palmeiras, São Bernardo, Pinheiros e Internacional de Santos.

Régis Marrelli, técnico do São José

Régis Marrelli orienta o time do São José em vitória sobre Mogi das Cruzes por 76 a 60 na estreia

Veja bem: estamos falando do estado que tem mais clubes inscritos no NBB, com múltiplos candidatos ao título entre eles e de grande tradição histórica em boa parte de suas cidades. Clubes que estão espalhados por um território que, com seus 248.209.426 km² de área total, pode ser maior que um país europeu, mas não deveria apresentar tantas limitações de locomoção assim para seus concorrentes.

Em tese, claro. As rodovias são ótimas, mas vá bancar o pedágio a cada vez que cair na estrada…  Então, na assembleia para definir a formatação do campeonato, ficou definida em votação essa composição regional, para abreviar viagens e custos. Na maioria dos casos, imagino que os times peguem o ônibus de volta para casa no mesmo dia, evitando assim gastar com acomodação também.

É o formato de primeira fase mais justo? Não seria legal ver o Pinheiros, com seu elenco mais tarimbado, se testar contra o fortalecido Bauru? Não seria interessante o confronto do Paulistano com o renovado Franca?

Esqueça: essas hipóteses estão reservadas eventualmente apenas para os mata-matas.

Nada como um bom controle de caixa.

Que pujança, hein, presidente?


Jogos patrióticos: a praga da naturalização no basquete
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Giancarlo Giampietro

Se eles fazem, nós fazemos também. Se você tem, eu quero também.

E por aí a gente segue, com Larry Taylor armando a seleção brasileira e comandando uma virada – de final frustrado – contra a Rússia. E vamos com Serge Ibaka enterrando todas e bloqueando adversários que não estão habituados a enfrentar um pivô tão atlético assim.

Esses são os dois casos mais óbvios para se discutir. Mas o problema vai muito além: hoje até o Azerbaijão –  o Azerbaijão!!! – recruta quatro jogadores americanos para defender sua seleção nas eliminatórias para o Eurobasket. Virou uma praga.

A cidade de Laramie, no Wyoming, não chega a ser um pólo turístico atraente, não deve ser referência para muita coisa, mas uma coisa dá para cravar: está a mundos de distância, cultural e geograficamente, de Baku, a capital azerbaijana. A identificação entre o Wyoming e o Azerbaijão deve ser a mesma entre um são-paulino e um corintiano. Nenhuma. Então como explicar que um de seus rebentos, o ala Jaycee Carroll, um cestinha de mão cheia pelo Real Madrid, tenha o passaporte do longínquo país situado na Eurásia? Ele nunca jogou por um clube de lá – sua carreira europeia passa por Itália e, agora, Espanha.

É a mesmíssima situação de Bo McCalebb, que ajudou a eliminar algumas potências tradicionais do esporte no último campeonato europeu, jogando pela Macedônia que ele visitou pela primeira vez justamente apenas para tirar o seu passaporte.

Não há como justificar uma coisa dessas.

Serge Ibaka, do Congo

Serge Ibaka, do Congo ou da Espanha?

E aí entra a parte em que aceita-se as ressalvas: mas o Larry joga em Bauru há anos e só precisa aprender “impávido colosso” para completar nosso hino; o Ibaka foi jovem para a Espanha… Sim, não chega a ser algo tão cínico, deslavado, sem vergonha como os casos dos pontuadores McCalebb e Carroll. Há um vínculo, pequeno que seja, em seus casos. “Nunca vou esquecer de que lugar eu vim, mas estou orgulhoso de vestir o uniforme da Espanha e representar este país”, afirma Ibaka. Mas dá para ir mais a fundo nessa.

Serge Jonas Ibaka Ngobila chegou ao país ibérico em 2006, com 16 anos, estritamente para jogar basquete. Ele já havia disputado competições de clubes avalizadas pela Fiba em seu Congo natal, pelo Interclub de Brazzaville, sua cidade natal. Defendeu primeiro o time de base do CB L’Hospitalet e depois fez sua estreia na LEB Oro, fortíssima segunda divisão. De 2008 a 2009, passou a jogar pelo Ricoh Manresa. De lá partiu para Oklahoma City. Façam as contas: foram três anos. Certamente serviram para burilar uma joia rara, que avançou tecnicamente. Mas é o suficiente para ele se tornar espanhol? E mais: quando foi convocado por Sergio Scariolo, ele ainda não tinha a papelada, embora a federação do país tivesse garantias de que o processo seria acelerado e concluído para que ele prontamente jogasse no Eurobasket do ano passado.

É a mesmíssima situação de Larry, que foi convocado em 2011 e não pôde disputar o Pré-Olímpico porque a burocracia não permitiu. De todo modo, o breve contato com Magnano convenceu o argentino de que valeria, sim, brigar para ter o americano em Londres, e a CBB promoveu intenso esforço para contar com o estrangeiro. Esse é o ponto importante no causo: nunca partiu dele o pedido de cidadania e de uma convocação.

Os dois assumiram novas nacionalidades estritamente por razões profissionais, esportivas. Pela forma que os processos foram tocados, não dá para negar: foram dois jogadores contratados por suas seleções, não importando o quão identificados estivessem com a nova terra. Ainda que mais amenos que os reforços do Azerbaijão, são casos diferentes e mais graves, por exemplo, que o de Luol Deng.

Larry Taylor, de Bauru

Larry Taylor, de Chicago e Bauru

O ala do Chicago Bulls, líder da seleção britânica, que nasceu em Wau, no Sudão (agora território do Sudão do Sul). Mas calmalá: enquanto o pai, um parlamentar, ficava para trás, sua família deixou a cidade foragida durante guerra civil e chegou ao Egito, em Alexandria. A mãe e oito filhos, Luol com três anos. Eles foram reencontrar o Deng sênior apenas cinco anos depois, em Londres, com o devido asilo político arranjado.

O garoto aprendeu tudo muito rápido, a começar pela nova língua. Começou a jogar basquete para valer e, aos 14, já tinha um convite para atuar por um colegial dos Estados Unidos, onde estudou e jogou até chegar ao time de Duke e, posteriormente, ao Bulls.

As constantes migrações deixam sua história um pouco mais cinzenta. Talvez o ala deva mais aos EUA por sua carreira de atleta. Mas qual passagem foi mais importante para que ele e seus irmãos prosperassem? Pelo que podemos ler neste artigo aqui do Guardian, dá para chutar que foi na Inglaterra em que sua família encontrou paz e estabilidade. Foi um claro recomeço.

Nas Olimpíadas, vimos que a Grã-Bretanha tinha bons pivôs, mas dependia quase que exclusivamente do talento do ala para sobreviver em meio a rivais de muito mais tradição. Não que isso importe muito em termos de regulamento, preto-no-branco. Mas, eticamente, não custa perguntar: como se virariam sem Larry e Ibaka o Brasil, com a turma da NBA toda reunida, e a Espanha, vice-campeã olímpica em 2008 sem nenhum reforço extracomunitário? Pode ser que caíssem um pouco de rendimento, mas seria algo tão drástico? Eles realmente precisavam apelar para esta via?

A resposta, como sempre, cai para o cinismo. “É assim que as coisas funcionam”.

Então tá, né? Esperem só até ver, então, a seleção olímpica do Turcomenistão em 2032.

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Dia desses, o chapa Jonathan Givony – diretor do serviço de scouting Draft Express, cara mais do que viajado no basquete – saiu em uma cruzada contra alguns de seus seguidores no Twitter que não toleravam suas observações irônicas sobre os procedimentos adotados pela FEB.

Começou assim:  “E isso sem o benefício de ‘recrutar’ qualquer mercenário do Congo e de Montenegro”, em referência ao ouro dos Estados Unidos em Londres. Aí pegou fogo. Foi torpedeado.

Luol Deng, Grã-Bretanha

Luol Deng, um contexto mais cinzento

Muitos defenderam que Ibaka e o ala Nikola Mirotic, montenegrino também importado e que já defendeu o país até mesmo em categorias de base, podem ser espanhóis, sim, senhor, por terem chegado como adolescentes. O problema é que eles vão exatamente para serem jogadores de basquete e ficarem a serviço de um novo país.

 “Linas Kleiza e muitos outros jogaram no basquete colegial e universitário nos EUA. Deveríamos também recurtá-los para jogar na nossa seleção? E por que motivo?”, perguntou. “Desculpem, mas Mirotic deveria estar jogando por Montenegro contra Sérvia e Israel. Ele só não está porque não fazia sentido financeiramente.”

Com o passaporte espanhol, naturalizado, Mirotic tem muito mais facilidade para descolar bons contratos na liga espanhola, e o Real Madrid também agradece. “É a definição de um mercenário. E haverá muitos mais como ele nos próximos anos. E está errado.”

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Em entrevista ao Daniel Neves, aqui do UOL Esporte, a diretoria do departamento feminino da CBB, Hortência, afirma sobre a possibilidade de importar uma armadora: “Se aparecer uma jogadora que se encaixa ao nosso estilo, não vejo porque não naturalizar. Mas não vamos naturalizar qualquer uma. Estamos acompanhando tudo o que está acontecendo e vamos avaliar a capacidade das jogadoras, que não precisam necessariamente jogar na LBF. Aí decidiremos se vamos trazer uma estrangeira ou não.”


Presidente da CBB reaparece em editorial com pérolas em tom de campanha
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Giancarlo Giampietro

Tudo é uma questão de recuperar o orgulho tupiniquim

Os bastidores do basquete brasileiro já estavam agitadíssimos há muito tempo, mas, passadas as Olimpíadas, como o Bala já publicou, agora é hora de a campanha presidencial da CBB vir à tona, escancarada, e ai de quem ficar na frente.

Nessas horas, vale usar até mesmo o site da confederação, né? Bah, que mal tem?

Toca lançar, então, um editorial nesta quinta-feira no mais alto tom de candidato, rompendo um silêncio que durava desde o desastrado anúncio das convocações de Nenê e Leandrinho em antecipação a Rubén Magnano.

Veja o que assina Carlos Nunes: “Basquetebol, orgulho nacional mais uma vez”.

Por acaso estamos falando da mesma modalidade que saiu como quinto lugar no masculino e venceu apenas uma partida no feminino?

Porque aqui é preciso todo o cuidado do mundo – ou, pelo menos, do Brasil – para que não se misture as coisas. Que um time tenha jogado bem, batido de frente com as potências do torneio e tal, e isso seja entendido como o resgate do orgulho nacional (hein?!) me parece um senhor exagero, desde já. Mas, vá lá. Tem gente que considera mesmo essa avaliação factível. Esses precisam entender que o desempenho de duas seleções nacionais não reflete, de modo algum, uma bonança do esporte no país.

Por mais que o presidente da CBB discorde: “No esporte como praticamos, a derrota não é uma escolha. Medalha no peito ou não, nosso orgulho está em alta. Jogamos para vencer. Sempre”. E desde quando é virtude que um time jogue um torneio para vencer? Não é o óbvio? Se essa é uma indireta para os espanhóis, a derrapada de um não deve transformar a mera obrigação competitiva do outro em ato heróico… Quanta falácia, quanta pachequice.

Presente de Grego e Carlinhos, amigos?

Em seu memorando, Nunes gasta dois longos parágrafos enaltecendo a suposta superestrutura da entidade e paparicando a equipe dos marmanjos. No meio do terceiro parágrafo é que vieram seus tão aguardados comentários sobre a seleção das meninas. Vejamos:  “O feminino jogou de igual para igual contra potências mundiais, num grupo dificílimo. Das quatro semifinalistas, três jogaram contra o Brasil”, começa. Ok, este é numericamente um fato: por outro lado, para quem viu os jogos com o mínimo de senso crítico – será que ele assistiu? será que ele sabe o que é isso? –, ficou bem claro que Austrália e Rússia já não eram as mesmas poténcias de outrém.

E o que mais? “Desempenhos como os de Érika e Clarissa são sementes que plantamos, num trabalho sério e profissional de nossa diretora Hortência, do qual colheremos frutos. As derrotas servem para apresentar lições e fortalecer para o futuro. É isso que faremos”, sentencia. Peraí. Se bem entendemos esse trecho, o cartola quis dizer que Érika, uma pivô que já era uma força da Natureza no Mundial de 2006 e chegou a Londres com 30 anos, foi um produto de sua administração? Ou, quando ele diz “nós plantamos”, talvez esteja se referindo a si e a Gerasime Bozikis, nénão? Seu ex-comparsa, da gestão anterior, da qual tomou parte. Aí faz sentido. Claro!

Se bem que… Hã… Talvez, não.

Afinal, Carlinhos e o nosso presente de grego são concorrentes hoje.

Desculpem a confusão, ok? Mas, como suas trajetórias se confundem e a incompetência é a mesma, fica difícil separar em miúdos.

Voltemos ao editorial, então, sem esquecer a conveniente omissão do caso Iziane – essa semente ninguém plantou, então? – e sem deixar de destacar o prestígio direcionado a Hortência, que, deduzimos, s parece garantida até a reeleição, pelo menos.

Para arrematar, um Grand Finale: “Como disse Rubén Magnano, depois do jogo contra a Argentina, o bambu não cresce do dia para a noite. Além dos já consagrados, novos talentos vão surgir em nossas divisões de base, através de estímulos às federações, aos Nacionais e à Escola Nacional de Treinadores. Em 2016, uma grande festa no Rio de Janeiro vai consagrar de vez o basquete como orgulho nacional”.

É realmente uma pérola: “Bambu não cresce do dia para a noite”. Como se a apropriação dessa metáfora realmente nos forçasse goela abaixo a ideia de que 24 horas representariam os três anos de um trabalho. Conta outra, por favor.

Mas o mais revelador, mesmo, é o verbo “surgir”. Pois não é assim que funciona o basquete brasileiro? Quem explica talentos como Nenê e Damiris? Realmente muito bem empregado, já que “surgir” passa muito mais a noção de casualidade do que de planejamento, não?

Na mosca, presidente.