Vinte Um

Arquivo : seleção feminina

A sete meses dos Jogos, CBB apela ao autoritarismo e constrange jogadoras
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Giancarlo Giampietro

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Post atualizado às 12h15.

Vocês já devem ter visto aqui no UOL Esporte, creio: a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) extrapolou qualquer limite de bom senso e lucidez ao dar um jeito para que a Justiça Desportiva intime as sete jogadoras – e seus clubes – que se recusaram a participar de evento-teste olímpico no Rio de Janeiro no final de semana passado. Por que a negativa? É que as atletas (em tese) e suas equipes defendem uma reformulação no departamento técnico da entidade.  O mesmo que não conseguiu conduzir nenhuma seleção feminina sequer ao grupo das oito melhores nas últimas duas Oimpíadas e Copas. Chocante, não?

Quer dizer: a (indi)gestão de Carlos Nunes agora não se mostra intransigente apenas para defender sua incompetência. Também deu para ser opressiva e autoritária, adotando medidas de um regime ditatorial que caça aqueles que manifestam descontentamento com o que acontece por aí.

Exagero?

Só se seus dirigentes realmente acreditarem que a recusa de uma convocação merece ser tratada como questão judicial. Por que diabos uma jogadora de basquete precisa ir ao tapetão para justificar que não quer defender a seleção brasileira? Os motivos independem. Isso não é guerra, caceta.

(Aos reacionários de plantão, não me venham dizer que se trata de um “dever”. Pelo contrário: deveria ser um prazer jogar basquete, ainda mais pela seleção. Mas chega uma hora em que alguém precisa bater o pé e peitar uma entidade que só pratica desmandos.)

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“A CBB vai seguir dentro das leis, respeitar todos os regulamentos e fazê-los cumprir. Existe uma hierarquia na modalidade como em todo o esporte e essa hierarquia será respeitada”, afirmou a entidade em nota endereçada ao UOL Esporte.

Um inquérito aberto

Um inquérito aberto

Leis? Uma convocação agora é lei?

Hierarquia? Que hierarquia respeitável é essa a de uma entidade que depende desesperadamente da coleta de dinheiro público ano a ano para sobreviver? Que autoridade tem um órgão desses para querer se impor com truculência, constrangendo “rebeldes” com uma intimação absurda para depoimento?

Além de truculenta, é uma atitude covarde a da CBB, que, aparentemente, só se enerva contra os mais fracos. E, por “fraqueza”, só escrevo aqui no sentido político:  Adrianinha, Tainá Paixão e Tati Pacheco (América de Recife), Gilmara e Joice (Americana/Corinthians), Jaqueline e Tássia (Santo André).

Vamos voltar um pouquinho no tempo só, para 2013.

Fico aqui pensando se Vanderlei – que é chapinha de muitos dos selecionáveis e, mais importante, muito próximo a alguns de seus agentes – chegou a cogitar o mesmo tipo de ação contra aqueles que pediram dispensa e tanto frustraram Rubén Magnano, o argentino que é seu principal e talvez único trunfo dentro do departamento técnico.

Veja bem: não é que os jogadores que não se apresentaram para jogar a Copa América merecessem a intimação. Evidentemente que não. Mas a ideologia da CBB teria mudado tanto assim em dois anos e meio? Ah, mas eles estavam cansados, lesionados ou sem contrato. Não importa: ninguém é obrigado a aceitar uma convocação. Cada um tem seus motivos. E, no caso das sete que ficaram fora, fato é que a causa é maior: elas estão dizendo “não” agora para poderem sorrir (“sim, sim, sim”) lá na frente. É um posicionamento político – algo que, em nosso país, infelizmente, ainda pode ser encarado por muita gente como crime ou baderna.

“Existem leis a serem cumpridas e vamos até o fim para que as jogadoras se apresentem. Caso contrário, imagino até que possam sofrer punições. Este é um evento que é tratado com prioridade pela CBB. Não vamos aceitar que não se apresentem por causa de um movimento político”, afirmou Vanderlei ao UOL Esporte.

Sinceramente, não há como responder a uma declaração destas. Pelo menos não quando confrontada com os pedidos da oposição. Mas é o modo que o diretor e seu presidente encontram para se defender de problemas conhecidos por qualquer pessoa ligada ao basquete nacional. Se você não tem resultados práticos para apresentar, vai na porrada, mesmo.

“Tudo está pronto para a Olimpíada”, diz Carlos Nunes, beirando a insanidade. “Esta situação (de manifestação dos clubes) não deveria existir. Deveríamos nos preocupar com outras coisas. Seleção é seleção. Se os clubes querem fazer movimento político, que alguém se candidate à presidência da CBB em 2017”, completou.

Também imagino que a turma do “deixa disso, pelo menos por enquanto, pois Olimpíada é Olimpíada” também tenha muitos integrantes, defendendo a tese de que os descontentes demoraram muito para se organizar e que não é hora para discutir.

Eu diria que é o contrário também: que aqueles que decidiram boicotar o evento-teste estão se preocupando exatamente com aquilo que deve ser discutido. Que um quinto lugar ou um pódio no Rio 2016 não significam nada diante da crise alarmante que vive sua entidade. E que, pela iminência do grande evento em que a CBB fará as vezes de anfitriã para a elite mundial da modalidade, a pressão está em cima deles, e, não, das jogadoras. A proximidade dos Jogos tende a deixar a entidade encurralada. É a hora exata para pressionar e exigir, tal como fizeram os argentinos.

A primeira pergunta que fica agora é até onde as partes estão dispostas a ir. As jogadoras estão mesmo dispostas a abrir mão de um sonho carioca olímpico? Elas teriam apoio de mais compatriotas? Atualização: Pelo visto, a julgar pelas declarações de Ricardo Molina, presidente do Corinthians/Americana, não é bem o caso. Um dos líderes do movimento de oposição, ele diz que a “CBB ganhou o jogo”. Existe a sensação de que as jogadoras estarão todas disponíveis para a próxima e cobiçada convocação de Barbosa. E a melhor jogadora do país não está nem aí também.

A segunda dizia respeito aos rapazes. Os jogadores da seleção masculina poderiam se solidarizar? Só se tivesse uma causa consistente e que durasse até o Rio 2016. Ministério e patrocinadores, que pagam a conta, também estão convidados a opinar…

Na temporada em que a LBF (Liga de Basquete Feminino) ganhou o apoio e parceria da LNB (Liga Nacional de Basquete), a CBB, em vez de dar seu apoio – se não financeiro, já que está virtualmente falida, mas ao menos institucional – se distancia. Agora se vê em guerra justamente com a modalidade que lhe deu as últimas glórias em competições de primeira linha, aquela que era candidata perene por mais de uma década ao pódio olímpico e  já foi motivo de orgulho e politicagem da cartolada nacional. Algo que não surpreende, convenhamos. Mas que deixa essa intimação judicial ainda mais repugnante.

Atualização: a assessoria da CBB entrou em contato com este blogueiro para esclarecer que a entidade não tem ligação alguma com a intimação e que o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) tem total independência em sua tomada de decisões. O tribunal simplesmente teria acolhido denúncias – ou dicas, digamos – de “pessoas ligadas ao basquete” para convocar as jogadoras para prestar depoimento. Os clubes, que teriam “coagido” as atletas a encampar o boicote,  também estão notificados. E a CBB também assegura que nenhuma jogadora será punida – pudera, também: desde quando a seleção feminina dispõe de mão-de-obra volumosa para descartar atletas?

Sobre a alegada independência do tribunal, melhor ler esta matéria aqui assinada por Lúcio de Castro: Paulo Schmitt, procurador-geral do STJD do Futebol, também é consultor jurídico da (indi)gestão de Carlos Nunes. Ele ganha milhões com o basquete brasileiro.


O basquete feminino e o que não se pode ignorar
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Giancarlo Giampietro

Damiris e Clarissa: dois talentos numa campanha fraca

Damiris e Clarissa: dois talentos numa campanha fraca

Os heróis que acompanham o blog e os abnegados do basquete feminino sabem que o jogo disputado pelas mulheres não ganha a devida atenção durante a temporada. Dava para fazer aqui um depoimento todo lacrimoso a respeito, mas vamos dizer simplesmente que a agenda andava bastante apertada, por conta de outros compromissos profissionais e que, no tempo que sobrava, acabava me dedicando àquilo que me é mais familiar e que, sinceramente, me diverte mais. A NBA, no caso. Isso definitivamente não é a coisa mais correta de se dizer, admitir – pode soar até mesmo como um atestado de incompetência –, mas vai fazer o quê? Os arquivos do blog não deixam mentir. Só posso garantir que não é questão de preconceito besta (“esporte feminino blablabla”). Existe um conjunto de circunstâncias que levam a isso, algumas das quais vão ser exploradas logo mais. Ponto.

Daí que chega a Copa do Mundo feminina, e faz como? Você ignora, a título de se manter a coerência? Acho que ainda seria até pior. Então que se tente fazer o melhor possível, pelo menos se concentrando na seleção brasileira, se atendo ao que se passa em quadra e estudando o que está se passando ao redor dela, tentando ser o mais honesto e observador possível. Mas, sem, também, pagar uma de especialista, né? Não vai chegar um intrometido que mal viu a Patty jogar em sua ainda breve carreira e julgá-la – para o bem ou para o mal –, depois de 20 e poucos minutos. Há quem se sinta confortável em fazê-lo, sem nem mesmo ter visto um jogo sequer do objeto de ‘estudo’. Você coleta uma ou outra informação, constrói um texto com frases de efeito e já acredita ter feito sua parte, riscando o assunto em um checklist básico.

Mas, bem, esse post não tem o propósito de se inscrever no observatório de imprensa, muito menos de ativar o egocentrismo. A pauta é a queda da seleção já nas oitavas de final do Mundial. O lance é que, antes de avaliar a participação da equipe nacional, esses fatores precisam ser considerados e expostos ao leitor, seja ele de primeira ou de algumas outras viagens. Levando isso em conta, levantamos aqui alguns pitacos, com a ajuda (involuntária) do Painel do Basquete Feminino, o @PBF, referência obrigatória no assunto, tentando reconstruir a derrota para a França, tentando entender o que mais uma campanha frustrada em um torneio relevante significa:

Temos, acima, algumas personalidades que dispensam apresentação. Outros jornalistas – ex-colegas de profissão, outros não –, um técnico brasileiro trabalhando nos Estados Unidos e, antes de tudo, dos poucos apaixonados e interessados que restam por aí dispostos assimilar mais um duro golpe. Não é só a derrota para a França, mas o saldo negativo geral do torneio, mesmo. O Brasil disputou quatro jogos e perdeu três, tendo vencido apenas o Japão. Os três reveses foram por 13, 27 e 13 pontos, jogos nos quais o adversário europeu sempre esteve no controle. O ataque foi uma calamidade. Excluindo a partida contra as nipônicas, a equipe não conseguiu passar dos 60 pontos em nenhuma ocasião, terminando com meros 48 contra as franceses, sua pior pontuação no basquete moderno.

Diante desses números, primeiro se registra a decepção. Ninguém gosta de perder, ainda mais tão cedo assim num torneio e numa modalidade em que, não muito tempo atrás, o país era uma potência. Só não dá para desconsiderar, no entanto, o quão incomum também foi aquela geração dourada, na qual uma atleta do calibre de Janeth era apenas a terceira principal figura da seleção. Absurdo. Era como se fosse um Scottie Pippen num hipotético time que escalasse Magic Johnson e Larry Bird ao seu lado. Acho que dá para dizer que isso não vai acontecer sempre.

Outros tempos. Impossível de repetir

Outros tempos. Impossível de repetir

Por outro lado, mesmo depois da aposentadoria de duas seminais jogadoras como Paula e Hortência, com Janeth assumindo mais responsabilidades e um elenco ainda bastante forte, a equipe seguiu competitiva. Ainda beliscou um bronze em Sydney 2000 e alcançou as semifinais do Mundial 2006 – em casa, é verdade –, nas quais acabou tomando uma dolorida virada da Austrália e ainda teve o azar de ver os Estados Unidos perderem para a Rússia na outra semi, para complicar, e muito, suas aspirações por mais um terceiro lugar. Foram 15 anos brigando pelo topo.

Ficamos mal-acostumados. E a CBB, acomodada. Escorado pelos presidentes de federações estaduais, o poder central tratou/trata o esporte como se os deuses estivessem sempre sorrindo para os trópicos. Como se a exuberância atlética brasileira fosse o suficiente para formar equipes competitivas, ano após ano, sem que uma estrutura minimamente decente fosse necessária. Os clubes foram fechando portas e portas. O mais recente a desistir da liga nacional foi o time de Brasília, enquanto o Paulista tem apenas quatro clubes em disputa. O volume de atletas ‘profissionais’ diminuiu, e a coisa degringolou de forma geral.

O interesse de público é cada vez mais reduzido, assim como o das grandes corporações de mídia em sua cobertura – e, sim, isso pesa também: sem grana, meus amigos, o esporte e o jornalismo ficam para trás, a despeito de qualquer vocação cívica, patriótica, ou bisbilhoteira. Não adianta apelar ao romantismo de escrivaninha e ignorar isso. Vira um ciclo vicioso muito mais grave, difícil de se quebrar. Temos escrito, comentado e ouvido há uns bons seis, sete anos já sobre como é “triste” o produto dos campeonatos locais e, consequentemente, o que se apresenta em competições internacionais.  Esse contexto obviamente pede parcimônia na hora de encarar a seleção brasileira que entrou em quadra na Turquia.

Só é preciso, me parece, tomar cuidado para não se vitimizar tudo e todos. E aí a opinião das irmãs Paula e Branca, uma bem independente da outra, chama a atenção. Estamos falando de duas protagonistas daqueles tempos vitoriosos. Que poderiam estar sendo “duronas” demais com a atual geração. Mas sabemos que estão longe de representarem a figura de carrascas, que ignorem o que está ao redor delas e deleitem com isso. Paula é uma gestora exemplar. Branca, treinadora. As duas sabem, claro, o que se passa. Ambas apenas esperavam – e torciam por – mais.

Em entrevista ao Lance!, Paula explicou seus tweets. “Ficamos nesse discurso eterno de renovação. Então, vamos renovar de vez. Nossa geração também teve participações ruins, com 11º, 12º lugares, mas brigávamos, reclamávamos, por treinador, treinamentos, convocação, lutávamos por mudanças. Não podemos ficar nessa passividade de achar que não vai dar certo por algum motivo ou outro.  Se é para reclamar, vamos tentar fazer alguma coisa. Principalmente quem faz parte disso. Não pode ser porque Deus quis, tem que ser pela diferença. Mas não fazemos nada para essa mudança. Ficamos numa situação confortável, dizendo: ‘não esperem nada de nós, pois estamos renovando’. Coloca uma Seleção permanente para jogar a liga, tragam alguém de fora para evoluir o basquete, não sei, vamos fazer alguma coisa”, afirmou.

Clarissa é uma das jogadoras que parece evoluir a cada torneio, a despeito das dificuldades

Clarissa e toda a sua energia: a pivô é uma das jogadoras brasileiras que se apresenta melhor a cada torneio, evoluindo em seu canto, a despeito de todas as dificuldades estruturais sabidas do basquete brasileiro, especialmente o feminino

Você percebe o tom alarmante da ex-armadora, que é mais que compreensível. Até porque ela mesmo diz: considerando o que vimos no Mundial, era possível para o Brasil sonhar com mais, independentemente de uma liga nacional fraca e da renovação liderada por Zanon. Algo, aliás, que também pede um devido contexto: a) com a presença de veteranas como Adrianinha (agora oficialmente aposentada) e Érika, a média brasileira foi de 25 anos de idade (contra 26 da Espanha, 27 da França, por exemplo); b) no elenco da França, constavam apenas quatro vice-campeãs olímpicas, contra três brasileiras dos Jogos de 2012.

Mas, vá lá: se você descontar as duas mais experientes, a média cairia drasticamente, mesmo, e a juventude não se mede apenas em tempo de vida, mas, muito, mais por tempo de quadra. São atletas que nem são protagonistas em seus clubes. Se mal jogam em quadras nacionais, o que dizer de sua rodagem internacional? Inexistente, especialmente na hora de lidar contra as equipes europeias, muito mais fortes que a freguesia sul-americana. O nervosismo foi evidente durante diversos trechos da Copa do Mundo. Ainda assim, a impressão geral foi de que dava para fazer mais.

Zanon, como técnico da equipe, tem suas responsabilidades. De modo geral, pôs uma equipe que era no mínimo combativa em quadra, brigando sem desistir. Ok, esse é um lado. Mas não pode, de modo algum, ser o todo. A ineficiência do ataque da seleção assustou. A média final de 59,5 pontos supera apenas a da Turquia (57,8) entre os classificados para os mata-matas – energizadas, as anfitriãs, porém, estão nas semifinais. A seleção foi a terceira pior da competição no aproveitamento de seus arremessos, acertando apenas 35,4% de suas tentativas, acima dos representantes africanos somente: Moçambique e Angola. Em assistências, superaram só nossas irmãs angolanas.

Tudo isso para um time que conta com pivôs claramente talentosas (Damiris, diga-se, sofrendo com problemas particulares), mas que raramente eram colocadas em posição favoráveis para fazer valer suas qualidades. É angustiante o modo como em muitas ocasiões uma jogadora como Érika pode se ver alienada. Contra a França, no momento em que o Brasil passou a marcar com pressão, o jogo mudou de forma instigante, mas já era tarde. E se tivessem adotado esse expediente um pouco antes? Por aí vamos. Fato é que a equipe não jogou tudo o que podia, não jogou no limite – e não estamos falando em comprometimento, amor ao país etc. Decorre também disso a sensação de incômodo de muitos – e não só de uma fonte indiscutível como Paula. Até porque o nível da competição não vem sendo dos mais altos, não.

Érika: o destaque brasileiro, mas que se atrapalhou com faltas precoces contra as francesas; em geral, porém, foi a equipe brasileira que a deixou na mão durante toda a Copa, sem saber aproveitar uma das pivôs mais dominantes do mundo Fiba

Érika: o destaque brasileiro, mas que se atrapalhou com faltas precoces contra as francesas; em geral, porém, foi a equipe brasileira que a deixou na mão durante toda a Copa, sem saber aproveitar uma das pivôs mais dominantes do mundo Fiba

Agora, se formos nos conformar em dizer que o basquete praticado no Mundial era o máximo que a seleção tinha, que todo o potencial disponível foi explorado… Olha, melhor esquecer essa coisa de Rio 2016 e tal. Porque aí seria muito, mas muito trabalho pela frente, e obviamente que um só treinador, independentemente de quem seja, não daria conta. Seria tarefa mais para milagreiro. Não parece razoável pensar que, com uma comissão técnica bem mais reduzida que a do masculino, Zanon ou qualquer outro profissional vá refinar uma dúzia de atletas em poucas semanas e compensar a defasagem de toda uma temporada.

Nesse sentido, a diretoria liderada por Vanderlei Mazzuchini não foi nada camarada. Se você tem em mãos um time com limitação técnica e pouca experiência, então o que fazer? Não precisa ser biduzão para responder que essa combinação pede treino e amistosos, treinos e amistosos, treinos e amistosos. Que mais? Treinos e amistosos, ué. São coisas práticas. Ou melhor: coisas de prática.

E aí vem o espanto: conforme Fábio Balassiano, companheiro aqui de UOL Esporte, destacou, a seleção ficou cerca de um mês paradinha da silva, sem treinar, sem jogar, sem nada. Justamente o time “cru”, aquele grupo jovem conscientemente formado pensando lá na frente. Mas pensando exatamente no quê? Se você abre mão de semanas de treinamento, a troco de nada, o que isso quer dizer? É algo que ultrapassa qualquer limite do aceitável e que não tem nada a ver com os problemas mais amplos que a modalidade enfrenta. Isso não pode ser considerado planejamento – é puro descaso, e de gente muito mais relevante para o esporte do que qualquer blog relapso. Isso, sim, é algo que não pode ser ignorado.


Nádia: a dificuldade para se reconhecer e trabalhar um talento
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Giancarlo Giampietro

Nádia Colhado e Clarissa: características que se combinam em forte garrafão

Nádia e Clarissa: características que se combinam em forte garrafão. Crédito: Divulgação/Inovafoto/Wagner Carmo

Você navega pelo Painel do Basquete Feminino e outros fóruns, e vê uma penca de comentaristas prontos para destilar qualquer veneno que esteja disponível naquela hora, naquele dia. No conforto do anonimato, estão dispostos a atacar qualquer coisa. Quando a pivô Nádia Colhado foi convidada para participar de um training camp pelo Atlanta Dream, da WNBA, essa turma ficou ouriçada.

Como pode? Não sabe jogar. Etc.

Porque o que essa turma mais sabe fazer é atacar, mesmo, embora não tenham 1,93 m de altura e agilidade fora do comum para alguém desse porte. Qualidades naturalmente raras, e o que o técnico Michael Cooper enxergou de cara, mas que a galerinha do contra jamais poderia ver ou perceber. A oferta do Atlanta Dream e a provação a que se submeteu, vencendo uma série de cortes para oficializar sua passagem pela liga norte-americana só servem para confirmar o potencial ainda a ser explorado.

Sonhando e aprendendo em Atlanta

Sonhando e aprendendo em Atlanta

Aí ficou difícil para os mais raivosos, que parecem não entender que esta é uma história recorrente no basquete brasileiro, ainda mais no feminino, em que os clubes minguam, a gama de talentos e treinadores vai se reduzindo, compondo um cenário não muito favorável ao desenvolvimento de seus prospectos. Tal qual Nádia, que, aos 25 anos, neste cenário, ainda deve se assumir “muito jovem”. Ela sabe que ainda não está plenamente formada. Aliás, quem está? Os grandes não nos cansam de dar exemplos sobre como há sempre algo a ser melhorado. Kobe Bryant que o diga.

De modo que, na temporada regular de 2014, a pivô da seleção participou apenas de 16 jogos de 34 possíveis, com média de 7,9 minutos por jogo. Neste tempo limitado de ação, o próprio Atlanta Dream reconhece sua produtividade ao apontar que, numa projeção por 30 minutos, suas médias seriam de 10,4 pontos e 6,9 rebotes. Para comparar, a estrela Érika terminou o ano com 13,9 e 8,7, respectivamente, em 29,6 minutos.

Na Copa do Mundo, ela ainda vai seguindo em frente em sua curva de aprendizado, novamente como reserva de Érika, num garrafão que merece respeito e poderia ser mais bem aproveitado, com jogadoras que se complementam bastante, com Clarissa e Damiris fechando a rotação. Um grupo de atletas que complementam muito bem uma a outra: a defesa interior e o chute de média distância de Nádia, por exemplo, além dos recursos de Damiris de frente para a cesta, da vitalidade e energia da Clarissa e da força da natureza que atende pelo nome de Érika.

Crédito: Divulgação/Inovafoto

Crédito: Wagner Carmo/Divulgação/Inovafoto

O blog enviou algumas perguntas para a pivô para que ela contasse mais sobre a experiência nos Estados Unidos, trabalhando sob a orientação do técnico Michael Cooper (um marcador implacável nos tempos de jogador e um dos companheiros prediletos de Magic Johnson no mítico Los Angeles Lakers dos anos 80), a expectativa de se manter no elenco do Atlanta Dream e as perspectivas de uma seleção ainda mais jovem que ela no geral. A entrevista foi feita antes do Mundial e viabilizada pelo Bradesco, patrocinador da CBB e das seleções brasileiras:

21: Qual foi o saldo de sua primeira temporada na WNBA? Você participou de 16 jogos de 34 possíveis na temporada regular, com tempo de quadra limitado. Mas imagino que o fato de estar rodeada pelas melhores do mundo, de treinar contra atletas de ponta já faça diferença. Existe a perspectiva de retornar para o próximo campeonato?
Nádia: Eles fizeram uma reunião após o final da temporada e se mostraram interessados, já que haviam gostado bastante do meu trabalho. Realmente tive pouco tempo de quadra, mas cheguei a atuar mais do que 20 min em alguns. Independentemente disso, qualquer minuto de quadra foi proveitoso. Tive um aprendizado muito grande em tão pouco tempo.  Treinei com a Érika, Sancho (Lyttle, pivô espanhola, estrela europeia) e Aneika (Henry, pivô americana) e aproveitei muito esse tempo que estive ao lado delas. Espero ter a oportunidade de voltar e aprender ainda mais.

Como é a rotina de treinos durante uma temporada da WNBA? Há tempo para fazer um trabalho individualizado com os técnicos? Seria mais com as assistentes Teresa Edwards e Karleen Thompson, ou também com o treinador Michael Cooper? Você acha que voltou à Seleção como uma jogadora melhor?
A rotina foi pesada. Os três sempre me puxavam para o treinamento especifico da posição, mas quem mais ficava ao meu lado era a Teresa. Os três são ótimos. Durante o camp, treinei oito horas por dia, e a maioria dos exercícios era especifica para pivô. Fiz um progresso muito grande em todos os fundamentos específicos, mas sou muito jovem e com certeza ainda tenho muita coisa a melhorar.

Foi uma surpresa o convite para participar do training camp ou algo já discutido com a Érika durante a liga nacional? E a satisfação de passar por tantos cortes e ter a WNBA no currículo? Era uma coisa mais de “aproveitar a experiência o máximo que pudesse”, ou estava confiante, determinada mesmo a entrar no time? 
Fiquei muito feliz. Lembro que quando acabou o jogo contra o Maranhão, o Michael Cooper (que estava no Brasil para observar Érika, sua atleta, e outros possíveis prospectos) me chamou para conversar. E foi aí que surgiu o convite para o camp. A Érika já havia me falado que ele estava vindo ao Brasil e da possibilidade de um convite. Mas, quando cheguei lá, me deparei com muitas jogadoras que também estavam participando desse camp, e todos os dias acreditava que  seria meu último dia lá. Mas o tempo foi passando, muitas, saindo, e eu ia ficando. Isso me deu muita força para dar ainda mais de mim e conquistar minha vaga ao lado de mais duas apenas. Uma delas foi a Shoni (Schimmel, armadora de 22 anos), que já havia sido draftada, então era uma vaga certa.

Para o Mundial, o Brasil levou um conjunto de pivôs muito sólido e versátil. Vocês são atletas cujas características combinam muito bem. É um ponto forte a ser explorado insistentemente?  Com um jogo de dentro para fora, mesmo?
Acho que principal ponto forte do Brasil é o jogo coletivo. As alas e armadoras são muito novas e muito rápidas. Claro que o setor das pivôs está muito bem estruturado e com certeza o treinador (Zanon) vai explorar isso muito bem. Algumas jogadas do Brasil são especificas com o trabalho de pivôs.

O Zanon vem conduzindo uma renovação no grupo. Até onde essa jovem seleção pode chegar? É mais realista pensar em um resultado expressivo no Rio 2016?
Estamos nesse momento focadas no Mundial e é aqui vamos buscar um resultado positivo hoje, claro que não será um trabalho fácil, mas é o que queremos. Em 2016, esse grupo deverá estar bem acima do nível atual e é uma situação natural de evolução e crescimento de um grupo que vem sendo muito bem preparado desde que esse processo de renovação iniciou. Vamos dar o máximo para chegarmos o mais longe possível.


Patrícia atinge maior pontuação da seleção após 2010
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Giancarlo Giampietro

Patrícia se soltou contra o Japão

Patrícia se soltou contra o Japão

A ala-armadora Patrícia Teixeira atingiu nesta terça-feira não só a melhor pontuação, de longe, na Copa do Mundo feminina de basquete. A jogadora também conseguiu a maior contagem de toda a sua temporada 2014 ao marcar 27 pontos e liderar o ataque brasileiro numa bela vitória contra o Japão, em Ankara, Turquia, que valeu para classificar a equipe para os mata-matas do torneio.

Nas duas primeiras rodadas do Mundial, a jogadora do São José, de 24 anos, havia anotado apenas três pontos. Todos eles contra a Espanha, depois de ter zerado na estreia contra a República Tcheca. Detalhe: os três pontos aconteceram na linha de lance livre. São números que ficavam bem aquém para uma titular de seleção brasileira, mas a verdade é que a jogadora, nada confortável em quadra, havia tentado apenas seis arremessos em 30 minutos no geral, errando todos eles. Até que triplicou sua média.

Os 27 pontos de Patty valem como a maior marca da seleção nesta Copa do Mundo, assim como a maior contagem desde os 32 que Érika anotou curiosamente também contra o Japão, pelo Mundial 2010. Ela igualou a quantia que Iziane somou contra a República Tcheca naquele esmo torneio, contra a República Tcheca, uma rodada depois da jornada excepcional da superpivô.

Contra as nipônicas, um time bastante ágil, mas física e atleticamente inferior, a brasileira se soltou, deslanchando especialmente no segundo tempo. Buscou a cesta em 17 ocasiões, com 11 acertos, para um aproveitamento mais que formidável de 64,7%, atacando tanto em infiltrações, com chutes em flutuação, jumpers ou bandejas (8-11, 72,7%), como convertendo 50% de seus disparos de fora (3-6), em 33 minutos. Sua pontuação se equivale a quase metade do que as asiáticas marcaram (48,2%). É uma das maiores atuações de sua jovem carreira, se não a mais importante.

Enfrentar a República Tcheca definitivamente não é a mesma coisa que uma defesa da LBF

Enfrentar a República Tcheca definitivamente não é a mesma coisa que uma defesa da LBF

Até, então, neste ano, sua melhor marca havia sido de 20 pontos que anotou pelo Ourinhos em vitória sobre o Brasília, no dia 8 de fevereiro, em casa. Embora tenha atingido esta soma ema penas 24 minutos e ela tenha valido por 48,7% da soma das suas adversárias, não há como traçar qualquer paralelo entre uma realidade a outra. Aqui, estamos falando de uma Copa do Mundo, a primeira vez em que a atleta atua em jogos oficiais pela seleção adulta fora das Américas. Sete meses atrás, estava em casa, no Monstrinho, enfrentando o time mais fraco da LBF, a liga nacional.

Em quadras brasileiras, Patrícia, que está de volta ao São José, clube que defendeu entre 2011 e 2013, vem tentando se inserir entre as principais atacantes. Em sua única temporada por Ourinhos – tradicional clube que, alegando falta de grana, congelou suas atividades na modalidade –, sua média foi de 11,06 pontos, em 29 minutos, sendo a 14ª da tabela geral do torneio. Sua segunda melhor marca individual foram os 19 pontos contra Americana, no returno, logo na rodada seguinte aos 20 contra as candangas.

(Aqui, um parêntese: foi uma aventura descobrir sua média e checar seus recordes pessoais, uma vez que o site oficial da LBF não oferece ao público fichas individuais de cada atleta, nem da temporada 2013-14, muito menos de edições passadas. Aí você consulta a lista de de cestinhas do torneio, e encontra duas Patrícias, ambas de Ourinhos, com médias de 11,06 e 10,94 pontos. Acontece que uma delas é a veterana Chuca. A outra, a Patty. E aí? Faz como? Bem, você primeiro consulta o Google para checar se a Patrícia número 7 é mesmo, a mais jovem. Confere. Aí, acessa jogo por jogo do clube no campeonato para tirar a limpo essa história. Em 16 partidas, a camisa 7 anotou 177 pontos. Divide na calculadora e chega aos 11,06. Eureka. Para constar: na temporada regular, em 14 confrontos, ela somou 159, com 11,38.)

Jogando no Vale do Paraíba, vinda do São Caetano, ela teve médias de 12,8 em 2012-13 (10ª), em 27 minutos, e 14,1 pontos em 2011-12 (11ª), em 31 minutos. Foi em 2013 que ela conseguiu seus recordes pessoais pela LBF. No dia 5 de março, foram 31 pontos em 35 minutos contra Araçatuba, numa vitória por 77 a 62, com 3-5 nos três pontos, 7-12 de dois pontos e 8-11 nos lances livres. No dia 18 de fevereiro, em derrota por 64 a 61 no Maranhão, igualou os 27 pontos que fez contra  japonesas, com 4-8 de três, 5-10 de dois e 5-6 nos lances livres. Os adversários eram os dois piores da temporada. Em 2012, ela também anotou 27 pontos contra São Caetano, no dia 28 de janeiro, em vitória por 71  a 55, com 2-4 de três pontos, 7-15 de dois pontos e 7-7 nos lances livres, em 31 minutos.

Patrícia tenta de longa distância, com mecânica estranha

Patrícia tenta de longa distância, com mecânica estranha

De novo: não dá para comparar esses picos em sua trajetória com o ela fez pelo encerramento da primeira fase da Copa do Mundo. Ainda assim, em declaração divulgada pela CBB, Patty não demonstrou tanta empolgação assim, dividindo o brilho da atuação com suas companheiras. “A vitória foi construída com nosso jogo coletivo e todas as jogadoras se ajudaram do início ao fim. Cada detalhe foi importante para conseguirmos esse resultado positivo. Entrei para ajudar o grupo, a defesa encaixou bem e com isso o ataque fluiu normalmente”, afirmou. “Fico feliz por ter contribuído com 27 pontos, mas divido esse momento com toda a equipe. Estamos confiantes e muito concentradas para as próximas partidas, decisivas.”

De fato, a ala-armadora desequilibrou o jogo em seu momento mais crítico, quando as japonesas reduziram uma diferença de 20 pontos para apenas seis na metade do terceiro período, mas o Brasil ganhou o jogo graças ao seu empenho defensivo, mesmo. Para tanto, além de plano de jogo e execução, contou claramente com seu maior vigor físico para oprimir o adversário. A própria Patty era, em geral, de 1,78m, era mais alta e rápida que as atletas com as quais duelou em quadra. Em sua primeira competição desse porte, vai se testando, assim como muitas de suas companheiras. Nas oitavas de final, contra as francesas, vice-líderes do Gruop B, é pedir demais que ela repita uma atuação dessas. Por outro lado, ela agora sabe que pode fazer muito mais do que havia apresentado nas duas primeiras partidas.

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Além de Érika e Iziane, confira as outras atletas brasileiras que chegaram aos 20 pontos seja na edição passada da Copa do Mundo ou nos Jogos Olímpicos de 2012: Clarissa marcou 21 pontos contra o Canadá em Londres;  a ala Karla fez 22 contra a Austrália em Londres; a armadora Helen chegou a 20 contra Mali em 2010; por fim, a pivô Alessandra marcou 21 pontos num segundo confronto com o Japão naquele Mundial. A jovem Damiris tem os 22 pontos contra o Chile como sua partida mais produtiva, mas pelo Sul-Americano.

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Em dados fornecidos pela CBB, confira os números de Patrícia na base:

Mundial Sub-19 Eslováquia 2007: 71pts/8 jogos (8,8).

Copa América Sub-18 Argentina 2008: 73pts/5 jogos (14,6)

Sul-Americano Sub-17 Equador 2007: 66pts/5 jogos (13,2)

Sul-Americano Sub-15 Equador – 2006: 99pts/6 jogos (16,4)


Brasileiras se impõem fisicamente contra Japão e avançam
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Giancarlo Giampietro

Clarissa e Érika vibram: domínio físico no garrafão – e na quadra toda

Clarissa e Érika vibram: domínio físico no garrafão – e na quadra toda

O Brasil primeiro se impôs fisicamente nesta terça-feira contra o Japão, com uma defesa bastante combativa e eficiente. Quando a coisa apertou a partir dos ajustes de seu adversário, a ala Patrícia explodiu no ataque, para chegar a incríveis 27 pontos e liderar uma vitória por 79 a 56 pela Copa do Mundo feminina de basquete, em Ankara, na Turquia. Foi o primeiro triunfo no torneio, pelo Grupo A, valendo às garotas a classificação para a fase de mata-matas.

Desde o início, a equipe de Zanon oprimiu o ataque nipônico, com jogadoras que são tão velozes como suas adversárias e muito mais vigorosas e atléticas. Claro que nada disso adiantaria se essas atletas não estivessem dispostas e atentas na defesa, para contestar os perigosos arremessos de fora e forçar uma avalanche de turnovers. As asiáticas cometeram 22 desperdícios de posse de bola, sendo que quase a metade deles aconteceu antes mesmo do final do primeiro tempo. “Hoje foi um jogo de muita concentração e esse foi um dos fatores que nos levou a vitória. Nós não vamos desistir”, afirmou a pivô Clarissa.

Muitos desses erros aconteceram devido ao reflexo e à antecipação das brasileiras, para cortar linhas de passe pressionadas ou em simples desarmes em situações de mano-a-mano que as adversárias atacavam a partir do drible – foram 16 recuperações, contra apenas quatro –, com destaque para a veterana e ainda extremamente ágil Adrianinha (4) e as pivôs titulares Clarissa e Érika (3) cada, sem contar as 3 recuperações da jovem Isabela Ramona em apenas nove minutos de ação. Nos rebotes, as pivôs brasileiras sobraram, com 13 na tábua ofensiva e 41 no total (contra 28), dando ainda mais volume de jogo ao ataque quando necessário.

Érika dessa vez não enfrentou resistência alguma, chegando ao double-double com 12 pontos e 11 rebotes, mais 4 tocos, em 31 minutos

Érika dessa vez não enfrentou resistência alguma, chegando ao double-double com 12 pontos e 11 rebotes, mais 4 tocos, em 31 minutos

Desta maneira, a seleção chegou a abrir 20 pontos ainda no primeiro tempo, num estalo de dedos, se aproveitando de uma decisão no mínimo curiosa, para não dizer misteriosa, de o Japão partir para a marcação individual logo de cara, demorando para acionar um sistema por zona que lhe ajudaria a atenuar sua defasagem física.

As nipônicas só alternaram sua defesa na metade do segundo período, já bem atrás no marcador. Ainda assim, tiveram sucesso, vendo o ataque brasileiro se perder em arremessos de três pontos tortos, que pouco assustavam. De pouco em pouco, conseguindo produzir mais em situações de transição, o time asiático foi diminuindo a diferença. Na metade do terceiro período, chegou a abaixá-la para meros seis pontos. Mas não passou mais disso.

O ataque brasileiro precisou de uns bons dez minutos, ou mais, para que se reencontrasse no jogo, e aí, sim, com participação sensacional da ala-armadora Patrícia. A jogadora de 24 anos havia marcado apenas três pontos nas duas primeiras rodadas, tendo zerado contra a República Tcheca na estreia. Hoje, multiplicou essa quantia por nove, elevando sua média para 10 pontos por jogo na fase inicial. Engraçado como as estatísticas nunca vão dizer tudo, né?

Patrícia soube dosar o ímpeto pelos disparos de fora com a busca de arremessos mais seguros de dois pontos e acabou com o sistema defensivo japonês. Ela guardou as bolas de longa distância com eficiência até então inédita para o Brasil no torneio (3-6), mas foi causar estrago mesmo em bolas de flutuação e bandejas, usando um primeiro passo bem ágil.

Foi uma contribuição inesperada, é verdade, que ajudou a completar o jogo interior que enfim prevaleceu. Juntas, Érika e Clarissa acumularam 25 pontos e 19 rebotes, além de 12 cestas de quadra em 23 tentativas. Na defasa, Érika ainda deu quatro tocos em 31 minutos. Damiris também conseguiu se soltar um pouco, chegando a seis pontos e seis rebotes em 23 minutos.

O próximo adversário da seleção será a França, que derrotou o Canadá em jogo apertado nesta terça, por 63 a 59, pela terceira rodada do Grupo B. Ambos os times tinham uma vitória e uma derrota (perderam da Turquia e ganharam de Moçambique). As francesas  ficaram, então, com a segunda posição do grupo e serão páreo duríssimo para o time de Zanon nas oitavas de final.

Fica a expectativa também de que a convincente vitória eleve a confiança de um elenco que vinha de derrotas desanimadoras. Resta saber, no entanto, se isso será o suficiente para que o time eleve seu padrão de jogo técnico ou tático como um todo para duelar com um adversário contra o qual definitivamente não vai ser tão superior física ou atleticamente.


Com Érika bloqueada, Brasil perde para tchecas na estreia
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Giancarlo Giampietro

Érika, num raro momento em que não estava completamente cercada

Érika, num raro momento em que não estava completamente cercada

O Brasil escala uma das melhores pivôs do mundo, uma comodidade daquelas que toda equipe sonha em ter. Claro que estamos falando de Érika. O problema é que, ao mesmo tempo que possui um luxo desses, a equipe, independentemente do técnico e do elenco de apoio ao redor da jogadora, segue sem usá-la de modo apropriado ou eficiente.  Neste sábado, na rodada de abertura da Copa do Mundo feminina, a República Tcheca praticamente tirou a estrela do Atlanta Dream de jogo e caminhou para uma vitória segura por 68 a 55, pelo Grupo A, em Ankara.

Essa coisa de acionar a pivô é uma questão crônica da seleção nos últimos torneios, independentemente de quem a está acompanhando e orientando. É verdade que as adversárias da estreia marcaram muito bem a linha de passe, diversas vezes posicionando suas pivôs frontalmente, conseguindo a proeza de “esconder” a gigante brasileira. Mas aí é o caso de procurar alternativas e não se conformar com a contestação inicial. Poderia se tentar fazer passes rápidos para o lado contrário, colocando a pivô, após um giro, de frente para a cesta. Ou um corta-luz entre as próprias pivôs para liberá-la por instantes preciosos para a recepção do passe. Qualquer truque que possa dar uma folga para a excelente jogadora que foi limitada a apenas oito arremessos em 29 minutos, convertendo três deles. Ela terminou com 8 pontos e 10 rebotes (cinco ofensivos e cinco defensivos. Impensável uma coisa dessas.

Falta chute de longa distância também ao redor de Érika, que acaba ficando muito visada. Nas ocasiões em que a seleção conseguiu ativá-la – seja em descidas mais rápidas para o ataque ou em situações que a grandalhona conseguiu estabelecer posição, as tchecas não titubeavam em mandar uma dupla ou até mesmo tripla marcação. É algo a que a jogadora está habituada, em torneios de Fiba, já que é uma verdadeira força no garrafão, internacionalmente reconhecida. Os oponentes vão fazer de tudo para segurá-la, e o Brasil ainda não encontrou formas de ajudá-la. Angustia.

O arremesso de fora poderia dar um alívio para Érika, mas não funcionou bem na estreia

O arremesso de fora poderia dar um alívio para Érika, mas não funcionou bem na estreia

Nesse ponto, também chama a atenção o modo como Damiris vagou pela quadra, sem muito propósito no jogo. Para um talento desses, alguém que pode realmente efetivamente atacar de dentro para fora, ou de fora para dentro, é um desperdício enorme. O quanto isso tem a ver com alienação tática ou de passividade da jogadora? Uma combinação das duas? Fato é que a ala-pivô poderia interagir muito mais com sua companheira de WNBA – e não necessária ou obrigatoriamente com o high-low que Barbosa tanto adorava, com a famosa conexão Tuiu-Alessandra. Damiris jogou por praticamente 25 minutos e estava zerada até o finalzinho, quando anotou seus dois únicos pontos num tiro de média distância na cabeça do garrafão.

Sem que as duas pivôs, suas jogadoras mais renomadas e qualificadas, produzissem, o ataque basicamente entrou em colapso, convertendo baixíssimos 26% nos arremessos de quadra (18-69), com 13-53 nas bolas de dois pontos. Coletivamente, o time realmente não rendeu, e até mesmo a transição foi inexistente, com apenas sete pontos de contra-ataque, contra dez das adversárias. Pode falar de nervosismo, juventude etc., mas isso não explica tantas falhas. O plano de jogo também deixou a desejar.

Em termos individuais, Tatiane Pacheco chamou a atenção. Embora não tenha terminado com números excepcionais (3-10, 8 pontos e 2 assistências),  talvez também pudesse ser mais explorada. A ala de 23 anos foi das poucas em que se mostrou confortável em atacar a partir do drible, com boa envergadura, controle de bola. Depois de substituída no primeiro quarto, demorou para voltar para a quadra. Dá para entender por um lado, já que as alas Jaqueline e a caçula Isabela Ramona foram muito bem na defesa, colocando mais pressão em cima da bola, ajudando a desestabilizar a articulação de jogadas das tchecas, forçando turnovers, que estavam muito tranquilas no primeiro quarto. Mas a ideia seria combinar, equilibrar essa energia com a técnica de Tatiane.

A equipe europeia tem muito mais rodagem, mas não era só isso. Sua linha de frente titular, com Vesela, Burgrova e Viteckova, é muito homogênea, com atletas espichadas e leves, que jogam flutuando com naturalidade. Um simples corta-luz fora da bola era o suficiente para liberar uma dessas atletas para o chute. Já seria um pouco difícil marcar essa bola devido à maior estatura de duas delas comparada com as brasileiras, e a retaguarda ainda falhou em algumas situações de troca, permitindo o arremesso de média distância livre. O jeito foi atacar quem estivesse driblando, mesmo, com as duas alas reservas fazendo bom papel nesse quesito.

Por falar em reservas, o técnico Lubor Blazek pouco usou seu banco. Quatro atletas não ganharam nem um segundinho sequer de ação, enquanto, das oito utilizadas, apenas seis ganharam mais de 10 minutos de jogo – a armadora Sedlakova ficou em 9min54s, enquanto Hejdova recebeu apenas 5min40s. A rotação dificilmente poderia ser mais enxuta que essa. Do outroo lado, Zanon colocou todas as suas 12 jogadoras em quadra, e apenas três delas ficaram abaixo dos dez minutos, numa situação reversa.

Esses números levam a crer que um ritmo mais intenso das brasileiras, com mais pressão quadra inteira, com uma defesa mais adiantada, mesmo, pudesse ter surtido mais efeito, para tentar cansar as oponentes. Claro que o jogo corrido não favorece o basquete de Érika. Mas, se em situações de meia quadra, a seleção não sabia explorá-la, o que fazer?

Faltou mais diálogo entre Érika e Damiris para a seleção

Faltou mais diálogo entre Érika e Damiris para a seleção

No jogo cadenciado, a República Tcheca sobrou. Não que seu time fosse lento, arrastado. Pelo contrário. Considerando a estatura de seu núcleo forte, elas eram bem ágeis, e isso surtiu todo o efeito para sua produção ofensiva, com 50% nos tiros de dois (23/46) e 45% de três (5/11). Isto é, quando não desperdiçavam a posse de bola (foram 19 no jogo),  concluíam com categoria. Percebe-se um melhor preparo técnico das adversárias e a resultante coesão que se ganha com isso. O ataque sai com muito mais fluidez devido à maior versatilidade.

Nem mesmo uma torção de tornozelo que Burgrova atrapalhou essa movimentação, já que a ala-pivô Alena Hanusova, de apenas 23 anos, executou ainda melhor  fazendo um belo terceiro período em seu lugar. Com 15 pontos, 6/8 nos arremessos em 26 minutos. Viteckova marcou 13 pontos, sendo nove deles em disparos de fora, num grande diferencial. Burgrova terminou com 12, enquanto Vesela teve 11. Quer dizer, foram 41 pontos distribuídos para esse quarteto.

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Sei que existe uma espécie de celeuma a respeito da pivô Clarissa, se ela só serve para o basquete nacional Etc. Sinceramente, não vejo razão para discussão. Claro que, pela baixa estatura, ela acaba tendo dificuldade para pontuar próxima do aro, especialmente contra um time tão espichado como o da República Tcheca. Mas sua dedicação e energia em quadra são qualidades indispensáveis. Nesta estreia, ela conseguiu simplesmente oito rebotes ofensivos. Além disso, quando pôde atacar a cesta de frente no segundo tempo, teve sucesso, usando sua velocidade em investidas de dribles curtos, com trilhas bem pensadas. Somou 10 pontos e 10 rebotes em 21 minutos.

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Próximos jogos: Espanha, neste domingo (15h15 de Brasília), e Japão, na segunda-feira (8h). Se derrubar as espanholas é mais complicado, a missão é derrotar as japonesas para conseguir uma vaga nos mata-matas. Com menor número de participantes que a masculina, a Copa feminina tem um formato diferente. Os primeiros colocados de cada grupo se classificam diretamente para as quartas de final, enquanto os segundo e terceiro lugares dão vaga em uma fase que vamos chamar de oitavas de final, mas não é necessariamente isso.


Presidente da CBB questiona metas do governo, mas se perde ao falar da seleção feminina
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Giancarlo Giampietro

 Ontem foi dia de rebater o candidato da oposição à presidência da CBB, o presente de grego que tivemos, durante anos e anos e que agora quer voltar. Foram tantos pontos de questionamento que parece que pior que aquilo não dava para ficar. Mas dá, sim. Dá quando sabemos que a confederação ou ficará com Bozikis, ou com o candidato da situação, que também tropeçar nas próprias palavras em entrevista ao R7. Carlos Nunes, Carlos Nunes… Ele quer a reeleição. Ai.

Carlos Nunes, presidente da CBB

Carlos Nunes, ex-aliado do presente de grego, agora tropeça por conta própria

A pergunta é direta e vital para aquele que já preside a entidade. A resposta vem murchinha e com um cinismo que impressiona: “Mais resultados, trabalhar mais com a base, mais ajuda do governo, saber o que ele quer realmente no esporte…”.

Sempre o governo. A grana do governo.  O mesmo governo que já cedeu a Eletrobrás como patrocinadora? Ah, tá. A mesma desculpa de sempre.

Em termos gerais, claro, quanto mais sólidos os investimentos em educação, escola pública, parques, centros olímpicos etc., maior a chance de termos um craque. Mas em qualquer modalidade, né? Não especificamente o basquete. Tirando a Lituânia, que governo trabalharia especificamente para o basquete?

E, se não falha a memória, a presidenta não acabou de assinar um cheque trilhardário há alguns dias para todo o esporte? Mas, antes de o governo saber o que espera do esporte, será que e a CBB sabe o que quer do basquete?

Quer mais ajuda, mesmo! Porque tá precisando.

Ainda mais porque os R$ 22 milhões orçamentários não servem pra tocar uma confederação de ponta, explicando então os empréstimos, o saldo negativo, o balanço que flerta com a falência da entidade nos últimos anos. Se quiserem discutir que o valor é pouco para sustentar as operações, que mandou assinar e topar esse tipo de valor? Num quadriênio rumo a uma Olimpíada em casa, não dava para barganhar mais?

Aí, quem sabe, com mais dinheiro, talvez ele consiga coordenar dois departamentos de uma vez. Porque sua gestão foi totalmente incompetente no que diz respeito ao feminino. “Para a feminina foi mais difícil, pelas dificuldades que tivemos e que todo mundo sabe”, afirmou.

Clarissa x Seimone Augustus

Fatou citar também a surra que as meninas levaram dos EUA em jornada dupla em Washington

Se todo mundo sabe, então é de se supor que ele, Hortência e asseclas sabiam também em 2009, não? Das duas uma: ou não sabiam, ou falharam em se preparar. Não tem desculpa. “A preparação é diferente da masculina. Foi difícil conseguir adversárias para ter uma preparação mais adequada. E ainda temos o cancelamento dos Sul-Americanos… Não tivemos países para jogar. A feminina, só teve o Chile para amistoso.”

Quer dizer, então, que o Brasil se deu mal nas Olimpíadas porque simplesmente não conseguiu jogar contra times de ponta. Como se elas não tivessem ido para a Austrália, né? Ou que não tivessem enfrentado a França, naquele fim de semana inesquecível do corte de Iziane. Por que o presidente, então, diria que só enfrentamos o Chile? E, realmente, um ou dois amistosos preparatórios fariam tanta diferença assim no resultado final? Ese foi o ponto mais importante? Ou será que mais relevante não era ter mantido uma linha técnico-tática durante todo o ciclo? Em vez de trocar a cada temporada?

Deve ser bobagem isso. Já que tínhamos um projeto bem claro: chegar a Londres para um torneio ritualístico, de passagem, de experiência para as meninas rumo ao Rio, com as jovens Karla, Chuca, Adrianinha e Silvia todas escaladas na rotação de Tarallo. Tássia, Nádia e Franciele, das mais experientes, ficaram entre as que menos jogaram. Damiris, grande aposta, foi limitada a menos de 20 minutos por partida. Isso tem tenome: planejamento. “A masculina tem mais condições que a feminina, já tem base pronta. A feminina vai passar por renovação”, disse Nunes. Ué, mas o ciclo anterior, nas palavras de Hortência, não era justamente para isso?

A julgar por essa entrevista, com tantas imprecisões, choradeira e palavras vagas, não dá para se animar muito para uma reviravolta no cenário feminino. “Queremos ganhar o Sul-Americano, nos classificar para a Copa América, para o Mundial, e no Mundial ficarmos entre as quatro, pelo menos. Queremos ser semifinalistas no Mundial da Turquia 2014”, assegurou.

Percebem a incoerência? Primeiro diz que a preparação do time feminino é mais difícil. Que vem renovação, blablabla. Depois, diz que espera uma semifinal de Mundial daqui a dois anos! Depois-depois, volta a se desdizer ao falar sobre Olimpíadas: ” Queremos o ouro, no masculino. No feminino, claro que também queremos o ouro, mas se ficarmos entre as quatro…  (estaria bom)”. Então é assim: no Mundial, que é daqui a dois anos, ele quer “pelo menos” ficar entre as quatro – isto é, brigar por medalha. No Rio de Janeiro, daqui a quatro anos, jogando em casa, a casa de Érika e Clarissa, por exemplo, a demanda seria menor. Faz todo sentido do mundo.

Então fica a pergunta reforçada: o que a CBB realmente espera do basquete brasileiro?

 


Presidente da CBB expõe Hortência e fala em contratar australiano para a seleção feminina
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Giancarlo Giampietro

Tom Maher, coach

Tom Maher dirigiu a Grã-Bretanha e, para Nunes, deveria assumir a seleção

Nada como uma organização bem azeitada, em que sua cúpula fale a mesma língua. Ou que, pelo menos, não se exponha tanto publicamente, que guarde os debates para seus QGs, né?

Só tirem a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) dessa.

Em passagem – desastrada, para variar – por João Pessoa, em campanha por sua reeleição na presidência da entidade, Carlos Nunes falou novamente mais do que deveria. Geralmente funciona assim mesmo: o presidente mal aparece em público. Quando fala aos microfones, só sai rojão. Dessa vez ele expôs uma de suas profissionais de confiança, Hortência, diretora do departamento feminino.

“Como opção minha, e esta é uma responsabilidade que trago para mim, eu entendi que era Hortência quem tinha as condições necessárias para levar o time a uma posição melhor nas Olimpíadas. No fim, acabou acontecendo o que aconteceu. Cabe-nos agora avaliar o que deu errado”, afirmou o cartola em entrevista ao GloboEsporte.com.

Tipo… “Deu no que deu”. É até engraçado. Mesmo.

Mas, calma lá: Nunes afirma que, “a princípio”, sua diretora continua no cargo, mas que “novos nomes devem se juntar ao grupo”.

Se Hortência continuar mesmo na administração, vai ter de batalhar para manter sua escolha da vez de técnico, Luís Claudio Tarallo, no cargo. Segundo o presidente da CBB, ela defende a continuidade no comando da seleção adulta, depois de uma campanha pífia em Londres-2012.

Não seria agora, afinal, que ela trocaria um treinador, né?

Oooops.

Bem, voltando: se Hortência continuar e se optar por seguir com Tarallo, pode ter sua opinião contrariada pela hierarquia e ter de engoliar a seco. Enamorado pela proteção que Rubén Magnano lhe dá em seu cargo, Carlos Nunes defende a contratação de um treinador estrangeiro também para dirigir as meninas. O nome seria o australiano Tom Maher, que dirigiu a Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos e já fez grandes campanhas nos últimos 20 anos.”Sou muito simpático à ideia de trazer o treinador australiano”, afirmou.

Entre nós, é um grande técnico.

Também aqui entre nós todos: precisava jogar as coisas no ventilador assim mesmo?


Jogos patrióticos: a praga da naturalização no basquete
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Giancarlo Giampietro

Se eles fazem, nós fazemos também. Se você tem, eu quero também.

E por aí a gente segue, com Larry Taylor armando a seleção brasileira e comandando uma virada – de final frustrado – contra a Rússia. E vamos com Serge Ibaka enterrando todas e bloqueando adversários que não estão habituados a enfrentar um pivô tão atlético assim.

Esses são os dois casos mais óbvios para se discutir. Mas o problema vai muito além: hoje até o Azerbaijão –  o Azerbaijão!!! – recruta quatro jogadores americanos para defender sua seleção nas eliminatórias para o Eurobasket. Virou uma praga.

A cidade de Laramie, no Wyoming, não chega a ser um pólo turístico atraente, não deve ser referência para muita coisa, mas uma coisa dá para cravar: está a mundos de distância, cultural e geograficamente, de Baku, a capital azerbaijana. A identificação entre o Wyoming e o Azerbaijão deve ser a mesma entre um são-paulino e um corintiano. Nenhuma. Então como explicar que um de seus rebentos, o ala Jaycee Carroll, um cestinha de mão cheia pelo Real Madrid, tenha o passaporte do longínquo país situado na Eurásia? Ele nunca jogou por um clube de lá – sua carreira europeia passa por Itália e, agora, Espanha.

É a mesmíssima situação de Bo McCalebb, que ajudou a eliminar algumas potências tradicionais do esporte no último campeonato europeu, jogando pela Macedônia que ele visitou pela primeira vez justamente apenas para tirar o seu passaporte.

Não há como justificar uma coisa dessas.

Serge Ibaka, do Congo

Serge Ibaka, do Congo ou da Espanha?

E aí entra a parte em que aceita-se as ressalvas: mas o Larry joga em Bauru há anos e só precisa aprender “impávido colosso” para completar nosso hino; o Ibaka foi jovem para a Espanha… Sim, não chega a ser algo tão cínico, deslavado, sem vergonha como os casos dos pontuadores McCalebb e Carroll. Há um vínculo, pequeno que seja, em seus casos. “Nunca vou esquecer de que lugar eu vim, mas estou orgulhoso de vestir o uniforme da Espanha e representar este país”, afirma Ibaka. Mas dá para ir mais a fundo nessa.

Serge Jonas Ibaka Ngobila chegou ao país ibérico em 2006, com 16 anos, estritamente para jogar basquete. Ele já havia disputado competições de clubes avalizadas pela Fiba em seu Congo natal, pelo Interclub de Brazzaville, sua cidade natal. Defendeu primeiro o time de base do CB L’Hospitalet e depois fez sua estreia na LEB Oro, fortíssima segunda divisão. De 2008 a 2009, passou a jogar pelo Ricoh Manresa. De lá partiu para Oklahoma City. Façam as contas: foram três anos. Certamente serviram para burilar uma joia rara, que avançou tecnicamente. Mas é o suficiente para ele se tornar espanhol? E mais: quando foi convocado por Sergio Scariolo, ele ainda não tinha a papelada, embora a federação do país tivesse garantias de que o processo seria acelerado e concluído para que ele prontamente jogasse no Eurobasket do ano passado.

É a mesmíssima situação de Larry, que foi convocado em 2011 e não pôde disputar o Pré-Olímpico porque a burocracia não permitiu. De todo modo, o breve contato com Magnano convenceu o argentino de que valeria, sim, brigar para ter o americano em Londres, e a CBB promoveu intenso esforço para contar com o estrangeiro. Esse é o ponto importante no causo: nunca partiu dele o pedido de cidadania e de uma convocação.

Os dois assumiram novas nacionalidades estritamente por razões profissionais, esportivas. Pela forma que os processos foram tocados, não dá para negar: foram dois jogadores contratados por suas seleções, não importando o quão identificados estivessem com a nova terra. Ainda que mais amenos que os reforços do Azerbaijão, são casos diferentes e mais graves, por exemplo, que o de Luol Deng.

Larry Taylor, de Bauru

Larry Taylor, de Chicago e Bauru

O ala do Chicago Bulls, líder da seleção britânica, que nasceu em Wau, no Sudão (agora território do Sudão do Sul). Mas calmalá: enquanto o pai, um parlamentar, ficava para trás, sua família deixou a cidade foragida durante guerra civil e chegou ao Egito, em Alexandria. A mãe e oito filhos, Luol com três anos. Eles foram reencontrar o Deng sênior apenas cinco anos depois, em Londres, com o devido asilo político arranjado.

O garoto aprendeu tudo muito rápido, a começar pela nova língua. Começou a jogar basquete para valer e, aos 14, já tinha um convite para atuar por um colegial dos Estados Unidos, onde estudou e jogou até chegar ao time de Duke e, posteriormente, ao Bulls.

As constantes migrações deixam sua história um pouco mais cinzenta. Talvez o ala deva mais aos EUA por sua carreira de atleta. Mas qual passagem foi mais importante para que ele e seus irmãos prosperassem? Pelo que podemos ler neste artigo aqui do Guardian, dá para chutar que foi na Inglaterra em que sua família encontrou paz e estabilidade. Foi um claro recomeço.

Nas Olimpíadas, vimos que a Grã-Bretanha tinha bons pivôs, mas dependia quase que exclusivamente do talento do ala para sobreviver em meio a rivais de muito mais tradição. Não que isso importe muito em termos de regulamento, preto-no-branco. Mas, eticamente, não custa perguntar: como se virariam sem Larry e Ibaka o Brasil, com a turma da NBA toda reunida, e a Espanha, vice-campeã olímpica em 2008 sem nenhum reforço extracomunitário? Pode ser que caíssem um pouco de rendimento, mas seria algo tão drástico? Eles realmente precisavam apelar para esta via?

A resposta, como sempre, cai para o cinismo. “É assim que as coisas funcionam”.

Então tá, né? Esperem só até ver, então, a seleção olímpica do Turcomenistão em 2032.

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Dia desses, o chapa Jonathan Givony – diretor do serviço de scouting Draft Express, cara mais do que viajado no basquete – saiu em uma cruzada contra alguns de seus seguidores no Twitter que não toleravam suas observações irônicas sobre os procedimentos adotados pela FEB.

Começou assim:  “E isso sem o benefício de ‘recrutar’ qualquer mercenário do Congo e de Montenegro”, em referência ao ouro dos Estados Unidos em Londres. Aí pegou fogo. Foi torpedeado.

Luol Deng, Grã-Bretanha

Luol Deng, um contexto mais cinzento

Muitos defenderam que Ibaka e o ala Nikola Mirotic, montenegrino também importado e que já defendeu o país até mesmo em categorias de base, podem ser espanhóis, sim, senhor, por terem chegado como adolescentes. O problema é que eles vão exatamente para serem jogadores de basquete e ficarem a serviço de um novo país.

 “Linas Kleiza e muitos outros jogaram no basquete colegial e universitário nos EUA. Deveríamos também recurtá-los para jogar na nossa seleção? E por que motivo?”, perguntou. “Desculpem, mas Mirotic deveria estar jogando por Montenegro contra Sérvia e Israel. Ele só não está porque não fazia sentido financeiramente.”

Com o passaporte espanhol, naturalizado, Mirotic tem muito mais facilidade para descolar bons contratos na liga espanhola, e o Real Madrid também agradece. “É a definição de um mercenário. E haverá muitos mais como ele nos próximos anos. E está errado.”

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Em entrevista ao Daniel Neves, aqui do UOL Esporte, a diretoria do departamento feminino da CBB, Hortência, afirma sobre a possibilidade de importar uma armadora: “Se aparecer uma jogadora que se encaixa ao nosso estilo, não vejo porque não naturalizar. Mas não vamos naturalizar qualquer uma. Estamos acompanhando tudo o que está acontecendo e vamos avaliar a capacidade das jogadoras, que não precisam necessariamente jogar na LBF. Aí decidiremos se vamos trazer uma estrangeira ou não.”


Presidente da CBB reaparece em editorial com pérolas em tom de campanha
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Giancarlo Giampietro

Tudo é uma questão de recuperar o orgulho tupiniquim

Os bastidores do basquete brasileiro já estavam agitadíssimos há muito tempo, mas, passadas as Olimpíadas, como o Bala já publicou, agora é hora de a campanha presidencial da CBB vir à tona, escancarada, e ai de quem ficar na frente.

Nessas horas, vale usar até mesmo o site da confederação, né? Bah, que mal tem?

Toca lançar, então, um editorial nesta quinta-feira no mais alto tom de candidato, rompendo um silêncio que durava desde o desastrado anúncio das convocações de Nenê e Leandrinho em antecipação a Rubén Magnano.

Veja o que assina Carlos Nunes: “Basquetebol, orgulho nacional mais uma vez”.

Por acaso estamos falando da mesma modalidade que saiu como quinto lugar no masculino e venceu apenas uma partida no feminino?

Porque aqui é preciso todo o cuidado do mundo – ou, pelo menos, do Brasil – para que não se misture as coisas. Que um time tenha jogado bem, batido de frente com as potências do torneio e tal, e isso seja entendido como o resgate do orgulho nacional (hein?!) me parece um senhor exagero, desde já. Mas, vá lá. Tem gente que considera mesmo essa avaliação factível. Esses precisam entender que o desempenho de duas seleções nacionais não reflete, de modo algum, uma bonança do esporte no país.

Por mais que o presidente da CBB discorde: “No esporte como praticamos, a derrota não é uma escolha. Medalha no peito ou não, nosso orgulho está em alta. Jogamos para vencer. Sempre”. E desde quando é virtude que um time jogue um torneio para vencer? Não é o óbvio? Se essa é uma indireta para os espanhóis, a derrapada de um não deve transformar a mera obrigação competitiva do outro em ato heróico… Quanta falácia, quanta pachequice.

Presente de Grego e Carlinhos, amigos?

Em seu memorando, Nunes gasta dois longos parágrafos enaltecendo a suposta superestrutura da entidade e paparicando a equipe dos marmanjos. No meio do terceiro parágrafo é que vieram seus tão aguardados comentários sobre a seleção das meninas. Vejamos:  “O feminino jogou de igual para igual contra potências mundiais, num grupo dificílimo. Das quatro semifinalistas, três jogaram contra o Brasil”, começa. Ok, este é numericamente um fato: por outro lado, para quem viu os jogos com o mínimo de senso crítico – será que ele assistiu? será que ele sabe o que é isso? –, ficou bem claro que Austrália e Rússia já não eram as mesmas poténcias de outrém.

E o que mais? “Desempenhos como os de Érika e Clarissa são sementes que plantamos, num trabalho sério e profissional de nossa diretora Hortência, do qual colheremos frutos. As derrotas servem para apresentar lições e fortalecer para o futuro. É isso que faremos”, sentencia. Peraí. Se bem entendemos esse trecho, o cartola quis dizer que Érika, uma pivô que já era uma força da Natureza no Mundial de 2006 e chegou a Londres com 30 anos, foi um produto de sua administração? Ou, quando ele diz “nós plantamos”, talvez esteja se referindo a si e a Gerasime Bozikis, nénão? Seu ex-comparsa, da gestão anterior, da qual tomou parte. Aí faz sentido. Claro!

Se bem que… Hã… Talvez, não.

Afinal, Carlinhos e o nosso presente de grego são concorrentes hoje.

Desculpem a confusão, ok? Mas, como suas trajetórias se confundem e a incompetência é a mesma, fica difícil separar em miúdos.

Voltemos ao editorial, então, sem esquecer a conveniente omissão do caso Iziane – essa semente ninguém plantou, então? – e sem deixar de destacar o prestígio direcionado a Hortência, que, deduzimos, s parece garantida até a reeleição, pelo menos.

Para arrematar, um Grand Finale: “Como disse Rubén Magnano, depois do jogo contra a Argentina, o bambu não cresce do dia para a noite. Além dos já consagrados, novos talentos vão surgir em nossas divisões de base, através de estímulos às federações, aos Nacionais e à Escola Nacional de Treinadores. Em 2016, uma grande festa no Rio de Janeiro vai consagrar de vez o basquete como orgulho nacional”.

É realmente uma pérola: “Bambu não cresce do dia para a noite”. Como se a apropriação dessa metáfora realmente nos forçasse goela abaixo a ideia de que 24 horas representariam os três anos de um trabalho. Conta outra, por favor.

Mas o mais revelador, mesmo, é o verbo “surgir”. Pois não é assim que funciona o basquete brasileiro? Quem explica talentos como Nenê e Damiris? Realmente muito bem empregado, já que “surgir” passa muito mais a noção de casualidade do que de planejamento, não?

Na mosca, presidente.