Vinte Um

Arquivo : CBB

Felício é convocado, e a seleção tem de seguir em frente
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

cristiano-felicio-bulls-summer-vegas

Você nunca deve levar tão a sério os resultados de uma Summer League, ou os números produzidos pelos jogadores. É difícil saber exatamente o que se traduz em jogos oficiais de NBA aquilo que se pratica nessas partidas de veraneio, que muitas vezes descambam para a pelada.

No caso de Cristiano Felício, porém, em sua segunda aventura por Las Vegas, as atuações convincentes e as dezenas de elogios que tem recebido têm mais significado. Não é que ele só tenha jogado bem nesse cenário. A boa participação pelo segundo ano consecutivo confirma e mostra um pouco mais sobre sua curva de evolução nos Estados Unidos, mês a mês, depois de ser dominante em sua curta passagem pela D-League e de impressionar na reta final de temporada do Chicago Bulls.

Este é o pivô que a seleção brasileira vai receber agora, de improviso, por circunstâncias do lamentável corte de Anderson Varejão: um jovem talento em alta no cenário internacional. O brasileiro, de 24 anos, ainda está em formação. Mas já mostrou que pode ser produtivo nos mais diversos níveis em que atuou desde que foi para os Estados Unidos, competindo com os melhores atletas do mundo.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Quando se apresentar a Magnano e iniciar os treinamentos, Felício vai primeiro ter de brigar por seu espaço na rotação, com muita gente boa na frente, treinando desde o início. O mineiro de Pouso Alegre não chega como uma figura messiânica que vá conduzir a seleção rumo ao ouro ou ao Olimpo. Sua (re)convocação de última hora, porém, deve ser comemorada pelo simples fato de que ele era a melhor alternativa disponível no caso do corte de um pivô, já que Splitter e Faverani estão fora de combate. Ele está preparado para dar uma força a Nenê, Augusto, Hettsheimeir e Giovannoni. Arrisco dizer que mais preparado do que Varejão.

Varejão estava limitado por uma hérnia de disco

Varejão estava limitado por uma hérnia de disco

Aqui, é importante deixar claro que estamos falando sobre agosto de 2016 – e, não, sobre o conjunto da obra. Até porque não há como comparar os dois nesse sentido. O pivô que está chegando nunca teve muitas chances para se estabelecer como referência nem mesmo no NBB e agora está se soltando na liga americana, para surpresa dos mais desavisados ou negligentes. O outro está na reta final de uma carreira louvável, vitoriosa e milionária, sabotada apenas por uma lista interminável de lesões e problemas físicos.

É uma pena que, mesmo depois das idas e vindas de uma temporada em que mal jogou, Varejão volte a ser endereçado à enfermaria. Ele simplesmente não consegue paz. Mas é por isso que sua convocação como “nome certo e indiscutível” neste ano causava certa apreensão. Não é um tema fácil. Pelo contrário, parece bem espinhoso. Mas, na hora de formar uma seleção olímpica, o que deveria pesar mais: o currículo ou o momento? O que desperta mais “merecimento”, ou é mais digno de prêmio: a história ou o presente?

Respondendo friamente, é natural que você vá pender sempre para a primeira resposta: aquilo que está acontecendo aqui e agora. Mas há todo um fator emocional que pode te empurrar para a segunda alternativa também, e esse aspecto não deixa de ser relevante na hora de construir uma equipe. É aqui que fica a maior preocupação pelo corte de Varejão ao meu ver: a seleção está perdendo um líder, uma figura exemplar. Características que já haviam sido sacrificadas no momento em que Tiago Splitter soube que precisava fazer uma cirurgia no quadril.

Agora, não podemos nós todos, incluindo Magnano, nos mostrarmos surpresos com o corte. Pode-se lamentar, claro, porque ninguém quer ver um atleta lesionado, contundido, abalado, muito menos às vésperas de um torneio olímpico em casa, depois de uma longa história a serviço da seleção. Se for ver bem o currículo de Anderson, ele também quase sempre esteve lá. Somente em 2007 ele se viu obrigado a dizer não, quando estava em forma, pois ainda não havia renovado com o Cleveland. Mas dizer que era totalmente inesperado? Não dá. Nesta década, em seis temporadas, a única em que o capixaba conseguiu jogar pelo menos 80% das partidas da NBA foi em 2013-14, com 65. De resto, temos 31, 25, 25, 25 e, por fim, as 53 da temporada passada, em que não sofreu nenhuma lesão grave, mas pela qual já havia se transformado numa figura complementar de elenco, chamado para a quadra por David Blatt ou Steve Kerr só por emergência ou com o jogo já resolvido.

Está certo que as equipes eram Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors, justamente os dois finalistas da liga, com grandes opções para a linha de frente. Acontece que, nos momentos em que foi para a quadra, Varejão não deixou boa imagem. Tantas lesões, a última delas uma ruptura no tendão de Aquiles, lhes haviam roubado a incomum mobilidade, características essenciais para que tenha se tornando um pivô de elite, dos melhores defensores e reboteiros de sua geração. Muito se fala sobre a dedicação, a garra e a inteligência do veterano, com justiça. Esse pacote o transformou em ídolo/xodó tanto em uma cidade praiana e quente como Barcelona como num município mais interiorano e gélido como Cleveland. Seus piques, mergulhos e arroubos em quadra foram contagiantes e irresistíveis, ainda mais com a cabeleira voando para todos os lados. Se ele não fosse extremamente ágil para alguém de sua altura, porém, não teria recebido mais de US$ 80 milhões só em salários.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?
>> Espanha ainda depende de Pau Gasol. O que não é ruim
>> Argentina tem novidades, mas ainda crê nos veteranos
>> França chega forte e lenta, com uma nova referência

Como disse aqui, se fosse para encarar, então, a convocação de Varejão com otimismo neste ano, você tinha de se apegar à ideia de que ele deveria  apenas se detravar. Que, retornando de uma lesão complicada, não chegou a ter chance de se provar recuperado em quadra pelo fato de ter Kevin Love, Tristan Thompson e até Timofey Mozgov à frente na rotação. (Mas aí o Cleveland o despachou.) Depois, pelo Golden State, estava chegando no meio do campeonato a um time azeitadinho que prioriza o small ball. A visão de quadra ele nunca vai perder, podendo dar bonitos passes no sistema de frenética movimentação do Golden State. Mas só isso não era o bastante. Aí que sua média de minutos ainda caiu, de 10,0 por jogo para 8,5. Então de repente o brasileiro só precisava de um empurrão de uma boa sequência de amistosos para mostrar que poderia ser relevante em quadra, que os 43,1% de aproveitamento nos arremessos de dois pontos (contra 51,7%) e a queda no percentual de rebotes tinham mais a ver com ferrugem. No fim, a desgraça é que nem essa dúvida vamos poder tirar agora.

Felício, por outro lado, não poderia estar mais apto fisicamente para contribuir com o time. O pivô tem uma combinação de força física e agilidade que o tornam especial até mesmo em meio aos grandalhões da NBA. Na liga de verão, simplesmente não houve quem o parasse quando recebia a bola debaixo da cesta. De todo modo, seu jogo tem muito mais do que a o porte intimidador e a capacidade atlética. Aos poucos, os scouts e os americanos em geral vão percebendo o quanto sua visão de quadra e leitura de jogo são apurada, enquanto ele também vai pegando confiança em seu arremesso de média para longa distância, que já sai naturalmente de suas mãos.

Depois das desavenças com Thibodeau, de uma temporada atribulada para o técnico que contrataram para substituí-lo, perdendo os playoffs, das crises de ego com Jimmy Butler e Derrick Rose e da contratação de Rajon Rondo, o fato de terem “descoberto” Felício é uma das poucas boas notícias associadas recentemente aos diretores do Chicago Bulls. Natural, então, que o clube o quisesse por perto neste verão (setentrional), para trabalhar ainda mais com o pivô. Ele foi para a quadra em Las Vegas para botar novamente em prática tudo o que vem treinando por lá. Para um jogador que não tem contratado garantido e ainda está se afirmando na NBA, isso não é pouco. Então, por favor: sem essa de que Felício não “quis” jogar pela seleção. Esse verbo não costuma ser muito relevante nos bastidores da liga. Até mesmo um cara como Manu Ginóbili já foi contrariado quando o assunto é participar de um torneio Fiba.

Aí que o método Magnano de morder e assoprar morder mais uma vez só gera desgaste e incertezas desnecessárias. E mostra o quanto o argentino está desconectado da realidade em alguns aspectos – ou isso, ou tudo não passa de um showzinho para a torcida e as câmeras, o que é ainda pior e é algo que diversas fontes já sopraram para o blog nos últimos anos, causando desconfiança da parte de muitos atletas com o treinador. Será que não passava por sua cabeça em nenhum momento que atletas com o histórico médico recente de Faverani e Varejão poderiam ser cortados? Não é questão de ser pessimista, gente, mas de ser realista. Para que disparar, pela enésima vez, contra um jogador? Para constar, a Alemanha acaba de anunciar a dispensa de Dennis Schröder da seleção que vai disputar o torneio de classificação para o EuroBasket. O motivo? A federação entende que o armador está prestes a jogar aquela que talvez seja sua temporada mais importante pelo Atlanta Hawks, promovido ao time titular.

Huertas, Magnano, Felício e poucos minutos

Magnano se encontrou com Felício há alguns meses. Não serviu de muita coisa

A própria convocação de Faverani, aliás, mostrava o quão tolo e desnecessário é esse tipo de comportamento. O técnico já cuspiu marimbondos ao falar sobre o pivô no passado. Chegou o #Rio2016, e quem estava lá na lista? Pois bem. Se ele deu o braço a torcer em relação ao talentoso e enigmático grandalhão, agora chegou a vez de fingir que nada aconteceu em relação a Felício. Que ninguém na CBB consiga ao menos controlar o ego e os ânimos do treinador só vem corroborar o estádio de falência e calamitoso que domina a entidade.

Em relação ao silêncio da confederação durante todo esse processo de troca de jogadores, aliás, nada surpreende. Transparência realmente não é o forte dessa gestão – e da passada –, assim como o zelo pela imagem dos jogadores. Precisa vir a assessoria de Anderson Varejão anunciar que o pivô estava fora, devido a uma hérnia de disco. Antes, o problema era tratado de forma oficial como “lombalgia”. A gente não vai saber se era um diagnóstico equivocado (e nem questiono os médicos envolvidos, mas é que, para uma entidade quebrada, talvez nem haja dinheiro para exame de imagem…). De repente já tinham conhecimento do fato e apenas lançaram um termo genérico para não causar comoção, achando que, desta forma, o preservariam. Com um torneio como a Olimpíada se aproximando, não vejo razão para tanto suspense. Além do mais, se fosse o caso, não haveria motivo para o pivô sair às pressas para ser avaliado pelo Warriors e por especialistas na Califórnia. Enfim, se a seleção brasileira sonha em fazer uma boa campanha no Rio, já sabe que terá de fazer isso por conta própria, pois os dirigentes não estão em condição de dar nenhuma contribuição relevante.

Então agora a gente fica no aguardo para que Felício chegue, se incorpore rapidamente a um grupo olímpico ainda bastante experiente, e que seja bem recebido, sem ressentimentos. O jovem pivô está em plena ascensão e não é de criar caso com ninguém. Pelo contrário: talvez já pudesse ter brigado por seu espaço muito antes, pois não foram os técnicos da NBA que lhe ensinaram aquilo que ele vem mostrando hoje. Era tudo uma questão de chance e confiança. Que agora ele deve receber de Magnano e seus companheiros. O corte de Varejão é um trauma do ponto de vista emocional, pela sua representatividade. O status da seleção segue o mesmo: com chances no torneio, tendo de brigar muito. Eles perderam um guerreiro combalido, que merece todas as homenagens. Mas pode ser que saia daí um time ainda mais forte tecnicamente, ou pelo menos mais vigoroso.

***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 96572-1480 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87


A crise e o basquete brasileiro: quem está se mexendo?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Dois blogs vizinhos aqui na rede do UOL Esporte nos trouxeram na semana passada informações que se completam perfeitamente e nos dão um bom retrato sobre o basquete brasileiro, a menos de cinco meses da disputa das Olimpíadas. No dia 8, Fábio Balassiano publicou entrevista com o presidente da CBB, Carlos Nunes. Dois dias depois, Daniel Brito deu a notícia de que a Caixa Econômica Federal vai investir R$ 32 milhões, divididos em cinco anos, nas ligas masculina (LNB) e feminina (LBF).

Quando Brito divulgou o acerto do banco com as entidades que reúnem os clubes, uma declaração de Nunes ganhou outro contexto, sobre a dificuldade de se captar patrocínios: “Tentamos, tentamos sempre. E a gente não consegue. As empresas alegam que não têm dinheiro e que a exposição da seleção brasileira é muito pequena, pois a seleção se junta em julho e deixa de estar atuando em setembro. Isso, para os patrocinadores, é muito pouco. Mas não desistimos, não”.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Certo. O mercado está retraído, mesmo. Mas há quem possa atrair investimento – também no dia 10, a LNB ainda anunciou acordo com a Avianca, que vai cuidar do transporte dos atletas em troca de exposição, e também atraiu a parceria da NBA. Outros já têm mais dificuldade, se não for em convênios generosos e de justificativas nebulosas com o Ministério do Esporte.

Antes de prosseguir, alguns pontos:

1) sim, não haveria espaço para a Caixa fechar um contrato com a CBB, que já tem o Bradesco ao seu lado.

2) sim, a Caixa é mais uma estatal que ergue a mão para dar uma força ao esporte nacional. Qual a diferença disso para um repasse do ministério? Bem, há diversos tópicos para separar ambos, sendo o principal deles o fato de a Caixa ser uma empresa. Estatal, mas uma empresa, que espera ter retorno financeiro em sua empreitada. O ministério ajudou e só espera, quiçá, ver uma medalha como resposta. Sabemos, na verdade, que este foi o modo que a pasta encontrou para ajudar a CBB em meio a um naufrágio. É como se fosse um colete salva-vidas. Afinal, como Nunes mesmo constata: dentre tantas confederações olímpicas, só uma não foi acolhida por uma estatal. “Nós, da CBB”, diz. Obviamente que o rolo com a Eletrobrás e a matéria de Lucio de Castro sobre o uso descontrolado de cartão corporativo, entre outras, ajuda a emperrar as coisas e afugentar investidores (aqui, a nota de resposta da confederação). Sobre a disputa com a empresa, Nunes espera que será esclarecido na Justiça e poderia render mais R$ 21 milhões devidos. Ajudaria a quitar as dívidas de sua indigestão. Mas não é dinheiro garantido.

3) sim, LNB/LBF e CBB são entidades diferentes para se investir, claro. As ligas têm seus campeonatos cobrindo quase toda a temporada, enquanto a CBB é, acima de tudo, hoje em dia, uma instituição voltada à política e que sobrevive, do jeito que está, por causa de seus intrincados trâmites.  Nunes reclama também que a seleção brasileira tem “pouca exposição”. Historicamente, a equipe nacional sempre atraiu mais patrocinadores, a ponto de, por aqui, ter se desenvolvido a tese de que só com medalhas internacionais, a modalidade seguiria em frente – conquistas despertariam interesse e aí, sim, direcionaria a grana para o mercado local. Será? Não creio que o ouro do Pan de Toronto tenha motivado três acordos comerciais expressivos para a LNB. Mais: “exposição” não é algo que dependa exclusivamente do calendário de competições. E, mesmo quando reúne seu time, a confederação fracassa em promovê-la, com jogadores de NBA ou não, com um marketing praticamente inoperante, como o próprio presidente admite.

Tá. E o que mais?

Se há crise econômica no país, porém, ela atinge tudo e todos, e não somente o basquete, ou uma ou outra instituição basqueteira. Não adianta se colocar na vítima, que é o que Nunes mais faz em sua entrevista, cheia de evasivas. É um festival do “não sei”. Não sabe explicar a situação financeira e nem dizer qual o tamanho da dívida da CBB. Não quer falar sobre as denúncias de mau uso de dinheiro de patrocínio. Confunde-se ao falar sobre a ação movida pela Eletrobras. Não sabe dizer exatamente como está a preparação das equipes – no técnico ele “não mexe”. Peraí: mexe, então, exatamente no quê? OK, a entrevista não era algo que ele tinha planos. Para alguém que está há tanto tempo no cargo, todavia, esperava-se mais preparo.

É com um líder desses que as seleções masculina e feminina vão chegar ao Rio 2016. Nesse cenário, não me parece justo o presidente cogitar a hipótese de medalha entre os rapazes. Está certo que os problemas da confederação não atingem diretamente esse grupo. O ministério deu conta de suas despesas nos últimos anos, sem muito critério para assinar o cheque. Então Rubén Magnano pode trabalhar com vasta comissão técnica, incluindo excelentes preparadores físicos (é só dar uma espiada no trabalho de Paulistano e Flamengo nos últimos NBBs) e profissionais. Vão poder jogar amistosos e tal. E a base da equipe será formada por atletas que construíram carreira basicamente fora do país – não que não pudessem crescer por aqui, mas só é preciso registrar o fato.

O problema é o futuro e qual o papel da CBB nele. Quando questionado sobre o que vem por aí, com a aposentadoria inevitável de toda uma geração, Nunes também não foi capaz de se aprofundar. “Acho que trabalhando não vamos sentir tanto. Olha aí o Raulzinho indo muito bem. Há o Caboclo, o Lucas Bebê, o Hettsheimeir que é jovem. Temos munição guardada ainda. O que acho que irá pesar mesmo, para lhe ser sincero, é se teremos grana para fazer o trabalho na base. Isso aí é que estamos muito esperançosos, pois o Governo Federal está muito interessado nisso. Agora mesmo nos liberou o convênio da feminina. Já saiu o da masculina”, afirma.

Obs1: Hettsheimeir tem 29 anos, é só um ano e meio mais jovem que Splitter. Obs2: vamos ver sempre dirigentes nacionais citando os mesmos nomes de sempre (Caboclo, Bebê…), mesmo que estes jogadores ainda busquem estejam sob teste, tentando se afirmar, e que a CBB não tenha absolutamente nada com o desenvolvimento da maioria deles. Obs3: de novo, o Governo… Sendo que é a mesma administração que passa por um período de turbulência severa, e não sabemos se continuará de pé até o final do ano.  Não é a melhor fonte, no momento, para falar sobre projetos, hã, futuros. Obs4: a eleição da CBB está marcada para 2017, e não há nenhum candidato declarado que prometa grandes mudanças.

As Olimpíadas já chegaram, e vai ser pauleira. Tudo bem. O problema é pensar lá na frente, com as ligas nacionais carregando maiores responsabilidades, sem um respaldo confiável por parte de quem supostamente deveria zelar pela modalidade.


A sete meses dos Jogos, CBB apela ao autoritarismo e constrange jogadoras
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

representantes-da-liga-de-basquete-feminino-lbf-se-reunem-em-sao-paulo-1449156383147_615x300

Post atualizado às 12h15.

Vocês já devem ter visto aqui no UOL Esporte, creio: a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) extrapolou qualquer limite de bom senso e lucidez ao dar um jeito para que a Justiça Desportiva intime as sete jogadoras – e seus clubes – que se recusaram a participar de evento-teste olímpico no Rio de Janeiro no final de semana passado. Por que a negativa? É que as atletas (em tese) e suas equipes defendem uma reformulação no departamento técnico da entidade.  O mesmo que não conseguiu conduzir nenhuma seleção feminina sequer ao grupo das oito melhores nas últimas duas Oimpíadas e Copas. Chocante, não?

Quer dizer: a (indi)gestão de Carlos Nunes agora não se mostra intransigente apenas para defender sua incompetência. Também deu para ser opressiva e autoritária, adotando medidas de um regime ditatorial que caça aqueles que manifestam descontentamento com o que acontece por aí.

Exagero?

Só se seus dirigentes realmente acreditarem que a recusa de uma convocação merece ser tratada como questão judicial. Por que diabos uma jogadora de basquete precisa ir ao tapetão para justificar que não quer defender a seleção brasileira? Os motivos independem. Isso não é guerra, caceta.

(Aos reacionários de plantão, não me venham dizer que se trata de um “dever”. Pelo contrário: deveria ser um prazer jogar basquete, ainda mais pela seleção. Mas chega uma hora em que alguém precisa bater o pé e peitar uma entidade que só pratica desmandos.)

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

“A CBB vai seguir dentro das leis, respeitar todos os regulamentos e fazê-los cumprir. Existe uma hierarquia na modalidade como em todo o esporte e essa hierarquia será respeitada”, afirmou a entidade em nota endereçada ao UOL Esporte.

Um inquérito aberto

Um inquérito aberto

Leis? Uma convocação agora é lei?

Hierarquia? Que hierarquia respeitável é essa a de uma entidade que depende desesperadamente da coleta de dinheiro público ano a ano para sobreviver? Que autoridade tem um órgão desses para querer se impor com truculência, constrangendo “rebeldes” com uma intimação absurda para depoimento?

Além de truculenta, é uma atitude covarde a da CBB, que, aparentemente, só se enerva contra os mais fracos. E, por “fraqueza”, só escrevo aqui no sentido político:  Adrianinha, Tainá Paixão e Tati Pacheco (América de Recife), Gilmara e Joice (Americana/Corinthians), Jaqueline e Tássia (Santo André).

Vamos voltar um pouquinho no tempo só, para 2013.

Fico aqui pensando se Vanderlei – que é chapinha de muitos dos selecionáveis e, mais importante, muito próximo a alguns de seus agentes – chegou a cogitar o mesmo tipo de ação contra aqueles que pediram dispensa e tanto frustraram Rubén Magnano, o argentino que é seu principal e talvez único trunfo dentro do departamento técnico.

Veja bem: não é que os jogadores que não se apresentaram para jogar a Copa América merecessem a intimação. Evidentemente que não. Mas a ideologia da CBB teria mudado tanto assim em dois anos e meio? Ah, mas eles estavam cansados, lesionados ou sem contrato. Não importa: ninguém é obrigado a aceitar uma convocação. Cada um tem seus motivos. E, no caso das sete que ficaram fora, fato é que a causa é maior: elas estão dizendo “não” agora para poderem sorrir (“sim, sim, sim”) lá na frente. É um posicionamento político – algo que, em nosso país, infelizmente, ainda pode ser encarado por muita gente como crime ou baderna.

“Existem leis a serem cumpridas e vamos até o fim para que as jogadoras se apresentem. Caso contrário, imagino até que possam sofrer punições. Este é um evento que é tratado com prioridade pela CBB. Não vamos aceitar que não se apresentem por causa de um movimento político”, afirmou Vanderlei ao UOL Esporte.

Sinceramente, não há como responder a uma declaração destas. Pelo menos não quando confrontada com os pedidos da oposição. Mas é o modo que o diretor e seu presidente encontram para se defender de problemas conhecidos por qualquer pessoa ligada ao basquete nacional. Se você não tem resultados práticos para apresentar, vai na porrada, mesmo.

“Tudo está pronto para a Olimpíada”, diz Carlos Nunes, beirando a insanidade. “Esta situação (de manifestação dos clubes) não deveria existir. Deveríamos nos preocupar com outras coisas. Seleção é seleção. Se os clubes querem fazer movimento político, que alguém se candidate à presidência da CBB em 2017”, completou.

Também imagino que a turma do “deixa disso, pelo menos por enquanto, pois Olimpíada é Olimpíada” também tenha muitos integrantes, defendendo a tese de que os descontentes demoraram muito para se organizar e que não é hora para discutir.

Eu diria que é o contrário também: que aqueles que decidiram boicotar o evento-teste estão se preocupando exatamente com aquilo que deve ser discutido. Que um quinto lugar ou um pódio no Rio 2016 não significam nada diante da crise alarmante que vive sua entidade. E que, pela iminência do grande evento em que a CBB fará as vezes de anfitriã para a elite mundial da modalidade, a pressão está em cima deles, e, não, das jogadoras. A proximidade dos Jogos tende a deixar a entidade encurralada. É a hora exata para pressionar e exigir, tal como fizeram os argentinos.

A primeira pergunta que fica agora é até onde as partes estão dispostas a ir. As jogadoras estão mesmo dispostas a abrir mão de um sonho carioca olímpico? Elas teriam apoio de mais compatriotas? Atualização: Pelo visto, a julgar pelas declarações de Ricardo Molina, presidente do Corinthians/Americana, não é bem o caso. Um dos líderes do movimento de oposição, ele diz que a “CBB ganhou o jogo”. Existe a sensação de que as jogadoras estarão todas disponíveis para a próxima e cobiçada convocação de Barbosa. E a melhor jogadora do país não está nem aí também.

A segunda dizia respeito aos rapazes. Os jogadores da seleção masculina poderiam se solidarizar? Só se tivesse uma causa consistente e que durasse até o Rio 2016. Ministério e patrocinadores, que pagam a conta, também estão convidados a opinar…

Na temporada em que a LBF (Liga de Basquete Feminino) ganhou o apoio e parceria da LNB (Liga Nacional de Basquete), a CBB, em vez de dar seu apoio – se não financeiro, já que está virtualmente falida, mas ao menos institucional – se distancia. Agora se vê em guerra justamente com a modalidade que lhe deu as últimas glórias em competições de primeira linha, aquela que era candidata perene por mais de uma década ao pódio olímpico e  já foi motivo de orgulho e politicagem da cartolada nacional. Algo que não surpreende, convenhamos. Mas que deixa essa intimação judicial ainda mais repugnante.

Atualização: a assessoria da CBB entrou em contato com este blogueiro para esclarecer que a entidade não tem ligação alguma com a intimação e que o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) tem total independência em sua tomada de decisões. O tribunal simplesmente teria acolhido denúncias – ou dicas, digamos – de “pessoas ligadas ao basquete” para convocar as jogadoras para prestar depoimento. Os clubes, que teriam “coagido” as atletas a encampar o boicote,  também estão notificados. E a CBB também assegura que nenhuma jogadora será punida – pudera, também: desde quando a seleção feminina dispõe de mão-de-obra volumosa para descartar atletas?

Sobre a alegada independência do tribunal, melhor ler esta matéria aqui assinada por Lúcio de Castro: Paulo Schmitt, procurador-geral do STJD do Futebol, também é consultor jurídico da (indi)gestão de Carlos Nunes. Ele ganha milhões com o basquete brasileiro.


O Pan não vale? Fadiga? Questão sobre Magnano? Entendendo o vexame
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

basquete-selecao-brasileira-atletas-640x480-divulgacao

Segundo o pai de todos, antes de “vergonha”, vexame significa “aquilo que vexa“. Vexar, seria “afligir, atormentar, molestar, oprimir“. No caso da segunda eliminação seguida do Brasil ainda pela primeira fase de uma Copa América, essa hierarquia faz muito sentido, ainda que no jargão esportivo a segunda acepção seja a usual.

Acredito que os profissionais envolvidos com a pífia campanha na Cidade do México, dentro e fora de quadra, estejam realmente mais atordoados do que envergonhados depois de somarem três derrotas em quatro jogos — “vergonha” é um termo muito forte, mas dá para sentir que, do ponto de vista do público, foi o sentimento que ficou, de todo modo. Com direito a uma assustadora surra panamenha nesta sexta-feira que pôs fim a uma longa temporada da seleção que começou tão bem em Toronto e termina de modo aflitivo, atormentador, molestador e, também, opressor.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Eram dez times inscritos, divididos em dois grupos, e apenas dois em cada chave ficariam fora da segunda etapa. O cenário se repetiu. Em 2013, a equipe dirigida por Rubén Magnano caiu acompanhada pelo Paraguai. Agora, fez par com Cuba. E aqui precisamos ser justos com os cubanos: eles caíram numa chave mais complicada com a nossa, com três candidatos sérios à vaga olímpica: Canadá, o grande favorito, Argentina, com Scola, Nocioni e uma rapaziada pilhada que faz o time correr como nunca, e Porto Rico, bastante mambembe depois de mais um show de desorganização nos bastidores, vitimando um técnico do porte de Rick Pitino, mas que ainda tem Barea e Balkman, dois dos melhores atletas da competição. Além da Venezuela, que, mesmo sem Greivis Vasquez, vem se mostrando muito competitiva num trabalho louvável de outro técnico argentino, Nestor Garcia.

Num cenário desses, é fácil lançar a caça às bruxas, até por conta da reincidência. Mesmo que já tenha acontecido em Caracas, não deixou de ser uma surpresa lastimável o péssimo desempenho coletivo na capital mexicana, especialmente depois do basquete de primeiro nível praticado em Toronto. Aqui não tem como aliviar: em nenhuma de suas quatro partidas, a equipe conseguiu acertar mais de 40% de seus arremessos de quadra (35% contra o Uruguai, 39% na única vitória sobre a República Dominicana, 35% contra o México e 33% contra o Panamá. Sinceramente, não há como relativizar estes números. O que acabe é tentar entender o que aconteceu. Seja para os que estão aqui, assistindo, como, principalmente, para os que estão do lado de lá, participando.

Brasil x Panamá, Copa América

Na volta da Venezuela, dois anos atrás, dois assuntos predominaram: um mal-estar (físico), provocado por virose, que teria abalado mais de meio time. Ainda é um mistério para mim porque diabos, na ocasião, a confederação, a comissão técnica, ou os jogadores não foram mais incisivos ao bater nessa tecla. Talvez achassem que fosse pegar como mera desculpa, depois da queda. Antes, obviamente que não se podia abrir o jogo, para não avisar o oponente. Mas o simples fato de não terem falado mais a respeito acaba minando um pouco a seriedade do episódio. Além do mais, antes que a virose virasse assunto, a metralhadora giratória de Rubén Magnano acabou roubando e destroçando a cena.

Vamos ver o que o argentino tem a dizer dessa vez. De 2012 para cá, entre campanhas sólidas nos últimos Mundiais e em Londres 2012, mas longe de medalhas, a seleção penou para valer no campo continental, com apenas uma mísera derrota em oito jogos. Em nenhuma dessas campanhas, o time contou com força máxima. Daí a dedução mais óbvia é a de que, sem a cavalaria da NBA, não dá pé. Aqui, do meu canto, não compro essa tese. “É o que temos, é o o nível do basquete brasileiro etc.”. Não acredito que os 12 atletas levados por Magnano ao México não fossem capazes de, juntos, acertar 40% de seus arremessos ou que não pudessem impedir uma média superior a 15 rebotes ofensivos a garrafões que não incluem a elite do basquete mundial, Gustavo Ayón à parte.

Posto isso, segue, então, alguns palpites sobre o que pode ter acontecido, com base no que vimos em quadra e em conversas com pessoas próximas ao grupo, levando em conta o que já ouvi também de carnavais passados:

O que significava a Copa América?
A despeito da semana de pesadelo em quadra, a memória coletiva do basquete brasileiro não pode se esquecer do episódio que antecedeu a participação no torneio. Até um mês atrás, a trinca Rubén Magnano, Vanderlei e Carlos Nunes simplesmente não sabia se a sequer disputaria a Copa América — quanto mais se precisaria lutar pela vaga olímpica. As reuniões em que o pires foi passado e o acordo, costurado davam todos os indícios de que a pendenga havia sido resolvida. Mas, enquanto o conselho da Fiba não votasse o tema em Tóquio, não dava para ter certeza absoluta de nada. A CBB, afinal, a entidade que deve até as cuecas na praça, não havia quitado sua dívida. Só havia sinalizado com um compromisso de que não daria calote, com o respaldo bem mais confiável de seus dois patrocinadores.

O trabalho de Magnano foi horroroso durante a semana, mas, em sua defesa, é inegável que a impossibilidade de se fazer um planejamento já minava o técnico. A não ser que ele já tivesse garantias, nos bastidores, de que o torneio serviria como a chance de testar alguns atletas, mais alternativas dentro de seu sistema de jogo e, sem pressão, de repente, a tentativa de uma segunda conquista, que encheria a seleção de moral rumo ao Rio 2016.

magnano-brasil-tecnico-basquete

Fadiga
O núcleo desta seleção brasileira se apresentou em São Paulo para iniciar os trabalhos em 14 de junho. Foram, então, de dois meses e meio a três meses juntos. Pensando de modo isolado, não é muito tempo. Levando em conta que alguns deles mal puderam descansar ao final da temporada 2014-2015, esse período ganha outro significado.  Com um agravante: o jogo na altitude da Cidade do México, que pede até mesmo o auxílio de balões de oxigênio. E aí, novamente, o drama pela vaga olímpica atrapalha. Se houvesse, em junho, um caminho já definido, talvez o Brasil pudesse ir ao México realmente com um grupo de garotos, formar dois grupos separados, assim como fez a maioria das seleções que estão na segunda fase da Copa América. Perder por perder, apanhar por apanhar, ao menos dava rodagem aos caras que vão carregar o bastão no próximo ciclo olímpico.

E aí, amigos, entro num tema espinhoso, que, em termos jornalísticos, valeria o “lead”. É uma informação que tem circulado há um tempão por trás das cortinas e que, com o microfone ligado, as câmeras acesas, ninguém vai confirmar. Pelo menos não até que seja disputado o torneio olímpico. Mas, se for para falar de cansaço, chega a hora de compartilhá-la: dez, 11 semanas de treino com Magnano podem ser mais desgastantes que o normal, tanto do ponto de vista de condicionamento como do mental. Sim, do mental.

O técnico é daqueles que não tira o pé em nenhum momento, exigindo intensidade máxima o tempo todo. O tem-po to-do, enfatizando. O resultado disso é positivo em diversas maneiras, como se vê obviamente na defesa. Essa abordagem, porém, levanta questões a longo prazo: o quanto ela é efetiva se os jogadores estiverem de saco cheio? Não exatamente pela falta de fôlego, mas pela pressão, pela cobrança constante.

magnano-brasil-uruguai

Já ouvi muitas fontes, de origens e filiações distintas, mas sempre bem próximas aos atletas, corroborar essa história: por mais que respeitem, não é que os principais jogadores da seleção morram de amores pelo técnico. Não existe confiança plena da parte deles com o argentino, e esse pé atrás tem muito a ver com o comportamento do comandante. Estão cansados do discurso de que “nós vencemos”, “eles perderam”. Aí você as declarações de 2013, com um enxame de marimbondos cuspidos, e a situação ser agrava.

Para deixar claro: não sei se aconteceu com o atual grupo, depois do ótimo Pan-Americano (início de trabalho).

E não é que essa indisposição dos medalhões chegue a um nível em que estejam tentando ou já tenham tentado derrubar o treinador. Não foi por conta disso que perderam para a Argentina em 2010 e 2012 e para a Sérvia no ano passado. Mas dá para se dizer que a relação entre ambos poderia ser muito mais saudável, amigável. E, aos amigos comentaristas anônimos, que adoram ler o que não está escrito: essa é a informação que vem de gente próxima dos atletas, e não minha opinião. Não estou dando razão a ninguém ao reportar isso. Não estou defendendo a queda de Magnano, advogando a favor da “classe brasileira”. Por outro lado, seu currículo e o ouro no Pan não podem blindá-los contra tudo e todos, certo? Não dá para usar dois pesos e duas medidas.

A convocação
Não dá para discutir o grupo formado para a Copa América sem levar em conta o tópico acima. Se for para bancar o detetive, no momento em que o treinador convocou Marquinhos e, na sequência, Guilherme Giovannoni, a impressão é de que Magnano não tinha certeza de nada sobre suas obrigações para a competição. Daí a opção por dois veteranos com os quais trabalhou constantemente nos últimos anos. Seriam duas apólices de seguro para ele, para o caso de o bicho pegar na busca por uma vaga olímpica. Isso e mais isto: levou para a Cidade do México uma equipe que, em sua cabeça, iria competir para valer no torneio. Do contrário, faria muito mais sentido escalar Danilo Siqueira e um Lucas Mariano, ou qualquer outro jogador mais jovem do NBB para se ganhar cancha*. De resto, pode-se discutir um ou outro nome, mas o grupo listado era basicamente aquele seria reunido pela maioria dos técnicos, levando em conta a ausência de Splitter, Varejão & Cia. Dez desses caras haviam acabado de ganhar o Pan jogando muita bola. Essa discussão vai longe e pede outro texto, pois este aqui já vai ficar longo o bastante.

(*Sobre a dupla do Raptors: 1) precisaria ver o que o clube sentiria a respeito: por os dois jogadores em quadra neste cenário talvez ajudasse muito em seu desenvolvimento; por outro lado, a diretoria tem se mostrado bastante superprotetora quanto à dupla e talvez preferisse trabalhar com eles em casa. Mas aí você ouve falar que Caboclo andou por São Paulo por esses dias, então fica em dúvida. 2) Planos do Raptors à parte, não sei bem qual recado, exemplo seria dado ao se convocar dois atletas que mal jogaram durante a temporada e que, ainda por cima, deram trabalho nos bastidores.)

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

O Pan
Sim, o nível de competição era inferior ao que estamos assistindo na Copa América, no geral. Agora, no que diz respeito aos jogos da seleção brasileira, a concorrência não foi tão inferior assim. Cuidado com a generalização e a orelhada. Vamos lá:

– Na Cidade do México, o Brasil enfrentou Scola e Nocioni? Barea e Balkman? Wiggins, Olynyk, Joseph? Não. Mas enfrentou, por exemplo, um Francisco Garcia, dominicano totalmente fora de forma, que não esteve nos Jogos de Toronto, aliás, e cujo time foi o que mais deu trabalho aos eventuais campeões, na semifinal. Em termos práticos, no Grupo A, só o México, devido à presença de Ayón e Jorge Gutiérrez, se apresentou com um elenco claramente superior.

Ou o Uruguai, com sua população inferior à de Salvador, agora virou uma superpotência, a ponto de ser temido mesmo quando não escala Esteban Batista, Jayson Granger e Leandro Garcia Morales? E o que dizer do Panamá, que faz uma turnê de despedida para Michael Hicks, Jaime Lloreda, Rubén Garces (41 anos!!!) e, talvez, nosso pequenino e velho amigo Joel Muñoz? No papel, são times mais fortes que os Estados Unidos de Bobby Brown, Keith Langford, Anthony Randolph, Damien Wilkins, Ryan Hollins e uma série de futuros profissionais de ponta? Ou mais fortes que o núcleo composto por Anthony Bennett, Andrew Nicholson, Carl English, Brady Heslip, Jamal Murray, Melvim Ejim e Aaron Doornekamp? Não creio.

Anthony Bennett, Canadá, Pan Am

(Aliás, um parêntese: não quero menosprezar aqui uruguaios e panamenhos. Dizer que eles não estão na elite da modalidade não significa que eles sejam “lixos” de equipes, para empregar o vocábulo que é muito provavelmente mais utilizado pelo irado comentarista online brasileiro. Peguem Hicks como exemplo. Hoje com 39 anos, o ala fez uma bela carreira na Europa, jogando na Itália por dez temporadas. Em competições Fiba, tem média superior a 17 pontos por partida. Lloreda e Garces deram trabalho e causaram hematomas em muita gente nos últimos 10, 15 anos. Esses caras não são galinhas mortas. Mesmo envelhecidos, deram uma surra em todos os sentidos numa fragilizada equipe.)

Sabe em qual aspecto os uruguaios e os panamenhos foram melhores que o Canadá ou os Estados Unidos? Como equipe, como unidades coletivas, vindo de preparação mais extensa voltada exclusivamente à Copa América, enquanto os norte-americanos formaram seus grupos do Pan em cima da hora. A seleção brasileira, por outro lado, regrediu.

Tá, mas e aí? O que diabos aconteceu?
Pelo que ouvi entre sexta-feira e este sábado, não há teoria da conspiração que se encaixe aqui. O clima entre os atletas esteve bom do início ao fim. Não houve motim contra Carlos Nunes, gripe suína, interferência externa, nem nada fora do normal além de questões dentro de quadra.

A seleção em quadra
Do grupo pan-americano, dois jogadores saíram: Rafael Hettsheimeir e Larry. Já escrevi aqui após a derrota para o Uruguai (a segunda consecutiva em Copas Américas). A troca por Giovannoni e Marquinhos gerou desequilíbrio. São atletas  de perfil muito diferentes, tanto do ponto de vista técnico como do físico, sem contar que estavam vindo de férias e foram inseridos num time que estava montado. Não quer dizer que os dois que saíram sejam superiores aos dois que chegaram. Acontece que, entre uma habilidade perdida e outra somada, a rotação se descarrilou.

Sem Larry, Magnano perdeu uma alternativa de dupla armação, levando em conta os recursos defensivos que o norte-americano, mesmo já um ou dois passos mais lento, pode oferecer. Para piorar, o jovem Deryk ficou no grupo final, mas foi retirado da rotação, enquanto Rafael Luz voltou de uma contusão que o tirou de quadra da Copa Tuto Marchand.

Panamá x Brasil, Copa América, basquete

A baixa maior, porém, foi a de Hettsheimeir, que hoje representa um fator tático claramente importante para o ataque de Magnano. Historicamente, Guilherme é um chutador mais temido, mas Rafael vem trabalhando exaustivamente no fundamento e teve aproveitamento superior no último NBB. Em competições internacionais, desconfio também de que hoje chame mais a atenção das defesas adversárias. De qualquer forma, fico me perguntando se, num ataque devagar-quase-parando desses, a presença do pivô no perímetro faria alguma diferença, uma vez que os oponentes mais atentos adiantaram suas defesas e contestaram para valer os arremessos brasileiros. De longa distância, o aproveitamento foi de apenas 22,1% na Copa América, uma calamidade. Haveria espaço para ele chutar?

Mas no que o pivô faz mais falta? Por conta de seu perfil singular. Se hoje se caracteriza como um chutador no ataque, na defesa tem porte físico para aguentar o tranco. Não é nenhum Roy Hibbert, não tem verticalidade e mal protege o aro, mas ocupa espaço no garrafão e é pelo menos mais alto que João Paulo. Contra os massudos panamenhos certamente teria feito diferença, ajudando um sobrecarregado Augusto Lima.

Por outro lado, Marquinhos e Giovannoni não conseguiram atingir seu melhor nível na Cidade do México. Para os veteranos, demora um pouco mais para chegar ao ápice físico, e os dois estavam visivelmente fora de ritmo, vindo de férias. Mas por que os velhacos panamenhos estavam se impondo fisicamente e como é possível que Luis Scola dê uma aula na molecada canadense, sendo da mesma idade de Guilherme? Bem, eles começaram a treinar para o torneio bem antes.

Marquinhos, Copa América, Brasil x República Dominicana

São apenas dois jogadores? Sim, mas dois que teriam papel importante para Magnano, com bons minutos em quadra e cuja presença em quadra não foi bem administrada. Em meio às constantes trocas que levam o Wlamir à loucura, o treinador se perdeu em suas rotações. No jogo derradeiro contra os panamenhos, nem mesmo quando mandou contra os panamenhos para a quadra uma formação mais “ofensiva” o time conseguiu render, enquanto a defesa sofreu. Os problemas que via em quadra não eram contornados. Esse, aliás, parece um ponto no qual o argentino campeão olímpica fica aquém: os ajustes durante as partidas. Qual foi último jogo que a seleção conseguiu virar quando estava atrás do placar por muito? Sinceramente, não lembro. A impressão é de que, quando desandam as coisas, não tem volta.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Aqui, realmente parece que há uma divergência na hora de assimilar o que aconteceu na Copa América: que os problemas sejam estruturais, de formação dos jogadores, e não há santo de casa que dê um jeito nisso, ou que Magnano, mais uma vez, não conseguiu tirar o melhor que podia de seus atletas? Minha colher: mesmo que se aceite que o time seja limitado, não é função do treinador elevar o seu jogo? O grupo brasileiro não era o mais forte, mas jogou o máximo que podia. Na verdade, não creio que tenha jogado nem perto de seu potencial pleno.

Custo
Se não dá para esquecer toda a novela que foi a confirmação da seleção nas Olimpíadas, expondo a CBB ao ridículo no noticiário internacional, também há outra conta que não pode faltar nunca ao se avaliar os resultados obtidos: os R$ 7 milhões que o ministério do Esporte concordou em pagar para custear apenas para sustentar as operações da equipe brasileira masculina. Ou, pelo menos, é o que dizem, é o que consta no texto de descrição do convênio. Entre viagem para Brasília, Buenos Aires, San Juan, escala em Miami, e o desembarque na Cidade do México, delegação de 24 pessoas e tal, quanto custou esse fiasco na Copa América? Lembrando que, apenas para lavanderia, foram gastos R$ 149.760,00.


Boi na linha: as novas espanadas de Magnano após pedidos de dispensa
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Ruben Magnano, Brasil, CBB, técnico, seleção

Deu boi na linha, gente. Como sempre.

Depois da conquista do Pan e de um breve momento para respiro — e alívio — pela vaga olímpica, a seleção brasileira reuniria a turma campeã para encarar uma Copa América muito interessante, pelo simples fato de esse time poder ser testado contra adversários muito mais fortes, jogando sem pressão alguma.

O grupo não será o mesmo, todavia, devido ao pedido de dispensa de Larry Taylor e Rafael Hettsheimeir. Sinceramente, não via problema algum em relação a esses desfalques. Afinal, Rubén Magnano já deve saber, nos mínimos detalhes, o que o armador do Mogi e o pivô do Bauru podem oferecer, ou não, à seleção. Já foram testados, avaliados nos mais diversos níveis. Além disso, era a chance de ver em ação Deryk, Danilo e talvez mais algum jovem pivô, quiçá Lucas Mariano — o que não aconteceu, com a convocação um tanto deslocada de Giovannoni.

Acontece que, para o treinador, a saída dos atletas não pegou nada bem. Em entrevista ao repórter André Sender, da Gazeta Esportiva, o argentino voltou a espanar ao lidar com um tópico recorrente na hora de se montar a equipe nacional. Não bastava ele se dizer “surpreso” uma vez, por exemplo. Não, em suas palavras, ele ficou “muito, muuuuuuito surpreso” com o que aconteceu. Não é a primeira vez que ouvimos essa história, e nem mesmo a segunda. Está mais para quinta, sexta vez em que atletas e clubes dão uma versão e o treinador e a seleção, outra.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Nessa história toda, ao conflitar todos os discursos, o que fica claro em meio à confusão é que falham todos.

Os clubes não ajudam, de fato. Se há o interesse de segurar um jogador, recém-contratado ou não, jovem ou veterano, qual o problema de expressar isso à confederação, ao treinador ou ao seu torcedor? Como no caso de Mogi e Larry. O armador tinha uma contusão para ser tratada, e o clube alega que queria supervisionar o processo, embora a comissão técnica da CBB diga que não fosse nada grave — ele já está jogando normalmente pelo Campeonato Paulista, aliás. Por que esperar o fogo cruzado de críticas públicas do treinador da seleção e a matéria do companheiro Fábio Aleixo, aqui do UOL Esporte, para, aí, emitir nota oficial tentando explicar o que estava acontecendo? A apuração de Aleixo também indica que o clube também estava um tanto ansioso para colocar o norte-americano, uma grande contratação, em quadra. Numa temporada muito longa de seleções, com Pan e Copa América, não deixa de ser compreensível esse anseio. É a mesma discussão que, no futebol, acontece mensalmente a cada convocação de Dunga, gente.

Sabemos bem que o ato de se pedir dispensa da seleção brasileira é um tema ainda bizarramente espinhoso no basquete nacional. Nesse contexto, se o clube tinha alguma preocupação em preservar a imagem de seu jogador, deveria ter se antecipado e assumido essa bronca. Não fizeram, e, depois da ofensiva de Magnano, Larry se sentiu impelido a esclarecer que não foi sua a decisão pelo desligamento e que estava “triste” por isso. “O clube pediu para eu me tratar lá. Fiquei triste, pois era uma coisa que não queria ter feito. É um direito do clube. Por mim eu teria continuado lá. Mas acabou se criando esta situação. Conversei com o Magnano e com a comissão técnica e disse que queriam que eu voltasse para Mogi”, afirmou.

Larry Taylor, Mogi, reforço, NBB

Da parte dos jogadores, de todo modo, também falta transparência e firmeza, convenhamos. Larry, mesmo, poderia ter aberto o jogo antes, embora estivesse numa situação delicada em relação ao clube, sendo o elo mais fraco da história. No caso de Rafael, apenas uma nota oficial, sem maiores detalhes, foi emitida pelo atleta quando ele optou por abrir mão da convocação. Soube, depois, que o pivô tinha uma questão particular, de saúde particular, para ser resolvida, que realmente demandava sua seleção para além dos treinos com a seleção ou um eventual teste para um clube da NBA de que fala Magnano, forçando sua estadia em Bauru.

O que não impediu que o treinador da seleção desse sua alfinetada. “Ainda estou esperando uma resposta, uma ligação, sobre a situação. Ele disse que faria um teste na NBA, mas ainda não deu respostas porque perguntei ‘quando é essa prova? Onde é essa prova?’ para tentar coordenar a possibilidade de ele voltar e jogar a Copa América”, relatou o técnico. Ao que o pivô respondeu: “Já conversei com o técnico e expliquei minha situação. A dispensa foi por motivos pessoais e já acertei isso com ele”, disse o pivô, via comunicado, à Gazeta.

Uma fonte próxima dessa situação assegura que o argentino tinha total ciência sobre os motivos para Hettsheimeir dizer que não poderia jogar o torneio continental e que, com suas declarações, estaria “jogando para a torcida”. Ele não estaria necessariamente mentindo, mas omitindo algumas informações em seu discurso para mandar seu recado aos atletas e à nação — e até para manter uma certa coerência com a chiadeira de verões passados. São os ecos de 2013, quando o argentino cuspiu marimbondos depois de campanha vexatória pela Copa América. Na ocasião, generalizou em seu desabafo e acabou atingindo muita gente.

Se Magnano se sentia obrigado a reforçar a mensagem de comprometimento com a seleção, especialmente a um ano das Olimpíadas em casa, talvez houvesse outro meio de fazê-lo. E aí chegamos à CBB, que, supõe-se, deve estar a par do desgosto de seu treinador pelas dispensas e de sua necessidade de se posicionar a respeito. Nesse caso, a entidade não poderia ter assumido o controle do processo e externado essa preocupação e lamentação, mas por outros canais, de preferência mais diplomáticos?

Hã… Sim, claro. Mas esta é a CBB, mesmo. A confederação desacreditada e endividada que não sabe o que é assumir uma posição firme há tempos. Além do mais, internamente, não há quem possa peitar Magnano por lá. E aí o argentino volta a roubar a cena, mas não do modo como o basquete brasileiro espera.


Lesão de Exum não justifica retenção de Raulzinho em Utah
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

A foto acima diz muita coisa. A felicidade de alguns dos campeões pan-americanos. Olivinha comandando a selfie, como não poderia deixar de ser. Rafael Hettsheimeir quase tirando seu futuro companheiro de Bauru da foto. Duas pessoas que, como jornalista, admito não reconhecer. Mas o que mais chama a atenção, mesmo, até por destoar no amontado amarelo e verde, é a camisa branca erguida por Augusto Lima, numa menção a Raulzinho (Neto), que se desligou do time no meio do caminho.

Legal que Augusto tenha pensando no jogador que o acompanhou nas últimas duas temporadas em Murcia. Nota-se nesse gesto o coração grande do pivô, que, na preparação para sua primeira decisão com a camisa da seleção, não se esqueceu do chapa. Mas não seria melhor se o próprio armador estivesse ali no meio?

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Acho que vocês já sabem o que aconteceu. Raul abandonou os treinamentos em São Paulo para viajar a Salt Lake City e assinar com o Utah Jazz. É o tipo de decisão que pode mudar o rumo de uma carreira, atlética e financeiramente. Não é menosprezar a seleção, mas você não pode abrir mão de uma oportunidade dessas. Então tudo bem: que pegue o avião rumo às Montanhas Rochosas e assine a papelada. Ponto.

(Da parte da CBB, a cessão do armador talvez seja, voluntariamente ou não, uma boa tacada política, pensando numa Olimpíada que vem por aí e também em eventuais futuras convocações de um jogador jovem, que já faz parte do próximo núcleo da seleção. Por outro lado, assusta a falta de transparência da entidade mesmo no trato da liberação de um atleta. Se a decisão foi de não bater o pé para que Raul ficasse no time, qual o problema de divulgar isso com clareza, uma vez decidido que o atleta não iria para o Pan? Abre-se margem para especulações, e a boataria pode atingir o jogador em cheio se fugir de controle. Ainda mais quando o assunto é a relação de enebianos e a seleção. Basta perguntar para Nenê os efeitos. )

O que rolou na sequência, uma vez assinado o contrato, é que é difícil de entender. O armador já não seria reintegrado à equipe de Ruben Magnano, mas também não fez parte do elenco de verão da franquia de Utah. Então que raios estaria fazendo? Bem, aí chegou a informação da mídia local de que a diretoria havia pedido para que ele ficasse por lá, para treinar com alguns veteranos em Las Vegas, num ambiente totalmente informal. Não sabemos quem e quantos estiveram em quadra, que tipo de orientação estavam recebendo e por quanto tempo duraram as atividades. Se é que elas foram interrompidas.

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Raulzinho fehcou com o Jazz, mas apenas assistiu ao time na liga de verão. De resto, treinos

Boa parte do time esteve por lá, segundo relatos, ok. Os técnicos e os cartolas ficaram satisfeitos com essa reunião, acreditando que o período em conjunto nas férias ajuda a desenvolver a química do elenco e facilita o entrosamento em quadra. Para Raulzinho, vindo de fora, esse período pode, mesmo, ter sido importante, já que o armador teve um contato mínimo com esses atletas desde o dia em que foi selecionado em 2013 — foi a liga de verão em Orlando com Gobert e Burke, e pouco mais que isso. Mas… Basta espiar a foto acima novamente e perguntar se, na construção do armador Raul Neto, para o futuro do Utah Jazz, os rachões e jantares em Las Vegas são realmente mais relevantes que a experiência de jogar em Toronto e ganhar uma medalha pela seleção?

Em termos de relevância internacional, sabemos que o Pan está em segundo ou terceiro plano. De qualquer forma, lá estava um Rick Pitino iniciando seu trabalho com Porto Rico, Anthony Bennett e Andrew Nicholson tentando mostrar algo pelo Canadá, Bobby Brown e Keith Langford, cestinhas de Euroliga com salários de sete dígitos lá fora, realizando um sonho americano etc. O torneio não teve a elite da modalidade, mas apresentou elementos muito interessantes e, nesse contexto, e os caras escalados por Magnano souberam aproveitar ao máximo a oportunidade dada. Não há como negar que todos os que estiveram em quadra voltaram engrandecidos no desembarque em São Paulo. E, de qualquer forma, a ausência de Raul acabou abrindo espaço na rotação para que Rafael Luz provasse que, sim, tem de ser discutido em qualquer convocação futura, independentemente de quem esteja disponível. Ricardo Fischer também ganhou mais espaço, como um complemento fundamental à bela temporada que fez pelo Bauru. Os dois foram muito bem na armação, em que pesem um ou outro tropeço com a bola, inerentes à função. Para Benite estourar a boca do balão, valeu a assessoria dessa dupla de ainda jovens — mas rodados — armadores.

Em termos de trajetória internacional, Raulzinho está (ou estava) à frente. Ele teve mais minutos nas últimas temporadas de Liga ACB e ganhou rodagem bem mais extensa com a seleção, como uma presença constante nas listas de Magnano, com o ponto máximo sendo sua bela atuação contra a Argentina pelas oitavas de final da Copa do Mundo. Ainda assim, o Pan seria o primeiro torneio em que o jogador poderia pegar a chave do carro sem ter de pedir permissão a Marcelinho Huertas. Ainda vem a Copa América pela frente, pela qual a equipe nacional poderá jogar numa posição bastante interessante, sem pressão alguma, já que a vaga olímpica está no papo, para alívio dos competentíssimos gestores da CBB.

Então tem isso.

Foi uma tese convincente?

Talvez.

Para o gerente geral Dennis Lindsey e o técnico Quin Snyder, uma notícia que veio da Eslovênia, dez dias depois, talvez os tenha deixado seguros de que haviam tomado a decisão certa ao encorajar que Raulzinho ficasse fora do Pan. Foi quando souberam que o garoto Dante Exum havia muito provavelmente rompido o ligamento cruzado anterior de seu joelho esquerdo. O armador, de 20 anos recém-completos, estava jogando um amistoso pela Austrália. O clube ainda não informou quando ela será realizada, mas o caçulinha vai passar por uma cirurgia que muito provavelmente vai afastá-lo da próxima temporada.

O Utah Jazz tem um time em ascensão na NBA. Se fosse levado em conta apenas seu aproveitamento na segunda metade da temporada passada, teria entrado nos playoffs. Exum não teve números grandiosos, mas desempenhou um bom papel em quadra, especialmente por seus atributos defensivos. A lesão do australiano deixou angustadios os torcedores do time, aguardando com ansiedade uma nova grande equipe desde os tempos de Stockton e Malone, com todo o respeito ao grupo que teve Deron, Boozer, Okur, Kirilenko (e Baby). Não dá para saber o exato impacto dessa lesão. Quem sabe Raulzinho não dá um salto na pré-temporada e assuma a bronca? (Importante notar que essa não é a expectativa dos treinadores e diretores, com o brasileiro inicialmente cotado para a D-League e agora para disputar o posto de primeiro reserva com Bryce Cotton, que tem a mesma idade). Burke também pode encontrar, enfim, um ritmo consistente de jogo? Ou pode ser que chegue algum reforço que cuide da posição. Está cedo.

O que se lamenta mais é o ano perdido no desenvolvimento do australiano, que, no único jogo que fez neste verão (setentrional) pelo Jazz, foi muito bem, batendo os encardidos Marcus Smart e Terry Rozier para ganhar o garrafão diversas vezes. Até que… torceu o tornozelo e não conseguiu mais defender a equipe em Salt Lake City e Las Vegas. Quer dizer: contusões, lesões acontecem com atletas. Não tem jeito. De modo que qualquer movimento alarmista encampado nos bastidores da liga americana contra as competições internacionais tem de ser relativizado. Se as seleções estiverem comprometida em pagar um seguro pelos atletas, não há o que se fazer. Ainda existem jogadores que têm prazer em disputas internacionais. E muitos: basta ver que dezenas de atletas passaram por Las Vegas nos últimos dias para dizer a Jerry Colangelo e Coach K que têm interesse em fazer parte do grupo olímpico do Rio 2016.

O próprio Dennis Lindsey, gerente geral da franquia, sabe que não há muito o que se fazer a respeito. Ou a NBA causa ruptura total, ou as atividades seguem normalmente, com as devidas precauções tomadas. “Já vimos isso acontecer antes, infelizmente. Mas não há como embrulhar os jogadores em uma bolha. Você tem de deixá-los jogar”, afirmou. Isso, antes, de tomar mais um susto nesta quarta-feira, quando circulou por aí um papo de que Rudy Gobert havia deixado a quadra mancando, em amistoso contra a Sérvia. Aparentemente, porém, não é nada grave.

O próprio Gobert, de qualquer forma, é um grande exemplo de jogador jovem que usou uma passagem pela seleção nacional para se soltar e comprovar sua evolução. “Comprovar” porque ninguém dá um salto considerável de rendimento em apenas algumas semanas de treino com um time. O que Gobert fez pela França no ano passado foi o resultado de um ótimo trabalho com os treinadores do Utah durante seu primeiro campeonato. Foi na Copa do Mundo, porém, que o espigão recebeu bons minutos de jogo em alto nível, numa competição de alta visibilidade (e pressão), para ganhar confiança, sabendo que as coisas caminhavam bem, ainda mais quando veio uma medalha de bronze para uma equipe bastante desfalcada. Guardadas as devidas proporções, há um paralelo aqui com a seleção brasileira no Pan. E Raulzinho acabou perdendo essa.


Elogios, por favor: a CBB e a admirável habilidade para captar recursos
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

A Arena da Barra vai ter Brasil nas Olimpíadas, depois de R$ 9 milhões angariados

A Arena da Barra vai ter Brasil nas Olimpíadas, depois de R$ 9 milhões angariados

Fala-se tão mal da CBB por aí, que, poxa, parece pegação no pé. Na hora em que a entidade consegue fazer uma cesta do meio da quadra, e de costas ainda, ninguém aparece para registrar o ocorrido e elogiar da forma devida. Então vamos lá, assumo esta bronca: para uma entidade tão endividada, que pode até mesmo estar tentando vender suas máquinas Olivetti e telégrafos na feira de Acari para fazer um troco, sua capacidade para “captação de recursos” não deixa de ser admirável.

Em questão de duas semanas, ou menos, a gestão Carlos Nunes primeiro conseguiu convencer Bradesco e Nike a um aporte R$ 2 milhões para quitação de dívidas com a Fiba evitar o maior vexame da história do basquete nacional. Uma vez garantida a vaga olímpica, então, foi a vez de assinar (mais!) um convênio de R$ 7 milhões com o Ministério do Esporte. Dessa forma, de quebra, por assim dizer, poderá bancar uma operação assustadoramente caprichosa para colocar a seleção masculina.

Vejo nisso um mérito danado, pura lábia e criatividade. Os mais chatos vão dizer “assistencialismo”. Cada um na sua.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Agora falando sério, em termos de transparência, talvez não tenha ocorrido coisa melhor para o basquete brasileiro do que o release orgulhoso do Ministério para anunciar o mais novo escoo de dinheiro federal pelos cofres, também conhecidos como ralos, da CBB. Os mais enxeridos puderam acessar o site do Siconv (Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse do Governo Federal) e botar uma lupa, com Fábio Balassiano fazendo perguntas e o Victor Moraes, do iG, relatando.

Ao menos o Governo possui uma ferramenta como essa. Não justifica a dinheirama toda, mas ao menos os gastos estão totalmente expostos. Da minha parte, posso dizer que a discriminação dessa verba é dessas coisas inexplicáveis. Gastar mais com lavanderia do que com hospedagem? Lavar dez peças de roupa por dia para uma delegação de 24 pessoas (jogadores mais ? R$ 9.360 de custo diário.  Nas minhas andanças mundo afora, nunca vi nada nem parecido com isso. Não sou atleta, mas, de qualquer forma, um nutricionista também não treina em dois períodos por dia, nem precisa de roupa de aquecimento. Há também R$ 450 mil e R$ 100 mil para assessoria jurídica e financeira. Estariam inclusos aqui, de modo genérico, os gastos com seguros dos atletas? Com ou sem os caras de NBA, esse valor não deveria ser mais caro, de qualquer forma? As viagens de avião merecem uma classe executiva para atletas de ponta e enormes, mas estão todos os 24 integrantes da delegação indo em primeira classe AAA+? Pela companhia aérea mais cara do mercado? Ou é voo da alegria?

Tempos de austeridade: são 12 jogadores e mais quantos na delegação?

Tempos de austeridade: são 12 jogadores e mais quantos na delegação?

Veja bem: nem mesmo se estivéssemos falando de uma confederação (eles dizem “privada”, porém, com tantos convênios assinados, dá para assumir que seja de ordem “pública”, não?) com as contas em dia, descartando patrocínios indesejados mensalmente, garantido resultados maravilhosos a cada campeonato que disputa, a cada temporada, daria para justificar o gasto de R$ 9 milhões para que uma seleção brasileira possa competir. Pois é: oficialmente, não é uma verba destinada às equipes masculina e feminina, adultas e de base. Estamos falando de um só time que se reuniu em junho para jogar o Pan e o Pré-Olímpico e que, depois, vai disputar uma Olimpíada em casa, com vila para acolher os atletas. Sendo bem generoso, são cinco meses de atividade?

Aqui, acho que é o ponto em que cabe levantar a possibilidade de que, no final das contas, nem todas as atividades descritas no convênio CBB-Ministérioo vão realmente valer as cifras requeridas. Digamos que prática de se maquiar contas não tem patente registrada. Para constar: de acordo com as regras burocráticas do jogo, qualquer desvio de verba de uma escova de dente para a compra de sabão em pó já feriria o acordo e deixaria a confederação enrascada.

A entidade que, em torneios masculinos pelo adulto, ganhou apenas um título oficial desde 2010 — este Pan de Toronto. Que vê a seleção feminina perder força a cada temporada. Que precisou praticar o desapego do campeonato nacional para ver, enfim, os clubes do país conseguirem montar algo promissor. Que, em suas constantes reuniões em Brasília, não consegue apresentar ou viabilizar um projeto que seja para a tentativa de massificação da modalidade. Que… Acrescentem aí, por favor.

Para quem está endividado já na casa de oito dígitos, porém, chega a ser insano. Ou melhor, uma desfaçatez. Ignoram qualquer noção de austeridade, bancando salário integral para para uma dezena de profissionais, todos eles empregados em seus respectivos clubes, com exceção de Magnano. Ter uma comissão permanente talvez fosse aceitável desde que o fluxo de caixa digno de uma pororoca jorrando moedas para tudo que é lado. No atual contexto, não faz sentido, e a impressão que se passa é a de que gasta-se tudo, incluindo dinheiro que não está na conta, tendo a busca de um pódio no Rio 2016 como justificativa.  Como se a poderosa mente basqueteira de Magnano, apoiada por dois bons assistentes e uma excelente preparação física, com um bom ginásio de treinos sempre aberto ao time nas férias e uma dúzia de bolas de basquete e pouco mais que isso não fossem suficientes para entregar um bom produto em quadra. Grosso modo, claro. Não são tempos amadores mais, mas organização tambémd não se sustenta apenas com dinheiro.

E tem aquilo: nem todos esses gastos servem como garantia para nada. Espanha, França, Sérvia, Lituânia e qualquer outro time europeu da vez não estão nem aí para isso. Um pódio olímpico não se compra — e a verdade é que essa situação de dinheiro despejado na CBB é apenas um microcosmo do que se tem torrado de dinheiro desde 2010 com gastos de mais de R$ 7 bilhões já executados e mais R$ 5 bilhões por vir, segundo auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União).

Mas, aqui, temos o hábito de nos ater ao basquete, não é verdade? E, ao mesmo tempo que os números descritos pelo convênio geram espanto e desgosto, eles ao menos nos ajudam a entender  a situação em que estamos, com uma administração desprendida da realidade. Sem querer, o Ministério nos ajuda a entender o que se passa para a confederação contrair tamanha dívida, revelando a caixa preta de tantos voos desgovernados.

Admito que nem me dei ao trabalho questionar a CBB a respeito. Até por saber que a resposta que vem sendo dada é que ela não se pronuncia sobre o convênio. Talvez não haja o que ser dito, mesmo, sem que se complique ainda mais a situação. Não dá para saber o quão a sério o Governo leva essa descrição de gastos (aliás, se leva, melhor nem ver quanto gasta uma comitiva em viagem oficial) e qual é os eu poder fiscalizador. Do ponto de vista da CBB, acho que vale a tese de que, para quem deve até as cuecas na praça, melhor não mexer em vespeiro.

Penando nisso tudo, me bate na cuca esse movimento de gente que, há tempos, se recusa a torcer pela seleção brasileira. De futebol, no caso. Cansados daquele noticiário que não o esportivo, preferem ficar do outro lado, a apoiar um time cujo resultado pode servir para a manutenção de uma estrutura rica e precária ao mesmo tempo. Nunca fiz parte desse time, por entender que uma coisa é uma coisa, e tal.  Na panelinha do basquete, com alcance muito menor de público, nunca ouvi esse discurso. O duro é que, entre pires passados de mão em mão e a  perspectiva zero para reformulação de gestão, não seria de se estranhar que, daqui a alguns anos, não haja mais um anjo da guarda federal para evitar a bancarrota, nem mais nem competições para se disputar, apoiando ou virando as costas. Aí não vai ter, mesmo, o que elogiar.


Ritmo, energia, química, e a tempestade perfeita para a seleção
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

Sendo julho, período de férias da garotada, a queda de produção do blog tem um timing ligerimante suspeito. Mas ainda não existem pimpolhos circulando pela base do conglomerado 21, e o mês foi de muito trabalho, mesmo, com algo como 33 dias trabalhados de 35 possíveis, em ritmo intenso. Só para deixar claro o porquê do sumiço e de como foi bem-vinda a colaboração de Rafael Uehara, para ao menos publicar algo durante o mês.

Posto isso, não quer dizer que não tenha dado para assistir a um jogo ou outro de basquete nesse meio-tempo, para evitar aplacar a tremedeira nas mãos e evitar que chegasse a uma crise de convulsão.

As ligas de verão? Infelizmente só consegui ver a de Orlando, perdendo a apresentação dos brasileiros em Las Vegas. Mas isso o Rafael conseguiu remediar, com seus scouts atenciosos em relação a Bruno Caboclo e Lucas Bebê. Nesta terça-feira, vou publicar também as notas de um experiente olheiro da NBA, que estava presente no ginásio, às quais tive acesso.

Antes disso, todavia, melhor falar sobre o que pude assistir para valer, e com grande satisfação, que foi a seleção brasileira campeã pan-americana – e que acaba de vencer Uruguai e Argentina em amistosos em Brasília.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Bom, entre o torneio valendo ouro e o amistoso, já são sete vitórias seguidas. O basquete apresentado no Nilson Nelson foi o mesmo de Toronto? Claro que não. Nem poderia ser, e isso tem mais a ver com o calendário um tanto espaçado e traiçoeiro do que com o nível dos adversários. A seleção teve de ser preparada para um pico de performance, tanto do ponto de vista técnica como do físico de 21 a 25 de julho. Agora, encaminha nova preparação para um torneio que vai começar mais de um mês depois, de maior duração (espera-se…), lembrando que estamos falando de meses nos quais, supostamente, esses caras deveriam estar parados.

Aliás 1: como chamar essa temporada de seleção tão longa? Pré-e-pós-temporada-tudo-ao-mesmo-tempo? Flamengo, Bauru, Murcia… É bom que os clubes estejam atentos desde já em relação ao estado dos atletas em sua apresentação. Por mais jovem que seja o grupo, tem de tomar cuidado.

Aliás 2: se o plano de Magnano é contar com a tropa de choque veterana da NBA nos Jogos do Rio 2016, tanto melhor que não a usasse agora, especialmente depois de uma campanha pela qual só Leandrinho passou incólume.

Aliás 3: a vaga olímpica ter sido garantida ao país-sede vale como um alívio ainda maior considerando os dois fatores acima. Mais a respeito será tratado durante a semana, mas dá para dizer aqui que, esportivamente, comemora-se. Pensando nas constantes vezes que a CBB flerta com o desastre e até mesmo faz da vergonha um eufemismo, não há nada o que festejar, pensando no futuro.

>> Ouro em Toronto só confirma a impressionante ascensão de Augusto Lima
>> Teria Rafael Luz feito o suficiente para se garantir na armação da seleção?

Agora, voltando à quadra. Deu para se notar um certo zum-zum-zum sobre como este Pan não poderia valer tanto assim, já que todos os principais adversários estavam formados por times em versão beta. Inegável isso, mas a seleção brasileira também não era, até a hora que entrou em quadra, favorita a nada.

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

O time de Ruben Magnano simplesmente dominou rivais de nível técnico – ou bagagem internacional, no mínimo – equivalente. E dominou devido ao excelente padrão de jogo apresentado. Padrão de jogo que turbina o talento disponível, como em qualquer time campeão. Você não vai vencer só pela técnica ou pela tática. Vai vencer quando as duas andam em conjunto, quando um treinador faz uma boa lista e tira o melhor daquilo que tem em mãos. Não há outro “se”, ao meu ver, para ser ponderado aqui. Acho que podíamos combinar uma coisa: falar que é a seleção jogando. Sem B, C ou D. É o time convocado, que se apresentou, treinou e ganhou.

Foi o que aconteceu em Toronto, e algo bem diferente do que vimos em Guadalajara 2011 ou na Copa América 2013, por razões diferentes. Para o México, Magnano admitiu que reuniu o time já no avião, indo à base de catadão, mesmo. Dois anos depois, na Venezuela, o treinador jurava que contaria com seus principais nomes (mesmo num torneio em que Luis Scola e Greivis Vásquez eram verdadeiras aberrações) e se atrapalhou todo na hora de fazer as emendas necessárias. Ficou com um arremedo de equipe, sem coesão alguma entre as peças, perdendo para Uruguai e Jamaica. O maior vexame sobre o qual se tem nota, na quadra.

Desta vez, com planejamento adequado, tudo mudou. O título pan-americano obviamente começou a partir da convocação, muito mais razoável. Magnano formou uma equipe balanceada. Tão importante também foi o respeito pelo que aconteceu durante a temporada – algo que, por uma razão difícil de compreender, nem sempre acontece. Os nomes podem não ter sido tão revolucionários assim, em termos de material novo, mas foram pinçados todos atletas que jogaram muita bola no Brasil ou na Europa. Benite e Olivinha terminaram o ano voando pelo Fla. Augusto foi um dos cinco melhores pivôs da Liga ACB, sob qualquer avaliação. Rafael Luz se despediu do Obradoiro aclamado pela torcida. João Paulo foi campeão francês. Ricardo Fischer e Rafael Hettsheimeir ganharam quase tudo por Bauru. Marcus já atormenta os atacantes do NBB há tempos. Etc. Etc. Etc. Isso serve para confirmar o talento brasileiro por vezes subestimado. Não precisa de um selo de NBA ou Euroliga para se corroborar a qualidade de um atleta e, principalmente, de uma equipe.

A partir daí, foi entender a melhor forma como encaixar essas peças. Não era tão difícil assim. O grupo tinha bons armadores com propensão ao passe. Rafael e Ricardo podem ser jovens, porém já têm boa cancha, se não em competições pela seleção, mas em jogos de grande relevância por seus clubes. Havia bons arremessadores, com Benite, Meindl, Hetthsheimeir. Pivôs flexíveis como Augusto e Olivinha, e de habilidades distintas que combinavam muito bem, como os bons corta-luzes e cortes para a cesta de Augusto, o jogo de costas para a cesta de JP e mais chute.

De nada adiantaria, porém, se não houvesse química entre esses atletas, e até nesse aspecto a lista é, vá lá, extremamente feliz. É só ver o Marcus vibrando (em vez de urrando de dor), estirado na quadra do Nilson Nelson, depois de cavar uma falta de ataque da Argentina. O ala, agora do Basquete Cearense, é uma das tantas personalidades agrupadas de astral e energia elevados.

Isso não é conversa fiada e facilita o entendimento em quadra. Algo que foi basicamente impecável durante o Pan. A agressividade na marcação exigida por Magnano ganhou também a cobertura de uma defesa interior muito sólida. A boa defesa leva ao contra-ataque, e a execução em transição está no DNA. Quando não houve oportunidade para a definição rápida, o time cumpriu, creio, o melhor ataque em meia quadra sob gestão do argentino, com espaçamento e ritmo.

Por falar em ritmo, retomamos a produção normal do blog nesta semana, acompanhando como a seleção, com essa tempestade perfeita que vimos em Toronto, vai se virar contra oponentes mais qualificados.


Cesta da Jamaica! O novo capítulo da crise com Fiba, e a humilhação da CBB
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Carlos Nunes nos holofotes agora, com o pires na mão

Carlos Nunes nos holofotes agora, com o pires na mão

“Fiba recusa proposta da CBB e seleções de basquete podem até ser suspensas”. A essa altura, vocês já leram a matéria de assinatura tripla aqui do UOL Esporte que revela o mais novo capítulo da saga que agora humilha o basquete brasileiro no mundo inteiro. Jornalistas americanos, espanhóis, argentinos, gregos… Já estão todos repercutindo a pindaíba nacional. A última é que as equipes brasileiras podem ser suspensas de atividades internacionais nos próximos meses. Isso inclui a Copa América e até mesmo a Copa Intercontinental entre Bauru e Real Madrid. Ah, e alguém falou de vaga olímpica?

Se não bastasse o fato de a seleção brasileira ter perdido para Uruguai e Jamaica – não dá realmente para ignorar que todo esse causo tem origem em derrotas históricas em quadra, em 2013 –, agora é a hora de passar carão do ponto de vista de *gestão*, estendendo suas mazelas financeiras para o âmbito internacional, devendo dinheiro justamente para seu, digamos, ‘chefe’. Dá para dizer que não é a atitude mais esperta, ainda mais no atual contexto.

Já escrevi aqui no mês passado: “A CBB escolheu a pior hora para ficar em dívida com a Fiba, que vive um de seus períodos mais agitados nos bastidores, com a ideia de expansão de sua marca (e do basquete, quiçá). A troca do nome de Campeonato Mundial para Copa do Mundo, o deslocamento da competição para um ano ímpar, fugindo de eventual conflito com a Copa do futebol, a trabalhosa proposta de alteração no calendário de seleções, com inclusão de eliminatórias… Tudo com alcance global, em larga escala. Mas as mexidas não param por aí, fazendo um movimento agressivo apara reassumir o controle da Euroliga, sob o comando de um agora incisivo secretário geral Patrick Baumann”. Geralmente acusamos as federações de serem ineptas, inertes. Neste momento, a Fiba está em alvoroço, independentemente da pureza de seus motivos. Eles querem bufunfa, claro. Da CBB, dos clubes europeus e de todo mundo – e os cartolas brasileiros deveriam saber disso.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

A entidade agora exige uma solução (leia-se “pagamento”) até 31 de julho. Afinal, a logística da Copa América (feminina e masculina) depende disso. Uma reunião vai ser realizada durante os Jogos Pan-Americanos, em Toronto, de 21 a 25 de julho, para saber o que se fazer. Até lá, deve acontecer alguma correria por aqui para se levantar o máximo de bufunfa possível, talvez adiantando cotas de patrocínio – prática que só serve para deixar a confederação mais estrangulada no futuro.

Derrota na Copa América de 2013 fica mais e mais cara

Derrota na Copa América de 2013 fica mais e mais cara

O pior: o convite foi vendido para a CBB em janeiro de 2014. Há um ano e meio. Desde então, a confederação simplesmente não encontrou um meio de pagar a quantia de US$ 1 milhão em sua totalidade, se estrepando enquanto o câmbio decolava no ano passado, é verdade. Até agora, pagaram apenas US$ 300 mil. A última proposta foi de parcelar a parcela: os US$ 700 mil restantes (que equivalem a duas prestações do ingresso na Copa do Mundo). De novo: desde fevereiro de 2014, tiveram 17 meses para se preparar, e não o fizeram. É difícil de entender isso.

Será que a intenção era dar um calote, acreditando que tudo passa nessa vida, sem imaginar que a Fiba jamais ameaçaria tirar uma potência (do passado) como o Brasil dos Jogos Olímpicos? Bom, vamos supor que não, pela boa-fé. Até por termos todos os fatos expostos sobre a falência de seu escritório, que hoje já deve R$ 13 milhões na praça, a despeito dos constantes pedidos de socorro ao Governo para custeio das operações de suas equipes em viagens internacionais.

Até por conta dessa penúria, o mais prudente era realmente aceitar a eliminação da Copa do Mundo e tirar o time de quadra, mesmo que a seleção tenha sido competitiva na Espanha. Entrar pela porta dos fundos, só para manter uma sequência de participações nos Mundiais não vale este vexame. Sim, é um vexame, não importando o desfecho desta história. Mesmo que a Fiba arrefeça, não vejamos o sorriso de sempre, como se nada tivesse acontecido. Como se fosse uma vitória. No futebol, convencionou-se a expressão “gol da Alemanha”, certo? Aqui, encerramos com “mais uma cesta da Jamaica”.


Até agosto, o planejamento das seleções brasileiras está em suspenso
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Clima de suspense sobre a vaga brasileira no Rio 2016

Clima de suspense sobre a vaga brasileira no Rio 2016

O companheiro Fábio Aleixo noticia aqui no UOL Esporte: “Fiba adia decisão e Brasil terá de esperar até agosto por vaga olímpica”. Traduzindo: todo o planejamento da CBB para este ano está sequestrado pela federação internacional, e com possíveis repercussões para a conclusão do ciclo olímpico em 2016. Que a Fiba não consiga realizar uma reunião sequer de conselho para definir algo tão simples (e importante) – se o país anfitrião dos Jogos do Rio 2016 terá uma vaga automática – não é culpa dos cartolas brasileiros. Mas não dá para ignorar que a inépcia dos mesmos os empurrou nessa direção.

Foi um efeito dominó, gente, que deixou a seleção brasileira nessa situação ingrata e vexatória. Começou com a campanha horrível no Torneio das Américas de 2013 e a exclusão, por critérios esportivos, da Copa do Mundo. Para não quebrar uma sequência histórica de participações no Mundial, a confederação nacional se comprometeu a pagar um milhão de euros por um (?) convite. Atolada em dívidas, a entidade não conseguiu honrar com seus compromissos no tempo devido e ficou na mão dos dirigentes de lá. Agora toca esperar.

Inicialmente, a Fiba afirmou que tomaria uma decisão a respeito em março. Depois, a reunião foi marcada para o dia 18. Mas já pode mudar isso, pois agora ficou para os dias 7, 8 e 9 de agosto. Só para deixar as coisas mais complicadas, o encontro será realizado no Japão. Quer dizer: vai ter gente madrugando para saber o que será que será.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

As consequências? Que Rúben Magnano muito provavelmente não vai poder dirigir a seleção masculina no Pan Americano, competição bastante valorizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro, aquele que banca os vencimentos do treinador. Não que José Neto não possa fazer um bom trabalho, vindo de um tricampeonato do NBB. Mas a expectativa, de bastidores, era outra.  O torneio do Pan termina no dia 25 de julho – antes da reunião em Tóquio. A Copa América começa no dia 31 de agosto. O argentino teria tempo de dirigir o time em Toronto e, na piora das hipóteses, retornaria ainda com mais de um mês de preparação para uma eventual disputa pela vaga olímpica. Mas já disse que, na incerteza, não assumiria nenhum tipo de risco nesse sentido.

Yvan Mainini, presidente da FIBA e Patrick Baumann. Entre eles, Carlos Nunes

Yvan Mainini, presidente da FIBA e Patrick Baumann. Entre eles, Carlos Nunes

A ideia de Magnano era usar a competição continental para investir em mais jogadores jovens, o que seria positivo em duas frentes: 1) dar uma chance a jogadores mais jovens de disputar uma competição relevante e competitiva, podendo avaliar peças para completar o time do Rio 2016 e 2) dar um descanso aos seus veteranos – a geração ‘Nenê’ está vencendo na NBA, mas já passou da casa dos 30 anos.

Requerer os serviços desses caras os deixaria numa situação muito difícil, com o evento terminando no meio de setembro, a menos de um mês da apresentação para o training camp. E cuidado com a sobrecarga – estendendo a temporada por mais um mês, quando o melhor era poupar esforços. Isso, claro, se o Brasil conseguir a vaga, uma vez que só os dois finalistas conseguirão se classificar. Os Estados Unidos, campeões mundiais, estão dispensados da disputa, a Argentina talvez tenha baixas de sua geração dourada, mas basta ter Scola para dar trabalho, enquanto o Canadá vai forte, os mexicanos, anfitriões, estão empolgados, e tudo o mais.

Antes de preocupante, no entanto, essa é uma situação constrangedora, que poderia ter sido evitada com um trabalho melhor de Magnano em 2013, a humildade de aceitar uma campanha fracassada ou uma decisão mais precavida na hora de gastar uma dinheirama que você não tem.

A CBB escolheu a pior hora para ficar em dívida com a Fiba. A federação internacional vive um de seus períodos mais agitados nos bastidores, com a ideia de expansão de sua marca (e do basquete, quiçá). A troca do nome de Campeonato Mundial para Copa do Mundo, o deslocamento da competição para um ano ímpar, fugindo de eventual conflito com a Copa do futebol, a trabalhosa proposta de alteração no calendário de seleções, com inclusão de eliminatórias… Tudo com alcance global, em larga escala. Mas as mexidas não param por aí. A entidade também vem fazendo um movimento agressivo apara reassumir o controle da Euroliga, sob o comando de um agora incisivo secretário geral Patrick Baumann.

Em entrevista ao Mundo Deportivo, Baumann foi questionado sobre o impasse no aproveitamento de jogadores da NBA neste novo modelo de calendário. Em sua resposta, afirmou que a NBA aceitou o fato de que os Estados Unidos precisará eventualmente lutar por sua classificação para os torneios internacionais, independentemente de títulos olímpicos ou mundiais. “A classificação automática já não existirá a partir de 2017”, diz. E se eles decidirem antecipar, tipo, para agora?

Agora o basquete brasileiro se vê envolvido de modo precoce no meio desse turbilhão, sem poder se planejar direito, deixando todo mundo em suspenso: jogadores, jornalistas, técnicos e, infelizmente, o cheque.