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Arquivo : Hettsheimeir

Giovannoni justifica sua convocação e até merecia mais minutos
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Giancarlo Giampietro

Giovannoni teve grandes momentos contra a Argentina. E se... ?

Giovannoni teve grandes momentos contra a Argentina. E se… ?

Por Rafael Uehara*

Muitos contestaram a convocação de Guilherme Giovannoni para estes Jogos Olímpicos. O veterano já não tem mais porte atlético invejável, e havia questionamentos se sua presença não estaria tirando a oportunidade de jogadores com maior potencial. Mas, neste sábado, na derrota da seleção por 111 a 107 contra a Argentina, o veterano mostrou que não só merece presença nesse grupo, mas que, na verdade, deveria ter papel maior na rotação.

O tiro de três pontos é essencial no basquete moderno, mas tem impacto ainda maior quando vem das posições mais altas. Jogando contra um time com escalação padrão, com um ala-pivô puro em quadra, Giovannoni força que esse defensor maior se afaste da cesta, dando maior espaço para seu pivô trabalhar de costas pra cesta e para que seus alas e armadores invadam o garrafão por meio do drible.

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E os números atestam esse impacto. Giovannoni acertou apenas cinco tiros de três pontos em quatro jogos. Em apenas oito oportunidades, este é um aproveitamento excelente. Mas, em termos de números acumulados, não parece lá grande coisa. Mesmo assim, a mera presença dele em quadra aliena a defesa adversária e acelera o ataque brasileiro. De acordo com o site RealGM, antes da partida contra a Argentina, com o ídolo do Brasília em quadra, a seleção marcou em média 113 pontos a cada 100 posses de bola. Excepcional. Pelo #Rio2016, o ala-pivô tem jogado por 14,1 minutos e médias de 6,0 pontos, 3,0 rebotes e 62,5% nos arremessos de longa distância.

Porém, o técnico Rubén Magnano ainda sim tem optado por manter Rafael Hettsheimeir como parte ativa da rotação, e até mesmo como titular, em vez de simplesmente dar todos os seus minutos (9,8) para Giovannoni e jogar com uma formação menor quando ele precisa descansar, se a ideia é sempre ter um entre Nenê ou Felício em quadra. (PS: lembrando que um dos melhores momentos do pivô ex-Real, Málaga e Zaragoza pela seleção aconteceu no Pan, ao lado de um pivô mais flexível, como Augusto).

Chute de Guilherme alarga a quadra para o ataque brasileiro

Chute de Guilherme alarga a quadra para o ataque brasileiro

Magnano provavelmente pensa que Hettsheimeir proporciona o melhor de dois mundos. O pivô do Bauru também tem o tiro de longa distância como principal arma, mas, além disso, tem certa habilidade para trabalhar de costas para a cesta caso o adversário simplesmente coloque um jogador menor nele para contestar os tiros de longa distância com maior rapidez.

Giovannoni realmente, em 2016, é limitado em outros quesitos com a bola nas mãos contra esse nível de basquete. Quando o oponente o impede de atirar rapidamente após o passe, ele não tem muita velocidade pra atacar através do drible, chegar à cesta e finalizar ao redor de pivôs com larga envergadura esperando por ele. Tem força para manter seu equilíbrio contra marcação física, mas seu tiro de média distância criado por ele mesmo também não cai o suficiente para ser carro-chefe de um ataque.

Além disso, nenhum adversário teme que ele possa fazer tamanho estrago contra jogadores menores de costa pra cesta, nunca demonstrando tamanho porte físico para simplesmente forçar posição para arremessos muito curtos perto do aro, mesmo que seu jogo de pés tenha sido sempre uma das  principais virtudes de seu basquete.

Porém, Magnano tem ignorado, ou não diagnosticado, que Hettsheimeir também não tem sido grande opção nestes tipos de jogada contra os adversários de alto escalação que temos enfrentado. E que, a essa altura do campeonato, a disciplina de Giovannoni posicionando-se ao redor do arco com maior frequência do que Hettsheimeir (que vira e mexe ainda pede e recebe a bola tentando materializar algo de costas pra cesta), tem maior valor e beneficia o ataque brasileiro mais. Sem contar o fato de que Giovannoni tem sido ameaça maior no rebote ofensivo.

Magnano provavelmente também se sente mais seguro com o tamanho de Hettsheimeir no setor defensivo. Realmente, a presença de Giovannoni em quadra, especialmente em formações junto com Vitor Benite, o deve deixar muito preocupado com a capacidade da seleção de impedir que o adversário bote fogo no jogo.

Giovannoni não tem mais porte atlético para dar tocos, gerar roubos de bola ou trocar marcação e enfrentar jogadores menores com frequência. Mas sua disposição nesse lado da quadra é de se aplaudir. Ele é atento a suas responsabilidades cumprindo com suas rotações e fazendo bloqueio de rebote para tirar seus adversários da tabela. Ele tem coletado 20.4% dos tiros perdidos pelos oponentes enquanto esteve em quadra. Além disso, pensando nos desastrosos minutos inicias do jogo contra a Argentina, em que Andrés Nocioni flutuou com liberdade pelo perímetro, fazendo Magnano pagar pela dupla Hetthsheimeir-Nenê em quadra, fica a dúvida sobre como teria sido aproveitamento de Chapu se Guilherme, um velho conhecido, estivesse mais tempo com ele.

Brasil já sofreu um bocado nesta primeira semana

Brasil já sofreu um bocado nesta primeira semana

Antes da partida contra a Argentina, a seleção tinha permitido menos que um ponto por posse com Giovannoni no time. Contra a Argentina, a seleção perdeu apenas por um ponto em seus 30 minutos de quadra, em comparação a cinco com Hettsheimeir em seus 15 minutos. Com o pivô do Bauru em quadra, a seleção tinha permitido em média 112 pontos a cada 100 posses de bola do adversário antes da partida de sábado.

Giovannoni não é um jogador perfeito, mas suas virtudes tendem a causar maior efeito do que seus defeitos nestes Jogos Olímpicos, algo que até mesmo os mais críticos hoje talvez não possam contestar. Parece claro que é/era a melhor opção que a seleção tem/tinha em sua função. É difícil fugir da ideia de que, se tivesse sido mais bem aproveitado em todas essas três partidas que a seleção perdeu de forma dolorosa, por diferenças pequenas, talvez estivesse em condição de avançar às quartas com um melhor aproveitamento de um veterano que ainda vem produzindo muito pelo NBB e, de alguma forma, ainda traduz algumas de suas habilidades para o nível olímpico.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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Seleção se recupera ao bater a Espanha. Nem céu, nem inferno
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Giancarlo Giampietro

Huertas foi para a galera, após tapinha salvador de Marquinhos

Huertas foi para a galera, após tapinha salvador de Marquinhos

Dois jogos, duas partidas dramáticas. A seleção brasileira vai nos assegurando que aquele script de que o Grupo B do torneio olímpico seria teste para cardíaaaaaaaco, Galvão. Depois do bumba-meu-boi que foi a estreia e a derrota contra a Lituânia, agora foi necessário um tapinha de Marquinhos para chegar ao primeiro triunfo, contra a Espanha. Por aí vamos até a quinta e última rodada, galera. Não tem jeito.

Mas… Espere um pouco, só. Estamos falando de Lituânia e Espanha, certo? Um aproveitamento de 50% nessas duas partidas, tendo a chance de sair com duas vitórias e duas derrotas, parece bastante razoável. Se for para a pagar aquele primeiro tempo desastroso de domingo, temos um time extremamente competitivo, que limitou os dois finalistas do último EuroBasket a parciais de, pela ordem: 12, 12, 13, 18, 14 e 20 pontos. Nada mal: a defesa está funcionando, de um modo geral.

O que não quer dizer que está tudo perfeito. Assim como a derrota para a Lituânia não era o fim do mundo, a vitória dramática sobre a Espanha, decidida realmente por múltiplos detalhes na penúltima posse de bola, não significa que o Brasil está prontinho da Silva para ir ao pódio. Tem muito chão pela frente. Magnano disse que o time estava ferido, mas não morto após o primeiro tempo estarrecedor da estreia. E certamente vai dar um jeito de passar a mensagem ao seu grupo de que ninguém ali é medalhista olímpico ainda por ter batido uma Espanha muito mais vulnerável que poderíamos supor. Uma chave dura dessas não permite extremismos, montanha russa.

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Levando isso em conta, algumas coisas para ruminarmos antes da terceira rodada, contra a Croácia, na quinta-feira:

– A questão Hettsheimeir: se as redes sociais servem como termômetro, dá para notar uma insatisfação com o desempenho de Rafael Hettsheimeir até o momento. Compreensível: é muito pouco provável que o próprio pivô esteja contente com o que (não) vem produzindo. já que, em duas partidas e 17 minutos de ação, ele conseguiu acertar apenas um arremesso de quadra em quatro tentativas, mal teve chance de disparar de longa distância – apenas uma bola de três que saiu de suas mãos. Também só pegou um rebote e cometeu seis faltas. É um rendimento fraco, que fica ainda mais alarmante quando vemos que, somados os duelos com Lituânia e Espanha, a seleção teve um saldo de -20 pontos quando ele esteve em quadra, com direito a -12 contra os Espanhóis.

É preciso entender o que está por trás desses números temerosos, porém. Hettsheimeir se desenvolveu em um jogador de características únicas desde que saiu do Zaragoza, da Espanha. Adicionou o arremesso de fora ao seu repertório, mas isso não faz dele necessariamente o ala-pivô aberto ideal, tão em voga hoje. No ataque, se tiver espaço para ativar sua mecânica, é certo que ele pode cumprir esse papel. O problema está do outro lado, na defesa. Não dá para colocar o pivô de Bauru para perseguir caras como Nikola Mirotic e Victor Claver no perímetro, ou mesmo um cara menos leve como Paulius Jankunas. Hettsheimeir não tem mobilidade lateral, nem cacoete para isso – e não só isso: a questão da falta de rapidez para completar as rotações também, se a bola girar bastante. Devido ao seu porte físico, ele teria mais chances de encarar pivôs mais pesados próximos da cesta. Acontece que, para esse papel, Magnano conta com Nenê e, como vemos, Felício, aparentemente oficializado como o reserva imediato de Maybyner Hilário.

A amostra é pequena, mas acho que já deu para perceber que Rafael não pode jogar com esses dois, devido a essa questão defensiva. Seu parceiro ideal seria Augusto Lima, que pode perseguir atletas mais ágeis na marcação e atacar a tábua ofensiva com voracidade. Não custa lembrar que a dupla funcionou muito bem na conquista do ouro pan-americano no ano passado. Ok, era apenas o Pan. Ainda assim, do ponto de vista de tática e química, a combinação funcionou. As habilidades dos dois casam muito bem, obrigado. Rafael até mesmo espaçava a quadra para o pick-and-roll com Augusto mergulhando fundo no garrafão. Enfim, feito o registro, se Magnano está convicto, mesmo, de que Nenê ou Felício precisam ficar em quadra por boa parte do tempo, aí os minutos de Hettsheimeir devem ficar bem limitados, mesmo, ainda mais depois da boa participação de Guilherme Giovannoni nesta terça.

Produtivo demais no NBB, questionado por muitos, o veterano ainda pode ser útil ao time nacional em situações específicas, devido ao seu arremesso exterior – que é mais testado que o de Rafael em jogos de alto nível pela seleção. Só precisaria se observar também quem é o oponente da vez. Com atletas mais leves como Mirotic e Claver do outro lado, ele não teria problema para jogar, mesmo. Não por acaso, seu saldo de pontos contra os espanhóis foi de +12, inversamente proporcional ao de Hettsheimeir.

Giovannoni pode ganhar espaço nessa

Giovannoni pode ganhar espaço nessa

– Um pouco de tudo: Nenê saiu de quadra com 6 pontos, 4 rebotes e apenas uma cesta de quadra em cinco tentativas em 21 minutos. O brasileiro que ainda se dignifique a criticar o são-carlense naquela linha oscar-schmidtiana de apátrida, desertor poderia se apegar a esta linha estatística paupérrima e esculhambá-lo. Não estaria mais equivocado. O pivô pode não ter a mesma explosão física de seu auge, mas ainda consegue fazer a diferença em um jogo de basquete com suas múltiplas facetas. Contra os espanhóis, ele terminou também com cinco assistências registradas, incluindo um lance incrível em que cruzou a quadra toda e deu um passe para enterrada de Marquinhos que seria complicado até mesmo para Huertas e Raul, freando em meio ao tráfego, sem perder a graça em seu movimento. É um cara especial, gente, que influencia uma partida de modo que nem sempre

Mas ele merece mais aplausos por mais um esforço defensivo que deve pegar muito bem com Magnano. Depois de algumas trombadas e hematomas pelo choque com Jonas Valanciunas pela estreia, o pivô se via obrigado a lidar com uma lenda viva como Pau Gasol. Pois o craque espanhol não foi nada eficiente nesta segunda rodada, mesmo que tenha chegado a um double-double de 13 pontos e 10 rebotes em 32 minutos. Quando Gasol não alcança a marca nem de 13 pontos, e a seleção espanhola ao mesmo tempo converteu apenas 5-19 arremessos de três, você tem uma vitória tática. Da sua parte, o pivô acertou apenas 4 de 11 tentativas de quadra e foi empurrado para fora do garrafão por Nenê, sem precisar de ajuda. Quando Felício era o responsável, algumas dobras providenciais foram realizadas para . Dessa vez, para completar, seu tiro de média distância não funcionou também.

Deve ser por isso que Magnano tem exigido demais de seu pivô titular.

Nenê, com o modo armador ligado

Nenê, com o modo armador ligado

– Augusto Lima é uma fera: quase que o primeiro double-double brasileiro no #Rio2016 veio com o famoso Gutão (9 pontos e 10 rebotes). Ou nem tão famoso assim. O pivô do Zalgiris Kaunas, cedido por empréstimo pelo Real Madrid, teve seus momentos de fama – digo em relação ao público menos ligado no basquete europeu, claro – no ano passado, durante a campanha brilhante rumo ao ouro do Pan de Toronto. Quando ele foi contratado pelo Real Madrid, isso também chama a atenção por razões óbvias merengues.

Agora, numa Olimpíada, acho que está claro para todo mundo que estamos falando de um grandalhão de elite. Não importa que o Real, com um elenco abarrotado, totalmente gastão e esnobe, não o tenha aproveitado tanto assim e que agora o empreste, preferindo contratar os americanos Othello Hunter e Anthony Randolph. Não importa que ele não esteja na NBA, que não tenha sido Draftado. Já temos três anos de evidências que sustentam que o carioca é um jogador de ponta para o basquete Fiba, no mínimo. Por isso, tendo um cara desses disponível e também o valioso Cristiano Felício na lista de espera, não era o caso de se assustar com o desfalque de última hora de Anderson Varejão. Você poderia até se sensibilizar pelo veterano, mas não era motivo para pânico. Até porque, em muitos sentidos, Augusto foi moldado à sua maneira, como um pivô extremamente veloz e ágil, além de atlético e raçudo. Não existe bola perdida para o cara. Contra os espanhóis, velhos conhecidos, apanhou quatro ofensivos em pouco menos de 28 anos. Na meia quadra, se mexe muito bem lateralmente e deve ganhar minutos seguros ao lado de Nenê e, ao que parece, Felício, para marcar jogadores mais velozes no perímetro. Mesmo que ele não ofereça arremesso ao time, se mexe tanto pelo ataque, que acaba ajudando a destravar as coisas. Já que Nenê hoje também age ainda melhor com a partir da cabeça do garrafão, a combinação com o jovem pivô fica melhor ainda.

Augusto, enérgico

Augusto, enérgico

– Foi de três? De qualquer forma, a seleção brasileira ainda não se acertou quando o assunto é o chute de longa distância. Nessas duas partidas, acertou apenas seis tiros de fora, com aproveitamento péssimo de 20,7%. Qualquer scout ou treinador vai tomar nota disso, e podem esperar mais e mais defesas por zona contra os donos da casa no futuro, tal como a Espanha fez nesta terça, com muito sucesso, no segundo período e no quarto. Vem daí a inclusão de Hettsheimeir e Giovannoni na lista final. O time, porém, não pode depender dos dois pivôs para tentar escancarar as defesas. A turma do perímetro precisa entrar em ação. Leandrinho errou todas as suas sete bolas até aqui. Alex também está zerado em três. Marquinhos matou apenas uma em seis. Benite, uma em duas. Raulzinho tem duas em cinco. Huertas acertou a sua, mas não é grande chutador. Com a pressão dos arremessos de três, a vida de Huertas e Raulzinho e seus parceiros grandalhões ficaria mais fácil para o pick-and-roll e outras tramas. Se há algum ponto positivo aqui, é o fato de que a seleção só tentou 29 arremessos em duas partidas, em vez de forçar a barra. Hoje em dia, isso é bem pouco.

– Gracias, professor: o técnico Sergio Scariolo que se prepare. Seu título mundial pela Espanha já tem dez anos de história, e, ao topar voltar ao comando da equipe, sabia que estaria sujeito a críticas. E elas vão chegar. Na derrota para a Croácia, insistiu com Victor Claver no perímetro mesmo que o cara tenha sido um completo desastre exercendo essa função em sua breve passagem pela NBA. Quando retornou ao Lokomotiv Kuban, da Rússia, nesta temporada, voltou a cativar os scouts jogando basicamente como um ala-pivô flexível, usando sua velocidade e leveza para atacar o aro. Contra os Brasileiros, esse equívoco foi corrigido, com o camisa 10 jogando da forma como mais gosta.

Dessa vez, o que merece questionamento são os minutos dedicados a Ricky Rubio. Se ele tem quatro armadores de qualidade excepcional em seu elenco, é para usá-los com liberdade e autonomia. Taí o José Calderón amargando a reserva, e paciência. Analisando a a derrota brasileira contra a Lituânia, estava evidente que uma das principais deficiências da equipe de Magnano seria a defesa no pick-and-roll, com Mantas Kalnietis fazendo estragos. Rubio pode ser excelente em diversos quesitos (passe e defesa, principalmente), mas todo mundo sabe que ele não representa ameaça nenhuma com a bola em mãos. Você pode pagar para ver seu arremesso o quanto quiser. Em 16 minutos, teve saldo negativo de 6 pontos. Ele tentou apenas três arremessos e converteu um e mais um lance livre, para somar 3 pontos. Não deu nenhuma assistência, porque o Brasil não se importava em lhe dar espaço e tirar a linha de passe. Marcelinho Huertas, então, ficou todo solto para ser uma força criativa para a seleção, com 11 pontos, 7 assistências e nenhum turnover, em 30 minutos.

Se tivesse mantido Sergio Rodríguez mais tempo, quiçá o desfecho fosse outro. O Señor Barba é muito mais agressivo que o titular da posição e causou problemas no segundo tempo, para ajudar na reação espanhola. Bateu para dentro, chacoalhou a defesa brasileira e somou 10 pontos e 5 assistências em 22 minutos, com 50% nos arremessos.  Também não é coincidência que tenha terminado com o melhor saldo entre os espanhóis, com +9 – ninguém nem chegou perto disso… Claver foi o segundo com +3.

Scariolo tem um elenco muito talentoso em mãos. Mas parece não ter o controle sobre essas peças. Uma dúvida que me intriga: por que o técnico simplesmente não usa o quinteto Rodríguez-Llull-Fernández-Mirotic-Reyes? Esses caras jogaram um tempão pelo Real Madrid, e essa base foi uma das mais vitoriosas do continente. Nos minutos que for descansar Scariolo, o técnico deveria simplesmente tentar transformar a seleção numa filial do Real, empregando seu ritmo de jogo mais acelerado. Não vem acontecendo.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?
>> Espanha ainda depende de Pau Gasol. O que não é ruim
>> Argentina tem novidades, mas ainda crê nos veteranos
>> França chega forte e lenta, com uma nova referência

>> Lituânia tem entrosamento; Sérvia sente falta de Bjelica
>> Croácia e Austrália só alargam o número de candidatos
>> Nigéria e Venezuela correm por fora. China? Só 2020

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Guia olímpico 21: a seleção brasileira, as questões e os 12 jogadores
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Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira nesta quarta-feira, iniciamos aqui uma série sobre as equipes do torenio masculino das Olimpíadas do #Rio2016.

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– O grupo
Qualquer corte deve ser muito complicado para cada treinador, ainda mais para um cara como Rubén Magnano, que dá claro valor aos atletas que o acompanharam nos últimos anos pela seleção brasileira. Na hora de definir um grupo olímpico, em casa ainda, era para ser uma tremenda dor-de-cabeça.

Mas, devido a circunstâncias diversas, o sacrifício não foi tão grande. Inicialmente, o técnico pretendia convocar 16 jogadores. Cristiano Felício, porém, recusou, enquanto Tiago Splitter estava se recuperando de uma cirurgia nas costas. Depois, foi a vez de Vitor Faverani abortar a missão, devido a uma lesão no joelho, praticamente definindo o garrafão. Aí restou apenas um atleta para ser excluído. Ficou entre os armadores Rafael Luz e Larry Taylor. Sobrou para Taylor, com o anúncio nesta quarta-feira.

O americano de Bauru (ou seria brasileiro de Chicago) não fez a temporada que Mogi esperava. Teve alguns lampejos, mas lhe faltou a consistência de alguns anos atrás. Física e atleticamente ele não é mais o mesmo. Ainda marca bem, pressiona a bola, e talvez isso fosse o suficiente para um 12º homem. Mas é provável que Rafael dê conta disso da mesma maneira, sendo ainda mais alto e mais forte. Além disso, o ex-flamenguista tem um jogo mais cadenciado, faz a bola rodar mais, oferecendo algo de diferente para o time. Por fim, ainda é jovem e segue como um prospecto para a equipe para o futuro.

E aí que temos esses 12 caras aqui relacionados para o #Rio2016: Huertas, Raulzinho, Rafael, Benite, Leandrinho, Alex, Marquinhos, Giovannoni, Varejão, Hettsheimeir, Augusto e Nenê.

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– Rodagem
É um grupo de vasta experiência. Todos os atletas ou estão no exterior, ou já tiveram experiência significativa lá fora, seja na Europa ou nos Estados Unidos, incluindo os cinco que jogaram o último NBB (Rafael, Alex, Marquinhos, Givoannoni e Hettsheimeir, sendo que o armador já está de contrato assinado com o Baskonia, de volta ao basquete espanhol).

Não pensem que isso é uma coincidência. Uma das coisas evidentes que o convívio com o Magnano desde 2009 nos passa é que ele infelizmente não bota muitas fichas em atletas que disputam o campeonato nacional, ao passo que valoriza demais quem já passou um bom tempo nas principais ligas.

– Para acreditar
Não há nenhuma novidade aqui. Todos os 12 jogadores foram listados competiram por Magnano em pelo menos duas competições anteriores. Se, por um lado, o argentino talvez não estivesse tão disposto a dar chances ou a fazer apostas em gente mais nova, por outro temos como consequência o entrosamento de uma base, a despeito da eventual ausência de um ou outro atleta.

No final, a média de idade é de 30,3 anos, certamente uma das mais altas do torneio olímpico, se não a mais alta. Isso deveria valer para afastar o suposto fator “pressão”. É aquilo: quem joga em casa tem motivações adicionais, tem a torcida a seu favor, mas também precisa manipular essa turma a seu favor. Mesmo os jogadores mais jovens do time – Raulzinho, Rafael e Augusto – têm extensa quilometragem de basquete europeu e já vestiram muitas vezes a camisa da seleção para, em tese, não se impressionarem tanto assim.

Nos últimos dois grandes torneios, Olimpíada e Copa, a seleção jogou de igual para igual com grandes equipes, venceu times como França e Sérvia, e mostrou que dá para brigar.

– Questões
A que mais me preocupa, há um tempo já: se na hora de definir sua rotação, Magnano iria/vai priorizar nomes e currículos, em vez do que está acontecendo em quadra agora, em julho, agosto de 2016. Ao separar alguns veteranos do NBB para o Sul-Americano e fazer uma convocação enxuta, o argentino meio que deu uma resposta parcial. Que ficou ainda mais facilitada devido aos desfalques de Felício e Faverani. Ainda assim, entre os 12 que sobraram, pode haver um encontro de forças, entre jogadores em ascensão e estrelas em declínio. Como o argentino vai encarar esse choque natural é algo vital para as chances do grupo, pensando em produção dentro de quadra e química fora.

De 2012 (Londres) ou mesmo de 2014 (Copa do Mundo) para cá, o tempo que se passou aparentemente valeu mais do que quatro ou dois anos. Hã… Como assim? Calma, explico. Não se trata exatamente de uma aplicação da Teoria da Relatividade. Mas também não é apenas um mero exercício de se virar as folhinhas do calendário. Nesse período, muita coisa aconteceu em torno do núcleo central de Magnano. Foram anos intensos, por assim dizer, em termos de mudança. Peguem, por exemplo, nossos pivôs.

Houve um tempo em que Varejão e Nenê eram dois dos pivôs mais ágeis que a gente poderia encontrar por aí. Os dois grandalhões não têm a impulsão de um Dwight Howard ou um Anthony Davis, mas foram atletas bastante especiais quando no auge, devido à mobilidade e à agilidade fora do comum. Hoje, em 2016, já não é mais o caso, devido ao desgaste de longas, milionárias e vitoriosas carreiras de NBA, além do acúmulo de diversos problemas físicos.

Esse desgaste gera dilemas. A combinação da dupla de pivôs não me parece tão simples assim; quando foram lançados no início da década passada, a gente poderia imaginar Nenê e Varejão formando uma parceria que duraria anos e anos. Mais de 16 anos depois dos Goodwill Games na Austrália, cá estamos. Por diversas razões, essa combinação não foi realizada muitas vezes assim pela seleção. Não sei se é o caso de repeti-la agora, tanto por razões ofensivas como por defensivas.

No ataque, nenhum deles desenvolveu um chute de três pontos confiável, embora possam matar bolas de média distância tranquilamente. Isso interfere no espaçamento, podendo obstruir infiltrações dos armadores e dos alas. Há coisa de cinco, seis anos atrás, o dinamismo dos pivôs poderia compensar a falta de chute, desde que o sistema brasileiro não fosse modorrento e incentivasse a movimentação de todas as peças. Esse deslocamento está agora mais arrastado. O que, de novo, não é uma crítica: é apenas uma consequência natural do esporte.

Depois tem a defesa: se Nenê e Varejão foram premiados com tanta grana assim nos Estados Unidos, a capacidade de cada um deles de conter jogadas em pick-and-roll foi dos principais motivos para tanto. Os dois brasileiros eram casos raros de pivôs que poderiam aceitar a troca de marcação num corta-luz e lidar muito bem, obrigado, com esse teórico impasse. A movimentação lateral dos dois era quase implacável. O pick-and-roll vem sendo cada vez mais e mais utilizado mundo afora, especialmente quando as seleções não conseguem treinar tanto assim. Os dois serão inevitavelmente atacados a partir do perímetro, assim como acontecerá com Gasol na Espanha, Gobert na França, Cousins nos EUA etc. Como será o desempenho neste caso? Para Augusto Lima, para quem o acompanhou bem nos últimos anos de Liga ACB, isso não seria um problema.

De resto, para esse capítulo sozinho não tomar proporções bíblicas, vamos em pílulas: 1) a aposta ainda será na marcação alta, com abafa, e saída em velocidade em transição? 2) em meia quadra, a bola vai girar no ataque, certo? Tal como aconteceu no Pan. Ou vamos ver investidas óbvias e/ou forçadas como as da Copa América? 3) Magnano pensa em eventualmente usar Marquinhos como um stretch four, para ganhar em agilidade, mesmo que os demais alas da seleção não sejam tão altos assim, podendo o rebote ficar vulnerável?

>> OS ELEITOS

Marcelinho Huertas
Armador, 33 anos
Clube: Lakers
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2006, 2010, 2014; Copa Améria 2005, 07, 09, 11, 13; Sul-Americano 2004; Pan 2007.

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Magnano não escondeu sua preocupação com a situação que Huertas enfrentava em Los Angeles, perdido em meio ao caos da gestão Byron Scott. O armador não conseguia entrar em quadra, enquanto Lou Williams e Nick Young alienavam os atletas mais jovens e promissores do elenco. De março em diante, porém, para alívio do argentino, ele participou das últimas 21 partidas do time californiano, o que dá dois terços de uma temporada de Liga ACB, por exemplo. No final das contas, em termos de preparo físico, talvez o chá de cadeira que levou no início tenha vindo para o bem. Sua média ficou em 16,4 minutos.

Em sua primeira temporada de NBA, em meio aos grandes atletas da modalidade, o brasileiro ficou basicamente dentro do esperado. Visão de quadra não foi um problema para ele, se envolvendo em alguns highlights próprios com belas assistências – por mais que as redes sociais tenham valorizado muito mais os lances desfavoráveis. Huertas sabe ditar o ritmo de jogo e funciona muito mais no pick and roll ou em transição. Mas teve dificuldades para pontuar, indo poucas vezes ao lance livre e acertando apenas 26,2% dos tiros exteriores numa linha de três pontos mais distante. Por outro lado, quando se aproximou da cesta, usando seu clássico arremesso em flutuação, o brasileiro ao menos teve um aproveitamento de acordo com a média da liga. Na defesa, foi agressivo, mas vulnerável.

Veja suas estatísticas no mundo Fiba e na NBA.

Raulzinho
Armador, 24 anos
Clube: Utah Jazz
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2010, 2014; Copa América 2013; Sul-Americano 2014.

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Também um estreante na NBA, mas em estágio completamente diferente na carreira. A princípio, Raul chegaria a Salt Lake City para brigar por espaço na rotação. A lesão do australiano Dante Exum, porém, mudou tudo. Para surpresa geral, o calouro começou a temporada como titular. E não foi necessariamente devido ao seu senso de organização de jogo, mas, sim, por sua presença defensiva, que conquistou o técnico Quin Snyder, desbancando a decepção chamada Trey Burke.

Como armador, porém, o jogador não teve a oportunidade de se soltar muito. As ações do ataque do Jazz ficavam concentradas nos alas Gordon Hayward e Rodney Hood, com o brasileiro jogando afastado da bola. Ao menos cumpriu seu papel quando chamado, ao converter 39,5% de seus chutes de três e 44,4% de média para longa distância. No meio do campeonato, ainda assim, viu o clube contratar o competente, mas inexpressivo Shelvin Mack para assumir seu posto.

Na seleção, é de se esperar que sua criatividade com a bola será mais exigida. Depois de fazer boa Copa do Mundo em 2014, não competiu no ano passado pela equipe, naquela que poderia ser uma campanha de afirmação.

Veja suas estatísticas no mundo Fiba e na NBA

Rafael Luz
Armador, 24 anos
Clube: Baskonia/ESP (saindo do Flamengo)
Torneios: Copa América 2011, 13 e 15; Sul-Americano 2012 e 14; e Pan 2015.

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Se você for se apegar apenas aos VTs de melhores momentos, aos lances de Vine etc., dificilmente vai apreciar o que Rafael traz para a quadra, como um armador de jogo controlado no ataque e forte pegada defensiva, usando sua envergadura para causar impacto nas linhas defensivas e para pressionar o oponente. São características que justificam a escolha por ele, em detrimento de Larry. Como peça complementar, oferece algo a mais para Magnano, considerando que não deva ser um dos primeiros a sair do banco de reservas durante os Jogos.

Sua participação com a seleção na temporada passada deve ter sido decisiva também para sua manutenção no elenco olímpico. Confira um scout detalhado sobre o que o armador fez na conquista do ouro pan-americano. Foi muito bem como o condutor de um ataque poderoso.

Depois, a passagem pelo Flamengo foi de altos e baixos – como os duríssimos playoffs contra Mogi e Bauru mostraram –, talvez por jogar num time cujos preceitos táticos não lhe favoreciam tanto assim. Ainda assim, participou da conquista do NBB antes de receber boa oferta para defender um clube de ponta como o Baskonia, pela Euroliga e pela Liga ACB.

Veja suas estatísticas no mundo Fiba e pelo NBB

Vitor Benite
Armador, 26 anos
Clube: Murcia/ESP
Torneios: Copa América 2011, 13, 15; Pan 2015; Sul-Americano 2012, 14.

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A transição do NBB para a Liga ACB foi um tanto custosa a Benite, principalmente a serviço de um clube pequeno que se meteu a brigar por uma vaga nos playoffs espanhóis, o que seria uma façanha e tanto para o Murcia. Seu tempo de quadra basicamente flutuou de acordo com sua pontaria nos tiros exteriores. Quando teve bom aproveitamento, seus minutos dispararam. No geral, acertou 35% de seus disparos, o que não foi o suficiente para lhe dar mais que 17 minutos, na avaliação do ótimo técnico grego Fotios Katsikaris, que registrou as dificuldades de adaptação do atleta, tanto do ponto de vista defensivo como na tomada de decisões no ataque.

Ainda assim, os serviços prestados em 2015 lhe garantem um posto na seleção, quando foi o cestinha no Pan e na Copa América, sendo uma ameaça na linha perimetral. O importante é que ele entre com confiança e agressividade, sem pedir passagem, mas também ciente da melhor oportunidade para atacar.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pela Liga ACB

Leandrinho
Ala, 33 anos
Clube: Phoenix Suns (saindo do Warriors)
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2002, 06, 10 e 14; Copa América 2003, 05, 07, 09; Pan 2003.

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O ligeirinho teve seus minutos limitados num timaço como o do Golden State Warriros. Ainda assim, quando foi chamado por Steve Kerr, correspondeu, quanto mais no momento mais crítico: a decisão da NBA. Jogou tão bem, com tanta confiança que o treinador foi justamente questionado por não lhe dar mais tempo de quadra no derradeiro Jogo 7 em Oakland.

Está aqui um cara que desafiou o Passar do Tempo. Aos 33, depois de uma cirurgia no joelho, Leandrinho segue como um dos caras mais velozes da NBA de uma ponta da quadra à outra. Também rende muito bem em cortes em linha reta para a cesta quando não precisa se esgueirar entre defensores, abusando da tabela com finalizações em arcos improváveis.

De todo modo, a cancha que ganhou em 13 anos de liga também não fez dele um melhor preparador, armador ou criador. Leandrinho ainda pode ser um pontuador de mão cheia, mas apenas em determinadas situações, sem que lhe deva ser entregue a bola em momentos de desespero, para que ele crie uma situação no mano mano, sem nenhuma jogada trabalhada – uma armadilha que ele assumiu, ou que lhe foi sugerida em diversas passagens pela seleção.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pela NBA

Alex
Ala, 36 anos
Clube: Bauru
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2002, 06, 10, 14; Copa América 2003, 05, 07, 09, 11, 13; Pan 2003, 07; Sul-Americano 2003.

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Alex é o jogador mais velho da seleção, com três meses a mais que Giovannoni. Se for para se concentrar em vigor físico e capacidade atlética, porém, ninguém vai acreditar nisso. O condicionamento do veterano ainda é veterano. Pensem que, com 1,92m, ele ainda teve média de 5,0 rebotes na última temporada do NBB, que é basicamente aquela de sua carreira.

Também estamos falando ainda do melhor marcador individual do país ainda, dando conta de segurar toda sorte de oponente, incluindo alas-pivôs bem mais altos. Tudo isso é uma prova de sua seriedade, ou da notória “brabeza” pela qual é conhecido desde os tempos em que era uma revelação por Ribeirão Preto.

Em alguns aspectos, o Alex de hoje é bem melhor que o de dez anos atrás. Sua visão de jogo se aprimorou de acordo com o que se espera da idade, a ponto de ele se tornar efetivamente um segundo armador em quadra. Sem Ricardo Fischer, assumiu as rédeas do ataque do Bauru neste ano, e o time alcançou as decisões da liga nacional e da Liga das Américas novamente.

A ausência de Fischer – e do sistema espaçado e criativo de Guerrinha – só interferiu em seu arremesso de três pontos. Alex não sobrou mais tão inconteste no perímetro, e seu percentual caiu de 40,8% para 31,2%, que é basicamente o normal para ele. Esse chute pode fazer falta.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pelo NBB

Marquinhos
Ala, 32 anos
Clube: Flamengo
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2010, 14; Copa América 2007, 11 e 15; Pan 2007.

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MVP de um NBB em ano em que a concorrência foi forte, livre de lesões, habituado a ser campeão pelo Flamengo, liderando a equipe em quadra… Por mais que Magnano não dê tanta abertura assim a atletas do campeonato brasileiro, acho que não há muita dúvida que, em termos de protagonismo e momento técnico, o ala se apresenta na melhor forma.

O veterano é hoje a melhor opção de criação brasileira, com opção tanto para finalizar como servir aos companheiros, sem egoísmo. É um ala alto e habilidoso, cujos fundamentos se impõem até mesmo em nível internacional. Se quisesse, Marquinhos poderia estar frequentando as grandes ligas europeias há anos. Mas fez suas escolhas, optando pelo conforto do lar, e talvez seja subestimado por isso.

Em momentos de aperto, vai aceitar assumir maior parcela de responsabilidade? É a hora para tal, em comparação aos últimos dois torneios, pelos quais invariavelmente deu um passo atrás, deixando as decisões para seus companheiros mais prestigiados. De todo modo, essa não é uma pregação para que o time seja de Marquinhos. A seleção só vai a algum lugar realmente se jogar bem coletivamente, assim como aconteceu em alguns momentos da Copa do Mundo, especialmente a partir da defesa. Na hora do aperto, porém, que o flamenguista pode ser mais bem explorado.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pelo NBB

Guilherme Giovannoni
Ala-pivô, 36 anos
Clube: Brasília
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2002, 06, 10, 14; Copa América 2003, 05, 07, 09, 11, 13, 15; Pan 2003, 11.

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É uma pergunta que se escuta muito por aí: Guilherme ainda é jogador de seleção brasileira? Aos 36 anos, a resposta segue a mesma: sim.

Havia outros concorrentes para a posição, como Rafael Mineiro e Olivinha. Cada um deles poderia ser bastante valioso por características singulares: Mineiro é um excelente defensor em sua posição, com agilidade nos pés e verticalidade, enquanto Olivinha é o guerreiro que a torcida rubro-negro venera, daqueles que não desiste da bola nunca, botando em prática também sua inteligência para ajudar nesse tipo de empreitada.

Mas Giovannoni concede ao grupo uma habilidade que, como vimos até aqui, está em falta: arremesso. Algo, digamos, importante num jogo de basquete, certo? Chutadores nunca são demais. E o experiente ala-pivô converte 40,3% em sua carreira no NBB, chegando aos 42,9% na última temporada, assessorado pela dupla Fúlvio-Deryk.

Agora, não é que ele se reduza a isso. Acho curioso como o empenho de Olivinha pelos rebotes é justamente elogiado, mesmo com suas limitações atléticas, enquanto Giovannoni ainda segue dando duro nas duas tabelas e seja visto só como um gatilho. No basquete nacional, ao lado de Alex e Marquinhos, ele vem sendo um dos jogadores mais consistentemente produtivos.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pelo NBB

Rafael Hettsheimeir
Pivô, 30 anos
Clube: Bauru
Torneios: Copa do Mundo 2014; Copa América 2005, 11, 13; Pan 2015; Sul-Americano 2014.

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A efetividade de Hettsheimeir hoje em jogos de alto nível está diretamente ligada à sua eficácia nos disparos de longa distância. O pivô até pode pontuar mais próximo da cesta com seu gancho de direita, mas, na atual configuração da seleção, este espaço estará ocupado.

Desde que passou a se dedicar ao fundamento com mais ênfase na Espanha, os resultados têm sido inconsistentes a serviço da seleção. Só lembrar o que aconteceu em 2014, quando o grandalhão arrebentou em jogos amistosos, mas foi anulado durante a Copa do Mundo. Rafael precisa de um certo espaço para matar. Durante a campanha do Pan, com ótima movimentação de bola, seu rendimento foi de 46,2% em mais de 5 tentativas por partida. Excelente. Magna o obviamente conta com esse chute em seu plano tático.

O problema está do outro lado, quando o pivô, forte que só, pode ser desafiado por alas-pivôs muito mais ágeis e flexíveis – enquanto pelo Bauru e pela seleção pan-americana, lhe restaram alguns “cincões” (ou qualquer coisa perto disso no atual cenário da modalidade), nas imediações do garrafão, tarefa para a qual está mais bem equipado.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba aqui e aqui e pelo NBB

Anderson Varejão
Pivô, 33 anos
Clube: Golden State Warriors
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2002, 06, 10, 14; Copa América 2003, 05, 09; Pan 2003.

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Varejão é, para mim, a grande incógnita desse grupo, devido ao tempo bastante limitado de quadra que teve durante a temporada. Se teve seus momentos positivos na série contra OKC, seu desempenho no geral, pontuado pela última partida, não foi dos melhores. Pelo Jogo 7 das finais contra o Cavs, o capixaba parecia disposto tão somente a tentar cavar faltas, sem que a arbitragem caísse na sua, causando impacto lamentavelmente negativo para seu time.

Será que, depois de tantas dificuldades físicas e de saúde que enfrentou nos últimos cinco anos, restaram somente as artimanhas para o cabeleira? Seu corpo quebrou? Ou o que vimos por Cleveland e Golden State é apenas fruto dos minutos reduzidos, causando certa ferrugem? É o que estamos prestes a descobrir nas próximas semanas. Se estiver em forma, ninguém duvida do que Anderson pode entregar a uma equipe: domínio dos rebotes, flexibilidade defensiva, arremesso de média distância, boa movimentação ofensiva e passes espertos e precisos.

Se o Cavas não hesitou em dispensá-lo durante o campeonato, ao menos o Warriors agora concordou em contratá-lo por mais um ano, n numa prova de confiança do técnico Steve Kerr. Ficamos no aguardo ansiosamente por uma resposta positiva, então.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pela NBA

Augusto Lima
Pivô, 24 anos
Clube: Real Madrid
Torneios: Copa América 2011, 15; Pan 2015; Sul-Americano 2012, 14.

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Augusto estourou pela seleção no ano passado, com um perfil muito semelhante ao de Anderson Varejão em diversos quesitos, como agilidade, empenho e feeling para os rebotes. É um finalizador mais atlético perto do aro, mas não passa tão bem a bola. Fazendo as contas, temos um ótimo contribuinte para anos e anos – e já preparado para receber seus minutos olímpicos. Em termos de marcação contra o pick-and-roll, é provavelmente a melhor opção de Magnano.

Em termos de ritmo de jogo, porém, sua temporada também sofreu um certo acidente. De tão bem que atuou pelo Murcia nas últimas campanhas, foi contratado neste ano pelo Real Madrid, time que certamente poderia usar todas as suas ferramentas defensivas. Em meio a Felipes Reyes, Gustavos Ayóns e Andrés Nocionis, não foi tão utilizado.

Pior: no mercado, a superpotência espanhola ainda contratou mais dois homens de garrafão (Anthony Randolph e Othello Hunter), de modo que o destino do brasileiro parece ser um empréstimo. Isso não quer dizer necessariamente que ele tenha desagradado. Talvez só não tenha recebido uma devida chance. Com milhões de euros para investir, o Real faz disso. Acontece com a equipe de futebol direto. A vantagem de Augusto é a sua juventude para a retomada de um condicionamento ideal para encarar uma Olimpíada.

Confira um scout detalhado do pivô depois de sua participação decisiva na conquista do ouro pan-americano.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pela NBA

Nenê
Pivô, 33 anos
Clube: Houston Rockets (saindo do Wizards)
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2014; Copa América 2003, 07; Pan 2003.

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Por diversos anos, os semiganchos de Tiago Splitter foram uma espécie de bola de segurança da seleção. Já suas tramas no pick-and-roll com Huertas eram um verdadeiro carro-chefe. Além de sua liderança e serenidade, seus recursos técnicos são uma referência em quadra. Pois, num ato cruel, quis o destino que o catarinense não jogasse o torneio olímpico em casa.

Entra em cena Nenê. O pivô injustamente vaiado pela torcida antes de amistoso contra Chicago no Rio de Janeiro e perseguido por figuras como Oscar. A reposta pode vir agora – não que ele precise provar nada para ninguém. Sua carreira na NBA não foi a de um All-Star, mas foi de imenso sucesso, recompensado por dezenas de milhões de dólares. Somente as fossem as desafortunadas lesões e sua abordagem por vezes altruísta ao extremo o desviam de uma aclamação crítica.

Seu físico acaba se tornando hoje um dos fatores vitais para as pretensões da seleção. O grandalhão tem todos múltiplos recursos acima da média (munheca, força, arranque, bloqueio, passe e mãos e pés ágeis) para desafiar a maioria de seus adversários de garrafão, passando por Luis Scola e Jonas Valanciunas.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pela NBA

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A crise e o basquete brasileiro: quem está se mexendo?
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Giancarlo Giampietro

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Dois blogs vizinhos aqui na rede do UOL Esporte nos trouxeram na semana passada informações que se completam perfeitamente e nos dão um bom retrato sobre o basquete brasileiro, a menos de cinco meses da disputa das Olimpíadas. No dia 8, Fábio Balassiano publicou entrevista com o presidente da CBB, Carlos Nunes. Dois dias depois, Daniel Brito deu a notícia de que a Caixa Econômica Federal vai investir R$ 32 milhões, divididos em cinco anos, nas ligas masculina (LNB) e feminina (LBF).

Quando Brito divulgou o acerto do banco com as entidades que reúnem os clubes, uma declaração de Nunes ganhou outro contexto, sobre a dificuldade de se captar patrocínios: “Tentamos, tentamos sempre. E a gente não consegue. As empresas alegam que não têm dinheiro e que a exposição da seleção brasileira é muito pequena, pois a seleção se junta em julho e deixa de estar atuando em setembro. Isso, para os patrocinadores, é muito pouco. Mas não desistimos, não”.

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Certo. O mercado está retraído, mesmo. Mas há quem possa atrair investimento – também no dia 10, a LNB ainda anunciou acordo com a Avianca, que vai cuidar do transporte dos atletas em troca de exposição, e também atraiu a parceria da NBA. Outros já têm mais dificuldade, se não for em convênios generosos e de justificativas nebulosas com o Ministério do Esporte.

Antes de prosseguir, alguns pontos:

1) sim, não haveria espaço para a Caixa fechar um contrato com a CBB, que já tem o Bradesco ao seu lado.

2) sim, a Caixa é mais uma estatal que ergue a mão para dar uma força ao esporte nacional. Qual a diferença disso para um repasse do ministério? Bem, há diversos tópicos para separar ambos, sendo o principal deles o fato de a Caixa ser uma empresa. Estatal, mas uma empresa, que espera ter retorno financeiro em sua empreitada. O ministério ajudou e só espera, quiçá, ver uma medalha como resposta. Sabemos, na verdade, que este foi o modo que a pasta encontrou para ajudar a CBB em meio a um naufrágio. É como se fosse um colete salva-vidas. Afinal, como Nunes mesmo constata: dentre tantas confederações olímpicas, só uma não foi acolhida por uma estatal. “Nós, da CBB”, diz. Obviamente que o rolo com a Eletrobrás e a matéria de Lucio de Castro sobre o uso descontrolado de cartão corporativo, entre outras, ajuda a emperrar as coisas e afugentar investidores (aqui, a nota de resposta da confederação). Sobre a disputa com a empresa, Nunes espera que será esclarecido na Justiça e poderia render mais R$ 21 milhões devidos. Ajudaria a quitar as dívidas de sua indigestão. Mas não é dinheiro garantido.

3) sim, LNB/LBF e CBB são entidades diferentes para se investir, claro. As ligas têm seus campeonatos cobrindo quase toda a temporada, enquanto a CBB é, acima de tudo, hoje em dia, uma instituição voltada à política e que sobrevive, do jeito que está, por causa de seus intrincados trâmites.  Nunes reclama também que a seleção brasileira tem “pouca exposição”. Historicamente, a equipe nacional sempre atraiu mais patrocinadores, a ponto de, por aqui, ter se desenvolvido a tese de que só com medalhas internacionais, a modalidade seguiria em frente – conquistas despertariam interesse e aí, sim, direcionaria a grana para o mercado local. Será? Não creio que o ouro do Pan de Toronto tenha motivado três acordos comerciais expressivos para a LNB. Mais: “exposição” não é algo que dependa exclusivamente do calendário de competições. E, mesmo quando reúne seu time, a confederação fracassa em promovê-la, com jogadores de NBA ou não, com um marketing praticamente inoperante, como o próprio presidente admite.

Tá. E o que mais?

Se há crise econômica no país, porém, ela atinge tudo e todos, e não somente o basquete, ou uma ou outra instituição basqueteira. Não adianta se colocar na vítima, que é o que Nunes mais faz em sua entrevista, cheia de evasivas. É um festival do “não sei”. Não sabe explicar a situação financeira e nem dizer qual o tamanho da dívida da CBB. Não quer falar sobre as denúncias de mau uso de dinheiro de patrocínio. Confunde-se ao falar sobre a ação movida pela Eletrobras. Não sabe dizer exatamente como está a preparação das equipes – no técnico ele “não mexe”. Peraí: mexe, então, exatamente no quê? OK, a entrevista não era algo que ele tinha planos. Para alguém que está há tanto tempo no cargo, todavia, esperava-se mais preparo.

É com um líder desses que as seleções masculina e feminina vão chegar ao Rio 2016. Nesse cenário, não me parece justo o presidente cogitar a hipótese de medalha entre os rapazes. Está certo que os problemas da confederação não atingem diretamente esse grupo. O ministério deu conta de suas despesas nos últimos anos, sem muito critério para assinar o cheque. Então Rubén Magnano pode trabalhar com vasta comissão técnica, incluindo excelentes preparadores físicos (é só dar uma espiada no trabalho de Paulistano e Flamengo nos últimos NBBs) e profissionais. Vão poder jogar amistosos e tal. E a base da equipe será formada por atletas que construíram carreira basicamente fora do país – não que não pudessem crescer por aqui, mas só é preciso registrar o fato.

O problema é o futuro e qual o papel da CBB nele. Quando questionado sobre o que vem por aí, com a aposentadoria inevitável de toda uma geração, Nunes também não foi capaz de se aprofundar. “Acho que trabalhando não vamos sentir tanto. Olha aí o Raulzinho indo muito bem. Há o Caboclo, o Lucas Bebê, o Hettsheimeir que é jovem. Temos munição guardada ainda. O que acho que irá pesar mesmo, para lhe ser sincero, é se teremos grana para fazer o trabalho na base. Isso aí é que estamos muito esperançosos, pois o Governo Federal está muito interessado nisso. Agora mesmo nos liberou o convênio da feminina. Já saiu o da masculina”, afirma.

Obs1: Hettsheimeir tem 29 anos, é só um ano e meio mais jovem que Splitter. Obs2: vamos ver sempre dirigentes nacionais citando os mesmos nomes de sempre (Caboclo, Bebê…), mesmo que estes jogadores ainda busquem estejam sob teste, tentando se afirmar, e que a CBB não tenha absolutamente nada com o desenvolvimento da maioria deles. Obs3: de novo, o Governo… Sendo que é a mesma administração que passa por um período de turbulência severa, e não sabemos se continuará de pé até o final do ano.  Não é a melhor fonte, no momento, para falar sobre projetos, hã, futuros. Obs4: a eleição da CBB está marcada para 2017, e não há nenhum candidato declarado que prometa grandes mudanças.

As Olimpíadas já chegaram, e vai ser pauleira. Tudo bem. O problema é pensar lá na frente, com as ligas nacionais carregando maiores responsabilidades, sem um respaldo confiável por parte de quem supostamente deveria zelar pela modalidade.


Copa Intercontinental: aquele árbitro, Hettsheimeir, Mineiro e o que mais?
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Giancarlo Giampietro

Passada a ressaca de segunda-feira após quatro dias seguidos de jornada dobrada e visita ao Ginásio do Ibirapuera, vamos lá fazer uso do caderninho de anotações e da repercussão que tem o torneio na Espanha.

*   *   *

Reynaldo Mercedes está de novo no centro das atenções por sua conduta, digamos, pouco inspiradora numa quadra de basquete.

Serio Rodríguez e Real Madrid x Reynaldo Mercedes

O veterano árbitro dominicano tem algumas partidas conturbadas em seu currículo, a começar pela final do Mundial de 2002 entre Argentina e Iugoslávia. Foi um dos homens pinçados para apitar a Copa Intercontinental no final de semana. Foi ele que excluiu Sergio Rodríguez no jogo de domingo. A princípio, vendo o jogo das tribunas, parecia tudo normal, pelo showzinho que deu o armador espanhol:

A bomba que solta em quadra e os gestos de cesta em direção ao árbitro são passíveis, mesmo de falta técnica, e tudo isso veio num contexto em que o Real Madrid já reclamava muito e demonstrava surpreendente nervosismo em quadra. Quando o Real Madrid, porém, conseguiu fazer com que a Euroliga requisitasse à Fiba uma investigação sobre Mercedes, as coisas se tornaram mais sérias. Vejamos: eles haviam sido campeões, estavam prontos para deixar o torneio para trás e voltar para casa, e ainda estavam investidos nisso? Que pasó?

Bom, alguma alma iluminada — ou que estava esperando por um deslize do sujeito — fez o favor de resgatar alguns tweets de sua autoria de 2012, nos quais se assume torcedor do Barcelona (no futebol…) e se alegra com uma derrota do Real. Pode ser pura bobagem. Não há problema que um dominicano tenha uma queda pelo lado catalão da força. Mas… Considerando que os dois clubes são gigantes na modalidade em que ele milita, esperava-se mais bom senso por parte do figura, não? É o que a Euroliga acredita, julgando-o desqualificado para apitar um jogo de basquete. Mas não só era só isso. O jornalista Ricardo González, do diário As, noticia também que Mercedes teria provocado Rodríguez antes dos lances livres, ofendendo e desafiando-o a, pelo menos, converter os arremessos. Viria daí a resposta do “Chacho”.

Em entrevista ao portal elCaribe.com, o dominicano tenta se defender. “É uma situação complicada devido à envergadura da equipe que faz a reclamação, mas é certo dizer que são são reclamações fora de contexto e sem fundamento. Desde quando é pecado ser árbitro de basquete e simpatizar com uma equipe de futebol? Meu comentário foi de anos atrás e era direcionado ao futebol. Não tem nada a ver com o basquete, muito menos com minha atuação dentro da quadra. Tenho fé que a verdade e o raciocínio lógico sobre a situação virá à luz, e que as entidades responsáveis sobre o basquete no continente e no mundo não darão razão a tal protesto. Entendo que as reclamações são do basquete. Agora tenho de esperar pela análise”, afirmou.

*    *   *

O protesto formal contra Mercedes só mostra o quão a sério o Real Madrid levou a Copa Intercontinental, a despeito de suas limitações de momento. No domingo dia 28, estavam erguendo o quinto troféu seguido em São Paulo. No dia 21, seis de seus atletas estavam disputando a final do EuroBasket. Não é fácil. Nesta terça, dando sequência às festividades, e tentando fraturar um troquinho, porque ninguém é de ferro, o clube também pôs à venda uma camiseta comemorativa pela “temporada perfeita” que teve, com 100% de aproveitamento em cinco competições.

Sergio Llull, por sua vez, está nas nuvens:  

No final das contas, além de ter sido um baita chamariz, emprestando seu prestígio e chamando a própria torcida para o ginásio no domingo para ajudar a encher o Ibirapuera, o Real Madrid talvez deixe como maior legado sua dedicação à Copa Intercontinental, que foi disputada pelo terceiro ano seguido. Uma camisa desse peso faz toda a diferença e, imagino, ajuda a consolidar a competição, mesmo que seu formato não seja dos melhores. Essa coisa de duas partidas na decisão não entra na minha cabeça, mas é fato também que há muitos empecilhos de calendário para fazer qualquer alteração significativa. Com a reforma que ambiciona a Fiba, aliás, desconfio que o torneio fique a perigo.

*    *   *

Sobre o Real, a última, já apontando para o futuro. Que atende pelo nome de Luka Doncic. O garoto esloveno (que, é importante frisar, por enquanto recusa o assédio da federação espanhola para que siga os passos de Nikola Mirotic) foi a grata surpresa dessa decisão. Aos 16 anos, já se vê realmente inserido nos planos de Pablo Laso com o terceiro armador da rotação, atrás dos Sergios. Assume o papel que coube a Facundo Campazzo, que é oito anos mais velho, vejam só. A partir do momento em que Rodríguez foi mandado ao vestiário, o papel do garoto ganharia relevância, ainda mais com Rudy Fernández e Jeffery Taylor fora de combate. Pois o garoto segurou o rojão sem o menor problema, estando em quadra inclusive nos seus minutos decisivos. Primeiro, deu alguns instantes preciosos de respiro ao MVP Llull e, depois, assessorou o espanhol na armação. Com o corpo lânguido, de 1,98m e poucos músculos, também não fugiu do contato num jogo muito físico e aguentou o tranco na defesa com Leo Meindl, por exemplo.

Alex é 19 anos mais velho que Doncic

Alex é 19 anos mais velho que Doncic

Mas é com a bola nas mãos, mesmo que Doncic captura sua atenção. Avança com naturalidade com a bola, a despeito da altura fora do comum para a posição e do biótipo que ainda não lhe favorece contra adversários mais agressivos. De qualquer forma, lidou com tranquilidade com a primeira linha defensiva bauruense e conseguia ganhar terreno em progressão rumo ao garrafão para, aí, mostrar o que tem mais de especial, que é a visão de quadra. O garoto executou alguns passes dificílimos, cruzando a defesa, com velocidade e precisão (e sem olhar, claro). É aí que a altura o favorece, ao menos, podendo passar por cima da montueira de braços que está entre ele e seu alvo. Ao todo, ele jogou 23 minutos e não tentou nenhum arremesso de quadra, mas não se esquivou de infiltrações e descolou seis lances livres. Deu três assistências, cometeu dois turnovers e conseguiu três roubos de bola. Mas esses números não dizem absolutamente nada.

De novo: ele nasceu em 1999 e, quanto mais jogar em alto nível, mais esses instintos vão se aguçar. Tem um potencial tremendo como distribuidor e no corte para a cesta. O que ele precisa melhorar bastante é o arremesso, que não é pouco, convenhamos. A cada final de treino do Real, quando enfim a comissão técnica liberava o acesso de estranhos, era possível ver o garoto chutando, chutando, chutando, e está claro que sua mecânica ainda é inconsistente demais e que vai levar tempo para se ajustar para situações de jogo. Mas, bem, tempo é o que não lhe falta. Não topou conversar ao final do jogo alegando que não pode dar entrevistas. Levando em conta a pouca idade a a rigidez protocolar de seu clube, não duvido, mesmo.

*    *    *

Sobre o Bauru, o time tem agora alguns dias para recarregar a bateria e se preparar, já no sábado, embarcar rumo a Nova York.

Rafael Hettsheimeir x Real Madrid

Rafael Hettsheimeir tinha uma oferta com o Estudiantes na mesa. Ao que tudo indica, o pivô estava apalavrado com o clube madrilenho (coincidência), segundo o que se falava pela Europa e o que noticiou passo a passo o site Encestando. O técnico Diego Ocampo, que fez ótimo trabalho com Augusto Lima e Raulzinho na última temporada pelo Murcia, falou sobre o assunto: “Falta um jogador para nós contratarmos, e quase todo mundo dá por certo que temos Hettsheimeir, mas eu, enquanto no vir por aqui, não acredito nisso. Mas, sim, queremos esse último jogador, e que venha nesta semana”.

Segundo a diretoria do Bauru, o pivô só não teria multa rescisória no caso de alguma proposta da NBA. Para a Europa, algo deveria ser pago, seja pelo clube interessado ou pelo próprio jogador. Eles não o liberariam e não o liberaram, pelo menos não antes dos amistosos contra New York Knicks e Washington Wizards. Mas a intenção, parece, é segurá-lo por toda a temporada, mesmo. Seria muito difícil para o vice-campeão mundial repor um jogador deste nível, especialmente com o dólar nas alturas. Do lado espanhol, mesmo, o próprio Estudiantes não parece disposto a aguardar mais duas semanas. Ocampo perderia um tempo precioso para integrar essa nova peça ao seu grupo. Esta porte parece ter se fechado. Agora é preciso ver se alguém nos Estados Unidos se anima com o rendimento do pivô.

*    *   *
Existe também o caso de Rafael Mineiro. Está, no momento, sem clube, aguardando qual o destino do elenco do Limeira. Existe, de fato, a possibilidade de eles jogarem a próxima temporada com a camisa do Vasco, com as negociações em andamento. Não é um trâmite fácil, porém, e a própria liga nacional, presidida pelo patrono limeirense, precisaria ou deveria se certificar de que a parceria seria realmente viável, que tenha garantias financeiras e fôlego para chegar até o fim do campeonato. Afinal, o clube de São Januário não é hoje, infelizmente, uma instituição com de bases tão sólidas assim, ainda mais correndo o risco de novo rebaixamento (e de inerente redução de orçamento para 2016). E não se trata de um elenco barato.

>> Bauru tentou, mas o Real segue seu em seu ciclo vitorioso
>> Não importa o desfecho. O Bauru sempre vai ter a 1a. vitória
>> De frente com Andres Nocioni: muito além do coração
>> Qual Real Madrid que veio para a Copa Intercontinental?
>> Bauru admitiu que não fez preparação ideal para o torneio
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Mineiro vai com a rapaziada para os Estados Unidos, ocupando a vaga de Murillo na rotação interior. Contra o Real, mesmo desentrosado, mostrou o quão valioso pode ser para qualquer equipe devido aos seus atributos defensivos. Para os que questionam o pivô, favor atentar para o fato de que o basquete é jogado em duas tabelas. Uma você ataca, a outra você protege, e, nessa função, vai ser difícil encontrar um marcador tão hábil quanto Rafael. Sua movimentação lateral é incrível e se traduz até mesmo contra gente como Scola, Ayón, Nocioni, Reyes e Thompkins, como pudemos ver nas últimas semanas. Tem tanta agilidade que o técnico Dedé, mesmo, reitera que, numa situação de corta-luz, até gosta que o espigão fique de frente com um armador. Não é necessária ajuda nenhuma na contenção. No ataque, ele também pode render mais, e aí que a chegada de última hora atrapalha. Mineiro já se aventurou na linha de três pontos, como gostam de fazer Jefferson e seu xará, mas rende muito mais na cabeça do garrafão com os disparos de meia distância e a ameaça constante de que, com um drible, já pode alcançar o aro para finalizar com uma cravada.


Real conquista o quinto troféu seguido. Por mais que o Bauru tenha tentado
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Giancarlo Giampietro

Não. A torcida do Barcelona realmente já não aguenta mais esta cena

Não. A torcida do Barcelona realmente já não aguenta mais esta cena

É um tópico um tanto traumático para o basquete brasileiro. O arremesso de três. Oscar Schmidt, que estava como torcedor na primeira partida, matava as suas. Marcel foi outro. Guerrinha também costumava guardar as suas, ainda que com um volume menor quando acompanhado de dupla tão estrelada. Esses caras conseguiram um título histórico em 1987, reeeeeeeeeeealmente histórico. Mas não formaram a geração brasileira mais vitoriosa que já existiu, algo que cabe às lendas dos anos 60. Durante sua história, há uma partida contra a Espanha aqui, outra com a Austrália ali que entram no campo do “se”. Caso tivessem passado por essas e outras, poderiam ter chegado à disputa por medalhas olímpicas e mundiais, e quem sabe…

Mas esse “se” em particular não entra em jogo. O esporte pode ser inclemente e rígido ao extremo, com base no resultado. O próprio Real Madrid que veio a São Paulo para ganhar o quinto troféu seguido, com uma vitória por 91 a 79,  é prova disso. A versão de 2013-14  da equipe foi um espetáculo. Praticava um basquete avassalador, mas não ganhou a Euroliga, não ganhou nada do que precisava. Tratando-se de Real, foi um fracasso. Mas, voltando, aqui não estamos falando apenas sobre o clube espanhol, mas, sim, sobre a final da Copa Intercontinental deste domingo e também sobre o time que derrotou, o Bauru, que traz o chute de três pontos à tona de uma forma com que muitos jamais poderiam nem mesmo sonhar. Antes de falar sobre o jogo em si, me permitam retomar o raciocínio cronológico.

Marcel já havia parado há tempos. Oscar ainda se arrastava pela quadra para encestar sem parar, vivenciando e atravessando uma troca de gerações. Enquanto Rogério Klafke e outros alas mais velhos já eram pronta e rapidamente relegados ao segundo escalão, Marcelinho Machado emergia para ser demonizado por seguir essa tradição do chuta-chuta, com a seleção tendo ainda menos sucesso em quadra. Mesmo que o ala carioca fosse um paradoxo ambulante. Ele claramente tinha os fundamentos e a visão de jogo para equilibrar as coisas, algo que apresentou na Copa América de 2005, por exemplo, e em muitos outros jogos. A praxe, porém, era que se perdesse a sanha do tiro exterior. Leandrinho também foi outro que, surgindo à esteira, nunca aliviou. O curioso é que esses dois chutadores, no plano de clubes e separadamente, tiveram belas carreiras e, em geral, cada um na sua, contra diferentes graus de exigência defensiva, foram bem-sucedidos. Não obstante, o arremesso do perímetro virou o grande vilão, o grande símbolo da derrocada brasileira.

Quando surge um Bauru, arremessando quase sempre mais do perímetro externo do que do interno, a recepção não poderia ser bombástica, com a licença para o trocadilho. À distância, fico imaginando os scouts e analistas mais arrojados da NBA conferindo as tabelas estatísticas produzidas pelo time do interior paulista.

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Vocês sabem que, hoje, há uma forte corrente na liga americana, baseada cegamente, ou não, em números que  prega o chute de longa distância como um dos caminhos a ser seguido. Eles vão te apresentar uma série de dados para dizer que esta bola precisa ser parte integral de qualquer sistema ofensivo que pense em ficar no lado azul da eficiência, e o Golden State Warriors desponta como um queridinho e como forte argumento dessa linha. Na final do Oeste, eles haviam batido outro dos times ‘nerds’, o Houston Rockets. Na decisão, o Cleveland Cavaliers também não poderia ser considerado uma equipe tímida nesse sentido.

Esse evangelho estatístico não prega tão somente a bola de três como salvação. Porque isso não existe, mesmo. O que existem são arremessos bem selecionados e equilibrados. Com o os lances livres, ué, que, na frieza de seus números, aparecem como fator tão relevante quanto. São, oras, os arremessos com maior índice de conversão. E não só isso: o sucesso também tem a ver com a sua destreza na hora de evitar essas mesmas bolas em sua defesa, no seu poderio reboteiro e mais. Mesmo para os fãs dos números o jogo não é unidimensional.

Aí aparece esse clube brasileiro chutando sem parar de fora, assustando a concorrência. Como aconteceu na primeira partida em São Paulo, na qual seus atletas tentaram 33 bolas de longa distância contra 32 de dois pontos, ao passo que acabaram batendo apenas 14 lances livres. Ainda assim, obtiveram uma vitória especial, para não se esquecer jamais.

De qualquer forma, o desafio estava na posto em quadra. De um lado, Andrés Nocioni admitia que não estava nada acostumado a enfrentar um time que abrisse seus dois grandalhões no perímetro, confiando no bombardeio. Do outro lado, o Bauru sabia que, para a segunda partida da final, esse tipo de jogada seria contestado e que deveriam encontrar outras formas de pontuar. Pois o Real conseguiu contestar, de alguma forma, no perímetro. E os bauruenses também olharam para outros setores para tentar contragolpear. Ainda assim, a matemática foi mais favorável aos merengues.

Vamos esmiuçá-la: neste domingo, Bauru ainda acertou 36% de seus chutes de fora. Não é uma marca de todo ruim, mas vale como algo bem caído perto dos 49% do Jogo 1. Aproveitamento à parte, acho que o que Real mais deve ter comemorado taticamente foi o fato de terem conseguido reduzir também o ímpeto de seu adversário, pelo menos no ponto em que foi mais ferido. De 9-17, Jefferson William e Rafael Hettsheimeir foram limitados a 1/6 no Jogo 2. Arremessaram 11 bolas a menos de trás da linha. Quer dizer, parece que a estratégia de Pablo Laso deu certo, que foi a de fazer as dobras no pick-and-pop e deixar sempre um homem grudado no pivô. Nem que, para isso, tivessem de ver Ricardo Fischer marcar 26 pontos, com 7-12 de quadra, além das seis assistências para apenas um turnover.

O armador brasileiro, que sai de cabeça erguida desse confronto e com a cotação internacional certamente elevada, teve espaços para atacar o garrafão, ao se ver diante de Gustavo Ayón e outros pivôs madrilenhos. Atacou o aro com sagacidade e fez o máximo que podia. O problema é que o Real estava disposto e contente em viver com isso, desde que a artilharia ao seu redor fosse controlada. E foi o que aconteceu.

Fischer jogou de igual para igual com os Sergios

Ofensivamente, Fischer jogou de igual para igual com os Sergios

Mas isso não quer dizer que Bauru aceitou essa armadilha e chutou sem parar de fora, a despeito da contestação. No geral, foram apenas cinco arremessos a menos nessa distância do que na sexta-feira. Mas alguns deles vieram no desespero dos minutos finais, quando precisavam diminuir a diferença dos campeões europeus para um ponto, num placar esdrúxulo que renderia a prorrogação. Fischer, aliás, foi o que mais tentou, com 5-8. Por outro lado, a equipe campeã americana tentou o dobro de lances livres dessa vez (28 contra 14). Um desconto precisa ser dado aqui devido ao excesso de faltas apitado contra os madrilenhos, que os deixou malucos. Não estou aqui acusando roubo ou falhas da arbitragem, mas apenas registrando que alguns dos lances livres batidos pelos bauruenses não foram resultado de ataques à cesta. Mas eles aconteceram. Fischer, mesmo, bateu oito lances livres e converteu sete. Hettsheimeir foi 12 vezes para a linha e acertou dez.

Se formos pegar, na real, os números dos três disparos básicos numa folha estatística, vamos ver que Bauru e Real tiveram volume ofensivo bem próximo: dois pontos (20-36 tentativas do Real x 14-29 Bauru), três pontos (10-26 x 10-29) e lances livres (21-29 x 21-28). , com 13 turnovers para os espanhóis e 11 para os brasileiros.

O que aconteceu foi que, na hora de buscar o jogo interno, o time de Guerrinha falhou. Do alto de seu 1,90m de estatura, Alex Garcia foi afastado da zona pintada quando viu Jonas Maciulis e até mesmo Andrés Nocioni dedicados à sua marcação. Seu jogo de costas para a cesta não funcionaria desta forma. Por isso, passou a atacar de frente, e matou 5-10 para somar 14 pontos. Taticamente, porém, seu papel foi reduzido. As investidas, então, foram mais tradicionais, com Hettsheimeir, e o pivô, que tem proposta do Estudiantes, da Espanha, falhou muito nesse fundamento. Em suas nove tentativas para dois pontos, converteu apenas duas, apresentando muita dificuldade em conversões próximas à cesta. Algumas notas a respeito: por favor, não vela o argumento canalha de que talvez ele esteja praticando tanto o chute de fora que tenha esquecido como fazer uma bandeja — o chute de média distância sempre foi sua principal arma; Rafael nunca teve o par de mãos ou o jogo de pés mais habilidosas em quadra… Para esse tipo de situação, lhe falta agilidade e munheca, precisando, por isso, de muito tempo e espaço para armar o gancho e fazê-lo funcionar; quando contestado, tende a perder o controle da bola ou subir desequilibrado e a falhar como aconteceu neste domingo, pois, além do mais, estava enfrentando uma linha de frente respeito. Enfim: o pivô brasileiro tem hoje uma grande arma, valiosa em seu repertório, mas apresenta buracos em seu jogo que impõem um limite ao seu potencial.

Ayón: 15 rebotes no jogo do título, oito ofensivos. Soberano na zona pintada

Ayón: 15 rebotes no jogo do título, oito ofensivos. Soberano na zona pintada

Outro buraco é o rebote. Em dois jogos e quase 72 minutos, ele apanhou apenas nove. Sozinho e contando apenas a tábua ofensiva, Ayón conseguiu oito no segundo confronto (no geral, foram 15 neste domingo e 17 em 56 minutos para ele). E isso não se explica por sua predileção ao chute de três, gente. Ele pode estar afastado da tabela no ataque, mas não é o que acontece na defesa. De todo modo, a esmagadora vantagem de 46 rebotes a 25 imposta pelo Real no jogo do título não cai apenas em seus ombros. Jefferson William (5 rebotes em 58 minutos) ainda está com a mobilidade muito reduzida). Rafael Mineiro (4 em 28) também pode ser mais atento no fundamento. Para Guerrinha, registre-se, a surra nos rebotes aconteceu devido à necessidade de o Bauru correr atrás do resultado desde o início. Seguindo o seu raciocínio, tiveram de atacar mais a bola e assumir riscos. Os riscos geraram oportunidades para o rival. O Real soube aproveitá-los e, mesmo quando não convertia na primeira tentativa, apanhava o rebote ofensivo (foram 21!) e davam sequência ao ataque, com 15 pontos de segunda chance, contra apenas dois do adversário. “Eram situações de desequilíbrio, e eles tinham reposta para tudo que tentávamos. Tínhamos de socorrer em uma outra situação, e eles se aproveitaram muitas vezes. Se for ver, cada jogador de destacou em um determinado momento”, afirmou o treinador brasileiro.

O curioso é que, ainda assim, o jogo foi parelho por muito tempo. A quatro minutos do terceiro período, a vantagem espanhola era de apenas 52 a 51. Depois, ficariam empatados em 53 a 53, por mais que Jaycee Carroll, com mais ritmo, acertasse (22 pontos em 31 minutos 7-14). Muito fora de uma zona de conforto, os madridistas juravam que o trio de arbitragem trabalhava contra, chiando uma barbaridade, a ponto de Sergio Rodríguez ser excluído e de Laso ficar em quadra apenas por vista grossa, de tanto que gesticulava a cada marcação que julgava equivocada. O Real não imaginava passar pelo que passou, gente — e isso não tinha a ver com soberba, mas com uma crença de que levariam um título para o qual se mostraram realmente motivados. Com seis minutos para o fim da partida, o placar ainda apontava 71 x 66.

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Nos minutos finais, porém, Sergio Lllull (21 pontos, 6 assistências, 5 rebotes, 7-17 nos arremessos e o prêmio de MVP) converteu algumas grandes jogadas, acompanhado pelo reforço Trey Thompkins (17 pontos, 7-8, em 21 minutos)  e assessorado pelo adolescente Luka Doncic, que sobrou com um rojão na mão após a despedida de Rodríguez e segurou a bronca sem dar a mínima, como se já fosse campeão do mundo e duas vezes medalhista de prata que nem Felipe Reyes. Aos 16 anos? Impressionante. Quando os chutadores erravam, lá estava Ayón espanando geral no garrafão para dominar os rebotes. Como na sequência que aconteceu basicamente entre 4 e 3 minutos para o fim, quando apanhou três em sequência para, basicamente, garantir o título — era quando a vantagem já estava na casa de dois dígitos, e ao Real valia mais gastar o cronômetro do que uma cesta rápida.

Para os jogadores de Bauru, faltou gás no final. A rotação merengue, mesmo sem Rudy Fernández, Jeffery Taylor e, depois, Rodríguez, teria feito a diferença. Guerrinha disse que não conseguia tirar Fischer por muito tempo de quadra (fora 35min38s para o armador titular). No final, correndo atrás do placar,e estavam todos desgastados.

Outro ponto interessante de contraponto foi a opinião de cada um dos técnicos sobre o que teria feito a diferença, e uma, na real, não exclui a outra. Para Guerrinha, o que complicou tudo foi a sequência de 12-0 para os europeus em coisa de cinco minutos, que teriam ditado o restante do jogo. Para Laso, porém, o que pesou, mesmo, foram os minutos finais, para os quais estava preparado. “Entendia que eram 80 minutos de jogo. Tivemos nossos altos e baixos durante esse período, mas, para o quarto decisivo, estávamos bem, crescendo”, afirmou. O brasileiro, porém, se dá ao direito de questionar, citando a qualidade do elenco oponente: “Fico pensando às vezes como seria o Real Madrid com a nossa estrutura, se teriam feito um jogo parelho”, afirmou Guerrinha, na coletiva. “São perguntas que temos de fazer.”

Mas, bem, este é outro “se” que não entra em jogo. Fato é que, como disse Fischer, os 12 pontos finais não contam a história do jogo. Caso Hettsheimeir tivesse mais felicidade em suas incursões debaixo da cesta, caso Llull errasse um outro arremesso pressionado, as coisas poderiam ter sido diferentes. Quiçá. Pegando emprestada uma expressão típica dos espanhóis: só não me parece que, nessa vitória merengue e derrota bauruense, seja justo falar apenas sobre as bolas de três pontos.


De frente com Andrés Nocioni: muita cultura além do coração
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Giancarlo Giampietro

Andrés Nocioni, Real Madrid x Bauru

Uma viso aos navegantes: o Real Madrid está em São Paulo desde quarta-feira, mas não anda muito aberto para conversar com a gente. Por enquanto, basicamente há três porta-vozes que se repetem: o técnico Pablo Laso, o armador Sergio Llull e Andrés Nocioni, nosso velho conhecido. Um ou outro vai falar aqui e ali, e neste sábado os novatos merengues Trey Thompkins e Willy Hernangómez estiveram disponíveis para um rápido bate-papo. Mais nada. Num depoimento pessoal, depois de ter transmitido com o Sports+ duas temporadas seguidas nas quais eles tinham a melhor equipe, posso dizer que esperava mais contato, mais oportunidades de discutir, trocar ideias.  Mas isso não quer dizer que sejam necessariamente esnobes, ou coisa mais grave.  É de se supor que este protocolo foi desenvolvido com o passar das últimas temporadas de retomada do clube no basquete europeu, honrando o peso da camisa, ou do escudo, como eles preferem dizer. É o Real Madrid, de nove títulos continentais na modalidade, e outros dez no futebol. Enfim.

Posto isso, quando eles falam, geralmente dão depoimentos ricos em detalhes que acabam compensando  o silêncio. Peguem Nocioni, o Chapu, por exemplo. Após a derrota de sexta-feira, foi  o único a parar na zona mista para atender a mídia que chegou lá um pouco mais cedo, topando falar com o Bruno Laurence, da TV Globo, com o resto na carona. Mais tarde, Llull e Laso se apresentariam para a coletiva. Antes do treino deste sábado, mais uma janela foi aberta. E quem estava lá de novo? Novamente o campeão olímpico argentino.

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O bom é que, amigos, a conversa rende, e sem cotoveladas, xingamentos ou berros irados. Para uma entrevista coletiva com uns cinco, seis repórteres, com os quais ele provavelmente só estava familiarizado com o sujeito da TV Real Madrid, o veterano de 35 anos falou bastante. Você pode ter certeza que o assessor de imprensa gigantesco do clube espanhol estava imaginando algo como cinco perguntinhas rápidas, respostas protocolares e um “hasta mañana”. Pois a sessão durou oito minutos. Para quem não está muito acostumado com esse processo, pode parecer pouco, mas se fosse transcrever tudo na íntegra aqui, pode ter certeza que seria mais um calhamaço típico do blog.

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Houve, por exemplo, uma exigente pergunta de um hermano sobre se Chapu imaginava, 19 anos depois  da Copa Intercontinental de 1996, estar de volta ao torneio. Por experiência própria, posso dizer que é o tipo de questionamento que poderia ser facilmente desconversado por alguém com má vontade, preguiça ou que não tenha tão interesse assim pela história, mesmo pela história por ele vivida. Mas, não. Do torneio realizado entre Olimpia Venado Tuerto, de sua Rosario, e Panathinaikos, Nocioni se lembrou de muita coisa. De como, naquela ocasião, era o contrário: ele estava ao lado do time mais fraco, sendo que agora estão com os “chamados, a priori” favoritos. Falou de como venceram o primeiro jogo em casa, “incrível”, com Alejandro Montecchia se destacando “como sempre”, que fizeram um segundo jogo equilibrado em Atenas, mas perderam, para, depois, serem atropelados na terceira partida. As respostas se prolongavam, sem o menor problema.

É engraçado: foi minha primeira entrevista com Nocioni ao vivo. O Chapu não estava em nenhum d0s torneios americanos que havia ido cobrir, e não foram poucos. Walter Herrmann, Federico Kammerichs, Marcos Mata, Leo Gutiérrez, Carlos Delfino e outros ‘ches’ estavam fazendo suas vezes. Fiquei impressionado pela combinação de lucidez, cultura e profissionalismo que usava para se expressar. Convenhamos: para quem o vê se matando e arrebentando (física e metaforicamente) a concorrência em quadra, não era a imagem que se supunha. Ou era?

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Aí me cai a ficha: para ser o vencedor que Nocioni se tornou, não basta força de vontade (desmedida, no seu caso) ou talento (muuuuuuuuito subestimado). Tem de saber o que fazer com essas ferramentas. E isso não acontece ao acaso. Quer dizer, há gente tão talentosa que acaba superando qualquer barreira com facilidade. No caso desse argentino ouro em Atenas 2004, bronze em Pequim 2008, semifinalista em Londres 2012 e classificado novamente para o Rio 2016, sem contar os quatro títulos recentes pelo Real Madrid em 2014-2015, e tantos outros do passado, pesa também a sua cultura basquetebolística. Nocioni não é só coração, mas também um  cérebro.

O que me ocorreu também foi um velho perfil do ex-volante Chicão, do São Paulo e da seleção brasileira, de autoria de José Maria de Aquino, para Placar. Se procurar com paciência no “Google Books”, deve dar para encontrar. Mas foi desses textos que fez a minha cabeça e valeu talvez mais do que um ano inteiro de faculdade. Nele, o repórter relata a ansiedade (pretensa, claro) de se encontrar com o brucutu meio-campista, desde a chegada ao prédio em que morava, à espera por sua saída no vestiário. Aos poucos, Aquino vai desconstruindo o mito de violência e rudeza em torno do jogador. No final,  está claro que se tratava de alguém com o coração enorme e também bastante pragmático. A reportagem, porém, terminava com uma espécie de aviso: “Mas que se diga que eu nunca joguei contra ele”. Pois é. Evoco essa tirada sensacional para dizer que nunca disputei um rebote com Chapu. Fiquemos assim.

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11-Andrade-101-369x525Bom, nesses oito minutos de perguntas e respostas, duas vieram desta fonte aqui. A primeira foi sobre o desafio de se marcar um time que pode jogar com seus dois pivôs abertos, com Jefferson William e Rafael Hettsheimeir — e algo que Rafael Mineiro também poderia fazer, se estivesse mais entrosado. O strecht four, gente, é uma das posições da moda na NBA, mas é algo que foi importado da Europa, com enorme influência de Dirk Nowitzki. O movimento, porém, suplanta o craque alemão. Jorge Garbajosa, Dejan Tomasevic, Kostas Tsartsaris são alguns dos nomes de grandalhões que faziam muito bem o jogo de high-low que me vêm à cabeça, mas vai ter muito mais por aí. Praticamente toda seleção europeia tem um desses hoje (pensem em Nemanja Bjelica, Nikola Mirotic, Boris Diaw, Andrea Bargnani, Ersan Ilyasova etc.). Com um adendo: o fato de eles abrirem para o chute não quer dizer que tenham obrigatoriamente de limitar sua abordagem ofensiva à zona de longa distância.

O Bauru toma emprestada essa ideia e a leva ao extremo quando posiciona seus dois pivôs titulares no perímetro. O legendário argentino disse que é muito difícil lidar com algo assim. “É algo totalmente distinto. Sinceramente, não temos muita experiência com equipes assim na Europa. Não há nenhuma equipe que jogue desta maneira”, afirmou. “Temos de fazer alguns ajustes, pois ontem tínhamos a partida bastante controlada até que eles começaram a abrir os dois grandalhões para o tiro exterior, e aí o jogo saiu das nossas mãos. Rafa esteve em um nível altíssimo, com uma porcentagem incrível, mas que sabemos que não é nada de outro mundo, que tem feito isso na liga brasileira todos os dias. Vamos ter que ajustar um pouquinho a defesa, já que não podem chegar ao triunfo.”

Interessante, não? Quando guerrinha abre seus dois homens altos, parece estar infringindo uma série de regras clássicas do esporte. Pode beirar o absurdo, mesmo. Mas, se dá certo, se rende resultados, como você vai contestar isso? Naturalmente, não podem depender só desse fator que, de primeira, surpreende. O Real vai se planejar para conter esse tipo de armação, e o Bauru já tem de estar preparado para isso e buscar alternativas. Para o restante da concorrência do NBB, creio que vale ficar de olho no que Laso vai planejar e tentar executar.

*    *   *

A segunda questão era uma escapada do tema, mas que não deveria falar. Sobre como se sentia depois de mais uma participação olímpica, e o quão especial essa última Copa América foi ao lado de Scola, seu velho parceiro. Chapu foi além: “Foi um torneio incrível no qual conseguimos nossa classificação olímpica para manter um projeto, uma ideia de seleção argentina durante muitos anos. É nossa quarta edição de Jogos Olímpicos. Sinceramente me sinto muito orgulhoso de todo esse processo. Fomos com uma equipe jovem, de inexperientes em sua maioria. Mas conseguimos uma classificação incrível. Obviamente que tivemos um sabor amargo ao não conseguir o título no final, mas mas me parece que perdemos para um adversário grande que foi a Venezuela, terminando um torneio histórico para eles. Para nós, terminou sendo um torneio importantíssimo, porém, para manter a equipe no maior nível mundial.”


O Bauru sempre vai ter essa noite de sexta na qual derrotou o Real
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Giancarlo Giampietro

Independentemente do que aconteça no domingo, Bauru ao menos já vai ter a noite de sexta-feira para a sua história. Não é sempre que você pode enfrentar um Real Madrid, nove vezes campeão da Europa. Mais rara ainda é a chance de comemorar uma vitória para cima deles, como aconteceu no Ginásio do Ibirapuera, com jogo estendido até a última posse de bola e placar de 91 a 90.

Fischer matou o jogo com uma bandeja simples

Fischer matou o jogo com uma bandeja simples

Com uma defesa muito firme no final do segundo período e um ataque arrasador na abertura do terceiro, o Real chegou a abrir 17 pontos de vantagem quando haviam corrido precisamente 2min01s da segunda etapa (47 a 32). A partir daí, porém, o time baixou a guarda, conscientemente ou não, e, quando seus atletas se deram conta, a diferença já havia despencado. Ao final do quarto, o marcador apontava 62 a 59.  O time espanhol ainda chegou a abrir mais sete na última parcial, mas, àquela altura, a dinâmica do duelo era outra. O Bauru acreditava firmemente que era possível encará-los, e o público presente entrou na pilha, se inflamando.

Estava novamente em prática o ataque que havia arrebentado com a concorrência brasileira e continental há questão de meses. Um ataque bem diferente, diga-se, daquele que alcançou a final do NBB e teve rendimento sôfrego contra o Flamengo. Você pode não aprovar o volume de chutes de longa distância (33 de 65 no geral). Algumas delas foram forçadas, especialmente no primeiro quarto, quando o time estava nervoso com o grande palco, as luzes e os antagonistas. No segundo tempo, porém, não dá para negar que a bola girou no perímetro, passou em mais mãos, e foi aí que começou a chover arremessos de três pontos, com mais intensidade até do que os refrescantes e salvadores pingos do lado de fora, depois de uma semana de calor infernal em São Paulo.

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Entre os atiradores estavam novamente os pivôs, Rafael Hettsheimeir e Jefferson William, combinando para 9-17, com 6-9 para o ex-madrilenho, numa verdadeira aberração estatística, até mesmo para o Golden State Warriors, o Houston Rockets e qualquer outra equipe da NBA ou da Europa que busque cada vez mais o tiro exterior como um caminho “eficiente”. O fator que causa espanto é que seus grandalhões tenham um aproveitamento deste nível e com volume elevado. “Se for pegar as estatísticas, vai ver que fomos superiores em praticamente todos os fundamentos. Só perdemos nas cestas de três, e, sim, o acerto dos pivôs fez a diferença”, afirmou o técnico Pablo Laso — no geral, ambas as equipes converteram 48% de trás da linha, mas os brasileiros converteram seis a mais. Ele só esqueceu de mencionar as assistências (19 a 13, que também comprovam a maior fluidez do segundo tempo). “Alguns dos arremessos estavam até bem defendidos, mas eles fizeram”, completou o armador Sergio Llull, sentado ao seu lado. Sim, esse time do Bauru tem disso: quando estão com confiança, até mesmo alguns chutes que parecem destinados o ar — e não à cesta — caem. Em alguns momentos, Hettsheimeir não parecia nem mesmo ter o controle da bola e já efetua o disparo.

“Isso é o nosso forte. O Bauru montou um time com grandes chutadores e é algo que ajuda muito. Abre a quadra. Tanto que, no último ataque, o Guerrinha montou uma jogada como todos abertos, e o Fischer, nosso menor jogador, ficou praticamente sozinho para fazer a cesta. É algo que ajuda bastante”, afirmou Jefferson.

Alex x Llull. No poste baixo, sem que ninguém pudesse pará-lo

Alex x Llull. No poste baixo, sem que ninguém pudesse pará-lo

Há algo de heterodoxo no basquete bauruense que é interessante e que, quando funciona, cria uma bagunça tática, mesmo, e que o técnico Guerrinha registrou em sua coletiva, na sequência dos espanhóis. Quando o time está a pleno favor, as posições se invertem: se os pivôs estão no perímetro, o pequeno e brabo Alex está lá perto da cesta, oprimindo adversários de sua altura, mas que não têm como segurá-lo num jogo de pancada e habilidade de costas para a cesta. Há também a ameaça das infiltrações de Ricardo Fischer e, com a chegada de Leo Meindl, o time ganha outra opção interessante nessas trocas, uma vez que o jovem ala tem presença muito mais física que a de Robert Day.

“Você sabendo usar a bola dos três ela é fantástica. Ela nos colocou na vitória. É a nossa característica, mesmo, de arremesso, mas também usamos o Alex no poste baixo, que foi onde ele definiu o jogo nos minutos finais, sempre com a ameaça do arremesso de fora. A gente pode trocar as funções, isso faz parte do jogador moderno”, afirmou o técnico Guerrinha.

Rafael numa de suas incursões internas para fazer a cesta: no final das contas, teve aproveitamento inferior no garrafão ao dos tiros de fora

Rafael numa de suas incursões internas para fazer a cesta: no final das contas, teve aproveitamento inferior no garrafão ao dos tiros de fora

Bem, os chutes de três podem ter pavimentado a reação, mas foi uma bandeja, debaixo do aro, que garantiu o triunfo, não? Saibam que foi uma jogada quase que improvisada. “Nós fizemos um movimento que nem nossos jogadores conseguiam direito, porque não deu tempo de treinar. Mas desenhamos. Já tinha conversado algo com o Ricardo. O Alex falou para não perdemos o que foi passado, que era para cumprir à risca. E foi bem feito, terminando numa bandeja”, disse Guerrinha. Fischer acrescenta: “A gente tinha uma outra jogada. Ele desenhou para acabar em mim a bola, ou, consequentemente, no Alex, e felizmente caiu para mim e consegui sair livre e acertar”.

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Saiu aí a vitória, com uma simples e tranquila (na medida possível) finalização do armador, que teve uma grande atuação. Fischer, porém, era o primeiro a dizer nas entrevistas que, por mais especial que tenha sido a vitória, que tenha uma sensação de façanha, eles não poderiam se empolgar muito sabendo que, no domingo, às 12h, tem mais. E tem, mesmo. Da parte do Real, é algo que até mesmo os bauruenses esperam: eles virão mais preparados, tendo visto agora, de perto, o poderio do chute exterior de seu adversário. Não só isso, mas muitos outros detalhes. O sábado será um dia de muito estudo, para que depois os atletas sejam municiados de muita informação. Então aí vai precisar ver, mesmo, o quão eficiente os arremessos de Bauru poderão ser, com a oposição mais concentrada neles. “No primeiro tempo, eles não conseguiram”, disse o técnico merengue. “Não fomos surpreendidos. Conhecíamos bem esse estilo, e foi acerto deles. Não é que tenhamos jogado contra ninguém. É o campeão das Américas.”

Para segurar Alex, Laso também deve muito provavelmente usar mais o massudo Maciulis. Coisas do tipo, os ajustes por uma taça. Para ficar com ela, o Bauru precisa ganhar novamente, já que não existe empate no basquete e uma derrota por um pontinho também forçaria a prorrogação. O título, dãr, é o que vale mais. De qualquer forma, pelo menos por 40 minutos, os brasileiros se sentiram confiantes e otimistas de que era possível. “Já foi uma noite de sonho. Ganhar do Real Madrid por meio ponto já é isso. Sensacional, mas agora acabou a euforia”, afirmou Fischer.

*   *   *

Algumas notas sobre os bauruenses:

Ricardo Fischer fez uma partida excepcional ofensivamente, uma atuação que certamente eleva sua cotação no mercado internacional. Em conversa por telefone na semana passada, o armador já havia dito que, a despeito do final melancólico que teve a seleção, sua primeira experiência para valer com a equipe fez bem para sua cabeça. Voltou para casa com a sensação de que poderia competir com alguns dos melhores do mundo na posição, ainda que ciente de que há muito o que precisa melhorar, especialmente do ponto de vista físico e na defesa. Nesta sexta, foi batido facilmente em arranques de Lllull e Rodríguez, mas a verdade é que os espanhóis costumam ter sucesso contra a maioria de seus marcadores, mesmo. Do outro lado, porém, compensou com um controle de jogo que comprova o quão rapidamente vem amadurecendo. Depois de um início de jogo atabalhoado, voltou do banco de reservas mais sereno e assumiu as rédeas de sua equipe. De 12 turnovers cometidos no primeiro tempo, Bauru conseguiu limitar as besteiras para apenas três no segundo, e muito disso passou pela segurança de jogo de seu armador, que terminou com 12 pontos, 8 assistências e apenas dois desperdícios de posse de bola em 31 minutos, convertendo 4 de 10 arremessos.

Alex Garcia teve mais uma de suas partidas em que entrega um pouco de tudo ao time. Foram diversas as situações, gente, em que ele aparecia como a última barreira defensiva do time brasileiro, na cobertura do garrafão, pronto para desarmar tanques como Felipe Reyes e Gustavo Ayón. Fazendo falta, ou não, dá para se dizer que levou a melhor na grande maioria desses embates. Isso tem a ver com o seu senso de posicionamento, a força e a capacidade atlética ainda acima da média. Some-se a isso as oito assistências e os sete rebotes, e temos um perfeito “glue guy”, o homem da liga. Mas não podemos nos esquecer dos seus 12 pontos, sendo oito deles em arremessos nos arredores da cesta, com a importância tática já acima relatada. Se for para reclamar de algo, apenas lista-se os três lances livres que desperdiçou em 29 minutos. É impressão minha, ou, aos 35 anos, Alex está jogando o melhor basquete de sua carreira?

Uma das coisas mais legais da noite no Ibirapuera foi poder olhar para um lado, virar para o outro e se deparar com lendas do basquete brasileiro como Oscar, Paula, Hortência, Helen, ou contemporâneos como Larry (barrado por Mogi, mas presente na festa e aplaudidíssimo pela torcida de Bauru), Shamell, Giovannoni e tantos outros. Sobre o público, não peguei o número oficial, mas imagino que tenha sido algo em torno de 4 a 5 mil. Bem aquém da capacidade do ginásio. Ainda assim, era uma torcida engajada, que conhecia do jogo e soube empurrar Bauru no segundo tempo

Uma das coisas mais legais da noite no Ibirapuera foi poder olhar para um lado, virar para o outro e se deparar com lendas do basquete brasileiro como Oscar, Paula, Hortência, Helen, ou contemporâneos como Larry (barrado por Mogi, mas presente na festa e aplaudidíssimo pela torcida de Bauru), Shamell, Giovannoni e tantos outros. Sobre o público, não peguei o número oficial, mas imagino que tenha sido algo em torno de 4 a 5 mil. Bem aquém da capacidade do ginásio. Ainda assim, era uma torcida engajada, que conhecia do jogo e soube empurrar Bauru no segundo tempo

Gui Deodato: podem falar o que for do entrosamento de verões passados que tem com esse grupo, mas o jovem ala foi aquele que entrou na maior roubada. Na quinta-feira, estava em Rio Claro sofrendo para fechar a série contra Pinheiros, pelas quartas do Paulista. Do nada, tinha a missão de perseguir atacantes perigosos como Jaycee Carroll e Sergio Llull. Porém, compenetrado, usando sua envergadura e agilidade lateral, fez um trabalho admirável e foi importante demais na reação de sua ex-nova equipe, se é que isso faz sentido.

Leo Meindl mostrou no segundo tempo os lampejos que justificam a opinião geral de que fará parte por um tempo da seleção brasileira. Ainda há buracos em seu jogo que precisam ser trabalhados, como a visão de quadra quando driblando em direção à cesta (foram dele quatro dos 15 turnovers do time). Também tem o físico, algo que precisa ser martelado. Mas há outras características que lhe são naturais e  difíceis de se ensinar. Como o tino e o arrojo para pontuação. Meindl se comportou como se fosse a coisa mais natural do mundo anotar 15 pontos contra o Real Madrid, em apenas 22 minutos.-

Jefferson William fez apenas o seu quinto jogo desde que se recuperou de uma ruptura no tendão de Aquiles. Sair dessa, meus amigos, é uma batalha. O fato de ele poder estar em quadra para curtir uma final dessas já é uma vitória para o ala-pivô. Poder ter contribuído para o triunfo, então, nem se fala. Anotou 10 pontos em 27 minutos e, é verdade, pegou apenas três rebotes e teve problemas na defesa contra o americano Trey Thompkins, no quarto período. De todo modo, ao matar 3 de 8 arremessos de longe, se firmou como uma arma a ser respeitada pela defesa do Real, já cumprindo um papel tático muito relevante para sua equipe.

Rafael Mineiro jogou 14 minutos, anotou apenas 2 pontos, mas tem de ser elogiado. Sua capacidade defensiva é anormal. Acho que escrevi isso durante a Copa América, então corro o risco aqui da repetição: mas você não vai encontrar facilmente por aí um jogador do seu tamanho e com tanta mobilidade e seu senso de posição. O pivô foi bem na marcação de gente como Reyes, Thompkins e Gustavo Ayón, fechando espaços e portas, devido a sua movimentação lateral que é digna de um armador. Só contei uma posse de bola na qual ele foi batido, quando Thompkins conseguiu cortá-lo pela esquerda para fazer a bandeja no segundo tempo. E só. Ele é como se fosse um canivete suíço na defesa, cumprindo tarefas difíceis que nem sempre são percebidas.

Rafael Hettsheimeir começou a partida claramente pressionado. A bola estava fervendo em suas mãos. Foram diversas as vezes no primeiro tempo em que recebeu passes tranquilos e se atrapalhou na hora de subir na cesta. Quando o jogo estava no pau, nos minutos finais do quarto período, porém, lá estava o pivô batendo palmas em quadra, chamando o jogo. Uma senhora transformação, conduzida pelo volume de jogo externo. O camarada Ricardo Bulgarelli cantou esta, e com razão: deve ter sido sua melhor atuação ofensiva desde aquele embate histórico em Mar del Plata com Luis Scola, rumo à vaga olímpica. Foram 27 pontos em 38 minutos (descansou apenas por 1min48s). Pegou apenas três rebotes, por outro lado, e deve ficar atento a esse fundamento no segundo jogo. Desconfio que, para domingo, o Real possa fazer uso por mais minutos de sua formação “supersize”, procurando atacar a tábua ofensiva.


Copa Intercontinental: como está o Bauru?
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Giancarlo Giampietro

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O Real Madrid venceu tudo o que disputou na temporada passada. Para o Bauru, foi quase. Depois do Campeoanto Paulista, da Liga Sul-Americana e da Liga das Américas, que o credenciou para a Copa Intercontinental, acabaram varridos pelo Flamengo na final do NBB. Mas dá para dizer que aquele Bauru da final brasileira não era o mesmo de fevereiro, de uma sequência invicta que passou da casa de 30 partidas. (Para constar: o Fla não tinha nada com isso. Estava voando em quadra e atropelou, mesmo.)

“Acabou o gás”, afirma ao VinteUm o armador Ricardo Fischer, para, depois, fazer um comentário muito interessante: “Nosso time é muito competitivo, e a gente não acreditava no que estava acontecendo. Até ficamos nervosos com a situação, mas simplesmente não ia, não acontecia. A gente tentatava, mas não saía. Tivemos um pico muito grande na temporada por muito tempo. Nos playoffs, contra a Franca, já havia sido mais difícil. Aconteceu contra Mogi novamente, e aí veio a final. Lembro muito de, antes do Jogo 2, em Marília, ver muita vontade no vestiário. A vontade era imensa. Mas, no começo do jogo, logo errei uma bandeja. O Murilo pegou o rebote e perdeu também debaixo da cesta. Ali deu para ver.”

Bom, estamos agora no início de uma nova temporada? Vida nova, certo?

Hã… Nem tanto.

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Como o técnico Guerrinha gosta de dizer, o clube enfrentou uma série de “intercorrências” em sua preparação para um torneio tão relevante e contra um adversário tão imponente. A lista de percalços:

– Quatro de seus jogadores estiveram a serviço da seleção brasileira (Hettsheimeir só no Pan e Ricardo Fischer, Leo Meindl e o importado Rafael Mineiro em Toronto e na Copa América). Para Fischer e Meindl, o calendário foi mais ou menos assim: “Cheguei domingo de manhã, me apresentei quinta à tarde e já teve jogo no sábado”, relata o armador.  Mineiro começou a treinar apenas agora com a equipe, depois que Limeira foi eliminado na primeira fase do Paulista e, depois, saberíamos, encerraria as atividades do time adulto para o restante da temporada.

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Europa

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Espanha

– Hetthsheimeir chegou um pouco antes, mas se mandou para os Estados Unidos, onde fez testes pelo San Antonio Spurs. Segundo consta, fez bons treinamentos por lá, agradou aos treinadores, mas não deve ser contratado neste ano. O que acontece: os times da NBA querem conferir tudo de perto. Obviamente o antenadíssimo departamento de scouting internacional do clube texano tinha diversas notas sobre o pivô brasileiro, complementadas pelo que viram no Pan. Daí que acharam que era o momento de seus treinadores conferirem o jogador de perto. Isso demonstra interesse, mas serve também para um acúmulo maior de informações, pensando no futuro.  Achar uma vaga no atual elenco, com Duncan, Aldridge, West, Diaw, Marjanovic e Bonner, seria complicadíssimo — e nem sei se valeria a pena para o já veterano, que já teve o prazer de vestir a camisa do Real, mas sem mal sair do banco, lembrem-se, quando voltava de lesão. Mas nunca se sabe quando você vai precisar de um grandalhão com boa pontaria no tiro de fora, certo? Entre embarque e desembarque, o atleta se ausentou por 10 dias.

(PS: agora Rafael está sendo sondado de modo mais agressivo pelo Estudiantes, da Espanha. Sinto que há o interesse de voltar à Espanha, mas é algo que só vão discutir após a Copa Intercontinental e, eventualmente, após o giro pela NBA, com jogos contra New York Knicks e Washington Wizards pela frente. Segundo o técnico Guerrinha, para fechar com qualquer clube que não seja uma franquia da grande liga, há uma multa rescisória a ser paga.)

– As lesões: Murilo Becker está fora de combate, se recuperando de uma cirurgia devido a um deslocamento de retina no olho esquerdo. O veterano pivô simplesmente não consegue se livrar dos problemas físicos e se divertir em quadra. Alex sofreu uma pancada no joelho e perdeu alguns dias preciosos de treino também. Jefferson William está voltando de uma lesão no tendão de Aquiles, uma das piores para um jogador de basquete. “Sentimos muito a falta dele nos playoffs.  Taticamente é importantíssimo. Além de ser matador, ele movimenta bem nosso time, com muita mobilidade”, diz Fischer. “Na questão médica, ele está totalmente liberado, 100%. Agora é o tempo de ele voltar, de ganhar ritmo de jogo,”, completa. Jefferson disputou apenas três partidas pelo Campeonato Paulista (uma contra Limeira e duas contra Mogi) e acertou 36% de seus arremessos, sendo 5-17 (29,4%) de três pontos. Foram 10,3 pontos e 6,3 rebotes em 25 minutos. O talentoso e esguio ala-pivô é peça-chave para o esquema bauruense. Obviamente o atleta não vai chegar na forma ideal. mas estará em quadra.

>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?

Por essas e outras, Guerrinha admite que a preparação não foi a ideal. Aliás, nem esteve perto do ideal. Nesse sentido, comparando com o Pinheiros de 2013 e o Flamengo de 2014, o representante brasileiro deste ano talvez chegue pela primeira vez com mais questões para resolver do que seu adversário europeu. Vamos ver.  “Não desenvolvemos a preparação para este campeonato do modo como gostaríamos, para dar ritmo”, afirma o treinador. “Os últimos dois jogos contra Mogi foram muito importantes para dar o espírito. Pois o jogador fica naquela também: quer jogar o Mundial, não quer se machucar, então acaba se dosando. Mas as partidas contra o Mogi são sempre de muito pegada e servem (para dar esse ritmo). A equipe enfrentou, foi valente, e crescemos muito. Mas se perguntar se chegamos no ponto ideal, digo que não.”

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 Na fase regular do Campeonato Paulista, poupando de modo considerável seus principais nomes, deixou Wesley Sena e Carioca jogarem, a equipe do interior paulista venceu quatro e perdeu seis. Foi o suficiente para lhe garantir a quarta posição do Grupo A, ficando acima de Franca e Limeira (que também não jogou com força máxima). Por isso, agora nas quartas estão enfrentando o primeiro do Grupo B, o Mogi. Registre-se que Bauru perdeu as duas fora de casa. A primeira foi por 89 a 84. A segunda, por 89 a 88. É de se imaginar jogos quentes, mesmo, com o perdão do trocadilho. (PS sobre Sena: o pivô de 19 anos foi muito bem, com uma produção encorajadora para alguém tão jovem, algo raro no Brasil. Falei com ele neta quinta. Uma hora sai o texto sobre ele.)

“O Real é uma potência que está reivindicando jogar a NBA. O clube joga um campeonato muito mais forte que o nosso. Mas é da nossa vontade, do nosso querer, diminuir essa diferença com muita disposição, de querer diminuir essa diferença”, afirma Guerrinha, que é o primeiro a admitir, contudo, que conceitos como garra e vontade não serão o suficiente para fazer frente ao Real. “Nos brasileiros estamos acostumados a jogar com a emoção. Os europeus em geral se baseiam na razão. E esse time do Real tem isso: eles sabem direitinho o que procurar em quadra, os desequilíbrios defensivos, os mismatches. Eles atacam isso. O ideal era trabalhar o time por um mês, para tentar diminuir essa margem de diferença de elenco e realidade que temos para ele, mas não foi possível. Esse vai ser o nosso desafio, de não cair só no emocional, de vontade.”

Diria que esse é apenas um dos tantos desafios que Bauru tem pela frente. Dependendo do grau de comprometimento e do preparo físico dos atletas do Real, Bauru vai ter de se superar para buscar o título.

*   *   *

Sobre a questão dos jogadores de aluguel, já abordada aqui no UOL Esporte pelo chapa Fábio Aleixo. Bauru contratou o pivô Rafael Mineiro e repatriou o ala Gui Deodato, que iniciou sua carreira pelo clube, agora cedido pelo Rio Claro. O curioso é que o jogador estava em quadra na noite desta quinta-feira, em casa, para vencer o Pinheiros e fechar o duelo pelas quartas de final do Paulista. Foi um quinto e último confronto emocionante, definido apenas na prorrogação (por 88 a 87), no qual Guilherme anotou 16 pontos em 15 arremessos, errando muito nos chutes de fora.

“Quando perdemos o Murilo (por causa de um problema no olho) fomos atrás do Rafael. Foi um pedido dos jogadores. Já o Gui é uma espécie de recompensa, pois fez parte do nosso time na última temporada inteira, foi criado lá. Já havíamos combinado”, afirmou Vitor Jacob, diretor do Bauru. O discurso foi repetido pelo técnico Guerrinha: de que houve até mesmo uma demanda por parte dos atletas para se reforçar o elenco.

Do ponto de vista ético e esportivo, não me parece a melhor solução. Afinal, este não é o Bauru que vai dar sequência à temporada — pode ser que Mineiro continue no time, mas ambas as partes teriam de chegar a um consenso quanto ao seu salário, que provavelmente não poderá seguir no patamar dos tempos de Limeira. O Flamengo fez o mesmo no ano passado ao acertar com o pivô americano Derrick Caracter, que, no final, acabou não acrescentando muito.

O treinador bauruense, de todo modo, lembra que esse expediente vem de longa data. “Desde que comecei no basquete, em 1976, na Argentina é histórico levar jogadores como reforço. Na nossa mais ainda. Em 1980 fomos para a Iugoslávia com Franca e levamos o Marcelo Vido e um americano. Em 1983, aqui no Ibirapuera, foi o mesmo: eu e o Gerson reforçamos o Sírio”, afirmou.

A dúvida é saber o quão facilmente Mineiro será integrado. Guerrinha aposta no entrosamento que teve com Fischer, Hettsheimeir e Meindl na seleção. Sobre Gui, o encaixa é muito mais natural, obviamente. Para contar: Bauru também tentou resgatar Larry Taylor, mas o americano não foi cedido pelo Mogi.


O Pan não vale? Fadiga? Questão sobre Magnano? Entendendo o vexame
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Giancarlo Giampietro

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Segundo o pai de todos, antes de “vergonha”, vexame significa “aquilo que vexa“. Vexar, seria “afligir, atormentar, molestar, oprimir“. No caso da segunda eliminação seguida do Brasil ainda pela primeira fase de uma Copa América, essa hierarquia faz muito sentido, ainda que no jargão esportivo a segunda acepção seja a usual.

Acredito que os profissionais envolvidos com a pífia campanha na Cidade do México, dentro e fora de quadra, estejam realmente mais atordoados do que envergonhados depois de somarem três derrotas em quatro jogos — “vergonha” é um termo muito forte, mas dá para sentir que, do ponto de vista do público, foi o sentimento que ficou, de todo modo. Com direito a uma assustadora surra panamenha nesta sexta-feira que pôs fim a uma longa temporada da seleção que começou tão bem em Toronto e termina de modo aflitivo, atormentador, molestador e, também, opressor.

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Eram dez times inscritos, divididos em dois grupos, e apenas dois em cada chave ficariam fora da segunda etapa. O cenário se repetiu. Em 2013, a equipe dirigida por Rubén Magnano caiu acompanhada pelo Paraguai. Agora, fez par com Cuba. E aqui precisamos ser justos com os cubanos: eles caíram numa chave mais complicada com a nossa, com três candidatos sérios à vaga olímpica: Canadá, o grande favorito, Argentina, com Scola, Nocioni e uma rapaziada pilhada que faz o time correr como nunca, e Porto Rico, bastante mambembe depois de mais um show de desorganização nos bastidores, vitimando um técnico do porte de Rick Pitino, mas que ainda tem Barea e Balkman, dois dos melhores atletas da competição. Além da Venezuela, que, mesmo sem Greivis Vasquez, vem se mostrando muito competitiva num trabalho louvável de outro técnico argentino, Nestor Garcia.

Num cenário desses, é fácil lançar a caça às bruxas, até por conta da reincidência. Mesmo que já tenha acontecido em Caracas, não deixou de ser uma surpresa lastimável o péssimo desempenho coletivo na capital mexicana, especialmente depois do basquete de primeiro nível praticado em Toronto. Aqui não tem como aliviar: em nenhuma de suas quatro partidas, a equipe conseguiu acertar mais de 40% de seus arremessos de quadra (35% contra o Uruguai, 39% na única vitória sobre a República Dominicana, 35% contra o México e 33% contra o Panamá. Sinceramente, não há como relativizar estes números. O que acabe é tentar entender o que aconteceu. Seja para os que estão aqui, assistindo, como, principalmente, para os que estão do lado de lá, participando.

Brasil x Panamá, Copa América

Na volta da Venezuela, dois anos atrás, dois assuntos predominaram: um mal-estar (físico), provocado por virose, que teria abalado mais de meio time. Ainda é um mistério para mim porque diabos, na ocasião, a confederação, a comissão técnica, ou os jogadores não foram mais incisivos ao bater nessa tecla. Talvez achassem que fosse pegar como mera desculpa, depois da queda. Antes, obviamente que não se podia abrir o jogo, para não avisar o oponente. Mas o simples fato de não terem falado mais a respeito acaba minando um pouco a seriedade do episódio. Além do mais, antes que a virose virasse assunto, a metralhadora giratória de Rubén Magnano acabou roubando e destroçando a cena.

Vamos ver o que o argentino tem a dizer dessa vez. De 2012 para cá, entre campanhas sólidas nos últimos Mundiais e em Londres 2012, mas longe de medalhas, a seleção penou para valer no campo continental, com apenas uma mísera derrota em oito jogos. Em nenhuma dessas campanhas, o time contou com força máxima. Daí a dedução mais óbvia é a de que, sem a cavalaria da NBA, não dá pé. Aqui, do meu canto, não compro essa tese. “É o que temos, é o o nível do basquete brasileiro etc.”. Não acredito que os 12 atletas levados por Magnano ao México não fossem capazes de, juntos, acertar 40% de seus arremessos ou que não pudessem impedir uma média superior a 15 rebotes ofensivos a garrafões que não incluem a elite do basquete mundial, Gustavo Ayón à parte.

Posto isso, segue, então, alguns palpites sobre o que pode ter acontecido, com base no que vimos em quadra e em conversas com pessoas próximas ao grupo, levando em conta o que já ouvi também de carnavais passados:

O que significava a Copa América?
A despeito da semana de pesadelo em quadra, a memória coletiva do basquete brasileiro não pode se esquecer do episódio que antecedeu a participação no torneio. Até um mês atrás, a trinca Rubén Magnano, Vanderlei e Carlos Nunes simplesmente não sabia se a sequer disputaria a Copa América — quanto mais se precisaria lutar pela vaga olímpica. As reuniões em que o pires foi passado e o acordo, costurado davam todos os indícios de que a pendenga havia sido resolvida. Mas, enquanto o conselho da Fiba não votasse o tema em Tóquio, não dava para ter certeza absoluta de nada. A CBB, afinal, a entidade que deve até as cuecas na praça, não havia quitado sua dívida. Só havia sinalizado com um compromisso de que não daria calote, com o respaldo bem mais confiável de seus dois patrocinadores.

O trabalho de Magnano foi horroroso durante a semana, mas, em sua defesa, é inegável que a impossibilidade de se fazer um planejamento já minava o técnico. A não ser que ele já tivesse garantias, nos bastidores, de que o torneio serviria como a chance de testar alguns atletas, mais alternativas dentro de seu sistema de jogo e, sem pressão, de repente, a tentativa de uma segunda conquista, que encheria a seleção de moral rumo ao Rio 2016.

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Fadiga
O núcleo desta seleção brasileira se apresentou em São Paulo para iniciar os trabalhos em 14 de junho. Foram, então, de dois meses e meio a três meses juntos. Pensando de modo isolado, não é muito tempo. Levando em conta que alguns deles mal puderam descansar ao final da temporada 2014-2015, esse período ganha outro significado.  Com um agravante: o jogo na altitude da Cidade do México, que pede até mesmo o auxílio de balões de oxigênio. E aí, novamente, o drama pela vaga olímpica atrapalha. Se houvesse, em junho, um caminho já definido, talvez o Brasil pudesse ir ao México realmente com um grupo de garotos, formar dois grupos separados, assim como fez a maioria das seleções que estão na segunda fase da Copa América. Perder por perder, apanhar por apanhar, ao menos dava rodagem aos caras que vão carregar o bastão no próximo ciclo olímpico.

E aí, amigos, entro num tema espinhoso, que, em termos jornalísticos, valeria o “lead”. É uma informação que tem circulado há um tempão por trás das cortinas e que, com o microfone ligado, as câmeras acesas, ninguém vai confirmar. Pelo menos não até que seja disputado o torneio olímpico. Mas, se for para falar de cansaço, chega a hora de compartilhá-la: dez, 11 semanas de treino com Magnano podem ser mais desgastantes que o normal, tanto do ponto de vista de condicionamento como do mental. Sim, do mental.

O técnico é daqueles que não tira o pé em nenhum momento, exigindo intensidade máxima o tempo todo. O tem-po to-do, enfatizando. O resultado disso é positivo em diversas maneiras, como se vê obviamente na defesa. Essa abordagem, porém, levanta questões a longo prazo: o quanto ela é efetiva se os jogadores estiverem de saco cheio? Não exatamente pela falta de fôlego, mas pela pressão, pela cobrança constante.

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Já ouvi muitas fontes, de origens e filiações distintas, mas sempre bem próximas aos atletas, corroborar essa história: por mais que respeitem, não é que os principais jogadores da seleção morram de amores pelo técnico. Não existe confiança plena da parte deles com o argentino, e esse pé atrás tem muito a ver com o comportamento do comandante. Estão cansados do discurso de que “nós vencemos”, “eles perderam”. Aí você as declarações de 2013, com um enxame de marimbondos cuspidos, e a situação ser agrava.

Para deixar claro: não sei se aconteceu com o atual grupo, depois do ótimo Pan-Americano (início de trabalho).

E não é que essa indisposição dos medalhões chegue a um nível em que estejam tentando ou já tenham tentado derrubar o treinador. Não foi por conta disso que perderam para a Argentina em 2010 e 2012 e para a Sérvia no ano passado. Mas dá para se dizer que a relação entre ambos poderia ser muito mais saudável, amigável. E, aos amigos comentaristas anônimos, que adoram ler o que não está escrito: essa é a informação que vem de gente próxima dos atletas, e não minha opinião. Não estou dando razão a ninguém ao reportar isso. Não estou defendendo a queda de Magnano, advogando a favor da “classe brasileira”. Por outro lado, seu currículo e o ouro no Pan não podem blindá-los contra tudo e todos, certo? Não dá para usar dois pesos e duas medidas.

A convocação
Não dá para discutir o grupo formado para a Copa América sem levar em conta o tópico acima. Se for para bancar o detetive, no momento em que o treinador convocou Marquinhos e, na sequência, Guilherme Giovannoni, a impressão é de que Magnano não tinha certeza de nada sobre suas obrigações para a competição. Daí a opção por dois veteranos com os quais trabalhou constantemente nos últimos anos. Seriam duas apólices de seguro para ele, para o caso de o bicho pegar na busca por uma vaga olímpica. Isso e mais isto: levou para a Cidade do México uma equipe que, em sua cabeça, iria competir para valer no torneio. Do contrário, faria muito mais sentido escalar Danilo Siqueira e um Lucas Mariano, ou qualquer outro jogador mais jovem do NBB para se ganhar cancha*. De resto, pode-se discutir um ou outro nome, mas o grupo listado era basicamente aquele seria reunido pela maioria dos técnicos, levando em conta a ausência de Splitter, Varejão & Cia. Dez desses caras haviam acabado de ganhar o Pan jogando muita bola. Essa discussão vai longe e pede outro texto, pois este aqui já vai ficar longo o bastante.

(*Sobre a dupla do Raptors: 1) precisaria ver o que o clube sentiria a respeito: por os dois jogadores em quadra neste cenário talvez ajudasse muito em seu desenvolvimento; por outro lado, a diretoria tem se mostrado bastante superprotetora quanto à dupla e talvez preferisse trabalhar com eles em casa. Mas aí você ouve falar que Caboclo andou por São Paulo por esses dias, então fica em dúvida. 2) Planos do Raptors à parte, não sei bem qual recado, exemplo seria dado ao se convocar dois atletas que mal jogaram durante a temporada e que, ainda por cima, deram trabalho nos bastidores.)

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

O Pan
Sim, o nível de competição era inferior ao que estamos assistindo na Copa América, no geral. Agora, no que diz respeito aos jogos da seleção brasileira, a concorrência não foi tão inferior assim. Cuidado com a generalização e a orelhada. Vamos lá:

– Na Cidade do México, o Brasil enfrentou Scola e Nocioni? Barea e Balkman? Wiggins, Olynyk, Joseph? Não. Mas enfrentou, por exemplo, um Francisco Garcia, dominicano totalmente fora de forma, que não esteve nos Jogos de Toronto, aliás, e cujo time foi o que mais deu trabalho aos eventuais campeões, na semifinal. Em termos práticos, no Grupo A, só o México, devido à presença de Ayón e Jorge Gutiérrez, se apresentou com um elenco claramente superior.

Ou o Uruguai, com sua população inferior à de Salvador, agora virou uma superpotência, a ponto de ser temido mesmo quando não escala Esteban Batista, Jayson Granger e Leandro Garcia Morales? E o que dizer do Panamá, que faz uma turnê de despedida para Michael Hicks, Jaime Lloreda, Rubén Garces (41 anos!!!) e, talvez, nosso pequenino e velho amigo Joel Muñoz? No papel, são times mais fortes que os Estados Unidos de Bobby Brown, Keith Langford, Anthony Randolph, Damien Wilkins, Ryan Hollins e uma série de futuros profissionais de ponta? Ou mais fortes que o núcleo composto por Anthony Bennett, Andrew Nicholson, Carl English, Brady Heslip, Jamal Murray, Melvim Ejim e Aaron Doornekamp? Não creio.

Anthony Bennett, Canadá, Pan Am

(Aliás, um parêntese: não quero menosprezar aqui uruguaios e panamenhos. Dizer que eles não estão na elite da modalidade não significa que eles sejam “lixos” de equipes, para empregar o vocábulo que é muito provavelmente mais utilizado pelo irado comentarista online brasileiro. Peguem Hicks como exemplo. Hoje com 39 anos, o ala fez uma bela carreira na Europa, jogando na Itália por dez temporadas. Em competições Fiba, tem média superior a 17 pontos por partida. Lloreda e Garces deram trabalho e causaram hematomas em muita gente nos últimos 10, 15 anos. Esses caras não são galinhas mortas. Mesmo envelhecidos, deram uma surra em todos os sentidos numa fragilizada equipe.)

Sabe em qual aspecto os uruguaios e os panamenhos foram melhores que o Canadá ou os Estados Unidos? Como equipe, como unidades coletivas, vindo de preparação mais extensa voltada exclusivamente à Copa América, enquanto os norte-americanos formaram seus grupos do Pan em cima da hora. A seleção brasileira, por outro lado, regrediu.

Tá, mas e aí? O que diabos aconteceu?
Pelo que ouvi entre sexta-feira e este sábado, não há teoria da conspiração que se encaixe aqui. O clima entre os atletas esteve bom do início ao fim. Não houve motim contra Carlos Nunes, gripe suína, interferência externa, nem nada fora do normal além de questões dentro de quadra.

A seleção em quadra
Do grupo pan-americano, dois jogadores saíram: Rafael Hettsheimeir e Larry. Já escrevi aqui após a derrota para o Uruguai (a segunda consecutiva em Copas Américas). A troca por Giovannoni e Marquinhos gerou desequilíbrio. São atletas  de perfil muito diferentes, tanto do ponto de vista técnico como do físico, sem contar que estavam vindo de férias e foram inseridos num time que estava montado. Não quer dizer que os dois que saíram sejam superiores aos dois que chegaram. Acontece que, entre uma habilidade perdida e outra somada, a rotação se descarrilou.

Sem Larry, Magnano perdeu uma alternativa de dupla armação, levando em conta os recursos defensivos que o norte-americano, mesmo já um ou dois passos mais lento, pode oferecer. Para piorar, o jovem Deryk ficou no grupo final, mas foi retirado da rotação, enquanto Rafael Luz voltou de uma contusão que o tirou de quadra da Copa Tuto Marchand.

Panamá x Brasil, Copa América, basquete

A baixa maior, porém, foi a de Hettsheimeir, que hoje representa um fator tático claramente importante para o ataque de Magnano. Historicamente, Guilherme é um chutador mais temido, mas Rafael vem trabalhando exaustivamente no fundamento e teve aproveitamento superior no último NBB. Em competições internacionais, desconfio também de que hoje chame mais a atenção das defesas adversárias. De qualquer forma, fico me perguntando se, num ataque devagar-quase-parando desses, a presença do pivô no perímetro faria alguma diferença, uma vez que os oponentes mais atentos adiantaram suas defesas e contestaram para valer os arremessos brasileiros. De longa distância, o aproveitamento foi de apenas 22,1% na Copa América, uma calamidade. Haveria espaço para ele chutar?

Mas no que o pivô faz mais falta? Por conta de seu perfil singular. Se hoje se caracteriza como um chutador no ataque, na defesa tem porte físico para aguentar o tranco. Não é nenhum Roy Hibbert, não tem verticalidade e mal protege o aro, mas ocupa espaço no garrafão e é pelo menos mais alto que João Paulo. Contra os massudos panamenhos certamente teria feito diferença, ajudando um sobrecarregado Augusto Lima.

Por outro lado, Marquinhos e Giovannoni não conseguiram atingir seu melhor nível na Cidade do México. Para os veteranos, demora um pouco mais para chegar ao ápice físico, e os dois estavam visivelmente fora de ritmo, vindo de férias. Mas por que os velhacos panamenhos estavam se impondo fisicamente e como é possível que Luis Scola dê uma aula na molecada canadense, sendo da mesma idade de Guilherme? Bem, eles começaram a treinar para o torneio bem antes.

Marquinhos, Copa América, Brasil x República Dominicana

São apenas dois jogadores? Sim, mas dois que teriam papel importante para Magnano, com bons minutos em quadra e cuja presença em quadra não foi bem administrada. Em meio às constantes trocas que levam o Wlamir à loucura, o treinador se perdeu em suas rotações. No jogo derradeiro contra os panamenhos, nem mesmo quando mandou contra os panamenhos para a quadra uma formação mais “ofensiva” o time conseguiu render, enquanto a defesa sofreu. Os problemas que via em quadra não eram contornados. Esse, aliás, parece um ponto no qual o argentino campeão olímpica fica aquém: os ajustes durante as partidas. Qual foi último jogo que a seleção conseguiu virar quando estava atrás do placar por muito? Sinceramente, não lembro. A impressão é de que, quando desandam as coisas, não tem volta.

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Aqui, realmente parece que há uma divergência na hora de assimilar o que aconteceu na Copa América: que os problemas sejam estruturais, de formação dos jogadores, e não há santo de casa que dê um jeito nisso, ou que Magnano, mais uma vez, não conseguiu tirar o melhor que podia de seus atletas? Minha colher: mesmo que se aceite que o time seja limitado, não é função do treinador elevar o seu jogo? O grupo brasileiro não era o mais forte, mas jogou o máximo que podia. Na verdade, não creio que tenha jogado nem perto de seu potencial pleno.

Custo
Se não dá para esquecer toda a novela que foi a confirmação da seleção nas Olimpíadas, expondo a CBB ao ridículo no noticiário internacional, também há outra conta que não pode faltar nunca ao se avaliar os resultados obtidos: os R$ 7 milhões que o ministério do Esporte concordou em pagar para custear apenas para sustentar as operações da equipe brasileira masculina. Ou, pelo menos, é o que dizem, é o que consta no texto de descrição do convênio. Entre viagem para Brasília, Buenos Aires, San Juan, escala em Miami, e o desembarque na Cidade do México, delegação de 24 pessoas e tal, quanto custou esse fiasco na Copa América? Lembrando que, apenas para lavanderia, foram gastos R$ 149.760,00.