Vinte Um

Ouro do Pan também confirma a ascensão de Augusto Lima

Giancarlo Giampietro

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Scout por Rafael Uehara

Augusto Lima foi promessa durante bastante tempo nas categorias de base do Unicaja, mas nunca teve muitas oportunidades com o time principal. Depois de deixar Málaga em 2013, assinou com o Murcia, e sua carreira finalmente decolou, com duas temporadas de muito boa produção. Seguindo nessa toada, o brasileiro teve um belo Pan-Americano, e há rumores de que o Dallas Mavericks estaria interessado em assiná-lo para a pré-temporada da NBA. Seu nome já foi envolvido também com outros clubes europeus de grande porte, mas não se sabe ainda se ele vai procurar um novo destino ou se vai renovar com a equipe na qual se tornou ídolo máximo.

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Porte físico, envergadura
Augusto não é um pivô de muita habilidade, de fino trato com a bola, mas faz a diferença devido ao seu porte físico e sua envergadura. Sua principal contribuição no ataque é o rebote ofensivo, pois o pivô é capaz de buscar a bola fora da sua posição devido aos seus braços longos, além de conseguir saltar com bastante facilidade. De acordo com o site RealGM, Augusto coletou 14,6% dos tiros perdidos pelo Murcia na temporada passada – a sexta maior marca da liga espanhola.

Augusto "mergulha" rumo à cesta: deslocamentos oportunistas

Augusto ''mergulha'' rumo à cesta: deslocamentos oportunistas

Seu talento não se restringe, porém, a rebarbas. O pivô se encaixa dentro de um esquema ofensivo por meio do pick-and-roll. Augusto geralmente ameaça fazer o corta-luz e usa esse meio segundo de vantagem para partir para dentro com o tipo de velocidade que atrai a atenção de vários marcadores e pode deixar companheiros livres ao redor do perímetro. Ele tem boas mãos para receber a bola em movimento e é uma boa opção para a ponte aérea. Augusto converteu 64,7% dos seus 34 tiros de quadra no Pan e 54,4% de seus 472 arremessos com o Murcia nesses últimos dois anos. Aproveitamento elevado e consistente.

Na defesa, Augusto é capaz de dar tocos, mas não protege o aro dessa forma com frequência. Foi apenas um toco para ele em cinco jogos no Pan e 36 em 34 partidas com Murcia na temporada passada. Porém, isso não significa necessariamente uma deficiência. Ele procura fazer seu papel de outra forma, tendo já demonstrado boa agilidade girando pra dentro do garrafão e disposição para cavar faltas de ataque.

Mas sua principal contribuição acaba sendo a marcação acima do garrafão. Augusto consegue trocar de posição no pick-and-roll e marcar jogadores menores. Isto porque tem muito boa mobilidade e coordenação se movendo de lado a lado. Também tem boa velocidade de recuperação para contestar tiros vindos do pick-and-pop.

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Augusto às vezes ´pode ser pego um pouco desatento na briga por rebotes defensivos, nem sempre colocando seu corpo contra o adversário para fazer o bloqueio, mas é, de qualquer forma, muito rápido buscando a bola. Coletou 24,8% dos tiros perdidos pelos oponentes enquanto estava em quadra na temporada passada – a quarta maior marca na liga espanhola.

Com a bola
Quando acionado de costas para a cesta durante o Pan, Augusto passou a bola relativamente bem, mantendo a cabeça erguida e dando assistências para tiros de três pontos. Mas não é de seu costume criar boas oportunidades nessas situações com frequência. Seu jogo é bastante mecânico, nesse sentido. Também nunca demonstrou muita habilidade de passar em movimento, em direção à cesta, por exemplo. Deu assistência em apenas 5% das cestas que o Murcia converteu na temporada passada. Além disso, Augusto também não apresenta um tiro de meia distância como arma recorrente. Isso pode ser corroborado por seu  aproveitamento ruim em lances livres: ele converteu apenas 66% de seus 223 tiros nos últimos dois anos.

O deslocamento lateral deixa Augusto em boa posição para contestação

O deslocamento lateral deixa Augusto em boa posição para contestação

Conclusões, por Giancarlo Giampietro
Pudemos conferir no Pan a confirmação daquilo que a Liga ACB espanhola já sabia: Augusto é hoje um dos pivôs mais promissores que você vai encontrar por aí. Isso tem muito a ver com seu biótipo e com a energia que leva para a quadra. Ele simplesmente não pára, e dessa forma lembra em muito as características do jovem Anderson Varejão. Características que não devem ser subestimadas de modo algum. Vitor Benite, por razões óbvias, foi o atleta mais badalado do Brasil na campanha do ouro em Toronto, devido a uma exibição impressionante na hora de colocar a bola na cesta. Mas Augusto talvez tenha sido tão ou mais influente em quadra, deixando os pivôs adversários comendo poeira em transição, atacando a bola e fazendo a cobertura na defesa, impondo o caos na tábua ofensiva e se apresentar como essa opção confiável de desafogo para as infiltrações dos armadores, se deslocando de modo perspicaz pelo garrafão. Por ter boas mãos, dá para supor também de que vá se desenvolver gradativamente para se tornar uma ameaça ainda maior no ataque.

Murcia tem novo treinador. Troca pode influenciar no futuro de Augusto?

Murcia tem novo treinador. Troca pode influenciar no futuro de Augusto?

Depois de testemunhar tudo isso, é natural que o torcedor brasileiro já *faça planos* para o pivô. Sonha-se com a NBA, com a Euroliga, e tal. Mas talvez o melhor para Augusto seja continuar no Murcia por uma temporada a mais. Foi lá que ele se encontrou como jogador e lá que progrediu a esse ponto. Ele é simplesmente venerado pela torcida, a ponto de ter sido eleito o jogador mais popular da ACB, e terá todo o tempo de quadra que quiser para se desenvolver. Vale mais jogar como referência de um clube modesto, ou ser apenas mais uma peça num time de maior expressão? Há um fator a se considerar. O Murcia trocou de treinador durante as férias. Saiu Diego Ocampo, um espanhol emergente que fez excelente figura em seu primeiro trabalho como treinador principal após anos e anos como assistente de profissionais renomados. Chegou Fotis Katsikaris, o badalado grego que já fez sucesso dirigindo o Valencia e Bilbao. Augusto estará em boas mãos, mas é preciso saber se a química será a mesma. É o tipo de decisão difícil de se ponderar. O que sabemos, de todo modo, é que o brasileiro está bem encaminhado, com uma atitude excelente dentro e fora de quadra, capaz de levá-lo muuuito longe em sua carreira.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.