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Arquivo : Augusto Lima

Lesão de Exum não justifica retenção de Raulzinho em Utah
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Giancarlo Giampietro

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

A foto acima diz muita coisa. A felicidade de alguns dos campeões pan-americanos. Olivinha comandando a selfie, como não poderia deixar de ser. Rafael Hettsheimeir quase tirando seu futuro companheiro de Bauru da foto. Duas pessoas que, como jornalista, admito não reconhecer. Mas o que mais chama a atenção, mesmo, até por destoar no amontado amarelo e verde, é a camisa branca erguida por Augusto Lima, numa menção a Raulzinho (Neto), que se desligou do time no meio do caminho.

Legal que Augusto tenha pensando no jogador que o acompanhou nas últimas duas temporadas em Murcia. Nota-se nesse gesto o coração grande do pivô, que, na preparação para sua primeira decisão com a camisa da seleção, não se esqueceu do chapa. Mas não seria melhor se o próprio armador estivesse ali no meio?

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Acho que vocês já sabem o que aconteceu. Raul abandonou os treinamentos em São Paulo para viajar a Salt Lake City e assinar com o Utah Jazz. É o tipo de decisão que pode mudar o rumo de uma carreira, atlética e financeiramente. Não é menosprezar a seleção, mas você não pode abrir mão de uma oportunidade dessas. Então tudo bem: que pegue o avião rumo às Montanhas Rochosas e assine a papelada. Ponto.

(Da parte da CBB, a cessão do armador talvez seja, voluntariamente ou não, uma boa tacada política, pensando numa Olimpíada que vem por aí e também em eventuais futuras convocações de um jogador jovem, que já faz parte do próximo núcleo da seleção. Por outro lado, assusta a falta de transparência da entidade mesmo no trato da liberação de um atleta. Se a decisão foi de não bater o pé para que Raul ficasse no time, qual o problema de divulgar isso com clareza, uma vez decidido que o atleta não iria para o Pan? Abre-se margem para especulações, e a boataria pode atingir o jogador em cheio se fugir de controle. Ainda mais quando o assunto é a relação de enebianos e a seleção. Basta perguntar para Nenê os efeitos. )

O que rolou na sequência, uma vez assinado o contrato, é que é difícil de entender. O armador já não seria reintegrado à equipe de Ruben Magnano, mas também não fez parte do elenco de verão da franquia de Utah. Então que raios estaria fazendo? Bem, aí chegou a informação da mídia local de que a diretoria havia pedido para que ele ficasse por lá, para treinar com alguns veteranos em Las Vegas, num ambiente totalmente informal. Não sabemos quem e quantos estiveram em quadra, que tipo de orientação estavam recebendo e por quanto tempo duraram as atividades. Se é que elas foram interrompidas.

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Raulzinho fehcou com o Jazz, mas apenas assistiu ao time na liga de verão. De resto, treinos

Boa parte do time esteve por lá, segundo relatos, ok. Os técnicos e os cartolas ficaram satisfeitos com essa reunião, acreditando que o período em conjunto nas férias ajuda a desenvolver a química do elenco e facilita o entrosamento em quadra. Para Raulzinho, vindo de fora, esse período pode, mesmo, ter sido importante, já que o armador teve um contato mínimo com esses atletas desde o dia em que foi selecionado em 2013 — foi a liga de verão em Orlando com Gobert e Burke, e pouco mais que isso. Mas… Basta espiar a foto acima novamente e perguntar se, na construção do armador Raul Neto, para o futuro do Utah Jazz, os rachões e jantares em Las Vegas são realmente mais relevantes que a experiência de jogar em Toronto e ganhar uma medalha pela seleção?

Em termos de relevância internacional, sabemos que o Pan está em segundo ou terceiro plano. De qualquer forma, lá estava um Rick Pitino iniciando seu trabalho com Porto Rico, Anthony Bennett e Andrew Nicholson tentando mostrar algo pelo Canadá, Bobby Brown e Keith Langford, cestinhas de Euroliga com salários de sete dígitos lá fora, realizando um sonho americano etc. O torneio não teve a elite da modalidade, mas apresentou elementos muito interessantes e, nesse contexto, e os caras escalados por Magnano souberam aproveitar ao máximo a oportunidade dada. Não há como negar que todos os que estiveram em quadra voltaram engrandecidos no desembarque em São Paulo. E, de qualquer forma, a ausência de Raul acabou abrindo espaço na rotação para que Rafael Luz provasse que, sim, tem de ser discutido em qualquer convocação futura, independentemente de quem esteja disponível. Ricardo Fischer também ganhou mais espaço, como um complemento fundamental à bela temporada que fez pelo Bauru. Os dois foram muito bem na armação, em que pesem um ou outro tropeço com a bola, inerentes à função. Para Benite estourar a boca do balão, valeu a assessoria dessa dupla de ainda jovens — mas rodados — armadores.

Em termos de trajetória internacional, Raulzinho está (ou estava) à frente. Ele teve mais minutos nas últimas temporadas de Liga ACB e ganhou rodagem bem mais extensa com a seleção, como uma presença constante nas listas de Magnano, com o ponto máximo sendo sua bela atuação contra a Argentina pelas oitavas de final da Copa do Mundo. Ainda assim, o Pan seria o primeiro torneio em que o jogador poderia pegar a chave do carro sem ter de pedir permissão a Marcelinho Huertas. Ainda vem a Copa América pela frente, pela qual a equipe nacional poderá jogar numa posição bastante interessante, sem pressão alguma, já que a vaga olímpica está no papo, para alívio dos competentíssimos gestores da CBB.

Então tem isso.

Foi uma tese convincente?

Talvez.

Para o gerente geral Dennis Lindsey e o técnico Quin Snyder, uma notícia que veio da Eslovênia, dez dias depois, talvez os tenha deixado seguros de que haviam tomado a decisão certa ao encorajar que Raulzinho ficasse fora do Pan. Foi quando souberam que o garoto Dante Exum havia muito provavelmente rompido o ligamento cruzado anterior de seu joelho esquerdo. O armador, de 20 anos recém-completos, estava jogando um amistoso pela Austrália. O clube ainda não informou quando ela será realizada, mas o caçulinha vai passar por uma cirurgia que muito provavelmente vai afastá-lo da próxima temporada.

O Utah Jazz tem um time em ascensão na NBA. Se fosse levado em conta apenas seu aproveitamento na segunda metade da temporada passada, teria entrado nos playoffs. Exum não teve números grandiosos, mas desempenhou um bom papel em quadra, especialmente por seus atributos defensivos. A lesão do australiano deixou angustadios os torcedores do time, aguardando com ansiedade uma nova grande equipe desde os tempos de Stockton e Malone, com todo o respeito ao grupo que teve Deron, Boozer, Okur, Kirilenko (e Baby). Não dá para saber o exato impacto dessa lesão. Quem sabe Raulzinho não dá um salto na pré-temporada e assuma a bronca? (Importante notar que essa não é a expectativa dos treinadores e diretores, com o brasileiro inicialmente cotado para a D-League e agora para disputar o posto de primeiro reserva com Bryce Cotton, que tem a mesma idade). Burke também pode encontrar, enfim, um ritmo consistente de jogo? Ou pode ser que chegue algum reforço que cuide da posição. Está cedo.

O que se lamenta mais é o ano perdido no desenvolvimento do australiano, que, no único jogo que fez neste verão (setentrional) pelo Jazz, foi muito bem, batendo os encardidos Marcus Smart e Terry Rozier para ganhar o garrafão diversas vezes. Até que… torceu o tornozelo e não conseguiu mais defender a equipe em Salt Lake City e Las Vegas. Quer dizer: contusões, lesões acontecem com atletas. Não tem jeito. De modo que qualquer movimento alarmista encampado nos bastidores da liga americana contra as competições internacionais tem de ser relativizado. Se as seleções estiverem comprometida em pagar um seguro pelos atletas, não há o que se fazer. Ainda existem jogadores que têm prazer em disputas internacionais. E muitos: basta ver que dezenas de atletas passaram por Las Vegas nos últimos dias para dizer a Jerry Colangelo e Coach K que têm interesse em fazer parte do grupo olímpico do Rio 2016.

O próprio Dennis Lindsey, gerente geral da franquia, sabe que não há muito o que se fazer a respeito. Ou a NBA causa ruptura total, ou as atividades seguem normalmente, com as devidas precauções tomadas. “Já vimos isso acontecer antes, infelizmente. Mas não há como embrulhar os jogadores em uma bolha. Você tem de deixá-los jogar”, afirmou. Isso, antes, de tomar mais um susto nesta quarta-feira, quando circulou por aí um papo de que Rudy Gobert havia deixado a quadra mancando, em amistoso contra a Sérvia. Aparentemente, porém, não é nada grave.

O próprio Gobert, de qualquer forma, é um grande exemplo de jogador jovem que usou uma passagem pela seleção nacional para se soltar e comprovar sua evolução. “Comprovar” porque ninguém dá um salto considerável de rendimento em apenas algumas semanas de treino com um time. O que Gobert fez pela França no ano passado foi o resultado de um ótimo trabalho com os treinadores do Utah durante seu primeiro campeonato. Foi na Copa do Mundo, porém, que o espigão recebeu bons minutos de jogo em alto nível, numa competição de alta visibilidade (e pressão), para ganhar confiança, sabendo que as coisas caminhavam bem, ainda mais quando veio uma medalha de bronze para uma equipe bastante desfalcada. Guardadas as devidas proporções, há um paralelo aqui com a seleção brasileira no Pan. E Raulzinho acabou perdendo essa.


Ritmo, energia, química, e a tempestade perfeita para a seleção
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Giancarlo Giampietro

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

Sendo julho, período de férias da garotada, a queda de produção do blog tem um timing ligerimante suspeito. Mas ainda não existem pimpolhos circulando pela base do conglomerado 21, e o mês foi de muito trabalho, mesmo, com algo como 33 dias trabalhados de 35 possíveis, em ritmo intenso. Só para deixar claro o porquê do sumiço e de como foi bem-vinda a colaboração de Rafael Uehara, para ao menos publicar algo durante o mês.

Posto isso, não quer dizer que não tenha dado para assistir a um jogo ou outro de basquete nesse meio-tempo, para evitar aplacar a tremedeira nas mãos e evitar que chegasse a uma crise de convulsão.

As ligas de verão? Infelizmente só consegui ver a de Orlando, perdendo a apresentação dos brasileiros em Las Vegas. Mas isso o Rafael conseguiu remediar, com seus scouts atenciosos em relação a Bruno Caboclo e Lucas Bebê. Nesta terça-feira, vou publicar também as notas de um experiente olheiro da NBA, que estava presente no ginásio, às quais tive acesso.

Antes disso, todavia, melhor falar sobre o que pude assistir para valer, e com grande satisfação, que foi a seleção brasileira campeã pan-americana – e que acaba de vencer Uruguai e Argentina em amistosos em Brasília.

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Bom, entre o torneio valendo ouro e o amistoso, já são sete vitórias seguidas. O basquete apresentado no Nilson Nelson foi o mesmo de Toronto? Claro que não. Nem poderia ser, e isso tem mais a ver com o calendário um tanto espaçado e traiçoeiro do que com o nível dos adversários. A seleção teve de ser preparada para um pico de performance, tanto do ponto de vista técnica como do físico de 21 a 25 de julho. Agora, encaminha nova preparação para um torneio que vai começar mais de um mês depois, de maior duração (espera-se…), lembrando que estamos falando de meses nos quais, supostamente, esses caras deveriam estar parados.

Aliás 1: como chamar essa temporada de seleção tão longa? Pré-e-pós-temporada-tudo-ao-mesmo-tempo? Flamengo, Bauru, Murcia… É bom que os clubes estejam atentos desde já em relação ao estado dos atletas em sua apresentação. Por mais jovem que seja o grupo, tem de tomar cuidado.

Aliás 2: se o plano de Magnano é contar com a tropa de choque veterana da NBA nos Jogos do Rio 2016, tanto melhor que não a usasse agora, especialmente depois de uma campanha pela qual só Leandrinho passou incólume.

Aliás 3: a vaga olímpica ter sido garantida ao país-sede vale como um alívio ainda maior considerando os dois fatores acima. Mais a respeito será tratado durante a semana, mas dá para dizer aqui que, esportivamente, comemora-se. Pensando nas constantes vezes que a CBB flerta com o desastre e até mesmo faz da vergonha um eufemismo, não há nada o que festejar, pensando no futuro.

>> Ouro em Toronto só confirma a impressionante ascensão de Augusto Lima
>> Teria Rafael Luz feito o suficiente para se garantir na armação da seleção?

Agora, voltando à quadra. Deu para se notar um certo zum-zum-zum sobre como este Pan não poderia valer tanto assim, já que todos os principais adversários estavam formados por times em versão beta. Inegável isso, mas a seleção brasileira também não era, até a hora que entrou em quadra, favorita a nada.

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

O time de Ruben Magnano simplesmente dominou rivais de nível técnico – ou bagagem internacional, no mínimo – equivalente. E dominou devido ao excelente padrão de jogo apresentado. Padrão de jogo que turbina o talento disponível, como em qualquer time campeão. Você não vai vencer só pela técnica ou pela tática. Vai vencer quando as duas andam em conjunto, quando um treinador faz uma boa lista e tira o melhor daquilo que tem em mãos. Não há outro “se”, ao meu ver, para ser ponderado aqui. Acho que podíamos combinar uma coisa: falar que é a seleção jogando. Sem B, C ou D. É o time convocado, que se apresentou, treinou e ganhou.

Foi o que aconteceu em Toronto, e algo bem diferente do que vimos em Guadalajara 2011 ou na Copa América 2013, por razões diferentes. Para o México, Magnano admitiu que reuniu o time já no avião, indo à base de catadão, mesmo. Dois anos depois, na Venezuela, o treinador jurava que contaria com seus principais nomes (mesmo num torneio em que Luis Scola e Greivis Vásquez eram verdadeiras aberrações) e se atrapalhou todo na hora de fazer as emendas necessárias. Ficou com um arremedo de equipe, sem coesão alguma entre as peças, perdendo para Uruguai e Jamaica. O maior vexame sobre o qual se tem nota, na quadra.

Desta vez, com planejamento adequado, tudo mudou. O título pan-americano obviamente começou a partir da convocação, muito mais razoável. Magnano formou uma equipe balanceada. Tão importante também foi o respeito pelo que aconteceu durante a temporada – algo que, por uma razão difícil de compreender, nem sempre acontece. Os nomes podem não ter sido tão revolucionários assim, em termos de material novo, mas foram pinçados todos atletas que jogaram muita bola no Brasil ou na Europa. Benite e Olivinha terminaram o ano voando pelo Fla. Augusto foi um dos cinco melhores pivôs da Liga ACB, sob qualquer avaliação. Rafael Luz se despediu do Obradoiro aclamado pela torcida. João Paulo foi campeão francês. Ricardo Fischer e Rafael Hettsheimeir ganharam quase tudo por Bauru. Marcus já atormenta os atacantes do NBB há tempos. Etc. Etc. Etc. Isso serve para confirmar o talento brasileiro por vezes subestimado. Não precisa de um selo de NBA ou Euroliga para se corroborar a qualidade de um atleta e, principalmente, de uma equipe.

A partir daí, foi entender a melhor forma como encaixar essas peças. Não era tão difícil assim. O grupo tinha bons armadores com propensão ao passe. Rafael e Ricardo podem ser jovens, porém já têm boa cancha, se não em competições pela seleção, mas em jogos de grande relevância por seus clubes. Havia bons arremessadores, com Benite, Meindl, Hetthsheimeir. Pivôs flexíveis como Augusto e Olivinha, e de habilidades distintas que combinavam muito bem, como os bons corta-luzes e cortes para a cesta de Augusto, o jogo de costas para a cesta de JP e mais chute.

De nada adiantaria, porém, se não houvesse química entre esses atletas, e até nesse aspecto a lista é, vá lá, extremamente feliz. É só ver o Marcus vibrando (em vez de urrando de dor), estirado na quadra do Nilson Nelson, depois de cavar uma falta de ataque da Argentina. O ala, agora do Basquete Cearense, é uma das tantas personalidades agrupadas de astral e energia elevados.

Isso não é conversa fiada e facilita o entendimento em quadra. Algo que foi basicamente impecável durante o Pan. A agressividade na marcação exigida por Magnano ganhou também a cobertura de uma defesa interior muito sólida. A boa defesa leva ao contra-ataque, e a execução em transição está no DNA. Quando não houve oportunidade para a definição rápida, o time cumpriu, creio, o melhor ataque em meia quadra sob gestão do argentino, com espaçamento e ritmo.

Por falar em ritmo, retomamos a produção normal do blog nesta semana, acompanhando como a seleção, com essa tempestade perfeita que vimos em Toronto, vai se virar contra oponentes mais qualificados.


Ouro do Pan também confirma a ascensão de Augusto Lima
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Giancarlo Giampietro

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Scout por Rafael Uehara

Augusto Lima foi promessa durante bastante tempo nas categorias de base do Unicaja, mas nunca teve muitas oportunidades com o time principal. Depois de deixar Málaga em 2013, assinou com o Murcia, e sua carreira finalmente decolou, com duas temporadas de muito boa produção. Seguindo nessa toada, o brasileiro teve um belo Pan-Americano, e há rumores de que o Dallas Mavericks estaria interessado em assiná-lo para a pré-temporada da NBA. Seu nome já foi envolvido também com outros clubes europeus de grande porte, mas não se sabe ainda se ele vai procurar um novo destino ou se vai renovar com a equipe na qual se tornou ídolo máximo.

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Porte físico, envergadura
Augusto não é um pivô de muita habilidade, de fino trato com a bola, mas faz a diferença devido ao seu porte físico e sua envergadura. Sua principal contribuição no ataque é o rebote ofensivo, pois o pivô é capaz de buscar a bola fora da sua posição devido aos seus braços longos, além de conseguir saltar com bastante facilidade. De acordo com o site RealGM, Augusto coletou 14,6% dos tiros perdidos pelo Murcia na temporada passada – a sexta maior marca da liga espanhola.

Augusto "mergulha" rumo à cesta: deslocamentos oportunistas

Augusto “mergulha” rumo à cesta: deslocamentos oportunistas

Seu talento não se restringe, porém, a rebarbas. O pivô se encaixa dentro de um esquema ofensivo por meio do pick-and-roll. Augusto geralmente ameaça fazer o corta-luz e usa esse meio segundo de vantagem para partir para dentro com o tipo de velocidade que atrai a atenção de vários marcadores e pode deixar companheiros livres ao redor do perímetro. Ele tem boas mãos para receber a bola em movimento e é uma boa opção para a ponte aérea. Augusto converteu 64,7% dos seus 34 tiros de quadra no Pan e 54,4% de seus 472 arremessos com o Murcia nesses últimos dois anos. Aproveitamento elevado e consistente.

Na defesa, Augusto é capaz de dar tocos, mas não protege o aro dessa forma com frequência. Foi apenas um toco para ele em cinco jogos no Pan e 36 em 34 partidas com Murcia na temporada passada. Porém, isso não significa necessariamente uma deficiência. Ele procura fazer seu papel de outra forma, tendo já demonstrado boa agilidade girando pra dentro do garrafão e disposição para cavar faltas de ataque.

Mas sua principal contribuição acaba sendo a marcação acima do garrafão. Augusto consegue trocar de posição no pick-and-roll e marcar jogadores menores. Isto porque tem muito boa mobilidade e coordenação se movendo de lado a lado. Também tem boa velocidade de recuperação para contestar tiros vindos do pick-and-pop.

>> Teria Rafael Luz feito o suficiente para se garantir na armação da seleção?

Augusto às vezes ´pode ser pego um pouco desatento na briga por rebotes defensivos, nem sempre colocando seu corpo contra o adversário para fazer o bloqueio, mas é, de qualquer forma, muito rápido buscando a bola. Coletou 24,8% dos tiros perdidos pelos oponentes enquanto estava em quadra na temporada passada – a quarta maior marca na liga espanhola.

Com a bola
Quando acionado de costas para a cesta durante o Pan, Augusto passou a bola relativamente bem, mantendo a cabeça erguida e dando assistências para tiros de três pontos. Mas não é de seu costume criar boas oportunidades nessas situações com frequência. Seu jogo é bastante mecânico, nesse sentido. Também nunca demonstrou muita habilidade de passar em movimento, em direção à cesta, por exemplo. Deu assistência em apenas 5% das cestas que o Murcia converteu na temporada passada. Além disso, Augusto também não apresenta um tiro de meia distância como arma recorrente. Isso pode ser corroborado por seu  aproveitamento ruim em lances livres: ele converteu apenas 66% de seus 223 tiros nos últimos dois anos.

O deslocamento lateral deixa Augusto em boa posição para contestação

O deslocamento lateral deixa Augusto em boa posição para contestação

Conclusões, por Giancarlo Giampietro
Pudemos conferir no Pan a confirmação daquilo que a Liga ACB espanhola já sabia: Augusto é hoje um dos pivôs mais promissores que você vai encontrar por aí. Isso tem muito a ver com seu biótipo e com a energia que leva para a quadra. Ele simplesmente não pára, e dessa forma lembra em muito as características do jovem Anderson Varejão. Características que não devem ser subestimadas de modo algum. Vitor Benite, por razões óbvias, foi o atleta mais badalado do Brasil na campanha do ouro em Toronto, devido a uma exibição impressionante na hora de colocar a bola na cesta. Mas Augusto talvez tenha sido tão ou mais influente em quadra, deixando os pivôs adversários comendo poeira em transição, atacando a bola e fazendo a cobertura na defesa, impondo o caos na tábua ofensiva e se apresentar como essa opção confiável de desafogo para as infiltrações dos armadores, se deslocando de modo perspicaz pelo garrafão. Por ter boas mãos, dá para supor também de que vá se desenvolver gradativamente para se tornar uma ameaça ainda maior no ataque.

Murcia tem novo treinador. Troca pode influenciar no futuro de Augusto?

Murcia tem novo treinador. Troca pode influenciar no futuro de Augusto?

Depois de testemunhar tudo isso, é natural que o torcedor brasileiro já *faça planos* para o pivô. Sonha-se com a NBA, com a Euroliga, e tal. Mas talvez o melhor para Augusto seja continuar no Murcia por uma temporada a mais. Foi lá que ele se encontrou como jogador e lá que progrediu a esse ponto. Ele é simplesmente venerado pela torcida, a ponto de ter sido eleito o jogador mais popular da ACB, e terá todo o tempo de quadra que quiser para se desenvolver. Vale mais jogar como referência de um clube modesto, ou ser apenas mais uma peça num time de maior expressão? Há um fator a se considerar. O Murcia trocou de treinador durante as férias. Saiu Diego Ocampo, um espanhol emergente que fez excelente figura em seu primeiro trabalho como treinador principal após anos e anos como assistente de profissionais renomados. Chegou Fotis Katsikaris, o badalado grego que já fez sucesso dirigindo o Valencia e Bilbao. Augusto estará em boas mãos, mas é preciso saber se a química será a mesma. É o tipo de decisão difícil de se ponderar. O que sabemos, de todo modo, é que o brasileiro está bem encaminhado, com uma atitude excelente dentro e fora de quadra, capaz de levá-lo muuuito longe em sua carreira.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.


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