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Arquivo : Carlos Nunes

A crise e o basquete brasileiro: quem está se mexendo?
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Giancarlo Giampietro

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Nova parceria para a LNB. Lucas, Mineiro, Gruber e Caio reservam assentos

Dois blogs vizinhos aqui na rede do UOL Esporte nos trouxeram na semana passada informações que se completam perfeitamente e nos dão um bom retrato sobre o basquete brasileiro, a menos de cinco meses da disputa das Olimpíadas. No dia 8, Fábio Balassiano publicou entrevista com o presidente da CBB, Carlos Nunes. Dois dias depois, Daniel Brito deu a notícia de que a Caixa Econômica Federal vai investir R$ 32 milhões, divididos em cinco anos, nas ligas masculina (LNB) e feminina (LBF).

Quando Brito divulgou o acerto do banco com as entidades que reúnem os clubes, uma declaração de Nunes ganhou outro contexto, sobre a dificuldade de se captar patrocínios: “Tentamos, tentamos sempre. E a gente não consegue. As empresas alegam que não têm dinheiro e que a exposição da seleção brasileira é muito pequena, pois a seleção se junta em julho e deixa de estar atuando em setembro. Isso, para os patrocinadores, é muito pouco. Mas não desistimos, não”.

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Certo. O mercado está retraído, mesmo. Mas há quem possa atrair investimento – também no dia 10, a LNB ainda anunciou acordo com a Avianca, que vai cuidar do transporte dos atletas em troca de exposição, e também atraiu a parceria da NBA. Outros já têm mais dificuldade, se não for em convênios generosos e de justificativas nebulosas com o Ministério do Esporte.

Antes de prosseguir, alguns pontos:

1) sim, não haveria espaço para a Caixa fechar um contrato com a CBB, que já tem o Bradesco ao seu lado.

2) sim, a Caixa é mais uma estatal que ergue a mão para dar uma força ao esporte nacional. Qual a diferença disso para um repasse do ministério? Bem, há diversos tópicos para separar ambos, sendo o principal deles o fato de a Caixa ser uma empresa. Estatal, mas uma empresa, que espera ter retorno financeiro em sua empreitada. O ministério ajudou e só espera, quiçá, ver uma medalha como resposta. Sabemos, na verdade, que este foi o modo que a pasta encontrou para ajudar a CBB em meio a um naufrágio. É como se fosse um colete salva-vidas. Afinal, como Nunes mesmo constata: dentre tantas confederações olímpicas, só uma não foi acolhida por uma estatal. “Nós, da CBB”, diz. Obviamente que o rolo com a Eletrobrás e a matéria de Lucio de Castro sobre o uso descontrolado de cartão corporativo, entre outras, ajuda a emperrar as coisas e afugentar investidores (aqui, a nota de resposta da confederação). Sobre a disputa com a empresa, Nunes espera que será esclarecido na Justiça e poderia render mais R$ 21 milhões devidos. Ajudaria a quitar as dívidas de sua indigestão. Mas não é dinheiro garantido.

3) sim, LNB/LBF e CBB são entidades diferentes para se investir, claro. As ligas têm seus campeonatos cobrindo quase toda a temporada, enquanto a CBB é, acima de tudo, hoje em dia, uma instituição voltada à política e que sobrevive, do jeito que está, por causa de seus intrincados trâmites.  Nunes reclama também que a seleção brasileira tem “pouca exposição”. Historicamente, a equipe nacional sempre atraiu mais patrocinadores, a ponto de, por aqui, ter se desenvolvido a tese de que só com medalhas internacionais, a modalidade seguiria em frente – conquistas despertariam interesse e aí, sim, direcionaria a grana para o mercado local. Será? Não creio que o ouro do Pan de Toronto tenha motivado três acordos comerciais expressivos para a LNB. Mais: “exposição” não é algo que dependa exclusivamente do calendário de competições. E, mesmo quando reúne seu time, a confederação fracassa em promovê-la, com jogadores de NBA ou não, com um marketing praticamente inoperante, como o próprio presidente admite.

Tá. E o que mais?

Se há crise econômica no país, porém, ela atinge tudo e todos, e não somente o basquete, ou uma ou outra instituição basqueteira. Não adianta se colocar na vítima, que é o que Nunes mais faz em sua entrevista, cheia de evasivas. É um festival do “não sei”. Não sabe explicar a situação financeira e nem dizer qual o tamanho da dívida da CBB. Não quer falar sobre as denúncias de mau uso de dinheiro de patrocínio. Confunde-se ao falar sobre a ação movida pela Eletrobras. Não sabe dizer exatamente como está a preparação das equipes – no técnico ele “não mexe”. Peraí: mexe, então, exatamente no quê? OK, a entrevista não era algo que ele tinha planos. Para alguém que está há tanto tempo no cargo, todavia, esperava-se mais preparo.

É com um líder desses que as seleções masculina e feminina vão chegar ao Rio 2016. Nesse cenário, não me parece justo o presidente cogitar a hipótese de medalha entre os rapazes. Está certo que os problemas da confederação não atingem diretamente esse grupo. O ministério deu conta de suas despesas nos últimos anos, sem muito critério para assinar o cheque. Então Rubén Magnano pode trabalhar com vasta comissão técnica, incluindo excelentes preparadores físicos (é só dar uma espiada no trabalho de Paulistano e Flamengo nos últimos NBBs) e profissionais. Vão poder jogar amistosos e tal. E a base da equipe será formada por atletas que construíram carreira basicamente fora do país – não que não pudessem crescer por aqui, mas só é preciso registrar o fato.

O problema é o futuro e qual o papel da CBB nele. Quando questionado sobre o que vem por aí, com a aposentadoria inevitável de toda uma geração, Nunes também não foi capaz de se aprofundar. “Acho que trabalhando não vamos sentir tanto. Olha aí o Raulzinho indo muito bem. Há o Caboclo, o Lucas Bebê, o Hettsheimeir que é jovem. Temos munição guardada ainda. O que acho que irá pesar mesmo, para lhe ser sincero, é se teremos grana para fazer o trabalho na base. Isso aí é que estamos muito esperançosos, pois o Governo Federal está muito interessado nisso. Agora mesmo nos liberou o convênio da feminina. Já saiu o da masculina”, afirma.

Obs1: Hettsheimeir tem 29 anos, é só um ano e meio mais jovem que Splitter. Obs2: vamos ver sempre dirigentes nacionais citando os mesmos nomes de sempre (Caboclo, Bebê…), mesmo que estes jogadores ainda busquem estejam sob teste, tentando se afirmar, e que a CBB não tenha absolutamente nada com o desenvolvimento da maioria deles. Obs3: de novo, o Governo… Sendo que é a mesma administração que passa por um período de turbulência severa, e não sabemos se continuará de pé até o final do ano.  Não é a melhor fonte, no momento, para falar sobre projetos, hã, futuros. Obs4: a eleição da CBB está marcada para 2017, e não há nenhum candidato declarado que prometa grandes mudanças.

As Olimpíadas já chegaram, e vai ser pauleira. Tudo bem. O problema é pensar lá na frente, com as ligas nacionais carregando maiores responsabilidades, sem um respaldo confiável por parte de quem supostamente deveria zelar pela modalidade.


A sete meses dos Jogos, CBB apela ao autoritarismo e constrange jogadoras
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Giancarlo Giampietro

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Post atualizado às 12h15.

Vocês já devem ter visto aqui no UOL Esporte, creio: a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) extrapolou qualquer limite de bom senso e lucidez ao dar um jeito para que a Justiça Desportiva intime as sete jogadoras – e seus clubes – que se recusaram a participar de evento-teste olímpico no Rio de Janeiro no final de semana passado. Por que a negativa? É que as atletas (em tese) e suas equipes defendem uma reformulação no departamento técnico da entidade.  O mesmo que não conseguiu conduzir nenhuma seleção feminina sequer ao grupo das oito melhores nas últimas duas Oimpíadas e Copas. Chocante, não?

Quer dizer: a (indi)gestão de Carlos Nunes agora não se mostra intransigente apenas para defender sua incompetência. Também deu para ser opressiva e autoritária, adotando medidas de um regime ditatorial que caça aqueles que manifestam descontentamento com o que acontece por aí.

Exagero?

Só se seus dirigentes realmente acreditarem que a recusa de uma convocação merece ser tratada como questão judicial. Por que diabos uma jogadora de basquete precisa ir ao tapetão para justificar que não quer defender a seleção brasileira? Os motivos independem. Isso não é guerra, caceta.

(Aos reacionários de plantão, não me venham dizer que se trata de um “dever”. Pelo contrário: deveria ser um prazer jogar basquete, ainda mais pela seleção. Mas chega uma hora em que alguém precisa bater o pé e peitar uma entidade que só pratica desmandos.)

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“A CBB vai seguir dentro das leis, respeitar todos os regulamentos e fazê-los cumprir. Existe uma hierarquia na modalidade como em todo o esporte e essa hierarquia será respeitada”, afirmou a entidade em nota endereçada ao UOL Esporte.

Um inquérito aberto

Um inquérito aberto

Leis? Uma convocação agora é lei?

Hierarquia? Que hierarquia respeitável é essa a de uma entidade que depende desesperadamente da coleta de dinheiro público ano a ano para sobreviver? Que autoridade tem um órgão desses para querer se impor com truculência, constrangendo “rebeldes” com uma intimação absurda para depoimento?

Além de truculenta, é uma atitude covarde a da CBB, que, aparentemente, só se enerva contra os mais fracos. E, por “fraqueza”, só escrevo aqui no sentido político:  Adrianinha, Tainá Paixão e Tati Pacheco (América de Recife), Gilmara e Joice (Americana/Corinthians), Jaqueline e Tássia (Santo André).

Vamos voltar um pouquinho no tempo só, para 2013.

Fico aqui pensando se Vanderlei – que é chapinha de muitos dos selecionáveis e, mais importante, muito próximo a alguns de seus agentes – chegou a cogitar o mesmo tipo de ação contra aqueles que pediram dispensa e tanto frustraram Rubén Magnano, o argentino que é seu principal e talvez único trunfo dentro do departamento técnico.

Veja bem: não é que os jogadores que não se apresentaram para jogar a Copa América merecessem a intimação. Evidentemente que não. Mas a ideologia da CBB teria mudado tanto assim em dois anos e meio? Ah, mas eles estavam cansados, lesionados ou sem contrato. Não importa: ninguém é obrigado a aceitar uma convocação. Cada um tem seus motivos. E, no caso das sete que ficaram fora, fato é que a causa é maior: elas estão dizendo “não” agora para poderem sorrir (“sim, sim, sim”) lá na frente. É um posicionamento político – algo que, em nosso país, infelizmente, ainda pode ser encarado por muita gente como crime ou baderna.

“Existem leis a serem cumpridas e vamos até o fim para que as jogadoras se apresentem. Caso contrário, imagino até que possam sofrer punições. Este é um evento que é tratado com prioridade pela CBB. Não vamos aceitar que não se apresentem por causa de um movimento político”, afirmou Vanderlei ao UOL Esporte.

Sinceramente, não há como responder a uma declaração destas. Pelo menos não quando confrontada com os pedidos da oposição. Mas é o modo que o diretor e seu presidente encontram para se defender de problemas conhecidos por qualquer pessoa ligada ao basquete nacional. Se você não tem resultados práticos para apresentar, vai na porrada, mesmo.

“Tudo está pronto para a Olimpíada”, diz Carlos Nunes, beirando a insanidade. “Esta situação (de manifestação dos clubes) não deveria existir. Deveríamos nos preocupar com outras coisas. Seleção é seleção. Se os clubes querem fazer movimento político, que alguém se candidate à presidência da CBB em 2017”, completou.

Também imagino que a turma do “deixa disso, pelo menos por enquanto, pois Olimpíada é Olimpíada” também tenha muitos integrantes, defendendo a tese de que os descontentes demoraram muito para se organizar e que não é hora para discutir.

Eu diria que é o contrário também: que aqueles que decidiram boicotar o evento-teste estão se preocupando exatamente com aquilo que deve ser discutido. Que um quinto lugar ou um pódio no Rio 2016 não significam nada diante da crise alarmante que vive sua entidade. E que, pela iminência do grande evento em que a CBB fará as vezes de anfitriã para a elite mundial da modalidade, a pressão está em cima deles, e, não, das jogadoras. A proximidade dos Jogos tende a deixar a entidade encurralada. É a hora exata para pressionar e exigir, tal como fizeram os argentinos.

A primeira pergunta que fica agora é até onde as partes estão dispostas a ir. As jogadoras estão mesmo dispostas a abrir mão de um sonho carioca olímpico? Elas teriam apoio de mais compatriotas? Atualização: Pelo visto, a julgar pelas declarações de Ricardo Molina, presidente do Corinthians/Americana, não é bem o caso. Um dos líderes do movimento de oposição, ele diz que a “CBB ganhou o jogo”. Existe a sensação de que as jogadoras estarão todas disponíveis para a próxima e cobiçada convocação de Barbosa. E a melhor jogadora do país não está nem aí também.

A segunda dizia respeito aos rapazes. Os jogadores da seleção masculina poderiam se solidarizar? Só se tivesse uma causa consistente e que durasse até o Rio 2016. Ministério e patrocinadores, que pagam a conta, também estão convidados a opinar…

Na temporada em que a LBF (Liga de Basquete Feminino) ganhou o apoio e parceria da LNB (Liga Nacional de Basquete), a CBB, em vez de dar seu apoio – se não financeiro, já que está virtualmente falida, mas ao menos institucional – se distancia. Agora se vê em guerra justamente com a modalidade que lhe deu as últimas glórias em competições de primeira linha, aquela que era candidata perene por mais de uma década ao pódio olímpico e  já foi motivo de orgulho e politicagem da cartolada nacional. Algo que não surpreende, convenhamos. Mas que deixa essa intimação judicial ainda mais repugnante.

Atualização: a assessoria da CBB entrou em contato com este blogueiro para esclarecer que a entidade não tem ligação alguma com a intimação e que o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) tem total independência em sua tomada de decisões. O tribunal simplesmente teria acolhido denúncias – ou dicas, digamos – de “pessoas ligadas ao basquete” para convocar as jogadoras para prestar depoimento. Os clubes, que teriam “coagido” as atletas a encampar o boicote,  também estão notificados. E a CBB também assegura que nenhuma jogadora será punida – pudera, também: desde quando a seleção feminina dispõe de mão-de-obra volumosa para descartar atletas?

Sobre a alegada independência do tribunal, melhor ler esta matéria aqui assinada por Lúcio de Castro: Paulo Schmitt, procurador-geral do STJD do Futebol, também é consultor jurídico da (indi)gestão de Carlos Nunes. Ele ganha milhões com o basquete brasileiro.


Sumido dos ginásios, de mudança, Magnano reaparece em entrevista. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

A LDB se encerrou nesta terça-feira, em Fortaleza, com o Basquete Cearense sendo campeão, e nada. Ainda pelo mesmo campeonato, foram realizados, na semana passada, dois quadrangulares em São Paulo, e ninguém viu também. Durante transmissões do NBB e da Liga das Américas, nenhuma câmera conseguiu registrar sua presença também.

Rubén Magnano, o treinador da seleção brasileira, está sumido dos ginásios e também andava desaparecido do noticiário. Ao menos agora reaparece para quebrar o silêncio em entrevista para o site da CBB, para explicar o que anda fazendo até chegar o momento de bolar duas convocações para uma Copa América/Pré-Olímpico e o Pan de Toronto.

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Segundo a assessoria da confederação, Magnano compareceu a alguns jogos em São Paulo, sim, no ano passado e tem acompanhado tudo de casa pela TV e também por um programa que lhe permite assistir a todas ligas – muito provavelmente o Synergy. “Felizmente hoje temos à disposição na internet praticamente todos os jogos da Liga de Desenvolvimento e da Liga Nacional. Temos na CBB um programa que nos permite estar muito perto dos nossos jogadores nas ligas pelo mundo”, disse o treinador.

OK, isso é ótimo. Mas, ao mesmo tempo, não passa de dever da profissão, né? E mais: acredito que 10 a cada 10 scouts/técnicos/dirigentes vão dizer que nada substitui a experiência de ver uma partida in loco. Daí o estranhamento por esse chá de sumiço. Até porque Magnano, sabemos, é um junkie de basquete. “Não sei qual o contrato dele com a CBB, mas acho que é um cara que acrescentaria um técnico desse nível assistir ao nosso All-Star Game. Valorizaria o evento”, disse Guerrinha, comandante do Bauru e ex-assistente da seleção, ao VinteUm.

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Muita gente foi ao Pedrocão para ver o Jogo das Estrelas

Detalhe: ao site da CBB, Magnano afirma que vai viajar aos Estados Unidos em abril para falar com a legião nacional da NBA. Esse é um assunto interessante que vale uma abordagem mais detalhada mais adiante. Só fica o registro: a liga americana vai se encerrar em maio para a maioria dos brasileiros que lá estão. Vale a pena mesmo conversar eles de modo antecipado, sem saber o que vai acontecer adiante? Enfim, sigamos em frente. E por que a distinção? Por que a turma em atividade nos Estados Unidos (e Toronto) precisa de um bate-papo, e quem está no interior paulista ou Brasil afora não? Já se sabe absolutamente tudo sobre quem está em quadras nacionais? O que eles estejam sentindo não importa?

“Aqui está a maioria dos jogadores que vai trabalhar com ele, para trocar uma ideia”, afirma Guerrinha. “Também sinto falta dos assistentes dele. É muito importante essa troca. Pois também haveria o diálogo com os treinadores, para saber sobre o que está acontecendo, perguntar sobre o Ricardo, o que estou achando do Alex etc. Ninguém fala nada, ninguém conversa nada.”

Ex-treinador principal da seleção, hoje em Franca, Lula Ferreira foi um pouco mais diplomático quando questionado sobre o assunto: “Para poder emitir uma opinião, eu teria de saber o motivo de ele não ter vindo (ao Jogo das Estrelas). Claro que, analisando teoricamente, você espera que num evento desses ou em jogos do NBB, por ser uma pessoa de peso que pode ajudar no crescimento, como tem ajudado. Mas eu não posso julgar sem saber o motivo. Seria leviano da minha parte”.

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

Do seu lado, a CBB dá a entender que esse período de distanciamento em específico tem a ver com a mudança do argentino para o Rio de Janeiro. Em sua entrevista, o técnico afirma que estava em seu país natal até dias atrás. “Eu vim na semana passada da Argentina, cheguei em São Paulo, peguei o carro e vim para o Rio”, afirmou. Aliás, o presidente da CBB, Carlos Nunes, disse à colega Karla Torralba, aqui do UOL Esporte, que essa mesma mudança seria um entrave para a participação do treinador nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Em julho, no caso – meio longinho, não? Ao site da confederação, Magnano dá uma resposta mais plausível, claro. “Hoje, infelizmente, não tenho como falar onde vou estar, dizer o que vai acontecer com a comissão técnica. A possibilidade é grande de eu não ir ao Pan porque bate com as datas de treinos para o Pré-Olímpico. Mas não posso afirmar porque depois posso ter de desdizer. Essa situação de não ter resposta pode mudar muito nossa maneira de encarar cada torneio. Minha ideia é levar a melhor equipe em cada um. No momento que um torneio bate com a preparação de outro você precisa montar times diferente.”

Para quem não está por dentro, vale o esclarecimento: a CBB ainda nem sabe direito como planejar a vida de suas seleções masculinas para esta temporada, uma vez que a Fiba faz um interessantíssimo jogo duro com a confederação. E aí: vai ter vaga olímpica direta, ou não? A lógica diz que sim: se até a Grã-Bretanha ganhou, por que o Brasil, quinto em Londres 2012, não levaria? O problema, meus amigos, é que há claramente coisas pendentes no bastidor, ainda mais depois que o time de Magnano dependeu de um favor/convite/venda por parte da entidade internacional para evitar um vexame de apenas assistir ao Mundial da Espanha. Aí, sim, da TV, mesmo.

Essa pendenga, porém, não influencia, ou não deveria influenciar no afastamento de Magnano dos ginásios brasileiro. Nem mesmo a mudança, creio. Sabemos que essa história de empacotar as coisas torra a paciência, com todos os detalhes e os cuidados a serem tomados. A correria. Ainda mais quando você está saindo de uma cidade para a outra, e organizando as coisas de um país diferente. Porém, é de se perguntar o quanto demorou tal trâmite. Questão de meses?

Outro ponto que merece o debate: por mais que a confederação esteja sediada no Rio de Janeiro, não seria mais produtivo que o técnico permanecesse em São Paulo, cidade que tem três clubes do NBB e está muito mais próxima de outras tantas no interior do estado? “Quando vim para o Brasil decidi ficar em São Paulo porque era mais conveniente”, diz Magnano.

Agora, ao que parece, a conveniência mudou de lado. “Foi uma decisão (a de mudar-se pessoal combinada com a CBB, focada basicamente em nossas necessidades futuras. Hoje é necessário estar mais perto da CBB e do COB. Tenho um calendário de palestras com o COB muito interessante.”

Palestras com o COB? Epa. Não custa lembrar que é o comitê olímpico nacional que paga o salário do argentino. E não paga pouco. Quer dizer… Há uma gama de interesses aqui a serem atendidos. Como se fosse uma dívida, mesmo. Mas tudo bem: dependendo da agenda do argentino, sobra mais que o tempo necessário para acompanhar a temporada nacional, que já entrou em sua fase decisiva.

Na hora de falar está se passando em quadra, Magnano foi bastante genérico em suas respostas. Da turma da NBA: “Infelizmente o Anderson Varejão se machucou. Havia feito uma Copa do Mundo muito boa. Nenê está jogando em um nível bom. Tiago Splitter voltou bem. Leandrinho não começou bem, mas já melhorou muito”. Do que temos na Europa, registrou que “Augusto Lima está fazendo uma grande Liga ACB na Espanha eRaulzinho e Rafael Luz também” – Augusto já era um dos melhores pivôs da Espanha na temporada passada, diga-se. “E o Marcelinho Huertas é o armador do Barcelona. A equipe está com altos e baixos, mas ele continua sendo o armador de uma grande equipe”, completou, sem dizer que o brasileiro, no momento, perdeu o posto de titular para o jovem tcheco Tomas Satoransky.

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, certo?

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, lesionado, certo?

Sobre a garotada da LDB ou os mais jovens em geral, o argentino se entusiasmou mais um pouco em sua explanação:” Temos muitos jovens fazendo bons trabalhos. O Davi (Rossetto), do Basquete Cearense, é o garoto que mais evoluiu. É um exemplo para muitos jovens que, com trabalho, você consegue chegar ou ficar perto das suas metas. (Henrique), Coelho, do Minas. Gostei muito do que está fazendo nos últimos 50 dias o Cristiano Felício. Melhorou muito. Também tem o Lucas Mariano, Leo Meindl, Ricardo Fischer. O Sualison (Tavares, também do Basquete Cearense) também vem bem. E não podemos esquecer do Bruno Caboclo. Um jogador de futuro na Seleção. Pena que não está jogando tudo que eu gostaria por conta dos poucos minutos em quadra”.

Na hora de abordar os veteranos em atividade no NBB, foi mais evasivo. Disse que “Marquinhos está fazendo um trabalho interessante”. Até aí é o mesmo que dissermos que o Corinthians do Tite “tem defendido bem”. Qual a novidade? O mais preocupante, contudo, foi mencionar logo depois que “Marcelinho Machado “segue como um grande arremessador de três”. Sim, o cara é o bicampeão do torneio de chutes de longa distância, por sinal.

Mas… hã… Estaria o treinador pensando seriamente em mais uma convocação para o veterano ala, hoje reserva flamenguista? De novo: nada contra o camisa 4 num âmbito pessoal, mas levá-lo para mais um torneio não seria uma perda de tempo valioso no desenvolvimento de novas opções, dois anos depois de o veterano ter anunciado que se aposentaria da seleção (só para ser convencido a retornar na temporada passada, depois de ganhar o prêmio de MVP do Final Four da Liga das Américas)?

Para ser justo, Magnano talvez esteja apenas citando um fato corriqueiro para dizer que tem acompanhado as coisas. Ou pode dar a entender também de que as coisas não mudaram tanto assim de um ano para o outro. E, se for essa última alternativa, aí acho que temos um problema. Afinal, a tabela do NBB mostra algumas boas surpresas na parte de cima, assim como o Jogo das Estrelas também já ofereceu alguns nomes um pouco diferentes dos habituais. Nada disso valeria uma citação?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia ver mais de perto?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia vê-lo mais de perto?

De qualquer forma, há mais uma possibilidade que pode atenuar um eventual julgamento precipitado: o argentino obviamente não nasceu ontem e provavelmente não entregaria nenhuma bomba em uma entrevista ao veículo oficial da entidade, assim tão cedo, em março, para não interferir no desempenho de um alvo, digamos, alternativo. Aquela coisa de não mexer na cabeça de jogador e também para não alertar os adversários. Ainda mais se o Brasil tiver de jogar por uma vaga olímpica.

Felício, Fischer, Meindl e Mariano, convenhamos, não são mais segredo para ninguém, nem mesmo para o treinador que já os havia chamado para compor elenco de grupo em jornadas anteriores. Assim como Caboclo, já com seleo NBA. A menção a Coelho e a Davi, por outro lado, é algo que já anima um pouco mais. Não só pelo fato de o os armadores estarem fazendo uma ótima temporada, mas por serem caras que ainda não foram incluídos em nenhuma lista de seleção até aqui – se merecem, ou não, uma vaga, essa é outra discussão, que valeria outro texto, mais trocentas palavras. Os dois seriam de fato novidades e uma prova de que, mesmo distante, o argentino estaria antenado.

Precisa estar, mesmo: num piscar de olhos, a temporada dos clubes vai estar encerrada, e será o momento de anunciar as convocações. Fazer uma lista podendo chamar a cavalaria da NBA é algo relativamente fácil. Quando os caras não se apresentam, porém, pode dar num vexame como o da Copa América de 2013 – formando uma equipe sem equilíbrio nenhum e da qual, de modo absurdo, Magnano procurou se distanciar, lavando as mãos, acusando falta de talento.

Com seu currículo e salário elevado, esperava-se muito mais. Ao menos foi o que o VinteUm cobrou insistentemente na época, sem cair nessa de que só dá para montar uma boa seleção com Splitter & Cia. Isso tudo, claro, pode ser debatido tranquilamente. A ausência do argentino dos ginásios e principais eventos já é outra história. Com o Final Four da Liga das Américas programado para o fim de semana, se apresenta uma chance para retomar o contato com o basquete nacional. E olha que está fácil: os jogos serão disputados no Rio de Janeiro.


Depois da eliminação, as pérolas de Carlos Nunes
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Giancarlo Giampietro

"Aqui não é futebol", afirma Carlos Nunes. E...?

“Aqui não é futebol”, afirma Carlos Nunes. E…?

Carlos Nunes ataca novamente! Numa rara aparição pública, o presidente da CBB topou falar ao GloboEsporte.com depois da eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo. Suas respostas, para manter a coerência, beiram ou atravessam a linha do trágica. Um ou outra resposta você entende de onde saem: Nunes é um político e vai falar como tal, na pior acepção da palavra. Vai distorcer fatos, ignorar os percalços gerais de sua administração e encher a boca para garantir uma série de coisas que estão fora de sua alçada. A não ser que ele resolva endividar ainda mais a confederação, pegar empréstimos, passar o chapéu em Brasília de novo e de novo para assinar cheques de um milhão de euros para fazer valer qualquer discurso. Aí, meus amigos, até eu. Então, sem mais delongas, aqui estão as declarações para o repórter Fábio Leme seguidas de comentários:

País-sede vai ter de disputar vaga olímpica?
“Estamos absolutamente tranquilos. O Brasil, como país-sede das Olimpíadas, não vai ter basquete? Isso não existe. Evidente que há uma especulação, pois o regulamento é omisso nesse assunto, mas não tenho dúvida. Veja só nas Olimpíadas de Londres quem participou? Não foi a Inglaterra, foi a Grã-Bretanha, e o time deles não chega nem aos pés do nosso, com o perdão da expressão.”
>> Comentário: e quanto foi Brasil x Grã-Bretanha nas últimas Olimpíadas? Só 67 a 62? Ah, tá… Agora, sim, todos sabemos que o Brasil tem mais tradição que os britânicos nessa brincadeira toda, tem mais jogadores disponíveis, mercado etc. Só não dá para alguém intelectualmente honesto se referir ao atual basquete brasileiro com essa soberba toda. Simplesmente não dá: pelo que a CBB faz, não cabe expressão espirituosa nenhuma. Além do mais, não sei se o presidente sabe, a Inglaterra não disputa os Jogos Olímpicos, mesmo. Nem no futebol, em que os inventores do esporte dividiram time com galeses e vizinhos.

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Calendário 2015: Pan + Copa América
“Eu acho que temos equipe para cumprir os dois eventos. Não vamos com a equipe A nos dois, vamos fazer uma mescla. Estamos avaliando qual a nossa prioridade agora, mas, a princípio, é o Pan-Americano, porque a vaga olímpica nós temos, apesar de a Fiba nunca ter dado essa segurança. No Pan, nós não vamos com os jogadores da NBA, mas vamos com uma equipe forte, com o objetivo de ganhar medalha. Acho que não teremos problemas para ter os atletas que atuam no basquete europeu. Isso tudo vai ser discutido pelo departamento técnico, eu estou dando as informações de algo que discutimos mais ou menos. No Pré-Olímpico, nós vamos com os da NBA.”
>> Discutir “mais ou menos” não é a cara da CBB? Mas tudo bem, né? Está cedo para fazer plano para o ano que vem. Acabamos de jogar um Mundial, gente. Vamos deixar de chatice. Deixa primeiro aproveitar o resto da estadia em Madri. O futuro fica para amanhã. De longo prazo, só vive gente séria. Além do mais, obviamente que o Brasil tem dois times fortes para disputar medalhas o tempo todo. Como a Copa América do ano passado comprovou, com as derrotas para Jamaica e Uruguai. Da mesma forma em que ocorreu no Pan de Guadalajara 2011, em que ficou fora das semifinais. O fato até agora é um só: quando Rubén Magnano não teve nenhum representante da NBA em seu time, se lascou.

E tem mais: Carlos Nunes por acaso sabe quem são os atletas brasileiros hoje na Europa? Vamos contar: Huertas, Rafael Luz, Raulzinho, Augusto, JP Batista, Tavernari e quem mais? De repente ele esteja se referindo aos meninos de 1996 (Daniel Bordignon, do Baskonia) ou mesmo de 1998 (Felipe dos Anjos, o espigão do Real Madrid, ou Gabriel Galvanini, do Fuenlabrada)? Pode ser.

Lembrando que a seleção brasileira de base europeia, junto com os veteranos de sempre do NBB, foi a que naufragou na Copa América. Em 2011, no Pré-Olímpico em que o Brasil derrotou a Argentina, sabe quantos de NBA estavam lá? Só Splitter. Então como ele pode garantir que todos estarão no ano que vem? Isso representaria três anos seguidos de convocação desses caras, que já não são os mais jovens do mercado. Como eles chegarão ao Rio 2016? Enfim, há muito o que ser discutido, especulado. Mas depois a gente fala mais a respeito.

Quando o dever com o COB te chama
“Quanto ao Pan-Americano, nós também queremos medalha, até porque o COB está nos dando um apoio muito grande. Então, nós temos que honrar esse apoio conseguindo uma medalha no Pan.”
>> O repórter traz uma informação que desconhecia (se estava amplamente divulgado, podem me espezinhar): a de que o Comitê Olímpico Brasileiro está bancando o salário da comissão técnica da seleção. Ajuda providencial, depois dos R$ 3 milhões que gastamos apenas para entrar no Mundial a “convite” – sem contar a grana torrada com a delegação de 2013, no fiasco que foi a campanha na Venezuela. Aí a CBB se vê de mãos atadas: se a Fiba por um acaso optar por ferrar o basquete brasileiro e deixar o país-sede sem vaga olímpica definida, como faz? Vai jogar com dois times “fortes” no Pan e Pré-Olímpico? Em tempo: sinceramente, acho possível ter duas equipes competitivas, mesmo só com atletas do NBB. Desde quem bem preparados. Infelizmente não aconteceu nas últimas oportunidades, com críticas cabíveis ao trabalho do argentino, que simplesmente lavou as mãos e afirmou que, sem os melhores, não havia o que se fazer.

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

A derrota para a Sérvia e a Copa em geral
“Nós não precisávamos de um resultado acachapante como foi, no caso mais de 30 pontos, mas, no total da campanha, foi ótimo. Quebramos um tabu, recuperamos a hegemonia sul-americana diante de nosso mais assíduo inimigo, comprovamos ter um time forte e ganhamos do campeão europeu. O Brasil mostrou que tem condições. Nosso planejamento está correto, estamos vendo 2016 e seria importantíssimo chegar ao pódio. Nossos atletas demonstraram que têm amor pelo Brasil, pois vieram todos. Da outra vez, não vieram por problemas de saúde ou porque os clubes não liberaram, como foi na Venezuela.”
>> Amor pelo Brasil. Carlos Nunes tem? E ele conversou sobre esse amor com Rubén Magnano quando o argentino saiu disparando para todos os lados, no ano passado? Entendo que o argentino tinha alvos específicos, que deve ter revelado em conversas posteriores aos veteranos, mas vocês se lembram do fuzuê que foi, não? Com Oscar e outros detonando o time, o discurso do treinador serviu como gasolina. As coisas foram contornadas, ainda bem, mas o ponto aqui é: a CBB falha, e muito, em sua comunicação corporativa.

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Rio 2016: pódio?
“A pressão vai ter, sempre vai. Mas a equipe está madura, acho que a pressão não vai influenciar. Nós vamos chegar fortes, aliás, temos de chegar fortes. No nosso país, as Olimpíadas nos exigem uma medalha. Aqui, nosso time deu o recado e essa derrota em nada vai nos abalar. Sempre costumo dizer que aqui não é futebol. Temos um planejamento com o Rubén (Magnano) até 2017 e ele só não vai cumprir se não quiser. Se depender de nós, ele está confirmadíssimo.”
>> De novo o descuido com as palavras: “exige”. A seleção brasileira não tem condição de falar nesses termos. No Mundial, o time estava mais uma vez completo e não conseguiu se posicionar para disputar medalhas, caindo novamente nas quartas. Poderiam ter avançado? Claro que sim. Mas é tudo muito equilibrado e, por consequência, incerto, que não dá para falar em garantias ou exigências. De modo que o basquete em diversos sentidos “é futebol”, sim, com uma penca de times competitivos que sonham com um pódio olímpico. Sobre a CBB ter planejamento e tal, melhor nem comentar. Tou limpando as lágrimas aqui.

Renovação na seleção?
“Essa avaliação quem vai fazer é o Rubén, mas eu entendo que a maioria tem condições de chegar em 2016. Também existem novos valores despontando como o Bebê, o Caboclo e o Faverani, que não pôde vir porque estava machucado. Nós vamos ter uma equipe forte e preparada.”
>> Faverani é um novo valor, que está despontando. Ele, que vai fazer 28 anos em 2016.

 Eu não recebi a informação de que estaríamos garantidos desde que jogássemos com um time forte no Pré-Olímpico mas, se isso for o que a Fiba decidir, nós vamos cumprir


Brasil ganha na raça sua vaga na Copa de basquete. Comemorem!
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Giancarlo Giampietro

Convites Fiba, Mundial, Brasil, Finlândia

Primeiro o post… Hã… Quase sério. Que jornalismo é isso.

Sobre os convites da Fiba para completar sua Copa do Mundo de basquete. Para quem não sabe, deu Brasil na cabeça! Acompanhados de Grécia, Turquia e Finlândia, estamos todos juntos nessa! A Copa é nossa e com brasileiro não há quem possa. Num só dia, derrotamos Alemanha, Canadá, Itália, Rússia e Venezuela.

Aliás, agora precisamos atualizar a contagem. Quem disse que não ganhamos de ninguém nas Américas? Depois de quatro derrotas seguidas no último torneio continental, batemos canadenses e venezuelanos neste sábado. Então a campanha de 2-4 até que não fica tão vexatória assim. Estamos progredindo, no caminho certo.

E, bem, pelo tom dos parágrafos acima, você já pode imaginar como foi despertar com essa fabulosa notícia aqui na base do conglomerado 21, nos cafundós da Vila Bugrão.

Euforia mil!

Que o Brasil tenha ganhado seu convite, com muita persistência, suor e trabalho sério, não chega a ser uma surpresa. Durante a semana, fortíssimos candidatos foram anunciando, um a um, suas desistências. Devem ter tentado negociar com os poderosos da Fiba até a última hora possível, mas terminaram por refugar.

Vejam só: esses sujeitos simplesmente se recusaram a pagar a quantia de R$ 2.660.745,80 (para quem tem dificuldade com os números como eu, aqui vai a tradução: dois milhões + seiscentos e sessenta mil + setecentos e quarenta e cinco reais + oitenta centavos) para a federação internacional. Podiam pagar a merreca de um milhão de francos suíços (o mínimo necessário, segundo o Fábio Aleixo, do Lance!, nos conta) e passaram a vez.  São todos fracos, entreguistas, de visão míope.

Pois todo mundo já está careca de saber: só se constrói uma forte modalidade participando de uma Copa do Mundo. Sem isso, não há como montar uma estrutura de base decente, como popularizar um esporte já popular etc. Esse é o alicerce de tudo, e, por sorte, temos na gestão Carlos Nunes da CBB gente visionária o bastante para dar conta disso.

O Brasil encaminha, assim, seu projeto pujante. E quero ver quem segura.

É taça na raça, Brasil!

*  *  *

Tá, agora da maneira mais direta possível:

1) a CBB está endividada, devendo até as calças no mercado.

2) a Fiba cobrou mais de R$ 2 milhões por uma vaga no Mundial.

3) a China, aquela de PIB de mais e US$ 1 trilhão, multinacionais de material esportiva voltadas quase que exclusivamente para o basquete, mais de 1,3 bilhão de habitantes, pulou fora.

4) Não a CBB. Para manter viva a sequência histórica de participações no Mundial de basquete, a combalida entidade passou o chapéu por aí e conseguiu se bancar (financeiramente, importante que se ressalte mais uma vez, e, não tecnicamente) na competição. De quebra, conta que a fraca memória nacional, daqui a décadas – ou meses, a gente nunca sabe… –, vá olhar para a lista de inscritos do Mundial 2014 e acreditar que e era nada mais lógico que o Brasil ali estivesse, uma vez que nunca havíamos perdido essa. Só o Brail e os Estados Unidos jogaram todas as edições.

5) Faça as contas… E me diga: você vai realmente co-me-mo-rar essa “classificação”? Pagamos R$ 2 milhões para nos livrarmos a cara. De quem é a conta?

6) Na real, a conta não fecha.

*  *  *

Aos pragmáticos: obviamente é importante que o Brasil jogue uma Copa do Mundo de basquete. Assim como os Jogos Olímpicos. Mas uso aqui uma expressão clássica, já surrada de tanto usada, mas que não perde o charme: “tapar o sol com a peneira”. O Brasil joga o Mundial desde sempre, e o impacto financeiro disso para a modalidade não está nada claro, para mim. É um dos itens para levar as coisas adiante? Sem dúvida. Mas já passou do tempo – se é que esse tempo um dia existiu – de que o desempenho da seleção adulta de qualquer esporte seria a principal força motriz para o progresso.

*  *  *

E, por falar em seleção, adulta, já fica a dúvida desde já sobre quem são aqueles que vão se apresentar. Para quem não se recorda, entre a relação (fictícia?) de itens que a Fiba jurouque seriam analisados para definir os quatro convidados, contava algo como “comprometimento de seus principais jogadores com o projeto”. Leia-se: a turma da NBA topa ou não topa?

Será que, no conclave do basquete, realmente se exigiu um comunicado por escrito, com cópia de RG registrada, em que os nossos principais jogadores garantiram presença no Mundial?

E o Rubén Magnano, como está se preparando? Vai nessa de que “só-com-os-que-estão-nos-EUA-temos-alguma-chance”? Está assistindo para valer o NBB para tentar fazer uma convocação mais competente, no caso de precisar ser criativo para fechar o grupo final? Existe algum tipo de ressentimento por parte de nossos jogadores depois das críticas públicas do treinador argentino?

Percebam que, além do disparate financeiro, há diversos pontos técnicos a serem resolvidos.

E se o Brasil for para o Mundial, pagando R$ 2 milhões, e passar mais um vexame? É provável, possível?

Independentemente da resposta – que vai depender muito da lista de perguntas acima –, qualquer que seja o time convocado, a pressão existe desde já.


Em seu momento mais frágil, Magnano reforça ofensiva contra jogadores. Entendam o que quiser…
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Giancarlo Giampietro

(Atualização: 15h50, com declarações ao programa Arena SporTV)

Magnano e Splitter, antes ou depois do churrasco?

Magnano e Splitter em abril nos Estados Unidos: sorrisos

É difícil entender aonde Rubén Magnano quer chegar com tudo isso. Se a meta é atingir um suicídio político – intencional ou não –, está encaminhando as coisas muito bem, obrigado.

Na pior hora possível, depois de conduzir um trabalho lamentável na Copa América, o argentino resolveu contestar, bater de frente com os jogadores que pediram dispensa do torneio continental. Está claro que se sente traído por “três ou quatro” desses atletas, que teriam dito que se apresentariam e, depois, mudaram de posição.

“Nem para elogiar nem para criticar sou uma pessoa que cita nomes. Mas em três ou quatro dispensas, eles haviam falado ‘sim’ para mim. Achava que a presença desses três ou quatro jogadores me dava uma condição de segurança interior, de que poderiam pegar a equipe em suas mãos. Não aconteceu assim, por isso fiquei um pouco abatido com isso. São caras que decepcionaram muito a gente”, afirmou durante o desembarque da seleção em São Paulo.

Ainda de cabeça quente e, principalmente, com o orgulho de campeão olímpico duramente ferido por derrotas que não poderia imaginar de forma alguma, o argentino resolveu que seria de bom tom fazer esse tipo de  ataque no saguão de um aeroporto – e, ainda por cima, sem levar sua ofensiva até as últimas consequências. Digo: se é para continuar colocando o dedo na ferida, que falasse, sim, quem seriam aqueles que julga traidores, em vez de generalizar.

Mas, a despeito do mistério, pudor, cuidado, reserva ou “ética” do treinador, eu, você e toda a torcida do Flamengo sabemos que Tiago Splitter é um desses alvos, se não o principal deles. Afinal, o treinador, mesmo, já havia se dito surpreso com sua ausência. Detesto esse tipo de marketing pessoal, da panca de sabe-tudo, mas, ao ler as declarações do técnico na época, a sensação de estranheza foi enorme. Daí a motivação para escrever este post. Ou este aqui: quando chegou a hora de se desentender também publicamente com Marquinhos.

Não pegou nada bem esse tipo de bate-boca naquela ocasião. Agora, depois do vexame que foi a campanha na Venezuela, repetir esse tipo de discurso é de deixar qualquer um pasmo. Inclusive o próprio Splitter, geralmente muito discreto, mas que se sentiu impelido a redigir uma carta pública para rebater “críticas” sem identificar em quem mirava. Em quem será?

“Alguns falaram que a culpa foi dos jogadores que não foram. Lembro que, quando não estava na minha melhor forma e totalmente no sacrifício, fui criticado por jogar abaixo do que podia. Quando nasceu meu filho, fui diretamente aos treinamentos e passei os primeiros dois meses longe da família. Quando minha irmã estava vivendo seus últimos dias de vida, lá estava eu representando meu país”, escreveu Splitter.

E aí temos este  trecho de abrir os olhos: “Na derrota é onde nos conhecemos melhor e nunca qualquer um de nós apontou o dedo para o outro , ao contrário, nos uníamos mais ainda”.

Mensagem recebida.

Anderson Varejão, divulgando seu comunicado em pílulas de 140 caracteres no Twitter, foi um pouco mais brando em sua intervenção. Recuperando-se de uma embolia pulmonar e de mais uma lesão gravíssima, suponho que não era uma atitude tão necessária assim. Mas lá foi ele se justificar. Em sua explanação, contudo, não só contemporizou, como defendeu a continuidade do trabalho. “O momento é de reflexão, de pensar o que se pode tirar de lições dessa campanha ruim e olhar para frente, seguir trabalhando. O Brasil vinha crescendo e esse resultado não pode interromper nossa evolução”, escreveu. “Não pode interromper” é o ponto-chave aqui, atentem.

De qualquer forma, Varejão falou isso ontem. E foi hoje que Magnano veio com sua marreta em punho. Que tipo de situação ele esperava criar com estes comentários? Direcionar as críticas ao seu trabalho para aqueles que não se apresentaram? Está tentando jogar lenha na fogueira para incentivar sua demissão? Ou simplesmente se atrapalha todo quando o momento requer um mínimo de cuidado político?

Sinceramente, difícil julgar agora. Ainda mais quando, na mesma entrevista no saguão de um aeroporto, Magnano afirmou o seguinte:  “Não adianta rancor, a seleção brasileira está acima de todos nós. Não tenho nenhum problema com eles, não temos que criar muito mais polêmica. Temos que trabalhar sobre isso e buscar uma maneira dos jogadores se comprometerem mais. São caras que ainda vão representar em muitas ocasiões a seleção brasileira”.

E quem entende uma coisa dessas? Esse morde e assopra: primeiro detona os caras e, depois, como que se a vida seguisse normalmente, fala em “trabalhar sobre isso e buscar maneiras”, que “não adianta criar muito mais polêmica”. Que loucura. E mais: sabe aquele papo de que não cita nomes e tal? Leiam esta declaração: “Sabia que seria difícil de alguns jogadores que convoquei virem, como o Leandrinho. Fisicamente seria muito difícil ir à competição, mas ele ainda tentou. A convocação foi para que os caras falem ‘não’ e expliquem isso também, porque não iriam”. Hã… O que ele acabou de fazer?

Em meio a essa saraivada, o diretor de seleções Vanderlei não emite nenhum comunicado sequer, não chama a responsabilidade. Muito menos o Carlos Nunes, o presidente Carlinhos da CBB, o mais fiel partidário daquela boa e velha tática da raposa política que só aparece para falar nas vitórias.

Mas não é de se estranhar: numa terra de cegos, Magnano, com seu histórico, fez o que bem entendeu na administração da seleção durante anos e anos, sem tem com quem debater ou quem o controlasse. Por que agora seria diferente?

O problema é que, na sua intempérie e em seu discurso incoerente (ou não…),  o treinador, um cara digno, competente, dos melhores no ramo, derrama mais um balde de óleo numa situação pronta para fritura.

Atualização: Em participação inócua no programa Arena SporTV, Carlos Nunes ao menos afirmou que Magnano segue na seleção até 2016 – e, se quiser, ainda mais. Esqueceu-se que não tem mandato eterno no cargo. De qualquer forma, mesmo que não do modo mais firme, garantiu que não vai ter demissão. Antes, em entrevista gravada, quando questionado se havia pensado em sair, o argentino arregalou os olhos, meio que indicando: “Jamais”. E aí lembrou então o seguinte ditado: “O que não te mata, te endurece”… Quando perguntado se há chance de jogar por medalha no Rio 2016, disse: “Se o Brasil fizer um trabalho mediano e se houver um comprometimento importante, o time tem condições de brigar por medalha”.

Conclusão: que esteja mantido no cargo é uma rara decisão sensata da atual gestão da CBB – mas isso não serve, não pode servir como que estejam assinando embaixo de tudo o que o treinador fez e tem feito. O fiasco esportivo na Copa América não pode ser ignorado de modo algum.

Sobre o fator NBA: obviamente apenas com a equipe completa que a seleção terá chance de brigar por resultados expressivos no futuro imediato. Transferir, porém, toda a responsabilidade para o comprometimento – ou amor – destes atletas ao país não pega nada bem. Aliás, lembremos: em 2011 a vaga olímpica foi conquistada com o vice-campeonato na Copa América, e, de diferente, lá estavam apenas Tiago Splitter (arrebentado e fora de forma), Marquinhos e Marcelinho Machado.

Não obstante, fica ainda mais deslocada sua ofensiva contra os jogadores. Se eles são tão fundamentais assim, Magnano vai precisar de um esforço diplomático nos próximos meses e temporadas com a mesma energia e verve que gastou nas últimas 48 horas, quando partiu para o ataque.

*  *  *

Em seu rompante, Magnano também cometeu um equívoco, ou, no mínimo, uma injustiça histórica ao falar sobre como era mais fácil contar com seus principais jogadores na época de Argentina. Não dá para comparar uma coisa com a outra – e não só pelo distanciamento de 10, 14 anos atrás. “Tive a felicidade treinando a Argentina de, em quatro anos, não ter nenhum pedido de dispensa. Aqui você vê que é muito difícil, temos que trabalhar muito para criar uma consciência de seleção, um orgulho”, afirmou.

Só faltou completar que, no ciclo que o consagrou como campeão olímpico, na base Argentina apenas Manu Ginóbili estava na NBA, tendo chegado ao San Antonio Spurs em 2005. Andrés Nocioni e Carlos Delfino? Fecharam com Chicago Bulls e Detroit Pistons depois dos Jogos de Atenas 2004. Fabricio Oberto se juntou a Manu em 2005. Luis Scola? Assinou com o Houston Rockets apenas em 2007. Por que então eles pediriam dispensa se não havia impedimento algum?

E, lembrem-se: uma vez de contrato assinado nos Estados Unidos, Ginóbili se tornou uma presença bissexta na seleção, assim como Nocioni e, agora, no mais recente caso, Pablo Prigioni.

*  *  *

Fica um registro obrigatório: sem que ninguém divulgasse nada em Caracas, a seleção sofreu com problemas internos de saúde durante a Copa América. “Pouca gente falou nisso [virose], mas nos afetou demais. Isso não é uma desculpa, mas quando um time está em uma situação limite, a ausência de dois ou três jogadores afeta realmente a produção”, disse Magnano. Foi uma crise de virose que abalou, no mínimo, Larry Taylor, Alex, Cristiano Felício e Rafael Luz. Resta saber quantos quilos eles perderam, se estavam febris na hora de ir para quadra etc. E se isso por acaso afetou alguma outra delegação na capital venezuelana.


Jamaica é o auge do vexame que mina principal trunfo político da CBB: Rubén Magnano
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Giancarlo Giampietro

O floater de Huertas

Na Copa América, a seleção atirou tudo para o alto , mesmo. Para ver se caía

Um desempenho surpreendentemente horripilante. Como nunca antes vista na história deste país. Desgovernado, chocantemente desgovernado, o Brasil se despediu nesta terça-feira da Copa América de basquete com quatro derrotas em quatro partidas. A gota da d’água: uma revés pelas mãos da caçulinha Jamaica. Sim, até a Jamaica.

E este é o pior pesadelo para o presidente da CBB, Carlos Nunes. Com uma gestão esculhambada, atolado em dívidas e juros, testemunhou um torneio no qual, além do fracasso como um todo, acabou por expor aquele que é o seu principal trunfo político para  se sustentar no cargo: Rubén Magnano, o campeão olímpico antes inabalável, mas que não foi nada bem nesta temporada com a seleção.

Na última rodada do Grupo B, com o maior drama do mundo e as mesmas deficiências de sempre, os jamaicanos venceram por 78 a 76 e completaram a lista de classificados para a segunda fase ao lado de Porto Rico, Canadá e Uruguai.

Copa do Mundo para os brasileiros agora? Apenas se a Fiba levar em conta os milhõe$ de bra$ileiro$ hipoteticamente intere$$ado$ em ver um Mundial depois de um vexame desse. Além do supo$to argumento econômico que algum gênio do marketing po$$a vender – afinal, o jogo não anda muito rentável por aqui… –, também podem pesar dois outros pontos: o histórico do país na modalidade e o fato de estarmos falando da próxima sede das Olimpíadas.

É o que resta, mesmo: porque, no quesito técnico, esportivo, terminamos a Copa América ao lado do Paraguai como saco de pancada. Foi mais ou menos como se, nas eliminatórias para a Copa (de futebol), terminássemos ao lado da Bolívia e atrás do Peru. E tem gente que ainda acha que a crônica basqueteira pega pesado. Tivesse essa campanha ocorrido nos gramados, muito provavelmente as metrópoles nacionais estariam novamente paradas, (re)tomadas por passeatas.

A seleção brasileira se despediu da competição apresentando um saldo negativo de  pontos e uma média de arremessos de quadra de envergonhar qualquer indigente. Desnecessário detalhar os números. Nada funcionou: nem defesa, muito menos ataque. Já é muito difícil sustentar um time equilibrado se um desses aspectos não vai bem. Quando, em cinco dias de torneio, nossos convocados não conseguem chegar perto da decência em nenhuma das tábuas, o barco afunda, mesmo.

Posto isso, o que fazer agora?

Respirar fundo, ter calma.

Magnano coordenou um trabalho lastimável nas últimas semanas: algo que vinha sido apontado desde a fase de amistosos, mas que, confesso, não esperava que pudesse ficar tão ruim assim num torneio oficial. O time, em vez de progredir, retrocedeu com o passar dos jogos, caindo numa espiral de descontrole, despedaçado, descarrilado. O comandante precisa responder a respeito, com humildade e poder de reflexão: alguém de seu gabarito não pode conseguir bons resultados apenas com a tropa de choque. Esperava-se que, num momento de dificuldade, sua experiência e conhecimentos pudessem fazer um grupo desvalorizado render mais. É por isso, entre outras razões, que ganha uma boa grana.

Agora, na esteira de uma campanha pífia, não se deve esquecer, jogar pela janela o que vinha sendo feito na equipe – evolução defensiva, um jogo relativamente mais solidário, mais vitórias do que derrotas. O argentino, com seu currículo, merece mais chances, bem mais. Seu saldo é positivo. Por outro lado, precisa se fazer muito mais presente nas quadras brasileiras, vendo tudo que é partida – Paulista, NBB, LDB, Sul-Americana, Liga das Américas, mas tudo mesmo. Faltou isso durante a temporada – e, se não faltou, ele deve ter visto os jogos errados. Do contrário, como justificar uma convocação tão desconexa como essa? Quantos jogadores estavam numa pré-lista geral coerente, planejada? Esperava mesmo o treinador que a turma da NBA fosse se apresentar? Foi pego desprevenido? E a diretoria nessa, como fica? Que tipo de controle há sobre suas operações?

A impressão que ficou do último ano é que Magnano foi usado muito mais como um cabo eleitoral do atual presidente da CBB – com viagens para cima e para baixo, “aparições” aqui e ali – do que como alguém da área técnica. E aí chegamos a um ponto crucial, que vai valer toda a atenção para os bastidores.

Com uma situação calamitosa em termos administrativos, devendo até as calças, Carlos Nunes se bancou não só com o corriqueiro jogo de favores em qualquer eleição de confederação brasileira, mas com o suposto êxito esportivo: “Ficamos com o quinto lugar nas Olimpíadas! Voltamos!”. Agora como fica? Provavelmente os presidentes de federações estaduais descontentes vão cair matando. Vai ter gente doida, doida para se livrar do “ar-gen-ti-no”, pedindo cabeças.

Terá jogo de cintura, estofo e personalidade e, mais importante, lealdade o presidente Carlinhos para contornar isso?

Muitos vão falar de Caio, Splitter, Benite, Nenê, Hettsheimeir, Marquinhos, Larry, ausências, baixo nível etc. E até de Jamaica. Mas esta parece a pergunta mais impoirtante a ser respondida nas próximas semanas.


Presidente da CBB se pronuncia, antecipa déficit, revela obsessão pelo imediato e pouca atenção com desenvolvimento
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Giancarlo Giampietro

Alerta!

Entrevista do presidente reeleito da CBB, Carlos Nunes!

Para o próprio site da entidade, claro.

Mas tudo bem. Quando esses caras resolvem falar, é sempre um prato cheio para o blogueiro esfomeado. Dá até para brincar de fazer gabarito com o conteúdo. Vamos lá, então, com atenção aos grifos e comentários:

Presidente da CBB no ano em que a entidade comemora 80 anos
É um cargo honroso e vamos fazer uma grande festa para comemorar essa data marcante para o esporte brasileiro e mundial. Tenho o orgulho de estar no comando da CBB em dois mandatos consecutivos, com o basquete do Brasil participando de duas Olimpíadas seguidas, no masculino e no feminino. Devo tudo isso a um trabalho de equipe e das 27 Federações. A meta é manter o Brasil entre as grandes potências no cenário mundial.

>> Vejam só. Quando você começa uma entrevista tentando se gabar de algo assim – duas Olimpíadas seguidas para o feminino e masculino??? UAU! –, é porque sabe que vem muito mais pela frente. O grande achado da gestão Nunes foi realmente a contratação do ultracompetente Magnano, que conduziu um time muito mais tarimbado de volta a uma arena olímpica, ok. Agora só me ajudem, por favor, a entender em que ponto isso se conecta com a classificação automática para os Jogos do Rio, sendo o Brasil o país-sede? Tou com dor-de-cabeça, e não consigo pensar direito. Sem contar que uma hipotética eliminação da seleção feminina em competições classificatórias seria o maior vexame da história. Próximo tópico:

Metas para os próximos quatro anos
Já tínhamos um planejamento até 2016 e agora daremos continuidade. Temos competições importantes em 2013 como os Mundiais Sub-19 masculino, na República Tcheca, e feminino, na Lituânia. A equipe adulta masculina tem como desafio a Copa América da Venezuela, classificatória para o Mundial da Espanha em 2014. E no feminino, temos o Sul-Americano, que deveria ter sido realizado em 2012, e depois a Copa América do México, que também classificará para o Mundial na Turquia, no próximo ano. Além disso, temos os Campeonatos Brasileiros de base que realizamos em três divisões em todos os estados, com a participação das 27 federações. Esse ano a Copa Brasil Masculina reunirá mais de 40 equipes. Isso é uma demonstração concreta que o basquete brasileiro ressurgiu sendo um produto viável.

>> Resgatei aqui no QG 21 a terceira temporada da tresloucada e bizarramente frenética série americana “Arrested Development”, e estamos a ponto de conhecer melhor o personagem advogado Bob Loblaw, mais uma figurinha impagável. Na pronúncia deles, sempre devagar, propositalmente, sai algo como Bla-Bla-Bla. É o que vemos aqui. A pergunta era sobre metas para os próximos anos, e o presidente me sai descrevendo o calendário de competições de 2013. Qual é exatamente o planejamento da CBB? Perdeu a chance de se explicar. E essa história de a modalidade seguir um produto viável? Até poderia ser, sonhamos. Mas… A realidade nos mostra algumas situações bem contrastantes com essa frase. Se no NBB, temos clubes com salário atrasado, como será que estão as coisas no Brasil profundo do basquete? Veja aqui como anda pujante o eporte no país.

Balanço financeiro 2013
As contas apresentadas na Assembleia foram, de uma maneira geral, muito positivas, pois conseguimos diminuir o déficit de 2012. Fizemos uma contenção de gastos acentuada, com o objetivo de equilibrar os valores. O motivo do déficit foi uma defasagem no patrocínio da Eletrobras. Alguns itens foram glosados, pois o contrato não previa. E por força burocrática, o patrocinador teve que glosar. Essa mudança acarretou em uma perda substancial de quase 4 milhões de reais e resultou em uma dívida do mesmo valor. Mas isso está sendo resolvido. A Eletrobras está renovando o contrato nos próximos dias e abriu mão de ser o patrocinador máster, tendo em vista que reduziu em 50% o valor do contrato. Agora, temos a possibilidade de conseguir um novo parceiro que entrará nas camisas da seleção. Outro fator que precisa ser considerado é que nos primeiros quatro anos precisamos romper a inércia técnica, o que demandou esforços redobrados, inclusive financeiros. Neste novo período, a demanda financeira será menor em face do que já realizamos, o que provocará uma revisão de nossos gastos, certamente para menor. Tudo isso nos deixa a certeza de que em pouco tempo vamos melhorar a situação atual.

>> Haja grifo, gente! Primeiro, uma gafe: se o saldo é negativo, as contas não podem ser “muito positivas”, né? Quer dizer que a CBB conseguiu reduzir seu déficit. Agora falta pagar uns trocados só, algo em torno de R$ 4 milhões. Tem tempo ruim, não. E, claro, não fosse a Eletrobras agir com irresponsabilidade, de anular alguns pagamentos para a confederação, “por força burocrática” – Coff! coff! Leia-se aqui: dinheiro de empresa pública só pode ser investido para patrocinar entidades que não estejam dando calote, se endividando, agindo com austeridade. Agora a confederação tem, claro, a chance de acertar com um novo patrocinador master, mas está todo mundo na espera deste anúncio há um bom tempo – em ciclo olímpico em casa, não deve faltar interessado, mesmo, a questão é o quanto a credibilidade avariada da CBB pode atrapalhar em eventuais negociações. Por fim, Carlos Nunes aponta para a “inércia técnica” que teve de enfrentar. Depois dos anos de trevas de Grego, natural. Se for para excluir a combinação “Rubén + Magnano” da equação, fica difícil de entender bem em que ponto que o departamento técnico avançou. Talvez ele esteja se referindo aos constantes profissionais demitidos por Hortência? Ah! Deve ser isso, mesmo: inércia no comando da seleção feminina nem pensar!

Parcerias com o Ministério do Esporte e Lei de Incentivo
Em 2013, são quase 15 milhões de reais e sete projetos aprovados. Esse valor nos dá um suporte na preparação das seleções brasileiras e é importante frisar que, mesmo com a redução do patrocínio, não iremos sofrer nenhum tipo de problema. As seleções vão começar a trabalhar no prazo estipulado, irão se preparar para os campeonatos normalmente e disputar todas as competições internacionais oficiais ou não da FIBA.

>> Traduzindo: não fosse o aporte do ministério, estaríamos lascados!!!

Federações Filiadas
As federações são o suporte da CBB. Sem o trabalho e o apoio das federações não é possível fazer uma administração do basquete brasileiro. Por meio das seleções estaduais que participam dos Campeonatos Brasileiros, surgem os novos talentos e os futuros jogadores das Seleções Brasileiras. Dentro deste novo patrocínio que está por vir, pretendemos aumentar a ajuda que já é repassada para as federações desde o início da nossa administração. O objetivo é melhorar ainda mais o planejamento elaborado por elas. Os mais de oitenta por cento dos votos que tivemos na eleição do último dia 7 são motivados pelo interesse que a CBB sempre teve em ajudá-las e que fazem as federações se sentirem protegidas.

>> Percebem a obsessão de Carlos Nunes por “seleções”? Dá a impressão que, para ele, TODO, ABSOLUTAMENTE TODO o desenvolvimento do basquete brasileiro se passa por equipes de ponta. Sejam as seleções nacionais, ou as seleções estaduais. Seguindo sua lógica, parece pouco importante que os estados consigam realmente produzir 10 ou 12 talentos para compor suas seleções, e pronto. Mas que torpor, caceta. Quanto ao “planejamento elaborado” pelas federações, vocês que me desculpem, nada a declarar. Porque não há nada visível, mesmo, para se avaliar.

Campeonatos Brasileiros de Base
A nossa expectativa é sempre superar o ano anterior, no caso 2012. Se for possível, pretendemos aumentar o número de competições, tendo em vista que os Campeonatos de Base são realizados por meio do projeto incentivado do Ministério do Esporte. Muitos dos atletas que hoje defendem as seleções nacionais passaram pelos Brasileiros. Isso prova que é uma competição onde também surgem novos talentos.

>> Mais um comentário que comprova o pensamento equivocado do dirigente. Percebam que ele mira sempre em resultados, não em desenvolvimento. A realização de campeonatos de base, não se enganem, é realmente importantíssima, fundamental. Tem de botar a molecada na quadra, mesmo. Mas, em nenhum momento sequer de sua explanação, Carlos Nunes fala de massificação do esporte, ou, no mínimo, de aprimoramento técnico em quadra. Digo: não basta apenas se programar uma competição e achar que seu papel está feito. Se forem campeonato seguindo os últimos modelos, o resultado, tão alardeado aqui, não será muito produtivo.

O presidente da CBB gasta, então, mais saliva falando de Copa Brasil e Supercopa, basquete 3 x 3, até chegar, então, a comentar o amistoso marcado entre Chicago Bulls e Washington para o dia 12 de outubro, no Rio de Janeiro, marcando a chegada oficial da NBA ao país. Lá pelas, tantas, ele me sai com esta: “Em parceria com a NBA, vamos dar um apoio logístico, além da chancela, caso contrário não poderia ser realizado”.

Realmente, né? O que seria do basquete brasileiro sem essa gloriosa chancela?

Carlos Nunes, chancelando

Carlos Nunes e a sua chancela


Com reeleição de Nunes, basquete brasileiro confirma repulsa a novas ideias
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Giancarlo Giampietro

O basquete brasileiro, ao menos na figura representativa de seus 27 presidentes de federações, está de parabéns.

Numa eleição que contrapôs o atual gestor Carlos Nunes, a criatura, com aquele que administrou a confederação por 12 anos, o presente-de-grego Gerasime Bozikis, o criador, não havia como sair um vencedor, mesmo.

(Ok, oficialmente, Nunes, aquele que destronou de modo shakesperiano o Grego, venceu a fatura por 21 votos a 2, com três abstenções, depois de sua turma anular dramaticamente uma liminar judicial por volta de 15h no horário de Brasília.)

Grego e Nunes, eternamente juntos

Grego e Nunes, eternamente juntos

Mas o ponto mais importante é o seguinte: mesmo com alguns pontos positivos levantados nos últimos anos, seja pelo crescimento do NBB ou pelo avanço da seleção brasileira masculina, a modalidade, devido a sua politicagem, ainda está longe de convencer qualquer pessoa mentalmente saudável a investir tempo de vida, força de vontade e alguns cabelos prestes-a-esbranquiçar para tomar conta da casa.

Por que alguém bem intencionado se disporia a isso?

Nos últimos meses, tenho acompanhado um debate revelador sobre a, agora, passada eleição da CBB, com a disputa infantil entre o reeleito “Carlinhos” – se vocês não sabem, é assim que os íntimos o tratam – e Grego, aquele que comandou a entidade por 12 anos e tinha em Nunes um de seus principais articuladores, se não o principal. Cada um recrutou capangas no mercado para defender-e-atacar o outro. As acusações eram risíveis, quando consideramos que é impossível separar um do outro.

Vamos nos ater as defesas, porque atacar é muito fácil (clique aqui para ler sobre um, e aqui para ler sobre o outro, num esforço hercúleo de reportagem do R7, lembrem-se).

A começar, a oposição: clamaram não sei quantas vezes para que ignorássemos o passado. Mesmo. Foi esse um dos principais argumentos utilizados: que não adianta admirar o leite derramado, que o novo velho candidato apareceu regenerado, pronto para outra, orientado por assessores profissionais, visionários. Tudo o que aconteceu antes deveria ser esquecido. Não importando o simples fato de que a gestão do senhor Bozikis tenha se encerrado logo ali em 2009. Isso: 2009, neste século, não em 1926 ou 1948. Estavam falando de um passado tão distante como 2009. Mesmo nos tempos de reação imediata para tudo, ao vivo e pra agora, gente, quem vai realmente dizer que “quatro anos atrás” significa algo?

(Ok, se você tiver de 20 a 22 anos, tudo é muito compreensível, ninguém se lembra mais de nada, e estamos conversados.)

Da situação, do pouco que disseram (no ar, com gravador ligado), era basicamente algo como “convênio com Ministério do Esporte + quadras novas + classificação e quinto lugar olímpicos = nota 10, reeleição”. E ponto final, porque nunca houve espaço para debate.

Em confissão pública: nunca busquei uma entrevista com Carlos Nunes e descartei a possibilidade de falar com Grego. Francamente? Não valeria de nada, uma vez que, para o colégio eleitoral, “é-assim-que-as-coisas-funcionam”. Grego durou 12 anos no cargo a despeito de toda sua incompetência, oras.

Os eleitos

“O presidente Carlos Nunes e o vice-presidente Reginaldo Senna no momento que foram reeleitos”. Ô alegria

A eleição da CBB está restrita a 27 presidentes de confederações. O bolo fica maior a cada temporada, com aporte público, e apenas 27 cidadãos podem decidir o que será feito das fatias. Já não é o sistema ideal, está longe disso, mas é o que temos. E, nesse ambiente que, desde 1997, elege Grego ou Nunes, quem vai topar entrar para concorrer? Quem tem estômago para conversar com os 27 presidentes de federações que choram (ou não, ou não, ou não) o ano todo pelas amarguras des suas regiões, mas que, na hora do voto, se contentam (divertem? corroboram? sofrem mesmo?) com a pasmaceira?

Entre Grego e Nunes, não há como apontar o “menos pior”.

A coisa já tava preta mesmo. E os senhores supracitados não fazem, nem topariam fazer nada para mudar isso. É o que temos, o que somos.

Um sistema precário de eleição que inibe qualquer tentativa de sopro.

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Houve um certo suspense na eleição desta terça-feira, uma vez que a confederação maranhense  conseguiu uma liminar na Justiça do Rio para inviabilizar o pleito, alegando, coerentemente, que não haveri tempo hábil para avaliar a quantas andava a gestão da CBB. Porque, vocês sabem, Carlos Nunes havia armado todo tipo de armadilha para blindar seus, supostamente, brilhantes resultados. Uma atitude que deu para entender como: se você quisesse avaliar as contas, o balanço, teria de marcar horário; isto é: “Se você quer aprontar uma, que identifique-se como opositor, meu irmão camarada, e arque com as consequências”. Então não deixa de ser irônico que a eleição fosse adiada por algumas horinhas por intervenção  o tapetão: afinal, o processo como um todo já havia começado com censura, com restrições mais do que pontuais. Jornalistas só poderiam ter acesso ao capítulo final, a contagem de votos, e olhe lá. Se ao menos ganharam um copo d’água e biscoitos de maizena, não tenho como confirmar.

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Sim, toda a gestão de Carlos Nunes se baseou em um só fato: resultados no esporte de alto padrão. Contratou Magnano, levou o time principal masculino aos Jogos depois de 16 anos, e que se danasse todo o 99% de que se espera de uma plataforma, mesmo a derrocada da seleção feminina. Então, se resultado é ralmente o que vale, os coordenadores André Alves, Vanderlei e Hortência estão, desde já, que se preparem: estão na mira. Mas, mais importante, quando chegarmos aos arredores de 2016 (na verdade, estamos quase lá já, não?), que não se perca de vista outra questão: uma gestão de confederação brasileira deve ser avaliada apenas por aspirações olímpicas imediatas? Ou conta mais um progresso, no termo da moda, sustentável?

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No mesmo dia em que Carlos Nunes foi reeleito, José Carlos Brunoro, chefe da equipe que coordena o marketing da CBB, estava envolvido até as tripas com a crise por que passa o futebol do Palmeiras, depois do episódio de agressão de integrantes de uma facção organizada a jogadores, em Buenos Aires. Nesse ponto, não está certo. Mas como fica a CBB? Sua empresa tem a competência necessária para conduzir, com funcionários e delegados, uma nobre (pelo esporte, claro, e não por quem governa) confederação num ciclo olímpico de Jogos no Brasil?


Campeonato Paulista faz de tudo para afastar o torcedor mesmo durante as finais
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Giancarlo Giampietro

De todos os campeonatos estaduais de basquete do Brasil, o Paulista é o único que se sustenta com diversos clubes de elite na disputa. É hoje basicamente o único vendável para a TV, sendo disputado em sua grande maioria por jogadores profissionais, atletas com passagens por seleção brasileira e muitos, mas muitos estrangeiros mesmo.

Posto isso, o que testemunhamos nesta temporada foi preocupante. Ainda mais quando nos concentramos apenas nos mata-matas, sua fase de definição e, por isso, sua fase mais importante. Se isso é o melhor que podemos fazer no momento, imagine…

Vamos lá. As duas primeiras partidas da final tiveram um nível técnico muito abaixo, algo desencorajador. Não tem como aliviar muito depois de considerar estes dados aqui: em 80 minutos de basquete, tivemos 65 desperdícios de posse de bola e 94 arremessos de três pontos por parte de Pinheiros e São José. E, tal como a série empatada por 1 a 1, a divisão desses quesitos também foi bem equilibrada entre as partes.

São números estarrecedores, gente: 0,8 erro e 1,15 chute de longa distância por minuto de jogo.

Aí chega a hora de assumir um desafio imenso, aquela hora de botar a cuca (do blogueiro) para funcionar. Tentem me acompanhar enquanto a máquina não funde. 🙂

Se, hipoteticamente, toda posse de bola fosse usada até o fim, usando os 24 segundos na íntegra, teríamos a média de duas posses e meia por minuto ou cinco a cada dois minutos. Mas claro que não é desta maneira que acontece. Existem contra-ataques que não levam nem dez segundos para ter sua conclusão, há aquelas investidas abreviadas por uma falta mais cedo resultando em lances livres e muitas outras variáveis. Então demos um desconto: que cada minuto tenha quatro posses de bola, num ritmo frenético (cada posse, aqui, levaria 15 segundos). Mesmo com esse ritmo acelerado, chegaríamos a uma conclusão de que metade delas (1,95) terminaria de modo previsível – ou com um chute de três, ou com a bola nas mãos do árbitro/torcedor/gandula/treinador/mesário/locutor… Em qualquer lugar, menos na cesta.

Pode procurar, mas vai ser difícil encontrar uma liga ou um torneio de elite em que esses números sejam um padrão. Ainda mais quando sabemos que, dos 94 disparos efetuados de fora, apenas 33 foram convertidos (35,1%). E nem importa: o padrão de jogo não muda, ganha quem erra um pouco menos, quem for um pouco menos tresloucado, e segue a vida.

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Não só como supervisora do estado em que hoje é mais profícuo na produção de clubes e, por consequência, jogadores, a FPB também tem uma boa parecela de responsabilidade nisso com seu calendário completamente desregulado. Estamos no dia 24, e sabe quantos jogos dos playoffs foram realizados em novembro? Quatro. Contando o terceiro jogo deste domingo, serão cinco partidas no mês. Que ritmo as equipes podem adquirir desta forma? E, mais importante, como educar e/ou cativar o torcedor quando você assiste a um jogo que já não é o melhor e você não sabe nem quando é o próximo?

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O presidente da CBB, Carlos Nunes, estava, digamos, escoltado por Rubén Magnano nesta segunda partida em São Paulo. Nada mais coerente.