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Arquivo : Franca Basquete

Os quatro melhores nas semis do NBB, após muito sufoco
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Giancarlo Giampietro

Hettsheimeir teve médias de 19,2 pontos e 9,2 rebotes contra Franca. Fundamental para a vitória

Hettsheimeir teve médias de 19,2 pontos e 9,2 rebotes contra Franca. Fundamental para a vitória

Essa coisa de fazer previsão, dar palpite… Sei bem que diverte a galera, mas só expõe jornalistas ao ridículo, né?

Vamos lembrar o título: “Após suversão no início, NBB abre quartas com favoritos claros”.

Se fosse para levar em conta o que se passou durante a temporada regular da sétima edição do campeonato, na minha cabeça não havia como acontecer surpresas nas quartas de final, mesmo ciente de que a mera vitória numa série poderia encher de confiança aqueles que desafiariam Bauru, Limeira, Flamengo e Mogi. No final das contas, passaram todos, mas não sem uma boa dose de drama. “Claros”, né?

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Só Limeira conseguiu avançar sem apelar ao Jogo 5 em seus domínios, batendo Brasília em quatro partidas, com direito a dois triunfos na capital federal. Valeu para o time se colocar entre os quatro melhores pela primeira vez, fazendo uso de um elenco de muito mais velocidade e flexibilidade que os candangos, correndo em círculos ao redor da vítima. Suas três vitórias tiveram vantagem de dígito duplo, com saldo de 41 pontos no geral.

A série entre Flamengo e São José também em teoria apresentava ampla superioridade para os atuais bicampeões. Se os deuses do basquete permitirem, dá até para dizer que foi um placar de 3 a 2 enganoso ou injusto – mesmo que isso contrarie a máxima de que, num playoff, não importa se o placar é por 30 ou por 0,3 pontos, tendo o mesmo peso. Descontando as vitórias e derrotas flamenguistas, foram 64 pontos de saldo em cinco jogos (média de 12,8).

O Flamengo sobrou em três jogos. Mas cedeu dois para São José

O Flamengo sobrou em três jogos. Mas cedeu dois para São José

Ainda assim, faltou consistência ao time de José Neto, especialmente no ataque, para fazer valer sua superioridade. Nas duas derrotas, acertou apenas 12 de 51 arremessos de três pontos (23,5% de aproveitamento, um pesadelo). Um ponto em comum nos tropeços também foi a dominância de Caio Torres, em grande fase, com médias de  16,5 pontos, 9,0 rebotes, 6,5 lances livres batidos e 60% nos arremessos de quadra, em 28,5 minutos.

O desequilíbrio parou por aí, todavia. O Mogi ficou muito perto da eliminação diante do Macaé, que valeria como uma tremenda coincidência, já que o clube fluminense tentava reprisar a trajetória de seu oponente, que alcançou a semifinal do NBB 6 como o 12º colocado no geral após a fase de classificação. No Jogo 5, com o ginásio Hugo Ramos, os visitantes entraram no quarto período vencendo por 64 a 61. Faltavam dez minutos para confirmar a zebra, mas sua defesa permitiu 30 pontos na parcial final. Curiosamente, foi uma dinâmica bem parecida com a da primeira partida do confronto, com jogo empatado em 55 após três quartos, com o Macaé liderando desde as primeiras posses de bola.

Mais: Mogi ficou em desvantagem por 2 a 1, passou sufoco, mas contou com a energia de Tyrone Curnell para a virada, com 21 pontos e 9,5 rebotes nas últimas duas partidas. Paulão Prestes também foi muito mais efetivo para mudar a história, com 31 pontos nos Jogos 4 e 5, depois de ter somado apenas 18 nos três primeiros. Shamell marcou 21,4 pontos, mas acertou apenas 33% dos chutes de fora, forçando a barra (11/33). Guilherme Filipin derrapou no duelo decisivo, com 1/6 nos chutes de fora, mas teve rendimento de 48,1% no geral (13/27).

Mogi, de Gerson e Filipin, sofreu um bocado para evitar mais um 12º colocado na semi

Mogi, de Gerson e Filipin, sofreu um bocado para evitar mais um 12º colocado na semi

A grande surpresa, no entanto, ficou reservada para Bauru x Franca. O campeão paulista e das Américas chegou para o duelo com uma sequência de 33 vitórias seguidas, seja pela liga nacional como pelo torneio continental. Na abertura da série, ainda deram uma surra de 27 pontos, vencendo por 82 a 55. Caminhariam para a varrida? Nada disso.

O confronto ficou muito mais interessante no momento em que o time de Lula Ferreira, que sofrera para eliminar o Palmeiras pelas oitavas, roubou o mando de quadra bauruense ao vencer o Jogo 2 por 74 a 71. Era o final de uma sequência de 26 vitórias de seu oponente pelo NBB. Comedido, como sempre, Lula não quis saber muito de comemorar o resultado, mas, em sua entrevista pós-jogo, admitiu a maior preocupação no confronto tático com seu ex-assistente da seleção brasileira: “Quando eles acertam 13 cestas para três pontos é quase impossível de vencê-los. A vitória é maravilhosa”, disse.

Na ocasião, o oponente converteu, sim, 13 chutes de longe, em 34 tentativas, com 38,2%. Um bom rendimento, mas insuficiente para garantir o triunfo. A partir daí, porém, essa artilharia seria limitada a 8 conversões em cada jogo e o aproveitamento, respectivamente, de 33,3%, 29,6% e 30,8% – na temporada, tinham 39,7% de média, propiciando volume de 35,2 pontos a partir da linha perimetral. Se era essa a preocupação de Lula, a defesa funcionou muito bem, obrigado. Veja os números do sistema ofensivo de Guerrinha na série:

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Nas três vitórias, o menor volume de arremessos de três, com ataque mais distribuído entre chutes para dois e/ou lances livres, para compensar o fraco rendimento no perímetro – especialmente comparando com os índices da temporada. Mas mesmo mais próximo da cesta eles tiveram mais dificuldade que o normal

O problema é que, nos Jogos 3 e 5, Bauru conseguiu compensar o baixo rendimento nos tiros exteriores com um volume elevado no jogo interno, batendo 50 lances livres no total para somar 37 pontos na linha (74%). De qualquer forma, a marcação francana foi bem na série, limitando um ataque de tinha média superior a 90 pontos por jogo no campeonato, até então, a 75,0 na série.

Para o próximo confronto, Paco Garcia deve estudar em detalhes o que aconteceu nos últimos quatro jogos – e a defesa de Lula Ferreira como um tudo. Afinal, das míseras sete derrotas que o líder sofreu durante toda a temporada – quando estava com força máxima, isto é, após a Copa do Mundo –, quatro aconteceram nesse clássico paulista (duas agora e outras duas pelas semifinais do Paulista). Sim, desde que Alex, Larry e Hetthsheimeir se apresentaram, o restante do país só bateu a equipe em três ocasiões, e uma dessas vitórias carrega um senhor asterisco: a de Brasília, pela primeira rodada do campeonato nacional, com a equipe paulista de ressaca pela conquista do estadual. Os demais reveses ficam na conta de Limeira: um pela decisão do estadual e outro pelo NBB também. E só. O retrospecto geral, computando também os compromissos internacionais? São 57 vitórias em 65 partidas.

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Por que desde 13 de setembro? Que foi quando o trio da seleção brasileira estreou na temporada, em duelo com Rio Claro, pelos playoffs do Paulista. O completo também merece outro asterisco: o time perdeu o ala-pivô Jefferson William, figura de importância altíssima no sistema ofensivo, durante a campanha

Se isso não significava favoritismo desmedido, então nossos valores estão invertidos. Goste-se ou não do basquete praticado pela equipe de Guerrinha, não haveria como renegar um retrospecto desses, certo? É o que pregaria, ainda hoje, o jornalista desvairado aos sete mares. Mas Franca nos mostrou que há, sim, como contestar a tese.

O que vem por aí?
Para Mogi, é isto: ou o time defende, ou está fora. Não vai ser num tiroteio contra Bauru que eles vão levar a melhor, como os quatro confrontos entre os clubes na temporada mostram. Foram quatro vitórias para a equipe de Guerrinha, sendo duas pelo NBB e duas pela Liga Sul-Americana, inclusive a final continental. No último duelo, Bauru foi testado para valer, é verdade, perdendo o primeiro tempo. Ainda assim, deslanchou no segundo tempo e saiu vencedor, com uma jornada incrível do veterano Alex, que marcou 31 pontos, com 7/10 nos arremessos de longa distância. Veja os números preocupantes dos líderes da fase de classificação do NBB nesses jogos:

Bauru teve média de 39 disparos de três pontos contra a defesa de Mogi, acertando mais de 40% deles. Quando atacou com chutes de dois, também foi muito eficiente

Refazendo: ou o time defende de maneira muito mais eficiente, ou está fora. Bauru teve média de 39 disparos de três pontos contra a defesa de Mogi (algo assustador e desproporcional), acertando mais de 40% deles. Quando atacou com chutes de dois, também foi muito eficiente. Resultado: saldo de 19,0 pontos em média no duelo. Do outro lado, a equipe de Paco vai precisar movimentar a bola e saber dosar o jogo interno com os arremessos de Shamell e Filipin. Os dois alas precisam atacar em movimento, em vez de tentativas isoladas de mano a mano – especialmente quando Alex for o marcador. Encontrar um modo de envolver Tyrone também ajudaria: assim como Paulão, o ala-pivô teve desempenho praticamente nulo nos embates. O favoritismo ainda pende para um lado.

Limeira x Flamengo tem tudo para ser um confronto eletrizante, com dois elencos vastos, versáteis e explosivos frente a frente. Nezinho x Laprovíttola, David Jackson x Marquinhos, Hayes (que fez grande série contra Brasília e agora enfrente seu ex-time) x Olivinha, Fiorotto x Meyinsse, Ramon x Benite, Deryk x Gegê, Teichmann x Herrmann, Dalla x Marcelinho, Mineiro x Felício… Afe, todos embates promissores,  muito instigantes. É uma série que valeria melhor-de-sete, sem dúvida, para a qual não servem muito os números da classificação geral, uma vez que Nezinho não esteve presente na segunda partida, na qual estavam todos já com posição definida na tabela. O mando de quadra pode fazer diferença? Nas quartas, de nada adiantou. A maior rodagem e o sucesso recente flamenguista seriam uma vantagem? Na Liga das Américas, não adiantou. Palpite? Dessa vez passo.


Após suversão no início, NBB abre quartas com favoritos claros
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Giancarlo Giampietro

Brasília de Giovannoni faz um segundo campeonato nos mata-matas

Brasília de Giovannoni faz um segundo campeonato nos mata-matas

As quartas de final do NBB começam hoje. Nas oitavas, para quem perdeu, tivemos pura subversão. Dos quatro times mais bem classificados para essa fase, apenas o Franca passou, e no quinto e último jogo contra o Palmeiras. De resto, a turma de baixo aprontou. Agora, esses azarões partem em direção aos grandes favoritos ao título, de fato. Times que sobraram na fase de classificação, mas que, claro, precisam tomar cuidado com adversários que chegam confiantes. Seria um segundo campeonato? Ou a consistência deles durante o ano pesa mais? Ainda pendo para a segunda alternativa, mas precisa jogar e confirmar em quadra.

Entre os times do topo está, claro, o Bauru, um degrau (ou mais) acima, tendo ainda alguns dias preciosos para descansar um elenco que conquistou até agora três taças em três competições disputadas. Os bauruenses, líderes da temporada regular, terão os francanos pela frente, num clássico do interior paulista. De resto, o Limeira, segundo colocado, encara o emergente Brasília; o Flamengo, em busca do tri, pega os velhos conhecidos de São José; e o Mogi das Cruzes recebe o Macaé, que tenta usar aquela frase que a gente quase não vê mais impressa por aí: “Oi, eu sou você amanhã”.

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É mata-mata que não acaba mais gente. Mas o punho vai resistindo bem por enquanto – sobre a cabeça, melhor nem perguntar, que já está fundida faz tempo. Agradeço a reza, o apoio e o voto de confiança. : D

E simbora:

Bauru (1º) x Franca (8º) – Bauru em 3
Se for perguntar por aí sobre um time que tenha dado mais trabalho para Bauru nesta temporada 2014-2015, os caras de Franca podem levantar a mão. Sim, quem se lembra da fervorosa semifinal do último Campeonato Paulista? O eventual campeão estadual precisou de todas as cinco partidas da série para avançar. Com direito a lamentável quebra-pau no Jogo 3.

Mas isso faz tempo. Era apenas o início da caminhada. Desde então, o time de Guerrinha perdeu somente três jogos. Incrível: uma para Limeira na decisão do Paulista e duas pela fase de classificação do NBB. No momento, contando a Liga das Américas, são 33 triunfos consecutivos. A única baixa realmente a ser lamentada foi a lesão do ala-pivô Jefferson William, fora com uma ruptura no tendão de Aquiles.

Hettsheimeir e o Bauru querem mais

Hettsheimeir e o Bauru querem mais

Além disso, se formos relembrar aquela semi, os jogos que o Franca venceu foram por dois e três pontos. Por outro lado, a equipe de Guerrinha conseguiu 23 pontos e 29 pontos de vantagem. Só o quinto e o derradeiro duelo, com muita tensão, foi parelho (75 a 69).

Enquanto Franca eliminava o Palmeiras, sendo o único time mais bem classificado a passar pelas oitavas de final, o Bauru descansou. Para muitos casos, essa parada poderia ser arriscada, custando ritmo de jogo etc. Para essa equipe especificamente, todavia, creio que foi algo muito bem-vindo, para dar um respiro antes de brigarem pelo quarto título em quatro competições, algo que seria histórico.

Por números, é como o Bauru se fosse o Golden State Warriors do NBB, mas com um nível de dominância ainda mais acentuado. Ataque mais eficiente, melhor defesa, melhor índice de arremessos, terceiro melhor nos rebotes, e por aí vamos. O único quesito no qual os francanos se aproximam de seu rival paulista é na defesa, com a terceira retaguarda mais eficiente (um padrão nos times de Lula Ferreira, aliás). Mas vai ser uma missão difícil.

Dos poucos jovens atletas do NBB que já tiveram chances com Rubén Magnano na seleção, a dupla Leo Meindl e Lucas Mariano tem a oportunidade de mostrar serviço contra adversários de ponta. Meindl, que não jogou o que podia contra o Palmeiras, vai provavelmente ser marcado por Alex e Gui Deodato. Uma dureza. Durante o campeonato, porém, o garoto se saiu bem contra a dupla, anotando 20,5 pontos em média. Já Lucão vai encarar Hettsheimeir e Murilo, vindo de uma de suas melhores atuações da temporada contra o Palmeiras, no quinto jogo. Foi instrumental no fechamento do confronto.

Limeira (2º) x Brasília (10º) – Limeira em 4
Não há o que aliviar aqui: tricampeão do NBB, Brasília foi a maior decepção desta edição. Imaginem assim: se fosse uma competição de pontos corridos, estaria fora da briga pelo título há meses. Se fosse um playoff composto da forma mais tradicional, com apenas os oito melhores classificados, também teria dado adeus mais cedo.

Mas os mata-matas do NBB abraçam mais gente – e tudo bem: é uma forma de manter mais clubes em atividade. Supostamente, isso serviria para ajudar os competidores de menor orçamento, dando mais chances. No fim, um gigante como Brasília acabou se beneficiando dessa brecha e já aproveitou para derrubar o Pinheiros. Contra o Limeira, porém, as coisas complicam. Especialmente para um time que teve a segunda pior defesa da temporada, acima apenas de Macaé, tentando parar o terceiro ataque mais qualificado, com boa movimentação de bola (um ataque solidário, com a maior taxa de assistências do campeonato).

Garoto Deryk é uma das opções aceleradas do Limeira

Garoto Deryk é uma das opções aceleradas do Limeira

Não é só a simples predisposição a passar a bola que torna a equipe dirigida por Dedé Barbosa perigosa. O principal fator, creio, é a velocidade de seus jogadores, em especial no perímetro, com a trinca Nezinho, Deryk e Ronald Ramon, servindo ao MVP do NBB 6 e candidato sério a manter o troféu, David Jackson. São armadores que se movimentam muito e botam pressão no adversário nos dois lados da quadra.

Essa agilidade também se reflete na linha de frente, com caras como Mineiro, Hayes e Teichmann, além de Fiorotto (até mesmo o jovem Dú Sommer segue esse perfil, mas sem tempo de quadra). É um plantel muito coeso nesse sentido. A diferença é que o garrafão candango não fica muito atrás, com um superatleta como Cipolini escoltando a técnica de Giovannoni – são dois dos dez jogadores mais eficientes do campeonato.

Será que eles vão contar com a ajuda de Ronald? O pivô de 23 anos foi um dos grandes responsáveis pelo triunfo contra o Pinheiros, enfim recebendo minutos consistentes (mais de 20 por jogo), respondendo com 11,5 pontos e 6,5 rebotes, acertando 69% de seus arremessos (18/26). A ver se a sua curva ascendente será respeitada.

Obviamente que Limeira vai respeitar seu adversário – aliás, estamos falando curiosamente dos únicos dois times a bater o líder Bauru na fase de classificação. Mas não tem motivos para temê-lo, levando em conta sua ampla superioridade durante toda a temporada, passando também por dois triunfos no confronto direto. Talvez o fato que gere mais preocupação mesmo é o fato de o clube nunca ter vencido uma série de playoff, nem mesmo quando tinha mando de quadra. Foram cinco confrontos, todos perdidos de virada, o que é ainda mais agonizante.

Flamengo (3º) x São José (11º) – Flamengo em 4
Com presença constante na fase decisiva, os dois clubes têm boas histórias para contar. Já são ao todo 27 jogos entre ambos no campeonato nacional, o que configura o duelo mais disputado até aqui. Em termos de playoffs, foram três séries, com os cariocas levando a melhor em duas delas, incluindo a última, pela semifinal do NBB 5 – numa revanche após a quarta edição.

É certo que uma sequência relevante de triunfos vai acabar este ano. O Fla nunca ficou fora das semis. Já o clube do Vale do Paraíba passou pelas quartas nas últimas três temporadas. Bom para dar uma apimentada. Se tiver de apostar, de qualquer forma, os rubro-negros aparecem como favorito indiscutível.

É uma situação interessante, aliás: se você fosse avaliar apenas de orelhada, talvez chutasse que o Fla tenha deixado a desejar, especialmente depois de perder uma semifinal de Liga das Américas, no Maracanãzinho. Mas isso tem muito mais a ver pelo patamar alcançado pelo clube nas últimas campanhas – essa coisa de ser o atual bicampeão nacional e de ter vencido a Copa Intercontinental e tal.

Na última rodada da 1ª fase, Fla de Herrmann venceu bem o Limeira

Na última rodada da 1ª fase, Fla de Herrmann venceu bem o Limeira

Há um desgaste mental quando se passa por tantas decisões. Não há como negar. Ainda assim, a equipe engatou uma boa sequência de nove vitórias para fechar a temporada regular e chegar mais animada para os playoffs. No meio do caminho, um triunfo de virada, por 16 pontos, sobre o Limeira. No geral, não havia muitos motivos para preocupação: tiveram o segundo melhor ataque e a quinta melhor defesa.

No papel, o elenco flamenguista também se impõe. José Neto tem uma linha de frente robusta, com tamanho, agilidade e talento distribuídos entre Marquinhos, Herrmann, Olivinha, Felício e Meyinsse. Do outro lado, o pivô Caio Torres que defendeu o Fla de 2011 a 2013, sendo campeão no NBB 5, fez um grande campeonato, com 14,6 pontos e 9,2 rebotes. Mas a rotação ao seu lado é minguada, com o regular Drudi, de chute de média distância sempre muito perigoso, e o jovem Renan.

Como fazer um jogo controlado se você tende a levar a pior na batalha interna? Por outro lado, querer correr com o próprio Marquinhos, além de Laprovíttola e Vitor Benite do outro lado realmente não parece uma boa opção, de toda forma. Andre Laws parece o único defensor capaz de persegui-los sem perder o fôlego ou a concentração. E aí? Como faz?

As oitavas de final contra o Paulistano – o outro finalista do ano passado – foram um bom treino para jogos mais truncados, com placares baixos, mesmo. Em quatro duelos, a equipe de Zanon foi a única passar da casa de 80 pontos, e apenas uma vez (no Jogo 3, com 85).

É uma tarefa difícil para o clube paulista, a despeito de seu poder de chegada e de, por ora, ignorarem problemas com atraso de pagamento. Além da força de sua torcida, vão precisar defender muito, do início ao fim, e esperar por uma regularidade maior nos arremessos de Baxter, Dedé e/ou Betinho. De preferência os três juntos.

 Mogi das Cruzes (4º) x Macaé (12º)
Agora cabeça-de-chave, o técnico Paco Garcia obviamente não vai subestimar seu adversário. Afinal, sabe muito bem como não importa a posição em que o adversário chegou aos mata-matas – no caso, o Macaé, que garantiu a 12ª e última vaga, justamente a mesma posição que o Mogi tinha no NBB 6, para bater Pinheiros e Limeira em sequência e disputar a semifinal.

De pedra, a equipe do técnico espanhol agora virou vidraça, sustentada por uma das torcidas mais barulhentas do país. Teve um investimento maior e elevou seu padrão de jogo de acordo com o esperado, vencendo 70% de suas partidas (foram 12 triunfos a mais que seu próximo rival) pelo certame nacional, chegando também uma final inédita de Liga Sul-Americana.

É a equipe favorita, mas que vai ter de estar atenta a um oponente que acabou de derrubar a quinta melhor campanha do campeonato, o Minas Tênis. Um resultado surpreendente, mas que já vale como um prêmio para um projeto interessante no litoral norte fluminense, que vai além das quadras e envolve realmente a comunidade.

Se for para falar das quatro linhas, no entanto, não há como fugir do americano Jamaal Smith, um baixinho de 1,75 m, que é uma verdadeira dor-de-cabeça para a oposição. Não só por sua conduta marrenta, mas pelo talento para colocar a bola na cesta. Nas oitavas de final, teve média de 22,7 pontos, acertando 10 de 16 arremessos de três pontos. Sua arma principal, contudo, é a capacidade para cavar faltas.

Jamaal Smith, quem vai parar? Gustavinho se candidata

Jamaal Smith, quem vai parar? Gustavinho se candidata

Encarando a segunda defesa mais eficiente da temporada regular, bateu 39 lances livres em quatro jogos – e, melhor, errou apenas um, garantindo médias de 9,75 arremessos por partida e aproveitamento de 97,5%. Sensacional. São números bastante inflados, claro, mas plausíveis de atingir em mais uma série, pensando no que ele fez durante todo o NBB 7 (6,5 e 88,2%, respectivamente). Foi o arremessador mais eficiente do campeonato.

Aí você faz como? Tem chute de fora e também joga com muita eficiência lá dentro. Não seria o caso de delegar toda a responsabilidade para Elinho ou Alexandre. A boa notícia, porém, é que Gustavinho retornou na última rodada da primeira fase e ainda teve duas semanas para aprimorar o condicionamento físico. Aqui, estamos falando de um armador igualmente baixo, mas bastante ágil, aguerrido e inteligente para desafiar o americano. De qualquer forma, não dá para depender de um só atleta. É preciso de uma preparação defensiva mais ativa, com cobertura.

Contra o jovem elenco do Minas, o Macaé tinha a experiência como vantagem. Agora esse fator desaparece em Mogi. Além disso, vão encarar um adversário mais equilibrado. Se o time de Paco tem uma defesa bem inferior a da montada por Demétrius, por outro lado possui um ataque definitivamente mais poderoso, com um jogo interno diversificado. Esse deve ser o foco, pedindo a Shamell, cestinha do campeonato e aquele que mais se ocupa das posses de bola de seu time, paciência e inteligência na hora de atacar.

As trombadas entre Paulão e Atílio podem causar abalos sísmicos, mas o problema maior do time fluminense vai ser lidar, mesmo, com a agilidade de Gerson e Tyrone. No seu plantel, não há tantos jogadores com pacote atlético (uma combinação de força física e agilidade) para conter essa dupla no mano a mano. Otis George seria uma exceção, mas, de novo, aqui é ação coletiva que poderá remediar as coisas.


Ligas esperam que Jogo das Estrelas seja um prenúncio de nova fase
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Giancarlo Giampietro

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Não dá para se perder em otimismo. Afinal, é na mesma Franca que recebeu o Jogo das Estrelas da LNB e da LBF neste final de semana que o clube local, um patrimônio do basquete brasileiro, não tem conseguido pagar na íntegra o salário prometido a todos os seus atletas, devido a um deslize de gestão. Do tipo com o qual já nos acostumamos e sobre o qual a companheira de UOL Esporte, Karla Torralba, conta mais aqui.

Diante de uma situação dessas, é normal que o raciocínio siga nesta direção: caceta, se isso acontece em Franca, imagine em outras cidades? Então tem de ter muita calma, mesmo, para não se deixar levar (totalmente) pela bela festa como a que ambas as ligas promoveram entre quinta-feira e sábado.

Vamos lá:

– O ginásio Pedrocão ficou cheio nos dois dias oficiais de evento, e com público pagante. Neste sábado, quase não cabia ninguém mais.

– Jogadoras e jogadores reunidos, de modo único, raro, mas que bem que poderia virar o padrão daqui para a frente.

– A quadra e a arquibancada todas envelopadas com as cores de um patrocinador master forte, mas que entrou de cabeça num negócio repentino – tudo foi acertado em coisa de um mês. Outras três marcas foram adicionadas

– Ídolos do passado homenageados.

– Encontro dos treinadores para uma incipiente associação (agora vai?).

– Dois jogos surpreendentemente competitivos, ou quase.

– Os primeiros passos dados com a consultoria da NBA, com impacto n desenho da quadra, bem bonito, telão, placas de LED e outras atrações paralelas em meio aos eventos de quadra.

– E, claro, o Jay Jay aprontando. Dá-lhe, Jay Jay.

São todos ingredientes aparentemente básicos, mas que, em conjunto, num caldeirão que só, ficam muito mais saborosos. Ainda mais se formos lembrar que, se formos nos lembrar, nove anos atrás, na mesma Franca, um hexagonal do campeonato nacional vigente foi terminar apenas no tapetão. Foi quando a modalidade chegou ao fundo do poço, com relações institucionais diversas rachadas.

“Às vezes a gente precisa passar por uma situação adversa, para que as pessoas envolvidas no processo ajam decisivamente. Foi o que os clubes fizeram. Estávamos numa situação delicadíssima, com campeonatos que não terminavam e campeonatos paralelos, e precisamos tomar a consciência de que todos queríamos a mesma coisa, mas cada um caminhando por um lado. Buscamos depois essa unidade, criando uma liga, e o que queríamos era isso: ter o direito de organizar um campeonato com a nossa cabeça”, disse Cássio Roque, presidente da LNB, ao VinteUm

Testemunhar um evento tão bem organizado como este Jogo das Estrelas 2015 poderia parecer, em 2006, coisa de outro mundo. Quer dizer: de outro país. Essa disparidade sublinha o trabalho de alguns dirigentes realmente entusiastas do basquete, que içaram a modalidade, mesmo que o apoio financeiro de entidades privadas – ou de qualquer entidade – não tenha sido dos mais vultuosos durante essa caminhada.

Agora, na sétima edição do NBB, a liga masculina consegue olhar para a frente de modo otimista, entendendo que estão apenas no começo. “Sem dúvida, acho que isso foi apenas uma pequena amostra do que pode ser feito. A parceria com a NBA foi assinada apenas recentemente. Com o know-how que eles têm para criar entretenimento, espetáculo, acho que temos muito a ganhar. Não só na questão de crescimento técnico, melhoria das equipes, mas para transformar o basquete no produto. Vimos aqui em França a aceitação que esse produto tem. Mas precisamos expandir isso para o Brasil todo”, afirmou Cássio Roque.

Esse ambiente permite que um jogador como Alex, que estava em quadra naquele famigerado hexagonal, encare os percalços enfrentados por Franca neste ano como um “fato isolado”. “Vemos Franca nessa situação, com o pessoal correndo atrás de investidor, mas também vemos Bauru com um grande crescimento, com um patrocinador que entrou no ano passado, gostou, injetou financeiramente e viu que pode ter resultado. A maioria dos clubes está se reforçando. A cada ano que passa, o campeonato está sendo melhor, com jogadores importantes vindo para o Brasil, engrandecendo nosso basquete”, diz o ala Alex, envolvido naqueles jogos do famigerado hexagonal que não terminou.

Da parte da liga feminina, a realização do evento em conjunto lhe rende mais exposição e mais um empurrão na direção certa. “Nunca imaginava (que poderia acontecer essa parceria”, disse a armadora Adrianinha. “Quando ouvi rumores sobre isso, fiquei torcendo muito para que desse certo. O masculino acaba recebendo mais atenção do que a gente, e quem sabe essa exposição não sirva para que se reconheça nosso valor.”

“A gente está num momento em que tudo que for mais é melhor. É um momento de somar, mesmo. Tivemos muita divulgação, um bom patrocinador, um evento maravilhoso”, afirmou a pivô Clarissa, que espera apenas que essa dobradinha vire um padrão no basquete brasileiro. “Sim, creio nisso. É uma organização comprometida com isso. São reuniões, conversas de gente comprometida em levar o basquete para a frente. Temos de trabalhar juntos para isso.”Sim, é preciso de muito trabalho, mesmo, e para a LBF, não há como negar, se pede ainda mais. De qualquer forma, os tempos sombrios foram há tão pouco tempo, que não dá para ninguém se acomodar. Que se siga esse curso para que episódios como o de Franca se tornem, de fato, algo isolado – e um jogo festivo como esse mais corriqueiro.


Chegada de ‘times de camisa’ é uma das ideias da NBA para o Brasil
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Giancarlo Giampietro

Palmeiras e Flamengo são duas grandes camisas brasileiras no NBB

Palmeiras e Flamengo são duas grandes camisas brasileiras no NBB

O diretor do escritório da NBA no Brasil, Arnon de Mello, sentou com uma bola leva de jornalistas neste sábado, em Franca, durante o fim de semana de Jogo das Estrelas, para falar sobre o princípio de parceria entre a liga americana e a LNB. Durante o agradável bate-papo, deu para se pescar aqui e ali algumas das ideias do executivo, de fala informal, mas sem rodeios, para o basquete brasileiro, com iniciativas que já estão em curso e outras que, por ora, são apenas planos.

Vamos colocar aqui alguns desses tópicos abordados, a começar por aquele que mais me chamou a atenção, até por ter sido um comentário espontâneo de Arnon – sem que ninguém lhe perguntasse, como ele próprio fez questão de ressaltar. O dirigente entende que um “caminho a ser seguido” em quadras nacionais seria o do retorno, ou maior envolvimento dos maiores clubes do país, os times de camisa (leia-se: de futebol) com o basquete, seguindo os passos de Flamengo e Palmeiras, dois dos integrantes do NBB.

Mais:

– A ideia é levar mais clubes brasileiros para os Estados Unidos, sim, durante a pré-temporada da NBA, mas esse time não necessariamente precisa ser o campeão continental, ou nacional. Não haverá vínculo entre uma conquista e a ida para lá, embora o natural é que esses nomes coincidam com certa frequência. Por quê? Pois precisam mandar um time que seja no mínimo competitivo, tal como o Flamengo do ano passado. Fla, no caso, também campeão das Américas. O foco, garante, dessas expedições é a parte esportiva, ainda que um time como o rubro-negro possa ajudar a encher a arena do Orlando Magic. O clube da Flórida lucrou com a presença constante dos brasileiros por lá, mas essa foi uma situação específica. Ter a marca “Flamengo” em quadra não fez a menor diferença em Phoenix e Memphis.

– A NBA assume as operações comerciais da liga, como sabemos. É uma carga de trabalho que se soma a suas próprias atividades no país. Desta forma, Arnon afirma que não há como sua equipe se envolver especificamente com os negócios respectivos de cada clube. A influência vai acontecer no campo mais operacional da liga, nos ginásios. O que pode acontecer, no futuro, é uma orientação geral estética, tanto para uniformes “retalhados” em patrocínio, como num trabalho visual mais voltado para os logos e mascotes dos times (algo bastante necessário, aliás). De qualquer forma, algumas agremiações nacionais, com mais iniciativa, já o procuraram em busca de oportunidades de intercâmbio ou estágio lá fora, para conhecer as operações das franquias americanas. Deve rolar.

Horance Grant, em sua segunda visita ao Brasil como embaixador da NBA

Horance Grant, em sua segunda visita ao Brasil como embaixador da NBA

A atuação dos funcionários da NBA no marketing do Jogos das Estrelas deste ano foi mínima, pelo adiantado da hora. Quando oficializaram a pareceria em dezembro, as ligas imaginavam que a atuação do novo gestor comercial seria maior já neste evento. Mas não deu tempo, até por ser também no meio da temporada por lá – há dificuldade para retirada de uma das equipes de cheerleaders das franquias, das mascotes etc., isso para não falar da obtenção de vistos. “Quatro ou cinco” pessoas do estafe norte-americano estiveram em Franca para dar consultoria e apoio e também para entender como se faz por aqui. Não colocaram a mão na massa. Isso muito provavelmente vai mudar para a próxima edição.

E quando e onde vai ser o próximo Jogo das Estrelas? Arnon afirmou que pretendem definir tudo até maio. De modo que teriam muito mais tempo de preparação, podendo aí buscar mais mercados, especialmente aqueles que ainda não tenham recebido a festa. Franca foi uma escolha segura neste ano, pela óbvia tradição basqueteira da cidade, inclusive com público pagante.

– Mais previsões de anúncios? Entre abril e maio o escritório brasileiro da NBA vai saber se o país receberá, pelo terceiro ano consecutivo, um jogo de pré-temporada por aqui. Sempre no Rio de Janeiro, na Arena HSBC, única que tem condições de receber uma partida dessas. Mas aqui também há um fator importante para ser considerado: existe uma vertente dentro da liga americana que pede encarecidamente um calendário mais enxuto de pré-temporada. Menos jogos? Menos chances de uma viagem para os trópicos.

– A parceria com a Globo/SporTV era obviamente uma das grandes metas do escritório brasileiro da NBA. Mesmo. Arnon contou que, ao fechar o acordo, recebeu diversos elogios internos. Entre eles, do diretor do escritório da China, que diz ouvir um zum-zum-zum em torno dessa história desde 1996. A entrada do SporTV é vista como estratégica na ampliação do mercado do basquete/NBA por aqui, confiando na cativação de novos clientes – podendo “esbarrar” com a turma do futebol e despertar o interesse deles –, em vez de se limitar aos já aficionados pelo basquete. Com até 13 partidas na grade semanal de TV, a liga até mesmo teria extrapolado suas metas. “Não há mais para onde crescer (nesse campo”, disse. Vendas de pacotes League Pass (com um acréscimo anual de 50% em assinantes).

– Ao que parece, o México é o próximo grande alvo da NBA, para o estabelecimento de mais um contrato nos moldes daquela assinado com a LNB – com a diferença que, com nossos hermanos do Norte, o projeto começaria praticamente do zero, já que não há uma liga representativa estabelecida por lá. Tendo isso em vista, a parceria NBA/LNB vale como um modelo para uma expansão significativa da marca americana pelo mundo. Índia e África do Sul foram outros países mencionados. Para constar: quando abre novas negociações com possíveis patrocinadores globais, o NBB já é incluído em eventuais pacotes de divulgação.


Na capital do basquete, duas ligas unidas
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Giancarlo Giampietro

Todo mundo junto em quadra

Todo mundo junto em quadra

Mais que qualquer enterrada ou arremesso do meio da quadra convertido – e, veja, bem, não há naaaada de errado com eles –, o fato mais positivo do fim de semana de Jogo das Estrelas do basquete brasileiro, em Franca, precede o evento em si: a mera união entre as duas ligas nacionais, a LNB e a LBF.

Alguém já deve ter dito por aí que as ideias mais proveitosas geralmente são as mais simples, né? Não é preciso inventar a roda todo dia. Aproximar as meninas dos rapazes poderia parecer meio óbvio, mas era algo que não havia sido feito antes. Até porque não se trata de uma  logística tão fácil. Requer um calendário coincidente, viabilização comercial, bufunfa etc. Mas que bom que eles tenham conseguido, e parabéns para quem teve a ideia.

A união das ligas obviamente contribuiu para que um dos maiores bancos brasileiros, o Bradesco, que já ajuda a CBB a pagar as suas contas, assumisse a condição de patrocinador master do evento, numa movimento bastante instigante. O Pedrocão foi envelopado com suas cores. A ver se o investimento pode realmente se expandir pela modalidade – e se, mais relevante, vai durar mais que um ciclo olímpico no qual o país é a sede do grande evento.

A parceria com a NBA também já rendeu mais três patrocinadores para a festa, registre-se – sem contar aqueles que já tinham vínculo com os dois campeonatos brasileiros. Essas marcas estavam expostas em telas de LED ao redor da quadra, em vez daquelas estruturas metálicas de sempre. A liga americana também enviou a Franca o ex-pivô Horace Grant, tetracampeão, para ser um dos jurados do concurso de enterradas. É de se esperar mais ações nessa linha. Aos poucos, esse acordo, vigente há menos de cinco meses, vai propiciando frutos.

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Nesta sexta-feira, foi bacana levar para a quadra ídolos do passado de Franca – Fausto Gianecchini, Chuí, Edu Mineiro, Paulão e Robertão. Assim como levar Hélio Rubens como jurado, para aclamação popular. Em termos de apelo com a galera, porém, parece que Helinho ganharia eleição para presidente na cidade.

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Nos eventos, quem roubou a cena no Pedrocão foi o ala Maxwell, do Brasília. O jogador de 23 anos era o único, hã, baixinho (1,97 m de altura) no torneio de enterradas, concorrendo com três pivôs: Gerson, do Mogi, Mims, de Uberlândia, e o carismático André Coimbra, figurão aparentemente com status cult na capital brasileira do basquete. Coimbra venceu a disputa após cinco enterradas – mas dá para dizer que tenha sido uma decisão caseira do corpo de jurados. Normal, pelo clima do ginásio.

No torneio de três pontos, Marcelinho Machado mandou ver, a despeito das vaias que ouviu – os demais homenageados foram Ricardo Fischer, Robert Day e, claro, Nezinho. Acho que a torcida deu uma exagerada nessa. O veterano tem ainda mecânica muito rápida, além da facilidade para entrar em ritmo. E dá para dizer que ele curte uma plateia hostil.

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Jay Jay é claramente um  prospecto de NBA enquanto mascote. Ele bem que poderia ter assumido a vaga aberta no Philadelphia 76ers nesta temporada – se fosse Sam Hinkie, teria até mesmo gastado uma escolha de segunda rodada no Draft por ele. Jay Jay é profissa.


Márcio Dornelles: longevidade e consistência em meio a tantas mudanças
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Giancarlo Giampietro

Márcio, 3º jogador mais velho do NBB, ajudando Macaé a subir na tabela

Márcio, 3º jogador mais velho do NBB, ajudando Macaé a subir na tabela

Num extremo, temos os caçulas do NBB, muito pouco aproveitados por suas equipes. Fazendo as contas aqui, chegamos a um número preocupante: apenas 11 jogadores sub-22 que recebam um mínimo de dez minutos por partida na temporada.

Desse dado ínfimo, a lógica nos empurraria para uma conclusão de que o campeonato nacional é dominado por veteranos, e é verdade. Mas existem jogadores experientes e existem aqueles que estão beirando os 40 anos, este um grupo ainda mais raro, que só inclui três personagens.

O Flamengo escala há tempos Marcelinho Machado, que vai inaugurar o clube dos quarentões do NBB 7 no dia 12 de abril – já pode ir comprando as velinhas. Precisamente um mês mais tarde será a vez de Helinho adquirir a carteirinha, no melhor lugar possível para a família: Franca. O terceiro integrante vai demorar um pouco mais, ganhando alguns dias para tirar um sarro de seus companheiros de, digamos, senado: Márcio Dornelles, que vai celebrar apenas no dia 29 de dezembro, quase na virada.

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Que Márcio tenha de esperar um pouco para celebrar não deixa de ser consistente com sua trajetória. Temos aqui um caso bastante peculiar: um jogador de capacidade atlética acima da média no auge, um cestinha muito regular – em que pese uma ou outra lesão e até mesmo a própria inconsistência do basquete nacional, que ele testemunhou de perto –, mas que talvez nunca tenha ganhado a atenção merecida.

marcio-dornelles-nbb-numerosEm termos de seleção brasileira, mesmo, ele não passou dos 20 jogos. Fico escondido ou esquecido numa troca de gerações no perímetro. Viu as convocações de Vanderlei, Rogério, Caio, seu próprio xará Márcio de Azevedo, até que seu contemporâneo Marcelinho assumiu a chave do carro para, depois ser acompanhado pela turma de Ribeirão Preto, o amadurecimento de Marquinhos, chegando a um estágio atual de escassez.

Mas isso não fez o gaúcho de Porto Alegre desanimar. É como se nada estivesse acontecendo. Disputando seu sétimo NBB, o ala começou a temporada 2014-2015 devagar, é verdade, mas vem pontuando bastante nas últimas rodadas, ajudando a colocar o clube fluminense na zona de classificação para os mata-matas.

Em um momento de ascensão, Macaé está na 11ª colocação, depois de vencer o Uberlândia num confronto direto nesta terça-feira, com 18 pontos de Márcio. Foi a terceira vitória nas últimas cinco rodadas para um time que, inclusive, já bateu os dois finalistas do ano passado, Flamengo e Paulistano. Nessa sequência, o veterano teve papel fundamental, com médias de 14,8 pontos e 3,8 rebotes e o aproveitamento de 42,8% nos arremessos de três pontos e 56,6% nos arremessos.

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Esse é o Marcio curtindo sua longevidade, numa competição que pode ter seus problemas estruturais ainda, mas que oferece um cenário muito mais estável do que os tempos pré-LNB, há nove anos, quando o campeonato nacional foi parar na Justiça e a aliança entre os clubes se fraturava. Foi um papo bacana com ele, antes dessa sequência de vitórias do Macaé, o terceiro clube de sua carreira de NBB e o 13º da carreira, cujo elenco tem na rotação o armador Pedrinho, 20 anos mais jovem e um dos poucos adolescentes que encontra espaço na competição. Confira:

21: Quando você estava saindo do juvenil para o profissional, na primeira metade da década de 90, imaginava que estaria jogando hoje, na temporada 2014-2015?
Márcio Dornelles:
Não imaginava, não. Conforme tu vai jogando, vai aprendendo a se cuidar. Acho que isso fica mais forte depois que constrói uma família também. As coisas mudam. A longevidade vem disso, de aprender a se cuidar, de estar bem disposto para treinar.

O Helinho já anunciou que este vai ser seu último NBB. Para você, pelo visto, parar de jogar não é algo que nem passa por sua cabeça, não?
Acho que a gente tem muita coisa que oferecer ainda. Eu ainda não penso em parar de jogar, não. Fisicamente me sinto muito bem, mesmo. Pode perguntar para qualquer um dos atletas mais novos, e vão falar isso. Esse negócio de parar só vai acontecer quando perceber que estou correndo com os moleques e que estão me deixando para trás. Mas hoje corro do mesmo jeito, do lado deles, o que mostra que ainda tenho bastante tempo para jogar.

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Para chegar aqui, você viu muita coisa acontecer no basquete brasileiro. Houve um período bastante conturbado de 2006 para 2007, no qual vimos um racha na modalidade, campeonatos paralelos, inclusive uma competição só entre paulistas, a qual você jogou por Franca. Naqueles tempos, temia que não haveria volta?
Fiquei um ano sem jogar o campeonato nacional, quando estava em Franca e jogamos a Supercopa. Depois de jogar esse torneio, que foi mesmo um Paulista estendido, tínhamos esperança ainda de que poderia mudar, mas, ao mesmo tempo, era difícil acreditar. Falávamos muito com o Hélio (Rubens), que deixava a gente a par das discussões. Os dirigentes de hoje, porém, merecem os cumprimentos e estão fazendo a diferença, botando nosso basquete para cima.

Se for para pegar o basquete no qual você começou e o que viu agora, quais seriam as diferenças mais marcantes?
Está muito melhor, muito mais organizado. A liga deu outra cara para o nosso basquete, com mais organização. Ela cobra os clubes em questão de atraso salarial, de quadra, de estrutura. É um envolvimento maior dos dirigentes da liga pelos atletas. Por exemplo, o fato de soltar tabela antes, de estar fixo na grade da TV, de estar passando na internet também. Ajuda nos planos de todos. Parece pouco, mas faz muita diferença. Antes a gente não sabia nem mesmo quando teríamos jogo. Foi uma grande mudança. Da nossa parte, surgiu a associação de atletas. Mas, sim, tem muito o que crescer ainda.

Nos tempos de Pinheiros, pelo qual jogou o NBB 5

Nos tempos de Pinheiros, pelo qual jogou o NBB 5

Sobre o Macaé especificamente, como está a estrutura do clube, depois de alguns problemas na temporada passada?
Macaé tem melhorado muito. No ano passado, quando chegamos, a estrutura não era a ideal, e isso englobava tudo: fisioterapia, quadra, vestiário etc. Tudo. Para este ano, o clube deu uma guinada, melhorou na parte administrativa, de jogadores e estrutural. Isso também se deve pelo que os atletas necessitam. A gente vai aos poucos falando do que precisamos, e eles vão tentando fazer. Claro que as melhoras são aos poucos. Tem coisa que não sai de imediato, como a reforma do vestiário no ano passado. A tendência é só melhorar, pelo esforço tremendo que estão fazendo para que tenhamos tudo do bom e do melhor. Isso vale para os outros times. A liga está exigindo isso, para que cada vez mais tenhamos condições melhores.

Quando você fala na liga, é mais sobre uma pressão de bastidores ou o simples fato de que a competição em quadra exige o máximo de organização de seus clubes?
Quem não faz, fica para trás. Muito para trás. Tem de fazer. O Brasil está entrando na vitrine do basquete mundial, recebendo jogos da NBA, fechando uma parceria importante, mas temos de melhorar nosso nívelem geral. Seja com a molecada jogando uma LDB, seja reformando ginásios e mudando a estrutura para os adultos. A gente precisa tentar crescer o máximo, aproveitar este momento nosso, que é muito bom.

Como você vê essa parceria entre a LNB e a NBA, aliás? Qual a perspectiva para os jogadores?
Isso é maravilhoso. Essa parceria pode dar muitos frutos para nós. Não para mim, para mim, para o Marcelinho, o Helinho e os mais velhos da liga, mas para a molecada que está vindo agora. Fiquei muito contente pela nossa geração futura. A gente tem muito talento aqui no Brasil.

Quais as metas factíveis para o Macaé neste campeonato? Vemos um campeonato muito equilibrado:
A gente vai tentar o que não conseguimos no ano passado, que é ir para o playoff. Ficamos a uma vitória só, então montamos um time pensando nisso. Primeiramente entrar no playoff, e depois tentar dar sequência. Acho que a gente tem um time com mescla legal, de gente nova com peças importantes e americanos que reforçaram. A tendência é que consigamos a vaga para o playoff, mesmo, e, se tudo der certo, podemos passar pelo primeiro duelo. Você olha a tabela, porém, e não vê descanso. Os times vieram mais fortes. Tenho certeza de que os times olham para Macaé no calendário e pensam isso, que não vai ter jogo fácil, independentemente da colocação da temporada passada. Tem de estar concentrado e jogando no limite.


20 votos para o Jogo das Estrelas do NBB 2015
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Giancarlo Giampietro

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

A assessoria de comunicação da Liga Nacional de Basquete cometeu a loucura de me estender um convite para participar da votação para o Jogo das Estrelas do NBB7, que vai ser disputado entre os dias 6 e 7 de março, com sede ainda para ser anunciada.

Ao menos essa responsabilidade foi divida entre diversos companheiros de imprensa, assim como os técnicos – e seus assistentes –, capitães e (!) árbitros envolvidos com a competição, além de outras “personalidades” da modalidade. Cada um dos eleitores teve a chance de escolher dez nomes para o time brasileiro e outros dez para a equipe estrangeira. Você precisa dividir cada grupo entre titulares e reservas, e os votos dedicados aos titulares ganham peso maior.  Essa é uma novidade no processo que, creio, ajuda a diminuir a chance de injustiças.

Mas, prepare-se, elas podem acontecer. Veja a repercussão, na NBA, para a exclusão de um enfezado Damian Lillard, que não conseguiu nem mesmo a 13ª vaga e foi ao Instagram protestar, lembrando que havia sido ignorado por torcedores, técnicos e até pelo comissário Adam Silver. Ele merecia a vaga de Kevin Durant? Para mim, sim, levando em conta o fato de que o ala de OKC perdeu metade da temporada norte-americana.

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Esse tipo de polêmica certamente vai aparecer aqui neste espaço, agora que abro minhas 20 escolhas. Inevitável. Mas boa parte das discussões depende de quais critérios cada um vai adotar para escolher sua seleção. Pesa mais o sucesso da equipe ou o rendimento individual de cada atleta? Na dúvida, preferi a solução mais fácil: dosar um pouco de cada caminho. Privilegiei os destaques das melhores campanhas, mas também tentei abrir espaço para caras que estejam numa ótima temporada, ainda que seus clubes decepcionem. Só procurei pensar apenas no que acontece neste ano, e, não, ignorando o conjunto da obra – se o cara é o cestinha histórico do NBB, se é medalhista olímpico, se já passou pela NBA etc.

Mais: você vai segmentar, estratificar os jogadores por posição? Na planilha encaminhada pela LNB, era preciso escolher um armador, dois alas e dois pivôs. Esses conceitos são todos meio relativos, não? Pegue um time como Limeira, uma das gratas notícias do campeonato. Nezinho, Ronald Ramon e Deryk estão revezando constantemente, dividindo a quadra, escoltados pelo gatilho de David Jackson, do jeito que o Paulo Murilo pregou sempre em seu Basquete Brasil – e quando dirigiu o Saldanha da Gama. Tentei ir um pouco além da nomenclatura clássica.

Vamos aos votos do VinteUm, então, seguidos por breves explicações. Os quintetos titulares vão ser escolhidos pelos torcedores:

NBB – Brasil
Titulares
Nezinho (Limeira)
Alex Garcia (Bauru)
Marquinhos (Flamengo)
Jefferson William (Bauru)
Rafael Hettsheimeir

Reservas
Coelho (Minas)
Leo Meindl (Franca)
Giovannoni (Brasília)
Gerson (Mogi das Cruzes)
Caio Torres (reservas)

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

O desafio aqui foi evitar de escalar todo o elenco do Bauru, né? Tendo apenas 10 vagas em cada seleção, achei o mais correta a distribuição entre mais clubes, impondo um limite de três atletas para cada agremiação. E aí Ricardo Fischer acabou sendo sacrificado, em detrimento de seus companheiros bauruenses escalados entre os titulares (Alex segue influenciando o jogo dos dois lados da quadra, resistindo ao tempo, Jefferson William é fundamental no sistema de Guerrinha por sua mobilidade e poder de execução, além de um bem-vindo nível de atividade na briga por rebotes e na defesa, e Rafael Hettsheimeir, ainda que deveras enamorado pelo chute de fora, vem sendo bastante produtivo em seu retorno ao país). Nezinho assume a vaga de Fischer, sendo um dos líderes do Limeira, pontuando com muito mais eficiência do que na temporada passada, ainda que frequente menos a linha de lance livre. Para completar, Marquinhos, que ainda não recuperou o ritmo de seu sensacional NBB5, mas tem números que igualam ou superam sua última campanha, em menos minutos, e ainda é um pesadelo para qualquer defesa nacional conter. O Flamengo também não tem sido o mesmo, mas, da mesma forma, continua sendo um time de respeito

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

No banco, o jovem Coelho merece reconhecimento: ganhou autonomia em Belo Horizonte e respondeu muito bem, obrigado. Em termos de produção, é o jogador mais eficiente de sua posição entre os brasileiros, com 14,59 por jogo, mais que o dobro de sua carreira – e o mais interessante pode melhorar muito ainda como um armador forte, veloz e agressivo. Confesso: foi uma dúvida brutal optar entre ele e Nezinho na vaga de titular, mas pesou a maior propensão ao passe e o recorde da equipe do veterano. Leo Meindl vem numa curva ascendente em sua carreira, ajudando o Franca a se manter entre os seis primeiros, a despeito dos problemas financeiros. Talvez não no ritmo esperado, mas está subindo enquanto se distancia de uma complicada lesão no joelho. Seu arremesso de três pontos o abandonou nesse campeonato, e talvez fosse mais interessante que ele usasse sua habilidade no drible e o jogo de média distância para buscar a cesta. Giovannoni faz uma temporada que o colocaria na discussão para MVP, mas o fato de o Brasília ser a grande decepção da temporada impede que isso aconteça.  Foi cruel deixar Lucas Cipolini fora, mas não havia como eleger dois atletas do time candango, a despeito de seu ótimo rendimento estatístico. No garrafão, temos então o jovem e hiperatlético Gérson, que faz Mogi crescer cada vez que vai para quadra com seu energia e dedicação extrema, e Caio Torres, em boa forma, vai fazendo a melhor temporada de sua carreira nos rebotes e como referência interior do time que menos arremessa de três no campeonato. Entre ele e Rafael, a dúvida também é grande. Seus números são superiores, mas o bauruense divide a bola com mais gente. A campanha abaixo de 50% do São José também não ajuda.

NBB – Mundo
Titulares
Jamaal Smith (Macaé)
David Jackson (Limeira)
Marcos Mata (Franca)
Tyrone Curnell (Mogi das Cruzes)
Jerome Meyinsse (Flamengo)

Reservas
Kenny Dawkins (Paulistano)
Ronald Ramón (Limeira)
Jimmy Baxter (São José)
Shamell (Mogi das Cruzes)
Steven Toyloy (Palmeiras)

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

A posição de armador estrangeiro, gente, é a mais concorrida de todo o campeonato. Não encontrei lugar aqui para Caleb Brown, limitado a apenas oito jogos em Uberlândia devido a dores lombares), para o jogo clássico do baixinho Maxi Stanic, do Palmeiras, e nem para Nícolas Laprovíttola, que anda muito inconstante. David Jackson, creio, é uma unanimidade como um arremessador letal de todos os cantos da quadra. Já Mata e Tyrone servem como influência mais que positiva para os jovens companheiros devido ao tino para cuidar de pequenas coisas e a conduta exemplar em quadra. Curiosamente, de tanto fundamento que tem, o argentino vira uma arma ofensiva em quadras brasileiras, assim como aconteceu com seu compatriota Frederico Kammerichs. Curnell pode não ser o jogaodor mais refinado, mas seu vigor físico e seu empenho contagiam. Quando faz dupla com Gérson, é melhor sair da frente – uma dupla que representa bem a identidade vibrante do Mogi. Meyinsse é hoje o pivô mais completo em atividade no país, dosando força física e agilidade acima da média.

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Ramón ganha uma vaga pela consistência que dá ao trio de armadores de Limeira, clube cujo rendimento pede também três indicados. Seus números caíram em quantidade, mas subiram em qualidade, ocupando uma vaga que, em nome e números poderia ser do jovem Desmond Holloway. O Paulistano, porém, insere o explosivo Dawkins no quinteto reserva, mesmo que não repita a química obtida no campeonato passado. Baxter tem números inferiores aos de Robbie Collum (em menos minutos também), uma figura importante para o Minas, mas se sobressai pela postura defensiva. Shamell tem passado bem menos a bola, mas ainda se sustenta como um cestinha decisivo nas quadras brasileiras, enquanto Steven Toyloy voltou a ser uma rocha no garrafão depois de um ano em que foi subaproveitado pelo Pinheiros, levando um Palmeiras a uma honrosa sétima posição.
Estão aí. Se for para xingar, que seja com educação, tá?


Clubes brasileiros asseguram domínio inédito nas Américas
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Giancarlo Giampietro

A loucura de Mogi continua. Final inédita para eles

A loucura de Mogi continua. Final inédita para eles

Já contamos aqui como Bauru e Mogi vão disputar nesta quinta-feira o título da Liga Sul-Americana. Um dado relevante, porém, estava escapando: pela primeira vez na história, um país das Américas – o Brasil, no caso – conseguiu dominar por dois anos seguidos as duas principais competições do continente*. Para aqueles que estão antenados só com a NBA, tem #LSB e a Liga das Américas. De 2013 para cá, ambas têm pertencido a clubes brasileiros.

*Asterisco 1: obviamente estamos tratando do continente da Fiba, né? Sem os irmãos ao Norte da fronteira do México. Caímos naquela mesma discussão de Mundial de Clubes x Copa Intercontinental etc.

*Asterisco 2: só entram na conta aqui os torneios organizados pela Fiba desde 1996, de modo consistente. Desde, então, a Liga Sul-Americana só não foi disputada em 2003; em 2009, houve duas edições. A Liga das Américas passou a ser disputada anualmente desde 2007-08.

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De toda forma, os fatos são estes. Quatro títulos brasileiros em sequência. Não faz muito tempo que as mazelas da seleção nacional contra argentinos caminhavam em simbiose com o âmbito clubístico. “Até quando os times daqui vão perder para os de lá?” – era a incômoda indagação que se fazia, e que agora entrou em desuso.

Jay Jay agora já se acostumou com os clubes brasileiros. Todo respeitoso

Jay Jay agora já se acostumou com os clubes brasileiros. Todo respeitoso

O quanto isso tem a ver com uma evolução do basquete brasileiro e/ou a piora do argentino? Pesa mais o que está dentro ou fora de quadra? O quão determinante são os maiores orçamentos dos clubes nacionais para essa virada? O quanto disso é decorrente da estruturação do NBB? Houve alguma guinada/derrocada atlética de um dos lados?

Enfim, o mais fácil é dizer que o cenário econômico é realmente decisivo. Mas há tantos outros tópicos a serem investigados. Tudo isso exige mais parcimônia na ponderação e também mais tempo para ver se esses resultados serão realmente sustentáveis. Afinal, ainda estamos rodeados de problemas, de bastidor ou refinamento técnico.

Nesta terça-feira, enquanto Bauru e Mogi venciam pelas semifinais da Liga Sul-Americana, Flamengo e Pinheiros não conseguiam entrar em quadra para disputar mais uma rodada do NBB7. Quer dizer, eles até entraram em quadra para se aquecer até que veio uma bomba inesperada: o ginásio do Tijuca ainda não estava liberado para receber o duelo. O jogo, que já não contaria nem com público, foi adiado. Não dá para esquecer a situação triste por que passa Franca. Justo Franca.

Orçamento do Bauru de Guerrinha nesta temporada ainda é coisa rara

Orçamento do Bauru de Guerrinha nesta temporada ainda é coisa rara

Um ponto interessante, todavia, vale destaque: são quatro troféus para quatro clubes diferentes nestas duas temporadas, independentemente do desfecho do duelo Bauru x Mogi. Pinheiros e Flamengo ficaram com a Liga das Américas. Brasília faturou a última Liga Sul-Americana. Agora vai ter um campeão continental inédito.

Brasília já viveu seu período de hegemonia por aqui. No momento, o Flamengo é o time a ser batido – não poderia ter conquistado a #LSB2014, aliás, pelo simples fato de não tê-la disputado. Se mantiver o investimento, Bauru tem tudo para assumir a tocha. Citar esses três clubes em sequência já comprova uma alternância de poder bem-vinda e uma independência de uma eventual superpotência.

Como nos mostra Mogi, subindo um degrau depois do outro, partindo de um torneio Novo Milênio em São Paulo até uma decisão continental, com maior aporte financeiro e retorno de público. Mais um exemplo de que dá para fazer, bastando ter paciência e um projeto sólido. Um pouco de sorte no meio da escalada nunca faz mal. Mesmo que o clube não ganhe o título na quinta-feira, trata-se da história mais saudável nessa ascensão brasileira, significando chances maiores de sucesso duradouro.

*  *  *

Para a Argentina, no biênio 2010-11, para completar quatro títulos continentais seguidos, faltou uma Sul-Americana, a de 2010, que ficou com Brasília, em final brasileira contra o Flamengo. Em 2007-08, faltou aos argentinos uma Liga das Américas, a de 2007. Que não existia ainda, na verdade. Nesse período, conquistaram três títulos com três times diferentes: Libertad de Sunchales e Regatas Corrientes com a Sul-Americana e Peñarol de Mar del Plata com a primeira Liga das Américas.

*  *  *

O Brasil vai subir para sete títulos da #LSB nesta quinta. Ainda faltam cinco para alcançar a Argentina. Nenhum outro país foi campeão do torneio. Na Liga das Américas, são três títulos para cada. A Argentina tem um vice-campeão a mais (2 a 1). O México tem um título, com o Pioneros de Quintana Roo em 2012.


Helinho: “Quero terminar a carreira jogando bem”
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Giancarlo Giampietro

Helinho para o ataque: se aposentando nos seus termos

Helinho para o ataque: se aposentando nos seus termos. Crédito: Newton Nogueira

Aos 39 anos, pode ser que Hélio Rubens Garcia Filho esteja se preparando para se despedir das quadras – mas certamente não do basquete, pretendo estudar para virar treinador. Então falemos em aposentadoria pelo menos como atleta. Se optar por isso, mesmo, não havia lugar mais adequado para fazê-lo do que em Franca, .

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Por mais que tenha ganhado títulos em Uberlândia e no Rio de Janeiro, pelo Vasco, é inevitável associar Helinho à capital da basquete, a cidade aonde nasceu, na qual sua família criou algo que chega bem perto de uma dinastia brasileira. Foi por Franca, aliás, que ele conquistou seus três primeiros campeonatos nacionais, de 1997 a 1999, quando não havia chegado nem aos 25. Depois, ganharia mais três canecos ainda. Na fase de NBB, ainda seria vice-campeão em 2011 e 2013. Hoje, disputa o campeonato como seu segundo jogador mais velho – é exatamente um mês mais jovem que Marcelinho Machado.

Se em abril ele não falava em parar, agora, com o início de mais uma temporada pela frente, o discurso mudou. De modo que fica mais do que apropriado seu segundo retorno ao clube, que defendeu desde a saída das categorias de base nos anos 90 até 2000 e, depois, numa segunda passagem, de 2006 a 2012. “Acho que vai ser meu último ano de carreira jogando. Quero terminar a carreira me sentindo muito bem, jogando bem, dando minha parcela de contribuição”, afirmou ao VinteUm.

Em 2011, contra o Limeira de Ronald Ramon

Em 2011, contra o Limeira de Ronald Ramon

Está bem cedo ainda para falar de prognósticos, mas Helinho, por enquanto, vem cumprindo com suas expectativas – e o time também, com duas vitórias (sacolada para cima do Basquete Cearense e um jogo duro contra Brasília, ambas em casa). Nas duas primeiras rodadas, ele marcou 25 pontos e matou bolas de tudo que é lado da quadra, com 60% no aproveitamento dos arremessos, de dois ou três pontos. O chute que sempre foi a maior qualidade do atleta, um verdadeiro Steve Kerr brasileiro – a média na carreira apenas em NBBs nos tiros de longa distância é de 41,6%, com a diferença de que o integrante do clã Garcia já criou muito mais por conta própria, a partir do drible (média de 3,92 assistências). Sua liderança e intensidade em quadra também foram sempre subestimadas pelo público em geral.Agora, a bola vai ficar mais nas mãos de Juan Figueroa, um dos argentinos do time, ao lado de Marcos Mata, um grande reforço. A combinação do retorno do veterano e da chegada do ala da seleção argentina só vai inflar a esperança do torcedor francano, que anda sedento por uma conquista. “Estão todos muito, muito motivados para chegar mais longe do que nos últimos anos. Essa é a nossa expectativa”, afirma.

Helinho, vice-campeão do NBB em 2011 por Franca. Brasília venceu a final por 3-1

Helinho, vice-campeão do NBB em 2011 por Franca. Brasília venceu a final por 3-1

Bom, se for para levar em conta o retrospecto do clube apenas no NBB, temos as seguinte colocações: 7º, 3º, 2º, 10º e 5º. Então Helinho quer e espera ver seu clube brigando pelas primeiras posições. Não chega a falar em título, mas em vagas nas competições continentais, o mínimo que a exigente cidade espera. E algo que caberia bem para sua eventual saideira.

Confira a breve entrevista, na qual o armador relembra bons tempos com Demétrius, avalia o progresso de Leo Meindl e Lucas Mariano e fala sobre o primeiro trabalho com Lula Ferreira em um clube:

21: Como tem sido este novo retorno a Franca e quais os planos daqui para a frente? Ficará na cidade até o fim agora?
Helinho: Estou muito feliz, cara, um momento muito legal, importante. Acho que vai ser meu último ano de carreira jogando. Estou me sentindo muito bem. Quero terminar a carreira jogando bem, dando minha parcela de contribuição. A equipe é boa e já mostrou que tem qualidades. Estão todos muito, muito motivados para chegar mais longe do que nos últimos anos. Essa é a nossa expectativa. Uma vaga na Liga Sul-Americana ou na Liga das Américas tem de ser um objetivo. Mas é claro que outras equipes também estão pensando nisso. Estamos focados nisso, e eu, focado em poder fazer minha parte para alcançar isso.

Se for sua última temporada, mesmo, como imagina que vai ser? Seu papel, a média de minutos, envolvimento com o time etc.
No Campeonato Paulista eu me senti muito bem, joguei bastante tempo e até muitas vezes jogando de 2, uma posição que eu gosto de jogar. Quando tinha um armador que me passava bastante bola igual o Demétrius (risos), ficava mais fácil. Mas é um papel que gosto de fazer também. Neste momento, como disse, eu quero contribuir da forma que puder, dentro e fora da quadra, para que as coisas possam fluir da melhor maneira possível. Estou me sentindo bem, podendo ajudar, mesmo, nesse início de temporada.

Em 2001, aos 26, na melhor fase pela seleção. Partida contra Colômbia pelo Sul-Americano, com o pai ao fundo

Em 2001, aos 26, na melhor fase pela seleção. Partida contra Colômbia pelo Sul-Americano, com o pai ao fundo

(Aqui, uma breve interrupção: a menção a Demétrius Ferraciú não foi gratuita, mas, sim, pela aproximação de seu ex-companheiro de tantas jornadas, seja por clubes ou seleção nacional, hoje treinador do Limeira, aos 41 anos – dois mais velho que Helinho. Demétrius jogou até os 33. Quando ouviu o comentário de mais um representante da família Garcia, Demétrius disse: “Difícil é achar um desses hoje, né?”, com Helinho consentindo. O repórter, bobão, lembro que aquela era a “dupla do Goodwill Games”, ao que o armador respondeu: “É, aquele torneio foi bom”.

E aí vale aquela digressão: estamos falando dos extintos Jogos de Amizade, quando o calendário do esporte mundial ainda permitia eventos do tipo. Em 2001, em Brisbane, na Austrália, o Brasil deu um calor danado numa seleção dos Estados Unidos composta por atletas de NBA. O elenco tinha Baron Davis, Andre Miller, Jason Terry, Mike Miller, Shane Battier, Wally Szczerbiak, Rashard Lewis, Shawn Marion, Marcus Fizer, Kenyon Martin, Calvin Booth (!?) e Jermaine O’Neal. Os dois times se enfrentaram pelas semifinais, e os EUA venceram apenas na prorrogação, por 106 a 98.

Demétrius chegou a ter a bola do jogo nas mãos no tempo regulamentar, mas Baron Davis não o permitiu arremessá-la. A dupla de armadores brasileiros causou estragos naquela partida, acreditem. Foram 24 pontos para cada. Outra anedota: foi nessa competição que um jovem pivô chamado Nenê Hilário primeiro chamou a atenção dos olheiros internacionais, tendo sido bastante elogiado por Jermaine O’Neal, o cestinha deles na partida com 22 pontos e já uma estrela em ascensão pelo Pacers. Em geral, acho que esse é um dos episódios mais interessantes e talvez menos comentados do basquete brasileiro recente. Agora, de volta ao mundo de hoje…)

Sabemos da paixão genuína de Franca pelo basquete. O clube ainda não ganhou um NBB e não conquista um Paulista desde 2007.  Ao mesmo entendem que o time passou por uma renovação nos últimos anos. Para este campeonato, porém, você voltou, tem um cara do nível do Mata chegando. Como anda a cabeça do torcedor nesses dias? Como está a cobrança?
Na cidade sempre teve cobrança, e nada melhor do que ter cobrança para se ter motivação. Quanto mais você é cobrado, mais vai ter força para fazer. Isso acontece muito em Franca, e acho que é um dos nossos segredos. Estamos num momento importante, tentando fechar alguns patrocínios que ainda não estão acertados. Mas estamos empenhados, com um elenco de jogadores de cabeça boa, que sabem das dificuldades que existem no basquete tanto dentro como fora da quadra. O torcedor entende e abraça a equipe mais uma vez.

Essa é a primeira vez que você vai trabalhar com o Lula Ferreira, não? Pelo menos em clubes. Como tem sido a relação, lembrando sempre da rivalidade com Ribeirão Preto na década passada?
Sim, já joguei com ele na seleção, mas em clube é a primeira. Joguei mais contra aquele time do Lula quando estava no Vasco, e, não, por Franca. Mas muita gente na cidade ainda me aborda e fala disso: ‘Pô, como perdeu aquele Paulista?!’ (Risos) Mas a verdade é que eu não estava naquele time, né?  O Lula é um cara trabalhador, que tem credibilidade e conhecimento da causa. Tem sido um convívio tranquilo. Estou muito feliz, e ele dá liberdade para falar no dia-a-dia. Acho que ele também está sentindo a mesma coisa. Quando você quer ajudar, fazer o bem, naturalmente o bem volta para nós mesmos. A gente se encaixou muito bem.

Helinho, Franca, família Garcia, basquete

Tá em casa

Do ponto de vista nacional, na hora de olhar para o time francano, a curiosidade sempre aguça em relação ao Leo Meindl e o Lucas Mariano. O que você pode nos contar a respeito do progresso deles? O que tem sentido?
São dois jogadores talentosíssimos, que vieram da nossa categoria de base e têm muita confiança no jogo deles. Eu particularmente também aposto muito neles. Acho que no futuro próximo os dois vão estar pegando seleção brasileira. Sinto ainda um crescimento deles nos treinamentos, nos jogos, isso fica nítido. Estamos dando muita força para eles, que serão muito importantes para o clube. Estou sempre falando para eles que os chamo os chamo de ‘galudos’. Estão sempre perguntando, pedindo conselhos, querendo melhorar. Isso, acredito,  é a característica de grandes talentos que querem chegar a algum lugar. Eles têm isso.

E o pai, como está?

Está bem, está bem. Quase que ele veio hoje. Deveria ter vindo, aí ficava completo.


NBB7 tem Flamengo favorito ao tri, mas com nova ameaça
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Giancarlo Giampietro

flamengo-2014-carioca-basquete

O NBB que começa nesta sexta-feira promete o melhor nível técnico do campeonato em sete edições. São ao todo dez atletas que disputaram a última Copa do Mundo, algumas importações de talento interessantes e jovens promissores – sim, eles ainda existem, mesmo que dependam da boa vontade de seus técnicos para jogarem. Fazer um bolão para adivinhar os quatro semifinalistas também será uma tarefa complicada, com muita gente se achando no direito de entrar nessa parada, o que é extremamente saudável. Resta saber o que todos os técnicos por trás dessas forças poderão aprontar, para fazer suas equipes se diferenciarem e subirem na tabela, tirando o máximo da técnica que tiveram à disposição.

De todo modo, em meio a essa crença de imprevisiblidade, uma tese é difícil de se evitar. Nem há muito como escondê-la: por tudo o que conquistou na última temporada – e no início desta –, o Flamengo é o grande favorito, principalmente depois que as negociações de Marquinhos com a NBA não foram adiante. Um jogador único dentro da liga nacional.

Se o time rubro-negro confirmar essa condição, chegará a um tricampeonato, repetindo o feito de seu rival Brasília, que ganhou três taças consecutivas entre 2010 e 2012. Se, para enfrentar adversários da liga norte-americana, em partidas de mais longas, o elenco de José Neto se mostrou reduzido, em cenário nacional, com os 40 minutos regulares da Fiba e uma concorrência mais justa, plantel não será um problema. Nem mesmo o tão sonhado pivô extra, que poderia ter sido JP Batista, parece necessário.

Dessa vez ele terá Vitor Benite desde o início da campanha – em vez de apenas na partida final –, ganhando  mais poder de fogo. Mas o grande chamariz, mesmo, em termos de novidade fica por conta de Walter Herrmann, que, aos 35 anos, tem muito o que render em quadra:

Demais, né? É o tipo de lance que você não cansa de rever. De tão sofisticado que foi o movimento, a cada reprise pode-se reparar em um novo detalhe: nada como fazer da bola de basquete uma bolinha de tênis. Herrmann, Marquinhos e Olivinha formam um trio de atletas intercambiáveis, que podem exercer múltiplas funções, entregando um pacote de características diversas que facilitam muito qualquer riscado de prancheta. A linha de frente é complementada pelo excelente Jerome Meyinsse, que comprovou contra Maccabi e NBA que não é só forte e atlético para os padrões sul-americanos, e Cristiano Felício, que já provou merecer seus minutos em sua turnê pelos EUA.

Não fica só nisso. Nícolas Laprovíttola é o melhor armador em atividade no país hoje, com um arsenal de fintas para entrar no garrafão quando bem entender. O que facilita a conexão com Olivinha, Herrmann, Meyinsse e Felício e, ao mesmo tempo, abre espaço para os chutes de fora de seus companheiros. Se o argentino maneirar um pouco no ímpeto e desistir dessa ideia de chutes de três em movimento, a partir do drible, sua eficiência vai decolar, impulsionando toda a equipe. Sim, há sempre detalhes para corrigir e o que melhorar, mesmo para os campeões. Mesmo para um time com o luxo de contar com um Gegê em constante evolução, saindo do banco. Enfim, um esquadrão, que deve imprimir um estilo de jogo agressivo, de velocidade e combativa defesa.

Uma nova ameaça
O Fla tem três quatro (1, 2, 3, 4) jogadores que disputaram a última Copa do Mundo. O único clube que repete essa marca é justamente aquele que, em teoria, desponta como a maior ameaça ao seu reinado: o Bauru. Campeã nacional em 2002, com os veteranos Raul, Vanderlei e Josuel, um emergente Leandrinho e os adolescentes Marquinhos e Murilo, a cidade só se viu entre os quatro melhores do NBB na edição retrasada, quando terminou em terceiro lugar.

Rafael e Larry, dois selecionáveis

Rafael e Larry, dois selecionáveis em Bauru

Para esta sétima edição, porém, a equipe do interior paulista foi a que mais se reforçou. Num projeto bastante ambicioso, a diretoria entregou a Guerrinha quatro grandes nomes: Alex, Rafael Hettsheimeir, Jefferson William e Robert Day, que se juntam a um núcleo já bastante forte.  As contratações do veterano Alex, que aos 34 ainda tem um vigor físico assustador, e de Hettsheimeir são as que chamam mais a atenção, e não necessariamente pela grife de seleção brasileira. Tirar o ala-armador de Brasília foi uma surpresa, um negócio que causa impacto em duas equipes de ponta de uma vez. Já o pivô passou os últimos nove anos na Espanha, estava em clubes de ponta do campeonato nacional mais forte da Europa e que poucos imaginavam que poderia voltar aos 28. Pois ele queria faz tempo, como revelou ao VinteUm.

O Bauru tem todas as peças que precisa para montar um ataque poderosíssimo. São três pivôs versáteis com Murilo, Hettsheimeir e Jefferson. Larry Taylor e Ricardo Fischer dividem a armação. Guilherme Deodato, o americano Day e Alex rodam nas alas. Esperem trovejadas de três pontos aqui. Constam também os caçulas Wesley Sena (se conseguir bater Thiago Mathias, já será ótimo sinal), Carioca (um tanque em direção ao aro), Vezaro e Gabriel para completar a rotação. As interrogações ficam por conta do joelho de Murilo, que vem dando trabalho, e da consistência defensiva de um time que é baixo no perímetro e vai depender de muita pressão em cima da bola para se proteger – algo que Alex, Larry, Fischer e Gui podem muito bem fazer.

É um plantel mais volumoso e com mais apelo que o do velho candidato Brasília, que tem José Vidal novamente na beirada da quadra. Giovannoni é um sério candidato ao prêmio de MVP do ano, agora com ainda mais responsabilidades ofensivas, enquanto Arthur vai correr ao redor das defesas, se desmarcar e converter seus chutes. Fúlvio é o tipo de armador que vai satisfazê-los em sua sede de pontos. Para a equipe candanga voltar ao top 4, porém, dois pontos são importantes: que o americano Darington Hobson se encaixe e se adapte – já ouvi por aí que ele tem um senso de grandeza um pouco desproporcional ao que produz… – e que Ronald e Isaac esteja prontos para carregar uma carga maior. A defesa vai depender muito dos três.

Mais que o CV
Esses são evidentemente os times mais estrelados da competição. Considerando a divisão de títulos bipolar dos seis primeiros campeonatos, sabemos que isso tende a fazer diferença por estas bandas. Por outro lado, a lista de vice-campeões nos permite pensar, sim, em mais candidatos, ou surpresas. Não é que Flamengo e Brasília tenham chegado a todas as decisões. Nos últimos quatro anos, a equipe derrotada foi diferente.

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano, segundo colocado do ano passado, fez por merecer o respeito de todos e também mantém seu núcleo, com um elenco bastante homogêneo em que os americanos Kenny Dawkins e Desmond Holloway carregam a pontuação e uma série de companheiros os ajudam com defesa, movimentação de bola e espaçamento. Para este ano, chegaram o experiente Fernando Penna (um jogador de que gosto, mas que não sei bem o quanto era necessário num elenco que já tinha o jovem Arthur Pecos para ajudar Dawkins e Manteiguinha) e o americano DeVon Hardin, um gigante extremamente atlético que chega para substituir um Rafael Mineiro, que foi para o São José. O pivô havia feito ótimo campeonato na temporada passada patrulhando o garrafão, ocupando espaços na defesa. Para isso, Hardin, que já foi selecionado no Draft da NBA de 2008, vai ter de mostrar que é muito mais que um campeão de enterradas. E, sim, Fabrício Melo poderia estar aqui, mas acabou dispensado por questões extraquadra. Gustavo de Conti vai tentar fazer dessa turma uma nova encrenca para os adversários.

E, se for para falar em surpresa, não há como ignorar o que o Mogi das Cruzes também balançou o NBB6. Honestamente, talvez nem mesmo o técnico Paco Garcia esperasse que sua equipe poderia alcançar a semifinal e endurecer contra o Flamengo numa série melhor-de-cinco. O problema do sucesso é o desmonte. Quatro de seus atletas migraram para o próximo clube dessa lista. Em contrapartida, chegaram caras de ponta como Shamell e Paulão, além do ala Tyrone Curnell, referência do Palmeiras no campeonato passado, do armador Elinho e do jovem pivô Gerson Espírito Santo, formado em Colorado State. O Mogi pode manter a pegada de  um garrafão pesado, massacrante que o levou  longe, mas também conta hoje com mais alternativas para acelerar o jogo. Tantas trocas, porém, pedem tempo para o acerto. O que não deve mudar é o apoio de sua torcida. Lá o mando de quadra faz realmente diferença.

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Também semifinalista, mesmo numa temporada conturbada em que contou com três técnicos, o São José é outro que tem algumas caras novas para entrosar. E pior: algumas delas chegando de última hora, perdendo a fase de preparação, a ponto de faltar contingente para o técnico Zanon – recém-egresso do Mundial feminino, diga-se – realizar coletivos. Além disso, Caio Torres vem sofrendo com uma tendinite no joelhor direito. A contratação de Mineiro ganha relevância por isso. Valtinho é quem assume a direção agora – Manny Quezada, o homem dos 50 pontos, foi embora. Nas alas, Betinho vai ter a companhia de dois americanos: Andre Laws, que está de volta (e nem dá para entender por que havia sido liberado), e Jimmy Baxter, mais um que vem da Argentina.

Agora vai?
O continente paulista, aliás, talvez chegue com sua maior força ao campeonato nacional, desde que ele passou a ser organizado pela LNB. O estado, maior polo produtor do país, ainda não conquistou o título do NBB, tendo de se contentar com três vice-campeonatos, quatro terceiros lugares e três quatro lugares. Tem mais gente querendo entrar nessa briga.

O Pinheiros estoca as revelações mais tentadoras do basquete brasileiro, com o novato Georginho chegando para a festa, mas tem na contratação do técnico Marcel de Souza seu ponto mais intrigante, que promete algo de diferente no plano tático, encerrando seu exílio. A receita na montagem do elenco é semelhante à de seu rival da capital: nomes não muito badalados, mas com bons jogadores em quantidade (são quatro armadores que pedem tempo de quadra, por exemplo: os irmãos Smith, Paulinho e Jéfferson Campos, sem contar Humberto). Subestimem o quanto quiserem um trator como Marcus Vinícius Toledo, que isso não costuma sair bem. Os resultados recentes do time, campeão da Liga das Américas 2013, também o credenciam.

De volta ao interior, armadores também não faltam a Limeira, agora com Nezinho ao lado de Ronald Ramon e Deryk. A presença de um cestinha como David Jackson e de Rafael Mineiro, Teichmann e Fiorotto também encoraja muito. E quanto a Franca? O time da capital basqueteira dosa, entre seus protagonistas, a cancha de Helinho, que está de volta para trabalhar, veja só, com Lula Ferreira, e dos argentinos Juan Figueroa e estreante Marcos Mata (candidato a MVP?) dois alguns prospectos para a seleção brasileira como Leo Meindl e Lucas Mariano – mas talvez que talvez só sejam aproveitados com maior frequência no outro ciclo olímpico, a julgar pelo progresso deles e o conservadorismo de Rubén Magnano. A rotação, porém, é enxuta.

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

São todos ótimos times, com muito potencial para ser explorado por seus treinadores. Depois do que Paulistano, São José e Mogi fizeram no NBB6, cada um ao seu modo, com trilhas diferentes, está claro que o equilíbrio da competição permite diversos desdobramentos. O maior orçamento, os nomes mais consagrados…  Essas coisas talvez não importem mais. Vai pesar o melhor trabalho de quadra, mesmo.

No Rio, pensando nisso, o Flamengo tem algo que costuma fazer a diferença no basquete: química e continuidade, como o Spurs demonstra na NBA. No caso do gigante carioca, a diferença é que, em seu elenco, estão muitos dos melhores jogadores da liga também. Uma combinação dura de derrubar.