Vinte Um

Arquivo : foi de três

A cesta decisiva – e o migué – de Lillard
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Giancarlo Giampietro

Damian Lillard não quer nada o que ver com isso. O cronômetro a 0s9 do fim, seu time dois pontos atrás do placar? Pffff, tô fora dessa, cara. Não é à toa que ele se coloca lá do outro lado da quadra, com diversos companheiros e adversários posicionados entre ele e a reposição de Nicolas Batum. Podem reparar no vídeo abaixo: o armador do Blazers está vagando pela quadra até que o francês é autorizado a fazer o passe. “La-la-ri-la-lá”, parece estar cantando.

Até que… Partiu!

Quando Chandler Parsons se tocou, já era tarde demais. Um baita migué, daqueles que a gente faz desde que começou a jogar basquete. Lillard fez seu papel direitinho saiu em disparada em sua semiparábola, pronto para fazer o que mais gosta:

Muitos questionaram a decisão de McHale de colocar Parsons em Lillard, em vez de sua peste chamada Patrick Beverley. Bem, o ex-superastro do Boston Celtics fez uma série de bobagens durante todo o confronto, mas não sei bem se essa está conta. Primeiro: Beverley está passando mal há dias, mal treinando direito, provavelmente jogando à base de drogas. As lícitas, no caso. E este era o último instante de um jogo que durou mais de 1h53, depois de algumas duras batalhas já acumuladas nos últimos dias. Além disso, hoje pode soar absurdo, mas Parsons conseguiu se fixar na rotação do Rockets já em seu ano de novato, sendo um cara de segunda rodada de Draft, devido ao seu empenho defensivo. Acreditem, já existiu esse dia. Além do mais, é um cara esguio, ágil e alto. Ideal para atrapalhar a recepção. Né?

Realmente tem o que se discutir aqui. Mas o fato é que, uma vez concluída a jogada, o ala acaba dando razão aos críticos. De modo algum ele poderia ter dado aquela separação inicial para Lillard, com tão pouco tempo no relógio. Nas fotos (mais abaixo), temos a impressão de que ele estava perto para contestar o chute mortal de um craque emergente. Se for pensar no pieque, até que talvez ele tenha se recuperado bem… Só que não. Nada disso: a bola já estava bem distante das mãos de seu adversário quando ele chega para o toco. Pior: nem mesmo um corta-luz foi posicionado no caminho do atleta do Blazers. Não há contato de Mo Williams antes de seu companheiro engatar a quinta.

Com o vídeo congelado em 11 segundos, temos Lillard já praticamente esperneando para mostrar o quão livre ele estava. Já eram no mínimo duas passadas de distância para qualquer marcador mais próximo. E aí que cabe uma outra pergunta para McHale: que diabos James Harden estava fazendo em quadra? Difícil tirar sua superestrela, né? Mesmo quando o figura já é reconhecida como um dos piores defensores de toda a liga. Reparem que Harden fica perdido com Wes Matthews ali na cabeça do garrafão, mesmo que o ala esteja praticamente de costas para a linha de passe.

Damian Lilllard, clutch, inbound play, Game 6, Blazers, Rockets

Com míseros 0s9 por jogar, obviamente não dá tempo de pensar: “Ferrou”, quando a bola chega às mãos do armador, mesmo que o batalhão de estatísticos do Rockets soubesse que Lillard mata 42% de seus arremessos de três tanto em situações de calmaria ou correria (parado ou em movimento). Mas já era, mesmo.

“Nós falamos especificamente para eles que não era para permitir chutes de três”, disse McHale, culpando seu elenco — muitos acreditam que foi seu último jogo como treinador do time. “Não parece que foi verdade. Um puta arremesso. Um puta arremesso. Ficou livre. Puta arremesso. E lá foi o jogo”, disse Jeremy Lin (em tradução livre demais até, porque obviamente Jeremy Lin não fala coisa feia). “É o pior sentimento que já tive na minha vida”, completou o pobre coitado do Parsons.

Um tiraço para a história, em semanas eletrizantes de basquete. Milhares de pessoas permanecendo no ginásio, dançando, gritando, mesmo com o jogo encerrado há tempos. A primeira vitória numa série de playoffs para o Blazers desde 2000. É claro que Lillard queria a bola.

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Por outro ângulo, praticamente dentro da quadra. Reparem nas palminhas:

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As fotos:

Ângulo para deixar o chute mais épico (e mais difícil do que foi)

Ângulo para deixar o chute mais épico (e mais difícil do que foi)

Oi, Parsons, bom dia? Lá foi a bola

Oi, Parsons, bom dia? Lá foi a bola

A separação entre Lillard e Parsons

A separação entre Lillard e Parsons

Lillard para a TV

Lillard para a TV

Damian Lillard 2014, Brandon Roy novembro de 2008: bombas contra Rockets

Damian Lillard 2014, Brandon Roy novembro de 2008: bombas contra Rockets

Deixa falar, deixa cantar, deixa rimar. Lillard, senhor de Portland

Deixa falar, deixa cantar, deixa rimar. Lillard, senhor MC de Portland

It's Lillard Time!

It’s Lillard Time!


Copa Intercontinental: qual deveria ser o legado após título do Olympiacos?
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Giancarlo Giampietro

Spanoulis = craque

Com tanto evento chegando por aí, o termo “legado” entrou firme na pauta de qualquer jornal brasileiro nos últimos anos. Ao final da Copa Intercontinental de basquete em Barueri, o vocábulo também pode ser abraçado pelo basquete de cá, em pelo menos duas cruciais acepções para o desenvolvimento da modalidade.

Em termos de estrutura, o empenho e o lado visionário da diretoria do Pinheiros, sonhando alto, foi vital para que este torneio, que não era disputado há 26 anos, voltasse ao calendário da Fiba, por uma temporada que seja. Uma edição em 2014 não está garantida, embora dirigentes americanos e da Euroliga tenham ficado bastante satisfeitos com a organização e falem em até mesmo incluir campeões de outros continentes no páreo. Vai saber – seria, fato, uma semente plantada em solo fértil brasileiro, com a contribuição da trupe da LNB.

Tirando uma única pane em um dos placares neste domingo – reparada num instante –, tudo funcionou nos trinques no Ginásio José Corrêa. Acesso fácil via Castelo Branco ou de trem. Área ampla para estacionamento (e de graça, sem nem mesmo a famigerada classe dos flanelinhas dar as caras para atrapalhar). Quadra de alto nível, ginásio meio cheio (literalmente), público diversificado (sem ser exclusivamente basqueteiro). Paulo Bassul correndo de um lado para o outro. Um timaço de primeiríssimo nível em visita especial. Dá para fazer, até mesmo sem ajudinha nenhuma de qualquer grande conglomerado de comunicações nacional ou internacional. Basta abordar qualquer meta passo a passo, de modo profissional, sério. Alô, CBB.

(Por falar neles, Carlos Nunes compareceu nas duas partidas, nos brindando com uma anedota: 1) sentou-se lado a lado de Gerasime Bozikis, com quem disputou a última eleição da entidade. Ou foi muito sangue frio, ou temos hoje o caso de um ex-aliado-ex-rival-atual-coleguinha-de-pipoca para o presidente Carlinhos. Hortência também estava lá, bastante aplaudida na sexta. Guilherme Giovannoni fez a viagem de Brasília para o Sudeste também, no único atleta em atividade anunciado pelo sistema de som do ginásio. O diretor de seleções Vanderlei deu as caras, mas Rubén Magnano, não.)

Ginásio José Corrêa, que não é o Correão

Um lado totalmente cheio, o outro vazio. Mas um evento agradável em Barueri

Do ponto de vista técnico, os pinheirenses certamente vão se apresentar para treinar na segunda ou terça-feira com o peito estufado, com o discurso de que enfrentaram o Olympiacos de igual para igual – e, do ponto de vista psicológico, vale tudo. Uma meia verdade. Neste domingo, até equilibraram o primeiro tempo novamente. Chegaram a empatar em 30 a 30. No terceiro período, porém, os gregos, com sua consistência, concentração, experiência, bagagem tática e talento, fraturam a confiançados brasileiros, abrindo caminho para um triunfo por 86 a 69. Um placar que exprime um pouco melhor a distância entre os dois times. Contudo, ainda não conta a história toda (veja mais números abaixo).

Os gregos obviamente eram os favoritos, por diversos motivos. Deu a lógica – e nessa lógica está incluído, sim, o maior poderio econômico dos visitantes, da mesma forma que o padrão de jogo tresloucado do time de Claudio Mortari.

A abordagem em quadra é muitas vezes alarmante, especialmente se comparada com o que os adversários faziam do outro lado. Gente que cozinha a partida metodicamente, passando, passando, passando, de um lado para o outro, em busca de um chute livre, saudável; só investiam as jogadas individuais quando vislumbravam um mismatch óbvio, com Spanoulis e Printezis geralmente incumbidos de tocar essa adiante. Enquanto os anfitriões se contentam e se perdem em atacar na base do bumba-meu-boi, com muito um-contra-um e arremessos absurdos no grau de dificuldade (que Shamell os converta aqui e ali, é para mostrar todo o seu potencial, que, quando canalizado, pode fazer estragos). É cultural.

Defendendo com competência (dobrando no garrafão e longe da cesta), selecionando melhor suas tentativas de cesta (com dribles e passes para fora seguidos), conseguiram a igualdade no segundo período. De repente, com duas bolas forçadas de Shamell e Joe Smith, em sequência, e o placar já estava em 36 a 30 para os visitantes. Dali para a frente a diferença aumentaria e fugiria do controle. Falta consistência, e creio que isso se explica mais pela exaustão mental, devido a uma falta de hábito, do que pela física.

Vale, muito, o estudo dos DVDs…

Mineiro, barrado no baile

Mineiro saltou, correu, batalhou e teve contato com uma outra realidade

Pegue-se, por exemplo, o caso de Jonathan Tavernari. Não assistia ao filho da treinadora Telma desde suas últimas partidas pela Seleção, na era Moncho. Conissão feita. Daí que as atuações deste final de semana deixam uma imagem muito preocupante. De jogador de liga nos dias de BYU, pau-pra-toda-obra, vemos hoje um ala muito limitado, viciado em arremessos de longa distância – sem a menor eficiência. Em 61 minutos em Barueri, o jogador cometeu 5/18 no perímetro (27,7%). Ele tentou apenas três bolas de dois pontos no total, todas elas neste domingo, sem acertar nenhuma. O que deu no rapaz? É como se ele tivesse uma secreta meta a ser batida na temporada.

Tavernari não foi o único dos brasileiros a ter dificuldades extremas para competir com adversários deste nível. O espevitado Paulinho até conseguiu uma ou outra bandeja, quando tinha o mínimo de espaço para avançar em linha reta. No geral, porém, o “armador”mal conseguiu jogar. Em 55 minutos, somou 19 pontos (8/18), uma assistência e quatro desperdícios de posse de bola. Já Rafael Mineiro procurou lutar, não abaixou a cabeça, sua capacidade atlética ficou evidente, mas o pivô estava visivelmente fora de sua zona de conforto, sofrendo com os trancos contra oponentes bem mais físicos, terminando com 10 pontos, 13 rebotes, 7 desperdícios e apenas 3/13 de quadra.

Com um elenco reduzido, se comparado com o da potência europeia, o Pinheiros se viu, então, numa enrascada ainda maior – apenas Shamell e Smith produziram num grau de normalidade (criando jogadas normalmente). O que não quer dizer que o time paulista perdeu apenas por defasagem financeira, embora o técnico Georgios Bartzokas tenha destacado o cansaço de seus adversários, que usaram basicamente sete atletas durante todo o confronto, enquanto ele se sentia tranquilo em escalar seus 12 relacionados.

Aliás, incluam aqui o ala-pivô Dimitrios Agravanis, de 18 anos, e seu xará Katsivelis, armador de 22 anos. Os dois puderam até mesmo iniciar o duelo deste domingo como titulares e, juntos, tiveram 25 minutos. Mortari, do outro lado, bem que poderia ter colocado deus garotos muito mais cedo no quarto período. Não só seria um movimento de prudência da sua parte, preservando as principais peças de sua rotação minguada, como daria uma chance raríssima para que os promissores Luas Dias, Bruno Caboclo e Humberto pudessem enfrentar os campeões europeus. Para se ter uma ideia, o mesmo Bartzokas fez questão de menci0nar em sua entrevista coletiva o quão impressionado ficou apenas com o que viu no aquecimento (!) da molecada. Eles estavam enfileirados para o exercício de bandejas/arremessos de frente para o banco ateniense. No caso do ala-armador Humberto, pode esquecer essa coisa de bandeja: o jogador de 18 anos salta muito e castigava o pobre aro quando chegava a sua vez de finalizar. Impulsão, leveza e elasticidade de encantar, mesmo.

Lucas entrou nos três minutos finais, enquanto Caboclo ficou apenas um minutinho em quadra – uma pena, principalmente pelo fato de que o MVP do último camp “Basquete sem Fronteiras”, da NBA, estava jogando em casa. Quando levantou-se do banco para ir para a quadra, um por um grupo de amigos vibrou na arquibancada. Os gregos já venciam por mais de 15 pontos (e 25 no geral…). Não custava nada, mesmo. Poderia ter sido mais um legado.

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Vamos brincar de somar os números das duas partidas? Já que estávamos diante de uma estranha decisão de 80 minutos, valendo o salto de cestas, valendo como um grande jogo em dobro?

Arremessos: Olympiacos 60/101 (59,4%) – Pinheiros 49/132 (37,1%)
Dois pontos: Olympiacos 46/67 (68,6%) – Pinheiros 34/78 (43,5%)
Três pontos: Olympiacos 14/34 (41,1%) – Pinheiros 15/54 (27,7%)
Lances livres: Olympiacos 33/42 (78,5%) –Pinheiros 26/32 (81,2%)
Turnovers: Olympiacos 36 – Pinheiros 27
Assistências: Olympiacos 41 – Pinheiros 19
Rebotes: Olympiacos 77 – Pinheiros 49

Se foi de parcial em parcial que o time grego foi aumentando sua vantagem na sexta-feira e no domingo, a comparação estatística acima ajuda a contextualizar sua dominância no geral. Sobre os percentuais de arremesso, não precisa dizer muita coisa.

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Spanoulis, merecidamente, é o primeiro jogador lembrado em dez de cada dez textos sobre o time grego. Mas Georgios Printezis também merece suas linhas. Um guerreiro. Joga com muita intensidade e não para de atacar, incomodar. Neste segundo jogo, carregou a equipe em diversas ocasiões e tirou os adversários do sério com o monte de faltas cavadas ao partir para a cesta. Na Europa, claro, não é todo dia em que ele será usado desta maneira, enfrentado defesas muito mais compactas. Contra o Pinheiros, porém, exibiu sua versatilidade, podendo funcionário tanto como arma primária ocasional, como aproveitando as assistências de Spanoulis com seu deslocamento fora da bola.

Printezis infernizou

Printezis, atacando, atacando, atacando e atacando, sem parar

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O serviço de olheiros do Olympiacos está de parabéns também. Seu orçamento é de superpotência comparado com o que temos aqui no NBB, mas, na Europa, ainda não consegue fazer frente a um Barcelona ou CSKA Moscou, dois que lhe roubaram jogadores importantíssimos de seu título europeu. Tudo bem? Parece: os americanos Bryant Dunston e Brenton Petway vão dar muito trabalho para a concorrência na Euroliga que se inicia no dia 16 de outubro (com transmissão do canal Sports+, 28 e 128 da Sky).  Dois jogadores muito atléticos, ativos, ágeis e prestativos.


Notas sobre a 1ª final da Copa Intercontinental e duas abordagens de jogo
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Giancarlo Giampietro

Spanoulis, procurando alternativas

Visão fechada? Spanoulis e o Olympiacos buscam alternativas, mesmo assim

O atraso sobre a atualização do primeiro jogo da Copa Intercontinental de clubes, com vitória do Olympiacos por 81 a 70 sobre o Pinheiros, tem uma justificativa capital: aniversário da matriarca 21. Prioridades são prioridades, né?

Então, como está bem tarde e neste domingo de manhã lá vem mais jogo, não há motivo para se estender muito num texto encadeado, que já nasce perecível e nem poderia ser definitivo, uma vez que uma segunda partida entre os campeões continentais vem pela frente neste domingo. Então vamos acessar o que aconteceu nesta partida por meio das salvadoras notas. Vamos a Barueri novamente para conferir de perto.

Para constar, uma derrota por até 10 pontos ainda faria dos gregos os campeões mundiais no domingo em Barueri. É um regulamento um tanto esdrúxulo para uma competição de basquete, mas, depois de um intervalo de mais de duas décadas para testemunharmos esse tipo de disputa, acaba valendo tudo.

Algumas anotações sobre o que vi na sexta-feira:

– A escancarada diferença entre os estilos de ataque. Não é que o Olympiacos possa ser caracterizado como “socialista” e o Pinheiros, o grande vilão “capitalista”. Mas que o time europeu tem uma vocação para o passe muito mais natural, paciente, instintiva, é inegável. Dá para citar aqui o número de assistências de um (23) contra o do outro (12), mas nem isso faria justiça ao que se viu em quadra. Agora, se formos colocar em perspectiva, notamos que foram 23 assistências dos visitantes para um total de 34 cestas de quadra. Isto é, 67,6% de seus arremessos foram resultados de jogadas trabalhadas por um companheiro. No Pinheiros, o número ficou em 48%. É uma bela diferença.

Além disso, contamos somente cinco jogadores do time paulistano pontuando. No adversário, foram nove contribuindo no placar final, com quatro também em duplos dígitos. Tem muito a ver com orçamento, mas não se limita a isso.

– Aqui é o ponto certo para falarmos sobre a má e velha questão dos arremessos de três pontos. De novo: a questão não muitas vezes não tem a ver sobre o quanto se arrisca de fora, mas a forma como se faz. E o Pinheiros forçou MUITOS chutes de longa distância. Ciente da relevância do tema, deveria ter feito um scout pessoal de tentativas forçadas de longa distância. Repito: seria estritamente pessoal, numa visão que obviamente seria questionada sobre a comissão técnica brasileira. Mas alguns dos chutes foram absurdos, bem atrás até mesmo da linha da NBA (Jonathan Tavernari parece estar se “especializando” neles, aliás – todos os seus disparos foram de fora, todos, sim: 4/13 para ele). Na sexta, o campeão americano matou 29% no perímetro externo, enquanto os europeus acertaram 39%. De novo uma grande vantagem a favor dos helênicos.

E aqui você precisa ver o jogo para entender a origem desse tipo de estatística. Foram diversas as oportunidades em que, no ataque do Olympiacos, uma infiltração (via drible ou passe) resultava em um passe para a zona morta e, dali, a bola ainda seria movida mais uma vez para um chutador completamente livre na quina da linha exterior. Caixa. Mais uma assistência e três pontos para os visitantes. Esse tipo de movimento aconteceu sem parar, mes-mo.

(Não quer dizer que eles também não façam loucuras: Spanoulis também tem seus momentos de estrela em que breca de longe e chuta sem pestanejar, mesmo com as pernas pesadas, pesadas – várias de suas primeiras bolas deram bico.)

Do outro lado, Shamell, Tavernari, Paulinho e Joe Smith se aventuraram individualmente sem parar. A bola cai? A torcia vibra (Ponto! Cesta! É gol!). A bola bate no aro? (Uuuh! Aaah! Que pena! Na trave!). Por mais que um ou outro tenha recursos para o drible e jogadas individuais (e não mais que isso, diga-se) e até o jogo de pés e munheca (fundamentos, ufa) para criar e matar, forçar arremessos assim é desafiar qualquer probabilidade de sucesso. Até Claudio Mortari por vezes se manifestava ao lado da quadra, com as mãos espalmadas para baixo e os braços se flexionando, pedindo: “Calma, pessoal, calma”… Mas como alterar, de um jogo para o outro, os modos, os gestos praticados no decorrer de uma ou mais temporadas?

O Pinheiros não correu (para se aproveitar das pernas pesadas dos adversários), mas se precipitou em vários ataques. Foi muito de “eu-pego-e-chuto-daqui-sim-senhor” que incomoda demais.

– Compare os percentuais de dois pontos também: o Olympiakos matou 73% de saus bolas de dois pontos. Contra pífios 39% do Pinheiros. Isso é algogritante. Foram diversas as ocasiões em que Shamell (que fez uma bela partida, diga-se) partiu para a cesta e atirou pedradas em direção ao aro. É como se ele não estivesse mais habituado a converter jogadas simples, de tanto que fica distante do garrafão. E o americano tem a força física e drible para jogar lá dentro.

Aqui também cabe um adendo defendendo o jogador: o americano ficou em quadra por 37 minutos. Descansou um pouquinho aqui e outro pouquinho no quarto período, quando Mortari viu que ele já não tinha mais pernas pra nada. Uma das pedradas aconteceu momentos antes de sua substituição a 2min18s do fim (?). Do outro lado, Bartzokas tirou Vassilis Spanoulis a 8min12s do quarto período, para depois recolocá-lo em quadra com 2min54s restando no cronômetro.

– E como o Pinheiros se manteve perto no placar final, então, caçamba? No início do terceiro período, os gregos venciam por apenas 56 a 51.

É só conferir o número de turnovers. O Olympiacos cometeu 22 deles, o dobro do Pinheiros. Isso resultou em muitas, mas muitas posses de bola a mais para os brasileiros. Recapitulando o número de arremessos de quadra: foram 55 para os de Atenas, contra 72 para os de São Paulo. O time de Mortari teve 17 chutes a mais. Tivesse uma seleção mais consistente no ataque, realmente poderiam ter ganhado a partida.

Méritos para a defesa que forçou tantos desarmes? Sim, que pelo menos batalhou para recuperar a bola. Rafael Mineiro, nesse quesito, merece uma salva. O ala-pivô se atirou ao chão sem parar atrás de “divididas”, se sacrificando pela equipe, ainda que não estivesse na melhor noite ofensiva (e nem fosse muito alimentado).

Agora, não se pode esquecer também que os gregos contaram praticamente com cinco estreantes em sua rotação, quatro dos quais atuaram por mais de 13 minutos (e três acima de 18). Em várias ocasiões, um pivô hesitante procurou o outro dentro do garrafão num “deixa que eu deixo” que resultou em recuperações por parte dos brasileiros. Perspicácia dos defensores, atentos, mas que também se aproveitaram da falta de entrosamento de quem atacava, de gente que ainda está em pré-temporada.

– Não foi uma surra, sob nenhuma ótica. Mas o Olympiacos venceu três dos quatro períodos, perdendo apenas o segundo por 19 a 17. O Pinheiros só liderou o placar com cerca de cinco a quatro minutos no relógio desta segunda parcial. Num ataque com 4min40s, Joe Smith, matou um contra-ataque no mano-a-mano, e fez 26 a 22 para o time paulistano. O primeiro tempo, de todo modo, encerrou-se com um 32 a 30 a favor dos helênicos.

– Spanoulis foi sacado com 5min28s no segundo quarto, com duas faltas. Estava marcando Shamell, num claro despreparo de Bartzokas. É de se esperar que, nesta segunda partida, o astro grego seja preservado, sem ter de perseguir o cestinha americano.

– A maior média de pontos da carreira de Stratos Perperoglou na Euroliga: 7,1 por partida em 2010-2011. Na sexta, ele curtiu sua noite de cestinha, com 15 pontos, atacando a cesta em infiltrações impensáveis (algo que escrevi aqui ser uma raridade), como se fosse um Spanoulis. Terminou com 6/6 nos dois pontos, 100%. Para os que o marcaram, é de se pensar.

– O ginásio José Correa, no centro de Barueri: bastante agradável (ainda que, no meio da galera, possa ficar um tico abafado mesmo numa noite fria). Uma bela iluminação no exterior, chamando a atenção para quem chegava de trem (Oi! Nós existimos!). Dentro, ótima visão de jogo. Para os organizadores, o único senão foi a espremida saída para o público, no final. De resto, com telões bonitões, bela quadra, Jay-Jay, e tudo, uma noite agradável, bastante positiva para o basquete brasileiro em termos operaconais. Vale destacar também o bom número de vagas ao redor do ginásio. Bem fácil o acesso. Próximo da rodovia para quem foi guiando (ok, vamos pensar hipoeticamente num mundo sem trânsito) e bem perto também da estação Barueri.

– Pode o Pinheiros adotar uma seleção melhor de arremessos? Como jogar para vencer por 12 pontos? Vão correr mais, mas sem perder a cabeça? Daqui a pouco, as respostas…


Campeão asiático, Irã está no Mundial. E o que mais sobre o 1º torneio classificatório?
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Giancarlo Giampietro

Haddadi ali com o bração aberto

Irã: WE ARE THE CHAMPIONS! Via @HamedHaddadi

A profecia se fez como previsto: 2013, e Hamed Haddadi lidera o Irã a mais um título do campeonato asiático da Fiba. Como MVP, claro.

Daria para fazer aquela autopromoção básica, né? Sacar aquele bacaninha, supimpa “conforme antecipamos”, mas isso já está mais batido que a própria rotina de glórias e dominância do pivô no vasto continente. Pensou em basquete de seleções na Ásia, pensou em Haddadi, meus amigos.

Na final, já com a vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014 garantida, o iraniano se aproveitou da ausência do americano Marcus Douthit e trucidou os pivôs das Filipinas, os donos da casa, somando 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos. Escreveria aqui que ele teve sua jornada de Shaquille O’Neal, mas nem isso vale, já que converteu 71,4% de seus lances livres.

Agora, descentralizando um pouco o post, fugindo da sombra de Haddadi, vale destacar que a final em Manila não foi exatamente um passeio para o país do Oriente Médio. O primeiro tempo terminou com uma vantagem de apenas um ponto (35 a 34) para os visitantes. Até que as parciais de 27 a 19 e 23 a 18 nos quartos seguintes resolveram a parada (85 a 71).

Foi um contraste de duas abordagens ofensivas distintas.

Os filipinos, por Deus!, arremessaram 34 vezes da linha de três pontos, contra 35 de dois. Por uma mísera e infeliz bolinha de dois que eles não conseguem a maioria absoluta das tentativas do meio da quadra. Um pecado certamente lamentado por Porto Rico e muitos patrícios. Não importando de onde dispararam, o fato é que a turma deixou os dois aros significativamente avariados, com uma pontaria de apenas 31,9% no geral – se de fora eles fizeram 29,4%, não dá para dizer que havia uma bola de segurança interna (apenas 34,3%).

Já os iranianos ao menos tinham Haddadi para desequilibrar. Com ele, acertaram 61,4% dos chutes de dois pontos, para compensar os desastrosos 17,6% de longa distância (3/17, uma blasfêmia). Eles também se atrapalharam todos com a bola, cometendo 19 turnovers.

De todo modo, mesmo com essa carência evidente no seu jogo de perímetro, é de se admirar o fato de que o Irã tocou sua campanha sem contar com a ajuda de nenhum estrangeiro, algo cada vez mais raro em competições internacionais. Jogaram, mesmo, e de forma competente, com seus Davoudichegani, Afagh e Jamshidijafarabadi, para pesadelo dos locutores nacionais.

Coreia é bronze!

Coreia do Sul de Eric Sandrin está na Copa também

O mesmo vale, aliás, para a Coreia do Sul, que beliscou a terceira vaga ao bater Taiwan na disputa pelo bronze, por 75 a 57. Quer dizer, se formos levar ao pé-da-letra, havia um estrangeiro no time: o veterano ala-pivô Lee Seung-Jun, de 35 anos, também conhecido como Eric Sandrin, norte-americano filho de uma coreana e que andou jogando até mesmo pelo Brasil na década passada – foi parceiro de Sandro Varejão e Ratto no Brasília. Andarilho, passou também por Luxemburgo e Portugal até se estabelecer lá por perto de Seul. Então é como se ele fosse um Scott Machado veterano.

Para os torcedores saudosistas do Portland Jail Blazers, a nota triste fica pela ausência do gigante Ha Seung-Jin. Xuim. Nesta preliminar, o sul-coreanos ensinaram aos filipinos como se faz, convertendo 45,8% de seus arremessos de três pontos (pontaria superior ao que tiveram de dois, 43,9%). Inicialmente, esse número seria um alívio. Tudo o que gostaríamos de escrever aqui era que, a despeito de toda essa mudança climática e da revolução 2.0, ainda poderíamos respirar em paz sabendo que um time coreano ainda chuta bem de fora. Mas, no geral, eles tiveram rendimento de apenas 34% no campeonato (66/194), algo alarmante. Estamos todos fritos, mesmo.

Quer dizer: todos menos Haddadi.

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A China, com todo a grana, astros (ou ‘astros’, coff, coff!) da NBA importados para sua liga nacional, protagonizou a grande façanha do Campeonato Asiático, ao ficar sem vaga direta para a Copa do Mundo. A equipe passou por um papelão na fase de quartas de final ao perder Taiwan por 96 a 78. Justo para quem! Nessa partida, os chineses venceram o primeiro tempo por dez pontos de vantagem, mas tomaram uma virada escandalosa no terceiro período (31 a 12). Para registrar, o pivô Yi Jianlian perdeu alguns jogos no torneio devido a uma contusão, mas esteve em quadra nos mata-matas. Em cinco jogos, ele teve médias de 17,4 pontos e 6,6 rebotes em apenas 24,6 minutos por partida. Na hora de distribuição dos quatro convites para o torneio, porém, é bem provável que a Fiba lhes reservem um.

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Interessante a classificação das Filipinas para o Mundial. O país é doente por basquete, a ponto de entender que JaVale McGee é uma espécie de Deus – vejam que coração bom têm os católicos de lá. Kobe Bryant anda por lá neste momento, enfrentando tempestade e tudo, LeBron James fez uma visita-relâmpago há pouco, e a capital Manila conta com uma arena de primeiro nível, que, depois de receber o torneio continental neste mês, vai acolher um amistoso de pré-temporada entre Rockets e Pacers, no dia 10 de outubro.

Mall of Asia Arena

A Mall of Asia Arena, com capacidade para 16 mil espectadores

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Os torneios qualificatórios regionais continuam nesta semana com o clássico entre Austrália e Nova Zelândia, na Oceania. O primeiro jogo será na quarta-feira, em Auckland, e o segundo, domingo, em Canberra. Com Patty Mills, Joe Ingles, David Andersen, Matthew Dellavedova e a revelação Dante Exum no elenco, os Boomers são claramente os favoritos. Pelos Tall Blacks, nada de Steven Adams (jovem pivô selecionado na 12ª posição do Draft da NBA pelo Oklahoma City Thunder) e do veterano Kirk Penney. Destaque para o ala-armador Corey Webster, um cestinha explosivo, e para o ala faz-tudo Tom Abercrombie.


Stephen Curry promove bombardeio inédito na linha de três pontos e atormenta o Nuggets
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Giancarlo Giampietro

Perigo: Stephen Curry avistado

Já citamos seus 54 pontos no Madison Square Garden como uma das melhores atuações de toda a temporada, mas precisamos falar mais sobre Stephen Curry. Que todos entrem e fiquem confortáveis – menos o Ronaldinho Gaúcho, que torce para o Denver Nuggets.

Vamos colocar desta maneira: fosse jogador do NBB, o craque do Golden State Warriors beiraria os 65 pontos por partida. Considerando a facilidade que se tem para jogar em transição por aqui, ou mesmo os buracos que aparecem na defesa em meia-quadra dada a geralmente tímida contestação no perímetro, e ainda levando em conta a menor distância da linha de três pontos, e seu eventual apelido seria “Tempestade”.

Não é uma questão de ser incoerente. O jogador deveria sempre buscar o arremesso de maior probabilidade de acerto, sim, em vez de se acomodar no perímetro. É que, no caso de Curry, pasmem, seu chute funciona melhor de longa distância do que na área de dois pontos. (Ok, nos seus três primeiros anos na liga, suas médias de dois pontos foram sempre superiores ao que fazia de três. E ele também nunca apelou tantas vezes a esse recurso – em 2010, ‘queimou’ 380 vezes, enquanto em 2011 ficou em 342, com rendimento de 43,7% e 44,2%, respectivamente. Mas…) Pelo menos nesta temporada foi assim: 45,3% de três, contra 45,1% no geral. Veja no gráfico retirado da sensacional e bombada área de estatísticas do NBA.com:

Quando se aventura perto da cesta, seu rendimento está abaixo da média da liga (daí a cor vermelha). De média distância, Curry é regular, medíocre. De fora, porém, tirando os tiros frontais, só verdinho: tem um aproveitamento incrível, especialmente da zona morta pela direita. Se o rapaz ficar livre por ali, um abraço. Contra o Nuggets, ele não está hesitando nem por um segundo sequer em agredir, tendo somado 20 arremessos de três nas duas primeiras partidas em Denver. Sai de baixo, que o bombardeio está em andamento. Há rumores, inclusive, de que a defesa civil tenha colocado a cidade do Colorado em estado de alerta.

É um padrão que segue o que ele produziu durante todo o campeonato. O armador do Warriors converteu 272 arremessos de três, quebrando o recorde de 269 que pertencia a Ray Allen. No total, ele arriscou mais do que o dobro de fora (600 vezes!) do que em lances livres (291). Novamente: para um jogador comum, não seria uma disparidade recomendável. Mas estamos falando de um caso especial, de alguém que mata esse tipo de bola com extrema facilidade, mesmo em uma jogada de um contra um. Como nesta bola aqui em sua noite absurda no Garden:

Dá para confundir com sorte? Com toda a envergadura de Tyson Chandler em sua direção, o corpo caindo levemente para a direita, é possível  que sim. Mas repare na consistência de sua mecânica e de seus movimentos, parecendo um robozinho. Ele não chega a alcançar a elevação máxima em seu jumper, mas seu gatilho é rápido o suficiente para compensar:

O triste é que Stephen Curry voltou a  sentir, em Denver, seu tornozelo pela 47ª vez nos últimos três anos e disse que, se o jogo fosse nesta quinta-feira, não teria condições de ir para a quadra. Como está marcado para sexta, confia de que vai se recuperar. Os torcedores do Warriors aguardam com ansiedade. Lá eles não razão alguma para temer o que vem de cima.

*  *  *

É coisa de DNA. O pai de Stephen Curry, Dell, jogou na NBA de 1986 a 2002, passando por vários clubes, mas se destacando de verde pelo Charlotte Hornets nos anos 90, como coadjuvante de Larry Johnson e Alonzo Mourning. Ele terminou sua carreira com belo aproveitamento de 40%, tendo liderado a liga na temporada pós-locaute em 1999, matando 47,6% de seus disparos. O irmão mais novo de Stephen, Seth, se formou pela universidade de Duke neste ano e tenta ingressar na liga profissional no próximo draft com média de 39,3% de longa distância, e 43,8% em sua última campanha.

Nenhum dos três ficou famoso, porém, por ser um grande defensor. O armador do Warriors tem muito o que melhorar nesse sentido.

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Curry é um cara confiante em seu arremesso, mas não tem nada de invejoso.

Dia desses o jovem ala Nik Stauskas, vice-campeão universitário por Michigan e mais um da nova geração canadense, postou uma brincadeira no YouTube no qual jura ter feito 102 cestas de três pontos em cinco minutos. Obviamente não fiz a conta, então vamos dar um voto de confiança para o cara, que realmente desequilibrou muitos jogos nesta temporada para os Wolverines no perímetro. Tá certo também que ele mal se mexe aqui para fazer seus arremessos, descansando as pernas, aumentando a concentração também. Aí que o Stephen Curry assistiu tudinho e chamou o moleque no Twitter para uma disputa no futuro. Admitiu que era um vídeo “impressionante”. Então não vai ser o blogueiro com seu aproveitamento de 33,3% no auge que contestaria.

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Um perfeccionista, daqueles bem chatos mesmo em seus comentários, o ex-ala-armador Rick Barry – o capitnao de outra família cuja habilidade nos arremessos está no sangue e campeão pelo Warriors nos anos 70 – afirmou que Curry e o ala Klay Thompson já formam uma das melhores duplas de chutadores de todos os tempos.


Prévia dos playoffs da Conferência Leste da NBA: Parte 1
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Giancarlo Giampietro

 1-MIAMI HEAT x 8-MILWAUKEE BUCKS

A história: os caras de Miami venceram 37 de suas últimas 39 partidas. Seus adversários? Venceram 38 em todo o campeonato. Precisa dizer mais?

O jogo: o Bucks… Bem, o Bucks tem dois armadores extremamente fominhas em Brandon Jennings e Monta Ellis, que podem ganhar um jogo por conta, mas perder muitos também da mesma maneira – com chutes descabidos restando 15 segundos de posse de bola, em flutuação, na cabeça do garrafão. Enquanto isso, Mike Dunleavy Jr. e JJ Redick, extremamente eficientes, correm o risco de ficarem apenas como espetacores. O duro é que, contra uma defesa tão ágil e atlética como a do Heat, talvez não haja escapatória além das investidas de seus dois pequenos. O que mais? Seu elenco é composto por 340 pivôs interessantes, mas que roubam uns dos outros o tempo de quadra, impedindo qualquer consistência. Um dos melhores defensores do campeonato, Larry Sanders vai ter de se virar no perímetro contra Chris Bosh. Luc Richard Mbah a Moute, caso estivesse bem fisicamente, poderia se meter no caminho de LeBron algumas vezes. Ersan Ilyasova se recuperou de um início de campanha calamitoso para justificar a bolada que recebeu na hora de renovar seu contratos, embora não cause tanto impacto assim no destino da equipe. Enfim, estamos procurando aqui mais e mais motivos que pudessem animar os anti-Heat, mas está complicado. Ao menos, Ellis e Jennings estrelaram o comercial mais legal da NBA em muito tempo, embora seja bizarro falar de união justamente sobre esses dois fominhas:

De dar nos nervos: Shane Battier é tão ingeligente, mas tão inteligente numa quadra de basquete, que pode dar raiva, sim. Estamos falando de um verdadeiro cdf. O ala conhecido como Sr. Presidente na China – isso vem dos tempos em que era companheiro de Yao no Rockets – ganhou ainda mais notoriedade no vestiário do Heat com seus discursos pré-jogo durante a sequência de vitórias histórica da equipe. Mas seus serviços mais importantes acontecem em quadra, cumprindo um posicionamento defensivo impecável, que compensa seu jogo, digamos, terreno. Battier é daqueles que sempre dá o passo à frente, para fora da área restrita ao redor da cesta. Daqueles que quase nunca salta diante da primeira tentativa de finta de seu adversário, mantendo os pés plantados, o braço erguido, forçando o oponente a tomar outra decisão. Forte, com estatura mediana, casou muito bem com LeBron na defesa, numa combinação vital para o aprofundamento do “basquete sem posição” planejado por Spoelstra. Não é à toa que, no ano em que se tornou agente livre, foi recrutado de imediato por LeBron e Dwyane Wade para juntar forças no Miami. Os astros sabiam o que era jogar contra ele.

Olho nele: depois do título, muitos davam a carreira de Mike Miller por encerrada. O ala mal conseguia celebrar direito na saída de quadra, totalmente travado nas costas. Os jogadores do Heat, mesmo, brincavam que ele estava precisando de uma cadeira de rodas ou, no mínimo, um andador para as férias. Aí que Pat Riley encontoru um meio de roubar Ray Allen de Boston, e o papel do ala parecida cada vez mais secundário. Em fevereiro, ele disputou apenas um jogo. Em março, só foi ganhar tempo de quadra significativo a partir do dia 24. Em abril, porém, quando Spo começou a descansar seus titulares, especialmente Wade e LeBron, Miller se apresentou surpreendentemente como um jogador que ainda pode ser relevante para o time: arremessando mais de seis bolas de três pontos em média durante nove partids, ele matou 51,8% delas. Suas médias foram de 12,1 pontos, 5,1 rebotes e, melhor, 3,7 assistências em apenas 27,2 minutos. Nos playoffs, com a tendência de jogos mais amarrados, apertados, ter um atirador de longa distância – e ótimo passador – disponível nunca é demais.

Palpite: Bucks 4-2.

(Brincadeira, é que por um minuto o Brandon Jennings hackeou minha máquina).

Miami 4-0, fora o baile.

 2-NEW YORK KNICKS x 7-BOSTON CELTICS

A história: Spike Lee espera muito mesmo por uma grande campanha dos Bockers nos playoffs. Mas muito mesmo. Dá para imaginar as capas dos tabloides nova-iorquinos todas pintadas de azul e laranja, e o Garden bombando. A expectativa é tanta que qualquer coisa abaixo de uma final de conferência seria considerada um fracasso. Agora, vá você tentar convencer os orgulhosos Paul Pierce, Kevin Garnett e Doc Rivers disso. Eu? Tou fora.

O jogo: resta saber apenas se KG terá condições de batalhar em quadra. O mesmo vale para Tyson Chandler do outro lado. Sem os pivôs, essa pode ser a primeira série na história pós-George Mikan a ter um jogador de 2,06 m de altura – Jeff Green, no caso, em registros oficiais… Vai saber se chega a isso – como o mais alto em quadra. O plano tático de Mike Woodson de small-ball ficou ainda mais aprofundado depois dos problemas físicos de Tyson Chandler (um baque) e Rasheed Wallace, Marcus Camby e Kurt Thomas (nenhuma novidade aqui). E toca tiro de três pontos: seu time foi o que mais arremessou de longa distância na temporada (2371, dois a mais que o Rockets, e 981 a mais que o Celtics!!!). A ideia é espaçar ao máximo a quadra para deixar Carmelo operar, o que quer dizer que Jeff Green terá um trabalhão danado. O ala enfim justificou a panca de superestrela, num grande campeonato. Por mais que Paul Pierce tenha os nova-iorquinos como suas vítimas preferidas, fica difícil de imaginar que ele possa, a essa altura, se equiparar ao potente cestinha do Knicks. Se JR Smith mantiver o ritmo das últimas semanas, o tempo fecha de vez.

De dar nos nervos: Raymond Felton, Pablo Prigioni, Jason Kidd… Respirem fundo, amigos, porque o Avery Bradley é uma peste que só na pressão quadra inteira, 3/4 ou meia quadra. Não importa onde e como o armador adversário drible a bola: contra Bradley, está correndo risco de ser desarmado. Sua movimentação lateral – ou “jogo de cintura” – é inigualável. Veja este clipe aqui:

Ou, se quiser, este:

 Como se diz mesmo? “Monstro”?

Olho nele: era para ser Leandrinho, mas a lesão no joelho tirou o brasileiro da temporada. Então vai de Jordan Crawford, glup. O ala ex-Wizards foi contratado de última hora para assumir as atribuições antes designadas ao brasileiro: carregar a bola vindo do banco e pontuar. Agora, nem sempre é bonito. Ou melhor, raramente é bonito de se ver. Porque Crawford realmente pode conduzir a bola, mas quem disse que ele é obrigado a passá-la? Um jogador muito talentoso, mas extremamente individualista. Observem e esqueçam, depois, por favor.

Palpite: Knicks em seis (4-2).

*PREVIA DO OESTE: Thunder x Rockets e Spurs x Lakers.
* PREVIA DO OESTE:
Nuggets x Warriors e Clippers x Grizzlies.


Haja perna: Paulistano encara maratona de prorrogações pelo NBB
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Giancarlo Giampietro

É de se imaginar que jogar uma partida de prorrogação tripla, fora de casa, não seja fácil. E que tal, três dias depois, passar pelo mesmo sufoco? Para o Paulistano, foi moleza.

Já estão prontos para outra!

Quer dizer, nem tanto, né?

A equipe de São Paulo venceu neste sábado o Vila Velha por 126 a 120, em 55 minutos de jogo. Foi o mesmo tempo de duração de seu triunfo sobre o Minas na quarta-feira passada, por 114 a 109, em Belo Horizonte. Haja perna para correr tanto.

Agora imaginem a confiança do elenco para as próximas partidas? Depois de encarar uma árdua sequência dessas, saindo vencedor em ambas, não há como avaliar as coisas de modo diferente, independentemente se foram atuações de alto nível, ou não.

O confronto deste sábado contra o time dirigido por Daniel Wattfy não primou necessariamente pela defesa, e o Paulistano acabou quebrando o recorde de pontos do campeonato nacional (que pertencia ao próprio clube, aliás, num retumbante placar de 120 a 93 contra o Brasília em novembro de 2011). Nos três primeiros quartos, por exemplo, em apenas uma parcial as duas anotaram mais de 20 pontos – no segundo período, o Vila Velha ficou ‘só’ nos 19 p0ntos. Apenas no quarto final que eles tiraram o pé: vitória por 16 a 13 dos visitantes, forçando a prorrogação.

O Paulistano, aliás, perdia por 85 a 80, com menos de um minuto para o fim da partida. O talentoso armador panamenho Joel Muñoz matou uma bola de três para empatar o placar. Nos tempos extras, a contagem ficou em 41 a 35 para os rapazes dirigidos por Gustavo de Conti. Isto é, foram 76 pontos em 15 minutos de jogo… Com ninguém mais com cabeça ou perna para defender.

A boa notícia para os jogadores do clube situado no Jardim, dãr, Paulistano é que agora eles não voltam para a quadra tão cedo, uma vez que o campeonato entra em recesso para celebrar seu jogo das estrelas no próximo fim de semana – apenas dois jogos estão marcados na próxima semana: Basquete Cearense x Brasília, na terça, e Limeira x Pinheiros, na quarta.

*  *  *

Nestes embates com tripla prorrogação, os números surtam. Por exemplo:

– O Paulistano teve oito jogadores com 11 pontos ou mais, liderados pelo cavalo chamado Alex Oliveira (20 pontos e 11 rebotes, cinco ofensivos).

– Os mesmos oito atletas dividiram a quadra de um modo mais adequado, variando entre os 22min46s do pivô Wágner e os 42min27s do ala Pedro.

– O Vila Velha teve cinco atletas excluídos com cinco faltas.

– Pelo time da casa, o norte-americano Jay Parker marcou 35 pontos, mas precisou de 25 arremessos para isso, sendo 21 deles absurdamente da linha de três pontos. Sério: o cara realmente arriscou 21 chutes de longa distância na mesma partida, ficando em quadra por inacreditáveis 47min57s. O armador Alexandre Pinheiro acumulou 14 pontos, nove rebotes e oito assistências.


Imortais e sem badalação, Spurs ainda estão na briga pelo título da NBA
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Giancarlo Giampietro

Tony Parker e os velhinhos vibram

Por Rafael Uehara*

Dos gigantes do Oeste, talvez apenas o Memphis Grizzlies tenha recebido menos atenção que o San Antonio Spurs no começo da temporada. Os Lakers fizeram as duas maiores aquisições da janela de verão em Steve Nash e Dwight Howard, o Thunder, além de retornar de uma aparição nas Finais, trocou James Harden a três dias do início da campanha, os Clippers fortificaram a parte de baixo do elenco e muita gente confiava nos Nuggets e nos Timberwolves para fazerem barulho.

Enquanto isso, San Antonio reteve todo o time que dominou a liga na temporada passada, vencendo 20 de suas últimas 24 partidas, o único problema sendo que as quatro derrotas vieram em seguida nas mãos do muito mais jovem e superatlético Oklahoma City nas finais da conferência.  Mas, badalados ou não, os imortais Spurs continuam na briga pelo título visto que o time que ganhou 60 de seus 80 jogos em 2011-2012 atualmente lidera a liga em vitórias, com 18 em 22 jogos, postando o segundo melhor saldo de pontos (indicativo de dominância), tendo jogado contra a quinta tabela mais difícil até o momento, de acordo com Jeff Sagarin do jornal americano USA Today.

Através de seu calibrado ataque, focado na habilidade de criação de Tony Parker no pick-and-roll depois de anos e anos centralizado no fundamentalismo de Tim Duncan no garrafão e na magia de Manu Ginóbili no perímetro, San Antonio tem se tornado um rolo compressor. Muitos poucos têm um Thabo Sefalosha para atormentar Parker. E, quando o francês tem liberdade para atuar,  os Spurs permanecem uma força a ser reconhecida. O time é o quarto classificado em pontos por posse, de acordo com o site MySynergySports.com.

Além da criatividade de Parker, a eficiência desse ataque se dá a constante procura pelo melhor chute através de intensa movimentação de bola – San Antonio lidera a liga em assistências (postando 25,5 em média), e pontaria certaria dos arremessos no perímetro – os Spurs têm acertado o quinto maior número de arremessos de três pontos, em grande maioria graças aos 40,2% de aproveitamento que Danny Green tem em arremessos de fora do arco.

Ah, e Duncan ainda tem papel importantíssimo no desempenho da equipe. Para os que se preparavam para uma possível aposentadoria do astro nas férias, os Spurs tiveram uma agradável surpresa ao ver o futuro membro do Hall da Fama rejuvenescido. De fato, o jornalista Eric Koreen, que cobre o Toronto Raptors para o jornal canadense National Post, constatou que os números padronizados de Duncan este ano são iguais, mas iguais mesmo àqueles que ele postou em sua campanha como MVP 11 anos atrás.

Talvez mais surpreendente seja o impacto que Duncan tem tido na defesa do time. Geralmente quanto mais velho o jogador vai ficando, mais porte físico perde e menos consegue contribuir na defesa. Mas Duncan, em seus 36 pontos de idade, faz o time tomar cerca de seis pontos por 100 posses a menos na defesa quando em quadra, de acordo com NBA.com/advancedstats. De acordo com o portal MySynergySports.com, Duncan tem permitido a oitava menor quantia de pontos marcando o pick-and-roll. E, liderados por Duncan, San Antonio recuperou o pedigree defensivo pelo qual o time de Gregg Popovich ficou conhecido ao ganhar seus quatro títulos, mas que havia perdido na temporada passada. Os Spurs têm atualmente a quinta melhor defesa em pontos por posse.

Desde o começo da temporada passada, San Antonio venceu 78 de seus últimos 102 jogos. Este elenco está em uma sequencia fantástica e que deveria ser mais celebrada. Enquanto o foco continua nos problemas que os Lakers encontram ou no começo de temporada surpreendente dos Knicks, os Spurs continuam fazendo o que fazem de melhor; ganhar. E continuam vivíssimos na briga pelo título.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um para este mês. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.

PS: Durante dezembro, por motivos de ordem profissional (embora a gente goste mesmo é de férias, o Vinte Um vai ser atualizado num ritmo um pouco mais devagar. Voltamos no final do mês com tudo.


Campeonato Paulista faz de tudo para afastar o torcedor mesmo durante as finais
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Giancarlo Giampietro

De todos os campeonatos estaduais de basquete do Brasil, o Paulista é o único que se sustenta com diversos clubes de elite na disputa. É hoje basicamente o único vendável para a TV, sendo disputado em sua grande maioria por jogadores profissionais, atletas com passagens por seleção brasileira e muitos, mas muitos estrangeiros mesmo.

Posto isso, o que testemunhamos nesta temporada foi preocupante. Ainda mais quando nos concentramos apenas nos mata-matas, sua fase de definição e, por isso, sua fase mais importante. Se isso é o melhor que podemos fazer no momento, imagine…

Vamos lá. As duas primeiras partidas da final tiveram um nível técnico muito abaixo, algo desencorajador. Não tem como aliviar muito depois de considerar estes dados aqui: em 80 minutos de basquete, tivemos 65 desperdícios de posse de bola e 94 arremessos de três pontos por parte de Pinheiros e São José. E, tal como a série empatada por 1 a 1, a divisão desses quesitos também foi bem equilibrada entre as partes.

São números estarrecedores, gente: 0,8 erro e 1,15 chute de longa distância por minuto de jogo.

Aí chega a hora de assumir um desafio imenso, aquela hora de botar a cuca (do blogueiro) para funcionar. Tentem me acompanhar enquanto a máquina não funde. 🙂

Se, hipoteticamente, toda posse de bola fosse usada até o fim, usando os 24 segundos na íntegra, teríamos a média de duas posses e meia por minuto ou cinco a cada dois minutos. Mas claro que não é desta maneira que acontece. Existem contra-ataques que não levam nem dez segundos para ter sua conclusão, há aquelas investidas abreviadas por uma falta mais cedo resultando em lances livres e muitas outras variáveis. Então demos um desconto: que cada minuto tenha quatro posses de bola, num ritmo frenético (cada posse, aqui, levaria 15 segundos). Mesmo com esse ritmo acelerado, chegaríamos a uma conclusão de que metade delas (1,95) terminaria de modo previsível – ou com um chute de três, ou com a bola nas mãos do árbitro/torcedor/gandula/treinador/mesário/locutor… Em qualquer lugar, menos na cesta.

Pode procurar, mas vai ser difícil encontrar uma liga ou um torneio de elite em que esses números sejam um padrão. Ainda mais quando sabemos que, dos 94 disparos efetuados de fora, apenas 33 foram convertidos (35,1%). E nem importa: o padrão de jogo não muda, ganha quem erra um pouco menos, quem for um pouco menos tresloucado, e segue a vida.

*  *  *

Não só como supervisora do estado em que hoje é mais profícuo na produção de clubes e, por consequência, jogadores, a FPB também tem uma boa parecela de responsabilidade nisso com seu calendário completamente desregulado. Estamos no dia 24, e sabe quantos jogos dos playoffs foram realizados em novembro? Quatro. Contando o terceiro jogo deste domingo, serão cinco partidas no mês. Que ritmo as equipes podem adquirir desta forma? E, mais importante, como educar e/ou cativar o torcedor quando você assiste a um jogo que já não é o melhor e você não sabe nem quando é o próximo?

*  *  *

O presidente da CBB, Carlos Nunes, estava, digamos, escoltado por Rubén Magnano nesta segunda partida em São Paulo. Nada mais coerente.

 


Brasil barbariza na bola de três. Vai ser sempre assim?
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Giancarlo Giampietro

Marcelinho Machado para três

Em geral, antes de fazer seu comentário, na tentativa de ser o mais original possível, recomenda-se ao blogueiro que não bisbilhote por aí na rede, para não ser influenciado.

Depois de assistir ao VT de Brasil x Espanha B nesta quinta de manhã, porém, infringimos essa regrinha aqui ao abrir o Basquete Brasil, do professor Paulo Murilo. E o que acontece? Claro que se influencia.

Como de praxe, o ex-técnico do Saldanha da Gama levanta um ponto importantíssimo a respeito do modo como o brasileiro tem atacado. Diante de tantos chutes de três pontos do time em jogadas de cinco contra cinco, ele comenta desconfiado: “Hmm… Sei não”.

Reforçamos essa reticência aqui. Quando encarando uma defesa plantada, a seleção tem jogado muito pouco com seus pivôs. Seja Nenê, Splitter, Varejão, Caio ou Guilherme. Eles precisam ser alimentados muito mais vezes, gente. Talento não falta ali.

Creio que a contestação é válida mesmo depois da surra que os caras deram nos espanhóis ontem. Não é todo dia que vai chover bola de três pontos na cesta deste jeito (aproveitamento de 64%). Isso é um fato. Mesmo que muitos desses tiros de longa distância tenham sido/sejam bem trabalhados, não se  pode trabalhar excessivamente para isso: há muitos momentos em que eles parecem a única finalidade do time.

O número de 25 chutes pode não parecer muito para alguns. Mas, se for o seu caso, considere o seguinte: com a forte defesa e diversos contra-ataques, boa parte de nossos arremessos totais foram meras e ótimas bandejas livres. Resulta que, em termos de posse de bola com o relógio andando normalmente, digamos, o volume de bolas de longa distância cresce consideravelmente.

Em Londres, quando enfrentarem uma defesa mais bem armada e ativa no perímetro do que os espanhóis ‘bês’ apresentaram, como vai ser? Vão fintar e buscar a infiltração? Vão dar mais um passe para tentar um arremesso ainda mais equilibrado? Antes desse possível chute, vão ao menos procurar estabelecer um jogo interno qualquer? Essas perguntas podem ser importantes muito em breve.

* * *

Tirando Guilherme, não parece, realmente, que nossos pivôs estão um pouco enferrujados? Splitter deu uma parada ao final da temporada. Nenê vem sofrendo com seus problemas no pé. E Varejão ficou muito tempo inativo por causa da fratura sofrida no pulso. Bem, para eles deslancharem, nada melhor do que abastecê-los nesses jogos preparatórios.

* * *

Depois de uma sacolada dessas, não dá apenas para levantar dúvidas. Tem de elogiar também, e o ponto mais positivo até aqui é a intensidade da equipe. Defendendo sem parar, perseguindo a bola, quebrando o ritmo dos adversários que haviam conseguido muito mais contra a Argentina na semana passada. A diferença na abordagem brasileira, comparada com a dos vizinhos, em termos de pressão na bola, fica gritante. Para manter esse ritmo, Magnano vai rodando seu time de modo constante. É um plano de jogo bem agressivo e interessante, que já virou padrão. E essa abordagem dá uma boa segurança para a equipe se ajeitar no ataque – sem contar as inúmeras bandejas acima citadas.

* * *

Se já não faz parte do seu hábito, durante toda a temporada, é meio que obrigatório conferir as análises do professor Paulo Murilo.