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Arquivo : Rafael Mineiro

Varejão no #Rio2016? Ficou mais difícil e passa por aprovação do Warriors
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Giancarlo Giampietro

Varejão participou da cerimônia da tocha neste domingo, sem forçar as costas

Varejão participou da cerimônia da tocha neste domingo, sem forçar as costas

Você pega o celular e, de repente, se depara com este link aqui e este release:

“Informamos que o atleta Anderson Varejão embarcou para os Estados Unidos na noite de ontem (domingo, dia 24), por orientação de sua equipe (Golden State Warriors/NBA). O capixaba, que integra o grupo que se prepara para os Jogos Olímpicos Rio-2016, passou a última semana em tratamento intensivo em função de fortes dores nas costas. Anderson, que foi liberado pela CBB para a viagem, será submetido a exames mais detalhados nos próximos dias e passará por avaliações que vão auxiliar na sequência de sua recuperação.”

Tiago Splitter está fora, e agora fica realmente sob ameaça a participação de Anderson Varejão no #Rio2016. Como o comunicado deixa claro, o pivô foi chamado de volta aos Estados Unidos pelo Golden State Warriors, com quem acabou de assinar um novo contrato, válido por um ano, para a próxima temporada da NBA. Conhecendo o zelo dos clubes da liga americana com seus atletas, esse foi um desenvolvimento natural depois que, no sábado, os companheiros Fábio Aleixo e Adriano Wilkinson nos informaram sobre a situação complicada do veterano, que vem sofrendo com uma lombalgia.

O detalhe é que, na matéria, Aleixo e Wilkinson escrevem que “que a comissão técnica brasileira vê os dois amistosos que o time fará em Mogi das Cruzes, na quinta e no sábado da semana que vem – contra a Austrália e China, respectivamente – como fundamentais para a definição sobre o pivô. Se Varejão não estiver apto a jogar, a comissão vai cogitar seriamente cortá-lo do grupo”. Os planos do Warriors eram diferentes.

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Várias dúvidas surgem, então: para um atleta que está com lombalgia, a longa viagem até Oakland é a melhor solução? Por mais que embarque de primeira classe, e tal? Ele será avaliado já nesta segunda-feira? Quando os médicos do clube estarão preparados para fazer um diagnóstico?  Varejão está com um contrato mínimo, daqueles que os clubes não hesitam em rescindir, se for o caso. Então qual é o exato relacionamento entre o capixaba e a diretoria? Se estiver liberado, será que conseguirá se apresentar a Magnano até quinta-feira, mesmo que dificilmente vá ter condições de jogo? Corre-se o risco de Anderson chegar aos Jogos sem poder treinar adequadamente por duas semanas?

Percebam que a combinação de tantas perguntas – ao meu ver lógicas, nada alarmistas – coloca a comissão em uma situação difícil. Varejão é dos jogadores mais experientes da equipe, inclusive em competições Fiba. Nesse sentido, a ausência de Splitter já era bastante sentida. Mas não seria um risco levar apenas quatro pivôs saudáveis para um torneio desses, sendo que um dos quatro é (toc-toc-toc) Nenê, outro atleta que também já sofreu diversas lesões sérias na carreira? Segundo a apuração do UOL Esporte, Varejão pode ser substituído até o dia 2 de agosto. Os candidatos? Qualquer atleta incluído na pré-lista original, que tem mais de 50 nomes. Se bobear, então, até Pipoka e Israel estão nessa.

Brincadeira à parte – nestas horas de maior tensão, é preciso rir um pouco –, Magnano e sua comissão ficam sob pressão para tomar uma decisão que definitivamente não é simples. Mesmo no caso de liberação do Warriors, não há garantias de que o capixaba vá estar em mínima forma quando a competição  começar para a equipe brasileira, no dia 7 de agosto.

Se tiver de correr atrás de um substituto, olho em Cristiano Felício. Por mais que o técnico não tenha gostado nem um pouco de seu pedido de dispensa, para jogar a Summer League de Las Vegas pelo Bulls, o argentino já se mostrou bastante flexível na hora em que a corda apertou durante os últimos anos. As portas não estão fechadas, e, passada a competição de veraneio, talvez o clube de Chicago não ofereça resistência. Felício, por sinal, arrebentou por lá novamente.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?

O que joga contra o jovem o pivô é, claro, o fato de ter recusado a primeira convocação. Como o restante dos atletas reagiria a sua chegada tardia? Outro ponto: ele mal terá treinado com os companheiros. Por outro lado, qualquer adição, a essa altura, seria um problema do ponto de vista de entrosamento (em quadra) com a equipe, mesmo para veteranos como João Paulo Batista, Olivinha e Rafael Mineiro. Do trio flamenguista que foi vice-campeão pelo Sul-Americano há algumas semanas, Mineiro teria minha preferência, devido a sua estatura, capacidade atlética e seu subestimado poderio defensivo já comprovado contra adversários de primeiro nível internacional (vide Copa Intercontinental).  Em termos de experiência, JP seria o mais bem cotado, creio.

Ao que parece, não existe preparação da seleção brasileira que possa avançar sem soluços ou sustos. Mas isso é algo recorrente para o mundo Fiba hoje, com o calendário apertado.  Por mais que a CBB dê uma forcinha sempre, este processo acontece praticamente com todas as federações. A questão é a transparência para resolver os problemas. Vamos aguardar.

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As primeiras impressões sobre o Flamengo 2015-2016
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos já está voando pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Marquinhos já se candidata a MVP pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Algumas notas com base do que vi dos jogos contra o Orlando Magic e Bauru. Vamos lá:

Quem já está acelerando, voando em quadra? Marquinhos. Entre o basquete que pôde apresentar pela seleção pela Copa América e o que já ofereceu nesta segunda em Bauru, são dois mundos completamente diferentes. Descendo a ladeira da Panela (veja só as frases absurdas que alguém pode construir…), o veterano ala lembrou novamente a força que pode ser em quadras nacionais.

Contra Bauru, mesmo que seu aproveitamento de quadra não tenha sido o mais eficiente, com 17 pontos em 16 arremessos (2/7 de três), a notícia que fica é a volta de seu arranque com a bola, batendo até mesmo os armadores que tentavam cercá-lo. A defesa bauruense, em geral, só conseguiu pará-lo com faltas (foram cinco recebidas). Também deu oito passes para a cesta e apanhou sete rebotes. Acreditem: nos grandes jogos, a atual configuração do Flamengo vai precisar dessa agressividade e desse tipo de rendimento.

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Ao blog, o ala disse que durante as férias fez um trabalho específico com personal trainer e ganhou mais massa muscular, com a ideia de chegar na melhor forma na reta final da competição. Que será a hora de brigar por troféus e, além disso, principalmente, se apresentar a Magnano tinindo.

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José Neto não quis dizer que sim, nem que não após a derrota para o Bauru. Na verdade, o técnico não estava com cara de quem topava discutir muita coisa com nenhum jornalista na segunda-feira, apelando a respostas cada vez mais evasivas, seja por esconder o jogo, para preservar seus atletas ou por entender que o interlocutor não está preparado para assimilar sua carga tática. Vai saber.

Então, diante de um silêncio efetivo, nos resta fazer deduções, que já vêm desde o fechamento do elenco rubro-negro para a temporada 2015-2016. Ainda que o comandante seja o mesmo, o time tende a mudar bastante.

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

É claro que eles ainda vão pontuar em transição. As cestas no contragolpe são em geral aquelas mais visadas, mais fáceis, depois dos lances livres.  Mas suas peças novas sugerem que essas escapadas serão mais esporádicas e só na boa, na certa, especialmente contra adversários mais qualificados.

A saída de Laprovíttola, Benite, Felício e até mesmo de Herrmann (versão ala-pivô) resultou numa grande perda de velocidade e arrojo. Dos quatro novos protagonistas, apenas Rafael Mineiro tem velocidade e/ou predisposição para correr quadra inteira e atacar. Rafael Luz, jovem, obviamente também daria conta, mas sua vocação é para um jogo mais controlado, pelo que pudemos ver em seus jogos pelo Obradoiro e pela seleção brasileira pan-americana. Também oriundo do basquete espanhol, Jason Robinson, por ora, está no mesmo ritmo. Sobre João Paulo Batista, nem precisamos nos estender.

>> Alguém pode impedir uma final entre Bauru e Flamengo?

Sobraria, então, para Marquinhos ser esse propulsor. Agora: se correr é uma forma de evitar o choque físico, gera tanto ou mais desgaste, e não sei bem se você vai querer sobrecarregar seu melhor jogador, por mais que ele se apresente em excelente forma e que a preparação física do flamenguista seja a melhor do país.

De volta ao país após mais de 10 anos, JP vai chamar constantes marcações duplas

De volta ao país após mais de 10 anos, JP vai chamar constantes marcações duplas

Se o Flamengo não vai correr tanto, precisa compensar na execução de meia quadra, com um basquete mais bem engendrado e de imposição técnica e física. E eles têm jogadores inteligentes e talentosos para tanto. Cabeça por cabeça, talvez seja o coletivo de maior QI do NBB.

O jogo interior tem tudo para ser o mais poderoso do liga, e de longe. JP é um dos cestinhas mais eficientes e oportunistas da liga, podendo render tanto com o chute de média distância como de costas para a cesta em isolamento, bem como em deslocamentos sorrateiros a partir do corta-luz. Rafael Mineiro é elástico e ágil demais para alguém de sua estatura e, se ganhar a confiança da comissão técnica e dos companheiros, pode render em diversos pontos de ataque. Meyinsse ainda é uma dor-de-cabeça (e de costelas, baço, rim e tudo o mais) perto da cesta, enquanto Olivinha vai trazer a energia e o faro de bola de sempre. Ao redor deles, Marquinhos, Robinson e Marcelinho vão arremessar de três pontos com prazer. É de se esperar que Mineiro e Olivinha também subam para chutar.

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Rafael Luz vai botar esses caras para jogar. Para lidar com o armador, é preciso entender as diferenças entre seu jogo e toda a criatividade de Laprovíttola. O novo armador não vai entrar em quadra pensando em marcar 20, 15 ou mesmo dez pontos. Mas talvez termine com sete assistências, seis rebotes e quatro roubos de bola. Poderia olhar mais para a cesta, certamente. Houve um lance no segundo tempo contra Bauru em que ele pegou o rebote ofensivo a dois passos do garrafão, pela direita, no fundo da quadra, e, se o pensamento de arremessar passou por sua cabeça, foi bem rápido, pois ele virou a cabeça automaticamente para a direção contrária e fez o passe para fora. O técnico Neto, figura sempre agitada ao lado da quadra, não conseguiu esconder sua frustração com o lance. O mesmo aconteceu quando Rafael errou um passe bobo para um desatento Marquinhos a 3min52s do fim, resultando em turnover e sua quarta falta, para cima de Fischer, brecando o contra-ataque, quando a partida pegava fogo (foi uma das tantas chances de empate que o Flamengo desperdiçou no quarto período, diga-se).

Parece sem confiança na hora de finalizar, no momento. Mas há muito o que ele pode oferecer a um time com sua pegada defensiva (é um armador alto, forte e combativo) e senso de organização. Um passe pode fazer mais bem que o arremesso. Quanto mais entrosado estiver com os novos companheiros, mais influência positiva ele vai exercer sobre eles. Só é preciso um pouco de paciência e que se evite comparações entre jogadores completamente diferentes.

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Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Jason Robinson é uma incógnita.O americano tem 35 anos e, em 2013, chegou a pensar em se aposentar. Quanto estendeu a carreira, viveu talvez sua melhor temporada em 2013-2014, pelo San Sebastián, sendo o segundo principal cestinha da Liga ACB. Isso não é para qualquer um, mas foi um tanto bizarro para um jogador que por grande parte de sua trajetória frequentou as divisões menores da Espanha ou até mesmo de Portugal. Pelo Zaragoza, no ano passado, seu rendimento já não foi mais o mesmo. Ainda assim, é um cara experiente, rodado para compor a rotação flamenguista no perímetro. Mas também alguém beeeeeeem diferente de Vitor Benite.

Está claro que o jogo de transição não é para ele. No segundo tempo, durante a reação flamenguista, ele abriu mão de várias chances de contra-ataque, preferindo ir com calma. Está muito cedo para avaliar o ala. Em um primeiro momento, parece um atleta complementar, que sabe fazer um pouco de tudo no ataque e está respeitando e conhecendo os companheiros, enquanto assimila aquilo que o cerca. Na defesa, fez um bom papel contra Alex nas ocasiões em que estiveram duelando.

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É por isso que não estranharia se, no decorrer da temporada, o mundo desse mais uma volta, e Marcelinho Machado, aos 40 anos, se torne uma peça fundamental para o Fla mais uma vez, como um parceiro de Marquinhos na agressão e criação de jogadas.

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Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Rafael Mineiro saiu de reforço do Mundial para inimigo público em Bauru, sendo o jogador mais *homenageado* pela torcida legal. Claro que, na esportiva, dá para entender, já que ele saiu de um clube para o outro. A verdade é que o pivô flamenguista passou por uma sequência de trocas de camisa que dificilmente vai ser replicada por algum jogador brasileiro. Vejamos: em agosto, ele estava a serviço da seleção. Quando voltou do México para casa, defendeu o Limeira brevemente pelo Paulista, até o time ser eliminado e o clube anunciar que estava fora da temporada, mesmo. Aí ele encontrou no Bauru um lar temporário, reforçando a rotação interior que trombaria com astros de Real Madrid, New York Knicks e Washington Wizards. Foram duas semaninhas de treino, jogos e viagens até que, por fim, assinasse com o Fla. Pura loucura. Mas é um jogador de fácil encaixe, devido a sua versatilidade e habilidade defensiva.


Copa Intercontinental: aquele árbitro, Hettsheimeir, Mineiro e o que mais?
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Giancarlo Giampietro

Passada a ressaca de segunda-feira após quatro dias seguidos de jornada dobrada e visita ao Ginásio do Ibirapuera, vamos lá fazer uso do caderninho de anotações e da repercussão que tem o torneio na Espanha.

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Reynaldo Mercedes está de novo no centro das atenções por sua conduta, digamos, pouco inspiradora numa quadra de basquete.

Serio Rodríguez e Real Madrid x Reynaldo Mercedes

O veterano árbitro dominicano tem algumas partidas conturbadas em seu currículo, a começar pela final do Mundial de 2002 entre Argentina e Iugoslávia. Foi um dos homens pinçados para apitar a Copa Intercontinental no final de semana. Foi ele que excluiu Sergio Rodríguez no jogo de domingo. A princípio, vendo o jogo das tribunas, parecia tudo normal, pelo showzinho que deu o armador espanhol:

A bomba que solta em quadra e os gestos de cesta em direção ao árbitro são passíveis, mesmo de falta técnica, e tudo isso veio num contexto em que o Real Madrid já reclamava muito e demonstrava surpreendente nervosismo em quadra. Quando o Real Madrid, porém, conseguiu fazer com que a Euroliga requisitasse à Fiba uma investigação sobre Mercedes, as coisas se tornaram mais sérias. Vejamos: eles haviam sido campeões, estavam prontos para deixar o torneio para trás e voltar para casa, e ainda estavam investidos nisso? Que pasó?

Bom, alguma alma iluminada — ou que estava esperando por um deslize do sujeito — fez o favor de resgatar alguns tweets de sua autoria de 2012, nos quais se assume torcedor do Barcelona (no futebol…) e se alegra com uma derrota do Real. Pode ser pura bobagem. Não há problema que um dominicano tenha uma queda pelo lado catalão da força. Mas… Considerando que os dois clubes são gigantes na modalidade em que ele milita, esperava-se mais bom senso por parte do figura, não? É o que a Euroliga acredita, julgando-o desqualificado para apitar um jogo de basquete. Mas não só era só isso. O jornalista Ricardo González, do diário As, noticia também que Mercedes teria provocado Rodríguez antes dos lances livres, ofendendo e desafiando-o a, pelo menos, converter os arremessos. Viria daí a resposta do “Chacho”.

Em entrevista ao portal elCaribe.com, o dominicano tenta se defender. “É uma situação complicada devido à envergadura da equipe que faz a reclamação, mas é certo dizer que são são reclamações fora de contexto e sem fundamento. Desde quando é pecado ser árbitro de basquete e simpatizar com uma equipe de futebol? Meu comentário foi de anos atrás e era direcionado ao futebol. Não tem nada a ver com o basquete, muito menos com minha atuação dentro da quadra. Tenho fé que a verdade e o raciocínio lógico sobre a situação virá à luz, e que as entidades responsáveis sobre o basquete no continente e no mundo não darão razão a tal protesto. Entendo que as reclamações são do basquete. Agora tenho de esperar pela análise”, afirmou.

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O protesto formal contra Mercedes só mostra o quão a sério o Real Madrid levou a Copa Intercontinental, a despeito de suas limitações de momento. No domingo dia 28, estavam erguendo o quinto troféu seguido em São Paulo. No dia 21, seis de seus atletas estavam disputando a final do EuroBasket. Não é fácil. Nesta terça, dando sequência às festividades, e tentando fraturar um troquinho, porque ninguém é de ferro, o clube também pôs à venda uma camiseta comemorativa pela “temporada perfeita” que teve, com 100% de aproveitamento em cinco competições.

Sergio Llull, por sua vez, está nas nuvens:  

No final das contas, além de ter sido um baita chamariz, emprestando seu prestígio e chamando a própria torcida para o ginásio no domingo para ajudar a encher o Ibirapuera, o Real Madrid talvez deixe como maior legado sua dedicação à Copa Intercontinental, que foi disputada pelo terceiro ano seguido. Uma camisa desse peso faz toda a diferença e, imagino, ajuda a consolidar a competição, mesmo que seu formato não seja dos melhores. Essa coisa de duas partidas na decisão não entra na minha cabeça, mas é fato também que há muitos empecilhos de calendário para fazer qualquer alteração significativa. Com a reforma que ambiciona a Fiba, aliás, desconfio que o torneio fique a perigo.

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Sobre o Real, a última, já apontando para o futuro. Que atende pelo nome de Luka Doncic. O garoto esloveno (que, é importante frisar, por enquanto recusa o assédio da federação espanhola para que siga os passos de Nikola Mirotic) foi a grata surpresa dessa decisão. Aos 16 anos, já se vê realmente inserido nos planos de Pablo Laso com o terceiro armador da rotação, atrás dos Sergios. Assume o papel que coube a Facundo Campazzo, que é oito anos mais velho, vejam só. A partir do momento em que Rodríguez foi mandado ao vestiário, o papel do garoto ganharia relevância, ainda mais com Rudy Fernández e Jeffery Taylor fora de combate. Pois o garoto segurou o rojão sem o menor problema, estando em quadra inclusive nos seus minutos decisivos. Primeiro, deu alguns instantes preciosos de respiro ao MVP Llull e, depois, assessorou o espanhol na armação. Com o corpo lânguido, de 1,98m e poucos músculos, também não fugiu do contato num jogo muito físico e aguentou o tranco na defesa com Leo Meindl, por exemplo.

Alex é 19 anos mais velho que Doncic

Alex é 19 anos mais velho que Doncic

Mas é com a bola nas mãos, mesmo que Doncic captura sua atenção. Avança com naturalidade com a bola, a despeito da altura fora do comum para a posição e do biótipo que ainda não lhe favorece contra adversários mais agressivos. De qualquer forma, lidou com tranquilidade com a primeira linha defensiva bauruense e conseguia ganhar terreno em progressão rumo ao garrafão para, aí, mostrar o que tem mais de especial, que é a visão de quadra. O garoto executou alguns passes dificílimos, cruzando a defesa, com velocidade e precisão (e sem olhar, claro). É aí que a altura o favorece, ao menos, podendo passar por cima da montueira de braços que está entre ele e seu alvo. Ao todo, ele jogou 23 minutos e não tentou nenhum arremesso de quadra, mas não se esquivou de infiltrações e descolou seis lances livres. Deu três assistências, cometeu dois turnovers e conseguiu três roubos de bola. Mas esses números não dizem absolutamente nada.

De novo: ele nasceu em 1999 e, quanto mais jogar em alto nível, mais esses instintos vão se aguçar. Tem um potencial tremendo como distribuidor e no corte para a cesta. O que ele precisa melhorar bastante é o arremesso, que não é pouco, convenhamos. A cada final de treino do Real, quando enfim a comissão técnica liberava o acesso de estranhos, era possível ver o garoto chutando, chutando, chutando, e está claro que sua mecânica ainda é inconsistente demais e que vai levar tempo para se ajustar para situações de jogo. Mas, bem, tempo é o que não lhe falta. Não topou conversar ao final do jogo alegando que não pode dar entrevistas. Levando em conta a pouca idade a a rigidez protocolar de seu clube, não duvido, mesmo.

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Sobre o Bauru, o time tem agora alguns dias para recarregar a bateria e se preparar, já no sábado, embarcar rumo a Nova York.

Rafael Hettsheimeir x Real Madrid

Rafael Hettsheimeir tinha uma oferta com o Estudiantes na mesa. Ao que tudo indica, o pivô estava apalavrado com o clube madrilenho (coincidência), segundo o que se falava pela Europa e o que noticiou passo a passo o site Encestando. O técnico Diego Ocampo, que fez ótimo trabalho com Augusto Lima e Raulzinho na última temporada pelo Murcia, falou sobre o assunto: “Falta um jogador para nós contratarmos, e quase todo mundo dá por certo que temos Hettsheimeir, mas eu, enquanto no vir por aqui, não acredito nisso. Mas, sim, queremos esse último jogador, e que venha nesta semana”.

Segundo a diretoria do Bauru, o pivô só não teria multa rescisória no caso de alguma proposta da NBA. Para a Europa, algo deveria ser pago, seja pelo clube interessado ou pelo próprio jogador. Eles não o liberariam e não o liberaram, pelo menos não antes dos amistosos contra New York Knicks e Washington Wizards. Mas a intenção, parece, é segurá-lo por toda a temporada, mesmo. Seria muito difícil para o vice-campeão mundial repor um jogador deste nível, especialmente com o dólar nas alturas. Do lado espanhol, mesmo, o próprio Estudiantes não parece disposto a aguardar mais duas semanas. Ocampo perderia um tempo precioso para integrar essa nova peça ao seu grupo. Esta porte parece ter se fechado. Agora é preciso ver se alguém nos Estados Unidos se anima com o rendimento do pivô.

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Existe também o caso de Rafael Mineiro. Está, no momento, sem clube, aguardando qual o destino do elenco do Limeira. Existe, de fato, a possibilidade de eles jogarem a próxima temporada com a camisa do Vasco, com as negociações em andamento. Não é um trâmite fácil, porém, e a própria liga nacional, presidida pelo patrono limeirense, precisaria ou deveria se certificar de que a parceria seria realmente viável, que tenha garantias financeiras e fôlego para chegar até o fim do campeonato. Afinal, o clube de São Januário não é hoje, infelizmente, uma instituição com de bases tão sólidas assim, ainda mais correndo o risco de novo rebaixamento (e de inerente redução de orçamento para 2016). E não se trata de um elenco barato.

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Mineiro vai com a rapaziada para os Estados Unidos, ocupando a vaga de Murillo na rotação interior. Contra o Real, mesmo desentrosado, mostrou o quão valioso pode ser para qualquer equipe devido aos seus atributos defensivos. Para os que questionam o pivô, favor atentar para o fato de que o basquete é jogado em duas tabelas. Uma você ataca, a outra você protege, e, nessa função, vai ser difícil encontrar um marcador tão hábil quanto Rafael. Sua movimentação lateral é incrível e se traduz até mesmo contra gente como Scola, Ayón, Nocioni, Reyes e Thompkins, como pudemos ver nas últimas semanas. Tem tanta agilidade que o técnico Dedé, mesmo, reitera que, numa situação de corta-luz, até gosta que o espigão fique de frente com um armador. Não é necessária ajuda nenhuma na contenção. No ataque, ele também pode render mais, e aí que a chegada de última hora atrapalha. Mineiro já se aventurou na linha de três pontos, como gostam de fazer Jefferson e seu xará, mas rende muito mais na cabeça do garrafão com os disparos de meia distância e a ameaça constante de que, com um drible, já pode alcançar o aro para finalizar com uma cravada.


Copa Intercontinental: como está o Bauru?
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Giancarlo Giampietro

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O Real Madrid venceu tudo o que disputou na temporada passada. Para o Bauru, foi quase. Depois do Campeoanto Paulista, da Liga Sul-Americana e da Liga das Américas, que o credenciou para a Copa Intercontinental, acabaram varridos pelo Flamengo na final do NBB. Mas dá para dizer que aquele Bauru da final brasileira não era o mesmo de fevereiro, de uma sequência invicta que passou da casa de 30 partidas. (Para constar: o Fla não tinha nada com isso. Estava voando em quadra e atropelou, mesmo.)

“Acabou o gás”, afirma ao VinteUm o armador Ricardo Fischer, para, depois, fazer um comentário muito interessante: “Nosso time é muito competitivo, e a gente não acreditava no que estava acontecendo. Até ficamos nervosos com a situação, mas simplesmente não ia, não acontecia. A gente tentatava, mas não saía. Tivemos um pico muito grande na temporada por muito tempo. Nos playoffs, contra a Franca, já havia sido mais difícil. Aconteceu contra Mogi novamente, e aí veio a final. Lembro muito de, antes do Jogo 2, em Marília, ver muita vontade no vestiário. A vontade era imensa. Mas, no começo do jogo, logo errei uma bandeja. O Murilo pegou o rebote e perdeu também debaixo da cesta. Ali deu para ver.”

Bom, estamos agora no início de uma nova temporada? Vida nova, certo?

Hã… Nem tanto.

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Como o técnico Guerrinha gosta de dizer, o clube enfrentou uma série de “intercorrências” em sua preparação para um torneio tão relevante e contra um adversário tão imponente. A lista de percalços:

– Quatro de seus jogadores estiveram a serviço da seleção brasileira (Hettsheimeir só no Pan e Ricardo Fischer, Leo Meindl e o importado Rafael Mineiro em Toronto e na Copa América). Para Fischer e Meindl, o calendário foi mais ou menos assim: “Cheguei domingo de manhã, me apresentei quinta à tarde e já teve jogo no sábado”, relata o armador.  Mineiro começou a treinar apenas agora com a equipe, depois que Limeira foi eliminado na primeira fase do Paulista e, depois, saberíamos, encerraria as atividades do time adulto para o restante da temporada.

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Europa

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Espanha

– Hetthsheimeir chegou um pouco antes, mas se mandou para os Estados Unidos, onde fez testes pelo San Antonio Spurs. Segundo consta, fez bons treinamentos por lá, agradou aos treinadores, mas não deve ser contratado neste ano. O que acontece: os times da NBA querem conferir tudo de perto. Obviamente o antenadíssimo departamento de scouting internacional do clube texano tinha diversas notas sobre o pivô brasileiro, complementadas pelo que viram no Pan. Daí que acharam que era o momento de seus treinadores conferirem o jogador de perto. Isso demonstra interesse, mas serve também para um acúmulo maior de informações, pensando no futuro.  Achar uma vaga no atual elenco, com Duncan, Aldridge, West, Diaw, Marjanovic e Bonner, seria complicadíssimo — e nem sei se valeria a pena para o já veterano, que já teve o prazer de vestir a camisa do Real, mas sem mal sair do banco, lembrem-se, quando voltava de lesão. Mas nunca se sabe quando você vai precisar de um grandalhão com boa pontaria no tiro de fora, certo? Entre embarque e desembarque, o atleta se ausentou por 10 dias.

(PS: agora Rafael está sendo sondado de modo mais agressivo pelo Estudiantes, da Espanha. Sinto que há o interesse de voltar à Espanha, mas é algo que só vão discutir após a Copa Intercontinental e, eventualmente, após o giro pela NBA, com jogos contra New York Knicks e Washington Wizards pela frente. Segundo o técnico Guerrinha, para fechar com qualquer clube que não seja uma franquia da grande liga, há uma multa rescisória a ser paga.)

– As lesões: Murilo Becker está fora de combate, se recuperando de uma cirurgia devido a um deslocamento de retina no olho esquerdo. O veterano pivô simplesmente não consegue se livrar dos problemas físicos e se divertir em quadra. Alex sofreu uma pancada no joelho e perdeu alguns dias preciosos de treino também. Jefferson William está voltando de uma lesão no tendão de Aquiles, uma das piores para um jogador de basquete. “Sentimos muito a falta dele nos playoffs.  Taticamente é importantíssimo. Além de ser matador, ele movimenta bem nosso time, com muita mobilidade”, diz Fischer. “Na questão médica, ele está totalmente liberado, 100%. Agora é o tempo de ele voltar, de ganhar ritmo de jogo,”, completa. Jefferson disputou apenas três partidas pelo Campeonato Paulista (uma contra Limeira e duas contra Mogi) e acertou 36% de seus arremessos, sendo 5-17 (29,4%) de três pontos. Foram 10,3 pontos e 6,3 rebotes em 25 minutos. O talentoso e esguio ala-pivô é peça-chave para o esquema bauruense. Obviamente o atleta não vai chegar na forma ideal. mas estará em quadra.

>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?

Por essas e outras, Guerrinha admite que a preparação não foi a ideal. Aliás, nem esteve perto do ideal. Nesse sentido, comparando com o Pinheiros de 2013 e o Flamengo de 2014, o representante brasileiro deste ano talvez chegue pela primeira vez com mais questões para resolver do que seu adversário europeu. Vamos ver.  “Não desenvolvemos a preparação para este campeonato do modo como gostaríamos, para dar ritmo”, afirma o treinador. “Os últimos dois jogos contra Mogi foram muito importantes para dar o espírito. Pois o jogador fica naquela também: quer jogar o Mundial, não quer se machucar, então acaba se dosando. Mas as partidas contra o Mogi são sempre de muito pegada e servem (para dar esse ritmo). A equipe enfrentou, foi valente, e crescemos muito. Mas se perguntar se chegamos no ponto ideal, digo que não.”

bauru

 Na fase regular do Campeonato Paulista, poupando de modo considerável seus principais nomes, deixou Wesley Sena e Carioca jogarem, a equipe do interior paulista venceu quatro e perdeu seis. Foi o suficiente para lhe garantir a quarta posição do Grupo A, ficando acima de Franca e Limeira (que também não jogou com força máxima). Por isso, agora nas quartas estão enfrentando o primeiro do Grupo B, o Mogi. Registre-se que Bauru perdeu as duas fora de casa. A primeira foi por 89 a 84. A segunda, por 89 a 88. É de se imaginar jogos quentes, mesmo, com o perdão do trocadilho. (PS sobre Sena: o pivô de 19 anos foi muito bem, com uma produção encorajadora para alguém tão jovem, algo raro no Brasil. Falei com ele neta quinta. Uma hora sai o texto sobre ele.)

“O Real é uma potência que está reivindicando jogar a NBA. O clube joga um campeonato muito mais forte que o nosso. Mas é da nossa vontade, do nosso querer, diminuir essa diferença com muita disposição, de querer diminuir essa diferença”, afirma Guerrinha, que é o primeiro a admitir, contudo, que conceitos como garra e vontade não serão o suficiente para fazer frente ao Real. “Nos brasileiros estamos acostumados a jogar com a emoção. Os europeus em geral se baseiam na razão. E esse time do Real tem isso: eles sabem direitinho o que procurar em quadra, os desequilíbrios defensivos, os mismatches. Eles atacam isso. O ideal era trabalhar o time por um mês, para tentar diminuir essa margem de diferença de elenco e realidade que temos para ele, mas não foi possível. Esse vai ser o nosso desafio, de não cair só no emocional, de vontade.”

Diria que esse é apenas um dos tantos desafios que Bauru tem pela frente. Dependendo do grau de comprometimento e do preparo físico dos atletas do Real, Bauru vai ter de se superar para buscar o título.

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Sobre a questão dos jogadores de aluguel, já abordada aqui no UOL Esporte pelo chapa Fábio Aleixo. Bauru contratou o pivô Rafael Mineiro e repatriou o ala Gui Deodato, que iniciou sua carreira pelo clube, agora cedido pelo Rio Claro. O curioso é que o jogador estava em quadra na noite desta quinta-feira, em casa, para vencer o Pinheiros e fechar o duelo pelas quartas de final do Paulista. Foi um quinto e último confronto emocionante, definido apenas na prorrogação (por 88 a 87), no qual Guilherme anotou 16 pontos em 15 arremessos, errando muito nos chutes de fora.

“Quando perdemos o Murilo (por causa de um problema no olho) fomos atrás do Rafael. Foi um pedido dos jogadores. Já o Gui é uma espécie de recompensa, pois fez parte do nosso time na última temporada inteira, foi criado lá. Já havíamos combinado”, afirmou Vitor Jacob, diretor do Bauru. O discurso foi repetido pelo técnico Guerrinha: de que houve até mesmo uma demanda por parte dos atletas para se reforçar o elenco.

Do ponto de vista ético e esportivo, não me parece a melhor solução. Afinal, este não é o Bauru que vai dar sequência à temporada — pode ser que Mineiro continue no time, mas ambas as partes teriam de chegar a um consenso quanto ao seu salário, que provavelmente não poderá seguir no patamar dos tempos de Limeira. O Flamengo fez o mesmo no ano passado ao acertar com o pivô americano Derrick Caracter, que, no final, acabou não acrescentando muito.

O treinador bauruense, de todo modo, lembra que esse expediente vem de longa data. “Desde que comecei no basquete, em 1976, na Argentina é histórico levar jogadores como reforço. Na nossa mais ainda. Em 1980 fomos para a Iugoslávia com Franca e levamos o Marcelo Vido e um americano. Em 1983, aqui no Ibirapuera, foi o mesmo: eu e o Gerson reforçamos o Sírio”, afirmou.

A dúvida é saber o quão facilmente Mineiro será integrado. Guerrinha aposta no entrosamento que teve com Fischer, Hettsheimeir e Meindl na seleção. Sobre Gui, o encaixa é muito mais natural, obviamente. Para contar: Bauru também tentou resgatar Larry Taylor, mas o americano não foi cedido pelo Mogi.


Brasil se recupera e vence a Argentina. Notas sobre o jogo
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Giancarlo Giampietro

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Com um bom atraso, alguns comentários sobre a vitória do Brasil sobre a Argentina, por 80 a 71, na noite desta terça-feira. Nem o link oficial, nem os “alternativos” estavam funcionando aqui no QG, então ficou para o VT pela manhã. Foi o terceiro amistoso entre os rivais nesta preparação para a Copa América, de modo que os times já se conheciam bem. O interessante desta série é que diversos novos protagonistas estão sendo introduzidos à maior rivalidade basqueteira sul-americana, de ambos os lados. Como o Marcus, por exemplo…

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Antes de falar sobre o jogo em si, vocês vão me desculpar se nos atermos a um pequeno ingrediente para lá de saboroso em quadra: a batalha entre Marcus Toledo e Andrés Nocioni. Em linhas gerais, numa partida de basquete, um duelo individual costuma ser só uma de diversas peças de um grande embate no plano geral. As chispas entre Marcus e Chapu, porém, tiveram significado especial. Primeiro porque pudemos ver o ala do Basquete Cearense cumprir em quadra aquilo que muita gente imaginava que ele pudesse fazer há anos. Anos, e não apenas desde o NBB6 e seu ótimo campeonato nacional por Mogi. Marcus é um ala-pivô combativo desde sempre, ganhando cancha nas divisões menores da Espanha e também na Liga ACB, até aprender a canalizar toda sua inesgotável energia de um modo mais eficiente na defesa. Foi o que fez contra um craque como Nocioni — e levou a melhor. O veterano argentino, aliás, experimentou de seu próprio veneno.

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Geralmente cabe ao campeão olímpico a posição de intimidador/agressor. Dessa vez, ele foi a vítima, ficando evidentemente surpreso e incomodado pelos seguidos desarmes de Marcus, a ponto de, no último deles, já no terceiro quarto, reclamar horrores com a arbitragem e ser excluído com cinco faltas e duas técnicas. Por essas e outras, Marcus precisa ser considerado a cada convocação. Você nunca chama apenas 12 atletas. Vai reunir um grupo, fazer cortes e, diante do que vê em treino, define seu grupo. Nem todo mundo que for para o banco vai ter um grande papel, volume de jogo e muitas oportunidades de arremesso. Para encontrar um equilíbrio, existem os operários. Está aqui um que pode ser muito valioso, a ponto de tirar, literalmente, um Nocioni do jogo. Sua importância foi muito além dos seis pontos (todos no primeiro quarto) e dois rebotes.

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Marcus entendeu rapidamente — e apreciou, naturalmente — qual era a natureza desse (coff, coff!) amistoso. Brasil e Argentina, para variar, fizeram um jogo muito físico. Ao todo, foram batidos  44 lances livres, com 24 para os hermanos. Esse combate vigoroso partiu muito muito mais da seleção de Rubén Magnano, talvez frustrada por ter sido oprimida na véspera pelo Canadá, e também por vir de duas derrotas. A pegada defensiva esteve até mesmo num nível acima do Pan, forçando 14 turnovers por parte dos argentinos, compensando a derrota nos rebotes (35 a 29).

Ricardo Fischer era outro exemplo claro essa atitude, mordendo a barra dos calções de Laprovíttola e Richotti, de um modo que deu gosto de ver. O armador do Bauru era mais baixo e menos veloz que os dois oponentes, mas isso não o impediu de fazer excelente papel defensivo, e não só por uma questão de agressividade. Ele se movimentou muito bem lateralmente, com um jogo de pés ágil e impressionante, algo que ele já usa tão bem no ataque. Se formos pensar, Fischer não é um jogador explosivo. Mas, pela inteligência e fundamentos, ele consegue levar seu time adiante no NBB, chegando aonde quer em quadra. Aos poucos, com a extensa bagagem que vai carregando nesta Copa Tuto Marchand, percebe-se que está se ajustando ao nível de competição em seleções e vai produzindo.

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Contra a Argentina, Fischer atacou muito mais a partir da linha de três, mantendo a bola viva com seu drible bem controlado e matando tiros em flutuação, mesmo sem ter por muito tempo a companhia de Augusto Lima, o tipo de pivô que facilita a vida do armador com seus cortes para a cesta, atraindo a defesa. O jogador do Murcia ficou limitado por faltas, cometendo quatro em 16 minutos. Na defesa, quem apareceu para cobrir Augusto foi Rafael Mineiro, um jogador que, sinto, não recebe o devido valor por estas bandas. Você não encontra todo dia um jogador com sua altura e mobilidade. Essa mobilidade pode não ser muito explorada no ataque da seleção (às vezes até mesmo por hesitação do próprio atleta, uma vez que me parece que Magnano tem confiança na sua habilidade para atacar vindo do perímetro). Na defesa, porém, ele vem sendo extremamente útil na defesa, para fechar espaços e acertar a cobertura.

Outros jogadores que não vinham tendo sucesso nesta semana em Porto Rico e renderam bem mais ao mudar a abordagem ofensiva contra a Argentina: Leo Meindl, muito bem nos oito minutos que recebeu no primeiro tempo, forçando inclusive um pedido de tempo de um Sergio Hernández pasmo com suas infiltrações pelo centro da defesa, e Guilherme Giovannoni, que primeiro atacou perto da cesta, correndo para valer em transição, para depois usar o chute de fora (fundamento que mais uma vez deixou a desejar do ponto de vista coletivo, com 33% de acerto, em 5-15).

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Não dá para negar que, entre os três primeiros adversários em San Juan, a Argentina é a que tem a capacidade atlética mais reduzida, de modo que o Brasil conseguiu se impor nessa esfera. De qualquer forma, observando essa atual formação de Hernández, percebe-se aqui e ali alguns jogadores que elevam o padrão habitual da seleção dos últimos anos. Nícolas Richotti já faz sucesso com suas arrancadas pela Liga ACB, então não é uma surpresa. O destaque aqui fica para os jovens alas Patrício Garino, da Universidade de George Washington, um excelente defensor, e Gabriel Deck, sensação nas competições de base da Fiba como um ala-pivô técnico, mas baixo e lento, e que reinventou seu jogo no adulto. São dois caras que vamos ver por anos e anos nas competições continentais.

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Magnano deu uma enxugada em sua rotação nesta terça, mesmo sendo o terceiro jogo em três noites. Sinal do que vem por aí? Danilo Fuzaro não foi para o jogo, assim como Olivinha. Meindl recebeu oito minutos e Marcus ficou com 16. Deryk, muito tímido com a bola, ganhou apenas cinco. Rafael Luz mais uma vez não se fardou. Esperemos que ele esteja bem para a Copa América, e que não seja nada além de medida cautelar da comissão técnica. Mesmo sem jogar, Olivinha dava sua contribuição em termos de animação no banco de reservas. Quando Marcus forçou a quarta falta de Nocioni, após um desarme, o ala-pivô do Flamenguista quase invadiu a quadra para cumprimentar o companheiro. Mesmo que, em teoria, eles sejam concorrentes.

O bacana foi ver novamente a pontuação distribuída, com quatro jogadores em duplos dígitos, liderados por um João Paulo Batista sempre eficiente (15 pontos, 56% de quadra e 5-5 nos lances livres). Da turma que foi para quadra, só Deryk ficou zerado, errando seus dois únicos arremessos, ambos de três.

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Todo paz e a mor com as câmeras de TV, o que é algo chocante, Magnano, pela primeira vez, censurou uma transmissão de TV contra a Argentina. Num determinado momento do quarto período, os adversários ensaiavam uma reação, e ele chamou tempo. Na hora de rabiscar uma jogada na prancheta, percebeu o que estava fazendo e, discretamente, se deslocou na rodinha para colocar seu traseiro de frente para as câmeras. Não era um gesto de ostentação, fiquem tranquilos. Ele só não queria que a concorrência tivesse acesso àquela jogada específica. A preocupação com esse trâmite era tanta que a instrução foi para que os atletas nem mesmo chamassem a jogada em quadra, para não dar bandeira. Jogos secretos, a gente se vê por aí.

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Por fim, reproduzo uma observação do narrador Álvaro Martín, da Fiba e da ESPN, sobre Magnano, que é algo que estamos realmente testemunhando mais vezes neste giro: o argentino tem por vezes deixado os pedidos de tempo na mão de José Neto e/ou Gustavo de Conti. De um modo geral, o treinador tem adotado postura mais leve também (sem deixar de espernear com seus atletas quando achar necessário, diga-se). Estaria o argentino preparando a transição para um mundo pós-Rio 2016? Martín falou sobre o treinador começar a se dedicar às categorias de base brasileiras, mas aí não ficou claro se era apenas especulação de sua parte ou resultado de conversas durante a semana. Magnano tem vocação para lidar com garotos e fez isso constantemente quando técnico da geração dourada de nossos vizinhos. Lembro muito bem de um Sul-Americano Sub-19 em Ancud, no Chile, em 2004, para o qual ele chegou durante a competição e, na hora da disputa por medalhas (e vaga na Copa América), rendeu um de seus assistentes para assumir o comando do time. Estava sempre perto das canteras, tal como faz Óscar Tabárez no futebol uruguaio. A ver.


CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
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Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

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Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


Duelo com a Sérvia escancara buraco na base brasileira
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Giancarlo Giampietro

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Quando a bola subir na quarta-feira, pelas quartas de final da Copa do Mundo, não será a primeira vez que o armador Stefan Markovic e o pivô Miroslav Raduljica vão enfrentar o Brasil num mata-mata de torneio Fiba. Sete anos atrás, ainda adolescentes, no Mundial Sub-19 eles levaram a melhor contra em uma semifinal que acabou em vitória tranquila dos balcânicos, 89 a 74.

Para quem clicou imediatamente no link acima, já deu para ver os dois ficaram, respectivamente, 26 e 23 minutos, em quadra, contribuindo com 12 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. Números regulares. Mas vale o destaque, mesmo, estatístico daquele jogo é a quantidade de brasileiros presentes na seleção nacional que derrubou a Argentina no domingo passado: 0. Isso mesmo: ze-ro.

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

Quer dizer, se formos considerar o assistente técnico José Neto, temos ao menos um – ele era o treinador daquele time. Daquela geração era de 1988-89, dos quais foram pinçados os 12 representantes para aquela campanha (?) histórica, hoje todos eles com 25 e 26 anos,  nenhum jogador conseguiu se desenvolver a ponto de entrar na lista final de Rubén Magnano para competir por uma medalha na Espanha.

Quem chegou mais perto disso foi o ala-pivô Rafael Mineiro, que disputou o Campeonato Sul-Americano deste ano, como peça integral da rotação, com médias de 6,2 pontos e 4,8 rebotes. Da seleção B, Raulzinho e Rafael Hettsheimeir foram chamados para compor o grupo principal.

Embora não tenha conseguido dar o grande salto, o talentoso Mineiro é um caro caso de atleta que conseguiu alguma continuidade em sua carreira internacional desde o Mundial Sub-19. Desde, então, ao menos conseguiu jogar três Sul-Americanos, mais que o grande nome daquela categoria: Paulão Prestes. O pivô participou só de um Sul-Americano – ironicamente, em 2006, anterior ao torneio de base. Os problemas físicos de Paulão estão bem documentados, guiando uma trajetória de altos e baixos. Foi muito bem cotado na Espanha, acabou draftado pelo Minnesota Timberwolves (algo muito difícil e não pode se perder de perspectiva), mas se lesionou demais e teve problemas com a balança. Chegou a ser pré-convocado por Magnano em duas ocasiões e hoje é a grande aposta do Mogi, ao lado de Shamell.

De resto, temos o ala Betinho em São José, com média de 13,6 pontos, 2,0 assistências e 32,5% nos três pontos em sua carreira no NBB, o ala-pivô Rodrigo César no Uberlândia e o pivô Romário no Macaé. Outro que chega ao NBB agora é o armador Carlos Cobos, de dupla nacionalidade (Espanha e Brasil), criado na base do Unicaja Málaga ao lado de Paulão, e que também não conseguiu se firmar na Liga ACB. Ele acabou de acertar com o Franca de Lula Ferreira, que ao menos vai fazendo esse trabalho de prospeção, tentando recuperar alguns dos garotos espalhados por aí.

Contando: foram citados, então, seis atletas daquele time sub-19, 50%. O restante, para termos uma ideia, é até difícil de rastrear. Luiz Gomes, que hoje é um dos motores por trás do Mondo Basquete – um site bem bacana para você visitar –, fez esse trabalho hercúleo no ano passado, já constando uma geração verdadeiramente perdida.

Thomas Melazzo, fora do basquete

Thomas Melazzo, fora do basquete

Cauê Freias, autor da cesta da vitória contra a Austrália de Patty Mills nas quartas de final, e Bruno Ferreira, o Biro, estão no Caxias do Sul e devem disputar a Liga Ouro, Segunda Divisão do NBB. Houve quem tenha parado e largado o esporte: o ala Thomas Melazzo, que tinha um potencial absurdo, hoje é personal trainer, aparentemente vivendo em Salt Lake City, terra do Utah Jazz. Se alguém souber do paradeiro dos demais, por favor, caixa de comentários aberta abaixo.

Dia desses, no Twitter, o mesmo Luiz Gomes estava especulando a respeito, apontando algumas promessas  de então e hoje na elite. Muitos deles classificados para os mata-matas de uma Copa do Mundo, na elite. A Sérvia já escalou o ala-pivôs Marko Keselj e Milan Macvan na fase decisiva do Mundial de 2010, para se ter uma ideia. No time de hoje, tem Markovic e Raduljica e ainda conta com mais cinco jogadores que teriam idade para disputar aquele torneio, mas só ganhariam visibilidade mais tarde.

Já a França apresenta quatro nomes de seu time sub-19 que bateu o Brasil na disputa pelo bronze: o armador Antoine Diot, o ala Edwin Jackson, o pivô Kim Tillie e um certo Nicolas Batum. O pivô Alexis Ajinça certamente estaria na Copa do Mundo, não tivesse pedido dispensa. Até mesmo os Estados Unidos, com sua produção de talentos incomparável, tem um representante de 2007 aqui: Stephen Curry! Daquele elenco, destacam-se também nomes como DeAndre Jordan (Clippers), Patrick Beverley (Rockets) e Michael Beasley (Marte).

Entre os demais quadrifinalistas da Copa, para ser justo, é preciso dizer que a Espanha só tem um atleta daquela jornada: o ala Victor Claver. Lituânia e Turquia? Nenhum. A Eslovênia não havia se classificado.Mas também é preciso dizer uma coisa sobre os lituanos: sua atual seleção conta com cinco jogadores nascidos depois de 1988 (o ano-limite para inscrição naquele Mundial): Adas Juskevicius, Sarunas Vasiliauskas, Mindaugas Kuzminskas, Donatas Motiejunas e Jonas Valanciunas – os dois últimos simplesmente as maiores apostas dessa tradicional potência. Já os turcos têm três: o caçula Cedi Osman, de apenas 19, além de Furkan Aldemir (cujos direitos na NBA pertencem ao Sixers) e Baris Hersek.

Nessa categoria, de atletas de 26 anos ou mais jovens, também se enquadram os argentinos Facundo Campazzo, Nícolas Laprovíttola, Tayavek Gallizzi, Matías Bortolín e Marcos Delía. A Austrália contou com seis: Dante Exum (19), Brock Motum, Cameron Bairstow (23), Matthew Dellavedova, Ryan Broekhoff (24) e Chris Goulding (25, este convocado para aquele Mundial Sub-19). Já os Estados Unidos possuem apenas um jogador nascido antes de 88: Rudy Gay, e só.

No Brasil, com 22 anos, Raulzinho é a figura solitária. Rafael Luz acabou preterido no último corte, enquanto Augusto Lima dançou já no Sul-Americano. Uma decisão bastante sensata poupou Bruno Caboclo dessa. Já Lucas Bebê foi deixado na geladeira, depois da escapada do ano passado. Ao menos o filho do Raul vem sendo utilizado com regularidade por Rubén Magnano, contribuindo para valer hoje – e ao mesmo tempo ganhando uma experiência extremamente valiosa para o futuro. Agora, fora isso, a seleção que joga na Espanha, a mais velha do Mundial, é apenas para agora e agora.

Obviamente que a base do elenco de Magnano é fortíssima, não sobram vagas. Como acontece com a Espanha. Agora, na periferia do plantel, será que não dava para encaixar? Depois de uma vitória contra a Argentina, na iminência de um confronto com a Sérvia, pode ter gosto de chope aguado todas essas lembranças. Nesta semana, as preocupações dos envolvidos com o jogo ficam realmente direcionadas só para a quadra. Fora dela, porém, nos escritórios da CBB, o tema já deveria estar na mesa há tempos. Sem precisar que a figura até folclórica de Raduljica, nesta quarta-feira, servisse como recado.


Perguntas e respostas após o Sul-Americano
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Giancarlo Giampietro

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

É só um Sul-Americano, né? Serve para nada.

É o que a gente gosta de dizer. Como se o basquete brasileiro estivesse plenamente estabelecido como potência mundial e qualquer torneio pudesse ser tratado com desdém. (Desdém por parte da crítica, claro, e não dos jogadores que lá estiveram.)

O que não dá mais. Não quando a seleção masculina vem de quatro derrotas em quatro partidas pela Copa América. Desfalcada de seus atletas de NBA, é verdade, mas enfrentando adversários igualmente avariados. E dirigida por um campeão olímpico, não se esqueçam.

Daí que sempre tem muito o que ser discutido. Como de fato acontece após mais uma campanha frustrante em quadras venezuelanas, agora tendo de se contentar com um terceiro lugar. Melhor que terminar em penúltimo? Sim, melhor. Mas perder de Equador, Peru, Paraguai ou Chile é algo que, por ora, parece impensável, mesmo. Porque, por maior que seja a pindaíba, ela ainda tem limite.

De modo que o que temos é o seguinte: independentemente de quem estava em quadra, a seleção brasileira perdeu seis partidas consecutivas até se safar na última segunda-feira ao bater o Uruguai para conquistar um honroso lugar no pódio e uma ainda mais fogosa vaga no próximo Pan-Americano. Que vai ser disputado em… (responda sem consultar o Google, por favor).

Seis? Sim, meia dúzia, mesmo: as quatro da vexatória e inesquecível Copa América do ano passado, mais duas este ano, contra Argentina e Venezuela. Mais duas derrotas que suscitam algumas perguntas. No fim de semana, por exemplo, pouco antes de começar no Domingo Maior na Globo, as redes sociais basqueteiras estavam novamente borbulhando.

Depois de dois jogos parelhos, eram duas derrotas para o time de José Neto, nos primeiros jogos que contavam para alguma coisa de fato. Foram duas derrotas com dinâmicas parecidas: altos e baixos no placar, e a virada tomada no quarto final.

Antes de a seleção principal entrar em quadra nesta quinta, ficam listadas algumas dessas encafifações. É como se fossem mais chutes de três  brasileiros equivocados, com a bola atirada para o alto, esperando uma cesta milagrosa:

– O que significa hoje o Campeonato Sul-Americano?
Olha, a competição já teve seus dias mais charmosos, mas faz tempo que não vê equipes competindo com força máxima. Aqui, do fundo da caixola, vou me lembrar do torneio de 2001, no Chile, quando o Brasil ainda estava se habituando com nomes como “Anderson Varejão” e “Nenê”, dois pivôs cheios de potencial encarando uma Argentina um pouco mais experiente, mas ainda jovem, com caras como Luis Scola, ainda sem muito cabelo, em quadra. Torneio transmitido pela ESPN por aqui, que incitava a gente devido aos novos prospectos. Em 2004, estava eu perdido em Campos de Goytacazes para ver o emergente Carlos Delfino e o espetacular Walter Herrmann barbarizarem contra Lula Ferreira e os melhores do Nacional de basquete na final. Acho que foi a saideira.

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

– A chance de ver alguém de elite no campeonato acabou, mesmo?
Bom, se por elite formos entender “NBA”, a coisa muda de figura se o campeonato for disputado na Venezuela. Aí o Greivis Vasquez, armador do Raptors e provável mentor de Bruno Caboclo e Lucas Bebê na próxima temporada, joga. Pega bem com o governo, as autoridades, o marketing pessoal. Aliás, melhor jogar uma competição com TV, torcida e tudo mais, do que ficar afundado numa rede qualquer de um resort caribenho, nénão? Agora, se você tiver a cabeça mais aberta e pensar em atletas de Euroliga e Liga ACB também como de ponta – o que é um conceito obrigatório aqui neste espaço –, então no Brasil estávamos bem representados por jovens atletas, mas com boa rodagem na Espanha.

– OK. Se é um campeonato esvaziado, qual o sentido então de entrar num Sul-Americano preocupado em vencer?
Há muita gente que defende a tese de que a competição não tem peso algum e que pode ser utilizada para experimentações, mesmo, para dar cancha aos jogadores mais jovens do país. Confesso que gosto dessa ideia, sim. Desde que tenhamos um time competitivo o bastante para lutar pelo título. Não adiantaria muito pegar a molecada juvenil do Pinheiros, vesti-los de Brasil e atirá-los em quadra. Tomam cacetadas e aprendem o quê?

– E qual foi o Brasil que jogou o Sul-Americano, então?
Bem, na seleção escalada por José Neto, estávamos, em geral, com um grupo que precisa de experiência, sim, com a “amarelinha” (ou a “branquinha”, muitas vezes). Pensando em longo prazo, é bacana que um Raulzinho lide com a pressão de um ginásio venezuelano fervendo, encarando gente barbada do outro lado. Que Cristiano Felício veja, mais uma vez, que tem bola para dominar um garrafão lá e cá. Etc. Por outro lado, é preciso dizer que não havia nenhum adolescente em quadra. O mais jovem, Leo Meindl, tem 21 anos, já disputa o NBB adulto há duas temporadas e foi pouco utilizado. Raul, Rafael Luz, Augusto Lima e Rafael Hettsheimeir acumulam mais de três temporadas na Liga ACB, o principal campeonato nacional da Europa. Desse quarteto, apenas Hettsheimeir, reserva do Unicaja Málaga (clube de Euroliga) e lesionado na segunda metade, não jogou muito durante o ano. Da turma do NBB, Mineiro tem 26 anos, Arthur, Jefferson William e Olivinha, 31. Vitor Benite faz parte da seleção de modo regular desde 2011. São inexperientes, pero no mucho.

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

– O que isso quer dizer?
Que, francamente, não dá para justificar as derrotas com base em inexperiência e uma suposta predisposição para o experimento. Os jogadores convocados não estão tão distantes assim de uma lista “principal” do país. E, ao menos aqui na base do 21, são vistos como atletas talentosos, de muito potencial. Além do mais…

– Contra quem eles jogaram?
Como já dissemos, a Venezuela contava com seu único figurão de NBA, Greivis Vasquez, alguém que acabou de assinar um contrato de US$ 13 milhões por dois anos com o Toronto Raptors. Feito o registro, não estamos falando de uma potência mundial. É, sim, uma seleção com jogadores atléticos, enjoados, mas que, mesmo fazendo a Copa América em casa, com Vasquez e um técnico argentino, não conseguiu a vaga no Mundial. O Uruguai não estava completo. Já a Argentina levou para o campeonato uma equipe composta apenas por atletas em atividade na América do Sul – bons valores, mas não necessariamente os melhores do país. Nem o Facundo Campazzo, promovido ao time A, estava lá. Isto é: se for pensar bem, o Brasil era quem tinha o elenco mais renomado. Um time de certa forma jovem – especialmente em contraponto ao elenco verdadeiramente veterano que vem sendo preparado por Magnano –, mas que entrava para ganhar.

– Posto isso, sabemos que o Brasil perdeu os primeiros dois jogos que valiam. Que houve?
Digamos que os brasileiros tiveram seus bons momentos em quadra. No final da fase de grupos, sábado, contra os argentinos, por exemplo, a seleção venceu os segundo e terceiro quartos por 34 a 16. Sim, tomaram míseros 16 pontos em 20 minutos, algo sensacional, independentemente do nível de competição. No quarto período, no entanto, tomaram uma sacolada de 27 a 13. Essa derrota acabou deixando os hermanitos na primeira posição do grupo, empurrando o Brasil para um confronto com a Venezuela na semifinal. A dinâmica da partida foi de certa forma parecida. A seleção abriu uma vantagem razoável, mas acabou tomando a virada no último quarto. Legal que eles tenham encarado um ambiente daqueles, mas seria muito melhor se estivesse valendo o título, não? Digo, que guardassem essa experiência para a final.

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

– Além das derrotas, o que as estatísticas dizem sobre a campanha?
Adoro a expressão que nos conta sobre a “frieza dos números”. E, olha, número por número, a coisa foi gélida (obs: contando apenas os duelos com Argentina, Venezuela e Uruguai, ok?). Traduziu muito bem o que vimos em quadra dessa vez. O Brasil fez um ótimo papel defensivo. Um lapso aqui, outro ali, mas em geral o time se comportou de modo muito sólido ao proteger sua cesta. Do outro lado, porém, foi uma tristeza. A começar pelos 39,7% nos arremessos de quadra no geral. De três pontos? Horrendos 20%, com mais assustadores ainda 15 acertos em 75 (!!!) tentativas. Quer dizer: o time errou, errou e errou mais um pouco de longa distância, e não parou de atirar. Isso é reflexo claro de um coletivo desorganizado ofensivamente. A movimentação fora da bola foi praticamente nula. Raulzinho, por exemplo, vezes era forçado a jogar no mano a mano, ou num pick and roll sem inventividade alguma, quase sempre com ângulos frontais para a cesta. E o jovem armador, até que alguém me comprove o contrário, nunca teve perfil de Allen Iverson. É agressivo, mas, sozinho, não vai resolver as coisas. Pivôs ágeis como Mineiro e Augusto pouco foram servidos no pick-and-roll ou em cortes vindo do lado contrário. A turma do perímetro, uma vez acionados os grandalhões, se estacionavam, como se a única jogada seguinte pudesse ser disparo de três. Lembrando que este é um problema repetido quando nos recordamos da lamentável Copa América. O talento estava ali, mas não foi muito bem manejado para pontuar.

– Pensando na seleção, principal, nessa gama de talentos, quem merecia a promoção para tentar uma vaga no Mundial?
Bom, agora já ficou um pouco tarde para falar de merecimento, ou não, uma vez que sabemos que Raulzinho, Rafa Luz, Cristiano Felício e Rafael Hettsheimeir foram pinçados para treinar com os marmanjos. Nenhum desses quatro nomes pode ser contestado severamente, é verdade. Mas gostaria de saber quais são os critérios de convocação. Algo que Magnano nunca nos deixou muito claro.

– Qual a confusão sobre os critérios de composição da seleção, então?
Na minha humilde e 99% desnecessária opinião, alguns fatores precisam se discutidos:

a) a temporada que cada um apresentou;
b) o desempenho nos treinos e, claro, nos jogos para valer; e aí não contam Paraguai e Equador. Qualquer coletivo interno tem mais peso, neste caso.
c) quem se encaixa melhor com o que já tem de disponível no time principal?
d) como exatamente Magnano pretende aproveitar essas últimas peças?

Na cabeça do argentino, certamente aparece outro item: “Histórico/serviços prestados”. Não sei bem se concordo com essa.

Temporada por temporada, quem teve a melhor campanha de um brasileiro na Espanha este ano foi Augusto Lima, e não há nem o que se discutir aqui. Ao meu ver, uma oportunidade desperdiçada para um jogador extremamente valorizado na ACB – arrebentou nos rebotes, na defesa e nas estatísticas mais avançadas. O bizarro é que um atleta superprodutivo desses não tenha nem mesmo espaço no Sul-Americano. Não adianta julgar por dois ou três minutos de quadra. Das duas, uma: ou é “tímido” e não se impôs nos treinos, ou acabou engolido por uma rotação um tanto maluca. Mas é difícil de aceitar que não sirva por aqui.

Lembrando sempre: não estamos falando de Scola ou Tim Duncan, mas, sim, de um pivô cheio de energia, capacidade atlética invejável, bom para fazer o serviço sujo e atacar os rebotes ofensivos. Uma peça complementar muito boa, e não alguém que vai carregar um ataque. Como a comissão técnica enxerga Rafael Hettsheimeir, que pouco jogou este ano, diga-se. No caso do pivô, o que não dá, porém, é esperar que ele sempre vá repetir aquela atuação histórica de Mar del Plata contra Scola. Aquela não é a regra, mas, sim, a exceção. E, com Splitter, Nenê e Varejão escalados, Giovannoni fazendo o strecht 4, não sei bem quantos minutos sobrariam para Hettsheimeir ser acionado e esquentar a munheca. Talvez aí cresçam as chances de um Cristiano Felício, que completa 22 anos, mas ainda é um projeto, alguém que poderia ser o 12º homem da lista.

Mas, bem, esse já seria um artigo à parte. Na combinação dos quatro critérios propostos acima, um nome seria certo: Rafael Luz, que fez uma campanha sólida na Espanha, foi o melhor armador no Sul-Americano e tem características que se encaixam bem na rotação de cima, ao meu ver: dá estabilidade, ao mesmo tempo que também é energético e influencia o jogo com sua força física e agilidade. Seu chute ainda é deficiente, mas, como peça complementar na rotação principal, parece uma escolha adequada para jogar ao lado de Huertas e Larry, armadores que gostam de ter a bola em mãos.

– E o Raulzinho?
Na duas derrotas do Sul-Americano, o Brasil perdeu o jogo com a posse de bola. E a bola nas mãos do armador revelado pelo Minas. É em momentos como esse que vale toda a calma do mundo quando formos falar do rapaz. Nem tão lá em cima, nem tão cá em baixo. Draftado pela NBA, é verdade. Mas como um título de capitalização no futuro. O Utah Jazz admira seu talento, mas sabe que ainda não é hora de jogar nos Estados Unidos. Os pivôs são os que mais demoram para se desenvolver, mas executar a armação de uma equipe, quanto mais de uma seleção não é moleza, não. Raul obviamente tem o tino, personalidade e arranque para isso. Mas, ao menos nos três jogos do Sul-Americano, pudemos vê-lo tentando fazer muito com a bola. Alguns passes forçados, outros com brilho. Tentativas arrojadas de infiltração, mas por vezes se perdendo em meio às linhas defensivas etc. Lances que pedem refinamento, algo que, esperamos, vai acontecer no decorrer das temporadas, com a sucessão de acertos e erros, que tenhamos muito mais bolas certeiras. No Sul-Americano, ele tinha mais responsabilidade criativa, e as coisas não saíram tão bem. De todo modo, vale a ressalva: foram apenas três jogos, não é a maior amostra. No grupo principal, porém, sua carga seria muito menor. Só vejo nas características de Luz algo que combina melhor com o grupo de cima.


Copa Intercontinental: qual deveria ser o legado após título do Olympiacos?
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Giancarlo Giampietro

Spanoulis = craque

Com tanto evento chegando por aí, o termo “legado” entrou firme na pauta de qualquer jornal brasileiro nos últimos anos. Ao final da Copa Intercontinental de basquete em Barueri, o vocábulo também pode ser abraçado pelo basquete de cá, em pelo menos duas cruciais acepções para o desenvolvimento da modalidade.

Em termos de estrutura, o empenho e o lado visionário da diretoria do Pinheiros, sonhando alto, foi vital para que este torneio, que não era disputado há 26 anos, voltasse ao calendário da Fiba, por uma temporada que seja. Uma edição em 2014 não está garantida, embora dirigentes americanos e da Euroliga tenham ficado bastante satisfeitos com a organização e falem em até mesmo incluir campeões de outros continentes no páreo. Vai saber – seria, fato, uma semente plantada em solo fértil brasileiro, com a contribuição da trupe da LNB.

Tirando uma única pane em um dos placares neste domingo – reparada num instante –, tudo funcionou nos trinques no Ginásio José Corrêa. Acesso fácil via Castelo Branco ou de trem. Área ampla para estacionamento (e de graça, sem nem mesmo a famigerada classe dos flanelinhas dar as caras para atrapalhar). Quadra de alto nível, ginásio meio cheio (literalmente), público diversificado (sem ser exclusivamente basqueteiro). Paulo Bassul correndo de um lado para o outro. Um timaço de primeiríssimo nível em visita especial. Dá para fazer, até mesmo sem ajudinha nenhuma de qualquer grande conglomerado de comunicações nacional ou internacional. Basta abordar qualquer meta passo a passo, de modo profissional, sério. Alô, CBB.

(Por falar neles, Carlos Nunes compareceu nas duas partidas, nos brindando com uma anedota: 1) sentou-se lado a lado de Gerasime Bozikis, com quem disputou a última eleição da entidade. Ou foi muito sangue frio, ou temos hoje o caso de um ex-aliado-ex-rival-atual-coleguinha-de-pipoca para o presidente Carlinhos. Hortência também estava lá, bastante aplaudida na sexta. Guilherme Giovannoni fez a viagem de Brasília para o Sudeste também, no único atleta em atividade anunciado pelo sistema de som do ginásio. O diretor de seleções Vanderlei deu as caras, mas Rubén Magnano, não.)

Ginásio José Corrêa, que não é o Correão

Um lado totalmente cheio, o outro vazio. Mas um evento agradável em Barueri

Do ponto de vista técnico, os pinheirenses certamente vão se apresentar para treinar na segunda ou terça-feira com o peito estufado, com o discurso de que enfrentaram o Olympiacos de igual para igual – e, do ponto de vista psicológico, vale tudo. Uma meia verdade. Neste domingo, até equilibraram o primeiro tempo novamente. Chegaram a empatar em 30 a 30. No terceiro período, porém, os gregos, com sua consistência, concentração, experiência, bagagem tática e talento, fraturam a confiançados brasileiros, abrindo caminho para um triunfo por 86 a 69. Um placar que exprime um pouco melhor a distância entre os dois times. Contudo, ainda não conta a história toda (veja mais números abaixo).

Os gregos obviamente eram os favoritos, por diversos motivos. Deu a lógica – e nessa lógica está incluído, sim, o maior poderio econômico dos visitantes, da mesma forma que o padrão de jogo tresloucado do time de Claudio Mortari.

A abordagem em quadra é muitas vezes alarmante, especialmente se comparada com o que os adversários faziam do outro lado. Gente que cozinha a partida metodicamente, passando, passando, passando, de um lado para o outro, em busca de um chute livre, saudável; só investiam as jogadas individuais quando vislumbravam um mismatch óbvio, com Spanoulis e Printezis geralmente incumbidos de tocar essa adiante. Enquanto os anfitriões se contentam e se perdem em atacar na base do bumba-meu-boi, com muito um-contra-um e arremessos absurdos no grau de dificuldade (que Shamell os converta aqui e ali, é para mostrar todo o seu potencial, que, quando canalizado, pode fazer estragos). É cultural.

Defendendo com competência (dobrando no garrafão e longe da cesta), selecionando melhor suas tentativas de cesta (com dribles e passes para fora seguidos), conseguiram a igualdade no segundo período. De repente, com duas bolas forçadas de Shamell e Joe Smith, em sequência, e o placar já estava em 36 a 30 para os visitantes. Dali para a frente a diferença aumentaria e fugiria do controle. Falta consistência, e creio que isso se explica mais pela exaustão mental, devido a uma falta de hábito, do que pela física.

Vale, muito, o estudo dos DVDs…

Mineiro, barrado no baile

Mineiro saltou, correu, batalhou e teve contato com uma outra realidade

Pegue-se, por exemplo, o caso de Jonathan Tavernari. Não assistia ao filho da treinadora Telma desde suas últimas partidas pela Seleção, na era Moncho. Conissão feita. Daí que as atuações deste final de semana deixam uma imagem muito preocupante. De jogador de liga nos dias de BYU, pau-pra-toda-obra, vemos hoje um ala muito limitado, viciado em arremessos de longa distância – sem a menor eficiência. Em 61 minutos em Barueri, o jogador cometeu 5/18 no perímetro (27,7%). Ele tentou apenas três bolas de dois pontos no total, todas elas neste domingo, sem acertar nenhuma. O que deu no rapaz? É como se ele tivesse uma secreta meta a ser batida na temporada.

Tavernari não foi o único dos brasileiros a ter dificuldades extremas para competir com adversários deste nível. O espevitado Paulinho até conseguiu uma ou outra bandeja, quando tinha o mínimo de espaço para avançar em linha reta. No geral, porém, o “armador”mal conseguiu jogar. Em 55 minutos, somou 19 pontos (8/18), uma assistência e quatro desperdícios de posse de bola. Já Rafael Mineiro procurou lutar, não abaixou a cabeça, sua capacidade atlética ficou evidente, mas o pivô estava visivelmente fora de sua zona de conforto, sofrendo com os trancos contra oponentes bem mais físicos, terminando com 10 pontos, 13 rebotes, 7 desperdícios e apenas 3/13 de quadra.

Com um elenco reduzido, se comparado com o da potência europeia, o Pinheiros se viu, então, numa enrascada ainda maior – apenas Shamell e Smith produziram num grau de normalidade (criando jogadas normalmente). O que não quer dizer que o time paulista perdeu apenas por defasagem financeira, embora o técnico Georgios Bartzokas tenha destacado o cansaço de seus adversários, que usaram basicamente sete atletas durante todo o confronto, enquanto ele se sentia tranquilo em escalar seus 12 relacionados.

Aliás, incluam aqui o ala-pivô Dimitrios Agravanis, de 18 anos, e seu xará Katsivelis, armador de 22 anos. Os dois puderam até mesmo iniciar o duelo deste domingo como titulares e, juntos, tiveram 25 minutos. Mortari, do outro lado, bem que poderia ter colocado deus garotos muito mais cedo no quarto período. Não só seria um movimento de prudência da sua parte, preservando as principais peças de sua rotação minguada, como daria uma chance raríssima para que os promissores Luas Dias, Bruno Caboclo e Humberto pudessem enfrentar os campeões europeus. Para se ter uma ideia, o mesmo Bartzokas fez questão de menci0nar em sua entrevista coletiva o quão impressionado ficou apenas com o que viu no aquecimento (!) da molecada. Eles estavam enfileirados para o exercício de bandejas/arremessos de frente para o banco ateniense. No caso do ala-armador Humberto, pode esquecer essa coisa de bandeja: o jogador de 18 anos salta muito e castigava o pobre aro quando chegava a sua vez de finalizar. Impulsão, leveza e elasticidade de encantar, mesmo.

Lucas entrou nos três minutos finais, enquanto Caboclo ficou apenas um minutinho em quadra – uma pena, principalmente pelo fato de que o MVP do último camp “Basquete sem Fronteiras”, da NBA, estava jogando em casa. Quando levantou-se do banco para ir para a quadra, um por um grupo de amigos vibrou na arquibancada. Os gregos já venciam por mais de 15 pontos (e 25 no geral…). Não custava nada, mesmo. Poderia ter sido mais um legado.

*  *  *

Vamos brincar de somar os números das duas partidas? Já que estávamos diante de uma estranha decisão de 80 minutos, valendo o salto de cestas, valendo como um grande jogo em dobro?

Arremessos: Olympiacos 60/101 (59,4%) – Pinheiros 49/132 (37,1%)
Dois pontos: Olympiacos 46/67 (68,6%) – Pinheiros 34/78 (43,5%)
Três pontos: Olympiacos 14/34 (41,1%) – Pinheiros 15/54 (27,7%)
Lances livres: Olympiacos 33/42 (78,5%) –Pinheiros 26/32 (81,2%)
Turnovers: Olympiacos 36 – Pinheiros 27
Assistências: Olympiacos 41 – Pinheiros 19
Rebotes: Olympiacos 77 – Pinheiros 49

Se foi de parcial em parcial que o time grego foi aumentando sua vantagem na sexta-feira e no domingo, a comparação estatística acima ajuda a contextualizar sua dominância no geral. Sobre os percentuais de arremesso, não precisa dizer muita coisa.

*  *  *

Spanoulis, merecidamente, é o primeiro jogador lembrado em dez de cada dez textos sobre o time grego. Mas Georgios Printezis também merece suas linhas. Um guerreiro. Joga com muita intensidade e não para de atacar, incomodar. Neste segundo jogo, carregou a equipe em diversas ocasiões e tirou os adversários do sério com o monte de faltas cavadas ao partir para a cesta. Na Europa, claro, não é todo dia em que ele será usado desta maneira, enfrentado defesas muito mais compactas. Contra o Pinheiros, porém, exibiu sua versatilidade, podendo funcionário tanto como arma primária ocasional, como aproveitando as assistências de Spanoulis com seu deslocamento fora da bola.

Printezis infernizou

Printezis, atacando, atacando, atacando e atacando, sem parar

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O serviço de olheiros do Olympiacos está de parabéns também. Seu orçamento é de superpotência comparado com o que temos aqui no NBB, mas, na Europa, ainda não consegue fazer frente a um Barcelona ou CSKA Moscou, dois que lhe roubaram jogadores importantíssimos de seu título europeu. Tudo bem? Parece: os americanos Bryant Dunston e Brenton Petway vão dar muito trabalho para a concorrência na Euroliga que se inicia no dia 16 de outubro (com transmissão do canal Sports+, 28 e 128 da Sky).  Dois jogadores muito atléticos, ativos, ágeis e prestativos.


Notas sobre a 1ª final da Copa Intercontinental e duas abordagens de jogo
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Giancarlo Giampietro

Spanoulis, procurando alternativas

Visão fechada? Spanoulis e o Olympiacos buscam alternativas, mesmo assim

O atraso sobre a atualização do primeiro jogo da Copa Intercontinental de clubes, com vitória do Olympiacos por 81 a 70 sobre o Pinheiros, tem uma justificativa capital: aniversário da matriarca 21. Prioridades são prioridades, né?

Então, como está bem tarde e neste domingo de manhã lá vem mais jogo, não há motivo para se estender muito num texto encadeado, que já nasce perecível e nem poderia ser definitivo, uma vez que uma segunda partida entre os campeões continentais vem pela frente neste domingo. Então vamos acessar o que aconteceu nesta partida por meio das salvadoras notas. Vamos a Barueri novamente para conferir de perto.

Para constar, uma derrota por até 10 pontos ainda faria dos gregos os campeões mundiais no domingo em Barueri. É um regulamento um tanto esdrúxulo para uma competição de basquete, mas, depois de um intervalo de mais de duas décadas para testemunharmos esse tipo de disputa, acaba valendo tudo.

Algumas anotações sobre o que vi na sexta-feira:

– A escancarada diferença entre os estilos de ataque. Não é que o Olympiacos possa ser caracterizado como “socialista” e o Pinheiros, o grande vilão “capitalista”. Mas que o time europeu tem uma vocação para o passe muito mais natural, paciente, instintiva, é inegável. Dá para citar aqui o número de assistências de um (23) contra o do outro (12), mas nem isso faria justiça ao que se viu em quadra. Agora, se formos colocar em perspectiva, notamos que foram 23 assistências dos visitantes para um total de 34 cestas de quadra. Isto é, 67,6% de seus arremessos foram resultados de jogadas trabalhadas por um companheiro. No Pinheiros, o número ficou em 48%. É uma bela diferença.

Além disso, contamos somente cinco jogadores do time paulistano pontuando. No adversário, foram nove contribuindo no placar final, com quatro também em duplos dígitos. Tem muito a ver com orçamento, mas não se limita a isso.

– Aqui é o ponto certo para falarmos sobre a má e velha questão dos arremessos de três pontos. De novo: a questão não muitas vezes não tem a ver sobre o quanto se arrisca de fora, mas a forma como se faz. E o Pinheiros forçou MUITOS chutes de longa distância. Ciente da relevância do tema, deveria ter feito um scout pessoal de tentativas forçadas de longa distância. Repito: seria estritamente pessoal, numa visão que obviamente seria questionada sobre a comissão técnica brasileira. Mas alguns dos chutes foram absurdos, bem atrás até mesmo da linha da NBA (Jonathan Tavernari parece estar se “especializando” neles, aliás – todos os seus disparos foram de fora, todos, sim: 4/13 para ele). Na sexta, o campeão americano matou 29% no perímetro externo, enquanto os europeus acertaram 39%. De novo uma grande vantagem a favor dos helênicos.

E aqui você precisa ver o jogo para entender a origem desse tipo de estatística. Foram diversas as oportunidades em que, no ataque do Olympiacos, uma infiltração (via drible ou passe) resultava em um passe para a zona morta e, dali, a bola ainda seria movida mais uma vez para um chutador completamente livre na quina da linha exterior. Caixa. Mais uma assistência e três pontos para os visitantes. Esse tipo de movimento aconteceu sem parar, mes-mo.

(Não quer dizer que eles também não façam loucuras: Spanoulis também tem seus momentos de estrela em que breca de longe e chuta sem pestanejar, mesmo com as pernas pesadas, pesadas – várias de suas primeiras bolas deram bico.)

Do outro lado, Shamell, Tavernari, Paulinho e Joe Smith se aventuraram individualmente sem parar. A bola cai? A torcia vibra (Ponto! Cesta! É gol!). A bola bate no aro? (Uuuh! Aaah! Que pena! Na trave!). Por mais que um ou outro tenha recursos para o drible e jogadas individuais (e não mais que isso, diga-se) e até o jogo de pés e munheca (fundamentos, ufa) para criar e matar, forçar arremessos assim é desafiar qualquer probabilidade de sucesso. Até Claudio Mortari por vezes se manifestava ao lado da quadra, com as mãos espalmadas para baixo e os braços se flexionando, pedindo: “Calma, pessoal, calma”… Mas como alterar, de um jogo para o outro, os modos, os gestos praticados no decorrer de uma ou mais temporadas?

O Pinheiros não correu (para se aproveitar das pernas pesadas dos adversários), mas se precipitou em vários ataques. Foi muito de “eu-pego-e-chuto-daqui-sim-senhor” que incomoda demais.

– Compare os percentuais de dois pontos também: o Olympiakos matou 73% de saus bolas de dois pontos. Contra pífios 39% do Pinheiros. Isso é algogritante. Foram diversas as ocasiões em que Shamell (que fez uma bela partida, diga-se) partiu para a cesta e atirou pedradas em direção ao aro. É como se ele não estivesse mais habituado a converter jogadas simples, de tanto que fica distante do garrafão. E o americano tem a força física e drible para jogar lá dentro.

Aqui também cabe um adendo defendendo o jogador: o americano ficou em quadra por 37 minutos. Descansou um pouquinho aqui e outro pouquinho no quarto período, quando Mortari viu que ele já não tinha mais pernas pra nada. Uma das pedradas aconteceu momentos antes de sua substituição a 2min18s do fim (?). Do outro lado, Bartzokas tirou Vassilis Spanoulis a 8min12s do quarto período, para depois recolocá-lo em quadra com 2min54s restando no cronômetro.

– E como o Pinheiros se manteve perto no placar final, então, caçamba? No início do terceiro período, os gregos venciam por apenas 56 a 51.

É só conferir o número de turnovers. O Olympiacos cometeu 22 deles, o dobro do Pinheiros. Isso resultou em muitas, mas muitas posses de bola a mais para os brasileiros. Recapitulando o número de arremessos de quadra: foram 55 para os de Atenas, contra 72 para os de São Paulo. O time de Mortari teve 17 chutes a mais. Tivesse uma seleção mais consistente no ataque, realmente poderiam ter ganhado a partida.

Méritos para a defesa que forçou tantos desarmes? Sim, que pelo menos batalhou para recuperar a bola. Rafael Mineiro, nesse quesito, merece uma salva. O ala-pivô se atirou ao chão sem parar atrás de “divididas”, se sacrificando pela equipe, ainda que não estivesse na melhor noite ofensiva (e nem fosse muito alimentado).

Agora, não se pode esquecer também que os gregos contaram praticamente com cinco estreantes em sua rotação, quatro dos quais atuaram por mais de 13 minutos (e três acima de 18). Em várias ocasiões, um pivô hesitante procurou o outro dentro do garrafão num “deixa que eu deixo” que resultou em recuperações por parte dos brasileiros. Perspicácia dos defensores, atentos, mas que também se aproveitaram da falta de entrosamento de quem atacava, de gente que ainda está em pré-temporada.

– Não foi uma surra, sob nenhuma ótica. Mas o Olympiacos venceu três dos quatro períodos, perdendo apenas o segundo por 19 a 17. O Pinheiros só liderou o placar com cerca de cinco a quatro minutos no relógio desta segunda parcial. Num ataque com 4min40s, Joe Smith, matou um contra-ataque no mano-a-mano, e fez 26 a 22 para o time paulistano. O primeiro tempo, de todo modo, encerrou-se com um 32 a 30 a favor dos helênicos.

– Spanoulis foi sacado com 5min28s no segundo quarto, com duas faltas. Estava marcando Shamell, num claro despreparo de Bartzokas. É de se esperar que, nesta segunda partida, o astro grego seja preservado, sem ter de perseguir o cestinha americano.

– A maior média de pontos da carreira de Stratos Perperoglou na Euroliga: 7,1 por partida em 2010-2011. Na sexta, ele curtiu sua noite de cestinha, com 15 pontos, atacando a cesta em infiltrações impensáveis (algo que escrevi aqui ser uma raridade), como se fosse um Spanoulis. Terminou com 6/6 nos dois pontos, 100%. Para os que o marcaram, é de se pensar.

– O ginásio José Correa, no centro de Barueri: bastante agradável (ainda que, no meio da galera, possa ficar um tico abafado mesmo numa noite fria). Uma bela iluminação no exterior, chamando a atenção para quem chegava de trem (Oi! Nós existimos!). Dentro, ótima visão de jogo. Para os organizadores, o único senão foi a espremida saída para o público, no final. De resto, com telões bonitões, bela quadra, Jay-Jay, e tudo, uma noite agradável, bastante positiva para o basquete brasileiro em termos operaconais. Vale destacar também o bom número de vagas ao redor do ginásio. Bem fácil o acesso. Próximo da rodovia para quem foi guiando (ok, vamos pensar hipoeticamente num mundo sem trânsito) e bem perto também da estação Barueri.

– Pode o Pinheiros adotar uma seleção melhor de arremessos? Como jogar para vencer por 12 pontos? Vão correr mais, mas sem perder a cabeça? Daqui a pouco, as respostas…