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Convocado, Humberto curte 1ª temporada efetiva: “Puxei o jogo”
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Giancarlo Giampietro

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Uma das coisas mais legais no esporte em geral é acompanhar a evolução de um atleta, ainda mais quando essa observação vem desde cedo. Agora imaginem como todo esse processo não funciona na cabeça do próprio jogador? De ver que anos e anos de preparação começam a dar resultado.

Pensando no basquete brasileiro, o Pinheiros, com sua prospecção de talentos e propensão para o lançamento, é um dos clubes do país mais propícios para se seguir, para ver o quão interessante é esse amadurecimento esportivo, acompanhando quase sempre pelo crescimento também fora das quadras. Lucas Dias, nesse sentido, foi uma das sensações deste NBB, confirmando seu potencial como um cestinha de mão cheia, que chegou para ficar.

Mas na ótima campanha que o clube da capital paulista fez, jogando de igual para igual com o finalista Bauru pelas quartas de final, ficou clara também a evolução de outro produto de sua profícua base, o ala-armador Humberto, de 21 anos. Um jogador que, assim como Lucas, seu companheiro (já) de longa data, vem sendo cotado como um dos grandes prospectos do país e que, especialmente pelo que fez na reta final de temporada, cruzou aquela cinzenta faixa entre a condição de “projeto” para “realidade” das quadras nacionais, rendendo uma pré-convocação para a seleção brasileira, de olho no Sul-Americano da Venezuela, a partir do dia 27.

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“Confiança é tudo. Passei a acreditar mais no meu jogo, no chute e na infiltração, e vi que posso ajudar meus companheiros em alguns momentos de pressão. Estar em quadra ajuda muito para chegar a esse ponto. Poder ficar com a bola na mão. Eu estava preparado para ajudar”, afirma ao VinteUm o paulistano, que impressiona pela maturidade, para além do 1,95m de altura e de sua agilidade, com um conjunto de atributos físicos que vai chamar a atenção de qualquer scout.

Esse processo de afirmação está longe de ser uma ciência exata ou simples. Humberto já treinava com a equipe adulta há tempos, mas estava quase sempre à margem na rotação, sendo utilizado de modo esporádico por nomes de peso como Cláudio Mortari ou Marcel de Souza. Ficava dividindo seu tempo seja com o time sub-19 ou com o da LDB, passando muito tempo em quadra, é verdade, mas não exatamente no nível que ambicionava. Até que a redução de investimento desta temporada forçou essa transição para valer, agora sob o comando do técnico César Guidetti. Chegara a hora, mesmo que, na sua concepção, a efetivação pudesse muito bem ter acontecido antes.

“Penso que a gente poderia ter sido lançado antes, e isso é uma coisa que nunca escondi de ninguém. Tinha essa insatisfação por não estar jogando e só estar treinando. Acho que isso é algo bom que tenho, de querer jogar, mostrar meu basquete”, diz o atleta, sem passar nada de arrogância em sua declaração.

Humberto ainda jogou pela LDB desta temporada, sendo campeão ao lado do chapa Lucas

Humberto ainda jogou pela LDB desta temporada, sendo campeão ao lado do chapa Lucas

Anormal seria alguém conformado com a reserva. A diferença é o modo como se encara a situação: se sua insatisfação vai se transformar em fardo, ou se vai motivá-lo ainda mais para provar qual o seu lugar.”Teve o lado bom. Serve para ver outras coisas. O atleta profissional, por exemplo, tem uma rotina específica, e demora um pouco para você se habituar a ela, com jogos, viagens, puxar ferro, os treinos. Na base, não se trabalha forte assim. Esses dois ou três anos serviram para me acostumar com isso. Hoje, se me tirarem essa rotina de basquete, eu sentiria muita falta”, diz o ala-armador, que  jogou mais de 770 minutos em seu terceiro NBB, cinco vezes mais do que havia recebido em 2013-14. Respondeu, claro, com as melhores marcas de sua carreira em pontos (8,4), rebotes (2,9) e assistências (1,9). Foi indicado ao prêmio de melhor sexto homem da competição, disputando com Marcelinho Machado e Jimmy Oliveira, do Mogi.

“Tem sido bom. Não diria ‘muito bom’, porque acho que poderia estar muito melhor, claro. Está sendo de razoável para bom, e tem muito o que melhorar, muito mesmo, com o pé no chão. Mas foi importante para ver o que precisa ser feito e saber que agora estão nos vendo, que estamos indo para o jogo. O outro lado é saber dosar, de reconhecer se está preparado, ou não. Acho que mentalmente estou, mas dentro do jogo tenho de melhorar muitas coisas”, avalia.

A prioridade para Humberto é o arremesso.  Para um jogador de perímetro, enfrentando internacionalmente defesas cada vez mais fechadas, congestionando o garrafão no lado em que está a bola, é vital que o chute funcione. Em sua primeira temporada efetiva como profissional, já cresceu bastante em todos os quesitos. Nos tiros de longa distância, saiu de 21,1% para 33,3%. Nos lances livres, de 62,5% para 73,8%. Mais perto da cesta, foi de 33,3% para 44,3%. Mas cabe mais, claro. “Sem dúvida, tenho treinado bastante. Acho que são uns 500 chutes por dia, 250 de manhã e de tarde. Procurei mudar um pouco minha mecânica de arremesso”, diz.

Mais trabalho no chute

Mais trabalho no chute

Sabe quem serviu de exemplo? CJ McCollum, vejam só, o emergente ala-armador do Portland Trail Blazers, time que não está toda hora assim na TV. Sinal de que o jovem paulistano anda investindo seu tempo no League Pass da NBA, certo? “Comecei a ver alguns arremessos, comparando com o meu. Vendo ele, reparei que estava pulando pouco para arremessar, saindo pouco do chão, e nunca tinha pensado se isso influenciava.  Agora estou saltando um pouco mais e acho que isso dá mais força nas pernas. Antigamente acho que estava colocando muita força no braço. No Jogo das Estrelas, o Marcelinho (Machado, o maior chutador brasileiro de sua geração) comentou comigo isso também, de colocar força na perna.”A entrevista com Humberto foi gravada em meio ao confronto com Bauru, pelas quartas do campeonato nacional. O Pinheiros havia acabado de perder o primeiro jogo, em casa, em um duelo equilibrado. O ala-armador falava com confiança, acreditando ainda numa virada. Já haviam reagido contra o Minas pelas oitavas de final, aliás, revertendo, de modo impressionante, uma desvantagem de 2 a 0.

Pois bem, como sabemos, não foi possível. Mas eles deram trabalho, sim, e ainda estenderam a série ao Jogo 4, depois de surpreendente triunfo como visitante, justamente com a melhor apresentação de Humberto, quando marcou 27 pontos. Não por coincidência, foi uma jornada inspirada no chute, tendo convertido 10 de 16 tentativas e 5 de 9 de fora. Para alguém de primeiro passo explosivo, a conversão de média para longa distância só vai lhe abrir a quadra e os ângulos para ataque. No confronto com Bauru, teve média de 15,7 pontos em quatro partidas, com 40,5% nos disparos de três.

Outro fator que o ajudou foi a parceria com os americanos Cordero Bennett e Desmond Holloway. O ataque pinheirense encaixou bem quando Guidetti adotou uma formação mais baixa, em que os gringos e o jovem ala-armador dividiram responsabilidades. Os três poderiam conduzir a bola e partir para o ataque também, “puxando o jogo”, como Humberto gosta de dizer. Um verbo que faz sentido para alguém que pode cortar a quadra toda com velocidade. “Foi um papel bem diferente do que tive nos outros anos, de poder chamar um pouco mais, de resolver. Procurei fazer isso para a bola não ficar só na mão do Lucas, ou do Holloway. Fazendo isso, acho que se abriu um leque de opções. Ficou mais difícil de marcar, mais imprevisível. Vou buscar isso. Mesmo que não seja para pontuar,mais  que possa criar para os outros.”

O jogo da vida: 27 pontos no playoff contra Bauru

O jogo da vida: 27 pontos no playoff contra Bauru

Nos anos anteriores, Humberto em geral era chamado para situações bem específicas, para marcar, quando o time precisava pressionar algum cestinha no perímetro. Foi bom ver, então, que a maior carga de minutos não tirou seu ímpeto para a contenção. “Gosto realmente de defender. Acho muito mais legal dar um toco, roubar uma bola, não deixar o cara te cortar. Na própria Liga das Américas (de 2014, quando o Pinheiros foi derrotado pelo Flamengo na final), fui chamado para marcar o Marcelinho. Carrego isso comigo. Não faço nada específico, acho que pode ser uma coisa mais pessoal, mesmo, de olhar para um cara e pensar que ele não vai passar por mim.”

A exibição contra o Flamengo, por sinal, teria repercussão futura. Não foi por acaso que, no ano passado, o clube rubro-negro tenha tentado levar o jogador para o Rio, antes de fechar com Rafael Luz e Ronald Ramon. Num sistema defensivo que José Neto costuma aplicar, de preferência agressivo, com muita pressão na bola, ele se encaixaria muito bem. Se a contratação tivesse sido validada, talvez ele pudesse estar disputando a final neste momento? Se não vai estar em Marília, ou no Rio, também não quer dizer que vá assistir tudo de casa. Afinal, neste domingo ele terá de se apresentar em São Paulo para iniciar a preparação rumo ao Sul-Americano, convocado por Magnano, numa lista que agrada, mesclando veteranos como Fúlvio, Jefferson William, JP Batista, Olivinha e Rafael Mineiro com jovens apostas.

Será sua primeira passagem pela seleção como profissional. Na base, em meio a passagens pelo Banespa, São Paulo e Círculo Militar, disputou duas competições oficiais da Fiba: a Copa América Sub-16 de 2011, em Cancún, e o Mundial Sub-19 de 2013, em Praga. No ano passado, também participou da Universíade, sobre a qual se recorda de seu duelo, como marcador, com o ala Wayne Selden Jr., da Universidade de Kansas, que representou a seleção americana. Agora o desafio é encarar encarar forte concorrência para ficar no grupo final, ao lado de Henrique Coelho, Davi Rossetto, Deryk, Fúlvio, Gui Deodato, Jimmy Oliveira e Leo Meindl. Georginho, seu companheiro de Pinheiros, também se junta ao grupo.

Passar no corte final e jogar na última semana de junho e a inicial de julho traria uma ambiguidade aos planos de Humberto. Seria um prolongamento desta temporada, a antecipação da próxima, ou meramente uma intertemporada? Para alguém de 21 anos, acho que não interessa. “O que quero, primeiramente, é continuar crescendo. Quero ter uma temporada melhor, independentemente de onde esteja. Algumas coisas já vêm mudando, dentro e fora da quadra. Ser reconhecido pelo que faz é legal, te motiva mais. Mas mantenho os pés no chão, e aí o crescimento vem naturalmente. Claro que NBA é um sonho de cada jogador, Europa também, mas sou um cara de reconhecer muito meu limite. Acho que estou num momento de fazer um bom trabalho no Brasil, fazer boas temporadas aqui para depois pensar lá fora. Tem de me firmar aqui no Brasil para depois poder ter alguma chance fora.”

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A Fiba Américas agora é da Venezuela e Néstor García. Ou quase isso
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Giancarlo Giampietro

A Fiba Américas agora é da Venezuela. Ou quase isso

Néstor García, o argentino que conquistou a Venezuela

Argentina, Brasil. Brasil, Argentina. Se bipolarização é o nosso esporte, o basquete sul-americano seguiu por muito tempo na mesma. Até que a Venezuela decidiu bagunçar um pouco essa história, com seu primeiro título continental desde o bicampeonato do Trotamundos de 1988-89. Isto é, também o primeiro título com este formato. Além disso, ao derrotar, em sequência, Mogi e Bauru, o Guaros de Lara garantiu ao país a unificação dos dois principais títulos regionais no mundo Fiba,  entre os rapazes. Primeiro haviam chocado a geração NBA do Canadá. Agora puseram fim a uma hegemonia brasileira na competição.

Os clubes brasileiro chegaram ao final four da liga com 75% de chances de título, já que o Flamengo também estava na luta contra os anfitriões. Mas dessa vez não deu, e não dá para dizer que tenha sido uma surpresa. Este Guaros fez de tudo para chegar lá. De gestão gastona, mas elogiada nos bastidores por saber para onde destinar seus investimentos, montou um grande elenco e ainda tinha um treinador competente para orientá-los.

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O detalhe é que o clube venezuelano conseguiu jogar sempre em casa, a cada etapa, se aproveitando de um regulamento que permite tudo e não valoriza critérios técnicos. Em vez de estipular prioridades com algum senso de justiça com com base em resultados, ranking, a Fiba Américas, seguindo o modelo da matriz, simplesmente abre concorrências pouco transparentes e altamente rentáveis. Daí chegamos à ridícula (ou, vá lá, questionável) decisão de, numa festa em que 75% dos representantes eram brasileiros, a minoria foi felicitada.

Quanto os venezuelanos pagaram para superar as candidaturas de Mogi e Rio (que, aparentemente, foi descartada de cara)? Vai saber. Mas deve ser algo substancioso, para se ignorar a possibilidade de reunir três torcidas distintas num mesmo ginásio, em vez somente de um — barulhento, é verdade — público do Guaros.

Alex não pára: Bauru conseguiu grande virada contra o Flamengo para jogar a final

Alex não pára: Bauru conseguiu grande virada contra o Flamengo para jogar a final

De novo: como o processo nunca é detalhado, qualquer observador tem a inclinação a dar asas à imaginação. E vem desse buraco a linha de raciocínio de que talvez fosse a hora de algum outro país levar o caneco. Vai saber. Também por conta de um regulamento esportivo esdrúxulo, tivemos um desfecho estranho no último quadrangular semifinal, no mesmo Domo Bolivariano, que resultou na queda de Brasília. O mesmo Brasília que ao menos havia, um dia antes, vencido o Guaros por conta própria — e que também os havia derrotado pela segunda fase. De todo jeito, o time do DF também tinha a chance de se classificar sem depender dos outros e, quiçá, compor um histórico Final 4 brasileiro, mas complicou ao perder de muito para o Flamengo.

O Guaros fez das suas, se intrometeu na fase decisiva e conseguiu um grande título, sem ser exatamente soberano. Pela semifinal, a equipe anfitriã penou contra Mogi (81 a 73), um adversário que provou que era pura bobagem o empurra-empurra com o Flamengo dias antes. Como consolação, o estreante superou os rubro-negros e garantiu mais que honroso lugar no pódio (73 a 71).

Depois, valendo o título, veio o último golpe de sorte a favor do Guaros. O Bauru teria de buscar o bicampeonato sem dois titulares – Fischer e Hettsheimeir, dois de seus três principais jogadores. Para piorar, o armador suplente, Paulinho, também estava fora. Ainda assim, Bauru fez um jogo duro até o final (84 a 79), com Demétrius dando 17 minutos a um pivô de 19 anos (Wesley Sena, que faz sua primeira temporada realmente efetiva na rotação) e um armador de 18 anos (Guilherme Santos, lançado aos poucos, com 35 minutos no total pelo NBB. Dá para conhecer um pouco mais sobre ele aqui, com scouts da NBA na plateia). Para esses garotos, aliás, estar em quadra com rivais tão experientes, num ambiente como aqueles, já vale como um mês inteiro de cancha.

O Bauru, como se esperava, não teve muita facilidade na articulação de suas jogadas. Especialmente no quarto período em que seus atletas se viam constantemente obrigados a atirar de muito longe, bem marcados e sem equilíbrio algum, antes que a posse de bola estourasse. O belo aproveitamento nos rebotes ofensivos ao menos evitou que seu oponente desgarrasse no placar um pouco antes.

(O ponto positivo é a recuperação de Murilo, se movimentando com confiança e leveza. Se havia um jogador que merecia o título, era o veterano pivô, que passou por muitas dificuldades nas últimas duas temporadas, dentro e fora de quadra, entre lesões graves. Entre a experiência para os garotos, a demonstração de força perante os desfalques e a virada para cima do Flamengo, pela semi, a equipe paulista ganha bons argumentos para voltar para casa de cabeça erguida.)

Wilkins vai curtindo o final de carreira no mundo Fiba

Wilkins vai curtindo o final de carreira no mundo Fiba

Nos minutos finais, porém, uma bola de três pontos de Tyshawn Taylor e uma cesta+falta em Damien Wilkins fizeram a diferença, em sequência. Justamente dois dos ótimos reforços que o clube foi buscar, ao lado de um terceiro americano também produtivo, o ala Zach Graham. Taylor e Wilkins são talentos de NBA, ou quase. O jovem armador foi draftado pelo Nets e dispensado muito cedo – e foi contratado durante o torneio, daqueles movimentos que a Fiba também permite sem o menor controle. O veterano ala tem longa passagem pela liga, teve seus momentos aqui e ali e hoje busca mais alguns trocados mundo afora.

MVP da fase final, Wilkins foi sempre um porto seguro para os venezuelanos como referência ofensiva, matando 6 em 11 lances livres e descolando ainda mais sete pontos em lances livres. Com vasta bagagem, altura, força, personalidade e fundamentos, é o tipo raro de jogador no mundo Fiba que vai conseguir aguentar o tranco e bater o incansável Alex Garcia. Esses gringos se juntaram a uma base bastante experiente, de jogadores que entram e saem da seleção nacional.

Sobre o caráter de Wilkins, falo sobre seu histórico na NBA. O ala tem um sobrenome de peso, mas se virou na liga sem a capacidade atlética que seu tio e seu pai ostentavam. Foi com suor e como boa companhia no vestiário. Se errou lances livres peopositais contra o Flamengo, foi por ordem de seu treinador. Poderia contestar a ordem, claro, mas não é o pedido fosse ilegal. Assim como faltas intencionais em péssimos arremessadores no segundo ou quarto período, está no regulamento e não há muito o que ser feito.

E aí chegamos a Néstor Garcia, que vai chegar ao Rio de Janeiro cheio de moral, como campeão continental em duas esferas. O sujeito se transformou na Venezuela. Se não taticamente, mas pessoalmente, com uma persona que mais parece a de um torcedor do que um técnico na lateral da quadra. Seus trejeitos exagerados, seu uniforme todo amassado e/ou esgarçado gera empatia impressionante com o torcedor (e certo estranhamento por parte de seus americanos, é verdade).

García, o personagem da vez no basquete sul-americano

García, o personagem da vez no basquete sul-americano

Da campanha surpreendente pela Copa América, “Che” é o ponto comum mais óbvio. Daquele elenco, apenas o intrigante e inconstante ala-pivô Windi Graterol foi campeão da Liga das Américas. Em ambas as conquistas, o campeão foi definido aos trancos e barrancos, em jogos apertados, emocionantes, nos quais suas equipes conseguiu se manter equilibrada, consistente em quadra, mas também empurrada pela torcida – tal como aconteceu no México, com os espectadores de público recorde abraçando.os venezuelanos. Será que no Brasil a torcida terá essa boa vontade? Há mais que uma simples conexão latina aqui, sabemos. Será uma nota curiosa entre tantos assuntos olímpicos.

Mas não sei se podemos tirar muitas conclusões aqui. As circunstâncias da Copa América para a Liga das Américas é bem diferente. Na primeira, a Venezuela era uma zebraça. Na segunda, a equipe venezuelana era uma das favoritas. Vale monitorar, mas não indica exatamente um problema para o basquete brasileiro, por exemplo. A mera possibilidade de reunir quatro times num Final 4 seria impensável cinco anos atrás, antes de as conquistas começarem.


Com repertório expandido, Felício causa boa impressão geral pela D-League
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Giancarlo Giampietro

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Felíco x Jeff Ayres, ex-Spurs

Quando um time de NBA perde um pivô com todas as habilidades de Joakim Noah, tende a se enrascar. Mas não o Chicago Bulls. Para Fred Hoiberg, isso significa dar mais minutos para Taj Gibson mostrar seu confiável arremesso de média distância e cobrir terreno com movimentação lateral invejável. Pau Gasol também vai ganhar mais espaço para fazer das suas no garrafão, enquanto Nikola Mirotic tem mais chances para encontrar o rumo da cesta. Ah, e claro, para não falar do hiperprodutivo Bobby Portis, o calouro número 22 do Draft que parece ter sido escolhido, no mínimo, 12 posições mais cedo. Estamos falando já de quatro caras mais que competentes para compor uma linha de frente, e o quinto homem seria um grandalhão pouco ágil ou atlético, mas que faz parte da seleção australiana, é grande, forte, adora uma pancadaria e tem bons fundamentos para ajudar no andamento de um treino e tal.

Pensando nesse mundaréu de gente, não deixava de ser uma grata surpresa que o escritório gerenciado por John Paxson, operando sob as ordens do quase sempre avarento Jerry Reinsdorf, tenha, num primeiro momento, contratado Cristiano Felício e, agora, nesta semana, garantido seu contrato até o final a temporada. Lembremos que, numa decisão rara, o proprietário do clube já havia topado ultrapassar a temida “luxury tax” em US$ 5 milhões neste ano e ainda não viu problema em pagar mais US$ 500 mil para o pivô brasileiro.

Agora, ao vê-lo em ação nesta semana pelo Canton Charge, da D-League, jogando com desenvoltura, energia e repertório expandido, após ter disputado apenas duas partidas pela temporada regular, sem que tivesse entrado em quadra desde o dia 27 de novembro, o voto de confiança e a aposta no mineiro de Pouso Alegre parecem mais do que justificado. Parecem certeiros.

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Ok, não vamos julgar nada com base em duas partidas e 50 minutos pela liga de desenvolvimento. Mas é que, como brasileiros, temos uma vantagem sobre os americanos, né? Pelo menos em relação aos scouts que não tenham feito o dever de casa ao acompanhar o pivô que despontou em cenário internacional na mesma turma de Raulzinho e Lucas Bebê, o tendo se exibido para os olheiros mais atentos em 2011.

Não que os Bulls fossem os únicos antenados. Sei de dois clubes da Conferência Oeste que ao menos colocaram o nome de Felício em pauta para a composição de seus elencos de verão, mas nenhuma oferta foi feita. Um desses clubes esteve no Brasil para avaliar a garotada do Pinheiros e também inseriu seu nome no caderno de notas. Outro adorou o que viu de seus amistosos pelo Flamengo no giro de pré-temporada em 2014. Além disso, claro, pôde ser observado no adidas Eurocamp de Treviso no ano retrasado, seu bom desempenho não foi o suficiente para lhe valer uma vaga no Draft.

Como vemos agora, um ano e meio depois, não era o fim do mundo. Nesta semana, depois de cerca de um semestre de treinos com a comissão técnica de Hoiberg, pudemos ver um atleta com truques novos, enfrentando jogadores de NBA, ou que tentam voltar para lá, além de veteranos aspirantes e universitários recém-formados de sua idade, angariando mais fãs.

“Felício desenvolveu um arremesso de três pontos. Se ele puder sustentar isso, estamos falando de um cara que vai ficar muito tempo na liga”, avaliou um scout presente no ginásio do Santa Cruz Warriors, que recebe o chamado “Showcase” da D-League, com todos os clubes menores reunidos para uma série de partidas da temporada regular, agrupadas, em sequência.

Agressão
Um pouco do que Felício fez na primeira partida do Charge por estes jogos valem mais que uma exibição está aqui:

E aí já dá para reparar em como o arsenal do pivô revelado pelo Minas Tênis apresenta uma surpresinha ou outra. A começar pelos arremessos confiantes de longa distância, devidamente destacados pelo olheiro acima, e um diferencial que, sabemos bem, mais da metade da liga está buscando em seus grandalhões. Contra o Idaho Stampede, ele matou duas em quatro tentativas, sendo que a quarta foi desequilibrada, no estouro do cronômetro ofensivo. Os ataques a partir do perímetro também envolvem arremessos de média distância, do tipo que arriscava pelo Flamengo.

Mas há algo mais interessante aqui. Não é que o brasileiro tenha dado ‘apenas’ um ou dois passos para trás e expandido seu alcance no chute. Ele não parou por aí, literalmente, pois também vem apresentando movimentos calculados e inteligentes em direção ao garrafão quando não está em posição confortável para atacar o aro. Um lance no segundo tempo exibido no clipe acima mostra o jogador buscando a infiltração e finalizando de canhota com muita categoria. Da mesma forma que fez aqui na primeira partida pelo Charge contra o Oklahoma City Blue:

É uma bolaça, hein? Convenhamos. O que chama a atenção é novamente a conclusão com a mão trocada e a paciência que ele teve para iniciar a jogada, cortando da direita para a esquerda, sob controle. Alguém se lembra de ver uma ação semelhante por sua parte durante os títulos do Flamengo pelo NBB? Não me bate na telha, não. Felício esteve sempre em calmo no ataque, sem se precipitar para nada, tomando decisões corretas. Cometeu dois turnovers na primeira partida, mas não foi nada de alarmante. Em um deles, a arbitragem viu o uso indevido do braço na hora de se proteger e buscar a cesta cortando pelo fundo de quadra.

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Também não forçou a barra para buscar números e glória, mesmo que não jogasse há tempos. A diferença é que, comparando com Caboclo e Bebê, Felício ao menos teve muito mais tempo de quadra nas últimas duas temporadas pelo Flamengo, ainda que, em muitos momentos, a impressão era a de que ele pudesse ser muito mais utilizado, e seus lances pela D-League americana assim como a dominância na LDB brasileira comprovam isso. Felício pode ser muito mais do que um jogador de corta-luz e rebote no ataque. Sua habilidade como passador é bastante subestimada.

Em meia quadra:

Ou mesmo em transição:

Importante notar que o brasileiro nunca havia jogado com nenhum de seus companheiros antes. O Canton Charge é a filial do Cleveland Cavaliers, que curiosamente quebrou um galho para o rival de Divisão Central. Então na hora de fazer o corta-luz para seus armadores, abrir para o chute, ou mergulhar em direção ao garrafão, as coisas não saíam muito naturais. Falta química, claro. O entrosamento é mínimo. A despeito dessa limitação séria, se saiu bem. É preciso dizer também que ele tem bons jogadores ao seu redor, como os armadores Quinn Cook, campeão universitário por Duke e Coach K, e Jorge Gutiérrez, o mexicano ex-Bucks e Nets, o ala-pivô Nick Minnerath, versátil demais e que estaria ganhando uma boa grana na Europa, o ala John Holland, que joga por Porto Rico, e o ala CJ Wilcox, chutador cedido pelo Clippers. Ajuda ter gente qualificada ao lado, com instruções do técnico espanhol Jordi Fernandez, que trabalhava com academia Impact nos EUA.

Felício conquistou o respeito desses caras. Não basta ter o selo de NBA se não for para justificá-lo. Em termos de atitude, o brasileiro também se mostrou motivado, vibrando com as cestas dos parceiros. Essa atitude positiva se traduziu em energia em quadra, algo que nem sempre acontece no caso de enviados da liga de cima, que podem encarar a passagem pela D-League como um rebaixamento e algo de se envergonhar. Bobagem e egocentrismo exagerado, claro, em vez de se aproveitar a chance. Pois o pivô correu muito bem a quadra toda, com muita disposição e, contra a filial do Thunder, bateu seus adversários consistentemente. Veja esta sequência em que ele ganha o rebote num tapinha e já inicia o contra-ataque para concluí-lo de forma enfática:

Que tal a agressividade? Em detalhe:

Está aí outra abordagem que não era lá tão comum nos dias rubro-negros. Felício está buscando a cravada e o toco, está jogando acima do aro, e isso, no seu caso, vale muito mais como termômetro de intensidade e conforto em quadra do que pelo show:

Então temos isso hoje: um pivô que desenvolveu seu arremesso, sabe quando utilizá-lo, pode por a bola no chão e finalizar com autoridade ou categoria perto da cesta, podendo marcar 35 pontos em 50 minutos, com aproveitamento de 65,2% de quadra. Sai jogo daí, pelo menos no nível da D-League, por ora, aos 23 anos.

Agora, pensando em NBA, todas essas informações são bem relevantes, mas não necessariamente essenciais. Pois, num primeiro momento, tanto o Bulls como a concorrência não vai procurar neste showcase um jogador de referência, para carregar o ataque titular ou da segunda unidade. A prioridade dos scouts é encontrar peças complementares, para ajeitar a rotação. Que possam produzir algo no ataque, mas que, essencialmente, cuide bem das coisas do outro lado. “Rebotes, defesa, jogar duro e de forma inteligente: são essas as chaves para ele”, afirma outro scout ao blog.

Contenção
Contra o OKC B, Felício pegou apenas três rebotes em 27 minutos. Um problema? Não, pelo menos não para que tenha visto o jogo. Este é mais um caso de como se precisa muita calma na hora de falar sobre os números que sejam computados numa súmula de jogo. Foram várias as ocasiões em que o brasileiro simplesmente limpou terreno para que seus companheiros pudessem fazer a captura da bola. Como no vine abaixo, em que consegue conter o corpanzil de Dakari Johnson, um pivô muito promissor vindo da fornalha produtiva de John Calipari em Kentucky:

Felício é um bom reboteiro, com uma base forte nas pernas para guardar posição, excelentes mãos para fazer o controle e tino para se posicionar bem, compensando a impulsão reduzida quando tem os dois pés no chão. Número por número, já foram oito em 22 minutos contra o Stampede.

Na hora de proteger a cesta, uma característica pôde ser notada: Felício se saiu muito melhor contra pivôs mais pesados, que gostem de jogar perto da cesta, do que contra alas-pivôs ágeis e flexíveis que pudessem atacar usando o drible frontal, fora do garrafão. Abaixo, ele consegue segurar Dakari Johnson no tranco. Depois, vê Talib Zanna, mais baixo e leve, lhe contornar. Primeiro, a brecada:

Deu Cesta:

Em quadras brasileiras, Felício já mostrou mais agilidade em seu deslocamento lateral, sendo o tipo de pivô que consegue brecar armadores. Nessas últimas duas partidas, pareceu um pouco mais pesado e lento. Ou talvez seja apenas a relativização de suas habilidades atléticas diante de atletas de primeiro nível, tal como aconteceu em pelo menos três investidas de jogadores do Stampede, deixando o brasileiro para trás. É algo para se acompanhar. Pensando na NBA, é muito mais provável hoje que ele tenha que lidar com Zannas do que Johnsons. É algo que os scouts vão analisar com cuidado.

De toda forma, a impressão em geral no momento é de surpresa e otimismo. Em Chicago, num time que sonha com o título,  com tantos pivôs qualificados acima na rotação, Felício não vai ter muitas chances nesta temporada. Mal vai jogar. Ainda assim, teve seu contrato renovado, o que para ele, no câmbio de hoje, também rende uma gratificante bolada, além da satisfação de (primeiro) dever cumprido. Ao mesmo tempo, Paxson, o gerente geral Gar Norman e o técnico Fred Hoiberg sabem de que tipo de talento estão cuidando. Estão pensando mais longe, pedindo um investimento de Reinsdorf para o futuro. E, assim como aconteceu com Portis, para o restante da liga a capacidade de se seu outro pivô talentoso e novato não é mais segredo nenhum.


As primeiras impressões sobre o Flamengo 2015-2016
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos já está voando pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Marquinhos já se candidata a MVP pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Algumas notas com base do que vi dos jogos contra o Orlando Magic e Bauru. Vamos lá:

Quem já está acelerando, voando em quadra? Marquinhos. Entre o basquete que pôde apresentar pela seleção pela Copa América e o que já ofereceu nesta segunda em Bauru, são dois mundos completamente diferentes. Descendo a ladeira da Panela (veja só as frases absurdas que alguém pode construir…), o veterano ala lembrou novamente a força que pode ser em quadras nacionais.

Contra Bauru, mesmo que seu aproveitamento de quadra não tenha sido o mais eficiente, com 17 pontos em 16 arremessos (2/7 de três), a notícia que fica é a volta de seu arranque com a bola, batendo até mesmo os armadores que tentavam cercá-lo. A defesa bauruense, em geral, só conseguiu pará-lo com faltas (foram cinco recebidas). Também deu oito passes para a cesta e apanhou sete rebotes. Acreditem: nos grandes jogos, a atual configuração do Flamengo vai precisar dessa agressividade e desse tipo de rendimento.

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Ao blog, o ala disse que durante as férias fez um trabalho específico com personal trainer e ganhou mais massa muscular, com a ideia de chegar na melhor forma na reta final da competição. Que será a hora de brigar por troféus e, além disso, principalmente, se apresentar a Magnano tinindo.

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José Neto não quis dizer que sim, nem que não após a derrota para o Bauru. Na verdade, o técnico não estava com cara de quem topava discutir muita coisa com nenhum jornalista na segunda-feira, apelando a respostas cada vez mais evasivas, seja por esconder o jogo, para preservar seus atletas ou por entender que o interlocutor não está preparado para assimilar sua carga tática. Vai saber.

Então, diante de um silêncio efetivo, nos resta fazer deduções, que já vêm desde o fechamento do elenco rubro-negro para a temporada 2015-2016. Ainda que o comandante seja o mesmo, o time tende a mudar bastante.

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

É claro que eles ainda vão pontuar em transição. As cestas no contragolpe são em geral aquelas mais visadas, mais fáceis, depois dos lances livres.  Mas suas peças novas sugerem que essas escapadas serão mais esporádicas e só na boa, na certa, especialmente contra adversários mais qualificados.

A saída de Laprovíttola, Benite, Felício e até mesmo de Herrmann (versão ala-pivô) resultou numa grande perda de velocidade e arrojo. Dos quatro novos protagonistas, apenas Rafael Mineiro tem velocidade e/ou predisposição para correr quadra inteira e atacar. Rafael Luz, jovem, obviamente também daria conta, mas sua vocação é para um jogo mais controlado, pelo que pudemos ver em seus jogos pelo Obradoiro e pela seleção brasileira pan-americana. Também oriundo do basquete espanhol, Jason Robinson, por ora, está no mesmo ritmo. Sobre João Paulo Batista, nem precisamos nos estender.

>> Alguém pode impedir uma final entre Bauru e Flamengo?

Sobraria, então, para Marquinhos ser esse propulsor. Agora: se correr é uma forma de evitar o choque físico, gera tanto ou mais desgaste, e não sei bem se você vai querer sobrecarregar seu melhor jogador, por mais que ele se apresente em excelente forma e que a preparação física do flamenguista seja a melhor do país.

De volta ao país após mais de 10 anos, JP vai chamar constantes marcações duplas

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Se o Flamengo não vai correr tanto, precisa compensar na execução de meia quadra, com um basquete mais bem engendrado e de imposição técnica e física. E eles têm jogadores inteligentes e talentosos para tanto. Cabeça por cabeça, talvez seja o coletivo de maior QI do NBB.

O jogo interior tem tudo para ser o mais poderoso do liga, e de longe. JP é um dos cestinhas mais eficientes e oportunistas da liga, podendo render tanto com o chute de média distância como de costas para a cesta em isolamento, bem como em deslocamentos sorrateiros a partir do corta-luz. Rafael Mineiro é elástico e ágil demais para alguém de sua estatura e, se ganhar a confiança da comissão técnica e dos companheiros, pode render em diversos pontos de ataque. Meyinsse ainda é uma dor-de-cabeça (e de costelas, baço, rim e tudo o mais) perto da cesta, enquanto Olivinha vai trazer a energia e o faro de bola de sempre. Ao redor deles, Marquinhos, Robinson e Marcelinho vão arremessar de três pontos com prazer. É de se esperar que Mineiro e Olivinha também subam para chutar.

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Rafael Luz vai botar esses caras para jogar. Para lidar com o armador, é preciso entender as diferenças entre seu jogo e toda a criatividade de Laprovíttola. O novo armador não vai entrar em quadra pensando em marcar 20, 15 ou mesmo dez pontos. Mas talvez termine com sete assistências, seis rebotes e quatro roubos de bola. Poderia olhar mais para a cesta, certamente. Houve um lance no segundo tempo contra Bauru em que ele pegou o rebote ofensivo a dois passos do garrafão, pela direita, no fundo da quadra, e, se o pensamento de arremessar passou por sua cabeça, foi bem rápido, pois ele virou a cabeça automaticamente para a direção contrária e fez o passe para fora. O técnico Neto, figura sempre agitada ao lado da quadra, não conseguiu esconder sua frustração com o lance. O mesmo aconteceu quando Rafael errou um passe bobo para um desatento Marquinhos a 3min52s do fim, resultando em turnover e sua quarta falta, para cima de Fischer, brecando o contra-ataque, quando a partida pegava fogo (foi uma das tantas chances de empate que o Flamengo desperdiçou no quarto período, diga-se).

Parece sem confiança na hora de finalizar, no momento. Mas há muito o que ele pode oferecer a um time com sua pegada defensiva (é um armador alto, forte e combativo) e senso de organização. Um passe pode fazer mais bem que o arremesso. Quanto mais entrosado estiver com os novos companheiros, mais influência positiva ele vai exercer sobre eles. Só é preciso um pouco de paciência e que se evite comparações entre jogadores completamente diferentes.

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Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Jason Robinson é uma incógnita.O americano tem 35 anos e, em 2013, chegou a pensar em se aposentar. Quanto estendeu a carreira, viveu talvez sua melhor temporada em 2013-2014, pelo San Sebastián, sendo o segundo principal cestinha da Liga ACB. Isso não é para qualquer um, mas foi um tanto bizarro para um jogador que por grande parte de sua trajetória frequentou as divisões menores da Espanha ou até mesmo de Portugal. Pelo Zaragoza, no ano passado, seu rendimento já não foi mais o mesmo. Ainda assim, é um cara experiente, rodado para compor a rotação flamenguista no perímetro. Mas também alguém beeeeeeem diferente de Vitor Benite.

Está claro que o jogo de transição não é para ele. No segundo tempo, durante a reação flamenguista, ele abriu mão de várias chances de contra-ataque, preferindo ir com calma. Está muito cedo para avaliar o ala. Em um primeiro momento, parece um atleta complementar, que sabe fazer um pouco de tudo no ataque e está respeitando e conhecendo os companheiros, enquanto assimila aquilo que o cerca. Na defesa, fez um bom papel contra Alex nas ocasiões em que estiveram duelando.

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É por isso que não estranharia se, no decorrer da temporada, o mundo desse mais uma volta, e Marcelinho Machado, aos 40 anos, se torne uma peça fundamental para o Fla mais uma vez, como um parceiro de Marquinhos na agressão e criação de jogadas.

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Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Rafael Mineiro saiu de reforço do Mundial para inimigo público em Bauru, sendo o jogador mais *homenageado* pela torcida legal. Claro que, na esportiva, dá para entender, já que ele saiu de um clube para o outro. A verdade é que o pivô flamenguista passou por uma sequência de trocas de camisa que dificilmente vai ser replicada por algum jogador brasileiro. Vejamos: em agosto, ele estava a serviço da seleção. Quando voltou do México para casa, defendeu o Limeira brevemente pelo Paulista, até o time ser eliminado e o clube anunciar que estava fora da temporada, mesmo. Aí ele encontrou no Bauru um lar temporário, reforçando a rotação interior que trombaria com astros de Real Madrid, New York Knicks e Washington Wizards. Foram duas semaninhas de treino, jogos e viagens até que, por fim, assinasse com o Fla. Pura loucura. Mas é um jogador de fácil encaixe, devido a sua versatilidade e habilidade defensiva.


Bauru x Flamengo teve clima de final antecipada. Alguém pode impedi-la?
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Giancarlo Giampietro

Rafael e Ricardo ainda vão se ver muito por aí. Certo ou errado?

Rafael e Ricardo ainda vão se ver muito por aí. Certo ou errado?

Foi só o primeiro jogo, mas pareceu uma final, em termos de intensidade em quadra. A convite da liga nacional, pude conhecer a famosa Panela de Pressão na segunda-feira, e foi com aquele fervor, ainda que o calor lá fora tivesse dado uma acalmada. O forasteiro, aparentemente, não tinha do que reclamar – os relatos são de que o ginásio poderia ficar muito, muito mais quente. Assim como foi a partida inaugural do NBB 8, com vitória do Bauru para cima do Flamengo por 77 a 73.

Dava para entender o nível de combatividade em quadra, por diversas razões:

– Bom, ninguém gosta de perder uma estreia, ainda mais contra o adversário que estava do outro lado da quadra.

– Os times ainda estão ganhando corpo, se formando, então tem hora que precisa ser na base do esforço físico, mesmo.

– Por mais que um ou outro jogador e treinador não vá admitir isso publicamente, para evitar o desdém pelo restante da concorrência, mas ambos os times sabem que muito provavelmente vão se enfrentar diversas vezes mais para a frente, com a possibilidade de, quiçá, mais seis jogos, dependendo da tabela da Liga das Américas e se confirmarem o favoritismo e chegarem à decisão nacional.

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– O armador Paulinho era um dos que falava abertamente sobre a perspectiva de embate entre as duas equipes pela liderança da fase de classificação, pensando em mando de quadra. Daí a importância de vencer em casa seu rival direto.

Não acredito que seja soberba. No papel, é difícil apontar de cara um ou outro candidato ao título, que possa ser colocado na mesma camada de Bauru e Flamengo, depois da extinção de Limeira. Se fosse obrigado a escolher dois, iria com…

– Paulistano: Gustavo de Conti terá mais uma vez uma versátil e poderosa linha de frente ao seu dispor, reformulada após a ruptura com o grupo formado por Pilar, Renato, Cesar e o-cincão-da-vez. Essa turma se dispersou por aí, chegando ao clube da capital paulista Jhonatan, Gruber, Toyloy, Caio Torres, para fazer companhia ao ainda promissor Gemerson. Com esse conjunto de alas-pivôs e grandalhões, o técnico pode encaixar diversas combinações.

Para dar certo, porém, Jhonatan, Gemerson e Gruber precisarão acertar seus chutes de média e longa distância – afinal, Holloway e Pedro foram outros que se mandaram. Mas, principalmente, fica a questão sobre a dupla armação com Valtinho e Dawkins. São eles que têm de botar esse exército para funcionar.

Dawkins pode pontuar e atacar. Mas sabe conduzir um elenco robusto?

Dawkins pode pontuar e atacar. Mas sabe conduzir um elenco robusto?

Valter ainda pode colocar um time para jogar, rodando a bola, mas vai chegar aos 39 anos em janeiro e não vem de uma temporada tão inspirada assim por São José. Ele também vai acertar a mão de fora? E a defesa, vai dar? Nos minutos em que for para o banco, é aí também que saberemos se o americano pode ser considerado um condutor de time grande. Alguém que saiba compartilhar a bola de modo natural, fluido, ao mesmo tempo em que está olhando para a cesta. Seu forte é o ataque, a agressividade, e isso não precisa ser podado. Mas ele também vai ter de envolver seus companheiros, e aqui não estamos falando apenas do passe final, da assistência.

Mogi das Cruzes: depois da inesperada (ao menos para quem via de fora…) saída de Paco Garcia, é preciso ter calma e ver no que vai dar. De alguma forma, para o torcedor do Chicago Bulls, é como se um Tom Thibodeau estivesse saindo. Um cara muito exigente, perfeccionista e controlador, que em geral fazia suas peças renderem muito mais, mas também podia ser uma presença sufocante. Com o grupo vai responder? Vão se soltar ou relaxar?

De Paco para Padovani

De Paco para Padovani

De qualquer forma, com ou sem o espanhol, pelo que vimos no Campeonato Paulista, a equipe tem dois problemas prioritários para solucionar se quiser alcançar as semifinais do NBB pelo terceiro ano seguido. E são problemas nos setores mais importantes: armação e a defesa interior.

Empolgada com a ascensão e ambicioso, querendo títulos, a diretoria investiu em nomes de peso para reforçar o elenco e dar a Paco (e, agora, Padovani) ainda mais grife – deixando para trás dos tempos de Sidão, Agba, Alemão, Gustavinho, Jefferson e Jason. Mas será que escolheram os alvos certos?

Larry Taylor já não é o mesmo americano de cinco, seis anos atrás, e não só por ter conseguido a cidadania brasileira e bauruense. Hoje ele não tem mais o arranque e a desenvoltura atlética para ser o condutor único de um time, de ser uma força que realmente preocupe as defesas em tempo integral. O papel de reserva que teve no último ano em Bauru era algo que lhe cabia de uma forma mais apropriada, com dosagem de minutos e a quadra mais espaçada para tentar suas infiltrações. Em que pese sua média de assistências variando entre 5,6 e 6,4 nos primeiros NBBs, a verdade é que ele nunca foi um armador dos mais cerebrais, como Valtinho, por exemplo. E, tendo Shamell, Filipin, Paulão, Tyrone, Mariano no time, todos eles olhando primeiro para a cesta, depois para o lado, pedia-se alguém com esse perfil.

Também tem o próprio caso de Mariano. Sinceramente, quando o jovem pivô foi contratado, achei que o trabalho com Paco poderia render bons resultados ao seu desenvolvimento. Vê-lo fora de forma, tornando praticamente impossível uma dupla com Paulão, foi decepcionante. E aí que a equipe se viu numa enrascada: com dois pesos pesados no garrafão, a defesa fica seriamente comprometida. Além do mais, do ponto de vista mogiano, será, mesmo, que eles precisavam de mais um pivô com expectativa de minutos e arremessos? A rotação ficou congestionada, e um talento como Gerson, uma das revelações do campeonato passado, acabou alienado, enquanto a formação mais flexível com Tyrone ao lado de Filipin, Shamell e um dos grandalhões também seria menos utilizada. Encontrar um equilíbrio maior entre seus pivôs será um desafio para o novo técnico.

O título do Paulista coloca São José em pauta

O título do Paulista coloca São José em pauta

Ficamos nisso, mesmo?

Bem, há outros elencos interessantes, mas que têm muito o que responder também: São José foi uma grata surpresa no Paulista sob o comando de Cristiano Ahmed e, com o título estadual, merece atenção e destaque. O clube soube gastar bem seus diminutos recursos para formar um time pouco badalado, mas com peças multifuncionais e já de sucesso comprovado: o trio do Paulistano Pedro, Renato e o lesionado César, o bem fundamentado e intrigante Arthur Bernardi e o talentoso-mas-que-precisa-de-um-empurrão Matheus Dalla, todos eles girando ao redor de Jamaal. Para uma jornada mais longa, porém, vão ter fôlego?

Brasília também promete mais do que fez na temporada passada, ainda liderado por Giovannoni, mas agora reforçado por Deryk, Jefferson Campos, Pilar e Coimbra. Vidal ganhou mais banco. Mas vai conseguir montar uma defesa consistente? O segredo é encontrar a melhor química entre seus veteranos e seus melhores atletas, os mais jovens, sendo que, para isso, alguns nomes consagrados podem ter de sair do banco…

De resto, temos um campo aberto de possibilidades. Para quem quiser trabalhar e inovar para subir, há uma oportunidade clara aqui para se aproveitar e tentar impedir a final antecipada entre Bauru e Flamengo.

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Uma bipolarização como essa nunca é saudável para um campeonato. Gera-se rivalidade, obviamente, mas perde-se muito para custeá-la. A LNB está ciente disso e não vai se acomodar diante desse cenário. Existem conversas preliminares, discussões constantes sobre o que fazer para tentar mudar esse cenário. Mas leva tempo, ainda mais num contexto econômico sofrível, que não passa segurança alguma. Difícil planejar sem saber o que vem pela frente. A desistência de Limeira foi um baque, e tanto, nesse sentido.

Ranking de jogadores? Não é uma ideia bem vista – até por se basear em subjetividade e por engessar os clubes, que poderiam ser impedidos de buscar uma ou outra alternativa no decorrer de uma temporada. Assim: e se o Leandrinho resolve voltar de vez para o NBB? E se o Huertas quiser se aposentar pelo Paulistano? Faz como?

A outra alternativa mais calara seria o… teto salarial. Quem sabe? É algo bastante complexo, que exige um controle minucioso sobre a contabilidade dos clubes. Como regulamentação inédita no país, talvez nem todo o know-how da NBA seja o suficiente para garantir uma prática de sucesso. Maior competitividade tende a atrair mais capital, mas também não é garantia.

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Na crise, gera-se oportunidades? Algum guru de mercado certamente já registrou essa frase, e o basquete brasileiro está aí para conferir isso na prática. Danilo Padovani e Cristiano Ahmed têm a companhia de Cesar Guidetti (Pinheiros) e Cristiano Grama (Minas Tênis) como assistentes promovidos a treinador principal neste ano. Que seus clubes tenham tomado essa decisão mais por mérito e serviços prestados ou pela dificuldade de se pagar um salário para um profissional mais gabaritado, não importa. Vamos ver se essa turma consegue trazer ideias novas para a quadra, o que é um clamor nacional.


Temporada brasileira começa com urgência no desenvolvimento de talentos
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Giancarlo Giampietro

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Antes de embarcar para os Estados Unidos e iniciar seus treinamentos para os Estados Unidos, aquele veloz garoto estava impressionando a todos aqui no Brasil. Leandro Mateus Barbosa ralava de igual para igual com veteranos da seleção. Ralava? Esqueça: aos 20 anos, o armador já era um dos melhores jogadores do país, com média de 28,2 pontos por partida, abaixo apenas de um Mão Santa e acima de Charles Byrd, Rogério, Vanderlei e outros da velha guarda. Isso foi em 2003, ano em que o ligeirinho se candidatou ao Draft da NBA.

Era uma época diferente. Hoje, a partir do momento em que um jogador se declara para a liga americana, entra forçosamente no radar de todos os clubes (sérios). Ainda é possível que aconteça um caso como o de Bruno Caboclo, que foi tratado até mesmo com certo desdém no momento de sua inscrição no ano passado para, depois, a menos de um mês antes do evento, gerar um pandemônio na busca por informações. Acho que nunca telefonaram tanto para o Brasil. Há 12 anos, Leandrinho precisou usar o circuito de treinos privados com os clubes para fazer seu nome nos Estados Unidos, jogando duro para valer, a ponto de tirar Dwyane Wade do sério em um teste pelo Memphis Grizzlies, para deleite de Jerry West.

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Agora isso já é quase impossível. Estar no radar da NBA significa ser escrutinado pelos olheiros. Esses caras querem assistir ao garoto máximo que puderem, seja na ‘fita’, ou, de preferência, in loco. Neste ano, a revelação mais estudada foi o armador Georginho, do Pinheiros, que, sob muitos aspectos, remete a Caboclo como prospecto: muito jovem (nascido em 1996), atributos físicos impressionantes e o tanto de projeção que se pode fazer a partir daí. Os olheiros vieram para cá para conferi-lo de perto, para que não se repetisse a loucura do ano passado, para que seus clubes não fossem pegos desprevenidos. Foram pelo menos dez franquias na área. Desta forma, passaram a conviver com outras dezenas de garotos daqui e com a LDB como um todo. Os que não cruzaram a linha do Equador tiveram a oportunidade de ver George em quatro cenários diferentes: o Nike Hoop Summit, o Draft Combine, o adidas Eurocamp e workouts particulares. Lucas Dias, Humberto Gomes e Danilo Siqueira foram os outros que se inscreveram e também passaram pela lupa, mas com menos exposição lá fora.

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

Todos eles foram avaliados, no fim, mas preferiram adiar o sonho de encarar o Draft, retirando o nome da lista. Qual o veredicto? Bem, a opinião de um ou outro scout ouvidos pelo VinteUm varia em relação ao futuro dos jogadores. Natural. De qualquer forma, houve um tópico que era consenso entre as vozes divergentes: para os olhos da NBA, os garotos deveriam sair do Brasil o quanto antes em busca de melhor desenvolvimento.

“Não me parece um caminho muito bom”, diz o vice-presidente de um clube da Conferência Oeste ao blog, ao ser questionado sobre a decisão do quarteto de retornar ao país. “Deixar o Draft não é uma decisão ruim. George muito provavelmente seria selecionado. Mas não é essa a questão. Esperava que eles levassem a carreira adiante em outro cenário.”

Esse vice-presidente acreditava que o melhor caminho era tentar uma vaga em um clube na Europa. A opinião foi compartilhada por um scout de um time da Divisão Sudoeste, no que se refere ao armador. “Acho que o ajudaria ficar no Draft e deixar o Brasil. O time da NBA que o escolhesse encontraria para ele uma boa situação na Europa, onde ele pudesse dominar o inglês. Depois, teria a D-League. E aí a NBA.”

Pessoalmente, não acho que a transição para o basquete europeu fosse tão simples assim: na idade deles, os técnicos, sempre pressionados por resultados, já esperam contar com um atleta mais preparado para render em alto nível. A busca por um clube mais paciente não seria tão simples. Com o que concorda um olheiro de um time da Divisão Noroeste, em declaração já publicada aqui. “Jogar na Europa não faz sentido para ele. Afinal, precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião”, disse. “Em primeiro lugar, a prioridade geral, para mim, era sair do Brasil. O mais rápido possível.”

Quando você lê esse tipo de declaração, o que vai pensar? Pode bater um certo desespero, não?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Mas elas precisam ser relativizadas também: os scouts da NBA estão, na grande maioria, procurando produtos prontos ou semiprontos, para chegar aos Estados Unidos (ou Canadá) agora e já oferecer algo. O nível de exigência dos dirigentes e treinadores é, em geral, elevado. A aposta do Toronto Raptors em Caboclo no ano passado foi algo raro. O clube estava consciente de que, ao contratá-lo, cru toda a vida, deveria preparar um projeto de longo prazo, sem se importar em trabalhar com o caçula por um ano inteiro em que o principal objetivo era deixá-lo mais forte e fluente em inglês. Era este o tipo de comprometimento que os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis, que trabalhavam com o ala até este ano, esperavam para George ou Lucas, para que eles ficassem no Draft. Não aconteceu.

Por outro lado, os scouts internacionais assistem centenas de jogos de todos os países, algo cada vez mais fácil devido a softwares como o Synergy, hoje presente no cotidiano do NBB. Provavelmente não haja público mais bem informado do que essa classe na hora de falar sobre garotos mundo afora. Em suma, eles têm um ponto de vista que não pode ser ignorado.

Além do mais, a despeito de termos reunido duas seleções neste ano, cheias de jovens, para o Pan e a Universíade, não acho que seja necessário aparecer um empregado da liga americana para afirmar que a produção de base como um todo é duvidosa, especialmente quando se leva em conta o potencial atlético do país. Nas declarações dos olheiros, o que preocupa, mesmo, é o tom alarmista das respostas.

 O que acontece?

Uma chance
Existe, claro, um problema de origem macro. A massificação parece uma utopia, sem contribuição estratégica alguma da CBB e com o investimento federal imediatista. Gasta-se muito, hoje. São bilhões. Mas os programas são massivamente direcionados ao Rio 2016, com pouco impacto a longo prazo. Além disso, mesmo a grana que sai diretamente do Ministério do Esporte para a confederação acaba sendo aproveitada da forma mais bizarra possível. Seus convênios milagrosos recentes, como os R$ 7 milhões cedidos este ano, tinham como finalidade tão somente que uma ou outra seleção pudesse treinar para uma competição específica.

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

Para ser justo, também não dá para esquecer que a pasta também libera a grana da LDB, uma das poucas iniciativas realmente promissoras e consistentes que temos em termos de base no país, graças à administração da liga nacional. A competição, que já iniciou sua nova edição, tem boa repercussão. Em março, em viagem para Mogi das Cruzes para assistir a jogos da quarta etapa da LDB, tive a oportunidade de rever Lisandro Miranda, um argentino que trabalha para o Dallas Mavericks há mais de dez anos. Entre os que já tive contato, é hoje o único scout sul-americano oficial da liga e está mais que habituado a visitar as quadras brasileiras. Numa conversa informal, elogiou muito o progresso que nossa principal competição para jovens vinha apresentando. Em termos de estrutura, deixava claro, para que os garotos pudessem jogar e deslanchar.

Que o campeonato representa um avanço enorme, não há dúvidas. É uma competição que ajuda a dar rodagem aos atletas que estão na iminência de sair do juvenil, ou que já estouraram a categoria. Acontece que, em termos de evolução técnica, a liga não oferece tantos desafios aos talentos de ponta do país. Eles dominam nesse nível, mas a tradução desse rendimento para um nível maior de competitividade não é tão simples assim, até pelo desnível técnico que se testemunha entre algumas equipes da primeira fase.

Está claro que, tecnicamente, é preciso mais que a LDB para fomentar uma modalidade. Para sustentar todos os clubes, porém, não há verba do governo que dê conta. É preciso que o setor privado entre em quadra. Com crise ou estagnação econômica (como preferirem…), o dinheiro, que já não era tão volumoso assim, voltou a encurtar. Qualquer real investido tende a vir, então, com uma cobrança forte por vitórias, empurrando dirigentes e técnicos para estratégias conservadoras. Neste cenário, o desenvolvimento de jovens atletas fica bem complicado. Pode treinar o quanto e com quem for, mas nada substitui a experiência em quadra em jogos para valer. A questão não é exatamente de infraestrutura. Até porque, com um jovem jogador, o quanto mais é preciso do que uma bola, duas tabelas e uma boa cabeça para aplicar treinos? Com a palavra, Tiago Splitter, que saiu do país muito cedo e se formou como jogador na Espanha: “Tinha o preparador físico, nutrição, mas nada que não vá ter no Brasil num clube de ponta. A grande diferença foi a competição. Cheguei com 15 anos lá e já comecei a jogar adulto, na terceira divisão. Fui subindo, até a primeira. Foi essa competição que me ajudou a ser um bom jogador”.

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

No NBB 7, apenas dez atletas sub-22 (nascidos a partir de 1993) tiveram um mínimo de 20 partidas com média de minutos superior a 10 por jogo. Dez! Ou dois quintetos, entre 16 equipes inscritas. Se for para filtrar por 20 partidas e 20 minutos em média, apenas quatro passariam no corte: Danilo, Leo Meindl, Deryk Ramos e Henrique Coelho, todos, não por coincidência, convocados por Magnano ou Gustavo de Conti. Eles eram os únicos jogadores de fato preparados para encarar o NBB? Não jogam mais por que não estão preparados, ou não estão preparados por que não jogam mais? A resposta para essa pergunta seria a mais fácil: sim e não. Aí não tem como errar, né? Na verdade, a combinação de um assentimento e negativa indica que ela é bem mais complicada.

Fundamentalismo
Rumo ao Draft, Georginho, Lucas e Danilo saíram do país para passar por curtos períodos de treinamento nos Estados Unidos, em academias prestigiadas como a IMG, da Flórida, e a Impact, de Las Vegas. Mesmo que não tenham ficado na lista final de recrutamento da NBA, esse tipo de experiência foi valiosa para abrir os olhos dos garotos em relação ao tipo de preparação que existe lá fora. Os três rapazes foram uníssonos ao comentar os diferentes treinamentos que receberam: nunca haviam visto nada parecido.

Um ponto em comum atentava à “intensidade”. Que saíam esgotados de quadra e, quando achavam que havia acabado, eram chamados para mais uma sessão. E mais uma. E mais uma. O regime espartano, de todo modo, serve mais para prepará-los aeróbica e emocionalmente para os testes que os desgastantes treinos que eventualmente pudessem fazer pelos clubes americanos. Pensando longe, o legado maior está no refinamento de habilidades.

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Quando estava em Vegas, Danilo disse o seguinte ao blog: “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade”.

Na volta a São Paulo, Lucas afirmou em longa entrevista: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer”.

Os comentários coincidem, não? E estamos falando de dois jovens talentos brasileiros de ponta, que trabalharam nos últimos anos em dois clubes que realmente investiram no trabalho de base, com o Minas Tênis colhendo antes do Pinheiros os frutos por projeto, com um grupo que soube mesclar revelações e veteranos para fazer sucesso no NBB. Neste ano, por diversas circunstâncias, o clube de São Paulo tenta repetir essa trajetória. Vamos falar mais a respeito na semana que vem.

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, Rep. Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, República Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

Mas temos aí Lucas e Danilo maravilhados pelos exercícios de fundamentos básicos que fizeram em um curto período. O que tirar dessa avaliação? É por essas e outras que causa admiração geral o fato de o Brasil ainda encontrar um jeito de produzir mão-de-obra, mesmo que as estruturas do esporte no país não sejam das mais confiáveis. Como Splitter disse durante sua visita ao Basketball without Borders, camp conduzido pela NBA e pela Fiba, em sua edição global, realizada em fevereiro deste ano em Nova York: “Nós vemos jogadores surgindo, mas não por sermos bem organizados. Eles simplesmente aparecem”.

Nem sempre depende-se do acaso ou da sorte. Se Lucas e Danilo chegam a flertar com a NBA hoje, é porque seus clubes também lhes permitiram isso. Mas é inegável que, no processo atual de formação do basquete brasileiro, há uma lacuna muito grande entre projeções e realizações. Durante o mesmo camp nova-iorquino, em nota já dada aqui no blog, me lembro de ter sido questionado por um importante dirigente de um clube da Conferência Oeste, sobre a discrepância que se nota entre o nível de potencial atlético das revelações brasileiras e os seus fundamentos básicos. A mesma tecla. Se ela for batida muitas vezes, complica demais.

Peguem o fiasco da Copa América sub-16 deste ano. Mais um desastre: o Brasil agora terminou em quinto, ficando muito longe de brigar por uma vaga no Mundial sub-17 desta temporada. Na primeira fase, três derrotas em três jogos. Depois, pelo torneio de consolação, saíram dois triunfos para evitar a fossa geral da molecada. É complicado entender de longe o que aconteceu. Afinal, o técnico do time, Cristiano Grama, foi um personagem fundamental para a composição justamente do Minas, a jovial sensação do último NBB. É um cara antenado, bem conectado, envolvido com a base brasileira. Sem ter assistido aos jogos, fica difícil avaliar, mas os resultados estão aí para comprovar ques as coisas não saíram nada bem. Um dado que chamou a atenção, antes mesmo do torneio, era que, talvez pela primeira vez na história, a equipe brasileira tinha média de altura mais baixa que a da Argentina. Nossos vizinhos comemoravam isso, para se ter uma ideia. Conversando com agentes, creiam: no país de Nenê, Splitter, Augusto, Varejão, Bebê, Faverani, Felício, Morro, Caio, Mariano, Paulão, Murilo, Hettsheimeir, parece que anda realmente difícil de encontrar pirulões promissores nas competições de base vigentes. Ao que parece, a safra para daqui mais alguns anos não deve oferecer tantos “surgimentos”.

E aí o que fazer quando a fonte seca? O basquete feminino, infelizmente, está aí para contar essa história. É nessa hora que entra a autocrítica. E, nesse sentido, ao menos faz bem ler uma carta de Alexandre Póvoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo, o tricampeão do NBB, na qual ele escreve: “Somos totalmente conscientes que estamos longe da plena satisfação acerca do que alcançamos até agora. Por exemplo, precisamos melhorar MUITO o nosso trabalho nas categorias de base, atualmente muito aquém da história do Flamengo formador de atletas (aliás, situação comum em todos os esportes olímpicos do clube e que estamos lutando dia-a-dia para ajustar)”. O rubro-negro foi vice-campeão da última LDB, mas é honesto ao assumir suas deficiências de formação. Até porque a principal figura do time, Felício, é produto da base do Minas.

Sem fazer muito alarde, em termos de mídia, uma potência nacional que tem investido muito na base é o Bauru, estruturando seu departamento e fazendo a rapa na coleta de talentos, até mesmo em países vizinhos. Diversos jogadores talentosos têm sido recrutados recentemente, como o ala-pivô Gabriel Galvanini, o pivô Michael Uchendu (brasileiro filho de nigerianos), o armador Guilherme Santos, entre outros.  Com um patrocinador forte, o clube montou um timaço que ganhou o Paulista, a Liga Sul-Americana e a Liga das Américas na temporada passada. Poderia se dar por satisfeito com esses resultados, mas, em tempos de vacas gordas, é melhor preparar o terreno para o que vem pela frente e de um modo muito mais razoável e sustentável. É um projeto para se monitorar de perto.

Curiosamente, é o mesmo Bauru que escalava Leandrinho nos idos de 2003, quando o Nacional ainda era organizado pela CBB, muito antes da grave crise com os clubes que quase levou tudo para o buraco. Não seria prudente esperar que, dos garotos garimpados pelo clube, alguém vá chegar em breve ao estágio de competir com David Jackson, Marquinhos ou Shamell pelo título de cestinha do NBB, como, lá atrás, fez o armador, um caso excepcional de quem que já fez mais de 18 pontos em média nos Estados Unidos. O que dá para cobrar, mesmo, é que ao menos tentem, ainda mais para um clube em que o dinheiro não é problema. Entre esses jovens atletas, é natural que o sonho seja a NBA. Pode ser que alguns deles até se veja com condições de, no futuro, inscrever no Draft, tentar a sorte. Se vai dar certo ou não, impossível dizer agora. Só esperemos que, em caso de retirada e retorno ao país, a resposta dos olheiros norte-americanos seja mais amena.


A final prometia mais, mas o Fla, tricampeão, não tem nada com isso
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Giancarlo Giampietro

Flamengo, tricampeão, ainda hegemônico no NBB

Flamengo, tricampeão, ainda hegemônico no NBB

Se for pensar apenas no que vimos nas finai do NBB, o Flamengo é o melhor time do Brasil, e disparado. Neste sábado, o clube rubro-negro voltou a dominar o Bauru em quadra, vencendo por 77 a 67 e fechando a série em 2 a 0 para conquistar o tricampeonato. Na terça-feira, havia triunfado por 91 a 69.

Claro que uma avaliação mais justa, porém, deve levar em conta o que aconteceu durante toda a temporada. Os bauruenses garantiram uma vaga na decisão nacional em busca do quarto título no ano, vindo de títulos pelo Campeonato Paulista, pela Liga Sul-Americana e pela Liga das Américas – esta a maior conquista, em março. Uma pena que esses dois grandes times, com elencos estrelados, não tenham se enfrentado no auge.

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Este Flamengo foi muito mais forte que aquele que perdeu, em pleno Maracanãzinho, a semifinal do torneio continental para o Pioneros de Quintana Roo, enquanto o Bauru não lembrou em nada a equipe que bateu os mexicanos para se classificar para a Copa Intercontinental, ganhando o direito de jogar contra o Real Madrid. Entre um Flamengo voando em quadra e um Bauru trôpego, fica difícil de diferenciar onde termina o domínio de um e a derrocada do outro. Estão interligados, obviamente. Fato é que o time carioca não tem nada com isso e jogou demais. “Este ano nem foi o menor nosso, não estávamos regulares no campeonato. Pegamos o melhor time do Brasil no ano, que estava ganhando tudo, mas vencemos com duas partidas incontestáveis”, afirmou o ala-armador Vitor Benite, ao SporTV.

O Fla fez uma excepcional defesa do início ao fim, protegendo seu garrafão como se fosse uma mina de ouro. Não teve infiltração, não teve bandejas nem para os armadores, nem para os pivôs: tudo contestado. Esse foi apenas um ponto. O povoamento na zona pintada estava ligado a um forte combate no perímetro também, sem permitir que os gatilhos bauruenses tivessem liberdade, conforto para pontuar. Serviço completo. Do outro lado da quadra, os rubro-negros foram muito mais conscientes com a bola, que girava de um lado para o outro, procurando bons arremessos, fazendo uso de seu arsenal também para lá de respeitável. O aproveitamento, no final, foi inferior ao do primeiro jogo, mas serviu para confirmar o título.

Ao passo que o campeão paulista se perdeu nos mesmos erros da primeira partida, com um ataque muito individualista, sem velocidade e movimentação. Na base do bumba-meu-boi, no desespero, o time de Guerrinha ainda conseguiu tirar 13 pontos de sua desvantagem, mas era tarde demais. “Eles começaram a meter muita bola, tentando dar um susto na gente, mas nossos três quartos muito superiores fizeram a vitória”, disse Benite, que vive ótima fase, dentro de quadra e diante dos microfones, com lucidez. Ele marcou 15 pontos em 25 minutos dessa vez, com um jogo muito agressivo e consciente. Ao lado de Nícolas Laprovíttola, fez estragos. O argentino foi quem levou o prêmio de MVP das finais, colaborando com 19 pontos, 7 rebotes e 4 assistências em 34 minutos, dominando Ricardo Fischer.

Uma foto que diz muito: a dificuldade para Bauru atacar

Uma foto que diz muito: a dificuldade para Bauru atacar

Robert Day, aquele do Bolsa Atleta, comandou ataque nessa parcial, chegando a 23 pontos, com 18 nos tiros de fora. Mas não dá para esquecer que o ala americano, aquele contemplado por uma Bolsa Atleta, teve uma atuação praticamente calamitosa do outro lado da quadra. Basquete se faz lá e cá – e o igualmente veterano Larry Taylor teve um papel mais importante no esboço de reação, com sua energia (11 pontos, 7 rebotes, 6 assistências).

Nem mesmo este quarto final foi suficiente para deixar os índices ofensivos de Bauru mais palatáveis. Terminaram com 31% nos arremessos de três (9/29) e meros 36,8% de dois (14/38), com Murilo vivendo uma jornada muito infeliz (apenas 2 pontos em 23 minutos, acertando apenas uma bola debaixo da cesta em seis tentativas). Faltou perna, mas também faltou cabeça, resultando em números que não condizem com o que o time produziu durante toda a temporada – que é, de todo modo, histórica sob qualquer perspectiva, a despeito da frustração no final.

Já o Flamengo começou sua campanha batendo o Maccabi Tel Aviv pela Copa Intercontinental e a fechou com mais esta taça nacional. Entre um evento e outro, muita coisa aconteceu. “Oscilamos muito”, disse Marcelinho Machado, agora tetracampeão, que chegou a ser afastado do elenco ao reclamar do banco de reservas. José Neto e sua comissão conseguiram contornar esse momento de turbulência, com seu capitão, diga-se. Também conseguiram driblar o calendário um tanto maluco – o Flamengo já teve de disputar sua principal partida logo de cara, duelando com o campeão europeu. Depois, se mandou para os Estados Unidos para fazer amistosos em Phoenix, Orlando e Memphis. A preparação física e a montagem do time acabam abaladas, não tem como. “Mas crescemos no momento certo. Contra Bauru, uma grande equipe, fizemos dois jogos brilhantes”, diz Marcelinho.

A final prometia mais. Muito mais, é verdade. Mas isso não tira o brilho da conquista da equipe rubro-negra, ainda hegemônica quando o assunto é NBB.

Flamengo, tetracampeão, tricampeão, NBB, Marília

Marcelinho ergue a taça mais uma vez

Qualquer alegria para Herrmann é pouco: campeoníssimo e história muito sofrida

Qualquer alegria para Herrmann é pouco: campeoníssimo e história muito sofrida

Laprovíttola com o compatriota Magnano, felizmente presente no ginásio

Laprovíttola com o compatriota Magnano, felizmente presente no ginásio

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O que prometia mais também era a exposição da decisão para o basquete brasileiro. Desde o início da competição, a pareceria entre a LNB e a Globo prometia a transmissão da série em rede nacional, com sinal aberto. Não foi bem assim. O confronto deste sábado, em Marília, foi transmitido pelo “Canal 5” apenas para o Rio de Janeiro e algumas praças do interior paulista (TV Tem, TV Tribuna, TV Diário e TV Vanguarda ). Para as demais regiões do país, “TV Globinho” neles – coube ao SporTV dar a cobertura esportiva.

A troca de última hora deixou muita gente frustrada. “Decepcionante: aqui em Belo Horizonte e outros estados, estarem passando a ‘abelhinha”‘ao invés da final do NBB! Massificação do esporte? Sacanagem”, lamentou o técnico Demétrius, que fez ótimo trabalho com o Minas Tênis, quinto colocado na fase de classificação. “Além de não passar na Globo a final do NBB… No SporTV, não está em HD, confere?”, indagou Gustavo de Conti, treinador vice-campeão do NBB 6 pelo Paulistano.

O ginásio Neusa Galetti estava belíssimo neste sábado, a despeito do horário ingrato. Prova de potencial do NBB

O ginásio Neuza Galetti estava belíssimo neste sábado, a despeito do horário ingrato. Prova de potencial do NBB

O aspecto logístico da final realmente esteve longe do ideal. Sim, transmissão em TV aberta para o Rio de Janeiro e cidades do interior paulista, um pólo de basquete, é melhor do que nada. Mas os pontos em que a liga precisou ceder também são relevantes. Tivemos dois jogos em horários difíceis de assimilar. A primeira partida foi marcada para 21h30 de uma terça-feira, na longínqua Arena da Barra, de difícil acesso, ainda mais para voltar para casa 23h30. O duelo derradeiro teve início às 10h da matina. Horários ingratos e datas muito espaçadas – Marília está a 105 km de Bauru, forçando a galera a cair na estrada bem cedo. Que o ginásio neste sábado estivesse cheio, belíssimo, só serve de testamento para o potencial da modalidade, que pode ser mais bem explorado.

Uma final melhor-de-três é bem melhor que a de jogo único. Mas perde para a melhor-de-cinco, não? E por que, então, este sistema não foi adotado, já que o formato já seria alterado? Por conta do acerto com a TV. A Globo poderia passar os últimos dois embates – o Jogo 2 e um eventual Jogo 3. Ficaria mais simples. Acontece que não teve terceira partida, e nem mesmo a finalíssima ganhou o alcance nacional merecido.

De qualquer forma, no âmbito esportivo, o Flamengo tratou de amenizar a polêmica. Considerando o que vimos em quadra por 70 dos 80 minutos de jogo, uma série de até cinco partidas muito provavelmente terminaria com varrida de 3 a 0.

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Bom, segue o jejum paulista no NBB, né? O último campeão brasileiro vindo de São Paulo foi o Ribeirão Preto, em 2003. Continua também a bipolarização Flameng0-Brasília, os únicos campeões nacionais nesta fase. A diferença é que agora os rubro-negros se tornaram os maiores vencedores, com quatro taças. Marcelinho foi o único presente em todas essas conquistas.


Para Bauru, ao menos a final continua. No 1º jogo só deu Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Foram 15 pontos e 7 assistências para Laprovíttola, em 26 minutos

Foram 15 pontos e 7 assistências para Laprovíttola, em 26 minutos

Quando você junta em quadra uma equipe que está se arrastando e outra que está voando, chegando ao auge, pode dar isto, mesmo: 22 pontos de vantagem, não importando que esteja valendo taça. Na abertura da decisão NBB 7 nesta terça-feira, um Flamengo para lá de determinado atropelou o trôpego Bauru por 91 a 69, no Rio de Janeiro.

Após uma surra dessas, se há algo que pode servir de consolo para o time de Guerrinha, dono da melhor campanha da fase de classificação, é o fato de a final do campeonato nacional ter adotado o formato de melhor-de-três neste ano. Os bauruenses têm, então, a chance de se rever seu erros e se recuperar. Só não dá para dizer que seja em casa, já que terão de jogar em Marília, no próximo sábado, para tentar evitar um tricampeonato para o Fla.

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Para quebrar a hegemonia rubro-negra na competição, vão precisar promover uma reviravolta drástica em relação ao que vimos numa Arena da Barra que poderia estar mais cheia e vibrante. Pois não lembraram nem de longe o conjunto que já conquistou três títulos na temporada – Paulista, Liga Sul-Americana e Liga das Américas. Esteve, porém, com a mesma voltagem das partidas contra Franca e Mogi nas últimas semanas. A diferença é que agora encara um adversário ainda mais qualificado.

Guerrinha pedia energia. Mas faltou mais que isso

Guerrinha pedia energia. Mas faltou mais que isso

O sistema ofensivo Bauru já não tem o mesmo ritmo e a mesma fluência da primeira metade da temporada. Isso tem a ver com a perda em velocidade, seja pelo desfalque de Jefferson William como pelo desgaste de tantos jogos? Certamente. Mas não é só. Falta movimentar a bola, que tem empacado com facilidade. Nesses momentos de adversidade, os atletas têm procurado a definição por conta própria.

Do outro lado, um Flamengo na ponta dos cascos, muito mais ativo e organizado, numa combinação perfeita para um resultado estrondoso desses. Os atuais bicampeões tiveram forte pegada defensiva desde o início, desestabilizando a armação dos paulistas, congestionando seu garrafão, também sem permitir arremessos livres de fora.

Fischer, Alex, Larry tentavam infiltrar e davam de cara com dois defensores, invariavelmente. O resultado: turnovers e bandejas e chutes forçados em flutuação. Bem postados, os defensores dominaram os rebotes – destaque para a atuação do jovem Cristiano Felício, que já marca melhor que o americano titular, com um deslocamento de pés muito rápido para alguém de seu tamanho. Sabe fechar espaços como veterano. Bauru converteu apenas 36% dos arremessos de quadra, sendo que, nas bolas de dois pontos, foram 42,1%. Muitos erros, muitos rebotes, e o contra-ataque facilitado.

O time da casa venceu a disputa nas duas tábuas por 27 a 12 no primeiro tempo, e aí o estrago já era gigantesco, com o placar sinalizando 49 a 28. No final, a vantagem nos rebotes ficou em 43 a 31. “Viemos preparados para disputar cada bola. Acho que foi o grande diferencial da equipe hoje. Todos brigando pelos rebotes e cobrindo na defesa, algo importante para enfrentar um time que pode jogar com até cinco homens aberto. Conseguimos defender muito bem, anulamos alguns jogadores deles por boa parte do jogo”, afirmou o ala Marquinhos, ao SporTV.

Defesa em postada do Flamengo

Defesa do Flamengo: chute contestado e linha de passe fechada

O Flamengo foi o time mais veloz e mais físico em quadra, amplamente superior no jogo interno tanto no ataque como na defesa. Rafael Hettsheimeir e Murilo acertaram juntos apenas 5 de 15 arremessos de dois pontos, sem espaço para operar no garrafão. Isso teve a ver com energia (o termo usado por Guerrinha em diversos pedidos de tempo), claro, manifesta na disposição defensiva dos atuais bicampeões, mas não dá para explicar uma lavada dessas só por essa via.

Bauru sente muito a falta de Jefferson William, por ser um ala-pivô leve e bom de rebote. É o contraponto perfeito para Olivinha e Herrmann. A dupla de pivôs de hoje tem muita técnica e força, mas é bem mais lenta, comendo poeira em transição e também apresentou dificuldade para completar as rotações defensivas nesta terça. Claro que não ficam apenas na conta dos grandalhões os 91 pontos flamenguistas. Teve cesta para todo mundo: Vitor Benite marcou 16, seguido pelos 15 de Laprovíttola, Marquinhos e Olivinha.

No ataque, Jefferson ajuda a espaçar a quadra para facilitar a vida dos armadores. Mas o time teve tempo para se ajustar a esse desfalque e até ganhou a Liga das Américas com esta formação. Contra o Fla, porém, aconteceram investidas individuais em excesso e nenhuma fluidez. No terceiro período, deu para contar, por exemplo, até cinco posses de bola seguidas sem que nem mesmo três passes fossem trocados.

“Não falo que tenha falado energia, falo que faltou inteligência, e isso foi minando nossa força. Disposição teve, mas faltou cabeça”, disse Alex, ao SporTV. “Essa não foi a nossa equipe. Jogamos de modo errado, no ataque e na defesa. A gente facilitou para que eles tivessem esse aproveitamento. Tem de esquecer e focar na segunda partida.”

Depois da torção de tornozelo de Murilo, Guerrinha escalou quatro abertos ao lado de Rafael ou Thiato Mathias. O panorama mudou um pouco. Bauru já venceu o quarto período por 26 a 21. Isso poderia já representar um começo, mas seria injusto com o Flamengo, que tinha a partida absolutamente resolvida com menos de meia hora de duração. O jeito, mesmo, é correr para Marília, renovar o fôlego e encontrar outro rumo em direção à cesta. E essa é só metade do problema. Pois o Flamengo está jogando muita bola.


Bauru x Flamengo: os duelos, os números e a luta por hegemonia
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Giancarlo Giampietro

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Agora se reencontram na final

O Bauru de Fischer já venceu o Fla 2 vezes. Agora se reencontram na final

Tem tudo, mesmo, para ser uma grande final. Ou melhor: grandes finais, com a adoção do sistema melhor-de-três.

São dois elencos estelares e caríssimos para os padrões nacionais, com sete jogadores que disputaram a última Copa do Mundo em quadra e cinco atletas da seleção brasileira convocada para o Pan de Toronto, neste ano. Há também um enredo sobre hegemonias, com o Bauru tentando completar uma temporada perfeita, com quatro grandes troféus, enquanto o Flamengo mais uma vez tenta o tricampeonato, mantendo a soberania na competição. Isto é, além do troféu em si, há muita coisa especial para atiçar.

Depois de obter a melhor campanha de uma fase regular do NBB, com aproveitamento de 93,3% (28 vitórias em 30 jogos), Bauru sofreu nos playofs, precisando de dez partidas para despachar Franca e Mogi, pela ordem. A semifinal contra os mogianos foi duríssima, saindo de ambas as séries com saldo de apenas três pontos. Sim, três – como se tivesse conseguido cada um de seus triunfos por um mísero pontinho. Contra os francanos, pelas quartas, o saldo foi de 27 pontos em cinco jogos, todos eles obtidos no primeiro jogo da série. Quer dizer: deu empate nos outros quatro.

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Será que a equipe pode reencontrar a forma avassaladora de meses atrás? Foi quando estava iniciando uma sequência que chegaria a 26 jogos sem perder, só pelo NBB – ou 34, se formos contar também a campanha pela Liga das Américas. Para o técnico Guerrinha, não é a pressão para confirmar o favoritismo – fomentado ao longo de suas conquistas, diga-se – que precisa ser driblada. São as pernas, mesmo, que pesam mais.  “Fizemos 82 jogos em 240 dias, é praticamente um jogo a cada três dias.Franca e Mogi jogaram menos jogos, ficamos 23 dias parados, além de o nível das equipes ter aumentado muito”, afirmou.

A lesão de Jefferson William também é apontada pelo treinador como um fator significativo nesta queda de rendimento. “Quando o perdemos, ainda conseguimos ir além, pois ainda estávamos naquele embalo. Depois, começamos a sentir o desgaste de rotação, tanto física quanto tática. Quem jogava 20, 22 minutos passou a jogar 35, 37 minutos”, disse.

Jefferson estava jogando muita bola, sim, e faz muita falta – participou das duas vitórias na temporada regular, inclusive (84 a 77 no Rio e 92 a 84 em Bauru, com médias de 16,0 pontos, 7,5 rebotes em 33 minutos para o ala-pivô ex-flamenguista, e  e 5/11 de três). O elenco construído, no entanto, teve/tem recursos para seguir adiante. A rotação dos grandalhões ficou mais enxuta, mas talvez o jovem Wesley Sena pudesse ter sido mais testados na fase de classificação, para eventualmente dar conta de cinco ou seis minutinhos por jogo durante os playoffs. Não aconteceu, de modo que esse papel caberia, então, a Thiago Mathias, mas o pivô de 27 anos viu seu tempo de quadra despencar contra Mogi: não passou de 4 minutos nas últimas três partidas.

Não vai ter Jefferson em quadra: ala-pivô ex-Fla sofreu lesão no tendão de Aquiles

Não vai ter Jefferson em quadra: ala-pivô ex-Fla sofreu lesão no tendão de Aquiles

Contra um garrafão estelar como o do Flamengo, Rafael Hettsheimeir e Murilo vão ser exigidos ao máximo – e a ótima partida que Becker fez contra o Mogi no desfecho das semis não poderia ter vindo em melhor hora, com 17 pontos, 12 rebotes e 8 lances livres cobrados e convertidos em 35 minutos. Devido ao porte físico e excelentes mãos, Jerome Meyinsse e Cristiano Felício dão um trabalho danado na briga pelos rebotes. Ao lado deles, alas-pivôs como Olivinha e Walter Herrmann acrescentam muita versatilidade, podendo atacar dentro e fora, sem deixar que o poderio reboteiro caia. É difícil imaginar que, em formações mais baixas, Robert Day ou mesmo Alex consigam segurar esses dois, mesmo em minutos reduzidos – a tendência é que tabela ficasse vulnerável.

Na turma de fora, são vários os duelos muito envolventes:

1) o jovem Ricardo Fischer terá um desafio, e tanto, pela frente,  para atacar e ao mesmo tempo se preparar para ser agredido no embate com Laprovíttola, que se impôs contra Nezinho e Deryk pelas semis;

2) Larry Taylor poderá até eventualmente dar uma força a Fischer na defesa, mas já terá mãos cheias ao lidar com Vitor Benite, seu companheiro de seleção – são dois armadores-alas explosivos, que vêm com muita energia para a quadra, e, até pelas características atléticas semelhantes, talvez fosse o caso de Robert Day começar no banco, batendo de frente com Marcelinho; Gui Deodato também entra nessa equação aqui, dependendo do desfecho do confronto entre os armadores principais;

Benite e Larry vão para o Pan em Toronto. Antes, se enfrentam

Benite e Larry vão para o Pan em Toronto. Antes, se enfrentam

3) e aí sobram Alex e Marquinhos, dois velhos conhecidos e concorrentes, que já protagonizaram vários grandes ‘rachas’ nas últimas temporadas – sempre com o aspecto pitoresco da diferença de altura (15 centímetros) e estilo entre eles. Alex, quatro anos mais velho, com um vigor físico ainda impressionante, implacável na defesa, oferecendo ainda liderança e a confiança de quem já perdeu a conta dos troféus que conquistou por estas bandas. O nível de agressividade de Marquinhos sempre é uma incógnita, mas sua combinação de categoria, estatura e mobilidade faz a diferença de qualquer forma em quadras brasileiros.

Se formos levar em conta o que se passou nos mata-matas, a impressão é a de que o Flamengo chega muito mais inteiro fisicamente e também com a autoestima bastante elevada. Isso vai resultar em maior pegada defensiva? Em mais pressão sobre a bola? Isso se traduziu nos últimos jogos. A equipe deixou para trás os altos e baixos do início do campeonato. Recorde-se, todavia, que não foi uma temporada das mais típicas para o clube rubro-negro, que já precisou jogar em alto nível logo na largada para conquistar seu maior troféu, a Copa Intercontinental, para depois emendar uma empolgante, mas também insólita turnê de NBA pelos Estados Unidos. Dando um gás rumo aos playoffs, o Fla teve relativo trabalho contra São José (cinco jogos também, mas com placares muito mais elásticos em suas vitórias) e varreu Limeira de modo impressionante. “A vitória sobre eles nos deu muita esperança de fazer uma boa final. Nosso início não foi o esperado por todos, mas estamos aqui e vivos”, afirma José Neto.

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Uma comparação estatística entre os clubes até a final, levando em conta toda a campanha:

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Sobre hegemonias? Esse é o aspecto mais interessante em jogo: de um lado o Bauru pode fechar no melhor estilo uma temporada que, convenhamos, já é histórica, depois da conquista do Paulista e de dois campeonatos continentais, a Liga Sul-Americana seguida pela Liga das Américas. Ganhar o NBB só deixaria tudo isso ainda mais incrível, com uma campanha 100% inédita por estas bandas. Além do mais, seria o primeiro clube paulista a ganhar o título nacional com a nova nomenclatura – e o primeiro desde Ribeirão Preto, em 2003. Já o Flamengo busca um tricampeonato que igualaria façanha de Brasília de 2010 a 2012.

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A liga nacional enfrentou alguns problemas para montar a tabela final. Não dá para assimilar muito bem o horário de 21h30 desta terça-feira para subir a bola para a decisão. Por ser Flamengo, espera-se que a casa esteja cheia, apesar das dificuldades de logística que se tem para chegar à Arena da Barra. Se já é difícil acessar o ginásio neste horário, imagino o pesadelo que deva ser sair de lá entre 23h e 0h.

Depois, temos Marília, eventualmente para os próximos dois sábados, se assim a final exigir. Se Jacararepaguá está longe (para o Jota Quest e, claro, dependendo do ponto de partida no Rio), os bauruenses vão ter de correr cerca de 105 km para apoiar seu time. A mudança, neste caso, porém, era inevitável. A Panela de Pressão tem capacidade para apenas 2 mil torcedores, e aí seria muito pouco, mesmo, para um evento deste porte. Não acho que dê para contestar muito o regulamento. A diretoria do clube e da liga encontraram, então, o popular ginásio da Avenida Santo Antônio – parte do Centro Municipal Educacional, Esportivo e Cultural Professora Neuza Maria Bueno Ruiz Galetti. Tem capacidade para 7 mil pessoas e foi inaugurado em 2012. Uma curiosidade dessas que só no Brasil, mesmo? O ginásio foi construído com grana do ministério da Educação e, até novembro do ano passado, só poderia ser utilizado pela secretaria educacional local. Aí que a Prefeitura conseguiu alterar a regulamentação, em acordo com o Ministério Público,  liberado o espaço para atividades diversas. Demais.

O ginásio em Marília, nova casa para o NBB

O ginásio em Marília, nova casa para o NBB


Os quatro melhores nas semis do NBB, após muito sufoco
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Giancarlo Giampietro

Hettsheimeir teve médias de 19,2 pontos e 9,2 rebotes contra Franca. Fundamental para a vitória

Hettsheimeir teve médias de 19,2 pontos e 9,2 rebotes contra Franca. Fundamental para a vitória

Essa coisa de fazer previsão, dar palpite… Sei bem que diverte a galera, mas só expõe jornalistas ao ridículo, né?

Vamos lembrar o título: “Após suversão no início, NBB abre quartas com favoritos claros”.

Se fosse para levar em conta o que se passou durante a temporada regular da sétima edição do campeonato, na minha cabeça não havia como acontecer surpresas nas quartas de final, mesmo ciente de que a mera vitória numa série poderia encher de confiança aqueles que desafiariam Bauru, Limeira, Flamengo e Mogi. No final das contas, passaram todos, mas não sem uma boa dose de drama. “Claros”, né?

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Só Limeira conseguiu avançar sem apelar ao Jogo 5 em seus domínios, batendo Brasília em quatro partidas, com direito a dois triunfos na capital federal. Valeu para o time se colocar entre os quatro melhores pela primeira vez, fazendo uso de um elenco de muito mais velocidade e flexibilidade que os candangos, correndo em círculos ao redor da vítima. Suas três vitórias tiveram vantagem de dígito duplo, com saldo de 41 pontos no geral.

A série entre Flamengo e São José também em teoria apresentava ampla superioridade para os atuais bicampeões. Se os deuses do basquete permitirem, dá até para dizer que foi um placar de 3 a 2 enganoso ou injusto – mesmo que isso contrarie a máxima de que, num playoff, não importa se o placar é por 30 ou por 0,3 pontos, tendo o mesmo peso. Descontando as vitórias e derrotas flamenguistas, foram 64 pontos de saldo em cinco jogos (média de 12,8).

O Flamengo sobrou em três jogos. Mas cedeu dois para São José

O Flamengo sobrou em três jogos. Mas cedeu dois para São José

Ainda assim, faltou consistência ao time de José Neto, especialmente no ataque, para fazer valer sua superioridade. Nas duas derrotas, acertou apenas 12 de 51 arremessos de três pontos (23,5% de aproveitamento, um pesadelo). Um ponto em comum nos tropeços também foi a dominância de Caio Torres, em grande fase, com médias de  16,5 pontos, 9,0 rebotes, 6,5 lances livres batidos e 60% nos arremessos de quadra, em 28,5 minutos.

O desequilíbrio parou por aí, todavia. O Mogi ficou muito perto da eliminação diante do Macaé, que valeria como uma tremenda coincidência, já que o clube fluminense tentava reprisar a trajetória de seu oponente, que alcançou a semifinal do NBB 6 como o 12º colocado no geral após a fase de classificação. No Jogo 5, com o ginásio Hugo Ramos, os visitantes entraram no quarto período vencendo por 64 a 61. Faltavam dez minutos para confirmar a zebra, mas sua defesa permitiu 30 pontos na parcial final. Curiosamente, foi uma dinâmica bem parecida com a da primeira partida do confronto, com jogo empatado em 55 após três quartos, com o Macaé liderando desde as primeiras posses de bola.

Mais: Mogi ficou em desvantagem por 2 a 1, passou sufoco, mas contou com a energia de Tyrone Curnell para a virada, com 21 pontos e 9,5 rebotes nas últimas duas partidas. Paulão Prestes também foi muito mais efetivo para mudar a história, com 31 pontos nos Jogos 4 e 5, depois de ter somado apenas 18 nos três primeiros. Shamell marcou 21,4 pontos, mas acertou apenas 33% dos chutes de fora, forçando a barra (11/33). Guilherme Filipin derrapou no duelo decisivo, com 1/6 nos chutes de fora, mas teve rendimento de 48,1% no geral (13/27).

Mogi, de Gerson e Filipin, sofreu um bocado para evitar mais um 12º colocado na semi

Mogi, de Gerson e Filipin, sofreu um bocado para evitar mais um 12º colocado na semi

A grande surpresa, no entanto, ficou reservada para Bauru x Franca. O campeão paulista e das Américas chegou para o duelo com uma sequência de 33 vitórias seguidas, seja pela liga nacional como pelo torneio continental. Na abertura da série, ainda deram uma surra de 27 pontos, vencendo por 82 a 55. Caminhariam para a varrida? Nada disso.

O confronto ficou muito mais interessante no momento em que o time de Lula Ferreira, que sofrera para eliminar o Palmeiras pelas oitavas, roubou o mando de quadra bauruense ao vencer o Jogo 2 por 74 a 71. Era o final de uma sequência de 26 vitórias de seu oponente pelo NBB. Comedido, como sempre, Lula não quis saber muito de comemorar o resultado, mas, em sua entrevista pós-jogo, admitiu a maior preocupação no confronto tático com seu ex-assistente da seleção brasileira: “Quando eles acertam 13 cestas para três pontos é quase impossível de vencê-los. A vitória é maravilhosa”, disse.

Na ocasião, o oponente converteu, sim, 13 chutes de longe, em 34 tentativas, com 38,2%. Um bom rendimento, mas insuficiente para garantir o triunfo. A partir daí, porém, essa artilharia seria limitada a 8 conversões em cada jogo e o aproveitamento, respectivamente, de 33,3%, 29,6% e 30,8% – na temporada, tinham 39,7% de média, propiciando volume de 35,2 pontos a partir da linha perimetral. Se era essa a preocupação de Lula, a defesa funcionou muito bem, obrigado. Veja os números do sistema ofensivo de Guerrinha na série:

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Nas três vitórias, o menor volume de arremessos de três, com ataque mais distribuído entre chutes para dois e/ou lances livres, para compensar o fraco rendimento no perímetro – especialmente comparando com os índices da temporada. Mas mesmo mais próximo da cesta eles tiveram mais dificuldade que o normal

O problema é que, nos Jogos 3 e 5, Bauru conseguiu compensar o baixo rendimento nos tiros exteriores com um volume elevado no jogo interno, batendo 50 lances livres no total para somar 37 pontos na linha (74%). De qualquer forma, a marcação francana foi bem na série, limitando um ataque de tinha média superior a 90 pontos por jogo no campeonato, até então, a 75,0 na série.

Para o próximo confronto, Paco Garcia deve estudar em detalhes o que aconteceu nos últimos quatro jogos – e a defesa de Lula Ferreira como um tudo. Afinal, das míseras sete derrotas que o líder sofreu durante toda a temporada – quando estava com força máxima, isto é, após a Copa do Mundo –, quatro aconteceram nesse clássico paulista (duas agora e outras duas pelas semifinais do Paulista). Sim, desde que Alex, Larry e Hetthsheimeir se apresentaram, o restante do país só bateu a equipe em três ocasiões, e uma dessas vitórias carrega um senhor asterisco: a de Brasília, pela primeira rodada do campeonato nacional, com a equipe paulista de ressaca pela conquista do estadual. Os demais reveses ficam na conta de Limeira: um pela decisão do estadual e outro pelo NBB também. E só. O retrospecto geral, computando também os compromissos internacionais? São 57 vitórias em 65 partidas.

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Por que desde 13 de setembro? Que foi quando o trio da seleção brasileira estreou na temporada, em duelo com Rio Claro, pelos playoffs do Paulista. O completo também merece outro asterisco: o time perdeu o ala-pivô Jefferson William, figura de importância altíssima no sistema ofensivo, durante a campanha

Se isso não significava favoritismo desmedido, então nossos valores estão invertidos. Goste-se ou não do basquete praticado pela equipe de Guerrinha, não haveria como renegar um retrospecto desses, certo? É o que pregaria, ainda hoje, o jornalista desvairado aos sete mares. Mas Franca nos mostrou que há, sim, como contestar a tese.

O que vem por aí?
Para Mogi, é isto: ou o time defende, ou está fora. Não vai ser num tiroteio contra Bauru que eles vão levar a melhor, como os quatro confrontos entre os clubes na temporada mostram. Foram quatro vitórias para a equipe de Guerrinha, sendo duas pelo NBB e duas pela Liga Sul-Americana, inclusive a final continental. No último duelo, Bauru foi testado para valer, é verdade, perdendo o primeiro tempo. Ainda assim, deslanchou no segundo tempo e saiu vencedor, com uma jornada incrível do veterano Alex, que marcou 31 pontos, com 7/10 nos arremessos de longa distância. Veja os números preocupantes dos líderes da fase de classificação do NBB nesses jogos:

Bauru teve média de 39 disparos de três pontos contra a defesa de Mogi, acertando mais de 40% deles. Quando atacou com chutes de dois, também foi muito eficiente

Refazendo: ou o time defende de maneira muito mais eficiente, ou está fora. Bauru teve média de 39 disparos de três pontos contra a defesa de Mogi (algo assustador e desproporcional), acertando mais de 40% deles. Quando atacou com chutes de dois, também foi muito eficiente. Resultado: saldo de 19,0 pontos em média no duelo. Do outro lado, a equipe de Paco vai precisar movimentar a bola e saber dosar o jogo interno com os arremessos de Shamell e Filipin. Os dois alas precisam atacar em movimento, em vez de tentativas isoladas de mano a mano – especialmente quando Alex for o marcador. Encontrar um modo de envolver Tyrone também ajudaria: assim como Paulão, o ala-pivô teve desempenho praticamente nulo nos embates. O favoritismo ainda pende para um lado.

Limeira x Flamengo tem tudo para ser um confronto eletrizante, com dois elencos vastos, versáteis e explosivos frente a frente. Nezinho x Laprovíttola, David Jackson x Marquinhos, Hayes (que fez grande série contra Brasília e agora enfrente seu ex-time) x Olivinha, Fiorotto x Meyinsse, Ramon x Benite, Deryk x Gegê, Teichmann x Herrmann, Dalla x Marcelinho, Mineiro x Felício… Afe, todos embates promissores,  muito instigantes. É uma série que valeria melhor-de-sete, sem dúvida, para a qual não servem muito os números da classificação geral, uma vez que Nezinho não esteve presente na segunda partida, na qual estavam todos já com posição definida na tabela. O mando de quadra pode fazer diferença? Nas quartas, de nada adiantou. A maior rodagem e o sucesso recente flamenguista seriam uma vantagem? Na Liga das Américas, não adiantou. Palpite? Dessa vez passo.