Vinte Um

Arquivo : Mogi das Cruzes

Bauru x Flamengo teve clima de final antecipada. Alguém pode impedi-la?
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Giancarlo Giampietro

Rafael e Ricardo ainda vão se ver muito por aí. Certo ou errado?

Rafael e Ricardo ainda vão se ver muito por aí. Certo ou errado?

Foi só o primeiro jogo, mas pareceu uma final, em termos de intensidade em quadra. A convite da liga nacional, pude conhecer a famosa Panela de Pressão na segunda-feira, e foi com aquele fervor, ainda que o calor lá fora tivesse dado uma acalmada. O forasteiro, aparentemente, não tinha do que reclamar – os relatos são de que o ginásio poderia ficar muito, muito mais quente. Assim como foi a partida inaugural do NBB 8, com vitória do Bauru para cima do Flamengo por 77 a 73.

Dava para entender o nível de combatividade em quadra, por diversas razões:

– Bom, ninguém gosta de perder uma estreia, ainda mais contra o adversário que estava do outro lado da quadra.

– Os times ainda estão ganhando corpo, se formando, então tem hora que precisa ser na base do esforço físico, mesmo.

– Por mais que um ou outro jogador e treinador não vá admitir isso publicamente, para evitar o desdém pelo restante da concorrência, mas ambos os times sabem que muito provavelmente vão se enfrentar diversas vezes mais para a frente, com a possibilidade de, quiçá, mais seis jogos, dependendo da tabela da Liga das Américas e se confirmarem o favoritismo e chegarem à decisão nacional.

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– O armador Paulinho era um dos que falava abertamente sobre a perspectiva de embate entre as duas equipes pela liderança da fase de classificação, pensando em mando de quadra. Daí a importância de vencer em casa seu rival direto.

Não acredito que seja soberba. No papel, é difícil apontar de cara um ou outro candidato ao título, que possa ser colocado na mesma camada de Bauru e Flamengo, depois da extinção de Limeira. Se fosse obrigado a escolher dois, iria com…

– Paulistano: Gustavo de Conti terá mais uma vez uma versátil e poderosa linha de frente ao seu dispor, reformulada após a ruptura com o grupo formado por Pilar, Renato, Cesar e o-cincão-da-vez. Essa turma se dispersou por aí, chegando ao clube da capital paulista Jhonatan, Gruber, Toyloy, Caio Torres, para fazer companhia ao ainda promissor Gemerson. Com esse conjunto de alas-pivôs e grandalhões, o técnico pode encaixar diversas combinações.

Para dar certo, porém, Jhonatan, Gemerson e Gruber precisarão acertar seus chutes de média e longa distância – afinal, Holloway e Pedro foram outros que se mandaram. Mas, principalmente, fica a questão sobre a dupla armação com Valtinho e Dawkins. São eles que têm de botar esse exército para funcionar.

Dawkins pode pontuar e atacar. Mas sabe conduzir um elenco robusto?

Dawkins pode pontuar e atacar. Mas sabe conduzir um elenco robusto?

Valter ainda pode colocar um time para jogar, rodando a bola, mas vai chegar aos 39 anos em janeiro e não vem de uma temporada tão inspirada assim por São José. Ele também vai acertar a mão de fora? E a defesa, vai dar? Nos minutos em que for para o banco, é aí também que saberemos se o americano pode ser considerado um condutor de time grande. Alguém que saiba compartilhar a bola de modo natural, fluido, ao mesmo tempo em que está olhando para a cesta. Seu forte é o ataque, a agressividade, e isso não precisa ser podado. Mas ele também vai ter de envolver seus companheiros, e aqui não estamos falando apenas do passe final, da assistência.

Mogi das Cruzes: depois da inesperada (ao menos para quem via de fora…) saída de Paco Garcia, é preciso ter calma e ver no que vai dar. De alguma forma, para o torcedor do Chicago Bulls, é como se um Tom Thibodeau estivesse saindo. Um cara muito exigente, perfeccionista e controlador, que em geral fazia suas peças renderem muito mais, mas também podia ser uma presença sufocante. Com o grupo vai responder? Vão se soltar ou relaxar?

De Paco para Padovani

De Paco para Padovani

De qualquer forma, com ou sem o espanhol, pelo que vimos no Campeonato Paulista, a equipe tem dois problemas prioritários para solucionar se quiser alcançar as semifinais do NBB pelo terceiro ano seguido. E são problemas nos setores mais importantes: armação e a defesa interior.

Empolgada com a ascensão e ambicioso, querendo títulos, a diretoria investiu em nomes de peso para reforçar o elenco e dar a Paco (e, agora, Padovani) ainda mais grife – deixando para trás dos tempos de Sidão, Agba, Alemão, Gustavinho, Jefferson e Jason. Mas será que escolheram os alvos certos?

Larry Taylor já não é o mesmo americano de cinco, seis anos atrás, e não só por ter conseguido a cidadania brasileira e bauruense. Hoje ele não tem mais o arranque e a desenvoltura atlética para ser o condutor único de um time, de ser uma força que realmente preocupe as defesas em tempo integral. O papel de reserva que teve no último ano em Bauru era algo que lhe cabia de uma forma mais apropriada, com dosagem de minutos e a quadra mais espaçada para tentar suas infiltrações. Em que pese sua média de assistências variando entre 5,6 e 6,4 nos primeiros NBBs, a verdade é que ele nunca foi um armador dos mais cerebrais, como Valtinho, por exemplo. E, tendo Shamell, Filipin, Paulão, Tyrone, Mariano no time, todos eles olhando primeiro para a cesta, depois para o lado, pedia-se alguém com esse perfil.

Também tem o próprio caso de Mariano. Sinceramente, quando o jovem pivô foi contratado, achei que o trabalho com Paco poderia render bons resultados ao seu desenvolvimento. Vê-lo fora de forma, tornando praticamente impossível uma dupla com Paulão, foi decepcionante. E aí que a equipe se viu numa enrascada: com dois pesos pesados no garrafão, a defesa fica seriamente comprometida. Além do mais, do ponto de vista mogiano, será, mesmo, que eles precisavam de mais um pivô com expectativa de minutos e arremessos? A rotação ficou congestionada, e um talento como Gerson, uma das revelações do campeonato passado, acabou alienado, enquanto a formação mais flexível com Tyrone ao lado de Filipin, Shamell e um dos grandalhões também seria menos utilizada. Encontrar um equilíbrio maior entre seus pivôs será um desafio para o novo técnico.

O título do Paulista coloca São José em pauta

O título do Paulista coloca São José em pauta

Ficamos nisso, mesmo?

Bem, há outros elencos interessantes, mas que têm muito o que responder também: São José foi uma grata surpresa no Paulista sob o comando de Cristiano Ahmed e, com o título estadual, merece atenção e destaque. O clube soube gastar bem seus diminutos recursos para formar um time pouco badalado, mas com peças multifuncionais e já de sucesso comprovado: o trio do Paulistano Pedro, Renato e o lesionado César, o bem fundamentado e intrigante Arthur Bernardi e o talentoso-mas-que-precisa-de-um-empurrão Matheus Dalla, todos eles girando ao redor de Jamaal. Para uma jornada mais longa, porém, vão ter fôlego?

Brasília também promete mais do que fez na temporada passada, ainda liderado por Giovannoni, mas agora reforçado por Deryk, Jefferson Campos, Pilar e Coimbra. Vidal ganhou mais banco. Mas vai conseguir montar uma defesa consistente? O segredo é encontrar a melhor química entre seus veteranos e seus melhores atletas, os mais jovens, sendo que, para isso, alguns nomes consagrados podem ter de sair do banco…

De resto, temos um campo aberto de possibilidades. Para quem quiser trabalhar e inovar para subir, há uma oportunidade clara aqui para se aproveitar e tentar impedir a final antecipada entre Bauru e Flamengo.

*   *   *

Uma bipolarização como essa nunca é saudável para um campeonato. Gera-se rivalidade, obviamente, mas perde-se muito para custeá-la. A LNB está ciente disso e não vai se acomodar diante desse cenário. Existem conversas preliminares, discussões constantes sobre o que fazer para tentar mudar esse cenário. Mas leva tempo, ainda mais num contexto econômico sofrível, que não passa segurança alguma. Difícil planejar sem saber o que vem pela frente. A desistência de Limeira foi um baque, e tanto, nesse sentido.

Ranking de jogadores? Não é uma ideia bem vista – até por se basear em subjetividade e por engessar os clubes, que poderiam ser impedidos de buscar uma ou outra alternativa no decorrer de uma temporada. Assim: e se o Leandrinho resolve voltar de vez para o NBB? E se o Huertas quiser se aposentar pelo Paulistano? Faz como?

A outra alternativa mais calara seria o… teto salarial. Quem sabe? É algo bastante complexo, que exige um controle minucioso sobre a contabilidade dos clubes. Como regulamentação inédita no país, talvez nem todo o know-how da NBA seja o suficiente para garantir uma prática de sucesso. Maior competitividade tende a atrair mais capital, mas também não é garantia.

*   *   *

Na crise, gera-se oportunidades? Algum guru de mercado certamente já registrou essa frase, e o basquete brasileiro está aí para conferir isso na prática. Danilo Padovani e Cristiano Ahmed têm a companhia de Cesar Guidetti (Pinheiros) e Cristiano Grama (Minas Tênis) como assistentes promovidos a treinador principal neste ano. Que seus clubes tenham tomado essa decisão mais por mérito e serviços prestados ou pela dificuldade de se pagar um salário para um profissional mais gabaritado, não importa. Vamos ver se essa turma consegue trazer ideias novas para a quadra, o que é um clamor nacional.


Bauru chega a NYC, e o Paulista fica para trás após inacreditável pendenga
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Giancarlo Giampietro

Bauru, NBA, New York, 2015

É com um certo atraso que sai o texto, mas há coisas que não dá para deixar.

Exatamente há uma semana, o basqueteiro bauruense e o brasileiro em geral deveria estar se sentindo bem, especialmente aqueles que puderam ir ao Ginásio do Ibirapuera durante o final de semana para ver os duelos da Copa Intercontinental com o Real Madrid. O público, na média, foi excelente – assim com o clima, com figuras importantes do passado desfilando por todos os lados e sendo reconhecida.  Mas não era ‘só’ a galerinha do basquete, o segmento. A festa se expandiu para acolher algumas fileiras de torcedores do próprio Real e mais. A equipe do interior paulista perdeu, como se esperava, mas fez uma série dura, com direito a vitória no primeiro jogo. Tudo muito bem, obrigado.

Mas aí você vira a página do calendário, e o basquete nacional faz questão de te lembrar do quanto ainda precisa avançar. A referência, claro, fica por conta do impasse entre Bauru e a federação do estado. Um impasse que resultou na rasgação de mais um regulamento de competição para eliminar o atual bicampeão paulista não exatamente pelo que se passou em quadra, mas, antes, pela impossibilidade de mandar seus jogadores para ela.

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Para o leitor de NBA que talvez não tenha acompanhado a novela em detalhes, segue um resumo em 10 passos:

1) Bauru e Mogi das Cruzes estavam disputando as quartas de final do campeonato;
2) os dois primeiros jogos foram realizados na segunda e na terça-feira (21 e 22) que antecederam a Copa Intercontinental, com o time de Mogi vencendo ambas em casa;
3) Bauru tinha viagem marcada para os Estados Unidos para o sábado seguinte, dia 3, restando o meio da semana para a conclusão do confronto;
4) o problema é que o Mogi estava escalado para disputar a Liga Sul-Americana de terça a quinta-feira;
5) logo, Bauru pediu para que jogassem depois que voltassem dos EUA, no dia 15 de outubro;
6) seria uma loooonga espera, mesmo, e, além do mais, a federação alega que já tinha o dia 17 reservado com a Rede TV! como data para um dos jogos da finais;
7) mas então por que não fazer os jogos antes? Foi o que Bauru inicialmente pediu, para que fizessem as duas primeiras partidas antes e pudessem, talvez, fechar o confronto antes mesmo da disputa mundial. Não dava, segundo Mogi, pelo fato de terem de ajustar sua quadra para os padrões exigidos pela Fiba;
8) os jogos foram marcados, então, para 2 e, se necessário, 3 de outubro, data da viagem bauruense;
9) o clube do interior afirmou que não jogaria assim;
10) por fim, o que aconteceu? Para evitar que Mogi tivesse o trabalho de viajar para Bauru só para se configurar o W.O., a FPB se antecipou e terminou por avançar a equipe automaticamente para confronto semifinal com o Paulistano.

Enfim, o caos, como gritaria o Rômulo Mendonça.

Antes de mais nada, é preciso dizer que os clubes daqui já flertaram com esse tipo de episódio em diversas ocasiões nos últimos anos. Mas muitas vezes, mesmo, e só escaparam, porque sempre tinha o tal do jeitinho para encontrar novas saídas. Acontece que, dessa vez, havia coisa muito séria envolvida. A NBA estava de um lado do espectro. Do outro, um acordo (raro e precioso) com a TV aberta. Difícil que um ou outro lado fosse ceder. Deu no que deu.

Larry Taylor, Mogi, Liga Sul-Americana 2015

Aliás, aí está mais uma lástima: tal como no futebol, essa coisa de campeonato estadual de basquete parece com os dias contados. Mesmo o Paulista, que, nas quadras, em seu contexto, tem importância muito mais relevante, se comparado com o de seu irmão dos gramados. Foi, de certa forma, um acordo surpreendente este fechado entre RedeTV! e clubes paulistas, que praticamente bancaram toda a operação – um sacrifício inteligente e necessário para a promoção de suas marcas e patrocinadores, aliás. Ainda que longe das condições ideais, fechado de última hora, este acerto foi uma tremenda notícia. Acompanhado a isso veio o próprio hotsite da competição que, em que pese sua acidentada navegabilidade e um ou outro termo sem tradução, ofereceu muito mais informação estatística que o de costume, no jurássico portal da entidade. Era mais um ponto para animar, mas que, diante do fiasco esportivo explicitado nos de capítulos acima, acaba virando uma pequena notinha de canto de página.

Pois, além do vexame de se encerrar um playoff sem que ninguém tenha chegado a três vitórias – e aqui, convenhamos, não interessa se Mogi terminaria por varrer, ou não, seu oponente –, diplomaticamente  as três partes perderam o rumo também no extraquadra.

– Por mais frustrado que o clube estivesse com Mogi e seu treinador, por razões aqui explicitadas, não há por que Rodrigo Paschoalotto, presidente do principal financiador de Bauru,  pregar a expulsão de Paco Garcia do basquete brasileiro. Acaba atrapalhando a parte sensata de seu protesto, que foi pedir um pouco de “boa vontade” por parte do adversário e da federação. Ainda mais quando ela já havia sido avisada no final do mês de agosto.

– Do lado de Mogi, diante de inflamadas declarações, sua fria (e, quiçá) e um tanto cínica nota oficial não ajuda em nada. Por mais que não tenham aceitado a antecipação das quartas de final por causa dos ajustes em sua quadra, e, não, pela escapulida de Paco, não vejo motivo para se enfatizar que o Paulista e a Sul-Americana  sejam “competições oficiais”, em detrimento de amistosos da NBA. Mogi tem time hoje para ganhar qualquer campeonato que dispute. Então, nesse ponto, a pergunta ecoada por Bauru, é válida, sim: estivessem eles a convite da liga norte-americana, como seriam os arranjos? Seria impossível fazer os jogos nos dias 18 e 19 e, depois, viajar para Bauru, enquanto os operários teriam mais de uma semana para ajustar a quadra de acordo com as demandas da Fiba?

– Já a FPB… bem, a federação faz um ótimo trabalho de autossabotagem há tempos, independentemente de, na última semana, ter enfrentado uma questão realmente delicada que foi a morte de seu presidente. Antonio Chakmati se foi, ficam as condolências ao seus familiares, mas nenhuma entidade esportiva deveria depender tão somente das decisões de um só presidente para tomar decisões. Competência e sensatez à parte. Para constar, o Bauru exime o novo presidente Enyo Correa de culpa nessa pendenga. Veja o que o que dirigente teve a dizer  ao camarada Alessandro Luchetti, do iG. De qualquer forma, seja lá qual fosse o responsável técnico, lascado por lascado, será que não daria para telefonar para Grego ou qualquer outro cartola da LSA para sondar a possibilidade de segurar a etapa de Mogi por mais uma semaninha?

Não adianta vir com legalismo aqui. Que as regras do Paulista estavam na mesa, e cabia a Bauru aceitá-las. Afinal, a FPB pode assumir a gestão de seu campeonato, mas não é dona dele. Ou não deveria ser. O poder em nossas entidades esportivas é usualmente viciado e tende a se considerar, hoje, autossuficiente. “O sitema é f…”, pode ranhetar o Capitão Nascimento. O bom senso passa longe quando você tenta encasquetar que um de seus representantes – e atual bicampeão, oras – esteja indo para os Estados Unidos jogar contra times da NBA. E também não venham os mais retrógrados dizer que o convite ao campeão da América (Latina) não passa de um movimento imperialista, contaminador e sorrateiro por parte da grande liga. Claro que a intenção não é apenas e tão somente o desenvolvimento do desporto nacional. Dãr. Mas negar uma oportunidade dessas para seus atletas seria, na falta de termo mais educado, uma grande estupidez.

Que Bauru, com todos os seus títulos recentes, ainda tenha brigado para jogar o Paulista já foi, de alguma forma, um grande lucro para a federação. A despeito da tradição de seu campeonato e dos avanços feitos neste ano, depois de uma longa caminhada para trás,  à medida que o NBB se solidifica (ou tenta se solidificar) e a Fiba continua bancando duas competições continentais, não parece haver espaço no calendário para acomodar a disputa de tantos troféus. E aí o estadual é aquele que pode sofrer mais, se o atual formato, com tantas datas necessárias para a sua conclusão, for mantido. Aí talvez seja o caso de uma equipe bem-sucedida como Bauru, ou qualquer outro supercampeão que venha existir, abraçar a estratégia de jogar com a molecada do início ao fim, e paciência – e até isso poderia ter problema, devido à incidência da LDB. Veja só: mesmo com boa vontade, já é bem difícil de tocar. Se as partes forem se perder em orgulho, politicagem e amadorismo… Aí, mano, cumpadi…Aí é “falou, aquele abraço!” ou “inté”. No caso de Bauru, ou melhor: “bye, bye”.

Bem-vindo, Bauru

Bem-vindo, Bauru


Copa Intercontinental: um pouco de Mogi
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Giancarlo Giampietro

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A Copa Intercontinental será entre Bauru e Real Madrid. Então o que o Mogi tem a ver com isso?

Bem, em entrevista nesta quinta-feira, Guerrinha fez questão de nos informar que Paco Garcia, o espanhol que dirige o rival paulista, passou boas dicas à comissão técnica merengue, num gesto generoso entre compatriotas.

“Nós estudamos bastante o adversário e eles também têm muito material nosso. Não só têm, como o material é fresquinho. O técnico espanhol passou todo o material para eles. Nós não conseguimos nada do lado de lá, para você ver”, afirmou o comandante do Bauru, num tom que não era de reclamação, mas que passava o recado.

Esse é só mais um elemento para uma narrativa que vai se desenvolvendo. Então vale anotar aí: Bauru x Mogi… Essa é uma história para acompanharmos muito bem no decorrer da temporada brasileira, “a nível de rivalidade”, como diria o outro.

>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?
>> Bauru admite que não fez preparação ideal para o torneio

Os dois clubes já se trombaram uma ou outra vez na jornada 2014-2015 em jogos decisivos, que são aqueles que constroem animosidades, ou que pelo menos deixam os ânimos mais exasperados.

Começou na Liga Sul-Americana, valendo o título. Foi um baile bauruense na ocasião, vencendo por 79 a 53, na casa do adversário, em outubro. Meses depois, eles se enfrentaram pelos mata-matas do NBB, fase de semifinal, e aí a história foi outra. Os dois clubes paulistas fizeram uma série duríssima, vencida pelo time de Guerrinha por 3 a 2. Entre os cinco jogos, apenas o quinto foi decidido por mais de 10 pontos de diferença.

Aí você pensa num jogo desse com embates físicos entre Hettsheimeir e Paulão, velhos companheiros de Ribeirão Preto e basquete espanhol. A marra de Shamell contra a braveza de Alex. Os técnicos pressionando na lateral da quadra. Uma arbitragem que não ajuda em nada. Sai lasca, mesmo.

E aí que eles se reencontraram nesta semana já, pelas quartas de final do Paulista. Com o time reforçado, mais encorpado, o Mogi fez sua parte pelo Grupo A do campeonato e terminou com a primeira posição. Pelo Grupo B, o Bauru cedeu muitos atletas à seleção brasileira, viu alguns veteranos relevantes se lesionarem e também maneirou na carga de minutos para seus principais jogadores, abrindo espaço para a molecada. Passaram em quarto. O resultado foi o embate precoce pela fase decisiva do estadual.

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As duas primeiras partidas foram realizadas na terça e na quarta-feira. Às portas de uma Copa Intercontinental, talvez não fosse o melhor timing para Bauru, caso o clube estivesse pensando em título. Depois das lições tomadas na temporada passada, porém, percebe-se que os atuais campeões não fariam tanta questão assim de defender o título. Tocariam do jeito que dava. E aí que Guerrinha acredita que o duelo veio em boa hora, para dar uma injeção de adrenalina em seu grupo. As partidas poderiam ter inicialmente um caráter preparatório para Bauru, mas, na hora de ir para a quadra, era a hora de jogar pra valer. Perderam duas partidas equilibradas.

Do outro lado, numa posição certamente estranha, estava Larry Taylor. Pela primeira vez ele jogava contra o clube que o importou em 2008 e o qual defendeu por sete anos. Seeeete anos. Muito provavelmente era o jogador que mais tempo defendeu uma equipe. Até se transferir para Mogi para esta temporada, no caso.

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Pelas quartas, teve média de 12,5 pontos, 4,5 rebotes, 2,5 assistências, com 45,4% nos arremessos de quadra, em pouco mais de 27 minutos. No campeonato, as médias são de 9,8 pontos, 3,3 assistências e 3,4 rebotes, com 45,6% de acerto e pouco mais de 20 minutos, em oito jogos. O veterano americano já não tem obviamente a mesma explosão de antes, e seu papel já havia se reduzido consideravelmente em meio a tantos títulos bauruenses. Mas, em sua nova equipe, ainda é visto como alguém que possa ajudar a levar os mogianos a um outro patamar.

Daí que, na hora que Bauru entrou em contato para saber se poderia contar com o mais brasileiros dos cidadãos de Chicago, ouviu um “desculpe, mas não”.  Se o clube de Nilo e Paco não o havia cedido nem mesmo para a seleção brasileira na Copa América, claro que não o fariam para um rival, mesmo que a Copa Intercontinental tenha curtíssima duração. Como reforços, Guerrinho terá Rafael Mineiro, do desativado Limeira, e Gui Deodato, outro que jogou por muito tempo na cidade até fechar com o Rio Claro.

“O Gui vem como um prêmio para ele, de ter participado de toda essa história. O Larry seria a mesma coisa, mas o clube não liberou. Poderiam ter liberado porque não jogam neste fim de semana. Mas não aceitou, citando a Copa Sul-Americana (com jogos marcados de 29 de setembro a 1º de outubro). A gente respeita“, disse Guerrinha.

Anotem aí no calendário: o terceiro jogo da série entre Mogi e Bauru, pelo Paulista, está marcado para 3 de outubro, às 18h, no ginásio Panela de Pressão, casa de nome apropriado.

 *   *   *

Em entrevista ao site SoloBasket, Paco Garcia ao menos teve palavras muito elogiosas para falar sobre duas jovens apostas do basquete brasileiro que fazem parte do forte elenco de Bauru: Ricardo Fischer, que, naturalmente, já desperta o interesse do mercado europeu, e Leo Meindl, recém-contratado.

“Para mim, Fischer é o próximo Marcelinho Huertas. É muito, muito, muito bom. No um contra um, em sua capacidade de dirgir, de assistir e de anotar: é impressionante”, afirmou o espanhol. “Vários treinadores da ACB falaram comigo e me perguntaram coisas sobre ele, que é um desses jogadores que pode se converter em um dos líderes da seleção brasileira no futuro.”

Sobre Meindl: “Léo é um jogador com uma ética de trabalho francamente boa. É filho de um treinador e tem uma mão espetacular, com 2,00m de altura para jogar como escolta com um físico tremendo. EStá claro que vai ser uma referência importante do basquete brasileiro”.

 


Com resultados e rusgas, Paco García e Mogi ameçam Bauru
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Giancarlo Giampietro

Só sorrisos no media day. Humor azedou em duas partidas

Só sorrisos no media day

Na cerimônia de lançamento do NBB 7 no clube Paulistano, o clima era de empolgação geral. Numa reunião com tantas personalidades e reencontros, era difícil que se escapasse, mesmo, do otimismo. Afinal, era um campeonato que estava para começar. Apenas o princípio de temporada, com planos e visões para serem testados. No caso de Paco García e seu Mogi, o sorriso era dos mais animados

Afinal, o espanhol estava no comando de um clube que foi uma das grandes surpresas da temporada passada, fazendo seu melhor campeonato nacional no formato recente, ao avançar nos mata-matas para desafiar o poderoso Flamengo nas semifinais. Sua maior conquista foi ter trazido de volta aos ginásios o torcedor da cidade. “O grande objetivo de todos nós é assentar as coisas boas que fizemos e conseguimos no ano passado. Sempre falo que não é tão difícil de chegar, mas, sim, de se manter nesse nível. Isso se faz assentando toda a nossa administração, a evolução que conseguimos como clube. A partir daí, é melhorar. E não melhorar apenas a classificação, mas também a estrutura em quadra”, afirmou ao VinteUm, na ocasião.

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Apenas duas semanas depois, porém, o treinador se via numa situação delicada,  tendo de contornar a insatisfação de parte seu elenco, um descontentamento que veio a público, às portas de um quadrangular duríssimo pela Liga Sul-Americana. Quer dizer: contornar não faz muito o estilo do espanhol. Ele prefere bater de frente, ir direto ao ponto, doa a quem doer. Um estilo que vem empurrando o clube na direção certa desde que assumiu o cargo em outubro de 2012, mesmo que tenha pisado em muitos calos e irritado muita gente no caminho. Enquanto ele ainda é o chefe, todavia, o Mogi vai acumulando resultados expressivos, com direito agora a uma impressionante vitória sobre o Bauru, fora de casa, para roubar o mando de quadra dos favoritos ao título do NBB, pela fase semifinal.

Mais sorrisos após a primeira vitória sobre Bauru, após 6 derrotas no duelo

Mais sorrisos após a primeira vitória sobre Bauru, após 6 derrotas no duelo

Trocas necessárias
O Mogi foi a grande surpresa do NBB 6, ao se colocar no grupo dos quatro melhores do campeonato, eliminando Pinheiros e Limeira em sequência, depois de terminar a classificação geral apenas em 12º. Uma arrancada que fez a diferença para o fortalecimento do projeto. O público abraçou a causa, e o investimento recebeu um bom aumento para o atual campeonato, com um patrocínio sólido. Com dinheiro, Paco promoveu uma reformulação no elenco. Saíram jogadores de extenso tempo de quadra nos playoffs, como os alas Marcus Toledo, Ted Simões, Jeff Agba e Sidão, mas chegaram outros nomes “importantes”, como o espanhol gosta de dizer.

Entre os reforços, os destaques foram o ala Shamell e o pivô Paulão, de fato atletas mais renomados no cenário brasileiro, se comparados com os atletas que colocaram a equipe na quarta posição geral do NBB. Mas o técnico também mostrava entusiasmo com o jovem pivô Gerson do Espírito Santo, de 23 anos, e do ala Tyrone Curmell, ex-Palmeiras – duas apostas que se provaram certeiras. Na sua concepção, o time saía mais forte dessa troca, para se mostrar competitivo em outro patamar. Desde que, claro, aceitando os preceitos estabelecidos. “Acho que melhoramos já em termos de qualidade individual, com contratações de jogadores que já mostraram na liga sua importância, mas sabem que têm de trabalhar não somente para eles, mas também para toda a equipe”, afirmou. “A verdade é que o padrão do time tem de vir com uma mesma ideia: que a equipe fique acima de qualquer individualidade. Chegaram muitos atletas novos, e eles têm de aceitar nossa filosofia.”

Veterano Shamell: aposta de melhor individualidade dentro de um coletivo?

Veterano Shamell: aposta de melhor individualidade dentro de um coletivo

Independentemente do nome dos jogadores, uma coisa não muda no trabalho de Mogi em quadra: é o treinador quem vai dar as cartas, com uma abordagem detalhista, incisiva, bastante exigente no dia a dia de treinos. Nos bastidores, fontes distintas indicaram ao blog um desgaste na relação entre o comandante e alguns de seus atletas mais experientes influenciou na troca de jogadores para esta temporada, independentemente do aumento do orçamento. Alguns atletas simplesmente não queriam pensar em renovação. As cobranças são incisivas, incessantes e podem incomodar (ou assustar) os atletas que não estejam tão acostumados com esse comportamento.

“No começo, foi um pouquinho difícil”, admite Shamell, durante o final de semana do Jogos das Estrelas em Franca, ao VinteUm. “Ele é uma pessoa que leva o trabalho bem a sério. E tem um tipo de cobrança diferente. Quando cheguei,  eu não o conhecia, ele não me conhecia. Mas agora está tranquilo, a comunicação sai natural, e esse tem de ser o principal ponto, como em qualquer empresa. Entendo o que ele espera de mim para ajudar a equipe.  Você toma bronca e, depois, conversa o que tiver de conversar.”

Já com dez anos de residência no Brasil, divididos em duas passagens, Shamell é uma fonte muito interessante para abordar um tema que me intriga e que vai muito além das quatro linhas. A tese: o brasileiro não está tão acostumado assim a lidar com críticas, observações diretas, preferindo mais um rodeio, comentários que primeiro tateiam, para depois se expor o objetivo da conversa. Longe demais? Ou isso teria a ver com o desconforto que o estilo do treinador espanhol pode causar? “A reação inicial do brasileiro é de achar que o cara está te atacando, faltando com o respeito (quando se faz a crítica”, diz o americano. “É normal também. Há coisas que deixa você mal, bravo. Mas tem técnico que é assim, faz o que acha, e ponto. Há jogadores que aceitam, outros que não.”

Segundo Alemão, o clima é ruim só do lado do técnico

Mogi comemora lá no início da temporada, ainda com Alemão no elenco

Mas e o que pensa o jogador nacional a respeito? “Não sei se o brasileiro não está acostumado. Acho que poderia ser mais natural receber uma cobrança. Tem hora que você fica louco e pode extravasar, não tem problema, sem perder a educação. No nervosismo do jogo, é normal esse embate. O jogador talvez tenha de achar isso mais natural e, não, ficar tão incomodado”, diz o armador Gustavinho ao VinteUm, em conversa antes do início dos playoffs.

Gustavo é um dos remanescentes da campanha do ano passado e alguém que fala abertamente sobre a influência positiva do treinador em sua carreira e na equipe como um tudo. “Meu jogo melhorou muito com ele, principalmente na defesa. Tenho ajudado muito mais, estou mais bem colocado. Acabo me identificando com ele, por pregar esse início do jogo pela defesa”, explica.”Ele é um cara durão, uma filosofia do basquete europeu, onde se tem de respeitar as regras. Isso pode acabar incomodando outras pessoas. Tem de se adaptar a isso. Ao meu ver, é o diferencial, foi o que levou nossa equipe longe no ano passado. “

A crise
A temporada do Mogi, até aqui, pode ser considerada um sucesso. No Campeonato Paulista, sofrendo com algumas lesões e desentrosamento natural, o time caiu nas quartas de final, contra o Paulistano. Na próxima competição, veio um vice-campeonato inédito de Liga Sul-Americana, com derrota para o poderoso Bauru, e 21 vitórias pela temporada regular do NBB – sete a mais do que na sexta edição, com um aproveitamento muito superior, subindo de 43,7% para 70%, com o triunfos consecutivos. Nos mata-matas, depois de penarem contra Macaé, agora reencontram os bauruenses prontos para uma revanche, jogando de igual para a igual. Venceram o primeiro jogo fora (81 a 73) e tiveram o placar favorável no segundo até que Ricardo Fischer converteu um arremesso de longa distância a três segundos do fim (84 a 81).

O time apresentou um plano de jogo que deu certo. Desacelerou o ritmo da partida, para diminuir o volume do adversário, gastando o relógio com trocas de passe pacientes, acreditando no poder de definição de suas peças, com Shamell especificamente em uma jornada inspirada, anotando 16 de seus 27 pontos no quarto. As posses de bola bem trabalhadas também geraram maior equilíbrio defensivo, contendo, no Jogo 1, a artilharia perimetral do cabeça-de-chave número um. “Ele é muito detalhista”, diz Gustavinho. “Exige padrão defensivo, posicionamento. No ataque, um basquete mais solidário, com pelo menos três passes. Se não sai ninguém livre, aí é a hora de buscar uma definição em algum lance individual como do Shamell ou do Filipin.”

Ginásio Hugo Ramos cheio, um ganho para Mogi

Ginásio Hugo Ramos cheio, um ganho para Mogi

Essa visão de jogo se concretizou nas duas primeiras partidas da semi, mas não dá para dizer que tenha sido irrevogável durante toda a jornada. Especialmente no início do NBB. Após uma vitória sobre Uberlândia e uma derrota contra o Minas, a equipe foi cheia de dúvidas para as quartas de final da Liga Sul-Americana, envolvendo Bauru, Brasília e o Comunikt, do Equador, jogando como anfitriã. García havia jogado lenha na fogueira com críticas pesadas ao elenco, em público – um tipo de atitude também bastante citada para justificar o descontentamento de atletas com o treinador, que seriam eles que perdiam, enquanto todos ganhavam.

Na primeira rodada, sua equipe venceu o Uberlândia por 90 a 80. Se o placar parece bom, esqueça. Os anfitriões chegaram a abrir 20 pontos no terceiro quarto, relaxaram e acabaram permitindo que os mineiros fizessem 35 pontos na parcial final. O que despertou a ira do técnico. Disse que era inadmissível. “Fico preocupado por que parece faltar ambição. Se você está ganhando por 20 pontos, tem de buscar ganhar por 30, e não relaxar. Não quero um time medíocre, quero um time com ambição”, disse ainda no ginásio, aos repórteres do Globo Esporte.com, da região de Mogi e Suzano. Era apenas a estreia. Na segunda rodada, para piorar, derrota por 61 a 60 para o Minas, novamente em casa. “Se não aceitam jogar como equipe e fazer sacrifício em quadra, fica difícil. O basquete não é um jogo de nomes, é um jogo de homens. O time não jogou nada. Eu passei vergonha pelo jogo que fez meu time”, disparou. Ficou tenso o negócio.

Alemão abriu fogo contra seu técnico

Alemão abriu fogo contra o técnico

O pivô Daniel Alemão, que também havia sido peça valiosa durante o NBB 6, não aguentou. “O clima não está nada agradável por parte dele (o técnico) e das coisas que faz. Infelizmente ele tem esse jeito e somos ainda obrigados a acatar essa ideia. A gente está focado em trabalhar e melhorar a nossa parte, a parte dos jogadores, para tentar resolver entre a gente dentro da quadra. Somos nós que jogamos, então somos nós que ganhamos e perdemos”, disse à TV Diário.

Bem, o veterano não teve pudor algum, né? Bota “infelizmente” nisso. Do seu lado, Paulão procurou contemporizar. “Entre os jogadores, o clima é o melhor possível. O técnico tem a forma de trabalhar, e como jogador a gente tem que pelo menos entender o que ele está pedindo. Temos que jogar e fazer o que ele pedir, já que ele é o comandante do time”, diss à TV Diário.

Contra-ataque
Ao tomar nota das declarações do pivô, Paco não fez questão alguma de botar panos quentes no assunto e só fez a previsão do tempo piorar. “O clima não está muito bom porque o técnico fala quando as derrotas vêm. Eu falo claramente, e gostaria que todo mundo ao meu redor falasse claro também. Não acredito que um atleta possa não ter 100% de vontade e 100% de intensidade. Sei como eu estou, mas não sei como estão os atletas, pois isso é uma coisa de cada um.”

Durante a crise, o espanhol usou seu blog para prosseguir no ataque. Disse que não sabia mais o que esperar de sua equipe em quadra, tendo a exibição contra o Minas em mente. “Falta de intensidade, defesa nula (apesar do placar reduzido, não nos equivoquemos), muito lentos no ataque, caminhando sobre o piso e, além disso, entregando a partida quando a tínhamos em mãos, com quatro pontos acima e quatro lances livres errados, bola perdida e duas faltas tão absurdas como desnecessárias, tudo em apenas 40 segundos”, escreveu. “A atitude de alguns jogadores me preocupa, e muito. As desculpas e mais desculpas apontando sempre o mesmo: o treinador. Quase ninguém reconhece seus próprios erros, e assim é difícil progredir.”

No final, o time conseguiu se classificar para a semifinal, eliminando o Brasília. Ufa. De volta ao NBB, enfrentou um período de instabilidade, com seis vitórias e quatro derrotas nos próximos dez jogos. Em 2015, embalou, sofrendo apenas mais três derrotas até os playoffs. Alemão foi dispensado no início de dezembro.  “Foi um desgaste das duas partes, uma pena, mas a relação estava muito desgastado. O Alemão um grande jogador e faz falta até hoje”, afirma Gustavinho.

Diário de bordo
Paco trabalhou no basquete espanhol por mais de dez anos como assistente de técnicos renomados, entre eles o falecido Manel Comás, apelidado de Xerife, um dos técnicos mais vitoriosos da Liga ACB – e que chegou a ser cotado como técnico da seleção brasileira em 2007, antes do acerto com Moncho Monsalve. Em 1995-96, começou a carreira como treinador principal, nas divisões menores espanhola. Em 1998, pelo Breogán, conseguiu aquele que talvez seja seu maior feito: subir à primeira divisão com o título da hoje LEB Oro, um campeonato muito difícil. Trabalhou também com o Valladolid e o Lleida na elite. Em 2011, deixou o país para dirigir a seleção da República Centro-Africana.

Um dos trechos cândidos e ácidos do blog de Paco, sobre sua demissão cogitada (25/01)

Um dos muitos trechos cândidos e ácidos do blog de Paco, sobre sua demissão cogitada. “Não sei o tempo que me resta em Mogi…” Texto publicado em 25/01. Algo raro de ver/ler por estas bandas desde o afastamento de Paulo Murilo

Foi a serviço do país africano, que não tem muita tradição no mundo Fiba, mas revela bons jogadores como o ala Romain Sato, que o espanhol começou a abastecer seu blog. “Era uma boa forma de manter o contato com os amigos e com a família. De contar o que estava fazendo, o que estava acontecendo.  Quando retornei da África, parei. E foi muita gente me ligando, me mandando mensagens dizendo: ‘Cara, tem de continuar’. Quando cheguei ao Brasil em 2012, esse interesse me motivou a retomá-lo. Falamos de tudo um pouco”, diz.

De tudo mesmo: só em 2015 já são 43 posts publicados, com análises de partidas, elogios e críticas a adversários, protestos contra a liga e lembrando sempre todos os percalços que a equipe enfrentou durante a temporada, em especial suas lesões. Foi para os playoffs num astral bem melhor que o de novembro, quando encerrou aquele mesmo post de ataque e defesa contra críticos sem pisar no freio,  para ficar numa metáfora que dialoga com seu texto: “É uma fase exigente, como eu quero ser.  É evidente que, como já escrevi em mais ocasiões, às vezes tenho a sensação de caminhar em uma velocidade distinta de meus jogadores e do meu próprio clube”, afirmou. “O que conseguimos na temporada passada não pode ser repetido com boas palavras, mas apenas com exigência, trabalho e feitos. É nisso que estamos. Até que possa, até que me deixem.”

Esse tempo difícil ficou para trás, mas, como diz Gustavinho, não significa que tudo tenha ficado tranquilo desde então. Esse é um termo que não faz parte da linha de conduta do treinador. “Mas não foi depois disso que as coisas normalizaram. Continuam (assim). Eu já briguei várias vezes com ele e brigo até hoje. Mas a gente se respeita. O Paco gosta de falar que aperta o treinamento, que não deixa ganhar duas, três seguidas e se acomodar. Está sempre cobrando, querendo sempre mais, querendo melhorar, o que às vezes pode até deixar todo mundo nervoso, achando que não é possível. Mas é o jeito dele, e você percebe que o time se acostuma”, afirma o jogador. “Com a vitória.”

 


Os quatro melhores nas semis do NBB, após muito sufoco
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Giancarlo Giampietro

Hettsheimeir teve médias de 19,2 pontos e 9,2 rebotes contra Franca. Fundamental para a vitória

Hettsheimeir teve médias de 19,2 pontos e 9,2 rebotes contra Franca. Fundamental para a vitória

Essa coisa de fazer previsão, dar palpite… Sei bem que diverte a galera, mas só expõe jornalistas ao ridículo, né?

Vamos lembrar o título: “Após suversão no início, NBB abre quartas com favoritos claros”.

Se fosse para levar em conta o que se passou durante a temporada regular da sétima edição do campeonato, na minha cabeça não havia como acontecer surpresas nas quartas de final, mesmo ciente de que a mera vitória numa série poderia encher de confiança aqueles que desafiariam Bauru, Limeira, Flamengo e Mogi. No final das contas, passaram todos, mas não sem uma boa dose de drama. “Claros”, né?

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Só Limeira conseguiu avançar sem apelar ao Jogo 5 em seus domínios, batendo Brasília em quatro partidas, com direito a dois triunfos na capital federal. Valeu para o time se colocar entre os quatro melhores pela primeira vez, fazendo uso de um elenco de muito mais velocidade e flexibilidade que os candangos, correndo em círculos ao redor da vítima. Suas três vitórias tiveram vantagem de dígito duplo, com saldo de 41 pontos no geral.

A série entre Flamengo e São José também em teoria apresentava ampla superioridade para os atuais bicampeões. Se os deuses do basquete permitirem, dá até para dizer que foi um placar de 3 a 2 enganoso ou injusto – mesmo que isso contrarie a máxima de que, num playoff, não importa se o placar é por 30 ou por 0,3 pontos, tendo o mesmo peso. Descontando as vitórias e derrotas flamenguistas, foram 64 pontos de saldo em cinco jogos (média de 12,8).

O Flamengo sobrou em três jogos. Mas cedeu dois para São José

O Flamengo sobrou em três jogos. Mas cedeu dois para São José

Ainda assim, faltou consistência ao time de José Neto, especialmente no ataque, para fazer valer sua superioridade. Nas duas derrotas, acertou apenas 12 de 51 arremessos de três pontos (23,5% de aproveitamento, um pesadelo). Um ponto em comum nos tropeços também foi a dominância de Caio Torres, em grande fase, com médias de  16,5 pontos, 9,0 rebotes, 6,5 lances livres batidos e 60% nos arremessos de quadra, em 28,5 minutos.

O desequilíbrio parou por aí, todavia. O Mogi ficou muito perto da eliminação diante do Macaé, que valeria como uma tremenda coincidência, já que o clube fluminense tentava reprisar a trajetória de seu oponente, que alcançou a semifinal do NBB 6 como o 12º colocado no geral após a fase de classificação. No Jogo 5, com o ginásio Hugo Ramos, os visitantes entraram no quarto período vencendo por 64 a 61. Faltavam dez minutos para confirmar a zebra, mas sua defesa permitiu 30 pontos na parcial final. Curiosamente, foi uma dinâmica bem parecida com a da primeira partida do confronto, com jogo empatado em 55 após três quartos, com o Macaé liderando desde as primeiras posses de bola.

Mais: Mogi ficou em desvantagem por 2 a 1, passou sufoco, mas contou com a energia de Tyrone Curnell para a virada, com 21 pontos e 9,5 rebotes nas últimas duas partidas. Paulão Prestes também foi muito mais efetivo para mudar a história, com 31 pontos nos Jogos 4 e 5, depois de ter somado apenas 18 nos três primeiros. Shamell marcou 21,4 pontos, mas acertou apenas 33% dos chutes de fora, forçando a barra (11/33). Guilherme Filipin derrapou no duelo decisivo, com 1/6 nos chutes de fora, mas teve rendimento de 48,1% no geral (13/27).

Mogi, de Gerson e Filipin, sofreu um bocado para evitar mais um 12º colocado na semi

Mogi, de Gerson e Filipin, sofreu um bocado para evitar mais um 12º colocado na semi

A grande surpresa, no entanto, ficou reservada para Bauru x Franca. O campeão paulista e das Américas chegou para o duelo com uma sequência de 33 vitórias seguidas, seja pela liga nacional como pelo torneio continental. Na abertura da série, ainda deram uma surra de 27 pontos, vencendo por 82 a 55. Caminhariam para a varrida? Nada disso.

O confronto ficou muito mais interessante no momento em que o time de Lula Ferreira, que sofrera para eliminar o Palmeiras pelas oitavas, roubou o mando de quadra bauruense ao vencer o Jogo 2 por 74 a 71. Era o final de uma sequência de 26 vitórias de seu oponente pelo NBB. Comedido, como sempre, Lula não quis saber muito de comemorar o resultado, mas, em sua entrevista pós-jogo, admitiu a maior preocupação no confronto tático com seu ex-assistente da seleção brasileira: “Quando eles acertam 13 cestas para três pontos é quase impossível de vencê-los. A vitória é maravilhosa”, disse.

Na ocasião, o oponente converteu, sim, 13 chutes de longe, em 34 tentativas, com 38,2%. Um bom rendimento, mas insuficiente para garantir o triunfo. A partir daí, porém, essa artilharia seria limitada a 8 conversões em cada jogo e o aproveitamento, respectivamente, de 33,3%, 29,6% e 30,8% – na temporada, tinham 39,7% de média, propiciando volume de 35,2 pontos a partir da linha perimetral. Se era essa a preocupação de Lula, a defesa funcionou muito bem, obrigado. Veja os números do sistema ofensivo de Guerrinha na série:

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Nas três vitórias, o menor volume de arremessos de três, com ataque mais distribuído entre chutes para dois e/ou lances livres, para compensar o fraco rendimento no perímetro – especialmente comparando com os índices da temporada. Mas mesmo mais próximo da cesta eles tiveram mais dificuldade que o normal

O problema é que, nos Jogos 3 e 5, Bauru conseguiu compensar o baixo rendimento nos tiros exteriores com um volume elevado no jogo interno, batendo 50 lances livres no total para somar 37 pontos na linha (74%). De qualquer forma, a marcação francana foi bem na série, limitando um ataque de tinha média superior a 90 pontos por jogo no campeonato, até então, a 75,0 na série.

Para o próximo confronto, Paco Garcia deve estudar em detalhes o que aconteceu nos últimos quatro jogos – e a defesa de Lula Ferreira como um tudo. Afinal, das míseras sete derrotas que o líder sofreu durante toda a temporada – quando estava com força máxima, isto é, após a Copa do Mundo –, quatro aconteceram nesse clássico paulista (duas agora e outras duas pelas semifinais do Paulista). Sim, desde que Alex, Larry e Hetthsheimeir se apresentaram, o restante do país só bateu a equipe em três ocasiões, e uma dessas vitórias carrega um senhor asterisco: a de Brasília, pela primeira rodada do campeonato nacional, com a equipe paulista de ressaca pela conquista do estadual. Os demais reveses ficam na conta de Limeira: um pela decisão do estadual e outro pelo NBB também. E só. O retrospecto geral, computando também os compromissos internacionais? São 57 vitórias em 65 partidas.

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Por que desde 13 de setembro? Que foi quando o trio da seleção brasileira estreou na temporada, em duelo com Rio Claro, pelos playoffs do Paulista. O completo também merece outro asterisco: o time perdeu o ala-pivô Jefferson William, figura de importância altíssima no sistema ofensivo, durante a campanha

Se isso não significava favoritismo desmedido, então nossos valores estão invertidos. Goste-se ou não do basquete praticado pela equipe de Guerrinha, não haveria como renegar um retrospecto desses, certo? É o que pregaria, ainda hoje, o jornalista desvairado aos sete mares. Mas Franca nos mostrou que há, sim, como contestar a tese.

O que vem por aí?
Para Mogi, é isto: ou o time defende, ou está fora. Não vai ser num tiroteio contra Bauru que eles vão levar a melhor, como os quatro confrontos entre os clubes na temporada mostram. Foram quatro vitórias para a equipe de Guerrinha, sendo duas pelo NBB e duas pela Liga Sul-Americana, inclusive a final continental. No último duelo, Bauru foi testado para valer, é verdade, perdendo o primeiro tempo. Ainda assim, deslanchou no segundo tempo e saiu vencedor, com uma jornada incrível do veterano Alex, que marcou 31 pontos, com 7/10 nos arremessos de longa distância. Veja os números preocupantes dos líderes da fase de classificação do NBB nesses jogos:

Bauru teve média de 39 disparos de três pontos contra a defesa de Mogi, acertando mais de 40% deles. Quando atacou com chutes de dois, também foi muito eficiente

Refazendo: ou o time defende de maneira muito mais eficiente, ou está fora. Bauru teve média de 39 disparos de três pontos contra a defesa de Mogi (algo assustador e desproporcional), acertando mais de 40% deles. Quando atacou com chutes de dois, também foi muito eficiente. Resultado: saldo de 19,0 pontos em média no duelo. Do outro lado, a equipe de Paco vai precisar movimentar a bola e saber dosar o jogo interno com os arremessos de Shamell e Filipin. Os dois alas precisam atacar em movimento, em vez de tentativas isoladas de mano a mano – especialmente quando Alex for o marcador. Encontrar um modo de envolver Tyrone também ajudaria: assim como Paulão, o ala-pivô teve desempenho praticamente nulo nos embates. O favoritismo ainda pende para um lado.

Limeira x Flamengo tem tudo para ser um confronto eletrizante, com dois elencos vastos, versáteis e explosivos frente a frente. Nezinho x Laprovíttola, David Jackson x Marquinhos, Hayes (que fez grande série contra Brasília e agora enfrente seu ex-time) x Olivinha, Fiorotto x Meyinsse, Ramon x Benite, Deryk x Gegê, Teichmann x Herrmann, Dalla x Marcelinho, Mineiro x Felício… Afe, todos embates promissores,  muito instigantes. É uma série que valeria melhor-de-sete, sem dúvida, para a qual não servem muito os números da classificação geral, uma vez que Nezinho não esteve presente na segunda partida, na qual estavam todos já com posição definida na tabela. O mando de quadra pode fazer diferença? Nas quartas, de nada adiantou. A maior rodagem e o sucesso recente flamenguista seriam uma vantagem? Na Liga das Américas, não adiantou. Palpite? Dessa vez passo.


Após suversão no início, NBB abre quartas com favoritos claros
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Giancarlo Giampietro

Brasília de Giovannoni faz um segundo campeonato nos mata-matas

Brasília de Giovannoni faz um segundo campeonato nos mata-matas

As quartas de final do NBB começam hoje. Nas oitavas, para quem perdeu, tivemos pura subversão. Dos quatro times mais bem classificados para essa fase, apenas o Franca passou, e no quinto e último jogo contra o Palmeiras. De resto, a turma de baixo aprontou. Agora, esses azarões partem em direção aos grandes favoritos ao título, de fato. Times que sobraram na fase de classificação, mas que, claro, precisam tomar cuidado com adversários que chegam confiantes. Seria um segundo campeonato? Ou a consistência deles durante o ano pesa mais? Ainda pendo para a segunda alternativa, mas precisa jogar e confirmar em quadra.

Entre os times do topo está, claro, o Bauru, um degrau (ou mais) acima, tendo ainda alguns dias preciosos para descansar um elenco que conquistou até agora três taças em três competições disputadas. Os bauruenses, líderes da temporada regular, terão os francanos pela frente, num clássico do interior paulista. De resto, o Limeira, segundo colocado, encara o emergente Brasília; o Flamengo, em busca do tri, pega os velhos conhecidos de São José; e o Mogi das Cruzes recebe o Macaé, que tenta usar aquela frase que a gente quase não vê mais impressa por aí: “Oi, eu sou você amanhã”.

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É mata-mata que não acaba mais gente. Mas o punho vai resistindo bem por enquanto – sobre a cabeça, melhor nem perguntar, que já está fundida faz tempo. Agradeço a reza, o apoio e o voto de confiança. : D

E simbora:

Bauru (1º) x Franca (8º) – Bauru em 3
Se for perguntar por aí sobre um time que tenha dado mais trabalho para Bauru nesta temporada 2014-2015, os caras de Franca podem levantar a mão. Sim, quem se lembra da fervorosa semifinal do último Campeonato Paulista? O eventual campeão estadual precisou de todas as cinco partidas da série para avançar. Com direito a lamentável quebra-pau no Jogo 3.

Mas isso faz tempo. Era apenas o início da caminhada. Desde então, o time de Guerrinha perdeu somente três jogos. Incrível: uma para Limeira na decisão do Paulista e duas pela fase de classificação do NBB. No momento, contando a Liga das Américas, são 33 triunfos consecutivos. A única baixa realmente a ser lamentada foi a lesão do ala-pivô Jefferson William, fora com uma ruptura no tendão de Aquiles.

Hettsheimeir e o Bauru querem mais

Hettsheimeir e o Bauru querem mais

Além disso, se formos relembrar aquela semi, os jogos que o Franca venceu foram por dois e três pontos. Por outro lado, a equipe de Guerrinha conseguiu 23 pontos e 29 pontos de vantagem. Só o quinto e o derradeiro duelo, com muita tensão, foi parelho (75 a 69).

Enquanto Franca eliminava o Palmeiras, sendo o único time mais bem classificado a passar pelas oitavas de final, o Bauru descansou. Para muitos casos, essa parada poderia ser arriscada, custando ritmo de jogo etc. Para essa equipe especificamente, todavia, creio que foi algo muito bem-vindo, para dar um respiro antes de brigarem pelo quarto título em quatro competições, algo que seria histórico.

Por números, é como o Bauru se fosse o Golden State Warriors do NBB, mas com um nível de dominância ainda mais acentuado. Ataque mais eficiente, melhor defesa, melhor índice de arremessos, terceiro melhor nos rebotes, e por aí vamos. O único quesito no qual os francanos se aproximam de seu rival paulista é na defesa, com a terceira retaguarda mais eficiente (um padrão nos times de Lula Ferreira, aliás). Mas vai ser uma missão difícil.

Dos poucos jovens atletas do NBB que já tiveram chances com Rubén Magnano na seleção, a dupla Leo Meindl e Lucas Mariano tem a oportunidade de mostrar serviço contra adversários de ponta. Meindl, que não jogou o que podia contra o Palmeiras, vai provavelmente ser marcado por Alex e Gui Deodato. Uma dureza. Durante o campeonato, porém, o garoto se saiu bem contra a dupla, anotando 20,5 pontos em média. Já Lucão vai encarar Hettsheimeir e Murilo, vindo de uma de suas melhores atuações da temporada contra o Palmeiras, no quinto jogo. Foi instrumental no fechamento do confronto.

Limeira (2º) x Brasília (10º) – Limeira em 4
Não há o que aliviar aqui: tricampeão do NBB, Brasília foi a maior decepção desta edição. Imaginem assim: se fosse uma competição de pontos corridos, estaria fora da briga pelo título há meses. Se fosse um playoff composto da forma mais tradicional, com apenas os oito melhores classificados, também teria dado adeus mais cedo.

Mas os mata-matas do NBB abraçam mais gente – e tudo bem: é uma forma de manter mais clubes em atividade. Supostamente, isso serviria para ajudar os competidores de menor orçamento, dando mais chances. No fim, um gigante como Brasília acabou se beneficiando dessa brecha e já aproveitou para derrubar o Pinheiros. Contra o Limeira, porém, as coisas complicam. Especialmente para um time que teve a segunda pior defesa da temporada, acima apenas de Macaé, tentando parar o terceiro ataque mais qualificado, com boa movimentação de bola (um ataque solidário, com a maior taxa de assistências do campeonato).

Garoto Deryk é uma das opções aceleradas do Limeira

Garoto Deryk é uma das opções aceleradas do Limeira

Não é só a simples predisposição a passar a bola que torna a equipe dirigida por Dedé Barbosa perigosa. O principal fator, creio, é a velocidade de seus jogadores, em especial no perímetro, com a trinca Nezinho, Deryk e Ronald Ramon, servindo ao MVP do NBB 6 e candidato sério a manter o troféu, David Jackson. São armadores que se movimentam muito e botam pressão no adversário nos dois lados da quadra.

Essa agilidade também se reflete na linha de frente, com caras como Mineiro, Hayes e Teichmann, além de Fiorotto (até mesmo o jovem Dú Sommer segue esse perfil, mas sem tempo de quadra). É um plantel muito coeso nesse sentido. A diferença é que o garrafão candango não fica muito atrás, com um superatleta como Cipolini escoltando a técnica de Giovannoni – são dois dos dez jogadores mais eficientes do campeonato.

Será que eles vão contar com a ajuda de Ronald? O pivô de 23 anos foi um dos grandes responsáveis pelo triunfo contra o Pinheiros, enfim recebendo minutos consistentes (mais de 20 por jogo), respondendo com 11,5 pontos e 6,5 rebotes, acertando 69% de seus arremessos (18/26). A ver se a sua curva ascendente será respeitada.

Obviamente que Limeira vai respeitar seu adversário – aliás, estamos falando curiosamente dos únicos dois times a bater o líder Bauru na fase de classificação. Mas não tem motivos para temê-lo, levando em conta sua ampla superioridade durante toda a temporada, passando também por dois triunfos no confronto direto. Talvez o fato que gere mais preocupação mesmo é o fato de o clube nunca ter vencido uma série de playoff, nem mesmo quando tinha mando de quadra. Foram cinco confrontos, todos perdidos de virada, o que é ainda mais agonizante.

Flamengo (3º) x São José (11º) – Flamengo em 4
Com presença constante na fase decisiva, os dois clubes têm boas histórias para contar. Já são ao todo 27 jogos entre ambos no campeonato nacional, o que configura o duelo mais disputado até aqui. Em termos de playoffs, foram três séries, com os cariocas levando a melhor em duas delas, incluindo a última, pela semifinal do NBB 5 – numa revanche após a quarta edição.

É certo que uma sequência relevante de triunfos vai acabar este ano. O Fla nunca ficou fora das semis. Já o clube do Vale do Paraíba passou pelas quartas nas últimas três temporadas. Bom para dar uma apimentada. Se tiver de apostar, de qualquer forma, os rubro-negros aparecem como favorito indiscutível.

É uma situação interessante, aliás: se você fosse avaliar apenas de orelhada, talvez chutasse que o Fla tenha deixado a desejar, especialmente depois de perder uma semifinal de Liga das Américas, no Maracanãzinho. Mas isso tem muito mais a ver pelo patamar alcançado pelo clube nas últimas campanhas – essa coisa de ser o atual bicampeão nacional e de ter vencido a Copa Intercontinental e tal.

Na última rodada da 1ª fase, Fla de Herrmann venceu bem o Limeira

Na última rodada da 1ª fase, Fla de Herrmann venceu bem o Limeira

Há um desgaste mental quando se passa por tantas decisões. Não há como negar. Ainda assim, a equipe engatou uma boa sequência de nove vitórias para fechar a temporada regular e chegar mais animada para os playoffs. No meio do caminho, um triunfo de virada, por 16 pontos, sobre o Limeira. No geral, não havia muitos motivos para preocupação: tiveram o segundo melhor ataque e a quinta melhor defesa.

No papel, o elenco flamenguista também se impõe. José Neto tem uma linha de frente robusta, com tamanho, agilidade e talento distribuídos entre Marquinhos, Herrmann, Olivinha, Felício e Meyinsse. Do outro lado, o pivô Caio Torres que defendeu o Fla de 2011 a 2013, sendo campeão no NBB 5, fez um grande campeonato, com 14,6 pontos e 9,2 rebotes. Mas a rotação ao seu lado é minguada, com o regular Drudi, de chute de média distância sempre muito perigoso, e o jovem Renan.

Como fazer um jogo controlado se você tende a levar a pior na batalha interna? Por outro lado, querer correr com o próprio Marquinhos, além de Laprovíttola e Vitor Benite do outro lado realmente não parece uma boa opção, de toda forma. Andre Laws parece o único defensor capaz de persegui-los sem perder o fôlego ou a concentração. E aí? Como faz?

As oitavas de final contra o Paulistano – o outro finalista do ano passado – foram um bom treino para jogos mais truncados, com placares baixos, mesmo. Em quatro duelos, a equipe de Zanon foi a única passar da casa de 80 pontos, e apenas uma vez (no Jogo 3, com 85).

É uma tarefa difícil para o clube paulista, a despeito de seu poder de chegada e de, por ora, ignorarem problemas com atraso de pagamento. Além da força de sua torcida, vão precisar defender muito, do início ao fim, e esperar por uma regularidade maior nos arremessos de Baxter, Dedé e/ou Betinho. De preferência os três juntos.

 Mogi das Cruzes (4º) x Macaé (12º)
Agora cabeça-de-chave, o técnico Paco Garcia obviamente não vai subestimar seu adversário. Afinal, sabe muito bem como não importa a posição em que o adversário chegou aos mata-matas – no caso, o Macaé, que garantiu a 12ª e última vaga, justamente a mesma posição que o Mogi tinha no NBB 6, para bater Pinheiros e Limeira em sequência e disputar a semifinal.

De pedra, a equipe do técnico espanhol agora virou vidraça, sustentada por uma das torcidas mais barulhentas do país. Teve um investimento maior e elevou seu padrão de jogo de acordo com o esperado, vencendo 70% de suas partidas (foram 12 triunfos a mais que seu próximo rival) pelo certame nacional, chegando também uma final inédita de Liga Sul-Americana.

É a equipe favorita, mas que vai ter de estar atenta a um oponente que acabou de derrubar a quinta melhor campanha do campeonato, o Minas Tênis. Um resultado surpreendente, mas que já vale como um prêmio para um projeto interessante no litoral norte fluminense, que vai além das quadras e envolve realmente a comunidade.

Se for para falar das quatro linhas, no entanto, não há como fugir do americano Jamaal Smith, um baixinho de 1,75 m, que é uma verdadeira dor-de-cabeça para a oposição. Não só por sua conduta marrenta, mas pelo talento para colocar a bola na cesta. Nas oitavas de final, teve média de 22,7 pontos, acertando 10 de 16 arremessos de três pontos. Sua arma principal, contudo, é a capacidade para cavar faltas.

Jamaal Smith, quem vai parar? Gustavinho se candidata

Jamaal Smith, quem vai parar? Gustavinho se candidata

Encarando a segunda defesa mais eficiente da temporada regular, bateu 39 lances livres em quatro jogos – e, melhor, errou apenas um, garantindo médias de 9,75 arremessos por partida e aproveitamento de 97,5%. Sensacional. São números bastante inflados, claro, mas plausíveis de atingir em mais uma série, pensando no que ele fez durante todo o NBB 7 (6,5 e 88,2%, respectivamente). Foi o arremessador mais eficiente do campeonato.

Aí você faz como? Tem chute de fora e também joga com muita eficiência lá dentro. Não seria o caso de delegar toda a responsabilidade para Elinho ou Alexandre. A boa notícia, porém, é que Gustavinho retornou na última rodada da primeira fase e ainda teve duas semanas para aprimorar o condicionamento físico. Aqui, estamos falando de um armador igualmente baixo, mas bastante ágil, aguerrido e inteligente para desafiar o americano. De qualquer forma, não dá para depender de um só atleta. É preciso de uma preparação defensiva mais ativa, com cobertura.

Contra o jovem elenco do Minas, o Macaé tinha a experiência como vantagem. Agora esse fator desaparece em Mogi. Além disso, vão encarar um adversário mais equilibrado. Se o time de Paco tem uma defesa bem inferior a da montada por Demétrius, por outro lado possui um ataque definitivamente mais poderoso, com um jogo interno diversificado. Esse deve ser o foco, pedindo a Shamell, cestinha do campeonato e aquele que mais se ocupa das posses de bola de seu time, paciência e inteligência na hora de atacar.

As trombadas entre Paulão e Atílio podem causar abalos sísmicos, mas o problema maior do time fluminense vai ser lidar, mesmo, com a agilidade de Gerson e Tyrone. No seu plantel, não há tantos jogadores com pacote atlético (uma combinação de força física e agilidade) para conter essa dupla no mano a mano. Otis George seria uma exceção, mas, de novo, aqui é ação coletiva que poderá remediar as coisas.


NBB 7 termina 1ª fase com líderes mais poderosos e nota de corte menor
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Giancarlo Giampietro

É, amigos, chegamos.

Chegamos à aquela fase do ano em que você fica maluco. Tem muita coisa acontecendo, é difícil dar conta. É mata-mata para tudo que é lado – algo que já vem, claro, das Loucuras de Março. NBA, NBB, Euroliga, Liga ACB, brasileiros se preparando para o Draft… Se o namorado ou a namorada forem novos, melhor avisar com cuidado. Se a relação é de longa data, bem, a fiel companhia, presume-se, sabe o que lhe espera. É um período de reclusão social, conversa com a TV, que provavelmente faz mal à saúde. Ao menos para o coração. No caso de jornalistas, a incidência de tendinite tem um aumento de 870%. Salve-se quem puder.

Então é hora de respirar fundo. Aqui, vamos nos concentrar um pouco no que se passa com o NBB.

O Bauru, de Hettsheimeir, terminou na ponta, com a melhor campanha da história do NBB

O Bauru, de Hettsheimeir, terminou na ponta, com a melhor campanha da história do NBB

A rapaziada ao menos tem, imagino, o resto do feriadão para descansar um pouquinho. Aí é usar a semana para treinar e estudar o adversário. Que, no fim de semana, começam os playoffs, com a interessante forma de dar uma folga prolongada aos quatro melhores da tabela, ao passo que mais times têm sua temporada estendida: os confrontos decisivos começam com cruzamento entre os times situados entre as 5ª e 12ª posições, pela ordem: Minas, Paulistano, Pinheiros, Franca, Palmeiras, Brasília, São José e Macaé. Bauru, Limeira, Flamengo e Mogi das Cruzes vão assistir a tudo.

Ao batermos o olho na classificação final, nota-se, primeiro de tudo, que a nota de corte caiu. O Macaé, com um projeto bonito, que vai muito além adulto, tem de comemorar muito a chance de participar da fase final do NBB pela primeira vez. Mas a verdade é que avançou um aproveitamento baixo, de 30%, com 21 derrotas em 30 jogos. Na edição passada, foram eliminados em 13º, mas 40,6%. Se tivesse mantido o ritmo, neste ano, teriam terminado acima do Brasília, em 10º.

Essa queda de rendimento acompanha os três clubes que estão acima da tabela, aqueles que, num formato mais tradicional, nem teriam jogado a fase decisiva. Os nomes mudaram, mas os 9º, 10º e 11º lugares passaram, respectivamente, de 46,9% para 43,3% e 40% no caso dos últimos dois. Juntos, esses caras haviam conseguido 45 triunfos na sexta edição do campeonato nacional. Dessa vez, ficaram em 37. E, ok: sabe-se que a temporada 2013-2014 teve um clube a mais – por tanto, um adversário a mais para ser batido. Se formos descontar, então, eventualmente, uma derrota de cada um desses três classificados, ainda seriam 42.

Para onde foram essas vitórias? Naturalmente, lá para o topo da tabela. Os ponteiros ficaram mais fortes, capitaneados pela campanha incrível do Bauru, a melhor da história do NBB, com 28 vitórias e 2 derrotas (93,3%). Aliás, aqui também cabe um asterisco: uma dessas derrotas aconteceu na rodada de estreia, para o Brasília, aconteceu com o elenco de ressaca pela conquista da Liga Sul-Americana. Não obstante, o time de Guerrinha ainda estabeleceu um recorde de 25 vitórias seguidas pela competição. Contando a conquista da Liga das Américas, são, na real, 33 jogos de invencibilidade.

O Flamengo viu a concorrência no topo aumentar. Limeira termina em 2º. Crédito: Gilvan de Souza

O Flamengo viu a concorrência no topo aumentar. Limeira termina em 2º. Crédito: Gilvan de Souza

Mas não foram apenas os bauruenses a elevar o patamar. O Limeira, segundo colocado e a segunda equipe a ter batido os líderes, encerrou sua primeira fase com 83,3%, acima dos 71,9% do Paulistano do ano passado. O terceiro lugar subiu de 65,6% do Brasília para 76,7%, do Flamengo, enquanto o quarto foi também dos 65,6% do Limeira para 70% do Mogi. O que isso dá a entender? Que as equipes que passarem pelas oitavas de final vão ter vida muito complicada na fase seguinte.

Esta é uma boa hora, aliás, para  registrar aqueles que mais cresceram de uma temporada para a outra. Reforçado, com excelente química em quadra, o Bauru elevou em 37% seu aproveitamento (para constar: estou comparando aqui diretamente o número final das campanhas, subtraindo 56,3% de 93,3%. Também com um orçamento muito mais robusto, Mogi deu um salto significativo, de 26,2%. O time de Paco García até foi um dos semifinalistas do ano passado, mas lembrem-se que isso aconteceu de modo surpreendente, derrubando favoritos nos mata-matas, para o qual havia se classificado na última posição. Já o Minas retorna aos playoffs com um ganho de 25,4%.

E quais foram os clubes que caíram? O Brasília, tricampeão, despencou 25,6%. O São José, semifinalista do NBB 6, perdeu 19,4%. O Paulistano, 15,2%. Ainda assim, avançaram. O Basquete Cearense, porém, com menos verba, perdeu 20,2 pontos percentuais e flertou com o rebaixamento – o que seria um duro golpe para o campeonato, levando em consideração seu posicionamento estratégico no Nordeste.

O Brasília de Giovannoni se viu numa incômoda posição. Crédito: Brito Júnior

O Brasília de Giovannoni se viu numa incômoda posição. Crédito: Brito Júnior

Em termos de localização geográfica, a galera de São Paulo prevaleceu, assegurando seis dos primeiros oito lugares, com Flamengo e Minas sendo os penetras, e três dos quatro primeiros. Por outro lado, viu a Liga Sorocabana rebaixada. É bom lembrar que nunca um clube paulista foi campeão nacional na fase do NBB, tendo amargado três vices com Franca, São José e Paulistano, respectivamente, em 2011, 2012 e 2014. Nas versões anteriores do campeonato nacional, o estado havia conseguido mais que o dobro de todos os seus concorrentes juntos, com 33 x 15. O último título foi o de Ribeirão Preto, em 2003. Agora vai?

O Bauru é claramente o favorito agora e tem grandes chances de acabar com esse jejum, ainda mais com a final sendo disputada em uma série melhor-de-cinco, em vez de um jogo único. Mas vocês sabem, né? O jogo é jogado, como já disseram os outros. Até lá, tem muita coisa pela frente. Em breve voltamos com uma passarada sobre as primeiras séries.

Isso se a Senhora 21 e a tendinite permitirem.


Vitória sobre Mogi: mais uma prova de como será duro derrubar o Bauru
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Giancarlo Giampietro

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Alex barbarizou contra o Mogi no segundo tempo e passou da marca de 4 mil pontos no NBB

Não tem como baixar a guarda: mesmo que um ou outro direto tenha passado em meio ao combate, quem estiver do outro lado vai precisar assimilar o golpe com rapidez. Vai ter de, literalmente, manter a cabeça no lugar, e a cuca pensando naquilo que mais importa em sua estratégia. Não dá para esquecer o que foi combinado na sala de vídeo.

Do contrário, se você decidir partir para o confronto franco, a troca de sopapos no muque, mesmo, a tendência é que o esquadrão do Bauru o leve a nocaute. Foi o que o Mogi das Cruzes percebeu nesta quarta-feira, no Panela de Pressão, na reta final da temporada regular do NBB. Por 24 minutos, o time de Paco García estava plenamente ciente do que fazer em quadra. Quando o cronômetro apontava 6min19s para o fim, os visitantes tinham vantagem de seis pontos (47 a 41). A partir daí, perderam as estribeiras, permitindo uma chuva de bolas de três pontos. Tentaram reagir na mesma moeda muitas vezes. E um jogo que se desenhava bastante equilibrado foi terminar com o placar de 97 a 75.

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Isto é: nos últimos 16 minutos de partida, deu 56 a 34 para os líderes do campeonato nacional, que alcançaram agora a marca de 24 triunfos consecutivos apenas pela competição – igualando recorde do Flamengo na campanha 2008-2009. Se você for por nessa conta as vitórias para a conquista da Liga das Américas, aí chegará a 32 rodadas de invencibilidade. Algo realmente especial, que faz a confiança subir a um nível estratosférico já.

Nesse embate com Mogi, o terceiro quarto terminaria em 65 a 54. Já uma vantagem considerável, mas não impossível de se tirar. O problema foi como aconteceu a virada bauruense. Daquela marca de 6min19s até o estouro da buzina, foram seis bolas de três convertidas pelo time da casa. Sabe quantas haviam caído nessa mesma parcial até então? Nenhuma.

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Alex, com 46% nos chutes de 3? Pois é

Pior: quem foi o cara que fez o maior estrago nesse momento de reviravolta? O veterano Alex. O ala-armador que, convenhamos, nunca foi notório por seu aproveitamento nos tiros exteriores – a média de sua trajetória pelo NBB neste fundamento é de apenas 32,8%. Acontece que, num ataque bem espaçado como o da equipe paulista, com múltiplas armas ofensivas, o Brabo nunca teve tanta facilidade assim para arremessar, tendo, disparado, o melhor aproveitamento da carreira, com elevadíssimos 46,2%. Então, no scout de qualquer oponente, se faz necessária a observação de que ele precisa ser vigiado de perto. Nesta terça, acertou absurdos 7-10, igualando sua melhor marca individual.

No caso específico do Mogi, porém, não dá para espernear muito sobre uma desatenção defensiva em relação a Alex. Duas das quatro bolas que ele converteu nesse terceiro quarto foram de trás da linha da NBA, a partir do drible, com uma confiança desmedida. Os chutes caíram que nem uma bomba psicológica para cima dos forasteiros, que errariam três arremessos de longa distância e nove de quadra no geral, além de cometer um turnover. As coisas descambaram.

No quarto período, foi a vez de Rafael Hettsheimeir queimar a redinha com as conversões do perímetro. E aqui, sim, o sistema defensivo adversário falhou bastante. O pivô é outro que está embalado no fundamento e acabou tendo muita liberdade para chutar de longe – seja com Paulão em quadra (conforme o esperado, neste caso), ou com uma dupla mais ágil como Gerson e Tyrone. Estava tão tranquilo lá fora que chegou a arriscar impensáveis 14 bolas, matando seis delas.

Quer dizer, juntos, os companheiros de seleção garantiram ao Bauru 39 pontos na linha perimetral. Baixou o santo para a dupla, é verdade. Não será todo dia assim. Mas aí Guerrinha pode dizer que, no seu time, sempre vai ter um podendo desembestar, na mais pura verdade. No total, foram 31 pontos para Alex e 28 para Rafael.

Agora: este foi o terceiro duelo entre os dois clubes na temporada, contando aí também a final da Liga Sul-Americana. Coincidentemente, nas três partidas Bauru tentou 38 bolas de fora. Um volume exagerado, mas que também não enfrentou resistência dos oponentes, tendo convertido 50 no geral, com um rendimento de mais de 16 por partida e 43,8%. Então já estamos falando mais de acaso. Se voltarem a se cruzar no mata-mata do NBB, Garcia vai ter de rever sua cobertura e/ou fixá-la na cabeça de seus atletas. Foi mais uma sacolada daquelas.

Potencial para o Mogi não falta, pensando numa eventual semifinal contra um rival que já garantiu a condição de cabeça-de-chave número nos mata-matas. O espanhol tem ao seu dispor um elenco que, em teoria, pode funcionar tão bem num jogo acelerado, com uma formação mais atlética e dinâmica – explorando  Tyrone ao lado de Gerson, mantendo o vigor físico ainda assim –, como num ritmo mais cadenciado, compondo uma linha de frente pesada, talvez com Tyrone, Gerson e Paulão juntos. Essa versatilidade pode ser mais explorada nos playoffs, no jogo de gato-e-rato, ainda que não tenha surtido efeito nesses primeiros três embates. Também não será todo dia que Shamell vai ficar limitado a 9 pontos, com 4/12 nos arremessos. Guilherme Filipin, com 23 pontos em 21 minutos, foi quem assumiu o papel de cestinha. Foi o único a pontuar em dois dígitos, o que é muito pouco, mas não necessariamente algo essencial para se remediar.

Pois não será num tiroteio, num jogo de ataques livres, que a equipe conseguiria fazer frente ao Bauru. Essa é uma mensagem, aliás, que fica mais e mais clara para os concorrentes a meros dias do início dos mata-matas. Ainda mais numa série melhor-de-três: invariavelmente, você vai ficar grogue após ataques fulminantes bauruenses. Vai acontecer, não tem muito jeito. Resta saber apenas qual o seu nível de resistência.


Gerson, a novidade intensa do Mogi no NBB 7
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Giancarlo Giampietro

Gerson, Mogi das Cruzes

As cravadas que se tornaram rotina. Mas tem muito mais no jogo do pivô

Sabe aquela do coisa faça o que eu digo, só não faça o que eu faço, né? Pois bem. Para qualquer atleta é fácil olhar para o jornalista, para o técnico, ou para o torcedor, antes ou depois de um jogo, e falar sobre a importância da de jogar duro numa quadra de basquete, pregar o jogo com energia máxima como o caminho viável para as vitórias.

Em sua primeira temporada como profissional no basquete brasileiro após se formar em quadras universitárias norte-americanas, o pivô Gerson do Espírito Santo bateu muito nessa tecla: da “intensidade” de como defende o Mogi das Cruzes a cada rodada. Mas, se esse termo corre o risco de ficar banalizado em meio a tanta gente que o emprega, o discurso do jovem de 23 anos talvez não faça justiça ao que tem feito pela equipe paulista, terceira colocada no NBB 7, para se tornar uma das revelações da temporada.

“O Gersão é um monstro. É um cara que dá a vida pelo time, no rebote ofensivo, na ajuda em bloqueio, na execução do bloqueio, que são coisas que as vezes podem passar desapercebidas. Esse trabalho sujo que ele faz, essa entrega dele não tem preço”, afirma o armador Gustavinho ao VinteUm. “Ele é um cara que chega a ser até bitolado no basquete. Treina mais que todo mundo, ama jogar, mesmo.”

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Quando você vê o jogador descendo a quadra, não tem como desviar a atenção. Trata-se de um pivô de 2,05 m de altura com agilidade e explosão física fora do comum para alguém de sua estatura. Vai ser difícil encontrar um grandalhão tão atlético por estas bandas: um baita achado no mercado para o Mogi, uma das melhores contratações, em termos de custo-benefício da sétima edição do campeonato nacional. Para quem já estava familiarizado com o estilo do pivô, todavia, não chega a ser uma surpresa.

“Já havia jogado com ele aqui no Pinheiros, quando ele era mais novo, de categoria de base. Ele já tinha essa raça quando treinava com a gente no adulto. Sempre botou disposição para caramba, e os técnicos acreditavam nele, vislumbraram o potencial”, disse Gustavinho, olhando para trás, em 2009, antes de o pivô ir para os Estados Unidos.

A vibração de Gerson se encaixou perfeitamente em Mogi

A vibração de Gerson se encaixou perfeitamente em Mogi

Na estrada
Foi com a mesma velocidade que tem em quadra que Gérson despontou no basquete brasileiro e saiu de cena, deixando as categorias de base do Pinheiros para tentar uma rota seguida por muitos brasileiros: entrar em um Junior College dos Estados Unidos para, depois, tentar voos mais altos. O fato de Rafael “Baby” Araújo e João Paulo Batista terem conseguido não quer dizer que seja algo fácil: sem dominar a língua, você se embrenha em pequenas cidades e vai se virar como pode. Por outro lado, o atleta já estava habituado a viver longe de casa.

O pivô começou a jogar quando garoto em sua cidade natal de Valença, no Rio. Não era federado, porém, disputando apenas competições no interior do estado. O próximo passo, então, foi se transferir para o América de Três Rios e, aí, sim, se registrar como jogador de basquete. Não demorou muito para que pegasse uma seleção fluminense e, num Campeonato Brasileiro em Santa Catarina, ganhasse os olhares de Zé Luiz Marcondes, da base do Pinheiros. Nem chegou a se apresentar direito pelo clube adulto quando se mandou para os Estados Unidos em 2010.

O que pesava mais nessa decisão? A vontade de estudar ou de se formar como jogador de basquete? “Eu fui para jogar, mesmo, e aproveitei para poder me formar (em artes liberais, pela Colorado State). Mas meu principal objetivo era tentar aprender o máximo sobre o jogo de basquete, sim. Foi o que me levou para lá”, diz Gerson ao VinteUm.

Em Colorado State, experiência de ter disputado o torneio nacional da NCAA em 2013: venceram Missouri na primeira rodada e foram eliminados pela eventual campeã Louisville na segunda etapa; o time teve a segunda melhor campanha da Mountain West Conference, atrás de New Mexico, acima da UNLV e de San Diego State

Em Colorado State, experiência de ter disputado o torneio nacional da NCAA em 2013: venceram Missouri na primeira rodada e foram eliminados pela eventual campeã Louisville na segunda etapa; o time teve a segunda melhor campanha da Mountain West Conference, atrás de New Mexico, acima da UNLV e de San Diego State

O sonho, claro, era a grande liga americana. “Com certeza que, para qualquer jogador, quando você é novo, a NBA é uma meta. Eu queria saber até onde conseguiria ir com o meu jogo”, diz. Mas o caminho até lá certamente não seria fácil, dando largada no College de Southern Idaho. Considerando o amplo universo de atletas que começam suas carreiras universitárias nos chamados JuCos, escolas de transição, que ajudam no desenvolvimento de estudantes que não tenham as notas necessárias para saltar do high school para a faculdade. Sonny Weems, Qyntel Woods e o próprio Baby são alguns exemplos que me ocorrem agora, de gente que tiveram sucesso nessa escalada.

Gerson ao menos conseguiu se mudar para a região das Montanhas Rochosas, ao sair de Southern Idaho para a Universidade de Colorado State. Os Rams não são necessariamente o conjunto mais tradicional para formar jogadores profissionais, mas ultimamente têm tido mais sucesso nessa empreitada. O pivô Jason Smith, do New York Knicks, saiu de lá, assim como o armador Milt Palacio, ex-um-monte-de-time, e o pivô Colton Iverson, draftado em 2013 pelo Boston Celtics e hoje jogador do Baskonia, vulgo Laboral Kutxa, clube de Euroliga.

“Meu jogo melhorou muito, mas acho que minha cabeça foi o que fez o diferencial para poder chegar até aqui. Maturidade, crescendo, aprendendo mais fora de quadra, tendo a cabeça de ir lá e trabalhar todos os dias foi a melhor coisa para mim. Sempre treinei da melhor maneira possível para tentar conseguir esse meu objetivo (de NBA)”, diz. “Mas sabia que qualquer coisa era possível e, se não desse, poderia voltar ao Brasil.”

Em casa
Gerson começaria, então, sua jornada de profissional num campeonato com outra sigla de três letras, o NBB, embora não soubesse exatamente o que o aguardava. “Acompanhei muito pouco. Comecei a seguir mais quando cheguei ao meu último ano na universidade, pois sabia que provavelmente voltaria para cá”, afirma, com franqueza.

Por outro lado, o Mogi das Cruzes estava mais atento ao que o jogador vinha fazendo nos Estados Unidos. “É um jogador que no ano passado já estávamos seguindo, vendo toda a sua trajetória por lá”, diz o técnico Paco Garcia ao VinteUm. “Seus agentes buscavam um lugar em que ele não perdesse nada daquilo que havia aprendido nos Estados Unidos. A intensidade, a seriedade do trabalho, a disciplina. Aí acharam que Mogi era um bom lugar para que ele retornasse.”

A briga incessante pela bola

Vejam só: de novo a tal da “intensidade”.  Justamente aquilo que o pivô aprendeu nos Estados Unidos. “A intensidade do jogo, o jeito que se corre pela quadra, como as coisas são bem rápidas, a intensidade da defesa. A gente fala muito em quadra, tanto na defesa como no ataque. Isso é uma das características do jogo americano que tento trazer para o Brasil”, conta.

Desta forma, o trabalho com Paco Garcia não lhe parece estranho. O técnico já construiu uma reputação de exigente e detalhista ao extremo em suas cobranças, muitas vezes em rompantes que podem ferir o ego de jogadores. Aqui, não é o caso. “Olha, eu gosto muito, porque no universitário eu tinha um treinador (Larry Eustachy) que era tão exigente e detalhista quanto o Paco. Acho que isso até ajudou o meu jogo na hora de voltar ao Brasil. Se conseguisse mostrar meu trabalho e o tanto que tento entregar aquilo que me pedem para colocar em quadra, ia me destacar.”

O espanhol conferiu isso rapidamente. “Ele buscou seu espaço. No Paulista, já ganhou muitos minutos e passou a jogar também na Sul-Americana. Acho que ele pode ser um jogador importante no Brasil em muito pouco tempo. Ele salta muito, vai bem nos rebotes, tem muita intensidade para marcar. Tinha certeza de que seria um jogador valioso para nós”, afirma o treinador. “O Gerson sempre teve esse potencial”, destaca Gustavinho. A gente o chamava de mini Garnett. Agora ele está com muito mais base, mais força e mais atlético.”

Jogando de frente para a cesta: sua preferência no ataque

Jogando de frente para a cesta: sua preferência no ataque

Subindo
Esse tipo de postura somada a seus atributos físicos e atléticos o tornaram um sucesso imediato em Mogi, formado com o americano Tyrone Curnell uma dupla que aterroriza os adversários pelo fuzuê que podem armar em quadra. Foram duas contratações que, se não tão badaladas como as de Shamell e Paulão, acabaram se tornando tão ou mais fundamental para que o clube elevasse seu jogo. O time passou de grande surpresa dos mata-matas da sexta edição do NBB para candidato ao título, ocupando hoje a quarta posição na classificação geral, a uma vitória de se igualar ao atual bicampeão Flamengo. Nos últimos dez jogos, foram nove triunfos.

Na Liga Sul-Americana, mesmo que ainda buscasse melhor entrosamento e lidasse com algumas distrações no vestiário, a equipe conseguiu alcançar uma inédita decisão. Acabou levando uma surra de Bauru, é verdade. Mas estariam prontos, agora, para tentar dar o troco e desafiar o poderoso elenco de Guerrinha?

“Nosso time foi reunido há seis, sete meses. Vieram muitos jogadores novos. Só agora que a gente está conseguindo ter a melhor química, como gosto de falar. Está todo mundo unido, com o mesmo foco, independentemente de quem vai bem em um jogo ou outro, de quem vai chutar a última bola, de quem vai fazer o quê. Todo mundo sabe mais ou menos a sua função dentro da quadra. Todo mundo quer colocar seu companheiro para a frente, e acho que estamos na melhor fase por causa disso”, diz Gerson.

Esse ambiente foi muito benéfico e acolhedor para suas próprias características.  “Na posição dele, temos o Paulão, que foi o melhor pivô do NBB passado”, diz Gustavinho. “E o Gerson não se importa se vai jogar 15, 20 ou 30 minutos. Quando sai de quadra, vai sempre dar a mão para os caras, parabenizar. Ter um cara desses no time… Pelo amor de Deus, sem palavras. É a mesma alegria de sempre.”

O jovem atleta tem médias de 8,5 pontos e 7,0 rebotes em 23 minutos, com aproveitamento de 56,6% nos arremessos de quadra e mais que saudáveis 74,2% nos lances livres. É o quarto principal reboteiro do NBB, atrás de Shilton, do Minas Tênis, Caio Torres, do São José, e Steven Toyloy, do Palmeiras – todos jogadores muito mais experientes. Também aparece entre os 30 melhores da competição em índice de eficiência, sendo o terceiro mais jovem nesse grupo, depois de Léo Meindl, do Franca, e Ricardo Fischer, do Bauru.

Não causa espanto. Basta ver o modo como Gerson se movimenta em quadra e a voracidade com a qual ataca as tábuas defensiva e ofensiva, além de sua excelente técnica para finalizar as jogadas no pick and roll, cortando para a cesta. E tem isso: como Gustavinho já nos contou, a relevância deste fluminense em quadra vai muito além dos números. Um desempenho que, para mim, valeria uma convocação para o Jogo das Estrelas da competição, algo que não aconteceu.

Num ano em que a seleção tem duas competições para disputar – Copa América e Pan-Americano –, é de esperar que um certo argentino esteja tomando nota. “Olha, acabei de voltar ao Brasil e esse é meu primeiro ano de profissionOal. Penso em trabalhar forte, a cada dia melhorar meu jogo, aprender mais com os jogadores que tenho aqui no time, como o Shamell e o Paulão.  O que acontecer fora do que faço dentro do Mogi vai ser por mérito. Claro que seria bacana, mas tento não pensar na frente, e só pensar um dia de cada vez, trabalhando”, diz.

E trabalhando como?

“Tendo cada vez mais intensidade em quadra”, diz, naturalmente.


20 votos para o Jogo das Estrelas do NBB 2015
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Giancarlo Giampietro

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

A assessoria de comunicação da Liga Nacional de Basquete cometeu a loucura de me estender um convite para participar da votação para o Jogo das Estrelas do NBB7, que vai ser disputado entre os dias 6 e 7 de março, com sede ainda para ser anunciada.

Ao menos essa responsabilidade foi divida entre diversos companheiros de imprensa, assim como os técnicos – e seus assistentes –, capitães e (!) árbitros envolvidos com a competição, além de outras “personalidades” da modalidade. Cada um dos eleitores teve a chance de escolher dez nomes para o time brasileiro e outros dez para a equipe estrangeira. Você precisa dividir cada grupo entre titulares e reservas, e os votos dedicados aos titulares ganham peso maior.  Essa é uma novidade no processo que, creio, ajuda a diminuir a chance de injustiças.

Mas, prepare-se, elas podem acontecer. Veja a repercussão, na NBA, para a exclusão de um enfezado Damian Lillard, que não conseguiu nem mesmo a 13ª vaga e foi ao Instagram protestar, lembrando que havia sido ignorado por torcedores, técnicos e até pelo comissário Adam Silver. Ele merecia a vaga de Kevin Durant? Para mim, sim, levando em conta o fato de que o ala de OKC perdeu metade da temporada norte-americana.

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Esse tipo de polêmica certamente vai aparecer aqui neste espaço, agora que abro minhas 20 escolhas. Inevitável. Mas boa parte das discussões depende de quais critérios cada um vai adotar para escolher sua seleção. Pesa mais o sucesso da equipe ou o rendimento individual de cada atleta? Na dúvida, preferi a solução mais fácil: dosar um pouco de cada caminho. Privilegiei os destaques das melhores campanhas, mas também tentei abrir espaço para caras que estejam numa ótima temporada, ainda que seus clubes decepcionem. Só procurei pensar apenas no que acontece neste ano, e, não, ignorando o conjunto da obra – se o cara é o cestinha histórico do NBB, se é medalhista olímpico, se já passou pela NBA etc.

Mais: você vai segmentar, estratificar os jogadores por posição? Na planilha encaminhada pela LNB, era preciso escolher um armador, dois alas e dois pivôs. Esses conceitos são todos meio relativos, não? Pegue um time como Limeira, uma das gratas notícias do campeonato. Nezinho, Ronald Ramon e Deryk estão revezando constantemente, dividindo a quadra, escoltados pelo gatilho de David Jackson, do jeito que o Paulo Murilo pregou sempre em seu Basquete Brasil – e quando dirigiu o Saldanha da Gama. Tentei ir um pouco além da nomenclatura clássica.

Vamos aos votos do VinteUm, então, seguidos por breves explicações. Os quintetos titulares vão ser escolhidos pelos torcedores:

NBB – Brasil
Titulares
Nezinho (Limeira)
Alex Garcia (Bauru)
Marquinhos (Flamengo)
Jefferson William (Bauru)
Rafael Hettsheimeir

Reservas
Coelho (Minas)
Leo Meindl (Franca)
Giovannoni (Brasília)
Gerson (Mogi das Cruzes)
Caio Torres (reservas)

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

O desafio aqui foi evitar de escalar todo o elenco do Bauru, né? Tendo apenas 10 vagas em cada seleção, achei o mais correta a distribuição entre mais clubes, impondo um limite de três atletas para cada agremiação. E aí Ricardo Fischer acabou sendo sacrificado, em detrimento de seus companheiros bauruenses escalados entre os titulares (Alex segue influenciando o jogo dos dois lados da quadra, resistindo ao tempo, Jefferson William é fundamental no sistema de Guerrinha por sua mobilidade e poder de execução, além de um bem-vindo nível de atividade na briga por rebotes e na defesa, e Rafael Hettsheimeir, ainda que deveras enamorado pelo chute de fora, vem sendo bastante produtivo em seu retorno ao país). Nezinho assume a vaga de Fischer, sendo um dos líderes do Limeira, pontuando com muito mais eficiência do que na temporada passada, ainda que frequente menos a linha de lance livre. Para completar, Marquinhos, que ainda não recuperou o ritmo de seu sensacional NBB5, mas tem números que igualam ou superam sua última campanha, em menos minutos, e ainda é um pesadelo para qualquer defesa nacional conter. O Flamengo também não tem sido o mesmo, mas, da mesma forma, continua sendo um time de respeito

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

No banco, o jovem Coelho merece reconhecimento: ganhou autonomia em Belo Horizonte e respondeu muito bem, obrigado. Em termos de produção, é o jogador mais eficiente de sua posição entre os brasileiros, com 14,59 por jogo, mais que o dobro de sua carreira – e o mais interessante pode melhorar muito ainda como um armador forte, veloz e agressivo. Confesso: foi uma dúvida brutal optar entre ele e Nezinho na vaga de titular, mas pesou a maior propensão ao passe e o recorde da equipe do veterano. Leo Meindl vem numa curva ascendente em sua carreira, ajudando o Franca a se manter entre os seis primeiros, a despeito dos problemas financeiros. Talvez não no ritmo esperado, mas está subindo enquanto se distancia de uma complicada lesão no joelho. Seu arremesso de três pontos o abandonou nesse campeonato, e talvez fosse mais interessante que ele usasse sua habilidade no drible e o jogo de média distância para buscar a cesta. Giovannoni faz uma temporada que o colocaria na discussão para MVP, mas o fato de o Brasília ser a grande decepção da temporada impede que isso aconteça.  Foi cruel deixar Lucas Cipolini fora, mas não havia como eleger dois atletas do time candango, a despeito de seu ótimo rendimento estatístico. No garrafão, temos então o jovem e hiperatlético Gérson, que faz Mogi crescer cada vez que vai para quadra com seu energia e dedicação extrema, e Caio Torres, em boa forma, vai fazendo a melhor temporada de sua carreira nos rebotes e como referência interior do time que menos arremessa de três no campeonato. Entre ele e Rafael, a dúvida também é grande. Seus números são superiores, mas o bauruense divide a bola com mais gente. A campanha abaixo de 50% do São José também não ajuda.

NBB – Mundo
Titulares
Jamaal Smith (Macaé)
David Jackson (Limeira)
Marcos Mata (Franca)
Tyrone Curnell (Mogi das Cruzes)
Jerome Meyinsse (Flamengo)

Reservas
Kenny Dawkins (Paulistano)
Ronald Ramón (Limeira)
Jimmy Baxter (São José)
Shamell (Mogi das Cruzes)
Steven Toyloy (Palmeiras)

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

A posição de armador estrangeiro, gente, é a mais concorrida de todo o campeonato. Não encontrei lugar aqui para Caleb Brown, limitado a apenas oito jogos em Uberlândia devido a dores lombares), para o jogo clássico do baixinho Maxi Stanic, do Palmeiras, e nem para Nícolas Laprovíttola, que anda muito inconstante. David Jackson, creio, é uma unanimidade como um arremessador letal de todos os cantos da quadra. Já Mata e Tyrone servem como influência mais que positiva para os jovens companheiros devido ao tino para cuidar de pequenas coisas e a conduta exemplar em quadra. Curiosamente, de tanto fundamento que tem, o argentino vira uma arma ofensiva em quadras brasileiras, assim como aconteceu com seu compatriota Frederico Kammerichs. Curnell pode não ser o jogaodor mais refinado, mas seu vigor físico e seu empenho contagiam. Quando faz dupla com Gérson, é melhor sair da frente – uma dupla que representa bem a identidade vibrante do Mogi. Meyinsse é hoje o pivô mais completo em atividade no país, dosando força física e agilidade acima da média.

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Ramón ganha uma vaga pela consistência que dá ao trio de armadores de Limeira, clube cujo rendimento pede também três indicados. Seus números caíram em quantidade, mas subiram em qualidade, ocupando uma vaga que, em nome e números poderia ser do jovem Desmond Holloway. O Paulistano, porém, insere o explosivo Dawkins no quinteto reserva, mesmo que não repita a química obtida no campeonato passado. Baxter tem números inferiores aos de Robbie Collum (em menos minutos também), uma figura importante para o Minas, mas se sobressai pela postura defensiva. Shamell tem passado bem menos a bola, mas ainda se sustenta como um cestinha decisivo nas quadras brasileiras, enquanto Steven Toyloy voltou a ser uma rocha no garrafão depois de um ano em que foi subaproveitado pelo Pinheiros, levando um Palmeiras a uma honrosa sétima posição.
Estão aí. Se for para xingar, que seja com educação, tá?